METALINGUAGEM, METALINGUÍSTICA
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É a utilização do código para falar dele mesmo: uma pessoa falando do ato de falar, outra escrevendo sobre o ato de escrever, palavras que explicam o significado de outra palavra. que ocorre quando o destaque é dado ao receptor. Suas principais características são: verbos no imperativo; verbos e pronomes na segunda ou terceira pessoas; tentativa de convencer o receptor a ter um determinado comportamento; presença predominante em textos de publicidade e propaganda.
É a função que ocorre quando o destaque é dado ao código. Numa situação em que um lingüista define a língua, observa-se que, para conceituar um termo do código, ele usou o próprio código, ou seja, definiu 'língua' usando a própria língua. Também ocorre metalinguagem quando o poeta, num texto qualquer, reflete sobre a criação poética; quando um cineasta cria um filme tematizando o próprio cinema; quando um programa de televisão enfoca o papel da televisão no grupo social; quando um desenhista de quadrinhos elabora quadrinhos sobre o próprio meio de comunicação, etc. Em todas as situações citadas, percebe-se o uso do código. O exemplo mais definitivo desse tipo de função são as aulas de gramática, os livros de gramática e os dicionários da língua. Ex.: Escrevo porque gosto de escrever. Ao passar as idéias para o papel, sinto-me realizada.
O que é função metalinguística?
A função metalinguística é centrada no código. Usa-se a própria linguagem para explicar a linguagem, ou seja, usa o código para explicar o próprio código - o caso dos dicionários. Há poemas que o poeta explica como ele o construiu - isso é também metalinguagem. Função comum nas propagandas, sinais de trânsito, etc. Por exemplo, a explicação do significado de um termo: - Por favor, o que significa a palavra search em inglês? - Search, em inglês, significa pesquisa.
Em resumo: Metalinguagem é o ato de dar uma explicação, seja ela qual for. Esta é a função metalinguística da linguagem - usar a linguagem para explicitar algo.
Tipos
Há uma variedade de metalinguagens reconhecidas, incluindo as “incorporadas”, “ordenadas” e
“aninhadas” (“hierárquicas”)
Uma metalinguagem incorporada, como o nome sugere, é uma linguagem integrada a uma
linguagem objeto. Ela ocorre tanto formalmente como naturalmente. Isto ocorre em linguagens
naturais ou informais, assim como — tal qual em português, onde adjetivos, advérbios, e
pronomes possessivos constituem uma metalinguagem incorporada; e onde substantivos,
verbos e, em alguns casos, adjetivos e provérbios, constituem uma linguagem objeto. Portanto,
o adjetivo ‘vermelho’ na frase ‘celeiro vermelho’ é parte de uma metalinguagem incorporada do
Português, é incorporada do substantivo ‘celeiro’, é parte da linguagem objeto. Neste exemplo,
‘corrida lenta’, o termo ‘corrida’ é parte da metalinguagem, o advérbio ‘lenta’ é parte da
linguagem objeto.
Uma metalinguagem ordenada é análoga a uma lógica não-comutativa. Um exemplo de
metalinguagem ordenada seria a construção de uma metalinguagem para falar sobre uma
linguagem objeto, seguida pela criação de uma outra metalinguagem para descrever a primeira
metalinguagem, e assim por diante.
Uma metalinguagem aninhada, ou hierárquica, é similar a uma metalinguagem ordenada no
aspecto que cada nível representa um maior grau de abstração. Contudo, uma linguagem
aninhada difere de uma ordenada, no facto de que, cada nível inclui um outro nível abaixo. O
exemplo paradigmático de uma linguagem aninhada vem da classificação científica de
Lineu em Biologia. Cada nível no sistema incorpora o nível que se encontra abaixo daquele. A
linguagem usada para descrever gênero também é usada para descrever espécie; a linguagem
que é usada para descrever Ordens é também usada para descrever gênero; e assim por
diante até que se chegue aos Reinos..
