Pesquisa Social - Teoria, Método e Criatividade MINAYO, M. Cecília (Org)
Minayo - Fase de Análise Do Material Qualitativo
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Parte V FASE DEANAuSE
DO MATERIAL QUALITATNO
OS PESQUISADORES COSTUMAM ENCONTRAR TRES
grandes obstaculos quando iniciam a analise dos dados recolhidos no campo (documentos, entrevistas, biografias, resultados de discussao em grupos focais e resultados de observa<;:ao ).
o primeiro deles e 0 que Bourdieu denomina "ilusao da transparencia" is to e, a tentativa de interpreta<;:ao espontanea e literal dos dados como se 0 real se mostrasse nitidamente ao observador. Essa "ilusao" e tanto mais perigosa quanta mais 0 pesquisador tenha a impressao de familiaridade com 0
objeto. Portanto, analisar, compreender e interpretar urn material qualitativo e, em primeiro lugar, proceder a uma supera<;:ao da sociologia ingenua e do empirismo, visando a penetrar nos significados que os atores sociais compartilham na vivencia de sua realidade.
o segundo obstaculo e 0 que leva 0 pesquisador a sucumbir a magia dos metodos e das tecnicas, esquecendo-se do mais importante, isto e, a fidedignidade a compreensao do material e referida as rela<;:6es sociais dina micas e vivas . Como orientadora de tese e avalia<;:ao de livros e artigos e 0 que mais tenho encontrado : uma rendi<;:ao do investigador as tecnicas,
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pondo-as no lugar da essencialidade dos significados e intencionalidades. Como ja referi inicialmente, repito aqui: metodos e instrumentos sao caminhos e mediadores para permitir ao pesquisador 0 aprofundamento de sua pergunta cennal e de suas perguntas sucessivas, levantadas a partir do enconno com seu objeto empfrico ou documental.
o terceiro obstaculo, tambem recorrente na interpreta<;:ao dos trabalhos empfricos, e a dificuldade que muitos pesquisadores encontram na jun<;:ao e sfntese das teorias e dos achados em campo ou documentais. Emuito comum que os pesquisadores apresentem denso capitulo metodol6gico e te6rico e, ao finaL quase como urn apendice, descrevam em urn ou dois capitulos sua visao sobre 0 trabalho de campo, geralmente, sem apropria<;:ao das teorias descritas.
Uma analise do material recolhido em campo ou documen'. tal, em termos muito gerais, busca atingir tres objetivos:
• ultrapassagem da incel~eza: dando respostas as perguntas, hip6teses e pressupostos;
.• enriquecimento da leitura: ultrapassando 0 olhar imediato e espontaneo em busca da compreensao de significa<;:oes e de estruturas de relevantes latentes;
• integrat;iio das descobertas, devendando a l6gica interna subjacente as falas, aos comportamentos e as rela<;:oes (Bardin, 1979, p. 29).
Sendo assim, a analise do material qualitativo possui tres finalidades complementares dentro da proposta de investiga<;:ao social: (a) a primeira e heurfstica. Isto e, insere-se no contexto de descoberta a que a pesquisa se propoe. (b) A segunda e de "administra<;:ao de provas", que se realiza por meio do balizamento entre os achados, as hip6teses ou os pressupostos. (c) A terceira e a de ampliar a compreensao de contextos culturais, ultrapassando-se 0 nivel espontaneo das mensagens (Bardin, 1979).
Para a realiza<;:ao das analises, varios caminhos sao possiveis e, praticamente, todos eles dependem da corrente de
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fase de analise do material qualitativo
pensamento a que 0 investigador se filia. No entanto, tambern nesse ponto existem problemas, pois, ao se fazer uma metanalise das pesquisas qualitativas se observa, frequentemente, que os investigadores tendem a ocultar a alquimia que usaram para transformar dados brutos em descobertas cientificas.
Minha inten<;:ao nesta parte do estudo e discutir essa fase de uma pesquisa social , trazendo a luz possibilidades te6ricas e praticas de analise do material qualitativo.
Trabalharei com tres modalidades de analise ja consagradas: (a) Analise de Conteudo, expressao generica que designa 0
tratamento de dados qualitativos. Trata-se de urn conceito historicamente construfdo para dar respostas te6rico-metodoI6gicas e que se diferencia de outras abordagens. A mais importante autora dessa modalidade e Bardin (1979). (b) Analise de Discurso concebido para trabalhar com a fala e seu contexto, sendo utilizada como alternativa as praticas de analise de conteudo tradicionais. Seus expoentes mais importantes sao Pecheut e atualmente toda urn escola de interpretes do campo de comunica<;:ao; (c) Analise Hermeneutica-Dialetica, proposta por Habermas no seu dialogo com Gadamer (1987) como uma uma terceira alternativa que superaria 0 formalismo das analises de conteudo e de discurso, indicado "urn caminho do pensamento". Incluirei, ainda, uma reflexao pessoal, operacionalizando a abordagem hermeneutico-dialetica e uma proposta de triangula<;:ao de metodos qualitativos e quantitativos, tendo em vista que hoje essa estrategia vai se tomando frequente nas anaIises do setor saude.
Neste estudo, aos discutir as tres modalidades rna is comuns, dou preferencia a hermeneutica dialetica. Minha escolha fundamenta-se na busca de urn instrumental que corresponda as dimensoes e a dinamica das reIa<;:oes que se apreendem numa pesquisa que toma como objeto a saude em suas mais variadas dimensoes: concep<;:oes, polftica, administra<;:ao, configura<;:ao institucional, representa<;:oes sociais e reIa<;:oes.
302 fase de analise do material qualitativo
Antes de terminar 0 trabalho, fac;:o uma breve discussao sobre validade e fidedignidade em pesquisa qualitativa, tomando por base 0 pensamento de auto res consagrados nas discussoes epistemol6gicas.
Capitulo 11 TECNICAS DE ANALISE
DO MATERIAL QUALITATNO
Analise de conteudo
A EXPREssAo MArs COMUMENTE US A DA para representar 0 tratamento dos dados de uma pesquisa qualitativa e Ana
lise de Conteudo. No entanto, a expressao significa mais do que urn procedimento tecnico . Faz parte de uma h ist6rica busca te6rica e pratica no campo das investigac;:oes sociais.
Para Bardin, a Analise de Conteudo pode ser definida como:
Urn conjunto de tecnicas de analise de comunicac;:ao visando obter, por procedimentos sistematicos e objeti vos de descric;:ao do conteudo das mensagens, indicadores (quantitativos ou nao) que permitam a inferencia de conhecimentos relativos as condic;:oes de produc;:aojrecepc;:ao destas mensagens (Bardin, 1979, p. 42).
Ou seja, analise de conteudo diz respeito a tecnicas de pesquisa que permitem tomar replicaveis e validas inferencias sobre dados de urn determinado contexto, por meio de procedimentos especializados e cientfficos Em comum, as definic;:oes ressaltam 0 processo de inferencia.
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304 tecnicas de analise de material qualitativo tecnicas de analise de material qualitativo 305
A Analise de Conteudo, como tecnica de tratamento de dados, possui a mesma 16gica das metodologias quantitativas, uma vez que busca a interpretac;ao cifrada do material de carater qualitativo. Berelson, um dos primeiros te6ricos da analise de conteudo nos Estados Unidos, assim a define:
liE uma tecnica de pesquisa para desCTir;;iio objetiva, sistematica e quantitativa do conteudo manifesto das comunicar;;8es e tendo por fim interpreta-Ios (Berelson, 1952, p. 18).
Os termos em italico foram anotados por mim, com intenc;ao de enfatizar os adjetivos usados por Berelson, lembrando que eles fazem parte do vocabulario da sociologia positivista. A relevancia concedida ao qualitativo e ao conteudo manifesto ou latente das comunicac;6es, neste caso, da enfase as regularidades da fala, a sua analise lexica I e remete a tradicional discussao sobre a especificidade do material pr6prio as Ciencias Sociais, particularmente quanto a questao da significac;ao.
Historicamente a Analise de Conteudo classica tern oscilado entre 0 rigor da suposta objetividade dos numeros e a fecundidade da subjetividade. A arte de interpretar os textos sagrados, a exegese religiosa, coloca a hermeneutical por exemplo, como uma tecnica muito antiga. A atividade de desvendamento de mensagens obscuras, do duplo sentido de urn discurso geralmente simb61ico e polissemico, remonta a Antiguidade. Bardin situa a Ret6rica e a L6gica tambem como praticas milenares de tratamento de discurso, anteriores a atual
A analise lexica constitui um tipo de estudo do vocabulario de um informante, por meio da aplica<;ao de metodos estatfsticos visando a averiguar ou a medir a extensao das suas respostas. Sao feitos dimensionamentos das frases (essa pessoa respondeu concisa ou eA'tensamente?) e tambem eSludo da incidencia quantilativa das palavras, ou seja, do numero de vezes que um vocabulo ou um uma ideia apareceram . Pode-se considerar que, mediante procedimenlOs aUlOmalicos, 0 usa da analise lexica permite interpretar com rapidez 0 montante de palavras e express6es ana· li sadas tendo em vista explicar 0 universo total das informa<;6es.
tecnica de Analise de Conteudo. A Ret6rica estuda as modali
') dades de expressao pr6pria de uma fala persuasiva. A 16gica analisa os enunciados de urn texto, seu encadeamento, e as regras formais que validam 0 raciocfnio.
