MESTRADO ACADÊMICO EM METODOLOGIAS PARA O ENSINO DE … · 2016-03-31 · aspectos a metodologia...
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MESTRADO ACADÊMICO EM METODOLOGIAS PARA O
ENSINO DE LINGUAGENS E SUAS TECNOLOGIAS
WANESSA H. PICKINA S. SUZUKI
O DESENVOLVIMENTO DO ARGUMENTO E O
APRIMORAMENTO DOS ASPECTOS SEMÂNTICOS E
PRAGMÁTICOS DA LINGUAGEM ORAL, MEDIANTE O ENSINO
POR INVESTIGAÇÃO
Londrina
2016
WANESSA H. PICKINA S. SUZUKI
O DESENVOLVIMENTO DO ARGUMENTO E O
APRIMORAMENTO DOS ASPECTOS SEMÂNTICOS E
PRAGMÁTICOS DA LINGUAGEM ORAL, MEDIANTE O ENSINO
POR INVESTIGAÇÃO
Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias da Unopar – Universidade Norte do Paraná, como requisito parcial para obtenção de título de mestre. Orientadora: Profª Drª Andréia de Freitas Zômpero Mestranda: Wanessa H. Pickina S. Suzuki
Londrina
2016
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, pela sua infinita misericórdia que me
possibilitou chegar até o final desta jornada.
A minha família que, com muito carinho e apoio, não mediu
esforços para que eu chegasse até esta etapa e por se privarem da minha
companhia pelos estudos, concedendo-me a oportunidade de realizar este
sonho.
A minha sobrinha Júlia pela preciosa ajuda na finalização
digital desse trabalho.
A Orientadora, Profa. Dra. Andréia de Freitas Zômpero, pela
paciência, dedicação, incentivo e sabedoria que muito me auxiliou para a
realização dessa dissertação.
A todos os professores do curso, que foram tão importantes na
minha vida acadêmica e no desenvolvimento desse trabalho.
A todos os amigos de verdade, que e me ensinaram,
incentivaram e ajudaram, direta ou indiretamente, contribuindo assim, para que
pudesse crescer.
E por último, mas de forma alguma menos importante, a meus
filhos e marido. Meu amor por vocês é maior do que as palavras jamais
poderão exprimir.
WANESSA H. PICKINA S. SUZUKI
O Desenvolvimento do Argumento e o Aprimoramento dos
Aspectos Semânticos e Pragmáticos da Linguagem Oral,
mediante o Ensino por Investigação
Dissertação apresentada à UNOPAR, no Mestrado Acadêmico em
Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas Tecnologias, área de
concentração em Formação de Professores e Ação Docente em Situações de
Ensino, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre conferida
pela Banca Examinadora formada pelos professores:
____________________________________
Prof.ª Dr.ª Andréia de Freitas Zômpero
Universidade Norte do Paraná – UNOPAR
____________________________________
Profa. Dra. Luciana Lozza de Moraes Marchiori
Universidade Norte do Paraná – UNOPAR
_____________________________________
Profa. Dra. Helenara Regina Sampaio Figueiredo
Universidade Norte do Paraná - UNOPAR
Londrina, 03 de fevereiro de 2016.
DEDICATÓRIA
Dedico essa dissertação a minha família, aos meus amigos e a
todos que almejam por uma educação de qualidade.
“A mente que se abre a uma nova ideia
jamais voltará ao seu tamanho original.”
Albert Einstein
SUZUKI, Wanessa H.P.S.O desenvolvimento do argumento e o aprimoramento dos aspectos semânticos e pragmáticos da linguagem oral, mediante o ensino por investigação. 2016. 148f. Dissertação (Mestrado
em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas tecnologias). Universidade Norte do Paraná, Londrina, Pr., 2016.
RESUMO
A propriedade comunicativa da linguagem é a habilidade mais significativa que permite ao homem relatar, argumentar e ou refutar uma ideia. As estratégias de ensino que visam desenvolver a enculturação científica, aproximando o ensino de Ciências, no cotidiano escolar, da ciência propriamente dita, apresentam concepções diferenciadas que privilegiam o ensino problematizador. A investigação proporciona ao aluno desenvolver habilidades de comunicação, principalmente a argumentação, em uma perspectiva do discurso científico. Assim, o objetivo desta pesquisa descritiva e qualitativa é investigar em que aspectos a metodologia de ensino por investigação propicia o desenvolvimento da linguagem científica, bem como favorece o desenvolvimento da estrutura do argumento e aprimora os aspectos semânticos e pragmáticos da linguagem oral. Este estudo utiliza a abordagem do NRC (National Research Council) e as pesquisas realizadas por A. M. P. Carvalho, L. H. Sasseron, M. C. de Azevedo, no que concerne à metodologia de ensino por investigação, e aos pressupostos idealizados por S. Toulmin, referentes à estrutura do argumento. As habilidades pragmáticas e semânticas baseiam-se na teoria dos Atos de Fala, organizada por Searle e também difundida por Sternberg, e, finalmente, por autores que referenciam em seus trabalhos os valores semânticos atribuídos à questão significativa do discurso. Sabendo da dificuldade que os estudantes, especificamente do 7º ano do ensino fundamental da rede estadual de ensino, possuem em compreender determinados conteúdos da disciplina de Ciências, devido ao seu grau de abstração, foi escolhido o tema sobre os microrganismos para embasar as atividades investigativas propostas. Para tanto, as interações discursivas dos oito alunos, que participaram das duas atividades investigativas propostas para a pesquisa, foram gravadas e posteriormente transcritas, permitindo a análise dos dados obtidos. Desta forma, foi possível verificar que a maioria desses alunos foi beneficiada por esta metodologia e pôde apropriar-se de elementos estruturais que contribuíram para a qualidade do argumento. Observamos a prevalência de elementos estruturais que foram, além dos dados e conclusões, conferindo alegações pautadas em garantias, refutadores e informações adicionais, ou seja, o conhecimento básico, que validaram os argumentos proferidos. Além disso, percebemos o aprimoramento dos aspectos semânticos e pragmáticos que propuseram valor científico e fundamentaram a comunicação verbal entre os pares. Os argumentos apresentaram vocábulos específicos, com o emprego dos Atos de Fala representativo, diretivo, declarativo e compromissivo.
Palavras-Chave: Argumento. Aspectos semânticos e pragmáticos. Atividade
investigativa. Ensino de Ciências.
SUZUKI, Wanessa H.P.S. O desenvolvimento do argumento e o aprimoramento dos aspectos semânticos e pragmáticos da linguagem oral, mediante o ensino por investigação. 2016. 148f. Dissertação (Mestrado
em Metodologias para o Ensino de Linguagens e suas tecnologias). Universidade Norte do Paraná, Londrina, Pr., 2016.
ABSTRACT
The communicative property of language is the most significant ability that permits people to report, argue or refute and idea. Teaching strategies that aim to develop scientific enculturation, approaching Science teaching, in the school environment, to science itself, present different conceptions that emphasize the problem-solving education. The inquiry process provides to students the opportunity of developing communication abilities, mainly arguing, as in a scientific discourse perspective. This descriptive and qualitative research aims to explore in which aspects the methodology of inquiry-based teaching enables the development of scientific language, and supports the development of the argument structure, enhancing the semantic-pragmatic aspects of oral language. The study is based on the approach of NRC (National Research Council), the researches concerning methodologies of inquiry-based teaching from A. M. P. Carvalho, L. H. Sasseron, M. C. de Azevedo, and the assumptions devised by S. Toulmin, referring to the argument structure. The Searle’s Theory of Speech Acts, also diffused by Sternberg and other authors that recognize the value of semantics to significance of speech are the base of the semantic-pragmatic abilities definitions. Previously knowing the difficulties seventh grade students of Elementary School from public schools have to understand certain concepts in Sciences, the inquiry-based activities suggested were about microorganisms. For data analysis, the discursive interactions of eight students that took part in both activities suggested were recorded and transcribed. As a result, we found the most part of students benefited from this methodology, taking ownership of structural elements that contributed to the argument quality. Beyond data, we also observed structural elements that provide allegations guided by guarantees, refutations and additional information, in other words, basic knowledge, which validated the arguments delivered. We also realize the improvement of semantic-pragmatic aspects that proposed scientific value and based verbal communication among peers. The arguments presented specific words, by the representative, directive, declarative and compromising use of Speech Acts. Key-Words: Argument. Semantic-pragmatic aspects. Inquiry-based activities.
Science teaching.
LISTA DE FIGURAS
Figura 01 – Quadro demonstrativo dos Atos de Fala........................................29
Figura 02 – Estrutura de Argumento..................................................................36
Figura 03 – Padrão de argumento.....................................................................37
Figura 04 – Níveis de argumentação.................................................................38
LISTA DE QUADROS
Quadro 01 – Quadro representativo dos Atos de Fala referente à proposição
das hipóteses.....................................................................................................70
Quadro 02 – Análise do argumento, segundo a estrutura de Toulmin (2006):
Hipóteses, turno I e II.........................................................................................70
Quadro 03 – Estrutura do argumento: Hipóteses, turnos III e IV.......................71
Quadro 04 – Desenvolvimento da estrutura do argumento: Turnos V e
VI........................................................................................................................72
Quadro 05 – Atos de Fala: Reiteração das hipóteses, turno VIII.......................75
Quadro 06 – Estrutura do argumento: Turno VIII, hipóteses finais....................76
Quadro 07 – Atos de Fala: Relato das evidências, turno IX..............................81
Quadro 08 – Estrutura do argumento: Turno IX................................................82
Quadro 09 – Atos de fala: Turnos X e XI- conclusão do experimento...............90
Quadro 10 – Estrutura do argumento: Conclusão, turnos X e XI......................91
Quadro 11 – Quadro comparativo referente à primeira atividade investigativa.95
Quadro 12 – Atos de Fala: Referente à formulação das hipóteses da segunda
atividade investigativa........................................................................................99
Quadro13 – Estrutura argumentativa: hipóteses.............................................100
Quadro 14 – Relato das observações das evidências: segunda atividade, Atos
de Fala.............................................................................................................106
Quadro 15 – Estrutura do argumento: relato das evidências..........................109
Quadro 16 – Conclusão do experimento: Atos de Fala...................................116
Quadro 17 – Estrutura do argumento: conclusão da atividade........................118
Quadro 18 – Quadro comparativo referente à segunda atividade
investigativa.....................................................................................................121
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
NRC National Research Council
UNOPAR Universidade Norte do Paraná
Sumário
INTRODUÇÃO ................................................................................................. 13
1 LINGUAGEM: EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO DO PENSAMENTO........19
1.1 PROPRIEDADES E HABILIDADES DA LINGUAGEM ............................... 21
1.1.1 COMPONENTE DA LINGUAGEM ORAL: ASPECTO SEMÂNTICO ...... 23
1.1.2 ASPECTO PRAGMÁTICO: HABILIDADE PRAGMÁTICA DA
LINGUAGEM ORAL ......................................................................................... 26
1.1.2.1 A TEORIA DOS ATOS DE FALA ......................................................... 28
2 A ARGUMENTAÇÃO E O ENSINO CIENTÍFICO......................................... 30
2.1 O ARGUMENTO: DESDE AS CONCEPÇÕES DE DIFERENTES
AUTORES A SUA RELEVÂNCIA NO PROCESSO ENSINO
APRENDIZAGEM..............................................................................................30
2.2 O ARGUMENTO SEGUNDO STEPHEN TOULMIN .................................. 34
2.3 O PADRÃO DE ARGUMENTO PROPOSTO POR TOULMIN (TAP) ......... 35
3 A INVESTIGAÇÃO COMO METODOLOGIA DE ENSINO ........................... 39
3.1 O DESENVOLVIMENTO DO ARGUMENTO E O APRIMORAMENTO DOS
ASPECTOS PRAGMÁTICOS E SEMÂNTICOS DA LINGUAGEM ORAL, POR
MEIO DO ENSINO POR INVESTIGAÇÃO ....................................................... 44
4 OS SERES MICROSCÓPICOS .................................................................... 49
4.1 A ERA MICROBIANA..................................................................................49
4.2 CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS........................................... 51
4.3 OS MICRORGANISMOS E OS HOMENS................................................. 52
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS.......................................................55
5.1 OS PARTICIPANTES DA PESQUISA........................................................ 55
5.2 COLETAS DE DADOS ............................................................................... 56
5.3 DESCRIÇÕES DAS ATIVIDADES INVESTIGATIVAS ............................... 58
5.3.1 ATIVIDADE INVESTIGATIVA 1............................................................... 58
5.3.2 ATIVIDADE INVESTIGATIVA 2................................................................60
6 ORGANIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS .................................. 62
6.1 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS .................................................... 62
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 122
REFERÊNCIAS .............................................................................................. 127
ANEXOS..........................................................................................................127
13
INTRODUÇÃO
A tecnologia e a comunicação verbal podem exercer um papel
relevante no processo de articulação dos conhecimentos escolares, visando à
mediação entre o conhecimento científico e a intervenção do homem, em prol
da transformação e da compreensão da natureza. Para tanto, é necessário que
se tenha um olhar diferenciado para a educação e que se considere a
importância de formar cidadãos que saibam posicionar–se frente aos
conteúdos relativos à Ciência.
Ao enfatizar o ensino de Ciências como meio para adquirir
conhecimento a respeito das inovações tecnológicas, bem como interpretar
criticamente as informações que decorrem dessas descobertas, é preciso
considerar a necessidade de oferecer aos estudantes metodologias de ensino
que os levem a fazer parte da construção de sua própria aprendizagem
científica.
Refletindo sobre o papel docente na aprendizagem de
conteúdos de Ciências, especificamente no Ensino Fundamental II, cabe ao
professor inserir em sua prática situações que viabilizem o desenvolvimento do
raciocínio e consequentemente do pensamento crítico de seus alunos. Tais
situações referem-se à metodologia que estimule a procura por respostas,
desde a concepção do problema proveniente do tema abordado, a elaboração
de hipóteses, planejamento de testes, observações e análise das evidências
até a explicação e conclusão da descoberta, ou seja, o ensino problematizador
e investigativo.
Não é raro o professor se queixar de que os estudantes não
participam da aula ou mesmo não respondem adequadamente as questões
sobre determinado assunto. A participação dos educandos em aulas
dialogadas envolvem dimensões importantes na formação acadêmica, tais
como a convivência cooperativa entre os colegas, apropriação de conteúdos
formais, o aprimoramento das habilidades comunicativas, como os aspectos
pragmáticos e semânticos e principalmente a construção de argumentos.
Embora sejam pressupostos claros, observa-se dificuldade por parte dos
14
alunos em compreender os conceitos e conteúdos científicos, assim como
interagir fluentemente em situações de ensino.
Percebendo a necessidade de favorecer o desenvolvimento de
habilidades próprias da ciência, como a argumentação fundamentada em
evidências e interpretação de dados e seus termos específicos, autores como
Carvalho (2013), Sasseron (2013), Campos & Nigro (2009) apontam a
metodologia de ensino por investigação como prática eficiente e desafiadora
para a construção do conhecimento científico por parte dos alunos.
As atividades investigativas apresentam características que
estimulam a participação dos alunos no processo de ensino e aprendizagem,
despertando a curiosidade e o interesse pela descoberta e solução do
problema. Carvalho (2007,2013) enfatiza que a atividade, para ser considerada
investigativa, deve sempre partir de um problema, para que os alunos, além de
se identificarem com a ação, possam elaborar suas hipóteses, discutir soluções
e executar planos que comprovem ou não suas ideias preliminares. Desta
forma, essa metodologia pode ser utilizada com o propósito de criar condições
para o desenvolvimento da habilidade argumentativa do educando, ao gerar
situações que promovam a discussão e a verbalização de resultados, bem
como favorecer o aprimoramento dos aspectos relevantes para uma
comunicação contextualizada no que tange às funções semântica e pragmática
da linguagem oral.
Tendo em vista as dificuldades que os alunos do ensino
fundamental apresentam em compreender as características dos seres
microscópicos, que geralmente causam alterações visíveis no meio em que
habitam, a escolha desse conteúdo disciplinar, para nortear as atividades
investigativas, se faz pela necessidade de conduzir os educandos a
perceberem, além da existência de microrganismos, a sua ação na natureza e
no próprio organismo humano.
Com relação à metodologia, acredita-se que as atividades
investigativas, também denominadas ensino por investigação, possam
proporcionar meios eficazes que conduzam a aprendizagem, levando os alunos
a inferirem a importância dos microrganismos nas práticas comerciais e
industriais, ao confrontar o saber comum com as evidências científicas, bem
como identificar formas eficientes de prevenção, com o intuito de melhorar a
15
sua qualidade de vida e de ter condições de posicionar-se cientificamente
sobre o assunto em questão, contribuindo para a sociedade em que estão
inseridos.
De acordo com os pesquisadores Antunes, Pileggi & Pazda
(2012), o ensino de Microbiologia na educação básica tornou-se um desafio
tanto para o professor quanto para o aluno, pois ambos, dependentes de
laboratórios equipados, não conseguem desenvolver aulas práticas para a
observação dos seres invisíveis a olho nu. Essa dependência dificulta a prática
docente e consequentemente, a aprendizagem dos alunos, deixando o ensino
apenas conceitual o que gera dúvidas e torna o assunto abstrato com
propensão a interpretações equivocadas.
Contudo, o ensino de Ciências pode ter mais significado
empregando-se outras metodologias. Campos & Nigro (2009) enfatizam a
realização de atividades experimentais investigativas, pois proporcionam a
resolução de problemas por meio de tarefas abertas que admitem várias
possibilidades de resolução. Dessa forma, desperta o interesse do aluno e o
leva a emitir questões, formular hipóteses sobre a situação problema, observar,
anotar, avaliar os resultados, desenvolver sua teoria e compará-la com outras
existentes, argumentando suas evidências.
Considerando a importância do conhecimento para a formação
acadêmica e a integração social do indivíduo no meio que o cerca, a proposta
desta pesquisa se justifica pela necessidade de investigar um método de
ensino que possibilite estimular e facilitar o desenvolvimento da linguagem
científica, no que tange à competência argumentativa, possibilitando despertar
o interesse dos educandos para a Ciência, bem como criar condições para que
o aluno não apenas assimile os conceitos científicos e tecnológicos, mas seja
capaz de argumentar, demonstrando, além de seu entendimento sobre o
assunto em questão, seu posicionamento frente às situações do dia a dia.
Sendo a linguagem oral um dos meios pelos quais o sujeito se
expressa e revela seu pensamento, vale ressaltar que o discurso bem
elaborado, capaz de elucidar e defender uma ideia com coerência, deve estar
embasado em fatos científicos e dados conclusivos (SASSERON &
CARVALHO, 2011). As autoras, a partir da análise das discussões geradas no
decorrer de um jogo denominado ¨Presa e Predador¨, com o objetivo de trazer
16
à tona os indicadores de alfabetização científica, constataram que as
argumentações ganham coerência e estrutura à medida que os estudantes
compreendem os conceitos científicos e podem divulgá-los em suas
explicações.
Desta forma, o conhecimento científico deve imperar e ser
expresso de forma clara, permitindo o posicionamento do indivíduo frente às
suas descobertas, com convicção. O discurso deve apresentar um argumento
sólido e bem estruturado, revelando o uso da linguagem em sua dimensão
ampla e competente. Assim, cabe ao professor planejar situações que
possibilitem aos alunos buscarem explicações para os seus próprios
questionamentos.
A comunicação das explicações requer habilidades linguísticas
que se referem ao conjunto de regras que cerceiam a expressão da linguagem
oral (ABE et al., 2013). Essa capacidade envolve a relação intrínseca entre o
contexto e o discurso, ou seja, os valores semânticos que são atribuídos ao
que se quer falar, o emprego de elementos, vocábulos que estruturam o
discurso e a forma como utilizamos a linguagem para atingir o objetivo
proposto, ou seja, os Atos de Fala.
Segundo Sternberg (2013), os Atos de Fala retratam o modo
como o sujeito utiliza as sentenças na construção de seu discurso para
influenciar e até mesmo difundir as suas afirmativas. Neste sentido, a
linguagem, além de favorecer a assimilação e apropriação do conhecimento,
permite também a troca de experiência. Pode-se, portanto, afirmar que, por
meio da interação discursiva, tem-se a possibilidade de verificar os aspectos
semânticos e pragmáticos da linguagem, assim como da estrutura do
argumento, que se aprimoram no decorrer do processo de ensino e
aprendizagem.
Conceituando a linguagem oral como competência
comunicativa, que envolve as habilidades de produção dos Atos de Fala,
interpretação e organização contextual, neste estudo, pretende-se demonstrar
em que aspectos o ensino por investigação contribui para a construção do
argumento e estruturação da linguagem semântica e pragmática.
Estudos sobre o aperfeiçoamento das habilidades pragmáticas
e semânticas são recentes, comparados ao processo argumentativo. É
17
evidente a importância de pesquisas que abordem a caracterização desta
habilidade, podendo, então, fornecer parâmetros para a análise de seu
aprimoramento, associado ao desenvolvimento da construção do argumento,
através do emprego de métodos pedagógicos que priorizem o ensino por
investigação.
Partindo do pressuposto de que o ensino investigativo promove
o aprimoramento dos aspectos semânticos e pragmáticos da linguagem oral,
bem como desenvolve a argumentação, tem-se como objetivo, ao trabalhar
com a fala dos estudantes envolvidos nesta pesquisa, identificar e analisar a
construção do argumento, no processo de desenvolvimento destas habilidades.
Tal estudo trará subsídios para afirmar que essa metodologia, além de
promover o aprimoramento dos referidos aspectos da comunicação oral, como
os aspectos semânticos e pragmáticos, no que tange à argumentação, pode
favorecer a compreensão e a assimilação de conteúdos de Ciências,
desencadeando ações pautadas em interpretações críticas a respeito dos
conteúdos ministrados, assim como dos fenômenos naturais que se relacionam
com o experimento realizado, como, por exemplo, a proliferação dos
microrganismos nos alimentos.
Assim, esta pesquisa tem o embasamento teórico
proporcionado por autores, como Toulmin (2006), sobre a estrutura do
argumento, Sasseron (2013), Azevedo (2004), NRC (2000) e Carvalho
(2007,2013), como apoio ao estudo da relevância das atividades investigativas
para a melhoria do aprendizado e apropriação de conceitos, além de
pesquisadores, como Sternberg (2013) e Pires de Oliveira (2001), entre outros,
para pautar e identificar os aspectos pragmáticos e semânticos,
respectivamente. Pode-se, portanto, investigar se a metodologia de ensino por
investigação propicia o desenvolvimento da linguagem científica, bem como
analisar a construção da estrutura do argumento científico e verificar o
aprimoramento das habilidades comunicativas pragmáticas e semânticas no
processo de ensino-aprendizagem, por meio do ensino por investigação.
Os referenciais teóricos que subsidiam esta pesquisa estão
organizados em capítulos. No capítulo 1, abordam-se as teorias sobre a
linguagem, discutindo as concepções de Vygotsky e Lúria, as teorias do
desenvolvimento da linguagem, enfocando as propriedades e habilidades que a
18
formam. Por fim, realiza-se a descrição dos aspectos semânticos e
pragmáticos, ponderando o significado das afirmações, quanto ao uso dos Atos
de fala, que compõem a produção linguística humana.
No capítulo 2, apresenta-se o padrão de argumento proposto
por S. Toulmin, retratando os elementos estruturais que o tornam válido.
Segundo o autor, para a alegação ser aceita pelo ouvinte, é necessário que
além dos dados e conclusões apresentados, a afirmação contemple as
garantias, as informações adicionais e até mesmo os fatores que levem à
refutação do argumento, propondo coerência e organização contextual dos
fatos.
O capítulo 3 diz respeito às atividades investigativas, seus
pressupostos e as concepções de diferentes autores, em suas pesquisas e
abordagens práticas, comprovando a eficácia da metodologia para a
aprendizagem do educando.
No capítulo 4 é apresentado o conteúdo científico essencial
que embasa as atividades investigativas, ou seja, discutem-se a definição de
microrganismos, bem como as suas características e a relação de saúde e
doença entre o homem e esses seres microscópicos.
A metodologia, com a descrição de como foi organizado e
desenvolvido este estudo, é apresentada no capítulo 5. A organização,
apresentação e análise dos dados, bem como a discussão dos resultados
foram registradas no capítulo 6, enquanto as considerações finais foram
expostas no capítulo 7.
19
1. LINGUAGEM: EXPRESSÃO E COMUNICAÇÃO DO PENSAMENTO
A linguagem, recurso estruturalmente organizado e dinâmico, é
o meio pelo qual a sociedade se constrói e eterniza seus conhecimentos. É
através dela que podemos refletir sobre o mundo em suas relações complexas
e abstratas, transmitir a experiência acumulada pelas gerações, tirar
conclusões e sermos capazes de fazer deduções sobre o que constantemente
vivenciamos (LÚRIA, 1986).
O autor afirma ainda que o domínio da linguagem duplica o
conhecimento do indivíduo, amplia a sua visão de mundo, possibilitando a
realização de ações mentais e principalmente de assimilar e transmitir a
experiência para o meio que o cerca. Portanto, a linguagem, através da palavra
transforma-se em instrumento do pensamento, em meio de comunicação e
poderoso estímulo para o desenvolvimento intelectual.
A palavra, como elemento da linguagem humana, apresenta,
além da importante função de representação, a competência de determinar
qualidade e significado ao mundo externo e psíquico do indivíduo. Vygotsky
(2000) associou o processo de desenvolvimento da palavra com a da
consciência. Para ele, a palavra constitui-se em um mecanismo que reflete o
mundo externo em suas relações. Desta forma, à medida que o indivíduo se
desenvolve, aprende novas coisas, amplia o vocabulário, muda o seu
significado e transforma seu entendimento, sua consciência sobre determinado
conceito ou objeto.
A linguagem é o fruto do uso de meios organizados que
permitem combinar palavras, associar ideias e informações, transpondo todos
os mecanismos cerebrais que codificam e decodificam os estímulos do meio
externo. Em um determinado momento do desenvolvimento filogenético, afirma
Oliveira (1997), o pensamento e a linguagem se unem, tornando-se verbal e
racional, respectivamente. E a essa união é atribuída à necessidade de
intercâmbio social, assim como na própria inserção da criança num grupo
cultural. Sternberg (2013) escreve que é através dela que podemos nos
comunicar e pensar sobre objetos e situações que não podemos ver ou tocar,
20
incluindo novos conceitos que não apresentam forma tangível, pois estão em
processo de assimilação e acomodação nas áreas cerebrais específicas.
A forma como a linguagem se estrutura e permite a
verbalização do conhecimento adquirido denota a capacidade cognitiva do
educando em aprender conceitos, analisar conteúdos, solucionar problemas e
explicar fenômenos (COLL & MARTÍ, 2004). Os significados construídos ao
longo da trajetória dos indivíduos se aperfeiçoam constantemente à medida
que são submetidos a novas aprendizagens, portanto o repertório linguístico
não é estático, mas sujeito ao aprimoramento proporcionado por experiências
vivenciadas em seu grupo cultural.
Embora a linguagem seja uma das mais complexas e abstratas
competências a serem adquiridas, os sujeitos de todas as culturas aprendem a
utilizá-la muito cedo. Neste sentido, a comunicação se estabelece com
propósitos de proporcionar o engajamento social, fortalecendo a estrutura
cognitiva e emocional do indivíduo (SHAFFER,D.R. & KIPP,K.,2012). A escola,
como fonte de recursos, apresenta importante papel no processo de
aprendizagem, caracterizando o bom ensino como aquele que se adianta ao
desenvolvimento, ao provocar a construção potencial de novos significados por
parte dos alunos. Vygotsky (1998) afirma que as atividades escolares
realizadas por grupos heterogêneos, quanto a um determinado assunto, podem
contribuir para o desenvolvimento do grupo. Assim como o professor, o aluno
pode servir como mediador durante a interação discursiva entre os pares,
favorecendo a apropriação do conhecimento em debate.
O aprendizado, nessa perspectiva, sempre envolve a
interferência direta ou indireta de outros indivíduos, seja do professor ou do
próprio aluno. Para Vygotsky (1998), essa situação gera a reconstrução
pessoal da experiência e dos significados, na qual o pensamento verbalizado
pode ser compartilhado na expressão semanticamente estruturada da
linguagem. Para se compreender esse intrínseco mecanismo linguístico, faz-se
necessário mencionar os componentes que o estruturam, além das funções e
características inerentes a essa competência.
Dentre os elementos citados, far-se à referência aos aspectos
semânticos e ao uso pragmático da linguagem oral, por se tratar do foco deste
21
estudo, ou seja, o aprimoramento de tais habilidades, bem como o
desenvolvimento do argumento mediante o ensino por investigação.
1.1 Propriedades e Habilidades da Linguagem
A linguagem torna possível expandir a nossa visão de
mundo, interagir com culturas diferentes e disseminar conhecimentos. Ela
possibilita a comunicação, a troca de informações sistematizadas, seja no
ambiente escolar, seja em situações sociais, livres de regras ou de termos
elaborados.
Embora a comunicação também se realize através de formas
não verbais, como os gestos, as expressões faciais e a escrita, será discutido
nesta seção as propriedades da linguagem com base na oralidade, por se
tratar do foco de estudo desta dissertação.
A linguagem, aqui tratada como linguagem oral, transpõe as
barreiras da simples comunicação, favorece a troca, a assimilação e a
reorganização de conhecimentos ao passo que, ao ser estimulada, em
atividades pedagógicas criativas e instigantes, adapta-se aos padrões
linguísticos de diferentes contextos.
A propriedade comunicativa da linguagem é a sua
característica mais simplista, porém a mais reveladora. Comunicar, utilizando
todo o seu significado, traduz a habilidade do homem em discutir uma ideia,
relatar uma descoberta, argumentar e ou refutar uma hipótese.
Sternberg (2013) retrata os aspectos criativos e produtivos da
linguagem que facilitam a capacidade de construção de uma representação
mental de uma determinada situação, a qual permite entendê-la e comunicá-la.
A linguagem está relacionada ao uso, ou seja, é passível de ampliação de
vocabulário e de decodificação linguística na memória, pois possibilita lembrar
e associar os conteúdos, quando é usada para auxiliar na recuperação e ou no
reconhecimento de fatos armazenados, escreve o autor.
No entanto, a linguagem apresenta outra função essencial, que
ultrapassa a organização da percepção, a memória e a transmissão de
22
informações. A presença da linguagem e de suas estruturas lógico –
gramaticais permite tirar conclusões com base em raciocínios lógicos, ou seja,
realiza operações dedutivas, cria a possibilidade de formas mais complexas do
pensamento discursivo, que constitui a atividade intelectual do homem (LÚRIA,
86; VYGOTSKY, 2000).
A propriedade simbólica da linguagem permite ao usuário
comunicar-se, compreender a fala e expressar-se fluentemente, através de um
sistema arbitrário de símbolos que faz alusão a objetos, ideias, sensações e
descrições que estão à sua volta, nem sempre fisicamente tangíveis, de forma
particular a cada língua ou cultura vigente. Sternberg (2013) explica que toda
palavra é um símbolo e é capaz de representar o contexto, permitindo ampliar
a capacidade de representação sobre aquilo de que se tem ou não
conhecimento.
