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MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS...
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Professor Kássio
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
(1881)
MACHADO DE ASSIS
Filho de uma lavadeira de origem portuguesa e de um mulato, nasceu em 1839 no Morro do
Livramento. De origem pobre, viu na intelectualidade a possibilidade
de ascensão.
Sua obra inicia sob influências do Romantismo, mas inova em 1881.
“Um mestre na periferia...”
• Segundo Roberto Schwarz, Machado é “um mestre na periferia do Capitalismo”. Mas por
quê?
• “Vamos à história dos subúrbios...”
• “O que se deve exigir do escritor, antes de tudo, é certo sentimento íntimo, que o torne homem do seu tempo e do seu país, ainda
quando trate de assuntos remotos no tempo e no espaço...”
VAMOS À OBRA
AO VERME...
"AO VERME QUE PRIMEIRO ROEU AS FRIAS CARNES DO MEU CADÁVER
DEDICO COMO SAUDOSA LEMBRANÇA ESTAS MEMÓRIAS
PÓSTUMAS."
A ESTRUTURA DA NARRATIVA
• Machado, em Memórias Póstumas, rompe com a linearidade das narrativas brasileiras. Inova sob inspiração de autores como Xavier de Maistre, Laurence Sterne (ambos citados por Brás Cubas) e pelo português Almeida Garrett, começando a utilizar uma forma livre.
• O próprio narrador adota a liberdade reflexiva, não se preocupa em ser linear, esnobando o leitor.
• Literatura fantástica – os delírios.
“ Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direta e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...
E caem! — Folhas misérrimas do meu cipreste, heis de cair, como quaisquer outras belas e vistosas; e, se eu tivesse olhos, dar-vos-ia uma lágrima de saudade. Esta é a grande vantagem da morte, que, se não deixa boca para rir, também não deixa olhos para chorar... Heis de cair (...) “
TEMPO
• Apesar da narrativa ser publicada em 1881, sendo uma obra que trata de uma vida póstuma, retratará a primeira metade do século XIX.
• O autor relata a vida mesquinha da elite carioca da primeira metade do século XIX. Luxo, inspiração na vida europeia, julgamento pelas aparências, necessidade de status, questões morais.
• Pensando em tempo dentro da própria narrativa: divide-e em um tempo psicológico, sendo as lembranças contas à revelia, e o autor no túmulo.
ESPAÇO
• Rio de Janeiro, século XIX.
• Apesar de se passar no Rio, grande parte da obra, trata de elementos de todo o mundo, mas ligado aos caprichos da elite carioca do século XIX. Egoísta e preocupada, somente, com ascensão.
• Sociedade escravista e em ascensão capitalista.
• ELITE MESQUINHA X ESCRAVOS QUE SUSTENTAM A NAÇÃO
NARRADOR (PROTAGONISTA)
• Um “defunto-autor” (não um autor defunto) oriundo da elite que narra sua “autobiografia”.
• Por ser contado por alguém que não está mais presente no mundo terrestre, pode contar, livre de qualquer julgamento, sua história.
• Há uma lucidez ao descrever o estilo de sua obra e um descaso com o leitor. Um narrador extremamente cínico.
Introdução
OUTRAS PERSONAGENS
• Marcela, primeira paixão: “amiga de rapazes e de dinheiro”.
• Eugênia: segundo amor de Brás. Ela era coxa. Filha de D. Eusébia.
• Nhá Loló: foi pretendente a noiva de Brás, mas morreu de febre amarela.
• Virgília: o grande amor de Brás, filha do Conselheiro Dutra que veio a se casar com Lobo Neves, que era político e “estável”. Mesmo com o casamento, mantiveram-se amantes.
• Lobo Neves: político e marido de Virgília
• Dona Plácida: pobre, velha e beata. Encoberta os dois amantes.
• Quincas Borba: amigo de infância de Brás e filósofo humanista
• Prudêncio: escravinho que servia de brinquedo para Brás, em sua infância. No fim, aparece livre, batendo em um escravo que havia comprado.
O EMPLASTO
• Tendo uma vida toda fracassada, de NÃO-REALIZAÇÕES, Brás busca a saída tentando
criar a cura para todos os males dos homens, da humanidade, entre a morte de Quincas e a sua: o “Emplasto Brás Cubas”. Era a maneira de se glorificar e sair da vida
de negativas.
CAPÍTULO CLX
Este último capítulo é todo de negativas. Não alcancei a celebridade do emplasto, não fui ministro, não fui califa, não conheci o casamento. Verdade é que, ao lado dessas faltas, coube-me a boa fortuna de não comprar o pão com
o suor do meu rosto. Mais; não padeci a morte de D. Plácida, nem a semidemência do Quincas Borba. Somadas umas coisas e outras, qualquer pessoa imaginará que não
houve míngua nem sobra, e conseguintemente que saí quite com a vida. E imaginará mal; porque ao chegar a este outro lado do mistério, achei-me com um pequeno
saldo, que é a derradeira negativa deste capítulo de negativas: — Não tive filhos, não transmiti a nenhuma
criatura o legado da nossa miséria.
Niilismo e pessimismo
• Observamos forte influência da literatura filosófica, de Nietzsche e Schopenhauer, nesta obra.
• O niilismo traz a ideia de dissolução dos valores, chegando ao nada. O negativo, ao mesmo tempo, pode trazer traços positivos, como a ideia de não ter tido filhos.
• O pessimismo se faz presente em toda obra e na vida das camadas abastadas, como já vimos, por exemplo, em “A cidade e as serras”.