Mesquitae Linda e Selvagem - Até Quando

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1. CATTLEYA MESQUITAE – LINDA E SELVAGEM: ATÉ QUANDO? “Vem, Vamos embora, esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera”... Para os cultivadores de flores de corte e floriculturistas de plantas brasileiras, o gênero Cattleya é o mais importante no mercado sendo utilizada comumente como sinônimo de orquídea ou como “Rainha das Orquídeas” Meneses (1987), seguramente pela exuberância, tamanho da flor e fragrância incomparável. Comumente no Brasil as Cattleyas são classificadas como originárias das densas florestas da bacia amazônica e ou do litoral brasileiro com destaque para os remanescentes da Mata Atlântica; nesta oportunidade quero destacar a ocorrência da Cattleya Mesquitae numa região de cerrado no coração do Brasil, mais precisamente nas linhas limítrofes entre os municípios de Guiratinga- e Torixoréu-MT. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas esses municípios são integrantes da Amazônia Legal; especialistas a descrevem como “áreas de tensões ecológicas” por estarem incrustado entre a Amazônia o cerrado e o Pantanal, agregando plantas e animais dos três biomas, dezenas deles endêmicos dessa

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Orquídea nativa, Catleya Mesquitae, Catleya

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1. CATTLEYA MESQUITAE – LINDA E SELVAGEM: ATÉ QUANDO?

“Vem, Vamos embora, esperar não é saber. Quem sabe faz a hora, não espera”...

Para os cultivadores de flores de corte e floriculturistas de plantas brasileiras, o gênero

Cattleya é o mais importante no mercado sendo utilizada comumente como sinônimo de orquídea

ou como “Rainha das Orquídeas” Meneses (1987), seguramente pela exuberância, tamanho da flor e

fragrância incomparável.

Comumente no Brasil as Cattleyas são classificadas como originárias das densas florestas

da bacia amazônica e ou do litoral brasileiro com destaque para os remanescentes da Mata

Atlântica; nesta oportunidade quero destacar a ocorrência da Cattleya Mesquitae numa região de

cerrado no coração do Brasil, mais precisamente nas linhas limítrofes entre os municípios de

Guiratinga- e Torixoréu-MT.

Segundo o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatísticas esses municípios

são integrantes da Amazônia Legal;

especialistas a descrevem como “áreas

de tensões ecológicas” por estarem

incrustado entre a Amazônia o cerrado e

o Pantanal, agregando plantas e animais

dos três biomas, dezenas deles

endêmicos dessa região, carecendo de

estudos mais detalhados, sobre suas

especificidades. O fato é que em pleno

século XXI a região ainda esconde

mistérios e riquezas biológicas que

desafiam até mesmo as imaginações

mais delirantes e as instituições públicas

entre as quais destaco as universidades,

escolas técnicas e as organizações não governamentais que podem oferecer importantes

contribuições para o real conhecimento do potencial florístico local.

Diante das rápidas transformações que o cerrado Mato-Grossense vem sofrendo, frente ao

modelo de desenvolvimento patrocinado ao longo dos anos pela máquina governamental, várias

espécies nativas estão desaparecendo antes mesmo de serem estudadas. Em particular na Região Sul

de Mato Grosso com a implantação da atividade garimpeira por volta de 1908 paralelo a pecuária

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extensiva e posteriormente com a introdução da cultura intensiva de grãos, no início da década de

1970. Lutzberger define de forma muito clara o tamanho da atrocidade que o homo sapiens-sapiens

vem cometendo, observe:

O que fazemos na Amazônia é provavelmente, a maior das imbecilidades da história da humanidade. O mais triste neste erro é que ele é tão desnecessário e suas conseqüências tão previsíveis. Mais uma vez os beneficiados são saqueadores externos à região, pouco importa que se trate de firmas multinacionais ou indivíduos ou entidades paulistas, gaúchas ou de outras regiões brasileiras. aos amazônidas sobrarão a devastação, os desequilíbrios hídricos e climáticos, a marginalização e a fome. Mas tudo isso é desenvolvimento. J. Lutzberger, Ecologia do Jardim ao Poder(p.89) in Pellegrini Filho,(2000 p.27).

