MELHORIA DOS ATRIBUTOS QUÍMICOS DO SOLO PELA...
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CINCIAS RURAIS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIA DO SOLO
MELHORIA DOS ATRIBUTOS QUMICOS DO SOLO PELA AO COMBINADA DE CALCRIO E GESSO
EM LATOSSOLO SOB PLANTIO DIRETO
DISSERTAO DE MESTRADO
Tiago De Gregori Teixeira
Santa Maria, RS, Brasil
2014
MELHORIA DOS ATRIBUTOS QUMICOS DO SOLO PELA
AO COMBINADA DE CALCRIO E GESSO EM
LATOSSOLO SOB PLANTIO DIRETO
Tiago De Gregori Teixeira
Dissertao apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Ps Graduao em Cincia do Solo da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM), como requisito parcial para obteno do grau de Mestre em Cincia do Solo
Orientador: Prof. Dr. Telmo Jorge Carneiro Amado
Santa Maria, RS, Brasil
2014
2014 Todos os direitos autorais reservados a Tiago De Gregori Teixeira. A reproduo de partes ou do todo deste trabalho s poder ser feita mediante a citao da fonte. E-mail: [email protected]
120
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela vida e sade, por me guiar, iluminar e dar fora durante toda minha
vida.
A Universidade Federal de Santa Maria, ao Programa de Ps-Graduao em
Cincia do Solo, por me concederem esta oportunidade to valiosa, em uma
universidade pblica, gratuita e de excelente qualidade.
Ao CNPq, pelo apoio financeiro atravs da concesso da bolsa de mestrado.
Ao Professor Telmo Jorge Carneiro Amado, pela orientao, ensinamentos,
pacincia, pela confiana na execuo do trabalho. Amizade construda nesse
perodo de convvio, e acreditarmos no nosso Grmio voltar a nos trazer alegrias e
ttulos.
minha me, pelo amor, carinho e educao e ensinamentos que levo para vida.
minha famlia, sempre presente, apoiando e incentivando realizar meus sonhos.
A voc V Lcia, hoje no est mais entre ns, sua alegria e lies de vida levo
comigo sempre onde estiver.
A minha namorada, Anaqueli, pela ateno e carinho dando-me estmulo nos
momentos difceis.
Aos amigos que sempre esto perto nos momentos difceis.
Aos colegas do Laboratrio de Uso, Manejo e Conservao de Solo e da gua, e
Projeto Aquarius pela ajuda na execuo trabalho o convvio, amizade,
companheirismo nas atividades do laboratrio, na hora do chimarro, do futebol ou
na descontrao de um bom churrasco.
Aos demais, que, direta ou indiretamente, colaboraram para que eu pudesse
alcanar meu objetivo.
Vocs tambm fazem parte da minha conquista.
Muito obrigado!
RESUMO
Dissertao de Mestrado Programa de Ps-Graduao em Cincia do Solo
Universidade Federal de Santa Maria
MELHORIA DOS ATRIBUTOS QUMICOS DO SOLO PELA AO COMBINADA DE CALCRIO E GESSO EM LATOSSOLO SOB PLANTIO DIRETO
AUTOR: TIAGO DE GREGORI TEIXEIRA ORIENTADOR: TELMO JORGE CARNEIRO AMADO
Santa Maria, 08 de Agosto de 2014.
O bom desenvolvimento radicular das culturas afeta diretamente a produo. A melhoria qumica das camadas subsuperficiais traz benefcios, que em perodos de dficit hdrico, podem minimizar os efeitos causado s plantas. Nesse contexto, o trabalho buscou avaliar o efeito de doses de calcrio e gesso e potssio sobre os atributos qumicos, verificando a produtividade das culturas sob sistema plantio direto. Para tal, os objetivos especficos foram os de avaliar: a correo da acidez e melhoria dos atributos qumicos do solo em diferentes profundidades, aps 9 e 16 meses; os teores foliares de nutrientes da soja; a produo da soja e trigo expostos a alta dose de gesso; e quais relaes catinicas influenciaram na produtividade. O experimento foi conduzido nos anos agrcolas de 2012/13, 2013 e 2013/14 em um Latossolo Vermelho distrfico tpico no municpio de Estrela Velha, RS, que apresenta clima subtropical mido (Cfa) e precipitao mdia de 1678 mm ano-1. Os tratamentos foram dispostos em parcelas subdivididas com trs repeties e os 8 tratamentos foram constitudos de: duas doses de calcrio + gesso agrcola (0+0 e 5,5+3,0 Mg ha-1) combinadas a quatro doses de cloreto de potssio (0, 0,16, 0,33 3 0,66 Mg ha-1). As coletas de solo ocorreram em trs momentos: caracterizao inicial, 9 e 16 meses das aplicaes dos insumos. O delineamento experimental utilizado foi o de parcelas sub divididas com trs medidas repetidas na sub parcela. Os dados para cada varivel dependente (parmetros qumicos do solo e foliar da cultura) foram analisados atravs de todas as coletas usando medidas repetidas por meio da ANOVA de modelos lineares mistos, pelo Mtodo de Mxima Verossimilhana Restrita (REML). O solo analisado foi estratificado em sete profundidades: da superfcie at 0,6 metros. Amostras foliares foram coletadas para analisar o efeito dos tratamentos na nutrio das plantas de soja e atravs da colheita manual avaliou-se a produtividade de cada parcela. No primeiro trabalho, a dose de gesso propiciou a elevao dos valores de pH, V% e reduo da saturao por Al at 0,10 m, ocorrendo a lixiviao de Mg em todas as camadas, enquanto o S foi carreado a profundidades maiores das amostradas. No foi percebido a lixiviao de K, mesmo no tratamento de maior dose de gesso. As elevadas doses de potssio reduziram a produtividade da soja em mdia de 12%, enquanto os tratamentos que receberam calcrio + gesso obtiveram produo acumulada 5% superior. No segundo trabalho foi utilizada a matriz de correlao para gerar as correlaes lineares com R2 mais alto, sendo o teor de Ca e sua saturao apresentou maior correlao positiva com a produtividade da soja. Palavras-chave: Soja. Gesso agrcola. Relao de nutrientes.
ABSTRACT
Master Dissertation Graduate Program in Soil Science Federal University of Santa Maria
IMPROVEMENT OF SOIL CHEMICAL ATTRIBUTES BY THE COMBINED
ACTIVITY OF LIME AND GYPSUM IN OXISOL UNDER NO-TILL AUTHOR: TIAGO DE GREGORI TEIXEIRA
ADVISOR: TELMO JORGE CARNEIRO AMADO Santa Maria, August 8, 2014.
The good root development directly affects the crop production. The improvement of chemical characteristics of the sub superficial layer brings the benefit of minimizing the effects of water deficit periods to the plants. In this sense the study aimed to evaluate the effect of lime, gypsum and potassium doses on soil chemical attributes, by evaluating crops productivity under no-till. The specific objectives were to analyze: the correction of soil acidity and enhancements of soil chemical attributes in different depths, after 9 and 16 months; the foliar nutrient levels in the soybean plants; the production of soybean and wheat exposed to high doses of gypsum; and which cationic relations influenced productivity. The experiment was conducted in 2012/13, 2013 and 2013/14 in a dystrophic Red Oxisol in the city of Estrela Velha, RS, which presents a humid subtropical climate (Cfa), and average rainfall of 1678 mm year-1. The experiment was arranged in sub plots with three repetitions. The eight treatments were constituted by: two doses of lime + gypsum (0+0 and 5.5+3 Mg ha-1), combined with four doses of potassium chloride (0.0, 0.16, 0.33 and 0.66 Mg ha-1).The soil samples were collected at three times: initial characterization, 9 and 16 months after inputs application. The experimental design was sub plots with three measure repetitions in the sub plots. The data for each dependent variable (soil chemical and crop foliar parameters) were analyzed using all samples by repeated measures using ANOVA mixed linear model, by the method of restricted maximum likelihood (REML). The analyzed soil was stratified in seven depths: from the surface until 0.6 meters depth. Foliar samples were collected to analyze the effect of the treatments in the nutrition of soybean plants, and by manual harvest the productivity was evaluated for each plot. In the first study, the dose of gypsum increased the values of pH, V% and reduced the Al saturation down to 0.10m. Magnesium leaching occurred in all layers, while S was carried done to even deeper layers than the analyzed. Leaching of K was not observed, even in the treatment with the gypsum dose. The elevated doses of potassium reduced soybean productivity in average 12%. While the treatments that had lime+ gypsum presented accumulated production 5% higher. On the second study, a correlation matrix was used to indicate the linear correlations with higher R2, whereas the Ca rate and its saturation presented higher positive correlation with soybean productivity. Key-words: Soybean. Gypsum. Nutrient balance.
