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Metodologias de Construção e Disseminação de Conhecimentos 23 a 31 de agosto de 2013 Paraíba e Pernambuco, Brasil ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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Metodologias de Construção e Disseminação de Conhecimentos

23 a 31 de agosto de 2013Paraíba e Pernambuco, Brasil

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

INTRODUÇÃO Caros(as) Participantes da Rota Estratégica de Aprendizagem

Entre os dias 23 e 31 de agosto, estaremos juntos em mais um itinerário de aprendizagem pelo Semiárido nor-destino brasileiro. Desta vez, vamos conhecer os saberes e as práticas de diferentes atores sociais dos territó-rios Sertão do Pajeú e Sertão do Araripe (Pernambuco) e do Território da Borborema (Paraíba). São mulheres, homens e jovens coautores de uma nova trajetória de desenvolvimento para o Semiárido, pautada na convi-vência com a região e na valorização dos saberes locais.

Sabemos que os desafios ainda são grandes, mas também sabemos que grandes avanços foram conquistados na construção de conhecimentos e tecnologias voltadas para o desenvolvimento sustentável do Semiárido brasileiro. Por isso, o Programa Semear promove diferentes iniciativas, como as Rotas Estratégicas, que con-tribuam para uma aprendizagem sócio-prática, a partir do intercâmbio de experiências e da vivência comum entre diversos atores do desenvolvimento rural.

Para realização da Rota Estratégica Metodologias de Construção e Disseminação de Conhecimento, o Semear conta com a parceria técnica da Corporação Chilena Procasur, desenvolvedora da metodologia, e com o apoio da Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa - AS-PTA, do Centro de Assessoria e Apoio a trabalhadores/as e instituições não governamentais alternativas – CAATINGA, do Centro de Desenvolvimento Agroecológico Sabiá e do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido – NEPPAS.

Com o objetivo de guiar a nossa viagem e potencializar as oportunidades de aprendizagem, compartilhamos neste documento, materiais de referência para a referida Rota Estratégica, incluindo: programação do evento; mapa dos territórios a serem percorridos; objetivos de aprendizagem da Rota; nota conceitual sobre os temas abordados; e informes de sistematizações dos casos de aprendizagem que serão visitados.

Desejamos uma boa leitura e uma excelente Rota Estratégica de Aprendizagem para todos(as)!

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SEMEAR PROGRAMA DE GESTÃO DO CONHECIMENTO EM ZONASSEMIÁRIDAS DO NORDESTE BRASILEIRO

O Semear é um programa de gestão do conhecimento que visa contribuir para a melhoria da qualidade de vida da população rural e para o desenvolvimento sustentável e equitativo do Semiárido nordestino, por meio do fortalecimento de redes de colaboração e de aprendizagem e da disseminação de conhecimentos e práticas alinhadas para a convivência com a região.

Para cumprir seu objetivo, o Semear promove e articula iniciativas de gestão do conhecimento em suas áreas temáticas estratégicas - inovações produtivas e tecnológicas; recursos naturais e adaptação às mudanças cli-máticas; e negócios rurais. As atividades desenvolvidas em seu âmbito incluem a produção e a publicação de sistematizações de experiências e de estudos temáticos, assim como a realização de visitas de intercâmbio, estágios, oficinas, seminários, feiras de saberes e rotas estratégicas de aprendizagem.

Para subsidiar os processos de aprendizagem coletiva e social, bem como a disseminação de conhecimentos e experiências que possam ser adotadas e replicadas pela população rural, especialmente agricultores e agri-cultoras familiares, o Semear utiliza diferentes estratégias e ferramentas de gestão do conhecimento: gestão de portal web do programa; construção de Banco de Saberes e Atores do Semiárido; produção de materiais impressos e audiovisuais especializados; elaboração de catálogo eletrônico de associações e cooperativas; pro-dução de materiais metodológicos, dentre outros.

Implementado pelo Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola – FIDA e pelo Instituto Interameri-cano de Cooperação para a Agricultura – IICA, com o apoio da Agência Espanhola de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento – AECID, o Semear tem como área de abrangência os estados da Bahia, Ceará, Paraí-ba, Piauí, Pernambuco e Sergipe.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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O QUE É A ROTA DE APRENDIZAGEM?As Rotas de Aprendizagem1 consistem em viagens e visitas planejadas com propósitos formativos a experiên-cias locais, desenhadas a partir de dois componentes centrais: i) as necessidades de conhecimento de agentes sociais que enfrentam desafios relacionados aos processos de desenvolvimento; ii) a identificação de expe-riências relevantes com resultados bem sucedidos e com saberes práticos potencialmente úteis para dissemi-nação, capazes de aproximar agentes e organizações - com problemáticas similares - de maneira inovadora para gerar novos aprendizados.

A preparação de uma Rota de Aprendizagem e a seleção das experiências incluem processos desenvolvidos de forma simultânea: i) sistematização das experiências, e ii) fortalecimento de talentos locais. Ambos se orien-tam para produzir informações sobre cada um dos casos, e ao mesmo tempo, incorporar os seus responsáveis no processo de intercâmbio e aprendizagem coletiva durante as Rotas, mediante uma revisão crítica da própria trajetória e do fortalecimento das capacidades dos agentes sociais envolvidos em cada um dos casos.

Nesse desenho pedagógico, a sistematização e o fortalecimento das experiências e talentos locais seleciona-dos significam: i) revelar e organizar o saber dos agentes sociais (sistematizar), identificando lições, aprendiza-dos e práticas, e ii) planejar estratégias para reforçar e comunicar o saber dos agentes sociais aos participantes da Rota, conforme os seus objetivos de aprendizagem. Ao sistematizar experiências, são identificados, valida-dos e compartilhados “ativos de conhecimento”, valiosos e significativos para a aprendizagem, para a inovação social e para sua possível replicação em outros ambientes.

A Rota é um processo pedagógico e de aprendizados que se concretiza em diversos espaços e momentos me-todológicos:

Feira de Experiências: cada participante da Rota socializa, de forma sucinta, a situação atual de sua organi-zação/instituição dentro da temática da Rota Metodologias de Construção e Disseminação de Conhecimen-to, levando em conta os principais desafios e oportunidades para melhorar a situação inicial. Esta apresentação se realiza como uma “Feira de Experiências”, na qual, cada participante um organiza monta painéis ou estan-des. É muito importante que os participantes façam uso de material gráfico, fotografias e outros para contex-tualizar referente a sua experiência.

1 Ferramenta metodológica criada e validada pela organização Procasur, com apoio do FIDA e de outras instituições que, ao longo de sua aplicação em diferentes países da América Latina, Ásia e África, vem sendo aperfeiçoada e ajustada, segundo as particularidades de cada país e regiões rurais.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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Esse exercício permite aos participantes e facilitadores da Rota uma visão compartilhada sobre os diferentes agentes envolvidos na Rota e suas necessidades de aprendizagem específicas. Representa a 1ª passagem da aprendizagem individual para um processo coletivo de apropriação e utilização dos novos conhecimentos. Mo-tiva a colaboração e o intercâmbio entre os participantes.

Oficinas de Análises de Casos: têm como finalidade facilitar a compreensão e as análises das experiências vi-sitadas durante a Rota, promovendo a identificação de dos conhecimentos relevantes e sua apropriação pelos participantes. Estas As oficinas possibilitam a identificação de ideias inovadoras e a reflexão acerca das possi-bilidades de adequação e réplica das mesmas em outros contextos.

Em cada uma das oficinas de análise dos casos, é constituído um grupo de participantes com a responsabili-dade de elaborar insumos para a análise coletiva, provocar e sensibilizar os outros participantes ao diálogo e à reflexão em torno das experiências, os secretários de caso. A equipe metodológica da Procasur é responsável pelo acompanhamento do processo de aprendizagem, por meio de uma comunicação adequada, pela ani-mação das atividades, análises e debates em torno das ideias inovadoras articuladas com a temática da Rota.

Oficinas para Elaboração dos Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento: nessas oficinas, a equipe me-todológica da Rota apoia a elaboração de propostas de Planos de Gestão de Conhecimento pelos participantes, facilitando o intercâmbio e a socialização de ideias inspiradas na temática da Rota e nos casos anfitriões apre-sentados. É um espaço de articulação e de sintonia entre os participantes, de nivelamento e consensos acerca da concepção de Planos de Gestão de Conhecimento na perspectiva da construção de diálogos, na integração dos novos aprendizados em ações cotidianas de forma inovadora e adaptada culturalmente, e na disseminação e intercâmbio de conhecimentos entre os agentes e instituições da Rota. Os planos construídos durante essas oficinas serão acompanhados e poderão ser apoiados pelo Programa Semear.

A equipe metodológica, apóia os participantes na identificação e definição de suas propostas, promovendo a análise acerca da viabilidade e sustentabilidade e incentivando a articulação e coordenação com os demais agentes da Rota e casos anfitriões, em torno de ações concretas de gestão do conhecimento.

A expectativa é que durante a Feira de Experiências os participantes da Rota “encontrem” seus pares, e come-cem a se organizar para refletir sobre propostas de Planos de Gestão de Conhecimento.

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A Oficina de Análise Geral da Rota Estratégica de Aprendizagem se organiza em três momentos importan-tes:

• Principais lições aprendidas e conclusões da Rota: momento para a construção de um olhar coletivo em tor-no do tema Metodologias de Construção e Disseminação de Conhecimento, conduzido pelo coordenador temático, a partir do conjunto de análises e reflexões desenvolvidas ao longo da viagem.

• Feira de Planos de Gestão Conjunta do Conhecimento: momento para a socialização dos principais eixos de ação das propostas de Gestão de Conhecimento, para uma reflexão coletiva e feedback entre os participan-tes e a equipe metodológica. Esse exercício contribui para a apropriação das ideias de inovação pelos parti-cipantes da Rota e fortalece os compromissos para sua disseminação nos diferentes contextos de origem.

• Avaliação coletiva e individual dos diferentes aspectos da Rota (técnico, metodológico, de convivência, apoio logístico, etc.), compromissos e perspectivas de continuidade do trabalho.

A Rota de Aprendizagem, enquanto processo de construção coletiva do conhecimento, estimula e se alimenta da colaboração ativa e da interação do grupo. Ouvir, aprender e refletir; sensibilizar-se para as vivências da Rota. Os participantes devem dialogar com as lições e práticas das experiências visitadas, bem como construir de forma conjunta estratégias de ação e de aplicação dos aprendizados adquiridos.

A Rota de Aprendizagem se propõe a dar visibilidade e valorizar os saberes locais e práticas acumuladas pe-las populações e suas organizações para enfrentar os desafios do desenvolvimento. Aponta caminhos a para transformar esses conhecimentos em insumos para a ação, aperfeiçoando práticas concretas e propondo ou-tras alternativas viáveis para os contextos de origem dos participantes da Rota.

ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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Objetivos de Aprendizagem da Rota

• Favorecer e qualificar os processos de intercâmbio e de reflexão coletiva das entidades e organizações participantes da Rota de Aprendizagem - Ferramentas de Construção e Disseminação de Conhecimento.

• Contribuir para a aprimoramento das abordagens metodológicas empregadas pelas instituições participantes da rota.

• Valorizar e socializar a diversidade de métodos e ferramentas de construção do conhecimento no âmbito da região semiárida.

• Construir sínteses a partir da reflexão coletiva de forma a favorecer o diálogo com as políticas públicas de ATER, pesquisa e ensino.

METODOLOGIAS DE CONSTRUÇÃO E DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTOS

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PARAÍBA E PERNAMBUCO, BRASIL

JOVENS GUARDIÃES PROJETO “RIACHOS DO VELHO CHICO”,

IMPLANTADO PELO CAATINGA NO RIACHO QUEIMADO, MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM,

ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL

EDUCAÇÃO AMBIENTAL UMA PRÁTICA DO EXERCÍCIO DAS

RELAÇÕES DO GOVERNO – SOCIEDADE CIVIL NAS ESCOLAS RURAIS DO SERTÃO

DO PAJEÚ/PE

NEPPASA EXPERIÊNCIA DO NÚCLEO DE ESTUDOS, PESQUISAS E PRÁTICAS AGROECOLÓGICAS

DO SEMIÁRIDO

CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO

AGROECOLÓGICO A PARTIR DO FORTALE-CIMENTO DE REDES DE AGRICULTORAS E AGRICULTORES-EXPERIMENTADORES DO

POLO DA BORBOREMA.

Paraíba

Pernambuco

LAGOA SECA

CASO 1 CASO 2 CASO 3 CASO 4

1

TRIUNFO2SERRA TALHADA 3

N

PARNAMIRIM 4

MAPAROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

PETROLINA 5Embrapa

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DIA HORÁRIO ATIVIDADE22Quinta

Chegada em Campina Grande Deslocamento e pernoite em Lagoa Seca/PBLocal: Convento Irmãs Marista (7 km de Campina Grande)

23 Sexta

8hs00 – 10hs00 Oficina de Introdução:• Apresentação dos participantes • Apresentação SEMEAR • Apresentação Rotas Procasur • Introdução aos Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento

10hs00 – 10hs30 Intervalo para café23 10hs30 – 13hs00 Feira de ExperiênciasSexta 13hs00 – 14hs30 Almoço

14hs30 – 18hs30 Debate sobre conceitos e práticas de construção e disseminação de con-hecimentos de agricultores e agricultoras familiares.Jantar de Boas Vindas e pernoite em Lagoa Seca/PBLocal: Convento Irmãs Marista

24Sábado

08hs00 – 18hs00 CASO 1: Rede de agricultores/as experimentadores/as no Território da Borborema/PB (AS-PTA)Jantar e pernoite em Lagoa Seca/PBLocal: Convento Irmãs Marista

25 Domingo

08hs30 – 12hs30 Oficina de análise de Caso 1Apresentação dos secretários/as de caso Reflexão em grupos Reflexão em plenária

12hs30 – 14hs30 AlmoçoDomingo 14hs30 -18hs00 Deslocamento para Triunfo/PE (313 km – em torno de 2 H 30)

Jantar e pernoite em Triunfo/PELocal: SESC Triunfo

26Segunda

09hs00 – 17hs00 Caso 2: Educação Ambiental – relações entre governo e sociedade civil em escolas rurais do Sertão do Pajeú/PE (Sabiá/PDHC)Comunidade: Águas Claras (Triunfo) Escola Municipal de Águas ClarasSaída para a comunidade: 8H (tempo deslocamento de Triunfo para co-munidade 1 H) Jantar e pernoite em Triunfo/PELocal: SESC Triunfo

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PROGRAMAÇÃO ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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DIA HORÁRIO ATIVIDADE27Terça

07hs30 – 08hs00 Deslocamento para Serra Talhada/PE (29 km – 30 min.

