MEMÓRIA DE TRADUÇÃO. É POSSÍVEL CONSTRUIR UMA...

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UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA INSTITUTO DE LETRAS DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E TRADUÇÃO LETRAS TRADUÇÃO ESPANHOL NOTURNO HEBERTT DE ALMEIDA VASCONCELOS VALE MEMÓRIA DE TRADUÇÃO. É POSSÍVEL CONSTRUIR UMA MEMÓRIA ELETRÔNICA PARA A PSICANÁLISE LACANIANA? BRASÍLIA 2016

Transcript of MEMÓRIA DE TRADUÇÃO. É POSSÍVEL CONSTRUIR UMA...

UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

INSTITUTO DE LETRAS

DEPARTAMENTO DE LÍNGUAS ESTRANGEIRAS E TRADUÇÃO

LETRAS – TRADUÇÃO – ESPANHOL – NOTURNO

HEBERTT DE ALMEIDA VASCONCELOS VALE

MEMÓRIA DE TRADUÇÃO. É POSSÍVEL CONSTRUIR UMA

MEMÓRIA ELETRÔNICA PARA A PSICANÁLISE LACANIANA?

BRASÍLIA

2016

HEBERTT DE ALMEIDA VASCONCELOS VALE

MEMÓRIA DE TRADUÇÃO. É POSSÍVEL CONSTRUIR UMA

MEMÓRIA ELETRÔNICA PARA A PSICANÁLISE LACANIANA?

Monografia apresentada como requisito parcial

para obtenção do título de bacharel em

Tradução-Espanhol do Departamento de

Línguas Estrangeiras e Tradução, Instituto de

Letras, da Universidade de Brasília.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Alba Elena Escalante

Alvarez

BRASÍLIA

2016

HEBERTT DE ALMEIDA VASCONCELOS VALE

MEMÓRIA DE TRADUÇÃO. É POSSÍVEL CONSTRUIR UMA

MEMÓRIA ELETRÔNICA PARA A PSICANÁLISE LACANIANA?

Monografia apresentada como requisito parcial

para obtenção do título de bacharel em Tradução-

Espanhol do Departamento de Línguas

Estrangeiras e Tradução, Instituto de Letras, da

Universidade de Brasília.

Projeto Final aprovado em: ______ / ______ / ______

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Orientadora: Profª. Dr.ª Alba Elena Escalante Alvarez

Universidade de Brasília

____________________________________________________

Prof. Jean-Claude Lucien Miroir

Universidade de Brasília

____________________________________________________

Dr. Claudio Barra de Castro

Psicanalista

RESUMO

A finalidade deste trabalho é verificar a possibilidade de se construir uma memória de

tradução para a psicanálise lacaniana. Para essa atividade, será utilizada a ferramenta

computacional Wordfast. Os textos que irão compor a memória de tradução serão dois

capítulos da obra de Alfredo Eidelzstein, o livro El Grafo del Deseo. Será apresentado o que

são ferramentas computacionais de auxílio ao tradutor, as Cat tools. Deste universo, é

destacado o Wordfast, que servirá de modelo para explicar o funcionamento desses softwares.

O Wordfast será o instrumento que dará vida à memória de tradução, que é desenvolvida a

partir de unidades de tradução que serão retiradas do referido livro. Nessa oportunidade,

apresento as impressões de um tradutor leigo em psicanálise. Durante a execução desse

trabalho, uma questão é levantada: será possível um tradutor leigo na ciência psicanalítica

operar em uma área que desconhece? Para ajudar a compreender essa pergunta é utilizado o

modelo, de 2005, de Christiane Nord. Com esse modelo, será feita uma análise exaustiva da

obra para mostrar porque a construção de uma memória eletrônica poderia ser uma tarefa

difícil.

Palavras-chave: Memória de tradução. Wordfast. Psicanálise Lacaniana. El Grafo del Deseo.

RESÚMEN

La finalidad de este trabajo es comprobar la posibilidad de construirse una memoria de

traducción para el psicoanálisis lacaniano Sin embargo, para esa actividad será utilizado la

herramienta computacional Wordfast. El texto que va componer la memoria de traducción

serán dos capítulos de la obra de Alfredo Eidelzstein, el libro El Grafo del Deseo. Será

presentado lo que son herramientas computacionales de ayuda al traductor las Cat tools en

inglês o Traducción assistida por computadora (TAC) en castellano. De ese universo, es

separado el Wordfast que servirá de modelo para explicar el funcionamento de eses softwares.

El Wordfast será el instrumento que dará vida a la memória de traducción, que es desarrollada

a a partir de unidades de traducción que serán sacados del libro El Grafo del Deseo. Em este

momento, presento las impresiones de um traductor lego em psicoanálisis Durante la

ejecución de ese trabajo, una cuestión se presenta: ¿Será posible un traductor lego en la

ciencia psicoanalítica operar en un área que desconoce? Para ayudar a comprender esa

pregunta es utilizado el modelo de 2005 de Christiane Nord. Con ese modelo, será echo un

análisis en la obra para mostrar porque la construcción de una memoria electrónica podría ser

una tarea difícil.

Palabras-clave: Memoria de traducción. Wordfast. Psicoanálisis Lacaniana. El Grafo del

Deseo.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 01

CAPÍTULO 01 ........................................................................................................................ 03

Ferramentas de tradução (CAT) ............................................................................................ 03

WordFast ............................................................................................................................... 03

Memória de Tradução - MT .................................................................................................. 07

O tradutor leigo ..................................................................................................................... 08

CAPÍTULO 02 ........................................................................................................................ 11

Metodologia .......................................................................................................................... 11

Estágio - Como tudo começou .............................................................................................. 11

TCC – O próximo passo ....................................................................................................... 12

Tradução do livro .................................................................................................................. 13

CAPÍTULO 03 ........................................................................................................................ 14

Tradução do capítulo 03 do livro El Grafo del Deseo .......................................................... 14

Tradução do capítulo 04 do livro El Grafo del Deseo ......................................................... 51

CAPÍTULO 04 ........................................................................................................................ 79

Critérios para construção da memória .................................................................................. 79

Emissor ................................................................................................................................. 79

Receptor ................................................................................................................................ 80

Intenção ................................................................................................................................. 82

Meio ...................................................................................................................................... 82

Lugar ..................................................................................................................................... 83

Tempo ................................................................................................................................... 83

Motivo ................................................................................................................................... 83

Tema ..................................................................................................................................... 83

Conteúdo ............................................................................................................................... 83

Pressuposições ...................................................................................................................... 84

Composição textual ............................................................................................................... 85

Elementos não verbais .......................................................................................................... 85

Léxico ................................................................................................................................... 86

Estrutura da oração ............................................................................................................... 89

Marcas suprassegmentais ...................................................................................................... 89

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 90

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 91

1

INTRODUÇÃO

Desde a década de 1980, com o advento do microcomputador, novas tecnologias vêm

tornando o processo tradutório mais dinâmico e instantâneo. O mercado tornou-se mais

exigente e outros formatos foram inseridos para a consecução de suas traduções. Dicionários

onlines, glossários virtuais, memórias de tradução e pesquisas dinâmicas na internet são

alguns dos recursos que dinamizaram a produção tradutória.

Entre outras coisas, novas mídias e variações de textos geram o desenvolvimento das

ciências e a criação de novas ciências, as especialidades tornam-se mais plurais e específicas,

exigindo do tradutor um conhecimento não engessado e mais flexível para a utilização de

novas estratégias para o fazer tradutório.

O trabalho a seguir visa analisar a possibilidade de criação de uma memória eletrônica

no Wordfast para um texto psicanalítico, especificamente, lacaniano. Para isso, foi utilizada a

obra do autor argentino Alfredo Eidelsztein, El Grafo del Deseo. Essa obra é uma produção

ligada à Psicanálise e foi escolhida para análise após ter sido objeto de trabalho em uma

disciplina do curso de Letras Tradução – Espanhol, da Universidade de Brasília (UnB).

Na disciplina em questão, a saber, Estágio Supervisionado de Tradução - Espanhol, o

objetivo era a tradução e revisão de capítulos do livro supracitado por uma equipe de alunos,

formada para desempenhar tal atividade.

Devido à falta de domínio desta área do conhecimento, a Psicanálise, e ao fato de no

curso não serem trabalhados isoladamente textos psicanalíticos, a tarefa de tradução se

mostrou um procedimento complexo, levantando a algumas questões, como: será possível um

tradutor, leigo em textos psicanalíticos, traduzir em uma área que não domina?

Para ajudar a tentar responder essa pergunta, soma-se a esse processo a ferramenta

computacional, ou Cat tool, Wordfast, da qual apenas tomei conhecimento em curso

introdutório voltado para esse software, realizado na UnB, em que conheci a ferramenta e seu

modo de uso de forma superficial, porém, suficiente para despertar a curiosidade do seu

potencial.

Para essa tarefa, foi utilizada a versão gratuita do Wordfast Pro que possui algumas

limitações em relação à versão paga, a mais significativa é a disponibilização de apenas 500

unidades de tradução ou aproximadamente 2500 palavras. Porém, como um dos objetivos era

conhecer um pouco mais o programa e ver como ele se comporta no processo de tradução, foi

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possível ter uma ideia do potencial da ferramenta, bem como conhecer um pouco sobre a

psicanálise.

Apenas dois capítulos do livro El Grafo del Deseo foram utilizados para a realização

da tradução. Este trabalho foi dividido em quatro capítulos, sendo: o primeiro, para conhecer

um pouco sobre as ferramentas de tradução e, de forma mais específica, o Wordfast, suas

principais características, funcionamento e aplicabilidade; o segundo, para análise do livro e

sua natureza psicanalítica, bem como, observar as impressões de um tradutor leigo nessa área

do conhecimento, o desconforto e os desafios que foram gerados conforme a produção do

trabalho; o terceiro, para a tradução dos capítulos escolhidos, que reflete o resultado da

complexidade da tradução da ciência psicanalítica representada na obra de Alfredo Eidelsztein

e a utilização do lacanismo para explicar seu posicionamento, considerando que as traduções

seguem no meio do trabalho porque também são, em si, a possível memória de tradução; e o

quarto capítulo apresentará uma análise exaustiva do texto fonte e do texto meta, a partir do

modelo, de 2005, de Christiane Nord, do qual foram retirados os critérios para a elaboração da

memória de tradução.

Esse trabalho coaduna com o projeto de tradução de todo o livro que segue sendo feito

para uma publicação futura no Brasil, já que a obra ainda não conta com uma versão nacional.

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CAPÍTULO 01

Ferramentas de tradução (CAT)

A tecnologia sempre esteve presente no auxílio da prática da tradução, não apenas com

a introdução do computador na década de 1990 e suas primeiras memórias de tradução

desenvolvidas em escala comercial. No decorrer dos tempos, as tecnologias foram

apresentadas em diversos formatos, como dicionários monolíngues e bilíngues que sempre

foram considerados indispensáveis para o fazer tradutório. Com o surgimento de novas

necessidades e a prontidão exigida do material a se traduzir, as formas de prática tradutória

vão se adequando às exigências do mundo.

As expectativas sustentadas para o desenvolvimento de uma determinada

tarefa em um tempo específico determinam a tecnologia a ser empregada,

sobretudo de forma a reduzir o esforço exigido para a consecução de um

trabalho especializado, como a tradução. (STUPIELLO, 2015, p. 303-304)

O dicionário online Priberam (2016) traz a seguinte definição da palavra tecnologia: 1.

Ciência cujo objeto é a aplicação do conhecimento técnico e científico para fins industriais e

comerciais.

No cenário geral da tradução, várias ferramentas foram criadas para otimizar o

trabalho do profissional tradutor, podendo também ser utilizadas para fins pessoais e de lazer,

elas são conhecidas como CAT, sigla do inglês para Computer Ainded Translation ou, em

uma tradução livre, Tradução Auxiliada por Computador. Vários debates procederam a

inserção das CATs no campo da tradução, refletindo questões como: se a interferência

produzida seria positiva, produzindo a aceleração do desenvolvimento de traduções em uma

visão mais comercial, ou negativa, possibilitando o engessamento de terminologias ou a

produção de obras muito repetitivas geradas por processos automatizados. Ferramentas como

o Trados, MemoQ, Wordfast, Déjà Vu, Star Transit, entre outros, são exemplos de CATs,

sendo que um dos maiores editores de tradução na atualidade é o WordFast.

WordFast

O WordFast é uma ferramenta computacional (software) que auxilia na tradução de

arquivos textuais, uma CAT tool – Computer Ainded Translation, além de auxiliar linguistas

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em edições, gerenciamento e armazenagem de traduções, e foi desenvolvido pelo francês

Yves A. Champollion, em 1999, na França, como uma alternativa a outro editor de tradução,

o Trados, dado o alto custo. Atualmente, Champollion é consultor governamental e

empresarial na área de tradução e localização.

O Wordfast Pro utiliza uma plataforma própria para executar suas tarefas. O programa

é definido basicamente por dois bancos de dados que se complementam na execução da

atividade e que constituem a memória de tradução.

O primeiro banco de dados é o da Memória de Tradução ou TM (Translation Memory)

que funciona da seguinte forma: após o texto fonte ser inserido no programa e se iniciar a

tradução, sem alterar as configurações básicas, o par linguístico – texto fonte e texto meta (bi-

texto) – é automaticamente inscrito no banco de dados da TM e salvo, no local indicado pelo

tradutor, em formato TXML. Sempre que o tradutor quiser, ele poderá pedir para o editor ler a

TM para verificar em outros textos fontes se há paridade entre o que está na memória e o

novo texto fonte, caso algum segmento corresponda total ou parcialmente, o editor oferece

como solução a tradução previamente inscrita em sua memória.

O outro banco de dados é o Terminológico, a diferença básica dele para o banco de

dados da TM é que apenas as unidades de tradução escolhidas pelo tradutor é que serão

inscritas no banco de dados terminológico, no entanto, sua execução será similar ao da TM,

ou seja, todas as unidades de tradução e suas traduções previamente inscritas em seu banco de

dados também serão lidas pelo editor e retornarão como sugestão quando se repetirem em

novos textos fonte.

Figura 1 - Esquema sobre a escritura e leitura dos bancos de dados.

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Figura 2 - Imagem do layout do Wordfast, TF e TM e as ferramentas de edição.

O programa funciona a partir da segmentação do texto. Para o software, o texto é um

conjunto de segmentos agrupados, o programa segmenta esses conjuntos em cada pontuação

final de frase (como ponto final, interrogação, exclamação e etc.). Essas pontuações podem

ser modificadas na configuração do programa, oferecendo ao usuário recursos para a tradução

desses segmentos que automaticamente alimentam a memória de tradução pré-programada

(TM – Translation Memory). As TMs são produzidas inicialmente pelo usuário nas

configurações iniciais e são preenchidas por segmentos que são constituídos por unidades de

tradução (TU – Translation Units). Para a tradução, de maneira geral, a unidade de tradução é

entendida como:

Unidade de tradução é um segmento do texto de partida, independente de

tamanho e forma específicos, para o qual, em um dado momento, se dirige o

foco de atenção do tradutor. Trata-se de um segmento em constante

transformação que se modifica segundo as necessidades cognitivas e

processuais do tradutor. (...) (ALVES, 2013, p.38).

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Já para o Wordfast, de acordo com o glossário de seu manual, a unidade de tradução é

definida simplesmente como “um conjunto de segmentos fonte e de destino. Uma TU também

grava a data de criação, mais atributos opcionais”.

Segundo o manual do programa Wordfast, esse modelo de segmentação possui

vantagens em relação à tradução de um modelo impresso, algumas delas são:

Diminui o cansaço visual, pois o tradutor não tem que ficar trocando o foco

durante a execução da atividade;

Reduz cansaço mental, por não ter a necessidade de ficar voltando na local

exato da folha para revisar a tradução do segmento, no software na tela do

computador o usuário tem espelhado o material com que estará trabalhando

com um layout que destaca o segmento, ele também elimina a necessidade, em

computadores, de se ficar trocando de telas;

O layout e a interatividade do programa também ajudam o tradutor de duas

maneiras: em casos de textos que possuem uma característica repetitiva entre

seus segmentos – característica de textos técnicos –, primeiramente, ele separa

cada segmento para tradução individual deles e, em seguida, faz a

armazenagem no banco de dados da TM das traduções propostas pelo tradutor,

sugerindo ao usuário essa tradução nos segmentos que se repetirem à frente ou

em segmentos que se aproximem do segmento primário.

Consistência de terminologia. Em um grande projeto (digamos que você

receba 50 páginas por mês, de modo que você trabalhe para esse cliente 5

dias por mês, durante 12 meses), a cada vez que você trabalhe para esse

cliente, terá de se lembrar do glossário do cliente. Com o Wordfast, você cria

e salva uma configuração específica para cada cliente, que se lembra da TM

e dos glossários. O Wordfast o avisará a cada vez que a terminologia de

tradução estiver em conflito com o glossário do cliente. (YVES

CHAMPOLLION , Versão 6, 1999-2011, pág. 124)

O programa beneficia também a formatação do arquivo a ser traduzido, pois ele

mantém a mesma formatação do arquivo fonte, oferecendo apenas os segmentos traduzíveis,

conservando imagens, tabelas e outras particularidades, mantendo o espelhamento perfeito do

documento fonte com o documento traduzido.

As memórias de tradução produzidas pelo Wordfast possuem a característica de terem

o formato aberto, ou seja, podem ser editadas com outros editores de texto.

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Memória de Tradução - MT

Algumas definições da palavra memória, de acordo com o dicionário online Priberam,

são: 1. Faculdade pela qual o espírito conserva ideias ou imagens, ou as readquire sem grande

esforço. 2. Lembrança. 5. Recordação, presente. 7. Anel (que se dá como lembrança). 11.

[Informática] Dispositivo de um computador ou sistema informático que permite o registro, a

conservação e a restituição dos dados.

Na representação do dicionário já existe esta conversa entre o ser humano e a máquina

para o que venha a ser memória. Destaco, para diferenciar os conceitos, o termo existente na

primeira definição, a palavra ‘espírito’, que por sua vez tem como definição, pela mesma

fonte, coisa incognoscível que anima o ser vivo. Logo, a diferença entre a memória humana e

a da máquina está presente na questão da cognoscividade, que estrutura suas memórias, pois a

memória da máquina é cognoscível, ou seja, sabemos como ela é construída e onde e como

são armazenadas suas ideias, e, fazendo um comparativo com a primeira definição de

memória, percebemos que o propósito é o mesmo: readquirir essas ideias e imagens sem

grande esforço.

A memória de tradução (TM) é um agrupado terminológico e fraseológico que o

tradutor alimenta para auxiliá-lo na execução de traduções futuras, cada tradução de um

segmento é automaticamente incorporado à TM. O sistema recupera a tradução no banco de

dados de acordo com a porcentagem pré-determinada, podendo ser total (full match) ou

apenas parcial (fuzzy match). Para tornar o uso da ferramenta mais satisfatória, deve-se criar

uma memória de acordo com a área do conhecimento que se pretende trabalhar (textos

técnicos, científicos, literários, filosóficos, psicanalíticos e etc.).

Dadas as especificidades que cada texto possui, destaco o texto psicanalítico, por ser a

essência do material com o qual trabalhei e por possuir uma característica interdisciplinar

peculiar, rica em neologismos e coloquialismos, pois incorpora uma linguagem muito

próxima da popular, atribuindo novos significados a termos conhecidos, o que pode tornar a

utilização de ferramentas computacionais no processo de tradução um desafio, principalmente

para o tradutor leigo no universo da psicanálise. Uma CAT tool como o Wordfast trabalha

com correspondência de signos e fraseologias, em especial no texto psicanalítico, o tradutor

leigo tem que estar sempre atento ao se deparar com segmentos que gerem dúvidas na coesão

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do texto, se traduzido de forma aleatória, possivelmente, o resultado final será uma tradução

ilegível para o receptor da obra.

O tradutor leigo

Como leigo, inicialmente, tinha a visão da psicanálise como um simples tratamento de

pessoas com doenças mentais ou meros distúrbios psicológicos, porém, no decorrer de

pesquisas elaboradas para a execução da tarefa de traduzir capítulos do livro El grafo del

Deseo, de Alfredo Eidelsztein, pude mergulhar mais no universo da psicanálise em geral e

particularmente na Lacaniana e construir uma noção do que vem a ser a psicanálise e da real

tarefa do psicanalista. Assim como o tradutor, o psicanalista encontra-se em constante

processo de modelagem sem atingir uma forma definitiva, pois prejudicaria a real noção de

seus campos.

Logo, ao tentar explicar o que é tradução, me deparo com o texto de Antoine Berman

(2007, p.19), que define o ato de traduzir, a tradutologia, como “a reflexão da tradução sobre

si mesma a partir da sua natureza de experiência”, no mesmo momento em que, motivado pela

execução desta atividade, procuro uma definição para o que venha a ser a psicanálise e me

deparo com a visão de seu criador, Freud, que não a define conclusivamente, apenas a coloca

como nada mais do que tudo aquilo que se produz para falar da psicanálise.

Seguindo essa linha de raciocínio, entendo que, assim como a tradução, a psicanálise é

outra ciência de produção e reflexão. Ambas são objetos de estudo que atuam de forma

similar e até mesmo interdisciplinar: a tradução, segundo Berman, opera na deformação

enquanto que a Psicanálise atua no ato falho. As duas disciplinas atuam numa manifestação de

“estranheza” em seus procedimentos de execução. O ato de traduzir vem a ser somente um

processo, uma prática que Walter Benjamin define com sendo uma forma.

Pode-se salientar que as interpretações feitas por psicanalistas são, antes de

tudo, traduções de um método estranho de expressão para outro que nos é

familiar. Quando interpretamos um sonho estamos apenas traduzindo um

determinado conteúdo de pensamento (os pensamentos oníricos latentes) da

“linguagem de sonhos” para nossa fala de vigília. (Freud, 1996a, p.179)

Os capítulos 03 e 04 do livro El grafo del Deseo, do psicanalista argentino Alfredo

Eidelsztein, publicado pela editora Letra Viva, em 2005, são objetos deste trabalho. O livro é

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de natureza coloquial, pois foi elaborado a partir de reuniões das aulas do curso de pós-

graduação “El grafo del deseo y la clinica psicoanalítica”, realizado em 1993. Até a

formulação deste trabalho, existiam apenas as versões da obra em inglês, intitulada The Graph

of Desire. Using the work of Jacques Lacan, pela editora Karnac, de 2009, e em italiano, Il

Grafo del Desiderio. Formalizzazioni in Psicoanalisi, da editora Milano, de 2015.

Sendo assim, esvaziar, na tradução, os conceitos dos termos psicanalíticos “(...) eleva à

categoria estanque e invariável de conceito a mais corriqueira das palavras e pretende

disseminar a ideia de que Freud teria desenvolvido uma linguagem muito peculiar para a

psicanálise: o ‘idioma freudiano’”. (Tavares, 2011, p.24). Logo, a tarefa do tradutor nesse

campo se torna uma batalha cautelosa para não cair nas associações internalizadas ou pré-

definidas sugeridas por seu conhecimento prévio. O que me leva a indagar: pode o leigo, que

é definido por Freud como “no medicos”, traduzir em uma área desconhecida e da qual não

domina o léxico?

A questão lançada é muito curiosa, pois Freud também lança a pergunta voltada agora

para a Psicanálise, mas defendendo que a análise psicanalítica é para todos.

Quais seriam os critérios para a elaboração de uma MT de um texto psicanalítico

considerando as tantas especificidades que o texto possui? Como fazer a máquina ajudar o

tradutor num momento em que ele provavelmente mais precisaria dela? Uma coisa é certa, no

meu caso, para a utilização do Wordfast como auxiliar na tradução da obra de Eidelsztein,

considerando que eu não tinha conhecimento prévio do assunto, foram necessárias pesquisas

pontuais acerca de termos que causavam desconforto ou estranheza, na tentativa de uma

compreensão.

O “freudianismo” ou “lacanismo” presente em todo o texto e, principalmente, a

questão da oralidade fazem com que expressões simples, como sujeto, Otro, inconsciente,

objeto, entre outros termos, adquiram outros conceitos próprios do léxico de especialidades da

psicanálise.

E o que dizer dos neologismos que complementam o desafio de traduzir? Faz-se

necessário, procurar uma aproximação com algo que seja parecido, mesmo correndo o risco

de distanciar o paralelismo dos significados ou exercitar o poder de criatividade do tradutor e

propor a criação de uma nova palavra. Criar uma memória nesses casos não é simplesmente

preencher um arquivo com definições, pois, sempre que houver dualidade ao se apresentar

esses termos, será necessária a presença do tradutor e não da máquina para definir o ira ali.

Esse é mais um ponto positivo do Wordfast, pois, uma vez alimentado com a memória, as

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pesquisas do tradutor saltariam aos olhos, de forma destacada pelo programa, restando ao

tradutor verificar se convém ou não a substituição ou explicação do segmento, seja na própria

tradução ou em notas explicativas, enfim, seja lá qual for a solução adotada pelo tradutor, ele

não terá a desculpa de dizer que passou despercebido.