LISTA DE FIGURAS
INTRODUO GERAL
Figura 1 Localizao do experimento, Estrela Velha, RS ..................................... 15
ARTIGO I
Figura 1 Distribuio pluviomtrica diria e acumulada no perodo experimental, e ordem coletas de solo para anlises qumicas do solo, culturas e intervenes realizadas no experimento. * de agosto a novembro 2012 apenas o acumulado mensal da precipitao. Estrela Velha, RS ................................................................................... 23
Figura 2 Valores de m% para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 10% de m%. Anova para interao entre doses de calcrio + gesso X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01 ................................................................................................... 29
Figura 3 Valores de pH para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 10% de m%. Anova para interao entre doses de calcrio + gesso X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01 ................................................................................................... 31
Figura 4 Relao entre os valores de pH e V% para os pontos amostrados coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Retas pontilhadas representam a correlao da CQFS-RS/SC (2004). **p 0,01 ............... 33
Figura 5 Valores de Ca para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 4 cmolc dm
-3 Anova para interao entre doses de calcrio + gesso X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01 ................................................................................................... 35
Figura 6 Valores de S para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 10 mg dm-3(leguminosas). Anova para interao entre doses de calcrio + gesso X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01 ............................................................................. 37
Figura 7 Valores de K para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 180 mg dm-3(leguminosas). Anova para interao entre doses de K X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01 ........... 40
Figura 8 Efeito dos tratamentos sobre a produtividade de soja e trigo durante as safras de 2012 a 2014. Produtividade mdia soja 2012/2013 (3236 kg ha-1), trigo 2013 (4052 kg ha-1) e soja 2013/2014 (3399 kg ha-1). ns (p > 0,05); *(p
LISTA DE TABELAS
ARTIGO I
Tabela 1 Doses dos insumos aplicados ................................................................ 24
Tabela 2 Teores mdios dos atributos qumicos do solo estratificados e o erro padro, referentes caracterizao inicial da rea. Estrela Velha, RS ..... 25
Tabela 3 Teor mdio dos nutrientes foliares. Estrela Velha, RS ........................... 41
ARTIGO II
Tabela 1 Doses dos insumos aplicados ................................................................ 56
Tabela 2 Teores mdios dos atributos qumicos do solo estratificados e o erro padro, referentes caracterizao inicial da rea. Estrela Velha, RS ..... 57
Tabela 3 Teor mdio dos nutrientes foliares. Estrela Velha, RS ........................... 66
Tabela 4 Coeficientes de regresso mltipla pelo mtodo Stepwise entre teores foliares e suas correspondentes relaes do solo para as 7 profundidades em duas safras de soja. Estrela Velha, RS .................... 68
Tabela 5 Coeficientes de regresso mltipla pelo mtodo Stepwise entre as safras de soja e os teores de nutrientes foliares. Estrela Velha, RS ...... 69
Tabela 6 Coeficientes de regresso mltipla pelo mtodo Stepwise entre as safras de soja e os teores do solo. Estrela Velha, RS ............................ 69
Tabela 7 Coeficiente de correlao de Pearson (r) e nvel de significncia do coeficiente de correlao para correlao linear, para as safras de soja (2012/13 e 2013/14) e trigo (2013) com atributos foliares e solo .... 70
LISTA DE ABREVIAES E SIGLAS
Al ................................................................................................................... Alumnio
Ca ...................................................................................................................... Clcio
Ca/Mg .................................................................................. Relao Clcio/Magnsio
Ca/K ...................................................................................... Relao Clcio/Potssio
(Ca + Mg)/K .................................................... Relao (Clcio + Magnsio)/Potssio
ha .................................................................................................................... Hectare
K ..................................................................................................................... Potssio
KCl ................................................................................................ Cloreto de Potssio
Kg ha-1 ................................................................................... Quilogramas por hectare
Mg .................................................................................... Magnsio .../... Megagrama
Mg/K ................................................................................. Relao Magnsio/Potssio
m ........................................................................ Metros ... / ... Saturao de Alumnio
P ....................................................................................................................... Fsforo
S ...................................................................................................................... Enxofre
SPD .......................................................................................... Sistema Plantio Direto
V% .............................................................................................. Saturao por Bases
%Ca ............................................................................................. Saturao de Clcio
%Mg ....................................................................................... Saturao de Magnsio
%K ............................................................................................ Saturao de Potssio
SUMRIO
1 INTRODUO GERAL.......................................................................................... 12
1.1 Localizao da rea ............................................................................................ 15
2 HIPTESE ............................................................................................................. 16
3 OBJETIVOS DO TRABALHO ............................................................................... 17
3.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 17
3.2 Objetivos especficos .......................................................................................... 17
4 ARTIGO I MELHORIA DOS ATRIBUTOS QUMICOS DO SOLO PELA
ADIO COMBINADA DE CALCRIO E GESSO EM LATOSSOLO ARGILOSO
MANEJADO SOB PLANTIO DIRETO ...................................................................... 18
4.1 Resumo ............................................................................................................... 18
4.1.1 Abstract ............................................................................................................ 18
4.2 Introduo ........................................................................................................... 19
4.3 Material e Mtodos .............................................................................................. 22
4.4 Resultados e discusso....................................................................................... 27
4.4.1 Caracterizao inicial da rea. ......................................................................... 27
4.4.2 Melhoramento dos indicadores de acidez. ....................................................... 28
4.4.3 Alteraes dos atributos qumicos do solo. ...................................................... 34
4.4.4 Nutrio e produtividade da soja ...................................................................... 40
4.5 Concluses .......................................................................................................... 43
4.6 Bibliografia ........................................................................................................... 44
5 ARTIGO II RELAES DE BASES NO COMPLEXO DE TROCA
AFETADAS PELA APLICAO ISOLADA OU COMBINADA DE CALCRIO,
GESSO E ADUBAO POTSSICA E SEUS EFEITOS NA NUTRIO E
PRODUTIVIDADE DA SOJA E TRIGO. ................................................................... 50
5.1 Resumo ............................................................................................................... 50
5.1 Abstract ............................................................................................................... 51
5.2 Introduo ........................................................................................................... 51
5.3 Material e Mtodos .............................................................................................. 54
5.4 Resultados e discusso....................................................................................... 59
5.4.1Caracterizao inicial da rea ........................................................................... 59
5.4.2 Alteraes das relaes de bases no complexo de troca do solo .................... 60
5.4.3 Nutrio da soja e produtividade das culturas .................................................. 65
5.5 Concluses .......................................................................................................... 75
5.6 Bibliografia ........................................................................................................... 75
6 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 79
BIBLIOGRAFIA ........................................................................................................ 80
APNDICES ............................................................................................................. 83
1 INTRODUO GERAL
A presena de solos cidos no Brasil um limitante da produo agrcola. Os
solos tropicais apresentam limitaes de fertilidade caractersticos pela alta acidez e
pequena quantidade de fsforo (CAIRES, 2010). Nesses solos, a reduzida presena
dos ctions Clcio (Ca), Magnsio (Mg) e Potssio (K), e alumnio - em quantidade
que se torna txico s plantas, caracterizam os Latossolos brasileiros que esto
distribudos por todo o territrio e abrangem 31,5% da rea (EMBRAPA, 2006).
Para os estados do Rio Grande do Sul (RS) e Santa Catarina (SC) utiliza-se o
manual de adubao e calagem (CQFS RS/SC, 2004), que serve de referncia para
tcnicos e produtores para correo e manuteno da fertilidade dos solos. Os trs
sistemas de manejo utilizados para preparo e plantio do solo so basicamente trs:
o Sistema Plantio Convencional que gera grande mobilizao dos 0,2m iniciais do
solo; o preparo mnimo que preconiza pequeno revolvimento do solo; e o Sistema
Plantio Direto (SPD), o qual utilizado sem mobilizao e considerado como um
sistema conservacionista do solo.
O SPD teve incio no Brasil na dcada de 1970. Nesse perodo ocorreu
grande adoo por parte dos produtores que, no ano de 2003, j cultivavam mais de
25 milhes de hectares (ha). Atualmente dos 50 milhes de ha cultivados com gros,
30 milhes utilizam o SPD (CAIRES, 2013). Esse sistema contribui para reduzir
perdas de solo e nutrientes por eroso (COGO et. al., 2003, CAIRES, 2010), alm
de contribuir para a manuteno e o aumento da matria orgnica presente no solo
(BAYER et al., 2011). Nesse sistema preconizada a rotao de culturas e
distribuio de fertilizantes em cobertura ao solo. Sua amostragem ocorre na
camada 0,00-0,10 m para interpretao dos teores (CQFS RS/SC, 2004).
No sul do Brasil h predomnio de duas culturas de vero: soja e milho, as
quais esto presentes em mais de 80% da rea cultivada. Na ltima safra, 2013/14,
correspondem a mais de 12 milhes e 500 mil ha (hectares). Desses, 10 milhes e
500 mil ha cultivados com soja (IBGE, 2014). No entanto, essas culturas so
sensveis deficincia de gua, prejudicando a produo das culturas quando h
reduo pluviomtrica, a qual foi percebida em algumas safras nas ltimas dcadas
no estado do RS (Rio Grande do Sul). A m distribuio ou precipitao inferior ao
esperado prejudica a produo de gros pela ocorrncia de chuvas com baixa
13
frequncia e alta intensidade. Nas safras de vero dos anos 2004/05 e 2011/12, os
registros de baixa pluviosidade foram suficientes para reduzir a produtividade das
culturas em 30,7 e 31,5% (EMATER, 2012).
As coletas de solo realizadas sob SPD compreendem a camada de solo dos
primeiros 0,1m, propiciando uma camada rica e bem estruturada prxima da
superfcie. As camadas inferiores do solo com pH baixo e alumnio (Al) so
prejudiciais ao desenvolvimento do sistema radicular das plantas tornando-se um
limitante em perodos de dficit hdrico, pois as plantas no exploram a camada de
solo, o que prejudica a absoro de gua e nutrientes contidos nessa poro.
O calcrio utilizado como corretivo para reduo da acidificao, reduzindo
Al3+ e tambm elevando o pH, o qual disponibiliza mais P (fsforo), K, Ca e Mg na
medida em que o pH elevado at 6,5. A utilizao da calagem isolada torna a
correo do perfil do solo lenta, e na maioria dos casos restringe-se aos primeiros
centmetros do solo (CAIRES, 2010). No SPD a calagem cria uma frente de
correo, neutralizando em profundidade proporcional dose e ao tempo de
aplicao (CAIRES et al. 2005).
Adio de calcrio combinado ao gesso propicia a correo em profundidade
do perfil do solo, em funo do gesso apresentar facilidade em alcanar camadas
mais profundas em menor tempo. O gesso agrcola e sulfato de clcio diidratado
(CaSO4.2H2O) composto principalmente por Ca, enxofre (S) e poro menor que
1% de P. De acordo com Dias (1992), o on Ca2+ pode reagir no complexo de troca
do solo, deslocar Al3+, K+ e Mg2+ para soluo do solo, onde podem reagir com
sulfato (SO42-). Ocorre a formao de pares inicos neutros como: K2SO4
0, MgSO40
e CaSO40. Os pares descem no perfil do solo at as camadas mais profundas devido
a ao do sulfato e deslocam os ctions, ocorrendo a formao do complexo menos
txico s plantas AlSO40.
2CaSO4 . 2H2O + H2O === Ca2+ + SO4
2- + CaSO40 + 3 H2O
Ao ser distribudo no solo o gesso sofre a dissoluo (DIAS, 1992):
O gesso no substitui o calcrio na correo do solo, pois no altera o pH
(RAIJ, 2008). O nion sulfato formado pela aplicao de gesso se liga ao alumnio,
sendo formado o complexo AlSO40 que apresenta menor toxidez s plantas (DIAS et
al., 1992).
Um dos fatores que faz com que pesquisadores tenham encontrado
resultados positivos pela aplicao conjunta de calcrio e gesso para correo do
14
perfil do solo se deve a sua solubilidade, cerca de 150 vezes mais solvel que o
calcrio (VITTI, 1987). Devido a maior solubilidade, proporciona reduo de
saturao de alumnio (m) pelo aumento dos teores de Ca, Mg e S em profundidade
do solo (CQFS RS/SC, 2004). Ainda segundo Dias et al. (1992) a descida do SO4
atravs do perfil leva os ctions Ca e Mg em maior quantidade, seguido por K,
aumentando a V% (saturao por bases) a camadas inferiores.
As relaes entre os nutrientes Ca, Mg e K, possuem a devida importncia,
pois podem limitar a produtividade (ESCOSTEGUY, 2012; NOGARA NETO et al.,
2011; ROSOLEM et al., 2005; SANTI et al., 2012). Esses ctions competem por
stios de absoro de nutrientes na superfcie radicular das plantas. Os nutrientes
dividem o mesmo transportador que insere os nutrientes na clula, o transporte
intermembrana, podendo ocasionar a deficincia de se algum estiver em demasia
em relao aos demais, como alternativa para correo a adio do nutriente
deficiente (MARCHNER, 1995). Ca e o Mg esto presentes em maior quantidade,
nas formas trocveis e na soluo do solo, sendo a atividade do K influenciada pelos
teores destes dois ctions, pela concentrao de solutos e pelo teor de gua
disponvel no solo (RAIJ, 2011).
