Metalurgia física dos aços Inoxidáveis

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1 Parte I: METALURGIA FSICA DOS AOS INOXIDVEIS I.1. INTRODUO Osaosinoxidveispodemserdefinidoscomosendoligasferrosascomteorde cromo igual ou superior a 12% (em peso) e com teor de carbono limitado. O cromo o elemento que confereresistncia corrosoaoao inox,pois, na presenade oxignio, forma uma camada superficial muito fina, aderente e protetora, de xido de cromo (Cr2O3). Omecanismodeproteodoaoinoxidvelporessapelculadexidochamadode passivao. Os elementos molibdnio, nquel e nitrognio, dissolvidos em soluo slida, expandem a faixa de passividade e tornam o inox mais resistente corroso.Ensaiosempricosdeterminaramqueoaadiode12%Crsligasferrosasas tornaimunescorrosoatmosfrica.Emteoresiguaisousuperioresa24%,ocromo tambmconfereexcelenteresistnciaoxidaoemaltastemperaturas.precisodizer que estes ensaios foram realizados em ambientes de baixa agressividade.Consiste em grave erro pensar que os aos inoxidveis so imunes a todos os tipos decorroso.Sobcertascondiesseverasdeservio(meiosagressivos,temperaturas elevadas, presena de tenses trativas, etc.), o filme de cromo pode ser dissolvido ou se romper localmente e no mais se reconstituir. Alguns tipos de corroso que podem ocorrer nos aos inoxidveis so enumerados a seguir: -Corroso generalizada ou uniforme quando o filme de xido de cromo uniformemente dissolvido em um meio agressivo; -Corroso localizada: 2 -Corrosoporpitesformaodepequenospontos(pites)de corroso no material (figura 1); -Corrosoem frestas ou corrosopor crvice ocorreem arestas, junesrebitadasouaparafusadasejuntassoldadassem penetraototal(figuras2(a-b)).Acorrosoporcrvicenosaos inoxidveisocorredevidoformaodeumapilhade concentrao. A regio interna da fresta fica em contacto com uma maior concentrao de ons, deixando a regio na mais externa da fresta preferencialmente andica; -Corrososobtensotipodecorrosoemqueomaterialsofre quando est em um meio agressivo e submetido a tenses trativas; -Corroso intergranular o filme de xido de cromo interrompido na regio do contorno de gro, por motivo que veremos mais tarde. Figura 1: Corroso por pites em ao inoxidvel AISI 304. 3 Figura 2: Exemplos de corroso por frestas: (a) Junta aparafusada, mostrando o local preferencial para corroso; (b) junta soldada sem penetrao total. Opercentualdecarbononosaosinoxidveisdeveserlimitado,umavezqueo carbonocombina-sefacilmentecomocromo,retirando-odesoluoslidaparaformar carbonetos.Dessaformaocarbonotorna-seumelementoprejudicialresistncia corrosodoaoinox.Osaosinoxidveismartensticossoosquecontmteorde carbonomaiselevado(at1,5%,dependendodotipo)eso,porisso,afamliaque apresenta a menor resistncia corroso dentre os inox. Recentemente, aos inoxidveis supermartensticos,contendobaixosteoresdecarbonoeadiesdeNieMo,com melhores resistncias corroso, tm sido desenvolvidos Acabamento superficial e tratamentos de passivao Oacabamentodasuperfcieumdosfatoresimportantesparaaresistncia corrosodosprodutosdeaoinoxidvel.Ofilmepassivodexidodecromo,mesmo existindo,noadquireboauniformidadeemregiescomdefeitosdesuperfcieaberta 4 (arranhes, esfoliao,...). Quanto menor a rugosidade superficial mais uniforme o filme passivo formado e mais nobre o produto. Emregiescontaminadascomferroouaocarbonoofilmeprotetortambm heterogneo.Sonessasregiescontaminadasquenormalmentecomeamos problemas de corroso. A contaminao pode ser conseqncia da utilizao de linhas de fabricaocompartilhadasentreaosinoxidveiseaoscomuns,oumesmodevidoa processosdefabricaoutilizandoferramentasdeoutrostiposdeaonoambiente