Memorial do Convento narrador, espaço e tempo
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Memorial do Memorial do ConventoConvento,,
dede José Saramago José Saramago (1982)(1982)
NarradorEspaço Tempo
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Narrador Narrador (quanto à participação)(quanto à participação)Geralmente, é HETERODIEGÉTICO (na 3.ª pessoa e não participa na ação p. 11)
Por vezes, assume o ponto de vista de algumas personagens (usando a 1.ª pessoa do singular e até do plural) sendo assim HOMODIEGÉTICO (quando assume o pensamento de algumas personagens, como o Patriarca ou o rei na procissão do Corpo de Deus (XIII, 162), ou o guai turístico (XIX, p, 254).
Há situações em que aparece como AUTODIEGÉTICO, quando é protagonista da sua própria narrativa, como acontece nos sete relatos pessoais dos trabalhadores no episódio da “epopeia da pedra”(cap. XVIII).
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HETERODIEGÉTICO “D. João, quinto na tabela real, irá
esta noite ao quarto de sua mulher, (…)” (p. 11)
HOMODIEGÉTICO“(…) e esta sou eu, Sebastiana Maria
de Jesus, um quarto de cristã-nova, que tenho visões e revelações (…)” (p. 53)
AUTODIEGÉTICO“O meu nome é João Anes, vim do
Porto, e sou tanoeiro (…)” (p. 241)
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NARRADOR NARRADOR ((quanto à quanto à focalização)focalização)Geralmente, o narrador assume uma focalização omnisciente
Revela assim uma perspetiva transcendente em relação às personagens e move-se à vontade no tempo, saltando facilmente entre passado, presente e futuro.
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Focalização omniscienteFocalização omnisciente◦ "Mas também não faltam lazeres, por isso, quando a
comichão aperta, Baltasar pousa a cabeça no regaço de Blimunda e ela cata-lhe os bichos, que não é de espantar terem-nos os apaixonados e os construtores de aeronaves, se tal palavra já se diz nestas épocas, como se vai dizendo armistício em vez de pazes. " [pág. 91]
◦ "Mas em Lisboa dirá o guarda-livros a el-rei, Saiba vossa majestade que na inauguração do convento de Mafra se gastaram, números redondos, duzentos mil cruzados, e el-rei respondeu, Põe na conta, disse-o porque ainda estamos no princípio da obra, um dia virá em que quereremos saber, Afinal, quanto terá custado aquilo, e ninguém dará satisfação dos dinheiros gastos, nem facturas, nem recibos, nem boletins de registo de importação, sem falar de mortes e sacrifícios, que esses são baratos. " [pág. 138]
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Focalização internaFocalização interna
Por vezes, o narrador assume a perspetiva das personagens que vivem a ação, conferindo mais vivacidade à narrativa.É o que se passa quando Sebastiana de Jesus, a mãe de Blimunda, descreve o desfile dos condenados num auto de fé (V, pp. 52-52)
Ou quando o rei pensa na forma como aplicar as suas riquezas: “Medita D. João V no que fará a tão grandes somas de dinheiro, a tão extrema riqueza (…) (XVIII, p. 234)
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Focalização Focalização internainterna
“ (…) e esta sou eu, Sebastiana Maria de Jesus, um quarto de cristã-nova, que tenho visões e revelações, mas disseram-me no tribunal que era fingimento, que ouço vozes do céu, mas explicaram-me que era demoníaco, que sei que posso ser santa como os santos o são, (…), aqui vou (…) condenada a ser açoitada em público e a oito anos de degredo no reino de Angola (...)”
