Meninos e Meninas Potiguares

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MENINOS E MENINAS POTIGUARES >> 1 Potiguares Meninos e Meninas

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meninos e meninas potiguares

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PotiguaresMeninos e Meninas

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rio grande do norte

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CEARÁ

29Rodolfo Fernandes 31

Itaú

33Dr. Severiano

37Olho D’água do Borges

35Riacho da Cruz

39Lucrécia

25Timbaúba dos Batistas

23Ipueira

41Mossoró

27Ipanguaçu

45Ten. Laurentino Cruz

21São José do Seridó

de 7 a 14/12/2006 - De Parnamirim a Parelhas

de 17 a 19/04/2007 - De Mossoró a Ceará Mirim

LEgEnDA

no mapa, o número acima do nome do município corresponde à página com o registro da entrega do Selo UnICEF

título >> meninos e meninas potiguares

realização >> FEMURN e UNICEF (Escritório do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí)

Coordenação editorial >> Ana Márcia Diógenes (UNICEF)

Coordenação de textos >> Oswald Barroso

apoio editorial >> Emanuelle Lobo (UNICEF)

textos >> Oswald Barroso e Ângela Rodrigues

Fotos >> Evilázio Bezerra e Felipe Abud

projeto gráfico e editoração eletrônica >> Andrea Araujo

infográficos >> Cecília Andrade

tiragem >> 1000

impressão >> Expressão Gráfica

agradecimento >> A todos os municípios que prepararam suas festas para receber o Selo UNICEF com criatividade, afeto e acolhimento às equipes da Caravana do Selo UNICEF

2007

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natal

PARAÍBA

OCEAnO ATLÂnTICO

43Angicos

17Bodó

19Currais novos

47Acari

15Santa Cruz

49Brejinho

13Vera Cruz

51Ceará Mirim

11Parnamirim

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estrada, segundo o dicionário Houaiss, tem dois significados: 1) via de trânsito interli-gando localidades e 2) caminhos. Se o UNI-CEF fosse convidado a acrescentar mais um significado, com certeza a sua equipe seria

unânime: “estrada são caminhos de acesso que nos permitem desbravar a realidade de cada município, de cada distrito, e que possibilita um descortinar do olhar para como se dá, na realidade, a vida de cada criança e adolescente, em cada lugar”.

Foi em nome desse último significado que o UNI-CEF escolheu a opção de percorrer quase 10 mil quilômetros em estradas de asfalto, de calçamen-to, de piçarra ou terra batida dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte, fazendo o reconhecimento dos municípios que ganharam o Selo UNICEF Mu-nicípio Aprovado – Edição 2006. Esse reconheci-mento poderia acontecer numa grande festa nas capitais, mas ir a cada um dos municípios possibi-litou à equipe que organiza o Projeto Selo UNICEF conviver, de perto, com o olhar, o rosto, a emoção e a energia das pessoas que se determinaram a trabalhar por uma realidade mais saudável para a infância e adolescência de seu município.

Como crianças e adolescentes não são números ou estatísticas, o Selo UNICEF tem a missão de fa-zer com que os indicadores sociais sejam bem en-tendidos e transformados em ações práticas que permitam um desenvolvimento mais saudável nos cerca de 1.500 municípios que compõem o Semi-Ári-do Brasileiro. A concretude da necessidade, urgente, de que se promova uma melhor convivência com as características dessa região, aliada ao fato de que o município é o lugar primeiro onde as transformações devem acontecer, faz do Selo UNICEF um dos princi-pais instrumentos de que se vale o Pacto Nacional Um Mundo para a Criança e do Adolescente do Semi-Árido. Instrumento de capacitação, mobilização e de mudanças nas prioridades das políticas públicas.

Essas mudanças podem ser analisadas à luz do resultado que os municípios obtêm nos dois anos de cada edição do Selo. Por isso, ser um dos municípios

certificados pelo projeto mexe tanto com a emoção, gera tanta ansiedade. O anúncio, em novembro de 2006, dos municípios ganhadores, mostrou que, no Ceará, 41 municípios haviam melhorado mais os seus indicadores sociais da infância e adolescência do que outros e que, no Rio Grande do Norte, 15 eram os vencedores. A partir desse número, o UNI-CEF planejou a Caravana – com dois carros custo-mizados em amarelo, com os mamulengos (símbo-lo do projeto) desenhados neles, e duas equipes de profissionais se revezando em cada uma delas - que percorreu os dois estados, de 5 a 14 de dezembro. Um dos carros percorreu só o Ceará e o outro se dividiu entre Rio Grande do Norte e Ceará.

Mas, muitos municípios, inconformados com o re-sultado e cônscios de que haviam evoluído os seus indicadores, pediram a revisão dos dados. Após veri-ficação e correção dos dados pelas secretarias es-taduais de Saúde e Educação, a revisão mostrou que mais 6 municípios no Rio Grande do Norte e 19 do Ceará também haviam atingido a pontuação mínima necessária para a obtenção do Selo UNICEF. Como a Caravana já havia encerrado os dois roteiros, a so-lução foi montar uma nova etapa da Caravana, desta vez com um só carro, customizado em branco com os mamulengos, para que a entrega do certificado, do troféu e das instruções fosse igual aos dos muni-cípios antes visitados. O calendário de visitas aconte-ceu de 9 a 19 de abril, nos dois estados.

Nas duas etapas da Caravana, a emoção foi a mesma. Em alguns casos, pelo tempo de espera e de ansiedade, a comoção foi até maior na segunda etapa. Tanto em uma como na outra foram visi-tados de dois a três municípios por dia. Sol, calor, chuva, frio, vento... independente da condição climá-tica, lá estavam eles, as crianças e adolescentes. E eram na maior parte das vezes, a maioria nas platéias. Meninos e meninas ocupavam, com sua beleza e energia, as ruas, praças, árvores e quin-tais nas cidades para ver a Caravana passar por seus municípios vencedores.

Foram momentos ímpares de observação da for-

Uma caravana pelos direitos

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ma com que cada cidade celebra a alegria. As imagens se revezavam entre Prefeitos, Primeiras Damas, arti-culadores do Projeto Selo UNICEF, artistas, comunica-dores, secretários, técnicos, autoridades, vereadores e comunidades envolvidos com a conquista e a alegria de terem obtido resultados positivos para a infância e adolescência do lugar. As crianças e adolescentes, juntos, comemoraram o resultado.

Para captar essa magia, o UNICEF convidou quatro profissionais da comunicação. Ângela Rodri-gues, jornalista potiguar, esteve na maioria dos mu-nicípios cearenses; Oswald Barroso, jornalista, tea-trólogo e escritor cearense, esteve em todos do Rio Grande do Norte e em alguns do Ceará. Os textos de cada um dos jornalistas estão identificados pelas iniciais AR e OB, respectivamente. Já o fotógrafo Felipe Abud foi à maioria dos municípios do estado do Rio Grande do Norte e alguns do Ceará; Evilázio Bezerra, também fotógrafo, ficou responsável por cobrir quase todo o Ceará e alguns municípios do Rio Grande do Norte.

Os textos e as imagens registrados por eles po-dem ser conferidos nesta publicação. Cada texto tem a data e a hora em que a solenidade aconteceu. Eles foram agrupados seguindo a ordem cronológica. Mas, como na primeira etapa da Caravana estávamos com dois carros saindo para direções diferentes, em al-guns dias estivemos em vários municípios ao mesmo tempo, com equipes diferentes.

Na empreitada, também nos acompanharam profissionais de filmagem. Daniel Cortez e Anderson Fernandes, da Cena 7 Produções; e Osvaldo Marinho Junior e Erica Lima, da AFM Stúdio. No Rio Grande do Norte, duas técnicas do Governo do Estado, Edivane Vilar e Ana Xavier, estiveram presentes em vários mu-nicípios. As duas vans que singraram as estradas cea-renses e potiguares foram pilotadas, com segurança, por José Ferreira Neto e Oswaldo Alves de Mello.

Para a ficha técnica ficar completa, segue o nome de todos os que integraram a Caravana, nas suas duas etapas, em ordem alfabética: Aline Andrade, Ana Már-cia Diógenes, Boris Diechtiareff, Emanuelle Lobo, José Arimatéia, José Rodrigues Otaviano, Luciana Bayer, Morgana Dantas, Patrício Fuentes ( Coordenador do Escritório do UNICEF para os estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Piauí), Rui Aguiar, Salete Targino e Tati Andrade.

Depois de tantos quilômetros rodados e das lem-branças de pessoas, festas, sorrisos, discursos, fo-tos e estradas, a imagem que mais vem às nossas mentes é a da celebração. Celebração pela vida, pela convivência, pela certeza de ser possível colher resul-tados positivos das políticas públicas já no presente, porque a vida de crianças e adolescentes do Semi-Árido tem pressa. E corre por caminhos que todos sabem quais são: saúde, educação, proteção e renda para as famílias da região.

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parnamirim

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>>> em 8 de dezembro de 2006, às 15h

parnamirim preparou uma espécie de para-da estudantil, ou melhor, fez uma passeata festiva, com cortejo de rua, inspirada numa

procissão barroca. Na frente, batedores de moto-cicletas, veículo que parece ser a marca da época, em todo o interior nordestino. Depois, Seu Osvaldo, nosso motorista, conduzindo em lugar de honra o carro amarelo da Caravana do Selo UNICEF e buzi-nando ao ritmo da banda de música, que acompa-nhava o cortejo. Na retaguarda, carro de som, um trenzinho e a bateria.

Ali, o Selo UNICEF, que já fora retratado por ma-mulengos como “cabeção”, banner e outras coisas mais, virou um boneco grande recortado no pape-lão, com mãos e pés manipuláveis. As diferentes alas do cortejo usavam camisas diversas, umas com as marcas do Selo, outras com as marcas de outros projetos e movimentos sociais, algumas com camisas de times de futebol e outras com uni-formes profissionais. As bolas coloridas, os fogos e os apitos davam, ao desfile, a marca infantil e festi-va. Aqui, acolá, um destaque, na forma de palhaços perna-de-pau, de bonecos gigantescos como as Gotinhas da campanha de vacinação, ou de carta-zes, trazendo heróis do Nordeste, como Lampião, Luís Gonzaga, Patativa do Assaré e Padre Cícero.

A festa surpreendeu o centro comercial da ci-dade. Uma senhora, com criança de colo, parou na calçada para ver a banda passar. Dançava. Faixas foram abertas na trajetória. Uma delas dizia: “Pa-rabéns Parnamirim, O Selo UNICEF é Nosso”. Os comerciários abandonaram o interior das lojas. As pessoas postaram-se no meio-fio, para assistir o cortejo inesperado. Aplaudiram. Muito convencido, o município já exibia o troféu durante o cortejo. Ha-via recebido em solenidade na Capital Federal, em novembro de 2006, quando o nome dos vence-dores foi anunciado. O troféu passava de mão em mão, enquanto se ensaiava um apitaço. Professo-ras desfilaram com seus filhos recém-nascidos em carrinhos de bebê. Uma canção de Carla Simone e David Augusto proclamava: “Parnamirim/Melhor pra você/Melhor pra mim.”

A passeata chegou ao palanque armado atrás da igreja. Crianças se espalharam pela praça, ca-racterizadas com trajes diversos: pastorinhas, cangaceiros de Lampião, meninada do Programa de Erradicação do Trabalho Infantil - PETI etc. No local, barracas com sanduíche e distribuição de pi-colé. As crianças brincaram e se divertiram com os palhaços, enquanto, do palanque, as autorida-des falavam, tendo ao fundo a Bandeira Brasileira. Os atletas do time do Parque Industrial estavam ansiosos para que a solenidade terminasse. Have-ria um forrozão, em seguida. Felipe Abud fotogra-fou Louise, Maria de Fátima e Gisele, que tocam prato na Banda de Música.

