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Mestrado em Finanças Empresariais Bruno Miguel Faria de Araújo Silva Exportação e impacto nos resultados: o caso de um grupo de empresas portuguesas 2015
Instituto Politécnico do Porto
Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão
Bruno Miguel Faria de Araújo Silva
Exportação e impacto nos resultados: o caso de um grupo empresas portuguesas
Dissertação de Mestrado
Mestrado em Finanças Empresariais Orientação: Professor Doutor Armando Silva
Vila do Conde, Dezembro de 2015
Bruno Miguel Faria de Araújo Silva
Exportação e impacto nos resultados: o caso de um grupo de empresas portuguesas
Dissertação de Mestrado
Mestrado em Finanças Empresariais
Membros do Júri
Presidente
Professora Doutora Fernanda Amélia Fernandes Ferreira
Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão – Instituto Politécnico do Porto
Professor Doutor Armando Mendes Jorge Nogueira da Silva
Escola Superior de Estudos Industriais e de Gestão – Instituto Politécnico do Porto
Professor Doutor Mário Joel Matos Veiga de Oliveira Queirós
Instituto Superior de Contabilidade e Administração do Porto – Instituto Politécnico
do Porto
Vila do Conde, Dezembro de 2015
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeira instância ao Doutor Armando Silva, meu orientador, por
todo o apoio prestado, tempo despendido e bastante compreensão tida ao longo do
processo de elaboração da dissertação.
Quero agradecer aos meus pais Amélia Silva e Joaquim Silva, namorada Ana
Ramos, por toda a motivação, apoio e inspiração, os quais se mostraram essenciais
para a realização desta dissertação.
À ESEIG o meu agradecimento pelo apoio e ajuda prestados ao longo deste
percurso académico.
Aos meus amigos e colegas de mestrado, agradeço todo o apoio prestado ao
longo da elaboração da dissertação.
A todos, os meus sinceros agradecimentos.
RESUMO ANALÍTICO
Com a crescente preocupação em dinamizar as exportações e potenciar os
seus efeitos na economia, muitos trabalhos têm tentado encontrar fatores
potenciadores do sucesso das empresas no mercado internacional (dimensão,
produtividade pré exportadora, idade, fase do ciclo de produção, relacionamento
prévio com o exterior, etc.). Temas como a seleção natural do mercado e a
aprendizagem pela exportação, são transversais e incontornáveis nos trabalhos
empíricos que abordam o estudo das exportações ao nível das empresas.
No entanto, não nos devemos esquecer que uma das principais motivações
das empresas, é a maximização do lucro. Com efeito, uma nova onda de trabalhos
tem-se voltado para a o impacto que as exportações têm sobre a rentabilidade das
empresas.
Utilizando um modelo de efeitos fixos com dados em painel, aplicado a uma
base de dados de empresas portuguesas, com espetro temporal entre 2008 e 2012,
este trabalho encontra evidências de que as exportações são um fraco potenciador
da rentabilidade das empresas.
Do ponto de vista da organização do presente trabalho, no primeiro capítulo
será apresentada uma breve revisão de literatura enquadradora do tema; no segundo
capítulo será apresentada a base de dados, tratamento e a abordagem econométrica;
por último será apresentada uma conclusão, com os resultados principais do trabalho
e com algumas questões que poderão ser abordadas no futuro.
Palavras-chave: Exportação; Rentabilidade; Crescimento; Produtividade;
Dimensão; Efeitos fixos.
ABSTRACT
With the growing concern in boosting exports and enhancing its effects on the
economy, many studies have tried to find factors within companies that contribute to a
successful engage on the international markets (size, pre exporter productivity, age,
production cycle, prior relationship with external markets, etc.). Topics such as natural
selection of the market and learning-by-exporting, are cross-cutting and compelling in
empirical studies that focus on exports at firm level.
However, we must not forget that one of the main motivations of the companies
is the maximization of profit. Indeed, a new set of works has focused on the impact that
exports have on the profitability of firms.
Using a fixed effects model with panel data, applied to a database of
Portuguese companies, with temporal spectrum between 2008 and 2012, this paper
finds evidence that exports are a weak enhancing factor of the profitability of
companies.
From the point of view of the organization of this work, in the first chapter a
brief literature framework review of the subject will be presented; the second chapter
will present the database, processing and econometric approach; finally, a conclusion
chapter, with the main results of the work and some issues that may be addressed in
the future will be presented.
Keywords: Export; Profitability; Growth; Productivity; Dimension; Fixed
effects.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................ 13
CAPÍTULO UM – ENQUADRAMENTO TEÓRICO ......................................... 15
1.1 – Introdução .............................................................................................. 15
1.2 – Seleção natural ...................................................................................... 20
1.3 – Aprendizagem com a exportação .......................................................... 22
1.4 – Determinantes dos resultados económicos ........................................... 24
1.5 – Exportações e resultados económicos .................................................. 26
1.6 – Variáveis a utilizar no modelo ................................................................ 27
CAPÍTULO DOIS – ESTUDO EMPÍRICO ....................................................... 30
2.1 – Base de dados ....................................................................................... 30
2.2 – Contexto português ................................................................................ 31
2.3 – Modelo empírico a estimar ..................................................................... 33
2.4 – Estatísticas descritivas referentes à amostra ......................................... 34
2.5 – Aplicação prática do modelo .................................................................. 43
CAPÍTULO TRÊS – COMENTÁRIOS FINAIS ................................................ 46
3.1 – Conclusões ............................................................................................ 46
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................... 49
ANEXOS ......................................................................................................... 53
Anexo A – Caraterização da dimensão da empresa ....................................... 54
Lista de tabelas
Tabela 1 - Produto Interno Bruto na ótica da produção a preços correntes.... 32
Tabela 2 - Exportações portuguesas entre os anos de 2005 e 2012. ............. 33
Tabela 3 - Matriz de correlação ...................................................................... 34
Tabela 4 – Estatística descritiva. .................................................................... 35
Tabela 5 - Número de empresas por dimensão de empresa em cada ano. ... 35
Tabela 6 - Mão-de-obra empregue por dimensão de empresa em cada ano. 36
Tabela 7 - Número de empresas por grupo de idade. .................................... 36
Tabela 8 - Número de empresas exportadoras e não exportadoras por
dimensão e ano. ........................................................................................................ 37
Tabela 9 – Mão-de-Obra empregue por empresas exportadoras e não
exportadoras, por dimensão e ano. ........................................................................... 38
Tabela 10 - Número médio de trabalhadores em empresas exportadoras e não
exportadoras em cada ano. ....................................................................................... 39
Tabela 11 - Endividamento global médio das empresas exportadoras e não
exportadoras em cada ano. ....................................................................................... 39
Tabela 12 - Crescimento médio do volume de negócios anual das empresas
exportadoras e não exportadoras em cada ano. ....................................................... 40
Tabela 13 - Percentagem média de volume de negócios exportado, por
dimensão de empresa e por cada ano. ..................................................................... 42
Tabela 14 - Determinantes da rentabilidade da empresa. .............................. 44
Lista de siglas
Et al. – E outros
INE – Instituto Nacional de Estatística
LBE – Learning-by-exporting
MEA – Modelo de efeitos aleatórios
MEF – Modelo de efeitos fixos
PIB – Produto Interno Bruto
ROA – Rentabilidade dos ativos
INTRODUÇÃO
O comércio internacional sempre foi um dos temas estudados pelas ciências
sociais, tendo produzido relevantes estudos e teorias decisivas para a relação entre
nações. No entanto, nas últimas décadas uma nova onda de estudos e teorias tem
surgido, no que concerne ao estudo das exportações, possibilitando novas
perspetivas e abordagens à análise e interpretação do comércio internacional,
nomeadamente ao que às exportações diz respeito. Com efeito, durante a maior parte
do tempo a necessidade e lógica das exportações foi estudada numa perspetiva
macro, sobretudo nos séculos XVII a XX. Contudo, por força do fenómeno da
globalização e da relevância das multinacionais, a partir da parte final do século XX o
principal foco dos estudos sobre o comércio internacional (e em particular sobre
exportações) tem sido micro.
Considerando as dificuldades relativas ao negócio internacional, seja pelos
investimentos de entrada, pelas tarifas fiscais, pela necessidade de vencer barreiras
aduaneiras e não aduaneiras, pela maior competitividade (das empresas internas ao
mercado) ou por outros fatores, às empresas exportadoras é conferido um estatuto
especial. As empresas exportadoras são consideradas uma elite entre todas as
empresas, já que lhes é reconhecido o esforço e empenho numa tarefa que se mostra
tão difícil (a exportação). Neste âmbito, diversos autores estudaram as causas e
condicionantes ao início de atividade exportadora, e de entre muitos desses estudos
destacamos o trabalho de Bernard et al. (2004), que para um grupo de empresas
americanas, demonstra haver impacto significativo dos investimentos de exportação,
assim como das caraterísticas próprias a cada empresa (dimensão, nº de
trabalhadores, nº de produtos, produtividade, etc.), na sua decisão de exportação.
Uma das principais razões para as empresas iniciarem o seu percurso
exportador, resulta da necessidade de diversificação e de redução do risco do
mercado que apenas as empresas a operar em vários mercados obtêm, face a
eventuais crises sentidas em mercados específicos. Com efeito a saturação do
mercado interno pode potenciar a decisão de exportação por parte das empresas
(Bilkey, 1978). Mas as empresas também procuram o mercado externo tentando
suavizar o impacto das oscilações do mercado interno, ou seja, numa tentativa de
minimização do risco (Riaño, 2010).
13
Apesar do interesse dessa temática, este trabalho dedica-se ao estudo do
impacto da atividade exportadora nos resultados empresariais; nesse domínio são
diversos os trabalhos que apontam a exportação como a melhor solução para as
crises nacionais. Existe até uma certa generalização da ideia que a exportação tem
só impactos positivos nos seus agentes e no bem-estar geral da população mas, no
entanto, as empresas não se devem preocupar só com o efeito positivo nas vendas
ou volumes de negócios, devem também (e sobretudo) preocupar-se com os
resultados económicos obtidos nas suas relações comerciais externas.
