Migrações para america

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Sociologia das Migrações Curso de Licenciatura em Sociologia – Ano Lectivo 2010-11, 2.º Semestre Docente: Professora Doutora Margarida M. Marques FICHA DE LEITURA

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Sociologia das MigraçõesCurso de Licenciatura em Sociologia – Ano Lectivo 2010-11, 2.º Semestre

Docente: Professora Doutora Margarida M. Marques

FICHA DE LEITURA

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1 – Ao elaborar este trabalho o grupo pretendeu entender e transmitir a correlação

existente entre os movimentos e as organizações transnacionais. Foi através do texto

intitulado “Organizações transnacionais de imigrantes e desenvolvimento: um estudo

comparativo” (Portes; Escobar e Radford, citado por Marques, 2010), que procurámos

identificar as suas características de origem, quem são os seus membros, respectivos

perfis e diferenças nas suas amplitudes e dinâmicas, que surgem dos fluxos migratórios

dos povos colombianos, dominicanos e mexicanos para os E.U.A.

Com a noção de conceito de transnacionalismo “(…) condução de actividades regulares

transfronteiriças, levadas a cabo por pessoas nascidas fora do país onde residem de

facto, e que constituem parte integrante das suas vidas quotidianas no estrangeiro”

(Portes; Escobar e Radford, citado por Marques, 2010, p. 73), surgiu-nos de imediato a

necessidade de entender quem eram estes novos habitantes e que consequências têm a

sua adaptação a uma nova sociedade recheada de novos processos, não só para eles, mas

também para os seus conterrâneos que ficam nas terras de origens.

Para tentar entender este fenómeno social, auxiliamo-nos da teoria da assimilação, e, de

como é vivida esta adaptação a numa nova sociedade onde as diferentes culturas vivem

em simultaneidade. Segundo a Escola de Chicago, como se regista e se efectua na

sociedade em causa, a passagem do actor social a ser mais um, e, como se integra ele

através da relação indivíduo – sociedade. Com este propósito, verificou o grupo que as

integrações são diferentes de grupos para grupos, sendo explícito no texto em análise,

que as origens acabam por ser determinantes na actuação dos indivíduos na nova

realidade. Estas diferenças estão espelhadas e reflectidas no interior das organizações

transnacionais, não só pela cultura originária, mas também pela forma e conteúdo com

que estes imigrantes procuram na nova adaptação a uma nova realidade. Constatámos

que o capital humano dos imigrantes, as actividades políticas e a respectiva capacidade

de intervenção destas organizações é diferente, até pela sua própria raiz, pelo

envolvimento dos Estados e, naturalmente a envolvência social que tem os seus reflexos

naturais.

Não podemos deixar de mencionar na análise ao texto, que as organizações são

diferentes, mas em generalidade todas têm um forte carisma social, independentemente

do capital cultural e social dos seus membros. De facto, para os colombianos e

dominicanos as qualificações e a permanência no país acolhedor são determinantes para

a participação nas organizações transnacionais. Para os mexicanos a regionalidade é o

um dos seus atributos. Desta forma, pudemos igualmente verificar que os movimentos

representativos entre os países de origem e as organizações são igualmente díspares

Discentes: Isabel Santos, Aluna n.º 25607 – Joaquim Barradas, Aluno n.º 26289 – José Caninhas, Aluno n.º 22600

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entre si. As organizações colombianas tendem em dedicar um maior apoio no sentido do

país acolhedor para o país de origem, possibilitando assim um forte apoio social a quem

ficou na terra natal. Por sua vez, as mexicanas remetem este apoio no sentido contrário,

procurando proporcionar um apoio efectivo a quem de novo chega a um país

desconhecido. Podemos aqui destacar como excepção, os comités de oriundos,

organizações que surgem localmente e regionalmente com um fim social de apoio

também à origem. Finalmente as organizações dominicanas, as que têm os seus fluxos

de apoio e correlação em ambos os sentidos, que potenciam não só um apoio a quem

recentemente é acolhido, mas também têm uma forte vocação para auxiliarem as suas

origens, não só socialmente, mas também politicamente.