No palanque, meninas vestidas com malhas de bailarinas, cabelos enfeitados com areia colorida, dançavam xote e xaxado. Uma professora apre-sentou o número como se fosse dança contem-porânea, talvez por causa da malha. São do Grupo Xote e Xaxado, do Colégio Costa e Silva. Pergun-tamos às meninas quem foi o dito cujo, mas elas não souberam responder. Em seguida, ainda no palanque, uma mulher, ao saxofone, interpretou “Fascinação”. Crianças muito pequenas fizeram a coreografia. Elas eram do grupo do movimen-to de promoção do livro, ligado ao PETI. Havia um redemoinho de crianças em torno da carrocinha de picolé, distribuído gratuitamente. No palanque, o Grupo Flor do Mamulengo interpretou a canção do mesmo nome, uma espécie de hino que o Selo UNICEF divulgou entre os movimentos de defesa da criança e do adolescente. Embaixo, na praça, o Pastoril Flor do Lírio dançou com suas pastoras e seu palhaço. A Baianinha dançava e a Cigana do Egito se exibia para o público. No palanque, os me-ninos e meninas de Passagem de Areia dançaram canções natalinas. As autoridades desceram para colocar o nome do município no carro da Carava-na. O Prefeito mostrou-se muito feliz e foi cumpri-mentado. (OB)

Parada estudantil

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vera Cruz

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>>> em 8 de dezembro de 2006, às 17h

C idadezinha simples, do interior, tranqüila. Igre-ja linda, povo bonito, lugar pequeno e pacato. Nele, tudo é muito limpo e arrumado. Dela,

sabíamos que havia o Boi de Reis, do Mestre Joveli-no, no Sítio Santa Cruz; uma Festa do Vaqueiro, em Ponta de Várzea; a Quadrilha Venha Ver, no Cobé, e o São Paulo Futebol Clube, na sede do município. E mais algumas histórias tiradas do Mapeamento Cultural, como a da maior cobra do mundo, que apareceu na comunidade de Jacaré. Conta Seu Zé Dadau, que seu pai, Antônio Maria, trabalhando no brocado, ouviu aquele barulho: pof, pof, pof. Foi ver, era uma cobra batendo a pestana: pof, pof, pof. Chegou mais perto, percebeu que havia um sapo cururu dentro do olho da cobra. Outra história tem a ver com o nome do distrito de Cobé, onde existe uma famosa Paixão de Cristo. Dizem que lá habita-vam uns índios, que criavam muita galinha e cabra. Na hora de colocar nome no distrito, um morador teve a idéia: por que não Cobé, já que a galinha faz có e a cabra bé? E ficou.

Como sempre fazia, Seu Osvaldo, nosso moto-rista, deu uma limpeza geral no carro da Caravana do Selo UNICEF, antes de entrar na cidade. Chega-mos ao entardecer. A pracinha já estava toda pre-parada, como para uma reunião íntima. Um qua-drado de cadeiras em torno da mesa, tudo muito alinhado. O palanque atrás. Fomos ver a Matriz do Divino Espírito Santo e, num dos altares laterais, estava Nossa Senhora das Dores, esculpida em madeira, com sete punhais cravados no peito. Ima-gem magnífica. Bela igreja.

Na festa, um conjunto infantil de flautas. No globo terrestre que as crianças levavam, estava escrito: “O dedo de Deus criou, o homem destruiu”. Depois vinham as bandeiras. A de Vera Cruz com a frase: “Deus ilumine esta nação”. A do Rio Grande do Nor-te e o dizer: “A nossa bandeira amada.” Uma faixa pedia a Deus: “Põe amor no coração dos que nos governam.” Cartazes pediam a salvação do boto cor-de-rosa e diziam que é “tempo de ser feliz”. Fechando o ritual, um grupo de crianças, com as cores da Ban-deira do Brasil, desenvolveu uma coreografia que pe-dia a salvação do Planeta.

Para sentar à mesa, entre as autoridades, foi chamada a Prefeita Mirim, Tainá, e o representan-te dos adolescentes. Tocaram o Hino Nacional e os ditos adolescentes denunciaram a exploração do trabalho infantil, encenando a história de um dono de casa de farinha, que bota as crianças para ralar mandioca. As facas eram de papelão, mas as mandiocas eram verdadeiras. Patrício Fuentes, Coordenador do UNICEF, tudo observou e em seu discurso disse que “a aparência do município mos-tra que aqui tem gente cuidando das crianças”. Atrás da mesa das autoridades, meninos conver-savam sobre suas bicicletas e contavam suas fa-çanhas. Na programação constava que os “Lindos do Forró” iriam se apresentar. Uma menina ob-servou que eles não eram tão lindos assim.

Depois do discurso, Patrício passou às mãos de Tainá o troféu do Selo, dando início a uma vol-ta olímpica das crianças pela praça. A reprodução do “Tema da Vitória” (de Ayrton Senna) falhou e não se ouviu um só barulho. Naquele momento se viu como a cidade é silenciosa. Quando o Prefeito ergueu o troféu, todos se levantaram. Como por magia, o Tema da Vitória resolveu desenganchar. Todas as crianças se juntaram ao Prefeito, numa apoteose. Morgana Dantas, responsável pela cul-tura no escritório do UNICEF, encheu os olhos de lágrimas. Todas as crianças estavam atentas. Numa motocicleta, um casal assistiu a tudo. Senta-da na garupa, a mulher acariciava o filho que trazia no colo. Num rasgo de emoção, o Prefeito disse que em sua vida pública sempre foi apoiado pelas crianças e pelos adolescentes. Depois, leu um dis-curso e deixou um pouco de lado as palavras im-provisadas. Nele ficou patente a preocupação do município com a questão ecológica. (OB)

Festa íntima eecológica

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santa Cruz

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>>> em 8 de dezembro de 2006, às 20h

C hegamos pela noite ao Teatro Candinha Be-zerra, onde se daria a solenidade. Um grupo de crianças jogava capoeira na rua asfaltada,

de frente ao teatro. O Prefeito chegou só, desceu do seu carro e apertou a mão de todos que en-controu. Era o único de paletó no entorno. Meni-nos brincavam com malabares. Um deles, Afonso, estava particularmente engraçado. Tinha vocação para palhaço, mas acabou malabarista. A Orques-tra Filarmônica da cidade ficou a postos. Tem a participação de crianças. Ficamos admirados em ver instrumentos musicais tão respeitáveis nas mãos de crianças tão pequenas.

Entramos no teatro, moderno e confortável. Os apresentadores, muito jovens, usavam apenas o proscênio. Adeilton já estava no palco e Aline veio do fundo da platéia. Ela tinha apenas 12 anos. Um locutor narrou, em áudio, a história de San-ta Cruz. Em seguida, dançaram grupos de catira e carimbó, formados por meninos e meninas do Projeto Cidadão do Amanhã, ao estilo para-folclo-re. Foram muito aplaudidos. Talisnon Bruno, de 14 anos, participou da apresentação. Chamou o Selo UNICEF de selinho, como se fosse beijo se-linho. Na platéia, uma meninazinha de três anos dava um efusivo tchau para uma senhora em ca-deira de roda. Ela ria, contente. No proscênio, um menino de 12 anos, Francisco Paulo, com a cabe-ça enfiada no papel, leu com muita desenvoltura o Rap do Eleitor.

Enfim, a cortina se abriu e, no palco, surgiu a mesa das autoridades. Todos ficaram de pé e en-traram as bandeiras do Brasil, do Rio Grande do Norte e de Santa Cruz. Em seguida, um apresen-tador adulto assumiu o comando. Ele citou as au-toridades presentes. Patrício Fuentes, em sua fala, disse que a lei de proteção aos direitos da criança e do adolescente deve ser posta para funcionar. Ele destacou o trabalho em equipe.

No início do ritual de outorga do Selo foi per-guntado à platéia como é e o que significa o Selo UNICEF. No início, havia pouca presença de crian-

ças na platéia. Uma menina, de nome Amanda, foi convidada a ajudar na entrega do Selo. Amanda passou o troféu ao palhaço Chupeta. As crianças fizeram um cortejo pela platéia e Amanda voltou para sua cadeira, sendo muito cumprimentada pe-los vizinhos. O cortejo juntou todas as crianças da platéia. Quando elas apareceram, viu-se que não eram poucas.

A cada cidade, o ritual de entrega do Selo era enriquecido, de modo a conseguir mais participa-ção e emoção. Eram formas de comprometer to-dos com a defesa da infância e da adolescência. O Prefeito beijou o troféu depois de levantá-lo bem alto na frente do palco. A meninada gritou: “Santa Cruz me faz crescer!” A música subiu e as crianças desceram do palco. O Prefeito, muito emocionado, falou da música que tocava. Tem letra do composi-tor Babau, orgulho do lugar. Descreveu a cidade, e a época quando começou seu governo. Disse que foi aprovado por mais de 90% da população, após 5 anos e 8 meses de gestão. A solenidade de en-trega do Selo estava sendo transmitida pela Rádio Santa Cruz. Por isto, a fala do Prefeito era como para um grande público. Ao final, foi aplaudido de pé. Uma equipe de crianças muito vivas e comuni-cativas fechou a solenidade.

Lá fora, um futuro candidato a vereador fez questão de tirar foto com o troféu, o Prefeito e a Primeira Dama. Um pequeno repórter, muito es-perto, entrevistou Patrício e o Prefeito. Depois, sa-bendo que o escrivão da caravana era teatrólogo, o entrevistou sobre teatro. Perguntou por que é bom fazer teatro e como o teatro começou. De-pois, ele mesmo saiu dando suas opiniões sobre o teatro. Felipe Abud, fotógrafo da Caravana do Selo UNICEF, virava-se e revirava-se na busca de fotos em que crianças aparecessem tendo ao fundo o carro amarelo da Caravana e uma paisagem in-confundível da cidade. (OB)

Feito um beijo selinho

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bodó

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>>> em 9 de dezembro de 2006, às 10h

C idade pequena, arruamento aberto em ple-na caatinga. Todo mundo estava na porta de casa para receber a caravana do Selo UNI-

CEF. Paramos em frente ao ginásio de esportes, lo-cal da festa. Morgana Dantas abriu a porta do car-ro e, entusiasmada, distribuiu pirulitos vermelhos em formato de coração. Uma menina perguntou por Didi Mocó (personagem de Renato Aragão). Alguém, brincando, havia anunciado que ele vinha. No ginásio, o povo recebeu nossa caravana com aplausos entusiasmados.

A quadra de esportes, decorada com cortinados nas cores da cidade - amarelo, azul e branco - fai-xas vermelhas e bolas coloridas, acolheu uma gen-te bem atenta e organizada, apesar do calor. Uma mesa muito comprida, com toalha branca, acomo-dou as autoridades. Sua composição era numerosa e ampla. Dela fazia parte um representante da co-munidade quilombola.

O primeiro número foi feito pelo Grupo Bate Lata, do PETI (Programa de Erradicação do Traba-lho Infantil). Nas latas tocava tudo, desde canções de Natal - que foram cantadas aos gritos, em estilo rap, por um menino - até o Hino Nacional, canta-do pelo representante dos quilombolas. A platéia tentou acompanhar, mas sem sucesso. O público acalmou-se quando o grupo de flautas do Assenta-mento Jatuarana interpretou “Asa Branca”. Depois, ficou mais concentrado ainda para ver o Grupo de Teatro e Dança Roda Viva encenar “A Vida do Serta-nejo de Meu Bodó”. Uma bailarina entrou dançando na ponta do pé e virou cangaceira, quando tocou “Disparada”, de Geraldo Vandré. Em seguida, entra-ram outros personagens: o vaqueiro, a matuta, a indígena e uma roceira peneirando feijão. Ao final, um dançador de xaxado fez par com a bailarina.