Analise de Conteudo e uma expressao recente. Surgiu nos Estados Unidos na epoca da Primeira Guerra Mundial, dentro do campo jomalistico na Universidade de ColUmbia. Dentre os nomes que ilustram a hist6ria do desenvolvimento dessa tecnica destacam-se Lasswell (1952), que fazia analise de material de imprensa e de propaganda desde 1915 . Sua obra principal, Propaganda Tecnique in the World War foi publicada em 192 7. 0 trabalho de Lasswell teve como contexto urn momento hist6rico de fasdnio pelo rigor matematico como medida e como parametro cientffico. Dessa forma, a Analise de C6nteudo, em sua origem, e vftima da pretensa objetividade que os numeros e as medidas ofere cern.
A partir da decada de 1940, os departamentos de Ciencias Polfticas das universidades americanas tomaram-se 0 locus de desenvolvimento das tecnicas de Analise de Conteudo, tendo como material privilegiado as comunicac;6es provenientes da Segunda Guerra Mundial. Os investigadores visavam, dentre outros objetivos, a desmascarar os jornais e peri6dicos suspeitos de propaganda considerada subversiva ou de carater nazista. Lasswell continuava seus trabalhos sobre analise de sfmbolos. A ele juntaram-se estudiosos das mais diferentes areas: soci610gos, psic610gos, cientistas polfticos . Os marcos distintivos da tecnica desenvolvida nessa epoca foram as analises estatfsticas de valores, fins, normais, objetivos e sfmbolos. A preocupac;ao da objetividade e da sistematicidade solidificou-se tendo como foco 0 rigor quantitativo , para se contrapor ao que os cientistas denominavam "apreensao impressionista", numa crftica permanente as escolas etnometodol6gicas e interacionistas. Do ponto de vista metodol6gico, Berelson & Lazarsfeld (1952) sintetizaram e sistematizaram as preocupa<;:6es epistemol6gicas da epoca. Em The Analysis of
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Co mmunications Content (Berelson & Lazarsfeld, 1948) , os criterios fundam entais entao exigidos para testificar 0 rigor cientffico foram assim resumidos: (a) trabalhar com amostras reunidas de maneira sistematica; (b) interrogar-se sobre a validade dos procedimentos de coleta e dos resultados; (c) trabalhar com codificadores que perrnitam verifica<;:ao de fidelidade; (d) enfatizar a analise de freqiiencia como criterio de objetividade e cientificidade; (e) ter possibilidade de medir a produtividade da analise.
Berelson (1952) , Lazarsfeld (1952) e Lasswell (1952) sao portanto importantes te6ricos e criadores das tecnicas de analise de conteudo. Neles, a obsessao pela objetividade e 0 rigor se confundem com os pressupostos do positivismo. Seus nomes, seus trabalhos e influencia continuam marcantes e ainda atuais em rela<;:ao as propostas de tratamento dos dados.
No perfodo posterior a Segunda Guerra, a utiliza<;:ao das tecnicas quantitativas para analise de conteudo entrataram em decadencia. Seus pr6prios criadores reflufram 0 animo e se de~encantaram em rela<;:ao aos resultados e as repercussoes de seus trabalhos. Ede Berelson a seguinte Frase citada por Bardin:
A Analise de Conteudo como metodo nao possui qualidades magicas e raramente se retira mais do que nela se investe e algumas vezes se retira menos. No final das contas nada ha que substitua as ideias brilhantes (Bardin, 1979, p.20).
A constata<;:ao do citado autor demonstra uma certa decep<;:ao te6rica em rela<;:ao aos modelos matematicos para analise qualitativa e se curva a importancia da compreensao dos conteudos latentes. Mostra que 0 rigor matematico pode ser uma meta e vir junto com outras forrnas de valida<;:ao, mas nunca substituir a intui<;:ao e a busca do sentido das falas.
A partir dos anos 1950, e sobretudo na decada de 1960, a questao da Analise de Conteudo ressurge, desta vez dentro
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tecnicas de analise de material qualitativo
de urn debate mais aberto e diversificado . A Antropologia, a Socio logia, a Psicologia juntam-se a Psicanaiise, ao Jomalis
.~~ ( mo e ha uma retomada de problematicas anteriormente qua
se intocaveis. No plano epstemol6gico, confrontam-se duas concep<;:oes de comunica<;:ao: (a) 0 modelo "instrumental", que defende 0 seguinte ponto de vista: numa comunica<;:ao 0
mais importante nao e 0 conteudo manifesto da mensagem (como defendia Berelson) mas 0 que ela expressa gra<;:as ao contexto e as circunstancias em que se da; (b) 0 modelo "representacional", que da rel evancia ao conteudo lexical do discurso, cuja proposta e fazer uma boa analise, focalizando a quantidade e 0 sentido das palavras .
Do ponto de vista metodol6gico, a polemica entre a abordagem quantitativa e a qualitativa na analise do material de co
J munica<;:ao sempre existiu. Em rela<;:ao ao primeiro tipo de abordagem, predominaram as ideias de Berelson, Lazarsfeld e LasswelL acrescidas de novas formas de procedimento, todas elas buscando "medidas " para as significa<;:oes, como criterio de cientificidade (Osgood et aI., 1957).
Os pesquisadores que buscam a compreensao dos significados no contexto da fala, em geraL negam e criticam a analise de freqiiencia das falas e palavras como criterio de objetividade e cientificidade e tentam ultrapassar 0 alcance meramente descritivo da mensagem, para atingir, mediante a inferencia, uma interpreta<;:ao mais profunda.
Atualmente varios fatores vieram a alimentar 0 debate dessa pratica te6rica. A informatica e a semi6tica sao duas areas que vern influenciando definitivamente as modalidades de tratamento dos dados de comunica<;:ao. Varios softwares passararn a atualizar com maior rigor tecnico as propostas quantitativistas que se originararn no infcio do seculo xx. Em todos os congressos mundiais e locais sobre pesquisa qualitativa, existern postos de exposi<;:ao de novidades instrumentais para analise de conteudo. De outro lado, tambern tem-se intensificado as propostas compreensivistas para analise das falas e
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discursos, revelando novo dinamismo nos estudos de significac;oes.
As atuais tendencias hist6ricas do uso e do desenvolvimento de tecnicas de Analise de Conteudo conduzem a uma certeza. Todo 0 esfon;o te6rico, seja baseado na 16gica quantitativista ou qualitativista, visa a ultrapassar 0 nivel do senso comum e do subjetivismo na interpreta<;:ao e alcan<;:ar uma vigilancia critica ante a comunica<;:ao de documentos, textos literarios, biografias, entrevistas ou resultados de observa<;:ao
Do ponto de vista operacional, a analise de conteudo parte de uma leitura de primeiro plano das falas, depoimentos e documentos, para atingir urn nivel mais profundo, ultrapassando os sentidos manifestos do material. Para isso, geralmente, todos os procedimentos levam a relacionar estruturas semanticas (significantes) com estruturas sociol6gicas (significados) dos enunciados e a articular a superficie dos enunciados dos textos com os fatores que determinam suas caracterfsticas: variaveis psicossociais, contexto cultural e processo de produ<;:ao da mensagem. Esse conjunto de movimentos analfticos visa a dar consistencia interna as opera<;:6es. Como afirma Allport:
A consistencia intema conseguida atraves de multiplas abordagens e quase 0 unico teste que temos para a validade das pesquisas. Portanto, em todos os senti dos, os documentos pessoais entram no interior de urn conjunto abrangente de estrategicas de compreensao da realidade (1942, p. 121).
Visando a consistencia referida por Allport, os te6ricos da analise de conteudo consideram que ela deva ser objetiva, trabalhando com regras preestabelecidas e obedecendo a diretrizes suficientemente claras para que qualquer investigador possa replicar os procediinentos e obter os mesmos resultados; sistematica, de tal forma que 0 conteudo seja ordenado
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temicas de analise de material qualitativo
e integrado nas categorias escolhidas, em fun<;:ao dos objetivos e metas anteriormente estabelecidos. Alguns te6ricos acrescentam a essas caracterfsticas 0 termo quantitativo, entendendo que e importante estudar a frequencia para que os temas tenham a medida exata de sua importancia. Esse ultimo requisito, no entanto, nao e exigido por todos os estudiosos que questionam a quantifica<;:ao dos significados .
Existem varias modalidades de Analise de Conteudo, dentre as quais: Analise Lexical, Analise de Expressdo, Analise de Rela((oes, Analise Tematica e Analise de Enunciac;do. Definirei cada uma resumidamente e darei relevancia a Analise Tematica por ser a mais simples e considerada apropriada para as investiga<;:6es qualitativas em saude.
J t Analise lexical I Uma analise lexical inicia-se sempre pela contagem das
palavras, avan<;:ando sistematicamente na dire<;ao da identifica<;:ao e dimensao do texto em estudo. No caso das entrevistas abertas, sao feitos grupamentos de palavras afins, del etadas palavras que apresentam pouco interesse, ate se conseguir que representem 0 sentido do texto . As 'frequencias pE'rmitem consolidar a aplica<;:ao de um tema ou locu<;:ao, possibilitanto situar no contexto as ideias trazidas pelas palavras.
