Meio ambiente Maus tratos - WordPress.com€¦ · gem de Animais Silvestres (Ce-tas) de Barueri já...

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B2 | CIDADES | SEXTA-FEIRA, 15 DE AGOSTO DE 2014 Folha de Alphaville Periquito da Caatinga Como o próprio nome sugere, a ave da ordem dos psittaciformes é nativa da caatinga e cerrado brasileiros, na região nordeste do país. Vítima de maus tratos na região, o bicho não pode ser solto no sudeste Jabuti Criado em uma superfície lisa, o animal teve as patas atrofiadas por conta da falta de atrito. Este jabuti não conseguirá andar novamente e seguirá sob os cuidados do Cetas Gavião Passeando por entre prédios, a ave provavelmente colidiu contra um vidro e agora espera a recuperação de sua asa quebrada para reaprender a voar Tucano Comum em casas, por ser exótico, o tucano passa maus bocados por ser alimentado de maneira incorreta. A espécie precisa de proteína diariamente Cardeal A beleza e o topete eriçado de um vermelho intenso fazem do cardeal um pássaro comum em cativeiro. Mas é preciso cuidados como água fresca e companhia para mantê-lo saudável Maus tratos afetam bichos silvestres HOTEL IBIS BUDGET TAMBORÉ T. 11 4208 9700 Av. Dr. Marcos Penteado de Ulhôa Rodrigues, 1055 ibis.com FIM DE SEMANA A PARTIR DE: PARA ATÉ 3 PESSOAS R$99 Meio ambiente Por contar com quintais espaçosos, moradores optam por criar animais silvestres como pets mesmo sem conhecimento Na última reunião do Con- selho de Segurança de Barue- ri, Alphaville e Tamboré (Con- seg), que aconteceu no dia 6 de agosto, alguns moradores da região discutiram sobre um boato de uma provável mudança de localização da feira livre que acontece todos os sábados na alameda Purus. Na ocasião, moradores presentes chegaram a comen- tar que a feira seria transferida para alguma alameda majori- tariamente residencial, como a avenida Oiapoque ou a ala- meda Mamoré. Questionada pela reporta- gem, a prefeitura, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que existe, de fato, Possível mudança de local de feira preocupa bairro Alphaville estudos sendo feitos e há a possibilidade de que a tradi- cional feira mude de local por conta do trânsito que sema- nalmente tem que ser direcio- nado para outras vias. Prefeitura e o Departa- mento Municipal de Trânsito (Demutran) discutem, então, a melhor localização para a feira. Enquanto isso, o comér- cio de frutas e legumes segue acontecendo na alameda Pu- rus, sem nenhuma mudança oficial declarada. A assessoria de imprensa da prefeitura frisou também que fará o que for possível para que os moradores não sejam afetados caso haja, de fato, uma mudança de local. A moradora de um dos prédios da avenida Oiapoque, Mariana Guedes, afirma que existe, em seu prédio, uma preocupação com a mudan- ça da feira e garantiu que os moradores se mobilizarão se a feira passar a ser ali. Agora, só resta esperar a decisão de Ba- rueri sobre o futuro da feira. Confiamos na pre- feitura. Mas vamos nos opor se a feira for aqui. Merecemos dor- mir aos sábados” Mariana Guedes Moradora da av. Oiapoque H á nove anos, o morador de Alphaville Ricardo Meiro Freitas ganhou um pintinho em uma feira. O administrador de empresas tinha 13 anos de idade na época e sua mãe, Apa- recida Meiro, que não gostava da ideia de animais de estima- ção em casa, aceitou o presen- te –dado por uma vendedora de frutas – por imaginar que o bicho não sobreviveria mais de três dias, como acontecia frequentemente com peque- nos animais como peixes que também eram distribuídos ou vendidos em eventos na rua. O pintinho, porém, era mais forte do que parecia e Ri- cardo tem hoje um galo de es- timação, o Raul, que dá muito mais trabalho do que qualquer cão ou gato da vizinhança. Gastos com veterinário especializado e alimentação adequada para o tipo de ani- mal que se cria são algumas das preocupações que donos de bichos de estimação não