A Carta da Terra, 2004 demonstra de forma inequívoca a importância desse momento em

que estamos vivendo, bem como a necessidade de nos compromissarmos de forma mais efetiva com

a manutenção das mais distintas formas de vida no mundo, a partir do local onde vivemos:

”Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações”.

Só preservamos aquilo que conhecemos bem, daí a necessidade de estudos sistemáticos

sobre essa espécie que apesar de tão agredida e dos riscos que correm o Ministério do Meio

ambiente se quer a integrou na nova lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas de

Extinção elaborada pela Fundação Biodiversitas na Categoria de plantas II - com deficiência de

dados: aquelas cujas informações (distribuição geográfica, ameaças/impactos e usos, entre outras)

são ainda deficientes, não permitindo enquadrá-las com segurança na condição de ameaçadas. Os

orquidófilo têm um papel muito importante nesse processo de chamamento à responsabilidade dos

órgãos públicos no sentido de estimular a criação de banco de dados sobre essa e outras plantas que

sequer foram catalogadas e estão correndo risco eminente de extinção. Para ser mais exato, apenas a

Cattleya Nobilior e a Cattleya Walkeriana entre as orquidáceas de MT foram enquadradas nessa

categoria apesar de ser comum encontramos na beira das estradas que levam para a região norte de

MT, barraquinhas na margem das rodovias vendendo orquídeas nativas sem nenhuma fiscalização

ou acompanhamento dos órgãos “competentes”.

Convêm destacar que o artigo 8º da Instrução Normativa do Ministério do Meio Ambiente

publicada em setembro de 2008 determina que: “As espécies com deficiência de dados constantes

do Anexo II a esta Instrução Normativa e que de acordo com os estudos acima mencionados

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apresentarem informação científica suficiente para serem consideradas ameaçadas de extinção serão

objeto de publicação de nova Instrução Normativa pelo Ministério do Meio Ambiente”.

Quer saber maiores informações sobre a Lista Completa das Plantas Ameaçadas?Consulte

a lista e verifique se ai bem pertinho de você não está ocorrendo descaso ou omissão por parte das

autoridades, sua ação pode ajudar a preservar uma espécie e toda cadeia que dela necessita para

sobreviver, é só clicar no link:

http://www.mma.gov.br/estruturas/ascom_boletins/_arquivos/83_19092008034949.pdf

Quem ama cuida e quem sabe faz a hora! Este é o momento de promovermos estudos,

discussões e debates a nível nacional sobre essa e outras plantas da família das orquidáceas que

estão em risco de extinção para que elas não desapareçam completamente da natureza. A

preservação das espécies em seu habitat natural seguramente contribuirá entre outros para maior

variação genética.

Atualmente o país se orgulha de ser a quarta maior potência no tocante a banco de

germoplasma, ficando atrás somente dos Estados Unidos (500 mil amostras), da China (390 mil

amostras) e da Alemanha (160 mil amostras), graças ao intercâmbio entre a EMBRAPA e a

LABEX-EUA e o Serviço de Pesquisa Agrícola (ARS) norte americano, o desafio é demonstrar que

precisamos expandir as pesquisas que até o momento se concentram nas atividades madeireiras e

alimentícias para outras áreas não menos importantes para o equilíbrio do planeta entre as quais

destacamos a orquidofilia e toda gama de vida que se inter-relaciona com essa que se configura

como uma das famílias de plantas mais evoluídas que a ciência tem conhecimento.

2. CATTLEYA MESQUITAE - DESCRIÇÃO DA ESPÉCIE

Por ser relativamente recente a descrição dessa espécie no mundo científico, esta planta

ainda carece de estudos específicos acerca de sua composição genética, mas foi descrita no Boletim

CAOB nº 26 de 1996 pela engenheira florestal e botânica Drª. Lou C. Menezes como um híbrido

natural. O nome da planta foi atribuído em homenagem ao Senhor Raimundo Mesquita orquidófilo

carioca. Segundo Sr. Oswaldo Franchini a primeira exposição oficial desta planta teria ocorrido em

uma exposição de orquídeas na cidade de Jataí (GO).

