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Mestres da Palavra Divina II Este é um trabalho de tradução e adaptação feito pelo Pr Silvio Dutra, de obras publicadas nos séculos XVI a XIX, por um processo de eximia seleção de arquivos em domínio público de homens santos de Deus que tiveram uma vida piedosa e real, que é tão raramente vista em nossos dias. Estas mensagens estão sendo traduzidas pioneiramente para a língua portuguesa, dando assim oportunidade de serem lidas e conhecidas em países da citada língua.

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Mestres da Palavra Divina II

Este é um trabalho de tradução e adaptação

feito pelo Pr Silvio Dutra, de obras publicadas

nos séculos XVI a XIX, por um processo de

eximia seleção de arquivos em domínio

público de homens santos de Deus que

tiveram uma vida piedosa e real, que é tão

raramente vista em nossos dias. Estas

mensagens estão sendo traduzidas

pioneiramente para a língua portuguesa,

dando assim oportunidade de serem lidas e

conhecidas em países da citada língua.

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Sumário

Águas Tranquilas................................... 03 Alegria Cristã...........................................

18

Alegria Espiritual...................................

38

Alegria para Almas Tristes...............

60

Ana ou o Poder da Oração.................

93

Andar no Espírito...................................

108

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Águas Tranquilas

Título original: Still Waters

Por Octavius Winslow (1808-1878)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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"Ele me conduz ao lado das águas quietas."

(Salmo 23: 2)

"Ele me conduz ao lado de riachos pacíficos."

(Salmo 23: 2)

Não é em uma terra seca, uma terra onde não

há água, que nosso Pastor conduz Seu rebanho.

"Dá-me uma bênção", disse a filha de Calebe ao

seu sogro; "Pois me deste uma terra do sul, dá-

me também fontes de água, e ele lhe deu as

fontes superiores e as nascentes". Tal é a

bênção conferida às ovelhas do pasto de Cristo.

Nós consideramos as "pastagens verdes" em seu

caráter variado e de verdura perpétua; mas, para

além das nascentes de água; "a parte superior e

a parte inferior das nascentes"; seria, no melhor

dos casos, como uma fonte, ou uma terra seca,

em que não apenas a beleza, mas o alimento do

pasto é adequado às necessidades do rebanho.

Quão ricas e preciosas são as promessas divinas

que nos asseguram isso!

“Os aflitos e necessitados buscam águas, e não

há, e a sua língua se seca de sede; eu o Senhor

os ouvirei, eu, o Deus de Israel não os

desampararei. Abrirei rios em lugares altos e

fontes no céu. No meio dos vales, e farei do

deserto uma fonte de água, e das águas secas

nascerão águas ".” (Isaías 41.17)

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O cumprimento desta magnífica promessa é

encontrado no gracioso convite de Jesus: "Se

alguém tem sede, venha a mim e beba". Aqui

estava a verdadeira Rocha ferida: quebrada para

fornecer águas no deserto, nascentes de água

num lugar seco, onde não havia água, "E bebiam

da rocha espiritual que os seguia, e aquela

rocha era Cristo". É a estas águas; a estas

nascentes no deserto; que o nosso salmista

inspirado se refere, ao lado das quais o Pastor o

conduziu, sobre cujos bancadas Ele o fez deitar-

se.

Antes de meditar sobre o repouso,

contemplemos as próprias águas. A quais

verdades espirituais do evangelho se referem

essas "águas tranquilas" como um emblema?

Será que uma mente espiritual e reflexiva não

retornará; como à primeira verdade; ao eterno

amor de Deus, de cujo Oceano Infinito surgem

todas as outras fontes de graça? Esta é a fonte;

o mar; a fonte de toda aliança e bênção

redentora conferida à Igreja de Deus. "Há um

rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus."

Este Rio é o amor infinito Divino-infinito com o

qual Ele nos escolheu, e com o qual Ele nos

atraiu, para Ele. "Há muito que o Senhor me

apareceu, dizendo: Porquanto com amor eterno

te amei, por isso com benignidade te atraí."

(Jeremias 31.3).

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Agora, é a este rio que o Senhor Jesus se deleita

em nos conduzir, com que ênfase e distinção Ele

declarou o grande amor do Pai, do qual Ele foi a

revelação e o dom! "Deus amou o mundo de tal

maneira que deu o seu Filho unigênito, para que

todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha

a vida eterna". "Não vos digo que eu pedirei ao

Pai por vós; porque o próprio Pai vos ama". Isto

é, Minha intercessão não é a causa, mas o efeito;

não a inspiração, mas a expressão do amor de

meu Pai. Oh, quão abençoado é descansar em

confiança na margem do Divino Rio, e saber que

Deus nos ama; que estas águas são para nós;

sentirmos que Seu amor está causando todos os

eventos e incidentes de nossa história para

trabalharem juntamente para o nosso bem; que

aquele, que não poupou Seu próprio Filho, antes

o deu por nós, não enviará coisas más, e não

reterá qualquer coisa boa de que precisamos!

Não fique contente, ó minha alma, com um

mero gosto deste Rio; embora tenha "provado

que o Senhor é misericordioso"; é uma bênção

indescritível; e uma pequena mostra do amor de

Deus que é infinitamente mais doce e mais

satisfatório do que um esboço de toda a vida do

néctar mais rico e puro do mundo.

Minha alma! Beba abundantemente e muitas

vezes dessas "águas tranquilas" que descem do

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trono do Eterno; pois o Rio está cheio,

inesgotável e livre.

Nem beba somente; deite-se sobre a sua

encosta silvestre. Você está triste e cansado. O

sol da aflição o feriu; o calor e o fardo do dia

cansativo da vida o exauriram; e, de repente e

fraco, você procura esse repouso e restauração

encontrados somente na certeza de que Deus o

ama! Aproxime-se, então, e descanse nas

encostas deste rio que alegra a Igreja de Deus;

isto fará com que seu espírito de lassidão e

tristeza cante de alegria; e, misturando-se com

as águas mais amargas de sua fonte de Mara, as

tornará mais doces do que o mel. "O Senhor" (o

Espírito) "direcione seus corações para o amor

de Deus e para a paciência que espera por

Cristo".

Não menos verdadeiras e emblemáticas são

essas "águas tranquilas" da água pura da vida

que flui de Cristo, o Pastor, e para a plenitude

para a qual Ele conduz Seu rebanho. Toda a vida

espiritual flui de "Cristo, que é a nossa vida". "Eu

vim para que tenham vida, e para que a tenham

em abundância". "Quem beber da água que eu

lhe der nunca terá sede, mas a água que eu lhe

der será nele uma fonte de água que brota para

a vida eterna". Amados, aprendam o segredo da

vida elevada e ascendente; é seu privilégio viver

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aqui, até que passem para aquela vida que não

conhece o frio; nenhuma nuvem sem fim. Não é

você que vive; é Cristo, sua vida, que vive em

você. E a vida que você vive de batalhas, de

serviço e de sofrimento, é mantida e

amadurecida apenas quando você vive pela fé

no Filho de Deus; e este viver pela fé implica a

confissão de cada pecado em Sua cruz; o

lançamento de toda carga sobre Seu braço; o

soluço de cada pesar sobre Seu coração.

Reclinada sobre a margem dessas águas

tranquilas da vida, sua alma florescerá e sua

vida florescerá com todas as graças e frutos do

Espírito.

Quão doce e refrescante é a água que corre pelo

canal da comunhão com Deus! Lá o Pastor ama

dirigir os passos de Seu rebanho no calor

abafado e no cansaço fraco do dia. Existe um

pasto mais verdejante, um lugar mais

sombreado, uma encosta mais ensolarada do

que o lugar de encontro com Deus? "Vinde, povo

meu, entrai em vossas câmaras, e fechai vossas

portas ao vosso redor; escondei-vos por um

momento, até que a indignação acabe."

Quão gentilmente o Pastor levou Suas ovelhas

para aquelas águas tranquilas quando Ele lhes

disse que pedissem, e elas deveriam receber;

que buscassem e deveriam encontrar; que

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batessem, e deveria ser aberto para elas. Você

está cansado? Você está ferido? Você está

desmaiado? Venha e deite-se ao lado deste rio

que flui, e beba dessas águas de comunhão com

Deus, e sua alma se refrescará; sua paz fluirá

como um rio, e sua alegria como as ondas do

mar.

Oh, o poder, o repouso, o conforto da oração!

"Tendo ousadia", ou privilégio, de entrar no

SANTÍSSIMO; pelo sangue suplicante de Jesus

sobre a Sede da Misericórdia; o cetro de graça

do Pai estendido; todos os recursos da

Divindade a seu comando; você pode hesitar por

um momento, através do medo e incredulidade,

de levantar-se e entregar-se à oração? Um pouco

dessas "águas tranquilas", de uma abordagem

calma, confidencial e filial a Deus será

infinitamente mais poderoso e eficaz do que

todas as águas inconstantes do lendário rio da

mitologia grega; você beberá e esquecerá sua

tristeza e afogará no esquecimento Sua miséria

e cuidado. Oh, ouça novamente e, mais uma

vez, você que se sente sobrecarregado, triste,

atingido pelas palavras divinas, a melodia mais

doce que já tocou no ouvido: "Vinde a Mim,

todos os que estais cansados e

sobrecarregados, e eu vos aliviarei!"

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"Estás cansado, lânguido, estás angustiado?"

Vem a mim, diz alguém, e vindo, descanse!

Ele marca para me conduzir a Ele, se Ele for meu

guia?

Em Seus pés e mãos há feridas, e em Seu lado.

Existe um diadema, como num monarca, que

Sua testa adorna?

Sim, uma coroa, muito segura, mas de espinhos!

Se eu encontrá-Lo, se eu seguir Sua promessa

aqui?

Muitas tristezas, muitos trabalhos, muitas

lágrimas!

Se eu ainda me apego a Ele, o que Ele tem

finalmente para mim?

A tristeza vencida, o trabalho terminado, o

Jordão passado!

Se eu pedir a ele para me receber, ele vai me

dizer não?

Não até que a terra e o céu passem!

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Tentando, seguindo, mantendo, lutando, é Ele

com certeza que vai abençoar!

Anjos, mártires, profetas, peregrinos,

respondam: Sim!”

(Escrito por Estêvão antes da Igreja Oriental ter

sido corrompida pelas superstições romanas.)

Mas, voltemos nossos pensamentos para a

POSTURA expressiva do rebanho. "Ele me faz

DEITAR." Imagem bonita e expressiva! Não há

um espetáculo mais verdadeiramente pastoral e

pitoresco do que o de um rebanho de ovelhas

descansando no meio do luxuriante verdor de

um prado ensolarado. Contemple o espetáculo

em seu aspecto espiritual: "Ele me faz deitar". É,

primeiro, o descanso da fé. Nenhuma graça leva

a alma a um repouso tão perfeito como a fé no

caráter de Deus; na suficiência de Cristo; na

imutabilidade das promessas divinas. A fé pode

se deitar no meio da provação, da tristeza e da

necessidade, nos "lugares quietos de repouso",

onde o Divino Pastor faz seu rebanho descansar

ao meio-dia.

É a postura de satisfação perfeita. A insatisfação

obscurece a testa de cada mundano. É

impossível na natureza das coisas que deveria

ser de outra forma. O mundo, com toda a sua

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grandeza, é uma coisa muito pequena para

encher a alma humana. Ela é um vasto vazio que

só o Infinito pode preencher! Mas, a satisfação

perfeita é encontrada apenas onde o rebanho de

Deus se deita entre os verdes pastos de Seu

amor, e os prados perfumados de Sua palavra.

Oh, quão satisfeito, amado, Deus pode fazê-lo

por todo o caminho pelo qual Ele está

conduzindo seus passos trêmulos para casa!

A maneira, às vezes, pode ser espinhosa e

escura; intrincada e solitária; a fé peneirada; a

paciência provada; o princípio testado; o amor

ferido; no entanto, a alma pode deitar-se em um

repouso tranquilo, satisfeita com todos os

negócios de Deus; que Ele, o Senhor de toda a

terra, deve fazer o que é certo. "Quem tenho eu

no céu senão a ti, e quem há na terra que desejo

ao teu lado?" "Não minha vontade, ó meu Pai,

mas a Tua seja feita!" "E agora, o que eu espero?

Minha esperança está em Ti." "Eu ficarei

satisfeito, quando eu acordar, com a Sua

semelhança." Retorne, peregrino errante, em

busca de algo que nenhum bem mundano ou

criatura aqui pode lhe dar, e venha descansar

seu espírito cansado entre os "verdes pastos" do

amor de Deus em Cristo Jesus, e sua "alma

estará satisfeita como com medula e gordura. "

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A segurança perfeita é expressada por esta

postura da alma. Não há um objeto mais

exposto a cada forma de assalto e perigo do que

o rebanho de Deus. É bem denominado "o

rebanho da matança". "Por amor de ti somos

mortos todo o dia, somos considerados como

ovelhas para o matadouro". Mas, onde podemos

estar para uma segurança perfeita, senão onde

o Pastor conduz Seu rebanho e faz com que ele

se deite?

No momento em que nos afastamos do lado de

Cristo, desviamo-nos da pureza de Sua verdade,

e nos desviamos da simplicidade de Sua

adoração, vagamos em meio a outros pastos

proibidos que pareciam tão justos e

prometidos, mas tão amargos e tão falsos;

nesse momento trocamos o lugar de segurança

pelo lugar de perigo; e será bom para nós se,

enquanto vagando do Pastor e do aprisco, em

cercos perigosos, não perdemos todas as

provas de nosso cristianismo, e encontrarmos o

“último inimigo”' com uma esperança enevoada,

se não uma abalada e incerta!

Fizemos apenas referência passageira ao

ESPECIAL CARÁTER DESTAS ÁGUAS. Elas são

enfaticamente -

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"Águas tranquilas". Onde o pastor gentil conduz

assim seu rebanho? Não pela queda trêmula;

não para a catarata espumante; nem mesmo

pelo baixo murmúrio do ribeiro; estes

alarmariam e agitariam Suas ovelhas! Mas, Ele

as conduz às águas tranquilas, suaves e

pacíficas de Seu amor, e ali Ele as faz se

deitarem. "Quando Ele dá quietude, quem então

pode causar problemas?" Afasta-te, minha alma

das lutas, tumultos e excitação desta vida

atarefada, e deita-te nas encostas dessas águas

tranquilas. "Você vai manter em paz aquele cuja

mente permanece em você, porque ele confia

em você." Veja quão amorosamente Jesus nos

convida a essas "águas tranquilas", e quão

gentilmente Ele nos faz deitar.

"Estas coisas vos tenho dito, para que tenhais

paz em mim. No mundo tereis aflições, mas

tende bom ânimo, eu venci o mundo". "Deixo-

vos a paz, a minha paz vos dou." Aqui está a

tranquilidade perfeita; aqui está o repouso

imperturbável. "Na quietude e na confiança está

a sua força." Quão feroz é a tempestade! Quão

alta a tempestade! Como se agitam as ondas das

providências de Deus! "Fiquem quietos e saibam

que eu sou Deus". "O Senhor no alto é mais

poderoso do que o ruído de muitas águas, sim,

do que as ondas poderosas do mar." Seja ainda;

confiante; ore com fé; seja esperançoso! A noite

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é escura e longa; é a quarta vigília, e Jesus ainda

não veio! Fique quieto! Ele está no Seu caminho;

ele virá; e em breve você ouvirá Sua voz divina

de poder e Sua voz humana de compaixão se

elevando acima da tempestade; "Paz, aquieta-

te!"; e doce será o silêncio; perfeita a quietude e

a paz que Cristo lhe dará. "Ó Senhor, quando o

meu coração está oprimido, leva-me à rocha que

é mais alta do que eu". Sim, às águas tranquilas

do Teu amor, de onde fluem todas as minhas

fontes frescas. "Dize-me, ó tu, a quem ama a

minha alma: Onde apascentas o teu rebanho,

onde o fazes descansar ao meio-dia; pois por

que razão seria eu como a que anda errante

junto aos rebanhos de teus companheiros?"

Quando meu coração parece que vai quebrar,

Quando a agitação das ondas bate

Em meu fraco barco,

Conduza-me à Rocha mais alta

A Rocha que é mais alta do que eu.

Mesmo no escuro.

Quando eu vejo meu pecado tão grande,

Quando nenhum conforto eu posso vislumbrar,

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Não há lugar para se esconder,

Conduza-me à Rocha mais alta

A Rocha que é mais alta do que eu.

O lado amoroso.

Quando não encontro refúgio,

Nenhum abrigo para a mente cansada,

Sem sombra para refrigério,

Conduza-me à Rocha mais alta

A Rocha que é mais alta do que eu.

Não mais temor.

Quando vem a sede pelo riacho vivo

Daquela vida eterna Nele,

Não mais morrer,

Conduza-me à Rocha mais alta

A Rocha que é mais alta do que eu.

Para ela eu fugirei,

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Na fenda daquela querida Rocha,

do choque forte das ondas,

Eu vou me esconder sempre,

Em Sua justiça tão pura,

Em Sua aliança tão certa,

Eu vou morar para sempre.

