Método e técnica da educação na...
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VII ESOCITE.BR tecsoc - ISSN∕ 1808-8716 Egler et al. Anais VII Esocite.br/tecsoc 2017; 10(gt34):1-20
Método e técnica da educação na cidade
GT 34 - Interfaces entre ciência, tecnologia e educação
Tamara Tania Cohen EglerVera Magalhaes
Pedro Paulo Gonçalves
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Podemos começar pela pergunta: qual é a questão que orienta a nossa reflexão?
Para responder a essa interrogação a problemática deve ser enunciada a luz de um
pensamento que considera por um lado, a teoria do conhecimento e, por outro lado, a
invenção de tecnologia de comunicação e informação.
Trata-se de examinar a importante transformação nas formas de ensino-aprendizagem e
compreender os caminhos que exigem uma atualização de atores da educação, processos e
ações para levar adiante a enorme tarefa para educar crianças e jovens na atualidade da
sociedade digital. A proposta é investigar as relações que se estabelecem entre sujeito e
objeto da pesquisa, lidas no corpo biológico do indivíduo, e nas suas relações com a inovação
tecnológica, para analisar seus efeitos sobre a educação.
No contexto da sociedade da informação e comunicação, temos dois processos de
transformação em curso. O primeiro está associado ao avanço da Ciência da Cognição, do
processo mental e intelectual, que podemos pesquisar na linguagem, percepção, memória,
de cada indivíduo. O segundo reconhece no advento das Tecnologias de Informação e
Comunicação- TICs uma inovação, tanto no que se refere a transformação das relações
espaço-temporais, por que rompe com os muros da escola, quanto a transformação do
processo de ensino e aprendizagem, pela conectividade ao banco de dados, e acessibilidade
à informação e comunicação. As duas fazem parte de um mesmo processo histórico,
contextualizado na sociedade da informação e da comunicação, e exige uma transformação
na educação.
A literatura tem trabalhado essas duas variáveis separadamente. Para os autores que
pesquisam os efeitos das TICs na educação observamos uma análise que valoriza a
infraestrutura física, e examinar suas potencialidades e limites. Os resultados examinam a
eficiência da infraestrutura, associada a dados estáticos e funcionamento das operações
técnicas. Quando se considera o bom funcionamento da base técnica, infraestrutura física,
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como condição para o desenvolvimento da educação (LAVINAS, 2013). Compreendemos a
dimensão física como uma variável sendo a nossa contribuição examinar a imprescindível
dimensão do método de pensamento na educação (MORIN, 1992), essa é a proposta de
nosso trabalho, considerar essas duas abordagens unificadas no mesmo objeto.
Para dar conta dessa problemática, em que se observa um lado, o efeito da técnica na sua
condição instrumental, e por outro lado, a relação do método com o processo de ensino –
aprendizagem. Trata-se de construir um objeto que seja capaz analisar essas duas
dimensões, método de pensamento e técnica de informação e comunicação numa mesma
totalidade inseparável. Tudo isso, no contexto de uma epistemologia das ciências sociais que
propõem a superação das disciplinas, para examinar a importante interdisciplinaridade de
objetos e campos (BOURDIEU, 1998, 2007).
O ponto de partida metodológico para a construção delimitar do objeto de pesquisa
proposto é a identificação de atores, processos e fatos que transformam as formas de
educar. Mais facilmente, a nossa analise revela como o avanço da ciência da cognição amplia
a capacidade dos atores da educação, pela compreensão dos processos de ensino--
aprendizagem, em que se valoriza uma educação por categorias e se amplia a capacidade de
subjetivação do conhecimento. Ao mesmo tempo, os processos dados pela inovação das
TICs, produzem fatos que transforma a relação da escola, no espaço da cidade, e com
acessibilidade a informação e ao conhecimento e transformam a educação.