Nas últimas décadas tem surgido uma nova vertente de estudos empíricos
que procuram não só perceber os elementos comuns às novas empresas
exportadoras, mas também estudar os benefícios gerados pelas exportações às
próprias empresas. Existe a preocupação sobre a procura e análise de evidências
empíricas que estabeleçam uma ligação entre a exportação, produtividade e
rentabilidade (Feeny, 2000; Fryges, et al., 2010; Grazzi, 2012).
Este trabalho procura assim encontrar evidências de que as empresas
beneficiam da exportação, no que aos seus resultados económicos diz respeito. Este
será feito através de uma análise empírica de empresas industriais portuguesas, com
dados referentes aos anos de 2008 a 2012. Do ponto de vista da organização do
presente trabalho, no primeiro capítulo será apresentada uma breve revisão de
literatura enquadradora do tema; no segundo capítulo será apresentada a base de
dados, tratamento dos dados e a abordagem econométrica; por último será
apresentada uma conclusão, com os resultados principais do trabalho e com algumas
questões que poderão ser abordadas no futuro.
14
CAPÍTULO UM – ENQUADRAMENTO TEÓRICO
1.1 – Introdução
Nos últimos 20 anos têm-se acentuado os estudos relativos à
internacionalização das empresas, nomeadamente no que concerne à relação entre
a exportação, produtividade e os resultados económicos; muitos destes estudos
centram-se no estudo de empresas e não de países, na capacidade de exportação e
de interação com o mercado global, por parte das empresas. No entanto os primeiros
estudos sobre a internacionalização são bem mais antigos e dão um maior enfoque
ao comércio internacional numa perspetiva mais macroeconómica (países ou setores
económicos).
Uma das referências fundadoras no estudo do comércio internacional é sem
dúvida Smith (1789), que introduz a teoria das vantagens absolutas1 em 1776,
tornando-se um marco no estudo da dinâmica e da troca entre os países e as suas
vantagens. De salientar que a sua teoria apenas estaria a considerar dois bens e dois
países, sendo o único recurso aplicado à produção do bem, a mão-de-obra. Tomando
em conta apenas dois países e dois bens produzidos, o autor estabelece que cada
país deverá produzir apenas o bem em que necessita de despender menos recursos
para a mesma quantidade produzida (conceito de eficiência) e deverá importar do
outro país, o bem que deixará de produzir. É também estabelecido por Smith qual o
preço de troca dos bens, ou seja o seu valor. Para este autor um bem deveria ter
exatamente o mesmo valor, pelo qual alguém esteja disposto a despender a sua mão-
de-obra, assim o bem não seria valorizado pela matéria incorporada, mas antes num
critério de utilidade (Smith, 1789).
Um dos grandes economistas do séc. XIX e simultaneamente seguidor e
crítico da obra de Smith foi Ricardo (1817), que defendeu a determinação do valor de
cada bem com base na quantidade de mão-de-obra que este incorpora. Estabelece
então, que cada bem deve ter exatamente o valor que represente a quantidade de
mão-de-obra introduzida neste, ao invés da conferida pela sua utilidade. Este autor
vem ainda aprimorar a dinâmica do comércio e especialização de produção entre
1 Adam Smith em A Riqueza das Nações: Investigação sobre sua natureza e suas causas, editado pela primeira vez em 1776.
15
países introduzindo o conceito de vantagens comparativas. Ricardo (1817) demonstra
ainda, que ao contrário do que afirma Smith (1789), não é necessário que cada país
tenha um bem no qual seja o mais eficiente (em termos absolutos) para que a
produção em conjunto seja compensatória para ambos.
De salientar que ambos os autores viveram em plena revolução industrial
(1760-1820), naquele que foi sem dúvida o epicentro da sua transformação do mundo
(Inglaterra). Podemos então melhor contextualizar a preocupação dos seus estudos,
que de uma forma quase primordial se focavam na eficiência e na contribuição das
relações internacionais para o desenvolvimento das sociedades. Na verdade ambos
acreditavam nos princípios da eficiência aliada à especialização, mas também na
máxima que a união faz a força, esta uma clara alusão ao comércio internacional. A
troca de bens entre países eficientemente especializados iria beneficiar ambos, de tal
forma que se tivermos em conta a mensuração de valor de Ricardo (1817), apenas
com a especialização teremos preços mais baixos (valor do fator trabalho
relativamente baixo), ao mesmo tempo que mantemos a nossa capacidade produtiva
e de criação de valor.
Não se pretendendo fazer a história da literatura científica sobre comércio
internacional destacamos de seguida outro autor mais contemporâneo e que nos traz
outra perspetiva, Krugman (1992). Confrontado com novos paradigmas e desafios
económicos, introduz em debate uma nova visão da dinâmica económica internacional
e do seu equilíbrio, a nova geografia económica.
Existiam já estudos anteriores relacionados com a geografia económica, mas
é este autor que se destaca pela sua visão. Podemos descrever em três pontos os
novos instrumentos de Krugman (1992): em primeiro lugar, a ideia que os mercados
são de concorrência perfeita, terá sido deitada por terra, permitindo verificar vários
mercados onde a concorrência era nitidamente imperfeita; em segunda instância a
possibilidade de existência de economias de escala, ou de rendimentos crescentes,
anteriormente pouco relevadas; por fim, mas não menos importante, a mudança
económica que a tecnologia permitiu, com o crescimento que esta implica. O autor
permite-se debruçar sobre uma área económica tantas vezes deixada para segundo
plano, mas que com o seu contributo começa a ter outro reconhecimento e
desenvolvimento. Segundo o autor não se pode deixar de relevar as alterações nas
geografias económicas e de produção. Outrora os países ou nações eram
consideradas como uniformes e indiferenciados do ponto de vista produtivo, Krugman
16
(1992) discorda desta visão. Usando como exemplo algumas das zonas mais
industrializadas dos EUA, este mostra que existem verdadeiros polos ou “clusters”
industriais, que se foram criando por razões meramente económicas e praticamente
sem intervenção governamental ou política. Fugindo ao paradigma dos rendimentos
constantes, e partindo do pressuposto que os rendimentos são crescentes, podemos
facilmente imaginar que uma empresa terá todo o interesse em se concentrar em
determinado local, ao invés de estar dispersa pelo território, isto porque se o
rendimento é crescente, quanto maior for a produção concentrada, maior será o
rendimento obtido por cada produto. A economia de escala é comprovada, por via da
redução dos custos de produção, e consequente aumento da rentabilidade. Outra
observação feita pelo autor foi de que nestas zonas industrializadas o consumo era
superior, o que atrai empresas, por forma a estarem mais próximas dos centros de
consumo, criando um ciclo virtuoso na oferta e procura de bens. Refere ainda o autor
que existem também externalidades positivas na criação destes polos, isto é, efeitos
que transcendem as fronteiras das empresas. Uma grande concentração de
empresas, traduz-se numa maior confiança para os trabalhadores e para a mobilidade
do trabalho, o que permite a transmissão de conhecimentos (“spillover”2) do tipo
técnico entre trabalhadores de diferentes empresas ou áreas, (Krugman, 1992).
O grande contributo passa então pela visão de que o mercado se tornou
imperfeito, de que existem realmente vantagens na observação das geografias
económicas, mas também em perceber que esta nova geográfica económica não é
complacente com as fronteiras de países, continentes ou interesses externos à própria
economia, (Krugman, 1992).
Desta forma, nestes três autores (Smith, 1789; Ricardo, 1817; Krugman,
1992), encontramos o foco no interesse em perceber o fenómeno do comércio
internacional mas sempre numa perspetiva macroeconómica, sendo que a temática
estudada é essencialmente a dinâmica entre Nações, de forma a gerir políticas
internacionais dos vários Estados.
Entretanto, nas últimas décadas, o foco tem-se deslocado em torno das
empresas e das suas decisões sobre internacionalização. Com efeito, alterações têm
sido notáveis ao nível da economia internacional, com algumas empresas a
assumirem dimensões de multinacionais e com orçamentos maiores do que alguns
2 Efeito pelo qual é inadvertidamente transmitido conhecimento a terceiros.
17
Estados, com a conglomeração de vários países em grandes mercados integrados e
com uma globalização cada vez mais cimentada. Torna-se então necessário perceber
a dinâmica das próprias empresas, já que estas extravasaram as dimensões dos
Países e as suas decisões têm impactos de nível mundial.
Assim, mais recentemente, o estudo do impacto da internacionalização tem-
se voltado para o interior da empresa e em compreender como o exportador opera e
diferencia os produtos que comercializa consoante os mercados e consumidores que
pretende atingir. O trabalho de Bernard et al. (1995) foi realmente uma “pedrada no
lago”, tendo-se acentuado depois dele, os estudos relativos à internacionalização das
empresas, nomeadamente no que concerne às suas caraterísticas. Outros estudos
(Melitz, et al., 2008; Bernard, et al., 1999) têm-se voltado para a dinâmica das
empresas exportadoras e para a procura de elementos comuns no sucesso e no
fracasso da sua investida, analisando alguns elementos que podem potenciar o
sucesso de empresas exportadoras.
Seja através do estudo da temática das vantagens comparativas de Ricardo
(1817), ou da seleção natural do mercado (self selection), ou conforme estudo de
Melitz (2003), de Delgado et al. (2002) ou de Silva et al. (2013), muitos estudos têm
debatido a temática da exportação e sua relação com a produtividade das empresas,
seja antes do início da atividade exportadora, seja após tal começo. Na verdade, os
investimentos de entrada nos mercados exportadores (e em particular os “sunk costs”,
conforme refere a literatura), são um importante elemento de restrição à exportação,
já que em determinada medida permitem distinguir as empresas capazes (com maior
produtividade) de os suportar, das empresas que não conseguem. No entanto, para
quem entra nos mercados de exportação e está disposto a suportar um maior
investimento de entrada, tal facto eleva o seu interesse e motivação em melhorar a
produtividade e assim preservar a sua permanência nesses mercados, para que esses
investimentos não sejam em vão, (Girma, et al., 2004).
