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Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar Dissertação do Mestrado Integrado em Medicina Menstruar ou não menstruar- Eis a questão Artigo de Revisão Bibliográfica Sónia Marisa Ribeiro Marques Nº de aluno: 201104892 ORIENTADORA Drª Joana Maria Cunha Mesquita Guimarães CO-ORIENTADORA Drª Márcia Sofia Alves Caxide e Abreu Barreiro Porto, 2017

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Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar

Dissertação do Mestrado Integrado em Medicina

Menstruar ou não menstruar- Eis a questão

Artigo de Revisão Bibliográfica

Sónia Marisa Ribeiro Marques

Nº de aluno: 201104892

ORIENTADORA Drª Joana Maria Cunha Mesquita Guimarães

CO-ORIENTADORA Drª Márcia Sofia Alves Caxide e Abreu Barreiro

Porto, 2017

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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Menstruar ou não menstruar- Eis a questão

Artigo de Revisão Bibliográfica

ESTUDANTE Sónia Marisa Ribeiro Marques 6º Ano Profissionalizante do Mestrado Integrado em Medicina Nº de aluno: 201104892 Correio eletrónico: [email protected] ORIENTADOR: Drª Joana Maria Cunha Mesquita Guimarães Grau académico: Professora Auxiliar Convidada Título profissional: Assistente Hospitalar Graduada de Ginecologia/Obstetrícia CO-ORIENTADOR Drª Márcia Sofia Alves Caxide e Abreu Barreiro Grau académico: Professora Auxiliar Convidada Título profissional: Assistente Hospitalar de Ginecologia/Obstetrícia AFILIAÇÃO Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar, Rua de Jorge Viterbo Ferreira, nº

228, 4050-213, Porto

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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Índice Resumo ................................................................................................................................................... 4

Abstract.................................................................................................................................................... 5

Introdução ................................................................................................................................................ 6

Objetivos .................................................................................................................................................. 7

Desenvolvimento ..................................................................................................................................... 8

Regimes cíclicos, prolongados e contínuos dos contracetivos combinados ...................................... 8

Prevalência e impacto dos distúrbios menstruais e patologias agravadas durante a menstruação .. 8

Doença pélvica crónica ................................................................................................................... 8

Dismenorreia ................................................................................................................................... 9

Menorragia....................................................................................................................................... 9

Síndrome pré-menstrual .................................................................................................................. 9

Sintomas perimenopáusicos ......................................................................................................... 10

Epilepsia ........................................................................................................................................ 10

Cefaleias ........................................................................................................................................ 10

Outros distúrbios menstruais ......................................................................................................... 11

Há exigência fisiológica para a menstruação? .................................................................................. 11

Estudos/Experiência clínica sobre a inibição menstrual ................................................................... 12

Regimes prolongados .................................................................................................................... 12

Regimes contínuos ........................................................................................................................ 14

Benefícios decorrentes da inibição menstrual nas mulheres com patologias médicas .................... 15

Doença pélvica crónica ................................................................................................................. 16

Dismenorreia, menorragia e sintomas associados à privação hormonal ..................................... 16

Sintomas perimenopáusicos ......................................................................................................... 17

Discrasias sanguíneas .................................................................................................................. 17

Benefícios decorrentes da inibição menstrual em grupos específicos de mulheres ........................ 17

Desvantagens e impacto metabólico da inibição da menstruação ................................................... 20

Aceitabilidade das mulheres e profissionais de saúde face à inibição menstrual ............................ 22

Abordagem centrada na paciente: o que as mulheres precisam de saber sobre a inibição da

menstruação ...................................................................................................................................... 24

Conclusão .............................................................................................................................................. 25

Agradecimentos ..................................................................................................................................... 26

Referências ........................................................................................................................................... 27

Anexos ................................................................................................................................................... 30

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Resumo Desde o início do desenvolvimento das terapêuticas hormonais, a inibição da

menstruação tem sido vastamente utilizada na prática clínica, principalmente nos

distúrbios menstruais e patologias agravadas durante o cataménio. As opções

variam desde contracetivos hormonais orais combinados, em regimes tradicionais,

prolongados ou contínuos, a pensos transdérmicos, anéis vaginais, progestativos

nas mais variadas formulações (injeção intramuscular, terapias orais e dispositivos

intrauterinos) e outros agentes tais como os agonistas da hormona libertadora de

gonadotrofina (GnRH). Todos eles apresentam taxas variáveis de sucesso na

indução da amenorreia, verificando-se uma taxa crescente da mesma ao longo do

tempo. Contudo, o seu uso pode ser limitado pelos efeitos secundários inerentes,

com destaque para a hemorragia uterina anormal que se verifica em algumas

utilizadoras/doentes. Estas terapêuticas contribuem para uma maior qualidade de

vida e para a estabilização do ambiente hormonal, com potenciais repercussões

positivas nalgumas condições médicas, como na doença pélvica crónica e nas crises

epiléticas. Esta revisão irá discutir o impacto da inibição da menstruação nos

distúrbios menstruais e em determinadas patologias, lista os vários estudos

realizados e expõe a atual aceitabilidade das mulheres e profissionais de saúde

sobre este tema.

A bibliografia utilizada incidirá na pesquisa no motor de busca de artigos na

base de dados bibliográfica MEDLINE – PubMed, sendo incluídos ou excluídos de

acordo com título e resumo.

Palavras chaves: amenorreia, amenorreia induzida, menorragia, regimes

prolongados e contínuos, supressão ovárica e aceitabilidade das mulheres face à

inibição menstruação.

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Abstract

Since the beginning of the development of hormonal therapies, the inhibition of

menstruation has been widely used in clinical practice, especially in menstrual

disorders and aggravated conditions during menses. Options range from combined

oral hormonal contraceptives, in traditional, extended or continuous regimens, to

transdermal patches, vaginal rings, progestatives in different formulations

(intramuscular injection, oral therapies and intrauterine devices) and other agents

such as gonadotropin releasing hormone agonists (GnRH). All of them, present

variable rates of success in inducing amenorrhea, with an increasing rate of

amenorrhea occurring over time. However, its use may be limited by the inherent

side effects, with special attention to the abnormal uterine bleeding that occurs in

some users / patients. These therapies contribute to a higher quality of life and to the

stabilization of the hormonal environment, with potential positive repercussions in

certain medical conditions, such as pelvic chronic pain syndrome or epileptic

seizures. This review will discuss the impact of menstruation inhibition on menstrual

disorders and certain pathologies, lists the several studies carried out and exposes

the current acceptability of women and health professionals on this topic.

The bibliography used focused on articles in the MEDLINE - PubMed

bibliographic database, being included or excluded according to title and abstract.

Keywords: amenorrhea, induced amenorrhea, menorrhagia, extended and

continuous regimens, ovarian suppression, women's acceptability toward menstrual

suppression.

