Michel Foucault e a Instituição Escolar

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    PONTIFCIA UNIVERSIDADE CATLICA DO RIO DE JANEIROPS-GRADUAO EM FILOSOFIA CONTEMPORNEA

    Claudio Ro!"#o M!$do$%a S&'i('o")#

    Mi&'!l Fou&aul# ! a I$)#i#ui%*o E)&ola"Po))iilidad!) +!#!"o#,(i&a) ! d! Ru(#u"a da R!("odu%*o

    Rio de Janeiro2016

    1

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    Claudio Ro!"#o M!$do$%a S&'i('o")#

    MIC+EL FOUCAULT E A INSTITUIO ESCOLARPo))iilidad!) +!#!"o#,(i&a) ! d! Ru(#u"a da R!("odu%*o

    Trabalho de concluso de curso apresentado aoPrograma de Ps-graduao em FilosofiaContempornea da Pontifcia Universidade Catlicado io de !aneiro " PUC-io como pr#-re$uisito

    para a obteno do ttulo de especialista%

    P"o!))o" Gu)#a.o C'a#ai/$i!"Orientador

    Departamento de Filosofia PUC- Rio

    Rio de Janeiro, 11 de maro de 2016

    2

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    Todos os direitos reservados. proibida a reproduototal ou parcial do trabalho sem autorizao dauniversidade, do autor e do orientador.

    Claudio Roberto Mendona Schiphorst&raduou-se em 'ireito pela Universidade do (stado do io de!aneiro% ) Ps-&raduado em Filosofia da 'iferena e Ps-&raduando em Filosofia *ntiga%*utor dos +ivros, .olidariedade do Conhecimento/ 0oc1Pode Fa2er a eforma (ducacional% 3o Pas/ 3a (scola/ 3aFamlia e Cen4rios e 5bst4culos para a eforma(ducacional/ publicou ainda in6meros artigos em 7ornais decirculao nacional e revistas especiali2adas% Foi .ecret4rio de(stado de (ducao em 899: e de ;

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    R!)u0o

    (ste trabalho tem por ob7etivo investigar a instituio educacional observando os

    conceitos fundamentais da filosofia de >ichel Foucault/ tais como as formaAesdiscursivas/ a disseminao do poder/ a sociedade de controle/ a biopoltica e as

    heterotopias/ e ainda traar possveis correlaAes com o espectro de instituiAes sociais

    $ue permearam a sua obra% B4 tamb#m o intuito de uma maior compreenso do papel do

    professor e das possibilidades heterotpicas no espao escolar%

    Pala."a)-&'a.!: Foucault/ educao/ professor/ heterotopia/ instituiAes%

    A)#"a

    This article aims to investigate the educational institution/ observing the fundamental

    ideas of >ichel Foucaults PhilosophD/ as Eell as establishing possible correlations Eith

    the spectra of socials institutions that are most studied in his Eor% Gt also intends a

    ma7or understanding of the teachers role and the possibilities of heterotopD in the space

    of the school%

    1!23o"d): Foucault/ philosophD/ education/ teacher/ heterotopD/ institutions%

    4

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    Su04"io

    esumo%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%%

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    I$#"odu%*o

    *o longo da tra7etria de >ichel Foucault h4 um constante enumerar de

    instituiAes de proteo e salvaguarda social/ com a correspondente an4lise de

    pr4ticas discursivas $ue se consolidam no interior das mesmas e acabam por se

    disseminar/ nas dimensAes temporais/ espaciais e relacionais/ vindo a permear o

    tecido social como um todo% (las se colocam como criadoras e ao mesmo tempo

    reprodutoras de formas de poder $ue se eKercem em m6ltiplas coneKAes inseridas

    em lcus conteKtuali2ados% *rvoram procedimentos e liturgias/ bem como

    invocam status de legitimidade/ $ue embasa a tra7etria em direo a um

    LelevadoM patamar de pretensas isenAes e neutralidades% 3o interior dos

    hospcios/ prisAes/ hospitais/ $uart#is e f4bricas/ se desenvolveram saberes $ue semostraram imbricados catali2adores de poderes/ na medida em $ue estes passam a

    ser eKercidos pela via do discurso do controle Ninvariavelmente sob o manto do se

    estar fa2endo o melhor para o sub7ugado e pela sociedadeO/ com diversas

    conse$u1ncias/ dentre elas a mais visvel, a capa2 de minimi2ar/ por substituio/

    a presena do castigo fsico como instrumento de mando% * brutalidade/ todavia/

    persiste ve2 $ue a produo e instaurao da verdade encerra invariavelmente uma

    ao de viol1ncia por eKcluso de outras possibilidades discursivas% * linguagem/ento/ ganha uma nova dimenso epist1mica,

    * verdade encontra sua manifestao e seu signo na percepoevidente e distinta% Compete s palavras tradu2i-la/ se o podemQmas no tero mais direito a ser sua marca% * linguagem seretira dos seres para entrar na era de sua transpar1ncia eneutralidade% NF5UC*U+T/ >ichel/ ;

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    suficientemente estabelecidas como trilhas a serem/ em momento mais

    conveniente e oportuno/ melhor eKploradas%5 fundador do &rupo de Porto *legre de (studos sobre Foucault e a

    (ducao/ *lfredo 0eiga-3eto/ corrobora $ue a utili2ao do pensamento do

    filsofo franc1s no campo dos estudos sobre educao Lnem # de uso corrente nos

    discursos pedaggicos brasileiros e nem mesmo # tomada como refer1ncia em boa

    parte da pes$uisa educacional $ue se fa2 em nosso PasM N;ichel/ ;as # sem d6vida no ensino prim4rio $ue esse a7ustamento dascronologias diferentes est4 mais 6til% 'o s#culo 0GG at# aintroduo/ no comeo do s#culo G/ do m#todo +ancaster/ omecanismo compleKo da escola m6tua se construir4 numaengrenagem depois da outra, confiaram-se primeiro aos alunosmais velhos tarefas de simples fiscali2ao/ depois de controledo trabalho/ em seguida/ de ensinoQ e ento no fim das contas/todo o tempo de todos os alunos estava ocupado se7a ensinandose7a aprendendo% NF5UC*U+T/ >ichel/ ;

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    >ichel Foucault/A Reproduo/ de ?ourdieu e Passeron e O Mestre Ignorante/ de