Neste enquadramento, surgem também estudos que tentam estabelecer a
ligação entre exportação e a produtividade das empresas, após o início desta
atividade, (Delgado, et al., 2002; Fryges, et al., 2010). Os efeitos associados a tal
causa são intitulados de “learning-by-exporting” e caracterizados pela adaptação de
processos, produtos, técnicas ou capacidades por parte das empresas exportadoras,
permitindo-lhes diferenciarem-se produtivamente nos períodos seguintes ao início da
atividade exportadora, (Delgado, et al., 2002). Num trabalho, Wagner (2011b) compila
18
um conjunto de estudos sobre a exportação e a performance das empresas, tendo em
conta empresas de vários sectores, países e em diferentes períodos de tempo, o
“learning-by-exporting” é descrito como sendo ainda pouco consensual. No entanto,
com a maior disponibilidade de informação a nível empresarial e avanços
tecnológicos, é espectável que num futuro próximo os desenvolvimentos relativos a
este tema sejam mais convergentes.
Conforme Wagner (2011a), deve ser salientada a vantagem da determinação
da rentabilidade face à produtividade, pois uma das principais preocupações das
empresas é maximização do seu lucro. Fryges et al. (2010) conseguem observar a
existência de uma relação positiva, apesar de ser pequena, entre exportação e a
rentabilidade da empresa, concluindo por isso que o impacto dos investimentos
associados à exportação são inferiores aos seus proveitos. Os autores chegam
mesmo a apontar o ponto ótimo de exportação, nos 49% do total de vendas (face ao
volume de negócios global), para a sua amostra de empresas alemãs. As empresas
em busca de novos mercados poderão alterar determinadas características do
produto, de forma a melhor se adaptar às circunstâncias de mercado que irão
encontrar. O poder de compra dos consumidores, as suas preferências, as questões
culturais, ambientais ou geográficas, podem fazer com que determinado produto não
tenha o sucesso pretendido, sendo por isso por vezes necessário efetuar algumas
alterações, (Fryges, et al., 2010). Entretanto, Grazzi (2012), não encontra evidências
de uma maior rentabilidade das empresas exportadoras, apesar de ser encontrada
uma diferença na produtividade entre exportadores e não exportadores.
Autores como Bernard et al. (2007) introduzem uma nova dinâmica ao estudo
da alocação de fatores produtivos e do ganho gerado em comércio internacional. Com
o estudo de empresas heterogéneas, são encontradas evidências do aumento médio
da produtividade nas empresas e nos setores, não só nos setores com vantagens
competitivas, mas por todos os outros, mesmo que sejam menores os crescimentos.
Também trabalhos como de Melitz (2003) e Melitz et al. (2008), vêm enfatizar
as características intrínsecas aos mercados e às empresas, que podem ser
potenciadores de uma melhor integração no comércio internacional. Características
como a dimensão do mercado, o seu grau de abertura ao comércio internacional e a
sua competitividade, são elementos que podem definir o potencial das empresas que
neles operam (Melitz, 2003). A eficiência potenciada por um número maior de
concorrentes e de consumidores será alavancada com a abertura dos mercados.
19
Assim, o facto de operar num mercado maior e mais competitivo poderá desde logo
favorecer as empresas que pretendam a internacionalização, já que as torna mais
hábeis para a concorrência que terão de enfrentar (Melitz, et al., 2008).
Empresas mais eficientes, terão melhores possibilidades de serem bem-
sucedidas, na concorrência com empresas presentes no mercado para o qual
pretendem exportar, conforme concluem Melitz (2003) e Girma et al. (2004).
É consensual a ideia que as empresas exportadoras são mais produtivas do
que as não exportadoras, sendo então sugerido que a seleção natural e a
aprendizagem pela exportação são os principais motivos para tal ocorrer e embora
não sendo estes (seleção natural e aprendizagem pela exportação) mutuamente
exclusivos, são duas perspetivas diferentes, uma salienta o momento pré-exportação
e a outra o pós-exportação.
1.2 – Seleção natural
A seleção natural é caracterizada pela dinâmica existente entre empresas,
normalmente dentro do mesmo sector, num jogo de eficiência e competitividade, que
elimina as menos aptas, enquanto premeia as mais eficazes. Apenas as empresas
mais eficientes estarão dispostas a arriscar em se internacionalizar, nomeadamente
pelos custos acrescidos que este passo implica (e que só empresas mais eficientes
podem suportar). A barreira constituída pelos investimentos afundados, fixos e
variáveis de exportação, servirá sobretudo para proteger da concorrência
internacional, empresas puramente domésticas ou internas ao mercado, protegendo-
se alguma ineficiência ao nível da produtividade.
Assim, as barreiras à entrada na atividade exportadora servirão como
limitador de novos concorrentes no mercado interno, (Melitz, 2003). No trabalho de
Melitz (2003) surgem evidências de que as barreiras à exportação servem de proteção
a empresas menos competitivas (ou menos eficientes) e prejudicam a produtividade
do setor. Esta situação ocorre porque as empresas menos eficientes servem
normalmente o consumo interno e os custos de exportação (entrada no mercado
internacional) limitam a entrada de concorrência, preservando alguma ineficiência e
não motivando a competitividade do setor. Com a abertura do mercado ou diminuição
dos custos de exportação, e entrada de empresas externas mais competitivas, as
20
empresas menos eficientes não serão capazes de subsistir com as suas novas rivais
e serão eliminadas do mercado, conforme a seleção natural.
Bernard et al. (2004) vai de encontro a um dos paradigmas vividos nas últimas
décadas, o da exportação em busca da rentabilidade. Dado que, de uma forma geral,
as empresas exportadoras são mais eficientes e competitivas, podemos facilmente
ser induzidos em erro e achar que todas as empresas que passem a exportar se
tonarão mais eficientes e competitivas, (Bernard, et al., 2004). Estes autores
encontram evidências de que os exportadores são economicamente mais estáveis e
com menor probabilidade de falência, mas isso ocorre mesmo antes de serem
exportadores, já que eram empresas altamente competitivas e por isso referências no
mercado onde atuavam. No entanto, conforme conclui Wagner (2007), não há
evidências de que a exportação melhore necessariamente a eficiência da empresa,
mas é a maior produtividade que normalmente confere vantagens para que se torne
exportador, (Wagner, 2007). Esta ideia, já antes intitulada de “seleção natural de
exportadores” foi também abordada por Girma et al. (2004) que utilizando a seleção
natural do mercado como elemento explicativo, mostra que não basta querer ser
exportador para se conseguir sobreviver no mercado internacional.
Também Falvey et al. (2004) não encontram evidências de que empresas
exportadoras melhorem a sua produtividade, após o início da atividade exportadora,
no entanto comprovam que a indústria (no seu todo) sai beneficiada pela seleção
natural da exportação, aumentando a sua produtividade, dado que apenas as
empresas com melhores alocações de recursos irão prevalecer.
Melitz (2008), observa ainda que empresas competitivas em mercados
maiores (maior número de consumidores e concorrentes), estarão certamente melhor
preparadas para enfrentar as adversidades do mercado internacional, que as
empresas que operem em mercados mais pequenos e menos eficientes. Os mercados
com maior número de concorrentes aumentam a competitividade, por via da superior
exigência necessária para conquistar quota de mercado, assim essas empresas
tenderão a ser mais eficientes na alocação dos seus recursos e nos custos produtivos.
Estudos como o de Bernard et al. (2007), analisam sobretudo a
competitividade do ponto de vista da utilização dos meios de produção, na busca das
vantagens competitivas e vão também de encontro a estas conclusões. No entanto,
acrescentam ainda o facto dos meios produtivos poderem ser canalizados para
setores, empresas ou países que os possam trabalhar mais eficientemente, ou seja,
21
capazes de elevar o seu potencial e resultado. Falvey et al. (2004) encontram
evidências de que a exportação poderá também beneficiar os sectores; de facto,
conforme referem, as exportações das empresas têm um impacto que vai para além
do sentido por cada empresa, podendo ser alargado a uma dimensão setorial.
De uma forma sucinta, o que os estudos sobre a seleção natural nos mostram,
não é apenas a dinâmica entre empresas e a sua eficiência (produtividade), mas algo
ainda mais importante e de grande relevância; tal como já referido, estes estudos
analisam o momento pré-exportação, pelo que a sua análise irá mostrar não só quais
as características necessárias para se ser exportador, mas também responder à
grande questão: que empresas têm capacidade de se tornarem exportadoras?
1.3 – Aprendizagem com a exportação
Temática constantemente associada à internacionalização e que tem sido
objeto recente de inúmeros estudos, é a designada “aprendizagem pela exportação”
(learning-by-exporting - LBE). A aprendizagem pela exportação traduz-se na absorção
do conhecimento e competências adquiridos por empresas exportadoras, pelo facto
de estarem num negócio internacional mais exigente que o doméstico, e que possam
ser canalizadas para obter uma maior eficiência.
Estudos como o de Andersson et al. (2008) procuram identificar um
incremento na produtividade das empresas que se iniciam na atividade exportadora,
provando que as suas competências melhoram pelo facto de estarem a exportar. Este
autor, utilizando dados de empresas suecas, observou que as empresas com
pretensão de se manterem exportadores, durante longos períodos, irão naturalmente
ter interesse em alterar, melhorar (inovar) os seus produtos e produção, de forma a
melhor servir o consumidor de determinado mercado. Outro fator observado, tem em
conta a dimensão da exportação: quanto maior percentagem da sua produção a
empresa exportar (quanto maior for a intensidade exportadora), melhores serão os
resultados da aprendizagem pela exportação. Ressalvam ainda os autores que
empresas que são apenas exportadores esporádicos (curtos períodos de tempo) terão
uma maior dificuldade de sentir este efeito.
De forma semelhante, um estudo (Silva, et al., 2010a) efetuado com uma
amostra de empresas portuguesas, encontra evidências da aprendizagem pela
exportação. No entanto, neste estudo os autores verificam, que o fator importação tem
22
também o seu impacto neste efeito. Na verdade, encontram evidências do efeito de
aprendizagem para a totalidade da sua amostra sendo, contudo, este é maior quando
se focam em recentes exportadores que também importam. Além desse aspeto, o
mesmo estudo mostra ainda o impacto positivo das importações no efeito de
aprendizagem, sendo maior para empresas que no mesmo ano comecem
simultaneamente a importar e exportar; por outro lado, em empresas de maior
dimensão é observado de forma mais frequente o efeito da aprendizagem pela
exportação, enquanto nas empresas mais pequenas o mesmo efeito não se verifica
de forma tão evidente; também recentes exportadores com produtividade abaixo da
média, tendem a ter efeitos positivos imediatos, mas quando a produtividade está
acima da dita média (antes da exportação) os efeitos de aprendizagem apenas se
verificam ao fim de um certo período (3 anos e apenas por mais 2 anos).