Significado de
Metalinguagem
s.f. Tipo de linguagem com que se procura interpretar e explicar qualquer outra linguagem. (A explicação verbal que alguém faz a outrem dos sinais com que se entendem os surdos-mudos é metalinguagem.)
obre Metalinguagem
Metalinguagem ocorre quando determinada linguagem, seja ela, por exemplo, escrita, visual ou sonora faz referência a si mesma ou a
outra linguagem. A palavra tratando a palavra, como no dicionário e na gramática, ou o poema tratando sobre a palavra, poesia; ou um
poeta escrevendo sobre o Poeta; uma ciência explicando a própria
ciência são exemplos de metalinguagem por excelência.
Abaixo há alguns exemplos de metalinguagem em que a pintura, a
fotografia, a palavra e alguns de seus agentes, como o pintor e o fotógrafo, fazem referências a si explícita ou implicitamente (como no
caso das mãos de Escher mais abaixo retratadas) e aos instrumentos
particulares de cada uma das artes em questão.
Observe as imagens abaixo e repare que em algumas delas há mais
de um elemento metalinguístico.
Poema "Código", de Augusto de Campos
Quadro de René Magritte
Autorretrato do fotógrafo Meren
Imagem publititária
Autorretrato do artista M. C. Escher
Gravura de Escher
Autorretrato do pintor Magritte
Quadro do pintor brasileiro Almeida Júnior, em que ele aparece ao fundo
Autorretrato do pintor Norman Rockwell
O que é Metalinguagem?
Por: hiper
A metalinguagem é um tipo de linguagem usada para descrever outra linguagem, é o
ponto onde a linguagem se transforma num objeto para descrever a si mesma. A
metalinguagem pode ser gramatica, mas também pode ter uma conotação mais livre como
a empregada na poesia em que os versos falam sobre o ato de escrever versos.
A metalinguagem pode inclusive ser considerada um estilo de escrever, por exemplo, pois
existem muitas formas de pratica-la. E mesmo sendo um conceito linguístico tão simples
de ser compreendido a metalinguagem possui três variantes. As três formas de se fazer
metalinguagem são incorporada, aninhada e ordenada.
A metalinguagem incorporada consiste em explicações contidas na própria linguagem,
muitas vezes não há a intenção de se fazer uma metalinguagem, porém, não há como
escapar. Um exemplo seria dizer que o cavalo X é marrom, o adjetivo marrom já constitui
uma metalinguagem no fato de exemplificar que o animal é marrom.
Já a metalinguagem aninhada é aquela que apresenta níveis acima e abaixo, um bom
exemplo é a classificação biológica dos seres vivos. Metalinguagem ordenada é criar uma
linguagem para falar de outra linguagem e esse processo de criação de metalinguagem
para explicar a linguagem anterior não tem fim.
Um exemplo de metalinguagem na poesia é:
1. Teus poemas, não os date nunca… Um poema
2. Não pertence ao Tempo… Em seu país estranho
3. Se existe hora, é sempre a hora extrema
4. Quando o anjo Azrael nos estende ao sedento
5. Lábio o cálice inextinguível…
6. Um poema é de sempre, Poeta:
7. O que tu fazes hoje é o mesmo poema.
(Mário Quintana).
Exemplos:
Vou pegar um exemplo dos quadrinhos. Metalinguagem é um recurso que "revela o truque" da
história rompendo com as convenções das mesmas. Por exemplo. o Chico Bento reclamar do
Maurício de Souza porque está chovendo bem no dia que ele tinha marcado im piquenique
com a Rosinha:
"Ara! sô Maurício! Não dava de desenhá um sorzinho aí não?"
Ou quando a Mónica bate no Cebolinha e ele "rasga" a linha do quadrinho e vai cair em uma
história de outro personagem, por exemplo.
A metalinguagem é uma subversão da linguagem tradicional, geralmente causando um
estranhamento que, em grande parte das vezes, pode ser associado com o humor.