11

CAPÍTULO 02

Metodologia

Estágio - Como tudo começou

Este trabalho de conclusão de curso iniciou-se no segundo semestre de 2015, ao me

matricular na disciplina de estágio supervisionado, lecionada pela professora Alba Escalante,

que apresentou uma proposta diferenciada para a matéria e com uma carga de

responsabilidade muito grande, a de elaborar a primeira tradução da obra psicanalítica do

autor argentino Alfredo Eidelsztein, o livro foi El grafo del Deseo.

Uma equipe de tradutores foi montada, formada por mim e outros alunos, a citar,

Nayara Farias e Adriele Mangabeira, (em um primeiro momento contávamos, também, com a

participação da Layane Carvalho que, logo no início das atividades, nos deixou, restando

apenas três alunos) contando com a orientação, supervisão e participação prática da professora

Escalante no desenvolvimento deste projeto. Nessa oportunidade, também contamos com a

supervisão técnica do Dr. Cláudio Barra, psicanalista membro da Escola Lacaniana de

Psicanálise – Brasília (ELP-B), que nos acompanhou durante todo o processo de elaboração

do trabalho, participando de alguns encontros e atendendo como supervisor externo,

realizando também revisões das traduções.

Cada integrante ficou com uma responsabilidade particular, além da execução da

tradução de um capítulo da obra, sendo que eu, oportunamente, após a saída da Layane, que

se deu após a separação das atividades, acumulei a tradução do capítulo que cabia a ela. A

particularidade que me foi atribuída era a revisão geral das traduções elaboradas pelos alunos,

ou seja, além das traduções dos capítulos 02 e 03, incorporou-se a minha atividade a tarefa de

revisão dos capítulos 01 e 04. Esse, então, foi o primeiro contato com o livro e com a

Psicanálise.

Elaborei as traduções com as ferramentas e habilidades que havia desenvolvido no

decorrer da graduação, conhecimentos prévios, dicionários online e blogs de discussões,

porém, no decorrer do tempo e com a imersão no universo psicanalítico, através de textos e

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livros recomendados pela orientadora, bem como vídeos e artigos, vi a real complexidade

dessa ciência.

Vários encontros foram marcados com a equipe de tradutores para discursão e

acompanhamento das atividades, nessas ocasiões a professora disponibilizava materiais de

auxílio para compreender a psicanálise. No final do semestre, entregamos nossos trabalhos e o

resultado não foi o pretendido, dado o curto prazo e o conflito com atividades paralelas da

graduação e particulares. Uma dessas atividades de graduação da qual me propus participar

foi uma oficina de tradução ministrada pelo professor Jean-Claude Miroir sobre a ferramenta

de tradução Wordfast, que despertou bastante interesse pelo manuseio e interação com o

tradutor principalmente pela construção de sua memória a partir do usuário.

Antes do fim desse semestre, a professora Escalante me convidou para dar

continuidade à atividade de tradução do livro em meu trabalho de conclusão de curso,

inserindo como tema algo que mostrasse a tarefa do tradutor em textos psicanalíticos. Ainda

intrigado e interessado no uso da ferramenta computacional de auxílio à tradução, o Wordfast,

e juntamente com a dificuldade que tive de trabalhar com a tradução do texto psicanalítico,

surgiu a seguinte dúvida: seria possível montar uma memória eletrônica confiável para a

psicanálise, considerando suas características epistemológicas, para auxiliar na tradução da

obra em questão?

TCC – O próximo passo

Ao término do semestre, com o incentivo da professora, introduzi o Wordfast no meu

trabalho final, dando continuidade ao projeto da tradução do livro do Afredo Eidelsztein.

Optei por iniciar novamente todo o processo de tradução para montar a memória no software,

agora com os capítulos 03 e 04. Tentei explorar todas as funcionalidades do programa que a

versão gratuita disponibilizava, contando ainda com um conhecimento prévio e com a ajuda

de sites. O processo consistia em seguir com a tradução até encontrar alguma dificuldade em

algum segmento ou expressão. Ao deparar com um obstáculo, consultava primeiramente o

Google Tradutor para casos mais simples, conferência para sanar pequenas dúvidas, logo

depois partia para o site da Real Academia Española, que geralmente elucidava casos de

termos mais coloquiais que não estavam inseridos no contexto psicanalítico, e, caso restassem

dúvidas, consultava o correspondente no português no dicionário online Priberam. Essas

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ações foram mantidas por questão de vício ou costume, por serem metodologias já adotadas,

pois o Wordfast disponibiliza a inserção de dicionários como parte da ferramenta, assim como

já contava com alguns pré-disponíveis, ficando a cargo do tradutor apenas ativá-los para

contar com alternativas apresentadas no decorrer da tradução.

Tradução do livro

Como adotar essa metodologia em línguas de especialidade nas quais seus sentidos se

confundem com as terminologias comuns? Tais terminologias não despertam muitas suspeitas

de uso para o leitor leigo ou até mesmo para um profissional descuidado. Essa era, realmente,

a dificuldade da tarefa, fazer o programa diferenciar a linguagem coloquial da epistemologia

psicanalítica, diferenciar ’Otro’ (conceito da psicanálise) de ‘otro ' (determinante e pronome

indefinido) ou ‘Eu’ (conceito da psicanálise) de ‘eu’ (pronome pessoal grafado com letra

minúscula) ou até mesmo ‘Eu’ (pronome pessoal grafado com letra maiúscula) e etc. Além

dessa problemática, outras soluções tiveram que ser adotadas, como as opções para

neologismos, que também são uma característica da psicanálise lacaniana, bem como da

psicanálise freudiana; trabalhar, também, com a oralidade que estrutura o texto é um desafio,

pois em muitos momentos se confundiam a oralidade da obra com o coloquialismo da

epistemologia.

14

CAPÍTULO 03

Tradução do capítulo 03 do livro El Grafo del Deseo

TRES Três

LA ESTRUCTURA DEL LENGUAJE. A ESTRUTURA DA LINGUAGEM.

NECESIDAD, DEMANDA Y DESEO NECESSIDADE, DEMANDA E DESEJO

El tema de hoy será la articulación entre

lingüística y psicoanálisis. Para elaborar

esa articulación citaré profusamente

“Subversión del sujeto y dialéctica del

deseo en el inconsciente freudiano”. Este

escrito de Lacan será, de aquí en más,

nuestro principal texto de referencia.

O assunto de hoje será a articulação entre

linguística e psicanálise. Para elaborar essa

articulação citarei profusamente

“Subversión del sujeto y dialéctica del

deseo en el inconsciente freudiano”. Este

escrito de Lacan será, daqui para frente,

nosso principal texto de referência.

Hay dos afirmaciones categóricas de

Lacan sobre las que voy a hacer girar el

trabajo de hoy; nos servirán como

progreso respecto del lugar donde

quedamos con la vez pasada. La primera

cita dice que “el inconsciente está

estructurado como un lenguaje” y la

segunda, que “El inconsciente, a partir de

Freud, es una cadena significantes que en

alguna parte (en otro escenario, escribe él)

se repite e insiste para interferir en los

cortes que le ofrece el discurso efectivo y

la cogitación que él informa”.

Existem duas afirmações categóricas de

Lacan, sobre as quais irei fazer girar o

trabalho de hoje, servirão como

continuação de onde paramos da última

vez. A primeira citação diz que "o

inconsciente está estruturado como uma

linguagem" e a segunda, que "O

inconsciente, a partir de Freud, é uma

cadeia de significantes que em alguma

parte (em outra cena, escreve ele) se repete

e insiste para interferir nos cortes que o

discurso real oferece e a cogitação que ele

informa”.

Como sobre estas dos frases se apoya la

estructura del “grafo del deseo”, hoy

podremos avanzar considerablemente en

su indagación. A partir de la próxima

clase, comenzaremos con articulaciones

clínicas. Todo el trabajo hecho hasta

Como sobre essas duas frases se apoia a

estrutura do “grafo do desejo”, hoje

podemos avançar consideravelmente em

sua indagação. A partir da próxima aula,

começaremos com articulações clínicas.

Todo o trabalho feito até agora, como o

15

ahora, como el que haremos hoy, es sobre

los fundamentos estructurales, lo que nos

permitirá que las articulaciones clínicas

que prometo sean tales, y no meras

descripciones clínicas.

que faremos hoje, é sobre os fundamentos

estruturais, o que nos permitirá que as

articulações clínicas que prometo sejam

fato e não meras descrições clínicas.

En ambas citas Lacan afirma que el

significante es una noción fundamental.

En “Subversión del sujeto...” dice que

“significante” es un término que la

lingüística moderna tomó de la retórica

antigua, y a esa lingüística moderna Lacan

propone acotarla: a la cota inferior la llama

“la aurora de la lingüística moderna”, y le

pone como nombre el de Ferdinand de

Saussure, y a la cota superior la llama

“punto de culminación de la lingüística

moderna”, y el nombre que pone allí es el

de Roman Jakobson. Aunque lo que

nosotros no sabemos es si el punto de

culminación seguirá siendo Jakobson o

habrá que cambiarlo cuando el tiempo

pase; ustedes saben que cuando uno

cambia la cota superior, por razones

intrínsecas a la teoría del significante,

quizá se haga necesario cambiar la inferior

también. Pero bueno, al menos en la época

de Lacan, para Lacan era así.

Em ambas as citações, Lacan afirma que o

significante é uma noção fundamental.

Em “Subversión del sujeto...” diz que

“significante” é um termo que a linguística

moderna pegou da retórica antiga, e essa

linguística moderna Lacan propõe

delimita-la: a cota inferior chama “A

aurora da linguística moderna” e coloca

Ferdinand de Saussure como autor e

chama a cota superior de “ponto de

culminação da linguística moderna”

associado ao nome de Roman Jakobson.

Ainda que o que não sabemos é se o ponto

de culminação seguirá sendo Jakobson ou

terá que ser mudado com o passar do

tempo; vocês sabem que quando alguém

muda a cota superior, por motivos

intrínsecos à teoria do significante, talvez

seja necessário mudar a inferior também.

Pois bem, pelo menos na época de Lacan

para ele era assim.

Primera pregunta: ¿por qué necesitamos la

teoría del significante -tal como la trabaja

la lingüística moderna partiendo de

Saussure- para dar cuenta de la estructura

del inconsciente?

Primeira pergunta: por que precisamos da

teoria do significante – tal como trabalha a

linguística moderna partindo de Saussure –

para dar conta da estrutura do

inconsciente?

Tomemos una cita de Saussure, de su Destaquemos uma citação de Saussure do

16

Curso de lingüística general (que es una

versión establecida por los alumnos de

Saussure, ya que él no lo escribió ni lo

publicó), que dice lo siguiente:

seu Curso de linguística geral (que é uma

versão estabelecida pelos alunos de

Saussure, já que ele não a escreveu nem a

publicou), que diz o seguinte:

El signo lingüístico es una entidad

psíquica de dos caras. [...] Estos dos

elementos están íntimamente unidos y se

reclaman recíprocamente (pág. 129).

O signo linguístico é, pois, uma entidade

psíquica de duas faces. [...] Estes dois

elementos estão intimamente unidos e um

reclama o outro (pág. 129).

Entonces, son dos que hacen uno; son dos

que están íntimamente unidos. Si ustedes

conocen algunas elaboraciones de

Saussure, ésta es la problemática

representada en su signo por la elipse y las

dos flechas.

Então, são dois que fazem um, são dois

que estão intimamente unidos. Se vocês

conhecem alguma elaboração de Saussure,

esta é a problemática representada em seu

signo pela elipse e as duas setas.

Esquema nº 1 Esquema nº 1

Las vinculaciones consagradas por la

lengua son las únicas que nos aparecen

conformes con la realidad, y descartamos

cualquier otra que se pudiera imaginar

(pág. 129).

[...] somente as vinculações consagradas

pela língua nos parecem conforme à

realidade, e abandonamos toda e qualquer

outra que se possa imaginar (pág. 129).

La unidad que constituyen los dos

elementos de la lengua es lo que, según

Saussure, constituye la realidad, y la

realidad se basa en esas relaciones;

cualquier otra nos va a resultar

necesariamente por fuera de la realidad.

¿Se dan cuenta de que no es exclusiva de

Freud la noción de “realidad psíquica”?

No olviden que, para Saussure, la unión

A unidade que constitui os dois elementos

da língua é o que, segundo Saussure,

constitui a realidade, e a realidade se

baseia nessas relações, qualquer outra vai

resultar necessariamente fora da realidade.

Percebem que a noção de “realidade

psíquica” não é exclusiva de Freud? Não

esqueçam que, para Saussure, a união do

significante e do significado constitui uma

17

del significante y del significado

constituye una unidad psíquica. Seguimos

con la cita:

unidade psíquica. Seguimos com a citação:

Llamamos signo a la combinación del

concepto y de la imagen acústica: pero en

el uso corriente este término designa

generalmente la imagen acústica sola, por

ejemplo una palabra (pág. 129).

Chamamos signo a combinação do

conceito e da imagem acústica: mas, no

uso corrente, este termo designa

geralmente a imagem acústica apenas, por

exemplo uma palavra (pág. 129).

El hablante cree que se trata de un solo

elemento, pero siempre serán dos.

O falante acredita que se trata de apenas

um elemento, mas sempre serão dois.

Se olvida que si llamamos signo a arbor no

es más que gracias a que conlleva el

concepto “árbol”, de tal manera que la

idea de la parte sensorial implica la del

conjunto (pág. 129).

Esquece-se que se chamamos a arbor

signo, é somente porque exprime o

conceito de “árvore”, de tal maneira que a

ideia da parte sensorial implica a do total

(pág. 129).

El error, precisamente, es que una sola

parte, la sensorial, implique el conjunto; se

olvida que está quedando oculto un

elemento y su asociación con el otro.

O erro, precisamente, é que só uma parte,

a sensorial, implique o conjunto, esquece-

se que está ficando oculto um elemento e

sua associação com o outro.

La ambigüedad desaparecería si

designáramos las tres nociones aquí

presentes por medio de nombres que se

relacionen recíprocamente al mismo

tiempo que se opongan. Y proponemos

conservar la palabra signo para designar el

conjunto, y reemplazar concepto e imagen

acústica respectivamente con significado y

significante; estos dos últimos términos

tienen la ventaja de señalar la oposición

que los separa, sea entre ellos dos, sea del

total del que forman parte (pág. 129).

A ambiguidade desapareceria se

designássemos as três noções aqui

presentes por nomes que se relacionem

entre si e ao mesmo tempo se opõem.

Propomos-nos a conservar o termo signo

para designar o total, e substituir conceito

e imagem acústica, respectivamente, por

significado e significante; Estes dois

últimos termos têm a vantagem de

assinalar a oposição que os separa, quer

entre si, quer do total de que fazem parte

(pág. 129).

La segunda referencia es que los signos,

nos dice Saussure, son elementos

A segunda referência é que os signos, diz

Saussure, são elementos discretos,

18

discretos, unidades que se distinguen, que

se separan de otras unidades. Entonces, si

el inconsciente está estructurado como un

lenguaje, para nosotros eso significará

partir de estas enseñanzas de Saussure.

unidades que se distinguem que se

separam de outras unidades. Logo, se o

inconsciente está estruturado como uma

linguagem, para nós isso terá significado a

partir da proposta de Saussure.

Ésta es la tesis, y voy a tomar ahora una

cita de Lacan que me parece que la

confirma; es de “Subversión del sujeto...”,

y dice:

Esta é a tese, e agora vou usar uma citação

de Lacan que creio que a confirma, é de

“Subversión del sujeto...”, e diz:

Para que no sea vana nuestra caza, la de

los analistas [se está refiriendo a la caza

del sujeto], necesitamos reducirlo todo a la

función de corte en el discurso; el más

fuerte es el que forma una barra entre el

significante y el significado (pág. 780).

Para que não seja vã nossa caçada, a dos

analistas, [está se referindo à caçada do

sujeito] necessitamos reduzir tudo à

função de corte no discurso, o mais forte é

o que forma uma barreira entre o

significante e o significado (pág.780).

Noten que para el sujeto de la experiencia

analítica, Lacan dice que hay que reducir

todo a la función de corte, y el más fuerte

de los cortes es la barra entre significante

y significado.

Notem que para o sujeito da experiência

analítica, Lacan diz que tem que reduzir

tudo a função de corte e o mais forte dos

cortes é a barreira entre significante e

significado.

Aquí se sorprende al sujeto que nos

interesa.

Aqui se surpreende ao sujeito que nos

interessa.

No pierdan de vista la modulación de

términos por parte de Lacan; no dice “aquí

se caza al sujeto”, dice “aquí se sorprende

al sujeto”. Es decir, el sujeto

efectivamente está ahí, pero él mismo no

lo sabe -porque si no, no se sorprendería.

Não percam de vista a modulação de

termos feita por Lacan, não diz “aqui se

caça o sujeito”, diz “aqui se surpreende o

sujeito”. Ou seja, o sujeito efetivamente

está ali, mas ele mesmo não sabe, porque

senão, não se surpreenderia.

Ahora vamos a lo que Lacan considera el

punto culminante de la lingüística

moderna, a R. Jakobson, quien dice en

“Los conmutadores, las categorías

verbales y el verbo ruso”, en Ensayos de

Agora vamos ao que Lacan considera o

ponto culminante da linguística moderna,

a Roman Jakobson, quem diz em “Los

conmutadores, las categorías verbales y el

verbo ruso”, em Ensayos de linguística

19

lingüística general (Seix Barral, 1981): general (Seix Barral, 1981):

Lo mismo el mensaje (M) que su código

subyacente (C) son vehículos de

comunicación lingüística, pero los dos

funcionan de manera doble (pág. 307).

Mesmo a mensagem (M) e seu código

subjacente (C) são veículos de

comunicação linguística, mas os dois

funcionam de maneira dupla (pág. 307).

Otra vez son dos, como lo decía Saussure;

pero ahora son dos que funcionan de

manera doble; código y mensaje funcionan

de manera doble: a la vez que pueden ser

utilizados, pueden también ser referidos.

Les propongo, para hacer más elocuente la

oposición, utilizarla tal como se la

denomina en lógica: uso y mención. Es

decir, se puede hacer uso del código y uso

del mensaje, como se puede hacer

mención del código y mención del

mensaje.

Novamente são dois – como dizia

Saussure, mas agora são dois que

funcionam de maneira dupla, código e

mensagem funcionam de maneira dupla.

Uma vez que podem ser utilizados podem

também ser referidos. Proponho-lhes, para

fazer mais eloquente a oposição, utilizá-la

tal como é denominada na lógica: uso e

menção. Ou seja, pode ser feito uso do

código e uso da mensagem, como pode ser

feito menção do código e menção da

mensagem.

Así, el mensaje puede referirse al código o

a otro mensaje, del mismo modo que, por

otra parte, el significado general de una

unidad del código implicará una referencia

al código o al mensaje. Por consiguiente se

impone distinguir cuatro tipos dobles: (1)

dos tipos de circularidad -el mensaje

remite al mensaje (M/M) y el código

remite al código (C/C)-; (2) dos tipos de

recubrimiento (overlapping) -el mensaje

remite al código (M/C), y el código remite

al mensaje (C/M) (pág. 307).

Assim, a mensagem pode referir-se ao

código ou a outra mensagem, do mesmo

modo que, por outro lado, o significado

geral de uma unidade do código implicará

uma referência ao código ou a mensagem.

Consequentemente impõe-se distinguir

quatro tipos duplos: (1) dois tipos de

circularidade – a mensagem remete a

mensagem (M/M) e o código remete ao

código (C/C) –; (2) dois tipos de

sobreposição (overlapping) – a mensagem

remete ao código (M/C), e o código

remete a mensagem (C/M) (pág. 307).

“Overlapping” se traduce como

“traslapar” o “solapar”, que son

sinónimos. Ambas palabras provienen del

“Overlapping” é traduzido no castelhano

como ”traslapar” ou “solapar”, que são

sinônimos. Ambas as palavras provêm do

20

termino latín que indica el piso e implica

una forma peculiar de recubrir total o

parcialmente una superficie.

termo em latim que indica o chão e

implica uma forma peculiar de recobrir

total ou parcialmente uma superfície.

Sucintamente vamos a trabajar una

definición de cada uno de estos cuatro

tipos.

Sucintamente, vamos trabalhar uma

definição de cada um desses quatro tipos.

(M/M) Un discurso citado es un discurso

en el interior de un discurso, un mensaje

en el interior de un mensaje y, al mismo

tiempo, un discurso acerca del discurso, un

mensaje acerca del mensaje (pág. 308).

(M/M) Um discurso citado é um discurso

no interior de um discurso, uma mensagem

no interior de uma mensagem e, ao mesmo

tempo, um discurso sobre o discurso, uma

mensagem sobre a mensagem (pág. 308).

Después tenemos: Depois temos:

(C/C) Los nombres propios [...] ocupan un

lugar particular en nuestro código

lingüístico: la significación general de un

nombre propio no puede definirse sin

referencia al código (pág. 308).

(C/C) Os nomes próprios [...] ocupam um

lugar particular em nosso código

linguístico: a significação geral de um

nome próprio não pode se definir sem

referência ao código (pág. 308).

Es por eso que los nombres propios son

intraducibles, precisamente porque indican

un lugar en el interior de su código/lengua.

É por isso que os nomes próprios são

intraduzíveis, precisamente porque

indicam um lugar no interior do seu

código/língua.

En el código del inglés, Jerry significa una

persona llamada Jerry. La circularidad es

patente: el nombre significa cualquier

persona a la que se haya atribuido este

nombre. El apelativo perrito significa un

perro joven; perdiguero, un perro

destinado a la caza de perdices; sabueso,

un perro destinado a la caza del conejo,

mientras que Fido significa, ni más ni

menos, un perro cuyo nombre es Fido.

No código do inglês, Jerry significa uma

pessoa chamada Jerry. A circularidade é

patente, o nome significa qualquer pessoa

a que se tenha atribuído esse nome. O

apelativo cachorrinho significa um cão

novo; perdigueiro, um cão destinado à

caça de perdizes; cão de caça, um cão

destinado à caça de coelho, enquanto que

Fido significa nada mais que um cão cujo

nome é Fido.

(M/C) Cuando decimos el perrito es un

animal simpático, o el perrito lloriquea, la

(M/C) Quando dizemos o cachorrinho é

um animal simpático, ou o cachorrinho

21

palabra “perrito” designa a un perro joven,

mientras que en oraciones como “perrito”

es un sustantivo que significa un perro

joven, o más sencillamente, “perrito”

significa un perro joven o “perrito” es un

trisílabo, la palabra perrito [...] se usa

como su propia designación (pág. 309).

choraminga, a palavra "cachorrinho"

designa um cão novo, enquanto que em

orações, "cachorrinho" é um substantivo

que significa um cão novo, ou,

simplesmente, “cachorrinho” significa um

cão jovem ou “cachorrinho” é um

polissílabo, a palavra cachorrinho [...] é

utilizado como sua própria designação

(pág. 309).

En el mensaje, “perrito” indica a perrito

como término del código; ahí se lo está

mencionando. No se está usando la palabra

para designar a un perro; en todo caso se la

está usando para designar justamente esa

misma palabra.

Na mensagem, “cachorrinho” indica um

cachorrinho como termo do código, ali

está mencionado. A palavra não está

sendo usada para designar um cão, em

todo caso está sendo usada para designar

justamente essa mesma palavra.

Toda interpretación explicativa de

palabras y oraciones -ya sean

intralingüísticas (circunlocuciones,

sinónimos) o interlingüísticas

(traducción)- es un mensaje que remite al

código.

Toda interpretação explicativa de palavras

e orações – sejam intralinguísticas

(circunlocuções, sinônimos) ou

interlinguísticas (tradução) – é uma

mensagem que remete ao código.

(C/M) Todo código lingüístico contiene

una clase especial de unidades

gramaticales que Jespersen bautizó con el

nombre de conmutadores (shifters) [...]

(pág. 309).

(C/M) Todo código linguístico contém

uma classe especial de unidades

gramaticais que Jespersen batizou com o

nome de shifters [...] (pág. 309).

En telefonía, la telefonista opera un

“conmutador”, que es lo que toma un

estímulo (cierta electricidad) que viene por

una línea, y la pasa a otra línea. Se trata de

un dispositivo que, al decir de Freud, sirve

para “cambiar de vía”.

Em telefonia, a telefonista opera um

shifter, que é o que recebe um estímulo

(certa eletricidade) que vem por uma linha

e a transfere a outra linha. Trata-se de um

dispositivo que, como disse Freud, serve

para “mudar de caminho”.

[...] la significación general de un [...] a significação geral de um shifter não

22

conmutador no puede definirse sin hacer

referencia o remitir al mensaje. [...] El

signo yo no puede representar a su objeto

sin “estar en relación existencial” con el

mismo: la palabra yo, designando al

locutor está existencialmente relacionada

con su elocución. [...] Cada conmutador,

empero, posee su propio significado

general. Asi yo significa el destinador (y

tú el destinatario) del mensaje del que

forma parte. [...] En realidad, los

conmutadores se distinguen de todos los

demás constitutivos del código lingüístico

únicamente por su referencia obligatoria al

mensaje en cuestión (pág. 310).

se pode definir sem fazer referência ou

remeter à mensagem. [...] O signo “eu”

não pode representar seu objeto sem “estar

em relação existencial” com o mesmo: a

palavra “eu”, designada ao locutor, está

existencialmente relacionada com sua

elocução. [...] Contudo, cada shifter possui

seu próprio significado geral. Assim “eu”

significa o destinador (e tu o destinatário)

da mensagem de que faz parte. [...] Na

realidade, os shifters se distinguem de

todos os demais constitutivos do código

linguístico unicamente por sua referencia

obrigatória à mensagem em questão (pág.