Conceptualmente estamos a falar de apoios sociais em ambas as direcções, traduzidas

na maioria dos casos, em remessas para as localidades de origem. A importância

elevada destas remessas é significativa, pois para além de procurarem permitir um apoio

social constante, permitem igualmente, que o poder político possa de alguma forma

manter uma determinada racionalidade em forma de um activismo transversal. É patente

neste texto que quem imigra, o faz de forma intencional e tem por isso um mínimo de

condições económicas e sociais disponíveis para o fazer, patente também na

representação das organizações transnacionais estudadas. O apoio social está presente

em todas elas, comprovadas por exemplo, na origem de algumas das organizações

colombianas que surgem em resposta a desastres naturais, procurando assim apoiar os

“seus”. Está visível uma forte presença da classe média através de actividades cívicas e

culturais. Com uma predominância social comum, estas organizações, em função das

suas nacionalidades, têm carismas diferentes, sendo que as dominicanas são as que

apresentam um maior peso político nas suas acções. Está latente uma forte acção

política com o objectivo de fortalecer os laços de lealdade. Diferentes, são as

organizações mexicanas. Compostas por imigrantes de menores qualificações, centram-

se mais em zonas rurais e a sua regionalidade é representada através dos apoios sociais a

que se dedicam em primeira instância. Voluntariosas no apoio procuram o bem-estar e

proporcionam condições de acolhimento, com uma ligação mais forte aos locais de

origem. São as que mais representam a noção de transnacionalismo.

2 – O texto que procurámos para fazer o contraponto e para o qual dirigimos a nossa

análise, foi escrito por Wayne A. Cornelius, com o título “Controlar a imigração

indesejada”. Dado que o primeiro texto tinha um enfoque nos 3 países da América

Latina e nas organizações transnacionais, um fenómeno com o sentido “de baixo para

cima”, pensámos com esta escolha captar a perspectiva do país de acolhimento, EUA, e

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dos seus cidadãos, onde ocorre um fenómeno contrário “de cima para baixo”. Assim

nesta abordagem procuramos dar conta das três vertentes dos modos de incorporação:

no primeiro texto através dos desempenhos da sociedade civil e dos co-étnicos e, no

segundo texto pelos desempenhos da sociedade civil e das políticas governamentais.

Este estudo refere que os fundamentos que estão na génese do controlo da imigração ao

longo dos mandatos presidenciais de Bill Clinton e George W. Bush se mantêm

inalterados, apesar de terem sido triplicados os meios e recursos postos à disposição

inicialmente, mostrando que se trata de uma estratégia comprovadamente ineficaz.

Estima-se que todos os anos, desta última década, entram de forma irregular nos EUA,

cerca de meio milhão de imigrantes. É fácil de perceber que o aumento da imigração

irregular ocorreu no período em que os EUA registaram gastos mais elevados no

controlo fronteiriço. No entanto, as alternativas a estes planos presidenciais não

conseguiram granjear muitos apoios, nem consensos entre a população. A estratégia de

controlo centrou-se na fronteira, essencialmente nos percursos mais utilizados pelos

migrantes provenientes do México, com a construção de fortificações, vedações, torres

de observação, utilizando tecnologia avançada, em meios terrestres e aéreos. Foi criada

uma base de dados informática, de modo a cadastrar cada imigrante ilegal detido.

Todavia, o número de reincidentes e de detenções aumentou. Assim se conclui, de

forma paradoxal, que a ênfase que foi colocada no controlo fronteiriço, tem sido mais

eficaz na manutenção dos imigrantes irregulares em território americano, do que na

dissuasão da migração.

Em 2002 registavam-se aproximadamente 9,3 milhões de imigrantes em situação

irregular, sendo que 57% eram oriundos do México, os quais trabalhavam

maioritariamente na agricultura e nos serviços domésticos. Refere-se aqui a origem

social destes migrantes que procedem em grande maioria de zonas rurais, e na sua posse

trazem capitais académicos baixos. A par deste movimento transnacional surgem redes,

cada vez mais habilitadas a contornar as limitações impostas. Refere-se o texto aos

serviços de passadores profissionais, denominados coiotes. Estes têm um papel social

para os mexicanos, no entanto a visão que se tem deles nos EUA é de criminosos. Os

valores cobrados também têm registado um aumento substancial, cifrando-se em 2004,

em cerca de $2500. Mas não podemos deixar de referir que esta actividade tem muitos

riscos associados, condições climatéricas extremas, geografia do terreno muito

acidentada, e como consequência directa de tentativas de atravessamento da fronteira de

forma ilegal, registam-se entre 300 a 400 mortes por ano. Pensa-se que as estatísticas

podem subestimar os números reais.