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Alegria Cristã

Título original: Christian Joy

Por John A. Broadus (1827-1895)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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“Regozijai-vos sempre no Senhor! E novamente

digo regozijai-vos.” (Filipenses 4: 4)

Uma pessoa que leia esta carta de Paulo aos

cristãos filipenses dificilmente deixará de

observar, quantas vezes o apóstolo fala de

alegria; quantas vezes ele faz alusão às suas

próprias fontes de alegria; quantas vezes ele

convida seus irmãos a se alegrarem. Deve haver

significado nisso. O apóstolo Paulo não era um

homem que costumava usar muitas palavras

sem significado; porque o Espírito divino, que o

guiou, no que escreveu, nunca fala em vão.

Quando lemos repetidamente frases como esta:

"Por fim, meus irmãos regozijai-vos no Senhor",

ou "em todas as coisas com oração e súplica

com ações de graças, façam conhecer suas

petições", etc, ou quando diz, "para o vosso

progresso e alegria de fé", "para que a vossa

alegria seja mais abundante", "e vós também

regozijai-vos e alegrai-vos comigo por isto

mesmo"; ou, como no texto, convida-os a

"regozijar-se sempre no Senhor", repetindo a

frase com ênfase incomum e muito marcante, "e

novamente digo, regozijai-vos" - quando lemos

todas essas passagens, podemos ter certeza de

que o escritor era muito sincero em sua própria

alegria, e estava bastante ansioso que seus

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irmãos também se alegrassem, e estava certo de

que eles tinham ampla causa de regozijo.

É bom também observar qual era a condição

daquele que assim diz constantemente para nos

alegrarmos, e qual é a condição daqueles aos

quais ele exortou ao dever de regozijo e

gratidão. Quando Paulo escreveu aos cristãos de

Filipos, estava preso em Roma; não só para ser

julgado pelas acusações feitas contra ele pelos

judeus (que não eram susceptíveis de condená-

lo), como também era passível de castigo por

pregar uma nova religião que não era tolerada

pelas leis do Estado, e que tinha uma tendência

direta para quebrar a religião do Estado. Ele

sabia de tudo isso - sabia que sua vida estava

em perigo; e ainda assim ele se alegra, pois ele

está confiante de que, por sua vida ou sua

morte, Cristo será glorificado, e ele sente que

para ele (como ele diz) "viver é Cristo, e morrer,

é ganho". Ele pode se alegrar também de que

sua prisão tenha sido o meio de chamar a

atenção para a religião que ele prega, e que

muitos têm se tornado mais ousados em pregar

o evangelho por causa de suas prisões.

E assim ele, que era um prisioneiro, e não podia

saber o seu destino, ainda encontrou abundante

motivo de gratidão e alegria. Os cristãos

filipenses, a quem ele escreveu, tiveram de

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suportar mais do que ordinárias provações. O

próprio apóstolo, quando primeiro pregava ali,

havia sido gravemente maltratado; e o zelo e o

ódio dos judeus fez com que eles continuassem

a travar uma guerra incessante contra os poucos

discípulos da verdadeira fé. Eles tinham

adversários, tinham oposição, tinham

perseguições. No entanto, Paulo diz: "alegrai-

vos". Certamente, então, quando vemos um

apóstolo regozijando-se em grilhões, e

repetidas vezes dizendo "regozijem-se" a um

corpo fraco de homens feridos e perseguidos,

podemos saber que a ação de graças e alegria é

um grande dever cristão e um exaltado

privilégio cristão. Portanto, desejo falar agora

de agradecimento cristão e alegria cristã.

Um espírito ingrato e queixoso é um pecado

duradouro contra Deus, e uma causa de

infelicidade quase contínua; e contudo quão

comum é esse espírito. Como somos propensos

a nos esquecermos do bem que a vida concede,

e lembrar-nos do seu mal - esquecemos suas

alegrias, e pensamos apenas em suas tristezas -

esquecemos a gratidão, e lembramo-nos apenas

de queixarmo-nos. O boi pastará o dia inteiro

em verdes pastagens e não saberá nada além do

prazer do momento; e muitos homens

desfrutarão das bênçãos que estão tão

espalhadas diante deles, os prazeres que estão

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tão amplamente espalhados ao longo de seu

caminho, e nunca têm um momento de

pensamento de gratidão ao Ser generoso que

lhos deu, Aquele bom e gracioso Deus que é

"bondoso para com os ingratos e maus." Mas,

então, vem o mal - necessidade ou sofrimento,

desapontamento ou ansiedade, remorso ou

temor, e em quanto tempo ele ficará insatisfeito

com a vida, quando se queixa de sua sorte dura

e murmura contra o Deus que o criou.

Não é lamentável que os homens nunca

agradecerão a Deus pelas inúmeras bênçãos

que ele lhes confere e depois se lembrarem dele

apenas para queixarem-se dos males que eles

têm trazido sobre si mesmos e que nunca são

tão grandes quanto a sua má conduta merece?

E se naqueles que não se preocupam com o que

os fez e os preserva e os abençoa, aqueles que

o negligenciam ou o odeiam, esta conduta é tão

estranha, como é em relação àqueles que têm

ainda mais a agradecer a Deus, que são seus

filhos por um nascimento novo e espiritual, que

são feitos herdeiros de Deus, e co-herdeiros

com Jesus Cristo? E, no entanto, meus irmãos,

quantos cristãos sinceros faltam gravemente

em gratidão pela bondade de seu Pai Celestial,

e que com frequência se queixam e ficam

irritados e zangados nas pequenas provações

da vida; esquecendo também que há mesmo no

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meio das provações, mais alegria do que

tristeza em sua sorte, e esquecendo também o

comando daquele que disse: "Em tudo dai

graças". Precisamos vigiar e orar a respeito

dessa disposição. Precisamos nos esforçar para

mudar nossos modos de pensar e sentir sobre

isso. Que um homem não seja lembrado das

muitas bênçãos que Deus lhe deu, e ele dirá

imediatamente: "Ah, mas este problema destrói

toda a minha felicidade, estraga toda minha

alegria" - e ele desviará os olhos de tudo o que

é agradável, e olhará irritadamente para esta

fonte de problemas.

Se ele não levá-lo tanto quanto a isso, ele vai ter

certeza de deixar esse desconforto impedir toda

a gratidão. Agora eu digo que precisamos

mudar aqui. Nosso sentimento deve ser que,

embora tenhamos problemas, contudo, não

impedirão que estejamos contentes e

agradecidos com as muitas bênçãos, as bênçãos

mais numerosas e ricas e imerecidas que

desfrutamos. "Em cada coisa dê graças." Graças

a Deus por seus prazeres - eles são o dom de

sua bondade.

(Nota do tradutor: Lembro-me sempre de forma

vívida, das palavras de um pastor decano

quando eu ainda estudava no Seminário, há

cerca de quarenta anos atrás: “As tribulações, as

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provações, as aflições, são exatamente elas a

prova do grande amor de Deus para com os

Seus filhos.” Confesso que levei algum tempo

para penetrar no real significado destas

palavras que para muitos parecem um grade

paradoxo. Mas, desde que comecei a

experimentar, pela graça do Senhor, o grande

benefício que há nas provações da fé, mais e

mais comecei a entender o pleno significado das

palavras do apóstolo, quando afirma que

aprendeu a viver contente em toda em qualquer

circunstância. E que se gloriava em suas

fraquezas, necessidades, perseguições e

angústias. A muitos isto pode parecer

masoquismo, mas a todos os que têm sido

provados por Deus, e aprovados, sabem

perfeitamente, quão grande motivo de alegria

há em passarmos por várias provações,

conforme dizer do apóstolo Tiago, não

propriamente nelas, mas pelo efeito que

produzem em nós de nos fazer crescer

espiritualmente e nos fazer mais participantes

da santidade e intimidade de Deus. Este é o real

motivo de alegria do cristão. O próprio Senhor

Jesus Cristo, e daí ser dito: “regozijai-vos no

Senhor”. Veja “no Senhor”, e não em qualquer

outra causa ou motivo. Se sofremos por causa

de Cristo e do evangelho, temos motivo de

alegria, e o próprio Espírito Santo gerará tal

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alegria em nós, em razão da nossa fidelidade à

vontade de Deus.)

Você realmente, meu ouvinte cristão, olha para

as bênçãos, quero dizer as bênçãos temporais,

você gosta delas como o dom de Deus? Você

realmente agradece-lhe com o coração, mesmo

quando seus lábios estão proferindo palavras de

gratidão? Meus irmãos, às vezes temo que com

muitos de nós haja três vezes por dia uma

solene zombaria praticada. Quantas vezes

acontece que uma família se reúna vezes após

vez ao redor de sua mesa, com aquele alimento

abundante e agradável que, na boa providência

de Deus, eles foram capacitados a receber e

parecem agradecer a seu Pai Celestial por essas

bênçãos, e ainda eles não lhe agradecem; e,

nenhum coração de todos os que ali se

encontram sente uma emoção de gratidão para

com Deus. A graça antes das refeições é

necessária e apropriada, eles acreditam, mas

nem aquele que fala nem aqueles que ouvem as

palavras muitas vezes decoradas e repetidas

têm qualquer sentimento real de gratidão afinal.

Eu não digo que isto é assim com todos; mas

não é muito frequentemente assim? E se aqui,

quando você está professando dar graças, você

não sente agradecimento, infelizmente, como

deve ser naquelas horas inumeráveis, quando

você nem pensa nem fala de gratidão.

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Digo então que, referindo-me às bênçãos

temporais, ao bem terreno, ao curso ordinário

dos assuntos da vida, temo que, infelizmente,

meus irmãos cristãos estejam necessitados na

gratidão a Deus, a qual vocês devem cultivar e

valorizar. É um retorno fraco para a bondade

que coroa a sua vida com tantas bênçãos, estar

reclamando constantemente porque algo dá

errado. Você diz a uma criança que se queixa do

que lhe é dado, que ela deve se alegrar porque

é muito bom; e que o que ela ganhou é muito

melhor do que ela merece. E assim pode ser dito

a todos os professantes filhos de Deus - por

poucas, comparativamente, que possam ser

suas vantagens e, independentemente de

quantos, comparativamente, possam ser seus

problemas, vocês devem ser gratos, vocês

devem se lembrar que é muito melhor do que

vocês merecem.

Mas, a alegria contemplada pelo texto equivale

a muito mais do que gratidão pelas

misericórdias temporais. De fato, tanto quanto

eu tentei demonstrar, é o motivo de gratidão na

pontuação das bênçãos terrenas e,

infelizmente, porque por negligência, não

cultivamos mais o espírito de gratidão pelo bem

presente, os dons mais insignificantes de nosso

Pai, e todas essas fontes de prazer nada são

comparadas com aquela maior alegria para a

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qual o cristão é aqui convidado. É para se

alegrar por causa das bênçãos espirituais.

Sei que, ao exortar os cristãos a regozijarem-se

por seus privilégios e bênçãos religiosas, é

possível enfrentar o perigo do orgulho

espiritual. Lembro-me do fariseu, que

agradeceu a Deus (pelo menos ele disse que sim

- eu duvido que realmente sentisse alguma

gratidão) que ele era melhor do que os outros

homens. Não me esqueci de quão pecaminoso

um sentimento como este deve ser - quão

indigno de criaturas como nós, que não têm

nenhum bem em si mesmas, cuja justiça deve

ser completamente o dom de outro (de Jesus).

Essa consideração é suficiente para neutralizar

toda tendência ao orgulho espiritual. Se um

homem é realmente cristão, ele sabe que todo o

bem que há nele é de Deus; ele sabe que tem

que agradecer a Deus por todos os privilégios

de que desfruta, e não pode merecer o crédito

pelo que é dom de outro - e em sua gratidão ao

doador seria melhor fazê-lo de forma humilde

do que orgulhosa. Não, o verdadeiro cristão

pode regozijar-se com o que o Senhor lhe fez,

sem esquecer que o deve ao Senhor - "pela graça

de Deus, sou o que sou". No mundo, os homens

mais orgulhosos são geralmente aqueles que

menos têm orgulho, e assim, na religião, o

homem que tem muito dela está em muito

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pouco risco de se sentir orgulhoso, porque a

religião cuja essência é a humildade sempre lhe

ensinará a "regozijar-se com tremor".

Repito, então, que o texto parece apontar

adequadamente para uma alegria espiritual, e

para a pontuação de bênçãos espirituais. Há

muitas razões pelas quais os cristãos devem se

alegrar no Senhor. Aqui estão algumas delas.

Digo-lhe que se alegre, meu querido leitor,

porque pelo menos foi despertado para um

sentimento de seus pecados - que você não é

um pecador descuidado nem endurecido. É uma

coisa boa para um homem estar ciente de sua

condição, porque ele é, então, mais propenso a

procurar alívio. Se um homem encontra-se em

perigo, há esperança que ele se esforçará para

escapar. Se alguém sabe que ele está doente, e

o sente, há esperança de que ele vai procurar o

médico. E o fato de que um homem sente que

ele é um pecador mostra que ele está

começando a ter mais ideias corretas sobre o

que é o pecado, e o que é a santidade - do que

é seu próprio caráter, e o que esse caráter deve

ser. Um pecador desperto não está mais livre do

pecado do que era antes.

Mas, então, é mais provável que ele busque o

Salvador e, assim, ser perdoado e purificado.

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Um velho escritor disse que quando um balde

que está sendo extraído do poço não sentimos

que ele é pesado, até que ele começa a sair da

água; que um homem que está debaixo da água

não sente o peso das toneladas que podem

estar acima dele, tanto quanto ele sentiria o

peso de um pequeno pingo de água em sua

cabeça quando ele está fora. Assim, quando um

homem sente o peso do seu pecado, parece que

ele não está tão imerso no pecado como antes;

ele está saindo dele.

É uma coisa lamentável que tantos homens e

mulheres estejam vivendo sem parecer nunca

pensar que são pecadores. Eles não somente

desfrutam da graça comum e providencial de

Deus sem nunca agradecer a ele, mas incorrem

em seu desgosto sem temê-lo, e eles amontoam

para si mesmos ira para o dia da ira, sem

reservar tempo para pensar no que estão

fazendo. Você quer encontrar o mais lamentável

e deplorável espetáculo na terra? Então me fale

de alguém que acha que em breve se recuperará

e viverá muitos anos, quando a enfermidade lhe

prendeu e amanhã ele deve morrer. Não me fale

daquele que navega alegremente pela corrente

acelerada e esquece a catarata que está diante

dele. Mas, venha e olhe para o pecador

descuidado e imprudente, que caminha sem um

momento de pensamento para a morte eterna;

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que está de pé sobre os lugares escorregadios

da vida terrena, enquanto as ondas de fogo da

morte e da perdição rolam sob seus pés, e ainda

não parece saber onde ele está; que em verdade

nada tem diante dele senão um certo medo de

juízo e indignação ardente que devorará os

adversários, e ainda se move como se o

presente fosse todo brilhante e não tivesse nada

a temer.

Mas, há o pecador endurecido - que tem olhos

para ver e não vê, e ouvidos para ouvir e que

não ouve - que endureceu o coração até agora e

não pode mover-se, até que a ira de Deus não

possa alarmar, nem seu amor atrair, até que

suas ameaças e seus convites caiam sobre ele e

não surtam qualquer efeito. Igualmente

desatento no ouvido, mesmo sob a história do

amor de Jesus morrendo por nós na cruz. Oh,

que Deus em sua misericórdia o livre, meu

querido leitor, de ser um pecador endurecido!

Seja o que for que aconteça, Deus não permita

que você seja um pecador endurecido! E meus

irmãos, eu digo que me alegro, por vocês que

estão pelo menos despertados - que vocês não

são descuidados, nem endurecidos.

Mas, há uma causa ainda maior de regozijo. Meu

irmão cristão, você não pode se alegrar de ter fé

em Cristo e gozo da religião, comunhão com

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Deus e esperança de glória? Você tem fé em

Cristo. Você encontrou aquele de quem Moisés

na lei e os profetas escreveram. Você encontrou

aquele que foi exaltado como Rei e Salvador,

para dar arrependimento a Israel e remissão dos

pecados. Você encontrou aquele que foi

levantado para atrair todos os homens para ele.

Você conhece aquele que é o chefe entre dez mil

e completamente amável. Você traçou alguma

coisa das inescrutáveis riquezas de Cristo. Você

encontrou o tesouro escondido, a pérola de

grande preço. Você aprendeu que há bálsamo

em Gileade, que há um grande Médico lá; ele

diagnosticou sua doença terrível e mortal, e

você viverá. Você olhou para a serpente de

bronze, você está curado. Você aspergiu o pilar

de sua porta com o sangue do Cordeiro

expiatório de Deus, e o anjo da destruição

passará por você e não lhe destruirá. Você fugiu

para a cidade de refúgio, e o vingador não pode

chegar perto de você. Você colocou os seus

pecados pela fé no seu substituto, que os levou

para o deserto. Você se banhou na fonte que foi

aberta na casa do rei Davi para o pecado e para

a impureza, e a contaminação da culpa foi

lavada. Você trouxe a Jesus a escrita que o

amarrou como um servo do pecado, e anulou-a

pregando-a na Sua cruz.