310).

Me parece que en este punto convendría

hacer cierto uso de la teoría de los grafos.

Propongo que hagamos algo que Jakobson

no hace, y es confeccionar un grafo de lo

que su teoría afirma. Tenemos cuatro

casos; los primeros dos casos son de

overlapping (traslapo) y los otros dos son

de circularidad.

Acho que neste ponto convêm fazer certo

uso da teoria dos grafos. Proponho que

façamos algo que Jakobson não faz, que é

confeccionar um grafo do que sua teoria

afirma. Temos quatro casos, os primeiros

dois casos são de overlapping e os outros

dois são de circularidade.

Esquema n° 2 Esquema n° 2

Éste es un grafo que se caracteriza por

tener cuatro aristas y dos vértices, y por

que dos de las cuatro aristas son rizos o

bucles.

Este é um grafo que se caracteriza por ter

quatro arestas e dois vértices e porque

duas das quatro arestas são ondas ou

bucles.

23

Tonín me ha dicho que criadilla significa

patata.

Tonín me falou que semilha significa

batata.

Esta frase que propone Jakobson contiene

los cuatro casos. “Tonín me ha dicho que”:

ahí tenemos el caso de un mensaje en un

mensaje; estamos citando un mensaje.

“Criadilla significa patata”: este es un caso

en el que una partícula del código es

referida a otra partícula del código; a su

vez, en esta frase estoy trabajando un

mensaje referido a una partícula del

código -quiere decir que es también un

caso (M/C). Y finalmente es un caso de

código/código (C/C). El shifter estaría en

“me ha dicho” (a mí); pero, ¿Quién soy

yo? El que está hablando. Es decir, esas

partículas del código en el mensaje que

tienen al propio mensaje como único

medio para establecer su valor.

Esta frase que propõe Jakobson contém os

quatro casos. “Tonín me falou que”: aqui

temos o caso de uma mensagem em uma

mensagem, estamos citando uma

mensagem. “semilha significa batata”,

esse é um caso em que uma partícula do

código é referida a outra partícula do

código, por sua vez, nesta frase estou

trabalhando uma mensagem referindo a

uma partícula do código – quer dizer que é

também um caso (M/C). E finalmente é

um caso de código/código (C/C). O shifter

estaria em “me falou” (a mim); mas, quem

sou eu? Aquele que está falando. Ou seja,

essas partículas do código na mensagem

que tem na própria mensagem o único

meio para estabelecer seu valor.

Este último caso es importantísimo porque

responde a un problema que vamos a

trabajar hoy; es un problema importante

porque nos ubica respecto de una mala

interpretación de la enseñanza de Lacan en

cuanto a la función que este le asignaría al

“je " como siendo el sujeto en el

inconsciente.

Este último caso é importantíssimo porque

responde um problema que vamos

trabalhar hoje. É um problema importante

porque nos localiza a respeito de uma má

interpretação do ensino de Lacan no que

diz respeito à função que ele atribuiria ao

"je" como sendo o sujeito no inconsciente.

Habrán notado que el ejemplo de Jakobson

es bastante sutil: allí el shifter está

indicado por partículas que no son ni el

“yo” ni el “tú”.

Notarão que o exemplo de Jakobson é

muito sutil, ali o shifter está indicado por

partículas que não são nem o “eu” nem o

“tu”.

Esta simple elocución incluye los cuatro

tipos de estructura doble: discurso citado

Esta simples elocução inclui os quatro

tipos de estrutura dupla, discurso citado

24

(M/M), forma autónoma de discurso

(M/C), nombre propio (C/C), y

conmutadores (C/M), eso es, el pronombre

de primera persona y el tiempo perfecto,

que señala un acaecimiento anterior a la

transmisión del mensaje. En el lenguaje y

su uso, la duplicidad desempeña una

función básica (pág. 312).

(M/M), forma autônoma de discurso

(M/C), nome próprio (C/C), e shifters

(C/M), ou seja, o pronome em primeira

pessoa e o tempo perfeito, que

demonstram uma ocorrência anterior à

transmissão da mensagem. A duplicidade

desempenha uma função básica na

linguagem e no seu uso (pág. 312).

En el grafo que hice podría parecerles que

sólo hay dos casos dobles y dos casos

simples, pero no pierdan de vista que el

bucle implica una relación C/C, que es

doble, y que el otro bucle implica una

relación M/M, que también lo es.

No grafo que fiz podia parecer que só tem

dois casos duplos e dois casos simples,

mas não percam de vista que o bucle

implica uma relação C/C, que é dupla, e

que o outro bucle implica uma relação

M/M, que também é.

En particular, la clasificación de las

categorías gramaticales, las verbales

especialmente, requiere una coherente

discriminación de los conmutadores (pág.

312).

Em particular, a classificação das

categorias gramaticais, especialmente as

verbais, requer uma coerente

discriminação dos shifters (pág. 312).

No quiero que pierdan de vista que el

grafo, que implica la estructura básica

doble del lenguaje, nos indica también,

claramente, que si el inconsciente está

estructurado como un lenguaje y ésta es la

estructura del lenguaje, la división del

sujeto no es la que criticábamos la vez

pasada. Si el grafo no tuviese los rizos o

bucles aparecería como un yo dentro del

yo. Pero aquí empiezan a duplicarse las

duplicidades.

Não quero que percam de vista, que o

grafo que implica a estrutura básica dupla

da linguagem, nos indica também,

claramente, que se o inconsciente está

estruturado como uma linguagem, e esta é

a estrutura da linguagem, a divisão do

sujeito não é a que criticávamos na última

vez. Se o grafo não tivesse as ondas ou

bucles, apareceria com um eu dentro do

eu. Mas aqui as duplicidades começam a

se duplicar.

Y luego Jakobson continúa con: Jakobson continua com:

“Tentativa de clasificación de las

categorías verbales" (pág. 312).

“Tentativa de clasificación de las

categorías verbales” (pág. 312).

25

(Les advierto que esta es una clasificación

de las categorías verbales válida para toda

lengua.)

(Advirto que essa é uma classificação das

categorias verbais válida para toda língua).

Para clasificar las categorías verbales en

dos grupos hay que tener en cuenta dos

distinciones básicas: (I) el discurso en sí

(d), y su temática, la materia relatada (r).

Para classificar as categorias verbais em

dois grupos tem que levar em conta duas

distinções básicas: (I) o discurso em si (d)

e sua temática, a matéria relatada, (r).

La primera duplicidad, entonces, el

discurso - el hecho de decirlo- y el

contenido de lo que se dice -la materia

relatada.

A primeira duplicidade, o discurso – o fato

de dizê-lo – e o conteúdo do que se diz – a

matéria relatada.

(II) el hecho en sí (H), y cualquiera y cada

uno de los participantes (P), ya sea activo,

ya pasivo.

(II) o fato em si (F) e qualquer e cada um

dos participantes (P), seja ativo ou

passivo.

“Por consiguiente se impone distinguir

cuatro elementos: un hecho relatado (Hr),

un hecho de discurso (Hd) [...]

“Consequentemente impõe-se distinguir

quatro elementos: um fato relatado (Fr),

um fato do discurso (Fd) [...]

Por ejemplo: “Yo ayer fui al cine”. Si yo

digo que ayer fui al cine, en el hecho

relatado el tiempo es pasado, mientras que

en el hecho de decirlo el tiempo es

presente. Se plantea una discordancia

temporal.

Por exemplo? “Eu fui ontem ao cinema”.

Se eu digo que ontem fui ao cinema, no

fato relatado o tempo é passado, enquanto

que o fato de dizê-lo o tempo é presente.

Estabelece-se uma discordância temporal.

[...] un participante del hecho relatado (Pr)

y un participante en el hecho discursivo

(Pd).

[...] um participante do fato relatado (Pr) e

um participante no fato discursivo (Pd).

Puede ser que coincidan o que no

coincidan. En el caso del cine el

participante coincidía, pero podría ser que

no -como en el caso de Tonin. En el caso:

“No es que lo piense yo, pero Tonin me ha

dicho que tú eres un ...”. Esta posición en

la enunciación siempre es complicada,

Pode ser que coincidam ou que não. No

caso do cinema, o participante coincidia,

mas poderia ser que não, como no caso de

Tonin. No caso: “Não que eu pense, mas

Tonin me falou que você é um...”. Esta

posição na enunciação sempre é

complicada, porque não se distingue bem

26

porque no se distingue bien entre el sujeto

del relato del sujeto del discurso. Los

emisarios en la época antigua, y clásica

pagaban con su cabeza las malas noticias

que transmitían. Esto, por ejemplo, es

patente en Antígona.

entre o sujeito do relato do sujeito do

discurso. Os emissários, nas épocas antiga

e clássica, pagavam com sua cabeça as

más noticias que transmitiam. Isto, por

exemplo, é patente em Antígona.

Una cita más: Mais uma citação:

Todo verbo se refiere a un hecho relatado.

[...] Así los designadores como los

conectadores pueden caracterizar al hecho

relatado (enunciado) y/o a sus

participantes remitiendo o no al hecho

discursivo (enunciación) o a sus

participantes. Las categorías que

impliquen una tal referencia se llamarán

conmutadores; los que carezcan de ella,

no-conmutadores (pág. 313).

Todo verbo se refere a um fato relatado.

[...] Assim como os conectores, os

designadores podem caracterizar o fato

relatado (enunciado) e/ou seus

participantes remitindo ou não ao fato

discursivo (enunciação) ou a seus

participantes. As categorias que

implicarem tal referência são chamadas de

SHIFTERS e os que carecerem dela,

NONSHIFTERS (pág. 313).

En esta cita queda claro que conmutador

es lo que hace pasar del enunciado a la

enunciación, lo que funciona como llave

que permite cambiar de enunciado a

enunciación y viceversa.

Nesta citação fica claro que shifter é o que

faz passar do enunciado para a enunciação,

o que funciona como chave que permite

mudar de enunciado a enunciação e vice-

versa.

Última cita de Jakobson: Última citação de Jakobson:

Teniendo en cuenta estas dicotomías

básicas podrá definirse cualquier categoría

verbal genérica (pág. 313).

Tendo em conta essas dicotomias básicas,

poderá se definir qualquer categoria verbal

genérica (pág. 313).

Jakobson propone que cualquier categoría

verbal (genéricamente hablando) tendrá

esta dicotomía básica, y también estas

formas de construirse las relaciones entre

enunciado y enunciación.

Jakobson propõe que qualquer categoria

verbal (genericamente falando) terá esta

dicotomia básica e também estas formas

de construir as relações entre enunciado e

enunciação.

Ésta es, entonces, la estructura del

lenguaje. Después de haber pasado por la

Esta é, então, a estrutura da linguagem.

Depois de ter passado pela topologia, pela

27

topología, por la teoría de los grafos,

hemos llegado por fin a la lingüística, que

es la última referencia al contexto de

nuestro trabajo sobre el grafo del deseo.

teoria dos grafos, chegamos enfim na

linguística que é a última referência ao

contexto do nosso trabalho sobre o grafo

do desejo.

Y ahora, si ésta es la estructura del

lenguaje (una dicotomía fundamental entre

código y mensaje, entre enunciado y

enunciación, entre significante y

significado), y sostenemos -con Lacan-

que el inconsciente está estructurado como

un lenguaje, ¿qué tipo de sujeto podemos

concebirle entonces? (en esta pregunta

estoy parafraseando a Lacan).

E agora, se esta é a estrutura da linguagem

(uma dicotomia fundamental entre o

código e mensagem, entre enunciado e

enunciação, entre significante e

significado), e sustentamos – com Lacan –

que o inconsciente está estruturado como

uma linguagem, que tipo de sujeito

podemos conceber então? (nesta pergunta

estou parafraseando Lacan).

En “Subversión del sujeto...”, Lacan

contesta su pregunta así:

Em “Subversión del sujeto...”, Lacan

responde sua pergunta assim:

Puede intentarse aquí, por un prurito de

método, partir de la definición

estrictamente lingüística del yo [je] como

significante: en la que no es nada sino el

shifter o indicativo que en el sujeto del

enunciado designa al sujeto en cuanto que

habla actualmente (pág. 779).

Pode tentar-se aqui, por um zelo de

método, partir da definição estritamente

linguística do Eu [je] como significante:

onde ele não é nada além do shifter ou

indicativo que, no sujeito da enunciado,

designa o sujeito enquanto que ele fala

naquele momento (pág. 779).

Vale decir -para nosotros-, en la

enunciación. Lacan sostiene que si el

inconsciente está estructurado como un

lenguaje, y nos preguntamos por el sujeto

del inconsciente, por “prurito de método”

lo primero que tendríamos que pensar es si

no será el mismo sujeto que el sujeto de la

estructura del lenguaje, el “je” para el caso

del francés.

Vale dizer, para nós, na enunciação. Lacan

sustenta que se o inconsciente está

estruturado como uma linguagem e nos

perguntamos pelo sujeito do inconsciente

por “zelo de método”, a primeira coisa que

teríamos que pensar é se não será o mesmo

sujeito que o sujeito da estrutura da

linguagem, o “je” para o caso do francês.

La vez pasada uno de ustedes se acercó al

final para preguntarme por qué no había

Da última vez, um de vocês se aproximou

de mim no final do encontro para me

28

utilizado la oposición moi-je para hablar

de la división del sujeto, ya que,

justamente, era la forma en que Lacan lo

trabajaba - y que consideraba entonces que

se me había escapado una buena

herramienta de trabajo-. Yo le contesté que

aunque justamente tenía previsto trabajarla

hoy, no lo había hecho porque,

básicamente, ése es un error: la división

del sujeto no es la oposición moi-je; eso

sería quedarse en psicoanálisis

absolutamente pegados a la lingüística.

perguntar por que não tinha utilizado a

oposição moi-je para falar da divisão do

sujeito, já que, justamente, essa era a

forma como Lacan trabalhava isso –

considerava ter perdido uma boa

ferramenta de trabalho –. Eu lhe respondi

que embora tivesse previsto justamente

trabalha-la hoje, não o fiz porque,

basicamente, isso é um erro: a divisão do

sujeito não é a oposição moi-je, isso seria

ficar, em psicanálise, absolutamente

colados na linguística.

Lacan distingue “je”, el conmutador, del

sujeto del inconsciente, diciendo:

Lacan distingue “je”, o shifter, do sujeito

do inconsciente, dizendo:

Es decir que designa al sujeto de la

enunciación, pero que no lo significa (pág.

779).

O que quer dizer que designa o sujeito da

enunciação, mas que não o significa (pág.

779).

El shifter designa al sujeto de la

enunciación, pero no lo significa; y ahí

está el problema: que, aunque la partícula

“je" designe al sujeto de la enunciación,

no nos dice qué es. Para decirlo de una

manera más intuitiva: localizarnos en una

partícula de lo que decimos, por ejemplo

en el lugar del “je” - no nos contesta la

pregunta ¿que soy?

O shifter designa o sujeito da enunciação,

mas não o significa; e aí esta o problema:

que ainda que a partícula “je” designe o

sujeito da enunciação, não nos diz o que é.

Para falar de uma forma mais intuitiva:

localizar-nos em uma partícula do que

dizemos, por exemplo, no lugar do “je” -

não responde a pergunta: o que sou?

Como resulta evidente por el hecho de que

todo significante del sujeto de la

enunciación puede faltar en el enunciado,

aparte de que los hay que difieren del yo

[je], [...] (pág. 779).

Como fica evidente pelo fato de que todo

significante do sujeito da enunciação pode

faltar no enunciado além de haver os que

diferem do Eu [je], [...] (pág. 779).

Es claro que el sujeto que habla en el

inconsciente no puede ser localizado en el

É claro que o sujeito que diz no

inconsciente não pode ser localizado no je;

29

je; hay infinidad de frases en las que el je

ni siquiera está. Es, por ejemplo, el caso de

“Tonín me ha dicho...”. Moi-je no es una

oposición que nos permite oponer

yo(moi)-sujeto del inconsciente ($).

Quienes no poseemos el francés como

lengua materna tendemos a tomar la

oposición moi-sujeto del inconsciente, con

los dos términos del francés moi-je, pero

esto es incorrecto. Designarlo mediante la

letra S tachada, indica con claridad la

incorrección de elegir al “je" como la

partícula para el sujeto del inconsciente.

tem infinidade de frases nas quais o je nem

sequer está. É o caso de “Tonín me

falou...”, por exemplo. Moi-je não é uma

oposição que nos permite opor eu (moi) –

sujeito do inconsciente ($). Nós, que não

temos o francês como língua materna,

podemos pensar que é possível fazer a

oposição moi-sujeito do inconsciente, com

os dois termos do francês moi-je, mas isso

é incorreto. Designá-lo mediante a letra S

tachada, indica claramente a incorreção de

escolher o "je" como a partícula para o

sujeito do inconsciente.

Lacan avanza y, dado que no es el “je " ,

va a proponer cual podría ser la partícula

que, en el código que es el francés,

indicaría la marca del sujeto del

inconsciente.

Lacan avança e, uma vez que não é o "je",

irá propor qual poderia ser a partícula que,

no código que é o francês, indicaria a

marca do sujeito inconsciente.

Pensamos por ejemplo haber reconocido al

sujeto de la enunciación en el significante

que es el ne francés que los gramáticos

llaman ne expletivo, término en el que se

anuncia ya la opinión increíble de algunos

entre los mejores que consideran su forma

como entregada al capricho (pág. 779).

Pensamos, por exemplo, ter reconhecido o

sujeito da enunciação no significante que é

o ne francês que os gramáticos chamam de

ne expletivo, término no qual se anuncia a

incrível opinião de alguns entre os

melhores que consideram sua forma como

entregue ao capricho (pág. 779).

En francés la negación tiene estructura

doble, por ejemplo “ne pas", “ne guere",

“ne rien". La partícula negativa - a

diferencia de lo que creería un hablante del

castellano- no es el “ne", tan próximo al

“no”, sino la segunda: pas, guere, rien.

Existe toda una serie de expresiones que,

conteniendo el “ne”, son afirmativas; es el

Em francês a negação tem estrutura dupla,

por exemplo, “ne pas”, “ne guere”, “ne

rien”. A partícula negativa –

diferentemente do que acredita um falante

do castelhano e do português – não é o

“ne”, tão próximo ao “no” em castelhano

ou “não” em português, mas a segunda:

pas, guere, rien. Existe toda uma série de

30

caso que nos interesa. Para decir

correctamente algunas frases afirmativas

en francés se debe introducir en ella el

“ne". Un ejemplo es: “ll craint que je ne

sois trop jeune”, quiere decir: “Él teme

que yo sea demasiado joven”. Ahí está el

ne expletivo funcionando. Se trata de una

categoría gramatical cuya definición es:

función gramaticalmente necesaria a la

frase pero semánticamente innecesaria. Ni

niega ni cambia el sentido; no hace del

afirmativo un negativo ni del negativo un

afirmativo.

expressões contendo o "ne" que são

afirmativas, é o caso que nos interessa.

Para dizer corretamente algumas frases

afirmativas em francês deve-se introduzir

nelas o “ne”. Exemplo: “ll craint que je

ne sois trop jeune”, quer dizer: “Él teme

que yo sea demasiado joven” em

castelhano e “Ele teme que eu seja muito

jovem” em português. Ai está o ne

expletivo funcionando. Trata-se de uma

categoria gramatical cuja definição é:

função gramaticalmente necessária à frase,

mas semanticamente desnecessária. Nem

nega, nem muda o sentido, não faz do

afirmativo um negativo, nem do negativo

um afirmativo.

Entonces, si es que hay una partícula en el

código francés que designa al su jeto del

inconsciente, Lacan dice que es por

ejemplo el ne expletivo.

Então, se tem uma partícula no código

francês que designa o sujeito do

inconsciente, Lacan diz que é, por

exemplo, o ne expletivo.

El problema es que en castellano no

tenemos la función de esa partícula; por lo

tanto no podremos dar el mismo ejemplo.

O problema é que em castelhano e em

português não existe essa função para essa

partícula, portanto, não se pode dar o

mesmo exemplo.

Vamos a hacer ahora una distinción que es

clave. Nosotros, con el ne, estamos

localizando al sujeto del inconsciente en el

código, estamos detectando la marca del

sujeto del inconsciente en el lenguaje. Pero

lenguaje no es lo mismo que discurso; y en

la clínica, el sujeto que nos importa es el

del discurso, el sujeto particular.

Clínicamente hablando, entonces, esta

Vamos fazer uma distinção que é chave.

Nós, com o ne, estamos localizando o

sujeito do inconsciente no código, estamos

detectando a marca do sujeito do

inconsciente na linguagem. Mas

linguagem não é o mesmo que discurso, e

na clínica o sujeito que nos importa é o do

discurso, o sujeito particular. Então,

clinicamente falando, este sinal do sujeito

31

señal del sujeto del inconsciente no es la

que buscamos en un análisis. En un

análisis se trata del sujeto localizado en un

discurso particular. Para decirlo en

términos de Jakobson: el sujeto del

inconsciente en la experiencia analítica se

localiza en el mensaje, no en el código.

do inconsciente não é o que procuramos

numa análise. Numa análise trata-se do

sujeito localizado em um discurso

particular. Para dizê-lo em termos de

Jakobson: o sujeito do inconsciente, na

experiência analítica, localiza-se na

mensagem e não no código.

Pero Lacan cree que se puede localizar una

huella, un rastro del sujeto del

inconsciente en la estructura del lenguaje.

Para el castellano la cuestión es compleja.

Aunque tenemos esas frases de doble

negación en las que nunca queda claro si

es sí o si es no. Ésas son las marcas que

hay en nuestro código, en el idioma

castellano, en el saber de una lengua, del

sujeto del inconsciente, las dobles

negaciones.

Mas Lacan crê que se pode localizar um

sinal, um rastro do sujeito do inconsciente

na estrutura da linguagem. Para o

castelhano a questão é complexa. Ainda

que tenhamos essas frases de dupla

negação nas quais nunca fica claro se é

sim ou se é não. Essas são as marcas que

há no código, no idioma castelhano, no

saber de uma língua, do sujeito do

inconsciente, as duplas negações.

Una cita más de Lacan: Mais uma citação de Lacan:

A saber, la manera justa de contestar a la

pregunta: ¿Quién habla? Cuando se trata

del sujeto del inconsciente. Pues esta

respuesta no podría venir de él, si él no

sabe lo que dice, ni siquiera que habla,

como la experiencia del análisis entera nos

lo enseña (pág. 780).

Isto é, a maneira justa de responder à

pergunta: Quem diz? Quando se trata do

sujeito do inconsciente. Pois esta resposta

não poderia vir dele, se ele não sabe o que

diz, nem sequer que fala, como a

experiência de toda a análise nos ensina

(pág. 780).

Más interesante que el hecho de que el

sujeto dice otra cosa que lo que dice, es el

hecho de que, a veces, lo que el sujeto dice

y su verdad no le parecen a él mismo ser

un dicho. Éste es el descubrimiento

freudiano. Por ejemplo, un síntoma, un

dolor; ahí es donde se dice: donde

Mais interessante que o fato de que sujeito

diz algo diferente do que disse, é o fato de

que, às vezes, o que o sujeito diz e sua

verdade não parecem a ele mesmo ser um

dizer. Este é o descobrimento freudiano.

Por exemplo: um sintoma, uma dor; aí é

onde se diz, onde justamente não acredita

32

justamente no se cree que se está diciendo.

No es el otro yo, un “Te digo que te quiero

pero hay algo en mí que te odia”, sino que

el mensaje, el mío, se produce en aquello

donde yo ni siquiera registro que es un

mensaje.

que está dizendo. Não é o outro eu, um

“Digo que te amo, mas tem algo em mim

que te odeia”, e sim que a mensagem, a

minha, se produz naquilo onde eu nem

sequer registro que é uma mensagem.

¿Quién habla?, entonces, no es algo que se

le pueda preguntar al sujeto, porque a

veces aun cuando habla, ni siquiera sabe

que está hablando.

Quem fala? Então, não é algo que se possa

perguntar ao sujeito, porque às vezes ainda

quando fala, nem sequer sabe que está

falando.

Por lo cual el lugar del inter-dicto, que es

lo intra-dicho de un entre-dos-sujetos, es el

mismo donde se divide la transparencia

del sujeto clásico para pasar a los efectos

de fading que especifican al sujeto

freudiano con su ocultación por un

significante cada vez más puro: que estos

efectos nos llevan a los confines donde

lapsus y chiste en su colusión se

confunden, o incluso donde la elisión es

hasta tal punto la más alusiva para reducir

a su reducto a la presencia que se asombra

uno de que la caza del Dasein no la haya

aprovechado más (pág. 780).

Portanto, o lugar do inter-dito, que é o

intra-dito de um entre-dois-sujeitos, é o

mesmo onde se divide a transparência do

sujeito clássico para passar aos efeitos de

fading que especificam o sujeito freudiano

com sua ocultação por um significante

cada vez mais puro: que esses efeitos nos

levam aos confins, onde lapso e chiste em

seu conluio se confundem ou mesmo onde

a elisão é até tal ponto a mais alusiva para

reduzir a seu reduto a presença que

surpreende alguém do que a caça do

Dasein não a tenha aproveitado mais (pág.