Operacionalmente, a analise lexica se faz da seguinte forma. 0 pesquisador faz 0 tratamento do conteudo de um texto mediante a identifica<;:ao do numero total de ocorrencias de cada palavra, do numero total de palavras, do numero de diferentes palavras, venda a riqueza de vocabulario utilizada para produzir uma resposta ou urn discurso . A seguir, ele classifica as palavras, de acordo com sua ordem na produ<;:ao de significados: verb os, substantivos e adjetivos e, a seguir, os vocabulos instrumentais como artigos e preposi<;:6es. A partir de entao, 0 analista reduz 0 numero de vocabulos significativos, fazendo uma analise controlada, eliminando os artigos, preposi<,:6es e as palavras que julga sem importancia para 0
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objetivo a que se propoe. 0 aprofundamento do estudo pode dar-se com a analise bi ou multivariada dos dados textuais, e depois (0 que ja consiste um procedimento mais aprimorado), integrando-os no contexto de produ<;:ao da linguagem .
• Analise da Expressiio Designa um conjunto de tecnicas que trabalham indica
dores para atingir a inferencia formal. A hip6tese da tecnica de analise de expressao e que existe uma correspondencia entre o tipo de discurso e as caracterfsticas do locutor e de seu meio. A enfase e dada a necessidade de conhecer os trac;os pessoais do autor da fala, sua situac;ao social e os dados culturais de seu contexto. No entanto, esse tipo de tecnica tambem utiliza indicadores lexica is, como a repetic;ao e a incidellcia das palavras. Mas a eles acrescenta a analise do es tilo das falas , do encadeamento 16gico das ideias, dos arranjos sequenciais e da estrutura da narrativa . Sua aplicac;ao mais frequente ocorre na investigac;ao da autenticidade de documentos, na psicologia clinica, na analise de discursos politicos e persuasivos (Bardin, 1979; Unrug, 1974).
• Analise de Relafoes Designa tecnicas que, em vez da analise da mera frequen
cia de vocabulos num texto, abordam relac;oes entre os varios elementos do discurso dentro de urn texto. Sao duas as principais modalidades de analise das relac;oes: (a) a de co-ocorrencias e a (b) estrutural.
A analise de co-ocorrencias procura extrair de urn texto as relac;oes entre as partes de uma mensagem e assinala a presenc;a simultanea (co-ocorrencia) de dois ou mais elementos na mesma unidade de contexto. Por exemplo, no estudo do discurso de uma doente mental, 0 analista observa que cada vez que ela define sua situac;ao, a doenc;a aparece vinculada a situac;ao financeira. No caso, existe correlac;ao entre esses elementos. Osgood (1959) propoe a seguinte sequencia de pro
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tecn icas de analise de material qualitativo
cedimentos para a analise de co-ocorrencias: (a) escolha da unidade de registro (essa pode ser uma palavra-chave ou uma expresssao) e sua categorizac;ao por temas a que diz respeito; (b) escolha das unidades de contexto (podem serf por exemplo, paragrafos ou ate urn texto inteiro) e 0 seu recorte em fragmentos; (c) busca da presenc;a ou ausencia de cada unidade de registro nas unidades de contexto; (d) calculo de co-ocorrencias; (e) represen tac;ao e interpreta<;ao de resultados.
A analise de co-ocorrencia tem sido utilizada para esclarecimento de estruturas da personalidade; para 0 levantamento de relevancias que permanecem latentes tanto nas falas dos indivfdu os como nos textos referentes a coletividade; para estudo de estere6tipos e de representac;oes sociais (Bardin, 1979; Osgood, 1959 i Unrug, 1974) .
A analise estrutural passou a ser bastante exercitada a partir da decada de 1960 e tern, como pressuposto fundamental, a cren<;:a na existencia de estruturas universais, ocultas sob a aparente diversidade dos fen6menos. Filia-se as correntes estruturalistas na sociologia e na antropologia (Levi-Strauss, 1967) e na lingiifstica (Sapir, 1967; Barthes, 1967). Os estruturalistas buscam 0 imutavel e permanente sob a heterogeneidade aparente. Por tras dessa busca esta a noc;ao de sistema. Analisar significara, nesse tipo de estudo, reencontrar as m esmas engrenagens, quaisquer sejam as formas dos mecanismos em que se apresentem. A signiflCac;ao, no caso, fi ca subordinada a es truturac;ao da linguagem.
A analise es trutural nao se aplica ao vocabulario, a semantica ou ao temario da mensagem em si. Ela se dirige a organizac;ao subjacente, ao sistema de rel a<;:oes, as regras de encadeamento, de associac;ao, de exclusao e de equivalencia. Isto e, ela trabalha com todas as interac;oes que estruturam os elementos (signos e significac;oes), mas de maneira invariante e independente deles (Bardin, 1979; Levi-Strauss, 1964, 1967;
Barthes, 1967).
312 tecnicas de analise de material qualitativo
• Analise de Avaliapio ou Representacional Proposta por Osgood (1959), a analise representacional
tern por finalidade medir as atitudes do locutor quanta aos objetos de que fala (pessoas, coisas, acontecimentos). Seu pressuposto e de que a linguagem representa e ref1ete quem a utiliza. Portanto, 0 estudo de seu conteudo explfcito permite fazer inferencias sobre 0 emissor, seu contexto e sua ambienteo 0 conceito central para 0 processo de analise avaliativa ou representacional eo termo atitude. Uma atitude seria, na visao de Osgood, a predisposi<;:ao relativamente estavel e organizada para reagir sob a forma de opinioes ou de atos em presen<;:a de objetos (pessoas, icieias, coisas, acontecimentos), de maneira determinada.
Sendo 0 conceito de atitude 0 nucleo ou matriz que produz e traduz urn conjunto de ju[zos de valor, uma analise representacioanl ou avaliativa consistiria em encontrar as bases das atitudes dos entrevistados, por tras da dispersao das manifesta<;:oes verbais. Seu objetivo e especifico: atem-se somente acarga avaliativa das unidades de significa<;:ao, buscando nelas a direyao e a intensidade dos ju[zos selecionados (Bardin, 1979; Osgood, 1959).
• Analise da Enuncia{:iio
Ap6ia-se numa concep<;:ao de comunica<;:ao como processo (e nao como urn dado estatico) e do discurso como palavra em ato. A analise da enuncia<;:ao considera que na produ<;:ao da palavra elabora-se, ao mesmo tempo, urn sentido e operam-se transforma<;:oes. 0 discurso nao seria urn produto acabado, mas urn momento de cria<;:ao de significados com tudo 0 que isso comporta de contradi<;:oes, incoerencias e imperfei<;:oes. Esse tipo de estudo parte da ideia de que, nas entrevistas, a produ<;:ao da fala e, ao mesmo tempo, espontanea e constrangida pela situa<;:ao. Levando em conta essa dupIa perspectiva na produ<;:ao do texto, a analise da enuncia<;:ao
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tecnicas de analise de material qualitativo 3 13
trabalha com: (a) as condi<;:oes de produ<;:ao da palavra. Parte do principio que a estrutura de qualquer comunica<;:ao se da numa triangula<;:ao entre 0 locutor, seu objeto de discurso e 0
interlocutor. Ao se expressar, 0 locutor projeta seus conf1itos basicos por meio de palavras, silencios e lacunas indicando processos, na sua maioria, inconscientes de expressao; (b) 0
continente do discurso e suas modalidades. Neste segundo tempo, se realiza (1) uma aproxima<;:ao por meio de analise sintatica e paralingiifstica das estruturas gramaticais; (2) uma analise 16gica que mostra os arranjos do discurso; (3) uma analise dos elementos formais atfpicos: silencios, omissoes, ilogismos; (4)
urn realce das figuras de ret6rica . A entrevista aberta e 0 material privilegiado da analise da
enuncia<;:ao, no sentido de que ela evidencia urn discurso dinamico em que esponta!1eidade e constrangimento sao simultaneos e em que 0 trabalho de elabora<;:ao se configura, ao mesmo tempo, como emergencia do inconsciente.
Em terrnos operacionais, a analise da enuncia<;:ao segue 0
seguinte roteiro : .• Estabelecimento do Corpus ou Carpi : delimita<;:ao do
numero de entrevistas a serem trabalhadas. A qualidade da analise substitui a quantidade do material. 0 pesquisador leva em conta a questao central e objetiva da pesquisa para delinear as dimensoes do Corpus e dos desdobramentos para, se for necessario, fazer divisoes em subconjuntos que se inte
gram no conjunto (Corpus). • Prepara<;:ao do Material: cada texto (entrevista) e uma
unidade basica. Come<;:a-se pela transcri<;:ao exaustiva de cada uma delas, deixando-se uma margem (a direita ou a esquerda) para anota<;:oes ou utilizando-se algum artiffcio no computador. A transcri<;:ao conserva tanto 0 registro da palavra (significantes) como dos silencios, risos, repeti<;:oes, lapsos, sons
e outros. • Etapas da Analise: na analise de enuncia<;:ao cad a entre
vista e submetida a tratamento como uma totalidade organi
314 315 tecn icas de analise de materia l qualitativo
zada e singular. Sao observados em cada uma delas os seguintes aspectos: (1) alinhamento ao coletivo e a dinamica propria do discurso do indivfduo, para se encontrar a logica que estrutura cad a uma delas; (2) 0 estilo; (3) os elementos atfpicos e as figuras de retorica.
