Mil e uma facetas monet133 - abril2014

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FOTO: FABIO CORDEIRO/ED. GLOBO Aos 30 anos, ela se aventura pela primeira vez como diretora da série Só Garotas, depois de ter se consagrado como atriz na televisão e no cinema Mil e uma facetas Como surgiu a ideia de fazer essa série? Na verdade, a série foi uma ideia minha com mais duas amigas. Começamos a nos encontrar uma vez por semana para escrever histórias engraçadas sobre nós e sobre nossas amigas, e conversar um pouco sobre o mundo feminino carioca. A gente começou a escrever e um dia apresentei o projeto ao canal. Por que a escolha de, desta vez, ficar atrás das câmeras? Estou envolvida mais na parte de criação do programa e senti que poderia acres- ILHA DE UMA ROTEIRISTA e de um técnico de som de cinema, Maria Flor desde ce- do se acostumou às câmeras. Não é à toa que em pouco mais de dez anos de carreira, ela tenha conseguido papéis de desta- que, como a protagonista da série Aline e a participação no longa 360 (2011), de Fernando Meirelles, no qual contrace- nou com o galês Anthony Hopkins. Hoje, a carioca se arrisca em mais um importante papel: o de diretora. Atrás das câmeras, ela comanda a série Só Garotas, sobre as situações cômicas e dramáticas da vida de quatro jovens do Rio de Janeiro, que conta no elenco com Flora Diegues, Vitória Frate, Julia Stockler e Liliana Castro. Em entrevista exclusi- va à MONET, a artista contou como amadureceu como profissional e o que espera da carreira. de serem quatro meninas, cada uma com a sua questão na vida, cada uma com o seu romance. Acho também que o humor da gente é inspirado muito em Girls, mas Só Garotas é uma produção menor, muito mais familiar, e tem a cara das atrizes que a fizeram, tem a minha cara, tem a cara das roteiristas. Tem algum diretor de televisão ou cinema no qual você se inspirou ou se espelhou para dirigir a série? Todos os diretores com quem trabalhei me inspiraram muito. Mas há dois que não conheço, só assisti aos seus trabalhos, que brinco que são quem eu gostaria de ser. A Sofia Coppola por um lado, e o [John] Cassavetes por outro. Você fez cinema, novelas na TV aberta, protagonizou a série Aline e agora é diretora de Só Garotas. Entre todos es- ses papéis que já assumiu, qual é o seu preferido e qual é o mais difícil? São funções muito diferentes. A função de diretora é muito diplomata e, ao mesmo tempo, carismática para fazer com que as pessoas briguem pelo seu projeto. Porque o cinema é, na verdade, uma função muito solitária, você preci- sa fazer com que as pessoas estejam do seu lado e comprem a sua briga, façam aquilo porque gostam do projeto. É uma coisa muito diferente de ser atriz. Ser atriz é uma função ao mesmo tempo solitária e muito criativa, muito sonha- dora. São coisas muito diferentes. Não tenho como dizer do que eu gosto mais. Gosto de tudo. Gosto de estar traba- lhando, de estar criando, essa é a minha motivação. Gosto do processo de fazer, porque você aprende fazendo. Quais são os projetos para este ano, além de Só Garotas? Tem O Rebu [próxima novela do diretor José Luiz Villamarim], e vou fazer o filme do José Eduardo Belmonte [chamado A Magia do Mundo Quebrado], que já era um diretor com quem eu queria muito trabalhar, corri muito atrás dele. Qual é o seu objetivo na carreira? Para onde você está se levando? Não faço a menor ideia. Gostaria de di- rigir um longa nos próximos dois anos. É uma coisa que gostaria muito de fazer. Acho que, como atriz, graças a Deus, e graças a um investimento meu também, sempre fui muito feliz, sempre trabalhei com diretores que queria trabalhar. centar muito mais como criadora, como diretora, como roteirista, do que como atriz. Também acho que as personagens tinham que ser um pouco mais jovens. Qual foi o maior desafio desse trabalho? Foram tantos desafios. Acho que dirigir é um conjunto de coisas. Tem que ter firmeza das suas decisões, delicadeza com as pessoas, clareza de fazer as pessoas entenderem o que você quer e o que você espera delas. O processo todo foi um grande desafio. Mas acho que cumpri o plano: consegui fazer em qua- tro semanas 13 episódios de 24 minu- tos. Acho que esse foi o maior desafio. Você se surpreendeu consigo mesma durante as gravações? Descobriu alguma habilidade que não imaginava possuir depois de estrear na direção? Você cria uma visão do processo todo que é muito interessante. Porque, como ator, você decora o texto, pensa no seu personagem, nos personagens com os quais você se relaciona em cena, e na história. Acaba dando o seu depoimento como ator e servindo à história. E quan- do você é diretor, tem que olhar não só para os atores, não só para cada perso- nagem, como também para a direção de arte, para o figurino, se a coreografia é aquilo que você esperava, se o plano é aquele que você gostaria que fosse. Você é o responsável pelo todo, pelo conjun- to da obra e não só por uma parcela. Descobri que tenho essa visão. Só Garotas é muito parecida com Girls, série americana criada por Lena Dunham. Foi uma inspiração? Girls é nossa grande inspiração. Tem muita coisa que a gente traz de lá; o fato por Raquel Temistocles [ MARIA FLOR ] F SÓ GAROTAS I A PARTIR DO DIA 9, QUARTAS, 21H30, MULTISHOW, 42 E 542 (HD) 32 + Monet + ABRIL

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Aos 30 anos, ela se aventura pela primeira vez comodiretora da série Só Garotas, depois de ter se consagradocomo atriz na televisão e no cinema