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Introdução

A menstruação é vista como um símbolo de feminilidade, fertilidade e

juventude e entendida como um estado ‘natural’ necessário para a ‘limpeza do

organismo’. Em termos práticos, é um sinal fidedigno de que a mulher não está

grávida e reassegura o potencial de fertilidade e saúde reprodutiva (1). Contudo, a

menstruação tem um grande impacto na qualidade de vida de muitas mulheres,

podendo ser desde apenas um simples inconveniente ou a um problema de saúde

major, nomeadamente para as que sofrem de distúrbios menstruais ou do

agravamento das suas patologias durante a menstruação (2). Durante a

menstruação, até 80% das mulheres em idade fértil apresentam manifestações

físicas e 20% a 40% psicológicas. Por isso, estima-se que, apenas nos EUA, 2.5

milhões de mulheres sejam afetadas por distúrbios menstruais (3). Destas, dois

terços recorrem ao Serviço Nacional de Saúde e 31% afirma estar de baixa, em

média, 9.6 dias, anualmente (4). Entre as mais jovens, a dismenorreia primária é a

causa mais comum de absentismo laboral e escolar (5). Consequentemente, a

menstruação e os distúrbios menstruais estão associados, não só a uma diminuição

da produtividade e ao absentismo laboral, mas também a elevados custos de saúde

(6). Nos EUA estima-se que os custos associados aos distúrbios menstruais

correspondam a 8% do total (7). Atualmente pensa-se que este valor está

subestimado uma vez que apenas 22% das mulheres com 19 anos que sofrem de

dismenorreia procuram ajuda médica, apesar de 72% apresentarem diversos graus

de dor e, aproximadamente, 40% necessitar de analgésicos e antiespasmódicos

regulares (8). Esta revisão irá discutir o impacto da inibição da menstruação nos

distúrbios menstruais e em determinadas patologias, com especial enfoque na

eficácia, segurança e potenciais benefícios associados à redução da frequência

menstrual.

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Objetivos

As vantagens da inibição da menstruação por indicação médica são

claríssimas e inequívocas! Por isso, porque não estendê-las a muitas outras

mulheres que também poderão beneficiar do mesmo? Proponho-me, através desta

revisão, a fazer uma análise crítica da segurança, eficácia e repercussões da

inibição da menstruação, quer na cidadã comum quer em mulheres em

circunstâncias especiais.

Igualmente, farei uma análise dos vários estudos realizados até ao presente

momento e clarificarei a aceitabilidade deste tema pelas mulheres e pelos

profissionais de saúde.

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Desenvolvimento

Regimes cíclicos, prolongados e contínuos dos contracetivos

combinados

Regimes contracetivos cíclicos combinados correspondem a ciclos de 28 dias,

com 21 dias de toma diária da pílula contracetiva combinada com estrogénio e

progesterona, anel vaginal ou penso transdérmico, seguidos de um intervalo sem

pílula de aproximadamente 7 dias, ou em alternativa ciclos de 24 dias de medicação

com 4 dias sem medicação. Durante este intervalo, a suspensão do método

contracetivo ou a toma diária de placebo permite a hemorragia de privação. Regimes

prolongados transformam o intervalo sem pílula mensal em trimestral ou semestral.

Regimes contínuos omitem por completo este intervalo (1).

Estudos sobre regimes prolongados e contínuos aparecem na literatura desde

1970. Em 2003, a FDA, Food and Drug Administration, aprovou o Seasonale® para

regimes prolongados e, em 2007, o Lybrel® para regimes contínuos.

Prevalência e impacto dos distúrbios menstruais e patologias agravadas

durante a menstruação

As hormonas sexuais, estrogénios e progesterona, exercem uma ampla gama

de efeitos no corpo humano. Consequentemente, as suas flutuações cíclicas têm

repercussões sistémicas, com vários sintomas e patologias associados ou

exacerbados. Medir e quantificar a maioria desses sintomas e patologias é difícil

senão mesmo impossível, dada a sua subjetividade (3).

Doença pélvica crónica

A dor pélvica crónica pode estar presente durante todo o ciclo menstrual, com

intensidade variável. A causa mais comum é a endometriose. O crescimento

ectópico de glândulas endometriais e estroma atinge 7% a 10% das mulheres na

população geral (9), 20% a 50% das mulheres inférteis e 80% das mulheres com dor

pélvica crónica (10). O grau de dor experienciado não se correlaciona com o grau de

endometriose visível (11) mas sim com a extensão da infiltração tecidual

endometrial, sujeita às flutuações cíclicas hormonais (3).

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Dismenorreia

Muitas mulheres experienciam cólicas e dores pélvicas antes ou durante o

inicio da menstruação, durante um a três dias. Estes sintomas são mais comuns

durante a adolescência, dismenorreia primária, mas também podem ser secundários

a patologia pélvica. Apesar da sua patogénese não ser totalmente compreendida,

pensa-se que o aumento da síntese de prostaglandinas e os processos inflamatórios

decorrentes do ciclo menstrual sejam os responsáveis por intensas contrações

uterinas, associadas à vasoconstrição de pequenos vasos da parede uterina (12).

Estas contrações também se associam a outros sintomas como cefaleias, cólicas,

lombalgias, náuseas e vómitos, diarreia e síncope. Tendo em conta a sua

subjetividade, a sua prevalência varia amplamente de acordo com os parâmetros

usados (3).

Menorragia

A menorragia é definida como perda total de sangue superior a 80 mL por

ciclo menstrual ou menstruação com duração superior a 7 dias. Trinta por cento das

mulheres pré-menopáusicas considera o seu fluxo menstrual excessivo e 10 a 20%

apresenta critérios de diagnóstico para menorragia (13). Normalmente, o fluxo

menstrual corresponde a 30 mL e, se superior a 60 mL, o risco de anemia

ferropénica aumenta consideravelmente (14). A menorragia é frequentemente

associada a miomas uterinos ou a adenomiomas e mais raramente a endometriose

(15). Em 20% dos casos está associada a patologias sistémicas, como por exemplo

cancro ginecológico, patologias endócrinas e distúrbios da coagulação (16). Terapia

farmacológica a longo prazo para alívio da sintomatologia é por vezes infrutífera e,

por isso, muitas mulheres eventualmente realizam histerectomia (3).