Na analise da enunciac;:ao de uma entrevista, primeiramente e preciso observar 0 encadeamento das proposic;:6es2 e fazerse uma analise l6gica. Separam-se por barra ou recopiam-se todas as orac;:oes, observando-se as relac;:6es que ressaltam a forma de raciocfnio. A seguir, realiza-se a analise sequenciaL pondo atenc;:ao sobre a maneira de construc;:ao do texto, seu ritmo, sua progressao e as rupturas do discurso.
Na analise de enunciac;:ao, 0 estilo e urn revelador do locutor, de seu contexto e de seus interlocutores, no sentido de que a expressao e 0 pensamento caminham lado a ladq: e preciso te-lo em conta. Igualmente, os chamados elementos atfpicos e as figuras de retorica sao relevantes neste tipo de pratica teorica, devendo-se prestar especial atenc;:ao a: (a) repetir;oes de urn mesmo tema ou de uma mesma palavra dentro de urn texto . A repetic;:ao pode ser indicador da importancia do assunto que a palavra enuncia, mas tam bern da sua ambivalencia e da denegac;:ao; (b) lapsos que podem significar a insistencia numa ideia recusada. Segundo a psicanalise, a erupc;:ao irracional de urn termo num contexto da racionalidade significa uma quebra de defesa do locutor; (c) ilogisrnos, isto e, os emperramentos nos raciocfnios demonstrativos. Costumam ser indicativos de uma necessidade de justificac;:ao ou de urn jufzo contraditorio com a situac;:ao real; (d) lugares-comuns. Esses podem ter urn pape! justificador. Costumam tambern apelar para a cumplicidade do interlocutor (frases feitas, proverbios cultural mente partilhados) ou para desviar a atenc;:ao do entrevistador ou, ainda, para a recusa de aprofundar de-
Po r proposi~ao cmende-se uma afirmac;ao, uma decl a ra~ao, um juizo. E uma llnid~dc que se bas ta J si mesma, ou seja, que pronu nci ada sozinh a tem sen tido.
tecnicas de analise de material qualitativo
terminados assuntos; (e) jogos de palavras: os chistes podem indicar descontrac;:ao mas tambem costumam ser usados para ludibriar 0 entrevistador, visando a provocar 0 distanciamento de uma questao que 0 interlocutor nao quer enfrentar; (f) figuras de ret6rica. Elas jogam com 0 sentido das palavras. As mais comuns sao: 0 paradoxo (reuniao de duas ideias aparentemente irreconciliaveis) ; a hiperbole (0 aumento ou a diminuic;:ao excess iva das coisas); a metonfmia (uso da parte pelo todo, do abstrato pelo concreto e vice-versa); a metafora (designa uma coisa por outra)_
Em sfntese, a proposta da Analise de Enunciar;a.o, bern mais complexa e contextualizada que as abordagens quantitativas das falas, e conseguir, atraves do confronto entre a analise 10gica, a analise sequencial e a analise do estilo e dos elementos atfpicos de urn texto, a compreensao do seu significado. A conexao entre os temas abordados, 0 processo de produc;:ao da linguagem e seu contexto, acabam por evidenciar os conflitos e as contradic;:6es que permeiam e estruturam urn discurso. Essa tecnica e bastante utilizada e com grande produtividade na area de jornalismo inves tigativo e reflexivo .
.. Analise Tematica A noc;:ao de tema esta ligada a uma afirmac;:ao a respeito de
determinado assunto. Ela comporta urn feixe de relac;:6es e pode ser graficamente apresentada atraves de uma palavra, de uma frase, de urn resumo. Segundo Bardin,
o terna e a unidade de significac;:ao que se liberta naturalmente de urn texto analisado segundo criterios relativos a teoria que serve de guia a leitura (1979, p. 105).
Para Unrug, terna e:
uma unidade de significac;:ao complexa de comprimento variaveL a sua validade nao e de ordem linglifstica, mas
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tecnicas de analise de material qualitativo
antes de ordem psicologica. Pode constituir urn tema tanto uma afirma<;:ao como uma alusao (1974, p. 19) .
Fazer uma analise tematica consiste em descobrir os nucleos de sentido que compoem uma comunica<;:ao, cuja presem;a ou jrequencia signifiquem alguma coisa para 0 objeto analftico visado. Tradicionalmente, a analise tematica era feita pela contagem de frequencia das unidades de significa<;:ao, definindo 0 carater do discurso. Para uma analise de significados, a presen<;:a de determinados temas denota estruturas de relevancia, val ores de referencia e mode-los de comportamento presentes ou subjacentes no discurso.
Operacionalmente, a analise tematica desdobra-se em tres etapas:
.. Primeira etapa: Pre-Analise
Consiste na escolha dos documentos a serem analisados e na retomada das hipoteses e dos objetivos iniciais da pesquisa. 0 investigador deve se perguntar sobre as rela<;:oes entre as et3.pas realizadadas, elaborando alguns indicadores que o orientem na compreensao do material e na interpreta<;:ao final. A pre-analise pode ser decomposta nas seguintes tarefas:
Leitura Flutuante: do conjunto das comunica<;:oes. Este momenta requer que 0 pesquisador tome contato direto e intenso com 0 material de campo, deixando-se impregnar pelo seu conteudo. A dinamica entre as hipoteses iniciais, as hipoteses emergentes e as teorias relacionadas ao tema tornarao a leitura progressivamente mais sugestiva e capaz de ultrapassar a sensa<;:ao de caos inicial.
Constituicao do Comus, termo que diz respeito ao universo estudado em sua totalidade, devendo responder a algumas normas de validade qualitativa: exaustividade: que 0
material contemple todos os aspectos levantados no roteiro; representatividade: que ele contenha as caracteristicas essenciais do universo pretendido; homogeneidade: que obede<;:a a criterios precisos de escolha quanto aos temas tratadas, as tecnicas
tecnicas de analise de material qualitativo
empregadas e aos atributos dos interlocutores; pertinencia: que os documentos analisados sejam adequados para dar resposta aos objetivos do trabalho.
Formulacao e reformulacao de Hipoteses e Objetivos, processo que consiste na retomada da etapa exploratoria, tendo como parametro da leitura exaustiva do material as indaga<;:oes iniciais. Os procedimentos exploratorios devem ser valorizados neste momento, para que a riqueza do material de campo nao seja obscurecida pelo tecnicismo. Por isso se fala tam bern em reformula<;:ao de hipoteses, 0 que significa a possibilidade de corre<;:ao de rumos interpretativos ou abertura para novas indaga<;:oes.
Nessa fase pre-analftica, determinam-se a unidade de registra (palavra-chave ou frase), a unidade de contexto (a delimita<;:ao do contexto de compreensao da unidade de registro), os recortes, a forma de categorizar;Go, a modalidade de codificar;Go e os conceitos te6ricos rnais gerais (tratados no infcio ou levantados nesta etapa, por causa de amplia<;:ao do quadro de hipoteses ou pressupostos) que orientarao a analise.
.. Segunda etapa: Explorar;Go do Material A explora<;:ao do material consiste essencialmente numa
opera<;:ao classificatoria que visa a alcan<;:ar 0 nucleo de compreensao do texto. Para isso, 0 investigador busca encontrar categorias que sao expressoes ou palavras significativas em fun<;:ao das quais 0 conteudo de uma fala sera organizado. A categoriza<;:ao - que consiste num processo de redu<;:ao do texto as palavras e expressoes significativas - e uma etapa delicada, nao havendo seguran<;:a de que a escolha de categorias a priori leve a uma abordagem densa e rica. A analise tematica tradicional trabalha essa fase primeiro, recortando 0 texto em unidades de registro que podem se constituir de palavras, frases, tern as, personagens e acontecimentos, indicados como relevantes na pre-analise. Em segundo lugar, 0 pesquisador escoIhe as regras de contagem, uma vez que tradicionalmente a compreensao e construfda por meio de codifica<;:oes e indices
318 tecnicas de analise de material qualitativo
quantitativos. Em terceiro lugar, ele realiza a classifica~ao e a agrega<;:ao dos dados, escolhendo as categorias teoricas ou empfricas, responsaveis pela especifica~ao dos temas.
.. Terceira etapa: Tratamento dos Resultados Obtidos e Interpretar;:ao
Os resultados brutos sao submetidos (tradicionalmente) a operac;:oes estatfsticas simples (porcentagens) ou complexas (analise fatorial) que permitem colo car em relevo as informac;:oes obtidas. A partir daf, 0 analista propoe inferencias e realiza interpretac;:oes, inter-relacionando-as com 0 quadro teorico desenhado inicialmente ou a~re outras pistas em torno de novas dimensoes teoricas e interpretativas, sugeridas pela leitura do material.
Como se pode perceber, a analise tematica e bastante formal e mantem sua cren~a na significa~ao. da regularidade. Como tecnica ela transpira as rafzes positivistas da analise de conteudo tradicional. Porem ha variantes desse tipo de abordagem que trabalham com significados em lugar investir em inferencias estatfsticas. Entre tais variantes, a que mais valoriza os significados e a modalidade de analise da enunciac;:ao.