08hs00 – 13hs00 Caso 3: A experiência do Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido – NEPPASLocal: Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST)

13hs00 – 14hs30 Serra Talhada14hs30 – 18h30 Oficina de análise de Casos 2 e 3

Apresentação dos secretários/as de casoReflexão em gruposIntervalo para café Reflexão em plenáriaLocal: Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST)Jantar e pernoite em Triunfo/PELocal: SESC Triunfo

28Quarta

9hs00 – 12hs00 Deslocamento para Ouricuri/PE (238 km – em torno de 3 H)

12hs30 – 14hs00 Almoço livre14hs00 -18hs00 Oficina de Construção dos Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento

Local: Auditório da Organização Caatinga Jantar livre e pernoite em Ouricuri/PELocal: Hotel Plaza

29Quinta

07hs30 – 08hs30 Deslocamento para Parnamirim/PE (61 km – em torno de 1 H até Riacho Queimado)

08hs30 – 17hs00 Caso 4: Jovens Guardiães Ambientais – Riacho Queimado Parnami-rim/PE (Caatinga)Jantar livre e pernoite em OuricuriLocal: Hotel Plaza

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PROGRAMAÇÃO ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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DIA HORÁRIO ATIVIDADE30Sexta

08hs00 – 11hs00 Oficina de análise do Caso 4Apresentação dos secretários/as de caso Reflexão em grupos Reflexão em plenáriaLocal: Auditório da Organização Caatinga

11hs00 – 12hs00 Almoço (Organização Caatinga)12hs00 – 14hs30 Deslocamento para Petrolina/PE (199 km – em torno de 2 H 30)14hs30 – 17hs30 Oficina Embrapa Semiárido

Jantar livre e pernoite em Juazeiro/BALocal: Grande Hotel de Juazeiro

31 Sábado

08hs00 -12hs30 Oficina de análise Geral da Rota Estratégica de AprendizagemApresentação de Especialista temático Reflexão em grupos Intervalo para café Reflexão em plenária Almoço no hotel

14hs00 – 19hs00 Feira dos Planos Conjuntos de Gestão do Conhecimento Apresentação das propostasAvaliação/Acordos/EncaminhamentosConfraternização e pernoite em Juazeiro/BALocal: Grande Hotel de Juazeiro

01 Domingo

Retorno dos participantes

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PROGRAMAÇÃO ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM “METODOLOGIAS DE CONSTRUÇÃO E

DISSEMINAÇÃO DE CONHECIMENTOS”

Marcelo Paranhos 1

INTRODUÇÃO

Este documento tem como objetivo contextualizar e fornecer fundamentos conceituais que apoiem o processo de reflexão durante a Rota Estratégica de Aprendizagem Metodologias de construção e disseminação de con-hecimentos2, que será realizada nos territórios da Borborema - PB, Sertão do Pajeú e Sertão do Araripe - PE, no período de 23 a 31 de agosto de 2013.

O texto debate sistematizações de experiências sobre a construção de conhecimentos no âmbito das redes de promoção da Agroecologia no Brasil. Também questiona os efeitos do modelo de modernização da agricultura sobre as culturas locais, assim como faz a crítica aos fluxos verticalizados de produção de conhecimentos ca-racterísticos do difusionismo tecnológico.

Destaca a contribuição da Agroecologia enquanto uma nova ciência e a abordagem metodológica utilizada nos processos de promoção da agroecologia, favorecendo fluxos de conhecimentos mais horizontais que facilitam o diálogo entre os saberes dos agricultores e os conhecimentos acadêmicos. Ainda traz os avanços na cons-trução de conhecimentos decorrentes do enfoque agroecológico adotado por um conjunto de organizações e os desafios e bloqueios que permanecem nas instituições de ensino, pesquisa e extensão. Por último, o texto evidencia a construção do paradigma da convivência com o semiárido.

A MODERNIZAÇÃO NA AGRICULTURA

Há milênios, o conhecimento sobre o manejo dos agroecossistemas vem sendo organizado pela conjunção dos recursos disponíveis de cada coletividade e a herança cultural repassada de geração em geração, gerando uma multiplicidade de modelos produtivos na agricultura.

Nem mesmo as sociedades culturalmente mais fechadas ficaram imunes às influências externas: técnicas origi-nadas em distintos contextos socioambientais eram intercambiadas mediante diferentes mecanismos sociais. As sociedades agrícolas locais foram criadoras de suas próprias técnicas e selecionadoras e adaptadoras de

1 Engenheiro Agrônomo, Coordenador do Programa Local da AS-PTA na Paraíba.2 Promovida pelo Programa Semear – Gestão do Conhecimento em Zonas Semiáridas do Nordeste brasileiro, implementado pelo Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura – IICA e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola – FIDA, com apoio da Agência Espanhola para a Cooperação Internacional – AECID.

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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outras geradas em contextos externos. Por exemplo, o sistema de pousio, roço e queima, a rotação de culturas, o sistema faxinal e os fundos de pastos, que constituem, ao mesmo tempo, sistemas técnicos e regras sociocul-turais de uso e manejo do espaço. (PETERSEN, 1998)

Após a Segunda Guerra Mundial irradiou-se um novo paradigma técnico que promoveu uma ruptura com a forma milenar de produção e difusão de conhecimentos e técnicas na agricultura. Essa união entre técnica e ciência agrícola aconteceu sob a influência do mercado que se transformou em um mercado global. Com isso, a geração e disseminação de novos sistemas técnicos na agricultura perderam o vínculo com as lógicas locais de reprodução das condições sociais e ambientais que favorecem a sustentabilidade dos agroecossistemas.

No Brasil, o Estado promoveu profundas transformações na agricultura a partir da década de 1960 por meio de um amplo e integrado conjunto de políticas indutoras e instrumentos de regulação social. Coube às instituições oficiais de ensino, pesquisa e extensão rural um papel importante nesse processo. Em nome do progresso, legitimaram a denominada modernização da agricultura. Foram também responsáveis pela formação dos co-rações e mentes dos profissionais que levaram a estratégia modernizadora às comunidades rurais.

A Extensão Rural Estatal, por meio do modelo difusionista e de transferência de tecnologia, contribuiu para que a agricultura assumisse o papel de fornecedora de mão de obra e de consumidora de serviços e produtos indus-trializados (máquinas, equipamentos, sementes híbridas ou melhoradas, agrotóxicos e fertilizantes químicos sintéticos), os quais provocaram concentração da terra, êxodo rural, empobrecimento, baixa escolaridade no campo, exclusão social, desvalorização do trabalho na agricultura, redução da biodiversidade, poluição, conta-minação dos alimentos, etc. (PARANHOS et. al., 2007).

A modernização da agricultura foi um projeto que se impôs ao conjunto da sociedade. Seu principal resultado foi a subordinação da agricultura à indústria. Porém, o que caracterizou esse processo no Brasil foi a associação estabelecida entre progresso e escala da propriedade, segundo a qual os grandes proprietários se beneficiaram de consideráveis recursos públicos que terminaram reforçando a concentração da terra (WANDERLEY, 2009).

No lugar das agriculturas de perfil familiar, ajustadas aos diversificados contextos socioecológicos, a lógica técnico-econômica capitalista introduziu o padrão industrial de produção agrícola. As primeiras são fundamen-tadas em sistemas de policultivo manejados com base no aproveitamento dos recursos naturais disponíveis, enquanto a última depende do contínuo aporte de insumos externos para reproduzir os sistemas técnicos de suas monoculturas.

A introdução das técnicas industriais na agricultura retira do agricultor o domínio do conhecimento associa-do ao seu próprio trabalho. Trata-se de um mecanismo que expropria o saber-fazer das comunidades rurais e transfere esse poder para as empresas produtoras das modernas tecnologias para a agricultura. Dessa forma, a dependência tecnológica converte-se em dependência cultural.

O ENFOQUE AGROECOLÓGICO

A Agroecologia se desenvolveu como ciência a partir da constatação de racionalidades ecológicas em agri-culturas camponesas. Assim como nos sistemas agrícolas tradicionais, a Agroecologia aproveita os recursos da natureza para desenvolver agriculturas que assegurem produções estáveis e satisfatórias para atender às necessidades das famílias agricultoras. O enfoque agroecológico ressalta que a produção e a transmissão de

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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conhecimentos são atividades próprias do ser humano, exercidas individual ou coletivamente por meio das culturas. Sob essa perspectiva, o difusionismo é um método de gestão de conhecimento anti-ecológico e desu-manizador. O enfoque agroecológico abriu novos horizontes para abordagens metodológicas que tinham o objetivo de promover uma agricultura alternativa à Revolução Verde. Essa mudança de perspectiva desencadeou um con-junto de abordagens metodológicas: em vez de conceber a tecnologia como um produto acabado, passou-se a estimular processos sociais de inovação tecnológica; em lugar de apenas sistematizar e difundir inovações de agricultores, procurou-se também sistematizar e visibilizar os processos de experimentação que levaram a essas inovações.

AVANÇOS, BLOQUEIOS E DESAFIOS

Cabe aos técnicos, pesquisadores e professores do campo agroecológico aprimorarem seus métodos e instru-mentos de ação, bem como desenvolverem abordagens metodológicas que permitam romper com o difusio-nismo tecnológico. Trata-se de construir metodologias – ponte entre os procedimentos intuitivos, integradores e não-lineares de produção de conhecimento dos agricultores e os procedimentos racionais, analíticos e linea-res dos técnicos.

São necessárias profundas reformulações nas instituições dedicadas ao ensino, pesquisa e extensão rural para que essas novas abordagens metodológicas sejam exercitadas e desenvolvidas. Estes espaços institucionais não permitem o exercício de formas mais horizontais de construção de conhecimentos e não conseguem rom-per com o enfoque difusionista nas ações de desenvolvimento. Os técnicos tendem a reproduzir um olhar re-ducionista e fragmentado da realidade, dificultando o diálogo com os agricultores, portadores de visões mais complexas e sistêmicas da realidade e de seus agroecossistemas.

É necessário que os técnicos incorporem o enfoque participativo nas suas abordagens de trabalho, permitindo o envolvimento comunitário nos processos de desenvolvimento local e favorecendo a sistematização e organi-zação dos conhecimentos e percepções dos agricultores sobre suas realidades. No entanto, deve-se evitar uma abordagem meramente instrumental da participação, que não chega a romper com a lógica de transferência de conhecimentos e que acaba reproduzindo as relações de poder entre as instituições e as comunidades rurais.

Um caminho a ser exercitado é a dinamização de redes que permitem a construção de conhecimentos de ma-neira mais horizontal. As organizações da sociedade civil vêm ao longo de suas trajetórias investindo nos inter-câmbios entre agricultores/as, favorecendo processos de formação e de construção de conhecimentos agro-ecológicos abertos e horizontais. Os intercâmbios são verdadeiros estímulos aos processos de experimentação local. O intercâmbio é parte essencial de um movimento social de inovação agroecológica, que é regido por sistemas informais de comunicação e por diversas redes sociais locais.

A CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

O padrão de desenvolvimento historicamente implementado no Semiárido Brasileiro, desde o início de seu processo de ocupação, foi marcado pela concentração de terra e água, pela exploração da mão de obra e pela utilização predatória dos recursos naturais.

NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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Nesse contexto, a agroecologia, enquanto referência científica tem servido de base para a construção de uma cultura de convivência com o semiárido.

Desde o início da década de 1990 vem emergindo na região semiárida uma nova perspectiva para o desenvol-vimento da agricultura que se convencionou denominar de “convivência com o semiárido”. Essa construção social está baseada em experiências concretas de inovação técnica e sócio-organizativa, formulada em reação às intervenções públicas orientadas sob a égide do combate à seca. Pode-se dizer que ambas as expressões, combate à seca e convivência com o semiárido remetem a dois paradigmas opostos. O paradigma da convivên-cia orienta-se para valorizar as potencialidades socioculturais e ecológicas da região.

Para o desenvolvimento e incorporação de inovações se faz necessário reconhecer que os agroecossistemas tradicionais são manejados segundo uma lógica de práticas agrícolas desenvolvida concomitante às condições socioambientais locais. Esse conjunto de práticas constitui uma fonte de lições e experiências passível de ser sistematizado e valorizado em uma estratégia coerente de conversão produtiva dos agroecossistemas tradi-cionais.

Talvez seja justamente a partir da interação entre esses dois universos de conhecimento que se consiga criar um ambiente sociocultural mais fecundo no que se refere ao processo de desenvolvimento de alternativas de manejo agrícola, garantindo a intensificação produtiva dos agroecossistemas tradicionais em bases mais sus-tentáveis.

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

• ASA , Articulação no Semiárido Brasileiro. Reflexões e proposições da Articulação no Semiárido Brasi-leiro (ASA), no intuito de contribuir para a garantia plena do acesso à água para todas as pessoas no Semiárido. O Lugar da Convivência na Erradicação da Extrema Pobreza. Recife, 2011.

• BARBOSA, E.M. Crítica ao Modelo Atual de Desenvolvimento Agrícola e a Transição Agroecológica no Semiárido. Ano: 2002. Disponível em: http://www.encontroagroecologia.org.br/files/CriticaTransicao_Semiarido.rtf. Acesso em Outubro de 2011

• DUQUE, J.G. O nordeste e as plantas xerófilas. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 2004. 330 p.

• PARANHOS, M; SILVEIRA, L.; NOGUEIRA, F. A Trajetória da Rede ATER NE: construindo conhecimento agroecológico pelo Nordeste Brasileiro. In: Construção do conhecimento agroecológico: novos papéis, novas identidades. Rio de Janeiro, ANA, 2007. p. 56-70.

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NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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• PETERSEN, P. Introdução. In: Agricultura familiar camponesa na construção do futuro. Rio de Janeiro, AS-PTA, 2009c. p. 5-15 (edição especial da Revista Agriculturas: experiências em agroecologia)

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• PLOEG, J.D van der. Sete teses sobre a agricultura camponesa. In: Agricultura familiar camponesa na construção do futuro. Rio de Janeiro, AS-PTA, 2009. p. 17-31 (edição especial da Revista Agriculturas: experiências em agroecologia)

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NOTA CONCEITUALROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO A PARTIR DO FORTALECIMENTO DE REDES DE AGRICULTORAS E AGRICULTORES-

EXPERIMENTADORES DO POLO DA BORBOREMA

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Ao longo dos últimos 20 anos, constituiu-se no Agreste da Paraíba uma experiência singular que se fundamen-ta no que é também seu grande ensinamento: uma estratégia política e metodológica voltada para reorientar a vocação das organizações da agricultura familiar para a promoção de um projeto de desenvolvimento local, ao mesmo tempo em que atribui a construção e a gestão do conhecimento local conduzido por agricultores e agricultoras papéis centrais nos processos de mobilização social para a inovação agroecológica.

Foi no início dos anos 1990 que três sindicatos de trabalhadores rurais (STRs) dos municípios de Solânea, Re-mígio e Lagoa Seca se colocaram o desafio de buscar estratégias inovadoras de intervenção, capazes de gerar dinâmicas sócio-organizativas que atuassem sobre a essência da problemática da agricultura familiar da re-gião. Tratava-se, para esses sindicatos, de reverter uma conjuntura de descenso do movimento sindical e de conectar suas pautas de luta, até então muito genéricas, à realidade e às motivações concretas da numerosa e diversificada agricultura familiar do agreste da Paraíba.