    !a$ues anciRre/ dentre outras obras referenciadas em nossa bibliografia%* LFuno *utorM/ $ue foi ob7eto de estudo do pensador franc1s na

    confer1ncia O que um autor reali2ada em 89=9/ e as possibilidades de

    converg1ncia e simetria com a LFuno (ducadorM - em analtica formulada por

    *leKandre Fiordi de Carvalho - tamb#m merecero espao nesta monografia%3ossa tra7etria eKploratria/ contudo/ no poder4 ir muito al#m de buscar

    o melhor entendimento das heterotopias% (stas so espaos reais Ne/ portanto/ no

    utpicosO/ todavia no convencionais e $ue escapam sobremaneira regras

    eKtremamente valori2adas pela sociedade% Gremos verificar a possibilidade de sua

    coeKist1ncia no sistema educacional/ utili2ando ma7oritariamente a perspectiva

    das escolas p6blicas dos pases no desenvolvidos/ como eventual planoreferencial emprico de nosso estudo/ isto $uando 74 estivermos prKimos s

    conclusAes%Gmportante registrar $ue a crtica a$ui direcionada escola pode ser vista/

    por muitos/ como eKcessivamente acentuada/ in7usta pelo aspecto generalista e

    com certos di2eres se reportando a uma realidade pret#rita/ parcialmente

    ultrapassada ou em franco processo de superao%Cumpre salientar/ ainda a ttulo de esclarecimento/ $ue a$ui no temos

    nenhum intuito de tratar propriamente de aspectos de nature2a sociolgica/pedaggica ou histrica da educao/ do magist#rio ou da instituio escolar%

    A Fo"0a%*o da Su5!#i.idad! Mod!"$a

    5 pensamento de >ichel Foucault elabora uma descrio minuciosa e

    refleKiva acerca de como a sub7etividade moderna se constitui e ganha identidade

    a partir de sua eKposio a tecnologias de poder $ue se inscrevem em todas as

    relaAes humanas/ ou se7a/ no apenas nas oriundas das estruturas Nestatais ou

    religiosasO tpicas do eKerccio da opresso e da dominao% ) importante frisar

    $ue/ sem se ater a eKarar 7u2os valorativos/ a obra do filsofo se inicia com um

    processo denominado ar$ueolgico/ onde com base no meticuloso

    aprofundamento em dados histricos originais/ tais como registros p6blicos/

    documentos fiscais/ diagnsticos clnicos/ relatrios $uotidianos de #poca/

    materiais de propaganda e muitos outros documentos/ se demonstra a relao

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    !

    entre moral/ liberdade/ saber e poder como elementos genealgicos da construo

    da sub7etividade moderna%* partir de um primeiro con7unto de obras onde se valori2ou a organi2ao

    e o eKerccio das tecnologias de poder/ com emanao privilegiada oriunda de

    determinadas instituiAes $ue ganharam protagonismo dos s#culos 0GG ao G/

    Foucault passa a identificar/ em contraponto/ uma dispersividade infinita

    acompanhada de uma profunda permeabilidade social no $ue se refere ao processo

    de elaborao e reproduo discursiva%

    'e incio/ eu havia $uestionado as unidades preestabelecidassegunda as $uais escandimos tradicionalmente o domnioindefinido/ montono/ abundante do discurso%3o se tratava de contestar o valor de tais unidades ou de $uerer

    proibir o seu uso/ mas de mostrar $ue elas reclamavam/ paraserem definidas eKatamente/ uma elaborao terica%NF5UC*U+T/ >ichel/ ;ichel/ ;ichel/ ;

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    microestruturas $ue permeiam a sociedade at# os grupos mais diminutos/ as

    famlias e o prprio indivduo%3um primeiro momento/ o $ue ocorreu foi uma esp#cie de fuso entre as

    estruturas do estado feudal/ com o poder unilateral/ impessoal e baseado na fora/

    com o modelo de pastoreio das instituiAes religiosas detentoras e produtoras de

    um con7unto de saberes e liturgias $ue/ aplicadas/ tratam de cada pessoa em sua

    identidade corporal/ material e de cosmoviso% 5 sacerdote perscruta/

    estrategicamente/ as almas atrav#s das confissAes/ den6ncias/ visitas e

    mobili2aAes% 5 pastor conhece cada membro de seu rebanho com profundidade e

    o estado/ na$uele momento/ buscava novos modelos de promover a sinergia

    econSmica entre s6ditos $ue passassem a ser dceis fabricados e fabricantes das

    repressAes de foro ntimo e recal$ues de dese7os/ por fora das ra2Aes da moral/ daci1ncia/ enfim do senso comum;%(stava criado o homem moderno cu7o sucesso

    eKistencial/ de desenvolvimento de potencialidades e reconhecimento social era

    fruto de ren6ncia/ disciplina e intensa dedicao ao trabalho% (nfim o ser humano

    definido como normalI%

    Foi a partir dos s#culos 0GG e 0GGG $ue as t#cnicas de poder se dirigiram

    com maior intensidade para o eiKo da famlia/ assim entendida na acepo da

    #poca/ basicamente em duas vertentes, a relao do marido com a mulher e a entrepais e filhos% * gesto da vida passa a sair da dimenso da propriedade absolutista

    dos s6ditos/ para a de salvaguarda da sociedade% Temos o incio de um processo

    7urdico/ clnico e pedaggico de regulao de dese7os e disposiAes dos corpos% (

    com ela as tipificaAes dos comportamentos perverso/ devasso/ antinatural e/ ao

    contr4rio/ a distino dos to avidamente estabelecidos padrAes de normalidade

    amplamente difundidos na constituio do $ue os 7uristas classificam como !omo

    Medius% * poltica do seKo tamb#m produ2iu sua matri2 7urdica/ criminali2andoas atitudes afrontosas aos Lbons costumesM/ sa6de p6blica/ aos direitos de

    descend1ncia legtima/ s relaAes de capital e de etnia% * clnica m#dica no se

    furtou a produ2ir farto material cientfico para sustentar/ o $ue Foucault chamou

    de Limenso falatrioM sobre o tema da masturbao/ especificamente da 7uventude/

    2 Conforme F5UC*U+T/ >ichel/ >icrofsica do Poder p4gina 8

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    o $ue capturou as atenAes do perodo:% Como de costume produ2indo manuais/

    inspirando a vigilncia incessante dos adolescentes e a tentativa de articular

    famlias e organi2aAes para combater este LmalM $ue assolava os adolescentes/

    com pre7u2os $ue iam da sa6de individual ao surgimento de anomalias de

    comportamento seKual na vida adulta% *lgumas escolas europeias alardeavam $ue

    em suas instituiAes havia a garantia de $ue a 7uventude no se masturbava/ para a

    tran$uilidade das famlias $ue matriculavam seus filhos em regime de internato%

    (stranhamente o movimento se circunscreve 7uventude e s classes mais

    favorecidas@% 5 preo da virtude seria o da eterna e tena2 vigilncia em busca da

    domesticao dos dese7os%

    Um dos traos caractersticos da eKperi1ncia crist da LcarneM/ eposteriormente da LseKualidadeM/ ser4 a de $ue o su7eito #levado em nossas eKperi1ncias a desconfiar fre$uentemente/ e areconhecer de longe/ as manifestaAes de um poder surdo/ 4gil etemvel $ue # tanto mais necess4rio decifrar $uanto # capa2 dese emboscar sob outras formas $ue no a dos atos seKuais%NF5UC*U+T/ >ichel/ ;