A garotada mostrou o que era possível, um pouco de cada coisa. A história resumida de Bodó e seu padroeiro, São Pedro, foi contada pelo apre-sentador. Um garotinho, filho do Prefeito, dançou forró, com uma menina muito novinha. A capoeira foi representada, em exibição, por três crianças. O menino mais velho se benzeu, antes de dar um salto mortal. Em seguida, um grupo de adolescen-

tes dançou uma canção sertaneja com coreogra-fia em estilo contemporâneo. Um dos membros da equipe do UNICEF perguntou: Quem nasce em Bodó, é bodoense ou bodozeiro? Alguém respon-deu: Bodoense no oficial e bodozeiro no popular.

O Prefeito, de aparência tranqüila, disse para a equipe do UNICEF: “Eu não tenho cara de prefeito”. Morgana Dantas, indignada, retrucou: “O senhor tem cara de prefeito sim, porque o prefeito tem que ter a cara do seu município e o senhor tem a cara de seu povo”. A cada município, o suspense era saber o que de novo haveria de ser inventado para o ritual de entrega do troféu.

Havia espontaneidade e simplicidade no am-biente. O amianto no teto do ginásio fazia o som reverberar. Muitas mães vieram com seus filhos de colo. As crianças, dispersas, faziam muito ba-rulho e foram chamadas para o centro do ginásio. O troféu foi passado a um menino, esse passou a outro e mais outro. O Prefeito, muito feliz, sentou-se no meio da criançada com o troféu no colo. Passava sinceridade na sua alegria.

Meninos negros, meninas brancas, e vice-ver-sa, crianças de todas as cores. Menina com ves-tido de criança, babado e bico, manga fofa, o que não se vê com freqüência. No final, distribuição de pipoca e lanche para o povo da zona rural, que ha-via vindo participar da festa. Depois da solenidade fomos visitar a mina de shelita, uma das fontes de sustentação da cidade. Na sua entrada, está escrito: “É andando que se caminha”. Os adoles-centes aproveitaram e tiraram mil fotos com os visitantes. (OB)

Entre bodoenses e bodozeiros

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Currais novos

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>>> em 9 de dezembro de 2006, às 16h

em Currais Novos muitas histórias foram le-vantadas pelos meninos e meninas durante o Mapeamento Cultural. Histórias que da-

tam das origens do município, antigas terras do Coronel Cipriano Lopes Galvão, homem violento e de muitas posses. Dizem que, certo dia, o dito coronel, com medo que lhe arrancassem a fortu-na, pediu que três dos seus escravos enterras-sem no alto de um serrote, cada qual, um uru de couro cheio de ouro. Eles assim fizeram, mas depois de feito, o Coronel os matou um a um, para que o segredo fosse mantido. Falam que devido a estas mortes, uma cobra foi gerada. Já outros contam que a história da cobra se deveu a uma jovem solteira, que escondeu sua gravidez com medo da censura da comunidade. Quando começou a sentir as dores do parto, foi até a beira do açude e lá teve a criança, que acabou desaparecendo dentro d`água. Por ser pagã, a recém-nascida virou a dita cobra, que até hoje aparece no açude.

Contou, ainda, uma certa Dolorosa Dolores de Medeiros, que em Pedra D`Água, lugarejo próximo dali, um senhor chamado Antônio Mocó, caçador de onças, curado de cobra, passando certo dia por uma cova de pagão, encontrou três mulheres, cada qual com uma trouxa muito grande na cabe-ça. Admirado com o tamanho das trouxas, Antônio Mocó perguntou o que traziam. A primeira respon-deu que era carestia; a segunda, escândalo e a terceira, violência. Quando terminaram de falar, as mulheres desapareceram como por magia.

Dizem, também, que em 1680, na Comunidade de Areia, hoje Lagoa dos Santos, onde morava o fa-zendeiro Lulu da Areia, havia uma grande pedra que soava como sino, usada pelos índios para emitirem seus sinais. Com a morte do fazendeiro, a proprie-dade passou para seu empregado, João Lobo. Cer-to dia, feito alma, Lulu apareceu para Lobo e revelou a existência de uma botija, escondida na Pedra do Sino. Recomendava que ele devesse ir à noite. Ele foi e, com uma grande marreta, partiu a pedra no meio. Foi a última vez que se ouviu o sino da pedra. Também não havia botija. Falam que hoje só a meta-de maior da pedra soa, mas feito uma sineta.

Atualmente, Currais Novos é cidade grande com um centro bonito, cheio de avenidas largas e limpas, tendo inclusive um aeroclube, lugar es-colhido para acolher a solenidade de entrega do Selo UNICEF. No salão, improvisado como auditó-rio, os adultos se colocaram de pé nas laterais e as crianças, ao centro, sentadas em cadeiras, às centenas. Do palco, enfeitado, uma apresentadora fazia as vezes de animadora de auditório e pergun-tava à garotada: “Vocês querem pipoca?”. Quando queria atenção da meninada, ordenava em vão, como se comandasse uma filmagem: “Luz, câme-ra, ação!” O som da gritaria reverberava pelo sa-lão, quando uma cantora local, ao vivo, cantou com voz e instrumento o Hino Nacional, numa interpre-tação soberba. Em seguida, dois clows interpreta-ram uma coreografia para Flor do Mamulengo.

A mesa foi formada. A solenidade foi rápida, com o troféu fazendo uma volta olímpica no salão. Os meninos correram literalmente, por entre a multidão. Ao final, o troféu foi entregue ao Pre-feito, que agradeceu a todo mundo. Ao telefone, uma mulher dizia para alguém: “Aqui está uma loucura!”. O Prefeito falou como em comício, tal a algazarra no salão. Chamou as crianças para per-to de si e, juntos, saudaram eufóricos a conquista do Selo. Foguetes.

A apresentadora gritou, pela última vez: “Luz, câmera, ação!”. Finalmente tudo se aquietou. Pôde-se ler o que estava escrito no palco: Afe-to, Igualdade, Saúde. As autoridades retiraram-se para a colocação do nome do município no carro da Caravana do Selo UNICEF. Para as crianças, foi anunciado o sorteio de bicicletas, distribuição de pipoca e picolé. Elas vibraram. (OB)

Luz, câmera, ação!

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sÃo JosÉ do seridó

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>>> em 9 de dezembro de 2006, às 20h

Há, na cidade, uma casa belíssima, cuja fa-chada imita o desenho de uma harpa e que abriga a sede da Filarmônica Honório Ma-

ciel, criada em 1929. O local escolhido pela Pre-feitura para receber o Selo UNICEF foi o salão do Centro Social de São José do Seridó, uma espécie de casa paroquial. Na entrada, uma pintura mural com motivos cristãos, diz bem da religiosidade no recinto. Chegamos e, no salão, havia uma mesa grande com flores, alguns meninos e alguns adul-tos. Carlos Guedes, em seu sax soprano, tocava Roberto Carlos e, depois, “Amigos para Sempre”, para uma pequena platéia de crianças muito sos-segadas. A música era bela, o ambiente era zen. Pouca gente. Tudo se preparava como para uma boa conversa, ou uma reunião íntima.

Formou-se a mesa das autoridades e, entre elas, estava o padre, representante da pastoral. Começou a sessão com o articulador, Jacó Libâ-nio, falando sobre números da realidade social de São José, como a taxa de analfabetismo, uma das menores do Brasil. Enquanto ele falava, chegaram os vereadores, todos de paletó. Vinham de uma outra solenidade. Observamos que havia muitos pais e mães, com crianças, sentados nas cadeiras. Uma das mães era a esposa de Carlos, o saxofo-nista. Enquanto o marido tocava, ela tomava conta do filho. Mas, quando Carlos se desocupava, ela dava o filho de colo, ao marido.

O local da solenidade não estava lotado, mas a platéia estava muito entusiasmada nas palmas, o que bem comprovava que a qualidade tem mais peso do que a quantidade. Uma menina saiu pas-sando o troféu de mão em mão. Foi explicado que o município ia passar por mais um teste, antes de receber o troféu. Os presentes, de início, ficaram surpresos, mas acabaram topando o desafio.

Então, veio uma saraivada de perguntas, que eles foram respondendo, uma a uma. Por que é tão importante ganhar este troféu? O que este reconhecimento pode trazer para vocês? Por que o troféu é desta forma, uma casa amarela e azul

etc.? O que significam as crianças na janela da casa? Por que as cores? O que significa o núme-ro? Porque as duas janelas? Foram dez pergun-tas, uma delas para o Prefeito: O que significa o número 227 no troféu?. Ele acertou em cheio. Falou que é o artigo da Constituição que assegura os direitos das crianças e adolescentes.

Passado o susto, uma menina entregou o tro-féu ao Prefeito e todos aplaudiram entusiasmados. Uma servidora ergueu o troféu e desfilou vaidosa, vestida com a camisa do Mapeamento Cultural. O coordenador do Mapeamento no município, Jo-aldo Dantas de Medeiros, confessou que estava esperando ganhar a certificação para publicar o livro do Mapeamento com a logomarca do Selo UNICEF. Seria a oportunidade para registrar todo o esforço de crianças e adolescentes que fizeram o levantamento das tradições e costumes.

O Prefeito falou sucintamente. Terminada a solenidade, a conversa correu solta. Acabamos sabendo que o saxofonista era neto de Felinto Lú-cio Dantas, famoso maestro compositor de Car-naúba dos Dantas, autor de músicas sacras. E que ele havia acabado de lançar mais um CD, contendo interpretações suas de músicas céle-bres. Tudo da melhor qualidade. (OB)

A cidadeque passou por mais um teste

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ipueira

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>>> em 10 de dezembro de 2006, às 10h

ipueira é a terra de José Tomás de Aquino, o Pirambu, descendente de escravos, filho de mãe pobre e pai ignorado. Na juventude, foi exímio co-

zinheiro e empregado de hotel. Como adulto, sua ocupação principal foi a de carregar água, no lom-bo de um jumento, para abastecer o motor que gerava energia para iluminar a cidade. Talvez, por isto, foi a única figura que mereceu homenagem, em vida, dos habitantes de Ipueira. Deram à rua em que ele morava, seu nome, José Tomás de Aquino. Ele agradeceu a homenagem, mas não fi-cou satisfeito, preferia ver nas placas o nome Rua Pirambu. Depois, o abandonaram. Morreu cego e desprezado pela família, aos 91 anos de idade. Mas foi o melhor contador de histórias para crian-ças que o município conheceu.

Lugar pequeno, de menos de dois mil habitan-tes. Devota de Frei Damião e Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, Ipueira foi território dos índios Pegas, da grande Nação Cariri, dali expulsos para a instalação de uma enorme fazenda de gado, que deu o nome da cidade. Hoje, ainda vive de pecuária e agricultura, mas também de arte e artesanato, com seus pintores e escultores, suas louceiras de barro e bordadeiras, sua afinadíssima orquestra filarmônica e seu carnaval repleto de papangus.

O dirigente municipal é uma mulher, Francisca

Paulina Araújo (mais conhecida por Concessa). Ipueira é um dos únicos municípios do Rio Grande do Norte, dirigido por uma prefeita, a ganhar o Selo UNICEF. Além disto, fomos recebidos pela canção “Imagine”, de John Lennon, executada pela Banda Municipal. A festa aconteceu no abrigo da cidade, lugar de conversas, ao lado do mercado. O ambien-te era de ordem e tranqüilidade. A apresentadora começou suas saudações pelas crianças e adoles-centes, que apresentaram um belo número sobre seus direitos. Algumas disseram o texto, enquanto outras gesticulavam mostrando a boca, os olhos e os ouvidos, como uma expressão da luta pelo direito de ver, ouvir e falar. As crianças falaram sem microfone e foram ouvidas perfeitamente. O texto era longo, mas muito bom. Defendia o direito

à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Juntas, as crianças cantaram uma canção de Gon-zaguinha que diz: “Prefiro a resposta das crianças: (a vida) é bonita, é bonita e é bonita.” E mais: “A vida, sempre desejada, por mais que seja errada”.