Analise de discurso
Analise do Discurso e urn conceito relativamente jovem no campo de intersec;:ao entre as Ciencias Sociais e a Linglifstica. Seu criador nas Ciencias Sociais e 0 filosofo frances Michel Pecheux, que fundou, na decada de 1960, a Escola Francesa de Analise do Discurso com 0 proposito de substituir a Analise de Conteudo tradicional.
o quadro epistemologico dessa proposta de trabalhar a linguagem, tanto do senso comurn, como do discurso politico ou erudito, de acordo com seu principal pensador, articula tres regioes do conhecimento: (aJ 0 Materialismo Historico,
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tecnicas de analise de material qualitativo 31 9
canismos sintaticos e dos processos de enuncia~ao; (cJ a Teoria do Discurso como teo ria da determina~ao historica dos process os semanticos .
Em suas obras, Pecheux ressalta que as tres regioes do conhecimento citadas estao perpassadas transversalmente por uma Teoria da Subjetividade, de natureza psicanalista e que deve ser apropriada para explicar 0 carater recalcado na forma~ao do significado.
o objetivo basico da Analise do Discurso, segundo Pecheux, e realizar uma reflexao geral sobre as condi~oes de produc;:ao e apreensao da significac;:ao de textos produzidos nos mais diferentes campos: das rela~oes primarias, religioso, filoso£1co, jurfdico e sociopolitico, visando a compreender 0 modo de funcionamento, os princfpios de organizac;:ao e as formas de produ~ao de seus sentidos.
Os pressupostos basicos da teoria de analise de discurso podem resumir-se em dois princfpios, segundo Pecheux: (1) o sentido de uma palavra, de uma expressao ou de uma proposic;:ao nao existe em si mesmo. Ao contrario, expressa posic;:oes ideologicas em jogo no processo socio-historico no qual as formas de rela~ao sao produzidas; (2) toda forma~ao discursiva dissimula, pela pretensao de transparencia, sua depen dencia das forma~oes ideologicas .
Como procedimento, as tecnicas de analise de discurso pretendem inferir, a partir dos efeitos de superffcie (a linguagem e sua organiza~ao), uma estrutura profunda: os processos de sua produr;:ao (Pecheux, 1988, p. 115). Inscrevem-se portanto, nos marcos de uma sociologia da linguagem, tendo como hipotese basica 0 fato de que 0 discurso e determinado por condi~oes de produ~ao e por urn sistema lingUfstico.
Orlandi e uma discfpula de Pecheux, que trouxe para 0
Brasil a contribui~ao desse £1losofo. Segundo essa autora, Analise de Discurso e uma pro posta crftica que busca problemati
como teoria das forma~oes sociais, de suas transformac;:oes e zar as formas de ref1exao estabelecidas. Ela distingue e situa tambem das ideologias; (bJ a Lingii.fstica como teoria dos me- r esse tema como objeto teorico: (aJ pressupoe a lingUfstica,
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mas se destaca dela: nao e nem uma teoria descritiva, nem uma teoria explicativa. Euma teoria critica que trata da determina<;:ao historica dos processos de significa<;:ao; (b) considera como foco central de analise a rela<;:ao entre a linguagem e seu contexto de produ<;:ao, tendo como marco teo rico a teoria das forma<;:oes sociais e as teorias da sintaxe e da enumera<;:ao; (c) pela sua especificidade, ela e cisionista em dois sentidos: (1) procura problematizar as evidencias e explicitar 0 carater ideologico da fala, revelando que nao ha discurso sem sujeito e nem sujeito sem ideologia; (2) ressalta 0 encobrimento das formas de domina<;:ao polftica que se manifestam na razao disciplinar, instrumental e reducionista.
A Analise do Discurso situa-se, portanto e ao mesmo tempo, numa apropria<;:ao da linglifstica tradicional e da analise de conteudo, e numa critica dessas abordagens, evidenciando que sao praticas-teoricas historicamente definidas. Orlandi diz que a analise de discurso cria urn ponto de vista proprio de olhar a linguagem como espa<;:o social de debate e de conflito. Nela, 0 texto e considerado como uma unidade significativa, pragmatica e portadora do contexto situacional dos falantes. Comenta Orlandi que neste tipo de proposta, as palavras, as senten<;:as e os perfodos sao valorizados tambem em suas peculiaridades lexicais, morfologicas, sintaticas e semanticas, porem, 0 que cria a analise do discurso, "e 0 ponto de vista das condi<;:oes de produ<;:ao do texto" (Orlandi, 1987, p. 130) .
Em rela<;:ao a Analise de Contelido, tanto Pecheux como Orlandi insistem em marcar uma linha divisoria. Sua crftica fundamental e de que esse tipo de abordagem toma 0 texto como pretexto e 0 atravessa so para demonstrar 0 que ja foi definido a priori pela situa<;:ao dos atores em campo, ou como ilustra<;:ao de uma situa<;:ao. Enquanto isso, a Analise de Discurso considera 0 texto como urn monumento e sua exterioridade como parte constitutiva da historicidade inscrita nele. Dessa forma, entende que a situa<;:ao em estudo est} atestada no texto e e preciso buscar a compreensdo do seu processo produtivo,
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muito mais do que realizar uma interpretar;do exteriorizada do objeto de pesquisa.
A teoria de Analise do Discurso trouxe uma contribui<;:ao fundamental para a analise do material qualitativo, sobretudo numa situa<;:ao em que a hegemonia sempre coube as analises positivistas dos conteudos das falas. Atualmente nichos especfficos de seu desenvolvimento teorico e tecnico sao, principalmente, as areas de informa<;:ao e comunica<;:ao. A analise dos diversos fenomenos informacionais e comunicacionais (Sodre, 1992; Champagne, 1997) tern em comum a concep<;:ao de que eles fazem parte de urn sistema que se articula a logica da vida socia!. E que, nas sociedades modernas, esses meios ocupam urn lugar privilegiado de produ<;:ao e reprodu<;:ao do real, tornando-se poderosos "interferentes" na organiza<;:ao do espa<;:o relacional (Hobsbawm, 1995; Ramonet, 1996; Martin-Barbero, 2001).
E importante definir alguns conceitos desenvolvidos a partir da perspectiva dos teoricos da tecnica de analise de discurso.
Texto - Na tecnica de analise de discurso, 0 termo texto e tornado como unidade de analise: unidade complexa de significa<;:oes . Urn texto pode ser uma simples palavra, urn conjunto de frases ou urn documento completo. Texto distinguese de discurso . Enquanto este ultimo vocabulo designa urn conceito teorico-metodologico, 0 primeiro e utilizado como conceito analftico. 0 discurso e a linguagem em intera<;:ao, com seus efeitos de superffcie e representando rela<;:oes estabelecidas. 0 texto consiste no discurso acabado para fins de analise. Todo texto, enquanto corpus, e urn objeto completo. A partir dele sao realizados posslveis recortes. Como objeto teo-rico, porem, 0 texto e infinitamente inacabado : a analise lhe devolve sua incompletude, acenado para urn jogo de multiplas possibilidades interpretativas, para 0 contexto que 0
gerou, para a ideologia nele impregnada e para as rela<;:oes dos atores que 0 tornam possive!.
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Do ponto de vista analitico, 0 texto e 0 espac;:o mais adequado para se observar 0 fen6meno da linguagem: ele contem a totalidade. Essa totalidade revela-se em tres dimensoes de argumentac;:ao: (a) relar;oes de forr;a em que se demarcam lugares sociais e posic;:ao relativa do locutor e do interlocutor; (b) relar;ao de sentido, constituindo a interligac;:ao existente entre este e varios outros discursos como num "coro de vozes " que se esconde em seu interior; (c) relar;ao de antecipar;ao, que diz respeito ao movimento do falante, prevendo a reac;:ao de seu interlocutor: qualquer fala tern em mente urn ouvinte e sua reac;:ao.
Segundo Orlandi (1987) , 0 movimento que acontece no interior do discurso e ao mesmo tempo, 0 processo, 0 produto eo centro nevralgico da significac;:ao a ser compreendido na analise do texto. Portanto, todo texto exala ideologia e pode determinar a relac;:ao entre 0 enunciador e 0 ouvinte, caracterizando sua inserc;:ao em determinada formac;:ao discursiva .-l Qualquer discurso e referidor e referido: dialoga com outros discursos e se produz no interior de instituic;:oes e grupos que determinam quem fala, 0 que e como fala e em que momento.
Leitura e Silencio - Qualquer texto admite multiplas possibilidades de interpretac;:ao. 0 jogo de relac;:oes e de intera c;:oes sociais permite tanto 0 nivel de leituras parafrasticas, ou seja, possuem 0 sentido dado por seus autores, como 0 nivel polissemico em que a fala se atribuem multiplos sentidos. Tanto a leitura como a significac;:ao sao produzidas pelos interlocutores e leitores. A possibilidade de multiplas interpretac;:oes ap6ia-se no fato de que 0 processo discursivo nao tern urn infcio preciso: ele acumula sentidos de discursos previos e parte deles, sendo reinterpretados peJa experiencia concreta do lei tor, do interlocutor ou do analista.