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Em uma palavra, você acredita no Salvador, e

acredita que ele é precioso. E meu irmão, se

todas estas coisas forem verdadeiras sobre

você, se Jesus é seu e você é dele, você não tem

motivo para alegria e louvor, e ação de graças e

amor? Fomos informados de que em certa

ocasião os discípulos que Jesus enviara,

regressaram alegres e dizendo: "Senhor, até os

demônios estão sujeitos a nós pelo teu nome".

E o Mestre respondeu: "Não vos alegreis nisto,

que os demônios vos sejam sujeitos, antes

alegrai-vos que os vossos nomes estão escritos

nos céus". E, meus irmãos, se vocês forem

verdadeiros crentes em Jesus, vocês podem se

alegrar de que seus nomes estão escritos no

céu. Pode ser insignificante que seus nomes

estejam escritos em um registro terreno como

cristãos, pois isso não prova que seja verdade;

um homem pode ter um nome para viver e estar

morto. Mas, se estiverem escritos naquele livro

abençoado, o livro da vida do Cordeiro, então

vocês podem se alegrar.

Novamente, você tem a alegria dos privilégios

religiosos. Você tem ao seu alcance

continuamente os prazeres que a somente a

religião pode fornecer. Você pode se alimentar

do pão da vida que desceu do céu e beber os

doces sucos da fonte da salvação. Você pode ler

os ensinamentos abençoados da Palavra santa

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de Deus, você pode caminhar para a casa de

Deus em companhia daqueles que você ama, e

ouvir o som do evangelho glorioso, e se alegrar

de que está misturada com a fé a Palavra que

você ouve. Vocês podem se reunir para uma

oração unida e sentir que estão sentados juntos

em lugares celestiais em Cristo Jesus. Vocês

podem levantar suas vozes juntamente em

salmos e hinos em louvor de seu glorioso

Redentor. E não há privilégios como estes para

grande e contínua alegria?

Então você pode desfrutar da comunhão com

Deus. Meu leitor, você já sentiu o que significa

comunhão com Deus? Ou é apenas algo que

você leu na Bíblia e ouviu falar do púlpito, sem

compreendê-lo? Se você é um cristão sincero,

você sentiu o que é. Você é capaz de chamar

Deus de Pai. Embora pelo pecado os homens

estejam separados dele e possam olhar para ele

apenas como um Senhor ofendido e um Juiz

justamente zangado, contudo você pode se

alegrar ao saber que você foi adotado na casa

da fé e recebeu esse espírito de adoção por

meio do qual você diz "Abba, Pai", e pode, com

fé humilde e confiança sincera, elevar a sua

oração àquele que é nosso Pai nos céus. Você

pode orar sem cessar a ele. Como você tem

fome e sede de justiça, você pode ir a ele e saber

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que você será saciado. Quando você se sente

fraco, você pode esperar receber a força dele.

É especialmente um privilégio orar somente a

ele, comungar com ele em segredo - entre em

seu quarto e feche a porta e ore a seu Pai que

está em oculto, sabendo que seu Pai o vê em

secreto. Você pode derramar lá diante dele as

mágoas mais íntimas de seu coração, os desejos

peculiares de seu espírito. Você pode lutar lá

sozinho com o seu Deus, para as bênçãos que

você precisa, e saber que o que pedir você

receberá. Você pode confessar cada pecado,

palavra ou ação, pensamento ou desejo, e pedir

perdão por meio do Salvador em quem você

confia. Você pode derramar a sua alma lá em

súplica fervorosa por aqueles que ama, que não

amam a Jesus; você pode espalhar todo o seu

caso triste diante de seu Deus, e implorar para

detê-los e transformá-los e salvá-los. Oh, o

privilégio da oração privada, a alegria e a paz

que fluem para o verdadeiro crente da

comunhão pessoal e espiritual com o Pai de seu

espírito!

Mas, não há apenas fé no Salvador e gozo de

privilégios religiosos e comunhão com Deus,

mas como se isso não fosse suficiente para

fazer o coração transbordar de alegria, temos

mais - há a esperança da glória. É uma mudança

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luminosa e bela quando a água de alguma

pequena piscina lamacenta é limpa, deixando

para trás todas as suas impurezas terrenas, e

quando aparece novamente em gotas de chuva

está vestida, à medida que os raios de sol

brilham através dela, em todas as cores

brilhantes do arco-íris. Mas, isso não é nada,

comparado com a mudança de um habitante

contaminado pelo pecado na terra, para um

preso glorificado do Paraíso de Deus. Quão

abençoada será essa mudança! Quando os que

tiverem entrado pela porta estreita e andado o

caminho estreito através das tribulações e

provações da terra, passarão pelas portas

peroladas e pisarão as ruas douradas da Nova

Jerusalém, a gloriosa cidade do nosso Deus;

quando aqueles que têm gemido na doença e

suspirado no sofrimento, aqueles que

enfraqueceram na dor e carregaram a agonia da

morte, devem habitar nessa abençoada morada

onde a "doença, a dor e a morte, já não mais

existem."

Irmão cristão, peço-lhe que leia com humildade,

e contudo alegremente, as descrições

inspiradoras da alma que nos são dadas no livro

do Apocalipse - as descrições da cidade

gloriosa, do rio e da árvore da vida, das vestes

brancas, das harpas e do coro dos espíritos

redimidos, o cântico de Moisés e do Cordeiro -

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não posso dizer o que tudo isso significa, mas

sei que eles significam e se destinam a

significar, tudo o que é glorioso e alegre,

brilhante e belo. Leia-o agradecida e

humildemente, e deixe que o seu coração se

inunde com fervoroso arrebatamento, e o seu

seio se levante com humilde gratidão àquele

que nos "deu eterna consolação e boa esperança

pela graça", a esperança da imortalidade e da

vida eterna, o Céu, e a esperança da glória.

Feliz és tu, ó cristão, se tais alegrias, tais

privilégios, tais esperanças cheias de alegria,

são realmente experimentados. Tanto quanto

nosso Pai Celestial lhe deu o bem temporal,

tanto mais o gozo espiritual e a esperança que

sustenta a alma. Quanto o Senhor da vida e

glória fez em seu favor! Deus não te amou mais

do que seus pais terrenos? Jesus não sofreu por

você angústia e agonia indizíveis, e ele não

morreu por você? Você será grato por toda a Sua

bondade e misericórdia? Quando ele, que fez

tanto por nós, que nos deu todos esses

privilégios exaltados e alegrias abençoadas e

gloriosas esperanças sobre as quais estamos

habitando, quando ele nos ordena a nos

alegrarmos nele, devemos nos regozijar sempre

nele. Cultive um espírito de ação de graças, um

espírito de alegria, e dedique sua vida ao seu

serviço, para que toda a sua vida seja um

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cântico incessante de alegria, um constante

hino de louvor "àquele que nos amou e nos

lavou de nossos pecados em seu próprio

sangue, e nos fez reis e sacerdotes para nosso

Deus e Pai!" "Finalmente, irmãos, regozijai-vos

no Senhor".

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Alegria Espiritual

Título original: Spiritual Joy

Por John Angell James (1785-1859)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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Dedico este livro para a consideração de um

tema intimamente ligado com a sua felicidade

presente como cristãos; a saber, "alegria

espiritual", a qual se segue à justificação;

porque "sendo justificados pela fé, temos paz

com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, e nos

gloriamos na esperança da glória de Deus."

Antes da justificação, não tínhamos direito à

alegria; e depois dela, não temos razão para a

miséria. O espírito da verdadeira religião é

essencialmente um espírito de alegria pura e

elevada, e é, portanto, distinto da superstição,

que é essencialmente um espírito de escuridão,

medo e tristeza. Como o crente se encontra

situado entre um paraíso perdido pelo pecado,

e outro restaurado pela graça, pode ser

esperado dele, em sua experiência, os estados

aparentemente opostos de espírito descritos

pelo apóstolo, a respeito dos quais ele diz:

"tristes, mas sempre alegres", e as lágrimas que

vertem por causa de suas transgressões,

embora numerosas e penitenciais, ainda devem

ser irradiados com um sorriso predominante de

prazer, e aparecerem como gotas de orvalho

brilhando ao sol.

O conhecimento mais superficial da Bíblia nos

ensinará que ela é um livro para nos fazer

felizes, assim como santos. Os dois

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Testamentos são como dois anjos

ministradores, enviados do céu para conduzir o

filho do pecado e dor - à fonte da paz! Mesmo o

Velho Testamento contém inúmeras exortações

para o povo de Deus, para se alegrar e ser feliz;

sim, "a gritar e exultar de alegria." E se um

crente, quando colocado entre as nuvens e as

sombras da dispensação judaica, onde ele não

poderia deixar de ser contemplado pelos

trovões do Sinai, e pressionado em grande

medida com o espírito de escravidão, foi

chamado a alegrar-se, quanto mais pode tal

estado de espírito ser esperado do cristão, para

quem o Sol da justiça aumentou, e derramou o

brilho do meio-dia de sua glória!

O cristão, então, deveria ser tanto um homem

alegre, bem como um homem justo. Sua religião

não deve apenas adornar seu caráter com as

belezas da santidade, mas marcar seu rosto

com o sorriso da paz. No entanto, quão poucos

parecem alcançar esse privilégio. Se olharmos

para a Bíblia, podemos esperar ver tudo o que

realmente acreditamos, e viver sob a sua

influência, assim como muitos espíritos felizes,

tiram a sua felicidade dessas fontes,

independentemente das alegrias e tristezas da

mortalidade ; não sendo nem muito elevado por

um, nem muito deprimido com o outro e, no

entanto, quando olhamos para a grande maioria

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dos professante da religião cristã, ficamos

muito desapontados, e até mesmo em

referência à sua felicidade, bem como à sua

conduta, e somos levados a perguntar: "O que

você tem, mais do que outros?"

Por alegria espiritual, não me refiro

simplesmente à alegria de pessoas piedosas,

porque toda a sua alegria não responde a esta

descrição. Mas eu quero me referir à alegria

produzida pela verdadeira religião. Isto é aquela

santa paz que é o resultado da verdade divina

compreendida, crida, e contemplada. Não é

mera alegria de espíritos animais, a alegria

produzida pela boa saúde, prosperidade

mundana, amizade, ou a gratificação de prazer.

Muito do gozo do cristão na terra é produzido

por essas suscetibilidades e bens que

pertencem a ele como um homem e esta parte

de sua gratificação é perfeitamente inocente;

mas isso não é propriamente a alegria

espiritual. É verdade que o seu deleite espiritual

pode misturar-se com seus prazeres mais

comuns, santificando-os e elevando-os; e

podem de fato ser um pouco modificados pelo

deleite espiritual, mas ainda é de um tipo

diferente. Isto é a alegria da fé, da esperança,

do amor - é alegria em Deus, em Cristo, na

santidade, no céu.

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Ela começa quando o pecador tremendo, depois

de um período de ansiedade e opressão por

causa de seu pecado, perde o fardo de sua culpa

na cruz e, nesse caso, é totalmente a alegria da

fé; ela continua a aumentar à medida que ele

avança em santidade, e depois é a alegria do

amor, unida com a da fé; ela é sustentada no

meio de todas as provações da terra, com a

perspectiva do céu, e então é inchada pela

esperança, acrescentando a sua influência para

a fé e o amor. Esta é a alegria espiritual, esse

estado agradável e confortável de espírito, que

é produzido por se crer no grande objeto da

verdade revelada de Deus, em sua natureza,

atributos, providência, e as relações da aliança

para o seu povo em Cristo - em sua pessoa ,

trabalho, fidelidade e graça - das promessas da

Escritura; e tudo isso fortalecido pela alegria

resultante do testemunho de uma boa

consciência - a conscientização da santidade

crescente, e da certeza da esperança.

Essa é a alegria espiritual - não

necessariamente, um estado de grande

excitação. Ocasionalmente, na verdade, ela não

se caracteriza por uma emoção forte e elevada;

ela é mais do que paz, é o prazer; mas mais do

que prazer, é o êxtase. Os santos têm, por

vezes, subido na asa do êxtase no elemento da

devoção tão altamente quanto muito acima da

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atitude normal da experiência religiosa. Mas a

natureza física de alguns não permite esta

emoção total, nem pode qualquer um suportá-

lo por muito tempo. Recorde-se que as

diferenças de nosso temperamento e de nossa

constituição mental modificam muito até

mesmo nossos sentimentos espirituais. A

alegria de alguns crentes, assim como a própria

emoção, será muito mais forte do que a de

outros, sem supor que possa haver qualquer

compreensão mais clara dos objetos que a

produzem, nenhuma fé mais forte neles, ou

qualquer maior influência prática deles; mas

simplesmente porque há uma susceptibilidade

física mais forte para a emoção excitada.

Daí a necessidade de sugerir a observação - que

a emoção por si só é uma evidência muito

ambígua e enganosa de piedade pessoal. A

alegria espiritual é normalmente um sentimento

calmo, sereno; um estado composto e sereno de

espírito. Isto é geralmente denominado paz,

indizível e cheia de glória, porque embora seja

produzida em parte pela esperança da

felicidade celestial, ainda é um rio tranquilo, e

não uma torrente, que flui através da alma, sem

ruído na proporção em que é profunda. Ou,

mudando a metáfora, é um descanso doce,

difundindo uma sensação de repouso alegre

sobre o coração, em vez de enchê-lo com a

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alegria tumultuosa de um festival. É aquela paz

da qual o Salvador falou, quando estava prestes

a deixar o mundo, e desejando confortar seus

discípulos entristecidos, ele disse, "Deixo-vos a

paz, a minha paz vos dou.” A sua paz, a doce

serenidade de espírito que ele desfrutava em si

mesmo, e a alegria com a qual ele desempenhou

todos os seus deveres, e a dignidade calma,

com todo domínio próprio, em sua renúncia

alegre à vontade divina, nas provas

esmagadoras que ele teve de suportar.

De tudo isto, deve ser evidente que a alegria

espiritual é uma coisa muito diferente do que

algumas pessoas gostariam de representar,

que, imaginando que a religião tem sido

menosprezada, como certamente foi, pela

melancolia e acidez de alguns dos seus

professante, oscilam para o extremo oposto, e

tentam justificar um grau lamentável de

frivolidade, alegria e leveza, pela desculpa, "que

as pessoas piedosas devem ser alegres, e que

este é o caminho para ganhar as pessoas do

mundo à piedade.

Então, na verdade, eles devem ser alegres; mas

pela alegria de sua religião. Nada espectral na

aparência, nem sepulcral no tom, nem ascético

no hábito, nem cínico no espírito, deve

caracterizar o cristão; ele é um filho da luz, e

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deve viver, agir, e falar como tal; ele deve ser

como um dos filhos da manhã caído do paraíso,

e fazer o seu caminho de volta para ele

novamente, e suportar as provações da Terra,

com a lembrança de seu destino feliz, e com a

perspectiva de sua futura glória: ele deveria ter

algo da felicidade do céu, mas, além disto muito

de sua seriedade também.

Vou agora investigar as razões pelas quais tão

pouco dessa alegria é vivida pela maioria dos

professantes (os que professam serem de

Cristo) cristãos. Parto do princípio de que a

multidão tem muito menos do que poderia ou

deveria ter. Olhe para os prósperos entre eles, e

onde colocam a sua alegria? Na sua religião? Ou

em seus bons espíritos, sua saúde, sua família,

seus sucessos e diversão em casa? Olhe para os

aflitos - quão oprimidos com cuidado; quão

torturados com a ansiedade; quão

sobrecarregados com tristezas; quão tristes

com o presente, e sem esperança para o futuro,

eles parecem ser! Quão poucos parecem ter a

paz que excede todo o entendimento, a alegria

que é indizível e cheia de glória! A bíblia diz ao

mundo que as fontes da verdadeira felicidade

brotam do monte Sião, ao pé da cruz - mas quão

pouco muitos que professam ter bebido a água

viva, parecem como se tivessem estado no fluxo

de cristal, e ficaram satisfeitos com isto.

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Por que é isso? Não existe, de fato, o suficiente

nos objetos da verdade espiritual para produzir

essa alegria? Sim, pois eles têm confortado

milhões no vale de lágrimas, em cada variedade

e grau de miséria humana; pois são o gozo dos

espíritos aperfeiçoados; a felicidade dos anjos,

e a alegria do próprio coração de Deus. Será que

as fontes são inacessíveis a eles? Não - elas

estão abertas para todos os filhos de Deus. Será

que Deus não está disposto a dar essa alegria a

eles; e que em sua soberania, retirou deles? Não

- é um erro supor que Deus, por qualquer ato

positivo de sua autoria, dificulta a nossa paz, ou

a extingue; senão que em sua soberania, e não

como um castigo para o pecado, mas para o

propósito de provar e exercitar as graças de seu

povo, ele tira o que é usualmente denominado

de conforto sensível, e os leva a experimentar a

escuridão e desânimo. "Este ponto de vista", diz

Wardlaw, "há muito tempo pareceu-me nem um

pouco perigoso. Isto é de consequência

essencial para nós – ficar impressionados com a

convicção de que somos destituídos de paz e

alegria, porque a causa está em nós mesmos.