Síndrome pré-menstrual

SPM carateriza-se pela ocorrência cíclica de sintomas, suficientemente

severos, para interferir com alguns aspetos do quotidiano e que surgem associados

à menstruação. Aparecem durante ou após o 13º dia e desaparecem quatro dias

antes do início da menstruação (6). Podem manifestar-se através de sintomas

emocionais (fadiga, irritabilidade, ansiedade, depressão) mas também físicos

(cefaleias, cólicas, mastalgia) (17). Apesar de não serem específicos, o seu

aparecimento durante a fase lútea do ciclo menstrual é considerado patognomónico

(18, 19). Apesar dos níveis circulantes de progesterona, estrogénios e testosterona

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geralmente serem normais, parece existir um aumento da sensibilidade aos efeitos

destas hormonas devido a interações entre elas e mediadores do sistema nervoso

central, como por exemplo, a serotonina (17). Esta síndrome tem um enorme

impacto no quotidiano da mulher, no dos seus familiares, no seu local de trabalho e

nas suas relações interpessoais (20). Atualmente, não há tratamento aprovado para

SPM e, apesar de muitas procurarem ajuda médica, apenas 1 em cada 4 médicos

fornece tratamento eficaz (6).

Sintomas perimenopáusicos

A transição de ciclos menstruais regulares para a menopausa carateriza-se

por irregularidades menstruais, associadas a grandes variações nas concentrações

hormonais e sintomas vasomotores (21). Nomeadamente, a concentração basal de

hormona folículo estimulante, FSH, e hormona luteinizante, LH, é superior à

verificada nas mulheres mais novas e responsável pelos sintomas vasomotores.

Verifica-se também uma insuficiência lútea secundária às irregularidades ovulatórias

(6).

Epilepsia

A epilepsia é uma doença neurológica crónica muito prevalente, caracterizada

pela ocorrência imprevisível de convulsões. A epilepsia catamenial é uma patologia

neuro endócrina na qual as convulsões estão associadas ao ciclo menstrual.

Estudos afirmam que pelo menos 1 em cada 3 mulheres com epilepsia tem mais

episódios convulsivos durante o cataménio. Foram identificados três tipos de

convulsões catameniais (peri menstruais, peri ovulatórias e lúteas inadequadas). A

fisiopatologia da epilepsia catamenial não é totalmente compreendida, mas sabe-se

que as flutuações cíclicas nos níveis circulantes das hormonas sexuais levam a

alterações na excitabilidade dos neurónios no córtex cerebral, facilitando o

aparecimento de ataques epiléticos (22). Os estrogénios são pró-convulsivos e

tendem a diminuir o limiar convulsivo e a progesterona apresenta um efeito oposto,

podendo até reduzir os ataques convulsivos (3).

Cefaleias

Nos dois dias que antecedem a menstruação, as cefaleias são 1.7 vezes mais

prováveis de ocorrer, assim como 2 vezes mais severas. Nos primeiros três dias de

menstruação são 2.5 mais prováveis de ocorrer e 3.4 vezes mais severas (23). A

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sua patogénese não é totalmente compreendida mas pensa-se que a diminuição da

concentração de estrogénios seja responsável pela vasoconstrição implicada na

patogénese das cefaleias (24).

Outros distúrbios menstruais

Várias outras patologias também são exacerbadas pela menstruação como a

asma. Apesar do mecanismo permanecer por descobrir, investigadores afirmam que

30 a 40% das mulheres com asma apresentam exacerbações dos episódios

asmáticos durante os primeiros dias do cataménio (6, 25).

Há exigência fisiológica para a menstruação?

A menstruação tem um único propósito biológico, permitir a reprogramação do

endométrio para a implantação de um óvulo fertilizado. Num ciclo menstrual normal,

sem hormonas exógenas, os estrogénios produzidos pelos ovários promovem o

crescimento endometrial; o pico da hormona luteinizante, LH, libertada pela hipófise

leva à libertação de um óvulo maduro e a progesterona é secretada pelo corpo lúteo.

O corpo lúteo mantém a produção de progesterona na fase lútea do ciclo e, se a

gravidez ocorrer, persiste até a placenta assumir a produção de progesterona por

volta do 42º dia de gestação. Se a fertilização e implantação não ocorrerem, os

níveis de estrogénios e progesterona declinam, com a regressão do corpo lúteo,

resultando em isquemia endometrial e hemorragia (3).

As mulheres que usam contracetivos hormonais cíclicos experienciam uma

hemorragia mensal que não se deve ao crescimento endometrial mas que resulta da

privação hormonal e não tem benefício médico comprovado. Ao inibirem o eixo

hipotalâmico-hipofisário-gonadal, os contracetivos orais impedem o recrutamento e a

maturação folicular, através da supressão de FSH, e inibem o pico pré ovulatório de

LH, mantendo o endométrio fino e atrófico. Por este motivo, a hemorragia vivenciada

mensalmente durante o intervalo sem pílula não reflete uma menstruação fisiológica

e normalmente é menos abundante (26, 27).

É importante que os médicos e as mulheres percebam por que razão é

seguro reduzir ou eliminar a menstruação através de regimes prolongados e

contínuos ao contrário da oligomenorreia e da amenorreia, não induzidas

medicamente, que são achados patológicos que necessitam de avaliação médica e

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possivelmente tratamento. A maioria das mulheres que raramente ou que nunca

menstrua tem uma interrupção do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal, o que

resulta em anovulação. Diversas patologias podem causar anovulação como o

síndrome de ovários poliquísticos, o hipotiroidismo, a diabetes mellitus não

controlada, os distúrbios alimentares, a hiperprolactinemia e o uso de fármacos,

como os antipsicóticos (28). Devido à persistente anovulação, pode desenvolver-se

hiperplasia endometrial uma vez que a proliferação do endométrio, que ocorre

durante a fase folicular, não é antagonizada pela progesterona que é normalmente

produzida na fase lútea. No entanto, quando os contracetivos combinados são

usados, há uma dose constante de progesterona que mantém o endométrio atrófico,

impedindo a ocorrência de hiperplasia endometrial. Deste modo, a redução ou

eliminação da menstruação através destes regimes é um resultado esperado da

administração exógena de hormonas e não uma manifestação de um processo

patológico que esteja a causar anovulação e potenciais riscos de saúde (1).

Estudos/Experiência clínica sobre a inibição menstrual

Desde o início da era dos contracetivos orais, estudos sobre a diminuição do

número de dias do intervalo sem pílula têm mostrado que esta é uma opção segura

e eficaz para muitas mulheres. Devido aos diferentes intervalos sem pílula e às

diferentes formulações dos contracetivos orais usados em cada estudo, a

comparação retrospetiva entre eles é difícil (3).