Por outro lado, Delgado et al. (2002), para uma amostra de empresas
espanholas, não encontram diferenças no crescimento da produtividade entre
empresas exportadoras e não exportadoras. No entanto ao selecionar um grupo de
novas empresas (com menos de 5 anos de antiguidade), é verificado que após o início
da exportação, o crescimento da produtividade tende a ser maior do que para
empresas não exportadoras, atestando a existência de um “prémio” de exportação.
Fryges et al. (2008) , na mesma linha, refere mesmo que existem evidências
de uma relação de causa-efeito entre a exportação e o crescimento da produtividade
do trabalho, mas apenas para um subgrupo de empresas exportadoras, tendo em
conta o seu rácio de exportação. Salientam ainda que esta pode ser uma das
eventuais causas para que estudos onde apenas sejam analisados os efeitos do LBE,
tendo em conta se a empresa exporta ou não, tendem a não conseguir tão fortes
evidências da aprendizagem pela exportação.
Ao analisar o caso tailandês através de uma amostra de empresa do ramo
tecnológico, Yang (2003) observa a existência de reciprocidade entre a produtividade
e a decisão de exportar, mas também um crescimento da produtividade no pós-
exportação (learning-by-exporting) que perdura apesar de a intensidade ir baixando
com o passar dos anos.
Sendo um tema longe de ser consensual, no que aos resultados diz respeito,
os estudos relativos ao “learning-by-exporting“ deverão ser alvo de uma recolha de
dados não só económicos ou financeiros, mas também sobre os canais de absorção
de aprendizagem das empresas, conforme Wagner (2007) refere. Uma das formas de
23
abordagem poderia passar pela análise de “case studies”, onde a proximidade às
empresas e canais de absorção de informação e de aprendizagem é superior
(Wagner, 2007).
1.4 – Determinantes dos resultados económicos A literatura sobre o impacto da exportação nos resultados económicos das
empresas, tem tido uma especial incidência e crescimento desde o final do Séc. XX.
A facilidade na recolha de elementos de estudo, tais como elementos contabilísticos
e financeiros das empresas tem permitido que sejam efetuados cada vez mais estudos
e avanços nesta área. É um tema deveras importante para as empresas dado que a
maximização da rentabilidade é uma das suas principais preocupações. Desta forma,
as que pretendam otimizar a sua rentabilidade procuram encontrar fatores que em
primeira instância possam ser identificados e que em segunda, possam ser alvo de
melhorias ou potenciados.
Poderíamos dividir em duas grandes vertentes a base dos estudos nesta área,
elementos externos à empresa e internos à empresa. Um nome incontornável no
estudo dos fatores externos à empresa é Porter (1980), que colocando o enfoque na
dinâmica de mercado e da concorrência entre empresas, abre todo um novo caminho
de estudo. Uma outra variante de estudos (Nunes, et al., 2009; Stierwald, 2009), mais
próxima do apoio à tomada de decisão por parte da gestão das empresas, com uma
ótica mais contabilística e financeira, procura encontrar quais os recursos e
características internas à empresa (dimensão, idade, produtividade, alavancagem,
entre outros), que possam determinar a sua rentabilidade.
Sendo o tema fundamental deste trabalho abordar o impacto das exportações
nos resultados das empresas, será fundamentalmente baseado na segunda forma de
abordagem à rentabilidade, que iremos de seguida debruçar-nos. Na verdade, o foco
deste trabalho está em perceber o impacto das exportações na rentabilidade das
empresas, embora sem que se tenha em linha de conta a dimensão do mercado,
níveis de concorrência ou quota no mercado para o qual se exporta, até porque não
foi possível recolher tais elementos. Neste sentido iremos focar a revisão de literatura,
numa abordagem mais voltada para as determinantes intrínsecas e recursos
disponíveis das empresas.
24
Antes de mais convém justificar qual a medida de rentabilidade, ou como se
irá calcular o resultado das empresas. Na literatura existem diferentes abordagens ao
tema, no entanto existe uma medida que tem sido amplamente utlizada; o Retorno
dos ativos (ROA), é uma aproximação à rentabilidade da empresa, por via dos fatores
totais de produção. Autores como Tamminen et al. (2013), Nunes et al. (2009) e
Stierwald (2009), utilizam esta medida nos seus estudos.
No entanto, como refere Silva (2011), o ROA também tem desvantagens, já
que pode “esconder” a rentabilidade das empresas, se o total do ativo tiver um
crescimento superior ao da rentabilidade.
No que respeita a variáveis explicativas, na generalidade da literatura sobre
este tema existem já algumas variáveis, que (por serem encontradas evidências
empíricas em muitos dos trabalhos realizados) se tornaram incontornáveis e cada vez
menos questionáveis. As já referidas dimensão, idade, intensidade de capital e
produtividade, são já utilizadas como variáveis de controlo a novos estudos e
desenvolvimentos em temas que abordam a rentabilidade das empresas, tantos são
os trabalhos que confirmam a sua relevância para os resultados das empresas,
(Nunes, et al., 2009; Silva, 2011; Grazzi, 2012).
Nunes et al. (2009), no seu estudo encontra evidências de que o tamanho,
crescimento das vendas, alavancagem e estrutura de capitais, são fortes
determinantes dos resultados económicos das empresas. Com uma base de dados
de empresas de serviços portuguesas, estes autores conseguem chegar a algumas
evidências das quais saliento: empresas com maior endividamento veêm parte da sua
rentabilidade consumida pelo pagamento de encargos com a dívida, obtendo assim
menor rentabilidade que empresas com menor endividamento; empresas de maior
dimensão, tendem a obter maiores rentabilidades, talvez através das economias de
escala; empresas com maior investimento em ativos fixos, tenderão a ter menor
rentabilidade, (Nunes, et al., 2009).
No trabalho de Feeny (2000), sobre uma amostra de empresas australianas,
salientaria as observações deste autor sobre o impacto na rentabilidade das empresas
de duas variáveis explicativas: o tamanho e a intensidade de capital. Conforme o
autor, o tamanho tem um impacto positivo e significativo nos resultados das empresas,
sendo que empresas de maior dimensão obtêm maiores níveis de rentabilidade.
Relativamente às empresas com maior intensidade de capital, encontra-se igualmente
uma relação positiva com a rentabilidade.
25
Entretanto, alguns autores consideram relevante observar a relação entre a
rentabilidade do período anterior e a rentabilidade estudada, (McDonald, 1999; Nunes,
et al., 2009). McDonald (1999) salienta ainda, que a utilização desfasada de uma
variável tão utilizada pela gestão das empresas, é de facto relevante, pois na tomada
de decisão sobre investimento ou produção, as empresas tomam sempre em
consideração o passado recente, influenciando indiretamente o presente. Para um
conjunto de empresas australianas, Stierwald (2009) utiliza uma perspetiva de
abordagem um pouco diferente; recorrendo não só à rentabilidade passada como
justificativa da rentabilidade atual, mas também a algumas das variáveis explicativas
típicas (tamanho, endividamento global e produtividade) desfasadas de um período,
encontra evidências de que estas são estatisticamente relevantes. O autor observa
que o desfasamento da rentabilidade e do tamanho são extremamente influentes e
positivamente correlacionados com os resultados das empresas. Já outras variáveis
como alavancagem, risco financeiro e nível de produtividade, apesar de serem
relevantes, têm um impacto inferior nos resultados das empresas estudadas.
1.5 – Exportações e resultados económicos
Com grande segurança, poderemos dizer que o tema que mais trabalhos irá
motivar na próxima década, no âmbito do comércio internacional, seja o da relação
entre as exportações e a rentabilidade das empresas exportadoras. É um tema
“fresco”, cuja informação micro e os desenvolvimentos empíricos, têm motivado
grande entusiasmo.
Fryges et al. (2010) observam a existência de um diferencial entre o lucro dos
exportadores e dos não exportadores, que apesar de ser pequeno é estatisticamente
significativo, representando um prémio para os exportadores. Ao longo do seu estudo,
ficamos com a ideia de que a ligação entre exportação e produtividade advém mais
da seleção natural do que da aprendizagem pela exportação. Este facto poderá ser
importante na decisão de exportação por parte das empresas, pois conferem-lhes à
partida uma responsabilidade acrescida ao nível da eficiência, já que os efeitos do
LBE poderão ser diminutos.
Para uma amostra de empresas italianas, Grazzi (2012) verifica que
efetivamente existe uma relação entre eficiência das empresas e a sua rentabilidade
pois consegue também observar que as empresas exportadoras são tendencialmente
26
mais eficientes. Mas como refere o autor, não são encontradas evidências que
comprovem a ligação entre exportação e rentabilidade, já que a rentabilidade das
empresas exportadoras e não exportadoras, não difere.
Silva (2011) verifica que o crescimento do ROA para empresas que se iniciam
na atividade exportadora é inferior ao das empresas não exportadoras. Sugere o autor
que tal facto poderá dever-se aos custos de entrada no mercado, dado que 4 anos
após o início da exportação, as empresas exportadoras tendem a receber o retorno
deste seu “investimento” e começam a ter crescimentos do ROA mais rápidos do que
o das empresas não exportadoras. Refere ainda o autor, que o facto do ROA não
mostrar a superioridade nos recentes exportadores, pode dever-se ao crescimento
superior do total do ativo face aos resultados da empresa.
1.6 – Variáveis a utilizar no modelo Sendo o foco deste trabalho descobrir o impacto da exportação nos resultados
económicos das empresas, iremos utilizar um conjunto de variáveis de controlo ao
nível da empresa (dimensão, crescimento e endividamento global), uma de controlo
para aferir o impacto do mercado no qual a empresa é interna e uma variável para
medir o impacto das exportações.