Isto está muito calculado para fazer os crentes

ficarem satisfeitos com eles próprios, em

circunstâncias que deveriam incentivá-los ao

zelo, e exame de coração. Parece-me ao mesmo

tempo mais seguro, e mais espiritual,

considerar a falta de paz e alegria como

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decorrente invariavelmente (exceto onde há

uma causa física em uma constituição nervosa)

a partir de algo de errado no temperamento

espiritual de nossas mentes - algum pecado, ou

algum defeito em nós mesmos.

Assim, a causa está em nós mesmos –

exclusivamente em nós. Não é Deus que se

ausentou de nós, mas nós que nos ausentamos

de Deus.”

As verdadeiras causas da falta de alegria

espiritual em professante da fé, são as

seguintes - Alguns são professantes apenas, e

apesar de terem um nome para viver, estão

mortos; e são destituídos de fé, são destituídos,

é claro, de todo o gozo e paz no seu crer. Que

o professante sem alegria examine a si mesmo,

e pergunte se ele é nada mais do que "um

cristão no nome”.

Muitos não desejam essa alegria, pelo menos

eles não cobiçam muito isso. Eles certamente

desejariam algum tipo de prazer; eles desejam

ser gratificados; mas isto é apenas a alegria da

amizade, da saúde, do sucesso no negócio, de

uma casa confortável, que almejam; não a paz

de crer, não o prazer da comunhão com Deus, e

não o deleite de santidade e de esperança, não

a felicidade de um sentido do pecado perdoado,

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e a gratificação resultante dos exercícios de

piedade. Eles nunca vão a Deus em oração,

dizendo: "Senhor, levante a luz do seu rosto

sobre nós, Coloque alegria no meu coração,

porque com você está a fonte da vida e na sua

luz verei a luz."

Grandes erros são feitos por muitos em

referência à alegria espiritual. Alguns imaginam

que é apenas um privilégio a ser esperado, e

esperado em uma forma de favor soberano; mas

não um dever a ser realizado. Que isso é um

dever é evidente a partir da frequência com que

é proibido, assim como prometido. Somos

ordenados a nos "alegrarmos no Senhor", e nada

nos impede disso, senão a nossa falta de fé. Se

é nosso dever crer, é igualmente nosso dever

nos alegrarmos. É um pecado não ter alegria,

bem como ser moroso. É verdade, a alegria é

uma obra do Espírito, um dom de Deus; mas

também a fé, o amor e a santidade.

Alguns imaginam que, embora isto seja um

dever e um privilégio para os outros, não é para

eles. Por que não? A fonte de alegria está na

promessa, não em si mesmos, e é para ser

retirada pela fé. E não é a promessa tanto para

você como para qualquer um? Alguns estão

esperando o que, talvez, eles nunca terão; um

grau de êxtase, para o qual sua constituição é

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pouco susceptível. Eles estão supondo que

alegria espiritual significa algo místico, um

êxtase, quase seráfico; alguns buscam uma

emoção arrebatadora que os deixe em dúvida se

estão no corpo ou fora do corpo. Eles não estão

satisfeitos com a calma, doce prazer sereno de

paz. Alguns não têm atingido a plena certeza da

esperança, não receberam o testemunho do

Espírito, e porque eles não têm a alegria da

segurança da salvação, rejeitam a da fé; ou

porque não têm a alegria de uma fé forte,

desprezam a de um fraco.

Alguns estão esperando se alegrar até que

tenham atingido uma perfeição sem pecado,

esquecendo-se que, se eles nunca se alegraram

até então, eles nunca terão paz até que

cheguem ao céu; e assim mostram por um tal

comportamento que estão buscando alegrar-se

em si mesmos, e não no Senhor. Oh! quão

numerosas são as maquinações de Satanás para

impedir o povo de Deus de ser alegre, quando

ele não pode impedir que eles sejam santos -

quão numerosos e quão sutis são os métodos

pelos quais ele faz com que os filhos da luz

caminhem na escuridão!

O conhecimento limitado do sistema de

redenção, e das grandes verdades do

evangelho, é um obstáculo comum para a

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alegria espiritual. Como a fonte de conforto

espiritual está na verdade, podemos receber

esse conforto apenas na proporção em que a

verdade é entendida e crida. Nas mentes de

muitas pessoas piedosas há muita confusão de

pensamento; muita mistura de lei e evangelho;

falta de clara discriminação entre justificação e

santificação; e uma igual falta de discriminação

entre a graça de Deus e o mérito humano.

Eles estão sempre à procura de marcas e

evidências em si mesmos, em vez de olharem

para Cristo; e encontram mais angústia e

tormento nelas pelas menores imperfeições que

constatam em si mesmos, do que em toda a

plenitude da graça no Salvador para confortá-

los!

Por andarem assim, continuamente no caminho

de desânimo sombrio, o cristão está apto a

adquirir uma fraca e mórbida forma de piedade.

Isto não é a humildade, penitência e um objetivo

para algo melhor, (dos quais o crente não pode

ter muito), mas o descontentamento, miséria, e

uma tristeza sem esperança. Cristãos, estudem

bem, tanto quanto leiam o evangelho.

Trabalhem para compreender o sistema da

salvação pela graça mediante a fé. Penetrem até

o fundo, na medida do possível, dessa palavra

maravilhosa graça; e, sobretudo, cresçam no

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conhecimento daquela união gloriosa entre

justiça e misericórdia, que é estabelecida pela

morte de Cristo!

Os cristãos se excluem da alegria, às vezes, por

estarem com medo de deixar sua religião fazê-

los felizes. Mesmo que eles não neguem em

palavras que têm algum direito e razão para se

alegrar, e que não seria presunção de sua parte

ser felizes no Senhor; todavia, eles parecem ter

medo de ir para um elevado grau de deleite

espiritual, para que não se "exaltem acima da

medida."

Há momentos em que a maioria dos cristãos

têm uma sensação mais vívida e deleitosa da

verdade divina, quando há uma transparência

incomum da atmosfera da alma, por meio da

qual o "olho da fé" discerne objetos espirituais,

com particular clareza, e quando a alma parece

instintivamente exultar. A nota de louvor é

emitida com uma nova força, e o coração está

começando a se encher em uma plenitude de

alegria. Naquele momento, uma suposição se

arrasta sobre a alma: "Devo conter esses

sentimentos, eles vão colocar em risco minha

humildade, encher-me com orgulho, e expor-me

a tentações de Satanás!" Toda alegria espiritual

é agora checada - e o espírito que foi convidado

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a subir, se encolhe para baixo, e condena-se a

rastejar!

O pecado amortece a alegria espiritual – e deve

fazê-lo! Eu agora não me refiro à imoralidade,

porque isso coloca a alegria completamente

para fora; mas aos menores resquícios de

nossas corrupções de todos os pecados do

coração, os pecados da língua, os pecados do

caráter. Pecados conhecidos apenas por Deus e

pela consciência. Pecados de omissão e de

defeitos. Pecados que não nos tornam menos

cristãos ou que nos excomunguem da Igreja.

Tais pecados, quando não sofrem oposição ou

não são mortificados, devem diminuir a nossa

alegria. Eles podem não apagar a luz da nossa

piedade por completo, mas eles a cercam com

uma atmosfera impura, uma névoa espessa, o

que impede que a sua luz brilhe no coração.

E, então, conectado com isso, eu posso

observar, que a piedade de muitos é muito fraca

também; eles são muito mundanos, muito

mornos, vivem muito longe de Deus, para

derivar muita alegria e paz da parte de sua

piedade. A alegria espiritual, é a alegria em

Deus, em Cristo, na santidade, no céu! E

quando, por isso, o professante que vive tão

pouco em seu quarto de oração, comunga tão

pouco com a sua Bíblia, participa tão pouco do

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aperfeiçoamento de seu espírito, e vive tão

longe de Deus, ele duvida de si mesmo, e outros

duvidam dele , se ele ama a Deus ou não – não

é à toa que sua religião não o faça feliz.

A religião de algumas pessoas é suficiente

apenas para torná-las miseráveis. Ela lhes

estraga para o mundo, nem os prepara para a

igreja. Sua profissão religiosa é um estorvo

sobre eles, e está no caminho de seu prazer

mundano. Estes são os homens que são tão

absorvidos com o mundo, que eles não desejam

a alegria da verdadeira religião, e não estão

dispostos a expulsar um único cuidado ou

prazer terreno, se fosse para abrir caminho para

todas as consolações do Espírito.

Meus queridos amigos, deixe-me agora

suplicar-lhes para evitarem esses obstáculos, e

procurarem por uma condição mais celestial e

feliz de espírito. Ore por isto, pois é um fruto do

Espírito. Leiam muito suas Bíblias, para que isto

venha na forma de entendimento, fé e sentindo

a verdade. Encontre tempo para a meditação

privada, em silêncio, pois a verdade não será

vista, de modo a afetar o coração, por um olhar

apressado. Peçam a Deus para fortalecer a sua

fé, porque sua alegria deve sempre ser

proporcional à sua fé. Vigie contra o pecado,

pois o pecado é como a água para a chama da

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alegria. Cultive todos os ramos da santidade;

porque santidade é felicidade. Mantenha

companhia com aqueles que aprenderam a

cantar a canção do Senhor, e estão caminhando

em júbilo. Você deve ter piedade eminente, se

você deseja ter alegria espiritual. A verdadeira

religião é a vida; e é uma vigorosa vida - não

doentia e diminuta vida. A verdadeira religião é

luz, e você sabe que uma mera faísca não vai

iluminar um quarto, senão uma chama. A

verdadeira religião é a água para quem tem

sede, e não é uma gota, senão uma fonte, que

irá agradar e satisfazer. Seja diligente, sim,

tenha toda a diligência para confirmar a sua

vocação e eleição.

Você precisa de motivos para isso? Quantos

estão à mão!

Pense em sua própria felicidade. Você não deve

ser indiferente a isso. Deus quer que você seja

feliz, e tem provido mais abundantemente

meios para torná-lo assim. Você deve entrar em

seu desígnio e se esforçar para ser alegre. Deus

gosta de ver seus filhos felizes, e não permitirá

que eles sejam indiferentes à sua própria paz.

Pense no auxílio que sua alegria irá permitir-lhe

em referência a todas as suas outras funções.

Ela vai lançar uma influência sobre tudo. É isso

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que vai fazer você guardar o dia do Senhor com

prazer, que vai aproximá-lo do trono da graça

com ousadia, permitir-lhe ler as Escrituras com

prazer, e tornar suas estações sacramentais

tempos de refrigério pela presença do Senhor.

O santuário, o quarto de oração, a Bíblia, e a

Ceia do Senhor parecerão todos sombrios - se a

alegria estiver ausente. Mas a alegria espiritual

vai lançar luz sobre todos esses meios de graça,

e colocá-los na luz do sol.

A alegria irá ajudá-lo na guerra da vida cristã, e

fazer com que você, seja como o viajante que

canta em sua viagem através da floresta e da

planície - para vencer o tédio em seu caminho,

com as canções do Senhor. "A alegria do Senhor

é a vossa força", disse Esdras, o escriba, quando

ele constatou os sofrimentos dos judeus, e

estabeleceu um princípio aplicável à vida cristã

como a qualquer outra empresa – e que grande

empreendimento ou coisa boa debaixo do sol já

foi alcançado sem alegria? No operar a nossa

salvação, não deve haver somente "temor e

tremor", mas esperança e alegria. A alegria

espiritual é o óleo para as rodas da obediência.

É isso que prepara a alma para a ação, e leva-a

para a frente através de deveres difíceis e

abnegados.

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Como podemos melhor vencer o mundo, que

sempre está presente, e cada inimigo, que vem

em tantas formas, e com argumentos de ouro?

Como, senão por um coração já bem satisfeito

com a sua própria felicidade em Cristo. A alegria

espiritual é um conquistador do mundo! E quão

fácil e perfeito é em seu triunfo!

O coração pela santa alegria se eleva acima do

mundo, o vê embaixo, coberto de fumaça e

poeira, e se encontra em uma mais pura região

mais brilhante, mais feliz, com o sol sem nuvens

acima, e em tudo preenchido com a sua glória.

O que tem o mundo para oferecer comparável

ao que uma fé exultante encontrou em Cristo?

O que tem a "ambição mundana” a oferecer que

possa competir com isso? Pode rejeitar o favor

do príncipe coroado, e colocar a sua coroa de

lado como um brinquedo, aquele que está

alegres na esperança de uma coroa incorruptível

de vida e de glória!

E então pense sobre a importância desta alegria

espiritual na época escura da aflição. Muitos de

vocês que não têm nenhuma outra alegria

terrena - não cobiçariam essa alegria espiritual?

Se a piedade não derramou sua luz sobre seu

espírito, você está em escuridão total. E isso

pode iluminar a condição mais escura do ser

humano - isto tem irradiado a morada escura da

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pobreza, a câmara sombria da aflição, a morada

desolada da viúva, a masmorra sombria do

cativeiro, e fez o mártir cantar no cadafalso, ou

na fogueira. A oração exultante de Habacuque

foi proferida por multidões e no meio de

colheitas arruinadas, e barracas vazias, eles têm

se alegrado em Deus, no Deus da sua salvação.

Entristecidos, enxuguem suas lágrimas, e

silenciem seus soluços e dissipem seus medos

na cruz, e diante do trono eterno! Sem mais

nada para se alegrar, você tem Deus, Cristo, e a

salvação! E é isto nada?

Você é chamado, nesta época extraordinária,

para grandes empreendimentos para a

conversão do mundo; e, a fim de alcançá-lo,

você deve fazer sacrifícios de tempo, dinheiro e

comodidades. E como é que isso deve ser feito?

Uma igreja feliz será uma igreja trabalhadora.

Nada de grande - eu repito, é devido à sua

importância - nunca foi ainda alcançado sob o

sol, senão por um coração alegre e livre. É o

espírito alegre, que visa a grandes coisas,

espera grandes coisas, e realiza grandes coisas.

Os apóstolos e os primeiros discípulos, embora

fossem homens perseguidos, eram homens

alegres. Eles contaram tudo com alegria, mesmo

em meio a várias provações. Eles

surpreenderam o mundo com o espetáculo de

heróis morais, que poderiam sorrir em cadeias,

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prisão e morte, e que poderiam ir cantando para

encarar a vara e o machado do carrasco, e para

encontrar os leões do anfiteatro. A religião

apareceu em todo o seu poder e glória como um

princípio sobre-humano, uma coisa celeste e

divina, e muitos foram convertidos à fé pela

alegria do mártir, bem como pelo seu

testemunho.

Cristãos, imitem esses exemplos. Não diga ao

mundo que você está feliz, mas apareça assim.

Verifique a afirmação de sua própria

experiência, tantas vezes feita, e por isso muitas

vezes expressa pelo próprios cristãos, que a

Igreja de Cristo é a sede da bem-aventurança.

Seja em espírito uma refutação às calúnias do

mundo quanto à religião, na afirmação de que é

um azedo, infeliz, espírito sombrio; um

fantasma vindo do local de túmulos, e

superstição cruel para assombrar e infestar as

moradas dos vivos. Uma igreja feliz iria, quase

por sua própria aparência, sem o seu trabalho,

converter as nações. O monte da casa do

Senhor, elevando-se acima das colinas, radiante

com a paz, uma vez que refletia os raios do Sol

da Justiça, e verdejante com santidade, iria

atrair os olhos, e guiar os pés do aflito, das

tribos errantes da terra para si, quanto ao local

de repouso.

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Os primeiros raios da manhã milenar serão

vistos neste esplendor celeste repousando

sobre a igreja. Portanto, sejam cristãos felizes,

bem como santos. Exemplifiquem nisto, como

em todos os outros aspectos, o espírito do

evangelho. Sejam como o seu Divino Mestre, na

pureza, simplicidade e alegria, com o que vocês

devem se dedicar ao serviço da humanidade.

Tragam mais do seu espírito sereno e feliz em

seu trabalho. Deixem sua piedade ser vista por

todos como uma fonte perene de paz e alegria

para a sua própria alma, ao abrigo dos vários

compromissos da Divina Providência.

Antecipem as felicidades do céu aqui embaixo.

Fiquem no pórtico do Templo Celestial -

apareçam como homens que não somente

ouvem as canções, mas que esperam ver em

breve as portas eternas abertas para admiti-los

à presença de Deus, onde há plenitude de

alegria, e em sua mão direita, onde há delícias

perpetuamente!