A linguagem fluente e significativa apresenta estrutura regular,
cujos arranjos de símbolos possuem significados e podem ser analisados
distintamente. Tais características, afirma o autor, referem-se à estrutura da
linguagem, que abrange desde a combinação de sons à construção de frases.
Finalmente, a natureza produtiva da linguagem conduz a sua
característica dinâmica, a qual contribui para o aumento e a diferenciação do
vocabulário e consequente evolução da língua. Embora existam diferentes
propriedades da linguagem, é certo afirmar que sua principal finalidade diz
respeito à capacidade de representação, que facilita compreender e elaborar o
discurso, ou seja, seu uso, seu papel na comunicação.
A comunicação ocorre numa variedade infinita de situações,
denotando a habilidade comunicativa da linguagem. Tal habilidade pode ser
descrita, conforme Bachman (2003), como conhecimento ou competência,
capacidade de implementação ou execução dessa competência no uso
comunicativo da língua, de modo apropriado e contextualizado.
A autora propõe três componentes que descrevem a habilidade
comunicativa da linguagem, a competência linguística, a competência
estratégica e os mecanismos psicofisiológicos. Como competência linguística,
Bachman (2003) atribui a sintaxe, o vocabulário, a coesão e a organização,
como competência organizacional, que abrange as habilidades envolvidas no
controle da estrutura formal da língua, na produção e interpretação de frases
23
gramaticalmente correta, tanto textual quanto verbal. Outra competência que
faz parte da ordem linguística é a competência pragmática, que, por sua vez,
consiste nos atos da fala. Aspecto fundamental da forma como a linguagem é
utilizada para expressar, representar e interpretar algo diz respeito à
complexidade do uso discursivo da língua (STERNBERG, 2008).
Quanto à competência estratégica, Bachman (2003) a situa
como habilidade comunicativa que mapeia as estratégias que o interlocutor
utiliza para ser eficiente em um discurso. A autora baseia-se nos trabalhos de
Faerch e Kasper (1983) que descrevem um modelo psicolinguístico da
produção da fala, que inclui uma fase de planejamento e uma de execução. O
planejamento é constituído pela ação entre os atos da fala, a relação entre os
participantes do diálogo e o conteúdo a ser discutido. A fase de execução
consiste nos processos neurológicos e fisiológicos, reconhecidos pela autora
como mecanismos psicofisiológicos, que resultam na eficiência da linguagem,
ao associarem os canais auditivos e visuais com o modo produtivo da
execução, ou seja, nas habilidades neuromusculares articulatórias que são
responsáveis pela produção da fala, ou ato mecânico da linguagem oral.
A comunicação envolve a relação intrínseca entre o contexto e
o discurso, que se torna competente através das habilidades comunicativas da
linguagem. Mediante a linguagem, os sujeitos podem representar os seus
conhecimentos e dar sentido às suas experiências e atividades, ao
compartilhá-las com os outros.
Partindo deste pressuposto, no qual a linguagem, além de
favorecer a assimilação e a apropriação do conhecimento, permite a troca de
experiências, podemos afirmar que, por meio da interação discursiva, tem-se a
possibilidade de verificar os aspectos semânticos e pragmáticos da linguagem
que se aprimoram no decorrer do processo ensino- aprendizagem.
1.1.1 Componente da Linguagem Oral: Aspecto Semântico
A semântica é a ciência que estuda o signo linguístico quanto
ao significado. Está ligada ao conteúdo, ao significado da palavra e torna
24
possível formar conceitos e expor a linguagem, conforme a sua natureza, ou
seja, a expressão verbal do pensamento (BRITO e TAITSON, 2005).
É a primeira habilidade linguística oral a se manifestar e
depende da capacidade de representação simbólica do aprendiz (BEFI-LOPES
e TAKIUCHI, 2000). A semântica está ligada a fatores cognitivos, como a
elaboração do pensamento e formulação de ideias, os quais envolvem a
compreensão do significado das palavras e sentenças, assim como possibilita
o seu uso apropriado no ato da fala (BRITO e TAITSON, 2005).
Definir o objeto de estudos da semântica não é algo simples.
Pires de Oliveira (2001) retrata a dificuldade em conceituar os estudos sobre os
significados quando se trata de vertentes distintas da investigação semântica.
A pluralidade de semânticas engloba linhas de pesquisa clássicas, como a
semântica formal, da enunciação e cognitiva, que tratam este assunto com
interpretações singulares.
A semântica formal, historicamente mais antiga do que as
demais, descreve o problema do significado a partir da estrutura lógica da
sentença. Representa o sentido real da palavra, de forma objetiva e passível de
reconhecimento por qualquer pessoa.
Embora a visão realista possa dar sentido objetivo à
comunicação, essa teoria foi alvo de críticas, o que possibilitou a formação de
outro modelo: a semântica da enunciação, que faz referência à ilusão criada
pela linguagem, cujo conteúdo externaliza a língua. ¨A linguagem, é um jogo de
argumentos que nos possibilita construir um mundo e a partir dele tentar
convencer o interlocutor da nossa verdade, verdade criada pelos nossos
sentidos e interpretações da realidade¨ (DUCROT, 1970 apud PIRES DE
OLIVEIRA, 2001, p.28).
Para a semântica da enunciação, o diálogo permite sentenças
de significados diferentes, mas relacionados, aceitando diferentes leituras do
mesmo enunciado. As conjunções, por exemplo a conjunção mas, quando
utilizadas nas frases podem atribuir significados diferentes à fala, denotando a
versatilidade da linguagem em se expressar, conclui Pires de Oliveira (2001).
Finalmente, a semântica cognitiva fundamenta-se a partir da
construção de significados que se aprende no decorrer da aprendizagem
sensório- motora a que se está exposto, isso significa que emerge da interação
25
entre o corpo, a cognição e o meio em que se está inserido. Pires de Oliveira
(2001) argumenta que a construção dos significados é uma questão da
capacidade cognitiva em geral, e não um fenômeno puramente linguístico. A
fala é uma manifestação superficial da estruturação cognitiva, que a antecede e
lhe dá consistência.
Essa teoria, segundo a pesquisadora, aceita o uso de
metáforas, ou seja, a possibilidade da troca de uma palavra por outra, com o
objetivo de configurar sentido análogo ao que se quer falar, ou seja, a relação
de contiguidade, e de metonímias, que dão ênfase à comunicação, pela
simples substituição entre vocábulos, revelando a sua relação de proximidade,
pois permite a associação de ideias, refletindo o nosso modo de pensar e falar.
É por meio delas que se pode mapear o domínio concreto da experiência,
organizado pelo esquema imagético e conceituar experiências mais abstratas,
como o tempo, o estado de saúde e a posse.
É importante dizer que tanto a metáfora quanto a metonímia
não se referem à figura de linguagem que se estuda na gramática tradicional.
Trata-se de um processo cognitivo que permite criar relações entre os
conceitos e abstrair significados que dão sentido à comunicação.
Para Machado et al. (2007), o conhecimento semântico se
consolida com a exposição a informações, sejam elas formais, no contexto
escolar, ou sociais, e a idade e a escolaridade interferem na qualidade do
discurso do sujeito. Pesquisas na área de linguagem mostram que testes
realizados para analisar o aspecto semântico evidenciaram índices de
aproveitamento mais altos, em pessoas com níveis de instrução mais
avançados, do que em relação ao fator idade, no que tange às experiências
sociais.
A questão acadêmica tem sido associada ao bom desempenho
em tarefas cognitivas, nomeação e fluência, afirmam os estudos de Mansur et
al, 2006; Brucki e Rocha, 2004; Wiederholf, 1993 apud Machado et al., 2007.
Portanto, o acesso à informação formal implica na melhora do desempenho
geral e amplia a possibilidade de repertório científico na expressão verbal do
educando, além de promover a compreensão e a assimilação de conteúdos
estruturados ao seu banco de dados lexical.
26
1.1.2 Aspecto Pragmático: Habilidade Pragmática da Linguagem Oral
O aspecto pragmático refere-se à intenção comunicativa do
indivíduo e à habilidade em usar a língua materna em diferentes contextos.
Sabe-se que o ambiente preenche o significado, ou seja, dependendo do
contexto, um enunciado fará ou não sentido para o interlocutor (BISHOP e
MOGFORD, 2002).
Para Fernandes (1998), o desenvolvimento pragmático na
linguagem constitui a relação entre o desenvolvimento linguístico, cognitivo e
social. O desenvolvimento da competência pragmática envolve a interação
(com quem comunicar), a intenção (o que comunicar) e a representação (como
comunicar) e acontece ao longo dos primeiros anos de vida. No entanto,
Shaffer (2009) afirma que, apesar de as crianças de 5 anos terem aprendido
muito sobre a linguagem e apresentarem a fala próxima à do adulto. Quanto a
no que trata de sintaxe e fonologia, muitos progressos importantes na
competência linguística acontecem entre os 6 e 14 anos. ¨As crianças e os
adolescentes em idade escolar não apenas usam palavras maiores e
produzem sentenças longas e mais complexas, como também começam a
pensar sobre e a manipular a linguagem de modos antes impossíveis¨
(SHAFFER, 2009.p.367).
O desenvolvimento das habilidades pragmáticas, durante o
percurso de aprendizagem, segundo Brito e Taitson (2005), abrange desde o
uso espontâneo da linguagem, das funções comunicativas, da interpretação e
uso de pistas não verbais, aos Atos de Fala, nos quais o sujeito, para se
comunicar e manter o seu papel no diálogo, adapta o seu estilo linguístico ao
contexto do ouvinte.
Assim, da mesma forma que a interação social proporciona os
usos da linguagem, ela integra-se ao desenvolvimento cognitivo e à própria
experiência social, o que determina o desenvolvimento da linguagem e o
consequente desenvolvimento da habilidade pragmática (FERNANDES, 1998).
Souza Filho (2006) considera a linguagem como um fenômeno
pragmático, o qual é possível estudar a partir da distinção entre duas linhas
principais de desenvolvimento, a contextualista e a linguagem como ação. A
primeira diz respeito ao contexto e está ligada ao significado das expressões
27
linguísticas. Trata-se, então, da concepção semântica do contexto no qual o
indivíduo está inserido. A segunda linha aborda a linguagem como ação ou
realização de atos. Portanto, dizer é fazer, e o significado só pode ser
determinado a partir da realização do ato, após a verbalização da ação e suas
regras de execução.
Essa perspectiva pragmática envolve os aspectos funcionais
da linguagem, no sentido do que se faz quando se diz algo e o que se faz ao
dizê-lo (FERNANDES,1998 p. 24). Os Atos de Fala, segundo a teoria do
filósofo J.L. Austin, retratada no livro ¨Quando dizer é fazer¨ (1990), concretiza
a funcionalidade da linguagem, ao demonstrar a sua estrutura por trás da
sentença.
Austin apud Ferreira (2011), quando apresentou os Atos de
Fala, mostrou que é possível existir uma estruturação dentro da linguagem, ou
seja, as palavras são mais que representações de falso ou verdadeiro,
exprimem realizações de ações, sem a obrigatoriedade de descrever e ou
inferir verdade ou mentira da declaração, apenas frases que determinam a
execução da ação pretendida.
Austin (1990) emprega o termo performativo para indicar as
ações que se quer que realizem. É necessário, porém entender que as
circunstâncias ambientais e as condições do ouvinte podem interferir na
execução do ato. A essas condições, escreve Fernandes (1998), Austin
denomina condições de felicidade e infelicidade à condição que não se realiza,
devido à interpretação do executor.
Fernandes (1998) aponta, ainda, que Austin elencou alguns
critérios formais e gramaticais para identificar os enunciados performativos,
embora considerasse pouco produtivo tanta formalização. O uso da primeira
pessoa do singular do indicativo na voz ativa, modo imperativo, cadência,
utilização de advérbios e expressões adverbiais merece atenção no momento
de análise da fala dos protagonistas, a fim de detectar com clareza os aspectos
performativos que caracterizam os atos de fala.
Tendo a compreensão da funcionalidade da linguagem como
agente de ação, a escolha da teoria dos atos de fala para análise do discurso
dos educandos, frente às atividades investigativas, justifica-se pelo seu aspecto
performativo, ou seja, como os interlocutores usam a sua linguagem para
28
proferir uma sentença com determinado sentido e referência, argumentando
sobre a sua produção.
O estudo do aprimoramento dos aspectos da linguagem, isto é,
semânticos e pragmáticos, deve considerar quais são os diferentes tipos de
Atos de Fala e como as significações de cada um deles conferem significado
ao argumento. Desta forma, ao escrever sobre a teoria dos Atos de Fala,
segundo Austin (1990) e seu seguidor, Searle, pretende-se mostrar que esta
abordagem melhor representa a habilidade pragmática da linguagem.
1.1.2.1 A teoria dos Atos de Fala
A teoria dos atos de fala surgiu da filosofia da linguagem e
posteriormente foi apropriada pela linguística pragmática. Koch (2000) escreve
que J.L. Austin foi o primeiro a entender a linguagem como forma de ação,
seguindo a máxima de que todo dizer é um fazer, passando a ponderar sobre
as ações humanas que se realizam por meio da linguagem, denominando-as
em atos de fala, atos de discurso ou atos de linguagem.
Outra importante distinção, que foi identificada a partir dos
pressupostos de Austin, escrevem Koch (2000), Souza Filho (2006) e
Sternberg (2013), fazem referência aos atos de fala diretos e indiretos. O ato
direto ocorre quando realizado através de formas linguísticas especializadas
para tal fim, ou seja, o emprego de categorias gramaticais, como tempo e modo
verbal, adjetivos, assim como a entonação da frase durante a locução. Em
outras palavras, o modo como a fala é utilizada para alcançar o objetivo.
Sternberg (2013) escreve sobre as cinco categorias básicas
que permeiam os atos diretos de fala, enfim, as cinco metas que o indivíduo
consegue realizar com a linguagem performativa, seguindo os estudos de John
Searle (1975), contemporâneo e seguidor das ideias de Austin. Searle
apresenta uma nova visão sobre a força ilocucionária, idealizada por Austin,
utilizando como ferramenta os estudos do pioneiro, ao tentar preencher as
lacunas deixadas por este em sua descrição (FERREIRA, 2011).
29
Para elucidar essas categorias, será utilizada a organização
proposta por Sternberg (2013, p.362), com o intuito de identificar somente as
categorias e sua descrição.
Figura 01 – Quadro demonstrativo dos Atos de Fala. ATOS DE FALA DESCRIÇÃO
Representativo Transmite a crença de que uma dada proposição é verdadeira.
Diretivo A tentativa do falante de fazer com que o ouvinte realize algo, como dar resposta a uma pergunta.
Compromissivo Uma concordância do falante em participar de alguma ação futura.
Expressivo Uma afirmação relacionada ao estado psicológico do falante.
Declarativo Um ato de fala pelo qual o próprio ato de fazer uma afirmação resulta em uma nova situação.
Fonte: Proposto por Sternberg (2013, p.362).
A taxonomia de Searle (1975) aponta Sternberg (2013),
classifica quase toda afirmação que poderia ser feita, demonstrando os
diferentes tipos de comunicação que a linguagem tem competência para
realizar, assim como relaciona a estrutura com a função de linguagem, de
forma mais elaborada.
Outro ponto discutido por Searle (1975) abrange os atos de fala
indiretos, o qual oferece elementos que exemplificam a força ilocucionária a
partir de mais de uma interpretação. Isso significa que, dentro de uma mesma
frase, pode haver diferentes interpretações, devido ao seu caráter oblíquo.
Sternberg (2013) e Ferreira (2011) esclarecem que é por meio
de solicitações indiretas que podemos fazer um pedido sem solicitá-lo
diretamente. Um exemplo seria: ¨Você poderia retirar o lixo?¨ (STERNBERG,
2013, p. 363). É valido ressaltar, porém, que a ação esperada pelo falante só
será atingida mediante a interpretação correta por parte do ouvinte.
Assim, os Atos de Fala, elaborados por Austin e aprimorados
por Searle, são fonte inesgotável de trabalhos na área da pragmática, o que
proporciona a reflexão de que tudo aquilo que dizemos tem efeito e altera o
sentido, de acordo com a funcionalidade que empregamos no ato da linguagem
(PINTO, 2001).
30
2. A argumentação e o Ensino Científico
O ato de argumentar é inerente à linguagem e às atividades
sociais. Koch (2000) afirma que o homem, dotado de razão e vontade, avalia,
julga, critica e forma conceitos com o propósito de desencadear reações no
outro, ou seja, pela mudança de comportamento frente ao relato da descoberta
ou pela motivação em debater determinado assunto. Tal ação é própria da
linguagem verbal que, ao utilizar a palavra, imprime nela a força dos
significados que processa ao longo do aprimoramento semântico e pragmático,
inclusos no discurso do sujeito.
Assim, o modo como se relata, se justifica ou se conclui uma
dada afirmação mostra o desempenho da linguagem argumentativa que
constitui a competência do homem em compreender e apropriar conceitos
científicos no decorrer do aprendizado acadêmico.
A distinção entre compreender, assimilar e argumentar permite
inferir a relação entre cognição, pensamento, linguagem, homem e ambiente, e
é sob esse aspecto que se torna possível discutir a necessidade de incentivar a
argumentação na díade ensino- aprendizagem para promover a consolidação
de um dos objetivos que deve ser primordial na educação: a enculturação
científica.
2.1 O Argumento: Desde as Concepções de Diferentes Autores à sua
Relevância no Processo Ensino Aprendizagem.
Sasseron (2013) define a argumentação como um processo
que compreende a análise de dados, evidências e variáveis, permitindo a
afirmação de uma alegação até a sua conclusão. Neste sentido, a
argumentação decorre do levantamento de hipóteses, da análise dos dados e
evidências coletadas, além da avaliação da investigação, consolidando as
justificativas levantadas a ponto de validar a teoria ou refutá-la, concluindo a
investigação da questão proposta.
31
O termo argumento, segundo Sibel Erduran (2006), apud Costa
(2008), refere-se à associação das teorias, da análise dos dados, justificativas
e conhecimento básico que contribuem para a construção das explicações,
modelos e novas teorias, ou seja, o conteúdo do argumento.
Para Sá e Queiroz (2007), a argumentação é uma atividade
social, intelectual e verbal, utilizada para fazer declarações, justificativas ou
refutações sobre determinadas afirmações, considerando, sempre, o receptor e
a finalidade da alegação a qual se emite. Sasseron e Carvalho (2011)
entendem como argumentação todo e qualquer discurso em que aluno e
professor apresentam suas opiniões em aula, com o objetivo de descrever
ideias, apresentar hipóteses e evidências, assim como explicar os resultados
que obtiveram em suas investigações. Nesse sentido, as autoras afirmam que
devem ser analisadas tanto a estrutura quanto a qualidade das informações
contidas no argumento para torná-lo qualificado aos propósitos científicos.
Nascimento e Vieira (2008) fazem menção ao estudo de
Deanna Kuhn (1993), que enfatiza a natureza contraditória da argumentação,
isto é, a necessidade de refutação para dar complexidade e notoriedade ao
argumento. A autora faz a integração dos argumentos com os contra-
argumentos, possibilitando uma perspectiva dinâmica ao processo
argumentativo.
Leitão e Almeida (2000), apud Valle e Motokane (2009),
concordam com a face dialógica da argumentação, inserindo também a
característica dialética, ao defenderem a multiplicidade de perspectivas
envolvidas na arquitetura do argumento, ou seja, o fator opositivo na sua
construção.
A ação argumentativa está presente em diversos contextos,
que vão além do círculo escolar, porém é através da educação sistematizada,
pela mediação do professor, que a argumentação científica tem condições de
se desenvolver. O conhecimento científico difere de outros domínios. Segundo
Suart e Marcondes (2009), enunciados e conclusões devem ser testados e
sustentados em provas à luz de conhecimentos teóricos e ou empíricos, pois
não se constituem em meras opiniões de senso comum.
Driver et al.(2000) apud Suart e Marcondes, escrevem que a
sala de aula pode ser um ambiente favorável ao aprendizado dos alunos, ao
32
dar oportunidades para que expliquem suas opiniões e ideias sobre
determinados fenômenos, troquem informações com os colegas e ao promover
situações que possam familiarizar-se com a linguagem científica. Sasseron
(2013) enfatiza que as ações pedagógicas devem ser bem estruturadas e que
o professor organize as etapas do trabalho, orientando seus alunos sobre a
sequência e os procedimentos durante e para a realização das atividades,
questionando-os, sempre, para o desenvolvimento da argumentação.
Os propósitos pedagógicos que se referem ao planejamento e
à organização da atividade, às ações disciplinares e motivacionais são
aspectos, segundo Sasseron (2013), geradores da argumentação, pois estão
associados às possibilidades de aprendizagem, através de situações de ensino
que levem os alunos a investigar, interagir discursivamente e divulgar suas
descobertas. O emprego de estratégias baseadas em questões sóciocientíficas
fomenta o desenvolvimento de habilidades como a argumentação, assim como
a tomada de decisões embasadas em fatos científicos e a manifestação do
pensamento crítico, escrevem Martínez e Pérez (2014).
Diante dessa nova realidade, o ensino deve enquadrar-se em
perspectivas inovadoras que proporcionem aos alunos experiências que os
levem a revelar seus conhecimentos, argumentando sobre eles, defendendo a
sua aquisição. Pesquisas como as realizadas por Sá e Queiroz (2007); Locatelli
e Carvalho (2007); Alvarenga de Oliveira (2013) comprovam que o argumento
válido não se desenvolve espontaneamente, mas estrutura-se com a prática,
por meio de ações frequentes que incitem os alunos a participarem
verbalmente, durante o processo de aquisição e de assimilação dos novos
conceitos à sua estrutura cognitiva.
Capecchi e Carvalho (2000) enfatizam ainda que a participação
dos alunos em discussões sobre os temas propostos em sala de aula promove,
além do aprendizado científico, a cooperação entre os colegas. Esse aspecto é
importante quando se quer motivar o aluno a ter confiança na exposição de seu
ponto de vista, respeitando as diferentes formas de pensar e opiniões dos seus
pares.
O trabalho cooperativo fortalece a prática científica, que com
sua linguagem própria requer a construção do conhecimento estruturado. Para
tanto, a linguagem científica deve ser experimentada como recurso para a
33
conversação sobre ideias, divulgação e argumentação de fatos. É através da
argumentação que os estudantes têm a possibilidade de desenvolver algumas
habilidades importantes, como o reconhecimento entre as afirmações
contraditórias, identificação de evidências e confronto de evidências com
teorias (CAPECCHI e CARVALHO, 2000).
No contexto de ensino de Ciências, segundo as autoras, a
participação dos alunos em discussões sobre conteúdos apresentados em sala
de aula toma dimensões importantes para a enculturação científica. A troca de
ideias entre eles e a intervenção mediadora do professor promovem a
construção do conhecimento científico. Considerando que a ciência apresenta
linguagem dotada de valores científicos, é necessário que os estudantes
tenham a oportunidade de familiarizar-se com tais vocábulos e possam
empregá-los racionalmente no curso de suas produções verbais.
Candela (1993) e Scott (1997), apud Capecchi e Carvalho
(2000), apontam que algumas pesquisas têm confirmado que os estudantes
adquirem novas formas de falar, semelhantes ao do professor, à medida que
participam de debates nas aulas de ciências. Desta forma, a linguagem é
experienciada como meio de divulgação de ideias e não somente como fonte
de informações prontas e já concebidas. Lemke (1997) apud Sasseron e
Carvalho (2011) afirma que um diálogo científico adquire coerência e
complexidade à proporção que novos vocábulos são adicionados à fala. A esse
processo também se atribui a participação do professor, que deve estar atento
para os conhecimentos que os alunos já possuem e para os significados
atribuídos às palavras e aos conceitos em formação, com o intuito de que as
afirmações possam ser construídas de forma inteligível e passível de
confirmação.
A partir dessa perspectiva, a argumentação é considerada
como ponto relevante na educação em Ciências, desde que seu objetivo seja a
geração e a justificativa das alegações que corroboram o conhecimento,
levando à compreensão da natureza. Nesse sentido, a educação e a
argumentação são pontos que se unem com o mútuo comprometimento com a
racionalidade e as dimensões normativas da razão e do raciocínio científico
(JIMÉNEZ-ALEIXANDRE et al., 2003).
34
Os autores defendem ainda um ensino de Ciências que
possibilite o desencadeamento argumentativo e que os alunos possam, à luz
dos dados empíricos e de outras fontes, relacionar dados, avaliar enunciados e
formular conclusões, utilizando os recursos que a linguagem oferece.
Para a análise da linguagem oral, precisamente do argumento,
muitos autores, como Martínez-Pérez (2014), Capecchi e Carvalho (2000),
Sasseron e Carvalho (2011), Jiménez-Aleixandre et al. (2003), Colombo Junior
(2012), Sá e Queiroz (2007), Costa (2008), Sasseron e Carvalho (2014),
recorrem ao referencial teórico, muito utilizado na didática do ensino de
Ciências, que diz respeito ao Padrão de Argumento proposto por Stephen E.
Toulmin (TAP – 1958/2006). Os autores analisam os argumentos, observando,
além do conteúdo e da estrutura, o modo como os alunos apresentam as
justificativas e conclusões sobre determinado problema iniciado em sala de
aula, à luz da instrução científica.
2.2 O Argumento Segundo Stephen Toulmin
O modelo proposto por Toulmin (1958/2006), segundo Costa
(2008), estabelece relações importantes entre vários elementos, realçando no
argumento as limitações de uma dada teoria, assim como oferece significado
às evidências para a construção de explicações plausíveis com enfoque
científico.
Desta forma, afirma Colombo Junior et al. (2012), o argumento
do aluno poderá refletir o seu aprendizado científico, à medida que
compreender e relacionar os termos entre si e com o contexto em que estão
inseridos, produzindo significados precisos. Aprender Ciências e argumentar
sobre e a favor dela promove o desenvolvimento das habilidades linguísticas
que proporcionam ao educando condições de defender e justificar suas ideias,
tornando-se crítico e corresponsável pela sua aprendizagem e inserção social.
Toulmin, conforme Ariza e Harris (2002) enquadra-se no grupo
de filósofos construtivistas, segundo o qual a visão de Ciências abrange o
complexo mundo de construção do conhecimento, pautada no trabalho
35
intelectual que tem como objetivo a evolução conceitual. Tal ideia expõe as
metas científicas que, segundo Toulmin (2006), têm a intenção de construir
representações e nomenclaturas melhores, assim como fornecer explicações
adequadas que dão conta dos aspectos importantes da natureza e do mundo
em que habitamos.
Ariza e Harris (2002) enfatizam que Toulmin prega a visão das
mudanças científicas como graduais, que ocorrem ao longo das
microrrevoluções e acabam por levar os estudantes a sua compreensão, no
processo de confirmação das hipóteses frente às justificativas e conclusões da
ação proposta, assim como promovem o desenvolvimento da capacidade de
explicar e argumentar cientificamente os novos conceitos, ou melhor, os
conceitos reformulados.
A perspectiva evolucionista de Toulmin (1958/2006) colabora,
portanto, com a necessidade de ter parâmetros e regras que possam ser
utilizados para analisar e conceituar o argumento, observando sua validade,
invalidade e consistência em relação à estrutura e à organização da produção
verbal. O autor propõe elementos básicos que constituem a sua estrutura e as
relações existentes entre eles que o configuram como argumento propriamente
dito.
2.3 O Padrão de Argumento Proposto por Toulmin (TAP)
No livro originalmente publicado em 1958, Toulmin (2006)
estabelece, para a interpretação estrutural do argumento, alguns critérios, com
objetivo de mostrar que nem todos os argumentos partem de uma premissa e
chegam a uma conclusão. O pesquisador afirma que, se a alegação feita for
desafiada, teremos de ser capazes de prová-la, justificando-a.
Para tanto, o autor elencou alguns elementos fundamentais
que devem constar em um argumento. Segundo esse modelo, os elementos
são caracterizados em dados (D), justificativas (J), conclusão (C),
qualificadores (Q), garantias (W) e refutação (R).
36
Sasseron (2008) explica que Toulmin, para certificar o
argumento estruturalmente válido ou inválido, defende que a afirmação feita
necessita de uma prova e que para o argumento ser coerente, os fatos que
apoiam a alegação devem ser fundamentados através dos dados (D) que
darão suporte à conclusão que se busca estabelecer. Portanto, a ¨asserção
original apoia-se em fatos apresentados que se relacionam a ela¨ (TOULMIN,
2006, p.140).
Somente os dados, porém, não são suficientes para tornar a
conclusão válida. É necessário que haja garantias (W), que, além de relacionar
os dados à conclusão, possam atribuir informações adicionais que sustentem a
conclusão. Tais informações, escreve Toulmin (2006), não deve conter fatos
novos, mas informações hipotéticas e gerais. O esquema a seguir demonstra,
de forma simplificada, a estrutura do argumento, segundo Toulmin (2006,
p.143):
Figura 02 – Estrutura do Argumento.
D______→então C ↓ Já que W Ou, para dar um exemplo: Harry nasceu nas Bermudas (D)------→ então Harry é súdito britânico (C) ↓ Desde que (W) ↓ Um homem nascido nas Bermudas é súdito britânico
Fonte: Proposto por Toulmin (2006, p.143).
Sasseron (2008), em sua tese de doutorado, intitulada
Alfabetização Científica no Ensino Fundamental: Estrutura e Indicadores deste
Processo em Sala de Aula, aponta que, em algumas situações, o fato de o
argumento apresentar dado, garantia e conclusão não é suficiente, de acordo
com Toulmin, para tornar o argumento aceito. É importante que exista um
qualificador (Q), que empregue a ¨força que a garantia empresta à
conclusão¨(TOULMIN, 2006, p.153). O qualificador dito modal, que se
apresenta na figura de um advérbio, surge como aval à conclusão. Em
contrapartida, a refutação ou condição de refutação (R) enfraquece a garantia,
fazendo com que perca a força e conteste as suposições firmadas.
37
Assim, os qualificadores modais e as refutações cerceiam a
justificativa e complementam a relação entre os dados e as conclusões,
conferindo qualidade estrutural ao argumento. É imprescindível esclarecer que
a compatibilidade e a coerência dos fatos são requisitos para construir uma
asserção e que a conclusão, obrigatoriamente, corrobore os dados, a fim de
que o argumento seja compreendido e aceito pelo outro (TOULMIN, 2006).
O conhecimento básico (B) é citado por Sasseron (2008) ao
reconhecer a sua função na organização do argumento. Com seu teor
informativo, esse conhecimento proporciona autoridade à garantia
argumentativa, ao mesmo tempo, que pode estar pautado em um
conhecimento de caráter teórico, complementam Suart e Marcondes (2009).
Toulmin apresenta, então o padrão que confere estrutura
adequada ao argumento, demonstrando a sua complexidade:
Figura 03 – Padrão de argumento. Dado (D)____________________→ assim, Q, C
↓ ↓ Já que a menos que
W R ↓
Por conta de B
Fonte: Argumento completo proposto por Toulmin (2006, p.150).
Resumidamente, Sasseron (2008, p.55) apresenta a estrutura
do argumento, conforme o padrão de Toulmin, como: ¨D (dados) assim, Q
(qualificadores), C (conclusão), já que W (garantia), considerando que B
(conhecimento básico), a menos que R (condições de refutação ou exceção).