A rentabilidade total dos ativos tem sido usada como medição dos resultados
das empresas; esta resulta da divisão dos resultados operacionais da empresa pelos
ativos incorporados. A medida é utilizada pela gestão das empresas como forma de
aferir a capacidade dos ativos da empresa gerarem valor (Nunes, et al., 2009). Apesar
da limitação referida por Silva (2011), que salienta o facto de esta poder esconder a
real rentabilidade quando o ativo cresce em maior proporção que os resultados,
acreditamos que será uma medida apropriada para efetuar esta análise, já que deve
ser tido em linha de conta o eventual investimento que o exportador terá de efetuar
para possibilitar o acesso ao mercado externo.
A utilização de variáveis desfasadas também é relativamente comum na
investigação das determinantes dos resultados das empresas. A rentabilidade do ano
anterior, é usada como variável explicativa, pois através do desfasamento de um
período conseguimos observar o impacto que os anos anteriores têm nos resultados
do ano corrente. Este facto justifica-se porque se trata de uma variável com um típico
comportamento de auto-correlação (Nunes, et al., 2009). Outros autores encontram
27
vantagens em estudar um maior número de variáveis explicativas desfasadas no
tempo, considerando que estas podem ser mais representativas das características
heterogéneas das empresas (McDonald, 1999). De facto, não será displicente
considerar que as características (dimensão, endividamento, número de funcionários,
produtividade, entre outras) com que a empresa inicia cada ano possam ser
motivadoras dos resultados finais das empresas.
A dimensão da empresa é uma das variáveis explicativas mais utilizadas em
toda a literatura que relaciona os caraterísticas da empresa e seus resultados
económicos, (Wagner, 2007; Nunes, et al., 2009; Stierwald, 2009; Grazzi, 2012). De
facto, é fácil compreender a relação entre dimensão e rentabilidade, se considerarmos
que empresas de maior dimensão geralmente obtêm acesso a economias de escala
que não são possíveis em empresas de menor dimensão. Outros autores encontram
evidências que corroboram a ligação entre a dimensão da empresa, a sua capacidade
exportadora e potencialmente os resultados (Bernard, et al., 1999; Girma, et al., 2004;
Gomes, et al., 2007). Com efeito, e tendo em conta a literatura já revista, é possível
intuitivamente compreender que empresas com maior dimensão, ao encontrar
economias de escala, vão ser mais produtivas, consequentemente ter custos de
produção inferiores e assim potenciar os seus ganhos.
A variação do volume de negócios, serve como aproximação ao crescimento
da empresa, que é outra variável frequentemente usada para explicar resultados.
Nunes et al. (2009) encontram fortes evidências entre o crescimento da empresa e os
seus resultados. Esta medida, conforme está concebida, reforça a ligação entre a
capacidade de venda da empresa e a consequente obtenção de rentabilidade Silva et
al. (2013). De facto, com o crescimento das vendas, dada a diluição dos custos fixos,
os resultados económicos tendem a melhorar. Sugerem ainda os autores, que este
crescimento terá também um impacto sobre a motivação dos trabalhadores,
potenciando outras externalidades para além dos resultados da empresa.
O endividamento global, medido como o rácio do passivo sobre o total do
ativo, salienta a divida existente na empresa. Conforme sugere Nunes et al. (2009)
quanto maior for este rácio, maior será o impacto negativo, apontando para o aumento
dos custos da empresa e perdas de oportunidade de investimento, por falta de
liquidez. Os autores, não conseguem contudo encontrar um nível ótimo de
endividamento, ou compreender as causas concretas do impacto desta variável nos
resultados das empresas, (Nunes, et al., 2009). Já Stierwald (2009), apresenta
28
diferentes resultados do impacto da mesma variável na rentabilidade da empresa.
Conforme sugere o autor, a dívida terá um impacto positivo nos resultados das
empresas. Com efeito, este argumenta que empresas que apresentam maiores níveis
de rentabilidade poderão ter acesso a custos de divida inferiores, (Stierwald, 2009).
O crescimento do PIB, como medida de ligação entre as empresas e o
mercado, representa a conjuntura do país onde está inserido e contextualiza o impacto
sistémico. Esta será uma medida transversal a todas as empresas e representativa
do ciclo económico. São encontradas evidências de que existe ligação entre os ciclos
económicos vividos no mercado em que a empresa está inserida e seus resultados
económico, conforme postula Benezath et al. (2010). A finalidade do uso desta
variável, prende-se com o facto das empresas exportadoras portuguesas serem em
número relativamente reduzido e as que exportam terem uma intensidade de
exportação também ela reduzida, conforme será aprofundado no Capitulo 2,
subcapítulo 4. Assim será espectável que a volatilidade do PIB tenha um forte impacto
nos resultados das empresas, por via da sua dependência no mercado interno.
De forma a aferir o impacto da variável exportação, será utilizado neste
trabalho o seu valor total, relativo a cada empresa. Com esta variável iremos analisar
o impacto da relação exportadora das empresas, com os seus resultados. A utilização
de valores absolutos em detrimento de outras variáveis relativas (tais como a
propensão exportadora), justifica-se por considerarmos que existem investimentos
fixos de exportação que dependem apenas do volume exportado. Tal como suportam
Delgado et al. (2002) e Melitz (2003), as barreiras à exportação são muito importantes
tanto para a decisão de se iniciar neste novo mercado, como também para a intensão
de aumentar os valores exportados. Assim, o aumento do valor absoluto exportado
poderá refletir melhor esta questão, enfatizando o que poderão ser “economias de
escala” de exportação.
29
CAPÍTULO DOIS – ESTUDO EMPÍRICO
2.1 – Base de dados
A base de dados utilizada no estudo foi extraída da SABI (Sistema Análise de
Balanços Ibérica) e a informação relativa a dados de exportação apenas estava
disponível para os anos de 2008 a 2012.
Tendo em conta o universo de empresas disponível na SABI, foi decidido
efetuar o estudo apenas para a pequenas, médias (PME) e grandes empresas (GE),
dado que para as micro empresas existiam bastantes omissões e erros na informação
financeira e contabilística. Desta forma foram expurgadas todas as empresas com
menos de 10 trabalhadores e volume de negócios inferior a 2 milhões de euros, à data
de 31 de Dezembro de 2008 (caracterizadas como micro empresas de acordo com a
recomendação 2003/361/CE da Comissão Europeia). No entanto ao longo dos anos
do estudo, algumas empresas passam a ser caraterizadas como micro empresas, não
tendo sido excluídas da amostra.
Para o universo de empresas estudadas foram tidos ainda em conta como
critérios de qualidade da base de dados:
- o volume de negócios tinha de ser positivo, ao longo dos anos em estudo;
- a forma jurídica não podia ser de empresa pública ou empresa financeira;
- a empresa tinha de estar em plena atividade, sem estar a ser alvo de
programas de revitalização ou estar em processo de falência;
Após estes filtros, a nossa base de dados ficou definida por um universo de
9305 empresas, sendo apresentada informação financeira e contabilística referente
aos anos de 2008 a 2012.
Entretanto, não existindo um critério internacionalmente aceite e utilizado, foi
considerada como empresa exportadora, aquela que nos anos em estudo tem pelo
menos 15% do seu volume de negócios no mercado externo, seja ele comunitário ou
não comunitário.
30
2.2 – Contexto português
Num mercado (português) caracterizado pelo elevado número de micro3 e
pequenas4 empresas, de acordo com o INE (2010a) em 2008 havia em Portugal
1.096.255 empresas não financeiras, das quais 1.046.592 eram micro empresas,
42.629 eram pequenas empresas, 6.113 eram médias5 empresas e apenas 921
grandes6 empresas. Desta forma conclui-se que 99,36% das empresas em Portugal
são micro ou pequenas empresas.
Refere ainda o INE (2010a), relativo a dados de 2008, que apesar das grandes
empresas serem apenas 0,08% de todas as empresas em Portugal, estas
representam 28% do PIB nacional, sendo por demais importante para a nossa
economia, não se desprezando o facto de empregarem 21% da população ativa.
Com uma análise mais detalhada podemos verificar que o grosso das
exportações, estão concentradas num pequeno número de empresas, mas de grande
dimensão. Segundo INE (2010b) as grandes empresas representavam em 2008
45,4% das exportações em Portugal (em valor), ficando as pequenas e médias
empresas com 12% e 26% de quota de exportação, respetivamente. As grandes
empresas, sendo menos de 1% em número e sendo responsáveis por 28% do PIB,
conseguem ser as potenciadoras de 45% das exportações gerais.
Nos últimos anos tem crescido a preocupação nacional sobre as exportações.
O abrandamento do PIB e do consumo interno, acentuou a procura por alternativas
ao crescimento económico. No que diz respeito ao Produto Interno Bruto7 (PIB)
português, observa-se crescimento entre os anos de 2005 e 2012, contudo este
crescimento não foi linear. Conforme podemos verificar na Tabela 1 o crescimento
maior ocorre entre os anos de 2005 e 2008, havendo um decréscimo nos anos
seguintes (2009 a 2012).
Conforme dados recolhidos junto do INE (2013), referentes ao período de
2005 a 2012, no que diz respeito a exportações de Portugal o crescimento das
3 Empresas com menos de 10 funcionários, menos de 2 milhões de euros de volume de negócios ou balanço total.
4 Empresas com número de funcionários compreendido entre 10 e 49, com volume de negócios ou balanço total entre 2 e 10 milhões de euros.
5 Empresas com número de funcionários entre 50 e 249, com volume de negócios 10 e 50 milhões de euros ou balanço total até 43 milhões de euros.
6 Empresas com mais de 250 funcionários, volume de negócios superior a 50 milhões de euros ou balanço superior a 43 milhões de euros.
7 Produto Interno Bruno na ótica da produção e a preços corrente.
31
exportações entre 2005 e 2012 é de 45%, tendo apenas um ano de decréscimo, 2009.
Apesar da crise ocorrida em 2007 e da consequente quebra do consumo, é de
destacar que Portugal consegue inverter o ciclo de decréscimo de exportações e, em
2012 alcançar um crescimento de 16,5% face a 2008, INE (2013).
Podemos ainda destacar da Tabela 2 que as exportações extracomunitárias
representam cerca de 30% do total das exportações nacionais, sendo por isso
relativamente significativo o peso do relacionamento com os países da União
Europeia. Observamos que no ano de 2005 o mercado extra comunitário representava
cerca de 20% das exportações, enquanto em 2012 representava já cerca de 30%.