Com essa iniciativa, cumpria os primeiros passos da trajetória do Polo Sindical e das Organizações da Agricul-tura Familiar da Borborema (Polo da Borborema): atualmente, uma rede constituída por 15 sindicatos de tra-balhadores e trabalhadoras rurais, aproximadamente 150 associações de base comunitária e uma organização regional de agricultoras e agricultores agroecológicos (EcoBorborema), que vêm galvanizando regionalmente processos sociais massivos de inovação agroecológica assentados na ação de uma ampla rede de agricultoras e agricultores experimentadores. O presente texto, tratará o percurso histórico dessa construção, além de trazer para o debate os princípios metodológicos que nortearam a construção dessa rede de gestão de conhecimento.

O CONTEXTO DA EXPERIÊNCIA

A região do Polo está localizada no Planalto da Borborema, uma microrregião que se caracteriza como um área de transição entre a Zona da Mata, mais úmida e o Sertão, uma região mais seca. A posição geográfica e as características marcantes da paisagem fizeram com que esta região fosse colonizada tardiamente, mas ao mesmo tempo, foi se desenhando ali, um espaço de intensa atividade agrícola predominantemente conduzida por agricultores familiares, em maior ou menor escala dependendo do ciclo econômico. A região foi e ainda é grande responsável pelo abastecimento dos mercados locais, organizados principalmente por um polo urbano importante, o município de Campina Grande.

A elevada concentração da agricultura familiar marca a paisagem e se molda às peculiaridades fisiográficas, ecológicas e socioeconômicas do planalto da Borborema. Ao centro do território, encontramos a sua porção O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Luciano Marçal da Silveira

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mais elevada onde se estabelecem pequenas propriedades familiares dedicadas à policultura associada à pe-cuária. Na escarpa leste do planalto, as águas da bacia do Rio Mamanguape percorrem um relevo fortemente acidentado. Essa é a região localmente denominada de Brejo, constituído por ilhas de umidade e de solos fér-teis resultantes da ação dos ventos úmidos que vêm do litoral, onde se estabelecem propriedades familiares dedicadas à fruticultura. A porção noroeste do território é marcada pela depressão do Rio Curimataú, uma área de sombra de chuva, conhecida por ser a zona mais seca e pelas formações de caatinga. As criações de animais combinadas com roçados de milho e feijão são as atividades que predominam nos sistemas de base familiar ali instalados. Por fim, a sudoeste, as águas da bacia do Rio Paraíba do Norte definem uma quarta região ambien-tal. De altitudes mais baixas, o cariri-agrestino também é uma região seca onde, se observa o predomínio das grandes fazendas de gado de corte e leiteiro e uma expressiva população de foreiros e trabalhadores sem-te-rra, produtores de milho e fava (ver Figura 1).

Ao longo dos anos, os sucessivos ciclos econômicos, induzidos pelo modelo de desenvolvimento agroexpor-tador, influenciaram a dinâmica da agricultura camponesa no Agreste, promovendo períodos históricos do território que podem ser interpretados como momentos de campesinização e de descampesinização da sua população. Por um lado, o declínio da atividade canavieira liberou mão de obra, abrindo espaço para as famílias agricultoras ocupassem pequenos sítios, dedicando-se ao cultivo de alimentos e à criação para o autoconsumo. Mas foi a expansão do cultivo do algodão que, em meados do século XVIII, contribuiu definitivamente para o povoamento da região e a consolidação de seu espaço agrário: promovendo a concentração da população, atraindo a mão de obra livre; consolidando um sistema de morador, que permitia o consorciamento com as culturas alimentares e de produção de fibras. Por outro, além da economia algodoeira, seguiram-se novos ciclos econômicos impulsionados pelos cultivos da cana e do café, nas regiões de brejo, e pelo de sisal, por todo o território. A expansão dessas atividades ocasio-nou a expulsão dos moradores e arrendatários que passaram a ser funcionários de engenhos e usinas da região ou trabalhadores do agave. A década de 1970 foi marcada ainda pela forte intervenção estatal em nome da modernização da agricultura e da ampliação das atividades pecuárias, mantendo os privilégios das oligarquias

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agrárias. A combinação da pecuária com o modelo modernizante da cana incentivado pelo Pró-álcool liquida definitivamente o sistema de moradores das fazendas e empurra grandes contingentes de população rural para as periferia das cidades.

Ao afirmar que o desenvolvimento agrícola é resultado da incorporação de tecnologias exógenas capaz de in-tensificar a agricultura e superar seu atraso, o ideário da modernização exerceu importante papel ideológico na deslegitimarão do histórico protagonismo exercido pelas agricultoras e agricultores na produção e socialização de conhecimentos para o manejo dos sistemas de produção, bem como para a gestão dos bens naturais.

Essa forma de conceber a agricultura desde então orientou o campo de percepção dos técnicos, cientistas e políticos colocando na invisibilidade as inovações localmente desenvolvidas ou adaptadas pelos agricultores e agricultoras e suas capacidades técnicas e político organizativas.

Todavia, os processos de ocupação do território da Borborema não se fizeram sem que variadas formas de resistência das populações locais tivessem sido organizadas no decorrer da história. De fato a Borborema, foi palco de lutas camponesas que remontam o período colonial. E na contracorrente do modelo hegemônico, os camponeses resistiram e desenvolveram suas experiências produtivas e de pluriatividade nas brechas dos lati-fúndios ou nos espaços abertos pelas crises econômicas no território

É nesse contexto que se instala o programa de desenvolvimento local conduzido pelo “Polo Sindical e das Or-ganizações da Agricultura Familiar da Borborema” com a assessoria da AS-PTA.

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TRAJETÓRIAS DE CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO AGROECOLÓGICO: A EVOLUÇÃO DO PAPEL DAS AGRICULTORAS E AGRICULTORES NA RENOVAÇÃO DO MOVIMENTO SINDICAL

Ao estabelecer em 1993, uma parceria com a AS-PTA, os dirigentes dos sindicatos de trabalhadores rurais de Solânea, Remígio e Lagoa Seca se lançaram num esforço combinado de produção de conhecimentos sobre a realidade da agricultura familiar e de mobilização de suas bases sociais, por meio de processos coletivos de experimentação de inovações técnicas e político-organizativas.

A mobilização dos agricultores e agricultoras se ancorou na realização de um esforço sistemático de leitura coletiva da realidade da agricultura familiar, centrada no resgate e na valorização do conhecimento acumulado pelas famílias agricultoras.

Orientado pelo referencial científico da agroecologia, os primeiros diagnósticos rápidos e participativos dos agroecossitemas realizados fizeram emergir novas percepções sobre os distintos ambientes dentro dos muni-cípios, sobre a diversidade dos sistemas produtivos, os condicionantes ecológicos, econômicos e socioculturais da vida das famílias produtoras e fez revelar as inovações localmente desenvolvidas e adaptadas pelas agricul-toras e agricultores para promover processos de regeneração produtiva dos sistemas de produção familiares.

A mobilização social gerada pelos diagnósticos foi incrementada pelo contato com novas experiências por meio da promoção de visitas e viagens de intercâmbio ativando um processo de experimentação de inovações técnicas e sócio-organizativas, envolvendo um número crescente de agricultores e agricultoras em suas pro-priedades e comunidades.

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No correr dos anos, além do diagnóstico mais geral sobre o conjunto dos agroecossistemas, foram rea-lizados uma série de estudos protagonizados pelas famílias agricultoras sobre os seguintes focos: os am-bientes agrícolas da região; a diversidade de feijões cultivados; os subsistemas pecuários; o uso social das frutas nativas; o emprego das plantas medicinais; a gestão dos arredores de casa; o manejo da biomassa nos sistemas; o impacto do uso dos agrotóxicos na agricultura familiar; o impacto das políticas públicas sobre a sustentabilidade da agricultura familiar em Lagoa Seca, empoderamento dos mais pobres, entre outros.

Como resultante das imersões sucessivas na realida-de foi possível compreender melhor a lógica e as es-tratégias técnicas, econômicas e sócio-organizativas empregadas pelas famílias na gestão produtiva dos seus sistemas de produção, assim como a diversida-de de suas expressões. Essas iniciativas favoreceram

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

também a identificação de experiências locais inovadoras e a valorização do conhecimento local, ampliando e qualificando o diálogo com as famílias agricultoras. Na expressão de uma liderança local, “os sindicatos desco-briram tesouros escondidos nas comunidades”, ao se referir ao patrimônio de experiências e de conhecimento acumulados pela agricultura familiar do Agreste e às respostas criativas que tem dado ao longo do tempo a muitos dos problemas por ela enfrentados.

As vistas de intercâmbio também inspiraram a promoção de inovações na abordagem metodológica. Desse ponto de vista, merece destaque a viagem de intercâmbio realizada em 1996 à América Central por uma dele-gação de lideranças agricultoras e técnicos da AS-PTA. Nessa oportunidade, foi possível ter contato com os mé-todos empregados pelo Movimento Campesino a Campesino (MCaC), na Nicarágua, e as formas de integração de pesquisadores em processos locais de desenvolvimento promovidas pelo “Programa de Reforzamiento de la Investigacion sobre los Granos Basicos” (Priag), na Costa Rica. O protagonismo exercido pelas agricultoras e agricultores na condução dos intercâmbios e eventos de formação agroecológica, estabelecendo relações horizontais de agricultor(a) a agricultor(a) e o papel exercido por uma organização de agricultores familiares (a Unag) na coordenação nacional de ações de incentivo à experimentação camponesa provocou a delegação vi-sitante a fazer uma releitura crítica das práticas adotadas por técnicos e lideranças na condução dos processos de formação na região da Borborema.

A criatividade e o valor das experiências e inovações locais reveladas pelos diagnósticos, somadas às possibili-dades ainda latentes de valorização dos agricultores e agricultoras como promotores de suas experiências nas atividades de formação e intercâmbio, abriram caminho para a reorientação da abordagem metodológica com que o trabalho era promovido.

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A assessoria e as lideranças sindicais passaram a investir esforços no apoio às agricultoras e agricultores para que pudessem ampliar sua capacidade de leitura de seus sistemas e suas habilidades para receber visitas em suas propriedades, para apresentarem suas experiências em dias de campo, oficinas e encontros etc. Inves-tiu-se na elaboração de materiais pedagógicos na forma de painéis fotográficos e audiovisuais em suporte aos eventos intercâmbio e troca de conhecimentos que passaram a orientar uma nova estratégia pedagógica de fortalecimento dos agricultores como sujeitos dos processos de construção e disseminação de experiências e conhecimentos.

O ambiente marcado pela desvalorização e constrangimento das capacidades locais foi desbloqueado, abrindo espaço para expressão das criatividades das famílias e comunidades, fortalecendo a autoestima de agricultoras e agricultores.

Os intercâmbios intensificaram interações horizontais de agricultor(a) para agricultor(a) e foram se confor-mando nos momentos mais fecundos para a geração de conhecimentos e o principal instrumento da dissemi-nação de inovações e da irradiação do próprio processo de experimentação.

A participação direta de agricultoras e agricultores no conjunto das dinâmicas de produção e disseminação de inovações agroecológicas conferiu um novo significado à construção coletiva de conhecimentos, alterando a natureza de sua contribuição às ações para o desenvolvimento local. Simultaneamente, gerou uma identidade própria associada a sua inserção social e política nos espaços organizativos comunitários e na vida sindical, ao passarem a ser conhecidos e a se reconhecerem como agricultoras e agricultores experimentadores, integra-dos ao movimento emergente de inovação agroecológica.

“Meus pais não eram valorizados, meus irmãos não eram valorizados e os agricultores eram desvalorizados. Nin-guém olhava para aquilo que fazíamos e que tinha grande sentido na nossa vida. A assistência que vinha era de cima para baixo. Depois da vinda desse trabalho é que eles começaram a aprender com o nosso modo de ser e nosso modo de agir e nós passamos a ser professores para outros. Eu me sinto feliz e orgulhoso de ser um grande repassador dos meus conhecimentos, trazendo da vida dos meus pais, da vida de minha família e da vida dos meus antepassados. Tornei-me um agricultor-experimentador, que já fazia, mas agora me deram vez e voz. Tenho repas-sado estes boletins que foi feito de minha história para toda essa Paraíba afora. Isso aí tenho orgulho em dizer.” Zé Pequeno – Agricultor-experimentador, Sítio São Tomé, Alagoa Nova.

Coordenadas pelos próprios STRs e animadas por agricultoras e agricultores experimentadores, uma grande multiplicidade de práticas agroecológicas se disseminaram nos sistemas produtivos da região. Ao mesmo tem-po, vão se estruturando diversas expressões coletivas de promoção do desenvolvimento da agricultura familiar nas comunidades. Inovações sócio-organizativas de gestão de recursos, como os Bancos de Sementes e os Fundos Rotativos Solidários, dão suporte aos processos comunitários de inovação, viabilizando o acesso a se-mentes, mudas, esterco, cercas de tela, cisternas de placa e outras infraestruturas. Agricultores e agricultoras passaram também a ter uma participação mais ativa na vida das comunidades, discutindo e refletindo sobre a realidade da agricultura familiar, as formas de superação de seus problemas, assim como participando da gestão de recursos coletivos.

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Com a dinamização dos espaços de interação e de organização comunitárias, a estrutura vertical e presiden-cialista dos sindicatos, bem como as tradicionais formas associativas de subordinação clientelista ao poder local, foi progressivamente dando lugar a processos político-organizativos autodeterminados pelas famílias nas comunidades.

As ações de desenvolvimento estimuladas pelos STRs passaram a ser crescentemente compartilhadas e con-duzidas em parceria com as associações locais, estreitando as relações em torno a objetivos comuns. No dizer de lideranças envolvidas, os sindicatos começaram a sair de trás do birô, onde se ocupavam essencialmente dos trâmites formais da previdência social, e passaram a se empenhar em iniciativas de desenvolvimento das comunidades de seus municípios.

Na medida em que se reconhecem como produtores e gestores de conhecimento e que incorporam a identida-de de promotores do desenvolvimento local, dirigentes sindicais e lideranças comunitárias passaram também a perceber, de forma diferente e mais apropriada, o papel das entidades assessoras, ao assumirem de forma autônoma parte significativa das atribuições anteriormente por elas desempenhadas. Os sindicatos, por exem-plo, constituíram comissões compostas por agricultores-experimentadores para encaminhar os processos de inovação agroecológica em torno a alguns temas mobilizadores da experimentação. Essas comissões passa-ram a atuar como espaços de planejamento, monitoramento e avaliação do trabalho junto aos grupos de expe-rimentação nos seus respectivos municípios, deixando de contar integralmente com a iniciativa da assessoria para que essas atividades fossem realizadas.

Dessa forma, a ação da organização sindical deixou de estar limitada aos membros das direções que dão ex-pediente e atuam mais regularmente na grande maioria dos STRs – presidente, secretário(a) e tesoureiro(a) –, abrindo-se a uma participação orgânica e mais ampla de outros dirigentes identificados com a nova forma de atuar e, sobretudo, de agricultoras e agricultores experimentadores que se incorporam às ações de promoção da Agroecologia como novos sujeitos políticos da vida sindical.