Relaes Ca/Mg, (Ca + Mg)/K, Ca/K, Mg/K so citadas como referncia para
observaes, pois quando h aumento da disponibilidade de Ca e Mg, em relao
ao K, causado pela calagem ou gessagem, a absoro de K reduzida devido a
competio entre os ctions (MASCARENHAS et al., 2000). A nutrio deficiente de
K ocasiona o inadequado funcionamento de vrias enzimas, reduz a taxa de
fotossntese e a translocao de acares, reduz a fixao biolgica de nitrognio
(FBN) e tambm causa problemas na regulao osmtica (MALAVOLTA, 2006).
Segundo Bear & Toth (1948 apud KOPITTKE & MENZIES, 2007), uns dos primeiros
autores a relatarem a participao dos ctions no complexo de troca deveriam
somar 80%, constituindo-se por saturaes de Ca (65%), Mg (10%), K (5%) e 20%
de H.
O equilbrio de bases tambm teve destaque para a nutrio de plantas de
milho, visto a variabilidade espacial da produtividade se correlacionou com nveis
baixos de saturao de Mg (Mg%), relao Mg/K e alta relao Ca/Mg (NOGARA
NETO et al., 2011). Ainda para a cultura do milho, os atributos de solo e foliares que
mais tiveram influncia sobre a produo foram Ca, Mg e K e suas relaes,
15
observando o desbalano em locais com altos teores de K (SHIRATSUCHI et al.,
2007).
Watanabe et al. (2005) encontraram para cultura da soja, no equilbrio da
saturao por bases aliada a reduo da populao de plantas, melhores
produtividades e aumento da lucratividade do produtor. J Escosteguy (2012) relata
sobre deficincias de K nas plantas, mesmo em solos com teores acima do
recomendado, sendo observado esse efeito com frequncia em lavouras de soja do
RS.
1.1 Localizao da rea
A rea experimental fica localizada no Municpio de Estrela Velha, prxima s
cidades de Julho de Castilhos, Arroio do Tigre e Salto do Jacu. Distancia-se da
Universidade Federal de Santa Maria cerca de 120 km.
Figura 1 Localizao do experimento, Estrela Velha, RS.
Fonte: Adaptado de Mapas-RS (2014).
Estrela Velha, RS.
2 HIPTESE
A combinao de calcrio com altas doses de gesso agrcola pode acelerar e
aprofundar a correo do perfil do solo, devido alta solubilidade do sulfato presente
no gesso. Tal efeito permite as plantas aprofundarem o sistema radicular, utilizando
a gua e nutrientes do subsolo disponveis para sua nutrio, sendo esse efeito mais
significativo em anos com dficit hdrico.
As relaes catinicas possuem faixas ideais para a cultura da soja e, se
estabelecidas, podero expressar o alto potencial produtivo que as cultivares atuais
possuem.
3 OBJETIVOS DO TRABALHO
3.1 Objetivo geral
Atravs da aplicao de diferentes doses de calcrio, gesso e cloreto de
potssio como fontes dos nutrientes clcio, magnsio, enxofre, fsforo e potssio.
Investigar as alteraes qumicas ao longo do perfil de um Latossolo Vermelho
Distrfico tpico manejado sob SPD e avaliar a produtividade da cultura da soja e do
trigo sob efeito dos tratamentos.
3.2 Objetivos especficos
Avaliar a correo da acidez e melhoria dos atributos qumicos do solo em
diferentes profundidades, aps 9 e 16 meses;
Avaliar os teores foliares da soja, a produo da soja e trigo expostos alta
dose de gesso;
Estabelecer quais relaes catinicas influenciaram na produtividade.
4 ARTIGO I MELHORIA DOS ATRIBUTOS QUMICOS DO SOLO
PELA ADIO COMBINADA DE CALCRIO E GESSO EM
LATOSSOLO ARGILOSO MANEJADO SOB PLANTIO DIRETO
4.1 Resumo
Nos ltimos anos, buscam-se alternativas que mantenham e sustentem a
produo das culturas em perodos de dficit hdrico. Dessa forma, este trabalho
avaliou as melhorias dos atributos qumicos em curto prazo, ao conjunta da
adio de calcrio + gesso e doses de potssio em Latossolo Vermelho distrfico
tpico de textura muito argilosa manejado sob Sistema Plantio Direto. O experimento
foi realizado na regio central do Rio Grande do Sul, em Estrela Velha, nos anos de
2012 a 2014. Os tratamentos foram dispostos em parcelas subdivididas com trs
repeties, os oito tratamentos foram constitudos de: duas doses de calcrio +
gesso agrcola (0 + 0 e 5,5 + 3,0 Mg ha-1) combinadas a quatro doses de cloreto de
potssio (0, 0,16, 0,33 e 0,66 Mg ha-1). O solo foi coletado em trs perodos
(caracterizao inicial, 9 e 16 meses) e analisado em sete profundidades (0-0,05;
0,05-0,10; 0-0,10; 0-0,20; 0,10-0,20; 0,20-0,40; 0,40-0,60 m). O tecido foliar da
cultura da soja foi analisado para o contedo nutricional e as produtividades dos
gros da soja (2012/13 e 2013/14) e do trigo (2013) foram avaliadas. As aplicaes
de cloreto de potssio resultaram na elevao dos teores foliares de Ca e P na
cultura da soja. A dose de calcrio + gesso resultaram na elevao dos valores de
pH, V% para camada superficial e reduo de 29% do ndice m% em todo o perfil,
ocorrendo a lixiviao de S no perfil do solo. As maiores doses de potssio
reduziram em mdia a produtividade da soja 2012/2013 em 13% e em 12% no ano
2013/2014.
Palavras Chave: Calcrio e gesso. Dficit hdrico. Lixiviao de nutrientes.
4.1.1 Abstract
IMPROVEMENT OF SOIL CHEMICAL ATRIBUTES COMBINED WITH LIME AND
GYPSUM IN AN HIGH CLAY CONTENT OXISOL UNDER NO-TILL
19
In recent years, alternatives are sought to maintain and sustain crop
production in periods of drought. Thus, this study evaluated the improvements of the
chemical attributes in short term, when lime+ gypsum and doses of potassium were
added to a high clay content dystrophic Red Oxisols, managed under no-till. The
experiment was performed in the central region of Rio Grande do Sul, in Estrela
Velha, on the years 2012 to 2014. The treatments were arranged in subplots with
three repetitions, the 8 treatments were constituted of: two doses of lime+ gypsum (0,
0.16, 0.33 and 0.66 Mg ha-1). The soil was collected at three times (initial
characterization, 9 and 16 months) and analyzed at seven depths (0-0.05; 0.05-010;
0-0.10; 0-0.20; 0.10-0.20; 0.20-0.40; 0.40-0.60 m). Soybean foliar tissue was
analyzed for nutrient content and productivity was evaluated for soybean (2012/13
and 2013/14) and wheat (2013). The potassium chloride applications resulted in the
elevation of foliar rates of Ca and P in soybean. The doses of lime+ gypsum resulted
in the elevation of pH, V% in the superficial layer and reduction of 29% of the m% in
all soil profile, occurring S leaching in soil profile. The highest potassium doses
reduced the productivity in average 13% and in 12% on 2013/2014.
Key words: Lime and gypsum. Drought. Nutrient leaching.
4.2 Introduo
Cerca de 83% (EMATER, 2014) das lavouras do RS so cultivadas com soja
ou milho, no vero, e manejadas sob o SPD (Sistema Plantio Direto). Esse, contribui
para reduzir perdas de solo e nutrientes por eroso (COGO et. al., 2003; BERTOL et
al., 2007), chegando a reduo de 74%, quando utilizada semeadura em contorno
(COGO et al., 2007), alm de contribuir para a manuteno e o aumento da matria
orgnica presente no solo (BAYER et al., 2011). Nele, preconizada a rotao de
culturas e a no inverso de camadas de solo. A recomendao oficial de
fertilizantes e corretivos para os estados do RS e SC (Santa Catarina) da CQFS
RS/SC (Comisso de qumica e fertilidade do solo RS/SC, 2004) baseada na
amostragem de solo para o SPD consolidado na camada diagnstico de 0,00-0,10
m.
20
A ltima safra do Sul do Brasil, 2013/14, corresponde a mais de 12 milhes e
500 mil ha (hectares). Desses, 10 milhes e 500 mil ha foram cultivados com soja
(IBGE, 2014). No entanto, a ocorrncia de dficits hdricos em virtude de secas no
perodo do vero, vem prejudicando a estabilidade da produo das culturas ao
longo dos anos, principalmente no RS (ESCOSTEGUY, 2012; SANTI et al., 2012;
DALLA NORA & AMADO 2013; DALLA NORA et al., 2013b).
A correo do solo no SPD com base na camada de 0 - 0,10 m, com metade
da dose para pH SMP = 5,5 e aplicado em superfcie, resulta apenas na correo da
camada superficial. Isso cria um gradiente de qualidade do solo entre a camada
superficial e subsuperficial, especialmente em Latossolos naturalmente cidos
(CAIRES, 2010; CAIRES et al., 2011; DALLA NORA & AMADO, 2013; DALLA NORA
et al. 2013b). A ocorrncia de baixos teores de nutrientes como Ca (clcio) e Mg
(magnsio) em camadas subsuperficiais e a presena de toxidez causada por Al
(alumnio) e Mn (mangans) so os principais limitantes ao aumento da
produtividade em solos cidos tropicais (FAGERIA & BALIGAR, 2003; CAIRES,
2014). Dessa forma, h necessidade de construo de um perfil de solo favorvel ao
desenvolvimento radicular em Latossolos cidos do RS, o que auxiliaria na
manuteno da produtividade mesmo em perodo de dficit hdrico de curta durao
(DALLA NORA & AMADO, 2013).
A ocorrncia de dficit hdrico frequente no RS. Das ltimas dez safras,
duas registraram baixa precipitao: 2004/05 e 2011/12. Nessas, a reduo da
produtividade das culturas foi de 30,7 e 31,5% (EMATER, 2012).
Atravs da calagem obtm-se a reduo do teor de Al3+, a elevao do pH e a
disponibilidade de P (fsforo), K, Ca e Mg. A utilizao de calcrio isolada, em dose
limitada e aplicado em superfcie, torna lenta a correo do perfil do solo. Na maioria
dos casos, a correo restringe-se aos primeiros centmetros do solo. Pela aplicao
do calcrio so geradas cargas variveis negativas, as quais retm os ctions nas
primeiras camadas do solo, dificultando a distribuio vertical dos nutrientes
(CAIRES, 2010). No SPD, a calagem cria uma frente de correo, neutralizando em
profundidade proporcional dose e ao tempo de aplicao, criando uma onda
alcalinizante (CAIRES et al. 2005; RAIJ, 2011).