industrial.Oschamadostratamentosdepassivaosotratamentosqumicosquetm como principal objetivo limpar e eliminar a contaminao existente na superfcie dos aos inox,criandoascondiesparaodesenvolvimentodeumacamadapassivantebastante uniforme.Paraaosaustenticos(srie300)eferrticoscom%Cr17%utiliza-seuma soluodecidontricoa20%,aumatemperaturanafaixade50-60oC.Nosaos inoxidveis martensticos utilizada uma soluo de cido ntrico a 20% com dicromato de sdio (2%), na faixa de 50-60oC, ou, alternativamente, uma soluo de cido ntrico a 50% na mesma temperatura. O tempo de tratamento gira em torno de 30 minutos. Tipos de aos inoxidveis: Os principais tipos de aos inoxidveis so: -Martensticos -Ferrticos -Austenticos -Duplex (austeno-ferrticos) 5 -Aos inoxidveis de transformao controlada -Ligasaustenticasfundidasdealtonquelealtocromoparaaltas temperaturas (aos das sries HK e HP) Elementos Ferritizantes x Elementos Austenitizantes Os elementos de liga frequentemente adicionados nos aos inoxidveis podem ser divididosemaustenitizantes(ampliamocampoaustenticonodiagramadefases)e ferritizantes (ampliam o campo de estabilidade da ferrita). Austenitizantes Ferritizantes C, N, Ni,Cr, Mo, Si, Nb X Mn, Co,CuAl, W, Ti Diagrama Fe-Cr e a Influncia do Carbono Umdosdiagramasmaisimportantesparaoestudodosaosinoxidveiso diagramaFe-Cr,mostradonafigura3.Nestediagramapodemserressaltadasduas caractersticasimportantes:alupaaustentica(campodeestabilidadedaaustenita)eo 6 campo de estabilidade da fase sigma (), um composto rico em cromo, muito duro e frgil, que pode ocorrer nos inoxidveis ferrticos e austenticos mais ricos em cromo. Figura 3: Diagrama Fe-Cr. (fonte: Chiaverini [1]). A adio de carbono ao sistema Fe-Cr provoca a ampliao do campo austentico. Esse efeito mais pronunciado no intervalo de 0 a 0,6%C. Na figura 4 so comparados os camposaustenticosemcarbonoecomadiode0,6%C.Afigura5mostraoefeito gradativo da adio de carbono at 0,4%. Alm do aumento da lupa austentica o carbono tambmprovocaosurgimentodecamposdeestabilidadedecarbonetosdecromono diagrama, tais como Cr3C, Cr23C6 e Cr7C3 (K1, K2eK3,

respectivamente). A formao de 7 carbonetos de cromo, especialmente do tipo Cr23C6, provoca o empobrecimento localizado de Cr na matriz e a conseqente perda de resistncia corroso. Esse problema pode ser encontradonosaosferrticos,martensticos,austenticoseduplex,conformeveremos, quandosubmetidosadiferentesfaixasdetemperatura.Oleitordeveselembrarneste momentoqueadefiniodeaoinoxidvelapresentadanoinciodestecaptuloincluio termocarbonolimitado.Parailustraraimportnciadestedetalhepodemoscitaro exemplo do ao feramenta ASTM D2, que contm cerca de 12%Cr, mas, por conter 2%C, noclassificadocomoaoinoxidvel.Aestruturadesteao,noestadotemperadoe revenido, contm carbonetos grosseiros de cromo que conferem resistncia ao desgaste, mas diminuem a resistncia corroso do ao porque retiram o cromo de soluo slida. Figura 4: Efeito do carbono em aumentar o campo austentico (adaptado de Columbier [2]). 8 Figura 5: Influncia do %C no diagrama Fe-Cr: (a) %C = 0,05% (b) %C = 0,10% (c) %C = 0,20% (d) %C = 0,4% (Fonte: Columbier [2]). 