Na composição da mesa, um pastor evangélico representava a comunidade cristã. Ouviu-se o Hino Nacional numa gravação, mas o Hino do Municí-pio foi cantado ao vivo, pelas crianças. Uma das moradoras que cantava entusiasmada o Hino Na-cional e o do Município era Rosana Leão de Souza Monteiro, que tinha cerca de 30 anos e trazia o filho nos braços. Disse que nas escolas, todas as quintas-feiras, as crianças cantam os hinos e sa-bem de cor. Patrício Fuentes, em sua fala, disse que só pela cúpula da igreja (muito azul), vista de longe, já havia gostado da cidade. Em uma faixa, a Prefeitura reconhecia o papel da comunidade na premiação. A banda tocou o dobrado “Eterno He-rói”. A linha de frente da banda é toda formada por mulheres. Elas se levantaram e foram aplaudidas pelo público.

Como sempre, o “Tema da Vitória” foi repro-duzido na hora em que o troféu circulou pelo re-cinto. Crianças passaram a “Casinha do UNICEF”, como ele é chamado, de mão em mão. Todos gritaram e aplaudiram. Por fim, o troféu chegou às mãos da Prefeita Mirim, que se desfez em lágrimas. Mulheres se abraçaram. Comoção ge-ral. Rui Aguiar disse que, dali para adiante, o mu-nicípio iria poder usar a marca do Selo UNICEF, “com toda vaidade”. Ele enfatizou a participação das mães, que deram de mamar, e dos pais, que levaram os filhos para vacinar.

Concessa, a Prefeita, depois de receber o cer-tificado, falou enfatizando “minha” filarmônica, re-ferindo-se à banda de música. Ao final, foi distribu-ída salada de frutas para as crianças, enquanto elas disputavam espaço para ver quem colocava primeiro o nome no livro de presença da soleni-dade. (OB)

Hinodo município faz a festa

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timbaúba dos batistas

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>>> em 10 de dezembro de 2006, às 15h

Havíamos visto o prefeito, bem jovem, no dia anterior, em uma praça de Currais Novos. Chegamos depois do almoço, lá pelas três da

tarde, debaixo de um solzão. Próximo à entrada da cidade, perto de onde existe um monumento em homenagem ao jumento, Patrício Fuentes, encan-tado com a paisagem agreste do Semi-Árido, teve a idéia de fazer uma parada, para tirar fotos da equipe na caatinga. Estávamos lá, posando para a câmera de Felipe Abud, entre cactus, mandacarus, juremas secas, pedras e cercas de arame farpa-do, quando chegou o Prefeito. Foi nos encontrar no mato, ele e um outro senhor, seu auxiliar. Falou-nos de um sítio próximo, com inscrições rupestres e lá fomos nós para conhecer.

No caminho, um fato engraçado. Emanuelle Lobo, consultora de design do Selo UNICEF, loura, de salto alto, saiu pelas veredas de terra, entre pedras e garranchos. O tal senhor, assessor do Prefeito, olhou para trás e viu que Emanuelle havia estancado numa subida de areia. Muito admira-do, voltou-se e disse: “A galega atolou”. Pra que? Depois, ela desatolou e prosseguiu caminho até o local dos desenhos feitos nas rochas, por nós devi-damente documentados. A história da “galega ato-lada” pegou e, até o fim da viagem, todos ficaram brincando com ela.

Na Casa de Cultura da cidade, nos receberam uma banda de frevo e dois bonecões. Um deles ves-tido de Papai Noel. Com outro Papai Noel à frente, o cortejo formou-se à sombra da fachada da Casa de Cultura. Crianças de chinela de borracha, jovens dançando frevo, clima de carnaval. Crianças canta-ram o Samba lê lê. Povo bonito.

No Centro de Cultura, visitamos o museu em homenagem a Elino Julião, autor de “Eu não que-ro pagamento, Nascimento. Eu quero é outro rabo pro jumento”. Daí, talvez, a estátua em homenagem ao jumento, na entrada da cidade. Elino, falecido re-centemente, foi sanfoneiro, cantor e compositor. É um dos orgulhos da cidade.

A passeata saiu pela cidade até a Quadra da Cidadania, onde teria lugar a festa. A decoração e o cenário pareciam de festa de aniversário de criança, com bonecos, teatrinho, balões, flores de plástico, toalha de mesa colorida, e mesa de bolos, com copos cheios de doce, embrulhados em papel celofane. Na mesa das autoridades havia um pastor evangélico homenageando os religiosos, e um representante das crianças. Vestido de Papai Noel, o apresentador chamou um coral de anjos, que entoou canções de roda. Crianças da Assembléia de Deus interpretaram uma canção sobre seus direitos. A articuladora do Selo UNICEF disse para Patrício: “Não adianta uma cidade bonita com um povo feio”. Morgana Dantas pôs a cabeça pela janela do palco do te-atro de bonecos e entregou o troféu ao menino Emerson. Ele foi passando adiante, ao som do “Tema da Vitória”. Pelas mãos de uma menina, Neise Santos Ferreira, que usava muletas, o tro-féu chegou às mãos do Prefeito. Cercado pela meninada, ele exibiu o troféu.

Depois, a orquestra tocou o hino do padroeiro da cidade, São Severino Mártir. Este hino, contou-nos uma senhora, foi uma das últimas composi-ções de Elino Julião. Ele passou toda uma noite em claro, compondo o que era para ele uma dívida antiga. Pela manhã, muito cedo, apresentou o re-sultado para as crianças. Disse que aquela canção era uma coisa que faltava em sua vida, um hino para o padroeiro da sua cidade.

Em sua fala, o Prefeito tentou chamar a aten-ção das crianças, que brincavam correndo no gi-násio. Disse que o melhor de Timbaúba eram os timbaubenses. De fato, todos são bonitos: as crian-ças, os idosos, os jovens, os adultos! Uma menina pediu a Felipe Abud que tirasse seu retrato com as amiguinhas, sempre com as amiguinhas. Nem bem terminou a solenidade, os meninos já esta-vam na fila dos doces. O Prefeito falou para seus secretários e prometeu contemplar seus pleitos. Quando terminou sua fala, a banda de música pu-xou os Parabéns. (OB)

Eu queroé outro rabo pro jumento

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ipanguaçu

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>>> em 10 de dezembro de 2006, às 20h

Como sempre o carro da Caravana do Selo UNICEF chegou buzinando. O Prefeito nos re-cebeu na porta. No final da avenida, o palan-

que estava armado e as crianças formavam gru-pos, distribuídos ao longo do percurso. Cada grupo representava uma manifestação cultural e formava uma roda. Havia rodas de contação de história, de capoeira e maculelê, de brincadeiras de roda, de pastoril, de futebol, de quadrilha, de teatro, de coral infantil e assim por diante. Cada roda era como um bloco, preparando-se para entrar na avenida.

Enquanto isto, no palco, se sucediam apre-sentações. Artur e Jéssica, representando as crianças, comandaram a programação. A Escola Municipal Francisco Targino Nobre dramatizou a canção “Choque Ecológico”. Em seguida, a Comu-nidade de Língua de Vaca apresentou um auto de Natal. Depois, um grupo de crianças dançou uma música feita para o UNICEF sobre seus direitos, composta e cantada por Sumira Silveira Fonseca. Na seqüência, um boneco cantou um rap.

Embaixo, o Prefeito saiu apresentando à cara-vana do UNICEF cada uma das rodas de crianças. Primeiro a roda da infância missionária, cantando hinos sacros. Depois, o Grupo de Teatro Amador de Ipanguaçu, que apresentou trechos da peça “O Pagador de Promessas”. Em seguida, o grupo de tambores. Notava-se a preocupação em mostrar tudo o que as crianças fazem em matéria de arte, no município. Meninos em roda, em torno de uma palmeira, declamavam poemas. No palanque, o apresentador tentava apressar o início da solenida-de, mas o Prefeito insistia em ouvir os poemas ditos por cada menino e menina. No início, declamaram principalmente autores locais. Depois, uma menina disse a “Canção do Exílio”, de Gonçalves Dias.

Aparecia sempre alguém a mais para decla-mar. O Prefeito pediu que falassem mais alto, por causa do barulho. O recital retardava o início da solenidade, mas os poemas eram muito bons, as-sim como a performance das crianças. O Prefeito ouvia com paciência e incentivava que novos me-ninos apresentassem seus trabalhos. As demais

autoridades esperaram até que todos declamas-sem. Nervosa, uma menina esqueceu no meio da fala um poema sobre a mãe. Pediu licença, tomou o papel e começou a ler. Muitos riram e um gaia-to arriscou: “Mostre que sabe ler”.

A Coordenadora de Cultura convidou as autori-dades a visitarem a roda de leitura. Finalmente, se dirigiram ao palco-palanque. A festa estava sendo coberta pela Rádio Princesa do Norte e pelo jornal local. O locutor, enfim, tomou a palavra. Gritou, pe-dindo aplausos para a comissão que havia chegado. Perguntou: “Cadê os fogos?” E eles estouraram. En-trou uma animadora, que leu um pequeno histórico do município e os números do seu desenvolvimento.

No palco, as autoridades ficaram de lado e as crianças ocuparam o centro. Em uma pequena encenação, adolescentes mostraram a importân-cia do Selo. Em seguida, dublaram uma canção criada por uma professora. Uma menina ofere-ceu flores a Patrício Fuentes: “Vamos ofertar es-tas flores, pra seu coração perfumar”. Ele falou do que viu, apresentando seu reconhecimento ao trabalho de todos. O ritual de entrega do troféu foi conduzido com maestria. Jéssica, Williams e An-dré incorporaram os três bonecos do Selo UNI-CEF. A imagem do troféu foi projetada num telão.

O Prefeito fez um discurso inflamado. Adoles-centes, em traje de gala, cantaram “Noite Feliz”. De-pois, cantaram Parabéns e sopraram as velas de um grande bolo. No palanque e na platéia, todos se deram as mãos e cantaram juntos. Para terminar, um educador, Rômulo, cantou à capela “Sonhar mais um sonho impossível”, lindamente. (OB)

direitosUma canção pelos

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rodoLFo Fernandes

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>>> em 11 de dezembro de 2006, às 15h

o nome antigo, São José dos Gatos, deveu-se ao Serrote dos Gatos, ao pé do qual a cida-de está levantada, e ao padroeiro do muni-

cípio. E tantos gatos havia no tal serrote, que São José os adotou, ou melhor, foi por eles adotado. Nome tão bonito não poderia ser mudado! Mas nos informaram que Rodolfo Fernandes, sãojose-gatense da gema, foi um herói da luta em defesa de Mossoró, contra Lampião.

Estávamos no dia 11 de dezembro de 2006 e o UNICEF completava 60 anos. A meninada nos recepcionou na rodoviária e, de lá, saímos numa carreata até o ginásio de esportes da ci-dade. A orquestra nos recebeu com a “Flor do Mamulengo”, uma espécie de hino do Selo para o Semi-Árido. Logo na seqüência, o Grupo de Te-atro Arte em Cena, na figura de gatos, contou-nos a história do município. Meninas trajadas de gatos maracajás e meninos vestidos como guerreiros africanos narraram em linguagem de dança e ginástica acrobática. Depois, o grupo de flautas doce “Do re mi” tocou “Asa Branca”, “Paraíba” e canções de Natal. Mal terminava e já o grupo “Xô Araruna”, com roupa caracterís-tica, executou o folguedo do mesmo nome, uma espécie de contradança no estilo das quadrilhas. Os espetáculos seguiram com a dança dos ca-boclinhos e a apresentação dos papangus da Semana Santa.