Uma alternativa para a correo da camada de enraizamento sob SPD a
combinao da aplicao de calcrio e do gesso agrcola, pois a composio do
gesso apresenta elevada solubilidade em gua, possibilitando o arraste de bases
21
para camadas inferiores do perfil (RAIJ, 2011; CAIRES, 2012; DALLA NORA,
2013b). A cultura da soja expressa seu mximo rendimento quando as razes
atingem cerca de 1 m de profundidade. Quando atingem apenas 0,60 m reduzido
cerca de 30% da produtividade (ROSOLEM, 2005 apud RAIJ, 2011), realando a
necessidade de um perfil de solo mais homogneo entre a superfcie e as camadas
inferiores do solo, com o intuito de melhores condies para o bom desenvolvimento
radicular.
O gesso agrcola, tambm denominado de fosfogesso (sulfato de clcio
diidratado CaSO4.2H2O) composto principalmente por Ca, S (enxofre) e P (fsforo,
em poro menor que 1%). Na produo industrial de fertilizante fosfatado para a
agricultura, a reao do cido sulfrico com a rocha fosftica resulta em cido
fosfrico - produto primrio, e em gesso - produto secundrio (VITTI et al., 2008).
Para cada tonelada de cido fosfrico produzido so geradas de 4 a 5 toneladas de
gesso (VITTI, 2000). De acordo com a legislao do Brasil (2006), o gesso
classificado como corretivo de sodicidade e condicionador de solo. Tambm
promove melhorias nas propriedades fsicas, fsico-qumicas ou atividade biolgica
do solo, sendo ainda capaz de recuperar solos degradados ou que apresentam
desequilbrios nutricionais, alm de reduzir perdas de P solvel por escoamento
superficial (WATTS & DICK, 2014).
O gesso no substitui o calcrio na correo do solo, pois sozinho no altera
o pH. Portanto, gesso e calcrio so insumos complementares (RAIJ, 2008, 2011).
O gesso forma pares inicos neutros como: K2SO40, MgSO4
0 e CaSO40, e AlSO4
0
sendo que esse ltimo possui menor toxidade s plantas (DIAS et al., 1992;
FAVARETTO et al., 2008).
O gesso, quando utilizado como condicionador do solo, apresenta elevada
solubilidade: cerca de 150 vezes mais que o calcrio (VITTI, 1987).Em razo disso,
proporciona reduo de saturao de alumnio (m) pelo aumento dos teores de Ca,
Mg e S em profundidade do solo (CQFS RS/SC, 2004). Segundo Dias et al. (1992) a
descida do SO4 atravs do perfil carreia os ctions Ca e Mg em maior quantidade,
seguido por K, aumentando a V% (saturao por bases) no subsolo. Experimentos
com doses combinadas de calcrio e gesso verificaram aumento do pH em camadas
do subsolo de diferentes texturas, em perodos que variam de 8 a 55 meses
(CAIRES et al., 2003; ZAMBROSI et al., 2007a; DALLA NORA et al., 2013a,b;
DALLA NORA & AMADO, 2013; PAULETTI et al., 2014).
22
No RS existem poucos trabalhos sobre o uso de calcrio combinado com
gesso sob SPD, notadamente em latossolo muito argiloso. Nesse contexto, este
trabalho testou se a hiptese da aplicao conjunta de gesso e calcrio, combinado
a doses de cloreto de potssio capaz de melhorar a qualidade qumica das
camadas subsuperficiais, mesmo em solos com textura muito argilosa.
4.3 Material e Mtodos
Este estudo foi conduzido em uma rea agrcola comercial no municpio de
Estrela Velha RS (lat.-29,206672, long. -53,188621), regio que est 365m de
altitude mdia em relao ao nvel do mar. O clima classificado como subtropical
mido Cfa (Kppen, 1948), com perodos de dficit hdrico frequentes no perodo de
vero e outono. As variveis meteorolgicas regionais (Jlio de Castilhos RS,
distante 60km) apresentam precipitao mdia anual de 1678 mm, e a temperatura
mdia anual de 18,5C, com mnimas de 8,8C no inverno e mximas de 28,4 C no
vero (CEMETRS, 2014). Os registros de precipitao no perodo do experimento
so apresentados na Figura 1, sendo os mesmos disponibilizados pelo Sistema
AgroDetecta (BASF Brasil e Fundao ABC). O solo classificado como um
Latossolo Vermelho distrfico tpico (Embrapa, 2006), com relevo suave ondulado de
textura muito argilosa.
23
Figura 1 Distribuio pluviomtrica diria e acumulada no perodo experimental, e ordem coletas de solo para anlises qumicas do solo, culturas e intervenes realizadas no experimento. * de agosto a novembro 2012 apenas o acumulado mensal da precipitao. Estrela Velha, RS.
A rea experimental manejada sob SPD h aproximadamente 20 anos.
Anteriormente o local era manejado com pecuria extensiva sob campo nativo e a
rea recebia quantidades limitadas de corretivos e fertilizantes. Quando convertido
para a produo de gros, ocorreu a transio direta para o SPD. Nesse perodo de
plantio direto no ocorreram intervenes para correo do pH. Eram realizadas
apenas adubaes de fertilizantes formulados no sulco de plantio. As rotaes de
culturas foram introduzidas com culturas de inverno: aveia, canola, cevada, trigo; e
com culturas de vero: milho e soja.
O estudo foi conduzido em delineamento de parcelas sub divididas com trs
medidas repetidas na sub parcela. As parcelas experimentais foram dimensionadas
em 10 m X 40 m, totalizando 400 m. Os tratamentos foram doses de calcrio
combinadas com doses de gesso agrcola e cloreto de potssio (Tabela 1).
Utilizou-se calcrio calctico (CaO 45%, 1,5% Mg e PRNT 80%) nas doses de
0 e 5,5 Mg ha-1. A dose foi determinada pelo ndice SMP da camada 0 0,10 m para
o intervalo entre o pH desejado 6, seguindo a recomendao de metade da dose
Pre
cip
ita
o D
iria
(m
m)
Pre
cip
ita
o A
cu
mu
lad
a (
mm
)
Soja
2012/13
Trigo
2013
Soja
2013/14
Meses
Cevada
2012/13
Caracterizao Inicial/
Anlises Qumicas do Solo
Aplicao de
Calcrio e Gesso
Aplicao de Potssio
Anlises Qumicas do Solo Anlises Qumicas do Solo
* * * *
24
aplicada para SPD consolidado (CQFS-RS/SC, 2004). As doses estabelecidas foram
em funo da anlise de solo referncia, que havia sido analisada em maro de
2012 para camada de 0-0,15 m, a qual possua teores de argila (500 g kg-1) e ndice
SMP (5,1) necessrios para recomendao de calcrio e gesso. A aplicao de
calcrio foi combinada com a dose de gesso de 3,0 Mg ha-1, estabelecidas pela
recomendao do Estado de So Paulo (NG=6 x argila (g kg-1)), seguindo os
critrios para aplicao pelo teor de Ca inferior a 4 mmolc dm-3 e saturao por Al
(m%) maior que 40% para a camada de 0,20 0,40 m (RAIJ et al., 1996).
Tabela 1 Doses dos insumos aplicados.
Tratamento Insumo kg ha
-1 Nutriente adicionado (kg ha
-1)
Calcrio1 Gesso
2 Potssio
3 Ca Mg S K
4 P
5
T 0 a 0 0 0 0 0 0 0 0
T 0 b 0 0 167 0 0 0 100 0
T 0 c 0 0 333 0 0 0 200 0
T 0 d 0 0 667 0 0 0 400 0
T 1 a 5500 3000 0 3056 83 508 0 24
T 1 b 5500 3000 167 3056 83 508 100 24
T 1 c 5500 3000 333 3056 83 508 200 24
T 1 d 5500 3000 667 3056 83 508 400 24 1Calcrio calctico (45% Ca, PRNT 80%),
2Gesso Agrcola (19,35% Ca, 16,93% S e 0,8% P),
3Cloreto
de potssio (60% K2O), 4K2O
5P2O5.
Foram coletadas amostras de solo estratificadas de cada parcela nas
camadas de 0-0,05; 0,05-0,10; 0,10-0,20; 0,20-0,40; 0,40-0,60 m de profundidade do
solo, para realizao das anlises qumicas de acordo com Tedesco et al. (1995).
As amostragens ocorreram em trs perodos: a primeira, com o intuito da
caracterizao inicial da rea ocorreu em agosto de 2012, e as coletas
subsequentes aps 9 e 16 meses da coleta inicial. As amostras foram secas em
estufa de aerao forada a 65C at estabilizao do peso e depois foram modas
e peneiradas em malha de 2 mm. Em seguida, foram realizadas as determinaes
dos teores de Argila, Al, Ca, K, M.O., Mg, P, pH, S e SMP. A caracterizao inicial
dos atributos qumicos do solo est apresentada na Tabela 2.
25
Tabela 2 Teores mdios dos atributos qumicos do solo estratificados e o erro padro, referentes caracterizao inicial da rea. Estrela Velha, RS.
Profundidade pH SMP Al(1)
Ca(2)
Mg(3)
Ca/Mg(4)
CTCpH7,0(5)
K(6)
P(7)
S(8)
m(9)
V (10)
Argila MOS(11)
m H2O --------------------- cmolc dm-3
----------------- ---- mg dm-3 ---- ---- % ---- ---- g kg
-1 ----
0,00-0,05 4,8 5,3 1,3 4,7 1,6 3,0 16,5 260,0 67,5 6,6 15,4 42,9 586,9 55,2
Erro(12)
0,0 0,0 0,1 0,2 0,1 0,2 0,3 11,2 5,0 0,2 1,4 1,4 12,2 0,8
0,05-0,10 4,6 5,2 2,1 3,9 1,4 2,9 17,0 148,4 40,6 5,3 28,4 33,6 706,4 35,4
Erro(12)
0,0 0,0 0,1 0,2 0,1 0,1 0,2 8,1 5,0 0,2 1,8 1,8 8,4 0,7
0,10-0,20 4,6 5,2 2,5 2,8 1,2 2,4 15,8 101,1 17,8 4,7 37,6 27,8 758,3 24,0
Erro(12)
0,0 0,0 0,2 0,2 0,1 0,1 0,5 6,2 1,8 0,2 3,0 2,2 10,7 -
0,20-0,40 4,5 5,1 3,3 2,4 1,0 2,0 16,4 64,1 9,4 10,0 52,1 19,6 808,5 11,0
Erro(12)
0,0 0,0 0,1 0,1 0,1 0,1 0,6 4,9 1,3 1,2 2,4 1,6 10,1 -
0,40-0,60 4,5 5,1 3,6 1,5 0,8 1,9 15,8 44,1 7,5 9,3 59,3 16,3 863,7 3,5
Erro(12)
0,0 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,7 3,2 1,1 1,3 1,7 1,1 10,3 -
Erro total(13) 0,0 0,0 1,7 0,1 0,0 0,1 0,2 7,7 2,6 0,4 0,1 1,1 9,1 2,0 (1)
Alumnio;(2)
Clcio; (3)
Magnsio; (4)
Relao Ca/Mg; (5)
CTCpH7,0, (6)
Potssio; (7)
Fsforo; (8)
Enxofre; (9)
Saturao por Alumnio CTC efetiva; (10)
Saturao por bases; (11)
Matria Orgnica; (12)
Erro padro; (13)
Erro padro total.