O modelo de Toulmin, segundo Capecchi e Carvalho (2000),
apresenta instrumentos importantes para a compreensão da estrutura do
argumento, considerando a necessidade de contextualização científica durante
o processo de ensino aprendizagem. O uso de qualificadores e de refutações
propicia o pensamento crítico e desenvolve a capacidade de ponderar sobre as
teorias e as evidências que os alunos observam durante a pesquisa e o debate.
Sasseron (2008) ainda relata em sua tese que a argumentação
é um dos mecanismos utilizados para atribuir qualidade ao discurso científico.
Essa perspectiva faz referência às pesquisas de Driver e Newton, que colocam
38
a importância da investigação na resolução de problemas e o uso de
ferramentas científicas para esse propósito. O aluno poderia, assim,
estabelecer explicações ou modelos que representassem a relação entre as
hipóteses levantadas, os testes realizados e os resultados obtidos, culminando
na argumentação estruturada e com qualidade científica.
Sasseron (2008) conclui afirmando que a qualidade
argumentativa tende a se pronunciar à medida que o educando é inserido em
situações de debate e investigação. Desse modo, a argumentação vai sendo
enriquecida com elementos que elucidam os princípios científicos.
Para qualificar a produção argumentativa, Driver e Newton
(1997), apud Sasseron (2008), propõem um modelo que complementa o
padrão de argumentação proposto por Toulmin, estabelecendo níveis às
características do argumento:
Figura 04 – Níveis de argumentação.
Características do argumento Nível
Afirmação simples sem justificativa 0
Afirmações que competem sem justificativas 0
Afirmação simples com justificativa(s) 1
Afirmações que competem, com justificativas 2
Afirmações que competem, com justificativas e qualificadores 3
Afirmação(ões) com justificativas respondendo a um refutador 3
Fazer julgamento integrando diferentes argumentos 4
Fonte: Propostos por Driver e Newton (1997, p.30, tradução Sasseron, 2008, p. 60).
Os estudos que empregam a análise da estrutura do
argumento afirmam a importância da argumentação para a enculturação
científica, por isso enfatizam a necessidade de empregar meios e métodos que
incitem os alunos a argumentarem, participando ativamente das ações em sala
de aula, para que possam ser sujeitos críticos e formadores de opiniões
embasadas em evidências passíveis de comprovação.
Com essa perspectiva, pretende-se discutir, no próximo
capítulo, a metodologia de ensino por investigação que muito contribui para a
aprendizagem e a alfabetização científica dos futuros cidadãos que almejam
argumentar com propriedade, tendo como referência os estudos de Sasseron
(2013), Carvalho (2013), Azevedo (2004) e as orientações do NRC (2000),
entre outros.
39
3. A Investigação como Metodologia de Ensino
Investigar, inquirir, examinar, indagar e interrogar são
sinônimos para a palavra investigação. Esses termos podem ser aplicados
quando se quer pesquisar sobre determinado assunto, buscando informações
que respondam às indagações que surgem no decorrer da ação investigativa.
Para que o ensino tenha esse enfoque, é preciso que sejam empregadas
atividades que envolvam a resolução de problemas e que, consequentemente,
conduzam o aluno a questionar e a dialogar sobre as questões que fazem
menção ao tema abordado (CARVALHO et al., 1998).
A atividade só é considerada como uma atividade de
investigação, argumenta Azevedo (2004), quando a ação do aluno demonstra
as características do trabalho científico, não se limitando apenas à observação
e à manipulação dos experimentos. A ação deve preconizar reflexão,
discussão, explicação e relato do que se tem evidenciado durante o percurso
da descoberta e apropriação do conhecimento.
É importante frisar que a investigação só fará sentido ao aluno,
se for fundamentada e se seu objetivo for claro e coerente com o fenômeno
apresentado, argumenta a autora.
Nesse sentido, o modelo de ensino por investigação, como
referência à teoria de John Dewey, as atividades que levam à aprendizagem de
conceitos científicos e habilidades são desenvolvidas a partir de um problema,
afirmam Zômpero e Laburú (2012).
Dewey apud Cunha (2001) vê a educação como terreno fértil
para a implantação de novos ideais que surgem em meio à necessidade de
modificação de atitudes que não visam ao bem comum. A escola, na figura do
educador, tem a responsabilidade de utilizar a ciência como ferramenta para
modificar os hábitos e pensamentos perante a natureza e os outros homens,
com intuito de praticar a pesquisa científica para a construção de meios
educacionais que levem ao questionamento, dado que a realidade social está
sempre em movimento e o conhecimento não é fixo, mas passível de
transformação.
40
A ideia central de Dewey, escreve Zômpero (2012), é a
experiência. Para o filósofo, a experiência relaciona-se com a vivência, e o
conjunto de vivências leva ao conhecimento que pode ser compartilhado e
gerar novos aprendizados. A educação situa-se nesta contínua reorganização,
continua a autora, promovendo a melhoria de qualidade das experiências, pela
ação do professor, que tem o importante papel de mediar novas aquisições.
A antecipação é outro fundamento crucial, na teoria do filósofo,
para a educação, aponta Zômpero (2012). O estudioso retrata a ideia como
fonte de inspiração para a antecipação das ações e estas como geradoras de
novos conhecimentos. A ação traz significado e valor para a ideia, promove,
assim, o aprendizado de fato.
Nesse aspecto, o modelo de ensino por investigação, baseado
nos pressupostos de John Dewey, reforça que as atividades devem ser
desenvolvidas a partir de uma ideia, de um questionamento, ou seja, um
problema relevante. Azevedo (2004) e Carvalho (2013) enfatizam que esta
metodologia de ensino pode contribuir para a apropriação de conceitos e
procedimentos, além de desenvolver habilidades que cooperam para a
aprendizagem científica.
Carvalho (2013) concorda com a necessidade da existência do
problema para iniciar a investigação e apropria-se dos conceitos de Piaget, que
enfatiza a importância da dúvida para a formulação das hipóteses e
consequente construção do conhecimento. Não se deve, porém, tratar de um
problema qualquer, explica a autora. Para ter mérito de investigação, a questão
deve estar inserida na realidade dos alunos, despertando o interesse e ter
relevância para as suas vidas, de tal modo que se envolvam na busca de uma
solução, permitindo a exposição de seus conhecimentos espontâneos sobre o
assunto.
Para desenvolver o raciocínio científico é fundamental que os
estudantes percebam que Ciências não é natureza, mas que a investigação
leva à explicação da natureza. Desse modo, dar condições para que os alunos
construam as suas hipóteses, a partir do problema, e possam testá-las
procurando resolvê-las, faz surgir o raciocínio científico, que relaciona as
palavras se, então e, portanto, na validação das hipóteses elencadas no início
da atividade (LOCATELLI e CARVALHO, 2007).
41
Munford e Lima (2007) afirmam que há um consenso sobre os
propósitos do ensino por investigação, que consiste em promover um ensino
interativo, dialogado e embasado em atividades motivadoras que incitem os
alunos a participarem dos procedimentos e a compreenderem as explicações
científicas, reconhecendo a diversidade da referida investigação.
Uma investigação científica pode ocorrer de maneiras distintas,
de acordo com as condições disponíveis. Sasseron (2013) escreve que toda
ação envolve um problema, o trabalho com dados, novas informações,
conhecimentos já existentes e o teste de hipóteses, além do reconhecimento
de variáveis, o seu controle e o estabelecimento de relações entre as
informações e a construção de uma explicação.
Em sala de aula, essas etapas podem ser trilhadas, não
estando condicionadas às aulas experimentais. A autora afirma, ainda, que o
planejamento de uma investigação deve levar em consideração os materiais
solicitados aos alunos, os conhecimentos prévios, o problema que norteará a
investigação e, principalmente, o incentivo à participação destes no processo
investigativo e na discussão dos resultados.
Com esse enfoque, a autora propõe, como exemplo de
atividade investigativa, a leitura e a discussão de um texto intitulado ¨Mantendo
navios na água¨, no qual revela que os alunos envolvidos nessa situação foram
capazes de perceber e interpretar as diferenças e semelhanças entre as
embarcações. Logo, com a mediação do professor, propuseram explicações da
questão, ou seja, o que proporcionava a flutuação e a estabilidade dessas
embarcações na água, após análise das evidências contidas no texto e nas
ilustrações.
Segundo o National Research Council – NRC (2000), a
investigação refere-se aos meios que os cientistas utilizam para estudar o
mundo natural e propor explicações para as suas descobertas, baseadas em
evidências. Nesse aspecto, o questionamento torna-se ponto de partida para a
investigação. O NRC (2000) aponta, ainda, que os estudantes que usam a
pergunta para aprender ciências se envolvem mais nas atividades, favorecendo
o aprimoramento das habilidades cognitivas, tais como a observação, a
inferência e a experimentação, além de desenvolver o pensamento crítico, ao
ampliar o seu conhecimento sobre o mundo e a tecnologia que o cercam.
42
Desenvolver a capacidade de compreender as etapas da
investigação científica, identificar o problema a ser pesquisado, propor
hipóteses, decidir sobre os meios e métodos para conduzir o processo
investigativo, observar e analisar as evidências e, por fim, propor explicações
embasadas em fatos são aspectos que só podem ser alcançados através de
metodologias que conduzam os educandos à luz da experiência que
emolduram os processos do ensino por investigação.
O educador Joseph Schwab (1960 apud NRC, 2000)
argumentou que a ciência deve ser vista como estrutura conceitual, passível de
revisão através de novas provas e que os alunos devem ser orientados a
investigar, com o propósito de confirmar ou confrontar as teorias e ou
suposições, a fim de que possam construir explicações refinadas que refletem
a compreensão do trabalho científico, ou seja, o que é, como é feito e qual é o
seu propósito.
Sá et al. (2011) escrevem que Schwab (1960) considera
essencial que o professor apresente a ciência como investigação aos alunos, e
que estes utilizem os processos de investigação para aprender ciências em
aulas de laboratórios. Além disso, propõe três abordagens que norteiam a ação
do educador. A primeira indica que a proposição de questões e de métodos
ficaria a cargo do professor, e aos alunos o envolvimento com a descoberta. Na
segunda, continuam os autores, as questões seriam feitas pelo professor e os
alunos se responsabilizariam por definir e avaliar os métodos. Na última
abordagem, o professor somente apresentaria os temas e orientaria os alunos
a elaborarem as questões e a definirem os métodos de investigação. Desta
forma, teriam autonomia para definir o que é importante, assim como,
proporiam explicações dos resultados, argumentando suas evidências
pautadas em conhecimentos prévios e nas informações que reuniram com o
apoio do educador.
Nessa situação, Sá et al. (2011) afirmam que os professores
forneceriam aos alunos relatos sobre as investigações científicas, considerando
o processo histórico e epistemológico para a discussão sobre os aspectos
essenciais de uma investigação, tais como: os problemas, os dados, a função
da tecnologia, as interpretações dos dados e as conclusões alcançadas pelos
cientistas.
43
O ensino por investigação, escreve Zômpero (2012),
apresenta, atualmente, o propósito de desenvolver as habilidades cognitivas,
realizar procedimentos, como a elaboração de hipóteses, observação,
anotação e análise de dados, assim como o desenvolvimento da capacidade
de argumentação, deixando o aspecto proeminente das etapas do método
científico, como referido na década de 1960.
Assim, a abordagem proposta pelo NRC (2000) para as
atividades investigativas apresenta pontos relevantes que convergem para as
ideias de autores como Sá (2009), Carvalho (2013), Azevedo (2004), ou seja, o
engajamento dos estudantes, as observações das evidências, a formulação de
explicações e a associação entre as explicações e o conhecimento científico.
Zômpero (2012) afirma, ainda, que os alunos, ao utilizarem recursos gráficos,
textos, desenhos e ou a interação discursiva, devem comunicar e justificar suas
explicações referentes ao problema inicial.
Considerando que as atividades de investigação possibilitam a
aprendizagem dos conteúdos conceituais e procedimentais, é relevante
ressaltar a importância do problema de pesquisa a ser abordado, visto que a
investigação parte do problema proposto.
Azevedo (2004) cita que as práticas de investigação
contemplam situações como a proposição do problema, através de perguntas
que estimulam a curiosidade dos alunos e o levantamento de hipóteses. Nessa
fase, a opinião dos discentes deve ser fomentada por meio do debate, fazendo
com que emitam suas indagações e conhecimentos prévios. A seguir, destaca
a coleta e a análise dos dados, utilizando textos de apoio, para que,
posteriormente, expliquem os dados e formulem a conclusão, evidenciando as
respostas ao problema inicial a partir dos dados obtidos e analisados.
Utilizar as atividades investigativas como referencial para
desenvolver a compreensão dos conceitos é uma forma de conduzir o aluno a
participar de seu processo de aprendizagem. Azevedo (2004) conclui que os
educandos modificam a sua estrutura de pensamento ao relacionar o objeto de
estudo com a explicação causal de suas ações. A busca para a solução do
problema faz com que o aluno construa o seu conhecimento e desenvolva
ferramentas que contribuam para a apropriação da linguagem científica.
44
A investigação, portanto, explica Zômpero e Laburú (2012), não
se resume na repetição das etapas do método científico, mas na construção de
significados, com base em conceitos científicos que promovam o
desenvolvimento de ações investigativas. Numa proposta de ensino em que a
investigação seja o enfoque, o aluno é levado a desprender-se da situação de
mero observador, precisando interagir, contribuir e, por fim, argumentar,
questionando e ou afirmando os resultados do seu trabalho. Com isso, escreve
Azevedo (2004), deixa de ser um receptor de conceitos e torna-se um sujeito
que tem possibilidades de desenvolver habilidades, como a interpretação,
análise de dados e essencialmente a argumentação.
O ensino por investigação demonstra ser a tônica para
despertar o interesse do aluno para a aprendizagem e principalmente para o
desenvolvimento da habilidade argumentativa da linguagem oral, favorecendo
a apropriação do saber científico, através da experiência em elaborar novos
raciocínios, verbalizar suas ações e hipóteses, escrever seus resultados, trocar
ideias, justificá-las e sustentá-las em um discurso, assim como ter possibilidade
de desenvolver as características linguísticas que qualificam o discurso
elaborado, como os aspectos pragmáticos e semânticos da linguagem.
3.1 O Desenvolvimento do Argumento e o Aprimoramento dos Aspectos
Pragmáticos e Semânticos da Linguagem Oral, por meio do Ensino por
Investigação
A argumentação é uma atividade social, ocorre em diferentes
situações, com o propósito de inserir o indivíduo, de forma participativa, no
meio que o cerca. Na esfera cotidiana, apresenta conteúdos informais com
linguagem coloquial, simples para a condição vigente. No âmbito escolar,
porém, onde a ciência e a formalidade devem imperar, exigem-se
conhecimento e expressões cultas da língua.
Atualmente, a escola passa por transformações, inserindo-se
no mundo tecnológico em que os alunos estão imersos. Para tanto, deve
buscar concepções diversificadas, mais produtivas, eficientes e desafiadoras
para motivar o novo educando a participar da aula. Oliveira (2013) escreve que
45
a construção do saber no ambiente escolar se faz a partir do envolvimento do
aluno frente a atividades que o desafiem. A autora afirma, ainda, que o
educando desenvolve seu entendimento conceitual científico, quando está
engajado em uma investigação, e esta é mediada pela ação inteligente do
professor.
O ensino problematizador é algo importante para a construção
humana, é o modo propulsor do conhecimento. Briccia (2013) cita Bachelard
(1996) ao escrever que o conhecimento, em especial o científico, só ocorre
através do questionamento, da busca pela resposta e consequente solução do
problema em questão. A aula com aspectos investigativos favorece a
apropriação do saber e o entrosamento entre o professor e o aluno e destes
com seus colegas, leva ao diálogo e ao desenvolvimento do argumento
(BRICCIA, 2013).
Promover o desenvolvimento das competências linguísticas
que levam ao aprimoramento da habilidade argumentativa deve ser foco das
ações escolares, pois se os princípios dos Parâmetros Curriculares Nacionais
(1997, p.32) visam ¨garantir a formação dos cidadãos críticos, autônomos e
participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e
responsabilidade na sociedade em que vivem¨, isso implica na potencialização
da aprendizagem, na qual o aluno, diante de problemas, precisa elaborar
hipóteses e experimentá-las.
Em relação às atividades investigativas no ensino, nos
Parâmetros Curriculares Nacionais (1998) e na versão PCN +, são
evidenciados alguns objetivos para a aprendizagem relativos a 5ª à 8ª série
(ano):
-Elaborar, individualmente ou em grupo, relatos orais e outras formas de registro acerca do tema em estudo, considerando informações obtidas por meio de observações, experimentações, textos ou outras fontes; -Elaborar perguntas e hipóteses, selecionando e organizando dados e ideias para resolver problemas (BRASIL, 1998, p.61).
Na versão do PCN + (2002), também se verifica o incentivo
às atividades investigativas para o Ensino Médio:
-Identificar em dada situação problemas as informações ou variáveis relevantes possíveis estratégias para resolvê-las. -Identificar fenômenos naturais ou grandezas em dado domínio do conhecimento científico, estabelecer relações, identificar regularidades invariantes e transformações (BRASIL, 2002, p.32).
46
Analisando os documentos, tanto para o Ensino Fundamental,
quanto para o Ensino Médio, pode-se perceber o propósito de incentivar a
realização de atividades com a finalidade investigativa, com o intuito de
desenvolver as habilidades de observação, identificação, registro, elaboração
de explicação, argumentação e resolução de problemas através da ação dos
educandos.
Nessa perspectiva, o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do
Ensino Médio (2014), considerando as propostas normativas fornecidas pelas
Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio – DCNEM, enfatiza:
O desenvolvimento da autonomia intelectual do estudante por meio da participação em investigações autênticas é um princípio norteador da abordagem do ensino das Ciências da Natureza que pretende a Alfabetização Científica, e que tem como meta criar ambientes de aprendizagem para que os estudantes do Ensino Médio vivenciem os direitos à aprendizagem e ao desenvolvimento humano. Em investigações autênticas, os estudantes têm a oportunidade de elaborar questões de interesse, desenhar o procedimento experimental, coletar e registrar os dados, analisar os dados, elaborar explicações com base nos dados e no conhecimento teórico ou prévio. Se essas situações ocorrerem de preferência em grupos, as interações sociais contribuirão com a negociação e o compartilhamento de significados, com a construção de uma concepção social das Ciências da Natureza e com o exercício de diversas formas e usos de linguagem e argumentação. (BRASIL, 2014, p.13-14).
O nível de desenvolvimento é determinado pelas realizações
do aluno, o que ele pode fazer ou aprender mediante a interação com outras
pessoas, pela observação, imitação e troca de ideias, assim como em
atividades desafiadoras que o levem a contraporem-se às suas explicações,
argumentando sobre seu entendimento e concepção do assunto. Dessa forma,
todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem devem falar e ter a
oportunidade de compartilhar os significados apreendidos (MOREIRA, 2011, p.
118-119).
Assim, desenvolver as habilidades que permitam ao indivíduo
argumentar, revelando seus conhecimentos adquiridos, com contexto científico,
é uma das preocupações do ensino voltado para a investigação. Tal concepção
favorece maior familiaridade com as inovações científicas e tecnológicas
presentes no cotidiano do aluno, levando-o à alfabetização científica (SCARPA
e SILVA, 2013).
47
Jiménez-Aleixandre e Fernandez-Lopez (2010), apud Scarpa e
Silva (2013), explicam que o ensino investigativo, com enfoque nas Ciências,
promove o desenvolvimento dos processos científicos, ou seja, produção,
validação e comunicação. Para esses autores, essa prática de ensino gera
condições favoráveis para o desenvolvimento da produção do conhecimento,
ao:
Identificar padrões a partir de dados, promover explicações com base em evidências, construir modelos, realizar previsões e rever explicações com base em evidências; em relação ao processo de validação do conhecimento, selecionar evidências para justificar uma explicação, construir argumento para relacionar dados e conclusões e empregar dados para tomar decisões; e no que se refere ao processo de comunicação, discutir, escrever e comunicar aos colegas o conhecimento científico (Jiménez-Aleixandre e Fernandez-Lopez,2010, apud Scarpa e Silva, 2013, p.132).
O ensino de Ciências por investigação apresenta objetivos
educacionais indicados para a alfabetização científica, ou seja, ensinar os
conceitos e a natureza do conhecimento científico e desenvolver a
argumentação. A investigação, como estratégia, tem o papel de auxiliar o
desenvolvimento do raciocínio, ao resolver problema e produzir respostas
plausíveis que levem à sua compreensão e resolução, pelos participantes do
estudo (MUNFORD e LIMA, 2007). Assim, a argumentação científica é
construída ao passo que se desenvolvem habilidades como observação,
inferência, levantamento e teste de hipóteses, avaliações, justificativas e
comunicação das explicações sobre o problema proposto.
O ensino investigativo pode ser o meio pelo qual o aluno
participe efetivamente da construção de sua aprendizagem, tornando-se um
sujeito ativo, reflexivo e participativo que tenha condições de argumentar,
demonstrando domínio e competência discursiva necessária para expor os
conteúdos científicos que fazem parte do seu processo de aprendizagem.
O entendimento e o conhecimento em uma discussão crítica
envolvem tanto o conhecimento procedimental, no que tange ao
reconhecimento e à identificação dos traços que caracterizam a ação científica,
as evidências, quanto o conhecimento epistemológico, ou seja, o conhecimento
gerado a partir dos significados dos termos, da teoria das hipóteses e dados na
prática da investigação (OECD, 2015).
48
O aluno letrado cientificamente deve ser capaz de justificar o
seu conhecimento com argumentos coerentes, dotados de significados, e
essencialmente ser capaz de inferir e de persuadir o seu interlocutor pela ação
pragmática do seu discurso. Espera-se, neste trabalho, que o educando seja
beneficiado pelo emprego da metodologia do ensino por investigação e possa
construir seu conhecimento pautado em evidências, assim como que seja
pragmático e competente ao argumentar com significado a sua interpretação
sobre a Ciência, dar explicações plausíveis sobre problema levantado,
relacionando-o com a sua realidade e a tecnologia que o cerca.
49
4. OS SERES MICROSCÓPICOS
Os seres microscópicos compreendem um grupo de
microrganismos, denominados bactérias, fungos, protozoários, vírus e algumas
espécies de algas. Apresentam características específicas e possuem relação
direta e indireta com o ser humano. Essa relação não envolve apenas os
efeitos prejudiciais à saúde, como doenças e deterioração de alimentos, mas,
principalmente, a ação benéfica deles para a manutenção e o equilíbrio do
meio ambiente.
Neste capítulo, apresentar-se-ão sucintamente as
características gerais desses seres vivos, com o intuito de discutir sua grande
diversidade e importância ecológica e industrial. Ao final, expõe-se de que
forma os microrganismos afetam a vida humana ao se pesquisar os tipos
patogênicos que prejudicam a saúde humana e a conservação dos alimentos.
4.1 A Era Microbiana
Em meio a muitas tentativas científicas para obter novos
conhecimentos sobre microrganismos, Pelczar, Cols e krieg (2013) explicam
que a comprovação da origem biológica dos seres vivos e a descoberta da
capacidade de fermentação de algumas espécies, na produção de queijos e
vinhos, foi decisiva para o reconhecimento da microbiologia como ciência,
assim como a compreensão da influência dessas formas de vida sobre a saúde
e o bem-estar do homem.
A descoberta do mundo microbiano, afirmam os autores, foi
motivada pela necessidade de obter soluções para as grandes diversidades
enfrentadas na época. Os pesquisadores contaram com inspiração, sorte,
espírito competitivo e, sobretudo, com a fascinação de poderem ver o que os
outros não podiam. Houve conceitos que levaram a descobertas, reconhecidas
e não reconhecidas, porém, a partir da sagacidade desses pioneiros, pode-se
compreender e utilizar a biodiversidade deste mundo para desenvolver
tecnologias e proporcionar melhores condições de saúde à sociedade.
50
Algumas das importantes descobertas científicas são feitas por
cientistas amadores. Antony van Leeuwenhoek (1632-1723) foi um exemplo
clássico da história da microbiologia. Através de sua curiosidade e familiaridade
com o uso de lentes que ele mesmo fabricava, conseguiu ser o primeiro a
observar os micróbios, os quais chamou de animálculos. O pesquisador, em
1675, descreveu os pequenos seres detalhadamente, não deixando dúvidas
para os observadores futuros de que se tratava de bactérias, fungos e
protozoários.
Após van Leeuwenhoek descobrir os microrganismos, a
comunidade científica da época, escrevem Tortora et al. (2012), ficou
interessada na origem dessas minúsculas vidas. Até a metade do século XIX,
houve uma batalha das teorias que tentaram esclarecer esse mistério. Muitos
cientistas e filósofos associaram a putrefação e a fermentação dos alimentos,
cujo mecanismo não estava claro, sendo então explicado pela teoria da
geração espontânea, na qual os microrganismos seriam gerados pela força
vital.
Alguns cientistas se opuseram a essa simplista explicação e
refutaram a teoria da abiogênese. Em 1668, o físico italiano Francesco Redi
demonstrou, através de experimentos, que as moscas não surgiam
espontaneamente. Era necessário que os insetos depositassem seus ovos
sobre os alimentos mal conservados, ou que esses ovos fossem levados
através do ar. Em sua prática experimental, Redi colocou pedaços de carne em
dois frascos, cobrindo apenas um deles com um fino tecido. Observou que,
após algum tempo, os vidros ficaram rodeados por moscas, mas só o que
estava descoberto foi infestado pelas moscas. Transcorridos alguns dias, notou
o surgimento de larvas no frasco desprotegido, concluindo, então, que as
larvas só surgiam de ovos colocados pelos referidos insetos. No ano de 1858,
o cientista alemão Rudolf Virchow desafiou o conceito de geração espontânea,
argumentando que as células vivas poderiam surgir somente de células vivas
preexistentes, instaurando o conceito de biogênese, escrevem Tortora et al.
(2012). Porém, foi somente com os experimentos do químico francês Louis
Pasteur em 1861, que a teoria da abiogênese foi oficialmente refutada.
Segundo os autores, Pasteur demonstrou que os micróbios
estavam presentes no ar e podiam contaminar soluções estéreis, mas o ar por
51
si só não gerava micróbios, era apenas fonte propagadora. Concluiu, também,
que os germes podiam estar presentes em outros tipos de matéria não viva,
como sólidos e líquidos, e só seriam destruídos pelo calor. Essas descobertas
formaram as bases das técnicas de assepsia e pasteurização, que previnem a
contaminação por microrganismos nocivos.
Os pesquisadores afirmam que, durante 60 anos, após o
trabalho de Pasteur, houve significativas descobertas, delimitando essa época
como a Idade de Ouro da Microbiologia. Durante esse período, avanços
importantes na ciência, liderados pelos estudos de Pasteur e pelo médico
alemão Robert Koch, criador da Teoria Microbiana da Doença, levaram à
descoberta dos agentes causadores de muitas enfermidades, assim como do
papel da prevenção, imunização e cura. O estudo das atividades químicas dos
micróbios, por meio do seu cultivo e da melhoria das técnicas microscópicas,
possibilitou desenvolver vacinas e técnicas cirúrgicas que proporcionaram
qualidade de vida ao indivíduo.
4.2 Classificação dos Microrganismos
Atualmente sabe-se que os microrganismos são encontrados
em quase todos os lugares e se apresentam em grupos com características
distintas. Tortora et al. (2012) apresentam a visão geral dos principais grupos ,
destacando suas características importantes. As bactérias são organismos
relativamente simples, formados por uma única célula (unicelulares). Seu
material genético (DNA e RNA) não estão envoltos em membranas que os
delimitam, por isso são chamadas de células procariotas. Apresentam-se em
diferentes formas, como bacilo (bastão), cocos (esféricos) e espirilo (em forma
de saca rolha), e podem formar pares, cadeias ou grupos. Tais formatos são
características particulares de espécies de bactérias distintas. Nutrem-se de
compostos orgânicos derivados de organismos vivos ou mortos e algumas
podem realizar fotossíntese. Os fungos, por sua vez, são organismos
eucariotos, pois apresentam núcleo delimitado, resguardando o material
genético existente. Podem ser uni ou multicelular e são representados pelos
cogumelos, leveduras e bolores. Obtêm alimento por meio da absorção de
52
matéria orgânica presente no ambiente, que pode ser o solo, água salgada ou
doce, um animal ou planta hospedeira.
Os protozoários são microrganismos unicelulares eucariotos e
apresentam características distintas, como o tipo de movimentação que pode
ser por meio de pseudópodes (falsos pés), cílios (apêndices curtos que
envolvem toda a célula do animal) ou flagelos (prolongamentos, geralmente
único, em uma das extremidades da célula). As algas são fotossintetizantes,
capazes de produzir oxigênio e carboidratos que são utilizados por outros
organismos, como os animais. São abundantes em água salgada ou doce,
apresentando ampla variedade de formas. Finalmente, os vírus, que pertencem
a uma categoria peculiar, pois são acelulares. São considerados seres vivos
devido ao seu modo de reprodução, multiplicam-se utilizando a célula
hospedeira que infectam. Portanto, são parasitas de outras formas de vida e
inertes fora do organismo hospedeiro.
4.3 Os Microrganismos e os Homens
Tendem-se a associar os organismos que não se pode ver às
doenças graves que agridem o nosso corpo e deterioram os alimentos.
Contudo, a maioria dos microrganismos contribui essencialmente para a
manutenção do equilíbrio dos organismos vivos e dos elementos químicos do
meio ambiente (TORTORA et al., 2012 p.2). Os microrganismos marinhos e de
água doce constituem a base da cadeia alimentar nos oceanos, rios e lagos,
enquanto os micróbios existentes no solo ajudam a degradar nutrientes e a
transformar substâncias químicas em produtos orgânicos, facilmente
absorvidos pelas raízes das plantas, colaborando também para a reciclagem
do meio em que se encontram. Alguns micróbios apresentam papel importante
para a fabricação de oxigênio, elemento crucial para a sobrevivência dos seres
vivos, por meio da fotossíntese. Os seres humanos são beneficiados pela ação
desse grupo, pois ele auxilia na digestão e síntese de vitaminas que o
organismo humano requer e não é capaz de realizar sozinho.
53
O corpo humano é habitado por um grande número de
microrganismos, que são chamados microbiotas normais do corpo, explica
Pelczar, Cols e krieg (2013). A maioria é bactérias. Em algumas situações,
fungos e protozoários também são encontrados. Estima-se que o corpo
humano adulto é o hospedeiro de mais de 100 trilhões de células microbianas,
em qualquer época, distribuídos em várias partes do corpo, como pele, boca,
nasofaringe, ouvido, trato intestinal e urogenital inferior.
O termo microbiota (flora normal), escrevem os autores,
significa que tais habitantes são inofensivos para a maioria dos indivíduos.
Portanto, não causam doenças, são residentes permanentes de uma estrutura
corporal saudável. Possuem uma relação mutualística, beneficiando o
hospedeiro, como, por exemplo, ao sintetizar a vitamina K, importante para a
coagulação sanguínea, e algumas das vitaminas do complexo B, para o
metabolismo, ao mesmo tempo que são beneficiados com alimento e abrigo.