Ler o espaço significa atribuir significado aos objetos, fluxos e ações (SANTOS, 1994) que nos
rodeiam, permitindo a ampliação das possibilidades de compreensão do espaço e da
sociedade em que vivemos. Se a compreensão antecede à ação, podemos levar adiante a
ideia segundo a qual educar na cidade significa ampliar a capacidade de ação dos indivíduos
no espaço público, onde se faz a defesa do interesse coletivo.
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Para compreender o processo de transformação da educação o percurso na literatura revela
duas vertentes: na primeira, a analise observa a transformação como produto da
intervenção do Estado, centralmente organizada e politicamente autoritária; a segunda,
reconhece a importância da ação política dos indivíduos no cotidiano, permitindo a
continuidade e a transformação das condições de existência social. Na primeira interpretação
estamos no domínio da materialidade, da dimensão física, econômica e instrumental da
existência, como determinante do processo de transformação. Já na segunda vertente se
reconhece a dimensão política, imaterial e relacional que instituem o fundamento da ação
política transformadora.
Na primeira vertente, se valoriza o poder das prerrogativas do Estado, como atores capazes
de formular e propor uma transformação social, de cima para baixo. Essa forma de pensar
está escrita nas principais instituições de nosso país. Pode ser lida nos governos, partidos
políticos, instituições.
Na segunda vertente, se considera a educação na sua dimensão imaterial da existência,
(LEFEBVRE,1999; FREIRE 2009; RIBEIRO; 2012) uma vez que a formação dos Nós está
inscrita no espaço público da vida coletiva. É preciso ir além do indivíduo, entrar no mundo
da alteridade e reconhecer no outro a condição social da existência. Esse é o desígnio que
permite considerar a importância da ação dos sujeitos no mundo da vida (Habermas, 1987),
e o sujeito como principal ator de sua transformação, na relação que se estabelece de baixo
para cima.
As dimensões territoriais agigantadas do Brasil e a sua diversidade cultural exigem uma
reflexão que considere as diferentes regiões do Brasil, para tornar efetiva uma política de
educação capaz de focar nas especificidades culturais, políticas, econômicas, geográficas,
que fazem a complexidade do nosso país. Como Paulo Freire (1984) há muito tempo já havia
proposto, a educação deve ser contextualizada no espaço em que se vive.
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Sendo assim, o desígnio é fazer uma análise sobre a importância do método e da tecnologia
de informação e comunicação na educação contextualizada. E também, para observar e
analisar as possibilidades dadas para a associação dos diferentes atores governamentais e
sociais, em rede colaborativa e considerar a sua participação na educação.
Método na educação
A pesquisa desenvolvida no projeto Politica, técnica e interação na educação1 , nasce de
nossa compreensão que interroga: Se aprendemos a andar, comer, falar, escrever, por que
não podemos ensinar a pensar?
Essa pergunta nasce de nossa experiência na condição de professora do Instituto de Pesquisa
e Planejamento Urbano e Regional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro IPPUR/UFRJ e
pesquisadora do Conselho Nacional de Pesquisa – CNPq e da Fundação de Amparo a
pesquisa do Estado do Rio de Janeiro- Faperj. Essa condição de ser orientadora de pesquisa,
me possibilitou reconhecer, a importância do método para a produção e apropriação do
conhecimento (RIBEIRO; 2012).
O financiamento da pesquisa possibilitou a produção de uma experiência de educação, pela
formação de um grupo de professores do ensino fundamental de diferentes disciplinas, e de
uma mesma escola. O desafio proposto para os professores foi produzir uma pesquisa sobre
um objeto de seu Campo, com método e com tecnologia. A partir do princípio que considera
a formação do professor/pesquisador, como oficio (BOURDIEU; 2007), como um trabalho
artesanal que se constituiu ao longo da experiência de fazer a pesquisa.