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Alegria para Almas Tristes

Título original: Joy and Gladness for Mourning Souls

Por J. C. Philpot (1802-1869)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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“1 O Espírito do Senhor Deus está sobre mim,

porque o Senhor me ungiu para pregar boas-

novas aos mansos; enviou-me a restaurar os

contritos de coração, a proclamar liberdade aos

cativos, e a abertura de prisão aos presos;

2 a apregoar o ano aceitável do Senhor e o dia

da vingança do nosso Deus; a consolar todos os

tristes;

3 a ordenar acerca dos que choram em Sião que

se lhes dê uma coroa em vez de cinzas, óleo de

alegria em vez de pranto, vestes de louvor em

vez de espírito angustiado; a fim de que se

chamem árvores de justiça, plantação do

Senhor, para que ele seja glorificado.” (Isaías

61.1-3)

Ao falar sobre o testemunho de Jesus Cristo,

sobre o modo como esse testemunho é

recebido, e como aqueles que o receberam

testificaram que Deus era verdadeiro, eu

poderia ter citado, se tivessem ocorrido em

minha mente, estas palavras do Senhor Jesus

Cristo, pois é de seus lábios que procedem. Isto

é evidente não só pelo alcance geral do capítulo,

mas também pela declaração expressa do

próprio Senhor Jesus Cristo.

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Vocês se lembrarão de que em certa ocasião,

pouco depois de ter entrado em seu ministério,

veio a Nazaré e, como era costume, entrou na

sinagoga no dia de sábado e levantou-se para

ler. E foi-lhe entregue o livro do profeta Isaías.

Ele abriu o livro no lugar onde estava escrito "O

Espírito do Senhor está sobre mim" (Lc 4. 18).

Então segue a passagem que acabamos de ler.

Assim, sentando-se para expor as Escrituras

segundo o seu costume, acrescentou "Hoje se

cumpriu esta Escritura aos vossos ouvidos" (Lc

4. 21). Agora, como poderia a Escritura ser

cumprida em seus ouvidos, a menos que ele

fosse a pessoa cujo ofício era confortar todos os

que choram, e fazer toda a obra abençoada que

é aqui falada?

Ao olhar para estas palavras, com a bênção de

Deus, tentarei mostrar:

I. O caráter do enlutado espiritual, pois é de

quem se fala aqui.

II. As doces e abençoadas promessas que Deus

deu ao enlutado espiritual.

III. A glória que redunda assim para Deus.

I. O caráter do enlutado espiritual, pois é de

quem se fala aqui. Agora, como para nos

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proteger de ver estas palavras em um sentido

muito geral, o Senhor limitou seu significado no

terceiro versículo; "a ordenar acerca dos que

choram em Sião". A promessa, portanto não é

para aqueles que choram em geral, mas para

aqueles que choram de um modo especial; não

para aqueles que estão em peso e tristeza de

meros problemas mundanos, mas para aquelas

pessoas que sob a doutrina de Deus, estão de

luto em Sião. Ninguém pode estar enlutado em

Sião, a menos que seja um participante da

graça, regenerado e vivificado na vida divina

pela operação do Espírito Santo no coração.

Onde quer que a graça tome posse do coração

de um homem, elevando nele uma vida que

nunca pode morrer, isso o torna um enlutado

espiritual. Até que essa obra seja realizada na

alma, ela não tem lugar nas promessas,

nenhuma situação marcada para ela na Palavra

de Deus, nem está em um estado adequado

para receber as consolações do evangelho.

(Nota do tradutor: Daí nosso Senhor afirmar no

Sermão do Monte, que são bem-aventurados

apenas os que choram, segundo o modo aqui

apontado. Aqueles que lamentam por seus

pecados e pela natureza corrompida pelo

pecado que possuem, mas que buscam a

regeneração e a renovação em Deus. Isto está

claramente revelado em várias passagens

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bíblicas, especialmente na seguinte promessa

do Senhor em relação àqueles que seriam os

únicos contemplados pelo seu favor nas coisas

relativas à salvação “Porque a minha mão fez

todas estas coisas, e assim todas elas foram

feitas, diz o Senhor; mas para esse olharei, para

o pobre e abatido de espírito, e que treme da

minha palavra.” (Isaías 66.2).

E ainda: “Porque assim diz o Alto e o Sublime,

que habita na eternidade, e cujo nome é Santo:

Num alto e santo lugar habito; como também

com o contrito e abatido de espírito, para

vivificar o espírito dos abatidos, e para vivificar

o coração dos contritos.” - Isaías 57.15)

Mas, eu não iria limitar os choros aqui falados

apenas aos enlutados espirituais, pois se eu

desenhasse essa linha muito estreita, quantas

provações, sofrimentos e tristezas, eu passaria;

por isso quase diria que tais aflições não

precisavam de consolações divinas. Porém,

embora eu limite os enlutados aos que choram

em Sião, eu não limito o luto de Sião ao luto

espiritual, mas me refiro a todos os sujeitos de

provação e dor que só Deus, por seu Espírito e

graça pode confortar e apoiar.

Como então, o Senhor prometeu que vai

consolar todos os que choram, todos os

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enlutados espirituais que têm um caso de

dificuldade e tristeza, e têm interesse nesta

promessa?

Mas, para além das variadas fontes de angústia

temporal que os filhos de Deus sentem com

tanta agudeza, mais intensidade e profundidade

do que as pessoas mundanas, como possuindo

sentimentos mais ternos e requintados, têm

problemas peculiares que os tornam

particularmente notados em Sião. Estes têm um

sofrimento interior, um coração ferido que os

faz caminhar sobrecarregados, e às vezes

pesadamente durante todo o dia. Onde quer que

haja verdadeiras convicções de pecado, uma

verdadeira ferida feita na consciência pelo

Espírito de Deus, haverá luto.

O pecado é uma coisa tão vil em si mesmo; um

objeto que Deus tão essencialmente e

eternamente odeia, uma questão que estava

sobre Jesus com peso e poder tão pesados, que

foi uma fonte de intensa dor e angústia para o

querido Filho de Deus, quando reclinou seu

corpo e alma sagrados no jardim do Getsêmani

e o teve pregado na cruz, que todo santo de

Deus que se abriu em sua consciência com uma

verdadeira convicção espiritual deve se tornar

um enlutado espiritual.

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Mas, além do peso das convicções angustiantes

na primeira obra de graça na alma, quando este

luto começa, olhe para um filho de Deus através

de seu curso, até o dia em que recebe sua coroa

imortal; este luto o acompanha por todo o

deserto, a partir do momento em que a vida

divina entra em sua alma até o final de seus

dias, quando as ondas do Jordão estão à vista, e

ele passa por suas inundações para os reinos da

bem-aventurança. Quanto mais ele conhece o

seu coração, quanto mais anda na vida divina, e

quanto mais o pecado lhe é aberto à luz do

semblante de Deus, mais ele será um enlutado

espiritual. Às vezes ele vai chorar por causa dos

males de seu coração, já que as suas

concupiscências e corrupções são tão fortes, e

ele tão fraco contra elas; às vezes sobre as

tentações que Satanás colocou para seus pés,

em que ficou enredado, e por elas foi

derrubado; às vezes por causa da ausência de

Deus, pela qual ele encontra tão pouco acesso à

sua bendita Majestade. Às vezes, ele vai chorar

por sentir quão pouca graça possui, e em outro

momento se entristecerá por suas falhas e

incapacidade de perceber aquela piedade vital

em sua alma, que é carimbada pela aprovação

de Deus. Às vezes, ele vai chorar por causa de

suas apostasias, como se envolveu e deu lugar

às suas concupiscências, como foi vencido por

seu temperamento, como murmurou e se

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preocupou com os tratos de Deus com ele, de

modo que às vezes estava quase pronto a

cometer suicídio ou fazer algo desesperado.

Como estes, outros mil males são sentidos no

coração de um homem, que o fazem chorar, e

como o texto fala, têm cinzas para sua

cobertura. Ele chora também por sua falta de

frutificação, pois que não pode ser, fazer ou

dizer o que quer. Ele tem fortes desejos de

adornar a doutrina de Deus em todas as coisas,

ter espiritualidade de mente e terna consciência,

bem como levar uma vida de fé, oração e

vigilância. Mas, é obrigado a confessar com o

apóstolo: "Pois o que faço não é o bem que

quero fazer, mas o mal que não quero fazer,

este eu faço" (Romanos 7:19). Entretanto,

muitas vezes sua mente está fazendo

exatamente o contrário. Todas estas coisas

combinadas com as poderosas tentações de

Satanás e suas muitas dúvidas, em virtude da

ocultação do rosto de Deus por causa de seus

pecados, por sua completa incapacidade de

afastar os fardos que o pressionam para o mal,

o afundam profundamente.

E, quando ele não pode perceber nenhuma

manifestação do amor de Deus; tudo é escuro e

desolado, lhe parece como se nunca tivesse

conhecido qualquer bem, estando pronto para

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se excluir como um hipócrita ou um professante

morto. Além de tudo isso, ele também pode ter

experiência de perseguição por causa da

verdade daqueles que talvez lhe sejam

próximos e queridos; de modo que não é

apenas um, porém muitos sofrimentos para

suportar, com o sentimento, às vezes, de ser

dentre todos os homens, o mais miserável.

1. Mas o Senhor, falando deste lamentador, deu

certas MARCAS definidas pelas quais ele pode

ser mais claramente e distintamente conhecido.

Ele fala, por exemplo, de "cinzas" em conexão

com este enlutado espiritual, pois prometeu

dar-lhe "uma coroa no lugar de cinzas". Para

entender essa alusão, precisamos ver qual é o

significado bíblico desse emblema. Nos tempos

antigos as cinzas eram um sinal exterior de luto,

assim como as roupas negras são para nós em

nossa cultura. Mas elas também transmitem

uma sensação de profunda humilhação. Jó, na

sua aflição, assentou-se entre as cinzas. Saco e

cinzas são muitas vezes acoplados na Escritura,

como marcas de luto, como Jó fala "Aborreço-

me, e me arrependo no pó e na cinza" (Jó 42: 6).

Quando Tamar sofreu desonra de seu irmão,

rasgou suas roupas e colocou cinzas em sua

cabeça, como uma marca externa de luto por

sua degradação e humilhação.

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Há muito significado no emblema. As cinzas são

apenas o resíduo queimado e o resíduo escuro

do que antes era brilhante e justo. Assim, as

cinzas, como falado em relação ao enlutado

espiritual implicam que, o que antes era justo e

bonito em seus olhos, quando consumidos na

fornalha, torna-se apenas um remanescente

escuro e miserável. O ato de espalhar cinzas

sobre a coroa de sua cabeça parece implicar

que, o enlutado espiritual não poderia tomar um

lugar muito baixo, para que pudesse esconder

seu rosto na poeira, e espalhar sobre si mesmo

toda a sua glória jactanciosa que sentiu uma

vez, pois a humilhação que sentiu

presentemente em sua alma diante de Deus, fez

com que se percebesse em sua própria visão

como um miserável, um pecador de fato.

2. Outra marca que o Senhor dá sobre enlutado

espiritual em Sião, é que ele está vestido com

espírito angustiado. Há algo muito expressivo

nesta figura. A força do coração é comparada a

um manto enorme ou vestuário exterior, que

não só o cobre em toda a volta, mas repousa

sobre ele com um peso que deprime seu espírito

até a poeira. Quantas coisas há para produzir

em uma alma crente, um espírito pesado,

angustiado! Alguns do povo de Deus parecem

quase constitucionalmente dispostos ao

abatimento da mente, sensações e apreensões

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sombrias, tanto na providência como na graça.

Nuvens escuras e sombrias passam

continuamente por cima de sua mente, e

Satanás ajudando a acelerar sua angústia,

levanta diante de seus olhos mil males que

talvez nunca aconteçam, mas são tão temidos

como se fossem reais e ainda mais

dolorosamente sentidos. Esta depressão mental

os veste como com uma peça de vestuário que

se fecha em cada lado, dificultando cada

movimento com suas dobras aparentemente

inextricáveis.

Esses entristecidos espirituais são então, as

pessoas para quem o Senhor tem um respeito

especial. Estes são aqueles a quem o Senhor

Jesus Cristo foi ungido pelo Espírito Santo para

consolá-los. Isso nos leva ao nosso segundo

ponto, que é mostrar:

II. As doces e abençoadas PROMESSAS que Deus

deu ao enlutado espiritual. Ele foi especialmente

designado para os que choram em Sião, e foi

ungido com o propósito expresso de lhes dar

"uma coroa em vez de cinzas, óleo de alegria em

vez de pranto, vestes de louvor em vez de

espírito angustiado".

Tudo isto observado, é de ordenação divina.

Nós nunca podemos aquilatar devidamente

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estas ordenanças de Deus, como o grande

governante, diretor e controlador de todas as

coisas. Não devemos olhar para os variados

acontecimentos que estão ocorrendo neste

mundo como uma mera questão de acaso, uma

mistura confusa, como se essas circunstâncias

multiformes fossem todas jogadas como

bolinhas de gude em um saco, e jogadas fora

sem qualquer ordem ou arranjo.

Deus é um Deus de ordem. No mundo natural,

o mundo da criação, tudo está em ordem. No

mundo espiritual, o mundo da graça, tudo está

em ordem; e no mundo providencial, o mundo

da providência, também tudo está em ordem.

Em nossa mente, na verdade, tudo parece

desordem, mas isso surge de nossa ignorância,

não vendo o todo como um plano

definitivamente arranjado. Se você visse um

tecelão trabalhando em um tear e não visse

nada, exceto os fios e agulhas em contínuo

movimento, você não veria nada além de

confusão, tampouco poderia formar a mais leve

concepção do padrão que estava sendo

trabalhado. Mas, quando o todo foi concluído e

a seda tirada do rolo, então veria um padrão

arranjado em ordem bonita, cada linha

concorrendo para formar um design

harmonioso. Porém, tudo isso era conhecido de

antemão pelo artista que desenhou o padrão, e

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todo arranjo foi feito em estrita subserviência a

ele.

Mas, se este é o caso das nomeações de Deus

na providência, quanto mais é verdade de seus

projetos gloriosos em graça. Todo julgamento e

tentação, aflição e tristeza são apenas o

resultado de um plano definido na mente

eterna. No entanto, muitas vezes tudo parece

como confusão para nós! Esta confusão não é

tanto nas coisas em si, mas em nossa mente. Jó,

cercado de angústia, gritou: "Estou cheio de

confusão" (Jó 10.15).

No entanto, podemos ver ao ler sua história que

todas as suas provações estavam trabalhando

em direção a um fim designado. Assim, cada

tentação, provação, ou aflição, que já se

apresentou ou que sempre se apresentará em

seu caminho; se você é um filho de Deus, você

foi marcado por uma sabedoria infinita e

infalível.

A estrada mais comum, não está disposta de

acordo com um plano definido, quando o

topógrafo traçou cada quilômetro em seu

devido lugar? Então, o Senhor não apresenta de

antemão o caminho pelo qual o seu povo deve

andar? Ele não coloca uma tribulação aqui, uma

tristeza ali, uma aflição nesta esquina e uma

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cruz naquele canto, mas cada um

definitivamente não é posto em infinita

sabedoria, para trazer o viajante seguro para

casa em Sião?

Mas, como o Senhor designou o luto, o peso e

a cinza, assim ele designou o Senhor Jesus

Cristo, para que possa administrar consolo aos

enlutados espirituais. E você não pensa que

quando Deus em sua infinita sabedoria escolheu

seu próprio Filho querido, ele escolheu alguém

que era apto para a obra? Quem mais estava

apto para isso? Pois os que estão de luto em Sião

têm tentações e dores que precisam de um

apoio e uma consolação, que só o Filho de Deus

pode dar; nenhum homem, nenhum ministro,

nem mesmo um anjo do céu sem uma comissão

especial para esse propósito poderia consolá-

los, porque precisam de um libertador

Onipotente; e sendo seus problemas

principalmente espirituais, eles precisam de

alívio espiritual para chegar à raiz do caso, de

modo a tornar o remédio adequado para a

doença.

Quando Deus então, em sua infinita sabedoria

designou seu querido Filho para consolar todos

os que choram, ele designou alguém capaz de

fazer a obra; não somente Aquele cujo coração

e afeições estavam engajados nela, não só

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Alguém disposto, mas forte para fazê-lo, tendo

em sua Pessoa gloriosa a força infinita e poder

de Deus. Por isso o Senhor disse: "Naquele

tempo falaste em visão ao teu santo, e disseste:

Coloquei a coroa num homem poderoso; exaltei

um escolhido dentre o povo." (Salmos 89:19).

Então, Ele veio no tempo designado por Deus, o

Espírito Santo repousou sobre ele sem medida,

e o ungiu para pregar estas boas-novas; “O

espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque

o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas

aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos

de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e

a abertura de prisão aos presos;" (Is 61.1).

Tanto sua nomeação para o cargo, como o seu

cumprimento são semelhantes à graça. A

criatura não tem posição aqui, nem leio uma

única palavra sobre o seu mérito ou suas boas

obras. Eles choram, é verdade, mas Deus não vê

mérito em lágrimas, nem em luto, nem em

sofrimento, nem em tristeza. Se seus olhos

fossem uma fonte de lágrimas, não poderia

lavar um só pecado. Se, então, o Senhor olha

com piedade para estes choros, é somente por

sua graça.