Mesmo nas HQs "sérias" como as de super-heróis, o uso de metalinguagem acaba puxando
para o lado humorístico, foi assim na fase da Mulher-Hulk desenhada por John Byrne, e
também na fase humorística da Liga da Justiça que chegou a usar um pouco de
metalinguagem. A única excessão de metalinguagem em quadrinhos que não se tornou
exatamente humorística, mas maravilhosamente esquisita foi o Homem-Animal de Grant
Morrison, que termina com um super-herói que consegue vir até a nossa realidade para se
entender com o autor da trama que matou toda a sua família.
É uma das funções da linguagem : Falar sobre ela mesma.
Metalinguagem é a propriedade que tem a língua de voltar-se para si mesma, é a forma de
expressão dos dicionários e das gramáticas. O significado do termo, entretanto, ampliou-se e
hoje o encontramos associado aos vários tipos de linguagem. Uma música cujo tema seja o
próprio fazer musical terá empregado esse recurso. Quem não se lembra do conhecido
"Samba de uma Nota Só", de Newton Mendonça, imortalizado na voz de João Gilberto? Diz
ele: "Eis aqui este sambinha/ feito numa nota só/ outras notas vão entrar/ mas a base é uma
só", trecho entoado em uma nota só.
Outro exemplo, que posso te dar, é vc pegar e escrever um texto analisando uma obra literaria
qualquer, descrevendo-a completamente, como a linguagem é utilizada, o que o autor se
propôe, etc. Este texto que vc fez estaria usando uma metalinguagem.
Digamos, grosso modo, que a linguagem fala acerca do mundo. Dentro do mundo está a
própria linguagem. Ou seja, ela está contida no mundo, mas por outro lado, ela contém o
mundo. Esta ambivalência, o estar contida e o conter o mundo, permite-lhe debruçar-se sobre
si mesma. Quando isso acontece temos metalinguagem, linguagem acerca de linguagem. Do
mesmo modo podemos ter comunicação e metacomunicação. Em termos de funções da
linguagem, Jakobson falou da função metalinguística quando a mensagem incide no próprio
código. Jakobson expandiu as 3 funções de Buhler ( expressão, representação e apelo) em 6
funções, acrescentando as funções fática, poética e metalinguística, de acordo com a
proeminência dada a acada um dos 6 fatores da linguagem: referente, mensagem, emissor,
recetor, contato e código.
Metalinguagem producao.telabr - 08.10.2010
Parece complicado, mas não é não. Primeiro, vamos conhecer o que é LINGUAGEM. Linguagem é todo sistema usado pelo ser humano para comunicar (através de símbolos) idéias e/ou sentimentos para outros seres humanos. Já é comprovado que muitas espécies animais também fazem uso de alguma linguagem para se comunicar. Mas nenhuma delas se aproxima da multiplicidade e da sofisticação das linguagens humanas. Muitas formas de linguagem são usadas por nós: a fala, a escrita, o desenho, a escultura, a música, a dança, o teatro, o cinema, etc. Através dessas linguagens um ser humano é capaz de emocionar outro ser humano. Portanto, METALINGUAGEM é a linguagem que serve para descrever ou falar sobre outra linguagem ou sobre a PRÓPRIA linguagem. Vamos ver alguns exemplos, pra deixar isso mais claro.
Um exemplo clássico está na peça Hamlet, de William Shakespeare. Nesse caso, a metalinguagem consiste no uso de uma peça de teatro dentro da própria peça: existe uma trupe de teatro fazendo uma peça, a pedido do protagonista, dentro da peça Hamlet. Além disso, Shakespeare usa sua própria peça para refletir sobre como um ator deve se comportar em cena. Ou seja, Shakespeare fala sobre a linguagem teatral dentro da peça de teatro. Nas artes plásticas, os exemplos mais simples de metalinguagem são aqueles em que um pintor pinta um pintor pintando. Desenha um desenhista desenhando. Vamos dar uma olhada em alguns exemplos:
Maurits Cornelis Escher Jan Vermeer A música Samba de uma nota só, deTom Jobim eNewton Mendonça, fala sobre si mesma. Letra emelodia se combinam para criar a canção e refletir sobre o processo de construção da música dentro da própria música. Eis aqui este sambinha feito numa nota só. Outras notas vão entrar, mas a base é uma só. Já me utilizei de toda a escala e no final não sobrou nada, Não deu em nada. E voltei pra minha nota como eu volto pra você. Vou contar com uma nota como eu gosto de você. E quem quer todas as notas: ré, mi, fá, sol, lá, si, dó. Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só. E o cinema, claro, também utiliza a metalinguagem com bastante freqüência.