convencionais devem levar em consideração. No caso do galo Raul, a his- tória teve final feliz, mas pode- -se considerar este um caso de exceção. Só o Centro de Tria- gem de Animais Silvestres (Ce- tas) de Barueri já recebeu, des- de abril de 2013, mais de 2.600 animais para serem reabilita- dos. Vítimas de maus tratos por tráfico e, em muitos casos, por donos bem intencionados mas que se perderam nos cui- dados com os bichos, cerca de 20% dos animais resgatados, apesar de tratados, não são re- integrados ao meio ambiente, por danos irreparáveis. A administradora do Cetas Barueri, Erika Sayuri Kaiha- ra, conta que o centro recebe muitos animais de maneira voluntária, sem apreensão de policiais militares, civis ou ambientais, mas dos pró- prios donos, que reconhecem não poder oferecer ao animal a qualidade de vida necessá- ria. “As pessoas se animam em ter bichos de estimação diferentes, mas não fazem a menor ideia de como cuidar deles. Tem quem pegue sa- gui para criar, por exemplo, e acaba dando apenas banana para ele comer. Mas o sagui, para ser saudável, precisa co- mer insetos, larvas e néctar”, exemplifica. O tucano é outro exemplo. Muito comum em casas em Al- phaville, a ave não se alimenta apenas de frutas, como se pen- sa. A espécie precisa de proteí- Ana Carolina Pereira repor [email protected] na diariamente. E não é só a falta de infor- mação referente à alimentação que pode prejudicar e muito a saúde dos animais silvestres. No Centro de Triagem está sendo tratado, por exemplo, um jabuti que já não pode an- dar. Erika conta que o bicho foi criado em um piso liso e a falta de atrito atrofiou suas pa- tas. Sem saber o que fazer, a família deixou o animal sob o cuidado do Cetas. O mesmo aconteceu com um papagaio que cresceu em uma gaiola pequena demais, em que não conseguia abrir as asas. A falta de movimento atrofiou seus músculos e o pás- saro provavelmente não conse- guirá voar novamente. Nestes casos em que a sol- tura torna-se impossível, por não haver possibilidade de reabilitação dos bichos – ou por serem nativos de outras regiões do país –, os animais são mantidos no centro de tria- gem até que seja encontrado um criador cadastrado, um cativeiro regularizado ou um zoológico. O Cetas abriga hoje cerca de 300 animais, sendo 90% aves – que são os animais mais criados na região – mas já chegou a ter mais de 900 de uma vez. Ivan Vanderley Silva, responsável pelo Cetas Barue- ri, conta que a temporada de inverno, em que os animais se escondem, e o baixo número de funcionários no centro – o Cetas conta hoje com um vete- rinário, um biólogo e um trata- dor – dificultam o recebimento de novas apreensões. “Mas na primavera devemos voltar a re- ceber grandes quantidades de animais diariamente.” Para acabar com o pro- blema de maus tratos a ani- mais há apenas uma solução: a conscientização de quem busca um pet. Silva ressalta a importância de pensar muito bem antes de adotar ou com- prar um animal silvestre para cuidar em casa. “Hoje até na televisão existe muita exposi- ção desses bichos e as pessoas acham normal criar répteis e outras espécies. Mas não é as- sim tão simples”, afirma. Para Erika, é preciso ser ainda mais radical quando bater a vontade de manter em cativeiro um ser que pertence à natureza. “É tão bonito ver passarinhos voando e os ani- mais na casa deles, onde eles têm que estar. Se eu pudesse dar um conselho para quem está pensando em comprar um bicho seria: não compre.” 6 MESES É o tempo médio de recuperação de um animal quando chega ao Cetas. Os menos prejudicados conseguem ser reabilitados em cerca de três meses 2,6 MIL É o número aproximado de animais que o Cetas recebeu e tratou desde abril de 2013. Cerca de 80% foi repatriado depois de passar pelos cuidados do centro em Barueri É recomendável pesquisar antes de fazer do animal silvestre um bicho de estimação Fotos: Sandro Almeida / Folha de Alphaville