A decoração do ginásio foi feita com bolas co-loridas e grandes telas pintadas, como pano de fundo para cenas teatrais. Houve distribuição de pipoca, picolé e algodão doce. Embora tudo acon-tecesse numa grande quadra de esportes, com o som reverberando em sua coberta, as crianças permaneceram surpreendentemente atentas e silenciosas. Só aqui e acolá, um bebê de colo abria o berreiro. Lá atrás, um grupo de meninos fazia barulho, papocando bolas de soprar. Depois, um menino perguntou por Didi Mocó: “Ele não é diretor do UNICEF?”.

Chegou, então, o momento do ritual da entre-ga do troféu. Dessa vez, em alusão à idade do UNICEF, foram chamadas pessoas com mais de 60 anos. Ao som do “Tema da Vitória”, elas desfi-laram com o troféu em torno da quadra. As crian-ças engrossaram o cortejo e, juntas, subiram ao palco. Um locutor chamou todo o secretariado do Prefeito para sentar numa grande mesa, armada na frente do palco. Atrás, os brincantes da Qua-drilha “Alegre do Sertão” se preparavam para en-cenar uma peça, feito um camarim de teatro.

Após o ritual da entrega do trófeu, do certifica-do e das instruções para o uso do Selo, teve início o Auto de São João Batista. A encenação é gran-diosa, ao estilo Paixão de Cristo, com os atores dublando uma trilha sonora gravada. O figurino é rico, a trilha musical belíssima e as pinturas do ce-nário da melhor qualidade. O espetáculo foi aber-to com uma canção que junta Lampião, Patativa do Assaré e Padre Cícero. Em seguida, o cenário mudou e, tendo ao fundo uma tela onde aparece o rio Jordão, um avô contava uma história à sua neta. São João apareceu como um loquaz orador, para surpresa e admiração da menina.

O cenário mudou para a festa em que a cabeça de São João é oferecida a Salomé. A apresentação das dançarinas do templo tomou conta do espetá-culo. Ninguém se lembrava mais de São João, até que sua cabeça apareceu oferecida numa bandeja. Tão bem feita era a tal cabeça, que uma menina gritou: “Arrancaram a cabeça do Manoel!”. Não precisa dizer que Manoel era o nome do adoles-cente que interpretava João Batista.

A peça termina com a menina pedindo a São João um milagre que cure seu avô. Ao modo dos grandes espetáculos, o elenco agradeceu os aplausos da platéia, dançando uma quadrilha. E como os aplausos foram insistentes, os atores, junto com a orquestra, puxaram o tal hino infor-mal do Selo UNICEF, a “Flor do Mamulengo”, que contagia toda a platéia. (OB)

A cidade dosgatos

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itaú

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>>> em 11 de dezembro de 2006, às 18h

a ntes da chegada do homem branco aos campos de Itaú, reinavam livres os índios Tapuios, Cariris e Paiacus. Até que Alexan-

dre Martins, com seus exércitos de mamelucos e caboclos, desalojou-os um a um daqueles domí-nios. Das últimas a ser preada foi a índia Florinda, pegada a casco de cavalo, como se dizia, para deleite do fazendeiro que, seduzido por sua bele-za, a fez esposa, levantando junto a Fazenda An-gicos, origem do povoado e depois cidade de Itaú. Daquele modo, foi preservada a cultura indígena, cujos traços, ainda hoje, permeiam os saberes e fazeres do povo itauense.

Que o digam os seus muitos pajés, curandei-ros e rezadeiras, que tudo sabem dos segredos das ervas e da magia. Dentre os vivos, o mais antigo é Pedro Lobo, cujos mais de 80 anos de idade foram dedicados a abrandar o sofrimento das pessoas. Em suas curas costuma usar uma faca peixeira, que coloca sobre a dor do padecen-te, encalçando-a com o polegar direito, enquanto reza. Usa também um galho para rezar, seja de ramo verde, manjerioba ou pião. Faz passar dor de dente, mau-olhado, ventre caído, reumatismo e ferimentos.

Entre as mulheres, a mais famosa é Joana do Boi, a rezadeira, que prefere rezar sempre com um ramo de pião ou quebra-pedra. Para engasgo, reza para São Braz. Para dor na coluna, para Nos-sa Senhora. Cobreiro, para Jesus Cristo. Arguei-ro, para Santa Luzia. E mais, para espinhela caída e mau-olhado, que provoca o quebrante, mal que pode aparecer com insônia, vômito, diarréia, dor de cabeça e moleza no corpo.

Chegamos e fazia um pôr-do-sol lindíssimo. Crianças brincavam no parque aquático do clu-be da cidade, enquanto no salão a festa acabava de ser preparada, com grandes laços de papel colorido, verde e vermelho. Praticamente todos, autoridades e crianças, couberam sentados. A apresentadora deu início ao que parecia uma aula-espetáculo. Dirigiu a solenidade, como fazen-

do uma demonstração. A Banda de Música, que fora emprestada para Rodolfo Fernandes e aca-bara de voltar, caprichou ainda mais em Itaú. To-cou o Hino do Município e depois “Flor do Mamu-lengo”, uma canção do Fidélis que tem sido como um hino do Selo UNICEF nos municípios.

A apresentadora retomou sua didática e in-troduziu o grupo de capoeira e maculelê, depois o grupo de coco zambê e o de samba de roda. Das apresentações, participaram mais de 60 crian-ças e adolescentes. Parecia festa de fim de ano em pátio de colégio. Jéssica e seu pai tocaram clarineta e violão. A apresentação culminou com “Aquarela do Brasil”. Em seguida, Patrício Fuen-tes falou das sensações que sentiu, vendo o sol se pôr ao som de canções tão tocantes. Fogos espocaram. O troféu chegou embrulhado em pa-pel de presente, para ser ofertado à garotada.

Foi feita uma sabatina sobre o significado do troféu e de cada uma de suas partes, com o audi-tório. Uma menina, de nome Isaérica, porém, ex-plicou quase tudo sobre o troféu e, ainda mais, o que pesquisou sobre o UNICEF. Então, foi lançada outra pergunta: O que tem dentro do troféu? Um menino respondeu: Um monte de meninos!

Sempre algum membro da Caravana do Selo UNICEF recebia a missão de entregar o certificado e o livro de instruções sobre a utilização do Selo. Daquela vez, Morgana Dantas leu o certificado do Selo antes de passá-lo à cidade, e Boris Diechtia-reff entregou as instruções. Ao final, o Prefeito fa-lou sucintamente. A Prefeitura aproveitou a oca-sião para entregar os prêmios do concurso de monografias sobre a história de Itaú. Ganharam duas monografias apontadas como muito boas e que se completam. As da professora Lídia Maria Neta, “Pelos Caminhos de Itaú – Uma História”, e a do estudante de geografia, Janilson Ferreira Freitas, “Itaú – Encantos da Pedra Preta”. (OB)

Os encantos da pedra preta

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doutor severiano

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>>> em 11 de dezembro de 2006, às 20h

n o Mapeamento Cultural, Dr. Severiano está registrado como sítio visitado por discos voadores e onde a terra tremeu nos anos

60. Município rico em manifestações artísticas, seja em quadrilhas juninas, vaquejadas, dramas, coroações de Maria, maneiro-pau, artistas plás-ticos como o pintor Cláudio Cândido de Oliveira e o menino Vinícius, bonequeiros como Antônio de Prácio, e mestres de reisado, como Toinho Cabo-clo, este também sanfoneiro. Aliás, sanfoneiro é o que não falta em Dr. Severiano, desde os antigos, como Estevão, Damião Caboclo, Zé Aquino, até o famoso Geraldo, do Grupo Pisada Nordestina, e seu filho, o Jackson do Acordeon. Mas Dr. Seve-riano é, ainda, a terra do comboieiro e rancheiro Martiniano, do contador de histórias Pedro Ara-puá ou Pedro Mentiroso, do Índio João, descobri-dor de águas, que só as localizava ao amanhecer, e de Zé Romão, um sujeito que não só viu, como brigou com lobisomem.

Tão importante, assim, mas sem vaidade, Dr. Severiano fez sua festa como uma acolhida e ho-menagem ao UNICEF. Festa grande, num grande ginásio, enfeitado com milhares de bolas colori-das. Logo na entrada da cidade estava alguém a postos, com foguetes sinalizadores, para anunciar nossa chegada. No ginásio municipal, nova salva de fogos, show pirotécnico caprichado. Parecia festa de abertura de olimpíada. A boneca Emília e capoeiristas davam cambalhotas e faziam acro-bacias, anunciando os prodígios que iríamos pre-senciar. Ofereceram flores à Caravana do Selo UNICEF. O ginásio estava cheio. Crianças, mães e idosos sentados no centro da quadra, adultos e adolescentes de pé, em volta. Quase todos com uma fitinha na cabeça, onde estava escrito: “Mu-nicípio Aprovado pelo UNICEF”. A apresentadora fez a nossa caravana se apresentar, um por um, e passou a palavra a Patrício Fuentes. Ele disse: “Se queriam me impressionar, me impressiona-ram. Basta ver o que eu vi, aqui, para entender porque vocês ganharam o Selo UNICEF. Que noite encantadora vocês construíram!”

Sobre a mesa das autoridades, um pequeno santuário transparente guardava a imagem de Santa Luzia. Em frente à mesa, um menino dese-nhou o retrato das autoridades. Na platéia, crian-ças e adolescentes acompanharam atentamente a solenidade, animada por uma banda de música, ou orquestra filarmônica, como chamam no Rio Grande do Norte. Rui Aguiar se entusiasmou: “É isso aí que a gente quer. Que beleza, que bonito!” Depois, chamou Arimatéia de Castro para entre-gar o certificado, que disse estar adorando a fes-ta. A boneca Emília abriu o cortejo do troféu, ao som do “Tema da Vitória”. Meninas do grupo de dança engrossaram o cortejo. Várias dançarinas choraram. Junto com a Primeira Dama, o Prefei-to, de paletó marrom e gravata vermelha, foi acla-mado. A filarmônica tocou “Parabéns para você” em ritmo lento e depois como frevo. “Parabéns para Dr. Severiano e para o UNICEF”, proclamou a apresentadora.

Foi destacado o trabalho das mães, pais, pre-feitura, agentes de saúde, professores, associa-ções comunitárias e de todo o município, enfim. Foi citada cada prova pela qual Dr. Severiano passou e todos os que participaram diretamente, dançarinos, mapeadores, músicos, produtores de rádio. À pergunta: “Valeu a pena passar um ano trabalhando para ganhar um troféu de madeira?” todos responderam que sim. Liduiana, a Primeira Dama, tomou a palavra: “Dr. Severiano sabe de nosso entusiasmo, do nosso esforço em garantir para as crianças a convivência familiar. A criança não é o futuro do Brasil, é o presente. Não temos direito de tirar um dia sequer da vida das crian-ças”. O Prefeito falou em seguida. Disse do seu povo sofrido, das crianças típicas do Semi-Árido. “É esse, Patrício, meu povo!” Depois, contou às crianças a história do UNICEF. Enquanto isso os meninos saiam pelo ginásio todo, estourando mi-lhares de bolas, num barulho ensurdecedor. (OB)

A criançaé o presente do Brasil

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riaCHo da Cruz

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>>> em 12 de dezembro de 2006, às 15h

segundo Zé Caboclo, morador do lugar, a ori-gem da denominação do município se deve a uma batalha travada entre índios e solda-

dos à beira de um riacho, então conhecido por Riacho da Forquilha. Como uma cruz foi coloca-da marcando o local da morte de um soldado na referida batalha, o sítio ficou sendo chamado de Riacho da Santa Cruz ou, simplesmente, Riacho da Cruz. Pois, naquele dito riacho, até ontem fre-qüentado por lobisomens, foi construído um açu-de, entre os anos de 1954 a 1958, em torno do qual se organizou a cidade de pouco menos de 2.700 habitantes, grande parte dos quais é de crianças. Açude grande, que mata a sede do povo inteiro do lugar e faz a alegria da criançada na época da sangria.