Existe uma tensão conceitual entre pedagogia e educação. É necessário considerar que a
Pedagogia é uma disciplina, a educação um campo. A disciplina é um conjunto de normas e
1 Premiado no edital Obeduc da Capes , em 2012.
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regras que organizam o conhecimento; quer dizer, trata-se de focar e recortar uma parte do
conhecimento adquirido para condensar um conjunto de saberes. Tem regularidade e
normatividades, se reproduzem ao longo do tempo de forma constante. Quando Bourdieu
(1989; 2007) avança na compreensão do Campo, ele revela que essa forma de traduzir o
conhecimento está associada ao conhecimento dos objetos e pode ser aplicada em
diferentes domínios. Ele dá alguns exemplos como o Campo da educação, religião, da alta
costura, literatura, filosofia e política. Quando trabalha o conceito de campo, revela sua
interdisciplinaridade, sendo resultado de uma produção coletiva que opera o pensamento
sobre uma determinada essência do social. São duas categorias distintas: a primeira tem por
metodologia normas e leis, enquanto a segunda está associada ao exercício de uma análise
que valoriza o presente (Freire, 1974; Lefebvre, 1984; Arendt, 1994; Ribeiro, 2012), o que
existe na realidade objetiva. A primeira é normativa e disciplinar; a segunda é reflexiva,
associada à análise da realidade objetiva. A pesquisa desenvolvida considerou o sentido de
Campo, para propor uma investigação sobre educação que observa, reflete e analisa a
realidade objetiva, o que existe no presente.
Para tanto, foi realizada uma pesquisa ação para produzir uma experiência com a
participação de professores das exatas como matemática, química, física e das humanas
como português, filosofia, geografia e história. Para fazer essa experiência foi constituído um
grupo de professores que foram formados no método proposto, para a análise dos objetos
definidos pelos professores. O método está associado à organização do pensamento: ele
acontece no cérebro, é interno ao sujeito da pesquisa, está associado ao ato de pensar a
realidade. Por isso a importância de pensar o corpo, o outro, na cidade.
Os resultados alcançados com esse trabalho podem ser lidos, nas experiências realizadas no
ensino de matemática pelo professor Carlos de Andrade São Pedro quando saia da sala de
aula para o espaço da cidade, munido de um transferidor de plástico para medir os edifícios
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e ensinar matemática. Ou nos percursos na cidade de Raquel de Pádua (2016) e Jessica
Tamara Andrade para ler e representar o espaço urbano. Nos escritos de Vera Magalhaes
(2015; 2016) para usar tecnologia ensinado português. Nas aulas de Claudia Viegas (2015 ;
2016) para formar na língua inglêsa, por mediação de um software. Na sala de aula de
Antonio Carlos, Napoleão, quando história se transmite pelo uso de imagens cinéticas. Ou
de Florinda Cordeiro de Brito que revela a energia elétrica pela mediação de um site na
internet, para não esquecer a pesquisa de Emerson Felipe Ferreira, para estudar química
com mediação tecnológica.
O que nos permite compreender que estamos diante da possibilidade de incluir método e
tecnologia da informação e comunicação, para ampliar a capacidade de pensar e conhecer e
desenvolver uma capacidade analítica. Foi nosso o objetivo propor práticas de ensino-
aprendizagem alternativas à educação tradicional. Para tanto, e por exemplo as operações de
pesquisa foram: colocar o foco da educação na pesquisa, para ampliar as possibilidades de
reflexão e proposição; educar na cidade para capacitar estudantes a examinar a
interdisciplinaridade; capacitar para fazer análise dos objetos de pesquisa; considerar
alternativas na linguagem, pelo uso da narrativa imagética.
A invenção de motores de informática para a busca de objetos transforma as condições de
educar, pela invenção de palavras chaves. Porque nela está plasmada uma forma alternativa
de produção do conhecimento, difusão e subjetivação do conhecimento por objetos. De um
lado, compreender a organização do conhecimento pela definição de objetos do
conhecimento, e, por outro lado, a invenção de motores de busca pela informática, reúne
numa mesma dimensão a necessidade de um princípio de educação. Tanto pela cognição
quanto pela técnica, se define a necessidade de princípios, processos e procedimentos pela
pesquisa dos objetos.