780).

No quisiera que pierdan de vista la función

que Lacan le asigna al “entre”, al “inter”:

“lo inter-dicto es lo intra-dicho de un

entre-dos-sujetos”.

Não gostaria que vocês perdessem de vista

a função que Lacan atribui ao “entre” e ao

“inter”: “o inter-dito é o intra-dito de um

entre-dois-sujeitos”.

Ahora, lo que es necesario aceptar es que

el sujeto no sabe que está hablando; no tan

sólo que dice otra cosa que lo que quiere

decir. Sino que, a partir de algún otro, se

puede establecer la existencia de un

Agora, o que é necessário aceitar é que o

sujeito não sabe que esta falando, não

apenas que diz outra coisa daquilo que

queria dizer, mas que, a partir de outra

pessoa, pode-se estabelecer a existência de

33

mensaje que el sujeto no sabe que existe

como tal. Empieza a aparecer un problema

que no está previsto por el lingüista, que es

el problema que introduce Lacan: que hay

que tomar en cuenta la duplicidad de

“entre-dos-sujetos”; ni de uno ni de otro,

el problema es entre ambos. No se puede

afirmar ya que el emisor emite el mensaje

que el receptor recibe. ¿De quien es el

mensaje?

uma mensagem que o sujeito não sabe que

existe como tal. Começa a aparecer um

problema que não está previsto pelo

linguista, que é o problema que introduz

Lacan: tem que levar em conta a

duplicidade de “entre-dois-sujeitos”, nem

de um nem de outro, o problema é entre

ambos. Já não se pode afirmar, já que o

emissor emite a mensagem que o receptor

recebe. De quem é a mensagem?

Si no es de uno ni del otro, queda en el

medio, en el entre, en el inter; no hay que

perder de vista, entonces, que queda

oculto, “fading” (desvanecimiento,

eclipse), ya que solamente se lo vería si

estuviese de un lado o del otro. “Que

especifican al sujeto freudiano con su

ocultación por un significante cada vez

más puro” dice Lacan; queriendo decir que

cuanto más claro se hace, cuanto más puro

es el significante que lo determina, más

oscura se hace la determinación misma,

porque el sujeto caerá entre ese

significante y otro significante.

Se não é de um nem de outro, fica no

meio, no entre, no inter, não tem que

perder de vista o que fica oculto, "fading"

(desvanecimento, eclipse), já que somente

o veria se estivesse de um lado ou do

outro. “Que especificam o sujeito

freudiano com sua ocultação por um

significante cada vez mais puro” disse

Lacan, querendo dizer que quanto mais

claro se faz, quanto mais puro é o

significante que o determina, mais escura

se faz a determinação porque o sujeito

cairá entre esse e outro significante.

...que estos efectos nos llevan a los

confines donde lapsus y chiste en su

colusión se confunden o incluso donde

[este es un caso interesantísimo] la elisión

es hasta tal punto la más alusiva para

reducir a su reducto a la presencia (pág.

780).

... que esses efeitos nos levem aos confins

onde lapso e chiste em seu conluio se

confundem ou mesmo onde [este é um

caso interessantíssimo] a elisão é até tal

ponto a mais alusiva para reduzir a seu

reduto à presença (pág. 780).

Es la elisión, un término ausente, la forma

más alusiva de la presencia. Si captamos

É a elisão, a forma mais alusiva da

presença, um termo ausente. Se captarmos

34

lo que Lacan nos está diciendo, tendremos

ya aquí la respuesta al ejemplo freudiano

de Más allá del principio del placer. Freud

se equivocó; el “Fort-da” no contradice al

principio del placer, sino que el nino

reproducia este caso, precisamente: la

presencia de la madre era indicada vía la

elisión. Es un efecto de la estructura, no un

más allá del principio del placer. Lo que

pasa es que Freud no contaba con esta

teoría del lenguaje. Freud se pregunta:

¿cómo puede ser que con el término

“ausencia” (fort), y “tirar el objeto”,

alguien juegue a recuperar a su madre

ausente? Si tirar el objeto produce

displacer, entonces quiere decir que es

algo que está en contra del principio del

placer. Nosotros, hoy, deberíamos advertir

que no, que es placentero; pero lo que pasa

es que es paradójico: la mejor forma de

tener la presencia a nivel simbólico es

mediante, la elisión, la ausencia.

o que Lacan está nos dizendo, teremos a

resposta ao exemplo freudiano de Além do

princípio do prazer. Freud equivocou-se, o

"Fort-da" não contradiz o princípio do

prazer e sim que, precisamente, a criança

reproduzia esse caso. A presença da mãe

era indicada via elisão. É um efeito da

estrutura, não um além do princípio do

prazer. O que acontece é que Freud não

contava com esta teoria da linguagem.

Freud se pergunta: Como pode ser que

com o termo “ausência” (fort), e “jogar o

objeto”, alguém brinque de recuperar a sua

mãe ausente? Se jogar o objeto produz

desprazer, então quer dizer que é algo que

está contra o princípio do prazer. Hoje,

deveríamos advertir que não, que é

agradável, mas o que acontece é que é

paradoxal. A melhor forma de ter a

presença a nível simbólico é mediante a

elisão, a ausência.

Para que no sea vana nuestra caza, la de

los analistas, necesitamos reducirlo lodo a

la función de corte en el discurso; el más

fuerte es el que forma una barra entre el

significante y el significado. Aquí se

sorprende al sujeto que nos interesa,

puesto que al anudarse en la significación,

lo tenemos ya alojado bajo la égida del

preconsciente. [...] Este corte en la cadena

significante es lo único que verifica la

estructura del sujeto como discontinuidad

Para que não seja vã nossa caçada, a dos

analistas, necessitamos reduzi tudo à

função de corte no discurso, o mais forte é

o que forma uma barreira entre o

significante e o significado. Aqui, o sujeito

que nos interessa é surpreendido, sendo

que ao se amarrar na significação o

teremos situado sob a égide do pré-

consciente. [...] Este corte na cadeia

significante é o único que verifica a

estrutura do sujeito como descontinuidade

35

en lo real (pág. 780). no real (pág. 780).

Si el sujeto tiene una localización real, ésta

será la discontinuidad. Todo aquello que

de lo real sea homologable al corte, se

constituirá como oferta para la

localización del sujeto, como por ejemplo

los agujeros del cuerpo. Si algo hace

discontinuidad en lo real, es ahí que se

localizara el sujeto. ¿Cuál será la

discontinuidad fundamental que como real

será la localización del sujeto? Es el corte

en la cadena significante, que es la forma

fundamental que adquiere el “inter”, el

“entre”.

Se o sujeito tem uma localização real esta

será a descontinuidade. Tudo aquilo que

do real seja homologável ao corte, se

constituirá como oferta para a localização

do sujeito, como por exemplo, os orifícios

do corpo. Se algo faz descontinuidade no

real, é aí que se localizará o sujeito. Qual

será a descontinuidade fundamental que

como real será a localização do sujeito? É

o corte na cadeia significante que é a

forma fundamental que adquire o “inter” e

o “entre”.

Les propongo denominar a este sujeto del

“entre”, “sujeto intervalar”, un Sujeto

localizado en el intervalo. Para poder

responder respecto de la estructura del

sujeto como sujeto intervalar vamos a

trabajar con otra oposición, que consiste

en una tríada: necesidad- demanda-deseo.

Para saber cómo debemos concebir al

sujeto -si es que se localiza en el intervalo-

, el dispositivo conceptual que hay que

manejar es la oposición tríadica necesidad-

demanda-deseo.

Proponho a vocês denominar este sujeito

do “entre”, “sujeito intervalar”, um sujeito

localizado no intervalo. Para poder

responder a respeito da estrutura do sujeito

como sujeito intervalar, vamos trabalhar

com outra oposição que consiste em uma

tríade: necessidade-demanda-desejo. Para

saber como devemos conceber o sujeito –

se é que se localiza no intervalo – o

dispositivo conceitual que devemos

manejar é a oposição triádica necessidade-

demanda-desejo.

Si la localización del sujeto es tercera (ni

aquí ni allá sino en el medio), necesitamos,

entonces, un dispositivo que nos rescate de

las duplicidades de la lengua -y este

dispositivo será necesidad-demanda-deseo.

Se a localização do sujeito é terceira (nem

aqui nem ali e sim no meio), precisamos

então de um dispositivo que nos resgate

das duplicidades da língua, e este

dispositivo será: necessidade-demanda-

desejo.

Tomemos el escrito de Lacan “La Vejamos o escrito de Lacan “La

36

significación del falo” (Escritos 2, 1987).

Recordemos que habíamos dicho ya que

de las dos fórmulas que teníamos sobre la

relación estructural entre lenguaje-

inconsciente, Lacan planteaba que el

significante era la noción fundamental.

Empiezo por el párrafo donde Lacan

anuncia que va a examinar los efectos de

la presencia del significante. Dice:

significación del falo” (Escritos 2, 1987).

Lembremos que já havíamos falado que,

das duas fórmulas que tínhamos sobre a

relação estrutural entre linguagem-

inconsciente, Lacan argumentava que o

significante era a noção fundamental.

Começo pelo parágrafo onde Lacan

anuncia que vai examinar os efeitos da

presença do significante. Ele diz:

Son en primer lugar, los de una desviación

de las necesidades del hombre, por el

hecho de que habla, en el sentido de que

en la medida en que sus necesidades están

sujetas a la demanda, retornan a él

alienadas. Esto no es el efecto su

dependencia real […] sino de la

conformación significante como tal, del

hecho de que su mensaje es emitido desde

el lugar del Otro (pág. 670).

São em primeiro lugar, os de um desvio

das necessidades do homem, pelo fato de

que diz, no sentido de que na medida em

que suas necessidades estão sujeitas à

demanda, retornam a ele alienadas. Isso

não é o efeito da sua dependência real [...]

e sim da conformação significante como

tal, do fato de que sua mensagem é emitida

desde o lugar do Outro (pág. 670).

Noten que he corregido la palabra

“enajenado” que se usa en la traducción

castellana por “alienado”. Es que, en este

punto, a Lacan le importa especialmente la

alusión al “Otro”, y esa alusión está en la

palabra “alienado” y no en “enajenado” -

que es “fuera de sí” más que “en el Otro”.

Lo que Lacan nos propone aquí es que hay

un efecto de desviación de las necesidades

del hombre a causa de que el sujeto habla,

que es un sujeto hablante.

Notem que corrigi a palavra “enajenado”

que se usa na tradução castelhana por

“alienado”. É que, neste ponto, para Lacan

importa especialmente a alusão ao

“Outro”, e essa alusão esta na palavra

“alienado” e não em “enajenado” que é

“fora de si” mais do que “no Outro”. O

que Lacan nos propõe é que tem um efeito

de desvio das necessidades do homem

pelo fato de que o sujeito fala; por ser um

sujeito falante.

Vamos a poner en relación, entonces, la

noción de demanda con la noción de

necesidad. Es a consecuencia de la

Vamos colocar em relação à noção de

demanda com a noção de necessidade. É a

consequência da demanda que se produz

37

demanda que se produce una desviación

de la necesidad; es decir, la necesidad se

aliena. Producir una inversión es un efecto

estructural de toda demanda. Para

nosotros, la noción de demanda implica

que uno recibe su propio mensaje desde el

Otro -y no que el emisor codifica y emite

el mensaje que el receptor recibe y

descodifica.

um desvio da necessidade, ou seja, a

necessidade se aliena. Produzir uma

inversão é um efeito estrutural de toda

demanda. Para nós, a noção de demanda

implica que alguém recebe sua própria

mensagem através do Outro e não que o

emissor codifica e emite a mensagem que

o receptor recebe e descodifica.

En rigor son dos las inversiones: una, el

sujeto recibe su propio mensaje desde el

Otro (vale decir, que el emisor es el

receptor y también que el verdadero

receptor es el emisor); y otra (que el grafo

del deseo permite estudiar), que el sujeto

recibe su propio mensaje desde el Otro en

forma invertida. Hoy nosotros estamos

trabajando solo con una de esas

inversiones. Esto conviene distinguirlo

bien para, en la clase próxima (capitulo 4)

poder trabajar la oposición neurosis-

psicosis.

A rigor são duas as inversões: uma, o

sujeito recebe sua própria mensagem a

partir do Outro (vale dizer que o emissor é

o receptor e também que o verdadeiro

receptor é o emissor), e outra (que o grafo

do desejo permite estudar), que o sujeito

recebe sua própria mensagem a partir do

Outro em forma invertida. Hoje nós

estamos trabalhando só com uma dessas

inversões. Isto convém diferenciar bem,

para na próxima aula (capítulo 4)

podermos trabalhar a oposição neurose-

psicose.

Justamente Lacan dice que si la necesidad

es determinada por la demanda, la

consecuencia es que la necesidad le

terminará por venir al sujeto del Otro; se

aliena. La necesidad no es más del sujeto,

es del Otro, lo que obviamente la

desnaturaliza en forma absoluta. Dice

además que esto no es efecto de una

dependencia real, sino de la presencia, en

el mundo humano, de la función

significante; es decir, esta dialéctica no

Lacan afirma justamente que, se a

necessidade é determinada pela demanda,

a consequência é que a necessidade vai

acabar vindo ao sujeito do Outro, se

aliena. A necessidade não é mais do

sujeito, é do Outro, o que obviamente a

desnaturaliza em forma absoluta. Diz

ainda que isto não é efeito de uma

dependência real e sim da presença da

função significante no mundo humano, ou

seja, essa dialética não está causada pela

38

está causada por la pre maturación del

nacimiento.

prematuração do nascimento.

Lo que así se encuentra alienado (lo que

deja de ser del sujeto y pasa a ser del

Otro), constituye una “Urverdrangung”

[represión originaria] por no poder, por

hipótesis, articularse en la demanda; pero

que reaparece, en retoño, en lo que en el

hombre se presenta como deseo (pág.

670).

O que assim se torna alienado [o que deixa

de ser do sujeito e passa a ser do Outro],

constitui uma “Urverdrangüng” [recalque

originário] por não poder, hipoteticamente,

articular-se na demanda, mas que

reaparece, num rebento, no que no homem

se apresenta como desejo (pág. 670).

Ya iremos viendo que Lacan localiza en

varios lugares distintos a la noción

freudiana de represión originaria; éste es

uno de esos lugares, pero no es el único.

Vamos ver que Lacan localiza em vários

lugares diferentes a noção freudiana de

recalque originário, esse é um desses

lugares, mas não é o único.

La represión originaria es la forma

psicoanalítica de hablar de una pérdida sin

retorno; en este caso una pura pérdida que

se coherentiza con un retoño de deseo. Si

fuese “represión propiamente dicha” el

retorno de la falta en la necesidad,

retornaría como otra necesidad. Aquí no

retorna, sino que tiene un retoño: el deseo.

O recalque originário é a forma

psicanalítica de falar de uma perda sem

retorno, nesse caso uma perda que se torna

coerente com um rebento do desejo. Se

fosse “recalque propriamente dito” o

retorno da falta na necessidade, retornaria

como outra necessidade. Aqui não retorna

e sim tem um rebento: o desejo.

Lacan nos propone sustituir, en

psicoanálisis, la noción de frustración por

la de demanda; porque si reducimos la

demanda a la frustración perderemos

características que son estructurantes de la

demanda. En cambio, nos invita a pensar

la frustración como un efecto de la

demanda.

Lacan nos propõe, na psicanálise,

substituir a noção de frustração por

demanda, porque se reduzirmos a

demanda à frustração perderemos

características que são estruturantes da

demanda. Em troca, nos convida a pensar

a frustração como um efeito da demanda.

La demanda en sí se refiere a otra cosa que

a las satisfacciones que reclama. Es

demanda de una presencia o de una

A demanda em si se refere à outra coisa

que às satisfações que reivindica. É

demanda de uma presença ou de uma

39

ausencia. Cosa que manifiesta la relación

primordial con la madre, por estar preñada

de ese Otro que ha de situarse más acá de

las necesidades que puede colmar (pág.

670).

ausência. Coisa que manifesta a relação

primordial com a mãe por estar prenhe

desse Outro que há de se situar aquém das

necessidades que pode suprir (pág. 670).

La función de la madre no radica en estar

preñada del niño, eso es una hembra; una

madre es quien está preñada del Otro para

un determinado niño. El niño percibe que

el lenguaje todo está “en” la madre. Es por

este motivo que a ese lenguaje se lo llama

“lengua materna”, ya que se la supone “de

la madre”. Lo que el niño demanda al

Otro, en relación con sus necesidades, no

es la satisfacción sino la presencia de ese

Otro que ha de situarse más acá de las

necesidades que puede colmar.

A função da mãe não consiste em estar

prenhe da criança, isso é uma fêmea, uma

mãe é quem está prenhe do Outro para

uma determinada criança. A criança

percebe que toda a linguagem está “na”

mãe. É por esse motivo que essa

linguagem é chamada de “língua

materna”, já que a supõe “da mãe”. O que

a criança demanda ao Outro, em relação a

suas necessidades, não é a satisfação e sim

a presença desse Outro que há de se situar

aquém das necessidades que pode suprir.

Consideren este esquema: Considerem este esquema:

Esquema n° 3 Esquema n° 3

Les propongo localizar en un borde el

“más acá” de la relación necesidad-

demanda y en el otro el “más allá” de la

relación demanda-deseo. En el sector de la

demanda quisiera ahora agregar la palabra

“poder”; porque Lacan dice claramente

que esta demanda del niño a la madre -en

tanto Otro- es pedido de presencia y no de

satisfacciones de la necesidad, dado que

ella encarna el lugar desde el que se

pueden colmar las necesidades, aunque no

Proponho localizar numa borda “aquém”

da relação necessidade-demanda e na outra

o “além” da relação demanda-desejo. No

setor da demanda, queiram agora

acrescentar a palavra “poder”, porque

Lacan diz claramente que esta demanda da

criança à mãe – como Outro – é pedido de

presença, e não de satisfações da

necessidade, dado que ela encarna o lugar

a partir do qual se possam preencher as

necessidades, ainda que não mediante o

40

mediante el objeto de la necesidad. objeto da necessidade.

El Otro cuenta con el privilegio de

satisfacer las necesidades; es decir, cuenta

con el poder de privar a las necesidades de

lo único con que se satisfacen, con la

presencia y no con el objeto. En la

represión originaria, entonces, es donde

Lacan va a localizar la función de la

privación; y nos dirá entonces que aquel

que ocupe ese lugar de la demanda - el

lugar del Otro- va a tener el privilegio de

poder privar a la necesidad de lo único con

que se satisface. ¿Qué satisface las

necesidades del hombre, entonces, si es

que ya está presente la función de la

demanda? La presencia de aquel que

encarna el lugar del poder, el Otro (A).

O Outro conta com o privilégio de

satisfazer às necessidades, ou seja, conta

com o poder de privar às necessidades do

único com que se satisfaz, com a presença

e não com o objeto. Lacan vai localizar a

função da privação no recalque originário,

e nos dirá que aquele que ocupe esse lugar

da demanda – o lugar do Outro – vai ter o

privilégio de poder privar a necessidade do

único com que se satisfazem. Então, o que

satisfaz as necessidades do homem se já

esta presente a função da demanda? A

presença daquele que encarna o lugar do

poder, o Outro (A).

Vamos a intercalar, para hacer más claro

el argumento, una cita de “Subversión del

sujeto...”, conocidísima, que dice:

Para ficar mais claro o argumento, vamos

intercalar uma citação conhecidíssima de “

Subversión del sujeto...” que diz:

El dicho primero decreta, legisla,

“aforiza”, es oráculo, confiere al otro real

su oscura autoridad (pág. 787).

O dito primeiro decreta, legisla, “aforiza”,

é oráculo, confere ao outro real sua

obscura autoridade (pág. 787).

La madre, otro real, tiene esa oscura

autoridad, ese poder tan sólo a causa de

haber enunciado el dicho primero. ¿Por

qué para la madre -dado que encarna el

lugar del Otro del lenguaje- enunciar tan

sólo el dicho primero le posibilita encarnar

el lugar del poder? Se trata del problema

de la lengua llamada materna.

A mãe, outro real, tem essa autoridade

obscura, esse poder, somente por ter

enunciado o dito primeiro. Por que para a

mãe – sendo que encarna o lugar do Outro

da linguagem – apenas enunciar o dito

primeiro lhe possibilita encarnar o lugar

do poder? Trata-se do problema da língua

chamada materna.

¿Qué es la lengua materna? Es una lengua

que se aprende antes de las letras; una

O que é a língua materna? É uma língua

que se aprende antes das letras, uma língua

41

lengua que se aprende exclusivamente por

palabras. Y, justamente, queda claro que

para el niño enfrentado al dicho primero,

el orden simbólico está dentro de ése que

habla. ¿Hay alguna limitación concebible

a ese poder del Otro que posee el

lenguaje? Desde esta perspectiva no. Se

trata de su omnipotencia.

que se aprende exclusivamente por

palavras. E fica claro que para a criança

enfrentada ao dito primeiro, a ordem

simbólica estará dentro desse que fala. Há

alguma limitação concebível a esse poder

do Outro que possui a linguagem? A

partir dessa perspectiva não. Trata-se de

sua onipotência.

Un ejemplo: las mamás aquí presentes

recordarán los ataques de furia de sus

hijos, entre los dos y tres años, porque

ellas no entendían a sus niños cuando ellos

les contaban o decían algo. Ellos no dan

chance: si no se les entendió de inmediato

sobreviene un ataque de furia o de

angustia. ¿Y qué es esa furia? No es el

hecho de que se sienten incomprendidos,

sino que empiezan a reconocer que la

lengua no es de la madre, que -digamos- la

madre no entiende la lengua materna. Eso

es lo que los desespera. La incomprensión

de la madre ataca para el niño la

omnipotencia, la omnipotencia cuyo

ataque más lo angustia, la omnipotencia

del otro, no la suya.

Um exemplo: as mamães aqui presentes

recordam os ataques de fúria de seus

filhos, entre os dois e três anos, porque

elas não entendiam seus filhos quando eles

falavam ou diziam algo. Eles não dão

chance, se vocês não os entendem de

imediato logo vem um ataque de fúria ou

de angustia. E o que é essa fúria? Não é o

fato de que se sentem incompreendidos e

sim que começam a reconhecer que a

língua não é da mãe, que – digamos – a

mãe não entende a língua materna. É isso

o que os desespera. Para a criança, a

incompreensão da mãe ataca a

onipotência, a onipotência cujo ataque

mais o angustia, a onipotência do outro,

não a sua.

Sin embargo, los casos de hospitalismo en

los que habiendo alguien que tiene la

lengua, la nurse por ejemplo, el niño

igualmente se deja morir, nos dicen que no

alcanza con que haya alguien que encarne

el lugar del Otro; esta lógica dual:

necesidad - demanda no alcanza. De modo

que nuestro recorrido es aún parcial; estoy

Contudo, os casos de hospitalismo nos que

havendo alguém que tenha a língua, a

nurse, por exemplo, a criança igualmente

se deixa morrer, nos dizem que não

alcança com que haja alguém que encarne

o lugar do Outro, não alcança essa lógica

dual necessidade-demanda. De modo que

o nosso percurso ainda é parcial, estou

42

abriendo camino para la introducción del

deseo del Otro.

abrindo caminho para a introdução do

desejo do Outro.

Entonces, ¿qué poder tiene el Otro? El

poder de privar a la necesidad de lo único

con que se satisface, que es la presencia de

ese mismo Otro.

Então, que poder tem o Outro? O poder de

privar à necessidade do único com que se

satisfaz, que é a presença desse mesmo

Outro.

Ese privilegio del Otro dibuja la forma

radical del don, de lo que no tiene – lo que

se llama “su amor” .

Esse privilégio do Outro, desenha a forma

radical do dom, do que não tem - o que se

chama “seu amor”.

Es así como la demanda anula (aufhebt) la

particularidad de todo lo que puede ser

concedido transmutándolo en prueba de

amor (pág. 670).

É assim como a demanda anula (aufhebt) a

particularidade de tudo o que pode ser

concedido transmutando-o em prova de

amor (pág. 670).

Lacan sostiene que la demanda anula - y

propone la palabra alemana "aufhebt".

Ésta es la palabra de la dialéctica

hegeliana y es también la palabra que

utiliza Freud para el levantamiento de la

represión. Es aquí -dice Lacan-, en esta

relación, en este punto, donde se produce

la dialéctica hegeliana del aufhebt.

Significa “conservación con cambio” y

“cambio con conservación” .

Lacan sustenta que a demanda anula - e

propõe a palavra alemã “aufhebt”. Está é

a palavra da dialética hegeliana e é

também a palavra que Freud utiliza para o

levantamento do recalque. É aqui – disse

Lacan –, nesta relação, neste ponto, onde

se produz a dialética hegeliana do aufhebt.

Significa “conservação com mudança” e

“mudança com conservação”.

Con la demanda, por lo tanto, se produce

esta función de levantamiento-anulación

de lo que se da a nivel de la necesidad -y

que Lacan llama particularidad- y la

sustitución por una prueba de amor. Pero

también dice que la particularidad además

de ser anulada es conservada.