Considerando os valores absolutos, é de realçar que as exportações
extracomunitárias duplicaram o seu valor entre 2005 e 2012, tendo as comunitárias
aumentado cerca de 30%. Assistimos neste período de crise a uma transformação
progressiva dos mercados de exportação, mantendo no entanto a importância
(dependência) do mercado comunitário.
Tabela 1 - Produto Interno Bruto na ótica da produção a preços correntes. Produto Interno Bruto
(PIB) Crescimento PIB %
2005 154.268 --
2006 160.855 4,27%
2007 169.319 5,26%
2008 171.983 1,57%
2009 168.503 -2,02%
2010 172.834 2,57%
2011 171.039 -1,04%
2012 165.386 -3,31%
Fonte: Instituto Nacional de Estatística Valores em milhões de euros
32
Tabela 2 - Exportações portuguesas entre os anos de 2005 e 2012.
Exportação Exportação Exportação Intracomunitária Extracomunitária Total
2005 24.923 80,04% 6.213 19,96% 31.137 100%
2006 27.754 77,87% 7.885 22,13% 35.640 100%
2007 29.525 77,10% 8.768 22,90% 38.294 100%
2008 28.904 74,40% 9.943 25,60% 38.847 100%
2009 23.892 75,38% 7.804 24,62% 31.696 100%
2010 28.104 75,41% 9.163 24,59% 37.267 100%
2011 31.872 74,42% 10.955 25,58% 42.828 100%
2012 32.152 71,04% 13.107 28,96% 45.259 100% Fonte: Instituto Nacional de Estatística Valores em milhões de euros
Desta forma confirma-se que as exportações vêm atenuar uma queda do
consumo interno, que poderia ter como consequência uma diminuição maior do PIB.
Por outro lado, muitas empresas portuguesas tendem a encontrar nas exportações a
solução para a quebra do consumo interno. Mas será esta procura pelo mercado
externo por parte das empresas, boa para os seus resultados?
2.3 – Modelo empírico a estimar
Sendo a pretensão do trabalho demonstrar qual o efeito das exportações nos
resultados das empresas, o modelo a aplicar será semelhante ao utilizado por Nunes
et al. (2009), também para um grupo de empresas portuguesas. Conforme os autores
aplicaram no seu modelo, também aqui iremos utilizar a rentabilidade total do ativo
como variável explicada, medida pelo rácio entre resultados operacionais e total do
ativo. No sentido de controlar a heterogeneidade não observada das empresas,
pretendemos estimar o modelo com efeitos fixos (βi) e também incluímos efeitos
anuais (βt).
𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅 = β0 + β1𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅𝑅(𝑡𝑡 − 1)it + β2𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷𝐷it + β3𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶it + β4𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶𝐶t + β5𝑅𝑅𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴𝐴it
+ β6Exp + βi + βt + εit
33
ROA (t), como rentabilidade dos ativos; ROA (t-1), como ROA desfasado um
período; Dim (t), como dimensão da empresa; Cresc (t), como crescimento do volume
de negócios da empresa; CrescPIB (t), como taxa de crescimento do PIB de cada ano;
Div (t), como rácio de endividamento global da empresa; Export (t), como valor total
de exportações realizadas pela empresa.
2.4 – Estatísticas descritivas referentes à amostra
Tabela 3 - Matriz de correlação
ROA ROA (t-1) Dim Cresc CrescPIB Alav Export
ROA 1
ROA (t-1) 0,6127 1
Dim (t) 0,0553 0,0363 1
Cresc (t) 0,2208 -0,0063 0,0649 1
CrescPIB(t) 0,1009 0,0603 0,0124 0,2208 1
Div (t) -0,3718 -0,3514 0,0253 0,0432 0,0139 1
Export (t) 0,0492 0,0305 0,5794 0,0547 -0,0082 -0,0335 1 Fonte: elaboração própria
Da análise da Tabela 4 tendo em conta as variáveis apresentadas no modelo,
podemos retirar algumas conclusões, nomeadamente relativas às suas volatilidades.
Com exceção do endividamento, todas as variáveis apresentam uma grande
volatilidade fruto da grande heterogeneidade das empresas. Destaca-se o facto de em
média o ROA ser baixo mas positivo durante o período em análise.
Aprofundando a análise estatística da nossa amostra, na Tabela 5 verificamos
que a maior concentração de empresas encontra-se nas pequenas e médias
empresas, tendo principal expressão as pequenas empresas com cerca de 59% do
universo da amostra.
34
Tabela 4 – Estatística descritiva.
Média Desvio Padrão Mínimo Máximo
ROA 0,0418644 0,0988316 -0,4605962 0,4322598
ROA (t-1) 0,0511299 0,0936612 -0,3731751 0,4519195
Dim (t) 11555,97 26905,32 346,6279 264301,5
Cresc (t) 0,0068206 0,2994901 -0,7857291 1,982673
CrescPIB (t) -0,0044534 0,0220033 -0,0331 0,0257
Div (t) 0,6480554 0,257381 0,0669517 1,935395
Export (t) 1967,223 7326,784 0 74236,27
Observações 46525 Fonte: elaboração própria
Tabela 5 - Número de empresas por dimensão de empresa em cada ano. Micro Pequenas Médias Grandes Total
2008 5572 59,9% 3159 33,9% 574 6,2% 9.305
2009 41 0,4% 5583 60,0% 3130 33,6% 551 5,9% 9.305
2010 87 0,9% 5507 59,2% 3139 33,7% 572 6,1% 9.305
2011 142 1,5% 5498 59,1% 3084 33,1% 581 6,2% 9.305
2012 244 2,6% 5567 59,8% 2945 31,6% 549 5,9% 9.305 Fonte: elaboração própria
À medida que vamos analisando a evolução da dimensão das empresas da
amostra, salta desde logo à vista a diminuição da dimensão das empresas. Note-se,
que o crescimento de micro empresas não advém do nascimento de novas empresas,
mas antes da diminuição de dimensão por parte de algumas empresas da amostra.
Este facto poderá estar associado à conjuntura económica nacional, que levou a que
as empresas diminuíssem o seu volume de negócios e mão-de-obra empregue. Não
esquecer que a dimensão das empresas tem em conta o número de trabalhadores,
volume de negócios e total do ativo, conforme já apresentado.
35
Tabela 6 - Mão-de-obra empregue por dimensão de empresa em cada ano. Micro Pequenas Médias Grandes Total
2008 140.706 16,5% 293.527 34,4% 418.577 49,1% 852.810
2009 300 0,0% 141.113 16,5% 290.859 34,1% 420.523 49,3% 852.795
2010 569 0,1% 139.654 16,1% 288.361 33,2% 440.294 50,7% 868.878
2011 902 0,1% 138.190 16,0% 285.135 33,0% 439.298 50,9% 863.525
2012 1.441 0,2% 136.145 16,3% 272.944 32,7% 423.402 50,8% 833.932 Fonte: elaboração própria
Entretanto, a amostra tem uma concentração de mão-de-obra nas grandes
empresas de cerca de 50%. Um dos pontos mais curiosos da Tabela 6 é o facto das
grandes empresas aumentarem a mão-de-obra empregue entre 2008 e 2012, ao
contrário das restantes dimensões de empresas. Por outro lado, apesar da diminuição
do número de grandes empresas, estas aumentaram a mão-de-obra empregue,
durante o período em análise.
A amostra possui empresas com um vasto leque de antiguidades, desde
empresas no primeiro ano de atividade até empresas com 250 anos de história. A
maior concentração encontra-se nas empresas com mais de 5 anos mas com menos
de 25 anos, conforme mostra a Tabela 7, organizada por grupo de idades. Os dados
mostram que 86% das empresas em 2008, e 91% em 2012, têm entre 5 e 50 anos.
Tabela 7 - Número de empresas por grupo de idade. < 5 5 a 25 25 a 50 50 a 100 >100
2008 768 5.551 2.459 505 22
2009 590 5.568 2.582 542 23
2010 409 5.561 2.743 568 24
2011 266 5.494 2.924 596 25
2012 131 5.357 3.171 619 27 Fonte: elaboração própria
Tendo em conta o conceito de empresa exportadora usado neste estudo a
amostra é caraterizada por um universo de cerca de 2200 empresas exportadoras e
7000 não exportadoras, conforme Tabela 8. Existe ainda uma concentração evidente
36
de exportadoras nas pequenas e médias empresas (PME), fruto do tecido empresarial
português, conforme lido anteriormente; de qualquer modo as pequenas empresas
representam cerca de 40% das empresas exportadoras, quota muito inferior aos 59%
que este tipo de empresas represente no total de empresas da amostra.
Tabela 8 - Número de empresas exportadoras e não exportadoras por dimensão e ano.
Tipo Micro Pequenas Médias Grandes Total % Total
2008 E 0 951 1065 206 2222 23,9%
NE 0 4621 2094 368 7083 76,1%
2009 E 3 979 1038 184 2204 23,7%
NE 38 4604 2092 367 7101 76,3%
2010 E 18 967 1074 201 2260 24,3%
NE 69 4540 2065 371 7045 75,7%
2011 E 30 1066 1142 213 2451 26,3%
NE 112 4432 1942 368 6854 73,7%
2012 E 40 1207 1187 216 2650 28,5%
NE 204 4360 1758 333 6655 71,5% Fonte: elaboração própria E – exportadora ; NE – não exportadora
O número de empresas exportadoras, cresce cerca de 20% durante o período
em análise, tendo apenas havido um decréscimo no ano de 2009. Pode ser feito aqui
o paralelo (para o mesmo período) com a análise das exportações portuguesas, onde
ficou evidenciado que apesar de ter existido uma diminuição do PIB houve um
aumento das exportações. De facto, apesar do número de pequenas e médias
empresas ter diminuído, o número de empresas exportadoras nestas duas dimensões,
aumentou. O maior crescimento de empresas exportadoras foi sentido nas pequenas
empresas, tendo sido de 27%, enquanto nas empresas médias e grandes, foi de
11,5% e 5% respetivamente. É também importante salientar que em todos os anos
analisados, mais de um terço das médias e grandes empresas são exportadoras, não
se verificando o mesmo para as restantes dimensões.