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    inclusive/ ainda persiste em boa parte da legislao e da doutrina do direito

    contemporneo%

    * seKualidade da criana # o engodo por meio do $ual a famliaslida/ afetiva/ substancial e celular se constituiu e ao abrigo do

    $ual a criana foi subtrada da famlia% N%%%O (la foi um dosvetores da constituio dessa famlia slida% (la foi um dosinstrumentos de troca $ue permitiram deslocar a criana domeio de sua famlia para o espao institucionali2ado enormali2ado da educao% NF5UC*U+T/ >ichel ;icrofsica do Poder 5 3ascimento do Bospital/ Capitulo 0G%!(m nosso pas/ irSnica ou redundantemente denominada Lcontrolada M%

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    sa6de p6blica/ segurana/ bem-estar social/ promoo do trabalho e da renda 9% *o

    final do s#culo 0GGG/ afirma o filsofo franc1s/ podemos verificar o nascimento

    do conceito de populao/ eiKo fundamental da$uilo $ue ele define como

    biopoltica,

    N%%%O deve ser reinscrito nos $uadros gerais de uma LbiopolticaM/$ue tende a tratar a LpopulaoM como um con7unto de seresvivos e coeKistente/ $ue apresentem traos biolgicos epatolgicos particulares/ e $ue/ por conseguinte/ di2em respeitoa t#cnicas e saberes especficos% NF5UC*U+T/ >ichel/899H,J=O

    *tualmente/ os registros biom#tricos avanam sobremaneira% Primeiro por

    7ustificativas de nature2a produtiva Ntais como controles de fre$u1ncia/ garantias

    de acesso/ proteo a sistemas privados e defesa do er4rioO/ mas logo 74 seassentou no sistema eleitoral e/ em muito breve/ ir4 servir de base de dados para

    toda a poltica social e tribut4ria/ instrumentali2ando o biopoder em sua plenitude%

    * navegao na internet tamb#m # vigiada por ra2Aes de segurana nacional/ mas

    essa viglia tamb#m se presta a estabelecer imensas bases de dados compilando

    padrAes de consumo/ subscrio de ideias e o controle sobre dese7os/ prefer1ncias

    e aspiraAes%5s telefones port4teis e os demais e$uipamentos com &P. N&lobal

    Position .DstemO permitem a locali2ao e a tra7etria de tr1s $uartos da

    populao do planeta/ segundo pes$uisa do ?anco >undial8

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    *$u#m/ portanto/ do grande poder absoluto/ dram4tico/ sombrio$ue era o poder da soberania/ e $ue consistia em poder de fa2ermorrer/ eis $ue aparece agora/ com essa tecnologia de biopoder/com essa tecnologia do poder sobre a LpopulaoM en$uanto tal/sobre o homem en$uanto ser vivo/ um poder contnuo/cientfico/ $ue # o poder de fa2er viver% NF5UC*U+T/ >ichel/;

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    verdades fundamentadas em conceitos seculares/ religiosos ou de

    conservadorismo consuetudin4rio e os novos paradigmas alicerados em discursos

    obtidos por outras fontes de legitimao,

    * troca de eiKo da individuali2ao ocorre $uando o indivduodeiKa de ser formado por mecanismos histrico-rituais e passa aser produ2ido por mecanismos cientfico-disciplinares/ fa2endocom $ue a individualidade do homem memor4vel se7asubstituda pela individualidade do homem calcul4vel%NF53.(C*/ >4rcio/ ;ichel Foucault nos convida e refletir sobre a organi2ao discursiva $ue

    embasa e se tradu2 num arcabouo de conhecimento-poder% 5 discurso demanda

    sua condio de possibilidade, o acontecimento/ como melhor veremos adiante/

    $ue # o momento em $ue a repetio/ aps certo n6mero de ocorr1ncias regulares/

    comea a desigualar de seu modelo original deflagrando o processo transgressor

    $ue vai reestabelecer um novo vi#s de reprodutibilidade e instaurar uma unidade

    temporal8@% * partir dai/ obedecida a determinadas condiAes de possibilidade e a

    normas de nature2a no-discursiva/ pode se materiali2ar uma nova verdade/

    legitimada por regras estruturais intrnsecas ao discurso/ bem como de seu agente

    emanador%

    ) preciso estar pronto para acolher cada momento do discursoem sua irrupo de acontecimentos/ nessa pontualidade em $ueaparece e nessa disperso temporal $ue lhe permite ser repetido/sabido/ es$uecido/ transformado/ apagado at# nos menorestraos/ escondido bem longe de todos os olhares/ na poeira doslivros% N>GCB(+/ Foucault/ ;iguel de Cervantes - ressaltando sua posiomarcante de insero histrica na transio entre o renascimento e o classicismo/ aomesmo tempo em $ue # eKplorado os teKtos de .ade/ $ue marcaram a germinao de umdiscurso dotado de uma representatividade capa2 de tipificar o ocaso da idade cl4ssica emdireo modernidade% * an4lise de Foucault sobre os personagens !ustine e !ulietteinscritos nas obras da lavra do >ar$ues de .ade/ nos oferece uma perspectiva deesclarecimento did4tico no $ue se refere s modificaAes representativas decorrentes dainstaurao de novos ordenamentos discursivos na dimenso da literatura%