Portanto, com a demanda se produz esta

função de levantamento-anulação do que

se dá no nível da necessidade – e que

Lacan chama particularidade – e a

substituição por uma prova de amor. Mas

também diz que a particularidade além de

ser anulada é conservada.

¿Cuál es esa particularidad a nivel de la

especie? El objeto específico que satisface

la necesidad para esa especie. Para el bebé

Qual é essa particularidade no nível da

espécie? O objeto específico que satisfaz a

necessidade para essa espécie. Para o

43

recién nacido la leche de vaca no satisface

su necesidad; por eso un bebé recién

nacido así alimentado acaba por morir.

bebê recém-nascido o leite de vaca não

satisfaz sua necessidade, por isso um bebê

recém-nascido assim alimentado acaba

morrendo.

Lo que Lacan plantea es que por la

presencia de la demanda, esta

particularidad se anula, y en su lugar el

sujeto pasa a demandar una prueba de

amor. Y esa prueba de amor será la

presencia del Otro.

O que Lacan coloca é que pela presença da

demanda esta particularidade se anula e

em seu lugar o sujeito passa a demandar

uma prova de amor. Esta prova de amor

será a presença do Outro.

Hay pues una necesidad [lógica] de que la

particularidad así abolida [por la demanda]

reaparezca más allá de la demanda (pág.

671).

Há, pois uma necessidade [lógica] de que

a particularidade assim abolida [pela

demanda] reapareça além da demanda

(pág. 671).

Noten el tipo de uso que hace Lacan del

término de necesidad: lo que reaparece es

un necesario lógico. Lacan se pregunta:

¿pero cuál es ese necesario lógico? Es que

lo que el significante produjo como

pérdida al nivel de la particularidad de la

especie, reaparezca como particularidad

del sujeto. El campo del deseo es una

recuperación, más allá de la demanda, de

lo que la demanda -el significante

articulado- produce como pérdida en el

campo de la necesidad. Gracias a que el

significante hace perder algo en el mundo

de la especie humana, en el famoso “ser

dado natural” , es que se produce ese

retoño que es el deseo.

Notem o tipo de uso que faz Lacan do

termo de necessidade: o que reaparece é

um necessário lógico. Lacan se pergunta:

Mas qual é esse necessário lógico? É que,

o que o significante produziu como perda

ao nível da particularidade da espécie,

reapareça como particularidade do sujeito.

O campo do desejo é uma recuperação,

além da demanda, do que a demanda – o

significante articulado – produz como

perda no campo da necessidade. Graças ao

significante, que faz perder algo no mundo

da espécie humana – no famoso “ser dado

natural”– é que se produz esse rebento que

é o desejo.

Lacan destaca que la particularidad

perdida a nivel de la especie se recupera

como particularidad al nivel del sujeto

Lacan destaca que a particularidade

perdida ao nível da espécie se recupera

como particularidade no nível do sujeito

44

como deseo. como desejo.

Reaparece efectivamente allá, pero

conservando la estructura que esconde lo

incondicionado de la demanda de amor

(pág. 671).

Reaparece efetivamente lá, mas

conservado a estrutura que esconde o

incondicionado da demanda de amor (pág.

671).

Lo incondicionado de la prueba de amor

es, precisamente, la huella del efecto de la

demanda sobre la particularidad de la

necesidad, dado que no hay, por

estructura, ninguna necesidad que por sí

misma sea condición para la prueba de

amor; ni siquiera la “necesidad de vivir” es

necesariamente una condición, un límite al

amor. Es por esto que toda demanda es

demanda de amor, más allá de lo que en

tanto contenido se pide. Así la

particularidad de la necesidad reaparecerá

con la propiedad de condición absoluta del

deseo.

O incondicionado da prova de amor é,

precisamente, o traço do efeito da

demanda sobre a particularidade da

necessidade, dado que não tem, por

estrutura, nenhuma necessidade que por si

mesma seja condição para a prova de

amor, nem mesmo a “necessidade de

viver” é necessariamente uma condição,

um limite ao amor. É por isso que toda

demanda é demanda de amor, além do que

em todo conteúdo se pede. Assim, a

particularidade da necessidade reaparecerá

com a propriedade de condição absoluta

do desejo.

Renversement que no es una simple

negación de la negación [aquí ya se separa

de Hegel], el poder de la pura pérdida

surge del residuo de una obliteración. A lo

incondicionado de la demanda, el deseo

sustituye la condición Absoluta (pág. 671).

Renversement que não é uma simples

negação da negação [aqui já se separa de

Hegel], o poder da pura perda surge do

resíduo de uma obliteração. Ao

incondicionado da demanda, o desejo

substitui a condição Absoluta (pág. 671).

Por efecto del significante y su

funcionamiento en la demanda se produce

una pérdida radical (abolición, dice Lacan)

a nivel de las necesidades.

Pelo efeito do significante e seu

funcionamento na demanda se produz uma

perda radical (abolição, disse Lacan) no

nível das necessidades.

¿Qué es aquello que de la necesidad es

abolido? Lacan lo caracteriza como el

objeto particular. Para la especie humana,

la leche materna. Y en lugar de eso el

O que é aquilo que é abolido da

necessidade? Lacan o caracteriza como

objeto particular. Para a espécie humana, o

leite materno. E no lugar disso o sujeito

45

sujeto demanda la presencia de la madre,

pero la necesidad, ya ahora lógica, de la

particularidad, reaparece, pero

conservando las huellas de la demanda. ¿Y

cuáles son esas huellas? Precisamente, la

marca que deja la demanda, y ¿qué es lo

más propio de la demanda? Su

incondicionalidad. Ningún hambre,

entonces, será límite al amor. Y, a su vez,

la posición del sujeto respecto de este Otro

es incondicional. La demanda es

incondicional respecto de la necesidad y el

Sujeto respecto del Otro.

demanda a presença da mãe, mas a

necessidade da particularidade, agora

lógica, reaparece, mas conservando os

traços da demanda. Quais são esses traços?

Precisamente, é a marca que deixa a

demanda. E o que é o mais próprio da

demanda? Sua incondicionalidade.

Nenhuma fome será limite ao amor. E, por

sua vez, a posição do sujeito a respeito

deste Outro é incondicional. A demanda é

incondicional a respeito da necessidade e o

Sujeito a respeito do Outro.

Pero el deseo, como retoño del objeto de la

necesidad perdido, no recibe condiciones

del lado de la demanda. Si la demanda

implica lo incondicionado respecto de la

necesidad, el deseo será condición

absoluta respecto de la de manda, por las

huellas que la incondicionalidad dejan en

el retoño del objeto abolido de la

necesidad.

Mas o desejo, como rebento do objeto da

necessidade perdida, não recebe condições

do lado da demanda. Se a demanda

implica o incondicionado respeito da

necessidade, o desejo será condição

absoluta a respeito da demanda, pelos

traços deixados pela incondicionalidade

nos rebentos do objeto abolido da

necessidade.

La figura del Otro que aquí se esboza es

omnipotente; es que el Otro de la demanda

es omnipotente justamente por la

estructura misma de la demanda. Es un

Otro totalmente incondicionado respecto

de la necesidad.

A figura do Outro que aqui se esboça é

onipotente, é que o Outro da demanda é

onipotente justamente pela mesma

estrutura da demanda. É um Outro

totalmente diferente incondicionado a

respeito da necessidade.

Avanzamos un poco más. Tomemos ahora

esta cita:

Avancemos um pouco mais. Tomemos

agora esta citação:

A lo incondicionado de la demanda, el

deseo sustituye la condición “absoluta”:

esa condición desanuda en efecto, lo que

No incondicionado da demanda o desejo

substitui a condição “absoluta”: Essa

condição desata, efetivamente, o que a

46

la prueba de amor tiene de rebelde a la

satisfacción de una necesidad. Así el deseo

no es el apetito de la satisfacción, ni la

demanda de amor, sino la diferencia que

resulta de la sustracción del primero a la

segunda, el fenómeno mismo de su

escisión (Spaltung) (pág. 671).

prova do amor tem de rebelde à satisfação

de uma necessidade. Assim o desejo não é

mais o apetite da satisfação nem a

demanda do amor, mas a diferença que

resulta da subtração do primeiro à

segunda, o fenômeno de sua fenda

(Spaltung) (pág. 671).

El deseo, como tal, implica el residuo que

queda de la diferencia estructural entre

necesidad y demanda. La necesidad menos

la demanda deja un resto. Obviamente,

estamos sosteniendo que hay algo de la

necesidad que no puede pasar a la

demanda; y ese resto es lo que llamamos

deseo.

O desejo, como tal, implica o resíduo que

sobra da diferença estrutural entre

necessidade e demanda. A necessidade

menos a demanda deixa um resto.

Obviamente, estamos sustentando que tem

algo da necessidade que não pode passar à

demanda e esse resto é o que chamamos

de desejo.

Podemos extraer una gran ventaja de

concebir al deseo como resto: vernos

llevados a la teoría del objeto a cómo

resto.

Podemos extrair uma grande vantagem

concebendo o desejo como resto: ser

levados à teoria do objeto a como resto.

¿Qué es aquello de la necesidad que no

pasa al deseo? La particularidad. Para

nosotros, los seres humanos, no importa lo

particular de lo requerido para la

satisfacción de la necesidad, lo sustituimos

por pruebas de amor. Pero este “no

importa”, que es lo que se pierde,

implicará un resto al que llamaremos

deseo.

O que é aquilo da necessidade que não

passa ao desejo? A particularidade. Para

nós, os seres humanos, não importa a

particularidade do requerido para a

satisfação da necessidade, o substituímos

por provas de amor. Mas este “não

importa”, que é o que se perde, implicará

um resto ao que chamaremos de desejo.

¿Cuáles son, entonces, en función de esta

relación, las propiedades que le asignamos

al deseo? Particularidad y condición

absoluta. La particularidad abolida a nivel

del “todos” de la especie se recupera,

Então, em função dessa relação, quais são

as propriedades que associamos ao desejo?

Particularidade e condição absoluta. A

particularidade abolida no nível do “todos”

da espécie se recupera, justamente, na

47

justamente, en la diferencia de cada uno

(lo particular del sujeto). Noten que son

particularidades distintas, bien distintas;

ambas son particularidades, pero no son la

misma particularidad; hay una

transformación fundamental.

diferença de cada um (o particular do

sujeito). Notem que são particularidades

distintas, bem distintas, ambas são

particularidades, mas não são a mesma

particularidade, tem uma transformação

fundamental.

La definición de incondicional del

diccionario francés (Lacan piensa en

francés, por eso busco las referencias en

francés) es: absoluto e imperativo. Así se

puede decir entonces que el superyó es un

efecto de la estructura. Es el poder del

Otro de la demanda el que luego, con el

“envés”, se pasa del lado del sujeto y se

vuelve contra él vía el superyó.

A definição de incondicional no dicionário

francês (Lacan pensa em francês, por isso

busco as referências no francês) é:

absoluto e imperativo. Assim pode-se

dizer então que o supereu é um efeito da

estrutura. É o poder do Outro da demanda

o que logo, no “avesso”, passa do lado do

sujeito e se volta contra ele via supereu.

¿Y que es condición? Definámosla en

relación con causa. .Como diferenciar una

de otra? Se tiende a pensar que la causa es

un término positivo y la condición un

término negativo; pero el asunto es más

complejo. Veamos:

E o que é condição? Vamos defini-la em

relação à causa. Como diferenciar uma da

outra? Tende-se a pensar que a causa é um

termo positivo e a condição um termo

negativo, mas o assunto é mais complexo.

Vejamos:

• Condición necesaria: Que A sea

condición necesaria de B quiere decir que

no puede haber B si no hay antes A, y que

puede haber A sin que haya B.

• Condição necessária: Que A seja

condição necessária de B quer dizer que

não pode haver B se não houver antes A, e

que pode haver A sem que haja B.

• Condición suficiente: Siempre que haya

A habrá B. Es un caso distinto. Y dentro

de las condiciones suficientes están la

condición absoluta y la condición relativa.

• Condição suficiente: Sempre que houver

A haverá B. É um caso diferente. E dentro

das condições suficientes estão a condição

absoluta e a condição relativa.

• Condición suficiente relativa (es cuando

el primer término implica el segundo, una

vez presupuestas las otras condiciones):

Para que haya B debe, siempre, haber

• Condição suficiente relativa (é quando o

primeiro termo implica o segundo, uma

vez pressupostas as outras condições):

Para que tenha B deve, sempre, haver

48

habido antes A y las otras condiciones

requeridas.

antes A e as outras condições requeridas.

• Condición suficiente absoluta (es cuando

un primer término implica por sí solo al

segundo): Para que haya B basta con que

haya habido antes A.

• Condição suficiente absoluta (é quando

um primeiro termo implica por si só o

segundo): Para que haja B basta que antes

haja A.

Entonces, sostener que la posición

particular del sujeto es una condición

absoluta quiere decir que es una condición

suficiente no relativa; esto es: no es

relativa a la demanda. ¿Por qué Lacan no

utilizó el mismo término,

“incondicionalidad”, para demanda y para

deseo? Porque mientras que la

incondicionalidad lleva a la omnipotencia,

la condición absoluta no.

Então, sustentar que a posição particular

do sujeito é uma condição absoluta quer

dizer que é uma condição suficiente não

relativa, isto é: não é relativa à demanda.

Porque Lacan não utilizou o mesmo termo,

"incondicionalidade”, para demanda e para

desejo? Porque enquanto a

incondicionalidade leva à onipotência, a

condição absoluta não.

Para la posición de un sujeto, en tanto que

sujeto deseante, el resto entre la necesidad

y la demanda será un resto particular; ésa

es su forma peculiar de recuperar la

particularidad abolida a nivel de la

necesidad. Y a su vez, todo lo que le

suceda como sujeto deseante -a nivel de la

causa- tendrá la forma de la condición

absoluta respecto de la demanda.

Para a posição de um sujeito, enquanto

sujeito desejante, o resto entre a

necessidade e a demanda será um resto

particular. Essa é a sua forma peculiar de

recuperar a particularidade abolida no

nível da necessidade. Por sua vez, tudo o

que acontecer a ele como sujeito desejante

– no nível da causa – terá a forma da

condição absoluta a respeito da demanda.

Para terminar les propongo que pensemos

a la relación necesidad-demanda-deseo

como una estructura de banda de Möbius -

que es equivalente al ocho interior que yo

proponía como la estructura fundamental

del grafo.

Para terminar proponho a vocês que

pensemos na relação necessidade-

demanda-desejo como uma estrutura de

banda de Möbius – que é equivalente ao

oito interior que eu propunha como a

estrutura fundamental do grafo.

Lo que estoy tratando de mostrarles es que

el grafo del deseo es del deseo, justamente,

O que estou tratando de mostrar a vocês é

que o grafo do desejo é do desejo,

49

porque se funda en la oposición necesidad-

demanda-deseo. Decir “estructura del

sujeto intervalar” es lo mismo que decir

“sujeto del deseo”.

justamente, porque se fundamenta na

oposição necessidade-demanda-desejo.

Dizer “estrutura do sujeito intervalar” é o

mesmo que dizer “sujeito do desejo”.

Vamos a plantear mediante secciones del

grafo, las relaciones descritas: sujeto

mítico de la necesidad, atravesamiento de

la demanda, del Otro (A) de la demanda,

su más allá, el deseo. Escribo demanda

como cadena significante; el punto de

intersección será el del Otro de la

demanda; y, por último, nos queda el más

allá de la demanda, eso que de la

necesidad no va a entrar en la demanda, el

campo del deseo.

Vamos colocar mediante secções do grafo,

as relações descritas: sujeito mítico da

necessidade, atravessamento da demanda,

do Outro (A) da demanda, seu além, o

desejo. Escrevo demanda como cadeia

significante, o ponto de intersecção será o

do Outro da demanda e, por último, resta o

além da demanda, isso que da necessidade

não vai entrar na demanda, o campo do

desejo.

Esquema nº 4 Esquema nº 4

Si Lacan afirma que “el deseo esta

articulado, pero no es articularle”, lo hace

sobre la base de este cuadro de relaciones

entre necesidad-demanda-deseo. El resto

entre la necesidad y la demanda implica ya

la articulación de una cadena del Otro, por

ejemplo, el dicho primero; pero no será

articulable porque, justamente, es aquello

que de la necesidad no entra en la

demanda. Y aquello que de la necesidad

no entre en la demanda es el objeto

Se Lacan afirma que “o desejo esta

articulado, mas não é articulável”, o faz

baseado neste quadro de relações entre

necessidade-demanda-desejo. O resto

entre a necessidade e a demanda implica já

na articulação de uma cadeia do Outro, por

exemplo, o dito primeiro, mas não será

articulável justamente porque é aquilo que

da necessidade não entre na demanda. E

aquilo que da necessidade não entre na

demanda é o objeto particular, ou seja, que

50

particular, o sea que el resto articulado

pero no articulable será el objeto, el objeto

a causa del deseo, abolido de la necesidad

por el atravesamiento de la demanda pero

siendo siempre un más allá de ella.

o resto articulado, mas não articulável,

será o objeto, o objeto a causa do desejo,

abolido da necessidade pelo

atravessamento da demanda, mas sendo

sempre um além dela.

Bueno, precisamente el deseo, corno más

allá de la demanda, es lo que nos va a

permitir pensar, en la próxima clase, la

oposición neurosis-psicosis.

Bom, precisamente o desejo, como além

da demanda, é o que vai nos permitir

pensar na próxima aula, a oposição

neurose-psicose.

En el esquema siguiente propongo volcar

las principales articulaciones trabajadas

sobre la base de la tripartición: necesidad-

demanda-deseo.

No esquema seguinte proponho colocar as

principais articulações trabalhadas na base

da tripartição: necessidade-demanda-

desejo.

Esquema n° 5 Esquema n° 5

Dada la relación abolición-retoño, de un

lado y del otro de la demanda, se hace

evidente que la relación tiene una

estructura de banda de Möbius, en la que

cobra su debido alcance la noción de

“renversement". Tomaremos a la demanda

como la torsión misma, y en relación con

ella localizaremos el más acá y el más allá.

Dada à relação abolição-rebento, de um

lado e do outro da demanda, se faz

evidente que a relação tem uma estrutura

de banda de Möbius, na qual cobra seu

devido alcance a noção de

“renversement”. Tomaremos a demanda

como a própria torção, e em relação a ela

localizaremos o aquém e o além.

51

Esquema n° 6 Esquema n° 6

En próximas clases haremos el trabajo de

sustituir en el trío: necesidad-demanda-

deseo, el término “necesidad” por ser

mítico, por el de “goce” del cual la clínica

psicoanalítica da perfecta cuenta de que no

tiene nada de mítico.

Em aulas futuras faremos o trabalho de

substituir no trio necessidade-demanda-

desejo, o termo “necessidade”, por ser

mítico, pelo termo “gozo” do qual a

clínica psicanalítica entende perfeitamente

que não possui nada de mítico.

Tradução do capítulo 04 do livro El Grafo del Deseo

CUATRO Quatro

EL GRAFO 1 O GRAFO 1

El tema de la clase de hoy es el grafo 1. O tema da aula de hoje é o grafo 1.

Esquema n° 1 Esquema n° 1

Para trabajarlo en su máximo alcance

vamos a articularlo a la siguiente cita de

Para trabalha-lo em seu máximo alcance

vamos articular a seguinte citação de

52

“Subversión del sujeto...” con la que

terminamos la clase pasada:

"Subversión del sujeto..." com a que

terminamos na última aula:

[...] que el deseo sea articulado, es

precisamente la razón de que no sea

articulable (pág. 784).

[...] que o desejo seja articulado é

precisamente a razão de que não seja

articulável (pág. 784).

El hecho de que el deseo no sea articulable

puede resultarnos claro porque ya

trabajamos con la idea de que el deseo es

el efecto de la demanda que, ella misma,

justamente, no puede recapturar.

Necesariamente el deseo implicará

siempre un campo más allá de cualquier

demanda. Lo que justifica que en la

práctica analítica con neuróticos no puede

no haber deseo. Lacan es sumamente sutil

cuando plantea que en materia de rechazo

del deseo, lo más lejos que un sujeto

neurótico pode llegar es a “desear no

desear”. Se llama deseo, entonces, al

efecto estructural de la demanda sobre la

necesidad, que resulta no ser recuperable

por la demanda, pero que ya conviene

distinguirlo de cualquier “yo deseo x

objeto”.

O fato de que o desejo não seja articulável

pode ficar claro para nós porque já

trabalhamos com a ideia de que o desejo é

o efeito da demanda que, justamente ela

mesma, não pode recapturar.

Necessariamente, o desejo implicará

sempre um campo além de qualquer

demanda. O que justifica que na prática

analítica com neuróticos não podem não

ter desejo. Lacan é sumamente sutil

quando coloca que em matéria de rechaço

do desejo, o mais longe que um sujeito

neurótico pode chegar é a "desejar não

desejar". Chama-se desejo, então, ao

efeito estrutural da demanda sobre a

necessidade, que resulta não ser

recuperável pela demanda, mas que já

convém distingui-lo de qualquer "eu

desejo x objeto".

No debemos perder de vista que en el

álgebra lacaniana, “demanda” se escribe

con una D mayúscula, y “deseo” con una d

minúscula. Y si ustedes se fijan en la

lógica con la que Lacan distribuye

mayúsculas y minúsculas (al menos al

comienzo de su enseñanza), se encontrarán

con una sorpresa. Lacan destina las

mayúsculas para lo simbólico y las

Não devemos perder de vista que na

álgebra lacaniana, "demanda" se escreve

com um D maiúsculo, e "desejo" com um

d minúsculo. E se vocês se fixarem na

lógica com a que Lacan distribui

maiúsculas e minúsculas (ao menos no

começo de seu ensino), irão se deparar

com uma surpresa. Lacan destina as

maiúsculas para o símbolo e as minúsculas

53

minúsculas para lo imaginario (cf. el

esquema Lambda del Seminario 2).

para o imaginário (cf. o esquema Lambda

do Seminário 2).

¿Lacan, al escribir deseo con d, nos quiere

decir que es imaginario? No se trata de

eso. El problema es que con un sistema de

dos elementos (mayúsculas- minúsculas)

no se puede dar cuenta, uno a uno, de uno

de tres (imaginario-real- simbólico). De

cualquier modo, es muy interesante que a

pesar de eso Lacan haya elegido una D

para la demanda y d para deseo. Es que el

deseo, en tanto deseo, si bien es un efecto

de lo simbólico, no puede ser reabsorbido

en lo simbólico. Si ustedes quieren, a esta

d del deseo hay que leerla así: ya no se

reintroducirá en el seno de la demanda -de

lo simbólico-.

Lacan, ao escrever desejo com d, que nos

dizer que é imaginário? Não se trada disso.

O problema é que com um sistema de dois

elementos (maiúsculas - minúsculas) não

se pode dar conta, um a um, de um de três

(imaginário-real-simbólico). De qualquer

modo, é muito interessante que apesar

disso Lacan tenha elegido um D para a

demanda e um d para desejo. É que o

desejo, em quanto desejo, se bem é um

efeito do simbólico, não pode ser

reabsorvido no simbólico. Se vocês

querem a esta d do desejo tem que lê-la

assim: já não se reintroduzirá no seio da

demanda - do simbólico -.

¿Y qué quiere decir que el deseo esté

articulado? Éste es un problema que atañe

directamente a la estructura de la práctica

análítica. Si Lacan tan sólo hubiese

afirmado que el deseo no es articuíabie,

deberíamos concluir, automáticamente,

que el deseo, siendo lo inefable, es igual

para todos. El deseo, entonces, sería lo

inefable aquello que nadie puede decir.

Pero el deseo no es eso. El deseo está

articulado para cada sujeto en particular, lo

que implica vía la diferencia particular,

volver a encontrar la función del

significante en la demanda.

E o que quer dizer que o desejo esteja

articulado? Este é um problema que

corresponde diretamente à estrutura da

prática analítica. Se Lacan somente tivesse

afirmado que o desejo não é articulável,

deveríamos concluir, automaticamente,

que o desejo, sendo ele inefável, é igual

para todos. O desejo, então, seria o

inefável aquele que ninguém pode dizer.

Mas o desejo não é isso. O desejo está

articulado para cada sujeito em particular,

o que implica via a diferença particular,

voltar a encontrar a função do significante

na demanda.

Aquí me parece que conviene plantear las

cosas de este modo: el deseo está

Aqui me parece que convém colocar as

coisas deste modo: o desejo está articulado

54

articulado en el discurso del Otro (que es

lo que aparece en el Seminario 9. “La

Identificación”, donde Lacan trabaja la

cuestión con la estructura de los dos toros

abrazados). Que el deseo esté articulado en

el discurso del Otro, indica claramente que

el deseo de cada sujeto está determinado

por la demanda del Otro. Una versión un

poco más intuitiva de este mismo

problema es la frase: “Esto es lo que me

dices, pero ¿qué es lo que quieres?”.

Donde “¿qué es lo que quieres?” no deja

de estar determinado por “lo que dices”.