[págs. 52-53]
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O narrador em Memorial do Convento (ex. 9.1., pág. 303)
Narrador polivalenteCumpre diversas funções
Narrador heterodiegético:
“El-rei foi a Mafra escolher o sítio onde há de ser
levantado o convento.” (l. 7)
Narrador homodiegético:
“[…] porém sosseguemos, a pobre não emprestes, a
rico não devas, a frade não prometas, e D. João V é rei
de palavra. Haveremos convento.” (ll. 5-6)
Narrador reflexivo e descritivo:
“[…] um homem pode ser grande voador, mas é-lhe muito conveniente que saia bacharel, licenciado e doutor, e então, ainda que não voe, o consideram.” (ll. 13-15)
“[…] estava a abegoaria em abandono, dispersos pelo chão os materiais que não valera a pena arrumar, ninguém adivinharia o que ali se andara perpetrando. Dentro do casarão esvoaçavam pardais […]” (ll. 17-20)
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Narrador sentenciador e moralizador:
“Nem sempre se pode ter tudo […]” (l. 1)
“[…] a pobre não emprestes, a rico não devas, a frade não prometas […]” (ll. 5-6)
Narrador crítico e irónico:
“[…] com todas as disposições, licenças e matriculações necessárias, partiu o padre Bartolomeu Lourenço para Coimbra […]” (ll. 25-28)
“[…] uma multidão de homens, exagero será dizer multidão, enfim, umas centenas deles […]” (ll. 36-38)
“[…] como se vê não há diferença nenhuma.” (ll. 50-51)
Expressões, 12.º ano
O narrador em Memorial do Convento (ex. 9.1., pág. 303)
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Narrador omnisciente (gestor da matéria
histórica e ficcional)
“Haveremos convento.” (l. 6)
“Até à vila de Mafra, aonde primeiro vai, não tem a viagem história, salvo a das pessoas que por estes lugares moram […].”
(ll. 29-32)
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Narrador polivalenteCumpre diversas funções
Narra
Descreve
Reflete
Comenta Critica Ironiza
Manipula (o tempo/a História/a ficção)
Conversa com o(s) narrador(es) Julga
Moraliza
Recorda e prenunciaAdaptado de REAL, Miguel, 1996. Narração, Maravilhoso, Trágico e Sagrado em
Memorial do Convento de José Saramago. Lisboa: Caminho
Expressões, 12.º ano
O narrador em Memorial do Convento (ex. 9.1., pág. 303)
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O espaçoO espaçoEspaço físico – cenários em que decorre a ação
Espaço social – local de acontecimentos sociais, encontro de multidões, para atos religiosos, trabalho ou diversão: autos de fé, procissão da Quaresma e do Corpo de Deus, sagração da basílica.
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São dois os espaços físicos fulcrais nos quais se desenrola a ação: Lisboa e Mafra.
Lisboa é um macroespaço que integra: ROSSIO, TERREIRO DO PAÇO, SÃO SEBASTIÃO DA PEDREIRA
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Espaço Espaço físicofísicoTerreiro do PaçoLocal onde Baltasar trabalha num açougue, após a sua chegada a Lisboa. Aí decorre a procissão do Corpo de Deus.“Desce o povo ao Terreiro do Paço, a ver os preparos da
festa.” cap. XIII, p. 152)
RossioEste espaço aparece no início da obra como o local onde decorrem os autos-de-fé e a procissão da penitência na Quaresma. (cap III)
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O Rossio, em Lisboa Um auto-de- fé
Aqui se faziam os autos de fé. “(…) está o Rossio cheio de povo, duas vezes em festa por ser domingo e haver auto-de-fé, nunca se chegará a saber de que mais gostam os moradores, se disto, se das touradas.” (cap. V, p. 50)Aqui se conheceram Blimunda e Baltasar, aqui ela o viu pela última vez – “(…) virou em direção ao Rossio, repetia um itinerário de há 28 anos. (…) Naquele extremo arde um homem a quem falta a mão esquerda. (cap. XXV, p. 373)
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Terreiro do Paço, em Terreiro do Paço, em LisboaLisboa
Aqui decorriam as touradas“(…) vamos às touradas, que é bem bom divertimento. Em Mafra nunca as houve, diz Baltasar e, não chegando o dinheiro para os quatro dias da função, que este ano foi arrematado caro o Terreiro do Paço, iremos ao último, que é o fim da festa.” (cap. IX, p. 101)
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S. Sebastião da PedreiraS. Sebastião da PedreiraTrata-se de um espaço relacionado com a Trata-se de um espaço relacionado com a “passarola voadora”“passarola voadora”. . Era um Era um espaço ruralespaço rural, onde existiam várias quintas com , onde existiam várias quintas com palacetes.palacetes.