No entanto, alguns micróbios podem ser patogênicos oportunistas, causando
infecções e danos teciduais. Apesar de uma minoria ser nociva, seu
conhecimento prático é necessário para a medicina e as ciências relacionadas
à saúde.
Os micróbios também possuem valor comercial, ao serem
utilizados na síntese de produtos químicos, como solventes, enzimas que
servem para tratar, corar e até produzir jeans e outros tecidos, na produção de
suplementos alimentares, bebidas alcoólicas, produção de vacinas (agentes
imunizantes), inseticidas (biocidas), celulose, digestivos, insulina e compostos
utilizados na mineração e na indústria do petróleo. Pelczar, Cols e krieg (2013)
(2013) ainda enfatizam que a indústria de alimentos os utiliza para fabricar
vinagre, chucrute, picles, azeitonas, manteiga, pão e molho de soja.
Os microrganismos estão intimamente associados com
disponibilidade, abundância, resistência e fonte de alimento. Caso tenham
condições propícias, eles se desenvolverão e se multiplicarão, alguns para o
bem e outros para alterar o equilíbrio do ambiente em que estão infiltrados.
Mesmo com a comprovação de que os germes estão presentes em quase
todos os lugares e que, graças aos avanços tecnológicos, temos a
possibilidade de utilizá-los para a melhoria da qualidade de vida do ser
humano, observa-se a necessidade de esclarecer e oportunizar condições
54
concretas e interessantes para que os estudantes compreendam o verdadeiro
esquema biológico no qual se inserem esses impressionantes seres vivos e
possam interpretar fatos e dados, correlacionando a influência deles com o
seu cotidiano.
55
5. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O estudo sobre o desenvolvimento da estrutura argumentativa
do educando, bem como a análise evolutiva das habilidades comunicativas
pragmáticas e semânticas da linguagem oral, mediante a abordagem de ensino
por investigação, foi organizado de acordo com os critérios da pesquisa
científica, tomando como princípios norteadores a pesquisa exploratória,
descritiva e qualitativa. Os procedimentos foram realizados por meio do
trabalho de campo, em uma escola da rede estadual de ensino, na cidade de
Londrina–PR, utilizando como instrumento de obtenção de dados as gravações
das atividades aplicadas para um grupo de oito alunos do Ensino Fundamental
II.
A metodologia, segundo Minayo (2003), que se estende à fase
exploratória, descritiva e qualitativa da pesquisa de campo, vai além da escolha
do grupo, do espaço de pesquisa, dos critérios de amostragem e estratégias de
trabalho, contempla a definição de instrumentos e procedimentos para a
análise dos dados, itens cruciais para a conclusão de uma pesquisa
comprometida com os fins científicos.
5.1 Os Participantes da Pesquisa
A pesquisa foi realizada com a participação espontânea de oito
alunos, com a idade entre 12 e 13 anos, matriculados no 7º ano do Ensino
Fundamental II, da rede pública de ensino.
Dos dez alunos que se voluntariaram para participar da
pesquisa, oito deles concordaram em assumir a responsabilidade de realizar
todas as fases das duas atividades propostas até a sua conclusão, com o
intuito de não comprometer a análise dos resultados.
O número de participantes veio ao encontro dos propósitos da
pesquisa, pois foi suficiente para desencadear e manter os debates durante a
execução das atividades investigativas, possibilitando a análise real do
desenvolvimento dos argumentos, sem possível prejuízo à integridade das
56
interações discursivas, caso o número de alunos fosse maior do que o
planejado.
As experimentações foram realizadas com base no conteúdo
de microrganismos, assunto ainda não abordado pelo professor do grupo
participante.
A idade cronológica estabelecida para a realização das
atividades programadas foi de 12 e de 13 anos, devido ao momento de
desenvolvimento cognitivo que evidencia o surgimento da Habilidade
Operatória Formal e do Pensamento Evolutivo Dedutivo, características
relevantes para a aplicabilidade da abordagem investigativa, assim como a
possibilidade de análise do desenvolvimento da argumentação e o
aprimoramento das habilidades comunicativas envolvidas. Na teoria de Piaget,
segundo Shaffer (2005), o indivíduo a partir dos 12 anos de idade começa a
pensar mais racional e sistematicamente sobre os conceitos abstratos e são
capazes de elaborar hipóteses, usando sistemas simbólicos que não requerem
referências concretas. O raciocínio indutivo, cita o autor, é a forma de
pensamento que os cientistas manifestam para gerar hipóteses para os
problemas levantados.
5.2 Coletas de Dados
Foram aplicadas duas atividades com enfoque investigativo em
datas preestabelecidas pela professora pesquisadora, perfazendo o total de
seis encontros, com o intuito de analisar o processo de construção do
argumento científico e o aprimoramento das habilidades pragmática e
semântica da linguagem oral dos alunos.
Para cada atividade, foi proposto um problema a ser discutido e
resolvido pelo grupo. A resolução envolveu ações, como formulação das
hipóteses, observação, coleta e análise dos dados, discussão, confirmação e
ou refutação das hipóteses levantadas, após a proposição do problema de
pesquisa pela professora pesquisadora, com o propósito de possibilitar a
interação discursiva entre os pares.
57
Na etapa que correspondeu à observação e à análise dos
dados, os alunos foram orientados a reiterarem suas hipóteses iniciais, a fim de
que pudessem rever suas ideias. Cada fase seguiu as características
organizacionais propostas pelo NRC (2000), o qual preconiza que a atividade
investigativa contemple, além da apresentação do problema, elaboração das
hipóteses, observação e explicação dos dados, associação das evidências com
o conhecimento científico e conclusão, na qual os alunos argumentaram sobre
os resultados obtidos.
Os temas escolhidos, considerando o assunto abordado, ou
seja, os microrganismos, foram: o ambiente em que os microrganismos podem
ser encontrados e a conservação dos alimentos.
As atividades investigativas, seguindo a organização referida
por Carvalho (2007), foram aplicadas em sequência, respeitando o intervalo de
3 a 4 dias entre cada encontro, sendo necessária, em média, uma hora-aula
para a execução de cada fase. É importante mencionar que houve um intervalo
de sete dias para se iniciar a atividade seguinte, como especificado a seguir:
1º encontro: Apresentação do problema, formulação das
hipóteses, relato das hipóteses e realização do experimento;
2º encontro: Observação, análise do experimento e relato das
evidências;
3º encontro: Análise dos dados e conclusão.
Para dar inicio às sequências de atividades investigativas, foi
oportunizado um momento de interação entre o pesquisador e os alunos, com
o propósito de ambientá-los com a metodologia de ensino por investigação e
averiguar seus conhecimentos sobre os temas abordados. O processo
investigativo foi delimitado em três etapas distintas, realizadas em dias
diferentes, aqui denominadas como encontros. O primeiro encontro abrangeu a
proposição do problema de pesquisa e, logo após, foram levantadas as
possíveis hipóteses pelos alunos, que impulsionariam a investigação sobre os
prováveis locais onde poderiam ser encontrados os microrganismos,
culminando na organização e no preparo das amostras para o experimento.
No segundo encontro, foram feitas as confirmações das
hipóteses, a observação e a coleta de evidências. Os alunos observaram e
58
relataram verbalmente os aspectos e as prováveis mudanças em suas
amostras, bem como as registraram em folhas separadas, com o intuito de
auxiliá-los na organização da pesquisa e na comparação dos dados entre o
grupo. No terceiro encontro, caracterizando o término de cada atividade, foi
proposta a conclusão por meio das explicações das evidências, comparando-
as com as hipóteses iniciais, tendo como apoio a pesquisa a respeito dos
microrganismos em textos científicos. Tal fase, segundo as orientações
fornecidas pelo NRC (2000), compreende o momento em que os alunos fazem
a conexão entre o conceito científico, por meio de pesquisas bibliográficas, com
as evidências coletadas durante a realização do experimento ou teste das
hipóteses iniciais, referente ao problema levantado. As intervenções foram
realizadas num intervalo de 3 a 4 dias entre cada procedimento.
Todo o processo que abrangeu a formulação e a exposição do
problema, os questionamentos, levantamento de hipóteses, comentários,
informações adicionais, debate, resoluções e explicações finais, foi registrado
em áudio, com o intuito de transcrição e posterior análise da linguagem oral, no
que se refere aos aspectos semânticos e pragmáticos, bem como à estrutura
argumentativa presente no processo discursivo.
5.3 Descrições das Atividades Investigativas
5.3.1 Atividade investigativa 1
A primeira atividade teve por objetivo possibilitar ao aluno a
compreensão da diversidade dos microrganismos, bem como refletir sobre
quais ambientes propiciam o seu estabelecimento e proliferação. O problema
de pesquisa apresentado aos alunos foi: Em qual ambiente podemos encontrar
microrganismos? Por quê?
Após a anunciação do problema, os alunos foram orientados a
formular suas hipóteses e a organizar o método de trabalho. Escolheram seis
locais diferentes, sendo dois na escola, como a pia do banheiro e o vaso
sanitário, e algumas partes corporais dos próprios integrantes do grupo de
59
trabalho, como mão, pé, cabelo e boca. A seguir, com o auxílio da professora
pesquisadora, prepararam os recipientes para condicionar as amostras
coletadas.
Os recipientes utilizados foram as placas de Petri esterilizadas,
nas quais foram depositados o caldo nutritivo, ou seja, caldo de carne,
previamente preparado. Em cada local de coleta, foi passado um cotonete
embebido em solução salina (soro fisiológico) e, logo em seguida, depositado
nas placas, devidamente identificadas. Para fins de comparação, foi preparada
uma amostra controle, ou seja, com o mesmo caldo nutritivo, sem a inoculação
de prováveis microrganismos. O pote controle foi selado e armazenado junto
com os outros 6 recipientes, que foram lacrados e guardados em uma caixa de
papelão fechada.
Com a proposição do problema, deu-se início à investigação
científica, permitindo-lhes adquirir habilidades cognitivas que promovessem,
além da aquisição do conhecimento, o entendimento do trabalho científico.
O NRC (2000) refere ainda que as habilidades de identificar
pressupostos, questionar, organizar o experimento, observar, coletar dados,
inferir e propor explicações plausíveis, pautadas em evidências e dados
científicos já contextualizados, por meio do raciocínio lógico, são características
que podem ser desenvolvidas com o emprego adequado da metodologia de
ensino que visa à investigação científica. A curiosidade e a busca de
informações propulsionam o interesse em solucionar e comunicar os
resultados, promovendo, assim a mudança de padrões e a aquisição de novos
conceitos científicos.
Tendo em vista as características normativas propostas pelo
NRC e organizadas, neste estudo, seguindo as etapas de trabalho de Carvalho
(2007), os alunos, após o entendimento do problema de pesquisa, formularam
suas hipóteses, recorrendo aos seus conhecimentos prévios e à troca de
informações entre o grupo. Cada participante verbalizou as suas ideias e
estabeleceu hipóteses para a futura explicação para o referido problema.
A segunda etapa, após quatro dias, iniciou-se com a reiteração
das hipóteses, com o intuito de promover o engajamento dos alunos com a
atividade proposta. Esse primeiro relato delimita as primeiras tentativas de
explicar as causas de determinada questão, o que leva o aluno a correlacionar
60
o que já sabe sobre o assunto com o que se pode obter ou concluir (NRC,
2000).
A seguir, ainda no segundo encontro, os estudantes foram
orientados a observar e analisar as suas evidências. Foram colocadas as
amostras sobre a bancada, para que todos pudessem visualizá-las e
descrevessem, oralmente, as prováveis mudanças que ocorreram durante o
período de proliferação dos microrganismos. É a partir dos testes
experimentais que os alunos têm a possibilidade de confrontar suas hipóteses
com as evidências observadas, confirmando-as ou não.
A terceira etapa caracterizou a finalização do experimento e a
explicação e conclusão da investigação. Nessa fase, a professora
pesquisadora forneceu textos para que os estudantes pudessem pesquisar e
embasar suas explicações, ao compararem as hipóteses e os dados obtidos,
com o material científico ofertado. (Anexo 1).
Após sete dias, os alunos retornaram ao laboratório para iniciar
a próxima atividade de investigação.
5.3.2 Atividade Investigativa 2
A segunda atividade enfocou a importância da conservação
dos alimentos e levou os alunos a pesquisarem e discutirem os possíveis
métodos de conservação que são eficazes no dia a dia. O tema proposto como
problema de pesquisa foi o seguinte: A conservação dos alimentos na
geladeira impede que eles se estraguem? É possível conservá-los de outra
forma?
Essa atividade também seguiu as mesmas fases e o mesmo
número de encontros da investigação anterior, diferindo apenas no material e
no local de condicionamento das amostras.
A professora pesquisadora preparou oito copinhos plásticos de
café com mingau de leite, amido de milho e açúcar para que os estudantes,
após escolherem as formas de armazenamento, dessem sequência ao
experimento. Eles decidiram lacrar com filme plástico quatro copinhos e deixar
os quatro restantes abertos, nos seguintes ambientes: dois copos na geladeira,
61
um aberto e outro fechado; quatro na prateleira, um fechado, um aberto, um
com vinagre aberto e um com óleo aberto; os últimos copinhos foram
colocados em uma caixa térmica fechada, sendo um lacrado e o outro não.
Após quatro dias, os alunos reuniram-se para observar e
relatar suas evidências, concluindo a segunda fase da investigação.
As atividades investigativas foram finalizadas, no terceiro
encontro, com as explicações orais dos estudantes, que sustentaram suas
perspectivas, argumentando sobre as evidências coletadas, através das
análises de seus experimentos, embasados em textos científicos, promovendo,
assim, a confirmação e, em determinadas situações, a refutação das suas
hipóteses iniciais. (Anexo 2).
De acordo com o NRC, a investigação leva o aluno a refletir
sobre o mundo que o cerca. Ele observa e reúne dados para organizar e
estabelecer uma explicação. Sintetiza informações, cria modelos, verifica e
reverifica as suas hipóteses, compara-as com os resultados obtidos e com o
que já se sabe sobre determinado assunto. Logo, adquire e, muitas vezes,
transforma uma ideia com base em novos conhecimentos aprendidos durante o
processo de investigação.
Todo o processo que abrangeu a formulação e a exposição do
problema, os questionamentos, os levantamentos de hipóteses, os
comentários, às informações adicionais, o debate, as resoluções e explicações
finais foi registrado em áudio, com o intuito de transcrição e posterior análise da
linguagem oral, no que se refere aos aspectos semânticos e pragmáticos, bem
como a estrutura argumentativa presente no processo discursivo.
62
6. ORGANIZAÇÃO E APRESENTAÇÃO DOS DADOS
Os dados obtidos, no que trata das interações verbais, foram
transcritos de forma padronizada, durante o processo de formulação das
hipóteses, explicação das evidências e conclusão do experimento entre os
participantes, de forma a reproduzir na íntegra as produções discursivas, ou
seja, os aspectos que compõem a linguagem oral, elementos estudados neste
trabalho.
A análise do discurso levou em consideração as sequências de
aulas observadas e registradas, a fim de identificar o padrão de
desenvolvimento do argumento, a estrutura linguística utilizada, assim como a
evolução das habilidades comunicativas pragmáticas e semânticas da
linguagem oral no processo de interação discursiva.
Para a análise da construção do argumento, foi utilizado o
modelo Padrão de Argumentação TAP (Toulmin´s Argument Pattern), proposto
por Stephen Toulmin (2006), que consiste na relação entre o fato ou dado até a
sua conclusão, ou seja, a racionalidade do argumento (NASCIMENTO &
VIEIRA, 2009).
Em relação ao aspecto semântico, este foi analisado
contextualmente, observando-se a habilidade dialógica e narrativo-discursiva,
no processo de formalização do argumento científico, tendo em vista as
pesquisas de Pires de Oliveira (2001), Befi-Lopes e Takiuchi (2000), Brito e
Taitson (2005) e, no que tange à apropriação do vocabulário científico, os
estudos de Carvalho (2013). Para a análise da habilidade pragmática, foram
considerados os pressupostos teóricos de Sternberg (2013) que abordam a
característica interativa da comunicação, no que trata dos Atos de Fala
preconizados por Searle (1975).
6.1 Análise e Discussão dos Dados
Antes de iniciar as atividades investigativas propriamente ditas,
a professora pesquisadora proporcionou aos alunos uma situação de interação
dialógica, com o intuito de averiguar o conhecimento prévio sobre o tema
63
microrganismos. Foi questionado a respeito das características básicas dos
seres vivos, ou seja, quando um ser é considerado vivo e o que significa a
palavra célula, assim como quais características os chamados microrganismos
possuem. Para identificar a fala da professora pesquisadora, foi empregada a
letra P, e para os alunos, a letra A, seguida da inicial de cada participante,
considerando os oito integrantes do grupo.
INTERAÇÃO:
P – O que é preciso ter para ser considerado ser vivo?
A – [Ter vida] (resposta coletiva).
A.E. – Ter célula.
P – O que vocês sabem sobre células?
A- [São microrganismos] (resposta coletiva).
P- Célula é um microrganismo?
A .E.- Não sei.
A.D. – É um pedaço do ser humano.
A. E.- É como fosse um pedaço do ser humano.
P- Todos os seres têm célula?
A – [Sim ] (resposta coletiva).
A.B. – O sangue têm célula também?
A.R. – O sangue... né, professora.
A. E.- O sangue é célula.
P- Todas as células são iguais?
A – [Não] ( resposta coletiva).
A.E.- Não. Cada uma tem uma composição diferente... um código ...não sei
explicar.
P- Todos os seres vivos nós podemos ver?
A. M. e E. - Não. Ácaros não têm como ver ...é muito pequeno.
A.R.– Bactérias, também.
A.E.- São invisíveis.
P – Quando ficamos doentes, gripados, o que poderia provocar a gripe?
A.M.– Ácaros.
A.E.- Transmissão de microrganismos.
A.D. – Microrganismos.
64
A. –R. As bactérias.
A. M. – Quantidade de bactérias no ar.
P – Agora, falando em microrganismos. Micro significa que são muito .....
A – [Pequenos] (resposta coletiva).
A.E.- Micróbios também ... são seres vivos pequenos.
P – Então podemos falar que bactérias são microrganismos?
A – [Sim ] (resposta coletiva).
P – Quais são os outros microrganismos que vocês se lembram?
A.R. – Aquelas larvas.... ((risos))
A.L.E. – Bactéria.
A.L.F. – Mosquito da dengue.
A. E. – Ele leva veneno.
A.R.– É uma bactéria contagiosa ((risos)).
P – Todo microrganismo faz mal para a saúde?
A .E.- Não. Tem ...esqueci o nome... ajuda... os anticorpos.
A.D. – É os lactobacilos.
A interação, como parte inicial da atividade investigativa,
retratou a importância de obter informações e considerou o conhecimento que
os alunos possuem em relação ao tema a ser investigado. Campos e Nigro
(2009) afirmam que, ao encontrarem sentido nas suposições, os estudantes
são capazes de estabelecer relações entre o que está na memória e as novas
informações com as quais são confrontados. Assim, o trabalho que visa à
aprendizagem deve focar o que o estudante tem a dizer, o que pensa, sua
perspectiva e qualquer outro conteúdo relacionado, para que possam
formalizar e ser responsáveis pela própria aprendizagem, concluem os autores.
Ao analisar as expressões orais dos alunos frente à etapa
interativa, pôde-se perceber que eles compreendem o que significa ser vivo,
porém não nomeiam as características que os definem. Quanto ao conceito de
microrganismos, reconhecem que se refere aos seres muito pequenos, mas
não conhecem a sua diversidade. Observou-se, também, que parte do grupo
interagiu entre si, completando a frase um do outro, porém não emitiram frases
estruturadas, apenas palavras com significados pontuais.
65
Considera-se que os estudantes necessitem de maior tempo
de interação, para que se familiarizem com o aspecto da abordagem
investigativa, ou seja, precisam de mais fatos, exemplos concretos para que
possam correlacionar o conceito e o significado do que sabem com o que está
sendo questionado. O fator motivador, segundo Sasseron (2013), pode ser o
estímulo eliciador do envolvimento e interação do aluno com a situação
apresentada, proporcionando o engajamento necessário para que ocorra a
efetiva aprendizagem.
Após a etapa de interação, a professora pesquisadora
apresentou o problema de estudo a ser discutido pelos alunos. Para melhor
analisar a produção linguística dos educandos na primeira fase, os turnos
foram subdivididos, tendo como referência a fala da professora pesquisadora.
INTERAÇÃO:
P – Será que em todo lugar existem bactérias, microrganismos? (Turno I)
A.R. – Na mão (colega) é que mais tem.
A.E. – No hospital principalmente... nas macas... no chão.... nos equipamentos
médicos.
A. L.E. – No banheiro.
A.E. – No ar.
A.D. – Aqui.
Problema proposto para a investigação:
P - Os microrganismos existem em qualquer parte do ambiente? Qual parte do
nosso corpo poderia existir microrganismos? (Turno II)
Nesse momento, todos os alunos participaram, indicando os
lugares possíveis onde poderiam ser encontrados os microrganismos.
A.E.- No coração, nos órgãos, testa.
A.M.- Nariz, no cabelo, orelha.
A.L. – No cabelo....no corpo inteiro
A.D.- Nos órgãos, pés, joelhos, Cabelo.
A. E., L. e D. – Boca, olho, pés.
A.D.- Braços.
A.R.,B.- No corpo inteiro.
66
A. D. – Até nas comidas.
A.L.F. – Boca, mão.
P- Por quê? ( Turno III)
A.R.,B.- Pelos lugares que a gente toca.
A.M. , L.E. e E. - Por que não limpa bem.
A. L.E. – Chego no meu amigo com a mão suja.
A.E. – Espirra na mão e cumprimenta o outro com a mão microbilizada.
A.L.F. e D. – Por que ficam espalhados pelo ar.
A. M. – Eu vou respirar e vai ficar tudo nos pelos do nariz.
A. D. – Não limpa bem a mão... falta de higiene...
P-Aqui na escola, aonde poderia ter mais microrganismos? (Turno IV)
A.E.- Na escola inteira, nas mesas da cozinha.
A.L.F. – No banheiro.
A.R.- No bebedouro, por causa das bactérias na nossa saliva.
A. M.- Vaso Sanitário. Por que tem aglomeração de gente.
A. L.E. – Onde bebe água.
A. D.- Onde tem mais pessoas.... no banheiro tem muitas pessoas que
passam.
P- Para a sobrevivência e multiplicação, precisa ter comida? (Turno V)
A – [Sim ] (resposta coletiva).
A.L.E. –Da decomposição de animais ... de animais mortos.
A.E.,R.,B.– Não limpam bem a mesa, passa pano mal passado... deixa comida
lá.
A. M. e R.,B. – O pessoal passa o pano por cima e não tira a sujeira direito, fica
comida.
A. D. e L. – Falta de higiene... cuidado... não limpa bem.
A. E. – Eu acho que não... o grilo... eu ouvi um buato que grilo nem tem boca...
ele vive um certo tempo....
P – E no nosso corpo, como a gente explica? (Turno VI)
A.D. e L. - Não limpa bem, fica em todos os cantos.
A.E.- Esfrega e não sai.
A. L.E.- Quando não escova direito o dente... assim... fica muita sujeira depois
que come.
A.M.- Elas se alimentam do que sobrou.
67
A. L.- ...É tipo a cárie.
A.L. -Animais em decomposição.... comidas.
A.E. – ...E os micróbios vão lá dentro por que sabem que tem um monte de
comida lá.
A.R. – Principalmente quem usa aparelho.
A. E. - ...Vai que uma pessoa tá com uma doença.... e vai espalhando...
Para a elaboração das hipóteses iniciais (Turnos I a VI), foi
necessária a mediação da professora pesquisadora, fazendo perguntas para
que conseguissem completar seu raciocínio preliminar, relacionando os
conhecimentos prévios com a questão levantada. Observa-se que, apesar de o
grupo interagir entre si, completando ou dando sentido à palavra um do outro,
fica clara a dificuldade em formular explicações estruturadas, no que se refere
aos aspectos semânticos e pragmáticos da linguagem oral. As produções são
evasivas, diretas, ou seja, a palavra exprime o significado de uma frase, de um
todo, como exemplificado nas verbalizações dos alunos relacionados nos
turnos I e II.
P – Será que em todo lugar existem bactérias, microrganismos? (Turno I)
A.R. – Na mão (colega) é que mais tem.
A. L.E. – No banheiro.
A. E. – No ar.
A.D.– Aqui.
P- Os microrganismos existem em qualquer parte do ambiente? Qual parte do
nosso corpo poderia existir microrganismos? (Turno II)
A.E.- No coração, nos órgãos, testa.
A.M.- Nariz, no cabelo, orelha.
A. L. – No cabelo....no corpo inteiro.
A. D.- Nos órgãos, pés, joelhos, cabelo.
A. E., L. e D. – Boca, olho, pés.
A.D.- Braços.
A.R.,B.- No corpo inteiro.
A.D.– Até nas comidas.
68
A.L.F. – Boca, mão.
Os alunos não se detiveram em maiores detalhes, apenas
responderam estritamente ao que foi perguntado. As frases curtas e o
vocabulário restrito não retrataram as respostas adequadamente. Tal situação
permite inferir, tendo como base os estudos de Sasseron (2013), que os alunos
não participaram da atividade, como esperado, pois não estavam familiarizados
com a metodologia de ensino por investigação, assim como, provavelmente
desconheciam as terminologias inerentes ao assunto abordado.
Tendo em vista a produção verbal limitada, a professora
pesquisadora continuou a questioná-los, levando-os a ponderar sobre a relação
dos microrganismos com o ambiente. Nos turnos III, IV, V e VI, verifica-se
pequena mudança na qualidade da resposta apresentada pelo grupo, no que
tange ao aspecto semântico da linguagem oral. Os estudantes tentam
empregar mais vocábulos na sua expressão linguística, procurando associar o
tema-chave (microrganismo) aos fatores nutrição e reprodução dos seres vivos
em estudo, como destacado nas transcrições dos turnos a seguir:
P- Por quê? ( Turno III)
A.R.,B.- Pelos lugares que a gente toca.
A.M. , L.E. e E. - Porque não limpa bem.
A.L.E. – Chego no meu amigo com a mão suja.
A.E. – Espirra na mão e cumprimenta o outro com a mão microbilizada.
A.L.F., D. – Porque ficam espalhados pelo ar.
A. M. – Eu vou respirar e vai ficar tudo nos pelos do nariz.
A. D.– Não limpa bem a mão... falta de higiene...
P-Aqui na escola, aonde poderia ter mais microrganismos? (Turno IV)
A. E.- Na escola inteira, nas mesas da cozinha.
A.L.F. – No banheiro.
A.R.- No bebedouro, por causa das bactérias na nossa saliva.
A. M.- Vaso Sanitário. Porque tem aglomeração de gente.
A. L.E. – Onde bebe água.
A .D.- Onde tem mais pessoas.... no banheiro tem muitas pessoas que
passam.
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P- Para a sobrevivência e multiplicação, precisa ter comida? (Turno V)
A – [Sim ] (resposta coletiva).
A. L.E. –Decomposição de animais ... de animais mortos.
A.E.,R.,B.– Não limpam bem a mesa, passa pano mal passado... deixa comida
lá.
A.E., M. e R.,B. – O pessoal passa o pano por cima e não tira a sujeira direito,
fica comida.
A. D. e L. – Falta de higiene... cuidado... não limpa bem.
A. E. – Eu acho que não... o grilo... eu ouvi um buato que grilo nem tem boca...
ele vive um certo tempo....
P – E no nosso corpo, como a gente explica? (Turno VI)
A. D. e L. - Não limpa bem, fica em todos os cantos.
A.E.- Esfrega e não sai.
A. L.E.- Quando não escova direito o dente... assim... fica muita sujeira depois
que come.
A.M.- Elas se alimentam do que sobrou.
A.L.- ... É tipo a cárie.
A.L.- .... Comidas.
A.E. – E os micróbios vão lá dentro por que sabem que tem um monte de
comida lá.
A.R. – Principalmente quem usa aparelho.
A. E. - ...Vai que uma pessoa tá com uma doença.... e vai espalhando.
Quanto ao aspecto pragmático, considerando a habilidade
comunicativa da linguagem, os alunos A.E., A. L.E., A.R., A.B. e A.M.
demonstram o ato de fala representativo, ao transmitirem a crença sobre a
origem e a manutenção dos seres vivos em determinados locais do ambiente e
do corpo, representados nos turnos III, IV, V e VI.
Sabe-se que existem outras classificações dos Atos de Fala,
como os atos diretivos, compromissivo, expressivo e declarativo, de acordo
com Sternberg (2013). Nesses turnos, porém, foi encontrados apenas o ato
representativo. Para a análise deste aspecto, foi utilizado o referencial
70
proposto por Sternberg (2013), conforme já ilustrado na Figura 1 deste
trabalho, seguido da especificação do turno, em que ocorreu a produção.
Quadro 01 – Quadro representativo dos Atos de Fala referente à proposição das hipóteses.
ATOS DE FALA DESCRIÇÃO (produção linguística do aluno) Turno
Representativo
A.E.- Espirra na mão e cumprimenta o outro com a mão microbilizada.
III
Representativo
A.R.- No bebedouro, por causa das bactérias na nossa saliva. A.E. – Vaso sanitário. Porque tem aglomeração de gente. A.M.- Na escola inteira, nas mesas da cozinha.
IV
Representativo
A.E.,L.E., R.,B.,M.- Não limpam bem a mesa, passa pano mal passado, deixa comida lá. A.E.- O pessoal passa o pano por cima e não tira a sujeira direito, fica comida...
... E os micróbios vão lá dentro porque sabem que tem um monte de comida lá.
V e VI
Fonte: Da pesquisa 2015
Em relação ao argumento, nos turnos I e II, os alunos citam
apenas os dados, não utilizando outros referenciais que estruturem a alegação,
portanto não constroem nenhuma explicação, como se pode observar no
quadro abaixo.
Quadro 02 – Análise do argumento, turno I e II.
Transcrição Elemento Estrutural- Modelo de Toulmin
Turno
A.R. – Na mão (colega) é que mais tem.
Dados I
A.E. ... nas macas... no chão.... nos equipamentos médicos.
Dados I
A. L.E. – No banheiro. Dados
I
A.D. – Aqui.
Dados I
A. E.- No coração, nos órgãos, testa. A. M.- Nariz, no cabelo, orelha. A. L. – No cabelo....no corpo inteiro. A. D.- Nos órgãos, pés, joelhos, cabelo. A. E., L. e D. – Boca, olho, pés. A. D.- Braços. A.R.,B.- No corpo inteiro. A. D. – Até nas comidas. A. L.F. – Boca, mão.
Dados
II
Fonte: Da pesquisa 2015.
71
Nos turnos III e IV, já é possível verificar, nas transcrições dos
alunos A.E., A.R. e A.M., a presença de elementos fundamentais para a
construção do argumento, porém a explicação oferecida não reflete a
organização do pensamento requerida para um argumento completo. Isso
significa que empregam apenas os dados e finalizam as suas alegações, sem
qualificações e garantias, não oferecendo validade ao argumento, segundo a
estrutura proposta por Toulmin (2006), representada nas Figuras 2 e 3.
