Mercado Municipal de Uberlândia

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

FACULDADE DE GESTÃO E NEGÓCIO

GRADUAÇÃO EM ADMNISTRAÇÃO

COMO AS MUDANÇAS NO MERCADO MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA SÃO

VISTAS PELOS TRABALHADORES DESTES?

ALEXANDRE MARTINS CARVALHO

CARLOS SERGIO BATISTA JUNIOR

LUANA RODRIGUES DAUD

RAFAEL FERNANDO ANTÔNIO BARROS FARES

UBERLÂNDIA

MARÇO DE 2014

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COMO AS MUDANÇAS NO MERCADO MUNICIPAL DE UBERLÂNDIA SÃO

VISTAS PELOS TRABALHADORES DESTES?

ALEXANDRE MARTINS CARVALHO

CARLOS SERGIO BATISTA JUNIOR

LUANA RODRIGUES DAUD

RAFAEL FERNANDO ANTÔNIO BARROS FARES

O objetivo deste artigo é identificar e entender como as mudanças no mercado municipal de Uberlândia são vistas pelos trabalhadores do mesmo, bem como verificar os seus sentimentos relacionados a vivencia no seu trabalho cotidiano.Orientadora: Profª Drª Cíntia Rodrigues

UBERLÂNDIA

MARÇO DE 2014

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RESUMO

O referente artigo visa compreender o ponto de vista dos trabalhadores do Mercado

Municipal de Uberlândia em relação às mudanças ocorridas no mesmo. O objetivo foi

verificar como as mudanças no Mercado Municipal são vistas pelos trabalhadores destes.

Foram entrevistados seis trabalhadores do Mercado, as entrevistas foram semi-estruturadas

com o auxílio de um tópico-guia baseado no referencial teórico deste estudo. A pesquisa

mostrou que os transtornos são avaliados negativamente pelos trabalhadores, no entanto, a

mudança estrutural é considerada um ponto positivo para os mesmos.

Palavras-chave: Mercado Municipal, Mudanças, Uberlândia.

ABSTRACT

The related article aims to understand the point of view of the workers of the

Municipal Market of Uberlândia in relation to changes in the same. The objective was to

determine how the changes in the Municipal Market are seen by its workers. Six workers of

the Market were interviewed, the interviews were semi-structured with the support of a topic

guide based on the theoretical framework of this study. The research has shown that the

disorders are negatively evaluated by workers, however, the structural change is considered

positive point for the same.

Key words: Municipal Market, Changes, Uberlândia.

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INTRODUÇÃO

A grande influência que a globalização e a urbanização exercem sobre as cidades,

provoca um fenômeno no qual as culturas locais são gradativamente ocultadas por uma

cultura global. Os mercados municipais desempenham um importante papel seguindo a

contramão deste processo. Como afirmam Pimentel e Leite-da-Silva (2006), Não é preciso ser

antropólogo para identificar as feiras e os mercados públicos como sendo loci privilegiados

para odesvendamento de hábitos típicos de uma dada cidade, região ou país. Mais do que

lugares de comercialização de produtos e serviços, esses redutos informam sobre as

sociabilidades exercidas e como os alimentos, os vestuários e os utensílios remetem às

identidades daqueles frequentadores rotineiros que ali trocam experiências,reforçam tradições

e auxiliam na construção das culturas organizacionais (PIMENTEL, T. D. e LEITE-da-

SILVA, 2006).

Os mercados municipais tiveram sua origem há muito tempo, há relatos da existência

de mercados já no final do século X, no Império Romano, onde atualmente está localizada a

cidade de Barcelona (PINTAUDI, 2006).

No Brasil, o surgimento dos primeiros mercados aconteceu em São Paulo, no século

XVIII, quando foram construídas as “casinhas”, que vendiam produtos alimentícios não

perecíveis. Mas foi em 1860 que aconteceu a criação do Mercado Municipal

Em Uberlândia, o Mercado Municipal foi inaugurado em 1944, à Rua Olegário

Maciel, esquina com a Avenida Getúlio Vargas, para se tornar um centro de comércio

atacadista hortifrutigranjeiro, passa a funcionar em 1977 apenas como varejista. O complexo

projetado sob a influência da arquitetura moderna foi inventariado em 2001 e tombado como

patrimônio histórico.

