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Módulo 2 Interpretação Jurídica Período Letivo Extraordinário 2020.1

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Módulo 2Interpretação Jurídica

Período Letivo Extraordinário2020.1

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Profa. Rachel Herdy

Modelos de decisão

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Definição de formalismo

Atitude ou disposição interpretativa -daquele que é responsável pela decisão (intérprete e aplicador do direito) - por levar a sério o texto normativo.

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Condição: a existência de um texto preciso

Logo, não cogitamos do formalismo em relação a textos indeterminados

O formalismo é maissofisticado do que parece

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“Razão protegida”

(Joseph Raz)

• A regra precisa funciona como um tipo de “razão protegida” (ou “excludente”)

• A razão para seguir o texto • está protegida em relação a outras razões• exclui outras razões

• Ela é ao mesmo tempo • razão primaria para a ação que prescreve• razão secundaria para excluir outras razões

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Duas explicações importantes

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Primeira explicação importante

Por detrás de um texto, preciso ou não, existe sempre um propósito subjacente (teleologia)

A construção do propósito pode ser mais ou menos discricionária (i.e., apelar a elementos substantivos)

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Segunda explicação importante

Os textos são generalizações probabilísticas em relação aos propósitos subjacentes

Por esta razão, os textos podem incluir mais ou menos do que deveriam

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Exemplo:

“É proibido transitar em velocidade superior a 80km/h”

A letra é precisa

O propósito é: evitar acidentes

Baseia-se numa generalização: estudos estatísticos mostram que a maioria dos acidentes nesta via ocorreu quando os veículos transitavam em velocidade acima de 80km/h.

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Mas as generalizações não acertam todas as vezes

• Queijos suíços possuem furos, mas alguns não • Faz frio no inverno, mas há dias quentes• Poodles são histéricos, mas nem todos

• E há outras raças que são também histéricas

• A letra do texto aplica-se quando • Chove ou faz sol • O carro é um Peugeot ou uma Mercedes• Quem dirige é a Rachel ou o Hamilton

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Por ser uma generalização, a letra do texto pode...

Incluir mais do que deveria (sobreinclusão)

Hamilton transitando em dia de sol com sua Mercedes-Benz acima de 80km/h

Incluir menos do que deveria (subinclusão)

Rachel transitando em dia de chuva com seu Peugeot em velocidade baixa

à A decisão por levar o texto a sério nos casos de aplicação sub-ótima é aescolha que está em discussão quando falamos de formalismo

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Ou seja...

Nem mesmo a linguagem determinada garantirá a força de um enunciado

A sua força dependerá de atitudes externas à linguagem

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Mundo ideal do particularista

Qualquer razão considerada relevante para a decisão deve ser incluída no cálculo decisório - moral, política, econômica...

As regras funcionam como sugestões

Os textos podem ser afastados/corrigidos sempre que não gerarem o resultado considerado correto

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Modelo particularista

Devemos olhar por detrás do texto para investigar se a suaaplicação ao caso concretoestá de acordo com o seu

propósito subjacente.

(Modelo Spike Lee)

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Spike Lee (Faça a coisa certa)

Frank Sinatra (I did it my way)

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Pressupostoformalista:

trabalhamos no mundo real, e

não ideal

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No mundo real, além de comermos coisasdistintas no café da manhã (caricaturarealista), estamossujeitos a vieses e abusos

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Por que optar por um modelo formalista?

• O formalista está comprometido com resultado sub-ótimos

• O formalista faz um pacto de mediocridade:

“Regras condenam o processo de tomada de decisões à mediocridade exigindo a inacessibilidade da excelência” (Schauer).

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Alguns opositores do formalismo...

• Fala em sensibilidade ao contexto e às pessoas envolvidas; colocar-se no lugar do outro; levar em consideração a riqueza do contexto; ter empatia e ética do cuidado

Feminismo

• Dworkin diz que a solução correta é a melhor leitura moral do direito

Pós-positivismo (Ronald Dworkin)

• Realistas dizem que as decisões judiciais são uma forma de racionalização• Uma tese que pretende ser descritiva

Realismo americano (Jerome Frank)

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Razões para ser formalista

• Previsibilidade • Certeza• Segurança jurídica• Eficiência (custos de tempo,

esforço mental, dinheiro)

Razões tradicionais

• Alocação de poder• Em quem devemos

confiar?• Quem possui

legitimidade?

Razão adicional

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No primeiro caso, a escolha vai depender do grau de confiança que temos na autoridade

Temos razões para achar que o responsável pela decisão tem grandes chances de errar ou abusar?

A decisão parece depender de muitos fatores contextuais - policiais não devem ter tanto poder de decisão; mas e os ministros de cortes superiores?

Não é questão lógica, conceitual, inexorável; mas politica e contextual!

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Enfrentamos um problema incontornável:

assimetria

• O responsável pelo desenho institucional acha uma coisa, mas o tomador de decisão acha que é irracional seguir a regra no caso

• Temos uma assimetria: a racionalidade está sempre atrelada a uma perspectiva

• O que é racional para um não é para o outro

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No segundo caso, a escolha vai depender de uma questão política

Quem possui autoridade política para decidir?

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Ser formalistaé ser mais justo?

O formalismo jurídico deve ser reconsiderado

Importante reconhecer que esta é uma opção, e não uma necessidade

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Isso é tudo, pessoal!