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“Os dados de sondagens têm revelado de forma sistemática que a opinião pública

norte-americana não deseja uma política de imigração expansionista, embora também

não pretenda lançar trancas à porta.” (Cornelius citado por Marques, 2010, p. 162) De

acordo com os resultados das sondagens, pode assim dizer-se que há um sentimento

anti-imigração, generalizado, embora não seja muito profundo. O tema imigração

passou a ser mais impactante após os acontecimentos do 11 de Setembro de 2001,

quando os norte-americanos perceberam que o país tinha outras fronteiras por onde os

fluxos eram mais fluidos. Os estudos mostram a ambivalência da opinião pública entre

os imigrantes que podem ser um “fardo” e aqueles que são considerados “trabalhadores

necessários”.

Existe uma diferença abismal entre os recursos disponibilizados para o controlo

fronteiriço e os recursos postos ao serviço da fiscalização interna do controlo das leis.

As sanções para os empregadores pela contratação de ilegais, são insignificantes, não

são obrigados a ter registo de pessoal e pagam salários mais baixos. No entanto pagam

regularmente os impostos sobre o trabalho, A maioria dos trabalhos de ilegais é de baixa

qualificação, no sector doméstico e agrícola, os quais não são alvo de controlo

governamental. Algumas políticas visam o repatriamento a longa distância de forma a

desencorajar a reentrada imediata, no entanto foi afirmado pelos migrantes que

voltariam a tentar a entrada. Uma alternativa seria o desmantelamento dos 4 postos de

controlo fronteiriço, o que seria politicamente impensável. Há quem defenda uma linha

fortificada ao longo da fronteira, o que implicaria custos astronómicos, e não

desencorajaria de todo, as entradas ilegais, criando assim mais oportunidades de lucro

para os passadores profissionais. Também alguns defendem que se deveria investir mais

no controlo e fiscalização junto das empresas e empregados, aplicando multas, o que

não colheu ainda grande número de adeptos. O Congresso é muito sensível à

possibilidade de perturbações económicas e políticas, tendo alguma relutância em

acabar com este “gigante buraco legal”. O norte-americano comum é contra a imigração

ilegal porque traz encargos fiscais e aumenta a diversidade cultural mas, reconhecem o

papel económico da imigração. Os custos e riscos deste processo são suportados pelos

imigrantes enquanto os benefícios são partilhados por empregadores e consumidores.

3 – Já temos a perspectiva referente ao país de origem quando abordámos a questão das

organizações transnacionais no contexto de três comunidades, a Colombiana,

Dominicana e Mexicana, cuja sua influência escapa mesmo ao poder político. Outra

perspectiva é a do país receptor quando falamos no texto do Cornelius “Controlar a

imigração indesejada”, em relação à comunidade Mexicana. Contudo, estes dois textos

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não falam da questão das segundas gerações. É com toda a certeza um tema que nos

inquieta e será de todo interessante abordá-lo na nossa problemática.

De uma forma exploratória e se quiséssemos consolidar um projecto e fundamentar a

nossa problemática teríamos de efectuar alguma pesquisa sobre este tema, por exemplo,

com base em estudos já realizados. Importa igualmente definir, para o nosso caso,

alguns conceitos importantes que foram definidos pelos autores num estudo que

passamos a descrever: Alejandro Portes da Universidade de Princeton e o seu colega G.

Rubén Rumbaut da Universidade da Califórnia lançaram um projecto intitulado “The

Children of Immigrants Longitudinal Study” (CILS) o qual continua a ser o maior

projecto longitudinal referente à adaptação das segundas gerações de imigrantes que se

encontram nos Estados Unidos da América. Neste âmbito e face a este projecto, os

autores definiram:

Segundas gerações - como os filhos nascidos nos EUA, com pelo menos um dos pais

estrangeiro, ou nascido no estrangeiro mas que tenha sido levado pelos seus pais em

tenra idade quando imigraram. Ou seja, indivíduos que não tenham a sua socialização

primária consolidada.