Quadro 03 – Estrutura do argumento: Hipóteses, turnos III e IV.
Transcrição Elementos Estruturais-
Modelo de Toulmin
Turno
A.E. – Espirra na mão e
cumprimenta o outro com a mão
microbilizada.
Dados (espirra na mão);
Conclusão (assim-
cumprimenta o outro com a
mão microbilizada).
III
A. M. – Eu vou respirar e vai ficar
tudo nos pelos do nariz.
Dados (eu vou respirar);
Conclusão (portanto-vai ficar
tudo nos pelos do nariz). III
A.R.- No bebedouro, por causa das
bactérias na nossa saliva.
Dados (no bebedouro);
Conclusão (portanto-por
causa as bactérias na nossa
saliva).
IV
A. M.- Vaso Sanitário. Porque tem
aglomeração de gente
Dados (vaso sanitário);
Conclusão (portanto- porque
tem aglomeração de gente). IV
Fonte: Da pesquisa 2015
A estrutura do argumento, segundo o padrão proposto por
Toulmin (2006), já apresentado neste trabalho na Figuras 2 e 3, só é visto,
mesmo que em situação fragmentada, nos turnos V e VI, na fala de apenas
dois alunos que conseguiram apresentar esses indicativos, como exemplificado
a seguir:
72
Quadro 04 – Desenvolvimento da estrutura do argumento: Turnos V e VI. Transcrição Elementos Estruturais-
Modelo de Toulmin Turno
A.E.– Não limpam bem a mesa, passa pano mal passado... deixa comida lá.
Dados (Não limpam bem a mesa); Garantia (passa pano mal passado); Conclusão (portanto-deixa comida lá).
V
A.E., M. e R., B. – O pessoal passa o pano por cima e não tira a sujeira direito, fica comida.
Dados (o pessoal passa o pano por cima);Garantia (já que- não tira a sujeira direito); Conclusão (portanto-fica a comida).
V
A.E. – E os micróbios vão lá dentro por que sabem que tem um monte de comida lá.
Conclusão
VI
A.M.- Elas se alimentam do que sobrou.
Conclusão VI
Fonte: Da pesquisa 2015
Para melhor exemplificar, colocamos a comunicação dos
alunos seguindo o esquema de Toulmin, relacionado os elementos estruturais
a cada parte das construções dos argumentos proferidos:
Aluno E.
Não limpam bem a mesa (Dado)___________→ então ou portanto, os micróbios vão lá
↓ dentro porque sabem que tem um
monte de comida lá.(Conclusão)
Já que (desde que)
Passa pano mal passado
(garantia –W)
Aluno M.
O pessoal passa o pano por cima ___________ → e não tira a sujeira direito, fica
↓ comida. Portanto, elas se alimentam
do que sobrou (Conclusão).
Já que (desde que)
Não tira a sujeira direito (garantia –W)
Os alunos A.E. e M. apresentaram argumentos, segundo
Toulmin (2006), válidos, pois foram evidenciados os elementos necessários,
73
como os dados, conclusões e garantias. Na produção do Aluno M., observa-se
a presença de qualificador, que tem como função dar força, validade à garantia,
justificando a sua conclusão. Os demais educandos, no entanto, pronunciaram
somente os dados, não estruturando adequadamente o argumento.
Para finalizar a etapa desse primeiro encontro, foi solicitado
aos alunos que elencassem os ambientes na escola e em algumas partes do
corpo para que pudessem coletar amostras e realizar o cultivo dos prováveis
microrganismos nos recipientes e substâncias apropriadas. Cada amostra foi
condicionada em placas de Petri junto com a substância nutritiva (caldo de
carne), a fim de proporcionar o desenvolvimento dos seres vivos em questão,
presentes nos locais escolhidos.
No segundo encontro, após 3 dias, a pesquisadora retomou o
problema de pesquisa com o grupo e orientou os alunos a que reiterassem
suas hipóteses. Vale que, ressaltar que para fins de organização, foi dado
sequência aos turnos transcritos, desde o primeiro encontro dessa atividade,
tendo como base a fala da professora pesquisadora.
P – Qual é a pergunta que estamos procurando respostas? Qual é o problema
da nossa pesquisa? (turno VII)
A – [Sobre os microrganismos] (resposta coletiva)
P- Exatamente o quê? O que vocês querem saber sobre os microrganismos?
A – [Se existem micróbios em todos os ambientes]. (resposta coletiva)
A.R.- Do que eles se alimentam.
A. E., M., D.,L. – E em qual parte do nosso corpo existem microrganismos.
Pode-se perceber que os alunos demonstraram compreensão
sobre o que estavam realizando, ou seja, estabeleceram conexão entre o
problema e as possíveis explicações. De acordo com Sasseron (2013), a
retomada de ideias é uma estratégia eficiente, que auxilia o professor a
organizar as informações e alicerçar os dados que os alunos já possuem para
fomentar as discussões e construir os argumentos. Além disso, coopera para a
tomada de consciência sobre o problema e os dados à disposição.
Depois da retomada de ideias, foram orientados a relatarem
novamente as suas hipóteses. Nesse momento, a professora pesquisadora se
74
dirigiu aos alunos e explicou que cada um falaria sobre as hipóteses e que
essas seriam gravadas. Não houve objeções ao procedimento.
P- Agora, eu gostaria que cada um de vocês falasse sobre as hipóteses ou
possíveis explicações que formularam a respeito do nosso problema de
trabalho. (Turno VIII).
A. L.F. - É que o bebedouro que é um lugar público tem contato com muita
gente e daí fica muita bactéria lá.
A. M.- Eu levantei que deve ter bastante na boca, porque se a gente não
escova direito os dentes, os microrganismos que ficam lá ...se alimentam dos
restos que ...deixamos lá.
A.L. - A minha foi que as mãos, eu acho que tem maior quantidade de
bactérias, por causa que a gente usa tudo...como a caneta, ela cai no chão, a
gente pega com a mão....
A.D. -A minha hipótese da mão é por causa ... é que nós não podemos
enxergar os microrganismos e assim não sabemos onde eles estão
exatamente ... não podemos controlar, nós não estamos vendo eles.
Os demais alunos não quiseram ser gravados, porém verbalizaram as suas
hipóteses para que a professora pesquisadora as registrasse.
A. L. F.- Na boca, porque existe bactéria pelas coisas que colocamos lá, como
a comida. Na pia, porque lavamos as mãos sujas lá e o bebedouro porque é
público.
A.R.- Pela falta de higiene e uso aglomerado de pessoas.
A.B.- Pela falta de higiene e pelo uso de pessoas diversas.
A.E.- Pela falta de higiene em determinado local pode causar o acúmulo de
bactérias e microrganismos, no pé, por exemplo.
A. L.- Em todos os lugares, pela falta de higiene e aglomeração.
Nesta etapa, já é possível verificar a integração dos alunos
com a proposta da atividade. É a partir da elaboração das hipóteses que os
alunos podem formalizar suas ideias e organizar seu pensamento, assim como
argumenta Carvalho (2013). Tendo a oportunidade de testá-las, acabam por
reorganizar suas ideias.
75
Apesar de construírem sentenças que imprimem significado e
valores semânticos às suas afirmações, não se observou mudança no
vocabulário dos estudantes, pois continuaram a empregar os mesmos
vocábulos verificados nos turnos anteriores. O que se percebe é o rearranjo
dos termos nas construções de frases mais estruturadas, como pode ser visto
nas transcrições das falas dos Alunos E. e M., no turno VIII, respectivamente: ¨
Pela falta de higiene em determinado local pode causar o acúmulo de bactérias
e microrganismos, no pé, por exemplo.¨; ¨ Eu levantei que deve ter bastante na
boca, porque, se a gente não escova direito os dentes, os microrganismos que
ficam lá ... se alimentam dos restos que ...deixamos lá.¨
Segundo Pires de Oliveira (2001), a construção dos
significados é uma questão da capacidade cognitiva em geral e a linguagem é
a manifestação do que aprendemos no decorrer da nossa trajetória, refletindo o
nosso modo de pensar e interagir com o meio.
Quanto ao uso da linguagem, notamos um novo ato de fala, o
declarativo, em uma das produções do turno VIII, além do ato representativo,
que aparece na maioria das representações linguísticas dos alunos descritos
no Quadro 5, a partir do referencial proposto por Sternberg (2013).
Quadro 05 – Atos de Fala: Reiteração das hipóteses, turno VIII.
ATOS DE FALA DESCRIÇÃO (produção linguística do aluno) Turno
Representativo A. L.F. - É que o bebedouro que é um lugar público tem contato com muita gente e daí fica muita bactéria lá.
VIII
Representativo
A.D. -A minha hipótese da mão é por causa ... é que nós não podemos enxergar os microrganismos e assim não sabemos
onde eles estão exatamente ... não podemos controlar, nós não estamos vendo eles.
VIII
Representativo A.B.- Pela falta de higiene e pelo uso de pessoas diversas. VIII
Representativo A. L. F.- Na boca, porque existe bactéria pelas coisas que
colocamos lá, como a comida. Na pia, porque lavamos as mãos sujas lá e o bebedouro porque é público.
VIII
Representativo A.R.- Pela falta de higiene e uso aglomerado de pessoas.
VIII
Representativo
A.E.- Pela falta de higiene em determinado local pode causar o acúmulo de bactérias e microrganismos, no pé, por exemplo.
VIII
Representativo
A.L.- Em todos os lugares, pela falta de higiene e aglomeração.
VIII
Declarativo
A. M.- Eu levantei que deve ter bastante na boca, porque, se a gente não escova direito os dentes, os microrganismos que
ficam lá ...se alimentam dos restos que ...deixamos lá.
VIII
Fonte: Da pesquisa 2015
76
O ato declarativo segundo Sternberg (2013) faz menção a uma
nova situação, ou seja, o próprio ato de fazer uma afirmação resulta em uma
nova condição, como a indicada pelo aluno M. ao declarar que, se não
escovarmos direito os dentes, esses ficarão sujos e fornecerão alimento às
bactérias. Isso significa que o aumento do número de bactérias na boca resulta
da nossa falta de higiene.
O Ato de Fala representativo, por sua vez, transmite a
afirmação como verdadeira, a fim de convencer o ouvinte de sua veracidade.
Como exemplo, tem-se a fala do aluno E., que afirma que o acúmulo de
bactérias e microrganismos no pé é causado pela falta de higiene.
Em relação à estrutura do argumento, no turno VIII, alguns
estudantes utilizaram elementos, como os dados, garantias, qualificadores,
conclusões e até mesmo termos que fazem menção ao conhecimento básico,
na tentativa de afirmar suas hipóteses iniciais, mesmo ainda não tendo
analisado as suas evidências e chegado à conclusão final. Isso nos leva a crer
que, a partir de seus conhecimentos anteriores e da discussão com os colegas,
houve uma delimitação das informações, o que possibilitou, para alguns,
organizar o pensamento e formular hipóteses embasadas em previsões,
prontas para serem testadas, como já visto no trabalho de Sasseron e Carvalho
(2011).
As produções foram analisadas seguindo os mesmos
parâmetros anteriores, ou seja, exemplificadas em turno, considerando os
elementos estruturais referidos na teoria de Toulmin (2006).
Quadro 06 – Estrutura do argumento: Turno VIII, hipóteses finais. Transcrição Elementos Estruturais-
Modelo de Toulmin Turno
A. L.F. - É que o bebedouro que é um lugar público tem contato com muita gente e daí fica muita bactéria lá.
Dados (...o bebedouro);Garantia (já que- é um lugar público...);Qualificador (provavelmente-tem contato com muita gente); Conclusão (portanto-...fica muita bactéria lá).
VIII
77
A. M.- Eu levantei que deve ter bastante na boca, porque se a gente não escova direito os dentes, e os microrganismos que ficam lá ...se alimentam dos restos que ...deixamos lá.
Dados (...na boca); Qualificador (provavelmente-...não escova direito...); Garantia (já que-...a gente não escova direito os dentes); Conclusão (portanto- os microrganismos que ficam lá... se alimentam dos restos que... deixamos lá).
VIII
A.L.E. - A minha foi que as mãos, eu acho que tem maior quantidade de bactérias, por causa que a gente usa tudo...como a caneta, ela cai no chão, a gente pega com a mão....
Dados (...as mãos); Qualificador(eu acho (provavelmente) que tem maior quantidade de bactérias); Conclusão (por tanto-por causa que a gente usa tudo...); Garantia (ela cai no chão, a gente pega com a mão...).
VIII
A.D. -A minha hipótese da mão é por causa ... é que nós não podemos enxergar os microrganismos e assim não sabemos onde eles estão exatamente ... não podemos controlar, nós não estamos vendo eles.
Dados (...mão); Qualificador (...nãopodemos...); Justificativa (não podemos enxergar os microrganismos...);Conclusão (assim não sabemos onde eles estão exatamente...); Qualificador ( exatamente); Garantias (não podemos controlar, nós não estamos vendo eles); Conhecimento básico (nós não estamos vendo eles).
VIII
A. L. F.- Na boca, porque existe bactéria pelas coisas que colocamos lá, como a comida. Na pia, porque lavamos as mãos sujas lá e o bebedouro porque é público.
Dados (Na boca); Conclusão (porque existe bactéria pelas coisas que colocamos lá);Dados ( como a comida). Dados ( Na pia); Conclusão (porque lavamos as mãos sujas lá); Dados ( o bebedouro); Conclusão (porque é público).
VIII
A.R.- Pela falta de higiene e uso aglomerado de pessoas.
Dados
VIII
A.B.- Pela falta de higiene e pelo uso de pessoas diversas.
Dados
VIII
A.E.- Pela falta de higiene em determinado local pode causar o acúmulo de bactérias e microrganismos, no pé, por exemplo.
Dados (Pela falta de higiene em determinado local); Conclusão (pode causar acúmulo de bactérias e microrganismos); Dado (no pé.
VIII
78
A. L.- Em todos os lugares, pela falta de higiene e aglomeração.
Dados (Em todos os lugares); Conclusão (pela falta de higiene e aglomeração).
VIII
Fonte: Da pesquisa 2015
As comunicações, apesar de contarem com os elementos
estruturais propostos por Toulmin, não evidenciaram argumentos claros no que
se espera da ordem e do uso dos elementos que configuram os
acontecimentos. Pode-se observar que os alunos R. e B. limitam-se aos dados,
enquanto os alunos E. e L. utilizam os dados e a conclusão. Os argumentos
que apresentam estrutura mais adequada, em relação aos anteriores, são
proferidos pelos alunos M., D., L.F. e L.E.. O aluno D. apresenta ideias mais
claras ao proferir uma nova hipótese, estruturada com mais elementos que dão
suporte a sua alegação, conforme se demonstra a seguir:
Aluno L.F
O bebedouro (Dado) ___________→ tem contato com muita gente (Q), portanto fica
↓ com muita bactéria lá (Conclusão)
Já que é um lugar público
(Garantia- W)
Aluno M.
Deve ter bastante na boca (Dado)________→ se a gente não escova direito (Q), assim,
↓ os microrganismos se alimentam dos
restos que deixamos lá (Conclusão)
Já que
não se escova direito os dentes
(Garantia – W)
Aluno L.E.
Nas mãos (Dado) __________→tem maior quantidade de bactérias (Q), pois, portanto
↓ a gente usa tudo, como a caneta (Conclusão)
Já que ela cai no chão, a gente pega com a mão
(Garantia –W)
79
Aluno D.
Na mão (Dado) ______→nós não podemos enxergar (Q), portanto, assim não sabemos
↓ onde eles estão (Conclusão).
Já que
nós não sabemos onde eles estão não podemos controlar
(Garantia – W)
↓
Por conta que
Não estamos vendo (Conhecimento Básico – B).
Para dar continuidade, ainda, à segunda etapa, os alunos
foram orientados a examinar as placas de Petri com as culturas e relatar as
evidências observadas. Percebeu-se grande motivação e interesse em
visualizá-las. Demonstraram curiosidade e logo iniciaram suas discussões
sobre o que estava acontecendo com as amostras. As transcrições foram
classificadas como turno IX.
A. M.- Nas partes que são públicas tem mais, porque vão passando germes e
germes e eles vão ficando mais fortes. Daí, tipo na boca, se eu cuidar bem, daí
quase não tem germes.
P- Quais são as partes públicas?
A. M.- O vaso e a pia.
A. E. – O vaso foi o mais sujo, porque é lá que o ser humano deposita a pior
parte...é quando ele come uma comida o organismo vai filtrando, é lá que fica a
parte ruim.
A. E.- São bastante microrganismos.
A.D.- Uma colônia.
A. L.E.- ...De bactérias.
A. E. e D. – Bactérias e fungos.
A. D.- Os locais públicos que bastante gente usa fica com mais
microrganismos, diferente das partes do corpo que tipo, que é só que você tem
contato, sua mão. É diferente quando muitas pessoas usam, algumas pessoas
fazem higiene desses locais diariamente.
A. L.E.- Que os lugares mais públicos, que as pessoas mais usam, na escola,
como o vaso e a pia, as bactérias e os microrganismos ficam mais localizados
80
lá. A boca foi dito que era um dos lugares que mais tinham, foi diferente, por
causa se a boca se cuidar, ficar bem tratado, tem menos. O pé ficou mais ou
menos e o pé também ficou mais ou menos, o que ficou com mais
microrganismo foram a pia e o vaso.
A.B.- Eles lavam o banheiro todo o dia e fica cheio de bactérias.
A. M.- Eles passam Q-boa e não deixam a gente sair para usar o banheiro.
A.B.- Na pia eu acho que fica assim, porque a gente vai lavando a mão e as
bactérias vão saindo e ficando nos cantinhos.
A. D.- Vão se aglomerando, as bactérias que vão saindo da mão vão se
aglomerando ali.
A. M.- Eles lavam e torcem o pano na pia e enche de bactérias.
A.B. – No cabelo, se deixar água parada pode dar bactéria. Mesmo secando no
secador, fica úmido e pode dar bactéria.
A.D.-O pé e a mão suja tem bactérias.
A. D. e Leo- parece gordura também.
A.R.- Por que fica esse cheiro? Aqui nesse pote não tem pontinhos, mas tem
esse cheiro (aluna se refere ao pote de controle).
A. L.E. – O cheiro é do caldo de carne e da gelatina.
Nesse turno, os alunos L.E., D. e E. apresentaram discursos
coerentes com a etapa da ação investigativa. Nota-se que discorreram sobre
suas evidências, tentando formular explicações a respeito das prováveis
causas que levaram à multiplicação dos microrganismos nos locais escolhidos.
Nesse contexto, os alunos atribuíram novos significados ao seu repertório
linguístico, associando o que observaram com os valores semânticos que
apropriaram no decorrer da aprendizagem. Vocábulos, como colônia, germes e
fungos, pontuaram a ligação entre compreensão e uso de novos conceitos na
linguagem expressiva dos alunos.
Quanto ao aspecto pragmático, os mesmos atos de fala,
representativo e declarativo, foram empregados pelos alunos E., D., R. e L.E.,
evidenciando a forma como utilizam a sua linguagem para afirmar suas
hipóteses, referenciando conceitos que se estruturam à medida que
compartilham suas informações durante os debates que ocorrem no grupo.
Carvalho (2013) aponta que a facilidade de expor as ideias entre colegas, em
uma discussão, possibilita a construção do conhecimento, considerando que as
81
características semelhantes de desenvolvimento intelectual facilitam a
comunicação.
A aluna R., no entanto, usa a sua fala para expressar uma
diretiva, isto é, busca informações, através de uma pergunta para solucionar o
dado observado. Sternberg (2013) cita que a sentença estruturada em forma
de pergunta, provavelmente, possui função diretiva, supondo-se que a forma
de expressão leve o outro a prestar esclarecimento ou ajuda na resolução da
questão. Tal fato confirma-se na resposta obtida com a diretiva, como mostra a
transcrição. Pergunta: ¨ A.R.- Por que fica esse cheiro? Aqui nesse pote não
tem pontinhos, mas tem esse cheiro (aluna se refere ao pote de controle);
resposta: A. L.E.– O cheiro é do caldo de carne e da gelatina.
O Quadro 7 identifica as comunicações e seus respectivos atos
de fala no turno IX, conforme Sternberg (2013):
Quadro 07 – Atos de Fala: Relato das evidências, turno IX. ATOS DE FALA DESCRIÇÃO (produção linguística do aluno) Turno
Representativo
A. E. – O vaso foi o mais sujo, porque é lá que o ser humano deposita a pior parte...é quando ele come uma comida o organismo vai filtrando, é lá que fica a parte ruim. A. D.- Os locais públicos que bastante gente usa fica com mais microrganismos, diferente das partes do corpo que tipo, que é só que você tem contato, sua mão. É diferente quando muitas pessoas usam, algumas pessoas fazem higiene desses locais diariamente. A.B.- Eles lavam o banheiro todo o dia e fica cheio de bactérias. A. L.E. – O cheiro é do caldo de carne e da gelatina.
IX
Diretivo
A.R.- Por que fica esse cheiro? Aqui nesse pote não tem pontinhos, mas tem esse cheiro (aluna se refere ao pote de controle).
IX
Declarativo
A. M.- Nas partes que são públicas tem mais, porque vão passando germes e germes e eles vão ficando mais fortes. Daí, tipo na boca, se eu cuidar bem, daí quase não tem germes. A. L.E.- Que os lugares mais públicos, que as pessoas mais usam, na escola, como o vaso e a pia, as bactérias e os microrganismos ficam mais localizados lá. A boca foi dito que era um dos lugares que mais tinham, foi diferente, por causa se a boca se cuidar, ficar bem tratado, tem menos. O pé ficou mais ou menos e o pé também ficou mais ou menos, o que ficou com mais microrganismo foram a pia e o vaso.
IX
Fonte: Da pesquisa 2015
82
Estruturalmente, no turno IX, podemos observar o
aprimoramento da organização e a síntese de pensamento de determinados
alunos. Mesmo tendo erros de ordem sintática, a expressão toma proporções
mais coerentes e facilita a compreensão do ouvinte a respeito do
problema que se busca resolver. Verificam-se elementos estruturais, além dos
qualificadores, dos refutadores (R) e dos conhecimentos básicos (B), que
representam o entendimento do aluno e a busca por explicações mais
detalhadas sobre as evidências coletas. Segundo Valle e Motokane (2000, p.8)
¨a presença de refutadores, assim como a de qualificadores indica em geral um
maior domínio do sujeito sobre o assunto tratado na questão, pois nesse caso
além de justificá-la, ele é capaz de explicitar em que condições tal conclusão
não tenha validade¨.
O Quadro 8, seguindo o modelo organizacional adotado neste
trabalho, mostra as transcrições verbais dos educandos, delimitando os
elementos que tornam o argumento estruturado, conforme Toulmin (2006).
Quadro 08 – Estrutura do argumento: Turno IX Transcrição Elementos Estruturais- Modelo
de Toulmin Turno
A. M.- Nas partes que são públicas tem mais, porque vão passando germes e germes e eles vão ficando mais fortes. Daí, tipo na boca, se eu cuidar bem, daí quase não tem germes.
Dados (nas partes que são públicas); Qualificador (provavelmente- tem mais); Garantia (já que- eles vão ficando mais fortes); Conclusão (portanto -porque vão passando germes...); Refutador ( a menos que- se eu cuidar bem, daí quase não tem germes.)
IX
A. E. – O vaso foi o mais sujo, porque é lá que o ser humano deposita a pior parte...é quando ele come uma comida o organismo vai filtrando, é lá que fica a parte ruim.
Dados (O vaso foi o mais sujo); Qualificador (...mais sujo...); Garantia (já que- ele come uma comida o organismo vai filtrando...); Conhecimento Básico (por conta- é lá que fica a parte ruim); Conclusão (portanto-... porque é lá que o organismo deposita a pior parte.).
IX
83
A.D.-Os locais públicos que bastante gente usa fica com mais microrganismos, diferente das partes do corpo que tipo, que é só que você tem contato, sua mão. É diferente quando muitas pessoas usam, algumas pessoas fazem higiene desses locais diariamente.
Dado (os locais públicos); Qualificador (que bastante gente usa); Garantia (já que- diferente das partes do corpo que tipo, que é só que você tem contato, sua mão); Conclusão ( portanto- fica com mais microrganismos); Conhecimento Básico (por conta de que- É diferente quando muitas pessoas usam); Refutação (a menos que -algumas pessoas fazem higiene desses locais diariamente).
IX
A.L.E.- Que os lugares mais públicos, que as pessoas mais usam, na escola, como o vaso e a pia, as bactérias e os microrganismos ficam mais localizados lá. A boca foi dito que era um dos lugares que mais tinham, foi diferente, por causa se a boca se cuidar, ficar bem tratado, tem menos. O pé ficou mais ou menos e o pé também ficou mais ou menos, o que ficou com mais microrganismo foram a pia e o vaso.
Dado (... os lugares mais públicos); Qualificador (que as pessoas mais usam...); Garantias (já que-as pessoas mais usam...);Conhecimento Básico (por conta que - O pé ficou mais ou menos e o pé também ficou mais ou menos, o que ficou com mais microrganismo foram a pia e o vaso.); Conclusão (portanto- as bactérias e os microrganismos ficam mais localizados lá); Dado (a boca); Qualificador-Conclusão (portanto-um dos lugar que mais tinham);Refutação (a menos que- se a boca se cuidar, ficar bem tratado, tem menos).
IX
A. M.- Eles passam Q-boa e não deixam a gente sair para usar o banheiro.
Dados (Eles passam Q-boa...); Conclusão (assim-não deixam a gente sair para usar o banheiro.)
IX
A.B.- Na pia eu acho que fica assim, porque a gente vai lavando a mão e as bactérias vão saindo e ficando nos cantinhos.
Dado (Na pia); Garantia ( já que-...ficando nos cantinhos);Conclusão (portanto -porque a gente vai lavando a mão e as bactérias vão saindo).
IX
A. M.- Eles lavam e torcem o pano na pia e enche de bactérias.
Dados (Eles lavam e torcem o pano na pia); Conclusão (portanto-enche de bactérias.)
IX
84
A.B. – No cabelo, se deixar água parada pode dar bactéria. Mesmo secando no secador, fica úmido e pode dar bactéria.
Dados (No cabelo); Qualificador (se deixar); Garantia ( desde que- deixar água parada);Conhecimento Básico (Por conta que- Mesmo secando no secador, fica úmido e pode dar bactéria.); Conclusão (portanto-pode dar bactéria).
IX
A.D.- Vão se aglomerando, as bactérias que vão saindo da mão vão se aglomerando ali.
Dados (Vão se aglomerando, as bactérias); Conclusão (portanto- vão saindo da mão vão se aglomerando ali.).
IX
A.D.-O pé e a mão suja tem bactérias.
Dados IX
A.R.- Por que fica esse cheiro? Aqui nesse pote não tem pontinhos, mas tem esse cheiro (aluna se refere ao pote de controle).
Dados (Aqui nesse pote não tem pontinhos); Conclusão ( mas tem esse cheiro).
IX
A.L. – O cheiro é do caldo de carne e da gelatina.
Dados
IX
Fonte: Da pesquisa 2015
Os argumentos proferidos pelos alunos M., E., D., L.E. e B.
estão destacados abaixo, por apresentarem novos elementos que os tornaram
estruturalmente mais qualificados, segundo o padrão proposto por Toulmin.
Observa-se que o aluno M. apresenta, além dos dados, da garantia e da
conclusão, o qualificador e o refutador, enquanto os alunos D. e L.E. utilizam
todos os elementos estruturais, como o qualificador, refutador e o
conhecimento básico. A presença de qualificadores e de elementos que
apoiem as justificativas, como o conhecimento básico, vistos também nos
argumentos dos alunos E. e B., segundo Valle e Motokane (2000), indica em
geral um maior domínio dos sujeitos sobre o assunto proposto no problema,
pois, além de justificá-lo, é capaz de explicitar em que condições tal asserção
tem validade e podem concluí-lo com argumentos válidos.
85
Aluno M:
Nas partes que são públicas (Dado) ________→provavelmente tem mais (Q),assim,vão
↓ passando germes e germes (C).
Já que ↓
Vão ficando mais fortes A menos que
(W) se eu cuidar bem, daí quase
não tem germes.(R)
Aluno E.
O vaso (Dado)______→provavelmente o mais sujo (Q), portanto, é lá que o ser humano
Deposita a pior parte (C).
↓
Já que (W)
O organismo vai filtrando o que come
↓
Por conta de que (B)
É lá que fica a parte ruim
Aluno D.
Os locais públicos (Dado)_______→provavelmente fica com mais microrganismos (Q),
portanto, diferente das partes do corpo, que só você
↓ tem contato.(C) ↓
Já que (W) A menos que (R)
É só você que tem contato, tipo a boca façam higiene
↓ diariamente.
Por conta de que (B)
É diferente quando muitas pessoas usam
Aluno L.E.
Os lugares mais públicos (Dados)_____→provavelmente, as pessoas usam mais (Q),
assim, os microrganismos se localizam lá.(C)
↓
Desde que (W)
O vaso e a pia as pessoas usam mais
↓
Por conta que (B)
a pia e o vaso ficaram com mais microrganismos.
Ainda...
86
A boca (Dado)_______→provavelmente, o lugar que mais tinha (Q), portanto, foi
diferente (C).
↓
A menos que (R)
Que se cuidar, ficar bem tratado, terá menos.
Aluno B.
No cabelo (Dado)____________→provavelmente, se deixar água parada (Q), portanto,
↓ pode dar bactéria (C).
Já que (W)
Mesmo secando no secador fica úmido
↓
Por conta que (B)
Pode dar bactéria.
Para dar sequência ao processo de investigação, a professora
pesquisadora iniciou a 3ª etapa solicitando aos alunos que observassem e
analisassem novamente suas amostras, a fim de detectarem mudanças em
relação à observação anterior, realizada há 3 dias. Em seguida, como o
recurso científico, o grupo recebeu um texto contendo informações sobre os
microrganismos, que serviu de apoio para a formalização das explicações
finais. Essa terceira etapa, em que os educandos apenas verbalizaram suas
conclusões, argumentando sobre as hipóteses iniciais, ou seja, confirmando ou
não o local de maior concentração de microrganismos no ambiente e no corpo
humano.
As transcrições, desta fase, correspondem ao turno X, que
contempla as respostas dos 5 alunos que atenderam à solicitação da
professora pesquisadora em relação à nova observação das evidências. O
turno XI, por sua vez, diz respeito à conclusão final da investigação. Vale
ressaltar que, para a análise dos aspectos semânticos, pragmáticos e da
estrutura do argumento, foi utilizada a mesma organização textual,
identificando os turnos correspondentes.
P- Pessoal, observem novamente as suas amostras. Será que ocorreu alguma
mudança?
A. M. – Eu acho que eles se reproduziram bastante.
87
A.E. – Deu até uma mudada de cor... estava mais branca.
A. M. – É mesmo.
A.L.F. – Eu achei que não mudou nada
P- Continuam com as mesmas características?
A.L.F. – É.
P- E as meninas, mudou alguma coisa?
A.R. – Não deu muito tempo de evoluir mais.