Durante os anos 2012/13 e 2013/14, foi cultivada a soja [Glycine max (L.)
Merrill] na rea do experimento. A primeira safra foi semeada em 28 de novembro de
2012 com a utilizao da cultivar Ativa (Brasmax). No ano seguinte, a oleaginosa foi
semeada em 23 de novembro de 2013 com a cultivar 5909 (Nidera). As adubaes
formuladas aplicadas no sulco de semeadura foram idnticas em suas quantidades
(300 kg ha-1) e distintas nas formulaes 0-25-25 e 2-30-10 NPK (nitrognio, fsforo
e potssio), primeira e segunda safra, respectivamente. A segunda safra foi
complementada com a adio via distribuio a lano de 120 kg ha-1 de KCl (cloreto
de potssio (60% K2O)). As aplicaes no sulco resultaram em um total de 75 e 90
kg ha-1 de P2O5 para primeira e a segunda; e de 90 e 102 kg ha-1 para K2O, na
primeira e segunda safra, respectivamente.
As fertilizaes ocorreram de acordo com a expectativa e o histrico da
produtividade 3600 kg ha-1, exportando em gros 54 e 85 kg ha-1 de P2O5 e K2O,
respectivamente (CQFS-RS/SC, 2004). Em relao exportao de nutrientes via
colheita, na primeira e segunda safra de soja foram adicionados fertilizantes acima
da quantidade exportada.
O espaamento da soja nos dois anos foi de 0,5m entre linhas, com uma
mdia de 18 plantas por metro, resultando em um estande de plantas de 360 mil
plantas ha-1. Os tratos culturais foram os mesmos durante os dois anos investigados.
26
A coleta de amostra do tecido foliar ocorreu no perodo do florescimento, de
acordo com a metodologia proposta por CQFS-RS/SC (2004), coletadas folhas com
pecolo, no tero superior de 30 plantas. Foram determinados os teores de
nitrognio (N), fsforo (P), potssio (K), clcio (Ca) e magnsio (Mg), analisados de
acordo com a metodologia proposta por Tedesco (1995).
A cultura do Trigo (Triticum aestivum L.) desenvolveu-se na safra de inverno
de 2013. Seu plantio ocorreu no dia 5 de julho e a colheita em 18 de novembro. O
espaamento entre plantas de 0,2 m entre linhas juntamente com uma mdia de 60
plantas por metro resultou em um estande de plantas de 300 plantas m-2. A
fertilizao empregada foi de DAP (fosfato diamnio) 200 kg ha-1 com adio de
uria em cobertura, parcelada em duas aplicaes de 80 kg ha-1 para a cultivar
FUNDACEP 52.
A determinao da produtividade atravs da colheita manual das safras
agrcolas ocorreu com a coleta de 2 metros lineares em cada parcela, constituindo
duas fileiras paralelas para soja e cinco para o trigo, totalizando 2 m por parcela. A
umidade foi corrigida para 13% e os resultados de produtividade transformados para
kg ha-1.
Os dados para cada varivel dependente (parmetros qumicos do solo e
foliar da cultura) foram analisados atravs de todas as coletas usando medidas
repetidas por meio da ANOVA de modelos lineares mistos, pelo Mtodo de Mxima
Verossimilhana Restrita (REML) usando o procedimento PROC MIXED no SAS
v9.1 (SAS Institute Inc., USA), para estudar o efeito dos tratamentos, calcrio +
gesso, doses de potssio, poca de amostragem e interaes entre tratamentos e
pocas de amostragem. Quando o efeito dos tratamentos foi significativo (P 0,05),
a significncia da diferena entre as mdias dos tratamentos foi determinada usando
o mtodo de comparao mltipla de Tukey (P 0,05). A normalidade dos dados foi
testada usando o procedimento PROC UNIVARIATE. Parmetros que no estavam
distribudos normalmente foram transformados pelo mtodo de Box-Cox (Box e Cox,
1964).
27
4.4 Resultados e discusso
4.4.1 Caracterizao inicial da rea.
Os resultados da amostragem na coleta inicial, interpretados conforme a
Comisso (CQFS-RS/SC, 2004), mostram que os teores de Ca estavam altos na
superfcie e baixos nas camadas mais profundas. J o Mg, classificado como alto
e o S com nveis mdios, ambos em todas as camadas. Fica evidenciado a
qualidade qumica inferior de solo traduzida pela elevada acidez: o ndice m
(Saturao por Alumnio) apresenta valores inferiores ao limite crtico (10%), tanto
para pH, como para V%, nas amostras da superfcie at as camadas mais
profundas.
A rea apresentava teores dos nutrientes Ca, Mg e K acima do crtico (4, 1 e
180 cmolc dm-3), teor muito elevado de P, cerca de 350% acima do recomendado (12
mg dm-3). J o teor de enxofre (S) era inferior ao recomendado (5 cmolc dm-3).
Observamos a presena de Al e sua saturao no solo, correlacionados com pH
baixos. A elevao da saturao de Al e os teores de Ca, Mg, K e P reduzem-se
medida que o perfil do solo vai se aprofundando. Quanto ao teor de Matria orgnica
(MO), na superfcie elevado (47 g kg-1), reduzindo-se na camada mais profunda (1
g kg-1).
O pH presente na rea encontrava-se muito baixo em virtude da no
utilizao de corretivos no perodo de manejo com SPD. O perfil apresenta valor
mdio de 4,67, mostrando um gradiente que se eleva de 4,5 no subsolo a 5 em
superfcie. A camada superficial deveria apresentar valores prximos de 5,5 a 6,0
(CQFS-RS/SC, 2004). No tratamento testemunha, o pH estava abaixo de 5 em todas
as camadas investigadas, alterando a disponibilidade de vrios nutrientes como:
clcio, magnsio, potssio, nitrognio, enxofre, boro, fsforo, molibdnio e cloro
(MALAVOLTA, 1976). O pH influi na atividade do Al de tal maneira que sob pH
abaixo de 5,5 ocorre a presena de Al3+ txico s plantas.
Segundo a CQFS a recomendao de calcrio seria de 6,0 Mg ha-1 para pH
5,5, ou 9,1 Mg ha-1 para pH 6,0, sendo estabelecida essa ltima dose com utilizao
de dose SMP e PRNT 100%. O total recomendado foi de 5,5 Mg ha-1 de calcrio,
o que demonstra que a rea apresentava probabilidade de resposta ao calcrio e
tambm ao gesso (CAIRES, 2012; DALLA NORA & AMADO, 2013). Raij et al.
28
(1996) indicam o teor de Ca menor que 4 mmolc dm-3, e valor de m acima de 40%
para as camadas sub superficiais (0,20-0,40 m), para que o gesso agrcola
apresente probabilidade de resposta.
A Tabela ANOVA foi gerada para ordenar os testes de mdias por Tukey. No
Apndice A apresentado os nveis de significncia para 7 camadas de solo
analisadas dos fatores isolados: C+G (doses de calcrio + gesso); K (doses de
potssio); T (tempo). As Interaes: C+G X K (doses de calcrio + gesso X doses
de potssio); C+G X T (doses de calcrio + gesso X tempo); K X T (doses de
potssio X tempo); C+G X K X T (doses de calcrio + gesso X doses de potssio X
tempo). J o Apndice B apresenta a ANOVA para os dados foliares e produtividade
das culturas para os fatores isolados C+G (doses de calcrio + gesso), K (doses de
potssio) e as Interaes: C+G X K (doses de calcrio + gesso X doses de
potssio).
4.4.2 Melhoramento dos indicadores de acidez.
Os valores mdios das interaes e comparao por Tukey da saturao por
alumnio so apresentados no Apndice A, enquanto a Figura 2 apresenta a
evoluo temporal para as trs coletas realizadas nas cinco profundidades. A
recomendao para camada 0-0,10 m de que esses valores estejam inferiores a
10% para que no prejudiquem o desenvolvimento radicular (SOUSA et al., 2005;
CQFS-RS/SC, 2004). A Figura 2 apresenta que a recomendao oficial foi obtida
apenas em uma parcela na coleta aos 16 meses, T1C, a qual recebeu calcrio +
gesso e 0,2 Mg ha-1 de K20. Nesse tratamento observada uma reduo de 40% em
relao a coleta inicial. Quando observado a reduo pela mdia da saturao por
alumnio para os tratamentos T1, que receberam as doses de calcrio + gesso para
camada superficial, houve reduo de 80% aps 16 meses, j para as camadas
subsequentes a reduo foi de 37, 13, 10, e 7% (0,05-0,10; 0,10-0,20; 0,20-0,40;
0,40-0,60 m).
29
Figura 2 Valores de m% para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 10% de m%. Anova para interao entre doses de calcrio + gesso X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01.
Quando da implantao dos tratamentos em todas as camadas, os valores
eram superiores ao crtico para os tratamentos que receberam doses de calcrio +
gesso. Os quatro tratamentos ficaram com os valores do ndice m inferiores a
recomendao nas avaliaes de 9 e 16 meses 0-0,05 (Figura 2).
A interao entre os trs fatores no foi significativa para nenhuma camada
do solo, ocorrendo o mesmo para algumas camadas das interaes duplas e
tambm para os fatores isolados. J os dados do fator isolado dose calcrio +
gesso, ou sem a dose apresentaram diferenas para as camadas de 0-0,05, 0-0,10
m e 0,20-0,40 m de m%. As redues nessas trs camadas citadas foram de 46, 22
e 11%, vide Apndice C.
A interao entre calcrio + gesso X tempo para camada de 0-0,10 m reduz
m% em 38% na segunda coleta, enquanto dos 9 para 16 meses ocorre elevao em
9%. Diferentemente do que se esperaria, a reduo gradual no tempo pela ao
lenta que calcrio exerce de correo. Esse efeito diferenciou-se do reportado por
Raij (2011) sobre a reduo de m% na camada 0,0 a 0,25 m em Latossolo de
textura leve, pela adio de 6 Mg ha-1 de calcrio + 6 Mg ha-1 gesso reduzindo a
saturao por alumnio de 68 para 2%, concomitantemente elevando a saturao
por bases. Esse efeito descrito pelo autor deva ocorrer pela maior dose de gesso
0 10 20 30 40 50 60 70
0,05
0,10
0,20
0,40
0,60
0 10 20 30 40 50 60 70 0 10 20 30 40 50 60 70
m%
a. b. c.
010
20
30
40
50
60
70
0,0
5
0,1
0
0,2
0
0,4
0
0,6
0
al
m mx
T0a
T0b
T0c
T0d
T1a
T1b
T1c
T1d
m% (10%)
**
ns
ns
ns
ns
Pro
fundid
ade (
m)
30
adicionada, o dobro do atual trabalho, beneficiado pela baixa quantidade de argila e
reao dos corretivos em perodo superior de observao.