Remetendo agora para o artigo que resume o programa de pesquisa acima indicado,

“Filhos de imigrantes nos Estados Unidos”, que foi publicado no Journal of Ethnic and

Migration Studies – JEMS (Portes; Haller e Kelly, 2008). Há dois conceitos abordados

que para a nossa problemática serão centrais, é o caso da assimilação segmentada e a

assimilação descendente, conceitos estes que saíram do projecto em referência, CILS.

Assimilação segmentada – Poderá ser interpretada, segundo Portes, como um

instrumento teórico capaz de explicar as diferentes formas de adaptação dos jovens

filhos de imigrantes nos Estados Unidos. “A teoria da assimilação segmentada consiste

de três partes: a) identificação dos três principais factores exógenos em acção; b)

descrição dos principais obstáculos com os quais os filhos dos imigrantes de hoje se

defrontam; c) previsão das trajetórias previstas a partir da articulação dessas forças.

Os factores exógenos podem ser conceituados como os principais recursos (ou a falta

deles) com os quais as famílias de imigrantes contam ao se defrontarem com os

desafios externos enfrentados por seus filhos.” (Portes; Haller e Kelly, 2008, p. 15)

Assimilação descendente – é como um trajecto que tem vários factores que interagem

entre si, em que “o aprendizado e a introjecção dos valores culturais norte-americanos

não levam esses jovens à mobilidade ascendente, mas precisamente ao oposto.” (Kelly

e Konczal citado por Portes; Haller e Kelly, 2008, p. 18). Segundo Portes, será a

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culturação a meios de exclusão na sociedade de acolhimento, existindo um afastamento

em relação aos progenitores e a perda das suas referências.

Há uma questão que gostaríamos de ver respondida no caso de termos de avançar para

um projecto de análise, que poderia ser a nossa questão de partida: De que forma se

integram na comunidade norte-americana os filhos dos imigrantes da América

latina? Desejamos assim comprovar se se verifica este caminho de integração para as

segundas gerações de filhos de imigrantes da América latina que normalmente é

associado ao aumento da probabilidade de abandono escolar precoce, constituição de

gangues, cultura de rua ou droga que normalmente leva à prisão, percurso que leva à

assimilação descendente, segundo Portes. Com base nesta questão, outras interrogações

se nos levantam: Será que existe uma estagnação da segunda geração dos filhos de

imigrantes? Será que todos percorrem o caminho de uma assimilação descendente? E a

questão da língua, não será ela também factor determinante para uma integração que

leve a uma assimilação ascendente ou descendente?

A questão da língua é um dos pontos-chave da nossa abordagem. A adopção da língua

inglesa é de facto um factor importante e determinante a ter em conta por parte dos

descendentes dos imigrantes no seio da comunidade americana, que lhes garanta

sucesso escolar e vençam o estigma de serem categorizados de forma negativa. No

fundo cabe-lhes a participação na vida cívica, mas os resultados podem ser diversos. O

que se pretende demonstrar é se o rumo será o mesmo para todos ou não. O sucesso da

adaptação da jovem população imigrante depende da identificação dos perigos que

conduzem à assimilação descendente e da obtenção de credenciais educativas mínimas

que os leve a ambicionar uma certa mobilidade ascendente na estrutura social norte-

americana e não o contrário.

Bibliografia:

Center for Migration and Development: The Children of Immigrants Longitudinal Study (CILS): http://cmd.princeton.edu/data%20CILS.shtmlCornelius, W. A.. 2010. Controlar a imigração “indesejada”: lições dos Estados Unidos, 1993-2004, in M. Margarida Marques (org.), Estado-Nação e Migrações Internacionais, Lisboa: Livros Horizonte, pp.161-184Portes, A.; Escobar, C.; Radford, A. W.. 2005. Immigrant Transnational Organizations and Development: A Comparative Study, The Center for Migration and Development, Working Paper Series, Princeton University, CMD Working Paper 05-07Portes, A.; Escobar, C.; Radford, A. W.. 2010. Organizações transnacionais de imigrantes e desenvolvimento: um estudo comparativo, in M. Margarida Marques (org.), Estado Nação e Migrações Internacionais, Lisboa, Livros Horizonte, pp. 63-104Portes. A; Haller, W. e Fernández-Kelly, Patricia. 2008. “Filhos de imigrantes nos Estados Unidos”, Tempo Social, revista de sociologia da USP, v. 20, n. 1, p. 13-50 http://www.scielo.br/pdf/ts/v20n1/a02v20n1.pdf

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