Justamente à beira desse açude, nas depen-dências do clube da cidade, a Prefeitura organi-zou a festa. Um pôr-de-sol belíssimo nos recebeu. Decorado como um arraial junino, o salão do clu-be estava repleto. Ali, o São João é o principal carnaval da cidade. Bandeirolas, balões, folhas de coqueiro, bonecas de pano e quadrilha. Entramos e o sanfoneiro nos saudou com “Asa Branca”. Bombons e salgados foram distribuídos para as crianças. Pelo salão do clube se espalharam os grupos de folguedos e esportes, com seus trajes característicos: o frevo, a contradança de ara-runa, os bichinhos de pelúcia, personagens de contos de fada, os papangus, aqui chamados Ca-boclos Potiguaras, Lampião e Maria Bonita com seus cangaceiros, Branca de Neve com a Ma-drasta, a Bruxa e os 7 Anões, o grupo de karatê e as muitas quadrilhas juninas.

Na falta dos CD’s com a trilha sonora prevista para a cerimônia, um grupo de karatê, represen-tando 150 alunos, fez uma demonstração. Entre os atletas, destacava-se uma menina. Finalmente, che-garam os CD’s que animariam as apresentações artísticas. Haviam sido enviados pela Fundação José Augusto, como uma forma de estimular a for-mação de grupos nos municípios, particularmente o dos Caboclos Potiguaras e o da Dança Araruna.

A mesa foi formada e todos cantaram o Hino Nacional e o Hino do Município. Ficamos admira-dos, porque as crianças acompanharam sem er-rar, cantando a letra do Hino Municipal, fato, ali-ás, recorrente em relação às cidades visitadas no Rio Grande do Norte. O Hino diz: “Riacho da Cruz, teu povo é forte!” Em seguida, o Coral de Flautas tocou “Cidade Maravilhosa” e emendou com can-ções natalinas. Um grupo de adolescentes, feito um jogral, contou a história de Riacho da Cruz, escrita em cordel. Os pontos fortes da cidade são o artesanato, a culinária e as festas juninas. Em seguida, as brincadeiras, jogos e folguedos infan-tis. Um a um se apresentaram, com seus perso-nagens: noivos, príncipes, princesas, reis, rainhas, piratas, guerreiros, bonecas etc. Depois do kara-tê, uma menina fez uma demonstração individual de capoeira e maculelê.

Abriu o desfile um cartaz em que se lia uma citação de George Marshall: “Os pequenos atos que se executam são melhores que todos aque-les que se planejam”. As mães do Grupo de Alei-tamento Materno, com seus barrigões de grávi-das, seguiram atentas a fala de Patrício Fuentes. Disse ele: “Só no México vi uma tão rica variedade de manifestações culturais como as encontradas aqui”. Trajadas em seus personagens, as crian-ças passavam o troféu de mão em mão e este acabou nas do Prefeito e da Primeira Dama. Eles são bem jovens e estavam emocionados.

Cercada por crianças, a Primeira Dama cho-rou. O Prefeito falou com simplicidade, mas de forma objetiva. Ele disse estar projetando a cons-trução de um mini-teatro, já que, como ficou de-monstrado, Riacho da Cruz é uma cidade da cul-tura. Depois de “selar” o nome do município no carro da Caravana do Selo UNICEF, o Prefeito foi parabenizado por todos. (OB)

Os caboclos potiguaras

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oLHo d`Água do borges

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Chegamos e um palanque estava sendo mon-tado no paço em frente à Câmara Municipal. No carro de som tocava um forró bem popu-

lar. O município é pequeno, embora tenha 77 anos de criado. Vive basicamente da pequena agricultu-ra e da pecuária e nove vereadores representam os quase 4.500 habitantes.

Na fachada da Câmara Municipal, uma faixa do Projeto Agente Jovem anunciava: “Aqui Tem Cida-dania”. Alguém nos informou que o palanque, ar-mado defronte à Câmara, serviria para um show com a banda Axé Tribal, após a solenidade do Selo. A cerimônia de entrega seria mesmo no salão da Câmara. No início eram poucas crianças na pla-téia. Contadas nos dedos, eram cinco na plenária; o resto era de adultos, numa sala entupida de gen-te. Formou-se a mesa das autoridades e o Hino Nacional foi entoado.

A apresentação artística ficou a cargo de um grupo de moças da igreja de Cristo El-Shaday. So-bre um pequeno espaço demarcado com as ban-deiras do Brasil, do Rio Grande do Norte e de Olho d’Água do Borges, as jovens executaram uma coreografia, enquanto dublavam um cântico evan-gélico. Ao final da apresentação, um senhor evan-gélico gritou empolgado: “Louvado seja o Senhor!”. Uma jovem do grupo repetiu a frase e disse que a apresentação não tinha intenções outras senão louvar ao Senhor, louvar o nome de Jesus.

Alexandra, a articuladora do Selo UNICEF no município, falou com clareza e verdade. Em seguida, foi a vez do mobilizador cultural Paulo Moreira, elegante em seu traje branco, que con-trastava com sua pele negra. Falou, ainda, Ana Regina, coordenadora do Mapeamento Cultural, feito por cinco jovens. Todos se referiram a um trabalho intenso.

A esta altura da solenidade, o número de ado-lescentes na sala da Câmara Municipal, era bem maior. Rui Aguiar aproveitou para pregar-lhes uma peça. “Vamos fazer algumas perguntas. É uma

prova final para ver se o troféu vai ficar aqui. Ele só fica se vocês responderem a todas”. O professor Escolástico observou tudo minuciosamente. Paulo Moreira bebeu água e preparou-se para enfrentar a prova. A pequena Rebeca, antecipando-se às perguntas, observou que o Troféu do Selo UNICEF tem as cores da bandeira do Rio Grande do Norte. Paulo Moreira respondeu que os três bonecos do Selo, um negro, um branco e um indígena, repre-sentam a igualdade na diversidade. Já o Prefeito disse que a casa representa o lar, a família a que toda criança tem direito.

A pergunta mais difícil foi deixada para o fim. “O que significa o número da casa?” As respostas fo-ram muitas e disparatadas, até que a articuladora do Selo no município respondeu que se refere a um artigo da Constituição Federal que assegura os direitos das crianças. “Direito absoluto à cultura e ao lazer”, completou Paulo Moreira. Em seguida, ele tomou a palavra e brincou, fazendo também uma pergunta: “Quem está segurando o troféu?” Rui Aguiar respondeu que era Keury. “Errou, é Kil-sa”, retrucou Paulo Moreira. Aproveitando uma distração de todos, as duas gêmeas, quase idên-ticas, haviam trocado os papéis. Keury passara o troféu para Kilsa, permitindo a Paulo Moreira pre-gar uma peça no Oficial do UNICEF. Todos riram e a solenidade continuou.

Morgana Dantas entregou a Paulo Moreira o certificado e Emanuelle Lobo passou às mãos de Alexandra o manual de uso da marca. Algumas adolescentes mostraram o troféu a cada uma das pessoas da platéia, que o tocaram. Kilsa, finalmen-te, ofereceu o troféu ao Prefeito. Atendendo a pe-didos, ele o beijou. Foi explicado que o troféu é feito de madeira e que vai ficando cada vez mais pesado, numa referência ao aumento do trabalho para realmente melhorar os indicadores sociais. O Prefeito agradeceu à sua equipe, dizendo que “O peso que aumentar, seja para 10 quilos ou mais, vai ser dividido entre a gente”. (OB)

Um troféucada vez mais pesado

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LuCrÉCia

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a povoação de Lucrécia teve origem nas cer-canias de um açude construído pelo DNOCS para combater as secas. Razão da existên-

cia da cidade, muito do imaginário popular gira em torno dele. Conta-se que, certa feita, uma moça solteira grávida, forçada a abortar, jogou o feto em suas águas. O feto sobreviveu, mas como era de um pagão teria se transformado num bicho. Ater-rorizado, o povo dizia que o bicho do açude só vol-taria a ser gente quando Frei Damião o batizasse e ele mamasse na mãe. Frei Damião morreu sem batizar o feto.

Não se sabe se por isto, quando começaram a aparecer muitos casos de câncer no lugar, a popu-lação desconfiou do açude. Um estudo foi feito e, com a ajuda da Universidade Católica de Brasília, foram instalados filtros de carvão, cisternas e po-ços. Com as sobras da ajuda foi levantado o prédio do Instituto Laura Vicuña, talvez o mais bonito da cidade. O instituto trabalha com cursos profissio-nalizantes e seu nome foi dado pela irmã Débora, então Reitora da Universidade doadora. Ela doou os recursos e enviou o nome, justificando que Lau-ra fora uma menina pobre, que morreu aos 13 anos e foi beatificada pela Igreja Católica.

Francisca Costa também virou santa, mas pelas mãos do povo. Como a outra, era uma moça pobre. Porém vivia em Lucrécia. Na infância, chegou a pedir esmolas. Na juventude, apaixonou-se por um rapaz e casou-se com ele. A sogra, fingindo que gostava dela, deu-lhe um perfume envenenado. Francisca, iludida, usou a droga. Atraídas pelo cheiro, muitas moscas avançaram contra ela, que logo desfaleceu. Acordou louca com o feitiço. Apedrejada na rua e vivendo de esmolas, passou a ser chamada de Francisca Sofredora. Seu túmulo foi o primeiro do cemitério de Lucrécia. Nele, as pessoas depositam ex-votos, como pagamento de graças obtidas.

A solenidade de entrega do troféu do Selo UNI-CEF foi no Instituto Laura Vicuña, num salão muito amplo, piso de cerâmica, paredes azul e bege. O ambiente era silencioso, pouco iluminado. Só aos

poucos, o salão foi tomando vida. Primeiro, do lado de fora, onde uma ótima banda de música tocou vários dobrados e o Hino Nacional.

O grupo de teatro, porém, era formado ex-clusivamente por adolescentes, que apresenta-ram, com exímia interpretação, “O Julgamento de Joaquina Barreto, a Barretinha”. Trata-se da história de uma prostituta, vítima da hipocrisia social. A peça era interessante, bem didática, com cunho religioso. Ao final, a juíza inocenta a prostituta, para satisfação do público. Durante a encenação, uma criança gritou na platéia: “Pa-pai, estou com fome! Todos riram, quebrando a seriedade do momento”.

O ritual de entrega do Selo começou e o encon-tro transformou-se em reunião de pais e mestres. Os adolescentes aumentaram na platéia. Patrício Fuentes, em sua fala, confessou que sentiu no Pre-feito um homem simples em quem se pode acre-ditar e elogiou o que viu no Estado: limpeza urbana e boas filarmônicas. Boris Diechtiareff passou o troféu à Neiva, a menina que fez a juíza na peça. As crianças e os adolescentes tomaram conta da sala e do troféu. Neiva antecipou-se à costumeira pergunta sobre o significado do troféu e respon-deu logo de cara. Só errou o número da casa, que se refere ao artigo da Constituição que assegura os direitos das crianças e adolescentes.