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    5 acontecimento enunciativo passa a estabelecer coneKo com outra

    ordem de acontecimentos/ tais como a verdade cientfica/ as Lleis da economiaM e

    mesmo as produAes das ci1ncias humanas% Todas elas se revestem de uma

    viol1ncia eKcludente e necess4ria sua sustentao% * assertiva tomada como

    verdadeira estabelece o descarte de todas as demais possibilidades de convvio

    discursivo% 3este trilhar/ vamos chegar concluso proposta pelo autor no sentido

    de $ue Lno # preciso remeter o discurso longn$ua presena da origem, #

    preciso trat4-lo no 7ogo da sua instncia% M8=( no # possvel ou mesmo ra2o4vel

    $ue se enKergue essas formaAes de maneira dissociada de suas caractersticas de

    multiplicidade/ classificao/ ordenamento e de hierar$ui2ao/ ou se7a a sua

    matri2 de positividade% >uito menos/ olvidar sua capacidade de disciplinar

    comportamentos e atitudes com base em estatsticas/ n6meros oficiais/ argumentos

    de autoridade acad1mica/ descobertas cientficas e estudos revestidos

    invariavelmente de LidoneidadeM/ LneutralidadeM/ encadeamento lgico e

    Lirretor$uibilidadeM% (stamos diante do $ue Foucault eKaustivamente assevera

    como disperso histrica $ue produ2 este movimento atrav#s da temporalidade%

    (ste fenSmeno dispersivo constitui/ assim/ uma pr4tica social $ue vai se

    disseminando na sociedade e transformando cada pessoa em guardio

    disciplinador das posturas individuais e coletivas/ no raro com a ferocidade do

    fanatismo dos Lvigilantes do politicamente corretoM%

    A I$)#i#ui%*o E)&ola"

    Como afirmamos em nossas linhas introdutrias/ merece investigao o

    fato de $ue ora Foucault insere a escola no rol das instituiAes 8H/ digamos/ tpicas

    de produo de saberes e de sua reproduo/ ora in$uietantemente a eKclu%

    Tomando esta premissa/ nos parece frutfero/ para fins did4ticos/ verificar

    inicialmente se as caractersticas mais elementares das mesmas encontram pontos

    de similitude com a instituio escolar%

    5 hospital/ o manicSmio/ a f4brica e a caserna possuem uma organi2ao

    altamente hierar$ui2ada% B4 uma profunda regulao $uanto utili2ao dos

    16N>GCB(+/ Foucault/ ;icrofsica do Poder/ 5rdem do 'iscurso/ (m 'efesa da .ociedade/apenas apara citar algumas%

    15

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    espaos articulados aos tempos/ onde em ambos demandam comportamentos

    especficos% (m todas elas verificamos indument4rias/ ritos/ liturgias e a produo

    de sub7etividades detentoras do pleno eKerccio do poder disciplinar% 3o h4

    eKceo $uanto normali2ao de procedimentos na clnica m#dica/ na

    psi$uiatria/ nos sistemas de maKimi2ao da produtividade fabril/ no eKerccio

    padroni2ado militar ou na pr4tica pedaggica8J%

    3uma viso mais moderna/ podemos aferir indicadores de efici1ncia na

    produo de insumos e serviosQ de efic4cia na mobili2ao e esforo militarQ na

    profici1ncia escolar comparada ou no sucesso dos procedimentos da medicina

    com as estatsticas de diagnstico de LaltaM e a correspondente evoluo dos

    pacientes clnicos e psi$ui4tricos em direo normalidade%

    Passaremos agora a postular $ue a escola se mostra capa2 de nos oferecer

    um material de similitude bastante robusto, ainda # possvel verificar sinetes/

    campainhas e sirenes anunciando o tempo de la2er% *s eKpectativas de tantos

    professores por classes de alunos imveis e silenciosos/ o ensino Nto tpico na

    matem4ticaO adestrador/ com suas infinitas repetiAes procedimentalistas/ a

    presena cada ve2 mais demandada de inspetores de disciplina/ coordenadores de

    turno/ vigias/ porteiros/ contagem de estudantes/ chamadas/ al#m de cmeras $ue

    fre$uentemente evocam o modelo panptico89/ enturmaAes por nveis de

    desempenho/ desfiles cvicos/ entonao de hinos/ avaliaAes cognitivas com

    car4ter punitivo NsomativasO/ conselhos de classe com amplo espao rotulao de

    alunos/ literatura com a pr4tica pedaggica denominada de leitura obrigatria/

    classificaAes de toda a ordem/ al#m de tantas outras tecnologias de controle

    verific4veis no $uotidiano da escola% 5 cl4ssicoA Produo do racasso -scolar

    demonstra como a instituio pode se mostrar a servio destes modelos de

    1!Gnteressante verificar a refer1ncia $ue Foucault fa2 $uanto Lregularidade da pr4ticadiscursiva pedaggicaM em comparao s outras instituiAes em *r$ueologia do PoderN;

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    organi2ao e de dominao/ especialmente no captulo intitulado L*rtimanhas do

    PoderM,

    Classificar/ remane7ar/ recuperar/ coisificar% * arbitrariedadepode assumir formas tanto mais sutis $uanto mais 7ustificadast#cnica e cientificamente% (ntre os procedimentos $ue seen$uadram nesta condio/ tr1s chamaram/ em especial/ nossaateno, os crit#rios de formao de classes de primeira s#rie/ apr4tica do remane7amento e as atividades de recuperao%NP*TT5/ >aria Belena .ou2a ;

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    1!

    'entro deste conteKto/ vale a remisso viso Xantiana do Gluminismo em

    seu artigoAu#8l9runge o $ue a$ui nos # mais relevante, a eKegese de Foucault

    sobre o mesmo% (le destaca a perspectiva de $ue o alemo entende o movimento

    revolucion4rio de 8HJ9 Ncapa2 de instituir um ordenamento constitucional

    emanado pela vontade dos homens/ $ue trouKe com ele o de esclarecimento e auto

    responsabili2aoO como um momento privilegiado de problemati2ao da prpria

    atualidade discursiva/ tendo como esteio o acontecer de um trabalho indefinido de

    liberdade%;ichel

    Foucault denominou de acontecimento/ distingue o presente do atual/ no sentido

    de $ue este 6ltimo encarna um porvir $ue desatuali2a o instante% Gndo al#m do $ue

    Xant argumenta em seu teKto/ Foucault valori2a o fato de o autor estar imerso em

    um processo de compreenso acerca do momento histrico onde se insere o

    Gluminismo/ e ainda diante do fato de se estar elaborando uma an4lise crtica

    acerca do et$oslimite vivenciado na$uela ocasio/ $ue havia produ2ido um novo

    pensar $ue tradu2ia um acontecimento de descontinuidade em relao ao

    pensamento filosfico tradicional;8% Uma possibilidade singular de elaborao de

    um processo alternativo e emergente de valorar/ sentir e compreender%

    5 filsofo franc1s/ ttulo de concluso/ elabora;;,

    * ontologia crtica de ns mesmos deve ser considerada/certamente/ no como uma teoria/ uma doutrina/ nem mesmoum corpo permanente de conhecimento $ue se acumulaQ deveser concebida como uma atitude/ um et$os/ uma vida filosficaem $ue a crtica do $ue somos # tanto a an4lise histrica dos

    limites $ue nos so colocadas e testar sua possvel travessia%NF5UC*U+T/ >ichel/ ;