Presten atención a que digo “determinado”

y no “causado”.

no discurso do Outro (que é o que aparece

no Seminário 9. "A identificação", onde

Lacan trabalha a questão com a estrutura

dos dois touros abraçados). Que o desejo

esteja articulado no discurso do Outro,

indica claramente que o desejo de cada

sujeito está determinado pela demanda do

Outro. Uma versão um pouco mais

intuitiva deste mesmo problema é a frase:

"Isto é o que me diz, mas o que é que você

quer?". Onde "o que é que você quer?" não

deixa de estar determinado por "o que me

diz". Prestem atenção ao que digo

"determinado" e não "causado".

Todo sujeto se plantea, respecto del Otro,

una disyunción entre lo que le dice y ese

margen que no entra en lo que el Otro dice

-que es la pregunta por su deseo-. Pero no

duden de que la pregunta particular (es

decir, articulada) que, cada uno de

nosotros tiene respecto del deseo del Otro

depende de la determinación recibida de la

demanda del Otro.

Todo sujeito se coloca, a respeito do

Outro, uma disjunção entre o que lhe diz e

essa margem que não entra no que o Outro

diz - que é a pergunta por seu desejo -.

Mas não duvidem de que a pergunta

particular (ou seja, articulada) que, cada

um de nós tem a respeito do desejo do

Outro depende da determinação recebida

da demanda do Outro.

Con esto no quiero decir que no exista una

relación profunda entre el deseo del sujeto

y el deseo del Otro (que sería de

causación), pero sí quiero decir que entre

el deseo del sujeto y la demanda del Otro

existe una relación bien íntima (que es de

determinación).

Com isto não quero dizer que não exista

uma relação profunda entre o desejo do

sujeito e o desejo do Outro (que seria de

causação), mas sim quero dizer que entre o

desejo do sujeito e a demanda do Outro

existe uma relação bem íntima (que é de

determinação).

Analicemos esta cita de “Subversión del

sujeto...” que antecede en el escrito al

Analisemos esta citação de "Subversión

del sujeto..." que antecede no escrito ao

55

grafo l: grafo I:

Pues lejos de ceder a una reducción

logicizante, allí donde se trata del deseo,

encontramos en su irreductibilidad a la

demanda el resorte mismo de lo que

impide reducirlo a la necesidad. Para

decirlo elípticamente: que el deseo sea

articulado es precisamente la razón de que

no sea articulable. Entendemos: en el

discurso que le conviene, ético y no

psicológico (pág. 784).

Pois longe de ceder a uma redução

logicizante, ali onde se trata do desejo,

encontramos em sua irredutibilidade à

demanda a mola que impede reduzi-lo à

necessidade. Para dize-lo elipticamente:

que o desejo seja articulado é precisamente

a razão de que não seja articulável.

Entendemos: no discurso que lhe convém,

ético e não psicológico (pág. 784).

Que el deseo sea articulado quiere decir,

justamente, que no es articulable -y no

pierdan de vista que todo esto está dicho

elípticamente por Lacan-. El decir elíptico

es una de las figuras del arte de la retórica,

del arte, del bien decir: es un decir que

busca el énfasis y que se basa en un cierto

no decir. El sujeto, entonces, en la

dirección de la cura, se aproxima a la vía

de su deseo, por ejemplo, mediante una vía

elíptica (que es una de las vías por las que

se puede resolver parcialmente lo

articulado pero no articulable).

Que o desejo seja articulado quer dizer,

justamente, que não é articulável - e não

percam de vista que tudo isso está dito

elipticamente por Lacan -. O dizer elíptico

é uma das figuras da arte da retórica, da

arte do bem dizer; é um dizer que busca a

ênfase e que se baseia em um certo dizer.

O sujeito, então, na direção da cura, se

aproxima à via de seu desejo, por

exemplo, mediante uma via elíptica (que é

uma das vias pelas quais se podem

resolver parcialmente o articulado mas não

o articulável).

El grafo 1 nos servirá aquí para presentar

el punto donde se sitúa el deseo en

relación con un sujeto definido en su

articulación significante. Noten que en el

grafo 1 (que Lacan mismo define como

topológico) el deseo no está. Ahora, ¿por

qué Lacan dice que ese grafo va a

servirnos para localizar el deseo?

O grafo 1 nos servirá aqui para apresentar

o ponto onde se situa o desejo em relação

com um sujeito definido em sua

articulação significante. Notem que o

grafo 1 (que Lacan mesmo define como

topológico) o desejo não está. Agora, por

que Lacan diz que esse grafo vai nos servir

para localizar o desejo?

En rigor, ni el grafo 1, ni el grafo 2, ni el Em rigor, nem o grafo 1, nem o grafo 2,

56

grafo 3 existen como tales: son partes de la

argumentación para dar cuenta del grafo

completo. Clínicamente hablando,

entonces, los grafos 1, 2 y 3 no existen:

son sólo artificios de la transmisión. Hasta

lo podríamos decir un poco más

radicalmente: son artificios didácticos que

Lacan inventa para, discursivamente, dar

cuenta de la estructura del grafo del deseo.

nem o grafo 3 existem como tais: são

partes da argumentação para dar conta do

grafo completo. Clinicamente falando,

então, os grafos 1, 2 e 3 não existem: são

apenas artifícios da transmissão. Até o

poderíamos dizer um pouco mais

radicalmente: são artifícios didáticos que

Lacan inventa para, discursivamente, dar

conta da estrutura do grafo do desejo.

Recuerden que dijimos ya que la virtud de

un grafo es decir todo lo que dice en

sincronía: y que si uno quisiese dar cuenta

de todo lo que el grafo dice en su sincronía

ocuparía horas y horas (ésa es la

diacronía). Pero para ir anclando lo que se

va diciendo, hacemos, cortes parciales en

el grafo completo, que son los grafos 1, 2

y 3. Del mismo modo que decimos -si

pensamos la estructuración edípica desde

el grafo del deseo- que en ella tampoco

nos encontramos con el Edipo 1, el Edipo

2 y el Edipo 3: que siempre, si hay Edipo,

es decir, si hay metáfora paterna, hay

Edipo / metáfora completa. Entonces, este

grafo es el comienzo de una

argumentación que será la vía de acceso al

grafo completo en el que Lacan recién

podrá localizar al deseo, al sujeto como

deseo.

Recordem que já falamos que a virtude de

um grafo é dizer tudo o que diz em

sincronia: e que se alguém quisesse dar

conta de tudo o que o grafo diz em sua

sincronia ocuparia horas e horas (essa é a

diacronia). Mas para ir ancorado o que vai

se dizendo, fazemos cortes parciais no

grafo completo, que são os grafos 1, 2 e 3.

Do mesmo modo que dizemos - se

pensamos a estruturação edípica a partir do

grafo do desejo - que nela tampouco nos

encontramos com o Édipo 1, o Édipo 2 e o

Édipo 3: que sempre, se tem Édipo, ou

seja, se tem metáfora paterna, tem Édipo /

metáfora completa. Então, este grafo é o

começo de uma argumentação que será a

via de acesso ao grafo completo no que

Lacan recém poderá localizar ao desejo, ao

sujeito como desejo.

Este grafo 1 Lacan lo llama “célula

elemental”.

Este grafo 1 Lacan o chama "célula

elementar"

He aquí lo que podría decirse que es su

célula elemental. [...] Se articula allí lo que

Aqui está o que poderia dizer que é sua

célula elementar. [...] Se articula ali o que

57

hemos llamado el punto de basta por el

cual el significante detiene el

deslizamiento, de otra manera indefinido,

de la significación (pág. 784).

chamamos o ponto de basta pelo qual o

significante detém o deslizamento, de

outra maneira indefinido, da significação

(pág. 784).

El grafo 1 es el que nos sirve para

plantear la función del punto de capitón o

de basta.

O grafo 1 é o que nos serve para colocar a

função do ponto de basta ou de estofo.

No se si conocen la estructura de lo que,

en tapicería, se llama punto de capitón. Es

un tipo de nudo que, a su vez, se llama

punto. Esto es altamente indicativo de la

función que tiene el punto en la frase: por

ejemplo: detener el deslizamiento -si no

indefinido- de la significación, dado que la

significación se caracteriza por remitir

siempre a otra significación. Lo que Lacan

dice, entonces, es eso: que la significación

remite a otra significación. No es que diga

que el significante remite a otro

significante; no siempre el significante

remite a otro significante, sólo a veces (en

las holofrases, por ejemplo, no lo hace).

Lo que sí pasa siempre es que la

significación remite a otra significación.

Y, precisamente, lo que detiene ese

deslizamiento es la función del punto. Pero

este punto, el punto final en la frase, en

rigor no alcanza para dar cuenta de esa

noción; es necesario apelar a la estructura

del punto del capitón, que es un punto pero

que tiene la estructura de un nudo muy

particular.

... Não sei se conhecem a estrutura do que,

em tapeçaria, se chama ponto de ponto de

capitonê. É um tipo de nó que, por sua

vez, se chama ponto. Isto é altamente

indicativo da função que tem o ponto na

frase, por exemplo: deter o deslizamento -

se não indefinido - da significação, dado

que a significação se caracteriza por

remeter sempre a outra significação. O que

Lacan diz, então, é isso: que a significação

remete a outra significação. Não é que

diga que o significante refere-se a outro

significante; não é sempre que outro

significante remete a outro significante, só

às vezes (nas holófrases, por exemplo, não

o faz). O que acontece sempre é que a

significação remete a outra significação. E,

precisamente, o que detém esse

deslizamento é a função do ponto. Mas

este ponto, é o ponto final na frase, a rigor

não alcança para dar conta dessa noção; é

necessário apelar à estrutura do ponto de

basta, que é um ponto, mas que tem a

estrutura de um nó muito particular.

Qué es el punto de capitón -o punto de O que é o ponto de basta - ou ponto de

58

capitoné o basta de acolchado? Es el punto

que permite que un a1mohadón, de una

dirnensión importante, no pierda su forma.

Para evitar que pierda la buena forma,

entonces, se le ponen botones de cada

lado, cosidos entre sí. El punto de capitón

une los nudos que unen los botones de

cada lado, haciendo un lazo continuo. No

se anudan sólo uno de un lado con otro del

otro lado, sino que se toman de a dos y, sin

cerrar el lazo que los une, se sigue hasta

otros dos, así hasta recorrer todos los

pares. Y esto porque si, por ejemplo, los

botones de abajo requieren más hilo (por

concentración del relleno del almohadón,

que tiende a engrosarlo), el hilo que sobra

arriba cede y la forma se sigue

conservando. Es un sistema que se utiliza

para anudar varios niveles, y esto ya nos

remite a la estructura que tiene el grafo del

deseo. Se trata de una estructura de nudo

que al menos implica la relación continua

de dos con dos. Su relación con la

estructura del lenguaje, tal como la

consideramos en la clase pasada, es

evidente.

capitonê ou ponto de estofo? É o ponto

que permite que uma almofada, de uma

dimensão importante, não perca sua forma.

Para evitar que perca a boa forma, então, é

colocado botões de cada lado, costurados

entre si. O ponto de basta une os nós que

unem os botões de cada lado, fazendo um

laço contínuo. Não se amarram só um de

um lado com outro do outro lado e sim que

se tomam de dois e, sem fechar o laço que

os une, segue até outros dois, assim até

percorrer todos os pares. E isto porque se,

por exemplo, os botões de baixo

requererem mais fio (por concentração do

recheio da almofada, que tende a engrossa-

lo), o fio que sobra acima cede e a forma

segue conservando. É um sistema que se

utiliza para amarrar vários níveis, e isto já

nos remete à estrutura que tem o grafo do

desejo. Trata-se de uma estrutura de nó

que ao menos implica a relação contínua

de dois com dois. Sua relação com a

estrutura da linguagem, tal como a

consideramos na classe passada, é

evidente.

En el contexto de la enseñanza de Lacan,

entonces, cuando está implicada la función

del punto, se trata del que tiene la

estructura de un punto de capitón. Digo

esto porque, habitualmente, se entiende de

una manera muy ingenua el cierre deja

sesión como un punto final. ¿Qué analista

No contexto do ensino de Lacan, então,

quando está implicada a função do ponto,

se trata do que tem a estrutura de um ponto

de basta. Digo isso porque, habitualmente,

se entende de uma maneira muito ingênua

o fechamento da sessão como um ponto

final. Que analista não sabe e mais ainda,

59

no sabe y más aún, qué paciente no sabe

que la mayor parte de los puntos finales de

la mayoría de las sesiones, en realidad no

son verdaderos puntos finales? Sólo

algunos producen el efecto de que las

cosas no sigan igual, sólo algunos son

verdaderos cortes.

que paciente não sabe que a maior parte

dos pontos finais da maioria das sessões,

na realidade não são verdadeiros pontos

finais? Só alguns produzem o efeito de que

as coisas não sigam igual, só alguns são

verdadeiros cortes.

Lacan le asignó siempre al Otro la función

de puntuar el discurso; es decir, que no lo

hace el propio sujeto que emite su mensaje

sino el Otro que lo recibe. Es lo que Lacan

llama, precisamente, “poder discrecional

del oyente”. Es por eso que decimos que

uno recibe su mensaje desde el Otro; no

porque uno no emita las palabras, sino

porque es Otro el que las puntúa. (Y

huelgan los ejemplos que muestran que

depende de cómo se puntúe una frase para

que su significación sea ésta o aquélla).

Pero, como recién decíamos, no cualquier

punto que el otro ponga a lo que yo digo

será necesariamente “una interpretación”.

Lacan atribuiu sempre ao Outro a função

de pontuar o discurso; ou seja, que não o

faz o próprio sujeito que emite sua

mensagem mas o Outro que a recebe. É o

que Lacan chama, precisamente, "poder

discricional do ouvinte". É por isso que

dizemos que alguém recebe sua mensagem

a partir do Outro, não porque alguém não

emita as palavras, mas porque é o Outro o

que as pontua. (E sobram os exemplos que

mostram que depende de como se pontue

uma frase para que sua significação seja

esta ou aquela). Mas, como recém

dizíamos, não é qualquer ponto que o

outro coloque ao que eu digo que será

necessariamente "uma interpretação".

En la célula elemental, Lacan nos propone

trabajar las nociones de diacronía y

sincronía. Diacronía:

Na célula elementar, Lacan nos propõe

trabalhar as noções de diacronia e

sincronia. Diacronia:

La función diacrónica de este punto de

basta debe encontrarse en la frase, en la

medida en que no cierra su significación

sino con su último término, ya que cada

término está anticipado en la construcción

de los otros, e inversamente sella su

sentido por su efecto retroactivo (pág.

A função diacrônica deste ponto de basta

deve encontrar-se na frase, na medida em

que não fecha sua significação, mas com

seu último termo, já que cada termo está

antecipado na construção dos outros, e

inversamente sela seu sentido por seu

efeito retroativo (pág. 787).

60

787).

Acá hay un problema en la traducción de

los Écrits al castellano. En el original no

dice “en la medida en que no ‘cierra’ su

significación”; el término que usa Lacan

es “boucle”, y si bien el diccionario

sostiene que el verbo “boucler" tan es

“cerrar”, no debemos perder de vista que

es “cerrar en forma de bucle”. Por

ejemplo, jamás se podría decir “cerrar una

puerta” mediante el empleo de este verbo.

Y para el vocablo “boucle" el diccionario

nos reserva: “dícese de los objetos en

forma de anillo, y por analogía, todo

aquello que se enrula en forma de ‘anillo”.

Lo que Lacan nos propone aquí,.entonces,

es que la significación, en la célula

elemental, se cierra tal como se cierra un

anillo.

Aqui tem um problema na tradução dos

Écrits ao espanhol. No original não diz "na

medida em que não 'fecha' sua

significação"; o termo que usa Lacan é

"boucle" e se bem o dicionário sustenta

que o verbo "boucler" tão é "fechar", não

devemos perder de vista que é "fechar em

forma de bucle". Por exemplo, jamais se

poderia dizer "fechar uma porta" mediante

o emprego deste verbo. E para o vocábulo

"boucle" o dicionário nos reserva: "disse

dos objetos em forma de anel, e por

analogia, tudo aquilo que se enrola em

forma de anel" O que Lacan nos propõe

aqui, então, é que a significação, na célula

elementar, se fecha tal como se fecha um

anel.

Lo otrro que Lacan nos propone es que la

temporalidad en juego es la de la

anticipación y la de la retroacción. Es la

retroacción, precisamente, la que cierra en

forma de un círculo. Toda la estructura es

la de un bucle. Aunque no hay que perder

de vista que la temporalidad en juego aquí

no es solamente la retroactiva (esa que

situamos en la función del punto en el

sentido de punto de capitón -que cierra el

deslizamiento de la significación-), sino

que está además el tiempo de la

anticipación.

O outro que Lacan nos propõe é que a

temporalidade em jogo é a da antecipação

e a da retração. É a retroação,

precisamente, a que fecha em forma de um

círculo. Toda a estrutura é a de um bucle.

Ainda que não tenha que perder de vista

que a temporalidade em jogo aqui não é

somente a retroativa (essa que situamos na

função do ponto no sentido do ponto de

basta - que fecha o deslizamento da

significação-), mas que está também o

tempo da antecipação.

En primer lugar debemos poder distinguir Em primeiro lugar devemos poder

61

esta anticipación de la anticipación

planteada, por ejemplo, en la lógica del

modelo óptico: la anticipación imaginaria.

distinguir esta antecipação da antecipação

colocada, por exemplo, na lógica do

modelo óptico: a antecipação imaginária.

La anticipación imaginaria es la totalidad,

la unidad que uno es capaz de ver en el

cuerpo del otro, pero que aún no es, como

tal, una unidad real en el cuerpo propio (y

es por eso que la imagen del otro es

seductora, cautivante). Es una anticipación

que nunca va a poder ser rectificada (ni

siquiera en un análisis orientado a la

reubicación del yo, porque el yo quéda

estructurado para siempre con esta falla

temporal, precisamente porque se

constituye por identificación).

A antecipação imaginária é a totalidade, a

unidade que alguém é capaz de ver no

corpo do outro, mas que ainda não é ,

como tal, uma unidade real no corpo

próprio (e é por isso que a imagem do

outro é sedutora, cativante). É uma

antecipação que nunca vai poder ser

retificada (nem sequer em uma análise

orientada à relocalização do eu, porque o

eu fica estruturado para sempre com esta

falha temporal, precisamente porque se

constitui por identificação).

Aquí, en cambio, se trata de que así

como el último término, entendido como

punto, como punto de capitón, tiene la

virtud de detener la significación, el

primer término tiene el poder de incidir

sobre los que vendrán.

Aqui, em troca, se trata de que assim como

o último termo, entendido como ponto,

como ponto de basta, tem a virtude de

deter a significação, o primeiro termo tem

o poder de incidir sobre os que virão.

(Ustedes pueden ir anudando esto al S

como significante amo: una vez que es

elegido el significante uno, ya no puede

venir cualquier cosa).

(Vocês podem ir amarrando isto ao S

como significante amo: uma vez que é

eleito o significante um, já não pode vir

qualquer coisa).

Para esta relación anticipación-retroacción,

que indica que nunca se puede dar cuenta

categóricamente del presente, Lacan

propone una interacción “sellada”. Y no

pierdan de vista que si bien “sellar”

implica cerrar (el deseo es finito, está

fundamentalmente cerrado), también

significa dejar una marca, un sello. No

Para esta relação antecipação-retroação,

que indica que nunca se pode dar conta

categoricamente do presente, Lacan

propõe uma interação "selada". E não

percam de vista que se bem "selar" implica

fechar (o desejo é finito, está

fundamentalmente fechado), também

significa deixar uma marca, um selo. Não

62

solamente “se cierra”, entonces, sino que

también queda la “marca”. La marca que

deja la demanda del Otro sobre el deseo

del sujeto, tal que éste queda articulado a

esas marcas.

somente "se fecha", então, mas que

também fica a "marca". A marca que deixa

a demanda do Outro sobre o desejo do

sujeito, tal que este fica articulado a essas

marcas.

Pasemos ahora a la dimensión sincrónica. Passemos agora à dimensão sincrônica.

Pero la estructura sincrónica está más

escondida, y es ella la que nos lleva al

origen. Es la metáfora en cuanto que ahí se

constituye la atribución primera, la que

promulga “el perro hacer miau, el gato

hacer guau guau”, con lo cual el niño, de

un solo golpe, desconectando a la cosa de

su grito, eleva el signo a la función de

significante, y la realidad a la sofística de

la significación, y, por medio del

desprecio de la verosimilitud, abre la

diversidad de objetivaciones a verificar de

la misma cosa (pág. 785).

Mas a estrutura sincrônica está mais

escondida e é ela a que nos leva a origem.

É a metáfora em quanto que aí se constitui

a atribuição primeira, a que promulga "o

cachorro fazer miau, o gato fazer au au',

com o qual o menino, de um só golpe,

desconectando a coisa de seu grito, eleva o

signo à função de significante, e a

realidade à sofística da significação, y, por

meio do desprezo da verossimilitude, abre

a diversidade de objetivações a verificar da

mesma coisa (pág. 785).

La estructura sincrónica es, sin duda,

más oscura. Es la del tiempo sin tiempo

(sin-cronos o sin-crónico), y Lacan dice

que es la que nos lleva al origen; más aún,

que es la metáfora del origen, la metáfora

primera, la atribución primera. No

olvidemos que el juicio de atribución es

lógicamente primero respecto del juicio de

existencia.

...A estrutura sincrônica é, sem dúvida,

mais escura. É a do tempo sem tempo

(sem-cronos ou sem-crônico), e Lacan fala

que é a que nos leva à origem, mais ainda,

que é metáfora da origem, a metáfora

primeira, a atribuição primeira. Não

esqueçamos que o juízo de atribuição é

logicamente primeiro sobre o juízo de

existência.

Aquí aparece el ejemplo de Lacan que yo

creo que tiene casi tanta fuerza como el

fort-da de Freud. Es el siguiente: el perro

hacer miau, el gato hacer guau guau. Entre

el perro y el “guau guau” hay una relación

Aqui aparece o exemplo de Lacan que eu

creio que tem quase tanta força como o

fort-da de Freud. É o seguinte: o cachorro

fazer miau, o gato fazer au-au. Entre o

cachorro e o "au au" tem uma relação que

63

que puede ser la relación entre la cosa y su

grito. El grito, entonces, puede ser

considerado como el signo de la cosa. En

el mundo animal hay signos; el asunto es

poder determinar qué significa que un niño

diga “el perro hace miau, el gato hace

guau guau”. Lacan sostiene que al separar

así la cosa del signo y ponerla en relación

con el signo de otra cosa, lo primero que

se produce es la destitución del signo

como tal, que pasa a ser significante.

Automáticamente, por esta misma

sustitución metafórica, cuando nos

enfrentamos con alguien, entonces, que es

capaz de decir “el perro hacer miau”, ya

nunca más podremos saber qué dice

cuando habla, puesto que ya no se trata ni

de signos ni de cosas.

pode ser a relação entre coisa e seu grito.

O grito, então, pode ser considerado como

o signo da coisa. No mundo animal

existem signos; o assunto é poder

determinar o que significa que um menino

diga "o cachorro faz miau, o gato faz au-

au”. Lacan sustenta que ao separar assim a

coisa do signo e coloca-la em relação com,

o primeiro que se produz é a destituição do

signo como tal, que passa a ser

significante. Automaticamente, por esta

mesma substituição metafórica, quando

nos enfrentamos com alguém, então, que é

capaz de dizer "o cachorro fazer miau", já

nunca mais poderemos saber o que diz

quando fala, posto que já não se trata nem

de signos nem de coisas.

El signo se hace significante; pero el

problema es qué sucede con la cosa. Es

que cuando nos afirmamos al nivel en que

el signo se ha vuelto significante, se

produce un efecto sobre la cosa: que la

realidad de las cosas -digamos- se

convierte, en la sofistica de la

significación.

O signo se faz significante; mas o

problema é o que sucede com a coisa. É

que quando nos afirmamos ao nível em

que o signo se volta significante, se produz

um efeito sobre a coisa: que a realidade

das coisas - digamos - se converte, na

sofistica da significação.

¿Qué es la sofística? Ni más ni menos que

el uso de sofismas; y “sofisma” quiere

decir argumento, razonamiento que

cabalga entre lo falso y lo verdadero.

O Que é a sofistica? Nem mais nem menos

que o uso de sofismas; e "sofisma" quer

dizer argumento, racionamento que

cavalga entre o falso e o verdadeiro.

Entonces, cuando uno ya no tiene más

signos de la cosa, el problema que se

plantea es que la verdad cobra estructura

Então, quando um já não tem mais signo

da coisa, o problema que se coloca é que a

verdade cobra estrutura de sofisma, torna-

64

de sofisma, se vuelve un argumento; la

verdad adquiere estructura de ficción.

Dora, por ejemplo, era víctima (seguro que

era víctima) pero también era cómplice; es

decir, la verdad de Dora tiene estructura de

sofisma, es una verdad que oculta una

falsedad. O si lo queremos pensar al revés,

es lo mismo: es una falsedad que oculta

una verdad. Algo similar en al caso del

Hombre de las Ratas respecto de la

interpretación de Freud referida al padre

del paciente como obstáculo a su elección

matrimonial, siendo que había sido la

madre la que había pactado el “matrimonio

conveniente”, cuando el padre ya había

muerto hacía tiempo. Era “verdad” que el

obstáculo era el padre, pero era inexacto.

se um argumento; a verdade adquire

estrutura de ficção. Dora, por exemplo, era

vítima (seguro que era vítima), mas

também era cúmplice; ou seja, a verdade

de Dora tem estrutura de sofisma, é uma

verdade que oculta uma falsidade. Ou se o

queremos pensar ao contrário, é o mesmo:

é uma falsidade que oculta uma verdade.