Ao investigar o efeito da aplicao conjunta de 1,5 Mg de gesso e 5, Mg de
calcrio, Dalla Nora et al. (2013b) verificaram redues no ndice m em 36% (0,30 a
0,45 m), em solo de textura mdia, decorridos 40 meses. Esse trabalho apresenta
doses semelhantes as utilizadas no presente trabalho, com o perodo de
observaes mais amplo que possa descrever melhor as reaes conjuntas dos
corretivos no solo. A reduo de 10% observada na camada de 0,200,40 m neste
trabalho, para tratamentos com doses de calcrio + gesso em relao a
caracterizao inicial.
A recomendao da Comisso nos estados do RS e SC (CQFS-RS/SC, 2004)
seria somente a de corrigir o pH com calcrio. No entanto, optou-se por aplicar
gesso e calcrio associados e observou-se que isso foi determinante para o
aumento do pH e da saturao por bases em subsuperfcie. Para calcrio e gesso
ou somente gesso para o SPD no h essa recomendao. Por isso, mais testes
devem ser realizados para confirmar a dose a ser aplicada (CAIRES, 2012). O
indicado para camada diagnstica do SPD (0-0,10 m) pH na faixa de 5,5 a 6,0
(CQFS-RS/SC, 2004), onde os valores pH abaixo dessa faixa apresentam resposta
a calagem. A Figura 3, apresenta os dados para as camadas analisadas e fica
evidente pela Figura 3a que todos os valores estavam abaixo da faixa ideal.
O Apndice D apresenta a variao dos tratamentos que ocasionaram
alterao no pH. Ele ocorre primeiramente em superfcie, deslocando-se para
camadas subsuperficiais logo aps 9 meses, ocorrendo leve reduo na ltima
coleta. Os tratamentos que adicionam calcrio e gesso apresentam melhora no pH
solo, esses tratamentos adicionam 0,5 Mg de enxofre contidos no gesso,
proporcionando a movimentao descendente no perfil (OH- e HCO3-) devido a
maior mobilidade do sulfato. Com isso, a frente de alcalinidade que ocorre pela
aplicao apenas de calcrio alterada em decorrncia da aplicao conjunta dos
corretivos (Caires et al., 2005; Caires, 2010; RAIJ, 2011).
As interaes do calcrio + gesso X tempo e interao entre os trs fatores
apresentaram diferenas para as camadas analisadas, que so importantes para
verificar a correo da acidez do solo. Na interao dos dois fatores observada
18% de melhoria para coleta aos 9 meses; j aos 16 meses, fica em 13% para os
tratamentos T1 (mdia dos que receberam calcrio + gesso) para camada 0-0,05m.
31
As camadas inferiores a superfcie do solo apresentaram melhorias at a ltima
camada analisada, em relao a caracterizao inicial. Para coleta 9, a elevao do
pH apresentou 2,3%, 12,9%, 7,9%, 2.9%, enquanto aos 16 meses apresentou 4,2%,
10,3%, 5,9%, 1,5% para as camadas 0,05-0,10, 0-0,10, 0-0,20 e 0,40-0,60 m,
respectivamente.
A interao entre os trs fatores apresenta o tratamento que recebeu doses
de calcrio + gesso e zero de potssio como o melhor estatisticamente,
diferenciando-se dos demais na camada de 0,40-0,60 m. J as demais camadas de
solo verificadas para essas interaes no apresentaram diferena estatstica.
A Figura 3 apresenta a evoluo temporal por tratamentos e profundidades
destacando a faixa ideal de pH entre 5,5 e 6,0. Dentre as amostras analisadas na
primeira coleta, nenhum ponto est na faixa ideal. J nas coletas posteriores para
camada 0-0,5m, os tratamentos que receberam a dose de calcrio + gesso ficaram
dentro da faixa ideal ou prximos a ela. Os tratamentos T1c e T1d (Tabela1),
apresentam evoluo dos valores de pH at a camada de 0,20 m, possivelmente em
virtude da maior mobilidade do sulfato que lixivia rapidamente.
Figura 3 Valores de pH para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 10% de m%. Anova para interao entre doses de calcrio + gesso X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01.
A camada diagnstica de 0,0-0,10 m para o tratamento com dose de calcrio
e gesso atingiu pH 5,22, enquanto os tratamentos sem a dose 4,8. Eles
4 4.5 5 5.5 6 6.5
0,05
0,10
0,20
0,40
0,60
4 4.5 5 5.5 6 6.5 4 4.5 5 5.5 6 6.5
44.5
55.5
66.5
0,0
5
0,1
0
0,2
0
0,4
0
0,6
0
pH (6,0)
pH (5,5)
T0a
T0b
T0c
T0d
T1a
T1b
T1c
T1d
pH
**
ns
ns
*
*
Pro
fund
idad
e (
m)
a. b. c.
000 , , , , , , , , ,
32
representaram acrscimo de pH em 8,5% para T1, relacionados a dose zero, na
coleta de 16 meses, Apndice D.
Trabalhos reportam que o aumento do pH em camadas mais profundas
ocorre em virtude da adio do calcrio. Se aplicado em superfcie, o incremento do
pH ocorrer em camadas profundas somente a longo prazo (CAIRES et al., 2003,
2005), existindo a necessidade de um volume de precipitao superior a 1000 mm
anuais (OLIVEIRA & PAVAN, 1996). A precipitao ocorrida (Figura 1) nos primeiros
9 meses chega ao acumulado de 1336 mm, precipitando mais 987 mm at o perodo
da coleta com 16 meses, resultando no acumulado geral do perodo de 2323 mm. A
pluviosidade observada nesses 469 dias representa o volume dirio de 5,1 mm dia-1
referente ao primeiro perodo e o acumulado total de 4,95 mm dia-1.
Outros trabalhos reportam a eficincia da calagem e gessagem na melhora do
pH em profundidade (CAIRES et al. 2003), diferindo desta anlise, principalmente na
textura, valores iniciais de pH e perodo de anlise. Para Dalla Nora et al. (2013a) o
pH evolui em 3,5% aps 30 meses, com doses de calcrio + gesso (2 Mg + 5Mg) em
latossolo de textura mdia de 650 g kg-1, valores de elevao do pH prximos a
mdia da evoluo deste trabalho, o qual para todas as camadas do perfil foi de 7%.
A relao entre os valores de pH prximos a 5,5, 6,0 e 6,5 correspondem a
V% prximos a 65, 80 e 85%, respectivamente (CQFS-RS/SC, 2004). Nos pontos da
camada superficial (0-0,10 m), na faixa de pH 5,5 a 6,0 e V% entre 65 e 80%, foram
encontrados 6% dos pontos analisados neste trabalho. A relao pH X V% das
amostras de solo pode ser observada na Figura 4, na qual foram estabelecidas
relaes lineares para cada coleta. A Figura 4a apresenta a reta elaborada a partir
de todos os dados da coleta 1, com regresso linear de R 0,78. J os dados da
coleta 9 resultam em R 0,85 e os dados da ltima coleta apresentaram o melhor
ajuste R 0,86. Para as regresses b. e c. possvel verificar que os dados mais
prximos a superfcie se encontram na parte superior da reta, enquanto os dados
das camadas mais inferiores se localizam no outro extremo da reta, devido a
melhoria desses atributos pela ao do calcrio + gesso.
33
Figura 4 Relao entre os valores de pH e V% para os pontos amostrados coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Retas pontilhadas representam a correlao da CQFS-RS/SC (2004). **p 0,01.
Para as profundidades 0-0,05 e 0-0,10 m a adio combinada de calcrio +
gesso incrementou a saturao por bases, em decorrncia da adio de Ca e Mg,
que por sua vez, contriburam para reduo do alumnio presente no solo, Apndice
E. A V% para os tratamentos T1 (doses de Calcrio + gesso, com e sem potssio)
apresentaram incremento com diferenas significativas, aps 9 e 16 meses, em
todas as camadas investigadas. O tratamento T1 diferiu de T0 na primeira camada e
elevou a saturao por bases em 41%. J na camada de 0-0,10 m a V% se elevou
em 34% em relao a caracterizao inicial. Nas demais no houve diferena
estatstica, Apndice E. A interao entre K e tempo apresentou diferena, aps 16
meses, para as camadas 0-0,20 e 0,10-0,20 m para o tratamento que recebeu 0,2
Mg ha-1 de K2O, possivelmente pela contribuio que o potssio tem na composio
do V%.
Caires et al. (2006) e Sousa et al. (2012) reportaram o efeito do gesso aps
55 meses em camadas de solo at 0,40 m e 0,20-0,30 m, respectivamente. Neste
trabalho os tratamentos receberam doses inferiores e tempo reduzido em relao
aos dos autores acima citados, ocorrendo alterao significativa at a camada
diagnstica para o SPD 0-0,10 m, apresentando valor de 54,26%. Observando o
fator tempo isolado, Apndice E, as camadas apresentam significativa evoluo de
V%, representando 27, 22, 25, 25, e 25% para as profundidades 0-0,05, 0,05-0,10,
0-0,10, 0-0,20, 0,10-0,20 m, respectivamente.
0.0
15.0
30.0
45.0
60.0
75.0
90.0
4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.5
0.0
15.0
30.0
45.0
60.0
75.0
90.0
4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.5pH
0.0
15.0
30.0
45.0
60.0
75.0
90.0
4.0 4.5 5.0 5.5 6.0 6.500 0,,,,, ,,,,, ,,,,,
,
,
,
,
,
,
y = -9.3556x2
+ 136.19x
-400.47
R = 0.8702
0.0
15.0
30.0
45.0
60.0
75.0
90.0
4.04.55.05.56.06.5
0-0,05m
0,05-0,10m
0-0,10m
0,10-0,20m
0-0,20m
0,20-0,40m
0,40-0,60m
coleta 16
Polinmio (coleta 16)
y = -9.3556x2
+ 136.19x
-400.47
R = 0.8702
0.0
15.0
30.0
45.0
60.0
75.0
90.0
4.04.55.05.56.06.5
0-0,05m
0,05-0,10m
0-0,10m
0,10-0,20m
0-0,20m
0,20-0,40m
0,40-0,60m
coleta 16
Polinmio (coleta 16)Coletas
V%
y = 49,21x 196,94
R = 0,78**y = 41,68x 169,37
R = 0,85**
y = 43,00x 169,66
R = 0,86**
,a. b. c.
34
4.4.3 Alteraes dos atributos qumicos do solo.
Nesta seo, so discutidos em decorrncia da influncia das doses de
calcrio, gesso e potssio aplicadas no presente trabalho, os resultados dos teores
de clcio, magnsio, enxofre e fsforo. Os nveis de fertilidade do solo
apresentavam-se com teores de Ca, Mg, P e K acima dos nveis crticos: Ca (4 cmolc
dm-3); Mg (1 cmolc dm-3); P (12 mg dm-3); K (180 mg dm-3) (CQFS-RS/SC, 2004).