METALINGUAGEM Mais visitado A palavra metalinguagem, formada com o prefixo grego meta, que expressa as idéias
de comunidade ou participação, mistura ou intermediação e sucessão, designa a linguagem
que se debruça sobre si mesma. Por extensão, diz-se também: metadiscurso ,
metaliteratura, metapoema e metanarrativa .
Em seu estudo sobre as funções da linguagem, Roman Jakobson (1974) considera
função metalinguística quando a linguagem fala da linguagem, voltando-se para si mesma.
Tal função reenvia o código utilizado à língua e a seus elementos constitutivos. A gramática,
por exemplo, é um discurso essencialmente metalinguístico porque se trata do código
explicando o próprio código. Quando se faz análise sintática, faz-se uso dessa função.
Quando consultamos o dicionário para nos inteirarmos do significado da palavra
metalinguagem, estávamos nos valendo da função metalinguística, pois o dicionário é um
repertório de palavras sobre palavras, à disposição do falante, nativo ou não. É interessante
registrar, contudo, que o que parece ser uma mera lista de palavras no seu sentido
denotativo, mais corriqueiro e imediato, já contém potencialmente a múltipla carga de
significações e, conseqüentemente, de sedução da língua.
Mesmo no dia-a-dia, fazemos uso constante da função metalinguística sem, muitas
vezes, nos darmos conta disso. Ao interromper um falante para perguntar o significado de
uma palavra, estamos também nos utilizando desta função.
Mas há um conceito de metalinguagem mais específico e complexo porque envolve
um trabalho mais elaborado do código sobre o código. O cinema, os quadrinhos, a
propaganda, as artes plásticas e a própria literatura fazem amplo uso dessa função. Assim,
quando um escritor escreve um poema e discute o seu próprio fazer poético, explicitando
procedimentos utilizados em sua construção, ele está usando a metalinguagem.
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Cai, gota a gota, do coração.
E nestes versos de angústia rouca
Assim dos lábios a vida corre,
Deixando um acre sabor na boca.
Eu faço versos como quem morre.
(BANDEIRA, 1990, p.119)
O poeta, no ato mesmo de fazer o poema, expõe seu conceito de poesia, explicitando
sua função catártica, ou seja, aquela de meio de vazão dos sentimentos, de alívio mesmo de
sofrimentos. Fundem-se, em seus versos, a idéia de poema e vida e, paradoxalmente, a de
representação da morte. Registre-se que, no caso desse texto, o poeta não se distingue do
eu lírico, pois ele se declara o autor. Essa característica que dá ao verso um toque pessimista
pode ser considerada uma marca da poesia de Manoel Bandeira. Por outro lado, o eu
lírico/autor busca no poema transcrito a adesão do leitor visando a compreensão do código,
aqui visto no sentido mais específico de concepção do poema. É como se o poeta quisesse
fazer um pacto com seu leitor, dando-lhe uma chave do que entende por poesia naquele
momento. Este é o caso do poema Os meus versos, da poeta portuguesa Florbela Espanca:
Rasga estes versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!
Rasga-os na mente, se o souberes de cor,
Que volte ao nada o nada dum momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...
Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...
Rasga os meus versos...Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
não fosse o amor de toda a gente!...