Algo similar na casa do Homem das Ratas

da interpretação de Freud referida ao pai

do paciente como obstáculo a sua eleição

matrimonial, sendo que havia sido a mãe a

que havia pactuado o "matrimonio

conveniente", quando o pai já havia

morrido faz tempo. Era "verdade" que o

obstáculo era o pai, mas era inexato.

En el campo de la lógica tradicional, el

sofisma es un razonamiento conforme a

las reglas de la lógica, que termina en una

conclusión falsa. Y en el uso coloquial,

vulgar, sofisma quiere decir “capcioso” (y

esto nos muestra bien cómo la mentira

captura); y también quiere decir “chicana”:

el sofisma es una chicana.

No campo da lógica tradicional, o sofisma

é um racionamento conforme as regras da

lógica, que termina em uma conclusão

falsa. E no uso coloquial, vulgar, sofisma

quer dizer "capcioso" (e isto nos mostra

bem como a mentira captura); e também

quer dizer "chicana": o sofisma é uma

chicana.

Es muy interesante que Lacan escriba

“grito” (y no “dicho”, por ejemplo); es lo

mismo que sucede con el niño y su propio

grito. Cuando para la madre el grito del

niño ya no le hace signo, es porque lo

toma como significante. No entendemos

los gritos de los chicos precisamente

porque se nos han hecho significantes.

É muito interessante que Lacan escreva

"grito" (e não "dito", por exemplo) é o

mesmo que acontece com a criança e seu

próprio grito. Quando para a mãe o grito

da criança já não lhe faz signo, é porque o

toma como significante. Não entendemos

os gritos das crianças precisamente porque

a nos se fizeram significantes.

65

El grito ahora, vuelto significante, es un

llamado; y no es lo mismo grito que

llamado. Y lo que era cosa se ha vuelto un

niño. Todo se ha desnaturalizado, se ha

desvitalizado.

O grito agora, virou significante, é um

chamado e não é o mesmo grito que

chamado E o que era coisa se tornou uma

criança. Tudo se desnaturalizou, se

desvitalizou.

Para pensar mejor este problema, que yo

creo que es realmente fundamental,

vayamos a una cita de Lacan que está en

“La metáfora del sujeto” (texto redactado

entre 1960 y 1961, Escritos 2, 1987):

Para pensar melhor este problema, que eu

creio que é realmente fundamental, vamos

a uma citação de Lacan que está em "La

metáfora del sujeto" (texto redigido entre

1960 e 1961, Escritos 2, 1987):

La metáfora radical está dada en el acceso

de rabia narrado por Freud del niño, aún

inerme en groserías, que fue su hombre de

las ratas antes de consumarse en neurótico

obsesivo, el cual interpela a su padre al ser

contrariado por éste (“Tu lámpara, tu

servilleta, tu plato... y que más”)...

A metáfora radical está dada no acesso da

raiva narrado por Freud da criança, ainda

desarmado de grosserias, que foi seu

homem dos ratos antes de consumar-se em

neurótico obsessivo, o qual interpela a seu

pai ao ser contrariado por este ("Tua

lâmpada, teu guardanapo, teu prato... e o

que mais")...

Y también nosotros entendemos que no se

pierde la dimensión de la injuria donde se

origina la metáfora. Injuria más grave que

la que se imagina reduciéndola a invectiva

de guerra, pues de ella procede la injusticia

gratuitamente hecha a todo sujeto con un

atributo mediante el cual cualquier otro

sujeto es animado a atacarlo. “El gato hace

guau-guau, el perro hace miau-miau”. He

aquí de qué modo deletrea el niño los

poderes del discurso e inaugura el

pensamiento (pág. 869).

E também, nós entendemos que não se

perde a dimensão da injuria onde se

origina a metáfora. Injuria mais grave que

a que se imagina reduzindo-a a invectiva

de guerra, pois dela procede a injustiça

gratuitamente feita a todo sujeito com um

atributo mediante o qual qualquer outro

sujeito é incitado a ataca-lo. "O gato faz

au-au, o cachorro faz miau-miau". Aqui

esta a forma que a criança soletra os

poderes do discurso e inaugura o

pensamento (pág. 869).

Lacan afirma que con esa inversión se

inaugura el pensamiento, el pensamiento

propiamente dicho, el pensamiento

Lacan afirma que com essa inversão se

inaugura o pensamento, o pensamento

propriamente dito, o pensamento

66

simbólico. Lacan habla también de una

injuria, de un daño absolutamente injusto

que nos remite al problema ético: es un

daño injustamente producido a todo sujeto.

Se lo habrá dañado tan sólo con decir que

el niño es tal o cual cosa o que quiere tal o

cual objeto, es decir, se lo daña en la

misma medida en que se je aplica un

atributo; se lo habrá dañado a nivel

natural, como cosa. Tendremos que tener

en cuenta que todo significante que se elija

para hacer de él un atributo implica la

sustitución respecto a todos los otros; ésa

es la metáfora que está en juego aquí.

simbólico. Lacan fala também de uma

injuria, de um dano absolutamente injusto

que nos remete ao problema ético: é um

dano injustamente produzido a todo

sujeito. Se o terá danificado somente em

falar que a criança é esta ou aquela coisa

ou que quer este ou aquele objeto, ou seja,

se o danifica na mesma medida em que lhe

aplica um atributo; o terá danificado a

nível natural, como coisa. Teremos que

levar em conta que todo significante que

se eleja para fazer dele um atributo implica

a substituição a respeito de todos os

outros; essa é a metáfora que está em jogo

aqui.

Entonces, en la célula elemental ya están

en juego ambas; está en juego la diacronía

y la sincronía. La diacronía implica

anticipación y retroacción, y la sincronía

implica atribución (la que, como tal,

implica tanto la existencia a nivel de lo

simbólico como daño al sujeto).

Então, na célula elementar já estão em

jogo ambas; está em jogo a diacronia e a

sincronia. A diacronia implica antecipação

e retroação, e a sincronia implica

atribuição (a que, como tal, implica tanto a

existência a nível do simbólico como dano

ao sujeito).

He aquí otra cita de Lacan de “Subversión

del sujeto...”:

Aqui está outra citação de Lacan de

"Subversión del sujeto...":

Les ahorraremos a ustedes sus etapas

dándoles de buenas a primeras la función

de los dos puntos de entrecruzamiento en

este grafo primario. Uno, connotado A, es

el lugar del tesoro del significante, lo que

no quiere decir del código, pues no es que

se conserve allí la correspondencia

unívoca de un signo a algo, sino que el

significante sólo se constituye de su

Pouparemos a vocês suas etapas, dando-

lhes primeiro a função dos dois pontos de

entrecruzamento neste grafo primário. Um,

conotado A, é o lugar do tesouro do

significante, o que não quer dizer do

código, pois não é que se conserve ali a

correspondência unívoca de um signo a

algo, mas que o significante só se constitui

de sua reunião sincrônica e numerável

67

reunión sincrónica y numerable donde

ninguno se sostiene sino por principio de

su; oposición a cada uno de los otros. El

otro, connotado s(A), es lo que puede

llamarse la puntuación donde la

significación se constituye como producto

terminado (pág. 785).

onde ninguém se sustenta a não ser por seu

princípio; oposição a cada um dos outros.

O outro, conotado s(A), é o que pode se

chamar a pontuação onde a significação se

constitui como produto acabado (pág.

785).

A esta cita le corresponde el siguiente

esquema:

A esta citação corresponde o seguinte

esquema:

Esquema n ° 2 Esquema nº 2

Al punto de entrecruzamiento de la

derecha lo llamamos A. Lacan propone

definirlo como “el tesoro del significante”

y nos advierte que al tesoro hay que

distinguirlo del código. Define código

como la relación unívoca entre un signo y

una cosa. El tesoro del significante, en

cambio, está constituido por significantes

que, para constituirse cada uno, requieren

de la oposición respecto de todos los otros

significantes. Convendría que no

perdamos de vista que Lacan dice que la

reunión sincrónica es “numerable”; esto

quiere decir: para cada caso en el que la

práctica nos vincula a él, tenemos que ser

Ao ponto de entrecruzamento da direita o

chamamos A. Lacan propõe defini-lo

como "o tesouro do significante" e nos

adverte que ao tesouro tem que distingui-

lo do código. Define código como a

relação unívoca entre um signo e uma

coisa. O tesouro do significante, em troca,

está constituído por significantes que, para

constituir-se cada um, requerem da

oposição respeito de todos os outros

significantes. Seria conveniente não perder

de vista que Lacan disse que a reunião

sincrônica é "numerável"; isto quer dizer:

para cada caso no que a prática nos vincula

a ele, teremos que ser capazes de encontrar

68

capaces de encontrar el número de

significantes que están en juego.

o número de significantes que está em

jogo.

Si un significante esta sobredeterminado

por otros tres, por ejemplo, es

imprescindible establecer la función de los

cuatro significantes; con tres no sólo no

alcanza sino que ni siquiera nos

acercamos; ninguno de los hallados

termina de cobrar sentido si no están todos

los otros. Y no es que se trate de todos en

el sentido de la completud; se trata de

todos en el sentido de todos los que están

en juego. Es lo que sucede en el análisis

del Hombre de las Ratas, nada se resuelve

hasta que, a pesar de contarse ya con

varias articulaciones de “ratas” (heiraten,

spielratte, ratten-raten, etcétera), no se

llega a la Damisela de las ratas de Ibsen y

la esterilidad, castración diríamos, de

Gisela, la Dama idealizada por el sujeto.

Se um significante esta sobredeterminado

por outros três, por exemplo, é

imprescindível estabelecer a função dos

quatro significantes; com três não só não

alcança como nem sequer nos

aproximamos; nenhum dos achados

termina de cobrar sentindo se não estão

todos os outros. E não é que se trate de

todos no sentido da completude, se trata de

todos no sentido de todos que estão em

jogo. É o que acontece na análise do

Homem dos Ratos, nada se resolve até

que, apesar de já contar com várias

articulações de "ratas" (heiraten, spielrate,

ratten-raten, etecetera), não chega à

Donzela dos ratos de Ibsen e a

esterilidade, castração diríamos, de Gisela,

a Dama idealizada pelo sujeito.

A este Otro, A, que no es código (y no

solo porque no sean todos, sino,

fundamentalmente, porque no, hay

relación entre signos y cosas), Lacan lo

llama “el lugar del tesoro del significante”.

La palabra “tesoro” es interesantísima.

Indudablemente, por un lado remite al

problema del valor, las cosas valdrán o no

según lo que sucede en A para cada sujeto;

pero también remite a la noción misma de

tesoro: lugar donde se guardan los objetos

de valor, y más aún, lugar de la caja fuerte,

o sea, una referencia directa al lugar. Por

A este Outro, A, que não é código (e não

só porque não sejam todos, mas,

fundamentalmente, porque não tem

relação entre signos e coisas), Lacan o

chama "o lugar do tesouro do

significante". A palavra "tesouro" é

interessantíssima. Incontestavelmente, por

um lado remete ao problema do valor, as

coisas valerão ou não segundo o que

acontece em A para cada sujeito, mas

também remeta à mesma noção de

tesouro: lugar onde se guardam os objetos

de valor, e mais ainda, lugar da caixa forte,

69

último, también remite a la idea de que el

tesoro es lo que es, más allá ,de cuánto

contenga. Es decir, el tesoro, sin que le

falte nada, no es de la índole de un todo, y

el código sí. Todo código es completo, y

en él no hay lugar vacío (porque si lo

hubiese ya no serviría como código). El

código es completo y es un todo; el tesoro

del significante es completo pero no es un

todo. El tesoro de Estados Unidos, si lo

usamos como metáfora de la mayor

concentración de oro del mundo, no es por

eso todo el oro del mundo, ya que si lo

fuese, el oro perdería de inmediato

cualquier valor de intercambio, que es el

verdadero valor del oro.

ou seja, uma referencia direta ao lugar. Por

último, também remete à ideia de que o

tesouro é o que é, além, de quanto

contenha. Ou seja, o tesouro, sem que lhe

falte nada, não é da índole de um todo, e o

código sim. Todo código é completo, e

nele não tem lugar vazio (porque se já o

houvesse não serviria como código). O

código é completo e é um todo; o tesouro

do significante é completo mas não é um

todo. O tesouro dos Estados Unidos, se o

utilizamos como metáfora da maior

concentração de ouro do mundo, não é por

isso todo o ouro do mundo, já que si o

fosse, o ouro perderia de imediato

qualquer valor de intercambio, que é o

verdadeiro valor do ouro.

Del otro lado, tenemos el otro punto de

entrecruzamiento, lo llamamos el

significado del Otro -s(A). A éste no cabe

ninguna duda de que hay que oponerlo a lo

que Jakobson llama mensaje. Y el

desarrollo que Lacan hace aquí es que el

mensaje del sujeto, por estructura, es

mensaje del Otro. Ahí tienen una de las

inversiones: el mensaje no es más del

sujeto, es del Otro. Y previsiblemente,

Lacan coloca ahí la función de la

puntuación, pero en la lógica del tiempo

de la anticipación y la retroacción;

observen que Lacan a la función del punto

final la coloca a la izquierda, invirtiendo la

legalidad propia de nuestra escritura.

Do outro lado, temos o outro ponto de

entrecruzamento, o chamamos o

significado do Outro -s(A). A este não

cabe nenhuma dúvida de que tem que opô-

lo ao que Jakobson chama mensagem. E o

desenvolvimento que Lacan faz aqui é que

a mensagem do sujeito, por estrutura, a

mensagem do Outro. Ali tem uma das

inversões: a mensagem não é mais do

sujeito, é do Outro. E previsivelmente,

Lacan coloca ali a função da pontuação,

mas na lógica do tempo da antecipação e a

retroação; observem que Lacan coloca a

função do ponto final à esquerda,

invertendo a legalidade própria da nossa

escritura.

70

Si lo representásemos mediante un

esquema, sería algo así:

Se o representássemos mediante um

esquema, seria algo assim:

“S1 S2 .” en oposición a: “S1

S2”

"S1 S2". em oposição a: ".S1

S2"

donde se ve con claridad que, dado que el

punto queda sobre la izquierda de la frase,

no es lo mismo el punto como corte que el

punto como signo de puntuación de la

frase.

onde se vê claramente que, dado que o

ponto fica a esquerda da frase, não é o

mesmo o ponto como corte que o ponto

como signo de pontuação da frase.

Así retomamos lo que les había

anticipado: a la función de la puntuación

Lacan la concibe como función del Otro

(es desde ahí que operamos los

psicoanalistas). Si es que los psicoanalistas

podemos producir algún efecto, es

justamente colocándonos, artificialmente,

en ese lugar desde donde ejercemos un

poder. Es por eso, precisamente, que

Lacan tuvo que escribir “La dirección de

la cura y los principios de su poder”: los

psicoanalistas ocupamos un lugar de poder

(al menos el del poder discrecional del

oyente).

Assim retomamos o que lhes havia

antecipado: a função da pontuação Lacan a

concebe como função do Outro (é a partir

daí que operamos os psicanalistas). Se é

que os psicanalistas podem produzir algum

efeito, é justamente nos colocando,

artificialmente, nesse lugar a partir de

onde exercemos um poder. É por isso,

precisamente , que Lacan teve que

escrever "A direção da cura e os princípios

de seu poder": Os psicanalistas ocupamos

um lugar de poder (ao menos o do poder

discricional do ouvinte).

Siguiendo con la cita de “Subversión del

sujeto...”:

Seguindo com a citação de "Subversión

del sujeto...":

Observamos la disimetría del uno que es

lugar (sitio más bien que espacio [...] (pág.

785).

Observamos a dissimetria do um que é

lugar (lugar ao invés de espaço [...] (pág.,

785).

A es un lugar simbólico, estrictamente

simbólico. Lo que nos quiere decir Lacan

con “sitio”, es que A también es un lugar

significante, el lugar de los significantes es

significante él mismo, no es un lugar real;

A é um lugar simbólico, estritamente

simbólico. O que quer nos dizer Lacan

com "lugar", é que A também é um lugar

significante, o lugar dos significantes é

significante ele mesmo, não é um lugar

71

como no es un lugar real, no es

mensurable, no tiene medidas; es lugar,

entonces, pero no tiene medidas, ni

formas. Un lugar en el sentido de la

topología.

real; como não é um lugar real, não é

mensurável, não tem medidas; é lugar,

então, mas não tem medidas nem formas.

Um lugar no sentido da topologia.

[...] con respecto al otro que es un

momento (escansión, más bien que

duración) (pág. 786).

[...] com respeito ao outro que é um

momento (escansão, ao invés de duração)

(pág. 786).

Cuando se produce el mensaje que viene

del Otro, se produce por la puntuación. Y

la puntuación -que tiene dimensión

temporal- será, como tal, un tiempo de

estructura simbólica también; un tiempo

de corte, de escansión, y no de duración.

Quando se produz a mensagem que vem

do Outro, se produz pela pontuação. E a

pontuação - que tem dimensão temporal -

será, como tal, um tempo de estrutura

simbólica também, um tempo de corte, de

escansão, e não de duração.

La pregunta, en rigor, es: .qué estructura

tiene este tiempo en cuestión? La

respuesta es: un tiempo de escansión; el

problema no es “cuánto tiempo hace” sino

cómo se produce para alguien el

“demasiado antes o demasiado después”.

Psicoanalíticamente hablando, la cuestión

no es otra que por qué la escansión vino

demorada, anticipada o directamente no

viene; y ésa no es una dimensión temporal

que se pueda medir. El tiempo, aquí,

corresponde a una realidad que perdió su

connotación real y pasó a tener una

connotación simbólica; es un tiempo

simbólico en sí mismo. Aquí tenemos

concentrada toda la lógica de las sesiones

de tiempo variable. Es lo mismo que pasa

para el caso del espacio.

A pergunta, em rigor, é:que estrutura tem

este tempo em questão? A resposta é: um

tempo de escansão; o problema não é

"quanto tempo faz" e sim como se produz

para alguém o "muito antes ou muito

depois". Psicanaliticamente falando, a

questão não é outra senão por que a

escansão veio demorada, antecipada ou

diretamente não veio; e essa não é uma

dimensão temporal que se possa medir. O

tempo, aqui, corresponde a uma realidade

que perdeu sua conotação real e passo a ter

uma conotação simbólica, é um tempo

simbólico em si mesmo. Aqui temos

concentrada toda a lógica das sessões de

tempo variável. É o mesmo que passa para

o caso do espaço.

Entonces, el espacio se convierte en Então, o espaço se converte em

72

localización y el tiempo se convierte en

escansión.

localização e o tempo se converte em

escansão.

Luego de la cita de la función sincrónica

sigue con este párrafo:

Logo da citação da função sincrônica

segue com este parágrafo:

¿Exige esa posibilidad la topología de un

juego de cuatro esquinas? He aquí el tipo

de pregunta que no parece gran cosa y que

sin embargo puede dar cierta zozobra si de

ella debe depender la construcción

subsecuente [la construcción subsecuente

del grafo del deseo]? (pág. 785).

Exige essa possibilidade a topologia de um

jogo de quatro cantos? Tem aqui o tipo de

pergunta que não parece grande coisa e

que, contudo, pode dar certa soçobra se

dela deve depender a construção

subsequente [a construção subsequente do

grafo do desejo]? (pág. 785).

¿Alcanza con los dos puntos de

entrecruzamiento para dar cuenta de la

estructura? ¿Alcanza la organización dual

o se necesita una cuatripartita, una

topología del cuatro? Este tipo de

pregunta, que aunque parece ingenua, es la

que sirve, efectivamente, para la

construcción subsecuente del grafo

completo y de la dirección de la cura.

Alcança com os dois pontos de

entrecruzamento para dar conta da

estrutura? Alcança a organização dual ou

necessita-se um quadripartido, uma

topologia do quatro? Este tipo de pergunta,

que ainda parece ingênua, é a que serve,

efetivamente, para a construção

subsequente do grafo completo e da

direção da cura.

En esta indicación de Lacan a una relación

topológica de cuatro lugares, justificamos

la pertinencia del uso del “punto de

capitón” como un lazo que une dos con

dos, y se recupera para el inconsciente la

estructura del lenguaje como cuatripartita.

Se concluye que el inconsciente como tal

no puede operar en una estructura dual

como la del grafo 1. Trabajaremos desde

esta perspectiva la oposición neurosis y

psicosis en nuestro próximo encuentro.

Nesta indicação de Lacan a uma relação

topológica de quatro lugares, justificamos

a pertinência do uso do "ponto de basta"

como um laço que une dois com dois, e se

recupera para o inconsciente a estrutura da

linguagem como quadripartida. Conclui-se

que o inconsciente como tal não pode

operar em uma estrutura dual como a do

grafo 1. Trabalharemos a partir desta

perspectiva a oposição neurose e psicose

em nosso próximo encontro.

No comentamos - lo deje pasar a

propósito- el hecho de que Lacan llame a

Não comentamos - ou deixei passar de

propósito - o feito de que Lacan chame a

73

este grafo 1 “célula fundamental del

grafo”. Me parece que se tiende a leer

“célula fundamental del grafo” como:

“unidad fundamental del grafo”; pero

Lacan denomina “célula” al grafo 1 por

otro motivo.

este grafo 1 "célula fundamental do grafo".

Me parece que tende-se a ler "célula

fundamental do grafo" como: “unidade

fundamental do grafo"; mas Lacan

denomina "célula" ao grafo 1 por outro

motivo.

El vocablo “célula”, tiene al menos dos

acepciones. La primera es la que tiene en

biología: aquello que comporta una

membrana que aísla el citoplasma y su

núcleo, un interior y un exterior. La otra es

la que tiene en el campo de la memoria:

elemento repetitivo. Me parece que la

segunda acepción es la que nos conviene.

La primera es especialmente inadecuada

para dar cuenta de la relación del Sujeto

(S) con el Otro (A), ya que al recibir el

sujeto su mensaje desde el Otro, se quiebra

la posibilidad de establecer entre ellos Ja

oposición interior exterior. Les propongo,

entonces, que agreguemos como carácter

esencial al circuito del grafo 1, la noción

de repetición.

O vocábulo "célula", tem ao menos duas

acepções. A primeira é a que tem em

biologia: aquele que comporta uma

membrana que isola o citoplasma e seu

núcleo, um interior e um exterior. A outra

é a que tem no campo da memória:

elemento repetitivo. Me parece que a

segunda acepção é a que nos convém. A

primeira é especialmente inadequada para

dar conta da relação do Sujeito (S) com o

Outro (A), já que ao receber o sujeito sua

mensagem a partir do Outro, se quebra a

possibilidade de estabelecer entre eles a

oposição interior exterior. Lhes proponho,

então, que agreguemos como caráter

essencial ao circulo do grafo 1, a noção de

repetição.

La sumisión del sujeto al significante, que

se produce en el circuito que va de s(A) a

A, para volver de A a s(A), es propiamente

un círculo en la medida en que el aserto

que se instaura en él, a falta de cerrarse

sobre nada que no sea su propia escansión,

dicho de otra manera a falta de un acto en

el que encontrase su certidumbre, no

remite sino reenvía a su propia

anticipación en la composición del

A submissão do sujeito ao significante,

que se produz no circulo que vai de s(A) a

A, para voltar de A a s(A), é propriamente

um círculo na medida em que o assento

que se instaura nele, a falta de se fechar

sobre nada que não seja sua própria

escansão, dito de outra maneira a falta de

um ato no que encontrasse sua certeza, não

remete e sim reenvia a sua própria

antecipação na composição do

74

significante, en sí misma insignificante

(pág. 786).

significante, em si mesma insignificante

(pág. 786).

Lacan dice que si la célula quedara

encerrada y limitada al circuito dual,

resultaría, en sí misma, insignificante -que

no vale nada-; aunque ese circuito esté

hecho de significantes. Y si se pretende

constituir un acto en el que el sujeto

encuentre una certeza a partir de este

circuito, fracasara, porque este circuito es

insignificante. Y lo es, justamente, porque

la cosa está perdida y el circuito mismo es

sin salida (de A a s(A) y viceversa).

Lacan diz que se a célula ficasse encerrada

e limitada ao circuito dual, resultaria, em

si mesma, insignificante - que não vale

nada -; ainda que esse círculo esteja feito

de significantes. E se pretende-se

constituir um ato no que o sujeito encontre

uma certeza a partir deste circuito,

fracassará, porque este circuito é

insignificante. E o é, justamente, porque a

coisa está perdida e o circuito mesmo é

sem saída (de A a s e vice-versa).

A este circuito les propongo nombrarlo

mediante una designación lacaniana:

“círculo infernal de la demanda”. Con

esto, él juega en varias articulaciones.