9 I.2. AOS INOXIDVEIS MARTENSTICOS Osaosinoxidveismartensticospossuemcomposioqumicabalanceada,de modo a serem austenticos por volta de 1000oC 1100oC. Contendo pelo menos 12%Cr e %C0.1%,essesaospossuemboatemperabilidade.Noresfriamentoaoleo,eat mesmo ao ar, a austenita no se transforma em ferrita. O ao se transforma em martensita quando cruza as temperaturas Mi e Mf, que devem estar acima da temperatura ambiente. Figura6: Diagramas esquemticos, mostrando como um ao 13%Cr-0,2C martenstico na temperatura ambiente (adaptado de Colombier e Hochmann [2]). Paraseentenderadiferenaentreosaosferrticoseosmartensticospreciso entenderodiagramaFe-Creainflunciacrucialqueocarbonoexercesobreele.O 10 carbono, como elemento austenitizante, aumenta a lupa austentica desde que adicionado em teores at 0,60%. Assim, observando-se a figura 5, um ao com 0,10%C pode ter no mximo 13%Cr para garantir uma estrutura austentica a cerca de 1050oC e martenstica no resfriamento. Por outro lado, um ao de mais alto carbono (0,4% por exemplo) pode ter um teor de cromo um pouco mais alto (cerca de 16%), que ainda assim ser martenstico aps o resfriamento. importante que se aumente o teor de cromo ao se aumentar o teor decarbonodoao,poisquantomaisaltoocarbonomenoraresistnciacorroso. Entretanto, h um limite para o teor de cromo, imposto pelas prprias fronteiras do campo austentco no diagrama Fe-Cr, para o teor de carbono considerado. AtabelaImostraascomposiesdosprincipaisgrauscomerciaisdeaos inoxidveis martensticos. Tabela I: Composies qumicas dos principais graus de aos inoxidveis martensticos. Tipo (AISI)%C%Cr%Mn%Si%Mo%Ni 4100,15 mx.11,5 13,51,0 mx.1,0 mx.-- 420> 0,1512 141,0 mx.1,0 mx.-- 440A0,60 0,7516 181,0 mx.1,0 mx.0,75- 440B0,75 0,9516 181,0 mx.1,0 mx.0,75- 440C0,95 1,2016 -181,0 mx.1,0 mx.0,75- 4310,20 mx.15 -171,0 mx.1,0 mx.-1,25 2,5 Seguindopelatabela,doaoinox410ao440C,nota-sequeoteordecarbono aumentaecomissoaumentamaresistnciamecnicaeatemperabilidade.Poroutro lado,aresistnciacorrosodiminuiquandoseaumentaoteordecarbono,apesardo aumento proposital do teor de cromo. 11 Agrandemaioriadosaosinoxmartensticosnocontmnquel,poisesteum elementocaroe,conformevisto,elenonecessrioparagarantiraestrutura martenstica. H, entretanto, um pequeno subgrupo de aos martensticos em que o nquel usado em substituio parcial ao carbono para garantir a estrutura austentica a 1050oC. O teor de nquel adicionado no deve exceder certos limites (digamos 3 a 4%), de modo a no colocar a temperatura Mf abaixo da temperatura ambiente.Os aos martensticos ao nqueltmmelhorresistnciacorrosodoqueosdemais,poistmumarelao %Cr/%C alta, enquanto a estrutura martenstica garantida pelo nquel, elemento que no diminuiaresistnciacorroso.UmexemplotpicodestetipodeaooinoxAISI431 apresentado na tabela I. Asprincipaiscaractersticasdosaosinoxidveismartensticossoaelevada resistnciamecnica,obaixocusto,abaixaresistnciacorrosoeaconformabilidade plsticaafriolimitada.Obviamente,estassocaractersticasgenricasqueseverificam na comparao com as demais famlias de aos inox. Dentro da famlia dos martensticos, entretanto,essascaractersticaspodemmudardeacordocomacomposioqumicae com o tratamento realizado. Tratamentos Trmicos Recozimentoparausinagem:Quandosedesejaprepararomaterialpara usinagemdeve-serealizarumrecozimentoparaproduzirumaestruturadeferritacom carbonetosgrosseiroseesferoidizados.Hpelomenostrstiposderecozimentoque podemseraplicadosemaosinoxmartensticos:(1)recozimentosubcrtico: 12 aquecimentonafaixade650-750oC;(2)recozimentopleno:aquecimentoat850oC seguidoderesfriamentolentonofornoat600oCeresfriamentoaoarapartirdesta temperaturae (3) recozimento isotrmico: aquecimento at cerca de 850oC seguido de resfriamentolentoat700oCepermanncianestatemperaturaporcercade4horas.Estes dois ltimos tratamentos fornecem durezas mais baixas do que o primeiro (na faixa de HRB75 a HRC25, dependendo do ao). Tmpera: A temperatura ideal de tmperavaria deaoparaao, mas situa-sena faixade950a1200oC.AtabelaIIapresentaosvaloresrecomendadospelanorma brasileira NBR 6214 [3]. Tabela II: Faixas de temperatura recomendadas para tmpera de aos