(ESPANCA, 1987, p. 72)
O interlocutor expresso na poesia seria, num primeiro momento, o ser amado pelo eu
lírico, para, em seguida, tornar-se qualquer leitor que já tenha amado. É curioso observar
que a expressão “Pobre endoidecida”, no último terceto, opera uma ambigüidade em relação
ao eu que enuncia e ao receptor, pois pode ser vista como aposto ou como vocativo.
Como ressalta Décio Pignatari, vivemos uma infinidade de linguagens e o processo
metalinguístico é inerente ao trabalho criador:
A multiplicação e a multiplicidade de códigos e linguagens cria uma nova consciência
de linguagem, obrigando a contínuos cotejos entre eles, a contínuas operações
intersemióticas e, portanto, a uma visada metalinguística, mesmo no ato criativo, ou melhor,
principalmente nele, mediante processos de metalinguagem analógica, processos internos ao
ato criador. (PIGNATARI, 1974, p.79)
Drummond, no seu livro Farewell, publicado postumamente, toma como tema de
alguns poemas quadros famosos, apropriando-se inclusive de seus títulos. Assim fala de “O
Grito”, conhecido quadro de Edward Munch:
A natureza grita, apavorante.
Doem os ouvidos, dói o quadro.
(ANDRADE, 1996, p.30)
Note-se que o escritor escreve seu poema enquanto lê o quadro: sua escrita é,
simultaneamente, leitura intersemiótica uma vez que se trata de um poema voltado para um
outro código, no caso o pictórico.
Os processos metalinguísticos não são, porém, exclusivos da literatura. A
metalinguagem se faz presente muito freqüentemente nos filmes e na propaganda. Desde o
título, o filme “Cinema Paradiso” evidencia o procedimento metalinguístico uma vez que seu
enredo trata do próprio cinema. Na verdade, é um hino de amor ao cinema, que nos é
apresentado como um forte elo entre o velho operador Alfredo - responsável pela projeção
dos filmes - e Totó - seu ajudante e futuro cineasta. É interessante lembrar a cena final,
posterior à morte de Alfredo. Totó, já adulto, retornando à cidade para o enterro do amigo,
recebe uma lata com um filme feito por Alfredo com todos os beijos cortados pela censura na
ocasião da exibição das fitas. São “beijos de amor” ao cinema. Além disso, pode-se associar
a figura do Totó, enquanto cineasta, à do diretor do filme a que assistimos, contando sua
própria história. Vale a pena ver ainda, nesse mesmo sentido, filmes como A Rosa Púrpura
do Cairo e Tiros na Brodway, de Woody Allen, A mulher do tenente francês, de Karel Reisz,
Carmem, de Carlos Saura, A flor do meu segredo, de Almodóvar e muitos outros.
Nas artes plásticas, tal recurso pode ser observado, por exemplo, no famoso quadro
de Velázquez, “As meninas”, onde o pintor se retrata pintando o quadro. Num jogo de
olhares com o espectador, ele o traz para dentro do quadro, deslocando lugares instituídos.
É a pintura retratando o ato de pintar, uma maneira mesmo de se encarar esse ato.
Uma forma especial de metalinguagem é justamente a crítica que nomeia
procedimentos do texto literário. Porque a análise literária trabalha diretamente com a
função poética, ela se vale da função metalinguística que lhe fornece a terminologia
necessária:
(...) a crítica haverá de convocar todos aqueles instrumentos que lhe pareçam úteis,
mas não poderá jamais esquecer que a realidade sobre a qual se volta é uma realidade de
signos, de linguagem portanto. (CAMPOS, 1992, p.11-12)
Sobre a característica metalingüística da atividade da crítica nos fala ainda Haroldo de
Campos:
Crítica é metalinguagem. Metalinguagem ou linguagem sobre a linguagem. O objeto -
a linguagem-objeto - dessa metalinguagem é a obra de arte, sistema de signos dotado de
coerência estrutural e de originalidade. (CAMPOS, 1992, p.11)
Na verdade, enquanto o poeta faz a relação da linguagem com o mundo, o crítico faz
a relação com a linguagem do poeta, mantendo, assim, certa hierarquia entre os discursos.