Diz o padre Bartolomeu: “Vou a S. Sebastião da Pedreira ver a minha máquina, queres tu vir comigo, a mula pode com os dois (…). Todas as portas e janelas do palácio estavam fechadas, a quinta abandonada, sem cultivo. A um lado do pátio espaçoso ficava um celeiro, ou abegoaria, ou adega, estando vazio não se podia saber que serventia fora a sua (…)” (cap. VI, p. 66-67)
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Espaço físico Espaço físico MafraMafra Mafra é o segundo macroespaço. Até à
construçãodo convento, a vida de Mafra decorria na vila
velha e no antigo castelo, próximo da igreja de Sto.
André.
A Alto da Vela foi o local escolhido para aconstrução do convento, que deu lugar à vila
nova, à volta do edifício. Nas imediações da obra, surge a
"Ilha da Madeira", onde começaram por se alojar dez mil trabalhadores, ascendendo, mais tarde, a 52 mil (sendo 7 mil guardas).
Além de Mafra, são ainda referidos espaços como Pêro Pinheiro, a serra do Barregudo, Montejunto (onde aterrou a “Passarola Voadora) e a casa da família Sete-Sóis.
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Outros espaços Outros espaços físicosfísicos
Há referências à Holanda, onde o padre foi estudar o segredo do éter, Espanha, onde Baltasar ficou ferido e onde o Padre Bartolomeu morreu louco; mas também a várias localidades do Sul, que Baltasar percorreu até chegar de Évora a Lisboa e Monte Junto, onde aterrou a “passarola voadora” após o primeiro voo.
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O O espaço espaço socialsocialO espaço social é construído, na obra, através do relato de determinados momentos (ou episódios) e do percurso de personagens que tipificam um determinado grupo social, caracterizando-o.Ao nível da construção do espaço social, destacam-se:
PROCISSÃO DA QUARESMAAUTOS DE FÉA TOURADAPROCISSÃO DO CORPO DE DEUSO TRABALHO NO Obras e sagração do CONVENTO
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Espaço Espaço socialsocial
Os autos de fé e as touradas caracterizam Lisboa como um espaço caótico, dominado por rituais religiosos cujo efeito exorcizante amaldiçoa um mal momentâneo que motiva a exaltação absurda que envolve os habitantes.
“(...) mas não faltou povo à festa [auto de fé]”
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Espaço Espaço socialsocial
As touradas são vistas como um “(...) bom divertimento (...)” apreciadas por toda a população “Estão as bancadas e os terrados formigando de povo (...)” (IX, 101)
“Cheira a carne queimada, mas é um cheiro que não ofende estes narizes, habituados que estão ao churrasco do auto de fé, (...)”
![Page 23: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/23.jpg)
O O espaço socialespaço social Procissão da Quaresma
excessos praticados durante o Entrudo (satisfação dos prazeres carnais) e brincadeiras carnavalescas - as pessoas comiam e bebiam demasiado, davam "umbigadas pelas esquinas", atiravam água à cara umas das outras, batiam nas mais desprevenidas, tocavam gaitas, espojavam-se nas ruas”. (p. 28)
penitência física e mortificação da alma após os desregramentos durante o Entrudo (é tempo de "mortificar a alma para que o corpo finja arrepender-se”. (p. 28)
![Page 24: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/24.jpg)
O O espaço social espaço social Procissão da QuaresmaProcissão da Quaresma
descrição da procissão (os penitentes à cabeça, atrás dos frades, o bispo, as imagens nos andares, as confrarias e as irmandades)
manifestações de fé que tocavam a histeria (as pessoas arrastam-se pelo chão, arranham-se, puxam os cabelos, esbofeteiam-se) enquanto o bispo faz sinais da cruz e um acólito balança o incensório; os penitentes recorrem à autoflagelação
o narrador afirma que, apesar da tentativa de purificação através do incenso, Lisboa permanecia uma cidade suja, caótica e as suas gentes eram dominadas pela hipocrisia de uma alma que, ironicamente, este define como "perfumada“.