Desde sua inauguração o Mercado Municipal de Uberlândia passou por algumas

reformas, como, por exemplo, a última reforma estrutural ocorrida em 2012. Além das

reformas estruturais, o Mercado também foi alvo de mudanças intangíveis, como na sua

cultura e no seu público.

Este artigo tem como objetivo deste artigo é identificar e entender como as mudanças

no Mercado Municipal de Uberlândia são vistas pelos trabalhadores do mesmo, bem como

verificar os seus sentimentos relacionados a vivencia no seu trabalho cotidiano.

A pesquisa e o estudo foram realizados com seistrabalhadores do Mercado Municipal

de Uberlândia, os dados foram obtidos através de entrevistas com o auxílio de um tópico-guia

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montado com base no referencial teórico.Este artigoé relevante para a população em geral

pois permite identificar a importância que o local tem para seus trabalhadores. Portanto, é

fundamental sabermos como as mudanças no Mercado Municipal de Uberlândia são vistas

pelos trabalhadores destes.

REFERENCIAL TEÓRICO

Atualmente, há uma grande movimentação em torno dos Mercados Municipais. Estes

locais normalmente estão associados com vendas de artigos regionais, tanto de seu local de

origem como outras culturas. Podemos dizer que é um lugar cosmopolita, ou seja, reúne

diferentes culturas.

O Box do Chico, localizado no Mercado Municipal de Uberlândia, região central, logo na entrada pela rua Olegário Maciel, é uma referência na cidade quando se pensa em produtos tipicamente mineiros tais como farináceos, doces de leite e de frutas em pasta, cristalizados, em cubos ou em barras; além de compotas, mel, condimentos, queijos regionais, polvilho e fubá, sendo estes alguns dos produtos que aguçam o paladar dos fregueses. Fregueses estes oriundos de toda parte do Brasil que passam pela banca do “Seu Chico”, como o proprietário é chamado e conhecido por todos, para levar um pouco de Minas, seja para sua casa, seja para amigos e parentes pelos quatro cantos do mundo. (CAVEDON, FANTINEL, ÁVILA, VALADÃO, 2010, p.173).

Estes locais tentam criar uma atmosfera cultural e de socialização. Isso quer dizer que

dentro do mercado há sim uma competição feroz por lucro, mas não na maioria dos casos.

Muitos estão nesses locais por conta de sua história, por ser um ambiente agradável, ponto de

encontro de amigos.De acordo com os pesquisadores Cavedon, Fantinel, Ávila , Valadão

(2010)foi possível identificar aspectos da cultura organizacional que extrapolam a lógica

capitalista do negócio como tão somente fonte de lucro, posto que as relações entre

permissionários e funcionários se dão num nível de intimidade e de companheirismo que

sobrepuja a impessoalidade e frieza comum ao mundo empresarial.

Em Uberlândia o Mercado Municipal foi construído em 25 de dezembro de 1944, no

cruzamento da rua Olegário Maciel com a avenida Getúlio Vargas, durante a posse do prefeito

Vasconcelos Costa (1943-1945). A construção do mercado municipal se justificava pelo fato

de que haveria um maior controle sobre os preços das mercadorias comercializadas e

possibilitaria ao município a arrecadação de impostos. (ALVES, RIBEIRO, 2011)

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Um outro importante fator que Alves, Ribeiro (2011) ressalta em relação à construção

do mercado foi que ajudaria na higienização da cidade, uma vez que permitiria a

comercialização periódica de produtos rurais em um único espaço e de forma organizada.

O Mercado Municipal de Uberlândia foi tombado em 2002, e suas reformas tiveram

início no ano de 2005.

A Secretaria de Cultura reputava a preservação do Mercado “de fundamental importância, não só pelos valores arquitetônicos nele inseridos, como também pelo valor de memória e de referencial para os habitantes de Uberlândia”. Ressaltava que o edifício, “apesar de não apresentar características arquitetônicas excepcionais, carrega os elementos tipicamente empregados nas construções da época.(GOULART, 2006)

De acordo com Goulart (2006) os motivos para o tombamento do mercado buscavam

superar a concepção tradicionalista do patrimônio, destacando seu valor para a população da

cidade e sua importância na criação das relações sociais.