] Entende-se em Pecheux po r Fonna~ao Discursiva as marcas de eS lii o que se produzem na rel ac;ao da linguagem com suas condi c;6es de prod uc;ao. A formac;ao di scursiva edefinida na sua relac;ao com formac;ao ideo logica: 0 que pode e deve ser dilO. Toda formac;ao discursiva dissimula, pela lransparencia do serll ido que nela se co nsliLUi, sua dependencia das formac;6es ideo logicas (Pecheux, [988, pp. 160-2).
tecnicas de analise de material qualitativo
o Silencio ocupa lugar de relevancia na tecnica de analise de discurso. Tanto quanto a palavra, 0 silencio tern suas condic;:oes de produc;:ao : ele e ao mesmo tempo ambiguo e eloquente. 0 silencio conseguido pelo opressor e uma forma de exclusao; 0 silencio imposto pelo oprimido pode expressar formas de resistencia . 0 silencio sobre urn tema contundente ressalta a importancia de que seja abordado pelo investiga dor. 0 dito e 0 nao dito configuram 0 jogo de cenas entre a regiao inte-rior e exterior dramatizado no trabalho de campo, pois ha silencios que dizem e ha falas silenciadoras. A fala autoritaria visa a impedir que as pessoas se revelem, mas tambern quer coagi-las a dizer 0 que nao pretendem pronunciar. Portanto, nem a fala nem 0 silencio dizem por si. Ambos expressam relac;:oes e dizem muito sobre as pessoas que os em
pregam. Tipos de Discurso - Segundo Orlandi urn tipo de discur
so resulta de determinado modo de funcionamento discursivo. Ou seja, a atividade de dizer e tipificante: todo locutor, quando fala, estabelece uma configurac;:ao que tern embutido em si urn estilo que se expressa na interac;:ao. Porem, se 0 discurso determinado s6 pode ser compreendido como processo, seu resultado pode ser classificado dentro de formas ou tipos discursivos distintos. A autora propoe (na linha do tipoideal de Max Weber, isto e, como instrumento de analise) a seguinte tipologia: discurso ludica, discurso polemico e discurso autoriWrio. No primeiro, a simetria e a reversibilidade entre os interlocutores sao totais e a polissemia e maxima. No tipo polemica, a reversibilidade e menor e s6 se da sob certas condic;:oes, comportando algum grau de polissemia. 0 discurso autoritcirio e totalmente assimetrico e contem poucas possibilidades de interpretac;:ao polissemica. Os tipos se subdividem e permitem a construc;:ao de' matrizes de interpreta c;:ao dentro da linha que inspira 0 modelo te6rico, 0 modelo estrutural.
Carater recalcado da matriz do sentido - Pecheux chama atenc;:ao para 0 fato de que os processos discursivos reali
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zam-se por meio da prodw;ao de sentidos, mas tern urn campo de atua<;:ao rnais amplo . Adotando a linha da psicanalise lacaniana, Pecheux lembra que 0 inconsciente atravessa toda enuncia<;:ao e que toda fala e marcada por dois nfveis de recalque: "0 esquecido numero urn" eo "esquecido numero dois ".
o esquecido numero urn "designa aquilo que nunca foi conhecido e que, portanto, toca mais de perto 0 sujeito que fala, na estranha familiandade que ele mantem com as causas que 0 determinam " (Pecheux, 1988, p. 175 ). 0 autor referese a uma zona inconsciente, no sentido em que a ideologia e, por sua constitui<;:ao, tambem inconsciente e, no entanto, determina a forma de estrutura discursiva.
o esquecido numero dois diz respeito a urn tipo de oculta<;:ao parcial em que 0 recalcado pode ser compreendido, re cuperado e reformulado pelo sujeito da enuncia<;:ao. Quando alguem tenta aprofundar ou enunciar de forma mais adequada seu pensamento em linguagem, passa a se situar numa zona intermediaria, pre-consciente/consciente em rela<;:ao ao sentido de sua fala (Pecheux, 1988).
A contnbui<;:ao dos pnncipais autores da teona da Analise do Discurso se fundamenta principalmente na crftica da linguagem, sempre ressaltando que 0 emissor e 0 receptor em inter-rela<;:ao na constru<;:ao de determinado discurso correspondem a lugares determinados na estrutura social (patrao/ operarios; padre/fieis; pai/fil hos; polftico/povo). A situa<;:ao dada do locutor assim como a do destinatario afetam 0 dis curso emitido, pois 0 sujeito produz e transmite 0 discurso num espa<;:o social: 0 locutor antecipa, no processo discursivo, as representa<;:oes de sentido de seu interlocutor, ainda quando esse ultimo seja configurado apenas hipoteticamente na fala sempre refenda do autor.
Enquanto possibilidade teorica, a analise do discurso apresenta m eios para que 0 investigador entenda 0 processo e as condi<;:oes de produ<;:ao de urn discurso (fala, documento); 0
sentido do campo semantico em que ele e produzido; e uma
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elabora<;:ao contextualizada e crftica das realiza<;:oes discursivas (corpus, amostra) .
Como tecnica, Pecheux e Orlandi propoem varias opera<;:oes descritas a seguir: 0 texto deve ser submetido a varias opera<;:oes classificatorias, simultaneamente semanticas, sintaticas e logicas. De acordo com recheux, cada frase deve ser decomposta em proposi<;:oes, 0 que implica varias opera<;:oes linglifsticas: substitui<;:ao das anaforas4 pelos termos que elas representam; 0 restabelecimento da ordem corrente na frase; reagrupamento dos term os de liga<;:ao e explicita<;:ao de proposi<;:oes latentes. Ou seja, 0 pesquisador deve, de certa forma, refazer 0 discurso, buscando as dependencias funcionais da linguagem evidenciadas nas frases. Assim, as proposi<;:oes VaG se reduzindo a unidades mfnimas que, dentro da perspectiva fenomenologica, Schutz (1979) chamana de ?st/l1turas de releviincia. Mas a sugestao de Pecheux e que 0 pesquisador chegue a proposi<;:oes passfveis de serem colocadas em graficos e classificadas de forma binana. A partir de entao, 0 pesquisador procede aanalise automatica do material. Isto e, codificados os enunciados elementares e as rela<;:oes binarias, os dados 150 dem ser computadorizados em busca de correla<;:oes.
Para recheux, a possibilidade da analise automatica vern do fato de que os mecanismos de produ<;:ao do discurso sao caracterizados pela repeti<;:ao do iden tico, atraves de formas diferenciadas . Tal co ncep<;:ao se apoia na analise estrutural dos mitos em Levi-Strauss (1967) e na propria leitura que esse autor faz da concep<;:ao estruturalista do materialismo historico em Althusser (1967): "busca-se, por tras das varia<;:oes de superffcie, 0 princfpio gerador que organiza 0 conjunto" (1988, p. 180) .
Orlandi apresenta uma proposta tecnica mais flexfvel. Ela trabalha utilizando os seguintes procedimentos: (1) em pri
, 0 lermo lind/om diz respeilO as repeli,6es de uma Oll mais palavras no in ic io de duas ou mais frases. de membros da mesma Frase ou de dois ou mais ve rsos.
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meiro lugar procede ao estudo das palavras do texto (faz a separa<;:ao dos termos constituintes, analise dos adjetivos, dos substantivos, dos verbos e dos adverbios); (2) em segundo lugar, realiza a analise da constru<;:ao das frases; (3) em terceiro lugar, constroi uma rede semantica que evidencia uma dinamica interrnediaria entre 0 social e a gramatica; (4) por fim, elabora a analise, cOflsiderando a produ<;:ao social do texto como constitutiva de seu proprio sentido
Sem duvida, a proposta de analise do discurso, que sai do campo reduzido da lingliistica e se coloca no interior das Ciencias Sociais, e urn bern inestimavel para a pesquisa qualitativa, mesmo quando 0 investigador nao a utilize em todo 0 seu rigor tecnico. Sua maior contribui<;:ao para quem trabalha com analise social e dar elementos para contextualiza<;:ao da fala, ultrapassando em complexidade as posturas positivistas ou fenomenologicas. No entanto, sua pretensao de substituir a Analise de Conteudo e radicalmente questionada por Bardin,s segundo a qual:
Por debaixo de uma linguagem obscondita que por vezes mascara banalidades, sob urn formalismo que por vezes escapa ao leitor, para alem das constru<;:oes teoricas, que ao nivel da pratica da analise sao improdutivas a curto prazo, existe uma tentativa totalitaria (no sentido em que se procura integrar, no mesmo procedimento, conhecimentos adquiridos ou avan<;:os ate al dispersos ou de natureza disciplinar estranha: teoria e pratica linglilstica, teoria do discurso como enuncia<;:ao, teoria da ideologia e automatiza<;:ao dos procedimentos) cuja ambi<;:ao e sedutora, mas em que as realiza<;:oes sao anedoticas. 0 que e deploravel! (1979, pp. 220-2).
Bardin e urn estudioso da Analise de Con teudo e ob\~amente sua disCllssao com Pecheux esta influenciada por uma visao da Ana lise do Discurso que pretende destruir sua pretensa concorrente.