Relativamente à mão de obra empregue por empresas exportadoras e não
exportadoras, conforme observação da Tabela 9 e indo de encontro à análise já
efetuada, podemos observar que o número de total de trabalhadores empregues por
pequenas e médias empresas exportadoras, tende a crescer ao longo do período em
37
estudo, enquanto que para as não exportadoras tende a diminuir; este facto pode estar
relacionado com crescimento do número de empresas exportadoras e não com o
crescimento médio de mão-de-obra por cada empresa.
Tabela 9 – Mão-de-Obra empregue por empresas exportadoras e não exportadoras, por dimensão e ano.
Tipo Micro Pequenas Médias Grandes Total
2008 E 0 27.186 106.748 120.293
852.810 NE 0 113.520 186.779 298.284
2009 E 25 27.780 103.645 109.981
852.795 NE 275 113.330 187.214 310.542
2010 E 114 27.673 104.665 117.064
868.878 NE 455 111.981 183.696 323.230
2011 E 168 30.343 111.454 117.175
863.525 NE 734 107.847 173.681 322.123
2012 E 235 33.366 117.510 123.240
833.932 NE 1.206 102.779 155.434 300.162
Fonte: elaboração própria E – exportadora ; NE – não exportadora
É ainda de realçar o crescimento do número total de trabalhadores das
empresas exportadoras em detrimento das não exportadoras. Conforme analisado
anteriormente, a dimensão das empresas tende a diminuir, no entanto tendem a
crescer o número de exportadoras.
Observando a Tabela 10, temos que o valor médio do número de
trabalhadores tende a diminuir ao longo dos anos, não havendo diferença entre
exportadores e não exportadores.
Em média, as empresas exportadoras têm mais funcionários que as empresas
não exportadoras. Através da Tabela 10 podemos ainda observar que a média de
trabalhadores das empresas não exportadoras tende a manter-se relativamente
estável, ao contrário da média de trabalhadores das empresas exportadoras, que
decresce ao longo dos anos.
38
Tabela 10 - Número médio de trabalhadores em empresas exportadoras e não exportadoras em cada ano.
Média SD Min Max Observações
2008 E 105,78 171,78 10 1.613 2.222
NE 71,30 158,77 10 1.613 7.083
2009 E 100,27 160,72 5 1.613 2.204
NE 71,92 161,55 5 1.613 7.101
2010 E 101,32 163,64 5 1.613 2.260
NE 72,35 164,78 5 1.613 7.045
2011 E 99,02 163,44 5 1.613 2.451
NE 71,99 166,28 5 1.613 6.845
2012 E 95,74 159,48 5 1.613 2.650
NE 68,70 166,43 5 1.613 6.655 Fonte: elaboração própria E – exportadora ; NE – não exportadora
Tabela 11 - Endividamento global médio das empresas exportadoras e não exportadoras em cada ano.
Média SD Min Max Observações
2008 E 64,4% 21,1% 6,7% 193,5% 2.222
NE 66,8% 23,8% 6,7% 193,5% 7.083
2009 E 62,8% 21,3% 6,7% 192,4% 2.204
NE 65,3% 24,5% 6,7% 193,5% 7.101
2010 E 62,9% 21,5% 6,7% 193,5% 2.260
NE 65,1% 25,6% 6,7% 193,5% 7.045
2011 E 62,9% 23,3% 6,7% 193,5% 2.451
NE 64,7% 27,6% 6,7% 193,5% 6.845
2012 E 62,2% 26,0% 6,7% 193,5% 2.650
NE 65,2% 31,2% 6,7% 193,5% 6.655 Fonte: elaboração própria E – exportadora ; NE – não exportadora
Relativamente ao endividamento global, conforme Tabela 11, podemos
observar que as empresas não exportadoras tendem a ter rácios de alavancagem
39
superiores, em cerca de 4% face às empresas não exportadoras, em praticamente
todos os anos da amostra.
Relativamente ao crescimento do volume de negócios, conforme análise da
Tabela 12, à exceção dos anos de 2008 e 2009, nos restantes anos da amostra
podemos evidenciar que a média de crescimento do volume de negócios é superior
nas empresas exportadoras face às não exportadoras. Se conjugarmos estes dados
com os das exportações nacionais, anteriormente referidos, facilmente fazemos um
paralelo com o abrandamento das exportações nacionais no ano de 2008 e uma
quebra no ano de 2009, podendo justificar o facto das empresas exportadoras
apresentarem médias de crescimento inferiores aos das empresas não exportadoras.
Tabela 12 - Crescimento médio do volume de negócios anual das empresas exportadoras e não exportadoras em cada ano.
Média SD Min Max Observações
2008 E 10,33% 35,80% -56,81% 198,27% 2.222
NE 12,93% 36,08% -78,57% 198,27% 7.083
2009 E -8,11% 26,95% -78,57% 198,27% 2.204
NE -4,36% 25,98% -78,57% 198,27% 7.101
2010 E 9,02% 28,30% -78,57% 198,27% 2.260
NE 4,67% 28,11% -78,57% 198,27% 7.045
2011 E 4,79% 25,68% -78,57% 198,27% 2.451
NE -4,39% 25,23% -78,57% 198,27% 6.845
2012 E 1,34% 28,13% -78,57% 198,27% 2.650
NE -9,81% 27,33% -78,57% 198,27% 6.655 Fonte: elaboração própria E – exportadora ; NE – não exportadora
Na Tabela 12, para os anos de 2011 e 2012 é importante verificar que as
empresas não exportadoras apresentam médias de crescimento do volume de
negócios negativas, enquanto as empresas exportadoras conseguem obter médias
positivas. Novamente recorrendo aos dados do PIB nacional e das exportações,
conseguimos encontrar uma relação entre as médias de crescimento do volume de
negócio das empresas não exportadoras e o decrescimento do PIB nos anos de 2011
e 2012, enquanto relacionamos o crescimento das exportações nacionais com o
40
crescimento médio do volume de negócios das empresas exportadoras. De facto o
decréscimo do PIB de cerca de -1% e -3% nos anos de 2011 e 2012, respetivamente,
encontram reflexo nas médias de volumes de negócio das empresas não
exportadoras, de -4% e -10%.
De referir, que os mínimos e máximos encontrados na tabela 12, são
consequência do processo de suavização (winsorização) das observações. Desta
forma, os resultados mais extremos são substituídos pelo valor da amostra mais
próximo, do 0,25% percentil superior e inferior.
Analisando agora a intensidade da exportação, da Tabela 13, temos que as
empresas com maior intensidade exportadora são as grandes empresas, seguidas
das médias e depois das pequenas. O valor que as micro empresas apresentam é de
alguma forma desconcertante, dado que varia bastante ao longo dos anos, ao
contrário das restantes dimensões; este poderá ser o efeito de empresas que reduzem
de dimensão, por via da diminuição do seu negócio interno, diminuem o volume de
negócios (mantendo o valor das exportações), o que provoca o aumento da
intensidade exportadora.
41
Tabela 13 - Percentagem média de volume de negócios exportado, por dimensão de empresa e por cada ano.
Média SD Min Max Observações
2008
Micro --- --- --- --- 0
Pequenas 51,74% 28,40% 15,01% 1 951
Médias 60,30% 27,90% 15,01% 1 1065
Grandes 61,58% 27,78% 15,36% 1 206
2009
Micro 53,68% 41,75% 18,92% 1 3
Pequenas 52,10% 27,90% 15,01% 1 979
Médias 60,22% 28,32% 15,21% 1 1038
Grandes 63,15% 25,62% 16,88% 1 184
2010
Micro 27,38% 33,76% 17,02% 1 18
Pequenas 51,24% 27,40% 15,01% 1 967
Médias 60,13% 28,33% 15,00% 1 1074
Grandes 62,73% 27,05% 15,29% 1 201
2011
Micro 58,49% 34,88% 16,62% 1 30
Pequenas 50,85% 27,55% 15,00% 1 1066
Médias 60,78% 27,84% 15,04% 1 1142
Grandes 63,69% 27,22% 15,01% 1 213
2012
Micro 68,13% 30,11% 21,21% 1 40
Pequenas 50,04% 26,92% 15,04% 1 1207
Médias 62,16% 27,39% 15,04% 1 1187
Grandes 63,56% 28,00% 15,12% 1 216 Fonte: elaboração própria
42
2.5 – Aplicação prática do modelo
Após a seleção e tratamento da base de dados utilizou-se o software
econométrico STATA para as necessárias análises de regressão.
Os dados analisados são dados em painel ou longitudinais na medida em que
os dados têm duas dimensões: uma seccional em que em cada ano existem várias
empresas diferentes e outra dimensão que é temporal em que a mesma empresa é
avaliada ao longo de vários anos. Os dados em painel apresentam vantagens quando
comparados com dados de séries temporais. Por um lado, dado o aumento no número
de observações, os graus de liberdade aumentam e o problema de multicolinearidade8
é reduzido, aumentando assim a eficiência das estimativas. Adicionalmente, os dados
em painel podem controlar a heterogeneidade individual, que é negligenciada nas
séries temporais e séries cross-section, podendo conduzir a resultados enviesados
(Verbeek, 2004).
Para aplicar a metodologia de dados em painel, vamos, numa primeira fase,
avaliar qual dos modelos econométricos usar: o modelo dos efeitos fixos (MEF) ou o
modelo dos efeitos aleatórios (MEA). Para a seleção do modelo mais adequado
recorremos ao teste de Hausman (1978). O teste de Hausman testa a hipótese nula
de que o modelo MEA é o apropriado para uma determinada amostra, quando
comparado com o modelo MEF, o que nos permite decidir qual destes dois modelos
apresenta a melhor estimativa. Desta forma permite-nos verificar se existe correlação
entre a heterogeneidade não observável e as respetivas variáveis explicativas, tendo
por base a comparação dos coeficientes obtidos pelo modelo dos efeitos fixos e dos
efeitos aleatórios. A hipótese nula tem por base o pressuposto de que os coeficientes
são idênticos nos dois modelos; na verdade, se forem diferentes uns dos outros, a
estimativa dos efeitos fixos é simultaneamente consistente e eficiente.