inoxidveis martensticos (norma NBR 6214 [3]). Tipo (classificao AISI)Temperatura de tmpera (oC) 410930 1010oC 420980 1040oC 440 A1010 1065oC 440 B1010 1065oC 440 C1010 1065oC 431980 1065oC Atemperaturadetmperaselecionadaparafornecerdurezamximaao produtotemperado.Autilizaodetemperaturassuperioressdafaixaindicadapodem provocar o crescimento excessivo do gro austentico e tambm o aparecimento de ferrita delta, o que faz a dureza cair. Por outro lado, temperaturas inferiores s especificadas no 13 sosuficientesparahomogeneizaramicroestruturaedissolveraquantidademximade carbonetos que esto presentes no material recozido. Recomenda-seoaquecimento lento ata temperaturade tmpera para se evitar tensestrmicaseotrincamentodomaterial.Peasdegrandeseodevemserpr-aquecidascercade700oCedepoislevadastemperaturadetmpera.Otempode encharqueumavarivelimportante,quedependemuitotamanhodapea.Segundoa normaNBR6214(TratamentosTrmicosdeAosInoxidveis)otempodeencharque deveserde3a5minutospor2,5mmdeespessuradaseo.Omeioderesfriamento pode ser o leo ou o ar, sendo este ltimo mais utilizado em peas pequenas. Revenido:Orevenidodosaosinoxidveismartensticospodeserfeitonas seguintes faixas de temperatura: -200 350oC, quando se desejar elevada resistncia mecnica; ou -600700oC,quandosedesejarelevadasductilidadeetenacidade,em detrimento da dureza e resistncia mecnica. O revenido na faixa de 400 e 600oC no deve ser realizado por que provoca perdaacentuadaderesistnciacorrosoequedadatenacidade(fragilidadedo revenido).Aperdaderesistnciacorrosoobviamenteassociadaprecipitaode carbonetos,quetornaamatrizempobrecidaemcromo.Emboraaprecipitaode carbonetosfinosjaconteanasbaixastemperaturasderevenido(250-350oC),a precipitaodecarbonetosmaisricosemcromo(Cr23C6)ssignificativamenteocorrea partirde400oC.Obviamente,essescarbonetosestopresentestambmnorevenidoa 600o-700oC(fig.7).Entretanto,nessafaixadetemperaturasocromopodedifundirna matriz e eliminar os gradientes de composio e, dessa forma, restituir a boa resistncia 14 corroso do ao. Isto valido para os aos AISI 410, 420 e 431. Nos aos 440 (A, B e C), devidorelaoCr/Cmuitobaixa,afaixasuperiordetemperaturasderevenido(600 700oC) no recomendada. Figura 7: Microestrutura do ao inox AISI 420 revenido a 650oC. Mecanismos de Aumento da Resistncia dos Aos Inox Martensticos Endurecimento Secundrio: Algumas mudanas na composio qumica tm sido propostas na literatura e adotadas pelos fabricantes com o intuito de aumentar ainda mais a resistncia mecnica dos aos inox martensticos. A adio dos elementos molibdnio e vandio,porexemplo,feitacomointuitodeprovocaroendurecimentosecundrio duranteo revenido. Este fenmeno sedeve precipitaode carbonetos e carbonitretos 15 finosdotipoM2X(estequiometria(Cr,Mo,V)2(C,N)).Comaadiodemolibdnioou vandioessesprecipitados,queefetivamenteendurecem,tornam-semaisestveisea sua substituio por carbonetos mais grosseiros do tipo M23C6 retardada. Isso provoca o o endurecimento secundrio,tal como mostrado nas figura 8 paraadies demolibdnio at 3%. Figura 8: Efeito do molibdnio na curva de revenido de um inox martenstico com 12%Cr. (Fonte: Pickering [4] ). Uma intensificao do endurecimento secundrio, atribudo aos precipitados do tipo M2X, pode ser ainda conseguida adicionando-se nitrognio ao ao. 16 Aosinoxidveismartensticosendurecveisporprecipitao:Alguns elementos podem ser adicionados para provocar reaes de precipitao nos inoxidveis martensticos.Estaprecipitaodeveocorrernumtratamentodeenvelhecimento(ou revenido).Assim,podemsercitadasasadiesdeCu(3a4%),AlouTi.AtabelaIII apresentaalgunsgrauscomerciaisdessesaosmartensticosendurecveispor