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Essa evolução contribuiu de forma decisiva para a democratização da esfera sindical, atenuando as relações centralizadoras exacerbadas, tradicionalmente presentes, nas direções sindicais. Prova disso é que, nas suces-sivas eleições ocorridas nos últimos anos nos sindicatos, assistiu-se a uma clara renovação da composição das direções em favor desses sujeitos sociais emergentes.

Nessa evolução, cabe destacar a participação das mulheres, tanto nos processos locais de experimentação, ao incorporarem temas de trabalho de interesse específico – como plantas medicinais ou ainda a água para o consumo da casa –, quanto na construção de um novo sujeito político. A valorização da presença feminina nas redes de inovação e de sua contribuição à economia familiar, bem como sua inserção nos espaços públicos (nos STRs, nas associações, na gestão de fundos rotativos ou bancos comunitários etc.), vem favorecendo um maior equilíbrio do poder decisório entre gêneros, seja no âmbito do núcleo familiar ou na esfera pública, contribuin-do para uma maior equidade e sustentação sociopolítica do processo de construção e promoção de um modelo de desenvolvimento para a região.

CASO 1ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A EMERGÊNCIA DO POLO DA BORBOREMA E O AUMENTO DE ESCALA

O avanço da proposta de desenvolvimento local e da constituição das redes de inovação nos municípios de Solânea, Remígio e Lagoa Seca foi aos poucos se irradiando e despertando o interesse de sindicatos e de ou-tras organizações de agricultores dos demais municípios do agreste paraibano. As experiências bem-sucedidas no campo da gestão dos recursos hídricos e do manejo de estoques coletivos de sementes realizadas, nesses municípios, ganharam particular visibilidade após a seca do biênio 1998-1999, ao garantirem, nessa conjuntura adversa, maior estabilidade e capacidade de resistência aos sistemas produtivos familiares. Esse fato motivou os sindicatos da região, então associados ao espaço de articulação preexistente – o Polo Sindical da Borborema –, a mobilizarem suas bases nas comunidades para divulgar as experiências em Agroecologia desenvolvidas pelos sindicatos de Lagoa Seca e Remígio, ambos já integrados ao Polo.

Essa ação pró-ativa das organizações no sentido de irradiar e dar maior alcance às redes de agricultoras e agri-cultores experimentadores recolocou na ordem do dia a ideia já em maturação de ampliar a escala dos proces-sos sociais de inovação ao conjunto do agreste paraibano. Para tanto, a constituição de um ator regional capaz de assumir a coordenação política e metodológica desses processos se colocou como condição fundamental para que o aumento de escala fosse efetivamente assumido como um projeto das organizações da agricultura familiar da região. A aposta recaiu sobre o Polo Sindical da Borborema como espaço político-organizativo uni-ficador do conjunto das organizações da agricultura familiar em torno à construção de um projeto comum de desenvolvimento local e de promoção da Agroecologia.

As bases desse projeto foram estabelecidas por ocasião do I Seminário da Agricultura Familiar do Comparti-mento da Borborema, realizado em 2001, com a participação de representações de 14 municípios da região. Foi então tomada a decisão de que o Polo, com a assessoria da AS-PTA, formularia e implementaria uma es-tratégia de promoção de desenvolvimento regional assentada em um programa de formação estruturado em dois eixos: o primeiro tendo como objeto os temas relacionados à inovação agroecológica, e o segundo com foco nas políticas públicas, orientando-se para extrair ensinamentos das experiências inovadoras em curso na região e gerar subsídios para formular e defender propostas de políticas voltadas à generalização da Agroeco-logia. Ao mesmo tempo em que as redes de inovação e os intercâmbios de experiências se intensificaram nos municípios, o Polo, em aproximações sucessivas, empenhou-se em criar capacidades próprias para a gestão do processo.

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A partir da necessidade de aprimoramento de suas formas de organização interna, foi incorporada à sua estru-tura a experiência exitosa das “comissões temáticas”, ficando cada uma responsável por conceber, executar e monitorar o avanço dos trabalhos de experimentação, sistematização e intercâmbio, segundo seus recortes específicos. Vigoram atualmente sete comissões: sementes e manejo ecológico dos roçados, recursos hídricos, saúde e alimentação, criação animal, cultivos agroflorestais, acesso aos mercados e juventude. Assim como na experiência anterior, além das lideranças sindicais, as comissões contam com a participação ativa de agri-cultoras e agricultores-experimentadores com acúmulos nos seus respectivos temas. Prevaleceu também, na dimensão de atuação do Polo, o princípio da descoberta dos tesouros escondidos, o que permitiu a identifi-cação de um conjunto significativo de práticas inovadoras promovidas por famílias ou grupos comunitários de municípios ainda não inseridos em um trabalho mais estruturado de experimentação agroecológica. Muitas dessas experiências socialmente ocultas se tornaram referências para as atividades das comissões. Entre elas, o banco de sementes comunitário existente desde 1974, na comunidade São Tomé, em Alagoa Nova; a prática do semeio em Massaranduba, semelhante ao sistema tradicional do frijol tapado adotado na América Central; e os fundos rotativos solidários de cisternas, no município de Soledade.

A articulação do trabalho na escala regional colocou para o Polo a necessidade de construir uma melhor com-preensão sobre as principais características dos agroecossistemas da região. Embora muitos diagnósticos tenham sido realizados anteriormente, eles não davam conta de recobrir o conjunto altamente diverso de si-tuações existentes nos 15 municípios integrados ao Polo. Essa foi a razão que justificou a realização de um diagnóstico de agroecossistemas de abrangência regional (Figura 05).

O diagnóstico regional realizado pelo Polo da Borborema e pela AS-PTA foi conduzido por meio da promoção de caravanas de campo mobilizando mais de 60 lideranças agricultoras e percorreu todo o território coberto pelos 15 municípios. Os dias de travessia pelo território eram intercalados com momentos de parada para análi-se coletiva da paisagem buscando sua melhor compreensão e estratificação segundo as características de rele-vo, solo, precipitação, vegetação e atividades agrícolas dominantes. Como o estudo foi possível construir uma leitura coletiva dos diferentes ambientes e suas principais implicações sobre os agroecossistemas. A análise do mapa de molduras ambientais produzido forneceu importantes subsídios para as comissões temáticas plane-jarem suas estratégias. Entre outros aspectos, ele permite a visualização das homogeneidades intermunicipais e das heterogeneidades intramunicipais. Isso significa que, do ponto de vista regional, as comissões temáticas devem considerar as continuidades e descontinuidades geográficas no planejamento da experimentação – um mesmo tipo de ambiente atravessa vários municípios. Já do ponto de vista municipal, os sindicatos devem levar em conta a existência de diferentes situações ambientais, produtivas, socioeconômicas e culturais, não podendo, portanto, organizar suas estratégias para a transição agroecológica como se o município fosse um todo homogêneo.

A semelhança das estratégias regionais promovidas no âmbito do Polo, os Sindicatos, nos seus respectivos municípios, vão pouco a pouco se reorganizando mobilizando seus quadros e recursos próprios para promover oficinas comunitárias, visitas de intercâmbio e encontros municipais orientados pelos mesmos princípios me-todológicos.

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Neste contexto, a ampliação de escala social e geográfica das ações induziu a promoção de inovações impor-tantes nos instrumentos de comunicação orientados para fortalecer e ampliar as interações horizontais de agricultor(a) para agricultor(a). Assim sendo, a sistematização da experiência e a produção de materiais de co-municação assumiu papel central na estratégia metodológica de atuação. Uma abordagem metodológica para a sistematização das experiências foi desenvolvida especificamente com esse fim. As trajetórias de inovação e os princípios agroecológicos adotados pelas famílias agricultoras passam a ser sistematizados e organizados na forma de boletins informativos, um documento de duas a quatro páginas, ilustrado com fotos, ampliando qualidade das interações presenciais e sua irradiação para outras comunidades e municípios do território.

A ideia central era que os próprios(as) experimentadores(as) se apropriassem dos materiais de comunicação como instrumentos para a divulgação de suas experiências. Assim, a ampliação exponencial do número de in-tercâmbios promovidos passa a contar com o suporte pedagógico e de comunicação de centenas boletins em apoio aos agricultores(as) anfitriões(ãs) e ajudando a revelar a grande diversidade de iniciativas de promoção da agroecologia no Polo da Borborema.

“Eu poderia dizer que o boletim é uma revista da agricultura familiar com a historia de nossas experiências e propriedades. As histórias são contadas, visualizadas, mas também estão sendo escritas e divulgadas e nós fazemos parte delas”. Nelson Ferreira – Agricultor Experimentador e dirigente sindical - Sítio Lagoa do Barro, Lagoa Seca.

Para dar suporte ao papel das lideranças na animação das redes de agricultoras e agricultores experimenta-dores nos distintos temas mobilizadores as experiências foram também sistematizadas na forma de vídeos. Os vídeos, de forma semelhante aos boletins, são centrados nas narrativas das agricultoras e agricultores e sintetizam os acúmulos técnicos, sócio-organizativos e metodológicos produzidos ao longo do processo de experimentação. Até o presente momento já foram produzidos 14 vídeos que subsidia a ação das comissões temáticas.

Outros instrumentos de comunicação vêm sendo igualmente empregados para auxiliar os(as) experimentado-res(as) a divulgarem suas experiências na região. Entre eles, cabe destacar cartilhas (18 já publicadas), painéis fotográficos e banners, peças teatrais, poesia, cordéis, música etc. Assim concebida e executada, a sistemati-zação exerce papel decisivo como subsídio pedagógico na vinculação entre a prática local inovadora e a teoria agroecológica. Ao mesmo tempo, abre espaço para que os diferentes mecanismos populares de expressão artística sejam exercitados e desenvolvidos. Nessa lógica, experimentação e comunicação passam a ser com-preendidas como funções indissociáveis na gestão do conhecimento agroecológico que se processa nas redes de agricultores-experimentadores.

É também a partir das experiências bem-sucedidas realizadas na região e monitoradas pelas comissões temáti-cas que são tratados os temas relacionados às políticas públicas. Por exemplo, a política estadual de sementes é discutida pela comissão de recursos genéticos, enquanto a gestão do programa de cisternas corresponde à comissão de recursos hídricos. Nesses espaços, as experiências são analisadas e contrastadas com as propostas para o desenvolvimento da agricultura propugnadas pelos diferentes instrumentos e operadores de políticas públicas, como as de extensão rural, de crédito, de pesquisa agrícola, e os programas de distribuição de semen-tes, dentre outros.

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Com base nesse enfoque comparativo, o debate sobre modelos de desenvolvimento ganhou maior nitidez. Dessa forma, pouco a pouco, as redes de agricultores experimentadores articuladas pelo Polo da Borborema se constituíram também como espaços de debate e ação política em defesa de um projeto próprio para o des-envolvimento do território.

Além disso, um programa de formação em políticas públicas é direcionado à Coordenação do Polo da Bor-borema e enfoca o conjunto das ações a partir de uma perspectiva mais abrangente, integrando os debates feitos nas comissões temáticas. A coordenação do Polo é composta majoritariamente por lideranças também inseridas nas comissões temáticas, assegurando assim permanentes vínculos entre seus membros e as redes de experimentação agroecológica que se capilarizam na região.

Nessa trajetória, destaca-se ainda o papel que a comissão de saúde e alimentação vem desempenhando na va-lorização e na visibilidade dos conhecimentos das agricultoras sobre o manejo produtivo. Essa comissão é res-ponsável por organizar um processo de formação estruturando dois eixos de ação: um primeiro, tendo como objetivo os temas relacionados à inovação agroecológica do quintal e a organização sustentável da produção para construção da segurança alimentar e geração de renda; e um segundo, com foco no enfrentamento das desigualdades de gênero, que é entendida pelo Polo como um obstáculo para a plena incorporação da agro-ecologia.

O enfrentamento do debate sobre as desigualdades de gênero é também organizado por dentro da rede de experimentação e a partir da prática das agricultoras. Há quatro anos, o Polo da Borborema vem organizando momentos de denuncia e de grande visibilidade pública promovendo a Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia. É a partir da experimentação e das edições da marcha que milhares de mulheres da região vêm se articulando em uma rede de agricultoras experimentadoras, responsável por promover alterações significa-tivas na realidade vivida em nas famílias e comunidades.

PRINCIPAIS RESULTADOS

Ao longo dos 20 anos de trajetória é possível evidenciar transformações significativas na agricultura familiar do Território da Borborema. A intensa dinâmica de experimentação mobilizada pelo Polo e conduzida pela rede de agricultores experimentadores produziu uma grande diversidade de inovações. O adensamento e diversidade de inovação vêm pouco a pouco transformando a paisagem física e sócio-organizativa da região.

A dinâmica social de experimentação de inovações foi se disseminando por meio de um processo de aprendi-zagem coletiva fundado na revalorização dos conhecimentos sobre o manejo dos agroecossistemas locais que são de domínio das famílias agricultoras. Sob um olhar analítico referenciado nos princípios da Agroecologia, um movimento sistemático de leitura da realidade local foi mobilizando um amplo acervo de saberes e abrindo caminho para a busca de novos conhecimentos, atualizando estratégias inovação dirigidas à superação dos obstáculos técnicos, econômicos e sócio-organizativos vivenciados pela agricultura familiar da região.

Os conhecimentos sistematizados e analisados coletivamente pelos diagnósticos fez revelar não só sua rique-za, complexidade, sofisticação e valor para os processos de inovação como também colocou em evidência o papel central das famílias agricultoras nos processo de gestão dos conhecimentos.

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Alimentados pela realização dos sucessivos diagnósticos e pela promoção de incontáveis intercâmbios de ex-periências, os processos de inovação e experimentação agroecológica adquiriram um ritmo acelerado de ex-pansão social e geográfica pelo território.

Alguns dispositivos de ação coletiva foram acionados e/ou construídos pela atuação do Polo da Borborema, gerando efeitos que se irradiam em vários sentidos pelo território. Uma rede com mais de 60 bancos de se-mentes comunitários, por exemplo, mobiliza milhares de famílias camponesas para o uso e a conservação das variedades locais cultivadas em sistemas consorciados, enquanto uma intensa dinâmica de mutirões para a construção de milhares de pequenas infraestruturas voltadas à captação e ao armazenamento de água vem dando lugar a uma densa malha hídrica, conferindo níveis crescentes de segurança hídrica e de produtividade aos sistemas de produção.

Há também uma rede de viveiros municipais, comunitários e familiares que subsidia as práticas de recompo-sição do estrato arbóreo, contribuindo para restaurar a paisagem e ampliar os serviços ambientais e econômi-cos das árvores nos sistemas de produção. Já a circulação de 13 máquinas motoensiladeiras pelos municípios da região ao fim do ciclo chuvoso e a promoção de mutirões para estocar forragem para os rebanhos conferem maior disponibilidade de alimentos de boa qualidade para os rebanhos nos períodos secos do ano. Ocorre ain-da um processo de revitalização de centenas de quintais apoiados por fundos rotativos solidários e dirigidos à diversificação e à reestruturação produtiva dos arredores das casas (pomares, hortas de plantas alimentícias e medicinais e pequenos criatórios). Além disso, a articulação de uma rede de oito feiras agroecológicas vem gerando novas oportunidades de acesso aos mercados para a agricultura familiar da região.