Registre-se que, na crítica contemporânea, existe uma tendência a se abolir as fronteiras
discursivas, isto é, a linguagem do crítico mistura-se à do autor, erigindo-se também como
um discurso criativo. Essa crítica é chamada de escritural ou crítica-escritura por incorporar
na sua a linguagem criativa para a qual se volta.
Também o romance se faz ensaio e discute, não apenas sua própria construção, como
a construção de outras formas literárias em sua relação com a produção e a recepção. A esse
tipo de romance, que tem consciência de si mesmo, dá-se o nome de metaficção já que ele
relativiza e dramatiza as fronteiras entre ficção e crítica. A esse propósito, diz Mark Currie
na introdução de um livro, Metafiction, coletânea de ensaios sobre o assunto:
O romance auto-consciente tem, assim, o poder de explorar não apenas as condições
de sua própria produção, mas as implicações da explanação narrativa e da reconstrução
histórica em geral. (CURRIE, 1995, p.14)
Assim, vê-se que a metalinguagem atravessa formas diversas de linguagem de forma
recorrente e interativa já que a maioria das produções culturais vale-se desse processo auto-
reflexivo.
A METALINGUAGEM NA OBRA DE MACHADO DE ASSIS Metalinguagem é o recurso em que a linguagem fala sobre a própria linguagem, ou
seja, nos romances machadianos, os narradores lembram aos leitores, ao longo da
narrativa, que aquilo que lêem é apenas ficção. Essa técnica assemelha-se ao
teatro épico de Bertold Brecht, cuja principal característica é a queda da quarta
parede, isto é, o distanciamento entre a peça e o público. Para Anatol Rosenfeld, o
teatro épico “torna o espectador um observador, mas desperta a sua atividade,
força-o a tomar decisões, [coloca-o] em face de algo.” (ROSENFELD, 1997, p.
149). Isto significa que, enquanto no teatro romântico, burguês, o autor quer iludir e
envolver o público, no teatro épico a intenção do autor é criar a des-identificação.
Os romances do realismo têm a mesma intenção que o teatro de Brecht: despertar
o homem em face do mundo.
Nos dois primeiros capítulos de Dom Casmurro, percebemos, claramente, o
emprego da metalinguagem. “Do título” é a tentativa do autor de justificar o título
do romance, além de colocar em cena a presença de um poeta, o qual Bentinho
ignora, mas admite que os seus “versos pode ser que não fossem inteiramente
maus.” (ASSIS, 2005, p. 9). “Do Livro” é a justificação sobre a razão de se
escrever o livro: “os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me
que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse
da pena e contasse alguns” (ASSIS, 2005, p. 11), pois, assim, ele reviverá o que
viveu e assentará “a mão para alguma obra de maior tomo” (ASSIS, 2005, p. 11).
Ademais, Bentinho revela, em diversas passagens do romance, a sua vocação
literária, como, por exemplo, o capítulo “Um Soneto”, em que ele escreve dois
versos de um soneto, o qual não consegue concluir: “nada me consola daquele
soneto que não fiz”. (ASSIS, 2005, p. 93). No mesmo capítulo, o autor recorre à
metalinguagem para comentar o fato de estar escrevendo suas memórias: “agora
estou compondo esta narração, não achando maior dificuldade que escrever, bem
ou mal.” (ASSIS, 2005, p. 93). Outra passagem em que se percebe o emprego do
recurso metalingüístico é o capítulo “Panegírico de Santa Mônica”, bem como a
última frase do romance: “Vamos à História dos Subúrbios.” (ASSIS, 2005, p. 209),
em que o narrador demonstra que, depois de ter contado a história da traição de
que fora vítima, pode finalmente relatar a história dos subúrbios, “obra modesta,
mas exigia documentos e datas, como preliminares, tudo árido e longo” (ASSIS,
2005, p. 11)
Outra obra de Machado em que a metalinguagem é utilizada de maneira ostensiva
são as Memórias Póstumas de Brás Cubas, cujo primeiro capítulo chama-se “Ao
Leitor”, e o segundo chama-se “Óbito do autor”, em que se justifica, também,
a raison d’être do livro.