Regimes prolongados

O primeiro estudo sobre a eficácia da redução da frequência menstrual foi

conduzido em 1977 por Loudon et al. Neste estudo, 196 mulheres receberam um

contracetivo oral combinado contendo 50 µg de etinilestradiol e 250 µg de linestrenol

durante 84 dias, seguido de 7 dias sem pílula (6). O objetivo era reduzir a frequência

menstrual, de mensal para trimestral, ocorrendo apenas 4 vezes/ano. Apesar do

bom controlo atingido do ciclo menstrual, 8.5% das 196 mulheres relataram

hemorragia uterina anormal durante o primeiro ciclo e 24% relataram spotting. A

frequência de ambas as queixas diminuiu a cada ciclo. Noventa e um por cento das

mulheres que completaram o estudo recusaram-se a voltar ao regime mensal,

preferindo continuar o regime trimestral (2). Devido às elevadas concentrações de

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estrogénio e progesterona usadas nestes regimes mais antigos, não é

surpreendente que a mastalgia e o aumento do peso fossem os principais efeitos

secundários. Contudo, a sua incidência não era superior à das mulheres com

regimes mensais tradicionais com as mesmas dosagens (2).

Tendo em conta este aspeto, novos estudos foram realizados com dosagens

inferiores. Um deles comparou a segurança e eficácia entre quatro ciclos de 91 dias

e treze ciclos de 28 dias em 682 mulheres, das quais 432 completaram o estudo.

Ambos os regimes consistiam na toma de 30 µg de etilinilestradiol e 150 µg de

levonorgestrel, o chamado Seasonale® (1). Concluiu-se novamente que a eficácia e

segurança a longo prazo são similares às atingidas com o regime mensal (6). As

mulheres em regime prolongado tiveram uma média de 3.6% de hemorragia uterina

anormal, valor que diminuiu ao longo do estudo, face aos 2.9% das mulheres em

regime tradicional. Quarenta e dois por cento das mulheres em regimes prolongado

relataram não ter hemorragia uterina anormal durante o quarto ciclo. Um subgrupo

de 50 mulheres em regime prolongado realizou biópsias endometriais antes e após a

conclusão do estudo. Estas não revelaram hiperplasia ou patologia significativa, mas

antes um endométrio inativo e atrófico durante o tratamento e que rapidamente

revertia ao ciclo endometrial após a sua descontinuação, sugerindo que os regimes

prolongados não têm efeitos adversos sobre o endométrio (1).

Posteriormente, um estudo com 1249 mulheres avaliou a eficácia do

Seasonique® em regime de 91 dias (20 µg de etilinilestradiol e 100 µg de

levonorgestrel, com a toma de 10 µg de etilinilestradiol em cada um dos 7 dias do

intervalo sem pílula). Concluíram que a baixa dosagem de etilinilestradiol melhorava

o padrão hemorrágico, com grande diminuição do número de dias com spotting, e

diminuía o número de folículos em desenvolvimento (1). Também foram analisadas

63 amostras de biópsias endometriais para determinar se a reposição de estrogénio

durante o intervalo sem pílula tinha algum efeito indesejável sobre o endométrio.

Não se verificou nenhum aumento de patologia endometrial mas sim um rápido

retorno ao normal ciclo endometrial, após descontinuação do regime (29).

Ao contrário da maioria dos estudos em que o follow-up é igual ou inferior a

dois anos, Davis et al acompanharam durante quatro anos um grupo de mulheres

em regime de 3 ciclos de 91 dias. Concluíram que as taxas de hemorragia uterina

anormal e spotting não foram significativamente mais elevadas face aos estudos

com follow-up inferior. Parâmetros analíticos (hemograma, bioquímica, perfil lipídico

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e sumário de urina) permaneceram iguais ou não demonstraram alterações

significativas. Os valores de pressão arterial mantiveram-se estáveis (30).

Regimes contínuos

A aprovação do Seasonale® em 2003 deu a conhecer a muitas mulheres os

regimes prolongados de contraceção oral e impulsionou muitos outros estudos (3).

O uso continuado de contracetivos durante 336 dias, foi avaliado em 2003 por

Miller and Hughes. Setenta e nove mulheres foram randomizadas para um regime

mensal tradicional ou para 12 ciclos em regime contínuo, com uma dosagem de 20

µg de etinilestradiol e 100 µg de levonogestrel. Sessenta completaram o estudo (1).

Com regime contínuo, 68% e 88% das mulheres durante o sexto e o último ciclo,

respetivamente, afirmaram não ter hemorragia. A amenorreia total entre o décimo e

o último ciclo foi, por isso, de 88%. A prevalência de spotting aumentou inicialmente

nas mulheres em regime contínuo mas diminuiu ao longo do estudo e, após 9 ciclos,

foi inferior à apresentada pelas mulheres em regime tradicional. No final do estudo,

não se verificaram diferenças significativas da pressão diastólica, IMC e

concentração de hemoglobina, mas o grupo em regime contínuo apresentou uma

pressão sistólica ligeiramente menor comparativamente com o grupo em regime

tradicional (107.9 vs 115.6, respetivamente) (31).

A toma diária de 20 µg de etinilestradiol e 90 µg de levonorgestrel, o Lybrel®

composto por 13 embalagens com 28 pílulas ativas, foi estudada num ensaio com

921 mulheres. Este estudo concluiu que o seu uso contínuo inibe regularmente a

menstruação, como evidenciado pelo aumento gradual da percentagem de mulheres

com amenorreia e ausência de hemorragia mensal e pela diminuição do número de

dias de spotting, refletindo o aumento da inibição menstrual que ocorre ao longo do

estudo. Na última embalagem, 58,7% das mulheres estavam amenorreicas e 79%

não apresentavam hemorragia que requeresse o uso de pensos higiénicos. Isto

significa que 21% continuaram a ter hemorragia mensal com uma média de 4 dias

de duração e de 3 dias de spotting, por ciclo. Isto sugere que há um subgrupo de

mulheres que podem não atingir a amenorreia com regimes contínuos. Nestas

mulheres, a ausência da amenorreia e, consequentemente, a ocorrência de spotting,

é o principal fator de descontinuação dos regimes contínuos, sendo a percentagem

de indivíduos que o fazem, por razões relacionadas com a hemorragia, maior do que

a encontrada nos regimes tradicionais (6, 32). Tendo em conta isto, a eliminação do

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spotting reveste-se de uma importância crucial para o aumento da aceitação dos

regimes contínuos. Uma estratégia promissora é o estabelecimento de um breve

intervalo sem pílula de 3 dias. Porém, tal poderá comprometer a eficácia da

amenorreia. Por isso, uma vez que a segurança e eficácia dos regimes prolongados

e contínuos parece estar comprovada, esforços devem focar-se nos efeitos

secundários de modo a aumentar a adesão a estas terapêuticas (6).

Desde estes estudos, muitos outros têm sido realizados e todos corroboram a

eficácia e segurança dos regimes prolongados e contínuos na prevenção da

gravidez e nos sintomas associados à menstruação, assim como a sua

aceitabilidade com aconselhamento apropriado (1). Por isso, novo regimes foram

aprovados pela FDA e encontram-se na tabela 1 (29).

Benefícios decorrentes da inibição menstrual nas mulheres com

patologias médicas

As mulheres contemporâneas experienciam 450 ciclos menstruais, o triplo

face ao vivido pelas mulheres do século XIX que tinham elevada paridade.