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    eKerccio pleno da cidadania # assertiva recorrente nos teKtos relacionados

    pedagogia e encontra plena acolhida na fundamentao da legislao pertinente/

    $uer na Constituio da ep6blica Federativa do ?rasil/ $uer na +ei de 'iretri2es

    e ?ases da (ducao N+ei Federal 9I9:9=O;I%

    A Fu$%*o P"o!))o"

    3o processo de edificao do $ue Foucault chama de Lsociedade do

    discursoM;:a escola tem papel protagonista/ uma ve2 $ue promove a su7eio dos

    grupamentos humanos a um con7unto diferente de discursos e o tomar para si das

    escrituras% (le compara este mecanismo ao/ tamb#m presente de maneira

    privilegiada na instituio escolar/ sistema de leis Nparte do processo de formao

    cidadO e institucional da medicina Ncom a difuso dos h4bitos de cuidado/

    alimentao e higiene $ue buscam promover a sa6de preventivaO%

    5 $ue # afinal um sistema de ensino seno uma rituali2ao dapalavraQ seno uma $ualificao e uma fiKao dos pap#is paraos su7eitos $ue falamQ seno a constituio de um grupodoutrin4rio ao menos difusoQ seno uma distribuio e umaapropriao do discurso com seus poderes e saberesZ

    NF5UC*U+/ >ichel/ ;

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    2#

    $uase aKiom4tico% (ntender $ue o processo educacional pode ser capa2 de ir al#m

    das regularidades voltadas a desenvolver habilidades e compet1ncias cognitivas

    pressupostas% 'e certa forma ultrapassar os limites do $ue 0DgotsD;@denomina

    de L\ona de 'esenvolvimento ProKimal e PotencialM/ estabelecendo a linha de

    ruptura em busca da g1nese de uma sub7etividade nova e eminentemente

    aut1ntica%

    Como 74 foi a$ui citado/ o sistema educacional pode estar colocado/ ao

    rev#s/ como microestrutura de reproduo dos saberes $ue do legitimidade ao

    processo de afirmao dos poderes% (stes provocara a instituio de um

    determinado currculo arbitr4rio/ capa2 de provocar as dispersAes temporais " e

    mesmo o es$uecimento de suas matri2es - $ue indu2iram a fabricao dessas

    organi2aAes discursivas;=/ $ue ganharam status de apriorihistrico% (ste/ por sua

    ve2/ deve ser entendido como a gram4tica da pr4tica discursiva/ coesa em uma

    historicidade/ no entanto mut4vel%

    eforando a tese/ nos # impossvel conceber a contestao - ainda $ue o

    LsempreM este7a condenado a tra2er/ em alguma parte/ uma frao do pensamento

    anterior - sem e por isso mesmo/ o completo domnio dos saberes $ue esto a

    servio de sua conservao% * cognio/ assim/ tem a capacidade de ser

    simultaneamente repetitiva e reprodutiva% Por isto mesmo/ devemos ter clare2a

    $uanto a perspectiva de ruptura atrav#s do desenvolvimento da capacidade de

    domnio da gnose/ ainda $ue esta ocorra dentro de um processo eminentemente

    repetitivo% * $uesto se mostra/ primeira vista/ bastante desafiadora/ depois de

    lermos este trecho da obra de ?ordieu e Passeron,

    *contece mesmo $uando uma instncia pedaggica tem porfuno principal/ seno 6nica/ reprodu2ir o estilo de vida deuma classe dominante ou de uma frao da classe dominante, aformao do 7ovem ilustre pela colocao numa casa ilustre "

    #osterage" ou/ em menor grau/ a formao do gentleman natradicional O"#ord% N?5'G(U/ Pierre e P*..(53/ !ean-Claude/ ;

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    21

    ancinRre/ por seu turno/ instiga o leitor atrav#s de uma discusso acerca

    da efetiva atividade a ser desempenhada pelo magist#rio/ ou vendo de outra

    forma/ como o conhecimento pode ser obstaculi2ado pelo eKerccio do

    LeKplicadorM% (le busca demonstrar $ue diversas atitudes do professor $ue

    propugnam uma dissimetria entre mestre e aluno ou uma falsa igualdade

    intelectual/ acabam por indu2ir a um 6nico caminho epist1mico% 5 autor chega a

    e$uiparar atividades de pr4tica pedaggica completamente diferentes/ tais como,

    onde o professor se coloca como fonte e o estudante como recept4culo/ as

    mediaAes altamente indutoras e ainda o caminho de perguntas e respostas $ue

    no resistem a um modelo previsvel e anteriormente bem demarcado% (m outras

    palavras/ sistemas de maior ou menos liberdade/ todos eles falsos% * proposta de

    desafio cognitivo esconde uma previsibilidade absoluta do local de chegada/ ou

    se7a/ um 7ogo de cartas marcadas% 5 *rgelino nos convida a refletir/ em radical

    contraposio/ acerca da a$uisio de saberes dentro de uma perspectiva de

    absoluta autonomia%

    0imos crianas e adultos aprenderem so2inhos/ sem mestreeKplicador/ a ler/ a escrever a tocar m6sica e a falar lnguasestrangeiras% *creditamos $ue esses fatos poderiam se eKplicar

    pela igualdade das intelig1ncias% N*3CG3^(/ !ac$ues/;

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    22

    (m $ue pese a perspectiva sedutora e radical das assertivas contidas na

    obra de ancinRre/ firmamos o ponto de vista de >ichel Foucault/ no sentido de

    $ue a autoria # decorr1ncia e diverg1ncia no mesmo ato% ( ele/ inclusive/ no

    diminui o protagonismo autoral na histria da arte/ na produo cientfica/ na

    literatura/ nas construAes ideolgicas/ enfim da presena ine$uvoca entre os

    viventes/ do homem-obra,

    (m outras palavras/ diferentemente da fundao de umaci1ncia/ a instaurao discursiva no fa2 parte dessastransformaAes ulteriores/ ela permanece necessariamenteretirada e em dese$uilbrio% NF5UC*U+T/ >ichel/ 5 Wue # um*utorZ 89=9, P4gina ;:O;H%