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Orlandi, no entanto, avan<;:a nas propostas concretas de a<;:ao: suas forrnula<;:oes sao menos estruturadas e fechadas que as de pecheux. As reflexoes da autora sobre 0 discurso pedagogico, 0 discurso politico, 0 discurso religioso e 0 discurso escolar ampliam 0 campo da abordagem critica e desvendam os mecanismos de domina<;:ao que se escondem sob a linguagem. No caso de Pecheux, 0 que dificulta bastante a operacionaliza<;:ao da proposta e a sua submissao aos procedimentos estruturalistas, subtraindo muito da flexibilidade que a teo ria pretende dar a produ<;:ao de sentido. A redu<;:ao do discurso a proposi<;:oes binarias e a finaliza<;:ao do processo por meio da analise automatizada nao permitem ao investigador a compreensao das reia<;:oes dialeticas constitutivas da realiza<;:ao social.
A Hermeneutica Dialetica
A vida pensa e 0 pensamen to ? c
- GADAMER, 1999, JX3 26
Buscq aprofundar a articula<;:ao entr~ermeneutica e dialetica investindo nas raizes de~ naosa d' fussao, apenas do ponto de vista do "co mo fazer" sim, tam bern, do "como
pensar". Na verdade, a a~ordoem desse assunto junta duas questoes fundamentais: a s jetiva<;:ao do objeto e a objetiva<;:800 do sujeito, temas cry ais da sociologia do conhecimento, que, do ponto de vis :{ metodologico, costumam ser reduzidas aos problema as rela<;:oes entre quantitativo e qualitativo na praxis cie ifica.
Come<;:o ortanto, problematizando os dois conceitos centrais n quais 0 texto se sustenta, a hermeneutica e a dialetica. Pa ,a seguir, articula-Ios como caminho de possibilidades J constru<;:ao teorico-metodologica de base empirica e dy-umental. 0 conceito de saude sera tratado apenas como
, urn caso de aplica<;:ao dessa abordagem, amedida que, seguin
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micas e politicas, de sua participa<;:ao e inser<;:ao nas tot idades maiores como bairro, cidade, pais; (b) do map mento do sistema de saude local e proximo (hospitais, ntros de saude, farrnacias, outras facilidades e alternativas rapeuticas, mesmo populares) dos profissionais, da acessibi . dade aos servi<;:os; (c) do perfil de morbimortalidade da opula<;:ao residente e objeto da investiga<;:ao. Esse primeir: nivel e 0 plano da totalidade (sempre totalidade parcial) 9 do contexto, que significa, segundo Lukacs:
Urn todo coerente em que ca a elemento esta, de uma maneira ou de outra, em rela 0 com outro elemento; e de outro, que essas rela<;:oes :D . rrnam na propria realidade objetiva, correla<;:oes conere as, con juntos, unidades ligadas entre si de maneiras omplementares diversas, mas sempre determinadas (1 67, p. 240).
No momento concert de interpreta<;:ao dos dados, 0 sentido da totalidade se re re tanto ao nivel das determina<;:oes como a do recurso int retativo pelo qual se busca descobrir as conexoes que a ex eriencia empfrica mantem com 0 plano das rela<;:oes essenc' is. Nem sempre esse momento pode ser captado apenas at aves das representa<;:oes sociais. A opera<;:ao intelectual pela ual se obtem a totalidade conereta implica urn moviment da razao e da experiencia, uma articula<;:ao da base material das ideias. Do ponto de vista historico, a postura compr nsiva reconhece os fenomenos sociais sempre como res tados e efeitos da atividade criadora, tanto imediata qu to institucionalizada . Portanto, toma como centro da anal' e a ratica social e a a ao humana e as considera como result os de condi<;:oes anteriores, exteriores, interiores e tambern omo praxis. Isto e, 0 ato humano que atravessa 0 meio so 'al conserva as determina<;:oes, mas se realiza no sujeito que v' e, pensa, sente e reflete 0 mundo. "0 homem faz a histona: ele se objetiva nela e nela se aliena" (Sartre, 1978, p. 150) .
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As concep<;:oes de saude e doen<;:a sao frutos e manifesta<;:oes de condicionamentos socio-historicos que se vinculam a acesso a servi<;:os, tradi<;:oes culturais, concep<;:oes dominantes sobre 0 assunto e da inter-rela<;:ao de tudo isso. Portanto, saude e doen<;:a sao fen6menos sociais nao apenas porque expressam certo nfvel de vida ou porque correspondem a certas profissoes e praticas. Mas porque sao manifesta<;:oes da vida material, das carencias, dos limites sociais e do imaginario coletivo.
o segundo momenta interpretativo e 0 ponto de partida e 0 ponto de chegada de qualquer investiga<;:ao: e 0 encontro com os fatos empfricos, no caso, com urn conjunto de concep<;:oes sobre saude e doen<;:a Epreciso encontrar nos relatos dos inforrnantes 0 sentido, a logica interna, as proje<;:oes e as interpreta<;:oes. Isto e, nesses textos existe, ao mesmo tempo, uma especffica significa<;:ao cultural propria do grupo e uma vincula<;:ao muito mais abrangente que junta esse grupo a cfrculos cada vez mais abrangentes e intercomunicaveis da realidade, tratados no primeiro item.
Na busca da significa<;:ao especffica, e preciso que a analise contemple: (a) as comunica<;:oes individuais (entrevistas, historias de vida, resultados de discussoes de grupo); (b) as observa<;:oes de condutas, costumes e rela<;:oes relativas ao tema saude e doen<;:a; (c) a analise das falas sobre institui<;:oes oficiais (e outras inforrna<;:oes sobre elas) e sobre outras entidades ou organiza<;:oes alternativas que ofere cern servi<;:os no local; (d) observa<;:ao de cerim6nias e ritos atinentes ao tema.
A interpreta<;:ao exige elabora<;:ao de Categorias Analfticas (geralmente trabalhadas desde 0 infcio da investiga<;:ao) capazes de desvendar as rela<;:oes mais abstratas e mediadoras para a parte contextual e de Categorias Empiricas e Operacionais, criadas a partir do material de campo, contendo e expressando rela<;:oes e representa<;:oes tfpicas e especfficas do grupo em questao. A partir dos dados colhidos e acumulados, 0 investigador se volta para os fundamentos das teorias que fizeram parte da elabora<;:ao dos conceitos iniciais na fase explorato
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ria, para por em duvida ideias evidentes anteriormente e para verificar em que medida 0 momenta p6s-trabalho de campo lhe exige aprofundamento de outros tern as. Assim, 0 pesquisador constr6i uma nova aproxima<;ao do objeto: 0 pensamento antigo (proveniente da fase explorat6ria) que e negado, mas nao exclufdo, encontra outros Ii mites e se ilumina na elabora<;ao do momento presente. 0 novo contem 0 antigo, incluindo-o numa nova perspectiva.
Como operacionalizar esse segundo momento que, na verdade, constitui 0 maior desafio da fase de analise? Por meio de tres fases, cujos passos sugiro que sejam os seguintes:
.. OTdena~ao dos dados o momenta da ordena<;ao engloba tanto as entrevistas como
o conjunto do material de observa<;ao e dos documentos populares e institucionais, referentes ao tema concep<;oes de saude e doen<;a. 6 Essa etapa inclui: (a) transcri<;ao de fitas-cassete; (b) releitura do material; (c) organiza<;ao dos relatos em determinada ordem, 0 que ja supoe urn infcio de dassifica<;30; (d) organiza<;ao dos dados de observa<;ao, tambem em determinada ordem, de acordo com a proposta analftica . Essa fase da ao investigador urn mapa horizontal de suas descobertas no campo.
Entendo este trabalho como urn processo hermeneutico, em que se toma 0 material empfrico sobre concep<;oes de saude e doen<;a como urn conjunto, urn Corpus, a ser tecnicamente trabalhado. Caso a pesquisa empfrica tenha sido feita com grupos diferenciados por classe social, por idade, por religiao (todas essas divisoes sao aqui hipoteticas), varios subconjuntos devem ser criados, visando-se a uma leitura que busque homogeneidades e diferencia<;oes por meio de compara<;oes e contrastes.
,. Nao entramos aqui nos detalhes referentes a Ordena~ao de Dados. lndicamos co mo bibliografia complementar 0 trabalho de Poirier e! at. Les Ricit.s de \lie. Pari s: PUF. 1983
tecnicas de analise de material qualitativo
... Classifica~ao de dados E preciso ter em mente que nao e 0 campo que cria 0
chamado "dado", uma vez que a informa<;ao que de la emerge ja traz em seu interior uma constru<;ao de indaga<;oes e respostas. Neste momento 0 processo de constru<;ao do conhecimento se complexifica. Proponho que 0 momento classificat6rio seja constitufdo pelas seguintes etapas:
.. Leitura horizontal e exaustiva dos textos, prolongandose uma rela<;ao interrogativa com eles. Apenas provisoriamente toda a aten<;ao do pesquisador deve estar voltada para esse material. Se Fosse possIvel sugerir uma atitude, a ideal seria fechar olhos e ouvidos para qualquer interferencia contextualizadora, tal qual e proposto pela analise fenomenol6gica (Capalbo, 1979), mas infelizmente isso e quase impossfve!. Costaria, porem, de chamar aten<;ao para a importancia desse momento, para nao ocorrer algo muito comum das produ<;6es qualitativas: ou a mera exposi<;ao das falas com comentarios do pesquisador ou urn solene menosprezo dos achados ern campo.