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B2 | CIDADES | SEXTA-FEIRA, 15 DE AGOSTO DE 2014 Folha de Alphaville

Periquito da Caatinga

Como o próprio nome sugere, a ave da ordem dos psittaciformes é nativa da caatinga e cerrado brasileiros, na região nordeste do país. Vítima de maus tratos na região, o bicho não pode ser solto no sudeste

Jabuti

Criado em uma superfície lisa, o animal teve as patas atrofi adas por conta da falta de atrito. Este jabuti não conseguirá andar novamente e seguirá sob os cuidados do Cetas

Gavião

Passeando por entre prédios, a ave provavelmente colidiu contra um vidro e agora espera a recuperação de sua asa quebrada para reaprender a voar

Tucano

Comum em casas, por ser exótico, o tucano passa maus bocados por ser alimentado de maneira incorreta. A espécie precisa de proteína diariamente

Cardeal

A beleza e o topete eriçado de um vermelho intenso fazem do cardeal um pássaro comum em cativeiro. Mas é preciso cuidados como água fresca e companhia para mantê-lo saudável

Maus tratos afetam bichos silvestres

HOTEL IBIS BUDGET

TAMBORÉ

T. 11 4208 9700Av. Dr. Marcos Penteado de Ulhôa Rodrigues, 1055

ibis.com

FIM DE SEMANAA PARTIR DE:

PARA ATÉ 3 PESSOAS

R$99

Meio ambiente Por contar com quintais espaçosos, moradores optam por criar animais silvestres como pets mesmo sem conhecimento

Na última reunião do Con-selho de Segurança de Barue-ri, Alphaville e Tamboré (Con-seg), que aconteceu no dia 6 de agosto, alguns moradores da região discutiram sobre um boato de uma provável mudança de localização da feira livre que acontece todos os sábados na alameda Purus.

Na ocasião, moradores presentes chegaram a comen-tar que a feira seria transferida para alguma alameda majori-tariamente residencial, como a avenida Oiapoque ou a ala-meda Mamoré.

Questionada pela reporta-gem, a prefeitura, por meio de sua assessoria de imprensa, informou que existe, de fato,

Possível mudança de local de feira preocupa bairro

Alphaville

estudos sendo feitos e há a possibilidade de que a tradi-cional feira mude de local por conta do trânsito que sema-nalmente tem que ser direcio-nado para outras vias.

Prefeitura e o Departa-mento Municipal de Trânsito (Demutran) discutem, então, a melhor localização para a

feira. Enquanto isso, o comér-cio de frutas e legumes segue acontecendo na alameda Pu-rus, sem nenhuma mudança ofi cial declarada.

A assessoria de imprensa da prefeitura frisou também que fará o que for possível para que os moradores não sejam afetados caso haja, de fato, uma mudança de local.

A moradora de um dos prédios da avenida Oiapoque, Mariana Guedes, afirma que existe, em seu prédio, uma preocupação com a mudan-ça da feira e garantiu que os moradores se mobilizarão se a feira passar a ser ali. Agora, só resta esperar a decisão de Ba-rueri sobre o futuro da feira.

Confi amos na pre-feitura. Mas vamos nos opor se a feira for aqui. Merecemos dor-mir aos sábados”Mariana GuedesMoradora da av. Oiapoque

Há nove anos, o morador de Alphaville Ricardo Meiro

Freitas ganhou um pintinho em uma feira. O administrador de empresas tinha 13 anos de idade na época e sua mãe, Apa-recida Meiro, que não gostava da ideia de animais de estima-ção em casa, aceitou o presen-te –dado por uma vendedora de frutas – por imaginar que o bicho não sobreviveria mais de três dias, como acontecia frequentemente com peque-nos animais como peixes que também eram distribuídos ou vendidos em eventos na rua.

O pintinho, porém, era mais forte do que parecia e Ri-cardo tem hoje um galo de es-timação, o Raul, que dá muito mais trabalho do que qualquer cão ou gato da vizinhança.

Gastos com veterinário especializado e alimentação adequada para o tipo de ani-mal que se cria são algumas das preocupações que donos de bichos de estimação não convencionais devem levar em consideração.