    Tentando dar mais um passo/ a analogia proposta por *leKandre Fiordi de

    Carvalho entre a LFuno *utorM/ construda pelo filsofo franc1s;Je a Funo

    (ducador proposta por a$uele/ pode nos a7udar a melhor compreender as

    possibilidades de atuao do professor/ indo al#m da perspectiva de fonte 6nica de

    apresentao de saberes% *o contr4rio/ se colocando como agente mediador e

    indutor da possibilidade subversiva $ue o ato de criao eKige% * formao de

    sub7etividades $ue # inerente ao papel do educador e a caracterstica reprodutora e

    normalista do processo educacional podem/ entretanto/ possibilitar um reeKame/

    ou se7a/ um $uestionamento dos privil#gios associados a a$uele discurso/ dando

    incio a um movimento transgressor de criao%

    Como tentei mostrar/ a criao da funo-autor est4 voltadapara a descontinuidade/ ou se7a/ a instaurao de umadiscursividade $ue afronta e resolve a ordem do entendimentodos ob7etos conhecidos ou # mesmo capa2 de produ2ir oentendimento acerca de um ob7eto outrora no dado

    visibilidade% NC*0*+B5/ *leKandre Filordi de/ ;

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    23

    5 escritor brasileiro estabelece uma relao de contraste determinante em

    sua leitura comparativa com a LFuno *utorM de Foucault reforando/ atrav#s de

    seus argumentos/ a possibilidade de similitude transgressora de ambas%

    Pois bem/ penso $ue a funo-educador pode se colocar com amesma intensidade/ no no mesmo registro da funo-autor/por#m como um tipo ou meio de intensificar as rupturas nasredes e nos circuitos das ordens discursivas a fim de atuar nacomposio de novas 4reas de sub7etivao humana%NC*0*+B5/ *leKandre Filordi de/ ;

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    24

    >ichel Foucault d4 especial 1nfase ao espao/ assim entendido em

    diferentes abordagens ao longo de sua obra% 3o livro em $ue &illes 'eleu2e

    escreve sobre Foucault/ no captulo destinado a promover a analtica da

    Arqueologia do Saber/ h4 um discorrer $ue nos permite assimilar o contraste das

    abordagens%

    'eleu2e menciona o espao colateral $ue # onde se locali2a o con7unto

    remissivo de um grupo de enunciados% 'epois/ ele nos oferece o raciocnio sobre

    o espao correlativo $ue concatena su7eitos/ ob7etos e conceitos/ estes no

    propriamente associados/ e estando distintos da funo prim4ria $ue a remisso

    possui% 'esta feita ela se diferencia do conceito anterior% Finalmente/ o espao

    eKtrnseco ou de formaAes no discursivas e eKemplifica o acontecimento

    poltico e as novas ordens econSmicas e institucionais% ( # neste 6ltimo aspecto

    $ue Foucault caminha no sentido da elaborao de uma filosofia poltica%;9

    *$ui/ por isto mesmo/ vamos nos ater a este terceiro entendimento/ o $ue

    trata do Ltopos/ o eKtrnseco e de nature2a institucional:%*s pr4ticas de poder

    constitutivas da sub7etividade moderna so temporalmente dissecadas ao longo

    das obras de >ichel Foucault/ mas o seu entendimento tamb#m demanda um

    debruar sobre a distribuio espacial e sua correspondente disciplinari2ao de

    condutas/ assuno de pap#is e de eKposio a discursos apropriados Iichel/ *s Palavras e as Coisas/ ;

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    25

    se por em lugar algum/ eis $ue # a ideia ausente de lugar $ue lhe concede

    eKist1ncia imagin4ria% * heterotopia/ no entanto/ se coloca em posio de afronta

    radical e $uase insuport4vel ao pensamento da tradio/ pelo fato de $ue ela

    reclama eKist1ncia no mundo%

    *s heterotopias in$uietam/ sem d6vida por$ue solapamsecretamente a linguagem/ por$ue impedem de nomear isto ea$uilo/ por$ue fracionam os nomes comuns ou os emaranham/por$ue arrunam de antemo a LsintaKeM e no somente a$uela$ue constri as frases " a$uela menos manifesta/ $ue autori2aLmanter 7untosM Nao lado e em frente umas adas outrasO aspalavras e as coisa% NF5UC*U+T/ >ichel/ ;

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    26

    poder/ ao longo de todo o processo de produo da sociedade moderna/ com

    grande contribuio no plano de construo e eKerccio da biopolticaI:%

    O E)(a%o E)&ola"Passemos ento analisar a instituio escolar/ de maneira muito sint#tica/

    para/ logo a seguir/ verificarmos suas possibilidades heterotpicas/ tomando como

    roteiro a confer1ncia de 89J:/ 74 citada% * instituio escolar obedece a

    parmetros de rotina organi2acional mais ou menos rgidos de acordo com a

    proposta pedaggica de cada escola% *inda $ue se7a relativamente f4cil verificar

    diversas e importantssimas mudanas evolutivas comparando os modelos do

    s#culo 0GGG com os do G/ tais como a eliminao dos castigos corporais/universali2ao da matrcula e incluso dos anormaisI@/ h4/ como dissemos

    anteriormente/ uma imensa pr4tica pedaggica calcada na repetio% epetio de

    organi2ao do tempo/ com sinos e sirenes definindo hora de ingresso na escola e

    na sala de aula/ de ficar calado/ de desenvolver atividades/ de sociali2ao/ de

    eKercitar-se/ de danar e de retornar para a famlia%

    esultado dessa estruturao do tempo # a matri2 ar$uitetSnica $ue

    estabelece espaos de conviv1ncia diferenciados para direo da unidade/ para

    professores e alunos/ as salas de aula - onde os agrupamentos despersonali2ados

    se formam " e 4reas de ocupao fora da #gide do magist#rio/ onde os inspetores

    de mant1m olhos atentos a comportamentos desviantes/ al#m de refeitrios/ salas

    de leitura e $uadras esportivas% B4/ inclusive/ manuais governamentais com

    ar$uiteturas padroni2adas $ue prescrevem esse modelo voltado aacentuar as

    tecnologias de controleI=% (nfim/ no h4 na escola nenhum espao desconectado

    de uma orientao de conduta e uma responsabilidade hier4r$uica pela vigilncia

    e cumprimento da mesma%

    34Como tamb#m de uma dimenso desta $ue adu2 C*.T(+5 ?*3C5/ &uilherme/;(C-F3'(http,EEE%fnde%gov%brprogramasparpar-pro7etos-ar$uitetonicos-para-construcao%