![Page 25: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/25.jpg)
EEspaço social spaço social Os autos-de-féOs autos-de-fé Autos de fé no Rossio.
Neste relato, são de salientar os seguintes aspetos:
o Rossio está novamente cheio de assistência; a população está duplamente em festa, porque é domingo e porque vai assistir a um auto de fé (passaram dois anos após o último evento deste tipo).
o narrador revela a sua dificuldade em perceber se o povo gosta mais de autos de fé ou de touradas, evidenciando com esta afirmação a sua ironia crítica perante um povo que revela um gosto sanguinário e procura nas emoções fortes uma forma de preencher o vazio da sua existência.
![Page 26: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/26.jpg)
O O espaço social - espaço social - Os autos de féOs autos de fé
a assistência feminina, à janela, exibe as suas toilettes, preocupa-se com pormenores fúteis relativos à sua aparência (a segurança dos sinaizinhos no rosto, a borbulha encoberta), e aproveita a ocasião para se entregar a jogos de sedução com os pretendentes que se passeiam em baixo.
a proximidade da morte dos condenados constitui o motivo do ambiente de festa; esta constatação suscita, mais uma vez, a crítica do narrador - na realidade, o facto de as pessoas saberem que alguns dos sentenciados iriam, em breve, arder nas fogueiras não as inibia de se refrescarem com água, limonada e talhadas de melancia e de se consolarem com tremoços, pinhões, tâmaras e queijadas.
“Grita o povinho furiosos impropérios aos condenados, guincham as mulheres (…)” (cap. V, p. 52)
![Page 27: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/27.jpg)
O O espaço social – espaço social – os autos os autos de féde fé
Autos de féAutos de fé sai a procissão - à frente os dominicanos; depois, os inquisidores
distinção entre os vários sentenciados (através do gorro e sambenito), assim como o crucifixo de costas voltadas, para as mulheres que irão arder na fogueira;
menção dos nomes de alguns dos condenados (inclusive o de Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda)
punição dos condenados pelo Santo Ofício – o povo dança perante as fogueiras.
![Page 28: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/28.jpg)
O O espaço social espaço social TouradaTourada
![Page 29: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/29.jpg)
O O espaço social - espaço social - TouradaTourada
Tourada (Terreiro do Paço) o espetáculo começa e o narrador enfatiza a forma
como os touros são torturados, exibindo o sangue, as feridas, as "tripas“ ao público que, em exaltação, se liberta de inibições (“os homens em delírio apalpam as mulheres delirantes, e elas esfregam-se por eles sem disfarce” (cap. IX, p. 102)
![Page 30: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/30.jpg)
Dois toiros saem do curro e investem contra bonecos de barro colocados na praça; de um saem coelhos que acabam por ser mortos pelos capinhas, de outro, pombas que acabam por ser apanhadas pela multidão.
A ironia do narrador é ainda traduzida pela constatação de que, em Lisboa, as pessoas não estranham o cheiro a carne queimada, acrescentando ainda numa perspectiva crítica, que a morte dos judeus é positiva, pois os seus bens são deixados à Coroa.
![Page 31: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/31.jpg)
O O espaço espaço social social Procissão do Procissão do Corpo de DeusCorpo de Deus
descrição dos "preparos da festa” feita pelo narrador, que assume o olhar do povo (as colunas, as figuras, os medalhões, as ruas toldadas, os mastros enfeitados com seda e ouro, as janelas ornamentadas com cortinas e sanefas de damasco e franjas de ouro), que se sente maravilhado com a riqueza da decoração).