Nas faixas, Lucrécia passou adiante das outras cidades. Em vez de apenas “crescer”, estava dito: “Um município que me realiza”. O Prefeito, depois de dar boa noite a todos, segurou o troféu e cons-tatou que realmente era muito pesado, mesmo sendo pequeno e de madeira leve. Agradeceu à Professora Gerusa, articuladora do Selo, no mu-nicípio. Todos queriam tirar fotos com o troféu. A orquestra tomou conta da festa, tocou parabéns e instaurou um clima de carnaval. Na despedida, as meninas gritaram: “UNICEF!”, ao que a nossa equi-pe respondia: “Lucrécia, Lucrécia, Lucrécia!”. (OB)

duas santasA cidade das

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mossoró

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mossoró, que já foi a capital do algodão, hoje é a cidade dos grandes espetáculos de rua. Tomou gosto. Em setembro, realiza

um grande auto a céu aberto, contando episódios de sua história, num espetáculo que reúne mais de 2.000 protagonistas. Neste auto em louvor da liberdade, escrito pelo poeta cantador Crispiniano Neto, narra seu pioneirismo como a primeira cida-de, em todo o Estado, e a segunda no País, a abo-lir a escravidão, fato acontecido em 1883. Narra, ainda, o motim histórico de suas mulheres, em 1875, contra as autoridades que queriam enviar seus maridos para a guerra, e o feito da profes-sora Celina Guimarães Viana, em 1927, que exer-ceu, pela primeira vez no Brasil, o direito ao voto feminino. Já a vitória de Mossoró na luta contra o bando de Lampião, que também é contada como um episódio no Auto da Liberdade merece uma encenação particular, em outro grande espetácu-lo de rua, denominado “Chuva de Bala no País de Mossoró”. No mês de Junho, quando o espetáculo acontece, a cidade vira um grande teatro, com o adro da igreja de São Vicente transformando-se no palco principal. Tanto num auto, quanto no outro, participam ativamente crianças e adolescentes.

Mossoró também é terra da atriz Tony Silva, que diverte as crianças com seu teatro, da boneca Ma-ria Espaia Brasa, que reúne em torno de si um bloco carnavalesco, e, especialmente, de Manoel Andra-de de Lima, o Manoel Cachimbinho. Tipo popular da cidade, Cachimbinho, certo dia, em seu automóvel imaginário, emparelhou-se com um trem, disputan-do corrida, para chegar antes dele à ponte sobre o Rio Mossoró. Nas ruas, por onde passava, pedin-do esmolas, Cachimbinho imitava um automóvel. Era pobre, mas bom pagador. Bom filho, uma vez comprou uma máquina de costura para sua mãe e pagou todas as prestações com as esmolas que recebia. Certo dia, porém, voltando para casa, como de costume, imitando um carro em alta velocidade, encontrou sua mãe, D. Joaquina Vicência, sentada no meio da porta de sua casa. Cachimbinho bem que buzinou, mas não deu tempo de sua mãe se levantar e sair da frente. Resultado: foi atropelada.

Mossoró é uma cidade grande, movimentada, mas onde, por entre os carros, em suas largas avenidas, às vezes aparece uma carroça. A sole-nidade de entrega do Selo, porém, foi em um dos monumentos de sua modernidade, o Teatro Dix Huit Rosado, para mais de mil pessoas. Quando chega-mos, para dar início à segunda etapa da entrega do Selo UNICEF, passava um documentário sobre ações da Prefeitura pela infância e meio ambiente, enquanto as crianças se agitavam na platéia. Nem um coral infantil, cantando no alfabeto dos surdos-mudos, conseguiu prender-lhes a atenção. A citação e os discursos das autoridades, muito menos. Mas, quando o apresentador citava o nome de uma es-cola, logo elas gritavam e aplaudiam. A peça teatral sobre os cinco elementos cósmicos conseguiu um bom silêncio. Cada elemento contava vantagem. O mais importante era a água? Não! Era a terra? Não! O fogo? Não! O ar? Não! E brigavam. Qual seria, en-tão, o quinto elemento? O que uniria todos: o amor.

Entre as autoridades, dominaram as mulheres: a Prefeita, a Vice, a Juíza da Vara da Infância, a re-presentante da Governadora, a Secretária de Edu-cação e por aí vai. Na abertura da solenidade de entrega do Selo, Rui Aguiar falou das cinco provas pelas quais passou o município: uma vencida pelas mães, uma vencida pela Prefeita, uma vencida pe-las crianças, outra pelos adolescentes e a última vencida por todos, ou seja, a paciência com que lutaram pela conquista do Selo. Quando saímos do teatro, vimos que lá fora acontecia uma outra fes-ta, com dança de Araruna e brincadeira de Boi, as-sistida pelas crianças e adolescentes que haviam abandonado o interior do teatro. (OB)

A força das

mulheres

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angiCos

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n o Mapeamento Cultural, feito pelas crianças e adolescentes, consta uns versos escritos por José Horácio, compositor do lugar. Tra-

ta-se do Forró da Goela da Ema, e lá tem, entre outras coisas: “Ontem nós fomos num vadeio em Mestre Duca, bem pertinho de Biluca, lá na Goe-la da Ema. Foi muita gente desta vila de Angicos, foram pobres, foram ricos como se fosse um ci-nema. (...) Todos dançavam com a maior alegria, pois ali ninguém queria a menor alteração. Tinha biscoito, sequilho, pão e bolacha, groselha, milho e cachaça e grande admiração. Mais de repente, eu não sei por qual razão, surgiu uma discussão. Pu-xaram uma lambedeira, houve pancada com perna de tamborete, houve bofete, cacete, muita gente de carreira. (...) parece que o chão se abriu e as mulheres horrível choque sofreram, pelo mato se esconderam, mesmo em plena madrugada. Encon-trei uma por uma cerca impedida, dizendo, muito sentida, me solte que eu não fiz nada, enquanto as noivas, ninguém sabe o sucedido, só se estavam escondidas, em algum lugar bem feio e o Mestre Duca dizia, muito sentido, nem que eu me case cem vezes não invento mais vadeio.”

Foi em Angicos que Paulo Freire criou seu mé-todo de alfabetização de adultos. A festa foi à noite, na Escola Mimi Moura, antigo colégio de freiras, com pátios imensos e longos corredores. Mais precisamente, num grande auditório coberto por uma estrutura metálica. Era grande a quantidade de meninas, carregando nos braços suas bonecas preferidas. Enquanto esperava a festa, uma meni-na, muito compenetrada, dançava feito uma bailari-na clássica. Só não estava solitária em sua dança, porque a irmã menorzinha tentava imitar-lhe os passos, enquanto a mãe, se babando, admirava a graça das duas. O nome da menina era Ellen Caval-cante de Oliveira e a mãe contou que o sonho dela, menina, era ser bailarina, mas que, em Angicos, não havia ainda uma academia de dança clássica. Mesmo assim, o sonho continuava.

Encontramos Maria Eneide de Araújo Melo, uma senhora que, quando menina, assistiu às au-

las de Paulo Freire. Ela tinha, então, seis anos. O pai, agricultor, e a mãe, dona de casa, estudavam com ele. Quando um deles era obrigado a faltar à aula, Eneide ia no lugar e anotava tudo. A mãe virou costureira e o pai, padeiro e comerciante. Eneide também se alfabetizou e ganhou uma bol-sa escolar das mãos do próprio João Goulart, então Presidente da República, que esteve em Angicos no encerramento do curso. Trinta anos após, Paulo Freire e Ana, sua esposa, voltaram a Angicos e ajudaram Eneide a abrir o Educandário Paulo Freire, onde ainda hoje ela é professora.

Entre os números artísticos apresentados pe-las crianças e adolescentes, um musical dançado e duas peças de teatro. A música e a letra da pró-pria maestrina, Kátia Lígia, tratavam da vida das crianças com seus brinquedos e brincadeiras. Já a primeira peça chamava-se “A Saga de Uma Família Sertaneja”, e contava a história de Angi-cos, tendo como centro dramático o sonho de um casal de retirantes com uma filha. A segunda peça “Não Estão Mortas as Fadas”, também de autora local, narra um levante de personagens da literatura infantil contra o desencantamento do mundo. As duas peças representavam bem o imaginário popular e o elenco estava afinado.

O Prefeito, que havia ido fazer um parto antes da solenidade, destacou as ações do município. Em seguida, Evilázio Bezerra foi até lá fotografar o recém-nascido, deixando de presente para ele um dos bonecos do Selo UNICEF. (OB)

Paulo Freire e a alfabetização

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tenente Laurentino Cruz

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observando que o jumento, animal dos mais úteis no trabalho duro do sertão, estava sen-do desprezado e abandonado na beira das

estradas, Joarimar Tavares de Medeiros, verea-dor no município, idealizou uma corrida de jegues. Assim, em todo mês de julho, Tenente Laurentino reúne seus babaus, que é outro nome dado aos jumentos no Nordeste, e parte para a disputa. É menino, homem e mulher montando os seus Fofa-chão, Fura-porteira, Mulinga, Relógio atrasa-viagem e outros tantos apelidos que sejam, numa disputa acirrada. A corrida atrai gente dos mu-nicípios vizinhos e, de tão importante que foi se tornando, passou da estrada, onde se realizava, para o Estádio Governador Tarcisio Maia, com a presença de milhares de pessoas. Os animais, na ocasião, enfeitados com flores e berloques, são alvos de todo carinho da comunidade. Tudo isto porque se teme que o jumento, que dizem nosso irmão, seja extinto.

A história consta no Mapeamento Cultural que crianças e adolescentes fizeram no município. Lá, verifica-se também que o nome Abdon é muito usado na região. Conhecemos dois, um Abdon calungueiro e um outro Abdon cantador. O calun-gueiro era do Sítio Lanchinha e foi lembrado por Marileide de Paula, que mesmo depois de adulta nunca se esqueceu do travesso boneco Baltazar, com quem aprendeu que não se deve meter na vida alheia. O outro Abdon, o cantador, ainda está vivo e mora no Sítio Cinco Cantos. Para a adoles-cente que lhe entrevistou, Abdon improvisou es-ses versos: “Quem nunca viu Abdon cantar repen-te/nunca viu moça velha no namoro/Nunca viu vaqueiro lutar com touro/Nunca viu se enfrentar homem valente/Nunca viu se matar uma serpen-te/nunca viu se enfrentar um valentão/Nunca viu se laçar um barbatão/Nunca viu dois guerreiros guerreando/Nem nunca viu um corisco arreben-tando/As pedreiras da serra do sertão”.

Climazinho bom de serra com céu nublado, bonito pra chover. Cortejo a pé pela cidade, com baliza, comissão de frente, pernas-de-pau, grupo

de idosos e quadrilheiros. Toda a cidade nas cal-çadas, gente espiando da porta de casa, nas es-quinas, com agasalhos leves, mães com crianças de colo e amamentando, olhando pela brecha da janela. Até chegar ao ginásio poliesportivo onde se deu a festa. Entrada feito taba de índio e ex-posição mostrando as raízes potiguares do muni-cípio. Tinha de tudo, plantas medicinais, louça de barro, culturas agrícolas nativas, armas de caça e culinária regional. A atração maior foi um mapa do Rio Grande do Norte, dividido em regiões, cada uma desenhada com os grãos de um produto agrícola típico.

Na programação artística, destaque para as paródias, a quadrilha, a capoeira e o maculelê. O maculelê foi apresentado por Mestre Miau, como “a luta que nos livrou do cativeiro”. Quando entrou pela capoeira, ele cantou, acompanhado por seu berimbau: “... no lugar onde poucos têm muito/e muitos não têm o que comer.../... deixarei para meu filho/uma coisa de valor/esse berimbau ma-neiro/que ganhei do meu avô.” Lá pelas tantas, entrou um dos seus alunos, que o mestre apre-sentou: “Esse aqui vocês conhecem”. Um menino, com Síndrome de Down, “lutou” com o mestre, ganhando o aplauso de todos.