Reino: PlantaeDivisão: MagnoliophytaClasse: LiliopsidaOrdem: AsparagalesFamília: OrquidaceaeSubfamília: EpidendroideaeTribo: EpidendreaeGênero: Cattleya Lindl.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cattleya_mesquitae

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3. CATTLEYA MESQUITAE – HABITAT NATURAL

O cerrado é o segundo maior bioma da América do Sul e o primeiro em diversidade do

mundo, apesar disso está condenado, sobretudo pelo avanço desordenado da agricultura de

exportação. No mundo globalizado cada vez mais se constata que a diferença entre os

empreendedores de sucesso e os fracassados é extremamente simples: situa-se no campo da

percepção; precisamos ser rápidos em perceber as mudanças e flexíveis ao empreendê-las, trocando

o “fazejamento” pelo planejamento.

Assistimos diuturnamente ecocídios nas mais diversas formas; essa prática invadiu nosso

consciente coletivo e se sedimentou de tal forma que nos tornamos invisíveis diante da barbárie que

o Homo sapiens está provocando ao meio ambiente. Ainda é possível transformar uma pequena flor

num espetáculo aos nossos olhos, é possível tratar feridas da alma com a orquidioterapia.

Estudos climáticos recentes indicam crescente aumento da temperatura global destacando

que o ano de 2005 foi o mais quente em todo o período que se processa a medição; existem fortes

indícios que as conseqüências do aumento da poluição, das queimadas e dos desmatamentos serão

extremamente danosas para todos os seres vivos incluindo o homem. A comunidade científica sabe

que as plantas funcionam como indicadores de qualidade de vida e é também sabedora que muitos

processos fenológicos, como a queda de folhas e a floração, estão claramente associadas ao clima.

O clima predominante da região Sul mato-grossense é o tropical com temperatura média na

casa dos 24º, sendo que as máximas absolutas mensais não variam muito ao longo dos meses do

ano, podendo chegar a mais de 40ºC. nos dias mais quentes de verão e as mínimas absolutas

mensais variam bastante, atingindo valores em torno de oito a dez graus, nos meses de maio, junho

e julho, na cidade de Guiratinga-MT. Ao longo de dezoito anos de residência nessa região nunca

presenciei temperatura próxima ou abaixo de zero grau.

O que se constata é que apesar de aparentemente não estarmos sendo afetados pelo efeito

das mudanças climáticas, em conversas informais com orquidófilos da região foi constatado uma

certa estranheza com relação a antecipação da floração de diversas espécies nativas da família das

orquidáceas, em particular as cattleyas nos anos de 2006, 2007 e 2008.

O relevo da região varia de plano a suavemente ondulado, estendendo-se por imensos

planaltos ou chapadões e a ocorrência das Cattleyas Mesquitaes ocorre via de regras em altitudes

superiores a 600m acima do nível do mar.

A precipitação média mensal apresenta uma grande estacionalidade, concentrando-se nos

meses de primavera e verão (outubro a março), que é a estação chuvosa. Curtos períodos de seca,

chamados de veranicos, podem ocorrer em meio a esta estação. No período de maio a setembro os

índices pluviométricos mensais reduzem-se bastante, podendo chegar a zero. Disto resulta uma

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estação seca de 3 a 5 meses de duração, ao final desse intenso período de stress inicia-se o período

de floração da Cattleya Mesquitae que se inicia no mês de setembro e se estende até meados de

novembro. Como que desafiando a sina de morte quase certa, após cinco meses de seca em que as

plantas são praticamente obrigadas a fingirem de mortas, para suportarem o risco constante do fogo

que se revela uma eterna ameaça, o cerrado explode em frutos e flores.

Iniciam-se os acasalamentos dos animais, o perfume adocicado dos frutos se misturam ao

perfume das flores, num verdadeiro convite a saborear o puçá, o cajuzinho do cerrado, a castanha

do baru, as gabirobas, o xixá, entre outros

FOTO Nº 01 – EXEMPLARES DE CATTLEYA MESQUITAE NO HABITAT NATURAL

FONTE: ARQUIVOS PESSOAL

As gotículas de orvalho e a combinação climática realizam o milagre da manutenção e

multiplicação da vida silvestre, enchendo de poesia este que é um dos mais ricos ecossistemas do

planeta. Na região de Guiratinga, porção Sul do estado de Mato Grosso, essa planta raramente é

encontrada na forma epífita; é mais comum encontrá-la incrustada nas rochas (rupícula).

Quando a Mesquitae é encontrada em regiões bem sombreadas seu bulbos se desenvolvem

de forma mais acentuada, estão melhores hidratados e chegam a ter semelhança em proporção com

os da Cattleya Nobilior no tocante ao tamanho e forma dos bulbos, no entanto o mais comum é

encontrá-las fixadas nas rochas que podem ser do tipo bloco de arenitos siltiticos (popularmente

conhecidas na região como piçarra) ou em rochas de origem vulcânicas as famosas pedras de fogo

do interior paulista.

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No Brasil existem registros da ocorrência dessa planta nos estado de Goiás (21 municípios)

e em MT (05) municípios, no exterior há registros de sua ocorrência na Bolívia ma região de

Encarnacion.

Cada frente da planta produz em média duas flores que emergem do ápice dos

pseudobulbos entre as folhas como ocorrem na Cattleya Nobilior ou do rizoma como ocorre na

Cattleya Walkeriana. As flores possuem de 8 a dez centímetros e a coloração das mesmas sofre

variação intensa (alba, albescens, suave, pérola, semialba, amoena, caerulea, caerulense, lilás tipo,

rosada, rubra, concolor, lilacina e vinicolor).

Foto de Mesquitae Florida

Sou Sócio fundador de uma instituição que durante seis anos consecutivos a partir do ano

2000 produziu belas experiências na área de orquidofilia, a ONG SOS Orquídeas. Nesse período

com a ajuda de abnegados orquidófilos e parcerias realizadas com instituições privadas e órgãos

governamentais promovemos Exposições, Encontros Regionais, Baile de Gala visando a Eleição de

Mis Orquídea, Jornadas de Estudo, Pesquisas de Campo, diversos Cursos, trouxemos especialistas

nas mais diversas áreas da orquidofilia entre eles Os Doutores Darli Machado e a Drª. Lou

Menezes, em uma das tantas conversas que tivemos Drª Lou Menezes demonstrava uma certa

inquietação no tocante a Cattleya Mesquitae quanto a sua origem, sobretudo porque na região de

Piracanjuba (GO) as supostas matrizes estavam muito distantes uma da outra e os agentes

polinizadores não conseguiriam realizar o trabalho que possivelmente teria gerado essa nova

espécie.

“A Cattleya walkeriana var. princeps, que poderia ser uma das plantas envolvidas no híbrido, está a uma distância de 320 km, na cidade de Piracanjuba. A Cattleya nobilior também está a pelo menos 50 km de distância. Ela nunca está nos habitats misturada com a Cattleya walkeriana, que sempre é encontrada em pequena quantidade”.

Pois bem, em uma visita de campo em que estavam presentes aproximadamente seis

membros da SOS fizemos uma descoberta que se contituiu num verdadeiro achado. Numa região

pouco visitada até então descobrimos a Cattleya Nobilior, a Cattleya Walkeriana e a Cattleya

Mesquitae no mesmo espaço físico.

A região possui uma mata frondosa com enormes árvores, no entanto é bem ventilada e

possui enormes blocos de rochas agrupadas sob a cobertura vegetal. Na forma rupícula encontramos

a Cattleya Mesquitae e na epífita encontramos a Cattleya Walkeriana e a Cattleya Nobilior. Convêm

destacar que foi encontrado uma orquidáceas da família das Cattleyas no mesmo ambiente das

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demais que empiricamente parece ser derivada de um novo cruzamento natural, mas isso ainda

carece estudos e análises mais profundas, mas vale o registro da ocorrência dessas plantas num

mesmo habitat, espero com isso contribuir para futuras discussões acerca dessa espécie tão pouco

conhecida dos pesquisadores, a Cattleya Mesquitae.

Foto da Nobilioir e foto da Walkeriana na mata

A Mesquitae demonstra certa preferência por terrenos acidentados, em função dos

desmatamentos para formação de pastagens, teoricamente elas estariam protegidas uma vez que os

terrenos mais acidentados, sobretudo nas encostas das furnas, também são abrigos prediletos de

uma série de animais que compõe a fauna local, incluindo as onças (preta, parda suçuarana).

Em 2007 o biólogo Joaquim Vilela e a autodidata Zelita Maria da Conceição, membros da

diretoria da SOS, realizaram uma nova visita exploratória na área em questão e após ouvirem um

barulho estranho no meio da mata ficaram apavorados; era uma Onça parda que havia acabado de

apanhar uma presa que certamente faria parte de sua refeição matinal.

O Susto maior de nossa amiga não foi quando enxergou a onça, mas sim ao ver o

“orquidoido” partir numa desabalada carreira na direção da onça; por sorte a mesma não era um

exemplar adulto e após abandonar a presa, acabou fugindo.

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Passado o susto o biólogo exclamou: Pensei que fosse um cachorro vinagre! Eles estão em

extinção, nós tinha que salva-lo. Depois desse episódio nenhum dos membros da SOS Orquídeas

voltou até o presente momento ao local.

Porém nem mesmo as onças têm conseguido assegurar a proteção dessa espécie, temos

informações de fontes seguras que pessoas inescrupulosas vêm se deslocando para a região e pagam

para a população local a quantia de dez reais por saco de orquídea para mais tarde comercializá-las

nos grandes centros do país e do exterior, felizmente um dos grandes compradores de plantas

nativas de nossa região faleceu no início do ano passado de forma acidental ao cair de uma moto;

apesar de trágico, o meio ambiente agradece, pois em uma região onde a falta de emprego é muito

alta as pessoas se prestam a coletar plantas e vender por um preço ínfimo por questões de

sobrevivência. Prefiro celebrar a vida, mas nesse caso especificamente as orquidáceas certamente

agradecem.

Se não bastassem a destruição ambiental provocada pelo garimpo de diamantes ao longo

do século passado, as atividades agrícola que despeja toneladas de agrotóxico com o emprego de

aviões, a pecuária que avança sucessivamente nas áreas que deveriam estar sendo preservadas e o

fogo no cerrado que é utilizado desde a preparação para limparem pastagens e roças de

subsistências, nossa flora se depara com o mais voraz de todos os predadores o “bicho homem”, ele

não tem escrúpulos, age impulsionado pela possibilidade do ganho aparentemente fácil, sua

consciência é facilmente manipulada pelo dinheiro e o ceticismo é seu fiel aliado.

Quem atirou fogo nas vestes dos buritis? Questiona Dan Alves, filho de um dos fundadores

da cidade. O som do vento se encarrega de propagar suas dúvidas...

“Amanhã quem sabe um tamanduá abraçando as flamas suicidará sobre o formigueiro

como um monje. O lobo guará olhando para uma lua de sangue, uivará sua dor.; a Suçuarana

acuada entre as zagaias flamejantes de uma coivara vulcânica, revelará a felina arte: Viver e morrer

tão de repente, como quem chega e parte..

Praticando uma geografia errante, o homem transformou o cerrado num imenso holocausto

de suas flores e seus frutos: a cagaita, o murici, o assa-peixe e o alecrim, mas os céus rejeitaram

essa oferta de Caim, e a Terra pariu seu renovo de novo... Brotos arrancados a fórceps de seu útero”

insistem em dizer sim enquanto o Homo Sapiens teimosamente diz NÃO ao equilíbrio planetário.

Na era digital as informações circulam numa velocidade nunca dantes navegada, a aldeia

global tornou possível a troca de conhecimentos em tempo real, diante dessas transformações urge

pensarmos globalmente, mas agir localmente, produzindo ou mantendo espaços e informações de

biomas onde homens plantas e animais consigam conviver respeitando suas diferenças, pois sem

sonhos a vida não tem brilho, sem metas a vida não tem alicerces, sem prioridades os sonhos não se

tornam reais.

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Para Saber mais:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Esp%C3%A9cie_amea%C3%A7ada

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cattleya_mesquitae

http://pt.wikipedia.org/wiki/Cattleya