No caso do galo Raul, a his-tória teve fi nal feliz, mas pode--se considerar este um caso de exceção. Só o Centro de Tria-gem de Animais Silvestres (Ce-tas) de Barueri já recebeu, des-de abril de 2013, mais de 2.600 animais para serem reabilita-dos. Vítimas de maus tratos por tráfi co e, em muitos casos, por donos bem intencionados mas que se perderam nos cui-dados com os bichos, cerca de 20% dos animais resgatados, apesar de tratados, não são re-integrados ao meio ambiente, por danos irreparáveis.

A administradora do Cetas Barueri, Erika Sayuri Kaiha-ra, conta que o centro recebe muitos animais de maneira voluntária, sem apreensão de policiais militares, civis ou ambientais, mas dos pró-prios donos, que reconhecem não poder oferecer ao animal a qualidade de vida necessá-ria. “As pessoas se animam em ter bichos de estimação diferentes, mas não fazem a menor ideia de como cuidar deles. Tem quem pegue sa-gui para criar, por exemplo, e acaba dando apenas banana para ele comer. Mas o sagui, para ser saudável, precisa co-mer insetos, larvas e néctar”, exemplifi ca.

O tucano é outro exemplo. Muito comum em casas em Al-phaville, a ave não se alimenta apenas de frutas, como se pen-sa. A espécie precisa de proteí-

Ana Carolina [email protected]

na diariamente.E não é só a falta de infor-

mação referente à alimentação que pode prejudicar e muito a saúde dos animais silvestres.

No Centro de Triagem está sendo tratado, por exemplo, um jabuti que já não pode an-dar. Erika conta que o bicho foi criado em um piso liso e a falta de atrito atrofi ou suas pa-tas. Sem saber o que fazer, a família deixou o animal sob o cuidado do Cetas.

O mesmo aconteceu com um papagaio que cresceu em uma gaiola pequena demais, em que não conseguia abrir as asas. A falta de movimento

atrofi ou seus músculos e o pás-saro provavelmente não conse-guirá voar novamente.

Nestes casos em que a sol-tura torna-se impossível, por não haver possibilidade de reabilitação dos bichos – ou por serem nativos de outras regiões do país –, os animais são mantidos no centro de tria-gem até que seja encontrado um criador cadastrado, um cativeiro regularizado ou um zoológico.

O Cetas abriga hoje cerca de 300 animais, sendo 90% aves – que são os animais mais criados na região – mas já chegou a ter mais de 900 de

uma vez. Ivan Vanderley Silva, responsável pelo Cetas Barue-ri, conta que a temporada de inverno, em que os animais se escondem, e o baixo número de funcionários no centro – o Cetas conta hoje com um vete-rinário, um biólogo e um trata-dor – difi cultam o recebimento de novas apreensões. “Mas na primavera devemos voltar a re-ceber grandes quantidades de animais diariamente.”

Para acabar com o pro-blema de maus tratos a ani-mais há apenas uma solução: a conscientização de quem busca um pet. Silva ressalta a importância de pensar muito

bem antes de adotar ou com-prar um animal silvestre para cuidar em casa. “Hoje até na televisão existe muita exposi-ção desses bichos e as pessoas acham normal criar répteis e outras espécies. Mas não é as-sim tão simples”, afi rma.

Para Erika, é preciso ser ainda mais radical quando bater a vontade de manter em cativeiro um ser que pertence à natureza. “É tão bonito ver passarinhos voando e os ani-mais na casa deles, onde eles têm que estar. Se eu pudesse dar um conselho para quem está pensando em comprar um bicho seria: não compre.”

6MESESÉ o tempo médio de recuperação de um animal quando chega ao Cetas. Os menos prejudicados conseguem ser reabilitados em cerca de três meses

2,6MILÉ o número aproximado de animais que o Cetas recebeu e tratou desde abril de 2013. Cerca de 80% foi repatriado depois de passar pelos cuidados do centro em Barueri

É recomendável pesquisar antes de fazer do animal silvestre um bicho de estimação

Fotos: Sandro Almeida / Folha de Alphaville