Havia, assim, a necessidade de correo do pH, elevao do teor de S, elevao da
V% e reduo do ndice m%. O efeito do tratamento com calagem + gessagem
propiciou melhoria qumica da superfcie, no sendo percebida nas camadas da
subsuperfcie, inferiores a 0,10 m.
As principais alteraes ocorridas no perfil do solo foram a elevao dos
teores de Ca, Mg e S, significativas temporalmente at 0,6m, Apndices F, G e H.
Inicialmente houve uma evoluo no S, principalmente na camada superficial. No
entanto, com o transcorrer do tempo, ele migrou para as camadas mais profundas
de 0,20-40 e 0,40-0,60 m. Consequentemente a elevao do pH, reduo da
atividade de alumnio e maior percentual de saturao por bases catinicas foram
observadas.
A aplicao conjunta de calcrio e gesso resultou no incremento dos teores
de clcio, magnsio e enxofre, sendo que os dois primeiros constituem parte do
valor de V%, o qual possui faixas de recomendao adequada ao bom
desenvolvimento das culturas (Figura 4).
35
Figura 5 Valores de Ca para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 4 cmolc dm
-3 Anova para interao entre doses de calcrio + gesso X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01.
As doses de calcrio e gesso proporcionaram elevao dos teores de Ca na
camada 0-0,05m, sendo percebido nos quatro tratamentos que receberam os
corretivos. Ao observar o fator tempo, apndice F a diferena estatstica para as
camadas superficiais at a ltima camada coletada. A coleta dos 9 meses apresenta
diferenciao at a camada 0,20-0,40 m, enquanto na coleta dos 16 meses o teor
elevado em todas as camadas at a 0,40-0,60 m. A elevao dos teores de Ca aos
9 meses representou 25, 18, 16, 14 e 20%, para as camadas 0-0,05, 0-0,10, 0-0,20,
0,10-0,20, 0,20-0,40 m, respectivamente. Enquanto na anlise posterior, 16 meses a
elevao dos teores de Ca foi de 27, 19, 22, 26, 25 e 27%, para as camadas 0-0,05,
0-0,10, 0-0,20, 0,10-0,20, 0,20-0,40, 0,40-0,60 m, respectivamente. Essa elevao
de clcio em profundidade ocorre possivelmente em virtude da percolao do
nutriente devido a associao do Ca ao sulfato (DIAS, 1992; SOUSA, 2005;
CAIRES, 2012).
O teor de Ca na interao calcrio + gesso X tempo, Apndice F, os
tratamentos T1 so promovidos em relao a coleta 1 para camada 0-0,05m em 33
e 37% para coleta 9 e 16 meses, respectivamente. Quando observado a mdia para
todo o perfil pelo efeito do tempo, ocorre aumento do teor de clcio em 24%, ou seja,
o teor de clcio passa de 3,14 para 3,90 cmolc dm-3. Ainda de acordo com Dias
(1992) a lixiviao de Ca s camadas do subsuperficiais do solo est relacionada a
0 2 4 6 8 10
0,05
0,10
0,20
0,40
0,60
0 2 4 6 8 10 0 2 4 6 8 10
a. b. c.
Ca
02
46
810
0,0
5
0,1
0
0,2
0
0,4
0
0,6
0
Ca
T0a
T0b
T0c
T0d
T1a
T1b
T1c
T1d
**
ns
ns
ns
ns
Pro
fund
idad
e (
m)
36
textura do solo, granulometria do corretivo, pluviosidade e o tempo de ao dos
corretivos. O efeito do gesso de aumentar o teor de Ca e ocasionar a reduo do
ndice m% no subsolo, proporciona estmulo s razes e melhores condies de
explorar o solo at as camadas mais profundas, resultando em uso mais eficiente de
gua e maior absoro de nutrientes (DIAS, 1992; SUMNER, 1995). Pauletti et al.
(2014) reportam que a baixa mobilidade natural de Ca nas camadas subsuperficiais
aliada a reduzida mobilidade do nutriente na planta, causa deficincia nos tecidos
das novas razes que exploram camadas mais profundas do solo com reduzido teor
do nutriente.
Para os teores de magnsio (Apndice G), verificou-se no efeito isolado dos
tratamentos com dose de calcrio + gesso, aumento do teor em superfcie e
profundidade. Teores de Mg para as camadas 0-0,05 e 0-0,10 m evoluram em 28 e
12% para a mdia dos tratamentos que receberam calcrio + gesso. O fator isolado
do tempo demonstra efeito descendente desse nutriente no solo, aps 9 meses os
teores haviam se elevado at a ltima camada do perfil, enquanto aos 16 meses h
pequena reduo dos teores em todas as camadas.
Esse resultado provavelmente resulta de mobilizao vertical do nutriente pr-
existente correo, em funo da dose de gesso (OLIVEIRA & PAVAN, 1996;
CAIRES et al., 2003). A reduzida quantidade de Mg contido no calcrio adicionado,
proporcionou a adio de apenas 83 kg ha-1 do nutriente. O sulfato presente no
gesso movimenta-se no perfil at as camadas mais profundas (ZAMBROSI et al.,
2007b; CAIRES, 2012), podendo ligar-se ao magnsio, formando assim o par inico
sulfato de magnsio (MgSO4), o qual lixiviado no solo.
Essa movimentao percebida aos 16 meses no identificada como perda
dos nutrientes, mas sim como um benefcio elevao dos teores em subsuperfcie.
Ela beneficia os valores da saturao por bases, como visto na Figura 3. Se
analisado o nvel crtico, de acordo com a comisso (CQFS-RS/SC, 2004), 1 cmolc
dm-3 para camada de 0,0 a 0,10 m, o teor de Mg para todos os tratamentos
superior ao crtico em at 100%. Dias (1992) e Caires (2012) recomendam o uso
conjunto de calcrio dolomtico ao gesso, principalmente em solos com teores
limitantes de Mg. Tal efeito da percolao de Mg devido a doses de gesso
reportado por diversos autores Zambrosi et al. (2007b), Rampim et al. (2011), Dalla
Nora et al. (2013a) e Pauletti et al. (2014), ocorrendo devido alta contrao de Ca2+
37
no solo que desloca o Mg2+ dos stios de troca, que pode ligar-se ao sulfato,
formando sulfato de magnsio.
Para o enxofre, os teores acima de 5 mg dm-3 so classificados como alto,
mas estabelecido que para espcies como leguminosas deve considerar-se teor
crtico de 10 mg dm-3 (CQFS-RS/SC,2004). As aplicaes de gesso nos tratamentos
T1 adicionaram S em quantidades extremamente superiores ao necessrio para
demanda nutricional da cultura da soja que seria de 20kg ha-1, adicionou-se 510 kg
ha-1. A Figura 6 apesenta os dados de enxofre para as 5 camadas e trs tempos de
anlise dos atributos qumicos do solo. A barra de erro apresentada na Figura
superior aos demais nutrientes devido grande mobilidade no S no perfil do solo,
gerando variao dentro do mesmo tratamento, principalmente nas camadas mais
profundas do solo. Pela Figura 6 percebe-se que mesmo os tratamentos que no
receberam doses de S tiveram algum aumento no seu teor. Esse pode ser atribudo
a descida, no perfil, do nutriente que havia no local, antes da implantao do
experimento.
Figura 6 Valores de S para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 10 mg dm-3(leguminosas). Anova para interao entre doses de calcrio + gesso X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01.
Os teores observados aps 9 meses (Apndice H) somente por efeito do
tempo apresentaram reduo dos teores nas primeiras camadas do perfil. Os teores
S reduziram 12% na camada de 0-0,05 e 15% na 0,05-0,10 m. Posteriormente aos
0 5 10 15 20 25 30 35 400 5 10 15 20 25 30 35 40
0,05
0,10
0,20
0,40
0,60
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Pro
fundid
ade (
m)
05
10
15
20
25
30
35
40
0,0
5
0,1
0
0,2
0
0,4
0
0,6
0
S
T0a
T0b
T0c
T0d
T1a
T1b
T1c
T1d
a. b. c.
S
**
ns
ns
ns
ns
38
16 meses, decaem os teores at 0,20 m do perfil de solo e ocorre elevao nas
camadas de 0,20-0,40 e 0,40-0,60 m. Devido a mobilidade do sulfato, o teor para
camada recomendada inferior ao indicado cultura da soja. Mesmo nos
tratamentos que receberam dose de gesso, o enxofre no supera os 10 mg dm-3 nos
primeiros 0,10 m.
A reduo dos teores de S na terceira coleta, acumulando-se nas camadas
mais profundas (20 a 60 m), demonstra a lixiviao do nutriente nas camadas que
vo alm das amostradas (PAULETTI et al., 2014). O elevado regime de
precipitao contribuiu para a perda dos teores de S adicionados pelo gesso,
apresentando a mdia de 145mm ms-1 para o perodo dos 16 meses. Dalla Nora et
al. (2013a) apresentam teores de enxofre semelhantes ao encontrados neste
trabalho, sendo que os autores conduziram o trabalho em um Latossolo muito
argiloso utilizando dose superior de gesso (5 Mg) para a camada de 0,40 a 0,60 m,
aps 36 meses. Enquanto Rampim et al. (2011) observaram reduo dos teores
aps 12 meses de aplicao do gesso, como alternativa que possa reduzir a perda
de S, utilizaram a calagem antecipada ao gesso para reduo da lixiviao.
A interao das doses de potssio e o tempo apresentaram interaes
significativas para os primeiros 0,10 m do solo, a maior dose de K apresentou efeito
inverso e reduzindo os teores de S nesses locais. Pela comparao de mdias de
Tukey para coleta 1, o teor de S era o mais alto nas parcelas que receberiam a
maior dose de K, enquanto na coleta aos 16 meses esses teores so os menores.
Observamos a reduo de 55 e 53% para as camadas 0-0,05 e 0,05-0,10 m que
receberam a maior dose de K2O, frente aos demais tratamentos que tiveram uma
perda de S mdia para essas duas camadas de 28%.
O teor de P para camada diagnstica indicado como muito alto pela
comisso (CQFS-RS/SC, 2004), se superior a 12 mg dm-3 - considerando argila
superior a 600 g kg-1. Os teores encontrados nas trs coletas para os tratamentos
so 3 vezes superiores ao estabelecido como muito alto, como pode ser observado
no Apndice I.
No houve efeito dos tratamentos sobre os teores de fsforo nas diferentes
profundidades. Para os tratamentos T1 foi observado o incremento dos teores de P
na camada superficial, sendo esse resultado, justificado pelo pequeno aporte de P
que o gesso proporciona, com concentrao inferior a 1% observado na interao
calcrio + gesso X tempo. Outra possvel explicao a maior disponibilidade do
39
nutriente associado elevao do pH (Apndice D). Caires et al. (2003) reportaram
aumento no teor de P para a camada de 0-0,05 pela aplicao superficial de gesso
na dose de 9 Mg ha-1 transcorridos 8, 20 e 32 meses. Isso tambm se verifica neste
trabalho, mesmo com doses 3 vezes menor, apresentando elevao de 8% na
mdia dos tratamentos que receberam a dose de gesso, observados na camada 0-
0,05m na interao calcrio + gesso X tempo.