Esse processo de construção social e política do Território Agroecológico do Polo da Borborema é fruto de um esforço de compartilhamento e consolidação de uma identidade coletiva, forjada na construção de um projeto alternativo de desenvolvimento para a região que tem como base um movimento social de experimentação protagonizado pelos(as) próprios(as) agricultores(as). A organização e a gestão desses dispositivos coletivos só se fizeram possíveis pelo estabelecimento da rede local de agricultoras e agricultores-experimentadores capazes de fomentar permanentemente processos de inovação agroecológica, conferindo dessa maneira um novo papel aos agricultores, às organizações da agricultura familiar e à própria assessoria. Nessa construção, cabe ainda destacar a participação protagonista das mulheres, tanto nas atividades de experimentação agro-ecológica quanto na atuação política junto às organizações da agricultura familiar.

Os grandes eventos de formação, por sua vez, constituem os espaços onde são apontados, analisados e discu-tidos os avanços na geração de renda, na revitalização da vida comunitária e cultural, no plano do bem-estar e no fortalecimento da autoestima. É com base nesses indicadores que agricultoras e agricultores conseguem construir referências críticas ao modelo padronizador e gerador de dependência da Revolução Verde. E são to-dos esses fatores, atividades e dispositivos coletivos que fazem com que o Polo venha se afirmando na região como um ator político capaz de defender influir na promoção de um padrão de desenvolvimento alternativo centrado na ampliação e consolidação da agricultura familiar camponesa.

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL – UMA PRÁTICA DO EXERCÍCIO DAS RELAÇÕES DO GOVERNO –

SOCIEDADE CIVIL NAS ESCOLAS RURAIS DO SERTÃO DO PAJEÚ/PE

EM QUE CONTEXTO SE DESENVOLVE A EXPERIÊNCIA?

A experiência Educação Ambiental – Uma prática do exercício das relações do Governo – Sociedade Civil nas escolas rurais do Sertão do Pajeú/PE foi fruto de um projeto coordenado pela organização Centro de Desenvolvimento Agroecológico (Centro Sabiá) e financiado pelo acordo de empréstimo entre o Governo Bra-sileiro/Ministério do Desenvolvimento Agrário - MDA e o Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrário (FIDA). Ainda contou com a parceria do Projeto Dom Helder Câmara (PDHC), Cooperativa dos Profissionais em Atividades Gerais (Coopagel) e Diaconia.

O projeto aconteceu em sete municípios do Sertão do Pajeú, no Semiárido pernambucano, envolvendo nove escolas rurais: Escola Municipal Vicente Correia Brasil (Boqueirão/Tabira); Escola Municipal da Gameleira (Ga-meleira/ Carnaíba); Escola Municipal Maria Aparecida Bezerra Neves (Riacho da Onça), Escola Municipal Santa Lucia (Pintada) e Escola Municipal Hortêncio Barbosa Lira (Santo Antonio II) - ambas no município de Afogados da Ingazeira; Escola José Joaquim do Nascimento (Riachão/Calumbi); Escola Municipal Manoel da Costa (Cu-rralinho/ São José do Egito); Escola Municipal João Bosco Rodrigues de Sousa (Icó/ Santa Cruz da Baixa Verde); e Escola Municipal de Águas Claras (Águas Claras/ Triunfo). Ao todo, participaram 25 professores e profissionais da Educação com um universo de 487 alunos(as), chegando também a um público de 368 famílias das comuni-dades, pais dos alunos e famílias agricultoras familiares.

Para a 3ª Rota de Aprendizagem, a experiência visitada será na comunidade de Águas Claras, no município de Triunfo. A escolha não foi aleatória, foi acordada entre o Projeto Semear, o Centro Sabiá e os agentes locais da comunidade, pois a cidade abriga um o escritório territorial do Centro Sabiá, está localizada geograficamente em ponto estratégico para a Rota de Aprendizagem (no centro do Estado e vizinho a outra experiência visitada na Rota) e dispõe de uma estrutura de logística e de hotelaria. No entanto, a visita à comunidade rural de Águas Claras contará também com outros agentes envolvidos das outras escolas e municípios da experiência. Foram também convidados professores (as), parceiros locais e agricultores (as).

QUAL A PROPOSTA DA EXPERIÊNCIA?

O objetivo principal da experiência Educação Ambiental – Uma prática do exercício das relações do Gover-no – Sociedade Civil nas escolas rurais do Sertão do Pajeú/PE foi implementar uma proposta e metodologia pedagógica articuladas com secretarias de educação nos sete municípios da região do Pajeú com a formação de professores e professoras, envolvendo alunos e alunas de escolas das nove comunidades rurais desses mu-

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O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Daniel Ferreira

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nicípios com a participação direta de agricultores e agricultoras familiares. Essa experiência tinha como base a convivência com o Semiárido e a agroecologia.

As atividades do projeto foram desenvolvidas entre os anos de 2009 e 2010, a partir de um conjunto de inicia-tivas como Oficinas de Formação com os professores(as), Oficinas Locais de Educação Ambiental, Intercâmbio de Experiências, Experiências Comunitárias, Oficina de Avaliação e Sistematização e Seminários Territoriais. Durante os momentos de formações e encontros, vários temas transversais foram trabalhados como Bioma Caatinga, Segurança e Soberania Alimentar, Resíduos Sólidos, Recursos Hídricos, Biodiversidade, Lixo, Solo e Recursos Naturais.

As Oficinas de Formação com os professores(as) foram desenvolvidas a partir do diálogo de saberes e cons-trução coletiva do conhecimento. Contaram com momentos em sala de aula e atividades externas de práticas e vivências. Em diversos momentos os formadores eram os agricultores familiares. Havia uma interação do saber acadêmico adquirido pelos(as) educadores(as) com o saber popular do(a) agricultor(a). Esse encontro, do saber acadêmico com o saber popular, dava-se nas capacitações, intercâmbios e visitas às experiências e tecnologias sociais nas áreas rurais.

As Oficinas Locais em Educação Ambiental eram realizadas por professores com os alunos como formação da escola. Esse momento servia de reflexão para o grupo, oportunizando a idenficação de problemas relacionados ao meio ambiente, tanto da escola como também da comunidade. A partir dos debates dessa Oficina e das Oficinas de Formação, os(as) professores(as) planejavam suas aulas dentro dos problemas ambientais da co-munidade aplicando metodologias e ferramentas dentro da realidade local e na perspectiva de uma educação contextualizada.

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

O Intercâmbio de Experiência foram momentos em que outros agentes locais partilharam experiências semelhantes. Os encontros aconteciam a partir dos in-tercâmbios envolvendo educadores(as), técnicos(as) do Centro Sabiá e das organizações parceiras e agri-cultores(as). Essa foi umas das oportunidades em que os(as) agricultores(as) tiveram um papel fundamental na formação e na disseminação do conhecimento. A partir dessa prática, o conhecimento foi construído coletivamente.

As Experiências Comunitárias desencadearam tam-bém uma ação mais prática envolvendo a escola e a comunidade. Iniciativas como mutirões de limpeza, reciclagem de lixo, plantio de mudas, construção de hortas escolares e minhocários permitiram não so-mente a integração de todos os agentes locais envol-vidos: alunos(as), professores(as), pais e técnicos(as), mas, também, a vivência da experiência e situações de aprendizagem concretos.

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A Oficina de Avaliação e Sistematização possibilitou o resgate e reflexão da execução do projeto. Foram criados momentos para que os(as) professores(as) relatassem suas experiências a partir das atividades do projeto, seus desafios e aprendizagens, bem como avaliassem as metodologias e ferramentas construí-das pelo projeto.

Já os Seminários Territoriais de Educação Ambiental culminaram com a apresentação e debate dos resul-tados alcançados e trajetórias da experiência com a participação dos(as) professores(as), agricultores(as), técnicos(as), parceiros e representantes dos gestores públicos locais. Foi momento de compartilhar os êxi-tos, fragilidades e desafios do trabalho em Educação Ambiental na região do Pajeú.

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

LIÇÕES, DESAFIOS E APRENDIZAGENS DA EXPERIÊNCIA?

A experiência Educação Ambiental – Uma prática do exercício das relações do Governo – Sociedade Civil nas escolas rurais do Sertão do Pajeú/PE permitiu a construção, e ao mesmo tempo, uma experimentação de práticas e ferramentas didática-metodológicas em Educação Ambiental numa interação do saber formal (aca-dêmico) – dos(as) técnicos(as) e professores(as), com o saber informal (popular) – das famílias agricultoras. A iniciativa consolidou uma prática de produção e disseminação do conhecimento, enfatizando e valorizando a construção coletiva. O conhecimento dos pais com suas práticas na agricultura familiar e meio ambiente foram importantes no processo ensino-aprendizagem e na construção dos saberes.

A experiência também possibilitou a aproximação e diálogo dos(as) agricultores(as) para dentro da escola. As famílias agricultoras se envolveram e contribuíram nas etapas e dinâmicas da experiência, participando efeti-vamente também da vida escolar dos filhos. A partir da experiência, os agentes locais envolvidos [alunos(as), pais, professores(as), parceiros(as) e técnicos(as)] puderam olhar a realidade da comunidade e da escola e tam-bém enxergar e superar os desafios encontrados ao trabalharem a Educação Ambiental no contexto da con-vivência com o Semiárido e da Agroecologia. O projeto apontou caminhos para as famílias viverem com mais dignidade, participação e sustentabilidade no Sertão do Pajeú.

Os(as) professores(as) resgataram e incorporam diversos elementos nos seus contextos locais para dentro da sala de aula. A própria realidade local foi suficiente para ser laboratório e cenário das aulas e das práticas. Es-ses(essas) educadores(as) são desafiados a trabalharem a educação contextualizada, pois os materiais didá-ticos disponibilizados na rede de ensino público são insuficientes, ou praticamente não existem, para dar de conta da dimensão do meio rural na perspectiva da agricultura familiar agroecológica e da convivência com o Semiárido.

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Como a experiência se desenvolveu a partir de um projeto finan-ciado (MDA/FIDA) então teve um período programado de exe-cução de atividades, enquanto que a atividade escolar é perma-nente. No entanto, as escolas envolvidas deram continuidade as atividades de Educação Ambiental em sala de aula, obviamente dentro das condições e infraestrutura ofertadas pelo poder pú-blico local.

O desafio lançado pela experiência, principalmente aos gestores públicos da região, é oficializar, institucionalizar e incorporar a Educação Ambiental dentro da grande curricular das escolas municipais. A continuidade da experiência não como um mode-lo engessado, mas que seja extraído elementos exitosos para uma prática constante de Educação Ambiental, como formação continuada dos(as) professores(as), o diálogo e a participação das famílias na vida escolar e comunitária sobre as questões am-bientais e o incentivo a uma educação contextualizada a partir da agricultura familiar agroecológica e da convivência com o Se-miárido.

CASO 2ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

A EXPERIÊNCIA NA ESCOLA MUNICIPAL DE ÁGUAS CLARAS – ÁGUAS CLARAS/TRIUNFO-PE

A Escola Municipal de Águas Claras está localizada na comunidade rural de Águas Claras em Triunfo, no Se-miárido pernambucano (Sertão do Pajeú). A localidade é remanescente de Quilombo e está a 12 km da sede do município. A comunidade fica numa região montanhosa, em cima da Serra Bico do Papagaio – ponto mais alto do Estado. Está organizada juridicamente através da Associação dos Moradores do Sítio Águas Claras - funda-da em 1994 e reúne 60 sócios. Somente foi reconhecida como comunidade quilombola pelos órgãos oficiais do Governo em 1997. E recebe a assessoria técnica do Centro Sabiá.

Para chegar a Águas Claras percorre-se estradas seculares construídas de pedras, caminhos de difícil acesso. A água é um problema enfrentado pelas 50 famílias da comunidade (Fonte: MDA). Por está localizada numa região montanhosa, a água tornar-se escassa para os moradores. A pequena população vive da agricultura fa-miliar. Crianças, jovens e adultos preservam as tradições culturais herdados do passado, como o Coco de Roda, a poesia popular, o artesanato da fibra de bananeira e os cânticos e cantigas ensinados pelos pais e avós.

A experiência Educação Ambiental – Uma prática do exercício das relações do Governo – Sociedade Civil nas escolas rurais do Sertão do Pajeú/PE na Escola Municipal de Águas Claras envolveu 10 alunos do 3º e 4º ano do Ensino Fundamental (Antiga 2ª e 3ª séries), de 8 a 13 anos, e a professora Janaína Santos. Encravada nas rochas da serra, a escola recebeu uma premiação em dinheiro por se destacar no Índice de Desenvolvimento da Edu-cação Básica (IDEB) – avaliação realizada pelo Ministério da Educação. Essa conquista foi durante a vivência do projeto em Educação Ambiental. Com os poucos mil reais do prêmio reformaram a escola, como a pintura, retelhamento e construção do muro. Foi a primeira escola do município a trabalhar Educação Ambiental.

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Utilizando uma metodologia participativa, com o envolvimento dos alunos, a professora Janaína Santos pas-sou a planejar suas aulas a partir da realidade local de Águas Claras. Com a participação dos estudantes, trabal-hou análise dos solos, estudou o Bioma Caatinga e pesquisou as plantas medicinais existentes na comunidade. Através das formações entre professores(as) e os intercâmbios, a educadora pautou conteúdos relacionados à agroecologia e convivência com o Semiárido no planejamento e nas atividades das aulas.

Com diversas experiências práticas, foi momento do ensino sair da sala de aula e ganhar o pátio da escola e o entorno da comunidade. O primeiro passo foi reunir alunos, professores(as) e funcionários(as) para um grande mutirão de limpeza ao redor da escola. Dezenas de quilos de lixo foram recolhidos e destinados a reciclagem pelos próprios estudantes.

Por causa dos animais soltos na localidade e a escassez de água, os alunos e a professora inovaram. Construí-ram uma horta agroecológica suspensa na parede com garrafas PETs com diversas hortaliças, como coentro, cebolinha, pimentão, alface e pimenta. Essa pequena produção já rendia ingredientes para a merenda escolar.

O projeto financiava uma horta escolar maior e bem mais estruturada, mas a escassez da água já era rotina da comunidade e também a região enfrentava uma longa estiagem. A única cisterna de placas estava quebrada, então com o recurso destinado a horta foi comprado um reservatório d’água.

Outra inovação utilizada na Escola Municipal de Águas Claras foi a construção de minhocários pelos alunos em garras PETs. A ideia era que os alunos conhecessem uma representação do hábitat das minhocas, que poste-riormente foi usado como adubo na horta escolar. A partir dessa prática, foi trabalhado também a questão do lixo orgânico e a coleta seletiva na escola.

Não faltou criatividade para os alunos vivenciarem a Educação Ambiental. Por meio do teatro e da poesia em sala de aula, os(as) estudantes também sistematizaram a aprendizagem sobre o meio ambiente e preservação com a natureza. Ainda produziram mudas de plantas da Caatinga e frutíferas. As mudas foram levadas pe-los(as) alunos(as) e plantadas em suas residências.