Consequentemente, se a hipótese nula não for rejeitada, iremos optar pelo modelo
MEA. Por outro lado, se rejeitarmos a hipótese nula, optaremos pelo modelo MEF. Os
resultados apresentados serão corrigidos de heterocedasticidade e de covariância
através do método de White (1980).
8 Multicolinearidade consiste num problema comum nas regressões, onde as variáveis independentes possuem relações lineares exatas ou aproximadamente exatas. As consequências da multicolinearidade numa regressão são: a de erros-padrão elevados no caso de multicolinearidade moderada ou severa e até mesmo a impossibilidade de qualquer estimação se a multicolinearidade for perfeita.
43
Feitos os testes referidos observou-se que o MEF é o modelo de regressão
adequado.
Tabela 14 - Determinantes da rentabilidade da empresa.
ROA ROA (t-1) 0,1104338*
(10,02) Dim (t) 8,29E-07*
(6,44) Cresc (t) 0,0541871*
(27,51) CrescPIB (t) 0,2870064*
(20,55) Div (t) -0,2185496*
(-26,59) Export (t) 6,56E-07**
(3,38)
Const 0,1678763*
(29,40)
Observações 46525
R2 Within 0,1969
Between 0,2801
Overall 0,2349 Estatística t entre parenteses: * p < 0,001 ; ** p < 0,01 ; *** p < 0,05
Fonte: elaboração própria
Conforme análise da Tabela 14 podemos observar que existe um impacto dos
resultados do ano anterior no ano seguinte, estatisticamente significativo e positivo.
Os mesmos resultados encontram Nunes et al. (2009), para as suas amostras,
concluindo que este pode ser explicado como uma tendência. O facto da empresa no
ano anterior ter apresentado rentabilidade, permite que exista liquidez para
investimento em oportunidades de negócio de maior rentabilidade. Este ciclo virtuoso
será tão prolongado, quanto mais oportunidades de negócios rentáveis existirem.
A dimensão, representada pelo volume de negócios da empresa, apesar de
apresentar um pequeno impacto na explicação da rentabilidade, é estatisticamente
significativo e positivo, indo de encontro à literatura. Esta é uma variável de controlo,
44
tendo sido amplamente testada e representada na literatura. A sua análise revela que
as empresas de maior dimensão conseguem obter rentabilidades superiores, seja
pelo acesso a economias de escala produtiva ou financeira.
Uma segunda variável de controlo utilizada é o crescimento, representado na
função pelo crescimento do volume de negócios. Também indo ao encontro do
sugerido na revisão de literatura, o seu impacto deveria ser positivo e estatisticamente
significativo, o que se verifica. Desta forma podemos concluir que o crescimento da
empresa tem influência nos resultados económicos desta. Tal como descrito por
Nunes et al. (2009), o crescimento vai muito para além do envolvimento financeiro e
consegue ser um elemento motivador dos trabalhadores e da gestão das empresas.
O crescimento do PIB representa a conjuntura económica sentida no país, ou
seja, o ciclo económico sentido em Portugal. Pela análise da Tabela 14, aferimos que
esta variável explicativa é estatisticamente significativa e positiva, sendo o valor do
coeficiente alto, levando a concluir que esta variável influencia bastante a
rentabilidade das empresas. Com efeito, não será displicente considerar que os ciclos
económicos influenciam as rentabilidades das empresas. Crises como a sentida em
2007, que provocam impactos no consumo interno e consequentemente nas vendas
das empresas portuguesas têm, de facto, uma enorme influência no que serão os
resultados económicos das empresas.
Através da análise do endividamento global, medida pelo rácio de capitais
alheios no total de ativos da empresa, observamos o impacto da dívida nos resultados
das empresas. O coeficiente estimado tem sinal negativo e estatisticamente
significativo, o que indica que os capitais alheios têm uma influência negativa. Este
sugere que empresas com maior percentagem de capitais alheios tendem a ter
rentabilidades mais baixas. Segundo Nunes et al. (2009), este facto pode dever-se ao
pagamento dos custos da dívida, que absorvem parte da rentabilidade da empresa.
Conforme refere Kebewar (2010) no seu estudo, os custos de agência da dívida
provocam uma diminuição da rentabilidade das empresas, já que os credores vão
exigir mais retorno pelos capitais que emprestam, na medida que estes vão
aumentando. Com este efeito de aumento dos custos exigido pelo incremento da
exposição à empresa, os credores pretendem duas coisas; aumentar o lucro, já que o
seu risco aumenta pelo incremento de capitais alocados à empresa e, encarecer o
custo de investimento em novas oportunidades de negócio, pois caso contrário a
empresa teria sempre a mesma propensão para investir.
45
A variável exportação, apresenta coeficiente positivo e estatisticamente
significativo, no entanto com valor relativamente baixo. A observação desta variável
leva-nos a concluir que apesar das exportações potenciarem a rentabilidade das
empresas, o seu efeito é reduzido. No entanto conseguimos concluir que o
investimento de exportação não provoca um efeito tão negativo das exportações nos
resultados, tornando-se por isso as exportações uma oportunidade de negócio para
as empresas; seja pela maior eficiência das empresas exportadoras ou pela sua
superior capacidade de aprendizagem, levando a maior eficiência, os resultados
mostram que a rentabilidade melhora com o aumento da atividade exportadora.
CAPÍTULO TRÊS – COMENTÁRIOS FINAIS
3.1 – Conclusões
Existe de facto um grande foco em torno da relação entre exportação e
rentabilidade, pelo que os estudos relativos a este tema, estão a crescer
exponencialmente pelo que estamos constantemente a ser surpreendidos com
descobertas e avanço a este nível.
As evidências deste estudo vão de encontro à literatura existente sobre o
tema; empresas exportadoras, são em média maiores, menos alavancadas e com
crescimento superior relativamente às empresas não exportadoras
Empresas com maior dimensão, têm uma maior intensidade de exportação.
As grandes empresas exportam uma quota maior do seu volume de negócios, cerca
de 20% mais quando comparada com as pequenas empresas. Esta diferença pode
estar relacionada com as economias de escala que empresas de maior dimensão
conseguem obter, alcançando por esta via uma maior produtividade e obtendo assim
produtos com custo mais baixo, que podem ser mais apetecíveis pelo mercado
externo.
As empresas exportadoras têm um crescimento do volume de negócios
superior ao das empresas não exportadoras. Este facto pode ser decisivo numa
perspetiva de redução de risco de mercado, pois tal como já vimos, as exportações
tendem a atenuar o impacto negativo da redução do consumo do mercado interno.
Da abordagem efetuada ao conjunto de empresas portuguesas, concluímos
que a rentabilidade das empresas é altamente influenciada pela sua divida, ciclos do
46
mercado interno e rentabilidade do ano anterior. Empresas mais alavancadas verão
esse impacto nos seus resultados, acreditamos que por via dos custos do
endividamento, ou seja, pagamento de dívida bancária, papel comercial ou por via do
custo mais elevado das matérias-primas, devido ao alargamento dos prazos de
pagamento.
O ciclo económico do mercado, aponta para que os resultados das empresas
sejam fortemente influenciados pela conjuntura vivida. Isto indica-nos que existe uma
forte dependência das empresas portuguesas relativamente ao mercado nacional.
Este efeito pode advir do baixo número de empresas que exportam, que assim veem
os seus resultados depender da oscilação do mercado interno, mas também da baixa
intensidade de exportação, fazendo com que mesmo as empresas exportadoras,
dependam ainda bastante do mercado interno.
Relativamente à rentabilidade passada, o facto desta variável estar
correlacionada positivamente poderá advir da possibilidade de investimento que os
resultados de anos anteriores permitem às empresas. Empresas rentáveis poderão
mais facilmente libertar capitais para investir em novos projetos ou negócios, não
perdendo oportunidades rentáveis, ou então recorrem a crédito (com custos) para não
as perder.
Mas o foco da nossa investigação está situado em perceber o impacto da
exportação nos resultados das empresas; desse ponto de vista, o impacto das
exportações nos resultados das empresas não é forte, apesar de estatisticamente
significativo e positivo. A literatura já nos apontava para este resultado, referindo
algumas explicações; na verdade, tal como vimos existem investimentos adicionais a
suportar com a exportação (aduaneiros, logísticos, etc.) que podem à partida reduzir
os ganhos potenciais das empresas com essa transação ou até mesmo anular tais
ganhos.
Por outro lado, como refere Melitz et al. (2008), empresas que atuam em
mercados maiores e mais competitivos, tendem a ser mais eficientes e competitivas,
do que empresas que atuem em mercados mais pequenos. Assim acreditamos que
as empresas portuguesas possam sofrer deste efeito, dado que Portugal é um
mercado relativamente pequeno, e dá menos possibilidade às empresas de ganhar
escala para que possam ser competitivas.
47
Dada a conclusão deste trabalho, deixamos algumas questões que podem ser
exploradas por futuros trabalhos:
Estudar se as margens do negócio interno e externo das empresas são
diferentes e qual o impacto que estes têm nos resultados económicos das mesmas.
Perceber se os mercados para os quais as empresas portuguesas exportam
têm impacto nos seus resultados económicos, identificando em que mercados as
empresas portuguesas obtêm melhores resultados ou margens de negócio.
48
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Anexo A – Caraterização da dimensão da empresa De acordo com o definido na Recomendação 2003/361/CE da Comissão
relativo à definição de micro, pequena e média empresa, tendo passado em Portugal
para Decreto-Lei n.º 372/2007, de 6 de Novembro, temos que as empresas serão
segmentadas segundo a designação de Micro, Pequena, Média e Grande tendo por
base os seguintes critérios:
Transcrição do Artigo 2.º:
“Efectivos e limiares financeiros que definem as categorias de empresa:
1 — A categoria das micro, pequenas e médias empresas (PME) é constituída
por empresas que empregam menos de 250 pessoas e cujo volume de negócios anual
não excede 50 milhões de euros ou cujo balanço total anual não excede 43 milhões
de euros.
2 — Na categoria das PME, uma pequena empresa é definida como uma
empresa que emprega menos de 50 pessoas e cujo volume de negócios anual ou
balanço total anual não excede 10 milhões de euros.
3 — Na categoria das PME, uma micro empresa é definida como uma
empresa que emprega menos de 10 pessoas e cujo volume de negócios anual ou
balanço total anual não excede 2 milhões de euros.”
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