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Por isso a importância da cidade em que se vive, onde se torna possível objetivar a realidade;
por outras palavras, onde se torna possível decoupar os objetos a serem examinados. Como,
por exemplo, a sua história, dimensões, localização, geografia, cultura; ou ainda sua química,
física, ou matemática, tudo junto, tudo ao mesmo tempo sobre o mesmo objeto. Trocando
em miúdos, na sala de aula o professor deve estimular o estudante a fazer perguntas, e a
partir desse se orienta o processo de objetivação para produzir e subjetivar o conhecimento
e sua transformação em pensamento.
Quando método e técnica fazem parte de uma mesma totalidade, não se separam as etapas
do processo de produção do conhecimento. As duas se condensam no mesmo tempo, e em
cada uma delas, se combinam numa mesma totalidade. A separação é apenas uma
abstração, contribui na construção da experiência, por que na realidade elas estão presentes
em todo o ciclo da operação de ensino-aprendizagem.
O ponto de partida considera o processo de ensino-aprendizagem, como produto da
experiência vivida, permite a subjetivação do conhecimento, quando se transforma em
pensamento e passa a fazer parte do cérebro e da mente de cada um dos estudantes. Para
ensinar a compreender o mundo, é preciso de um método capaz fazer a análise da realidade,
do acontecer na cidade.
Para levar adiante a possibilidade de romper com uma forma de tradicional de pensar a
educação, o ponto de partida do método é contextualizar práticas de educação na
atualidade. Trata-se de substituir uma educação conteudista, bancaria, que reproduz um
discurso descolado do contexto histórico, por uma educação reflexiva, capaz de fazer a
análise da realidade em se vive. Para colocar no lugar da reprodução, pura e simples, do
conhecimento, que pouco ou nada acrescentam ao cérebro e a mente, a capacidade de fazer
uma análise para compreender as condições objetivas e subjetivas do cotidiano em se vive.
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A espinha dorsal da pesquisa realizada2 permitiu desenvolver práticas e contribuir ao Campo,
no sentido de elevar as condições de ensino- aprendizagem e do sistema educacional
público, em escolas do Rio de Janeiro. O seu ponto de partida é valorizar a experiência dos
estudantes, a partir de uma educação focada na sua existência.
A nossa demonstração avança com a enunciação das seguintes perguntas:
Como ampliar a capacidade de pensar dos estudantes nas práticas de educação?
Quais são os princípios e a operacionalização do método de fazer educação?
É possível produzir transformações na interação social e na ação criativa dos
indivíduos pelo uso de tecnologias da informação e comunicação na educação?
Quais são as potencialidades e os limites da mediação tecnológica e da interação
social na educação?
É possível ampliar as relações entre os atores da escola e da cidade pela mediação de
uma rede sociotecnica?
Como fazer as políticas públicas de digitalização da educação
A construção do objeto está estruturado em três eixos:
Eixo 1
Método para construir o objeto
2 A pesquisa “Política pública e tecnologia na educação” foi premiada pelo programa Observatório da Educação (OBEDUC) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), 2011. A pesquisa “Política Pública e interação social na educação” foi premiada pelo programa OBEDUC da CAPES, 2103.
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Eixo 2
Conectividade técnica e interação social.
O primeiro pela operacionalização do método para formar o pensamento capaz de
compreender o objeto; o segundo pela atenção à inovação das Tecnologias de Informação e
Comunicação –TICs para ampliar as possibilidades de conectividade e interação na educação.
O último está associado aos princípios de uma proposta de política pública de educação, elas
fazem parte de uma mesma totalidade. Os eixos não existem separadamente apenas na sua
totalidade.
Eixo 1 - Método para construir o objeto
Na modernidade a educação é disciplinar, quer dizer suas práticas promovem a memorização
do conhecimento depositado nas disciplinas (Freire, 1974). Como por exemplo, para as
Ciências Exatas o objetivo é estudar as teorias, fazer exercícios de Matemática, Química,
Física, Biologia, resolver teoremas, equações, decorar fórmulas. Para as disciplinas sociais é
preciso memorizar nome de lugares para estudar a Geografia; datas e fatos na História, na
sociologia teorias. No contexto da modernidade a educação resulta da fragmentação das
disciplinas. A proposta alternativa aqui apresentada é uma operacionalização do método
desenvolvido por Bourdieu (2014) e Ana Clara Torre Ribeiro (2012) para as ciências sociais,
tem por objetivo sua aplicação na educação básica.
É preciso um questionamento das teorias e práticas na sua utilização na análise dos objetos,
não se trata de decorar teorias e fazer a interpretação da realidade a partir das mesmas, o
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desafio é subjetivar os conceitos das ciências sociais e para serem reintroduzidos na análise
da existência, tendo por objetivo fazer a análise do objeto definido para o desenvolvimento
da pesquisa (BOURDIEU, 1998 , 2007 ; ARENDT, 1994).
O método tem por objetivo trazer para a educação, uma prática que estimula o pensamento
(Morin, 1992). Para isso o desafio é construir o objeto do conhecimento. Para tanto, é
preciso ensinar a fazer pesquisa: partir de perguntas, interrogar as pessoas, ler documentos,
levantar dados, conhecer categorias e conceitos, para reintroduzir na realidade e fazer a sua
análise.
Não se pode confundir método e metodologia, o primeiro e interno, cerebral, o segundo é
externo, está associada aos procedimentos que são utilizados para fazer a pesquisa, quando
se definem os instrumentos de trabalho as operações que serão produzidas para traduzir a
realidade examinada.
Objetivação
Por isso a importância dos objetos de conhecimento que devem ser recortados na realidade
em que se vive. O desafio é considerar que apenas a produção do conhecimento pode e deve
ser experiência pelos estudantes. O objetivo é ver e ler o objeto, enunciar as perguntas e
fazer a sua análise, única forma que conhecemos para subjetivar o conhecimento.
Libertar o pensamento para que ele possa exercitar o pensar, livre de ideologias de
conhecimento preconcebido. Pensar de forma sistemática, para compreender o mundo e
interagir com ele positivamente. O pensamento é associativo e relacional (Bourdieu, 1998),
quer dizer, interno e externo, cerebral e social. Nós não pensamos individualmente, apenas
socialmente, essa capacidade de produzir conhecimento está associada ao acervo, produzido
na nossa existência e que temos acumulado no nosso cérebro. É também relacional, por ser
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produto de uma interlocução ininterrupta que fazermos com os outros, lendo, falando e/ou
escrevendo.
Bourdieu (1998) define o ato de objetivar como pensamento capaz de construir um objeto,
quer dizer observar no mundo social os seus problemas concretos, conceitos, instrumentos
de conhecimento e registrar como um dado empírico. Em que o professor é um orientador,
mostra os caminhos necessários para fazer pesquisa. Mas as perguntas devem nascer
exclusivamente dos estudantes, são essas perguntas que estimulam o ato de pensar e
compreender o mundo.
Para decoupar o objeto é preciso proceder à identificação e à compreensão de atores,
processos e fatos. Atores são aqueles que vivem uma realidade do objeto. Entendemos por
processos aquilo que faz a mediação entre atores e fatos (Ribeiro, 2011). Quer dizer, não é
possível entender uma realidade se não observamos como se fazem as coisas que se deseja
examinar. Sendo os fatos aquilo que se produziu pelos atores e por mediação de processos,
esses acontecem na experiência de cada um, no espaço em que se vive.
Pensar Campos é pensar a interdisciplinaridade; sua importância está associada à
compreensão, que considera a necessidade de romper com a fragmentação do
conhecimento da modernidade, para avançar na proposta que considera objetivação do
mundo. Cada objeto contém em si, as disciplinas. Para tanto, exige uma análise que permita
construção do objeto empírico e ampliação do objeto teórico que seja capaz de inlcuir
categorias e conceitos das diferentes disciplinas, para produzir uma interação conceitual e
ampliar a capacidade de pensar, analisar, propor alternativas de ação para transformar o
mundo em que vivemos.
Não podemos deixar de citar a importante experiência da Finlândia, onde o coração da
proposta é denominado de phenomenal learning, que pode ser traduzido pela observação do
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fenômeno no processo de ensino/aprendizagem. Para tanto, a estratégia foi substituir aulas
por projetos temáticos: ao invés de ter aula de Matemática e depois de Literatura, tem duas,
três, quatro, disciplinas juntas (OLIVEIRA, 2017). É uma ação que dialoga com a
interdisciplinaridade dos Campos, necessária para transformar a política pública de
educação. Fica imediatamente claro, é uma proposta exitosa que dialoga de perto com o
sentido da objetivação e de Campo do Bourdieu, e da educação contextualizada de Paulo
Freire
O objetivo é trazer para o ensino fundamental o sentido de fenômeno que está dado na
experiência acadêmica, dos níveis mais elevados de ensino e pesquisa. O estudante passa a
ter um papel ativo, e passa a produzir experiências, fazer pesquisa e análise da realidade.
Eles passam a participar de diferentes etapas da produção do conhecimento, são
considerados pesquisadores, e são chamados a produzir e analisar o sentido da totalidade.
É uma saída da sala de aula, desconectada o mundo real, passam de espectador para
produtor do conhecimento. No lugar de escutar sobre Matemática, Ciências, História, os
estudantes são chamados a analisar os objetos da realidade e produzir análise a partir das
diferentes disciplinas. Quer dizer, são professores que têm menos poder de “controle” da sua
disciplina, uma vez que terão que lecionar de forma colaborativa, mais considerados
“mentores”, “instrutores”, do que “professores”. Em poucas palavras, é trazer o sentido da
pesquisa para o ensino fundamental. Para fazer avançar a educação é necessário substituir
disciplinas por objetos, que condensam as disciplinas.
Essa percepção que compreende a educação associada à definição de objetos desafia o
estudante a pensar para fazer a sua própria análise. O que é muito diferente de estudar uma
teoria para que ela seja aplicada para todo e qualquer objeto. A realidade é muito complexa
para que a sua compreensão seja reduzida a uma teoria. Trata-se de pensar a realidade para
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interagir com ela positivamente. Por isso a importância da cidade, por que a realidade é
produto da experiência na cidade vivida.
Por isso a importância do contexto espacial. Porque nele está condensada a realidade
presente, que pode ser examinada, é nela que professores e estudantes vivem sua
experiência, da qual nascem as perguntas e permitem a produção de sua objetivação, para
alcançar o objetivo de produzir a sua análise. Na pesquisa já realizada 3 foi possível analisar
como a cidade é o lugar onde acontece a experiência e como ela se transforma em
conhecimento (MIRANDA, 2017).
A proposta analítica é fazer aparecer múltiplas determinações do espaço da cidade, da
dimensão física, lida nos objetos materiais, e também compreender a complexidade
relacional entre as pessoas e os grupos sociais e suas relações políticas e culturais que
fundamentam a história aos quais elas pertencem. Entendemos o espaço urbano como
produto de uma ação complexa de produção contínua, o que exige, para sua análise, a
compreensão de toda ação dos diferentes atores urbanos para que se possa educar à luz de
um pensamento que valoriza as condições de existência, quer sejam físicas, químicas ou
sociais e históricas.
Eixo 2 - Conectividade técnica e interação social
Sabemos como a inovação tecnológica produz transformação na relação espaço-temporal, e
produz um meio técnico científico informacional (SANTOS, 1994) em que se condensa uma
dimensão vital e outra virtual (EGLER, 2012), e exige uma análise que observa, analisa e
defina sua dimensão física e social. Permite a transversalidades entre as diferentes esferas
econômica, política e social, tem a capacidade de unificar tudo numa mesma totalidade e
transforma a relação da escola com a cidade.
3 Egler, Tamara. “Políticas públicas e tecnologia na educação”, projeto de pesquisa premiado no edital OBEDUC, 2010; e Egler, Tamara. “Política e interação social na educação”, projeto de pesquisa premiado no edital OBEDUC, 2012.
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A escola tradicional está altista e cega, por não observar a realidade do mundo; focada no
conhecimento teórico em sala de aula, observa apenas para dentro dos muros da escola,
desconhecendo as possibilidades de interação com outros atores que estão no bairro, da
cidade, do país e do mundo.
O grande desafio dos professores em sala de aula, na atualidade, é trabalhar a mediação dos
conhecimentos com estudantes já familiarizados com a Tecnologia Digital de Informação e
Comunicação (TDIC). Porém, só a simples apreensão dos recursos tecnológicos pelos
professores em sua formação, não implicará em resultados positivos e inovadores durante a
prática docente. Somente com o desenvolvimento de um método que ensina a pensar será
possível alcançar a transformação do processo de ensino/aprendizagem no contexto da
sociedade da informação e comunicação.
Para analisar o lugar da inovação na educação, podemos examinar duas dimensões, a
primeira está associa a conectividade e acessibilidade à informação e a segunda está
associada a comunicabilidade, pela potencialidade de colocar em comum. Para examinar a
primeira, o acesso à informação liberta o pensamento, e a capacidade de produzir e
subjetivar o conhecimento. Na segunda dimensão, está associada à possibilidade de fazer a
interação social com outros atores, para além de professores, funcionários e pais. Por isso e
importante observar o potencial da TICs, para produzir redes sociotecnicas, elas ampliam a
capacidade de colocar em comum os atores urbanos que podem participar da rede.
Informática na educação
Na primeira dimensão, é necessário observar como a técnica cumpre a função da memória,
liberta o cérebro para o pensamento. Se o pensamento antecede e sucede o conhecimento,
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é nossa responsabilidade libertar o pensamento para produzir conhecimento, e permitir a
subjetivação do conhecimento pela objetivação da realidade. O mundo mudou, a técnica
informática abre caminho para acessar a informação depositada em bancos de dados na
Internet. Já não se trata de reproduzir teorias; importa é acessar e decodificar a informação,
e através do método produzir uma análise que deriva em conhecimento.
Para examinar seu efeitos podemos identificar a invenção de tecnologias de banco de dados,
em que se permite uma alta conectividade e acessibilidade à informação. A tecnologia da
imagem digital disponibiliza para professores e estudantes ferramentas tecnológicas, para
criar formas nunca antes imaginadas de representação do conhecimento. Permite a
apropriação da tecnologia de produção e difusão do conhecimento por textos imagéticos.
Os conteúdos desenvolvidos por professores podem ser disponibilizadas em banco de dados,
e os motores de busca permitem a sua acessibilidade à informação, e as memórias
organizam a documentação. São muitos os programas e vídeos produzidos, que podem ser
usados pelos professores que participam do campo da educação básica.
Por isso é preciso considerar que os estudantes podem e devem conhecer conteúdos para
além das disciplinas tradicionais que fazem parte dos currículos. A produção do
conhecimento na sociedade é muito ampla e necessita ser reconhecida dentro das escolas.
Trata-se de criar condições favoráveis para realizar a proposta de incluir na educação as
potencialidades dadas pelas TICs.
Rede na cidade
Na segunda dimensão se permite a transversalidade entre os espaços da cidade e a inclusão
de profissionais, empresários, produtores de cultura que podem e devem participar do
ensino/aprendizagem. Esse é o nosso objetivo revelar como a rede é uma organização social
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que define os membros que participam do campo. Elas podem ser vitais e virtuais, ou as
duas ao mesmo tempo.
Sabemos que as redes existem antes da Internet, foi Norbert Elias, quando escrevia em 1939,
quando identificou as relações sociais em rede. Ele revela como as redes são grupos sociais
que fazem a mediação entre indivíduo e sociedade. Existem em todo Campo, foi Lalita Kraus
(2016), quem analisou a Rede de educação do semiárido brasileiro, formada por gestores,
professores, estudantes e pais para analisar sua importante participação no desenvolvimento
da região. Em que os processos de comunicação se fazem por práticas tradicionais, como
jornal impresso, cartilhas, seminários, encontros.
Se a experiência é a fonte do conhecimento, podemos ensinar a teoria dos conjuntos em um
supermercado; a química na cozinha, a física nos passeios da cidade. Trata-se de ensinar
fazendo, as TICs, pela sua conectividade, podem derrubar os muros da escola para abrir
portas aos outros, e levar adiante a tarefa de formar rede de educação.
A rede sociotecnica possibilita a emergência de um espaço de comunicação virtual de todos
para todos – formas de conectividade que permitem que a qualquer momento possamos
nos conectar a qualquer pessoa ou a um banco de dados. O significado de Campo proposto
por Bourdieu (1998; 2005) está em relação ao pertencimento a um grupo social que tem um
modo compartilhado de pensar, ser e agir. As redes são coletivos que se organizam em torno
de sentidos de compartilhamento, colaboração e solidariedade, e em torno de um objeto
comum de ação.
Quer dizer, redes e campos podem ser aplicados no mesmo objeto. A rede é o fato concreto
e pertence ao objeto empírico; e campo é categoria, pertence ao objeto teórico. Essa é a
espinha dorsal da pesquisa realizada (EGLER; 2017) A inovação está na compreensão que
considera a importância de usar as TICs para fazer redes.
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Por isso a importância do contexto espacial. Porque nele está condensada a realidade
presente, quando professores e estudantes vivem sua experiência, da qual nascem as
perguntas e permitem a produção de sua objetivação para fazer sua análise. Na pesquisa já
realizada4 foi possível analisar como a cidade é o lugar onde acontece a experiência e como
ela se transforma em conhecimento (MIRANDA, 2015; PÁDUA, 2014).
A proposta analítica é fazer aparecer múltiplas determinações do espaço da cidade, da
dimensão física, lida nos objetos materiais, e também compreender a complexidade
relacional entre as pessoas e os grupos sociais e suas relações políticas e culturais que
fundamentam a história aos quais elas pertencem. Entendemos o espaço urbano como
produto de uma ação complexa de produção contínua, o que exige, para sua análise, a
compreensão de toda ação dos diferentes atores urbanos para que se possa educar à luz de
um pensamento que valoriza as condições de existência, quer sejam físicas, sociais ou
históricas.
O objetivo do presente artigo é fazer a associação entre o método e a técnica da educação na
cidade. Por um lado, compreender que podemos ensinar uma gramática sociológica para
amparar o pensamento à fazer a análise dos objetos. E por outro lado, podemos usar a
informática para ampliar as possibilidades de acessar a informação, produzir, transmitir e
difundir o conhecimento produzido no Campo. Método e técnica são dois elementos de uma
mesma totalidade inseparável.
4 Egler, Tamara. “Políticas públicas e tecnologia na educação”, projeto de pesquisa premiado no edital OBEDUC, 2010; e Egler, Tamara. “Política e interação social na educação”, projeto de pesquisa premiado no edital OBEDUC, 2012.
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