![Page 32: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/32.jpg)
O O espaço espaço social social Procissão do Procissão do Corpo de DeusCorpo de Deus
referência do narrador às damas que aparecem às janelas, exibindo penteados, rivalizando com as vizinhas e gritando motes
à noite, passam pessoas que tocam e dançam, improvisa-se uma tourada
de madrugada, reúnem-se aqueles que irão formar as alas da procissão, devidamente fardados
![Page 33: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/33.jpg)
O O espaço espaço social social Procissão do Corpo Procissão do Corpo de Deusde Deus
Começa logo de manhã cedo. Descrição do aparato: à frente, as bandeiras dos ofícios da Casa dos Vinte e
Quatro, em primeiro lugar a dos carpinteiros em honra a S. José;
atrás, a imagem de S. Jorge, os tambores, os trombeteiros, as irmandades, o estandarte do Santíssimo Sacramento, as comunidades (de S. Francisco, capuchinhos, carmelitas, dominicanos, entre outros)
e o rei, atrás, segurando uma vara dourada, Cristo crucificado e cantores de hinos sacros
Realização da procissão:
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O O espaço espaço social social Procissão do Procissão do Corpo de DeusCorpo de Deus
crítica do narrador às crenças e interditos religiosos;
visão oficial da procissão como forma de purificação das almas, que tentam libertar-se dos pecados cometidos
CRÍTICAS DO NARRADOR:
![Page 35: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/35.jpg)
Censura ao luxo da igreja e à luxúria do Rei (“varrasco”) (Cap. XIII)
histeria coletiva das pessoas que se batem a si próprias e aos outros como manifestação da sua condição de pecadores.
CRÍTICAS DO NARRADOR
![Page 36: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/36.jpg)
EM EM SÍNTESESÍNTESE
As procissões e os autos de fé caracterizam Lisboa como um espaço caótico, dominado por rituais religiosos cujo efeito exorcizante esconjura um mal momentâneo que motiva a exaltação absurda que envolve os habitantes.
A desmistificação dos dogmas e a crítica irónica do narrador ao clero subjazem ao ideário marxista que condena a religião enquanto "ópio do povo", isto é, condena-se a visão redutora do mundo apresentada pela Igreja, que condiciona os comportamentos, manipula os sentimentos e conduz os fiéis a atitudes estereotipadas.
A violência das touradas ou dos autos de fé apraz ao povo que, obscuro e ignorante, se diverte sensualmente com as imagens de morte, esquecendo a miséria em que vive.
![Page 37: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/37.jpg)
O TRABALHO NO CONVENTOO TRABALHO NO CONVENTOMafra simboliza o espaço da servidão
desumana a que D. João V sujeitou todos os seus súbditos para alimentar a sua vaidade.
“Ordeno que a todos os corregedores do reino se mande que reúnam e enviem para Mafra quantos operários se encontrarem” (XXI, 302)
Vivendo em condições deploráveis, os cerca de quarenta mil portugueses foram obrigados, à força de armas, o abandonar as suas casas e a erigir o convento para cumprir a promessa do seu rei e aumentar a sua glória.
![Page 38: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/38.jpg)
Espaço psicológicoEspaço psicológicoo espaço psicológico é constituído pelo
conjunto de elementos que traduz a interioridade das personagens.
Nesta obra, o espaço psicológico é constituído fundamentalmente através de dois processos: os sonhos das personagens, que funcionam como forma de caracterização das mesmas ou que, num processo que lhes confere densidade humana, traduzem relações com as suas vivências (rainha X, 118);
e os seus pensamentos (Patriarca e rei, XIII, 162).
![Page 39: Memorial do Convento narrador, espaço e tempo](https://reader033.fdocumentos.tips/reader033/viewer/2022061322/58ac30261a28ab145e8b4aa7/html5/thumbnails/39.jpg)
Os sonhosOs sonhosSalienta-se o sonho do rei e da rainha.O rei sonha com a sua descendência e com o
convento.“Também D. João V sonhará esta noite. Verá erguer-se
do seu exo uma árvore de Jessé frondosa e toda povoada dos ascendentes de Cristo (…) um convento de franciscanos. (Cap. I, p. 18)
A rainha tem sonhos eróticos co o infante D. Francisco
“Porém vossa majestade sonha comigo quase todas as noites, que eu bem no sei, É verdade que sonho, são fraquezas de mulher guardadas no meu coração. (cap. X, p. 118)
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TEMPO
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TEMPO TEMPO O tempo diegético O tempo diegético
(tempo da história(tempo da história)) Trata-se do tempo em que decorre a acção.