Evidências sugerem que este padrão repetitivo pode ser o responsável pelo

aumento de alguns riscos de saúde (33). Tal deve-se ao facto de determinadas

características serem protetoras contra o cancro ginecológico e da mama, tais como

a menarca tardia, primeira gravidez precoce, a elevada paridade e a menopausa

precoce, características não presentes nas mulheres atuais (2, 34). Face ao exposto,

é compreensível que o uso de contracetivos orais esteja associado a uma redução

da incidência de cancro ovárico e endometrial, doença mamária benigna, doença

pélvica crónica e discrasias sanguíneas (35, 36). Mulheres com ciclos anovulatórios,

como as mulheres com síndrome dos ovários poliquísticos por exemplo, e mulheres

com rápidas flutuações na concentração hormonal, como as mulheres

perimenopáusicas, podem também beneficiar da estabilidade hormonal conseguida

com os contracetivos orais (36). Atualmente, também está a ser investigada a

relação entre o uso dos contracetivos orais e a densidade mineral óssea, assim

como outros potenciais benefícios como a diminuição da incidência de tumores

uterinos fibróticos e cancro colorretal (6).

Atualmente, um grande número de mulheres beneficia da inibição da

menstruação uma vez que a supressão do ciclo menstrual permite diminuir a

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exacerbação de determinadas patologias durante o cataménio e reduzir a ocorrência

de determinados distúrbios menstruais, como a menorragia, a dismenorreia, as

discrasias sanguíneas, entre outros (2, 6). Importa ainda referir que o impacto da

menstruação no quotidiano é menor, assim como o custo associado aos produtos

higiénicos (1). Vários estudos mostraram que, mesmo sem haver esquecimento da

toma da pílula, algumas mulheres ovulam durante os regimes tradicionais. Uma vez

que mais de 85% do desenvolvimento folicular inicia-se durante o intervalo sem

pílula, a diminuição da duração desse intervalo previne o desenvolvimento folicular e

a ovulação, aumentando a eficácia dos contracetivos orais na prevenção de uma

gravidez (27, 36). Além disso, as mulheres em regimes prolongados e contínuos

tendem a esquecer-se menos da toma da pílula, levando a um melhor controlo

ovulatório e, consequentemente, do ciclo menstrual (3).

Doença pélvica crónica

Há evidência que o uso de regimes contínuos de contracetivos orais é eficaz

no tratamento da dor pélvica crónica e endometriose. Nas mulheres com dor pélvica

recorrente e não responsiva a contracetivos orais cíclicos, mesmo após tratamento

cirúrgico da endometriose, o uso contínuo de contracetivos orais com 200µg de

etinilestradiol e 150µg de desogestrel durante dois anos, permitiu reduzir

verbalmente e visualmente os scores da dor. Trinta e oito por cento das mulheres

atingiram amenorreia completa, 36% experienciaram spotting e 26% hemorragia

uterina anormal. Apesar das hemorragias imprevisível, 80% das mulheres afirmaram

estar satisfeitas ou muito satisfeitas com os resultados obtidos com o regime

contínuo (6).

Dismenorreia, menorragia e sintomas associados à privação hormonal

Durante décadas, os regimes contínuos de contracetivos orais têm sido

usados no tratamento da dismenorreia e menorragia (37). Sabe-se que as mulheres

que usam contracetivos orais apresentam mais náuseas, mastalgia, cefaleias e

cólicas durante os sete dias sem pílula versus os restantes vinte e um dias (38). Este

dado é deveras relevante uma vez que os sintomas associados à privação hormonal

podem ser evitados através de regimes contínuos. O papel destes regimes pode ser

ainda mais importante e abrangente se tivermos em conta os distúrbios emocionais

associados, como o síndrome pré-menstrual, e a diminuição drástica do número de

dias de hemorragia, diminuindo a ocorrência de discrasias sanguíneas (39).

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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Sintomas perimenopáusicos

Nas mulheres perimenopáusicas, o uso contínuo de contracetivos orais pode

regular o ciclo menstrual e os sintomas vasomotores. Doses baixas de contracetivos

orais regularizam a menstruação em mais de 80% das mulheres versus menos de

50% nas que receberam placebo (40, 41). Apesar dos contracetivos orais também

diminuírem a ocorrência de sintomas vasomotores, estes sintomas reaparecem

durante o intervalo sem pílula associado aos regimes cíclicos. Também existe

evidência sugerindo um efeito protetor dos contracetivos orais na densidade mineral

óssea, com vários estudos na década de 90 a demonstrar uma diminuição no

número de fraturas da anca (42). Assim sendo, tendo em conta os efeitos benéficos

sobre o ciclo menstrual, regimes prolongados de contracetivos orais combinados

parecem ser excecionalmente adequados para as mulheres perimenopáusicas (6).

Discrasias sanguíneas

Nas mulheres com distúrbios hematológicos associados a menorragias, a

redução da frequência da hemorragia menstrual através do uso de regimes

prolongados de contracetivos orais está associada à diminuição da incidência de

anemia (6). Investigadores no Reino Unido descobriram que a incidência de

menorragia era de 74%, 57% e 59% nas mulheres com doença de von Willebrand,

com hemofilia e com deficiência no factor XI, respetivamente, face a 29% no grupo

controlo. A qualidade de vida destas doentes é amplamente afetada pela

menorragia, sendo que 39% reportam diminuição da produtividade laboral assim

como de outras atividades, 47% afirma ser menos produtiva durante o período

menstrual e, aproximadamente metade, também sofre de dismenorreia e anemia

severa (2).

Benefícios decorrentes da inibição menstrual em grupos específicos de

mulheres

Diversos grupos de mulheres podem beneficiar da redução menstrual e da

amenorreia, como por exemplo as militares, as atletas e mulheres que realizaram

laqueação das trompas.

Num estudo com 158 cadetes da Academia militar dos EUA, 66% referiram a

interferência da menstruação e dos sintomas pré-menstruais nas atividades físicas.

Sessenta e três por cento experienciaram dificuldades na troca, 52% na obtenção e

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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38% na eliminação de produtos higiénicos. Estes achados podem também ser

facilmente extrapolados para outras especialidades das forças armadas (6).

Atletas femininas têm usado os contracetivos orais para manipular os ciclos

menstruais e para controlar os sintomas pré-menstruais. Também são usados para

aumentar a densidade mineral óssea nas que apresentam hipoestrogenismo. Além

disto, a diminuição da hemorragia menstrual pode ter um efeito positivo sobre a

performance atlética através da redução do risco de anemia ferropénica,

principalmente nas atletas com menorragia (6).

É ainda importante referir o caso particular das mulheres que realizaram

laqueação das trompas e que continuam a menstruar, apesar de já não desejarem

engravidar. Regimes prolongados de contracetivos orais podem ser bastante

vantajosos para o presente grupo (6).

Mulheres com doenças infeciosas transmitidas verticalmente, como o HIV e a

Hepatite, também podem preferir regimes prolongados e contínuos por forma a

diminuir o risco de transmissão (27).

Os problemas menstruais são comuns na adolescência e normalmente

associados a ciclos irregulares, a menorragia e a dismenorreia, o sintoma mais

associado ao absentismo escolar (43, 44). Aproximadamente um terço das

adolescentes usam contracetivos orais por razões não contracetivas, mas para tratar

os sintomas associados à menstruação, nos quais os regimes prolongados

mostraram-se eficazes (45). Contudo, quer o façam com esse objetivo, quer estejam

a usar a contraceção hormonal para prevenir uma possível gravidez, não há

nenhuma indicação médica para a ocorrência mensal do cataménio e muitas

adolescentes preferem não menstruar mensalmente. Um estudo com 300

adolescentes entre os 15 e os 19 anos, na Holanda, concluiu que 71% delas prefere

uma menstruação menos frequente ou mesmo a sua eliminação (46). Respostas

semelhantes obtiveram-se também nos Estados Unidos e na Europa (47). Tendo em

conta estes aspetos, The Canadian Paediatric and Adolescent Gynaecology and

Obstetricians Committee emitiu uma guideline que apresenta várias indicações para

a inibição menstrual. Entre elas: escolha social, dismenorreia severa associada a

endometriose, menorragia, diátese hemorrágica, sintomas associados à privação

hormonal e distúrbios pré-menstruais. Apresenta como evidência II-2A: A supressão

menstrual e a amenorreia terapêutica devem ser consideradas opções seguras e

viáveis para adolescentes e/ou para as mulheres com deficiências mentais e físicas

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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que necessitam ou desejam reduzir ou até mesmo eliminar a sua menstruação (48).

Família e cuidadores de adolescentes com deficiências físicas e mentais desejam

também uma menstruação menos frequente, por forma a facilitar a higiene menstrual

(49) e a diminuir os distúrbios menstruais, frequentemente relatados na síndrome de

down, autismo e paralisia cerebral (50). Ver tabela 2 em anexo (48). Apesar de

bastante menos prevalente, adolescentes com distúrbios hematológicos e

oncológicos podem ter significativa menorragia e anemia. A terapia ablativa, durante

os ciclos de quimioterapia, pode induzir pancitopenia com trombocitopenia e resultar

em menorragia, moderada a grave, em quase 40% das doentes oncológicas (48).

Além disso, o uso de hemoderivados e de elevadas doses estrogénicas inerentes a

algumas terapêuticas, aumentam o risco de tromboembolismo venoso, já elevado

por si só nestas doentes. Por forma a prevenir estas complicações, a indução da

amenorreia é muitas vezes desejada antes do início da quimioterapia e conseguida

através de acetato de medroxiprogesterona, DMPA, e agonistas GnRH (51).

A inibição da menstruação em adolescentes com normal desenvolvimento e

sem patologias não é tão clara. Apesar de cerca de 90% de 222 pediatras e

ginecologistas já terem prescrito regimes prolongados a jovens/mulheres com idades

compreendidas entre os 11 e os 21 anos, a prescrição frequente destes regimes

apenas equivale a 10% das suas prescrições. Trinta e sete por cento afirmam que se

sentem mais confortáveis a prescrever um regime tradicional devido à escassez de

dados sobre os efeitos colaterais a longo prazo e sobre a segurança dos regimes

prolongados em adolescentes em quem o eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal

ainda está a desenvolver-se (52). Ainda nenhum estudo avaliou o efeito dos

contracetivos orais prolongados sobre este eixo; no entanto, os dados limitados que

existem sobre o uso de regimes prolongados em adolescentes não mostraram

efeitos adversos face ao regime tradicional (53). Vinte e dois por cento dos 222

pediatras e ginecologistas preferem prescrever um regime prolongado a mulheres

com mais de 18 anos uma vez que 90% do pico da massa óssea das mulheres é

atingido aos 18 anos. Deste modo, qualquer efeito que os regimes prolongados

possam ter sobre a saúde óssea é uma importante questão. Estudos sobre este

tema obtiveram diversos resultados, sem consenso sobre os efeitos a longo prazo

na densidade óssea e sobre a dose ideal de etinilestradiol (54, 55). O impacto dos

contracetivos orais sobre a densidade mineral óssea nas adolescentes continua a

carecer de resultados, não havendo recomendações que guiem a escolha do

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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método e a ser, por isso, uma importante área de investigação. Por oposição, sabe-

se que as adolescentes sexualmente ativas obtêm uma prevenção mais eficaz da

gravidez com regimes prolongados (56). Tal deve-se ao facto da maioria das

adolescentes esquecer-se da toma da pílula nos dias imediatamente antes ou após

o intervalo sem pílula. Por isso, ao diminuírem o número de dias sem pílula anuais,

os regimes prolongados diminuem o risco de esquecimento da toma. Além disso, a

diminuição do intervalo sem pílula permite uma maior supressão ovárica e pode

aumentar ainda mais a eficácia dos contracetivos orais (57). Existem alguns estudos

sobre outros métodos contracetivos, tais como o penso transdérmico e o anel

vaginal, mas, até ao momento, não há consenso ou evidência sobre qual o método

mais adequado para as várias condições médicas vivenciadas pelas adolescentes.

Adolescentes e seus familiares devem ser claramente informados que a inibição

menstrual não foi associada a nenhum efeito negativo a longo prazo, que permite

um alívio dos distúrbios menstruais associados e que pode aumentar a eficácia

contracetiva. Contudo, apesar da investigação sobre regimes prolongados ter

aumentado ao longo dos anos, é necessário desenvolver mais estudos, direcionados

às necessidades das adolescentes (52).

Desvantagens e impacto metabólico da inibição da menstruação

Preocupações sobre o aumento da incidência de eventos adversos devido às

elevadas doses de estrogénios durante os regimes prolongados e contínuos têm

surgido. No entanto, estudos demonstraram uma tolerabilidade e segurança similar

aos regimes mensais tradicionais. As repercussões metabólicas, incluindo alterações

na glicemia, hemoglobina, perfil lipídico e pressão arterial, são similares às

observadas nos estudos realizados com regimes tradicionais. Pílulas com outras

dosagens poderão ter impactos metabólicos diferentes e, por isso, cada uma deverá

ser analisada individualmente (36).

As desvantagens associadas à inibição da menstruação correlacionam-se

com os efeitos secundários inerentes aos diferentes métodos. No geral, a maioria é

similar aos reportados nos regimes mensais tradicionais. As exceções são o

aumento da hemorragia uterina anormal e do spotting, observada nas mulheres em

regimes prolongados ou contínuos ou que receberam injeções de acetato de

medroxiprogesterona, DMPA, e a diminuição da densidade mineral óssea observada

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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em mulheres que recebem injeções de DMPA (1, 58, 59). Contudo três estudos

documentaram a recuperação da massa óssea, reassegurando o não

comprometimento definitivo da mesma (60, 61).

Eventos tromboembólicos associados ao uso de contracetivos orais são

eventos relativamente raros e, por isso, mesmo em regimes prolongados ou

contínuos é difícil estimar com precisão o seu risco (36). O risco destes eventos está

associado a todos os contracetivos orais e aumenta quando a dose de etinilestradiol

aumenta de 35 para 50 µg. Uma vez que a dose dos regimes prolongados ou

contínuos não é superior a 30 µg, o seu uso não aumenta a dose diária de

etinilestradiol e não ocorre a acumulação tecidual desta hormona, o risco

tromboembólico não deverá ser superior com estes regimes (36). No entanto, um

aumento do risco de tromboembólico associado a regimes prolongados e contínuos

continuou a ser sugerido devido ao aumento da exposição aos estrogénios. Por isso,

recentemente, foram analisados os eventos adversos de 12 estudos randomizados.

Não foram encontrados eventos adversos em 10 desses estudos; nos restantes 2

estudos, em cada um deles, uma mulher teve um evento tromboembólico. Contudo,

ambas tinham outros fatores de risco. Concluiu-se, por isso, que não há evidência

que os regimes prolongados e contínuos estejam associados a um aumento

significativo de eventos tromboembólicos, face aos regimes tradicionais (29, 62).

Tendo em conta que os contracetivos orais com uma dosagem de 35 µg de

etinilestradiol não aumentam a incidência do risco de cancro da mama nas atuais ou

antigas utilizadoras, não é espetável que regimes prolongados ou contínuos com

uma dosagem de 20 ou 30 µg de etinilestradiol o façam (36).

O facto da inibição menstrual tornar mais difícil excluir uma gravidez, uma vez

que não há hemorragia mensal, é uma grande desvantagem para muitas mulheres.

Contudo, a presenças de alguns sintomas tipicamente associados à gravidez como a

mastalgia, náuseas e fadiga, deve alertar para essa possibilidade. Além disso, os

testes de gravidez podem ser realizados uma vez que os seus resultados não são

afetados pelo uso prolongado ou contínuo de contracetivos (1, 27)

Regimes prolongados e contínuos podem comportar custos mais elevados, o

que algumas utilizadoras referem como uma possível desvantagem (27). No entanto,

tais custos devem ser comparados e ponderados face aos custos associados aos

produtos higiénicos (1).

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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Médicos e pacientes deverão ponderar estes efeitos secundários face aos

benefícios de cada método, tendo sempre em conta as necessidades individuais de

cada mulher (58).

Aceitabilidade das mulheres e profissionais de saúde face à inibição

menstrual

A Association of Reproductive Health Professionals (ARHP) conduziu dois

estudos nacionais que visavam avaliar as atitudes das mulheres, com idades

compreendidas entre 18 e 40 anos, relativamente à menstruação e à sua inibição. O

primeiro foi conduzido em 2003, antes da aprovação do Seasonale®, no qual

participaram 1470 mulheres e o segundo, em 2005, com a participação de 1021

mulheres. Uma pequena percentagem relatou que, de alguma maneira, gostavam da

sua menstruação (16% em 2003 e 8% em 2005). A maioria via a menstruação como

algo que simplesmente eram obrigadas a ter (75% em 2003 e 77% em 2005). No

estudo realizado em 2003, metade das participantes acreditavam que era necessário

menstruar mensalmente e um terço discordava ou discordava fortemente. Quando

inquiridas sobre com que frequência menstruariam, se tivessem escolha, uma

considerável proporção escolheu nunca (32% em 2003 e 40% em 2005). Menos de

um quarto (22% em 2003 e 2005) escolheu a opção mensalmente. A maioria

desconhecia a inibição menstrual, 73% em 2003 e 55% em 2005. No estudo

realizado em 2005, as preocupações relativamente à supressão menstrual

consistiam nos efeitos a longo prazo (89%), efeitos adversos (88%), que não é

natural não menstruar (66%), que a fertilidade seria afetada (58%) e que seria muito

dispendioso (57%). As participantes nos dois estudos não são as mesmas e, por

isso, os resultados não podem ser comparados diretamente. No entanto, eles

sugerem um aumento do conhecimento da supressão menstrual durante esse

intervalo de tempo (1).

Quando é dada a escolher a extensão do ciclo menstrual e duração do

intervalo sem pílula, as mulheres claramente preferem ciclos prolongados e menores

intervalos sem pílula, tal como demonstrou um estudo conduzido por Sulak em 220

mulheres, das quais 181 terminaram o estudo. A maioria, 60%, continuou a usar

regimes prolongados durante mais de 2 anos e 88% delas escolheram um intervalo

sem pílula igual ou inferior a 4 dias, sem nenhuma sequela grave ou gravidez (3).

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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Um estudo com 267 mulheres concluiu que, após um follow up de 5 anos,

21,3% deixaram de usar contracetivos orais combinados, 14,2% retomaram os

regimes tradicionais e 64,4% continuaram a usar regimes prolongados. Quarenta e

seis por cento continuaram a usar regimes prolongados 5 anos após o estudo (36,

39).

Noventa e um por cento das utilizadoras dos contracetivos orais, gostaria de

prolongar os seus ciclos, principalmente por forma a reduzir a incidência de cefaleias

(46%), dismenorreia (41%), hipermenorreia (30%) e sintomas pré menstruais (22%)

(3).

Num estudo realizado a 100 estudantes, 89% tinham ouvido falar da

supressão menstrual. Apenas um terço das participantes (33%) estavam dispostas a

suprimir a sua menstruação, mas dois terços (68%) estaria caso soubessem que não

haveria efeitos adversos (63).

Muitos médicos acreditam que inibir a menstruação é seguro. Um estudo com

301 ginecologistas revelou que 99% acham que a supressão menstrual é segura.

Apesar da maioria, 69%, achar que a supressão menstrual a longo termo é segura,

30% acha que apenas é segura uma supressão ocasional. A maioria prescreve mais

facilmente regimes prolongados a jovens mulheres que desejam estar amenorreicas

para um determinado evento ou quando tencionam ter uma menstruação menos

frequente (52).

Em 2005, um estudo avaliou as atitudes, conhecimentos e hábitos de

prescrição de 211 médicos (44% obstetras-ginecologistas e 56% médicos de

família), relativamente aos regimes prolongados e contínuos. Três quartos

reportaram prescrever frequentemente (23.5%) ou algumas vezes (50.5%) regimes

prolongados de contracetivos orais combinados. A maioria discorda que a

hemorragia mensal seja essencial, com uma média de 1.47 em 5 (1=discordo

firmemente, 2= discordo, 3= neutro, 4= concordo e 5= concordo firmemente) (1).

Dois estudos direcionados a vários profissionais de saúde, incluindo médicos,

enfermeiros, parteiras e médicos assistentes, foram realizados em 2004 (551

participantes) e em 2008 (799 participantes). O objetivo era determinar as atitudes e

preferências de prescrição, relativamente aos regimes prolongados e contínuos de

contracetivos orais combinados. A grande maioria afirmou prescrever regimes

prolongados na sua prática clínica (82% em 2004 e 92% em 2008). Aos que

prescreviam foi lhes perguntado com que frequência o faziam; 29% em 2004 e 54%

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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em 2008 afirmaram prescrever frequentemente, 45% em 2004 e 31% em 2008

prescreviam ocasionalmente e 24% em 2004 e 7% em 2008 prescreviam raramente.

Uma minoria afirmou que a menstruação é necessária e confere benefícios a nível

da saúde, 12% em 2004 e 9% em 2008. Apesar dos participantes nos dois estudos

não serem os mesmos e, por isso, não poderem ser diretamente comparados, os

resultados sugerem uma crescente aceitação pelos profissionais de saúde dos

novos regimes contracetivos (64, 65).

Abordagem centrada na paciente: o que as mulheres precisam de saber

sobre a inibição da menstruação

É necessário que as mulheres compreendam o ciclo menstrual assim como o

mecanismo de ação, segurança, vantagens, desvantagens e riscos associados aos

métodos contracetivos. Esta informação pode ser particularmente importante para se

sentirem seguras com os novos regimes. Uma lista com os aspetos mais

importantes a abordar sobre os regimes prolongados e contínuos encontra-se na

tabela 3 em anexo (1).

As mulheres devem ser participantes ativas na discussão sobre o seu

anticoncecional. Devem ser encorajadas a questionar e discutir as suas

preocupações. Uma decisão informada ocorre quando os médicos lhes fornecem

dados suficientes de modo a que estejam cientes do seu papel no processo de

tomada de decisão, quando são discutidas questões médicas, alternativas

terapêuticas, potenciais benefícios e riscos associados, e quando asseguram a

compreensão das suas pacientes e preferência pela sua escolha (36).

Quando abordados regimes prolongados ou contínuos, vários pontos devem

ser discutidos. Deve ser enfatizado que hemorragia menstrual não é fisiologicamente

necessária e que as vantagens médicas associadas ao uso de regimes tradicionais

não são superiores às associadas aos regimes prolongados e contínuos. Além disso,

tendo em conta que os novos regimes reduzem ou inibem a menstruação, eles

melhoram o estilo de vida e vão de encontro às necessidades de algumas mulheres.

Também é importante discutir os padrões hemorrágicos uma vez que normalmente

estão associados a mais hemorragias inesperadas ou spotting (31, 66). As mulheres

deverão ser também aconselhadas sobre o maior risco inicial de hemorragias

inesperadas e spotting para que possam lidar melhor com este aspeto (36).

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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Conclusão

O advento dos contracetivos orais deu às mulheres a capacidade de escolher

se querem e quando engravidar. Atualmente, muitas mulheres também desejam

controlar quando menstruar e se o querem fazer. A inibição menstrual tem ganho

popularidade nas últimas décadas mas ainda não é um fenómeno globalmente

aceite. Uma vez que não há exigência fisiológica para a hemorragia mensal nas

mulheres que não desejam ou não podem engravidar, os regimes prolongados e

contínuos representam uma opção viável e bastante atrativa para uma vasta gama

de mulheres. São usados principalmente para melhorar a qualidade de vida de

muitas mulheres, quer para determinados eventos especiais, quer no tratamento dos

distúrbios menstruais e patologias agravadas durante o intervalo sem pílula.

Dezenas de estudos nos quais participaram milhares de mulheres confirmaram a

segurança destes regimes, não se verificando efeitos uterinos e endometriais

indesejáveis, nem alterações significativas no que concerne a pressão arterial e

parâmetros laboratoriais. O retorno à fertilidade é rápido após descontinuação do

regime. Estes estudos também confirmaram a eficácia destes regimes, mostrando

que são tão eficazes na prevenção da gravidez como os regimes tradicionais e há

evidências que sugerem que podem ser ainda mais eficazes devido à maior inibição

da resposta do eixo hipotalâmico-hipofisário-gonadal e, consequentemente, da

ovulação; do melhor controlo do ciclo endometrial e da menor probabilidade de

esquecimento de toma diária da pílula. Novos regimes continuam a ser

desenvolvidos por forma a permitirem uma maior flexibilidade e adaptabilidade às

necessidades individuais de cada mulher. Todas as mulheres que optam por

contracetivos orais devem ser aconselhadas sobre os regimes prolongados e

contínuos, de modo a tomarem uma decisão informada, participando ativamente

nesta decisão.

Chegou o momento de nos libertarmos das amarras dos regimes tradicionais

de contracetivos orais e satisfazermos as necessidades das mulheres do século XXI.

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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Agradecimentos

Qualquer agradecimento que eu possa escrever não fará jus à minha

gratidão. No entanto, dedico este trabalho a todas as pessoas que contribuíram para

o meu percurso académico e formação pessoal.

À Drª Joana Maria Cunha Mesquita Guimarães um especial agradecimento

pelo carinho com que aceitou este desafio e pela sua disponibilidade, compreensão

e motivação em todos os momentos.

À Drª Márcia Sofia Alves Caxide e Abreu Barreiro pela sua disponibilidade.

Aos meus pais por possibilitarem a realização de um sonho e por todo o

acompanhamento ao longo destes 6 longos anos. Obrigada mãe por acreditares em

mim, por estares presente em todos os momentos e pelos valores que me

transmitiste. Nunca te conseguirei agradecer. Conseguimos!

À minha tia Amélia pelo enorme carinho e paz que me transmitiu ao longo da

minha vida.

Ao Pedro por todo o carinho, respeito e parceria. Obrigada por me ajudares a

enfrentar todos os obstáculos, pela tua presença constante e por me tornares na

pessoa que quero ser.

ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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Referências

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ARTIGO DE REVISÃO: MENSTRUAR OU NÃO MENSTRUAR – EIS A QUESTÃO

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Anexos

Tabela 1 - Regimes prolongados e contínuos aprovados pela FDA (29).

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Tabela 2 – Considerações para a inibição menstrual em raparigas e mulheres com

deficiências de desenvolvimento (48)

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Tabela 3 – Pontos chave a abordar durante o aconselhamento a mulheres que

estejam a ponderar regimes prolongados e contínuos de contracetivos orais (1)