precipitao. Note-se que o teor de nquel desses aos mais elevado e que o carbono baixo, o que deve lhes garantir boa resistncia a corroso. Tabela III: Aos inoxidveis martensticos endurecveis por precipitao: Ao%C%Mn%Si%Cr%Ni%Mo%Al%Cu%Ti%Nb 17-4PH*0,040,300,6016,04,2--3,4-0,25 15-5PH*0,040,300,4015,04,2--3,4-0,25 Custom 450**0.030,250,2515,06,00,8-1,5-0,3 Stainless W***0,060,500,5016,756,25-0,2-0,8- * 17-4PH e 15-5PH so marcars registradas da Armco Steel Corporation. ** Custom 450 marca registrada da Carpenter Technology Corporation. *** Stainless W marca registrada da Unied States Steel Corporation. Outra opo de aumento de resistncia pela introduo de reaes de precipitao podeseraadiodeMoemteoresacimade3%.Nestecasodevesertambm adicionado Co que diminui a tendncia ferritizante sem abaixar Mi e Mf. Com o aumento do teordeMo,seuefeitodeendurecimentopassaasertambmdevidoformaodeum intermetlico do sistema Mo-Cr-Co (fase R), e no mais somente aos carbonitretos M2X. O envelhecimento, neste caso pode ser feito em temperaturas da ordem de 600 a 650oC. 17 Aosinoxidveissupermartensticos:Paramelhoraraspropriedadesmecnicas,a resistnciacorrosoesoldabilidadedosaosinoxidveismartensticosconvencionais, foram adicionados Ni e Mo, e reduzido drasticamente o teor de carbono. Dependendodotratamentotrmicooutermomecnico,amicroestruturapode conter, alm de martensita, quantidades minoritrias de austenita e ferrita (principalmente nos graus mais ligados ao Cr e Mo). A tabela IV apresenta trs das primeiras composies de aos supermartensticos experimentadas. Tabela IV: Aos inoxidveis supermartensticos. Osaossupermartensticossomaisbaratosepodemapresentarresistncia mecnica superior dos aos duplex e superduplex, no apresentando, porm, a mesma resistncia corroso destes. II.3. AOS INOXIDVEIS FERRTICOS A tabela V apresenta as composies qumicas dos principais graus comerciais de aos inoxidveis ferrticos. 18 Tabela V: Graus comerciais de aos ferrticos. Tipo%C (mx)%Si (mx)%Mn (mx)%Cr%Al%MoOutros 4050,081,01,011,5 - 14,50,1 0,3-- 4090,081,01,010,5 - 11,8--0,50%Ti, at 0,5%Ni 4300,121,01,016 - 18--- 430Ti0,121,01,016 - 18--0.50%Ti 430Nb0,121,01,016 - 18--0,50%Nb 4420,201,01,018 - 23--- 4440,0251,01,017,5 - 19,5-1,8 2,5At 1,0%Ni 4460,201,01,023 - 27--- Atporquepossuemumarelao%Cr/%Cmaior,osaosinoxidveisferrticos apresentammelhorresistnciacorrosodoqueosmartensticosemgeral.Neste quesito,emmuitassituaes,sotambmcomparveisoumesmosuperioresaosaos austenticos. A diminuio do teor de carbono, o aumento do teor de cromo e a adio de Mo aumentam a resistncia corroso dos aos inox ferrticos em diversos meios. Entretanto,osinoxidveisferrticostmcomoprincipaisdesvantagensemrelao aosaustenticosamaisbaixasductilidadeetenacidadeeassriasdificuldades encontradas nos processos de soldagem. Essas caractersticas podem ser atribudas aos seguintes fenmenos de fragilizao: - Fragilizao a 475oC; - Fragilizao por fase sigma; - Crescimento de gros; - Sensitizao e fragilizao devido a elementos intersticiais. 19 Fenmenos de Fragilizao dos Aos Inox Ferrticos Fragilizao a 475oC: Este tipo de fragilizao ocorre devido precipitao de uma fase muito rica em cromo, que endurece e fragiliza o ao. De acordo com Grobner [5], a precipitaodeocorreporummecanismodenucleaoecrescimentonasligas contendomaisbaixoCr(14%a18%).Emligascommaisaltocromo(27%a39%)a precipitao de ocorre por decomposio spinoidal, ou seja, a ferrita se decompe em uma ferrita pobreeoutra ricaem cromo (), inicialmente sem interface definida entre as duas regies. O intervalo de formao de , embora dependa do teor de cromo, pode ser