Primero, nos indica el horror, el infierno,

que este funcionamiento produce. Y

segundo, nos remite al Infierno tal como

fuera concebido especialmente por Dante

en La divina comedia: con estructura de

círculo. Son círculos concéntricos que

Dante recorre desde el exterior hacia el

interior, por ejemplo en el Canto III dice,

textualmente:

A este circuito lhes proponho nomeá-lo

mediante uma designação lacaniana:

"círculo infernal da demanda". Com isto,

ele joga em vária articulações. Primeiro,

nos indica o horror, o inferno que este

funcionamento produz. E segundo, nos

remete ao Inferno tal como fosse

concebido especialmente por Dante em A

divina comedia: com estrutura de círculo.

São círculos concêntricos que Dante

recorre desde o exterior até o interior, por

exemplo no Canto III fala, textualmente:

Y después de haber puesto su mano en la

mía con rostro alegre, me introdujo en

medio de las cosas secretas. Allí, bajo un

cielo sin estrellas, resonaban suspiros,

quejas y profundos gemidos, de suerte que

al escucharlos empecé a llorar. Diversas

lenguas, horribles blasfemias, palabras de

E depois de ter posto sua mão na minha

com rosto alegre, me introduziu em meio

das coisas secretas. Ali, embaixo de um

céu sem estrelas, ressoavam suspiros,

queixas e profundos gemidos, de sorte que

ao escuta-los comecei a chorar. Diversas

línguas, horríveis blasfêmias, palavras de

75

dolor, acentos de iras, voces altas y roncas

acompañadas de palmadas producía un

tumulto que va rodando siempre por aquel

espacio eternamente oscuro como la arena

impelida por un torbellino.

dor, acentos de iras, vozes altas e rocas

acompanhadas de palmadas produzia um

tumulto que vai rodando sempre por

aquele espaço eternamente escuro como a

arena impelida por um redemoinho.

Noten que Dante nos está indicando,

justamente, que los que están en el

Infierno están atrapados en un círculo

infernal de la demanda. Los que están

castigados en el Infierno se quejan, gimen

y se lamentan; formas que adquiere la

demanda; y que no los llevan a nada, su

castigo es eterno. Es eso lo que es circular.

La demanda, como tal, es una circularidad

que no implica la forma de la salida.

Notem que Dante está nos indicando,

justamente, que os que estão no Inferno

estão presos em um círculo infernal da

demanda. Os que estão castigados no

Inferno se queixam, gemem e se

lamentam; formas que adquire a demanda;

e que não os levam a nada, seu castigo é

eterno. É isso o que é circular. A demanda,

como tal, é uma circularidade que não

implica a forma da saída.

Lacan nos dice que la única salida es un

acto que daría la posibilidad de certeza.

Pero la lógica de ese acto es de un más allá

de la demanda, más allá que ya conocemos

como deseo. Lo que puede romper el

círculo infernal de la demanda es,

entonces, el acto correspondiente al deseo.

Habiendo llegado así a la dialéctica del

deseo, debemos hacer primero una

distinción clínica, de máxima importancia.

Partamos de esta cita:

Lacan nos diz que a única saída é um ato

que daria a possibilidade de certeza. Mas a

lógica deste ato é de um além da demanda,

além que já conhecemos como desejo. O

que pode romper o círculo infernal da

demanda é, então, o ato correspondente ao

desejo. Tendo chegando assim à dialética

do desejo, devemos fazer primeiro uma

distinção clínica, de máxima importância.

Partamos desta citação:

Mensajes de código y códigos de mensaje

se distinguirán en formas puras en el

sujeto de la psicosis; aquel que se contenta

de este Otro previo (pág. 786).

Mensagem de código e códigos de

mensagem se distinguiram em formas

puras no sujeito da psicose; aquele que se

contenta deste Outro prévio (pág. 786).

Vale decir, para el sujeto psicótico opera la

demanda. De ahí podemos sostener que

hay sujeto en la psicosis, y también que

Vale dizer, para o sujeito psicótico opera a

demanda. Daí podemos sustentar que tem

sujeito na psicose, e também que tem

76

hay Otro en la psicosis; y este Otro -no

cabe la menor duda- tiene estructura de

lenguaje, esto es: opera la división entre

código y mensaje, y tiene,

consecuentemente, los casos de

circularidad y los casos de overlapping.

Outro na psicose; e este Outro - não cabe a

menor dúvida - tem estrutura de

linguagem, isto é: opera a divisão entre

código e mensagem, e tem

consequentemente, os casos de

circularidade e os casos de overlapping.

Sujeto del lenguaje es aquella

consideración del ser humano como

estrictamente distinto de todo ser dado

natural implica, tal como el grafo 1 lo

hace, no el encuentro con el significante,

sino con al menos dos. En términos del

grafo 1 con al menos dos puntos de

entrecruzamiento, que se deben considerar

significantes en sí mismos. Así el sujeto

del lenguaje, atravesado por el lenguaje, el

S, es el producto del encuentro con al

menos dos significantes articulados. En el

grafo 1 (esquema n° 3).

Sujeito da linguagem é aquela

consideração do ser humano como

estritamente distinto de todo ser dado

natural implica, tal como o grafo 1 o faz,

não o encontro com o significante, mas

com ao menos dois. Em termos do grafo 1

com ao menos dois pontos de

entrecruzamento, que devem-se considerar

significantes em si mesmos. Assim o

sujeito da linguagem, atravessado pela

linguagem, o S, é o produto do encontro

com ao menos dois significantes

articulados. No grafo 1 (esquema nº 3).

El Sujeto del lenguaje es planteado como

el efecto del encuentro con la función de la

demanda, o sea, con el Otro (A), con al

menos dos significantes articulados. Así

podemos decir que no es el significante el

que mata la cosa, sino la articulación entre

significantes lo que introduce “la falta en

ser en la relación de objeto”. En esto tanto

el psicótico como el neurótico son sujetos

del lenguaje de pleno derecho; lo que en

esta argumentación produce la distinción

es si opera o no la función de más allá de

la demanda, que proximamente

definiremos como el “entre líneas”.

O Sujeito da linguagem é colocado como o

efeito do encontro com a função da

demanda, ou seja, com o Outro (A), com

ao menos dois significantes articulados.

Assim podemos dizer que não é o

significante o que mata a coisa e sim a

articulação entre significantes o que

introduz "a falta em ser na relação de

objeto". Nisto tanto o psicótico como o

neurótico são sujeitos da linguagem de

pleno direito; o que nesta argumentação

produz a distinção é se opera ou não a

função de além da demanda, que

aproximadamente definiremos como o

77

"entre linhas".

Esquema n° 3 Esquema n° 3

El problema en el campo de las psicosis es

que el psicótico queda encerrado en el

circuito de la demanda; para él no habrá un

más allá de la demanda, y recuerden que el

más allá de la demanda es precisamente el

deseo.

O problema no campo das psicose é que o

psicótico fica fechado no circuito da

demanda, para ele não haverá um além da

demanda, e lembrem que o além da

demanda é precisamente o desejo.

La última cita que preparé es de

“Subversión del sujeto...”; para pensar

estos problemas, dice:

A última citação que preparei é de

"Subversión del sujeto..."; para pensar

estes problemas, diz:

A lo que hay que atenerse, es a que el goce

está interdicto a aquel que habla como tal,

o también que no puede decirse sino entre

líneas para quienquiera que sea sujeto de

la Ley, puesto que la Ley se funda en esa

interdicción misma [sustituí “prohibición”

por “interdicción”, más próximo al texto

de Lacan] (pág. 801).

O que tem que se atentar, é que o gozo

está interdito àquele que fala como tal, ou

também que não pode se dizer e sim entre

linhas para quem quer que seja sujeito da

Lei, posto que a Lei se fundamentasse

nessa mesma interdição [substitui

"proibição" por "interdição", mais próximo

ao texto de Lacan] (pág.801).

“Interdicción” en este contexto, no quiere

decir esencialmente prohibición, sino que

plantea el entre. O sea, tan sólo para el

sujeto humano -dada la estructura de

interdicción- el goce puede ser dicho entre

"Interdição" neste contexto, não quer dizer

essencialmente proibição, mas que coloca

no entre. Ou seja, tão somente para o

sujeito humano - dada a estrutura de

interdição - o gozo pode ser dito entre

78

líneas. Y les advierto: este “entre líneas"

no es que esté fundado por la Ley, sino

.que es la Ley la que se funda en el entre

líneas. Esto invierte la relación que

solemos plantear para la estructura de la

función del padre en la neurosis y en la

psicosis. Acá empieza a esbozarse toda la

cuestión de una clínica orientada más allá

del padre.

linhas. E lhes advirto: este "entre linhas"

não é que esteja fundamentado pela Lei, e

sim que é a Lei a que se funda no entre

linhas. Isto inverte a relação que

costumamos colocar para a estrutura da

função do pai na neurose e na psicose.

Aqui começaremos a esboçar toda a

questão de uma clínica orientada além do

pai.

El problema del círculo infernal de la

demanda es que, como círculo que es, no

da cuenta del entre. Entonces, el acto que

logre quitar al sujeto de esta circularidad

infernal debe apuntar el más allá de La

demanda, vale decir, al deseo; debe ser un

acto que saque del circuito infernal de la

demanda (en el que el psicótico,

estructuralmente hablando, está atrapado).

Se necesita, en suma, un juego topológico

de cuatro esquinas.

O problema do círculo infernal da

demanda é que, como círculo que é, não da

conta do entre. Então, o ato que logre tirar

o sujeito desta circularidade infernal deve

apontar o além da demanda, vale dizer, ao

desejo; deve ser um ato que tire do circuito

infernal da demanda (no que o psicótico,

estruturalmente falando, está colocado). Se

necessita, em suma, um jogo topológico de

quatro cantos.

79

CAPÍTULO 04

Critérios para construção da memória

Os critérios para a elaboração da memória do livro “Grafo do Desejo” partiram da

análise exaustiva de uma série de fatores, a localização desses elementos textuais foi surgindo

à medida que íamos trabalhando. Em princípio, não se fez registro sistemático.

Posteriormente, a partir da análise textual de Christiane Nord (2005), foi realizada a análise e

comparação dos fatores intratextuais e extratextuais que são apresentados a seguir.

Emissor

O emissor, à primeira vista, tem uma aparência individual por se tratar de um autor

com grande conhecimento na área, porém Alfredo Eidelsztein não é a única pessoa presente

em sua obra, várias foram as interferências (participantes e discursividades) que tornaram “El

Grafo del Deseo” um coletivo em sua produção, com revisores e editores que moldaram uma

série de aulas ditadas e as adaptaram para a mídia textual e que, notoriamente, se esforçaram

para manter a oralidade de suas aulas com a inserção de aspas, parênteses, colchetes.

Destaco a oralidade como sendo uma problemática da obra para o processo tradutório,

ao mesmo tempo em que a enriqueceu, fazendo o leitor do texto fonte se sentir quase como

um dos participantes que estavam presentes assistindo as aulas ministradas por Eidelsztein.

Fato esse que nos fez levar em consideração o esforço de transmitir essa oralidade ao novo

público, me senti na obrigação de levar o leitor brasileiro a também se sentir inserido nas

palestras, sendo mais um ouvinte.

A linguagem do autor é voltada para o público, ele utiliza pronomes de tratamento em

primeira e segunda pessoa (quem fala e para quem se fala), utilizando a terceira pessoa

simplesmente nas citações para se referir aos pensadores. Eidelsztein faz perguntas retóricas

para estimular o pensamento do público, como se quisesse cobrar deles um pensamento

voltado para a aula, não os permitindo desviar suas atenções. Entendo isso como sendo uma

estratégia didática utilizada pelo professor para manter o foco sempre voltado para o assunto.

80

Figura 3 – Traços de oralidade e presença do autor.

Figura 4 – Outros traços de oralidade mostrando como o autor se apropria do texto.

Logo, observa-se a mudança do emissor que deixa de ser o autor principal da obra,

juntamente com seus demais elementos definidores, e passa a ser um tradutor leigo na ciência

psicanalítica, com uma carga pessoal de conhecimentos de outra sociedade e com outra

cultura, acompanhado de uma equipe de tradutores e revisores cada um com suas respectivas

e particulares impressões e conhecimentos, cada um com um interesse diferenciado para com

a obra, todos tentando alinhá-la a uma finalidade específica, procurando manter o texto o mais

próximo da mensagem original do autor, porém para um novo público.

Receptor

Inicialmente, o público do texto meta foi os alunos que assistiram ao seminário

realizado na Facultad de Psicología de la Universidad de Buenos Aires, no evento

“Programa de actualización en psicoanálisis lacaniano”, em 1993. Portanto, eram pessoas

qualificadas, com conhecimento prévio no assunto núcleo das palestras, e que davam ao

locutor a liberdade de tocar em abordagens complexas (ora as menciona, ora as comenta de

81

forma exaustiva), bem como trazer citações de conteúdos e autores que conversam com as

ideias do autor e que não deixariam os seus ouvintes desorientados.

Figura 5 – Demonstração de conhecimento do público.

Em certos momentos, o autor até mesmo conversa com a turma fazendo algumas

perguntas retóricas, estimulando o raciocínio dos alunos.

Figura 6 – Interação do autor com o público.

82

No formato do texto meta, a obra quer interagir com o seu público indiretamente, mas

agora com um público que não, necessariamente, conhece ou está a par do assunto do texto,

podendo ter diferentes tipos de leitores com propósitos mais distintos ainda, desde uma

simples curiosidade quanto ao tema, para conhecê-lo, até mesmo um profissional do ramo

psicanalítico que queira se aprofundar em outras visões na psicanálise.

Intenção

O autor, em suas palestras, tem a intenção de explicar “O grafo do desejo” a partir,

primordialmente, do texto “subversión del sujeto”, de Jacques Lacan.

Figura 7 – Apresentação do autor do foco das aulas.

A tradução de “O Grafo do Desejo” tem o objetivo, de forma geral, de transmitir o

conhecimento do autor para o público brasileiro que não domina o idioma castelhano ou para

quem mais possa interessar (como nos auxiliou sua versão em inglês) e, de forma mais

específica, os capítulos 03 e 04, além de também ter o objetivo geral em si, têm também o

objetivo de avaliar o comportamento do software Wordfast para a consecução de uma

memória eletrônica, bem como ser avaliado academicamente.

Meio

O meio foi o escrito, tanto o do texto fonte quanto o do texto meta, apesar de, na

introdução da obra do texto fonte, ser informada a natureza das aulas como expositivas. O

objeto trabalhado aqui foi o texto transcrito, assim como sua tradução.

83

Lugar

O livro “O Grafo do Desejo” foi criado e desenvolvido em Buenos Aires – Argentina,

tanto as palestras verbalizadas quanto a obra transcrita. Já sua tradução para o português

brasileiro foi feita em Brasília – Brasil.

Tempo

As palestras, que deram origem ao livro, foram ministradas no ano de 1993, já a obra

utilizada para a tradução foi publicada em 2005, pela editora “Letra Viva” em sua segunda

edição. A tradução foi desenvolvida nos anos de 2015 e 2016.

Motivo

Acredito que os motivos são diversos por partir de uma adaptação de uma mídia a

outra, pois, inicialmente, eram palestras que atendiam à demanda de um curso de pós-

graduação e que, posteriormente, passaram a aulas transcritas; atendendo, ainda, ao objetivo

de registro das exposições. Outro motivo foi difundir um tema no universo psicanalítico,

motivo esse que também esta sendo transportado para o público brasileiro seja para análise

por mera curiosidade ou para aprofundamento no assunto, entre outros.

Tema

O Grafo do Desejo

Conteúdo

São apresentados vários campos para compor a explicação do tema além da

psicanálise, a topologia e a linguística são bases predominantes em toda a obra, contando com

84

citações de pensadores de outras nacionalidades, logo, temos inscrições em francês, alemão,

inglês, além do castelhano da obra original e do português da obra traduzida.

Figura 8 – Inglês

Figura 9 – Alemão

Figura 10 – Francês

Consequentemente, essa composição textual deixou o processo de tradução mais

complexo e trabalhoso, pois era complicado consultar outros códigos e extrair a informação

correta que o autor gostaria de utilizar em sua composição, a procura da carga semântica para

esses termos e frases por vezes se tornava exaustiva, pois tínhamos que fazer novas pesquisas

em materiais que tinham que ser concernentes com o tema. Muitas vezes, procuramos versões

em português das citações para cotejar possibilidades de traduções.

No entanto, o processo nos possibilitou interagir com outras áreas do conhecimento e

ter acesso a outros materiais que coadunavam com o livro “O Grafo do Desejo”. Até mesmo a

exploração de sua versão em inglês foi utilizada como material de apoio e pesquisa para

ajudar a aclarar dúvidas como a inserção de notas explicativas por páginas, conforme fossem

surgindo a necessidade de implementá-las ou ao final fazendo um título com todas as notas.

Pressuposições

A primeira pressuposição é de que o leitor está a par da psicanálise, das obras

mencionadas e dos ensinamentos de Jacques Lacan. Outra pressuposição é de que o receptor

85

está familiarizado com o idioma castelhano e não com o francês, pois algumas vezes o autor

explica as distinções entre segmentos franceses no castelhano.

No texto traduzido, foram mantidas as explicação do genitivo em francês e em

castelhano e adicionadas as informações explicativas também em português.

Figura 11 – Estratégia utilizada na tradução para esclarecer para o público brasileiro as explicações em

castelhano do autor.

Composição textual

A obra completa é composta de 15 capítulos iniciados por um título e acompanhados

de um número. O desenvolvimento dos capítulos é feito em parágrafos e citações alimentadas

pelo autor e colocadas em margens distintas. No momento da tradução pelo software, as

diferentes marcações de parágrafos e citações eram percebidas com a leitura atenta do texto,

pois haviam parágrafos que eram dotados de construções complexas com frases simples. O

programa possui tags que pontuavam marcações no texto para saber que ali havia uma

particularidade do texto de partida, que seriam automaticamente transferidas para o texto

traduzido caso o tradutor não interferisse.

Elementos não verbais

O texto fonte possui vários gráficos para ilustrar as aulas do autor, esses gráficos

foram objeto de debate para decidir a sua inclusão ou não na tradução final do livro, porém,

86

optou-se pela não obrigatoriedade da colocação da imagem no arquivo traduzido. Algumas

imagens eram dotadas de textos que necessitariam de sua tradução, optei por traduzir também

os textos dos gráficos para ajudar a identificação das explicações nos gráficos, para isso,

utilizei o auxílio do MS-Paint para editá-los e introduzi-los ao texto meta.

Figura 12 – Tradução de gráfico.

Léxico

Algumas áreas do conhecimento compõem a obra dando a ela um léxico específico e

diversificado (topologia, linguística, psicanálise), bem como palavras de uso comum que, em

alguns casos, se misturam com o léxico da especialidade. A natureza oral do texto contribui

para o surgimento dessas palavras do uso cotidiano.

Por vezes, algumas dessas palavras exigiam uma análise mais detalhada para preservar

ao máximo as intenções do autor, destaco a palavra “retoño” como marco da problemática do

texto que despertou uma análise mais minuciosa, pois, pela sua peculiaridade, chamou a

atenção no momento em que foi vista, sendo objeto de debate entre tradutores e revisores em

reuniões formais e informais.

O dicionário da Real Academia Española – RAE define retoño como:

retoño

1. m. Vástago o tallo que echa de nuevo la planta.

2. m. coloq. Hijo de una persona, y especialmente el de corta edad.

Em uma pesquisa, o termo apareceu várias vezes na tradução de José Luis Etcheverry

das Obras completas de Freud, como observado no fragmento a seguir: “Los demonios son

para nosotros deseos, malos, desestimados, retoños de mociones pulsionales rechazadas,

reprimidas.”.

87

Nas primeiras pesquisas, cheguei a algumas possíveis sugestões para a tradução deste

termo (origem, rebento e ramificações), propondo como opção o termo rebento que tem como

definição em alguns dicionários online:

Dicionário online Priberam,

re·ben·to

substantivo masculino

1. Início do desenvolvimento de planta, ramo, folha ou flor. = BOTÃO, BROTO, GEMA, RE

NOVO

2. [Figurado] Filho.

3. Produto; fruto.

Dicionário online Michaelis,

rebento

re·ben·to

sm

1 BOT .V. broto, acepção 5.

2 Resultado de um processo, de um trabalho ou de uma atividade; fruto, produto.

3 Aquele que descende de outro; filho, herdeiro.

ETIMOLOGIA der regr de rebentar.

Dicionário online Dicio,

rebento

Significado de Rebento

s.m. Pequeno broto de uma planta; renovo, vergôntea, gomo, botão. Germinação de uma

semente, o desabrochar de um botão.

[Figurado] Fruto, produto: este livro é o mais novo rebento de seu espírito criador.

[Figurado] Filho.

Logo, o termo foi cotejado pela equipe nas revisões e, após deliberações, chegamos à

conclusão de que o termo ramificação seria a opção mais satisfatória. Não consultamos outras

traduções brasileiras das obras de Freud pela dificuldade que seria cotejar o uso dessas

palavras em volumes tão grandes e em grandes quantidades. Contudo, consultamos a tradução

88

brasileira do livro “A significação do Falo”, de Diana Rabinovich, que possui uma descrição

da mesma citação do livro “Escrito”, de Lacan, utilizada por Eidelsztein, que faz um

comentário a respeito e esclarece que ‘rebento’ é o “termo que Freud usa em relação ao

retorno do recaldo”.

Em seguida, fomos para o fragmento da tradução brasileira de “Escritos”, que

apresentava a seguinte transcrição: “O que é assim alienado das necessidades constitui uma

Urverdrängung, por não poder, hipoteticamente, articular-se na demanda, aparecendo, porém,

num rebento, que é aquilo que se apresente no homem como desejo (...)”.

Após essa sequência de operações, chegamos ao resultado “rebento” para o termo

retoño, pois resgata “algo” que Freud usava e que é retomado por Lacan e comentado por

Eidelsztein.

Figura 13 – Ocorrências da problematização Retoño.

89

Estrutura da oração

No texto, predomina a oralidade que é apresentada de forma intercalada por orações

simples e complexas para discorrer sobre o assunto. As orações simples são para fazer o

preenchimento do texto e suas ligações de coesão, enquanto que as orações complexas são

próprias do discurso núcleo e suas abordagens. O coloquialismo, as paráfrases, as

enumerações e as reiterações são artifícios didáticos utilizados pelo autor e que procuramos

manter na tradução.

Marcas suprassegmentais

Aspas, itálicos, negritos e parênteses são artifícios linguísticos utilizados para tornar o

texto fluido, mantendo o ritmo, a pausa e a entonação, próprias de um texto coloquial.

A análise feita a partir do modelo de Nord permitiu visualizar de forma ampla a

complexidade da obra e a presença das soluções adotadas, garantindo que todas as escolhas e

as maneiras como elas foram feitas puderam constar no software para análises e ponderações.

Por fim, acredito que o Wordfast se mostrou eficiente em construir uma memória para

esta obra de natureza psicanalítica, servindo, principalmente, de um atalho para resgatar

soluções previamente inseridas em TMs podendo analisá-las na própria plataforma do

programa, de forma que seja possível ver as informações motivadoras para cada solução e, até

mesmo, acompanhar suas evoluções caso sejam alteradas em algum momento sem precisar

ficar acessando outras mídias ou arquivos.

Essas características tornam o software uma escolha que economizará tempo em

médio prazo para um usuário iniciante, e, após o domínio de suas ferramentas e a constituição

de uma memória já iniciada, o processo tradutório será mais autônomo, apesar de sempre

precisar (o que ficou comprovado na tradução de textos psicanalíticos) da constante

interferência do tradutor para fazer pesquisas específicas externas e tomadas de decisões

pontuais para transmitir a clareza necessária do texto e evitar a tradução palavra por palavra

que, possivelmente, deixaria a tradução sem sentido.

90

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos deste trabalho foram conhecer o que são as ferramentas de auxílio à

tradução, as Cat tools, em especial o Wordfast; saber se é possível montar uma memória de

tradução para textos da psicanálise lacaniana, assim como, mostrar o porquê seria um

problema montar uma memória eletrônica para uma área do conhecimento tão complexa. A

experiência foi um verdadeiro desafio, pois não conhecia a psicanálise e apenas contava com

um superficial conhecimento do software.

As impressões do Wordfast foram positivas, o software ajudou a evidenciar a

necessidade do conhecimento linguístico e cultural para realizar a tradução de textos da

psicanálise lacaniana. Também serviu de alerta para saber que o mercado de trabalho exige

cada vez mais competência tecnológica para otimizar a tarefa do tradutor.

As expectativas sustentadas para o desenvolvimento de uma determinada

tarefa em um tempo específico determinam a tecnologia a ser empregada,

sobretudo de forma a reduzir o esforço exigido para a consecução de um

trabalho especializado, como a tradução. (STUPIELLO p.303 – 304).

A construção da memória de tradução para a psicanálise lacaniana é possível, porém,

requer do tradutor constante acompanhamento e monitoramento, utilizando a ferramenta

como mais um recurso e não dando-lhe total autonomia.

91

REFERÊNCIAS

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Estratégias para o tradutor em formação. São Paulo: Contexto, 2013.

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Andrade (Org.). Tradução & Perspectivas teóricas e práticas. Editora: Unesp, 2015.

BERMAN, Antoine. A tradução e a letra ou o albergue do longínquo. Editora:

NUPLITT/LETRAS, 2007.

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Teresa Palazzo Nazar. Orientador, Walter Carlos Costa; coorientador, Pedro Heliodoro

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