Depois da solenidade de entrega do Selo UNI-CEF, recebemos a notícia de que na cidade havia uma casa de vila semelhante à do troféu. Fomos até lá e nosso fotógrafo, Felipe Abud, registrou a casinha amarela, de número 227, com uma porta-janela central, uma menina e dois meninos aparecendo, como a do troféu. No caso, Tiago, Andreyna e Luís Fernando, filhos de Edmilson de Oliveira e Sandra. Pura sorte! Só que a janela, em vez de ser azul, como a do troféu, era um pouco acinzentada. Nada é perfeito! (OB)

A casa doSelo UNICEF

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aCari

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a cari tem suas origens por volta de 1720 e tornou-se vila 17 anos depois, com a cons-trução de uma capela de Nossa Senhora do

Rosário. Nasceu de uma fazenda de gado e tem na pecuária, até hoje, sua maior tradição. Entre as criações do ciclo cultural da pecuária o aboio é uma das maiores. Quem assegura isto é Zeca Velho, famoso aboiador, que mora no Sítio Beira do Rio. Em 2005, ao participar de uma cavalgada, a primeira de Acari, na Fazenda Carnaubinha, foi convidado para aboiar para mais de 100 vaquei-ros. Cantou, agradando a todos: “No tempo em que eu era novo/Meu aboio retinia/Em cima da-quela serra/E o sertão estremecia/Moça bela le-vantava/Me abraçava e sorria./Ê ê e e e ô ô ooo vida de gado!” Ele explica a idéia: “O aboio tranqüili-za o vaqueiro e a rês o acompanha de bom grado. O vaqueiro guia o gado através do aboio”.

As crianças e adolescentes de Acari fizeram um Mapeamento Cultural notável. Nele, se apren-de o que é mangaio (ou mangalho, como está no dicionário), ou melhor, feira de mangaio, porque lá tem seu José Jerônimo da Silva, um legítimo ven-dedor de mangaio. Ele vende de tudo: sela, canga-lha, tamborete, panela, pote, fumo, corda, produtos de couro e de palha, arreios...

Famosa como a cidade mais limpa do Brasil, outra grande preocupação do povo de Acari é a natureza. O Grupo Pegadas, liderado pelo profes-sor João Luís, vem fazendo o mapeamento do ecossistema local, particularmente da fauna e da flora da caatinga, que se encontram em perigo de extinção. Também, os artistas, a seu modo, tomam a natureza por tema. Marilene Meira Sil-va, a Marilene de Lolô, fez da Fazenda Trincheira, onde mora, um verdadeiro zoológico de animais esculpidos nas pedras. Sua obra é formada por animais, místicos, aquáticos, pré-históricos, figu-ras lendárias e tudo o mais que sua imaginação cria. Ela diz que “As crianças vêem os animais como se fossem reais. Dão asas à imaginação. Chegam até a conversar com eles”.

No Palácio do Esporte, o cenário estava armado para a festa, com cartazes que faziam jus à fama da cidade: “Quem não suja, não precisa limpar”, ou “Acari, fonte incessante de educação e limpeza”. Na programação artística, a filarmônica do mu-nicípio executou uma canção de Roberto Carlos: “Você meu amigo de fé, meu irmão camarada...” Porém, o momento maior foi a encenação de uma peça pelo Grupo de Teatro Acauã. Na encenação, crianças e adolescentes falam sobre seus direitos e cantam “Para não dizer que não falei de flores”, de Geraldo Vandré, e a canção do Gonzaguinha que diz: “Eu fico com a resposta das crianças/É a vida/Que é bonita e é bonita!”.

Durante a projeção de slides institucionais, num dos lados da quadra, estavam disciplinadamente sentados em cadeiras, os adolescentes e as ado-lescentes da Polícia Mirim do município. Dali, só sa-íram durante as manobras que executaram para cantar, perfilados e em posição de sentido, o Hino Nacional. Um menino foi até o Prefeito e gritou: “Estamos prontos para cantar o Hino, senhor!”. Em seguida, comandados pelo corneteiro, se po-sicionam depois de manobras precisas e, para o orgulho de suas mães, cantaram o Hino Nacional.

Na manhã seguinte, visitamos o açude Garga-lheiras e o Museu Histórico de Acari, onde nos surpreendeu um ferro de engomar queijo, para que ele, criando uma capa protetora, se conserve melhor. Destaque, também, foi uma oração para afugentar cobra: “São Bento, pão quente/Sacra-mento do altar/Toda cobra do caminho/Arreda que eu vou passar”. (OB)

A cidade mais limpa do

Brasil

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breJinHo

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na seca de 1928, João Garrido, roceiro num lugar chamado de Papuçu, foi a Juazeiro do Norte e estando com o Padre Cícero falou-

lhe da falta d`água em sua localidade, que estava prejudicando o gado e as gentes. Compadecido, Pe. Cícero disse-lhe que voltasse e cavasse no baixio em frente à sua casa, que daria água com abun-dância. Ele voltou e foi logo o que fez, retornando a Brejinho. Um ano depois, voltou a Juazeiro do Norte e, ao se encontrar com ele, Pe. Cícero logo per-guntou se a água era boa. João Garrido respondeu que havia encontrado água sim, mas que a mesma não era tão boa. Pe. Cícero então aconselhou que fizesse uma fogueira de São João, pegasse as cin-zas e jogasse na cacimba, pois a água ficaria boa e jamais faltaria. Foi o que fez, tão logo chegou a Papuçu. A partir dalí jamais faltou água, e da boa, para os moradores daquele lugar. Mesmo assim, a água não era encanada. Então, naquele tempo anti-go, Albertina Paulino da Silva, mais conhecida como Dona Eulália, acordava cedo, ia até a bica com um jumentinho e dois tonéis, enchia-os de água e saía distribuindo pelas casas, ainda ao raiar do sol. Jun-to com o líquido, aquela senhora pobre e modesta, cuja casa não possuía luz elétrica, distribuía sorri-sos e alegria com sua jovialidade.

Na entrada da cidade, Daniel Cortez, nosso ci-negrafista, fez a caravana parar para filmar crian-ças jogando futebol, com o carro da Caravana do Selo UNICEF ao fundo. Tinha uma vacaria nas pro-ximidades e, na última hora, entraram novos per-sonagens na cena: um touro raivoso e uma alegre cadela. Chamaram-nos porque a carreata estava se iniciando. Na frente, motos; no meio, automó-veis, e, atrás, os ônibus. Nas calçadas, mulheres debulhando feijão e homens soltando fogos. Na pracinha, o palanque estava armado, como para um comício. No palanque, o apresentador, vestido de paletó. Embaixo, a banda de música tocou o Hino Nacional e depois, um grupo de adolescen-tes, cheio de garra e vestido de cangaceiro, dan-çou o xaxado no asfalto, ao som de “Asa Branca”. Em seguida, a Banda de Música Infanto-Juvenil do município executou “O Bêbado e a Equilibrista”.

No palanque, a Primeira Dama apresentou-se grávida de Ana Júlia. Na platéia, uma fila de mulhe-res com crianças de colo sentadas em cadeiras es-pecialmente colocadas para elas. Ao lado, também sentada em cadeiras, havia uma fila de grandes bonecos de pano, representando as personagens da vida da criança: pais, avós, irmãos, professoras, tios e tias etc. Perto, uma porção de crianças bem pequenas vestidas de índio. O cenário era perfeito para a apresentação da peça sobre aleitamento materno, que veio em seguida. Os agentes de saú-de dançaram uma canção mostrando a importân-cia do leite materno, que é o melhor alimento para a criança de até seis meses. Depois, entraram um enfermeiro e um médico, ambos ensinando como deve ser feito o aleitamento e a sua importância.

Durante a solenidade de entrega do Selo, o Prefeito se comprometeu em colocar uma cópia do certificado em cada escola e posto de saúde. Como a TV Diário estava fazendo a cobertura da festa, depois da entrega do troféu o apresentador, eufórico, anunciou: “A TV Diário chega a toda a América do Sul e, nesse momento, até no Para-guai se sabe que Brejinho ganhou o Selo!”. O Pre-feito, em seu discurso, afirmou que, daquele dia em diante, quando fosse a Brasília levar os pleitos de Brejinho, colaria o Selo nos ofícios e até na testa. Ao final da solenidade, todas as mães com bebês em amamentação, presentes, foram homenagea-das com uma medalha de honra ao mérito. (OB)

amamentam Homenagem às mães que

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CearÁ mirim

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>>> em 19 de abril de 2007, às 20h

Ceará Mirim é uma cidade particularmente bo-nita, situada na Zona da Mata do Rio Grande do Norte. Tem um patrimônio edificado antigo

e bem conservado, com seus solares de senhores de engenho onde se faziam saraus. Entre eles, o solar dos Antunes, sede da Prefeitura Municipal, e o solar dos Soares, com seus abacaxis de louça vindos de Porto, onde se recolhia a aristocracia rural. Tão numerosos, embora menos suntuosos, aparecem os casarões dos antigos coronéis da Guarda Nacional. Cabe ainda destacar seus enge-nhos, com maquinário a vapor trazido da Inglaterra e a jóia maior, a matriz de Nossa Senhora da Con-ceição, levantada em 1858, pelos negros escra-vos. Se estes não tinham suntuosas edificações, faziam festas e folguedos maravilhosos, como os Caboclinhos do Mestre Deo, a Festa de Cosme e Damião, protetores das crianças, comandada pela mãe de santo Dona Zezita da Silva Oliveira, e os Congos de Guerra, do distrito de Tabuão, fundado em 1934, na Fazenda Guanabara.

A presença negra na cidade é notável, basta que se dê um passeio, preferencialmente no sába-do, por sua feira livre. Mas se o negro hoje é exibi-do como um exemplo de riqueza étnica e cultural da cidade, no passado não era assim. No Mapea-mento Cultural feito pelas crianças e adolescen-tes de Ceará Mirim, está registrada uma história triste, acontecida no Engenho Timbó, onde havia uma senhora soberba em espírito e egoísta. Ela só usava os talheres uma vez, pois tinha nojo das mãos dos escravos. Entregava suas esmolas pela janela para que mendigos não chegassem perto de sua porta, entre outras maldades. Um dia, só por-que umas mulheres passaram e acharam bonitas suas redes que estavam secando, ela mandou os escravos queimarem todas as redes. Algum tem-po depois de sua morte, encontraram seu túmulo rachado. Diz-se que ela virou uma serpente e que, se saísse de seu túmulo, a cidade seria destruída por seu veneno.

A recepção à Caravana do Selo UNICEF em Ceará Mirim foi em grande estilo. Batedores da

Guarda Municipal a partir da entrada da cidade, largas avenidas, parada na Prefeitura para visita ao Gabinete da Prefeita, prédio belíssimo e antigo. Embaixo, descendentes de escravos, cantando “Eh Paraná!”, numa roda de capoeira.

A festa foi no ginásio esportivo da cidade, com sua quadra rodeada de barracas, mostrando as diversas áreas de atividades que diziam respeito às crianças e adolescentes. Abriu as festividades um cortejo de escolas, que desfilaram ao som do Hino do Soldado, executado pela Banda de Músi-ca Municipal. Pernas-de-pau, bonecões e palhaços abriam o desfile. Cada torcida puxava por sua es-cola. Elas vinham garbosas, com suas bandeiras e brasões. Daniel Cortez meteu-se, com sua câmara, embaixo de uma bandeira gigante. As professoras elegantemente vestidas vinham na frente, atrás os professores. No meio, as crianças. Havia uma ala de índios janduís, uma de crianças negras e outra com representação dos barões da cana-de-açúcar. As escolas que desfilaram foram as que melhor se saíram nos requisitos do Selo UNICEF.

As crianças se divertiam nas arquibancadas, enquanto na mesa das autoridades acontecia a entrega do troféu. Apressadas, algumas das crianças começaram a estourar os balões colo-ridos da decoração. Um guarda municipal, mui-to polidamente, evitou a confusão. No centro da quadra, o troféu foi levantado, seguidamente, por negros, índios e brancos. Fim de festa. Começou o estouro dos balões e carnaval, dançado por me-ninos e meninas em trajes indígenas. (OB)

Cidade detrês etnias

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