Seus olhos estão fixos em suas provações, e seu

coração simpatiza com suas tentações, porque

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ele próprio nos dias da sua carne foi

semelhantemente tentado, e tem uma simpatia

de sentimento com eles em todas as suas

aflições, pois ele também era "um homem de

dores, familiarizado com o sofrimento" (Isaías

53: 3). Mas ele não somente tem compaixão; a

misericórdia sem ajuda é senão um trabalho

frio. Ele, portanto ajuda, bem como se

compadece.

1. Assim, ele lhes dá "uma coroa no lugar de

cinzas". Nós os vemos sentados em cinzas,

lamentando seus pecados e tristezas,

escrevendo coisas amargas contra si mesmos

como vendo em seu interior apenas a miséria e

a morte. Então Ele vem, e pelo seu Espírito

abençoado fala uma palavra de perdão ou de

paz em seu coração e consciência. Quando essa

palavra vem com um poder divino em suas

almas, ela tira as cinzas, isto é, remove o

sentido que têm de ruína e miséria, tira sua

lamentação e tristeza, e faz seu rosto brilhar.

Isso lhes dá beleza. Mas que beleza? Não a sua

própria, mas a dele. Mas como pode dar-lhes

sua beleza – ela é comunicável?

Sim, dando-lhes uma visão de si mesmo, de

acordo com sua promessa, "Seus olhos verão o

Rei em sua formosura" (Isaías 33:17). Quando

então, seus olhos veem o Rei em sua beleza,

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quando vislumbram seu rosto bonito, aquela

beleza é refletida de seu rosto para o deles.

Assim foi com Moisés. Ele subiu as escarpas do

Sinai carregado e abatido com os pecados do

povo, sobre o qual Deus o tinha feito cabeça.

Mas, quando chegou lá, ele se comunicou com

Deus; e vendo sua beleza e glória incriadas,

assim se refletiu sobre ele e seu rosto ficou tão

resplandecente com a glória de Deus, que o

povo não pôde olhar para ele. Por isso lemos

que Moisés tomou um véu e o pôs sobre o rosto.

Havia tal contraste entre a beleza e a glória de

seu rosto, e a escuridão e carnalidade de suas

mentes, que eles não podiam suportar a visão.

Perto da beleza do Senhor, nada é tão bonito

como a graça. É bonito como sendo glória

começada, glória no broto. Na verdade, até que

possamos ver e sentir o quanto a graça é bela

mesmo em nosso estado neste tempo presente,

ainda não temos nenhuma concepção do que a

glória será em um estado eterno. Admirar a

beleza é natural para nós, pois que

naturalmente admiramos a beleza humana, um

rosto bonito, uma figura graciosa.

Na verdade, toda a criação de Deus é cheia de

beleza, desde o sol que brilha no céu até o

inseto que rasteja no chão. Um homem não

pode ter olhos que não vejam beleza em cada

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criação da mão de Deus. Na verdade, neste

mundo não há nada realmente deformado ou

feio, senão o pecado e o que foi produzido por

ele. Mas, toda a beleza criada fica aquém da

beleza incriada; quero dizer, a beleza da graça,

a imagem de Cristo na alma. Esta é a verdadeira

beleza que a Escritura chama de "a beleza da

santidade".

"O teu povo apresentar-se-á voluntariamente no

dia do teu poder, em trajes santos; como vindo

do próprio seio da alva, será o orvalho da tua

mocidade." (Salmo 110: 3).

O povo de Deus é aqui representado, como

saindo do ventre da madrugada, embrulhado,

por assim dizer, com o orvalho refletindo em

cada gota, as belezas da santidade do Sol da

Justiça. Mas, há essa característica peculiar na

beleza espiritual - uma pessoa nunca a vê em si

mesma; não, porque aquele que tem mais graça

vê-se mais pecador, portanto não pode ver a

beleza que a graça coloca sobre ele. Esta beleza

não habita exteriormente no rosto ou no

comportamento, mas no homem interior do

coração, e consiste na reflexão da imagem de

Cristo.

Desta beleza, a humildade é a característica

mais marcante, de modo que quanto mais o

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Senhor entra na alma de um homem nas

manifestações de seu amor e graça, e quanto

mais ele vê a beleza e santidade de Deus, mais

se aborrece no pó e aborrece a si mesmo por

causa de suas abominações. Mas toda graça do

Espírito se combina com um todo belo; e ainda

assim é uma reflexão imperfeita da beleza

consumada do Senhor Jesus Cristo, que, como

diz a noiva, é "alvo e corado, o principal entre

dez mil" (Cântico dos Cânticos 5: 10).

Então, esta é a beleza que ele dá para as cinzas

da humilhação em que o filho de Deus se senta;

essas cinzas negras se encaixam no emblema

da queima da justiça da criatura. O Senhor tira

essas coisas e coloca sobre ele a sua própria

beleza incriada, o vestido glorioso da justiça

imputada, que ele executou, com o qual veste a

alma crente; e para isso ele acrescenta a sua

própria imagem, aquele novo homem da graça

que segundo Deus foi criado em justiça e

verdadeira santidade.

Agora, não é este um intercâmbio glorioso – o

de remover a cinza para colocar beleza; remover

a si mesmo e colocar Cristo; remover a miséria

e colocar misericórdia; colocar fora os panos de

saco e ser vestido com alegria?

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2. A segunda coisa que o Senhor dá é "o óleo da

alegria". Há algo muito notável nessa expressão.

O Senhor não só dá alegria à seu filho de luto,

mas o óleo da alegria. Alegria, mera alegria, não

é suficiente quando não acompanhada com o

óleo de alegria, pois parece muito superficial

para uma alma de luto. Há algo no coração de

um crente, uma santa sabedoria e cautela, que

rejeita a superficialidade; uma ternura sagrada

do sentimento divino, que vê e rejeita o que

quer que use a aparência de excitação natural.

Flashes de alegria natural são muito vazios,

demasiado superficiais para ele. Ele as rejeita,

portanto, como lisonjeiras e ilusórias, como

antes acendendo a mente carnal e estimulando

o espírito natural, do que regando e

abençoando a alma.

Um crente pode muito bem suspeitar do valor

real do produto. Um comerciante que entende

seu negócio não é enganado com uma

superfície lustrosa colocada sobre os bens, mas

examina como todo o artigo foi elaborado, de

que materiais originais ele consiste e como

foram trabalhados. É somente o ignorante que

é enganado por uma superfície lisa e um

exterior reluzente. Assim, um filho de Deus, que

há muito tempo foi pressionado por provações,

tentações, e teve que provar sua religião uma e

outra vez, não é enganado com a aparência

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exterior das coisas, mas o que ele olha é a

realidade, algo sólido e permanente, algo divino

e espiritual, recomendado à sua consciência

como o verdadeiro dom de Deus.

A alegria, portanto que o Senhor dá é "o óleo da

alegria", porque cai com poder ungido na alma,

espalhando e comunicando seus efeitos de

suprimento, suavizando cada parte, e

penetrando nas profundezas da consciência

culpada e sobrecarregada. Não se deixe

enganar com uma alegria falsa. Recorde que há

a alegria do hipócrita, que lemos sobre aqueles

que "receberam a palavra com alegria" (Lc.8:

13). Essas pessoas estavam certas? Não! Pois em

tempo de tentação eles caíram; tiveram alegria,

mas não o óleo de alegria; as cascas, mas não o

grão de alegria. Não havia unção, nem poder,

nem profundidade, nem realidade, nem

felicidade em sua alegria; era um mero flash que

veio e se foi em um momento. Não é a alegria

como este óleo de alegria, mas aquela excitação

carnal que as emoções muitas vezes produzem

entre o seu povo através de melodias animadas,

pregações trovejantes excitando seus ouvintes

a explodirem em exclamações de graça e glória,

enganando-os na crença de que receberam o

perdão de seus pecados. Um pregador carnal

pode dessa forma, dispersar a alegria entre os

punhados de uma congregação, e as pessoas

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podem ser tão iludidas a ponto de pensar que

isso é "alegria e paz na fé" (Romanos 15:13).

Mas, todo esse incêndio é uma coisa muito

diferente do óleo da alegria, que vem com

suavidade e quietude na alma, como dos lábios

de Jesus; aqueles lábios nos quais Deus

derramou sua graça, pois o ungiu com o óleo de

alegria acima de seus companheiros (Salmos 45:

17). Assim, lemos sobre o precioso unguento

que estava sobre sua cabeça, que escorreu

sobre a barba, até a barba de Aarão, e desceu

até as orlas das suas vestes. Esta foi a unção que

foi dada a Cristo pelo Espírito Santo, quando o

ungiu para pregar boas novas aos mansos, que

é a mesma unção chamada no texto de o "óleo

de alegria", que flui de Cristo para a alma de um

crente.

Examine, portanto suas alegrias. Então, se

obtém alguma coisa ao ouvir a Palavra, ao ler as

Escrituras, ou em uma oração secreta que

parece uma alegria, examine-a bem, se Satanás

não pode tentar colocar em você alguma moeda

falsa da sua lavra; veja se contém a imagem e a

inscrição do rei estampadas nela pela lavra do

céu. O que é real sempre suportará o exame.

Mas, quando o crente é realmente favorecido e

abençoado, Satanás ainda pode trabalhar em

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sua mente para descrer seu poder e realidade, e

você pode ser persuadido às vezes, a considerar

tudo isto. Mas, quando o Senhor voltar com

algumas gotas da mesma unção divina, você

pode olhar para trás e ver pelos efeitos doces

que produz, que era o óleo da alegria e não as

cascas de alegria, que você desfrutou antes. Na

verdade, para que os enlutados espirituais

possam se satisfazer senão apenas com o

verdadeiro óleo da alegria, e para que possam

aprender a distingui-lo e valorizá-lo, é a razão

pela qual o Senhor os coloca em uma fornalha

tão quente. Se não fossem santos espirituais,

com cinzas em suas cabeças, eles poderiam ser

enganados por qualquer coisa, mas eles são

muito aguçados para serem enganados agora.

(Nota do tradutor: Este livro é de uma

preciosidade muito grande em relação a nos

alertar sobre a natureza e essência da genuína

vida espiritual, pois é uma experiência sentida e

provada por todos os que têm uma participação

comum em tudo isto que está sendo exposto,

que de fato Deus sempre traz a alma, à tristeza

e ao luto pelo pecado, produzindo dores na

consciência pelo que somos ou fazemos, que

seja contrário à Sua vontade, antes que ele

possa nos ungir com o santo óleo da alegria

celestial. Isto tem muito a ver com a vida

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espiritual que é prometida, e que se segue

sempre ao arrependimento.

Portanto, pessoas que vivem de modo mundano

com uma mente carnal, não podem participar

das bênçãos desta promessa, mesmo que sejam

crentes animados em suas igrejas, por todo o

aparato dos louvores e das pregações

extasiantes às quais o autor alude de forma

muito sábia e apropriada.)

Se um homem está deitado sob um peso de cem

libras, não é o dedo de uma criança que pode

tirá-lo. A criança pode brincar com ele, mas não

pode levantar o peso. Assim, se uma alma está

realmente pesada e carregada pelo pecado e

tristeza, tentação e medos, não é para uma

criança brincar com ela, para que possa levantar

a carga pesada, mas é o próprio Cristo que vem

com o poder divino, que tira a carga da

consciência do pecador e, quando o faz, dá-lhe

"o óleo da alegria no lugar do luto".

3. A terceira bênção que Cristo é ungido para

dar é "a veste de louvor para o espírito

angustiado ou pesado". Quando consideramos

quantas coisas há para sobrecarregar a

consciência e angustiar a mente, vemos quantas

vezes um crente é pressionado com o espírito

de angústia. Isso o envolve como um manto,

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mas quando o Senhor vier e tirá-lo dele, o vestirá

com um manto suave; e isto, por fazê-lo louvar

e bendizer o seu santo nome, é chamado de

"veste de louvor". Mas, como o tempo não

permitirá que nos aprofundemos mais neste

ponto; eu passo, portanto, para mostrar:

III. A GLÓRIA que redunda para Deus a partir

desta obra do abençoado Salvador. Crentes tão

altamente favorecidos devem ser chamados de

"árvores de justiça, plantados pelo Senhor, para

que ele possa ser glorificado".

Aqui, Deus tem comparado seu povo com

árvores, mas árvores de um tipo peculiar,

árvores de justiça. O que há na figura de uma

árvore que parece suportar a experiência de um

filho de Deus? Existe alguma coisa que parece

ter mais vida do que uma árvore?

Olhe para uma árvore na primavera. Como

parece estar surgindo na vida! Como a seiva está

inchando cada botão, e empurrando adiante

cada folha em verdura e beleza! Que emblema

da vida de Deus, na alma recebida, da plenitude

de Cristo! Assim, um filho de Deus se assemelha

a uma árvore por possuir um fluxo de vida

divina em sua alma.

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Mas, novamente, uma árvore cresce a partir de

um pequeno começo, como uma semente, um

cone ou um grão, mas se expande até crescer a

ponto de ser o monarca da madeira. Assim, em

um filho de Deus, há um crescimento na graça

e no conhecimento do Senhor e Salvador Jesus

Cristo. Um filho de Deus não cresce como a

aboboreira de Jonas, nem se torna um gigante

em um dia. Um carvalho exige um século para

trazê-lo à maturidade. Aquele carvalho tem

resistido a muitas tempestades, muitos ventos

do leste que são cortante e uivam através de

seus ramos, muitos grumos de neve têm

descansado sobre seus ramos, muito granizo

tem derrubado suas folhas, e também muitos

raios do sol brilharam sobre ele. Mas, todos eles

contribuíram para o seu crescimento, e

trouxeram-no para a sua maturidade presente.

Assim, um filho de Deus tem muitas

tempestades para suportar, bem como para

desfrutar o vento quente do sul e os raios

ardentes do sol, mas todos se combinam para

fortalecê-lo e fazê-lo crescer no conhecimento

do único Deus verdadeiro, e de Jesus Cristo, a

quem ele enviou.

No entanto, quão gradual é o crescimento de

uma árvore! Não as vemos crescer

pontualmente, contudo se voltarmos depois de

alguns anos para vê-las, nossa primeira

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exclamação é, "como as árvores estão

crescidas!" Assim na graça. Geralmente não

podemos ver se crescemos ou não. Não, em

nossos próprios sentimentos, muitas vezes

parecemos estar paralisados, ou mesmo, devo

dizer, muitas vezes nos parece como se nós

recuamos em vez de ir para a frente, que

estamos caindo e decadentes, em vez de crescer

e florescer. No entanto, há um crescimento se

sentimos mais de nossa pecaminosidade

profunda e desesperada, e se vemos mais da

adequação do Senhor Jesus para todas as

nossas necessidades. Se sentimos que a

salvação é inteiramente de graça, e lançamos

nossa alma mais crente e sem reservas sobre

ela, há um crescimento. Embora nós não

possamos vê-lo, outros podem vê-lo para nós, e

em nós.

Mas, uma árvore tem botões, folhas, flores e

frutos. Então, quando um cristão recebe a seiva

da plenitude de Cristo e esta flui em sua alma,

ele lança os botões da esperança; que enquanto

incham e se espalham, produzem as folhas

verdes de uma profissão consistente. No devido

tempo as flores do amor se penduram nos

ramos, e são seguidos pelos frutos de uma vida

consistente e piedosa.

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Mas, um crente é chamado no texto, de "uma

árvore de justiça". Em três sentidos, um crente

é uma árvore de justiça. Primeiro, pela

imputação da justiça do Senhor Jesus Cristo,

que é por ele e para ele. Em segundo lugar, pela

implantação de uma natureza santa, por meio

da qual ele é interiormente justo. E em terceiro

lugar, pela produção dessas obras de justiça,

que por Cristo Jesus são para a glória de Deus.

Mas, dele também é dito ser "plantado pelo

Senhor, para que Deus seja glorificado". O

homem não tem sua mão na obra de Deus; tudo

o que ele pode fazer é prejudicá-la. Você pode

ver talvez, um engenhoso e hábil jardineiro

plantando uma árvore. Agora, suponha que

algum sujeito estúpido, completamente

ignorante da jardinagem, viesse a ele e dissesse

"Deixe-me ajudá-lo mestre, acho que posso

fazer melhor do que você", agarrando o caule.

Seus dedos não seriam mais susceptíveis de

mover a árvore da situação em que o hábil

jardineiro a tinha posto, e estragado

completamente a obra, do que lhe fazer

qualquer bem real?

Um sujeito que não fosse capaz de segurar uma

pá, seria muito presunçoso se interferisse desse

modo.

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Assim na graça. A árvore da justiça é plantada

pelo Senhor. Você não acha que o Senhor sabe

plantar suas árvores? Ele não conhece o solo

certo para colocá-las, a profundidade em que

plantá-las, que tipo de cerca para colocar em

volta delas a fim de manter fora o gado ou

outros animais prejudiciais? O Senhor não sabe

de quanta chuva elas precisam, e quantos dias

de sol brilhante, para levá-las à beleza e

fecundidade? Não é, então, um insulto a Deus

considerar necessário o auxílio do homem,

como se Deus não fosse suficiente para sua

própria obra?