A. D. – Eu achei que não mudou muita coisa, algumas partes do corpo... por
causa que... não passou muito tempo.... e não se reproduziu muito. Só o vaso
que eu percebi que aumentou um pouco, pois a reprodução é contínua.
O turno XI identifica as transcrições referentes à conclusão do experimento.
P – Quais foram as suas conclusões em relação ao nosso problema de
pesquisa, sobre a existência dos microrganismos, os ambientes que existem
microrganismos (que são encontrados) e qual parte do nosso corpo tem
microrganismos.
A. L. F. – Em qualquer lugar pode ter microrganismo, só precisa ter alimento
para se reproduzir, como em qualquer lugar dessa mesa, por exemplo, em
nosso cabelo em nossas mãos, em todo lugar. São os fungos, as bactérias e
muitos outros.
A. M. – No vaso, na pia e no pé apresentou esporângios, fungos e que eles se
reproduzem por que tem alimento. E as bactérias também, elas se reproduzem
e formam colônias.
P – Nestes ambientes que vocês escolheram apresentam microrganismos?
A – Sim. (resposta coletiva)
A. D. e E. – Isso foi comprovado cientificamente.
A. L.E. – E nem todos os microrganismos fazem mal a nossa saúde. Existem
uns que são usados na fabricação de jeans e remédios.
A. M. – Tem uns que se acumulam e formam plásticos.
A. E. – Os microrganismos se multiplicam no lugar onde habitam, retirando
toda comida, principalmente na pele humana. Tem alguns nocivos que
provocam doenças e outros não, como os anticorpos.
A. D. – E eles se reproduzem muito rápido. Nós não podemos ver eles, em
qualquer lugar que a gente relar pode pegar, então pode prejudicar o ser
humano, todo lugar tem, alguns mais que os outros, dependendo do lugar...
88
lugar público. Lugar menos usado ou mais cuidado, como as partes do corpo
tem menos microrganismos nocivos.
A. D. – Percebi que no pote de controle não tem microrganismos, não tem
pontos pretos e bolor, acho que foi muito bem tampado, então, os micróbios
não entraram.
A. M. –Eles se reproduzem rápido....Meu avô come a carne do osso e o usa
como apoio em vez da faca.... fica com a mão engordurada e ele só da uma
lavadinha e fica muita bactéria ali....
A. E. –Não precisa dar uma lavadinha para tirar a gordura, ela precisa de um
produto especial para tirar a gordura e a gordura é o principal alimento que os
microrganismos necessitam para se reproduzir.
A. D. – E não é só isso... e as pessoas só lavam quando está sujo e agente
não vê as bactérias, então elas se reproduzem com facilidade. A falta de
limpeza, de higiene serve de alimento para os microrganismos se
reproduzirem.
A. E. – E no vaso tinha muitos pontinhos pretos, acredito ser as colônias de
bactérias.
A. L.E. – E nesses lugares que tem bastante alimento elas conseguem se
reproduzir com facilidade, como o vaso, pia, cabelo, mão, pé. O cheiro ruim de
suor indica que as bactérias estão ali.
A. M.– Os fungos e as bactérias se reproduzem absorvendo todo os nutrientes
que tem nesses lugares em que nós encontramos, na pia, no vaso, no pé. As
bactérias ficam e se desenvolvem onde tem alimento.
A. L.E.- Os lugares que a gente pensou que tinha, foi comprovado que tem, no
vaso, pia, no nosso corpo, cabelo, mão, pé. Os lugares que mais apresentaram
foram o vaso e a pia, vimos que em todo lugar tem bactérias e fungos.
A. E. – O banheiro praticamente inteiro tem bactéria.
A.R.- Os fungos absorvem o alimento que estão nos ambientes e se
reproduzem. No vaso, por exemplo, as bactérias se alimentam da sujeira que
tem ali e se reproduzem. (a aluna não quis que a professora gravasse a sua
conclusão).
Observa-se que os estudantes compreenderam os objetivos da
atividade, ao relacionarem o problema proposto para a investigação com os
89
processos que o emolduraram. Executaram cada passo, desde a formulação
das hipóteses, a organização do método de trabalho, a observação e análise
das evidências, a leitura de texto científico às explicações de suas conclusões,
cooperando uns com os outros, dividindo informações e discutindo entre eles.
É importante apontar a melhora gradual na qualidade de
respostas, no que tange à organização e à estrutura de linguagem, tornando-a
clara e competente. Os alunos apresentaram a princípio verbalizações simples,
pouco estruturadas e diretas, como observado no turno X:¨ Eu acho que eles
se reproduziram bastante¨;¨ deu até uma mudada de cor... estava mais
branca¨; ¨ é mesmo¨;¨eu achei que não mudou nada¨.
No decorrer desse encontro, precisamente no turno XI, já foi
possível verificar o emprego de termos que propuseram significação ao
conteúdo trabalhado, revelando a apropriação de novos conhecimentos.
Valores semânticos foram atribuídos à expressão linguística dos educandos.
Dessa forma conseguiram relatar suas evidências elucidando-as com mais
detalhes e propondo explicações plausíveis, com o uso de vocábulos inerentes
ao conhecimento científico específico do tema trabalhado, ou seja, os
microrganismos, como mostra a transcrições dos alunos E., D., L.F.,M.
escolhidas como exemplos: ¨ Os microrganismos se multiplicam no lugar onde
habitam, retirando toda comida, principalmente na pele humana. Tem alguns
nocivos que provocam doenças e outros não, como os anticorpos.¨; ¨ Percebi
que no pote de controle não tem microrganismos, não tem pontos pretos e
bolor, acho que foi muito bem tampado, então, os micróbios não entraram¨;¨Em
qualquer lugar pode ter microrganismo, só precisa ter alimento para se
reproduzir, como em qualquer lugar dessa mesa, por exemplo, em nosso
cabelo em nossas mãos, em todo lugar. São os fungos, as bactérias e muito
outros.¨;¨Os fungos e as bactérias se reproduzem absorvendo todo os
nutrientes que tem nesses lugares em que nós encontramos, na pia, no vaso,
no pé. As bactérias ficam e se desenvolvem onde tem alimento¨.
A relação semântica entre o conceito e o significado, ou seja, o
sentido atribuído ao vocábulo em um determinado contexto, pode ser verificada
no argumento estruturado dos integrantes do grupo, em especial dos alunos D.
e M., que, além de utilizarem vocábulos refinados, agregaram os Atos de Fala
declarativo e representativo para afirmar e convencer os outros colegas e a
90
professora sobre da solução encontrada para o problema proposto para a
pesquisa, como podemos visualizar, junto com as demais transcrições dos
turnos X e XI, no Quadro 9, seguindo a organização proposta por Sternberg
(2013), na Figura 1 , deste trabalho.
Quadro 09 – Atos de fala: Turnos X e XI- conclusão do experimento.
ATOS DE FALA DESCRIÇÃO (produção linguística do aluno) Turno
Representativo
A. M. – Eu acho que eles se reproduziram bastante. A. D. – Eu achei que não mudou muita coisa, algumas partes do corpo... por causa que... não passou muito tempo.... e não se reproduziu muito. Só o vaso que eu percebi que aumentou um pouco, pois a reprodução é contínua.
X
Representativo
A. L.E. – E nem todos os microrganismos fazem mal a nossa saúde. Existem uns que são usados na fabricação de jeans e remédios. A. M. – Tem uns que se acumulam e formam plásticos. A.E. – Os microrganismos se multiplicam no lugar onde habitam, retirando toda comida, principalmente na pele humana. Tem alguns nocivos que provocam doenças e outros não, como os anticorpos. A.D. – Percebi que no pote de controle não tem microrganismos, não tem pontos pretos e bolor, acho que foi muito bem tampado, então, os micróbios não entraram. A.M. –Eles se reproduzem rápido....Meu avô come a carne do osso e o usa como apoio em vez da faca.... fica com a mão engordurada e ele só da uma lavadinha e fica muita bactéria ali.... A. E. – E no vaso tinha muitos pontinhos pretos, acredito ser as colônias de bactérias. A. L.E. – E nesses lugares que tem bastante alimento elas conseguem se reproduzir com facilidade, como o vaso, pia, cabelo, mão, pé. O cheiro ruim de suor indica que as bactérias estão ali. A. M. – Os fungos e as bactérias se reproduzem absorvendo todo os nutrientes que tem nesses lugares em que nós encontramos, na pia, no vaso, no pé. As bactérias ficam e se desenvolvem onde tem alimento. A. L.E.- Os lugares que a gente pensou que tinha, foi comprovado que tem, no vaso, pia, no nosso corpo, cabelo, mão, pé. Os lugares que mais apresentaram foram o vaso e a pia, vimos que em todo lugar tem bactérias e fungos. A. E. – O banheiro praticamente inteiro tem bactéria. A.R.- Os fungos absorvem o alimento que estão nos ambientes e se reproduzem. No vaso, por exemplo, as bactérias se alimentam da sujeira que tem ali e se reproduzem.
XI
Declarativo
A. L. F. – Em qualquer lugar pode ter microrganismo, só precisa ter alimento para se reproduzir, como em qualquer lugar dessa mesa, por exemplo, em nosso cabelo em nossas mãos, em todo lugar. São os fungos, as bactérias e muitos outros. A.M. - No vaso, na pia e no pé apresentou esporângios, fungos e que eles se reproduzem por que tem alimento. E as bactérias
XI
91
também, elas se reproduzem e formam colônias. A. D. – E eles se reproduzem muito rápido. Nós não podemos ver eles, em qualquer lugar que a gente relar pode pegar, então pode prejudicar o ser humano, todo lugar tem, alguns mais que os outros, dependendo do lugar... lugar público. Lugar menos usado ou mais cuidado, como as partes do corpo tem menos microrganismos nocivos. A. D.– e não é só isso... e as pessoas só lavam quando está sujo e agente não vê as bactérias, então elas se reproduzem com facilidade. A falta de limpeza, de higiene serve de alimento para os microrganismos se reproduzirem.
Fonte: Da pesquisa 2015
É interessante notar que, após a orientação do pesquisador
sobre a formalização do experimento, os alunos D., E., L.F. e M. colocaram-se
à frente e argumentaram suas conclusões, espontaneamente, o que afirma a
necessidade de buscar explicações e fornecer resposta ao trabalho realizado.
Segundo Carvalho (2007), a atividade problematizadora ultrapassa a
manipulação rotineira dos materiais, utiliza recursos, como a fala para a
discussão conceitual dos experimentos. O problema impulsiona as ações dos
alunos, motivando-os e despertando o interesse pela discussão e a explicação
do que evidenciou e aprendeu.
Nos turnos X e XI, condensados no Quadro10, analisou-se a
estrutura do argumento e pôde-se observar o aprimoramento das produções
verbais, demonstrando a validade da metodologia aplicada para o
desenvolvimento dos aspectos da linguagem oral estudados nesta dissertação.
Quadro 10 – Estrutura do argumento: Conclusão, turnos X e XI.
Transcrição Elementos Estruturais – Modelo de Toulmin Turno
A. M. – Eu acho que eles se reproduziram bastante.
Dados
X
A.E. – Deu até uma mudada de cor... estava mais branca.
Dados (deu até uma mudada de cor...);Conclusão (portanto, estava mais branca.).
X
A.L.F. – Eu achei que não mudou nada.
Dados X
A. R. – Não deu muito tempo de evoluir mais
Dados X
A.D. – Eu achei que não mudou muita coisa, algumas partes do corpo... por causa que... não passou muito tempo.... e não se reproduziu muito. Só o vaso que eu percebi que aumentou um pouco, pois a reprodução é contínua.
Dados (Eu achei que não mudou muita coisa );Qualificador (não passou ...); Garantia (já que- não passou muito tempo....);Conclusão (portanto- não se reproduziu muito.); Dado (Só o vaso...);Garantia (já que- aumentou um pouco); Conclusão (pois a reprodução é contínua).
X
92
A.L.F. – Em qualquer lugar pode ter microrganismo, só precisa ter alimento para se reproduzir, como em qualquer lugar dessa mesa, por exemplo, em nosso cabelo em nossas mãos, em todo lugar. São os fungos, as bactérias e muitos outros.
Dados (Em qualquer lugar pode ter microrganismo); Garantia(já que- só precisa ter alimento para se reproduzir); Qualificador (como em qualquer lugar dessa mesa); Conclusão (portanto- em nosso cabelo em nossas mãos, em todo lugar);Conhecimento Básico (São os fungos, as bactérias e muitos outros.).
XI
A.M. – No vaso, na pia e no pé apresentou esporângios, fungos e que eles se reproduzem por que tem alimento. E as bactérias também, elas se reproduzem e formam colônias.
Dados (No vaso, na pia e no pé apresentou esporângios, fungos); Garantia (já que- se reproduzem);Conclusão ( por tanto- por que tem alimento); Dado (E as bactérias também, elas se reproduzem);Conclusão (portanto- formam colônias.).
XI
A.D. e E.–Isso foi comprovado cientificamente.
Dados
XI
A. L.E. – E nem todos os microrganismos fazem mal a nossa saúde. Existem uns que são usados na fabricação de jeans e remédios.
Dados (E nem todos os microrganismos fazem mal a nossa saúde); Conclusão (Existem uns que são usados na fabricação de jeans e remédios.).
XI
A. M. – Tem uns que se acumulam e formam plásticos.
Dados XI
A. E. – Os microrganismos se multiplicam no lugar onde habitam, retirando toda comida, principalmente na pele humana. Tem alguns nocivos que provocam doenças e outros não, como os anticorpos.
Dados (Os microrganismos se multiplicam no lugar onde habitam);Garantia (já que - retirando toda comida);Qualificador (principalmente); Conclusão (portanto- na pele humana.); Conhecimento Básico (por conta de- alguns nocivos que provocam doenças); Refutação (a menos que- outros não, como os anticorpos).
XI
A.D. – E eles se reproduzem muito rápido. Nós não podemos ver eles, em qualquer lugar que a gente relar pode pegar, então pode prejudicar o ser humano, todo lugar tem, alguns mais que os outros, dependendo do lugar... lugar público. Lugar menos usado ou mais cuidado, como as partes do corpo tem menos microrganismos nocivos.
Dados (E eles se reproduzem muito rápido); Garantias (Nós não podemos ver eles, em qualquer lugar que a gente relar pode pegar);Qualificador (presumivelmente- Nós não podemos ver eles); Conclusão (então –termo modal- pode prejudicar o ser humano, todo lugar tem, alguns mais que os outros); Conhecimento básico (dependendo do lugar... lugar público);Refutação (a menos que- Lugar menos usado ou mais cuidado, como as partes do corpo tem menos microrganismos nocivos).
XI
A. D. – Percebi que no pote de controle não tem microrganismos, não tem pontos pretos e bolor, acho que foi muito bem tampado, então, os micróbios não entraram.
Dados (Percebi que no pote de controle não tem microrganismos);Qualificador (não tem pontos pretos e bolor);Garantia (desde que- foi muito bem tampado);Conclusão (então-termo modal- portanto- os micróbios não entraram.).
XI
A.M.– Eles se reproduzem rápido....Meu avô come a carne do osso e o usa como apoio em vez da faca.... fica com a mão engordurada e ele só dá uma lavadinha e fica muita bactéria ali....
Dados (Eles se reproduzem rápido); Garantia (já que- Meu avô come a carne do osso e o usa como apoio em vez da faca....);Conclusão (portanto- fica com a mão engordurada); Conhecimento básico (por conta de- ele só dá uma lavadinha e fica muita bactéria ali....).
XI
93
A. E. - Não precisa dar uma lavadinha para tirar a gordura, ela precisa de um produto especial para tirar a gordura e a gordura é o principal alimento que os microrganismos necessitam para se reproduzir.
Dado (Não precisa dar uma lavadinha para tirar a gordura);Garantia (já que- precisa de um produto especial para tirar a gordura);Conhecimento básico (por conta que- a gordura é o principal alimento);Conclusão (portanto - os microrganismos necessitam para se reproduzir.).
XI
A. D.– E não é só isso... e as pessoas só lavam quando está sujo e a gente não vê as bactérias, então elas se reproduzem com facilidade. A falta de limpeza, de higiene serve de alimento para os microrganismos se reproduzirem.
Dados (E não é só isso...e as pessoas só lavam quando está sujo); Garantia (já que- gente não vê as bactérias); Conclusão (termo modal –então; portanto- elas se reproduzem com facilidade).Conhecimento básico (por conta que - A falta de limpeza, de higiene serve de alimento para os microrganismos se reproduzirem.).
XI
A.E. – E no vaso tinha muitos pontinhos pretos, acredito ser as colônias de bactérias.
Dados (E no vaso tinha muitos pontinhos pretos);Conclusão (portanto - acredito ser as colônias de bactérias).
XI
A. L.E. – E nesses lugares que tem bastante alimento elas conseguem se reproduzir com facilidade, como o vaso, pia, cabelo, mão, pé. O cheiro ruim de suor indica que as bactérias estão ali.
Dados (E nesses lugares que tem bastante alimento elas conseguem se reproduzir).Qualificador (com facilidade);Conclusão (assim- como o vaso, pia, cabelo, mão, pé); Conhecimento básico (O cheiro ruim de suor indica que as bactérias estão ali).
XI
A. M. – Os fungos e as bactérias se reproduzem absorvendo todo os nutrientes que tem nesses lugares em que nós encontramos, na pia, no vaso, no pé. As bactérias ficam e se desenvolvem onde tem alimento.
Dados (Os fungos e as bactérias se reproduzem);Garantia (já que- absorvendo todo os nutrientes que tem nesses lugares em que nós encontramos); Conclusão (portanto- na pia, no vaso, no pé);Conhecimento básico (por conta que- As bactérias ficam e se desenvolvem onde tem alimento).
XI
A. L.E.- Os lugares que a gente pensou que tinha, foi comprovado que tem, no vaso, pia, no nosso corpo, cabelo, mão, pé. Os lugares que mais apresentaram foram o vaso e a pia, vimos que em todo lugar tem bactérias e fungos.
Dados (Os lugares que a gente pensou que tinha, foi comprovado que tem, no vaso, pia, no nosso corpo, cabelo, mão, pé.Os lugares que mais apresentaram foram o vaso e a pia); Conclusão (portanto- vimos que em todo lugar tem bactérias e fungos.).
XI
A.E.– O banheiro praticamente inteiro tem bactéria.
Dados XI
A.R.- Os fungos absorvem o alimento que estão nos ambientes e se reproduzem. No vaso, por exemplo, as bactérias se alimentam da sujeira que tem ali e se reproduzem.
Dados (Os fungos absorvem o alimento que estão nos ambientes);Conclusão (portanto- se reproduzem);Dado (No vaso);Garantia ( já que- as bactérias se alimentam da sujeira que tem ali);Conclusão (portanto- se reproduzem.).
XI
Fonte: Da pesquisa 2015
Conforme as análises das transcrições, pode-se verificar o uso
de elementos estruturais que remetem aos dados, garantias, refutações,
94
conhecimento básico e conclusão, proposto por Toulmin (2006), nos
argumentos proferidos pelos alunos D. e E.. Tais aspectos representam a
mudança da linguagem cotidiana para a linguagem científica, isto é, a
linguagem argumentativa que se estrutura no decorrer da apropriação de
palavras dotadas de valores científicos, como afirma Carvalho (2013).
Observa-se, ainda que os educandos L.E., L.F., R e M., apesar
de não utilizarem todos os elementos estruturais requeridos no argumento
válido, verbalizaram explicações com coerência e síntese de ideias, ao
empregarem, também, termos com significados científicos. De modo geral,
verifica-se que o grupo apresentou bom desempenho ao propor suas
explicações, pois utilizou os elementos fundamentais, que foram dos dados à
conclusão, ou seja, apropriando-se dos qualificadores e das garantias, os
alunos imprimiram maior qualidade aos discursos.
Para finalizar esta análise, destacam-se as expressões verbais
dos alunos E. e D., por se tratar de produções estruturalmente completas e de
qualidade argumentativa.
Aluno E.
Os microrganismos se multiplicam -----------→principalmente (Q) na pele humana (C)
no lugar onde habitam (D) ↓ ↓
Já que (W)
Retiram toda comida a menos(R)
↓ que existam alguns que
Por conta (B) não sejam nocivos, como
Da existência dos microrganismos os anticorpos
nocivos
Aluno D.
Eles se reproduzem muito rápido(D)__________→(presumivelmente)(Q),não podemos
ver eles, então (termo modal) pode
↓ prejudicar o ser humano (C).
Já que (W)
Em qualquer lugar que a gente relar pode pegar.
Ainda...
95
Todo lugar tem(D)_____________→assim, dependendo do lugar (Q), lugar público (C)
↓
↓ A menos que (R)
Já que (W) Em lugares mais cuidados tem menos...
Alguns mais que os outros
↓
Por conta de (B)
O lugar menos usado ou mais cuidado, como as
partes, do corpo tem menos microrganismos nocivos.
Para melhor ilustrar os resultados obtidos nas três fases
percorridas durante a investigação da primeira atividade, elaborou-se um
quadro comparativo que aponta o aprimoramento dos aspectos semânticos e
pragmáticos da linguagem oral, assim como o desenvolvimento da estrutura
argumentativa dos alunos envolvidos na metodologia de ensino por
investigação.
Quadro 11 – Quadro comparativo referente à primeira atividade investigativa.
LINGUAGEM INTERAÇÕES, HIPÓTESES INCIAIS (turnos I,II,III,IV) e HIPÓTESES
FINAIS (turnos VII e VIII)
EVIDÊNCIAS (turno IX)
CONCLUSÃO (turnos X e XI)
Semântica
Nos turnos de I a V, as produções
verbais são simples; uso de termos comuns que se repetem nos turnos citados, como: falta de higiene, mão
suja, microrganismos, micróbios, aglomeração.
Quanto aos turnos VII e VIII (hipóteses finais), evidencia-se
melhora na qualidade verbal, emprego de vocábulos com valores semânticos
mais adequados, que conferiram sentido às teorias sugeridas.
Presença de construções frasais.
Explicações
contextualizadas das evidências,
atribuição de novos
significados ao repertório linguístico. Vocábulos:
colônia, germes, fungos.
Construções estruturadas
semanticamente, evidenciando
clareza, síntese de ideias e
organização contextual.
Pragmática Atos de Fala
-Representativo: Alunos E., R.,M.,B., L.E.. -Declarativo: Aluno M. (turno VIII);
-Representativo: Alunos L.,E.,R.,L.F.,D.,B. (turno VIII)
-Representativo:
E.,D.,B.,L.E. -Declarativo: M.
-Diretivo: R.
-Representativo: A.,M.,D.(turno X); Leo, M.,E.,D.,R.
(turno XI); -Declarativo:
L.F.,M.,D. (turno XI).
Elementos Estruturais do Argumento
Dados: Alunos E.,L.E.,D.,M.,L.,R.,B.,L.F.(turnos I , II,
VIII) Dados-Conclusão: Alunos E.,M.,R., L.
(turnos II,IV, VIII); Dados, Garantia e Conclusão: Alunos E.,M.,R.,B.,L.F., L.E. (turnos V, VI e
VIII); Dados, Garantias, Conhecimento
-Dados: L.,D. -Dados-
Conclusão: R.,D.,- Dados,
Garantia, Conhecimento
Básico e Conclusão: B., E. -Dados, Garantia
-Dados: M.,L.F.,R.,D.,M.
(turno X, XI); -Dados-
Conclusão: E., L.E. (turno X,XI); -Dados, Garantia
e Conclusão: D.,M.,R. (turno
96
Básico e Conclusão: Aluno D. (turno VIII).
e Conclusão: B. -Dados,
Garantia, Conhecimento
Básico, Conclusão e
Refutação: L.E., D.
-Dados, Garantia,
Conclusão e Refutação:M.
X,XI); -Dados,
Garantias, Conhecimento
Básico: L.F., M., E., L.E. (turno XI); -Dados, Garantia,
Conhecimento Básico,
Conclusão e Refutação: E.,D.
(turno XI).
Fonte: Da pesquisa 2015
Após sete dias, iniciou-se a segunda atividade investigativa, na
qual foi proposto o seguinte problema para a investigação: A conservação dos
alimentos na geladeira impede que eles se estraguem? É possível conservá-los
de outra forma?
Ressalta-se que, antes de dar continuidade à sequência de
etapas de investigação, a professora pesquisadora promoveu um momento de
retomada de ideias, ou seja, levou os alunos a exporem suas percepções a
respeito do trabalho realizado, considerando os prováveis benefícios para
aquisição de novos conhecimentos. A interação também possibilitou o
engajamento dos estudantes com a proposta de investigação, motivando-os a
descobrir os verdadeiros métodos de conservação dos alimentos por meio de
testes e análise dos dados obtidos.
Após a divulgação do problema e do período de interação, os
alunos foram orientados a refletirem sobre a situação levantada e a
verbalizarem suas hipóteses, a fim de dar início à investigação e consequente
busca por explicações da referida questão. Nesse mesmo encontro, os
estudantes discutiram a conduta que seguiriam para realizar os testes, ou seja,
a forma de armazenagem das amostras.
Como organizado na atividade anterior, as falas da professora
pesquisadora demarcam os turnos que apresentam as transcrições dos alunos,
seguindo a mesma identificação para os participantes do grupo.
Problema proposto para a segunda atividade investigativa:
P- A conservação dos alimentos na geladeira impede que eles se estraguem?
É possível conservá-los de outra forma? Turno XII.
97
A - Sim ( resposta coletiva).
A. L. – Temperando.
A.R. – A carne se você deixar no congelador é perigoso estragar. Por que o
sangue cai e apodrece e vai apodrecendo a carne. Então, é mais fácil, você
comprar a carne, temperar e guardar em vasilhinha na geladeira, que dura
mais tempo.
A. L. – Tem outros métodos de conservar, por exemplo, o limão, pega o filme
plástico e meio que enrola ele... e coloca na geladeira.
A. M. – Só na geladeira.
P – Para todos os alimentos? Turno XIII
A D. e A.R. – Nem todos.
A.R.- Alguns tem que lavar.
P- Qual é o método mais eficaz para conservar os alimentos? Turno XIV.
A. D.- É vedando, lavar bem as coisas e vedar bem a vasilha que você esta
usando. Estar com as mãos bem limpas antes de pegar e guardar.
A. L.E.- O uso de conservantes para conservar os alimentos.... mas podem
fazer mal para a saúde.
P- Mas em casa, como podemos conservar os alimentos, como a carne, o
leite...? Turno XV.
A. L.E.- Limpando bem.
A. D. – O sal... temperar com bastante sal, o sal também ajuda. Como
antigamente, que não tinha geladeira... usava bastante sal.
A. M. – Mas e o leite, Davi?
A. M. – O leite tem que colocar na geladeira.
A. D. – É mesmo.
A. E. – Deixar a carne no sol.
P- A geladeira resolveria o problema só do leite? Turno XVI.
A.R. – Não, de outros alimentos também.
A.L.- Como verduras.
A. M. – Ela preserva pouco tempo... as frutas, a banana começa a apodrecer.
P – Quais os microrganismos que podem aparecer e estragar os alimentos?
Turno XVII.
A. E. – Fungos
A L.E. e A.M. – Fungos e bactérias.
98
A. L. – Vai aparecer o mofo. Como no pão...
A. D. – ...Meu pai comeu um pão mofado... só foi descobrir depois que
comeu.... passou mal.
P – A conservação é importante? Vamos fazer alguns testes, para ver qual a
forma de conservação é melhor? Turno XVIII.
A – Vamos (resposta coletiva)
A. D. – Vamos colocar água.
P – Quais são as formas de conservação que vocês conhecem? Turno XIX.
A. D., A.R. e A.M. – Temperar
A.L.- Guardar na geladeira, vedar bem as coisas...
A. M. – Congelar. A carne moída conserva congelada.
P – Qual o método mais eficaz para conservar o mingau? Turno XX.
A.D., A.L. e A.L.E. – Vedar.
A.E. – Vedar e colocar em ambiente fresco, não muito quente e nem muito frio.
A.L.– Em um lugar arejado, sem sol e vedar... e o local tem que estar bem
limpo.
A.D. – Guardar depois que esfriar, se colocar quente apodrece, tem que deixar
esfriar...em temperatura ambiente.
P – Qual o local de conservação do mingau? Turno XXI.
A.R. – Armário?
A.M. e A.L.E. – Geladeira.
A.E. – Na prateleira.
A.R. – Na caixa térmica, isopor.
A. L.E. e A.E.- Numa caixa fechada, o pote tem que estar vedado.
A.D. – Vamos ter grupo controle, um aberto e um fechado. Na prateleira e na
geladeira.
Os alunos discutiram os locais de conservação e decidiram
deixar alguns potes fechados e outros abertos em cada estação, para
verificarem possíveis diferenças entre as amostras. Observou-se que eles já
apresentavam conduta de investigação, ao discutirem a forma de
condicionamento, ou seja, lacrado ou aberto, e em qual situação poderia haver
contaminação por microrganismos.
P – Por que vocês deixaram uns abertos e outros fechados? Turno XXII.
99
A. D. – Se há diferença entre ficar aberto ou fechado ou se não faz diferença
nenhuma.
A.L. – Se conserva mais se ficar lacrado ... ou se diferencia o local, o que está
lacrado na geladeira ou no armário, se tem diferença.
Pode-se observar que seis estudantes, entre os oito
integrantes do grupo, participaram da discussão dos possíveis métodos e
locais de conservação dos alimentos. Nessa fase, também foi necessária a
mediação da professora pesquisadora, questionando os alunos para que
conseguissem organizar seus conhecimentos prévios e elaborar suas
hipóteses.
Apesar da necessidade de intervenção, como na primeira
atividade, pode-se relatar que os estudantes demonstraram maior interação e
compreenderam a situação que estavam vivenciando. Observou-se a conduta
de investigação, como a referenciada pelo NRC (2000), ao debaterem e
proporem formas de experimentação para obter respostas às suas hipóteses,
ou seja, a forma de condicionamento, lacrado ou aberto, e em qual condição
poderia haver contaminação por microrganismos.
Quanto ao aspecto semântico, não foram percebidas
mudanças quanto ao vocabulário. Os estudantes empregaram termos já
conhecidos, na tentativa de oferecer significados às suas alegações.
Em relação aos Atos de Fala, nota-se o uso dos atos
representativos, declarativos e diretivos, já visualizados em transcrições
anteriores, porém, observou-se, também, um novo Ato de Fala, o
compromissivo. Segundo Sternberg (2013), essa colocação linguística
expressa um compromisso do falante em realizar ou cumprir algo. O Quadro 12
a seguir apresenta os Atos de Fala e as respectivas transcrições.
Quadro 12 – Atos de Fala: Referente à formulação das hipóteses da segunda atividade investigativa.
ATOS DE FALA DESCRIÇÃO (produção linguística dos alunos) Turno
Declarativo A.R. – A carne se você deixar no congelador é perigoso estragar. Por que o sangue cai e apodrece e vai apodrecendo a carne. Então, é mais fácil, você comprar a carne, temperar e guardar em vasilhinha na geladeira, que dura mais tempo.
XII
Declarativo A.L.E. - O uso de conservantes para conservar os alimentos.... mas podem fazer mal para a saúde.