Transcorridos 9 e 16 meses, observou-se a reduo nos teores de P nas
camadas abaixo de 0,10 m. Esse resultado no pode ser atribudo formao do
composto fosfato de clcio que ocorre devido a dissociao do clcio e enxofre na
presena de gua (SOUZA et al., 2012). Para ocorrncia deste composto o solo
deve ter pH superior a 6,0. Os mesmos autores, em trabalho com dose de 2 Mg de
gesso, identificaram o efeito da formao de fosfato de clcio, causando a
precipitao do fosfato contido na camada do solo de 0,05-0,10 m. Outra hiptese
seria a absoro devido ao aprofundamento do sistema radicular, associado
melhoria qumica e diminuio do Al.
De acordo com Dias (1992) a existncia da relao P x S apresenta relao
positiva para diversas culturas. Solos com elevados teores de P exigem mais S,
devido as atividades metablicas das plantas. Nesse experimento, h altos teores de
P e com tratamento T1 h perda de S por lixiviao, prejudicando a relao P X S,
indicando uma restrio quanto ao uso desse nutriente.
De acordo com a comisso (CQFS-RS/SC, 2004) o teor crtico de K de 90
mg dm-3 em solos com CTC pH7 superior a 15. Se for acima de 180 mg dm-3 d,
considerado muito alto. A Figura 7 apresenta os teores de K para as camadas
observadas, na qual os teores esto superiores ao alto na camada de 0-0,10 m nas
trs anlises do atributo. Quando considerado muito alto, os tratamentos T0a e T1b
esto nessa classe na coleta 1, enquanto para as anlises subsequentes todos os
tratamentos encontram-se com teores muito alto. De acordo com Dias (1992) e
Sumner (1995) o uso do gesso causa a lixiviao do ction no perfil, devido ao
mesmo se ligar ao sulfato formando o par inico K2SO40. A reduzida lixiviao K
nesse trabalho pode ser atribuda pela reduzida formao de sulfato de potssio e
tambm a elevada matria orgnica que esse solo possui: acima 3,55 g kg-1, alta
CTC, textura muito argilosa, rotao de culturas e manejo SPD (Amado et al., 2006).
O Apndice J apresenta a anlise estatstica para o teor de K, mostrando que
o fator tempo resultou na elevao do potssio em maior intensidade nas camadas
40
mais prximas a superfcie, ao mesmo tempo que as camadas subsuperficiais
elevaram-se em menor proporo. Pela interao entre doses de K X tempo
percebido que em alguns tratamentos ocorre elevao at as camadas mais
profundas na coleta aos 9 meses, retornando para valores prximos ao incio do
experimento na coleta aos 16 meses.
Figura 7 Valores de K para coleta 1(a), coleta 9 (b) e coleta 16 (c). Valor recomendado apresentado uma linha em 180 mg dm-3(leguminosas). Anova para interao entre doses de K X tempo, ns (no significativo) p > 0,05; * (significativo) 0,01> p 0,05, ** (significativo) p 0,01.
4.4.4 Nutrio e produtividade da soja
De acordo com Rosolem (2005) a cultura da soja possui exigncia hdrica
distinta, conforme seu estdio de desenvolvimento, sendo que as maiores
exigncias ocorrem no incio do florescimento (5,1 mm dia-1), no surgimento das
vagens (7,4 mm dia-1) e com 50% das folhas amareladas (6,6 mm dia-1). No perodo
de maior demanda hdrica, em decorrncia das datas de semeadura nos meses de
fevereiro e maro, necessita-se um acumulado de 380 mm, ou seja 6,4 mm-1 dia,
correspondendo ao dficit hdrico dirio de 42 e 20% para as safras de 2012/2013 e
2013/14, respectivamente.
0 100 200 300 400 500
0,05
0,10
0,20
0,40
0,60
0 100 200 300 400 500
0,05
0,10
0,20
0,40
0,60
0 100 200 300 400 500
0,05
0,10
0,20
0,40
0,60
Pro
fund
idad
e (
m)
a. b. c.
K
**
*
ns
ns
**
010
020
030
040
050
0
0,0
5
0,1
0
0,2
0
0,4
0
0,6
0
K
T0a
T0b
T0c
T0d
T1a
T1b
T1c
T1d
41
Tabela 3 Teor mdio dos nutrientes foliares. Estrela Velha, RS.
N1 P
2 K
3 Ca
4 Mg
5 Ca/Mg
6 (Ca+Mg)/K
7 Ca/K
8 Mg/K
9
Soja 2012/13 4,33 0,12 1,21 1,27 1,29 0,99 2,12 0,11 0,11
Soja 2013/14 3,62 0,17 0,99 1,86 1,28 1,46 3,18 0,19 0,13 1Nitrognio (%);
2Fsforo (%);
3Potssio (%);
4Clcio (%);
5Magnsio (%);
6Relao
clcio/magnsio; 7
Relao (clcio + magnsio)/ potssio; 8
Relao Clcio/potssio; 9Relao
magnsio/potssio.
Os teores de nutrientes foliares mdio de soja para as duas safras esto na
Tabela 3, enquanto a estatstica nvel de significncia (Apndice B) e Tukey
(Apndice K e L) foram pouco influenciados pela aplicao de calcrio + gesso e K,
transcorridos 7 e 19 meses (folhas coletadas no perodo de pleno florescimento) da
aplicao dos tratamentos. A comisso (CQFS-RS/SC, 2004) estabelece nveis de
suficincia para os macronutrientes foliares, no qual aplica-se para cultura da soja o
percentual de 4,5 a 5,5% para Nitrognio (N), o intervalo de 0,26 a 0,5% P, de 1,7 a
2,5% K, 0,4 a 2 Ca e 0,3 a 1 para Mg.
Os teores foliares se mantiveram abaixo do crtico para N, P e K, nas duas
safras e o K no foi afetado, mesmos com as doses dos tratamentos. A
redistribuio de Ca e Mg no comprometeu a nutrio das plantas por desbalano,
mantendo os teores acima do indicado para cultura da soja. Os resultados das
doses de K aumentaram a nutrio de N e P nos tratamentos com maior dose de K,
apresentando esse efeito para as duas safras.
Para segunda safra de soja, 2013/14, o aumento do teor foliar de Ca na safra
ocorre em decorrncia das aplicaes de calcrio + gesso. Tambm apresentou
efeito significativo para doses de K como pode ser visto no Apndice L. O resultado
coerente com o incremento do teor de Ca no solo (Figura 5).
As melhorias na qualidade qumica do solo verificadas nos tratamentos T1
no se traduziram em incremento da produtividade de soja, ocorrendo menor
produtividade nos tratamentos com as maiores doses de potssio. O efeito das
doses de potssio foi significativo para as duas safras de soja. Na safra 2012/13 os
tratamentos 0,0 K produziram 13% (421 kg) a mais que a mdia dos tratamentos
que receberam K (Figura 8). J na segunda safra, 2013/14, a mdia dos tratamentos
0,4 K apresentou produtividade inferior as demais em 12%(414 kg). As doses de
calcrio + gesso isoladas ou a interao com as doses de K no apresentaram
diferena estatstica entre os tratamentos. Como reportado por Caires et al. (2003) e
Rampim et al. (2011) que o uso do gesso no incrementou a produtividade da soja.
42
A produtividade do trigo, safra 2013 no apresentou diferena estatstica entre
os tratamentos.
Figura 8 Efeito dos tratamentos sobre a produtividade de soja e trigo durante as safras de 2012 a 2014. Produtividade mdia soja 2012/2013 (3236 kg ha-1), trigo 2013 (4052 kg ha-1) e soja 2013/2014 (3399 kg ha-1). ns (p > 0,05); *(p
43
2012), devido a melhoria qumica do perfil do solo, que se traduz na maior expanso
do sistema radicular nas camadas mais profundas do solo.
Considerando o breve perodo em que o atual trabalho foi desenvolvido,
considera-se que a produtividade da soja no tenha sido impactada, ocorrendo a
melhoria qumica do perfil do solo. A possvel resposta para que nas trs safras
analisadas no houvesse incremento na produtividade das culturas pode ser
atribudo ao elevado volume de precipitao e a adequada distribuio nos estdios
fenolgicos crticos. Esse resultado tambm foi observado no trabalho conduzido por
Dalla Nora et al.(2013b) no qual constatou que, aps seis safras acumuladas, a
produo foi superior a 15%, verificado pela dose combinada de calcrio e gesso em
Latossolo cido.
Para trabalhos futuros, recomenda-se acompanhar por mais tempo as
alteraes do solo, avaliar sistema radicular, eficincia de uso da gua e variaes
fsicas do solo.
4.5 Concluses
A combinao de calcrio + gesso, aplicados simultaneamente, e
posteriormente, cloreto de potssio em superfcie de um Latossolo muito argiloso,
propiciaram em 16 meses de aplicao a correo qumica na camada de 0,0 a 0,10
m do solo, a elevao do pH, reduo dos teores de alumnio e incremento dos
teores de Ca e K.
O teor de S adicionado ao solo foi rapidamente lixiviado, devido elevada
mobilidade do sulfato no perfil, ocasionando a elevao do teor nas camadas
superficiais 0,20-0,40 e 0,40-0,60 m.
No houve descida vertical de K em todas as camadas, devido ao elevado
teor de MOS e argila.
A nutrio da soja foi influenciada pela calagem + gessagem e doses de K,
ocorrendo incremento do teor foliar de P e Ca nos tratamentos de maior dose de K.
As safras de soja foram influenciadas pelo potssio, ocorrendo decrscimo
produtivo com aumento da dose de K.
44
4.6 Bibliografia
AMADO, T.J.C.; BAYER, C.; CONCEIO, P.C.; SPAGNOLLO, E.; CAMPOS, B.C.; VEIGA, M. Potential of Carbon Accumulation in No-Till Soils with Intensive Use and Cover Crops in Southern Brazil. Journal of Environmental Quality, v.35, p.1599-1607, 2006.
BAYER, C.; AMADO, T.J.C.; TORNQUIST, C.G.; CERRI, C.E.P.; DIECKOW, J.; ZANATTA, J.A.; NICOLOSO, R.S.; CARVALHO, P.C.F. Estabilizao do carbono no solo e mitigao das emisses de gases de efeito estufa na agricultura conservacionista. Tpicos em Cincia do Solo, v.7, p.55-118, 2011.
BERTOL, O. J.; RIZZI, N. E.; BERTOL, I.; ROLOFF, G. Perdas de solo e gua e qualidade do escoamento superficial associadas eroso entre sulcos em rea cultivada sob semeadura direta e submetida s adubaes mineral e orgnica. Revista Brasileira de Cincia do Solo [online]. v.31, n.4, p. 781-792. 2007.
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CAIRES, E.F.