Tal interferência certamente parece desprezar o

Deus de toda graça.

Mas por que tudo isso? Não é "para que Deus

seja glorificado?"

Sim! O todo é para sua própria glória

declarativa. Por que o mundo foi chamado à

existência? Para a glória de Deus.

Por que Adão foi criado? Para a glória de Deus.

Por que você nasceu? Para a glória de Deus. Mas

você diz, "Talvez eu possa ser condenado."

Mesmo isso seria para a glória de Deus, pois

embora seja um pensamento alarmante,

contudo é perfeitamente verdade que a justiça

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de Deus é glorificada na condenação dos

pecadores. Quais foram suas palavras para

Faraó? "Para isto mesmo te levantei; para em ti

mostrar o meu poder, e para que seja anunciado

o meu nome em toda a terra." (Romanos 9:17).

Se não fosse assim, a glória de Deus não seria

vista em todas as coisas.

Portanto, mesmo naqueles que perecem em

seus pecados, a glória da justiça de Deus é

manifestada. De outro modo, como poderiam os

justos consentir na ruína daqueles que lhes

eram próximos e queridos? A esposa no inferno,

o marido no céu! Ou o reverso. O pai nos

domínios da bem-aventurança, o filho na

morada da miséria! Aqueles que se uniram nos

laços mais ternos, rasgados em pedaços, nunca

mais se encontraram. Uma eternidade de alegria

para um, uma eternidade de desespero para o

outro.

Agora, como os justos poderiam concordar, se

não vissem nisso a glória manifesta de Deus?

Seriam capazes de prejudicar os hinos de

felicidade se eles pudessem olhar para baixo do

céu, para o abismo abafado do inferno, e lá ver

a mãe, a esposa, ou o filho condenados, e eles

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mesmos salvos, a menos que sentissem uma

santa aquiescência na vontade de Deus .

Estas são profundidades tremendas, eu admito,

e a alma pausa com sentimento solene, mas a

natureza humana é silenciada quando a glória

de Deus é vista. Arão sentiu isso quando seus

filhos foram mortos no altar, e calou-se; Davi,

quando Absalão foi tirado dele no meio de sua

rebelião, e Jó sentiu o mesmo quando perdeu os

filhos de uma só vez. Suas palavras foram "O

Senhor deu, e o Senhor tirou, bendito seja o

nome do Senhor" (Jó 1:21). Até chegarmos aqui,

somos rebeldes contra Deus sob tais

dispensações aflitivas. É realmente difícil para

carne e sangue; parece cortar a alma até o

centro, e fazê-la tremer como sob a faca afiada.

Ainda assim, a alma deve se submeter a tudo

isso sabendo que Deus deve ser glorificado.

Mas, a glória de Deus resplandece

especialmente nas árvores da justiça. Este

ponto, certamente você vai admitir, se não pode

ir comigo para as profundezas de que tenho

falado, e está pronto para dizer "Eu nunca posso

pensar que Deus pode ser glorificado na miséria

dos condenados". Eu não peço que você pense

assim agora, mas o tempo certamente virá, se

você é um filho de Deus, quando você será

levado a reconhecê-lo.

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Mas, você certamente admitirá que Deus será

glorificado na salvação dos eleitos. Todas as

suas tristezas, tentações e aflições que passam

pela providência e pela graça, com todas as suas

consolações, esperanças e prazeres, são para

este fim; para que Deus seja glorificado. Agora,

não é tudo o que a alma pode desejar? Em que

você acha que consiste a felicidade dos anjos?

Que Deus seja glorificado.

Quando Deus enviar um anjo da sua presença

para cortar um rei, afligir uma cidade com

pestilência, enviar guerra e espada para os

cantos da terra, afogar armamentos poderosos,

ou executar qualquer um desses ofícios que são

obras dos anjos, ele parará e dirá "Eu não posso

fazer isso?"

Ele deixaria de ser um anjo imediatamente, se

parar e não executar a vontade de Deus. Essa

pausa iria transformá-lo em um demônio do

inferno, e destruiria sua natureza de um ser

angélico.

Alguns de nossos antigos teólogos, não

permitiriam que um homem pudesse ter uma

libertação, até ser trazido para glorificar a Deus

em sua própria condenação; tão convencidos

estavam de que até chegar a este ponto, um

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homem não sentia completamente sua condição

perdida.

Aqui, então, fechamos nosso assunto,

atribuindo aos santos sofredores na terra, e aos

espíritos glorificados no céu, louvor, honra e

glória a Deus e ao Cordeiro!

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Ana, ou o Poder da Oração

Título original: Ana; Or, The Power of Prayer

Por: James Smith

(1802—1862)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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"Por este menino orava eu; e o Senhor atendeu

à minha petição, que eu lhe tinha feito." (1

Samuel 1:27)

A oração é de nomeação divina. Deus não

precisa disso, mas ele o ama, e o encoraja de

várias maneiras. A fé é a alma da oração, e a

oração é uma das manifestações naturais da fé.

Onde não há fé, não há oração, quaisquer que

sejam as formas. E onde não há oração, não há

fé, qualquer que seja a profissão que possa ser

feita. Tentar orar sem fé é irritante; e onde há

fé, a menos que esteja em exercício vivo, a

oração é um dever seco. Mas, quando a fé é

vigorosa e viva, então a oração é um privilégio

precioso.

O único objeto de oração é Deus - Deus como

revelado em sua palavra - Deus satisfeito por

nossos pecados - Deus como reconciliando a si

mesmo as suas pobres criaturas rebeldes

através da morte de Jesus. Nenhuma criatura

deveria ser adorada, por mais pura que fosse a

sua natureza, elevando sua posição, ou

gloriosamente seus dons. Há somente um Deus

– e assim um só objeto digno de adoração.

A oração de um pecador deve passar por um

Mediador. A deidade divina absoluta, não pode

ter relações com um pecador em um caminho

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de misericórdia, senão através de um Mediador.

Como há somente um Deus, então há apenas

um mediador "entre Deus e o homem - o homem

Cristo Jesus". Jesus está diante do trono como o

grande Sumo Sacerdote. Ele está entre Deus e

nós. Ele é o mediador que pode colocar sua mão

sobre nós (Jó 9:33). Ele satisfez a justiça de

Deus por nós; e agora ele recebe nossas pobres

orações e louvores, perfumando-os com seus

próprios méritos, e assim apresenta-os ao seu

Pai. Minha alma, mantenha seus olhos

firmemente fixados em Jesus sempre que você

se aproximar de Deus. Ele é o caminho para o

Pai, o meio de comunhão com o Pai e de

comunicação com ele.

A Bíblia está cheia de promessas feitas à oração.

Na verdade, toda promessa apoia a oração.

Quando Deus fez as suas mais ricas, mais livres

e mais absolutas promessas ao seu povo, ele

disse: "Ainda assim, isto será pedido pela casa

de Israel para que o faça por eles". Deus

promete ouvir a oração e responder à oração.

Ele nos convida a orar. Ele nos exorta a orar. Ele

promete que não oraremos em vão.

No entanto, somos tardios para orar. O fato é

que Satanás odeia, teme e está determinado, se

possível, a evitar que oremos. Por isso nos irrita

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na oração, nos afasta dela, e nos tenta a

negligenciá-la.

Há grande poder na oração. É quando oramos

que temos "poder com Deus". Deus é

representado como. . .

Tocado por nossos apelos,

Afetado por nossas lágrimas, e

Influenciado por nossos clamores.

Tão poderosa é a oração, que Lutero disse a seu

respeito: "Deus é poderoso para conceder, mas

impotente para negar". Na verdade, ele nunca se

recusa a responder às nossas orações, exceto

aquela que desonra seu próprio nome e caráter

glorioso; ou se fosse nos ferir, ou se a

concessão fosse prejudicial para outros. Nesses

casos, não poderíamos desejar uma resposta,

nem podemos esperar uma resposta. Mas,

mesmo quando não obtemos o que oramos, o

próprio exercício é uma bênção; e nosso Deus

frequentemente nos dá algo mais rico e melhor,

de modo que não podemos orar em vão!

Mas, olhemos para Ana. Suas circunstâncias

eram muito dolorosas e tristes. Seu marido

tinha outra esposa além dela. A própria Ana era

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estéril. Penina era sua adversária, que provocava

a sua dor para fazê-la se preocupar. O ciúme era

a raiz disso, e sabemos que "o ciúme é cruel

como o túmulo". Ana chorou. Ela jejuou. A

preocupação habitual fazia seu espírito triste.

Seu marido tentou consolá-la, mas tentou em

vão; pois em Siló, onde estava então o

tabernáculo, "ela estava em amargura de alma,

e orou ao Senhor, e chorou muito".

Ela não tinha nenhuma promessa positiva. É isso

que a oração geralmente precisa. Quando temos

uma promessa direta, isto parece justificar

nossa importunidade, incendiar nosso fervor e

nos encorajar a suplicar a Deus. Às vezes

podemos encontrar uma promessa particular,

que mantém para a nossa fé a bênção que

precisamos; mas muitas vezes somos obrigados

a recorrer a uma promessa geral, e então a

submissão deve dizer: "Se é sua vontade"; ou,

"Se é para a sua glória."

Para bênçãos espirituais, nós podemos orar com

muita frequência, muito fervorosamente ou com

muita confiança. Mas, para as bênçãos

temporais, devemos sempre pedir em

submissão à sabedoria divina. Não podemos ter

muita graça, mas podemos ter muito ouro. As

bênçãos espirituais nos manterão próximos de

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Deus, mas a abundância dos bens deste mundo

pode nos separar dele.

O coração de Ana estava sobre uma criança.

Como era comum com as mulheres judias,

sentia um forte desejo de ser mãe. Se ela

pudesse obter um filho do Senhor, ela estava

disposta a pedi-lo emprestado ao Senhor. Ela

poderia, senão chamar um filho como sendo

dela por um tempo - o Senhor deveria chamá-lo

de seu para sempre. Ela olhou para um filho

como uma bênção de coração. Aqui seus

desejos se centraram. Ela não tinha outra

esperança senão em Deus. A natureza o negava,

mas o Deus da natureza podia conceder seu

desejo. Ela viu que Deus era supremo, que sua

vontade era lei, que seu ouvido estava aberto, e

a esperança surgiu em seu coração! Ela iria fazer

uma aplicação especial para ele, ela iria tentar o

que a fé e a oração fariam.

Como Deus estava em seu tabernáculo, quando

ele estava entronizado no propiciatório, como

ele havia dito: "Ali me encontrarei com você", ela

foi a Siló, ela entrou na casa do Senhor. Seu

espírito estava cheio. Sua alma estava triste. Seu

coração estava pesadamente carregado. Ela

sentiu um poder interior impulsionando-a. Ela

deveria orar. Ela pediria a Deus. Ela apelaria para

sua compaixão, ela provaria sua disposição para

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responder à oração. Ela orou, mas ela não falou.

Seus lábios se moveram, mas sua voz não era

ouvida. O Espírito da graça ajudava-lhe na sua

fraqueza, e seu coração concebeu um gemido

que não pôde pronunciar. Mas, o ouvido de

Deus captou aquele gemido. O coração de Deus

o recebeu. A terna simpatia de Deus foi animada

por ela. Ele disse: "Isso deve ser feito!"

Feliz Ana, você conseguiu! Sua oração foi

ouvida. Sua fé será honrada. Sua importunidade

será coroada. Você terá um filho! Samuel será

um testemunho vivo do poder da oração, uma

prova duradoura de que o Senhor escuta o

clamor de uma pobre mulher.

A fé percebe a bênção à distância.

A esperança inteiramente aguarda sua chegada.

O amor olha para cima e bendiz o doador

gracioso.

A carga se foi de seu coração. A nuvem passou

longe de sua fronte. A tristeza é afastada de seu

espírito. Elcana agora terá uma esposa alegre -

e Deus um adorador grato.

Ana venceu,

Penina é silenciada,

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Elcana está encantado,

Satanás está confuso,

Deus é glorificado e

A igreja de Deus é instruída sobre o poder da

oração!

Oh, que eu possa sempre olhar para Deus como

um Deus que ouve e responde à oração! Que eu

possa ler a Palavra de Deus, para verificar o que

ele prometeu, e o que posso esperar de suas

mãos! Oh, que eu possa carregar cada fardo,

cada tristeza, e cada desejo sincero, para o seu

trono! Oh, você Senhor, que ouve a oração -

conceda-me o espírito de oração, e deixe-me

provar o poder da oração, para corpo e alma,

para mim e para os outros, para o tempo e para

a eternidade!

Amado, a oração real sempre tem poder para

aliviar uma mente sobrecarregada. O que

faríamos às vezes, se não fosse pelo trono da

graça? Quando a mente está sobrecarregada

com preocupações mundanas, ansiedades

domésticas, problemas da igreja e dez mil

medos que surgem de uma variedade de

circunstâncias - nada, senão a oração nos

proporcionará alívio. Não podemos dizer a

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ninguém além de Deus o que pensamos, o que

sentimos, o que tememos; mas, ao dizer-lhe às

vezes, enquanto nossos rostos estão cobertos

de ansiedades, e nossas almas são abaladas

com cogitações, sentimos uma influência

secreta e sagrada sendo exercida. Não há

libertação positiva ou imediata, mas, nós

mesmos somos suavizados, acalmados e

estimulados a começar de novo, e

tranquilamente levar a nossa cruz seguindo

Jesus.

A oração tem poder para elevar o abatido.

Medos culpados, dúvidas dolorosas e

pressentimentos sombrios - muitas vezes nos

jogam para baixo. Com Davi temos que

exclamar: "Minha alma está abatida dentro de

mim!" Os lábios estão fechados para nossos

companheiros de viagem; não podemos dizer a

ninguém o que sentimos, tememos ou

pensamos; Satanás se aproveita disto, e nos

persegue ainda mais, até que estamos

cansados, abatidos e deprimidos. Então, vamos

para o Senhor. Nós nos lançamos a seus pés.

Um profundo suspiro, um gemido pesado, uma

lágrima silenciosa, um olhar para cima, é tudo o

que podemos dar. Ajoelhamo-nos em silêncio

perante o Senhor. Invejamos os outros que

achamos que têm liberdade no propiciatório.

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Nós suspiramos, "Oh, que eu pudesse encontrar

acesso para expor minhas tristezas lá!"

Enquanto assim provado, pode ser que o grito

suba, e a lágrima caia - e o Senhor olha para

baixo, e agora podemos confessar nossos

pecados, implorar o sangue expiatório, exercer

fé na Palavra amorosa do Salvador, e nós

começamos a levantar. A próxima coisa é que

sentimos a rocha sólida sob nossos pés,

inalamos o ar puro da terra melhor, e então o

sol irrompe sobre nós, e então podemos cantar:

"Esperei com paciência no Senhor, e ele se

inclinou para mim, e ouviu o meu clamor.

Tirou-me dum lago horrível, dum charco de

lodo, pôs os meus pés sobre uma rocha, firmou

os meus passos."

A alma começa agora a sentir as suas asas e a

plumar as suas penas, o olhar reforçado olha

para cima, e uma vibração interior é sentida.

Veja, está subindo. Ela sobe ainda mais alto. O

seio de Jesus é alcançado. O Santo dos Santos

celestial é penetrado. As tristezas da vida são

esquecidas. As alegrias da salvação são

realizadas. Cumpre-se a promessa: "Aqueles

que esperam no Senhor renovarão a sua força,

subirão com asas como águias, correrão e não

se cansarão, e andarão e não desfalecerão".

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A alma não está mais abatida, e isto pode ser

aplicado à igreja como tendo sido uma vez:

"Ainda que você tenha se deitado entre os vasos

- contudo você será como as asas de uma

pomba coberta com prata, e suas penas com

ouro amarelo".

Há poder na oração para encorajar os tímidos.

O que fez Martinho Lutero tão corajoso? A

oração! O que fez John Knox ser tão ousado? A

oração! O que animava os santos mártires na

prisão, apoiava-os diante de seus juízes cruéis e

os fazia alegres nas chamas? A oração! Muitos

homens bons entraram na presença do Senhor

timidamente como um pássaro, mas saíram tão

ousados como um leão. A oração torna o

espírito fraco corajoso, e o fortalece para a luta

constante. Fortifica os desanimados, e faz o

fraco dizer: "Eu sou forte!"

A oração tem poder para derramar as bênçãos

mais ricas, escolhidas, e maiores, de Deus.

Quando a oração de Elias abriu o Céu e regou

profundamente a terra sedenta de Israel depois

de uma seca de três anos e seis meses - assim

as orações dos mais pequeninos, os mais fracos

do povo do Senhor, derramarão um completo

perdão de todo pecado na alma, paz doce na

consciência, e alegria indescritível e cheia de

glória no coração.