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O conhecimento construído pelos(as) alunos(as) na escola era repassado para seus pais em casa. Lições como preservar o meio ambiente, não desmatar, respeitar a natureza, não queimar, não poluir, cuidar das plantas e dos animais eram levadas pelos estudantes e ensinadas aos demais membros da família.

Os(as) alunos(as) também expandiram esse conhecimento para outra escola. Realizaram palestras sobre Edu-cação Ambiental na Escola Antonio Ferreira Tenório, na comunidade vizinha de Espírito Santo – também qui-lombola.

Apesar do projeto ter concluído e os desafios baterem todos os dias a porta da escola, a Educação Ambiental não é vivenciada como um tema transversal aleatório, mas já faz parte do planejamento e dos conteúdos em sala de aula na Escola Municipal de Águas Claras. É desafiante para os(as) alunos(as) e a professora a manu-tenção da horta suspensa, devido a escassez d’água na comunidade; falta apoio e incentivo do poder público local através da Secretaria Municipal de Educação; pouco acervo de material didático-pedagógico que der con-ta de uma educação contextualizada com temas como educação ambiental, agroecologia, Bioma Caatinga, convivência com o Semiárido e agricultura familiar; e a insistência de uma estrutura escolar com turmas multi-seriadas (várias séries numa mesma turma de aula), algo recorrente no meio rural da região.

A Escola Municipal de Águas Claras foi desafiada, e ainda permanecem os desafios, em vivenciar uma prática de Educação Ambiental. No entanto, pais, alunos(as) e professora abriram as portas da escola e de suas casas para serem protagonistas e propagadores da experiência em Educação Ambiental transformando suas vidas e hábitos e valorizando as práticas em Agroecologia e em convivência com o Semiárido.

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A EXPERIÊNCIA DO NEPPAS:ESPAÇO PÚBLICO DE INTERCÂMBIO E GESTÃO DE SABERES

CONTEXTO ONDE SE DESENVOLVE A EXPERIÊNCIA

O Núcleo de Estudos, Pesquisas e Práticas Agroecológicas do Semiárido (NEPPAS) é vinculado a Universidade Federal Rural de Pernambuco/Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST), no Sertão do Pajéu.

O Pajéu com 323.469 habitantes é composto por dezessete municípios às margens do rio Pajeú, afluente do rio São Francisco, que deu identidade à região e seus habitantes, situado no semiárido pernambucano. Entre alguns dos problemas que o semiárido brasileiro enfrenta está o processo de desertificação; degradação do bioma Caatinga; concentração fundiária; a monocultura extensiva; a má gestão dos recursos hídricos; o uso de agrotóxicos, que reduz drasticamente a capacidade produtiva da terra e a qualidade da água. Todos acarre-tam danos às populações locais e a biodiversidade, como consequência de um modelo de desenvolvimento que não se preocupa com a sustentabilidade socioambiental.

“Esses aspectos, isoladamente, já permitiriam classificar a estrutura socioambiental (...) como criticamente frágil, sobretudo, diante do fenômeno climático das secas e dos efeitos dos impactos causados pelas grandes obras como, por exemplo, o Projeto de Integração do São Francisco – PISF e a Ferrovia Transnordestina”,analisam Laetícia Jalil, Genival Barros, Dario Falcon, Fabiana da Silva e João Amorim professores da UFRPE/UAST. (NEPPAS, 2013).

Os dados do IBGE (2006) revelam que a maioria das pequenas propriedades possui abaixo de 10 hectares. Com esse porte e às condições edafo-climáticas inviabiliza, a princípio, na maioria dos casos, a criação de bovinos, por exemplo. Porém, essa região foi historicamente a desenvolveu a produção bovina.

Assim, embora a UFRPE/UAST esteja situada no meio rural, formado majoritariamente pela agricultura fami-liar, e existindo muitas experiências em agroecologia e de convivência com o semiárido no Pajeú, “ não tinha uma preocupação analítica institucional sobre essas questões para a ação em pesquisa, ensino e extensão, reproduzindo uma matriz curricular de Recife e de Garanhuns”, consideram esses professores.

“A universidade enquanto instituição de ensino apresenta uma tendência a se abrir para o mundo real, mas ain-da se configura prioritariamente por ser um espaço fechado à realidade empírica e de costas as necessidades de mudança da sociedade brasileira. Sua visão de mundo tende a reproduzir padrões centrados na visão e realidade européia, (...) e a difundir modelos teóricos e metodológicos (...) importados como tipos ideais que devem ser se-guidos. O conhecimento gerado, em muitos casos, não dialoga sequer com outras ciências, o que forma sujeitos fragmentados e especializados em formas rígidas de ‘verdades absolutas e totalizantes’”, analisam os professores acima citados.

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O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Alzira Josefa de Siqueira Medeiros

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Diante desse contexto, surge uma mobilização de al-guns professores para repensar a construção do con-hecimento na academia a partir da agroecologia, da defesa da Caatinga e da convivência com o semiárido.

OS PROCESSOS DE GESTAÇÃO E NASCIMENTO DO NEPPAS: UM ESPAÇO COLETIVO E PLURAL DE CONHECIMENTOS

O Núcleo começou em 2010 com professores e estu-dantes da UAST. Alguns professores tinham uma tra-jetória de assessoria rural e de ação com a sociedade civil organizada. Mas a estratégia desses professores era ampliar a composição do Núcleo com as Organi-zações Não-governamentais e os movimentos sociais do campo e alguns órgãos de governo que tinham um saber acumulado na agroecologia e de convivência com o semiárido. E, também, como estratégia para legitimar a ação da universidade perante os/as agri-cultores/as da região.

CASO 3ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

O sertão do Pajeú tem uma tradição de luta no enfrentamento à indústria da seca a partir dos movimentos sociais do campo que dão visibilidade e reconhecimento aos agricultores e agricultoras familiares no Brasil. Os movimentos sociais do campo, entre os quais os Sindicatos de Trabalhadores Rurais e ONGs como o Centro Sabiá, a Casa da Mulher do Nordeste e o Centro de Educação Comunitária Rural têm um conhecimento na ela-boração de tecnologias e metodologias para a transição agroecológica e convivência com o semiárido.

São esses movimentos sociais e as organizações da sociedade civil local que se integraram ao Núcleo, um es-paço público de intercâmbio das práticas e saberes para a produção e gestão de conhecimentos agroecó-logicos e de convivência com o semiárido.

A participação dos agricultores e agricultoras é um processo de rompimento dos ‘muros’ da universidade. Os depoimentos revelam que nunca tinham pisado no terreno da academia. Assim, com diferentes identidades e motivações vai sendo construído o NEPPAS.

OBJETIVOS E FUNDAMENTOS DO NEPPAS

O objetivo geral é “fortalecer os processos locais de transição agroecológica e trazer para “dentro” da Universidade questionamentos em torno do conhecimento gerado nela, tomando como orientação os princípios agroecológicos de construção do conhecimento” (NEPPAS, 2013). Os objetivos específicos são: fortalecer a agricultura familiar de base agroecológica; Ser um espaço de estudo, pesquisa, discussão e vivência entre agricultores e agriculto-ras, ONG’s, docentes e discentes e organizações governamentais; Sistematizar o processo de experimentação, divulgando as metodologias, práticas e tecnologias adaptadas que contribuam para a sustentabilidade dos sis-

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temas produção agroecológica da região; Desenvolver a interdisciplinaridade e multidisciplinaridade nas áreas de estudo da Agronomia, Administração, Biologia, Economia, Engenharia de Pesca, Sistema de Informação e Zootecnia, de acordo com Barros Júnior (2012).

Entende esse coletivo que o semiárido necessita de pesquisa, ensino e extensão que busquem analisar sistemi-camente a realidade sociopolítica, econômica e ambiental para contribuir com a convivência com o semiárido e na proposição de políticas públicas.

Trata-se, também, de compreender o lugar social e político que a população ocupa na estrutura de poder, em meio à manutenção de relações políticas conservadoras.

A dimensão de gênero e de geração são também duas dimensões valorizadas e vivenciadas para alcançar uma efetiva melhoria de qualidade de vida dos/as agricultores/as familiares.

Assim, a agroecologia oferece um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencional para estilos de desenvolvimento rural e de agricultura sus-tentável, de acordo com os estudos de Caporal e Costabeber (2000). Tal processo, não se reduz a elaboração de técnicas de produção e de modernização. É uma ação coletiva que valoriza os saberes, resgatando e inovando formas de produzir a partir do manejo ecológico dos meios naturais e a viver de acordo com o meio ambiente e o desenvolvimento das potencialidades locais para mudar às suas realidades; Está interligada a segurança e soberania alimentar e a sustentabilidade dos ecossistemas, daí a sua importância como estratégia e vivência no semiárido.

A opção metodológica construtivista busca reafirmar a perspectiva coletiva do conhecimento que procura ser circular, participativa e dialógica. Com esse referencial, as ações integram a extensão, a pesquisa e a edu-cação profissional como um processo interrelacionado as dimensões materiais e imateriais do ser humano.

Para a investigação extensão, existe uma opção pela pesquisa-ação que é um tipvo de pesquisa social com base empírica, concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um pro-blema coletivo e no qual os pesquisadores, participantes representativos da situação ou do problema, estão envolvidos de modo cooperativo, de acordo com a formulação de Thiollentt (2004), estudioso do assunto.

As ações são fundamentadas em experiências desenvolvidas, a partir das quais se estabelece um diálogo de saberes com diferentes leituras dos problemas e do encaminhamento para superação destes, a partir dos estu-dos de Jorge Tavares de Lima e Marcos Figueiredo (2005 e 2006). O diálogo sobre as experiências, mediatizado pela cultura e história, aprofunda a confiança entre os envolvidos no processo.

COMPARTILHADO CONHECIMENTOS AGROECOLÓGICO E DE CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO

A partir da UFRPE/UAST, atuam nos municípios de Serra Talhada, Triunfo, Santa Cruz da Baixa Verde, Afogados da Ingazeira e Flores, com atividades como: balcão de demandas da agricultura familiar; Seminários internos de discussão teórica; Pesquisas em áreas de experimentação agroflorestal; Oficinas de temáticas variadas com agricultores/as; Viagem e visitas técnicas; Publicações e participação em eventos; Ações de extensão.

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O NEPPAS tem atividades públicas, nas ruas (praça), câmara de vereadores, e comunidades que tratam da de-fesa do bioma Caatinga, por exemplo; E por seminários, oficinas e intercâmbios de saberes dentro do campus da UFRPE. Tais atividades são a culminância de processos de aprendizagens que se dão desde as salas de aula e comunidades de Santa Cruz da Baixa Verde e Carnaúba do Ajudante que vivenciam a implantação de tecno-logias de captação e armazenagem de água e agrofloresta entre outras.

Nessas ações têm atuado direta e indiretamente as ONGs citadas anteriormente, o Instituto Agronômico de Pernambuco, o STR de Santa Cruz da Baixa Verde, a Associação dos Agricultores Familiares de Carnaúba do Ajudante, Grupo de Mulheres Flor do Campo de Santa Cruz da Baixa Verde e agricultores e agricultoras da feira agroecológica, estudantes e professores da UAST e professoras e estudantes de escolas da educação básica de Tabira e poetas e cantadores da Associação de Jovens Poetas de Tabira (AJUPTA) e da Associação de Poetas e Prosadores de Tabira (APPTA).

Os sentidos da participação, de envolvimento nas ações e na construção dos saberes se dão de maneira di-ferente para as pessoas envolvidas. Para os agricultores e as agricultoras os seminários e oficinas realizados dentro do Campus têm um grande significado, pois alguns nunca tinham entrado na universidade.

SEMINÁRIOS,OFICINAS, INTERCÂMBIOS, VIVÊNCIAS NO CAMPUS, NAS COMUNIDADES E NA PRAÇA Para Maria do Socorro, agricultora, os seminários e oficinas são os lugares onde os “seus olhos se abrem e você se sente mais gente”.

A metodologia das oficinas e seminários é denominada de “espiral de informação e formação”, isto é, toda a informação gera um processo de formação política, retornando ao grupo como forma de problematização das realidades vividas, visando a desnaturalização e questionamento destas e destacando a importância do saber dos agricultores e agricultoras.

Iris Maria Vieira de Lima, agricultora e presidente do Grupo Mulher Flor do Campo, ressalta a existência de uma troca e participação das mulheres: “conseguimos fazer troca de experiência com outras mulheres. Os seminários são espaços ricos para as mulheres e os homens, mas lá (da sua comunidade) somos mais as mulheres que partici-pam”, conta.

Silvolúsia, agricultora, considera que “os seminários e o NEPPAS são uma oportunidade para mostrar o trabalho com a agroecologia porque (...) existe professor que é contra a agroecologia. Então, o seminário é o momento de mostrar que existimos”.

Laetícia, professora, considera que existe uma tensão entre as concepções que defendem a agroecologia e outras que defendem o agronegócio.

Os seminários repercutem para dentro de toda a comunidade acadêmica que têm ajudado a dissolver as ba-rreiras simbólicas sobre o papel da universidade e de quem pode e precisa estudar. Diz Laetícia que (...) “o movimento da agroecologia e de convivência com o semiárido é grande fora do meio acadêmico e nós precisamos contribuir para que eles se incorporem na vida da universidade pelo convencimento e pelo debate”.

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Alguns depoimentos revelam que os semi-nários têm possibilitado a exposição de deba-tes, campanhas sobre consumo consciente, feminismo, patriarcalismo e relações de tra-balho e o lugar político das mulheres da Agri-cultura familiar. Para Célia, da Casa da Mulher, “o NEPPAS e as atividades favorecem essa vi-sibilidade das mulheres”.

Os seminários aproximam a relação com a realidade a indígena. O debate sobre manejo da Caatinga, relata Rivaneide (CECOR/ APNE), motivou os Xucuru.

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É fato que os seminários têm chamado a atenção e ampliado a participação. No primeiro houve cerca de 100 pessoas e o último, em abril deste ano, chegou a 400 participantes. Acontecem sempre em abril devido o dia 28 ser dedicado ao bioma caatinga, abordando sua complexidade (povos, vegetação e cultura) e toma diferentes contornos de mobilização social e para chamar a atenção do poder público. Em 2012 e 2013 recolheram assi-naturas nas ruas e, neste último ano, foram buscar o apoio do Prefeito de Afogados da Ingazeira e de Tabira.

Envolvem também as escolas de ensino fundamental e médio de Serra e de Tabira. Como motivação pedagó-gica lançaram um mote “como eu vejo a caatinga”, do qual surgiram poesias, peça de teatro, produtos como o sabonete ‘ser tão cheiroso’ com aromas e plantas da caatinga e uma apostila com as plantas da caatinga etc. Defender o Bioma Caatinga junto com as crianças e jovens é um pressuposto importante para a sustentabilida-de socioambiental e de uma educação para a convivência com o semiárido.

“Existe uma relação com a Associação de Jovens Poetas de Tabira (AJUPTA) e a Associação de Poetas de Tabira (APPTA) que vão à praça e as salas de aula com seus versos de cordel entre outros poemas. O ato tem um varal “deixe seu recado” para a caatinga, tem música e xaxado que tornam a atividade lúdica”, expõe Fabiana, profes-sora.

Antes, o seminário era apenas um dia e cresceu para três e entrou no calendário acadêmico da UAST. Isso foi favorecido pelos recursos do projeto financiado pelo CNPq/MDA. Mas, também, pela a ação coletiva do NE-PPAS que busca construí-los de forma que todos participem com temas relevantes para as ONGs e agricultores e sociedade sertaneja. Com esse jeito vai desenvolvendo-se um processo de pertencimento ao Núcleo por di-ferentes identidades.

Ainda durante as atividades dos seminários, outras inovações pedagógicas vão sendo criadas como o espaço Roda Mundo que é intercâmbio de saberes para quebrar as hierarquias na construção do conhecimento quando são trazidos pelos/as agricultores/as suas experiências e saberes.

Para compor esse espaço, explica Fabiana, “abrimos inscrição de trabalhos como textos simples, relatos de ex-periências e acadêmicos. Nós apoiamos os agricultores para escrever seus relatos e eles apresentaram no espaço Roda Mundo. Houve uma troca interdisciplinar e de diferentes olhares e vivências.”

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“Esse espaço tem o objetivo de reunir trabalhos teóricos e empíricos sobre experiências de transição agroecológica, construção do conhecimento agroecológico, formas de organização da Agricultura Familiar e Camponesa, formas de organização e participação de mulheres e jovens, sistematização de experiências, socialização de projetos, es-tágios etc. Os trabalhos são apresentados em 15 minutos e depois entram na roda de debate e sistematização de cada grupo em que se busca construir linhas de integração que apontem para novas formas e práticas de transição agroecológica,” explica Laetícia.

Jacinta Gomes, do Centro Sabiá, também compartilha dessa compreensão. Para ela, “ (...) os agricultores e jo-vens puderam dialogar com os estudantes e professores de igual para igual, fazendo assim com que quebre-se o pensamento que universidade só é lugar de estudantes e professores. Ou seja, ela é um espaço do povo”.

“O espaço Roda Mundo tem levado os professores a repensar a Extensão Universitária na UAST e também a Extensão Rural”, considera Fabiana.

O que o NEPPAS pretende com essas práticas é disseminar as concepções metodológicas do intercâmbio que têm sido vivenciadas pelos agricultores experimentadores da agroecologia, da metodologia camponês a cam-ponês, para citarmos as mais conhecidas para a reflexão e reconhecimento como práticas metodológicas para a universidade.

Entende-se que o intercâmbio favorece a valorização dos saberes e fazeres do campesinato, além de recuperar ensinamentos tradicionais sobre determinadas práticas e manejos que foram secundarizados e até descar-tados pelos processos tecnicistas inseridos pela modernização dolorosa da agricultura brasileira, a partir dos anos 1950, e que se estendem aos dias atuais com novas roupagens como, por exemplo, as modificações ge-néticas das plantas e sementes em função da produção para exportação, da qual se beneficia o agronegócio.

Ao inserir em suas atividades o intercâmbio entre diferentes e diversos saberes o NEPPAS expõe sua con-cepção sobre a construção do conhecimento tendo o trabalho e a cultura camponesa e de outros povos tradi-cionais como referência, que inclui também os/as estudantes. Instala um diálogo de saberes que democratiza a construção do conhecimento para fazer frente às condições concretas e subjetivas dos participantes na sua vivência no semiárido. Assim, deixa claro que não é um título acadêmico, ou o nível ou grau de escolaridade que determina o valor e importância do conhecimento.

A concepção horizontal e com base no respeito aos saberes locais e nos estudantes como sujeitos de aprendi-zagem alicerça o trabalho de pesquisa e extensão, cujo exemplo é a implantação da agrofloresta com as famí-lias agricultoras de Carnaúba do Ajudante.

A AGROFLORESTA DE SEQUEIRO EM CARNAÚBA DO AJUDANTE: UM PROCESSO DE ENSINANTES E APRENDENTES

O NEPPAS tem uma ação e prática pedagógica coletiva que não separam a extensão universitária, da pesqui-sa e do ensino. Nessa perspectiva, desenvolve, desde 2011, um processo de apoio as famílias agricultoras de Carnaúba do Ajudante para implantação de agrofloresta de sequeiro e ao mesmo tempo implantou uma área experimental comparativa dentro do campus da UAST sobre essa experiência agroecológica.“Com as organizações de agricultores queremos compartilhar o que estão fazendo e juntar as forças. Para des-envolver a ação de recuperação do Bioma Caatinga e apoiar os agricultores em suas atividades (...), iniciamos a implantação da agrofloresta de sequeiro”, diz o professor Genival Barros.

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BREVE HISTÓRIA DA COMUNIDADE Carnaúba do Ajudante fica em Serra Talhada, a 18 km de sua sede administrativa, e suas terras foram compra-das por 22 famílias ao Governo do Estado de Pernambuco (1999/2006). A terra foi vendida pelo proprietário Deputado Inocêncio Oliveira ao Estado de Pernambuco e o Projeto Renascer1 intermediou à compra para as famílias junto ao Banco do Nordeste.

Maria do Socorro Silva Nascimento, Dona Côca, atual presidente da Associação, informa que as famílias pagam uma prestação anual de R$ 400,00. Já passaram por dificuldade de pagamento e hoje tentam não atrasar. Ela diz que guardam um pouco da produção de milho ou feijão para pagar. Quando a produção é pouca, fica difícil de pagar. E não adianta uma ter e a outra família não ter como pagar. O débito com o Banco do Nordeste é das 22 famílias, em nome da associação.

A principal atividade da comunidade é a agricultura de sequeiro e a criação de pequenos animais.

É importante ressaltar que “cortando as nossas terras tem o Riacho Cachoeira e beirando o mesmo ainda tem uma pequena cerca de árvores nativas que sobraram do passado e no resto da terra quase não se vê a vegetação nativa. (...) Os antigos proprietários sempre criaram gado leiteiro”, informa Juciê de Sousa, morador do assentamento e agricultor. Dona Socorro explica que quando chegaram para ocupar a terra tiveram que retirar o capim do pasto para produzir milho e feijão. E isso deu certo, na opinião dela. Para desenvolver essa produção contaram com o apoio do Projeto Dom Hélder e do CECOR.

Não há acesso à educação e à saúde na comunidade e só há pouco tempo tiveram instalada a energia elétrica.

Percebe-se que o processo de reforma agrária nesses moldes não tem contribuído para uma condição de tra-balho e de vida ainda satisfatória, pois mantém as famílias presas a uma dívida com o banco pela compra de uma terra que poderia ser delas e ainda enfrentam sérios desafios para torná-la viva e produtiva.

Explica Juciê de Sousa que a universidade trouxe a ideia de fazer a recuperação da terra e de plantar uma horta e há três anos estão trabalhando. “A gente está fazendo um trabalho na Caatinga que é tipo uma agrofloresta”, continua Juciê. “Laetícia e um rapaz do CECOR conversaram com a gente para trabalhar a agrofloresta e nós gostamos da ideia e abraçamos a proposta, até porque estávamos querendo abraçar e ser abraçados e deu certo mesmo”, complementa Dona Côca.

“A área é cercada para plantar e a gente ficar observando... feito uma pesquisa. (...) A UFRPE pegou uma área que ninguém conseguia plantar nada e quer recuperar a mata e mostrar que é possível plantar e recuperar a terra (...)”, diz a presidente da associação.

A área para a agrofloresta é de aluvião e Genival, professor, explica que esse sistema visa recuperar áreas de monocultura e também aquelas que durante muito tempo foram usadas para pastoreio, provocando o esgota-mento da terra.

1 Vinculado ao Programa de Combate à Pobreza Rural – PCPR, estratégia do Banco Mundial, executado conjuntamente com os governos estaduais da Região Nordeste do Brasil e do Estado de Minas Gerais desde a década de 1970. No Governo de PE é operacionali-zado pelo Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável/PRORURAL, vinculado a Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária. Para a compra da terra o Projeto provocava a criação de uma associação de moradores que assumia o financiamento.

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Genival Barros também explica há outra área de agrofloresta dentro do campus da UAST com o mesmo taman-ho e a mesma história de ocupação e cultivo. Ela já foi usada para monocultura de feijão e milho por trabalha-dores que prestavam serviço ao IPA. Depois, esse órgão transformou a área em pastoreio. A única vegetação que tinha nela era o carrapicho. Ela é acompanhada pelos estudantes que fazem uma comparação com o pro-cesso em Carnaúba.

As duas áreas apresentavam uma terra muito compactada e com dificuldade de infiltração e armazenamento d’água. Cada uma mede em torno de 2500 metros quadrados (1 quarto de hectare), conclui.

Dessa relação entre professores, estudantes e famílias agricultoras no processo de implantação da agrofloresta acontecem situações de aprendizagens compartilhadas. Para Juciê acontece assim: “A gente passa o nosso con-hecimento sobre as plantas e eles vêm com o conhecimento técnico. Plantamos várias espécies e estamos obser-vando também à chuva, porque a gente não pode irrigar, aqui é agrofloresta de sequeiro. Dessa experiência só cinco famílias estão participando, as outras acham que plantar pau não adianta... que esse trabalho é muito demorado... não acreditam. Mas eu digo que nós estamos fazendo a nossa parte para o meio ambiente”.

A primeira medida foi aplicar um coquetel de leguminosas quando as chuvas chegaram em 2011 (ano muito bom de chuva, atípico no Pajeú) e dar à terra essências de transição como a leucena, por exemplo, para ir acelerando a capacidade de recuperação da terra. Receberam então plantas nativas para a formação da agro-floresta e plantas de luxo como o caju e a pinha. Diz-se de luxo porque precisam de mais água, mas também representam um ganho mais rápido para as famílias. Com a seca feroz de 2012 o caju e a pinha não resistiram em Carnaúba do Ajudante, mas alguns pés de caju sobreviveram na área da UAST.

Genival Barros expõe mais uma vez que no semiárido as plantas não morrem nas estiagens, elas paralisam o seu crescimento. Ficam aguardando a chuva e quando ela volta, reagem e produzem novas folhagens. Por isso, na agrofloresta de sequeiro a dinâmica é lenta.

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Juciê considera “a gente não pode consertar o mundo, mas se a gente começar na nossa casa, já é uma grande contribuição”.

Dona Côca diz que a terra tem seu tempo. “Para nós, está dentro do processo de recuperar a terra. Pois antes ela estava dada como perdida e agora a gente vê que ela está viva e nós estamos observando. Tem que esperar”.

Sobre a troca de saberes nesse processo entre professores e agricultores, Fabiana diz que ela como zootecnista aprendeu a produção de bovinos em grandes extensões. “Mas, esse conhecimento não se aplica para a agricul-tura familiar e então eu tenho aprendido na prática e no diálogo com os agricultores sobre a criação de pequenos animais, como se faz tecnicamente uma cerca de vara para o caprino não fugir, o uso dos recursos para não gastar muito dinheiro... eu tinha ouvido falar nisso pelos meus pais que são agricultores”.

As vivências e conhecimentos compartilhados e construídos têm repercutido para dentro da vida acadêmica e favorecido a ampliação da reflexão sobre a vida no sertão com outros olhares e recuperado origens e tradições.

ÊXITOS: MOBILIZANDO SONHOS, AMPLIANDO ESPAÇOS E CONSTRUINDO A COMPLEMENTARIDADE DE SABERES

Êxitos muitas vezes são considerados resultados materiais, quantificados, verificáveis como produtos. Mas no campo da educação e da produção de conhecimentos eles podem ser práticas pedagógicas que vão provocan-do mudanças nas atitudes, nos sentimentos, nas mentes, nos fazeres e nas relações sociais e com a natureza. Assim, eles acontecem na objetividade da vida e na subjetividade das pessoas. Para quem está vivenciando a construção do NEPPAS esses êxitos foram percebidos assim:

• Para os/as agricultores a universidade estimulou e abriu muitas portas.• Para algumas pessoas despertou o desejo de voltar a estudar e entrar na UAST. Assim, esse processo vai

mobilizando sonhos. O depoimento de Dona Côca diz que ela quer organizar a sua vida e a de seus filhos para retomar os estudos porque ela quer entender mais as coisas da vida e aprender a falar melhor.

• “O reconhecimento do saber dos/as agricultores/as e a valorização da participação direta nos mesmos espaços que professores e técnicos têm melhorado a auto-estima das pessoas”, ressalta também a referida agriculto-ra.

• “Esse espaço da universidade com as ONGs é um momento de construção coletiva. Essa construção é uma es-piral e ela vai para outros espaços... vai para a Articulação do Semiárido (ASA) e outros. Nós temos diferenças nas nossas concepções, mas o que nos une é o que fazemos na contramão do agronegócio”, evidenciam Célia e Rivaneide.

• Hoje os seminários são direcionados aos sertões de Pernambuco, envolveu o sertão do Araripe e do Moxotó. No último seminário o Caatinga (ONG) participou oferecendo uma oficina e estão integrados ao NEPPAS.

• “O processo de reconhecimento do NEPPPAS pelos agricultores é gradativo. Antes eram mais separados, an-tes não falavam da ação da universidade e hoje é possível que já citem a presença da universidade”, destaca Vanecilda, estudante.

• A ampliação da defesa da Caatinga com as escolas da região do Pajeú são um pressuposto importante para a sustentabilidade socioambiental e de uma educação para a convivência com o semiárido.

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LIÇÕES APRENDIDAS

A criação do NEPPAS é uma lição aprendida. Não é possível mudar processos educativos em agroecologia e convivência com o semiárido sem o envolvimento dos estudantes, a participação social e política dos movi-mentos sociais e a organização da sociedade civil.

O processo de democratização da construção do conhecimento é também a criação de espaços e mecanismos para os que estão fora da comunidade acadêmica possam opinar, interferir e refletir sobre os conhecimentos que estão sendo produzidos. Assim como a comunidade acadêmica possa desmistificar certas naturalizações, contribuir com processos questionadores e não apenas reprodutores e/ou legitimadores de certos padrões.

Aprendizado forte tem sido refletir sobre o espaço formal de educação e a relação com o não formal, porque a universidade é muito rígida.

A estratégia de articulação com as ONGs mostrou-se como um caminho capaz de legitimar politicamente e pe-dagogicamente os processos de construção do conhecimento agroecológico e de convivência com o semiárido trazendo à experiência, o empírico, e permitindo a concretude das reflexões no campo teórico-metodológico.

As ONGs atuaram como mediadoras na relação da universidade com os agricultores e agricultoras e com os movimentos sociais do campo e feminista.

Na relação com os/as agricultores/as há uma aprendizagem para além da construção do conhecimento e ela aparece na construção de laços de sociabilidade como participar das festas e atividades promovidas pelas co-munidades buscando estreitar os laços de convivência, solidariedade e confiança.