Essa etapa inicial de contato corn 0 material de campo exige uma leitura de cada entrevista e de todos os outros documentos, anotando-se (no computador ou ern papel impresso) as primeiras impressoes do pesquisador, iniciando-se, assim, a busca de coerencia interna das informa<;oes.
o material escrito necessita ser cuidadosamente analisado: frases, palavras, adjetivos, concatena<;ao de ideias, sentido geral do texto. Sobre 0 tema, Bakhtin (1986) sugere algumas regras metodol6gicas: (1) n30 separar a ideologia da realidade material do signo; (2) nao dissociar 0 signo das formas concretas de comunica<;ao (entendendo-se que 0 signo faz parte de urn sistema de comunica<;ao social organizado); (3) nao dissociar a comunica<;ao e suas formas da base material em que ela se sustenta.
Esse exercfcio inicial, denominado por alguns autores como "leitura flutuante" permite apreender as estruturas de relevan
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cia dos atores sociais, as ideias centra is que tentam transmitir e os momentos-chave e suas posturas sobre 0 tema em foco (no caso, como exemplo as concep<;:oes de saudejdoen<;:a). A aten<;:ao imergente do pesquisador sobre 0 material 0 ajudara pouco a pouco a construir categorias empfricas. Urn passo futuro sera confronta-Ias com as categorias analfticas, teoricamente estabelecidas como balizas da investiga<;:ao, e buscar as inter-rela<;:oes e interconexoes entre elas.
• Leitura transversal. 0 segundo momenta e 0 da leitura leitura transversal de cada subconjunto e do conjunto em sua totalidade. 0 processo e do recorte de cada entrevista ou documento em "unidade de sentido", por "estruturas de relevancia", por "topicos de informa<;:ao " ou por "temas". Os criterios de classifica<;:ao em primeira instancia podem ser tanto variaveis empfricas como variaveis teoricas ja construidas pelo pesquisador. No processo classificatorio, 0 pesquisador separa temas, categorias ou unidades de sentido, colocando as partes semelhantes juntas, buscando perceber as conexoes entre elas, e guardando-as em codigos ou gavetas.
Terminado este primeiro esfor<;:o em que muitas "gavetas" foram abertas, 0 pesquisador parte para uma segunda tarefa, fazendo urn enxugamento de suas classifica<;:oes; agrupando tudo em numero menor de unidades de sentido e buscando compreender e interpretar 0 que foi exposto como mais relevante e representativo pelo grupo estudado. Aqui se faz uma reflexao sucessiva, em que a relevancia de algum tema, uma vez determinado (a partir da elabora<;:ao teo rica e da evidencia dos dados de campo), permite refinar 0 movimento classificatorio. As multiplas gavetas sao reagrupadas em tomo de categorias centra is, concatenando-se numa logica unificadora.
• Analise Final. As etapas de ordena<;:ao e classifica<;:ao demandaram uma profunda inflexao sobre 0 material empirico, que deve ser considerado 0 ponto de partida e 0 ponto de chegada da compreensao e da interpreta<;:ao. Esse movimento circular, que vai do empirico para 0 teo rico e vice-versa, que
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dan<;:a entre 0 concreto e 0 abstrato, que busca as riquezas do particular e do geral e 0 que se pode chamar, parafraseando Marx (1973), " 0 concreto pensado".
Levando-se em conta 0 exemplo adotado, a pesquisa sobre concep<;:oes de saude e doen<;:a deve apresentar aos leitores urn quadro complexo de respostas voltadas para esclarecer a logica interna de urn grupo determinado sobre 0 tema em pauta, quando 0 pensa, quando fala dele, quando se relaciona e quando a partir dele se comporta, projeta e planeja sua vida. Pois, como lembra Sartre (1978) , as significa<;:6es que vern do ser humano e de seu projeto se inscrevem por toda parte, na ordem das coisas e nas rela<;:oes mediadas pelas estruturas enquanto a<;:ao humana objetivada.
• Relatorio. Estou usando 0 termo relat6rio para me referir a comunica<;:ao dos dados de uma pesquisa. Nesse sentido, relatorio passa a ser sinonimo da formata<;:ao final de uma monografia, de uma disserta<;:ao ou de uma tese, ademais de ser 0 produto (provisoriamente) acabado de uma determinada investiga<;:ao. 0 relatorio final de uma pesquisa deve configurar-se como uma uma sfntese, na qual 0 objeto de estudo reveste, impregna e entranha todo 0 texto. Costumo dizer a meus alunos: da primeira aultima linha de seu trabalho, falem de seu objeto. 0 contexto, as determina<;:oes abstratas e tudo mais, nessa etapa do "concreto pensado", emanam do objeto e nao ao contrario. Portanto, sera urn trabalho incompleto 0 que apenas descreve, ipsis litteris, 0 processo de trabalho do investigador. A compreensao e a interpreta<;:ao em seu Formato final, alem de superar a dicotomia objetividade vs. subjetividade, exterioridade vs. interioridade, analise vs. sfntese, revelara que 0 produto da pesquisa e urn momenta da praxis do pesquisador. Sua obra desvenda os segredos de seus proprios condicionamentos, pois a investiga<;:ao social como processo de produ<;:ao e produto e, ao mesmo tempo, uma objetiva<;:ao da realidade e uma objetiva<;:ao do investigador que se torna tambem produto de sua propria produ<;:a.o.
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Do ponto de vista operativo, relat6rio e 0 instrumento mais tradicional de apresenta<;:ao dos resultados de uma pesquisa. Ha algumas normas basicas sobre esse tipo de documento. A folha de rosto deve conter: (a) titulo que corresponda ao objeto de investiga<;:ao; (b) nomes dos participantes da equipe de avalia<;:ao com suas respectivas fun<;:6es; (c) nomes ou logomarcas das institui<;:6es realizadoras do trabalho e das patrocinadoras e (d) data de finaliza<;:ao do informativo. Todos esses detalhes facilitam a comunica<;:ao direta e a cataloga<;:ao do trabalho.
Em seguida, caso 0 texto seja apresentado em capitulos e fundamental acrescentar 0 indice do trabalho. 0 conteudo pode ser apresentado de varias formas, mas e preciso manter o tom direto e ao mesmo tempo complexo, nunca se omitindo os seguintes termos: 0 objeto, os objetivos; 0 hist6rico, 0
contexto e as circunstancias da investiga<;:ao; os conceitos centrais que balizaram 0 olhar cientifico, de forma sucinta e problematizada; 0 metodo ou os metodos adotados com suas respectivas modalidades de operacionaliza<;:ao tecnica; a descri<;:ao, analise e problematiza<;:ao dos achados empfricos; os resultados e, se for 0 caso, as recomenda<;:6es.
Quem elabora urn relat6rio precisa ter sempre em mente 0
carater da pesquisa que realizou: se foi uma pesquisa basica, operativa ou estrategica, pois a forma de realizar a sintese deve refletir a proposta do trabalho. Em qualquer hip6tese, esse instrumento precisa ressaltar os pontos mais relevantes do estudo e, ainda, descrever as condi<;:6es de realiza<;:ao da pesquisa, como ja foi fundamentado na parte que trata do trabalho de campo.
Para facilitar sua leitura, 0 relat6rio deve ser escrito em linguagem clara, objetiva, e apresentar, sempre que possivel, formatos sinteticos e visuais que permitam compara<;:6es, como e 0 caso de graficos, tabelas, mapas ou outros dispositivos. Dados mais complexos e de diffcil compreensao podem ser postos em anexos, desde que explicados de forma simplificada no relat6rio. Urn estudo bern planejado e acompanhado durante todo 0 seu processo de realiza<;:ao e 0 pre-requisito da confian<;:a para apresenta<;:ao de resultados fidedignos.
Capitulo 12 TRIANGULAC;AO DE METODO
QUANTITATIVOS E QUALITATWOS 1
N 0 CAP iTU LO QUE TRATA DOS CjiNCEITOS BA.SICOS de pesquisa, discuti os problemas epi(emol6gicos das rela<;:6es entre metodos qUantitativos~Halitativos , Neste momento ofere<;:o ao leitor urn caminho ae possibilidades em que os dois termos podem se encon} ar, superando dicotomias e vencendo, do ponto de vista quantitativo, os marcos do positivismo; e, sob a 6tica qu itativa, as restri<;:6es relativas acompreensao da magnitu ' e dos fenomenos e process os sociais . Falo de urn tipo de bordagem, a Triangulm;iio de Metodos que pode ser compre dida como uma dinamica de investiga<;:ao que integra a alise das estruturas, dos processos e dos resultados, a c mpreensao das rela<;:6es envolvidas na implementa<;:ao d s a<;:6es e a visao que os atores diferenciados constroem so e todo 0 projeto: seu desenvolvimento, as rela<;:6es hierar icas e tecnicas, fazendo dele urn construto (Schutz, 1982 especffico . Alem da integra<;:ao objetiva e subjetiva nos pro €:ssos de pesquisa, esta proposta inclui os atores contac
1 Como anunciei na ap resema<;ao deSla nona edi<;ao do livro 0 Desafio do Conhecimento. resolvi acrescentar e ampliar algumas panes dessa obra. No caso deste ca pitulo 'Triangula\ao de MelOdos ", 0 texto e, em pane, reprodu<;ao do capitulo introdutci ri o que escrevi para 0 livro Avnliar;ilo por Triangular;ilo de Metodos, publicado pela Edilora Fiocruz, Rio de Janeiro, em 2005.
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