XIV
Diretivo A.M.- Mas e o leite, Davi? XV
100
Representativo A.L. – Tem outros métodos de conservar, por exemplo, o limão, pega o filme plástico e meio que enrola ele... e coloca na geladeira.
XII
Representativo A. D.- É vedando, lavar bem as coisas e vedar bem a vasilha que você esta usando. Estar com as mãos bem limpas antes de pegar e guardar.
XIV
Representativo A.D. – O sal... temperar com bastante sal, o sal também ajuda. Como antigamente, que não tinha geladeira... usava bastante sal.
XV
Compromissivo A. D. – vamos ter grupo controle, um aberto e um fechado. Na prateleira e na geladeira.
XXI
Fonte: Da pesquisa 2015
Nessa etapa investigativa, apenas dois alunos apresentaram
os elementos necessários para o argumento ser considerado estruturalmente
organizado, ou seja, a presença dos dados (D), garantias (W), Qualificador (Q),
conclusão (C), conhecimento básico (B) e refutador (R). Os demais proferiram
afirmações simples, porém estruturadas por meio dos dados e conclusões e,
em algumas situações, foram utilizados o conhecimento básico, garantias e
qualificadores na tentativa de elucidar a explicação da ideia em questão.
O Quadro 13 faz referência à análise do argumento dos
estudantes, demonstrando a organização estrutural de suas produções verbais.
Quadro 13 – Estrutura argumentativa: hipóteses.
Transcrições Elementos Estruturais – Modelo de Toulmin Turno
A.R. – A carne se você deixar no congelador é perigoso estragar. Por que o sangue cai e apodrece e vai apodrecendo a carne. Então, é mais fácil, você comprar a carne, temperar e guardar em vasilhinha na geladeira, que dura mais tempo.
Dados (A carne se você deixar no congelador é perigoso estragar.); Garantia (já que- o sangue cai e apodrece...); Qualificador (provavelmente- o sangue cai); Conclusão (portanto - vai apodrecendo a carne); Conhecimento Básico ( por conta que - ... guardar em vasilhinha na geladeira, que dura mais tempo.); Refutador ( a menos que - ... você comprar a carne, temperar e guardar em vasilhinha na geladeira, que dura mais tempo.)
XII
A.L. – Tem outros métodos de conservar, por exemplo, o limão, pega o filme plástico e meio que enrola ele... e coloca na geladeira.
Dados (Tem outros métodos de conservar...); Garantia (já que - ... pega o filme plástico e meio que enrola ele); Conclusão ( portanto - coloca na geladeira.).
XII
A.M. – Só na geladeira. Dados XII
A.R. – Alguns tem que lavar. Dados XIII A.D.- É vedando, lavar bem as coisas e vedar bem a vasilha que você esta usando. Estar com as mãos bem limpas antes de pegar e guardar.
Dados (É vedando, lavar bem as coisas...); Conclusão ( por tanto- vedar bem a vasilha que você esta usando); Conhecimento Básico (por conta que - Estar com as mãos bem limpas antes de pegar e guardar.).
XIV
A.L.E.- O uso de conservantes para conservar os alimentos.... mas podem fazer mal para a saúde.
Dados (O uso de conservantes para conservar os alimentos....); Conclusão (portanto, no entanto - podem fazer mal para a saúde.).
XIV
101
A.D.– O sal... temperar com bastante sal, o sal também ajuda. Como antigamente, que não tinha geladeira... usava bastante sal.
Dados (O sal...); Qualificador (necessariamente – bastante sal); Garantia ( já que – o sal também ajuda.); Conhecimento Básico ( por conta que - Como antigamente, que não tinha geladeira...); Conclusão (portanto - usava bastante sal.).
XV
A. M. – Mas e o leite, Davi? A.M. – O leite tem que colocar na geladeira.
Dados Dado (O leite...); Conclusão (portanto - tem que colocar na geladeira.).
XV
A.E.. – Deixar a carne no sol.
Dados XV
A.M. – Ela (geladeira) preserva pouco tempo... as frutas, a banana começa a apodrecer.
Dados (Ela (geladeira) preserva pouco tempo...); Conclusão (portanto – as frutas, a banana começa a apodrecer.).
XVI
A.L. – Vai aparecer o mofo. Como no pão...
Dados (Vai aparecer o mofo); Conclusão ( portanto - Como no pão...).
XVII
A. M. – Congelar. A carne moída conserva congelada.
Dados (Congelar); Conclusão (portanto -. A carne moída conserva congelada.).
XIX
A. E. – Vedar e colocar em ambiente fresco, não muito quente e nem muito frio.
Dados (Vedar e colocar em ambiente fresco); Qualificador (não muito..); Conclusão ( portanto - não muito quente e nem muito frio.)
XX
A. L. – Em um lugar arejado, sem sol e vedar... e o local tem que estar bem limpo.
Dados (Em um lugar arejado...); Garantia (já que – sem sol); Conhecimento Básico (por conta que - local tem que estar bem limpo.); Conclusão (portanto – vedar).
XX
A.D. – Guardar depois que esfriar, se colocar quente apodrece, tem que deixar esfriar...em temperatura ambiente.
Dados (Guardar depois que esfriar); Garantia (já que - se colocar quente apodrece); Conhecimento Básico (por conta que - que deixar esfriar...em temperatura ambiente); Refutador ( a menos que - se (não esfriar) colocar quente apodrece); Conclusão (portanto - ...em temperatura ambiente.).
XX
A.L.E. e E.- Numa caixa fechada, o pote tem que estar vedado.
Dados (Numa caixa fechada); Conclusão (portanto- o pote tem que estar vedado).
XXI
A.D. – Vamos ter grupo controle, um aberto e um fechado. Na prateleira e na geladeira.
Dados (Vamos ter grupo controle); Garantia (desde que- um aberto e um fechado); Conclusão (portanto - Na prateleira e na geladeira.).
XXI
A.D. – Se há diferença entre ficar aberto ou fechado ou se não faz diferença nenhuma.
Dados (Se há diferença entre ficar aberto ou fechado); Qualificador (necessariamente - se não); Conclusão (portanto - se não faz diferença nenhuma.). Xxii
XXII
A.L. – Se conserva mais se ficar lacrado ... ou se diferencia o local, o que está lacrado na geladeira ou no armário, se tem diferença.
Dados (Se conserva mais se ficar lacrado ...);Garantia ( já que - diferencia o local...); Conclusão (portanto - se tem diferença.).
XXII
Fonte: Da pesquisa 2015
102
A seguir, destacam-se os argumentos dos alunos R., D. e L.
por apresentarem a estrutura argumentativa indicada nos referenciais de
Toulmin (2006).
Aluno R.
A carne se vai deixar no congelador ___________________→provavelmente o sangue cai (Q),
é perigoso estragar (Dado) assim, apodrece a carne (C).
↓ ↓
Já que A menos que compre a carne, tempere e
↓ a guarde em vasilhinha na geladeira,vai
O sangue cai e durar mais (R).
apodrece (W)
↓
Por conta que
Guardar a carne temperada no congelador dura mais (B).
Aluno D.
Guardar depois que esfriar (Dado)__________→ necessariamente, tem que deixar esfriar(Q),
portanto, em temperatura ambiente (C).
↓ ↓
Já que A menos que
Se colocar quente apodrece (W) não deixar esfriar... apodrece (R).
↓
Por conta que
Tem que esfriar em temperatura ambiente(B).
Aluno L.
Se conserva mais se ficar lacrado (Dado)________________→portanto, se tem diferença (C).
↓
Já que
Se diferencia o local (W)
↓
Por conta que
Se tem diferença o que está lacrado na geladeira ou no armário (B).
Para iniciar a segunda etapa, a professora pesquisadora
solicitou ao grupo os relatos de suas observações, seguindo a organização
estabelecida por ele a respeito dos locais de armazenagem. Os turnos seguem
a mesma padronização dos anteriores.
103
P- Pessoal, essas amostras, que ficaram na prateleira, algumas abertas outras
fechadas, houve modificações? Turno XXIII
A.D. – As abertas estão com cheiro diferente.
A.E. – No cheiro, a que ficou na prateleira, sem o óleo e vinagre ficou com o
cheiro azedo.
A.L. – Parece que ficou meio pastoso.
A. L. F. – O mingau com óleo ficou amarelado. Tem cheiro de queijo.
A.M. – Tem bactéria professora... bactéria ...lá de branco, tem uns negocinhos
brancos, no mingau aberto.
A. E. – Por que ficou com bolha aqui ( referiu-se ao mingau fechado)?
A. D. – Tem bactéria aqui... ah, estão ficando meio amarelada no mingau
aberto.
P – Todos estão amarelos? Turno XXIV
A.D.– Todos.
A. L. F. – O mingau da prateleira aberta ficou mais endurecido com a coloração
amarelada.
A. M. – Eu acho que ficou isso, por causa do líquido do mingau. Tem umas
bolhinhas, mas eu acho que é o liquido do mingau que se misturou com o óleo.
P- Mais alguma observação? E esse do vinagre? Turno XXV
A.E. – Aqui onde não tem, ficou esverdeado. Parece as colônias da bactéria...
tá vendo que tá fora aqui ( sem vinagre) está meio esverdeado?
A.M. - Esse ficou bem fedorento. Com o vinagre não aparentou quase nada, só
que não combinou vinagre com mingau, só que eu acho que não aconteceu
nada com o mingau.
A seguir os alunos fizeram referência ao mingau aberto sem adição de outras
substâncias.
A.E. – Aqui parece que tem uma espécie de cobertura.
A.D. – Parece que faz aquelas casquinhas...Você diz que a parte que tá em
baixo ficou mais protegida.
A.E. – Em baixo ficou branco e em cima formou uma crosta, amarelo,
protegendo. Dividiu em duas camadas, em cima endureceu formando uma
camada, a que ficou em baixo ficou mole..... e as bactérias pousaram aqui...
A. L. – Tem bactéria no ar.
104
A.L. E.- No óleo, tem parte que ficou bem amarelada, esverdeada e o óleo
ficou estranho, tem umas bolhas e uns pontinhos pretos.
A. M. – Pretos, onde?
A. L.E. – Aqui.
A. M. – Não, são as bolhas... Aqui , quando eu aperto saem bolhas.... Tá
amarelado por causa do óleo.
A. L.E. – O mingau com o vinagre parece que conservou mais...
A. E. – É mesmo, o vinagre parece que tem álcool, e as bactérias não chegam
perto, por que o álcool.... é um diluente.... O vinagre é de álcool.
A. L.E. – A diferença é notável entre o pote fechado e o com vinagre.
A. E.– O vinagre protege.
A.M.- O mingau da prateleira aberto, é que tem mais bactéria....Ele secou, e
tem umas bactérias brancas, tem cheiro de queijo, parece estar estragado, tá
ficando meio verde... parece bolor que tá formando.....
A.L. – Tem muita bactéria no ar e como está aberto vai
entrando...contaminando.
A.L.E. – Só que o mingau com vinagre também está aberto e o vinagre
protegeu bem.
A.M. – As bactérias não se reproduziram no álcool do vinagre.
A.M. – Por que nesta parte (pote com vinagre) esta verde, em cima?
Professora, por que nesta parte está verde e esta parte aqui não tá?
A.E. – Talvez é uma bactéria que entrou e tentou resistir ao álcool, mas o
álcool destruiu elas.
A.D. – A diferença entre os abertos e os fechados é bem grande... só os que
não tinham nada... os abertos tiveram mais contato com o ar , claro que na
hora de fechar ... não tem como tirar tudo o ar ... você fechou e o ar que estava
ali... as bactérias vão se reproduzir.
A. E. – E elas vão se multiplicando, vão se dividir no meio e ir aumentado...
A.L.- Só que como está fechado, não vai entrar mais bactéria, só vai se
multiplicar as que estão ali dentro.
A. L.E. – O óleo não ajudou muito, está esverdeado e com bolhas.
A.D. – As que estão sem líquidos é mais fácil para elas se reproduzirem.
105
A.L.E. – Nós percebemos que os que ficaram sem líquidos e abertos, ficou
meio endurecido, com pontinhos brancos e com bolhas. O fechado no isopor,
também ficou com bolhas, e também tem uns pontinhos brancos.
A.D. – O fechado (geladeira) parece que esta em melhor estado, mais branco,
cremoso, bem líquido, mais conservado. O aberto tem mais bactéria, já não
está bom...
A.L.E. – O que ficou em melhor estado foi o da geladeira fechado. Comparando
o que ficou em melhor estado com o vinagre, o da geladeira ficou melhor.
A.L. – A geladeira conserva melhor, mas pode ressecar... então se for guardar
alguma coisa na geladeira, é melhor fechar.
A.M.- As bactérias que ficaram no óleo se reproduziram, se alimentaram dele.
A.D.- Os que ficaram fora da geladeira, em temperatura
ambiente, ficaram diferente dos que ficaram na temperatura gelada que
conseguiu conservar eles. E esses que estavam no armário e no isopor, podem
ter sofrido alteração de temperatura... e todos que estavam abertos ficaram
bons, mas o que estava na geladeira ficou melhor...
Nessa fase, os alunos também compreenderam o objetivo da
abordagem, ao ponderar e relatar com detalhes as evidências que observaram
em suas amostras. Discutiram as suas percepções e questionaram uns aos
outros, buscando explicações para o que estavam visualizando.
Tal característica confirma o que o NRC (2000) e as pesquisas
de Sasseron e Carvalho (2011,2013) demonstram ao afirmar que o ensino
investigativo favorece o desenvolvimento de habilidades importantes para a
alfabetização científica, ou seja, promove condições para que o estudante seja
capaz de interpretar os dados, a partir da análise das evidências, e possa
propor explicações baseadas em fatos científicos, por meio de seu raciocínio
lógico.
Nota-se que os estudantes utilizaram os termos científicos com
a convicção de seus significados. Sua comunicação oral exprime o
conhecimento adquirido, e eles constroem relatos com informações
significantes e específicas do que estão analisando.
Como exemplos citam-se as falas dos alunos E., L. e M.,
respectivamente: ¨... o vinagre parece que tem álcool, e as bactérias não
106
chegam perto, por que o álcool.... é um diluente.... O vinagre é de álcool; Tem
muita bactéria no ar e como está aberto vai entrando...contaminando; As
bactérias que ficaram no óleo se reproduziram, se alimentaram dele¨.
Vale ressaltar que, apesar de empregarem a maioria dos
termos aprendidos na primeira atividade, a análise das produções orais dos
alunos permite considerar a apropriação do conhecimento e a sua influência na
construção das explicações, mesmo na fase de relato das evidências, com
significados convincentes e apropriados à atividade desenvolvida.
Em relação à forma como os estudantes utilizam a linguagem
oral, nota-se a prevalência dos atos representativo, diretivo e declarativo,
porém verifica-se, também, a gradual representatividade dos atos diretivos e
declarativos em comparação com a atividade anterior, como se pode observar
no Quadro 14.
Quadro 14 – Relato das observações das evidências: segunda atividade, Atos de Fala.
ATOS DE FALA DESCRIÇÃO (produções linguísticas dos alunos) TURNO
Representativo
A.D. – As abertas estão com cheiro diferente. A.E. – No cheiro, a que ficou na prateleira, sem o óleo e vinagre ficou com o cheiro azedo. A.L. – Parece que ficou meio pastoso. A. L. F. – O mingau com óleo ficou amarelado. Tem cheiro de queijo. A.M. – Tem bactéria professora... bactéria ...lá de branco, tem uns negocinhos brancos, no mingau aberto. A. D. – Tem bactéria aqui... ah, estão ficando meio amarelada no mingau aberto.
XXIII
Representativo
A. L. F. – O mingau da prateleira aberta ficou mais endurecido com a coloração amarelada. A. M. – Eu acho que ficou isso, por causa do líquido do mingau. Tem umas bolhinhas, mas eu acho que é o liquido do mingau que se misturou com o óleo.
XXIV
A.M. - Esse ficou bem fedorento. Com o vinagre não aparentou quase nada, só que não combinou vinagre com mingau, só que eu acho que não aconteceu nada com o mingau. A.E. – Aqui parece que tem uma espécie de cobertura. A.D. – Pare que faz aquelas casquinhas...Você diz que a parte que tá embaixo ficou mais protegida. A.E. – Embaixo ficou branco e em cima formou uma crosta, amarelo, protegendo. Dividiu em duas camadas, em cima endureceu formando uma camada, a que ficou em baixo ficou mole..... e as bactérias pousaram aqui... A. L. – Tem bactéria no ar. A.L. E.- No óleo, tem parte que ficou bem amarelada, esverdeada e o óleo ficou estranho, tem umas bolhas e uns pontinhos pretos. A. M. – Não, são as bolhas... Aqui , quando eu aperto saem bolhas.... Tá amarelado por causa do óleo. A. L.E. – O mingau com o vinagre parece que conservou mais... A. L.E. – A diferença é notável entre o pote fechado e o com
XXV
107
Representativo
vinagre. A. E.– O vinagre protege. A.M.- O mingau da prateleira aberto, é que tem mais bactéria....Ele secou, e tem umas bactérias brancas, tem cheiro de queijo, parece estar estragado, tá ficando meio verde... parece bolor que tá formando..... A.L. – Tem muita bactéria no ar e como está aberto vai entrando...contaminando. A.L.E. – Só que o mingau com vinagre também está aberto e o vinagre protegeu bem. A.M. – As bactérias não se reproduziram no álcool do vinagre. A.E. – Talvez é uma bactéria que entrou e tentou resistir ao álcool, mas o álcool destruiu elas. A. E. – E elas vão se multiplicando, vão se dividir no meio e ir aumentado... A.L.- Só que como está fechado, não vai entrar mais bactéria, só vai se multiplicar as que estão ali dentro. A. L.E. – O óleo não ajudou muito, está esverdeado e com bolhas. A.D. – As que estão sem líquidos é mais fácil para elas se reproduzirem. A.L.E. – Nós percebemos que os que ficaram sem líquidos e abertos, ficou meio endurecido, com pontinhos brancos e com bolhas. O fechado no isopor, também ficou com bolhas, e também tem uns pontinhos brancos. A.L.E. – O que ficou em melhor estado foi o da geladeira fechado. Comparando o que ficou em melhor estado com o vinagre, o da geladeira ficou melhor. A.M.- As bactérias que ficaram no óleo se reproduziram, se alimentaram dele. A.D.- Os que ficaram fora da geladeira, em temperatura ambiente, ficaram diferente dos que ficaram na temperatura gelada que conseguiu conservar eles. E esses que estavam no armário e no isopor, podem ter sofrido alteração de temperatura... e todos que estavam abertos ficaram bons, mas o que estava na geladeira ficou melhor...
Diretivo A. E. – Por que ficou com bolha aqui (referiu-se ao mingau fechado)?
XXIII
Diretivo
A.E. – Aqui onde não tem, ficou esverdeado. Parece as colônias da bactéria... tá vendo que tá fora aqui ( sem vinagre) está meio esverdeado? A. M. – Pretos, onde? A.M. – Por que nesta parte (pote com vinagre) esta verde, em cima? Professora, por que nesta parte está verde e esta parte aqui não tá?
XXIV
Declarativo
A. E. – É mesmo, o vinagre parece que tem álcool, e as bactérias não chegam perto, por que o álcool.... é um diluente.... O vinagre é de álcool. A.D. – A diferença entre os abertos e os fechados é bem grande... só os que não tinham nada... os abertos tiveram mais contato com o ar , claro que na hora de fechar ... não tem como tirar tudo o ar ... você fechou e o ar que estava ali... as bactérias vão se reproduzir. A.D. – O fechado (geladeira) parece que esta em melhor estado, mais branco, cremoso, bem líquido, mais conservado. O aberto tem mais bactéria, já não está bom... A.L. – A geladeira conserva melhor, mas pode ressecar... então se for guardar alguma coisa na geladeira, é melhor fechar.
XXV
Fonte: Da pesquisa 2015.
108
Quanto à análise do argumento, segundo o esquema estrutural
proposto por Toulmin (2006), percebe-se que, embora os alunos tenham
relatado suas evidências com especificidade e organização contextual, os
elementos estruturais argumentativos que ocorreram com maior frequência
foram os Dados (D), as Garantias (W) e as Conclusões (C), e em menor
incidência o Conhecimento Básico (B). O Refutador apareceu em apenas dois
argumentos, sendo que um deles apresentou todos os elementos estruturais
esperados para uma alegação válida, como se pode ver nos exemplos a
seguir:
Aluno D.
A diferença entre os abertos e os fechados_______→provavelmente (Q), portanto, na hora de
é bem grande (Dados) fechar não tem como tirar todo o ar
(C).
↓ ↓
Já que A menos que
Só os que não tinham nada... (W) As bactérias vão se reproduzir,
↓ com o ar que ficar ali quando for
Por conta que fechado (R).
Os abertos tiveram mais contato com o ar (B).
Aluno L.
A geladeira conserva melhor (Dado) ___________→então, necessariamente (Q), se
for guardar alguma coisa na
geladeira, é melhor fechar (C).
↓
A menos que
Não se feche, pode ressecar (R)
No Quadro 15 apresenta os argumentos proferidos pelos
alunos na segunda fase da segunda atividade, assim como as análises
estruturais do argumento.
Quadro 15 – Estrutura do argumento: relato das evidências.
Transcrição Elementos Estruturais – Modelo de Toulmin
Turno
A.D. – As abertas estão com cheiro diferente.
Dados XXIII
A.E. – No cheiro, a que ficou na prateleira, sem o óleo e vinagre
Dados(No cheiro); Garantia (já que - ficou na prateleira,
XXIII
109
ficou com o cheiro azedo. sem o óleo e vinagre...);Conclusão (portanto - ficou com o cheiro azedo).
A.L. – Parece que ficou meio pastoso.
Dados XXIII
A. L. F. – O mingau com óleo ficou amarelado. Tem cheiro de queijo.
Dados(O mingau com óleo ficou amarelado); Conclusão (portanto- Tem cheiro de queijo).
XXIII
A.M. – Tem bactéria professora... bactéria ...lá de branco, tem uns negocinhos brancos, no mingau aberto.
Dados (Tem bactéria professora...); Garantia (já que- tem uns negocinhos brancos);Conclusão (portanto- no mingau aberto).
XXIII
A. E. – Por que ficou com bolha aqui ( referiu-se ao mingau fechado)?
Dados XXIII
A. D. – Tem bactéria aqui... ah, estão ficando meio amarelada no mingau aberto.
Dados (Tem bactéria aqui...); Garantia (já que- estão ficando meio amarelada); Conclusão (portanto- no mingau aberto).
XXIV
A. L. F. – O mingau da prateleira aberta ficou mais endurecido com a coloração amarelada.
Dados (O mingau da prateleira aberta ficou mais endurecido); Conclusão (portanto- com a coloração amarelada).
XXIV
A. M. – Eu acho que ficou isso, por causa do líquido do mingau. Tem umas bolhinhas, mas eu acho que é o líquido do mingau que se misturou com o óleo.
Dados (Eu acho que ficou isso); Conclusão (portanto- por causa do líquido do mingau); Garantia (já que- Tem umas bolhinhas); Conhecimento Básico (por conta que- líquido do mingau que se misturou com o óleo).
XXIV
A.E. – Aqui onde não tem, ficou esverdeado. Parece as colônias da bactéria... tá vendo que tá fora aqui ( sem vinagre) está meio esverdeado?
Dados (Aqui onde não tem, ficou esverdeado); Garantia (já que- Parece as colônias da bactéria); Conclusão (assim- tá vendo que tá fora aqui ( sem vinagre) está meio esverdeado?); Conhecimento Básico (por conta que- tá vendo que tá fora aqui...).
XXV
A.M. - Esse ficou bem fedorento. Com o vinagre não aparentou quase nada, só que não combinou vinagre com mingau, só que eu acho que não aconteceu nada com o mingau.
Dados (Esse ficou bem fedorento); Garantia (já que- Com o vinagre não aparentou quase nada); Qualificador (provavelmente- só que não combinou...); Conclusão (portanto- não combinou vinagre com mingau); Conhecimento Básico (por conta que- eu acho que não aconteceu
XXV
110
nada com o mingau).
A.E. – Aqui parece que tem uma espécie de cobertura.
Dados XXV
A.D. – Parece que faz aquelas casquinhas...Você diz que a parte que tá em baixo ficou mais protegida.
Dados (Parece que faz aquelas casquinhas..); Garantia (já que- Você diz que a parte que tá embaixo...); Conclusão (portanto- ficou mais protegida).
XXV
A.E. – Em baixo ficou branco e em cima formou uma crosta, amarelo, protegendo. Dividiu em duas camadas, em cima endureceu formando uma camada, a que ficou em baixo ficou mole..... e as bactérias pousaram aqui...
Dados (Em baixo ficou branco e em cima formou uma crosta); Conclusão (portanto- protegendo); Garantia (já que- Dividiu em duas camadas, em cima endureceu formando uma camada, a que ficou embaixo ficou mole); Conhecimento Básico (por conta que - .... as bactérias pousaram aqui...).
XXV
A. L. – Tem bactéria no ar. Dados XXV A.L.E.- No óleo, tem parte que ficou bem amarelada, esverdeada e o óleo ficou estranho, tem umas bolhas e uns pontinhos pretos.
Dados (No óleo...); Garantia (já que- tem parte que ficou bem amarelada, esverdeada); Conclusão (portanto - o óleo ficou estranho); Conhecimento Básico (por conta que- tem umas bolhas e uns pontinhos pretos).
XXV
A. M. – Pretos, onde? Dados XXV A. M. – Não, são as bolhas... Aqui , quando eu aperto saem bolhas.... Tá amarelado por causa do óleo.
Dados (Não, são as bolhas...); Garantia (já que- quando eu aperto saem bolhas...); Conclusão (portanto – saem bolhas); Conhecimento Básico (por conta que- Tá amarelado por causa do óleo).
XXV
A. L.E. – O mingau com o vinagre parece que conservou mais...
Dados (O mingau com o vinagre...); Conclusão (portanto - parece que conservou mais...).
XXV
A. E. – É mesmo, o vinagre parece que tem álcool, e as bactérias não chegam perto, por que o álcool.... é um diluente.... O vinagre é de álcool.
Dados (...o vinagre parece que tem álcool); Garantia (já que- as bactérias não chegam perto); Conhecimento Básico (por conta que- o álcool.... é um diluente); Conclusão (portanto - .... O vinagre é de álcool).
XXV
A.L.E. – A diferença é notável entre o Dados (A diferença é XXV
111
pote fechado e o com vinagre. notável); Conclusão ( portanto - entre o pote fechado e o com vinagre).
A. E.– O vinagre protege.
Dados XXV
A.M.- O mingau da prateleira aberto, é que tem mais bactéria....Ele secou, e tem umas bactérias brancas, tem cheiro de queijo, parece estar estragado, tá ficando meio verde... parece bolor que tá formando.....
Dados (O mingau da prateleira aberto, é que tem mais bactéria); Garantia (já que- Ele secou, e tem umas bactérias brancas...); Conhecimento Básico (por conta que - parece estar estragado...); Conclusão (portanto- ... parece bolor que tá formando....).
XXV
A.L. – Tem muita bactéria no ar e como está aberto vai entrando...contaminando.
Dados (Tem muita bactéria no ar); Garantia (já que- como está aberto vai entrando...); Conclusão (portanto -...contaminando.).
XXV
A.L.E. – Só que o mingau com vinagre também está aberto e o vinagre protegeu bem.
Dados (Só que o mingau com vinagre também está aberto); Conclusão (portanto– o vinagre protegeu bem.).
XXV
A.M. – As bactérias não se reproduziram no álcool do vinagre.
Dados XXV
A.M. – Por que nesta parte (pote com vinagre) esta verde, em cima? Professora, por que nesta parte está verde e esta parte aqui não tá?
Dados (Por que nesta parte está verde, em cima?); Dados (Professora, por que nesta parte está verde...); Conclusão (portanto - esta parte aqui não tá?)
XXV
A.E. – Talvez é uma bactéria que entrou e tentou resistir ao álcool, mas o álcool destruiu elas.
Dados (Talvez é uma bactéria que entrou); Garantia (Já que- entrou e tentou resistir ao álcool); Conclusão (portanto - o álcool destruiu elas.).
XXV
A.D. – A diferença entre os abertos e os fechados é bem grande... só os que não tinham nada... os abertos tiveram mais contato com o ar , claro que na hora de fechar ... não tem como tirar tudo o ar ... você fechou e o ar que estava ali... as bactérias vão se reproduzir.
Dados (A diferença entre os abertos e os fechados é bem grande...); Garantia (já que - só os que não tinham nada...); Conhecimento Básico (por conta que - os abertos tiveram mais contato com o ar...); Conclusão (portanto - que na hora de fechar ... não tem como tirar tudo o ar ...); Refutação (a menos que - você fechou e o ar que estava ali... as bactérias vão se reproduzir.).
XXV
112
A. E. – E elas vão se multiplicando, vão se dividir no meio e ir aumentado...
Dados (E elas vão se multiplicando); Garantia (já que- vão se dividir no meio); Conclusão (portanto- e ir aumentado...)
XXV
A.L.- Só que como está fechado, não vai entrar mais bactéria, só vai se multiplicar as que estão ali dentro.
Dados (Só que como está fechado, não vai entrar mais bactéria); Garantia (já que- só vai se multiplicar); Conclusão (portanto - as que estão ali dentro.)
XXV
A. L.E. – O óleo não ajudou muito, está esverdeado e com bolhas.
Dados (O óleo não ajudou muito);Garantia (já que- está esverdeado); Conclusão (portanto - está esverdeado e com bolhas.).
XXV
A.D. – As que estão sem líquidos é mais fácil para elas se reproduzirem.
Dados (As que estão sem líquidos); Conclusão (portanto- é mais fácil para elas se reproduzirem.).
XXV
A.L.E. – Nós percebemos que os que ficaram sem líquidos e abertos, ficou meio endurecido, com pontinhos brancos e com bolhas. O fechado no isopor, também ficou com bolhas, e também tem uns pontinhos brancos.
Dados (Nós percebemos que os que ficaram sem líquidos e abertos, ficou meio endurecido); Garantia (já que- ficou meio endurecido, com pontinhos brancos); Conclusão (portanto - com bolhas); Dados (O fechado no isopor); Conclusão (portanto- também ficou com bolhas, e também tem uns pontinhos brancos)
XXV
A.D. – O fechado (geladeira) parece que está em melhor estado, mais branco, cremoso, bem líquido, mais conservado. O aberto tem mais bactéria, já não está bom...
Dados (O fechado (geladeira) parece que esta em melhor estado);Garantia (já que- mais branco, cremoso, bem líquido); Conclusão (portanto- mais conservado); Dados (O aberto tem mais bactéria); Conclusão (portanto- já não está bom...).
XXV
A.L.E. – O que ficou em melhor estado foi o da geladeira fechado. Comparando o que ficou em melhor estado com o vinagre, o da geladeira ficou melhor.
Dados (– O que ficou em melhor estado foi o da geladeira fechado.); Garantia (já que- Comparando o que ficou em melhor estado com o vinagre); Conclusão (portanto- o da geladeira ficou melhor.).
XXV
A.L. – A geladeira conserva melhor, mas pode ressecar... então, se for
Dados (A geladeira conserva melhor);
XXV
113
guardar alguma coisa na geladeira, é melhor fechar.