Há uma dificuldade em encontrar materiais bibliográficos e documentais em função da

idade do mercado e sua época que foi construído. O momento histórico em que o Mercado foi

construído justifica, em parte, as dificuldades atuais de se encontrar fontes documentais, pois

no período de ditadura o “papel” da imprensa é usurpado e os registros se tornam

questionáveis. (CAVALCANTE, V.M.Q., 2007).

METODOLOGIA

O objetivo deste artigo é identificar e entender como as mudanças no mercado

municipal de Uberlândia são vistas pelos trabalhadores do mesmo, bem como verificar os

seus sentimentos relacionados a vivencia no seu trabalho cotidiano.

O artigo se destina a população em geral, para que tomem conhecimento da cultura,

história, e importância do Mercado para as pessoas que fazem deste, o fruto do seu sustento.

Para obtenção de um resultado fidedigno, foram feitas seis entrevistas

semiestruturadas com trabalhadores do local, auxiliadas por um tópico-guia baseado no

referencial teórico do presente artigo. Estas, foram realizadas exclusivamente no Mercado

Municipal com trabalhadores que foram escolhidos por conveniência.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas individuais com os trabalhadores do

Mercado, os quais foram transcritos e em seguida, submetidos ao processo de “unitarização”.

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Após esse processo, houve revisão e codificação dos dados para que enfim, pudessem ser

analisados.

Ressalta-se ainda, que os nomes citados neste artigo, inclusive aqueles ditos durante

qualquer entrevista aqui transcrita, são fictícios e escolhidos aleatoriamente pelos autores. Tal

fato faz-se necessário para que seja mantida o sigilo da identidades dos participantes.

RESULTADOS

Tomando como guia o tema central e o tema específico do trabalho, através dos dados

coletados, foi possível observar várias opiniões sobre os mesmos. A maioria dos entrevistados

destacaram que as principais mudanças do Mercado Municipal de Uberlândia se deram pelo

surgimento de transtornos no ambiente. Em seguida, pode-se observar uma frequência muito

grande de argumentos, vindos dos entrevistados, de que houveram mudanças na estrutura

física do Mercado.

Uma das entrevistadas, responsável por um comércio do Mercado, retrata o transtorno

que o barulho alto gerado pelos shows trazem para o comércio interno do bloco central, bem

como para os moradores de prédios residenciais da redondeza.

"Em volta aqui do mercado os prédios que são todos residenciais, e eles estão

trazendo um barulho enorme. Quando você está aqui dentro, e chega pessoas pra

atender no sábado, você nem consegue ouvir."

O fato de que o barulho alto gerado pelos shows dos finais de semana é reconhecido

também por outro entrevistado.

"Agora, acho que a música alta incomoda sim, e isso foi objeto de longas discussões,

então houve todo um esforço no sentido de regular isso. Isso é que eu acho

importante, por que existem leis, então a primeira coisa é cumprir a lei. Uma vez

observando os constrangimentos da lei, os limites que a lei impõe, ai a gente pode

discutir dentro dos limites da lei".

Além do barulho alto, os shows também são responsáveis por outros tipos de

transtornos, como citado por outro comerciante local. Ele afirma que os shows, muitas das

vezes, ocupam o estacionamento do pátio central do Mercado que, segundo ele, é um local

impróprio para realizar tal evento.

"Os shows afetam por que aqui não tem espaço. Eles tiram o estacionamento pra

botar o show. Aqui não é próprio pra fazer show, porque aqui não tem espaço.

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Prejudica quem estaciona pra comprar aqui, por que eles isolam o estacionamento

pra montar o palco e aquela coisa toda. Quem ia estacionar aqui vai embora."

Em contrapartida, uma outra comerciante, quando entrevistada, diz que os shows não

são prejudiciais. Ela apresenta uma visão totalmente contrária dos demais, afirmando que os

shows são úteis para aproximar o Mercado com outros tipos de públicos, como por exemplo,

os jovens. Além disso, os shows são capazes de atrair a atenção dos turistas que já compram

no mercado.

"Pra mim o show é indiferente. Atrapalhar, assim, eu sinceramente acho que não

atrapalha. O que a gente tem de idade é o que o barulho incomoda (risos). Mas o

som é uma boa para os jovens, e para as pessoas de fora também."

Os shows, aliás, não são os únicos alvos de críticas partidas dos comerciantes. Quando

o assunto era a prefeitura, surgiram mais comentários sobre transtornos no Mercado

Municipal.

Um comerciante entrevistado, criticou duramente a forte burocracia que a prefeitura

implica sobre o Mercado. Ele afirmou que muitos dos boxes presentes no Mercado estão

atualmente desocupados e que a prefeitura, com sua burocracia, inviabiliza o aluguel destes

boxes por novos comerciantes, causando muitas desistências por parte destes.

"A prefeitura está com uma falha aqui, por que há dois anos eles não alugam esses

boxes ali. É muito burocrático. O pessoal vai lá na prefeitura pra tentar alugar os

boxes, e eles arrumam uma burocracia violenta, então os caras desistem. Isso está

atrapalhando muito o Mercado."

O mesmo comerciante também comenta sobre a segurança do Mercado Municipal. Ele

diz que o local está rodeado por "malandros", e isso acarreta à uma falta de segurança para os

que frequentam o Mercado. Corrobora dizendo que a prefeitura, por muitas vezes, fez

promessas de que melhorariam a segurança do local, porém, em vão.

"Está tendo muito malando por aqui, muito malandro! Celular já me roubaram dois.

Tá muito ruim de segurança. O prefeito prometeu mais policiamento, prometeu

guardas municipais, e até hoje tá ai sem colocar. É só promessa. Não adianta ficar

bonitinho por fora se por dentro tá cheio de problemas."

Partindo para uma perspectiva mais cultural, vários comerciantes destacam a falta de

variedade do Mercado.

"Não tem variedade.Muita gente vê aqui e pergunta por onde tomar um lanche. Tem

atéuns lanchinhos muito fracos. Então acho que precisa de um lanchinho bem legal,

pra o turista vir e se sentir confortado."

Afirmam que o local poderia abrigar outros tipos de estabelecimentos.

"O Mercado não tem variedade. Todo mercado tem variedade. A segunda cidade do

estado com um mercado que não tem recurso nenhum? A gente vem aqui e não tem

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uma lanchonete boa, não tem muita coisa. Não tem livraria, não tem banca de

revista. Era pra por uma padaria, era pra por uma loteria, mas nada aconteceu. Só

promessas."

Outro transtorno citado foi a falta de comprometimento de vendedores mais antigos

para com seus produtos e, consequentemente, seus clientes. Um entrevistado afirma que os

vendedores mais antigos haviam se acomodado quando o assunto era a higiene de seus

produtos, produzindo os mesmos, muitas vezes, sem as devidas condições de higiene

necessárias para a produção de alimentos. Diante de tal fato, a prefeitura então interveio com

novas propostas fiscais.

"Mas o fato é que a gente precisa também reconhecer. Com o tempo as pessoas

estavam um pouco displicentes com a forma em que apresentavam seus produtos.

Então eu sou um pequeno empresário, e tenho meu comércio aqui, mas eu ocupo um

espaço público, então é uma obrigação que eu como cidadão exijo que a prefeitura

atue sobre o mercado, e que ela regule as relações aqui dentro."

Tal intervenção, é uma das muitas intervenções benéficas da prefeitura sobre o

Mercado. Sendo ela maléfica ou benéfica, o fato é que houveram, em todas as entrevistas

coletadas, alguma opinião sobre ações da prefeitura no Mercado. A estrutura física, aliás, foi a

segunda variável mais citada nas entrevistas, e foi a prefeitura quem obteve o papel principal

neste ato.

Em seu dia-a-dia, os comerciantes conviviam no local em uma situação deplorável,

insegura e nem um pouco higiênica. Diante disso, a prefeitura propôs uma reforma no

mercado, modificando e melhorando suas estruturas físicas internas e externas. O telhado foi

trocado; criaram-se novas galerias; estruturas elétricas foram trocadas e aprimoradas; os

prédios centrais e auxiliares receberam novas pinturas; boxes foram remodelados. O Mercado

Municipal recebeu uma nova cara.

"Eu acho que ficou mais claro, principalmente. Ficou com uma aparência mais

limpa. Acho que não é só a aparência, acho que ficou mais limpo mesmo. Quer

dizer, existia um pergolado, um forro, que estava a muito tempo sem que ninguém

mexesse. Então as pessoas comentavam lá dentro que descia muita penugem de

pombo. Eu não convivo lá, mas eu já ouvi esses comentários de que almoçar ou

abrir uma quentinha lá é um risco. Não tem condição. Pra quem vendia alimentos, os

queijos ficavam muitas vezes expostos".

Junto às reformas, veio o aumento da fiscalização. Comerciantes foram submetidos à

uma nova política de apresentar seus produtos. A gestão por parte comissão de identidade,

aliás, trouxe ao mercado diversas secretarias, que posteriormente a auxiliariam na

administração do Mercado.

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"Então é assim que a coisa vem acontecendo. Eu acho que é mais do que a reforma

do mercado, a instituição da comissão de identidade, que acabou sendo constituída

por decretos de lei municipal, trouxe outras secretarias: trouxe o conselho do

patrimônio histórico, trouxe o instituto de arquitetos, trouxe outras secretarias

municipais. E tem a configuração dele aqui. Eu acho que isso talvez seja a principal

mudança que não aparece tanto pro público, nem gerou tantos efeitos ainda, mas

pode ser um veículo pra uma transformação profunda do mercado."

A gestão por parte dos comerciantes internos também foi citada nas entrevistas. Pode-

se observar que o modo como os eles tocavam seus comércios era influenciado por tradições

passadas de geração a geração. Os comerciantes mais antigos possuíam uma forma particular

de fazer seus produtos, de vender seus produtos, de atender seus clientes, de agir. Em seu

comércio, geralmente utilizavam outros integrantes de sua família para ajudá-los. Diante

disso, passavam suas tradições para seus ajudantes, integrando-os no processo cultural.

"Eu acho que o mercado é um espaço único. Então eu sempre defendo que o

mercado esteja habitado por personagens. O seu Emanoel ali, o barbeiro, ele é um

personagem! Ele está aqui há mais de 40 anos, conhece tudo, conhece todos, é uma

instituição viva! Eu acho interessante o mercado nesse aspecto. As pessoas que

trabalham aqui em geral são os proprietários ou seus familiares. Claro que tem

funcionários, mas a identidade de cada comércio é dada pelo seu proprietário, e é

bem diferente do comércio pasteurizado e monocromático dos shoppings."

A cultura do Mercado, além de composta pela identidade dos seus comerciantes, é

formada também pela identidade de seus clientes e frequentadores. Tal afirmação é citada

diversas vezes nas entrevistas. Os comerciantes destacam um perfil específico de seus

clientes, no qual estes são, em sua maioria, turistas. O fato de seus clientes serem turistas é

tratado nas entrevistas como um diferencial. Os comerciantes valorizam e fazem questão de

destacar este diferencial em suas falas, e o tratam como um bem valioso para todo o Mercado.

Os clientes locais também são importantíssimos e quase tão valorizados quanto os

turistas. Estes clientes locais possuem uma característica incomum: a pessoalidade.

Normalmente, os clientes locais são consumidores do Mercado há mais tempo, gerando

determinados vínculos afetivos com os comerciantes.

"O seu Batalha é uma pessoa super conhecida e está sempre aqui. Ele senta ali no

barbeiro e fica a manhã inteira batendo papo. Quase todo dia ele vem ali, fica ali

batendo papo. É o tipo de uma vibração que você não encontra num shopping. A

mulher dele fez uma encomenda e nem deixou um telefone, por que ele e ela estão

aqui toda hora. Por que eu vou ficar pedindo telefone? Não tem aquela

impessoalidade."

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Além do público antigo local e o público de turistas, outro público está fazendo parte

do Mercado nos dias de hoje. Tal público se trata do jovens. Os comerciantes destacam que

estes jovens passaram a fazer parte da cultura do Mercado a partir do momento em que foi

feita a atual reforma e, sucessivamente, implementados os shows. A atração destes jovens é

feita pela prefeitura, que cuida do marketing do local. Os comerciantes destacam esse papel

importantíssimo da prefeitura, corroborando que se não fosse a mesma, eles não teriam

condições econômicas nem administrativas de realizar tal ação de marketing.

"A prefeitura tem importância principalmente na divulgação. Nós aqui do Mercado

não damos conta de fazer, por que esse trabalho de marketing hoje em dia fica muito

caro. Então tem a prefeitura, que faz isso pra nós através dos eventos, do mercado

sonoro, através dos banners. Da mídia mesmo."

(Quadro 1 - Elementos chave das entrevistas)

Na tabela acima são apresentados os principais elementos, ou seja, os elementos chave

obtidos ao longo do processo das entrevistas.

Estes elementos são palavras do vocabulário particular de cada um dos entrevistados.

Tais elementos, em sua maioria, também foram citados durante este tópico, e foram utilizados

para compreender e analisar o tema central e o tema específico que estão presentes neste

trabalho.

Analisando qualitativamente tais elementos, foi possível chegar a uma categorização

dos mesmos. Esta categorização será retratada na tabela contida abaixo.

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(Tabela 1 - Categorização dos elementos chave)

A tabela acima retrata a categorização dos elementos chave obtidos anteriormente. Os

elementos foram divididos e agrupados em seis categorias (transtornos, estrutura física,

público, fiscalização, marketing e gestão) de acordo com a essência em que apareceram nas

entrevistas. Após isso foram quantificados para a verificação das categorias mais importantes

e das complementares. Levando isto em conta, foi possível redigir este tópico.

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CONCLUSÃO

A análise do conteúdo possibilitou compreender as percepções dos trabalhadores em

relação ao mercado municipal e suas mudanças. Os elementos atribuídos foram

categorizados, de forma que todas as áreas, relacionadas a pesquisa, fossem abrangidas. Em

relação ao ambiente foram criadas as categorias de transtornos e estrutura física, e tratando-se

de relacionamento público foram criados as categorias de marketing, fiscalização, público e

gestão. A categorização permitiu concluir as percepções com uma visão geral. A categoria

transtorno foi a que obteve um maior número de elementos, sendo a que obteve maior atenção

dos trabalhadores durante a entrevista. Pode- se perceber que os “showzinhos” são os

causadores desses transtornos, em sua maioria, e também entender que os transtornos estão

sendo de grande incomodo, e consequentemente são os que necessitam de uma mudança mais

imediata.

A estrutura e o público também foram categorias bem discutidas. A reforma recente foi

apresentada como uma mudança positiva para os trabalhadores do mercado, em âmbitos de

limpeza, aparência e espaço. Já em relação ao público a presença de turistas foi a comentada

pelos trabalhadores.

Os elementos categorizados em marketing, fiscalização e gestão não apareceram em

duplicidade, pois cada elemento só foi citado por um consumidor diferente, não atingindo a

saturação.

Finalmente, conclui-se que os transtornos tem sido de grande importância para os

trabalhadores, e que esses merecem uma atenção especial. A reforma não fica muito atrás em

relação a importância, já que os trabalhadores a analisam como positiva e portadora de

melhorias a todos. Os outros elementos citados em pequena quantidade, mostra que são

opiniões divergentes ou não aparentes entre os trabalhadores, sendo então de pequena

importância aos resultados deste artigo.

Para finalizar, torna-se interessante uma pesquisa sobre o mercado municipal na visão

dos consumidores, para observar se as opiniões se divergem ou convergem em relação a dos

que trabalham no mesmo.

Page 14: Mercado Municipal de Uberlândia

REFERÊNCIAS

CAVEDON, N. R. “Pode chegar, freguês”: a cultura organizacional do Mercado Público de

Porto Alegre. Organizações e Sociedade. Salvador: UFBA, vol. 11, n. 29, jan./abr. 2004,

p.173-189.

GOULART, M. G. Apenas uma fotografia na parede: caminhos da preservação do patrimônio

em Uberlândia (MG). Orient. Prof. Dr. BennySchvasberg, Brasília: Faculdade de Arquitetura

e Urbanismo/ UnB, 2006 (Dissertação de Pós-Graduação)

PIMENTEL, T. D. e LEITE-da-SILVA. Artesão ou pequeno industrial:

ambigüidadesidentitárias na “Feira Hippie”. Encontro de Estudos Organizacionais, 2006.

Anais do ENEO, 2006. Porto Alegre: UFRGS, 2006.

PINTAUDI, S. M. Os mercados públicos: metamorfoses de um espaço na história urbana.

Scripta Nova. v. X, n. 218 14. p. 2006. Disponível em :<http://www.ub.es/geocrit/sn/sn-218-

81.htm> Acesso em: 31 Jan. 2014.

RIBEIRO FILHO, V. Os mercados públicos e a cidade: As transformações do mercado

municipal de Uberlândia. Instituto de Geografia/UFU, 2011 v.12, n.39