    26

    http://www.fnde.gov.br/programas/par/par-projetos-arquitetonicos-para-construcaohttp://www.fnde.gov.br/programas/par/par-projetos-arquitetonicos-para-construcaohttp://www.fnde.gov.br/programas/par/par-projetos-arquitetonicos-para-construcao
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    2

    Como professa o ad4gio/ lugar de criana # na escola e no # concebvel na

    escola a criana solta/ deiKada a si% 5 desafio $uotidiano # patrulhar os banheiros/

    as salas de aula na aus1ncia do professor/ o entorno da escola/ o interior do Snibus

    escolar e os vesti4rios%

    3o interior da sala de aula/ a manuteno das disposiAes das cadeiras e

    mesas propiciando ao professor o papel de fonte unit4ria de difuso do

    conhecimento e ao estudante a postura de recept4culo paciente% 0erificamos um

    con7unto de t#cnicas de gesto da 7uventude no decorrer da aula Nadministrao da

    classe escolarO/ voltada a maKimi2ar os esforos reprodutores do docente sem

    perder de vista algumas alianas com a medicina no intuito de medicali2ar os

    alunos mais agitados e dispersos% 5s conte6dos continuam fre$uentemente

    enciclop#dicos/ desconteKtuali2ados/ compartimentali2ados e em via unilateralIH%

    3o caso da aprendi2agem das/ no por acaso denominadas/ disciplinas, a +ngua

    Portuguesa/ $uando ultrapassa o letramento e a funo social da escrita

    ingressando na gram4tica - baseada na memori2ao de regras e

    eKcepcionalidades " verificamos o superlativo impacto no desempenho discente%

    5 ensino das ci1ncias/ abstrato e ausente de metodologia investigativa/ transforma

    o mesmo em um eKerccio de memria de classificaAes e nomes em latim% (sta

    organi2ao discursiva promove a sensao de $ue a instituio mudou muito

    pouco em relao ao seu modelo original/ ainda $ue tenhamos de levar em conta

    $ue a generali2ao da assertiva se7a notavelmente in7usta%

    *$ui cabe uma refleKo acerca do intuito de investigar as possibilidades

    heterotpicas no espao escolar% * ra2o fundamental # $ue a perspectiva de um

    espao de contra posicionamentos/ indecidibilidades/ implosAes de convicAes e

    do"as/ ou se7a a problemati2aAes das tecnologias de disciplina e controle poderia

    promover ao menos dois resultados de eKtrema importncia para a instituio e aprpria sociedade, em primeiro lugar proporcionar/ atrav#s de uma perspectiva

    protagonista do 7ovem/ uma maior insero de sua identidade eKtra escolar no

    ambiente da instituio e com isso permitir novos mecanismos de Lassociativismo

    3 Conforme C*.T5/ >aria Belena >agalhes e TG(\\G/ .#rgiohttp,EEE%schEart2man%org%brsimondesafios:ensinomedio%pdf/ >(C Parmetros Curriculares

    3acionais (nsino >#dio ;

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    2!

    an4r$uicoMIJcapa2es de elaborar formas discursivas alternativas% 3este mesmo

    vi#s/ uma maior apropriao/ por parte dos adolescentes/ do espao escolar/ o $ue

    poder4 estimular a difuso das discursividades criadas por fora das sinergias

    articuladas nesta elaborao de um tempo essencialmente catico mas/

    paradoKalmente/ abrigando certos nveis mnimos de organi2ao% (m segundo

    lugar/ a perspectiva/ naturalmente no utpica/ do eKerccio do magist#rio/ tanto

    $uanto possvel/ afastado da funo reprodutora e capa2 de criar as condiAes

    necess4rias ao processo de autoria% 3este sentido/ registre-se o eKemplo mais

    celebradoI9da atualidade/ $ue # o da (scola da Ponte em Portugal $ue busca uma

    matri2 heterotpica aambarcando a totalidade da instituio% (ntretanto/ a ideia

    fora $ue vem mente como possibilidade de construo deste topos/ heterodoKo

    por eKcel1ncia/ # o da educao integral articulada% (Kplico melhor, a educao

    integral pode congregar no mesmo espao e de forma simultnea as atividades

    culturais capa2es de servir de combustvel para o protagonismo 7uvenil e a

    eKpresso das culturas urbano contemporneas e/ numa perspectiva mais

    ambiciosa/ articular saberes tendo ainda o estudante como agente da construo de

    seu prprio conhecimento/ desenvolvendo assim as dese74veis capacidades de

    aprendi2agem ao longo da vida, li#elong learning s8ills62%

    'ando se$u1ncia linha de raciocnio inicial/ vamos tentar desenvolver a

    heterotopologia da instituio escolar seguindo a classificao did4tica proposta

    no teKto de Foucault de 89J:% .egundo ele/ a caracterstica de universalidade da

    heterotopia $ue est4 presente em todas as civili2aAes/ tra2 consigo a perspectiva

    de $ue cada sociedade produ2a ineKoravelmente um topos-temporal e as divide

    em, Lde desvioM ou Lde criseM/ este 6ltimo em processo de eKtino:8/ e mais

    presente em sociedades primitivas% 3o parece desarra2oado imaginar a

    heterotopia da instituio escolar na categoria L de criseM/ 74 $ue h4/ de fato/ um

    3! >elhor eKplicado no par4grafo subse$uente%

    3" *lguns estudiosos como o *+0(./ uben https,EEE%Doutube%comEatchZv_>t&DB2Gaf+c se dedicaram ao tema e a imprensa deu ampla cobertura estaeKperi1ncia portuguesa/ dentre ela citamos a (ditora *bril com a evista 3ova (scolahttp,revistaescola%abril%com%brformacao7ose-pacheco-escola-ponte-:H9

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    2"

    processo agudo de agonia/ onde esto inseridos os adolescentes/ especialmente os

    de maior vulnerabilidade econSmica $ue/ em grande parte/ no enKergam na

    instituio nada de bom ou proveitoso $ue no se7a a passagem do tempo

    aguardando o sinal autori2ativo de finali2ar a 7ornada:;% >as h4 tamb#m a hiptese

    descrita por (dson Passeto N;

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    3#

    5 $ue realmente devemos nos ater # perspectiva da iluso $ue subverte

    outra iluso $ue chamamos de realidade/ to falsamente orgnica/ previsvel e

    merc1 de um livre-arbtrio tido como infinito,

    (nfim/ o 6ltimo trao das heterotopias # $ue elas t1m/ emrelao ao espao restante/ uma funo% (sta se desenvolveentre dois plos eKtremos% 5u elas t1m o papel de criar umespao de iluso $ue denuncia como mais ilusrio ainda$ual$uer espao real/ todos os posicionamentos no interior dos$uais a vida humana # compartimentali2ada% NC*0*+B5/*leKandre/ ;as #/ por suposto/ na vertente da iluso/ $ue o

    teKto nos guia numa interessante eKemplificao da tra7etria da arte/ $ue nos

    convida subscrio como forma de construo de um espao escolar dotado de

    uma heterotopia de forma atpica e $ue lhe permitiria deflagrar neste espao a

    energia germinativa de novas pr4ticas discursivas%

    Para encerrar este tpico # importante mencionar/ ainda $ue brevemente/

    $ue uma nova perspectiva de educao integral/ igualmente dotada de contornos

    de ruptura e de autoria/ valendo-se de apropriaAes simblicas pouco

    convencionais/ em parcela ou na totalidade do espao escolar% (la poder4 ter como

    fundamento filosfico a apropriao da tica do cuidar de sicomo elemento de

    libertao66, em suas dimensAes de refleKo biolgica e de edificao de

    princpios $ue levam a constituir uma est#tica da eKist1ncia no plano individual do

    autoconhecimento/ mas tamb#m do coletivo no coeKistivoda vida%

    Co$&lu)6!)

    5 pro7eto de >ichel Foucault # primordialmente voltado para a

    compreenso das matri2es de poder/ $ue produ2iram formaAes discursivas/ $ue

    por sua ve2 estabeleceram atores scio-institucionais e $ue levaram apropriao

    #tica constitutiva da sub7etividade moderna%

    5 rigoroso eKame da e$uao poltica no plano das organi2aAes de

    classes # assim contemplada por ele,

    44 (stes princpios #ticos so propagados por Foucault em diversos teKtos/ em especialno terceiro volume de Bistria da .eKualidade%

    3#

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    31

    Uma classe dominante no # uma abstrao/ mas tamb#m no #um dado pr#vio% Wue uma classe se torne dominante/ $ue elaassegure sua dominao e $ue esta dominao se reprodu2a/estes so efeitos de um certo n6mero de t4ticas efica2es/

    sistem4ticas/ $ue funcionam no interior de grandes estrat#gias$ue asseguram esta dominao% >as entre a estrat#gia $ue fiKa/reprodu2/ multiplica/ acentua as relaAes de fora e a classedominante/ eKiste uma relao recproca de produo%

    5 pensador franc1s nos fa2 ver $ue uma classe dominante no # nem um

    construto intelectual como tamb#m no #/ naturalmente/ um a priori histrico:@

    *$uela se afirmara atrav#s de estrat#gias sistem4ticas e reprodutoras/ $ue acabam

    por serem deflagradas em regime de simetria entre as diferentes classes%

    Pode-se/ portanto/ di2er $ue a estrat#gia de morali2ao daclasse oper4ria # a da burguesia% Podese mesmo di2er $ue # aestrat#gia $ue permite classe burguesa ser a classe burguesa eeKercer sua dominao% >as no creio $ue se possa di2er $uefoi a classe burguesa/ como um su7eito ao mesmo tempo real efictcio/ $ue inventou e impSs fora/ ao nvel de sua ideologiaou de seu pro7eto econSmico/ esta estrat#gia classe oper4ria%(F5UC*U+T, >ichel/ >icrofsica do Poder/ edio digital/p4gina 8::O%

    * escola/ por derradeiro/ se integra ao con7unto de instituiAes elencadas por

    Foucault/ pela sua tipicidade na organi2ao do controle disciplinar/ de

    reproduo discursiva e de consolidao repetidora dos saberes servio de um

    modelo $ue serve a uma matri2 dominante% 3o entanto devemos admitir a

    perspectiva da produo dos novos discursos% 3o # tarefa f4cil imaginar esta

    possibilidade na priso/ no hospital ou na f4brica% *inda $ue se7a inteiramente

    admissvel no hospcio/ onde o pensamento do louco tende a ser ontologicamente

    dissonante e/ portanto/ original% Todavia/ # possvel pensar a escola como

    possibilidade de produo de diverg1ncias/ capa2es de produ2ir/ muito al#m de

    reprodu2ir/ de autorar/ indo al#m do mero repetir% Wui4 por esta ra2o/ >ichel

    45 3o h4 $ue se confundir o a priori histrico a$ui inscrito com seu significadocolo$uial% (le no trata de um conceito ar$ueolgico/ uma realidade dada ou umarcabouo de crenas ou valores sociais de uma #poca especfica% L(ste a priori # o $ue/em determinada #poca/ recorta na eKperi1ncia um campo de saber possvel/ define omodo de ser dos ob7etos $ue nele aparecem/ arma o olhar cotidiano de poderes tericos edefine as condiAes em $ue se pode enunciar sobre as coisas um discurso reconhecidocomo verdadeiro% M Napud >*CB*'5/ oberto/ ;

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    32

    Foucault integrante do CollRge de France e/ lembremos/ professor/ tenha tido o

    especial cuidado ao tratar da instituio escolar/ raramente a incluindo em sua

    conhecida eKemplificao e estudo de modelos institucionais da estrutura social%

    Possivelmente ou muito provavelmente/ por$ue haveria de ser ar$ueologi2ada/

    genealogi2ada e compreendida na elaborao de uma obra especfica $ue/

    infeli2mente/ nunca foi editada%

    32

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    33

    R!!"7$&ia) 8ilio/"4i&a)?5'G(U/ Pierre e Passeron/ !ean-Claude% * eproduo% io de !aneiro,

    (ditora 0o2es/ ;ichel Foucault e a Constituio do .u7eito% .oPaulo/ .P% ('UC PUC/ ;

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    34

    % 5 Wue # um *utorZ (dio 'igital em P'F encontrada a$ui%

    http$%%&do.roc'(media.net%anthro%)oucault*autor.pd)

    F(U'/ .igmund% 5 >al (star da Civili2ao N89;*&5 89H:X*3T/ Gmanuel% esposta Pergunta o Wue # o Gluminismo% (dio 'igital

    oferecida pela +usofia%

    http,EEE%lusosofia%netteKtosantoiluminismo8HJ:%pdf%>*CB*'5/ oberto% Foucault a Ci1ncia e o .aber% io de !aneiro/ !% (ditora

    \ahar/ ;artin Claret, .o Paulo/ ;, Porto *legre/ ./

    ;artin Claret, .o Paulo/ .P/ ;