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A EXPERIÊNCIA DOS JOVENS GUARDIÃES DO PROJETO RIACHOS DO VELHO CHICO, IMPLANTADO PELO CAATINGA NO RIACHO QUEIMADO,

MUNICÍPIO DE PARNAMIRIM, ESTADO DE PERNAMBUCO, BRASIL

ONDE E EM QUE CONTEXTO SE DESENVOLVE A EXPERIÊNCIA?

O projeto nasceu no ano de 2010 numa parceria entre o Centro Sabiá e o CAATINGA (responsável pelas ativida-des no Riacho Queimado, Parnamirim), com uma proposta apresentada ao Edital Petrobrás Ambiental, a qual foi aprovada. O contexto é o de toda a região semiárida do Nordeste brasileiro, com a escassez de água agrava-da por uma penosa seca, que perdurou por todo o período de implantação do projeto. O Riacho Queimado, alvo da ação, já não recebe água em seu leito, que se encontra quase totalmente assoreado. Nenhuma atividade agrícola resistiu e o rebanho bovino recebeu grave abalo, restando à população apenas a caprinocultura como sobrevivência, com animais mais resistentes à seca. Os meios de vida se viram sob ameaça, especialmente para os jovens, que poucas oportunidades encontram de trabalho. As políticas públicas federais têm dado algum alí-vio, com a construção de cisternas (que se tornaram reservatórios de água transportada por caminhões-pipas) e, especialmente, pelos programas sociais de transferência de renda.

QUAL É O OBJETIVO DA EXPERIÊNCIA?

O objetivo geral é o de dar suporte à agricultura familiar no semiárido. Mais especificamente, através da edu-cação ambiental da comunidade ribeirinhas, de ações estruturadoras de revitalização do Riacho Queimado e de conhecimentos sobre recuperação e conservação de recursos. A sensibilização e construção coletiva do conhecimento foi inpulsionada por jovens multiplicadores - junto às famílias diretamente envolvidas com a produção, plantio e cuidado das mudas; professores e alunos de escolas municipais; mulheres e jovens de gru-pos comunitários; e lideranças das Associações de Agricultores.

COMO OPERA O PROJETO RVC?

O projeto é operado pelo Caatinga, uma ONG de assessoria técnica e extensão rural agroecológica, com sede em Ouricuri, a cerca de 60 km da comunidade de Riacho Queimado. O projeto conta com uma equipe, sob responsabilidade de um dos integrantes da coordenação colegiada da instituição, e dois técnicos, equipe essa apoiada por outros serviços da organização, como a contabilidade e a comunicação. A comunidade elegeu 6 de seus jovens para integrarem o grupo de Multiplicadores (Jovens Guardiães Ambientais), que receberam, durante a execução do projeto, capacitação, participando também de várias atividades de intercâmbio, e uma bolsa de subsistência mensal. Por sua vez, as Associações de Agricultores existentes na área – duas delas, espe-cialmente: a de Riacho Queimado I e II, e a de Dourado – acompanham estreitamente o projeto; membros da comunidade participam dos eventos de formação, capacitação e intercâmbio.

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O documento de sistematização desta experiência foi produzido por Omar Rocha

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As atividades realizadas são as de assistência técnica e pedagógica – por parte do Caatinga, de Educação Am-biental – por parte dos Jovens Multiplicadores, de construção participativa de conhecimento (através de inter-câmbios, na pedagogia de agricultor a agricultor, para compartilhamento de boas práticas), de coleta e pre-paração de mudas de espécies nativas, por parte das famílias participantes, e de ampliação de infraestrutura (cercamento das áreas a serem restauradas, com estacas de cimento, obras como cisternas-calçadão e barra-gens subterrâneas, para coleta de água de chuva).

QUAIS FORAM OS ÊXITOS DA EXPERIÊNCIA?

Os principais ganhos reconhecidos por jovens e lideranças do Riacho Queimado foram:

A produção de mudas de espécies nativas da caatinga.

A coleta de sementes da caatinga (muitas vezes em mutirão, enfrentando a descrença de muitas pessoas): a recuperação da mata ciliar nas margens do Riacho Queimado permitirá uma maior capacidade desse veio de reter água, revertendo o atual assoreamento de seu leito. A opção do RVC é pelas espécies nativas, consorciadas com árvores frutíferas. Pela primeira vez a comunidade se voltou para semear e valorizar tais plantas, e um verdadeiro banco-de-sementes foi montado, com sementes coletadas na caatinga. As pessoas tiveram que aprender a reconhecer essas sementes, como colhê-las, como produzir mudas a partir delas.

Os viveiros e o cuidado de mudas (mesmo com a seca inclemente, muitas pessoas ainda mantém o viveiro, trazendo a preciosa água de longe, esperado a chegada das chuvas para o plantio): foi uma dura experiên-cia para as “viveiristas” – pois em grande proporção foram as mulheres que organizaram seus viveiros de espécies nativas – plantar e cuidar de suas mudas, numa ocasião em que a água se tornou escassa e valiosa, em razão da extensa seca. Para essas pessoas, isso representou um novo aprendizado, uma nova experiência, e para muitas delas, tal foi o amor que desenvolveram por suas mudas, que as mantém vivas, trazendo água de longe (com animais) para regá-las.

A renda com a venda de mudas (o projeto fez questão de adquirir as mudas cultivadas): um fator de moti-vação adotado pelo projeto, em consonância com princípios de “remuneração por serviços ambientais”, foi o de comprar essas mudas das produtoras, remunerando-as assim por esse trabalho tão dedicado. Essa renda tem sido importante para as produtoras, que se orgulham de seus viveiros, de suas mudas, de sua geração de recursos.

A produção de estacas de cimento e o cercamento das margens do Riacho Queimado

O cercamento para proteção de 90% das margens do riacho Queimado: o projeto RVC adotou a estratégia de proteger as margens do riacho, com cercas, para que as árvores a serem ali plantadas possam sobre-viver aos vorazes caprinos. As cercas foram colocadas em grande extensão – apesar de que, devido à seca, não foi possível estabelecer os SAFs – Sistemas Agro-Florestais previstos no projeto; mas as mudas sobrevivem, esperando a chegada das chuvas para esse plantio, quando as áreas já estarão protegidas.

CASO 4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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A confecção das estacas de cimento (feita lo-calmente, pelas famílias): esse foi um trabalho preponderantemente masculino, a fabricação das estacas de cimento, através de moldes. Foi feita uma capacitação das pessoas envol-vidas, e as estacas também, como as mudas, foram remuneradas pelo projeto.

O desenvolvimento e a mediação dos Jo-vens Multiplicadores

CASO 4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEMCASO 4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

O fortalecimento da identidade de “Guardiães Ambientais”: a estratégia de mediação de um grupo de jo-vens, adotada pelo Projeto, possibilitou que as/os integrantes desse grupo desenvolvessem uma forte identidade ambientalista, que repercutiu positivamente na comunidade, “multiplicando” de fato uma visão ecológica e de preservação de recursos naturais.

O protagonismo e iniciativa demonstrados por esses jovens: o RVC propiciou, com a capacitação, e conse-quente deservolvimento pessoal desses jovens, a emersão de um espírito de protagonismo e iniciativa, que se expressa, especialmente, na intervenção dos mesmos nas reuniões das Associações, nas novas ideias, nos novos projetos, na responsabilização cidadã e ambiental que estão eles assumindo.

A Educação Ambiental em Escolas (e em reuniões das Associações): um dos papéis importantes desenvol-vidos pelos Jovens Guardiães é o de formação e transmissão de conhecimentos em 5 Escolas Públicas Municipais estabelecidas na área do Projeto. Os jovens têm conseguido entusiástico apoio de diretores e professores dessas escolas, bem como um crescente interesse das crianças. O mesmo sucede em suas palestras nas reuniões das Associações locais de Agricultores.

A disseminação do conhecimento agroecológico (obtido nas capacitações e intercâmbios): apesar de que a grande seca se justapôs ao período inicial de implantação do projeto – não permitindo, assim, inves-timentos em horticultura – o interesse demonstrado pela Agroecologia é crescente e entusiástico, por parte das lideranças e dos/as moradores/as mais engajados no Projeto. Ou seja, as bases estão dadas para que novas práticas agrícolas, e uma nova relação com a Natureza, possam se solidificar.

A facilitação de experiências: A presença dos jovens multiplicadores estimula, e facilita, novas experiên-cias feitas pelas famílias participantes do projeto – desde a coleta de sementes nativas, que já citamos,

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QUAIS SÃO AS PRINCIPAIS LIÇÕES DA EXPERIÊNCIA?

Comecemos por expor as Boas Praticas dessa experiência, identifi-cadas pelo Grupo de Sistematização (assim como todos os pontos dessa secção):

METODOLOGIA PARTICIPATIVA: a abordagem de trabalho ado-tada pelo projeto RVC propiciou o envolvimento e o empodera-mento de jovens e mulheres, como indivíduos, mas também em relação às organizações comunitárias (as Associações de Agricul-tores). Isso permitiu que houvesse democracia na tomada das de-cisões.

REMUNERAÇÃO DE SERVIÇOS AMBIENTAIS: a “compra” de mudas e estacas pelo projeto foi um fator de estímulo ao envolvi-mento das pessoas nas atividades, como também de obtenção de uma renda fundamental, em tempos de uma grande seca.

DISSEMINAÇÃO DA AGROECOLOGIA: as capacitações teóricas e as realizadas em campo, também parte da abordagem do projeto, permitiu que muitas pessoas se envolvessem com o mesmo. Os in-

tercâmbios (na pedagogia “de agricultor para agricultor”) reforçaram ainda mais as mensagens dadas nessas atividades de capacitação. Os programas de rádio do Caatinga, igualmente reforçam essas mensagens, e são realmente escutados com atenção. Entre essas mensagens, o destaque foi para as que alertam para se evitar utilizar agrotóxicos ou realizar queimadas.

Falemos agora das Inovações despertadas pela experiência:

SAFs (Sistemas AgroFlorestais): a introdução desse novo conceito, como forma de recuperação das margens desmatadas de afluentes, reforça por sua vez o estímulo à aposta em uma nova maneira de se fazer e pensar a agricultura.

Valorização das espécies nativas da caatinga (bancos de sementes) .

Reeducação/segurança alimentar - mudanças na dieta de algumas famílias, diversificando a alimentação com mais saladas, por exemplo.

Gestão pelos jovens de atividades e recursos na comunidade.

Outras inovações e conhecimentos estão chegando, como a bioágua, e a comunidade está aberta a novos aprendizados.

Também a Equipe de Sistematização identificou alguns Desafios, como parte das lições dessa experiência :

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MOBILIZAÇAO SOCIAL PARA A INCIDÊNCIA EM POLÍTICAS PÚBLICAS: esse é um grande desafio, que pode ir além, inclusive, das forças próprias da comunidade, especialmente no que tange ao acesso a recursos hídricos (construção de poços artesianos comunitários, extensão da canalização de água da Adutora do Oeste para todas as casas); à conclusão dos assentamentos (construção das casas, titulação de lotes, etc.); à mel-horia dos serviços básicos (educação, saúde), infraestrutura (estradas, energia, transporte escolar); à melhoria dos serviços de comunicação (telefonia rural, celulares, Internet). Esse movimento exige o fortalecimento de redes e articulações, bem como disponibilidade e capacidade para a participação em Conselhos e espaços de tomada de decisão no município.

JUVENTUDE RURAL: também um desafio crucial, que aporta várias questões. Como contribuir para a valo-rização profissional de jovens de comunidades rurais? Através da Agroecologia? O objetivo, aqui, é fortalecer o protagonismo e empreendedorismo juvenil (como já está se dando com o grupo de Jovens Guardiães), for-talecer nova identidade social e visão de futuro, garantir meios de vida sustentáveis e geração de renda. Uma ferramenta para apoiar isso é facilitar o Planejamento Pessoal (Planos de Vida) e coletivo desses jovens.

RENOVAÇÃO DO PROJETO RVC:: também um desafio crucial, para que se possa obter a conclusão das metas do projeto (reflorestamento/SAFs), quando do advento das chuvas, além de desenvolver o fortalecimento da participação em redes (grupos de jovens, grupos de mulheres, ASA, etc.), a ampliação da Educação Ambiental Cidadã, e da disseminação e construção do conhecimento agroecológico, e o acesso a recursos hídricos - re-servatórios de água, poços artesianos – para apoiar o projeto.

CASO 4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

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Lições aprendidas (formuladas pela Equipe de Aprendizagem)

• EM CONVIVÊNCIA COM O SEMIÁRIDO:

- Nosso trabalho de revitalização do Riacho Queimado, cuidando das margens desmatadas plantando ár-vores nativas da caatinga, consorciadas com outras frutíferas [em sistemas agroflorestais] nos tem dado um conhecimento muito novo, aprendendo essas práticas de convivência com o semiárido. - Quando o Riacho Queimado estiver de novo vivo, vai ajudar também na revitalização do Rio São Fran-cisco, contribuindo assim com as políticas públicas mais grandes de convivência com o semiárido.

• EM AGROECOLOGIA:

- A gente busca fazer uma agricultura sem veneno [Agroecologia] principalmente por causa de nossa SAÚDE, mas também pensamos na vida da Natureza. Queremos produzir, comer e vender alimentos saudáveis, sem os agrotóxicos.- Entrando na Agroecologia, a primeira coisa que fazemos é “acreditar” [a mudança de crença]; mas isso não basta, precisamos “acreditar e fazer” [a mudança de prática]; aí sim vem o “despertar” para o poder da Natureza [compreender]; e finalmente podemos começar a “experimentar”.- Achamos que o conhecimento que estamos desenvolvendo na coleta de sementes, nos nossos viveiros, nos SAFs, em nossas novas experiências, vão servir muito de base para a recuperação de nossas áreas degradadas e de nossos recursos hídricos.

• EM CIDADANIA AMBIENTAL:

- A Educação Ambiental dos Jovens Guardiões nas escolas e nas reuniões de nossas associações só faz aumentar a consciência e a responsabilidade das crianças, jovens e até dos adultos; assim ficamos mais animados para melhorar nossas formas de lidar com a Natureza e com a terra.

• O PAPEL DO CAATINGA:

- A comunidade toda e as associações agradecemos ao Caatinga a oportunidade de adquirirmos conheci-mento [agroecológico]; essa ong tem sido fundamental para nosso desenvolvimento, espalhando novas práticas e ideias. - O Caatinga estimula a troca entre o conhecimento dos técnicos, o conhecimento mais antigo que nós temos [saber-fazer] e a observação da Natureza, isso é a base para nosso desenvolvimento.- O trabalho [de assistência técnica] do Caatinga é bem diferente do acompanhamento de outros órgãos, é de qualidade e principalmente de compromisso, e a gente vê resultado. - Agradecemos o acesso a recursos concretos que o Caatinga nos oferece, as cisternas e cisternas-calça-dão, e a produção de estacas e mudas, que também nos dão renda.

CASO 4ROTA ESTRATÉGICA DE APRENDIZAGEM

Fotos deste documento: Programa Semear/Manuela Cavadas. 50