A presença de termos como capítulo, leitor, memórias, obra etc. faz com que o
leitor se distancie do romance, que perceba que se trata de uma ficção,
despertando-o para o tempo histórico, a fim de transformar a realidade. A
metalinguagem, em Memórias Póstumas, faz-se presente mesmo quando nada é
dito, como, por exemplo, o capítulo 139, “De como não fui Ministro d’Estado”. Nos
excertos abaixo, retirados de Memórias Póstumas de Brás Cubas, a
metalinguagem desperta o leitor para a realidade, a começar pela própria estrutura
do romance, em fragmentos, em que o leitor não consegue se envolver a ponto de
chegar à catarse, como na tragédia e no drama burguês.
“A obra em si mesma é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me da tarefa; se te não agradar,
pago-te com um piparote, e adeus.” (p. 11)
“Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria
em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte.” (p. 12)
“Se não conto os mimos, os beijos, as admirações, as bênçãos, é porque, se os contasse, não
acabaria mais o capítulo, e é preciso acabá-lo. (p. 29)
“este livro é casto, ao menos na intenção; na intenção é castíssimo.” (p. 40)
“Teria de escrever um diário de viagem e não umas memórias, como estas são, nas quais só
entra a substância da vida.” (p. 56)
“Vim... Mas não; não alonguemos este capítulo. Às vezes, esqueço-me a escrever, e a pena
vai comendo papel, com grave prejuízo meu, que sou autor. Capítulos compridos quadram
melhor a leitores pesadões; e nós não somos um público in-folio, mas in-12, pouco texto, larga
margem, tipo elegante, corte dourado e vinhetas... Não, não alonguemos o capítulo.” (p. 57)
“Meu caro crítico,
Algumas páginas atrás, dizendo eu que tinha cinqüenta anos, acrescentei: “Já se vai sentindo
que o meu estilo não é tão lesto como nos primeiros dias”. Talvez aches esta frase
incompreensível, sabendo-se o meu atual estado; mas eu chamo a tua atenção para a sutileza
daquele pensamento. O que eu quero dizer não é que esteja agora mais velho do que quando
comecei o livro. A morte não envelhece. Quero dizer, sim, que em cada fase da narração da
minha vida experimento a sensação correspondente. Valha-me Deus! É preciso explicar tudo.”
(p. 189)
DE COMO NÃO FUI MINISTRO D’ESTADO
“.......................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................................
.........................................................................................................................................................
..........................................................................................................................” (p. 190)
Em todos os exemplos citados, Machado de Assis dialoga, de maneira assaz
criativa, a linguagem com a própria linguagem, isto é, faz uso da metalinguagem.
Ora, quando a linguagem refere-se a ela mesma, torna-se artificial, delimitada,
enfim, sem sentido. O autor cria, assim, o efeito de distanciamento, porque, uma
vez que a linguagem é confrontada consigo mesmo, ela é anulada, fazendo com
que o leitor rompa a barreira da ilusão erigida pela ficção e atinja a compreensão
plena daquilo que se lhe apresenta. A linguagem é o liame entre o pensamento e a
realidade, mas, uma vez anulada, surge a sensação de estranhamento, e o
pensamento é confrontado diretamente com a realidade, gerando, por
conseguinte, o espanto, que é, sem dúvida, o sentimento de onde nasce a filosofia
e, por extensão, toda reflexão moral. Machado de Assis emprega, portanto, a
metalinguagem para ir, dialeticamente, da ilusão à realidade, da resignação à luta,
até alcançar uma síntese crítica. Assim, o escritor utiliza-se desses recursos – que,
mais tarde, seriam empregados pelas vanguardas modernistas – para fundar um
realismo sui generis, que, embora se diferencie do realismo francês de Gustave
Flaubert ou Émile Zola, produz o mesmo efeito crítico.