O tempo da história é constituído por algumas datas fundamentais.
A acção inicia-se em 1711. D. João V ainda não fizera vinte e dois anos e D. Maria Ana Josefa chegara há mais de dois anos da Áustria.
O fluir do tempo, mais do que através da recorrência a marcos cronológicos específicos, é sugerido pelas transformações sofridas pelas personagens e por alguns espaços e objetos ao longo da obra.
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TEMPOTEMPO O tempo diegético (tempo da O tempo diegético (tempo da
históriahistória)) O tempo histórico
Logo no início do romance, podemos inferir que a acção tem início no ano de 1711, através da seguinte referência do narrador:
"(. ..) S. Francisco andava pelo mundo, precisamente há quinhentos anos, em mil duzentos e onze (. . .)"
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TEMPOTEMPO Referências cronológicas
Em 1717, tem lugar a bênção da primeira pedra do Convento de Mafra
em 1717, Baltasar e Blimunda regressam a Lisboa para trabalhar na passarola do padre Bartolomeu de Gusmão
em 1729, celebra-se o casamento de D. José com Mariana Vitória e de Maria Bárbara com o príncipe D. Fernando (VI de Espanha) ( XXII, 211)
em 1730, mais propriamente no dia 22 de Outubro, o dia do quadragésimo primeiro aniversário do rei, realiza-se a sagração da basílica do Convento de Mafra
a ação termina em 1739, no momento em que Blimunda vê Baltasar a ser queimado em Lisboa, num auto-de-fé. (28 anos após o início da ação)
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TEMPOTEMPO O tempo diegético (tempo da históriaO tempo diegético (tempo da história)) Muitas vezes, a passagem do tempo é anunciada por
situações precisas "Para D. Maria Ana é que lhe vem chegando o tempo. A barriga não aguenta crescer mais por muito que a pele estique (.. .)"
ou por referências temporais que se integram em marcações referenciais
"(…) tendo partido daqui há vinte meses (…)" p. 72 "Meses inteiros se passaram desde então, o ano é já
outro" p. 77 "Entretanto, nasceu o infante D. Pedro (...)" p. 88 "Bartolomeu Lourenço foi à quinta de S. Sebastião da
Pedreira, três anos inteiros haviam passado desde que partira (. .)” p. 117
"(...) é certo que há seis anos que vivem como marido e mulher (…)" p. 130
"(...) se não ficou dito já, sempre são seis anos de casos acontecidos (…) " p. 134
"(…) e já vão onze anos passados (...)" p. 162 "(...) passaram catorze anos (…) " p. 214 "Desde que na vila de Mafra, já lá vão oito anos, foi
lançada a primeira pedra da basílica (…)" p. 231
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TEMPO TEMPO O tempo do discursoO tempo do discurso
O tempo do discurso é revelado através da forma como o narrador relata os acontecimentos.
Este pode apresentá-los de forma linear,
optar por retroceder no tempo em relação ao momento da narrativa em que se encontra
ou antecipar situações (prolepses).
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TEMPOTEMPOAs analepses (recuos no tempo)
As analepses explicam, geralmente, acontecimentos anteriores, contribuindo para a coesão da narrativa.
É de assinalar, anteriormente ao ano do início da acção (1711 ), a analepse que explica, em parte, a construção do convento como consequência do desejo expresso, em 1624, pelos franciscanos, de possuírem um convento em Mafra.
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TEMPO TEMPO O tempo do discursoO tempo do discurso
a visão globalizante de tempos distintos por parte do narrador (o tempo da história e, num tempo futuro, o do momento da escrita) –
cabem aqui as referências aos cravos (outrora, nas pontas das varas dos capelães; muito mais tarde, símbolos da revolução do 25 de Abril)(XIII, 161), a associação entre os possíveis voos da
passarola e o facto de os homens terem ido à Lua, no século XX,
a alusão ao tipo de diversões que se vivia no século XVII e ao cinema, entre outras.
As prolepses (ações futuras) A antecipação de alguns acontecimentos serve os
seguintes objectivos: