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Cervicalgia Comum e Nevralgia Cervico-Braquial
26/01/2013Publicado por: Murilo De MarcoCategoria: Fisioterapias
J.M. VITAL; et al. Cervicalgia comum e nevralgias cervicobraquiais. Rhumatologie Orthopédie 1, 2004, pág. 196-217.
Os nervos raquidianos são constituídos pela união das raízes anteriores motoras e posteriores sensitivas, sendo que as primeiras saem da região lateral ventral da medula e as segundas da região lateral dorsal. A dura-máter envolve estas duas raízes e se prolonga pelo epineuro a partir do gânglio espinal. As raízes e nervosraquidianos passam juntamente com o plexo venoso pelo forame intervertebral, e assim são envolvidas por estruturas osteo-articulares que podem constituir elementos compressivos.
Os ramos anteriores dos nervos cervicais constituem os plexos (que são conjuntos de nervos que saem da coluna): os quatro primeiros constituem o plexo cervical, os quatro últimos juntamente com o ramo anterior do primeiro nervo raquidiano torácico, o plexo braquial. Eles têm um território sensitivo e motor clássico sobre oqual temos na clínica as nevralgias cervicobraquiais (dores oriundas da coluna cervical que irradiam para o membro superior). Os ramos posteriores dos oito nervos cervicais asseguram a inervação do conjunto da região posterior do pescoço.
A coluna cervical é uma região rica em captores proprioceptivos que têm um papel importante na regulação do tônus muscular e dos reflexos posturais. Toda lesão articular ao nível cervical, seja qual for a causa, provoca uma contratura geradora de dor.
Na abordagem diagnóstica das cervicalgias o exame clínico é precedido de um interrogatório rigoroso, pois ele trás elementos essenciais do diagnóstico: Idade, profissão, atividades físicas habituais, antecedentes cervicais e gerais, história familiar, as circunstâncias do aparecimento da dor, suas características e localização; ossintomas associados (cefaleia, irradiação para os membros superiores), etc.
Dentro do Método Busquet procuramos não valorizar a idade do paciente, pois não a consideramos um fator gerador de disfunções como é feito em outras abordagens. O mais importante é o grau de tensões e a capacidade que o corpo do paciente tem de se adaptar frente a estas. Em relação as atividades físicas e laborais tambémguardamos certas ressalvas, pois muitas vezes, a dor aparece durante estas atividades porque o corpo do paciente não está preparado para executá-las, ou seja, possui tensões (superprogramações) que o impedem de funcionar livremente.
Ainda sobre a avaliação, o artigo relata que o exame clínico não é limitado somente a coluna cervical e deve se estender as regiões vizinhas: o crânio, a coluna dorsal, a cintura escapular e os membros superiores. Além disso uma análise estática deve ser realizada para definir o tipo morfológico e possíveis alterações.
O exame geral completo é orientado em uma análise loco regional, stomatológica (disfunções da ATM), vascular, ganglionar, pulmonar e visceral completa.
A realização de uma avaliação completa é extremamente importante. No Método Busquet, seja nas cervicalgias ou em qualquer disfunção, nossa avaliação envolve todo o corpo, incluindo a pelve, o sistema visceral e o crânio. As cadeias musculares são continuas da cabeça aos pés e a cadeia visceral (que está em íntimo contatocom o sistema muscular) se estende da pelve até a cavidade oral. Assim, se faz necessário que a avaliação seja global, pois tensões que se encontram a distância da coluna cervical podem ser a verdadeira causa de suas disfunções. Fato este que é muito comum em casos crônicos (quando não houve um trauma diretamente sobre olocal da dor), onde a causa do problema está longe do local da dor.
As cervicalgias comuns são divididas de acordo com suas formas clínicas: sintomáticas, etiológicas, topográficas e formas complicadas.
As formas etiológicas são difíceis de afirmar pois a relação causa e efeito não é sempre evidente. As anomalias radiográficas não são sempre concordantes com a clínica e mais de 50% dos pacientes com imagens de lesões degenerativas não têm dor cervical.
Nas formas topográficas encontram-se as nevralgias cervicobraquiais, cefaleias cervicais, e as cervicodorsalgias. Em um bom número de casos, as manifestações braquiais são projetadas e referidas com um trajeto que caracteriza tenomialgias de uma síndrome articular. Por exemplo, síndrome articular C4-C5 gera tenomialgias noombro, no nível C5-C6 nos músculos epicondilianos laterais e C6-C7 nos epicondilianos mediais.
As cervicodorsalgias estão ligadas a musculatura comum cervicodorsal pelo trapézio e os músculos profundos que sobem até C3. A dor interescapular bilateral é frequentemente muscular ao nível do trapézio inferior. Unilateral, é mais exatamente uma mialgia referida do nível articular C4-C5. O nível C7-T1 gera uma dorinterescapular unilateral com contratura da musculatura profunda.
Dentre as formas complicadas encontra-se a síndrome de insuficiência vértebro-basilar, que é ligada mais frequentemente a lesões arteriais isquêmicas, mas podendo também ser devido a um estiramento arterial a nível de C1 ou a uma compressão osteofitosa mais baixa.
Em relação ao tratamento das cervicalgias comuns têm-se duas classificações: tratamento sintomático e tratamento de fundo. Dentro do tratamento sintomático encontramos a acupuntura (que é mais eficaz sobre as dores recentes do que nas dores crônicas), a fisioterapia aquática, a eletroterapia, a massagem em suas variadasformas para liberar contraturas e pontos gatilhos e a tração mecânica. Sobre as manipulações, elas são indicadas nos casos subagudos e mostram-se pouco eficientes nos casos artrósicos crônicos.
Em relação ao tratamento de fundo o autor cita a reeducação da mobilidade (através de mobilização passiva e ativa), a reeducação muscular (através de exercícios óculo-motores e exercícios de fortalecimento, entre outros), reeducação global (através de exercícios de correção postural cervical ativa associados a respiração), orelaxamento (utilizado em casos de cervicalgia musculares tensionais e na fibromialgia, onde o fortalecimento não é bem tolerado) e por fim, como prevenção de recidivas o autor ressalta a necessidade de exercícios musculares periódicos e o cuidado com a postura cervical durante as atividades laborais e de lazer.
As nevralgias cervicobraquiais são definidas como dores que nascem no pescoço e irradiam para o membro superior. Elas correspondem frequentemente a uma compressão de um nervo raquidiano ou de suas raízes.
Sobre o tratamento das cervicobraquialgias os autores indicam na fase aguda: imobilização com colete por 23\\24hs, trações manuais axiais e sobretudo mecânicas; fisioterapia utilizando calor superficial e profundo, gelo e massagens. As manipulações são objeto de controvérsia no tratamento, elas são contra indicadas quandoexistir a presença de sinais radiculares ou vértebro-basilares.
Em fase não aguda, terapêuticas mais ativas são indicadas: exercícios isométricos do pescoço, costas e ombros; relaxamento, exercícios aeróbicos gerais e ainda uma reeducação dos cuidados com a coluna cervical.
Os tratamentos propostos pelos autores para a cervicalgia comum como para a cervicobraquialgia são simplistas e pouco coerentes. Eletroterapia, massagem, relaxamento, liberação de pontos gatilhos e tração, com certeza tem efeitos positivos e podem dar alívio momentâneo dos sintomas. Porém, além de serem tratamentosfocados apenas sobre o local da dor são abordagens que vão contra a lógica de instalação da disfunção. O conflito biomecânico responsável pelos sintomas não será resolvido e a chance de recidiva é bastante grande.
Na prática clínica observamos que a mecânica cervical pode ser prejudicada por tensões oriundas do crânio, do abdome, da garganta, do tórax e até da pelve. Ou seja, existem inúmeros caminhos de instalação de uma disfunção cervical e por isso, cada paciente deve ser avaliado e tratado globalmente, mas dentro de sua lógicaespecífica de superprogramações.
A análise da anatomia e da fisiologia nos mostra que todos os sistemas trabalham de maneira interligada, assim, uma abordagem fisioterapêutica inteligente deve ser guiada por um raciocínio lógico integrativo e não segmentado. Quando este raciocínio é aplicado, o tratamento deixa de ser sintomático e localizado apenas sobre olocal da dor, e passa a agir diretamente sobre a causa da disfunção do paciente. Como consequência, os resultados aparecem mais rápido e a melhora é duradoura.
Murilo De Marco
Professor Assistente da Formação Busquet
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