Conclusão (portanto - se for guardar alguma coisa na geladeira, é melhor fechar); Refutador (a menos que – se não fechar, pode ressecar).
A.M.- As bactérias que ficaram no óleo se reproduziram, se alimentaram dele.
Dados (As bactérias que ficaram no óleo se reproduziram);Conclusão (portanto - se alimentaram dele).
XXV
A.D.- Os que ficaram fora da geladeira, em temperatura ambiente, ficaram diferente dos que ficaram na temperatura gelada que conseguiu conservar eles. E esses que estavam no armário e no isopor, podem ter sofrido alteração de temperatura... e todos que estavam abertos ficaram bons, mas o que estava na geladeira ficou melhor...
Dados (Os que ficaram fora da geladeira, em temperatura ambiente...); Garantia (já que- ficaram diferente dos que ficaram na temperatura gelada); Conclusão (portanto- conseguiu conservar eles.).Dados (E esses que estavam no armário e no isopor, podem ter sofrido alteração de temperatura...); Garantia (já que- todos que estavam abertos ficaram bons); Conclusão (portanto- mas o que estava na geladeira ficou melhor...).
XXV
Fonte: Da pesquisa 2015
Para finalizar a atividade sobre a conservação dos alimentos,
foi solicitado aos alunos que concluíssem seus experimentos e formalizassem
suas explicações finais. Para tanto, observaram novamente as amostras, com
o intuito de visualizarem novas evidências. Após o relato dessa observação,
pesquisaram em textos fornecidos pela professora pesquisadora a respeito das
diferentes formas de conservação e compararam com seus dados e hipóteses,
concluindo a atividade.
Os alunos debateram entre si, discutindo as diferenças dos
resultados obtidos e argumentaram sobre o melhor procedimento para
conservá-los. As transcrições correspondem ao turno XXVI, seguindo as
normas anteriores.
A.D. – Nós percebemos que os experimentos que estavam na geladeira
fechado e o aberto com vinagre, resistiram mais, conservaram mais, tiverem
melhor desempenho, em relação aos que estavam fechados e abertos em
locais abertos como na prateleira e dentro do isopor.
114
A.L. – Os que ficaram abertos ficaram em pior estado, só o da geladeira que
conservou mais. O da geladeira não ficou como os outros, a única diferença é
que ele solidificou, a geladeira não deixou estragar, só tirou todos os líquidos.
A.E. – Os que estavam abertos e fechados na prateleira, armário e no isopor
não conservaram, tem mofo, fungo....
A.D. – Não dá para ter certeza de qual é o melhor, fechado ou aberto (está se
referindo na geladeira), porque se saiu bem um fechado e outro aberto e outros
abertos se saíram mal. Dependendo da situação é melhor colocar aberto ou
fechado ... na geladeira. ....Um dos métodos melhores é fechar e colocar na
geladeira, para este tipo de alimento.
A. L. – O mingau e quase todos os líquidos e alimentos dá para guardar na
geladeira
A.R. – O que é esse negócio branco ali?
A.M. e L.E. – Esporângios, são fungos.
P – Vocês acham que o óleo ajudou a conservar? Turno XXVII
A.B, L.E., L., M., E., D.- Ajudou.
A.B – Ajudou um pouco, conservou mais... tem bactérias, mas pela diferença
daqueles que não tinham nada para conservar, conservou mais.
A. L.E. – Mas não é a melhor coisa.
A.B. – É, mas olha o que tem conservante e o que não tem ...conservou mais.
A. D. – Eu não sei se as bactérias sobrevivem muito na água (está se referindo
ao óleo e vinagre) ...
P- Quais os líquidos que foram colocados? Turno XXVIII
A. D. – Vinagre e óleo.
A. L.E. e A.B. – O vinagre conservou mais, comparado ao óleo.
A.R. – Por que o vinagre é usado para conservar aquelas conservas de ovo de
codorna....
A. D. – O vinagre conserva, ele tem uma substâncias que faz com que as
bactérias não se proliferem.
A. L. – A última vez que nós vimos o mingau que estava na geladeira, ele
estava mais firme, só que dessa vez ele está mais líquido e pastoso, porque
com o tempo vai se degradando.
P – E as bolhas que vocês viram anteriormente? Turno XXIX
A. E. – Ar.
115
A. D. – O ar dentro da água faz bolhas. O movimento no pote pode fazer
bolhas.
A. E. – E quando elas vão se reproduzir, também formam.
Nesse momento, a professora pesquisadora solicitou aos
alunos que finalizassem a atividade, após o estudo dos textos científicos, e
relatassem suas conclusões finais.
A.D. – Eu concluí que os que estavam fechados foram bem conservados,
principalmente os que estavam na geladeira... O vinagre e o óleo conservaram
também, mas o vinagre conservou mais e os que estavam abertos e sem
nenhum líquido ficaram bem ruins, cheio de microrganismos. Os da prateleira e
dentro do armário não tinham líquido para conservar e estavam abertos, foram
bem afetados, estavam em ambiente com muito microrganismo no ar.
A.L.E. – A minha conclusão foi que os alimentos que ficaram na geladeira, num
clima mais frio conservaram mais.
A.L. – Antigamente como não tinha geladeira, as técnicas de conservação
eram salgar, defumar ou secar ao sol. Hoje, na geladeira conserva mais e o
líquido do vinagre impede que as bactérias entrem, mas a temperatura pode
afetar, se ficar quente, por exemplo.
A.E. – A geladeira conservou mais os alimentos e os que ficaram na prateleira
e armário tem mofo e fungo. Não dá para conservar sem geladeira ou outro
conservante.
A.L.F. – Guardar na geladeira foi o melhor jeito de conservar, não teve
diferença na aparência do mingau. O vinagre conservou também, não observei
microrganismos, os outros lugares não ajudou a conservar, todos ficaram com
microrganismos.
A.B.– O mingau que ficou na geladeira conservou mais, porque ficou fechado e
refrigerado. O que estava aberto na geladeira, perdeu líquido e endureceu. Os
outros tiveram fungos, bolor e muitas bactérias, menos com vinagre.
A.R. – A geladeira conservou o mingau, só o que estava aberto ficou duro, mas
conservado. O vinagre deixou o mingau com cor branca, mas sem fungos e os
outros lugares não conservaram os alimentos, apresentaram microrganismos,
precisam de algum tipo de conservante.
116
A. M. – A geladeira conserva os alimentos, e o vinagre ajuda também.
Também nessa atividade, pôde-se observar, com clareza, a
interação entre os pares, a motivação e o interesse em discutir e colocar suas
ideias e concepções. As transcrições revelam argumentos dotados de
significados científicos, expressões orais contextualizadas, que elucidam os
valores e conceitos adquiridos.
Os alunos, ao explicarem seus resultados, utilizaram
vocabulário pertinente que propiciou a compreensão, por parte do ouvinte, de
seus resultados, baseados em evidências e fatos científicos já comprovados.
Destaca-se por tanto, mais uma vez, a relevância da
metodologia investigativa para o aprimoramento do aspecto semântico, como
mencionado neste trabalho, bem como a sua importância para a enculturação
científica. Para demonstrar esse aperfeiçoamento, ressalta-se, como exemplos,
os argumentos dos alunos L. e R.:¨
Antigamente como não tinha geladeira, as técnicas de
conservação eram salgar, defumar ou secar ao sol. Hoje, na geladeira
conserva mais e o líquido do vinagre impede que as bactérias entrem, mas a
temperatura pode afetar, se ficar quente, por exemplo¨;¨ A geladeira conservou
o mingau, só o que estava aberto ficou duro, mas conservado. O vinagre
deixou o mingau com cor branca, mas sem fungos e os outros lugares não
conservaram os alimentos, apresentaram microrganismos, precisam de algum
tipo de conservante¨.
Quanto aos Atos de Fala, nota-se a prevalência do ato
representativo, seguido do declarativo e diretivo, como indica o Quadro 16.
Quadro 16 – Conclusão do experimento: Atos de Fala.
ATOS DE FALA DESCRIÇÃO (produção linguística dos alunos) Turno
Representativo
A.D. – Nós percebemos que os experimentos que estavam na geladeira fechado e o aberto com vinagre, resistiram mais, conservaram mais, tiverem melhor desempenho, em relação aos que estavam fechados e abertos em locais abertos como na prateleira e dentro do isopor. A.L. – Os que ficaram abertos ficaram em pior estado, só o da geladeira que conservou mais. O da geladeira não ficou como os outros, a única diferença é que ele solidificou, a geladeira não deixou estragar, só tirou todos os líquidos. A.E. – Os que estavam abertos e fechados na prateleira, armário e no isopor não conservaram, tem mofo, fungo.... A. L. – O mingau e quase todos os líquidos e alimentos dá para guardar na geladeira
XXVI
117
A.M. e L.E. – Esporângios, são fungos.
Representativo
A.B – Ajudou um pouco, conservou mais... tem bactérias, mas pela diferença daqueles que não tinham nada para conservar, conservou mais. A. L.E. – Mas não é a melhor coisa. A.B. – É, mas olha o que tem conservante e o que não tem ...conservou mais. A. D. – Eu não sei se as bactérias sobrevivem muito na água (está se referindo ao óleo e vinagre) ...
XXVII
Representativo
A. D. – Vinagre e óleo. A. L.E. e A.B. – O vinagre conservou mais, comparado ao óleo. A.R. – Por que o vinagre é usado para conservar aquelas conservas de ovo de codorna.... A. D. – O vinagre conserva, ele tem uma substâncias que faz com que as bactérias não se proliferem.
XXVIII
Representativo
A. E. – Ar. A. D. – O ar dentro da água faz bolhas. O movimento no pote pode fazer bolhas. A. E. – E quando elas vão se reproduzir, também formam. A.D. – Eu conclui que os que estavam fechados foram bem conservados, principalmente os que estavam na geladeira... O vinagre e o óleo conservaram também, mas o vinagre conservou mais e os que estavam abertos e sem nenhum líquido ficaram bem ruins, cheio de microrganismos. Os da prateleira e dentro do armário não tinham líquido para conservar e estavam abertos, foram bem afetados, estavam em ambiente com muito microrganismo no ar. A.L.E. – A minha conclusão foi que os alimentos que ficaram na geladeira, num clima mais frio conservaram mais. A.E. – A geladeira conservou mais os alimentos e os que ficaram na prateleira e armário tem mofo e fungo. Não dá para conservar sem geladeira ou outro conservante. A.L.F. – Guardar na geladeira foi o melhor jeito de conservar, não teve diferença na aparência do mingau. O vinagre conservou também, não observei microrganismos, os outros lugares não ajudou a conservar, todos ficaram com microrganismos. A.B.– O mingau que ficou na geladeira conservou mais, porque ficou fechado e refrigerado. O que estava aberto na geladeira, perdeu líquido e endureceu. Os outros tiveram fungos, bolor e muitas bactérias, menos com vinagre. A.R. – A geladeira conservou o mingau, só o que estava aberto ficou duro, mas conservado. O vinagre deixou o mingau com cor branca, mas sem fungos e os outros lugares não conservaram os alimentos, apresentaram microrganismos, precisam de algum tipo de conservante. A. M. – A geladeira conserva os alimentos, e o vinagre ajuda também.
XXIX
Declarativo
A.D. – Não dá para ter certeza de qual é o melhor, fechado ou aberto (está se referindo na geladeira), porque se saiu bem um fechado e outro aberto e outros abertos se saíram mal. Dependendo da situação é melhor colocar aberto ou fechado ... na geladeira. ....Um dos métodos melhores é fechar e colocar na geladeira, para este tipo de alimento.
XXVI
Declarativo A. L. – A última vez que nós vimos o mingau que estava na geladeira, ele estava mais firme, só que dessa vez ele esta mais
XXVIII
118
líquido e pastoso, porque com o tempo vai se degradando.
Declarativo
A.L. – Antigamente como não tinha geladeira, as técnicas de conservação eram salgar, defumar ou secar ao sol. Hoje, na geladeira conserva mais e o líquido do vinagre impede que as bactérias entrem, mas a temperatura pode afetar, se ficar quente, por exemplo.
XXIX
Diretivo A.R. – O que é esse negócio branco ali? XXVI Fonte: Da pesquisa 2015
Em relação ao argumento, verifica-se a repetição de elementos
estruturais, como dados, garantias, conclusões e conhecimento básico.
Embora, os alunos não tenham verbalizado, em sua maioria, explicações que
contemplassem todos os elementos citados por Toulmin (2006), é importante
frisar a visível qualificação das produções linguísticas, caracterizando o
aprimoramento tanto do aspecto semântico quanto do desenvolvimento da
estrutura argumentativa.
Nota-se que, além da organização contextual, os alunos
propuseram explicações pautadas em suas evidências e, principalmente, no
estudo do material científico, produzindo argumentos bem estruturados. Para
evidenciar e analisar os argumentos que caracterizaram a conclusão do
experimento, após as comparações entre hipóteses, dados e texto científico, e
para que se pudesse ter a oportunidade de visualizar as esperadas mudanças
na oralidade dos educandos, ao final da atividade por investigação, organizou-
se o Quadro 17.
Quadro 17 – Estrutura do argumento: conclusão da atividade.
Transcrição Elementos Estruturais – Modelo de Toulmin Turno
A.D. – Eu conclui que os que estavam fechados foram bem conservados, principalmente os que estavam na geladeira... O vinagre e o óleo conservaram também, mas o vinagre conservou mais e os que estavam abertos e sem nenhum líquido ficaram bem ruins, cheio de microrganismos. Os da prateleira e dentro do armário não tinham líquido para conservar e estavam abertos, foram bem afetados, estavam em ambiente com muito microrganismo no ar.
Dados (Eu concluí que os que estavam fechados foram bem conservados);Qualificador (principalmente);Conclusão (portanto- os que estavam na geladeira...);Dados (O vinagre e o óleo conservaram também);Garantia (já que- mas o vinagre conservou mais);Conhecimento Básico (por conta que- os que estavam abertos e sem nenhum líquido ficaram bem ruins);Conclusão (portanto- cheio de microrganismos).Dados (Os da prateleira e dentro do armário não tinham líquido para conservar);Garantia (já que- estavam abertos);Conhecimento Básico (por conta que- foram bem afetados);Conclusão (portanto- estavam em ambiente com muito microrganismo no ar).
XXIX
A.L.E. – A minha conclusão foi Dados (A minha conclusão foi que os alimentos
119
que os alimentos que ficaram na geladeira, num clima mais frio conservaram mais.
que ficaram na geladeira);Garantia (já que- num clima mais frio);Conclusão (portanto- conservaram mais).
XXIX
A.E. – A geladeira conservou mais os alimentos e os que ficaram na prateleira e armário tem mofo e fungo. Não dá para conservar sem geladeira ou outro conservante.
Dados (A geladeira conservou mais os alimentos); Garantia (já que- os que ficaram na prateleira e armário tem mofo e fungo);Conclusão(portanto- Não dá para conservar sem geladeira ou outro conservante);Refutação (a menos que- tenha outro conservante ou fique na geladeira, os alimentos não se conservam).
XXIX
A.L.F. – Guardar na geladeira foi o melhor jeito de conservar, não teve diferença na aparência do mingau. O vinagre conservou também, não observei microrganismos, os outros lugares não ajudou a conservar, todos ficaram com microrganismos.
Dados (Guardar na geladeira foi o melhor jeito de conservar);Conclusão (portanto- não teve diferença na aparência do mingau);Dados (O vinagre conservou também);Garantia (já que- não observei microrganismos);Conhecimento Básico (por conta que- os outros lugares não ajudou a conservar); Conclusão (portanto- todos ficaram com microrganismos).
XXIX
A.B.– O mingau que ficou na geladeira conservou mais, porque ficou fechado e refrigerado. O que estava aberto na geladeira, perdeu líquido e endureceu. Os outros tiveram fungos, bolor e muitas bactérias, menos com vinagre...
Dados (O mingau que ficou na geladeira conservou mais);Garantia (já que- ficou fechado e refrigerado);Conhecimento Básico (por conta que- O que estava aberto na geladeira, perdeu líquido e endureceu);Conclusão (portanto-. Os outros tiveram fungos, bolor e muitas bactérias);Refutação (A menos que-tenham vinagre, conservarão).
XXIX
A.R. – A geladeira conservou o mingau, só o que estava aberto ficou duro, mas conservado. O vinagre deixou o mingau com cor branca, mas sem fungos e os outros lugares não conservaram os alimentos, apresentaram microrganismos, precisam de algum tipo de conservante.
Dados (A geladeira conservou o mingau);Garantia (já que- só o que estava aberto ficou duro);Conclusão (portanto- conservado).Dados (O vinagre deixou o mingau com cor branca);Garantia (já que- os outros lugares não conservaram os alimentos);Conclusão (portanto- apresentaram microrganismos);Refutação (a menos que-tenham conservante, apresentarão microrganismos).
XXIX
A. M. – A geladeira conserva os alimentos, e o vinagre ajuda também.
Dados (A geladeira conserva os alimentos);Conclusão (portanto- vinagre ajuda também).
XXIX
A.L. – Antigamente como não tinha geladeira, as técnicas de conservação eram salgar, defumar ou secar ao sol. Hoje, na geladeira conserva mais e o líquido do vinagre impede que as bactérias entrem, mas a temperatura pode afetar, se ficar quente, por exemplo.
Dados (Antigamente como não tinha geladeira...);Conclusão (portanto- as técnicas de conservação eram salgar...);Garantia (já que- Hoje, na geladeira conserva mais);Conhecimento Básico (por conta que-o vinagre impede que as bactérias entrem);Refutação (a menos que- o calor possa afetar, as bactérias entrarão).
XXIX
Fonte: Da pesquisa 2015
Após a análise do referido quadro, não se pode deixar de
mencionar o aprimoramento do discurso, ou seja, o desenvolvimento da
120
estrutura argumentativa dos alunos L., B. e R., que evidenciaram em seus
pronunciamentos, não apenas novos conceitos, mas também a capacidade de
interpretação e a habilidade de relacionar os fatos à sua explicação, compondo,
assim, um argumento dotado de todos os elementos estruturais propostos por
Toulmin. Os demais alunos também apresentaram argumentos estruturados já
vistos em outras fases da pesquisa, porém apenas os argumentos do três
alunos serão usados como exemplos.
Aluno L.
Antigamente, como não tinha geladeira (Dados)__________→portanto, as técnicas de
↓ Conservação eram salgar...(C)
Já que ↓
Hoje, na geladeira conserva mais (W) A menos que
↓ A temperatura afete (R)
Por conta que
Também o líquido do vinagre impede que as bactérias entrem (B)
Aluno B.
O mingau que ficou na geladeira conservou...(Dados)________→portanto, conservou mais (C)
↓ ↓
Já que A menos que
Ficou fechado e refrigerado (W) tenha vinagre, conservarão (R)
↓
Por conta que
O que estava aberto na geladeira, perdeu água e endureceu (B)
Aluno R.
O vinagre deixou o mingau com cor branca (Dados)________→portanto, precisam de algum
↓ tipo de conservante (C)
Já que ↓
Os outros lugares não conservaram os alimentos (W) A menos que
↓ Tenham conservante, apresentarão
Por conta que Microrganismos (R)
Apresentaram microrganismos (B)
Para ilustrar os resultados obtidos nas três etapas dessa
segunda atividade, realizadas em três encontros distintos também foi elaborado
um quadro comparativo com o propósito de apontar o aprimoramento dos
aspectos semânticos e pragmáticos da linguagem oral, bem como o
121
desenvolvimento da estrutura argumentativa dos estudantes que fizeram parte
desta abordagem.
Quadro 18 – Quadro comparativo referente à segunda atividade investigativa.
LINGUAGEM HIPÓTESES (turnos XVII ao XXII)
EVIDÊNCIAS (turnos XXIII ao XXV)
CONCLUSÃO (turnos XXVI ao XXIX)
Semântica
Compreensão da atividade realizada. Emprego de termos já conhecidos. Melhora na estrutura frasal, no sentido conceito-significado.
Explicações contextualizadas das evidências, atribuição de significados a expressão linguística. Manutenção de vocábulos anteriores.
Construções estruturadas semanticamente, evidenciando clareza, síntese de ideias e organização contextual. Interação entre os pares, promovendo debates a respeito dos conhecimentos adquiridos.
Pragmática Atos de Fala
-Representativo: Alunos L., D.; -Declarativo: Alunos R., L.E.; -Diretivo: Aluno M; -Compromissivo: Aluno D.
-Representativo: E.,D.,L.,L.E., M., L.F.; -Declarativo: E.,D., L.; -Diretivo: E., M.
-Representativo: D.,M.,L., E., L.E.,B.,R.,L.F.; -Declarativo: L., D. -Diretivo: R.
Elementos Estruturais do
Argumento
-Dados: Alunos E.,M.,R.; -Dados-Conclusão: Alunos E.,M.,D., L.E., L.; -Dados, Garantia e Conclusão: Aluno: L.; -Dados, Garantias, Conhecimento Básico e Conclusão: Alunos D., L.; -Dados, conclusão e conhecimento básico: Aluno: D.; -Todos os elementos estruturais: Alunos: R., D.
-Dados: L.,D.,E.,M. -Dados-Conclusão: L.F.,L.E.; -Dados, Garantia, Conhecimento Básico e Conclusão: L.E., M.,E.; -Dados, Garantia e Conclusão: E., M.,D.,L.,L.E.; -Dados, Garantia, Conhecimento Básico, Conclusão e Refutação: D.; -Dados, Conclusão e Refutação: L.; -Dado, conclusão e conhecimento básico: M.
-Dados-Conclusão: M; -Dados, Garantia e Conclusão: L.E.; -Dados, Garantias, Conhecimento Básico e conclusão: L.F., D.; -Dado, Garantia, Conclusão, Refutação: E.,R.; -Dados, Garantia, Conhecimento Básico, Conclusão e Refutação: B.,L.
Fonte: Da pesquisa 2015
122
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
É por meio da linguagem que o pensamento do aprendiz é
revelado. A palavra torna claro o que o outro pensa, é através dela que o
diálogo flui. Expor opiniões e ideias é habilidade proveniente da competência
comunicativa da linguagem. O argumento se desenvolve à proporção que o
sujeito adquire novos conhecimentos, enriquecendo seu vocabulário e
enculturando-se cientificamente. A escola, por meio do ensino organizado e do
instrumento de aprendizagem do saber científico, promove tais condições,
favorecendo a alfabetização científica.
A Ciência apresenta linguagem própria e a construção do
argumento deve ser estimulada à medida que os aspectos semânticos e
pragmáticos que compõem a comunicação oral são trabalhados, em sala de
aula, com o intuito de promover a apropriação efetiva da cultura científica em
um ensino de qualidade (VALLE e MOTOKANE, 2009). A análise da expressão
linguística dos estudantes que participaram desse estudo evidenciou o
aprimoramento gradativo das funções linguísticas que estruturam o discurso
qualificado. Observa-se que a aprendizagem de novos conceitos e a utilização
deles na construção do argumento resultaram no uso da linguagem de forma
positiva, qualificando o discurso dos educandos.
É importante apontar a gradual melhora na qualidade das
respostas, no que se refere à organização e à estrutura de linguagem,
tornando-a clara e adequada. Os alunos apresentaram, a princípio,
verbalizações orais pouco estruturadas e diretas, que podemos observar na
fase de formulação das hipóteses, nos turnos de I a IV. No decorrer da primeira
e segunda atividade, contudo, foi possível constatar o emprego de termos que
propuseram significação ao conteúdo ministrado, revelando a apropriação de
novos conhecimentos. Valores semânticos foram atribuídos à expressão
linguística dos educandos, que dessa forma, conseguiram relatar suas
evidências, elucidando com mais detalhes as suas observações a respeito dos
microrganismos e meios de conservação dos alimentos, propondo explicações
plausíveis, com o uso de vocábulos próprios do conhecimento científico.
É importante frisar que não se verificou a melhora nas
produções linguísticas apenas na etapa de observação das evidências, mas
123
também no processo de conclusão das atividades. As argumentações
proferidas nos turnos finais da primeira e da segunda atividade são
visivelmente estruturadas, demonstrando, além do emprego de vocábulos que
proporcionaram sentido às alegações, a presença de elementos que conferiam
validade ao argumento dos estudantes, como o conhecimento básico e os
refutadores.
Dessa forma, a sua comunicação oral exprimiu o conhecimento
adquirido e construiu relatos com informações significativas e específicas do
que analisaram. Isso demonstra que, além da apropriação de conhecimentos e
do aprimoramento do aspecto semântico, houve a enculturação científica,
representada pela utilização consciente de termos que emolduram o conteúdo,
e que propuseram significado científico aos seus discursos argumentativos.
Sasseron e Carvalho (2011) concluem que a comunicação científica se
estrutura ao longo da jornada acadêmica, e não de forma espontânea, devido à
ação dos professores que buscam estratégias que favoreçam o
desenvolvimento de habilidades, como a argumentação.
O ensino por investigação, portanto, favoreceu a aprendizagem
científica e oportunizou ao aluno interpretar e debater com convicção,
colocando-se de forma crítica frente às informações que recebeu durante a
realização do processo investigativo, como o visto nas etapas tanto de
exposição das hipóteses quanto na finalização dos experimentos, de forma
contextualizada e significativa.
Analisando as duas atividades aplicadas, pôde-se indicar a
relação semântica conceito e significado nos argumentos dos alunos E., D., R.,
B., L. e L.E., que apresentaram todos os elementos estruturais apontados por
Toulmin (2006) para um argumento válido, ou seja, além da presença dos
dados e das conclusões, também a presença das garantias, dos qualificadores,
do conhecimento básico e dos refutadores. É válido ressaltar que, embora não
tenham utilizado todos os elementos requeridos por Toulmin, as explicações
dos alunos, L.F. e M., demonstram coerência e eles sintetizam as ideias de
forma clara.
Assim, indica-se, como exemplos do desenvolvimento da
estrutura argumentativa, as verbalizações dos alunos R., B.,L. e L.F., que, ao
trocarem informações a respeito das evidências coletadas e com base nos
124
estudos realizados por meio de textos científicos, deram sentido às suas
afirmações, tornando-as contextualmente mais organizadas.
Isso mostra que, de fato, o ensino por investigação, no que
tange aos aspectos de interação social e debate, promove o desenvolvimento
do argumento, habilidade que se constrói no decorrer da experiência
comunicativa, como já mencionado neste trabalho.
Quanto ao aspecto pragmático, pode-se salientar a presença
dos Atos de Fala representativo, declarativo, diretivo e compromissivo, sendo o
representativo o ato mais utilizado nas verbalizações dos estudantes, seguido
dos atos declarativo e diretivo, enquanto o compromissivo só foi constatado na
fala do aluno D, na segunda atividade investigativa.
O aprimoramento desse aspecto pode ser observado na forma
como os alunos passaram a expressar as suas ideias, ou seja, desde o
emprego de vocábulos inerentes ao tema abordado à capacidade de se fazer
compreender, ao verbalizar o exato conteúdo semântico adquirido durante o
percurso da metodologia investigativa. Com isso, percebe-se que essa
habilidade, que diz respeito ao uso efetivo da linguagem oral e aos seus
propósitos funcionais, se entrelaça à função semântica, não se desenvolvendo
sem que os conteúdos dessa estejam aderidos a ela. Assim, a qualificação das
características pragmáticas e semânticas resulta em argumentos
contextualmente estruturados.
Numa proposta de ensino em que a investigação seja o
enfoque, o aluno é levado a desprender-se da situação de mero observador,
precisando interagir, contribuir e, por fim, argumentar, questionando e ou
afirmando os resultados do seu trabalho. Com isso, escreve Azevedo (2004),
deixa de ser um receptor de conceitos e passa a ser um sujeito que tem
possibilidades de desenvolver habilidades, como interpretação, análise de
dados e, essencialmente, argumentação.
Nesse sentido, os alunos, ao comunicarem seus resultados,
demonstraram a habilidade de comparar informações, fazendo a conexão entre
o saber científico e as evidências coletadas, conforme foi mostrado, como
exemplo, nas falas dos alunos L.E., E., L., M. e D., representadas nos turnos
VIII, IX, XXIII, XXIV, XXV e XXIX. Segundo o NRC (2000), isso torna possível
125
construir argumentos coerentes que confirmam o conhecimento adquirido por
meio da interação entre Ciência e a aprendizagem escolar.
O ensino por investigação demonstra ser o meio capaz de
despertar o interesse do educando para a aprendizagem e principalmente para
o desenvolvimento da habilidade argumentativa da linguagem oral. Ele
favorece a apropriação do saber científico através da experiência em elaborar
novos raciocínios, verbalizar suas ações e hipóteses, relatar seus resultados,
trocar ideias, justificá-las e sustentá-las em um discurso, assim como ter
possibilidade de aprimorar os aspectos linguísticos que qualificam o discurso
elaborado.
Pode-se considerar, portanto, que, por meio dessa
metodologia, a comunicação dos alunos, envolvidos nesta abordagem, de
forma geral, apresentou nessa abordagem traços significativos de
aprimoramento das funções semânticas e pragmáticas da linguagem oral, bem
como do desenvolvimento da estrutura argumentativa. Averiguou-se, tanto no
turno IX, quanto nos turnos XXIII, XXIV e XXIX, que os alunos, ao discorrerem
sobre as observações dos dados coletados, tentando formular explicações a
respeito das prováveis causas de proliferação dos microrganismos e das
formas adequadas de conservação dos alimentos, atribuíram significados
científicos ao seu repertório linguístico, tornando o argumento detalhado, e ao
mesmo tempo organizado, à medida que aprimoraram a forma como utilizavam
a linguagem oral.
Nesse aspecto, não se pode deixar de mencionar as
comunicações verbais que corresponderam à conclusão do experimento, a
partir do turno XXVI. Nelas é possível afirmar que a interação entre os pares, a
motivação e o interesse em discutir e colocar as suas ideias e concepções
promoveram argumentos científicos e expressões contextualizadas que
elucidaram os conceitos adquiridos. Isso ficou demonstrado na mudança, tanto
contextual quanto estrutural da comunicação, cujas verbalizações
apresentaram, além dos elementos básicos e complexos, como os dados e
conclusões, as garantias, o conhecimento básico e os refutadores, esperados
para validar o argumento, vocábulos que propuseram sentido e significado às
suas explicações, permitindo aos estudantes usarem sua linguagem de forma
habilidosa nos debates que ocorreram durante as atividades.
126
Com isso, conclui-se que o ensino voltado para a investigação
contribuiu para a construção do argumento e da estruturação dos aspectos
semânticos e pragmáticos, ao promover condições para que os alunos
trabalhassem em grupo e permanecessem motivados para buscar formas de
resolver seus problemas e partilhar conhecimentos que iam adquirindo ao
longo da aquisição de novos conceitos. Esse processo favoreceu a melhoria de
sua comunicação, que precisou refinar-se para ser conclusiva e convencer o
outro de sua veracidade. Verbalizações elaboradas, embasadas em fatos e
evidências, demonstram a apropriação de significados, concretizados em
argumentos sólidos, que denotam conhecimento e condição de debate frente a
situações que possam requerer a habilidade de pronunciar-se com convicção.
127
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