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Não há uma bênção fornecida na aliança eterna,

ou prometida na Bíblia bendita, ou necessária

para a alma faminta - que a oração não tenha o

poder para derramá-la. "Todas as coisas, tudo o

que pedirdes em oração crendo, recebereis".

"Tudo o que pedirdes em meu nome", disse

Jesus, "isso farei, para que o Pai seja glorificado

no Filho". "Pedi, e recebereis, buscai, e achareis,

batei, e abrir-se-vos-á, porque todo aquele que

pede recebe, e quem procura acha, e ao que

bate, abrir-lhe-á".

Leitor, você ora? Eu não pergunto, se você

repete orações, ou lê formas de orações? Pois

não consigo entender como uma mera forma

pode satisfazer uma alma viva. Creio que o

Senhor ensina a todos os seus filhos a falarem

com ele, e que ele gosta de ouvi-los falar-lhe na

sua própria língua. Pode ser simples, pode ser

quebrado, pode ser muito incorreto

gramaticalmente - mas é como a própria

criança. O Pai diz: "Deixa-me ouvir a tua voz." A

criança responde: "A minha voz ouvirás de

madrugada, desde o princípio clamarei e olharei

para você."

Nenhuma mera forma de oração teria se

adaptado à necessidade de Ana; e se for

ensinada por Deus, nenhuma mera forma de

oração lhe convirá.

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Você ora? Sua oração é a expressão dos

sentimentos, desejos e medos de seu coração?

Você, quando de joelhos, diz ao Senhor

exatamente o que sente, teme, deseja, e espera?

Você fala com ele em sua própria língua, como

a um pai amoroso, que conhece a sua situação,

e lembra que você é apenas pó? Há poder em

suas orações? Eu não quero dizer com isto que

você sente o poder, embora isso é muito

desejável, e frequentemente muito doce. Mas,

você já obteve uma bênção de Deus em resposta

à oração, uma bênção espiritual, a própria

bênção pela qual você orou?

Você já levou a ele suas dúvidas, e trocou-as por

confiança?

Você tem levado a ele seus medos e trocou-os

por coragem?

Você tem levado a ele sua culpa, e trocou-a por

perdão?

Vocês levaram consigo os seus trapos imundos,

e os trocaram por vestes imaculadas?

Você levou para ele o inferno da miséria às

vezes sentida no coração, e trocou-o pelo o céu

de alegria que desce da mão direita de Deus?

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Você ora por coisas temporais, porque seu Pai é

o Deus da providência?

Você ora por bênçãos espirituais, porque ele é o

Deus da graça?

Às vezes você sente-se levado à oração, pela

aflição externa e angústia interior? E às vezes

você se sente atraído pela oração, pela graça

doce, vitoriosa e constrangedora do Espírito

Santo em sua alma? O povo do Senhor aprende

por experiência, essa oração real. . .

Flui da vida divina na alma,

É produzida pelo Espírito Santo,

Ascende através de Jesus,

Instrui a mente,

Alivia a consciência,

Afaga o coração,

Eleva a alma,

Suaviza a maneira áspera,

Repele os ataques de Satanás, e

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às vezes eleva a alma acima do amor à vida e do

medo da morte.

Você sabe alguma coisa dessa experiência?

Se você vive sem oração, está morto em pecado.

Se você está satisfeito com uma mera forma de

oração, você não está em melhor estado. Se

você levar um formulário com você quando você

vai falar com seu Pai em particular, você age

muito diferente de uma criança. Deus ama a

oração do coração, a oração que expressa

confiança nele, a oração que pede e espera

grandes e numerosas bênçãos dele. Ele não olha

para a linguagem, mas para os sentimentos; e

se há fé, fervor e importunidade, ele aprova,

aceita e responde.

Oh, oremos pelo poder do Espírito de Deus

dentro de nós, para que o poder da oração

possa ser exercido por nós, e a rica, necessária

e desejada bênção de Deus, possa ser

derramada sobre nós em nossas almas, nossas

famílias , sobre a igreja e o mundo que nos

rodeia!

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Andar no Espírito

Título original: Walking in the Spirit

Por J. C. Philpot (1802-1869)

Traduzido, Adaptado e

Editado por Silvio Dutra

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Introdução

"...que não andamos segundo a carne,

mas segundo o Espírito." (Romanos 8: 4)

Esta descrição consiste em dois pontos,

que terei que abrir.

Primeiro, que o santo de Deus não anda

segundo a carne.

Em segundo lugar, que ele anda segundo

o Espírito.

A. Andar Segundo a CARNE.

"Ele não caminha de acordo com a carne". Duas

coisas aqui exigem nossa inquirição séria.

1. O que se entende por carne.

2. O que significa andar segundo a carne.

1. O que devemos entender pela expressão "A

CARNE?" Esta palavra retoma toda aquela

natureza caída, tanto no corpo como na alma,

que herdamos de nosso primeiro pai. Não

significa, portanto, apenas aquelas paixões

grosseiras e sensuais, que são uma parte tão

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triste de nossa herança original, mas abrange

todas as faculdades de corpo e mente que

possuímos como filhos de Adão.

2. Caminhar segundo a carne, carrega consigo

a ideia da carne que nos precede, como nosso

líder, guia e exemplo, e o nosso seguimento

próximo nos seus passos, de modo que onde

quer que nos arraste, sempre nos movemos, A

agulha segue o ímã. Caminhar, então, segundo

a carne, é mover-se passo a passo, em

obediência implícita aos comandos da carne,

aos pendores da carne, às inclinações da carne

e aos desejos da carne, qualquer que seja a

forma que assumam, seja qual for vestuário que

eles usem, qualquer que seja o nome que eles

possam ter.

Vejam quão ampla é a significação destas

palavras; como a colheita espessa, como a

largura da varredura, quão afiada é a borda

desta foice!

Pode algum dos filhos caídos de Adão escapar

de ser tomado por esta rede?

Quem ficará a par deste camponês, e que não

deva cair diante desta foice afiada?

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Todos admitirão que aqueles que seguem os

desejos da carne, e que estão abandonados aos

pecados grosseiros de nossa natureza, não têm

nenhuma marca manifesta de estar em Cristo

Jesus.

O sentido moral comum dos homens, a voz da

consciência natural, o veredicto sincero da

sociedade em geral, proclamam, como a uma só

voz, que o pecado e a religião não podem ser

companheiros de jugo.

Mas, são os pecadores mais grosseiros e mais

manifestos as únicas pessoas das quais se pode

dizer que andam segundo a carne?

Nem que toda a religião humana, em todas as

suas variadas formas, está sob a varredura desta

espada devoradora? Sim; todo aquele que é

enredado e conduzido por uma religião carnal,

caminha tanto de acordo com a carne tanto

quanto aqueles que são abandonados às suas

indulgências mais grosseiras.

Triste é, mas não mais triste do que verdade,

que a falsa religião matou seus milhares, se o

pecado aberto matou seus dez milhares.

Isto, talvez, todos vocês concordariam aqui se

eu me limitasse à parte inferior daquela religião

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comum que nem sequer se veste com um

vestido do evangelho; que não aprendeu tanto

com a voz de Jacó, mas usa as vestes e fala nos

tons de Esaú.

Mas, o que você dirá, se eu lhe trouxer em um

lugar mais elevado, e levá-lo sob o som do

evangelho?

Há uma fé carnal, uma esperança carnal e um

amor carnal entre os professantes de um credo,

mas são de uma linguagem mais pura do que a

dos religiosos comuns da época; e um homem

que caminha atrás desta fé carnal e esperança e

amor nos próprios pátios da casa do Senhor,

está tanto andando segundo a carne como se

ele vivesse e morresse com um bêbado.

Nossa Sião terrestre é invadida por uma

confiança carnal que não passa de presunção;

um conhecimento carnal que é apenas

ignorância; e uma conversa de carne que é

apenas jactância. Mas, andar segundo a carne,

seja no sentido mais grosseiro ou mais refinado

do termo, é o mesmo aos olhos de Deus.

B. Andar no ESPÍRITO.

Já mostrei que andar por uma coisa, na

linguagem da Escritura, significa buscá-la com

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desejo e fazê-lo habitualmente. Assim, lemos

sobre "os escarnecedores andando segundo

suas concupiscências ímpias" (Judas 18), como

uma marca dos ímpios, e um "andar segundo os

mandamentos" do Senhor (2 João 6) como uma

marca dos justos.

Caminhar, então, segundo o Espírito é andar

com a direção e instrução do Espírito Santo.

A carne é a força motriz para aqueles que estão

na carne; o Espírito é a influência motora para

aqueles que estão em Cristo Jesus.

Mas, deixe-me abrir este ponto um pouco mais

completamente.

1. Caminhar, então, segundo o Espírito é andar

segundo um Cristo revelado - não um Cristo na

letra, mas um Cristo no Espírito; não um Cristo

na palavra somente, mas um Cristo no coração,

formado lá, e sendo a esperança da glória. A

obra do Espírito é revelar Cristo, glorificá-lo e

torná-lo precioso para os corações crentes; e

aplicar seu sangue à consciência, descobrir sua

justiça e derramar seu amor. Caminhar, então,

segundo o Espírito deve seguir as suas

graciosas descobertas do Senhor Jesus ao

coração, e operá-las por uma experiência viva de

sua doçura e bem-aventurança.

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2. Mas, ainda, o Espírito conduz a toda a

verdade. Essa foi a promessa dada por Cristo

aos seus discípulos:

"Mas, quando vier o Espírito da verdade, vos

guiará a toda a verdade". (João 16:13).

É impossível para nós conhecermos a verdade

de modo salvífico e experimental, a não ser que

o Espírito abençoado nos guie, por assim dizer,

para o seu próprio seio. Até então, sua beleza e

bem-aventurança, sua influência libertadora e

santificadora estão escondidas de nossa vista.

Mas, se eu for guiado pelo Espírito em toda a

verdade, se ele próprio condescender em

conduzir-me na verdade como está em Jesus, e

me capacitar a andar na verdade como ele me

leva a ela, então eu posso andar segundo o

Espírito.

3. Mas ainda, do Espírito é dito na Palavra da

verdade como sendo um Intercessor,

ensinando-nos como orar e para o que orar; e

mais, ele mesmo é representado como

"intercedendo por nós com gemidos que não

podem ser proferidos". Se, então, eu oro no

Espírito, ando segundo o Espírito, naquele

caminho de oração e súplica em que ele tem

prazer em me conduzir, Ele prometeu ajudar em

minhas fraquezas; e, portanto, se eu achar

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minhas muitas fraquezas sendo ajudadas por

sua graça e superadas por seu poder, também

eu posso dizer que ando segundo o Espírito.

4. Mas, o Espírito é também o autor da fé, da

esperança e do amor, pois estes são frutos e

graças que brotam da sua obra sobre o coração.

Se, então, eu acredito em Jesus com uma fé

espiritual, se eu espero nele com uma esperança

espiritual e o amo com um amor espiritual, ando

segundo o Espírito; porque o Espírito move

tanto a minha vontade como para fazer essas

coisas; e como ele conduz eu sigo.

5. Mas, o Espírito é também um Espírito de

contrição, de quebrantamento, de humildade,

de tristeza divina pelo pecado e de confissão

honesta dele. Se, então, sou sempre abençoado

com humildade, arrependimento e piedade pelo

pecado, eu ando segundo o Espírito.

6. Mas, o Espírito é também Consolador do povo

de Deus, pois esse é o nome que o nosso

bendito Senhor lhe deu. De modo que, se

alguma vez consolar o seu coração com as suas

consolações escolhidas, e você andar segundo

o seu consolo, desejando beber nele e seguindo

tudo o que pode promovê-lo, você segue os

passos pelos quais o Consolador lhe conduz.

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7. Mas, se andarmos segundo o Espírito,

também teremos espírito espiritual, que é vida

e paz; nossas afeições serão fixadas nas

realidades celestiais onde Jesus se senta à

destra de Deus; pois tudo isso é sua obra

especial, e nada menos do que seu poder e

influência pode produzi-lo. Se então somos

favorecidos a qualquer momento com esta

espiritualidade da mente e essas afeições

celestiais, é uma prova de que estamos andando

segundo o Espírito.

8. Mas, ainda, por meio da fraqueza da carne e

do poder da tentação, muitas vezes caímos em

um estado de frieza, escuridão, dureza e até

mesmo desprezo miserável das coisas de Deus.

Então, o Espírito tem que reviver as nossas

inclinações, nos tirar deste miserável estado de

carnalidade e morte, para nos levar à fonte, uma

vez aberta para todo pecado e impureza no

sangue do Cordeiro, renovar a nossa esperança,

fortalecer a nossa fé, e isto nos transmite uma

nova confiança. À medida que andamos na luz,

vida e poder destes graciosos avivamentos,

andamos segundo o Espírito.

9. Mas o Espírito traz também os filhos de Deus

do mundo, os separa das suas seduções,

prazeres e perseguições, chama seu coração

para a união com o Filho de Deus, pisa a terra

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debaixo dos seus pés e dá-lhes a graça de

mortificar o corpo inteiro do pecado e da morte.

Como eles são então capacitados pelo seu

poder para fazer estas coisas, eles andam

segundo o Espírito.

Nesta caminhada segundo o Espírito reside

muito, senão todo o poder da piedade. Nem

realmente há qualquer felicidade ou conforto

real sem isto. Pois, imediatamente que

deixamos de seguir o Espírito, andamos

segundo a carne, perdemos nossas evidências,

não podemos mais ver nossos sinais, e todas as

doces promessas do evangelho e nosso

interesse nelas ficam ocultos.

Assim, descobrimos pela experiência da alma

que, se andarmos segundo a carne,

morreremos, não na verdade eternamente, mas

em qualquer prazer das bênçãos celestiais; mas

se pelo Espírito mortificarmos as obras do

corpo, viveremos.

Agora, vejam a necessidade disso, como posso

chamá-lo, de advertência graciosa, esta ressalva

sagrada.

Um homem pode ser tão iludido pelo pecado e

Satanás como para dizer, estou sem qualquer

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ordem divina, "eu estou em Cristo Jesus, não há

condenação para mim."

Meu amigo, deixe-me colocá-lo sob a

advertência do Espírito, deixe-me olhar para a

sua caminhada, pois esse deve ser o teste

dominante.

Como você está andando? Você anda segundo a

carne? É a sua influência governante que o

orienta e guia? Você está enterrado no mundo;

você está afundado na cobiça; é o seu coração

erguido pelo orgulho; você está fazendo,

diariamente, as coisas que são contrárias à

piedade? Meu amigo, a sua religião é vã, uma

confiança vazia que pode provar sua eterna

destruição. Você pode falar de estar em Cristo e

ser um com Cristo; mas o seu caminho

contradiz isso. Você ainda está na carne e,

portanto, não pode agradar a Deus.

Ou tome até mesmo um santo de Deus

enredado por um tempo num laço quase

semelhante - mesmo ele pode ficar por um

tempo tão cego e endurecido por um laço de

Satanás como para dizer: "bem, embora eu

escorregue e tropece, e me incline muito para

os movimentos e influências da minha mente

carnal, isto não diminui a minha confiança em

Cristo. Uma vez em Cristo, sempre em Cristo,

este é o meu lema." Oh, meu amigo, você tem

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uma confiança vã. Se sua consciência estivesse

sensível, você veria que você estava em um

terreno muito perigoso. O Senhor envia um

flagelo de castigo para trazê-lo de volta, pois no

momento você está tristemente fora do

caminho. Você pode desprezar as dúvidas e

medos daqueles a quem você chama de fracos;

mas as próprias dúvidas e medos e receios dos

santos de Deus são muitas vezes empregados

como chicotes graciosos na mão de Deus, para

trazer de volta os errantes ao caminho da

verdade e da justiça; porque o Espírito Santo nos

deu esta descrição de uma caminhada cristã,

não apenas para confortar os santos de Deus,

mas como uma marca para mostrar o caminho

em que todos os verdadeiros crentes devem

pisar para manter suas evidências vivas e

aquecidas em seu peito.

Mas, o tempo me adverte a chegar ao fim. Bem-

aventurados os que estão em Cristo Jesus, e

ainda mais abençoados são aqueles que têm a

doce confiança disso. Mas, dependamos disto,

se quisermos desfrutar desta doce confiança,

devemos andar segundo o Espírito.

Diretamente, podemos perder de vista as

orientações e os ensinamentos daquele bendito

Guia e Consolador, e entramos em nós mesmos

e começamos a andar segundo a carne,

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perdemos nossa confiança, e nossa esperança

afunda e nossa fé é tristemente destruída.

Vejam, pois, a misericórdia e a bênção de

poderem andar segundo o Espírito, para que

possam desfrutar da presença de Deus, ter

claras as suas evidências de salvação e do seu

andar bem-aventurado, e serem favorecidos

com a santa certeza da qual o apóstolo João fala

"Se nosso coração não nos condena, temos

confiança em Deus" (I João 3:21). Mas eu

acrescentarei uma palavra para aqueles que não

têm essa confiança, e ainda têm uma fé viva no

Filho de Deus. "Se o nosso coração nos condena,

Deus é maior do que o nosso coração, e sabe

todas as coisas".