consideradocomosendonafaixade370oCa540oC,sendoacinticamaisrpidana temperaturade475oC.Emaoscom18%Cr,porexemplo,observou-se[5]quea fragilizao ocorre no intervalo de 371oC a 482oC. Com relao composio qumica, o aumento do teor de cromo, a presena de elementos intersticiais e dos elementos Mo e Ti aceleram a formao de . Fragilizao por fase sigma: Ocorre quando o ao ferrtico aquecido no intervalo de500a800oC.Nestafaixadetemperaturasforma-seafasesigma,umcomposto intermetlico ricoem cromo muitoduro e frgil. A figura 9 mostra em detalheos campos de estabilidade das fases e . 20 Fig. 9: Campos de estabilidade de e no diagrama Fe-Cr. (Fonte: Grobner [5] ). Um ao ferrtico que tenha sido fragilizado por fase sigma pode ser regenerado se fortratadoacercade850oC(50oCacimadafaixacrtica)eresfriadorapidamente.Mais uma vez, os aos de mais alto cromo so os mais susceptveis a esse tipo de fragilizao.Observa-se que a cintica de precipitao da fase sigma mais rpida do que a de formao de fase . Crescimento de Gros: Os aos inoxidveis ferrticos tm uma forte tendncia ao crescimentodegros,oquesedeveaofatodenoexperimentaremnenhuma transformao de fase no estado slido. As transformaes de fase do tipo ou P, queocorremnosaosaocarbonoebaixaligasomecanismosnaturaisderefinode 21 gro,vistoqueapartirdocontornodeumnicogroaustenticopodemsurgirvrios ncleosdeferritaeperlita.Osaosinoxidveisferrticosnodispemdestemecanismo natural de refino de gros, pois so ferrticos desde que se solidificam. Osfabricantesdeaosinoxidveisferrticoscostumamcontornaresteproblema, refinandoogroferrticoporprocessosdedeformaoerecristalizao.Almdisso, podemseradicionadosTie/ouNb,elementosformadoresdecarbonetosfinosque retardam o crescimento de gros. Por outro lado, na soldagem, o problema do crescimento de gros torna-se grave e dedifcilsoluo.NometaldesoldaenaZTAprximaaeleosgrosferrticoscrescem muito e a tenacidade fica proibitivamente baixa. As adies de Ti ou Nb no metal de base e no metal de adio e a utilizao de procedimentos especiais de soldagem so medidas que podem ser usadas para minimizar o problema, conforme ser visto posteriormente. Sensitizaoefragilizaodevidoaelementosintersticiais:Quandoumao inoxferrticograucomercialaquecidoemtemperaturassuperioresa900oC,ocorrea precipitaodecarbonetos,nitretosecarbonitretosdecromonoscontornosdosgros. Esse tipo de sensitizao provoca a fragilizao do material e pode torn-lo susceptvel corroso intergranular. O ao inoxidvel ferrtico sensitizado deve ser recozido na faixa de 650 a850oC,poisnestatemperaturaocromocapazdesedifundirnaestruturacccda ferritae,dessaforma,osgradientesdecomposioqumicasoeliminados.Entretanto, comoessetratamentonodissolveosprecipitadosintergranulares,oefeitofragilizante deles no eliminado.AadiodeNbouTiaosaosferrticos,almdeminimizaroproblemado crescimentodegros,tambmserveparaevitaracorrosointergranular.Entretanto,os 22 aosestabilizadosaoTipodemsersusceptveiscorrosoemmeiosoxidantes,nos quais os precipitados TiC e Ti(C,N) so atacados [4]. Alm do carbono e do nitrognio que se precipitam, outros elementos como o enxofreeoxigniopodemsesegregarnoscontornosdegroefragilizarosaosinox ferrticos.ColombiereHochmann[2]apresentamresultadosdetenacidadeondeumao purificadoavcuo,combaixssimosteoresdeelementosintersticiais,apresenta temperatura de transio dctil-frgil bem superior ao grau comercial. Existe, portanto, um consensoemafirmarqueapresenadeapenastraosdoselementosS,C,H,OeN, pode se constituir um fator agravante ao problema de baixa tenacidade dos aos ferrticos. Diantedisto,algunsfabricantesdesenvolveramrecentementeoschamadosaosELI (extralowintertitial)(%C