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Como surgiu a ideia de fazer essa série?Na verdade, a série foi uma ideia minhacom mais duas amigas. Começamos anos encontrar uma vez por semana paraescrever histórias engraçadas sobre nóse sobre nossas amigas, e conversar umpouco sobre o mundo feminino carioca.A gente começou a escrever e um diaapresentei o projeto ao canal.Por que a escolha de, desta vez, ficaratrás das câmeras?Estou envolvida mais na parte de criaçãodo programa e senti que poderia acres-

ILHA DE UMA ROTEIRISTAe de um técnico de som decinema, Maria Flor desde ce-do se acostumou às câmeras.Não é à toa que em poucomais de dez anos de carreira,

ela tenha conseguido papéis de desta-que, como a protagonista da série Alinee a participação no longa 360 (2011), deFernando Meirelles, no qual contrace-nou com o galês Anthony Hopkins.Hoje, a carioca se arrisca em maisum importante papel: o de diretora.

Atrás das câmeras,ela comanda a sérieSó Garotas, sobre assituações cômicas edramáticas da vida dequatro jovens do Rio de

Janeiro, que conta no elenco com FloraDiegues, Vitória Frate, Julia Stockler eLiliana Castro. Em entrevista exclusi-va à MONET, a artista contou comoamadureceu como profissional e o queespera da carreira.

de serem quatro meninas, cada umacom a sua questão na vida, cada umacom o seu romance. Acho também queo humor da gente é inspirado muito emGirls, mas Só Garotas é uma produçãomenor, muito mais familiar, e tem acara das atrizes que a fizeram, tem aminha cara, tem a cara das roteiristas.Tem algum diretor de televisão oucinema no qual você se inspirou ou seespelhou para dirigir a série?Todos os diretores com quem trabalheime inspiraram muito. Mas há doisque não conheço, só assisti aos seustrabalhos, que brinco que são quem eugostaria de ser. A Sofia Coppola por umlado, e o [John] Cassavetes por outro.Você fez cinema, novelas na TV aberta,protagonizou a série Aline e agora édiretora de Só Garotas. Entre todos es-ses papéis que já assumiu, qual é o seupreferido e qual é o mais difícil?São funções muito diferentes. A funçãode diretora é muito diplomata e, aomesmo tempo, carismática para fazercom que as pessoas briguem pelo seuprojeto. Porque o cinema é, na verdade,uma função muito solitária, você preci-sa fazer com que as pessoas estejam doseu lado e comprem a sua briga, façamaquilo porque gostam do projeto. É umacoisa muito diferente de ser atriz. Seratriz é uma função ao mesmo temposolitária e muito criativa, muito sonha-dora. São coisas muito diferentes. Nãotenho como dizer do que eu gosto mais.Gosto de tudo. Gosto de estar traba-lhando, de estar criando, essa é a minhamotivação. Gosto do processo de fazer,porque você aprende fazendo.Quais são os projetos para este ano,além de Só Garotas?Tem O Rebu [próxima novela do diretorJosé Luiz Villamarim], e vou fazer o filmedo José Eduardo Belmonte [chamado AMagia do Mundo Quebrado], que já eraum diretor com quem eu queria muitotrabalhar, corri muito atrás dele.Qual é o seu objetivo na carreira? Paraonde você está se levando?Não faço a menor ideia. Gostaria de di-rigir um longa nos próximos dois anos.É uma coisa que gostaria muito de fazer.Acho que, como atriz, graças a Deus, egraças a um investimento meu também,sempre fui muito feliz, sempre trabalheicom diretores que queria trabalhar.

centar muito mais como criadora, comodiretora, como roteirista, do que comoatriz. Também acho que as personagenstinham que ser um pouco mais jovens.Qual foi o maior desafio desse trabalho?Foram tantos desafios. Acho que dirigiré um conjunto de coisas. Tem que terfirmeza das suas decisões, delicadezacom as pessoas, clareza de fazer aspessoas entenderem o que você quer e oque você espera delas. O processo todofoi um grande desafio. Mas acho quecumpri o plano: consegui fazer em qua-tro semanas 13 episódios de 24 minu-tos. Acho que esse foi o maior desafio.Você se surpreendeu consigo mesmadurante as gravações? Descobriualguma habilidade que não imaginavapossuir depois de estrear na direção?Você cria uma visão do processo todoque é muito interessante. Porque, comoator, você decora o texto, pensa no seupersonagem, nos personagens com osquais você se relaciona em cena, e nahistória. Acaba dando o seu depoimentocomo ator e servindo à história. E quan-do você é diretor, tem que olhar não sópara os atores, não só para cada perso-nagem, como também para a direção dearte, para o figurino, se a coreografia éaquilo que você esperava, se o plano éaquele que você gostaria que fosse. Vocêé o responsável pelo todo, pelo conjun-to da obra e não só por uma parcela.Descobri que tenho essa visão.Só Garotas é muito parecida comGirls, série americana criada por LenaDunham. Foi uma inspiração?Girls é nossa grande inspiração. Temmuita coisa que a gente traz de lá; o fato

por Raquel Temistocles

[ MARIA FLOR ]

FSÓ GAROTAS

I A PARTIR DO DIA9, QUARTAS, 21H30,MULTISHOW, 42 E542 (HD)

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GOSTO DE ESTARTRABALHANDO, DEESTAR CRIANDO,ESSA É A MINHAMOTIVAÇÃO.GOSTO DOPROCESSO DEFAZER, PORQUEVOCÊ APRENDEFAZENDO”

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