Mdi comunicação e expressão-atualização-2015

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1 Comunicação e Expressão Apresentação Este material é parte da Disciplina Comunicação e Expressão. Você acessa o ambiente virtual de aprendizagem e estuda, realiza as atividades, esclarece as dúvidas com seu professor-tutor! Aqui, você reforça o seu estudo, ainda tem a possibilidade de realizar mais atividades, aprimorando, assim, o seu aprendizado. Para ajudá-lo a consolidar seus conhecimentos, ao longo do material, você encontrará ícones com funções e objetivos distintos. Observe: fique atento: destaca alguma informação importante que não deve ser esquecida por você. Também pode acrescentar um conhecimento novo ou uma experiência ao tema tratado. dica: traz novos conhecimentos em relação ao tema tratado ou pode indicar alguma fonte de pesquisa para que você aprofunde ainda mais seus conhecimentos no futuro. leitura complementar: indicação de um artigo com o objetivo de você se aprofundar no assunto a ser tratado. consolidando a aprendizagem: são listas de perguntas cujo objetivo é o de você confirmar, negar ou criar um novo conhecimento ou opinião acerca do assunto que foi tratado no material. objetivos da unidade: informa o que você precisa aprender em cada unidade. Aproveite! Você tem em mão a chance de desenvolver ou aprofundar seus conhecimentos na área de Comunicação e Expressão. Objetivo Geral da Disciplina Desenvolver a capacidade de produção textual do aluno, ressaltando a atividade de reescrita, provendo-o com as ferramentas necessárias à organização do pensamento a ser expresso por escrito em textos formais.

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Comunicação e Expressão

Apresentação

Este material é parte da Disciplina Comunicação e Expressão. Você acessa o ambiente virtual de

aprendizagem e estuda, realiza as atividades, esclarece as dúvidas com seu professor-tutor! Aqui,

você reforça o seu estudo, ainda tem a possibilidade de realizar mais atividades, aprimorando,

assim, o seu aprendizado.

Para ajudá-lo a consolidar seus conhecimentos, ao longo do material, você encontrará ícones com

funções e objetivos distintos. Observe:

fique atento: destaca alguma informação importante que não deve ser esquecida por

você. Também pode acrescentar um conhecimento novo ou uma experiência ao tema

tratado.

dica: traz novos conhecimentos em relação ao tema tratado ou pode indicar alguma

fonte de pesquisa para que você aprofunde ainda mais seus conhecimentos no futuro.

leitura complementar: indicação de um artigo com o objetivo de você se aprofundar no

assunto a ser tratado.

consolidando a aprendizagem: são listas de perguntas cujo objetivo é o de você

confirmar, negar ou criar um novo conhecimento ou opinião acerca do assunto que foi

tratado no material.

objetivos da unidade: informa o que você precisa aprender em cada unidade.

Aproveite! Você tem em mão a chance de desenvolver ou aprofundar seus conhecimentos na área

de Comunicação e Expressão.

Objetivo Geral da Disciplina

Desenvolver a capacidade de produção textual do aluno, ressaltando a atividade de reescrita,

provendo-o com as ferramentas necessárias à organização do pensamento a ser expresso por

escrito em textos formais.

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Sumário

Unidade I – Texto e contexto ................................................................................................................ 5

1.1 Comunicação oral e escrita ......................................................................................................... 6

1.1.1 Processo de comunicação ........................................................................................................ 6

1.1.2 Linguagem verbal X Linguagem não-verbal ............................................................................. 7

1.1.3 Linguagem oral X Linguagem escrita ....................................................................................... 7

1.2 Texto acadêmico ......................................................................................................................... 8

1.2.1 Gênero textual ......................................................................................................................... 8

1.2.2 Intertextualidade ..................................................................................................................... 9

1.2.3 Ler e compreender ................................................................................................................... 9

1.3 Ortografia .................................................................................................................................. 11

1.3.1 Emprego das Letras ................................................................................................................ 11

1.3.2 Atual acordo ortográfico ........................................................................................................ 13

1.3.3 Acentuação gráfica ................................................................................................................. 15

1.3.4 Dúvidas Gráficas ..................................................................................................................... 16

1.4 Frase, período e oração ............................................................................................................. 21

1.5 Uso adequado dos pronomes ................................................................................................... 24

1.6 Estudo sobre verbos .................................................................................................................. 26

Unidade II – Coerência e Coesão ......................................................................................................... 31

2.1 Coerência e adequação vocabular ............................................................................................ 32

2.2 Coesão textual ........................................................................................................................... 39

2.3 Concordância nominal e verbal ................................................................................................. 41

Unidade III – Texto e sua estrutura ..................................................................................................... 45

3.1 Técnica de redação .................................................................................................................... 46

3.1.1 Planejamento do Parágrafo ................................................................................................... 46

3.1.2 Desenvolvimento ................................................................................................................... 48

3.1.3 Qualidades do Parágrafo ........................................................................................................ 51

3.2 Pontuação ................................................................................................................................. 52

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3.2.1 Uso da vírgula ........................................................................................................................ 52

3.2.2 Uso de aspas .......................................................................................................................... 54

3.2.3 Uso do travessão .................................................................................................................... 55

3.2.4 Uso dos dois pontos ............................................................................................................... 55

Unidade IV – Texto e vocabulário ....................................................................................................... 57

4.1 Paráfrase ................................................................................................................................... 58

4.2 Regência e crase........................................................................................................................ 63

4.2.1 Regência ................................................................................................................................. 63

4.2.2 Crase ...................................................................................................................................... 65

4.3 Vícios de linguagem .................................................................................................................. 66

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Unidade I – Texto e contexto

Criar estratégias de comunicação oral e escrita.

Ler e interpretar textos.

Utilizar adequadamente os diferentes tipos de linguagem frente às situações

apresentadas.

Reconhecer as várias possibilidades de leitura nos variados suportes de textos.

Identificar diferentes estratégias de leituras e colocá-las em prática.

Desenvolver adequadamente a leitura oral expressiva de textos.

Organizar ideias, visando à produção de textos dissertativos, argumentativos e

narrativos.

Argumentar coerentemente.

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1.1 - Comunicação oral e escrita

1.1.1 Processo de comunicação

Comunicação é o processo de transmissão da informação de uma pessoa para outra ou

outras. Nesse processo, são identificados elementos sem os quais, pode-se dizer, que não há

comunicação.

Para que haja sucesso na comunicação, é necessário que o destinatário da informação a

receba e a compreenda.

Elementos da comunicação

Emissor: é quem emite a mensagem. Pode ser um indivíduo, um grupo, uma empresa, uma

instituição etc.

Receptor ou destinatário: é quem recebe a mensagem. Pode ser uma pessoa, um grupo ou mesmo

um animal, como um cão, por exemplo. É preciso distinguir recepção de compreensão da

mensagem.

Mensagem: é o objeto da comunicação. É constituída pelo conteúdo das informações transmitidas.

A mensagem pode ser: visual (que recorre a imagens, ícones, desenhos, fotografias); simbólica

(que utiliza símbolos, letras, números – a escrita ortográfica); sonora (linguagem falada, palavras,

músicas, sons diversos); táctil (pressão, choque, trepidação, vibração); olfativa (o cheiro do gás,

por exemplo, que passa a mensagem de perigo como um vazamento) e gustativa (tempero

“quente” – apimentado ou não).

Código: é a organização da mensagem, a codificação. É formado por um conjunto de sinais,

combinados de acordo com determinadas regras que dão significados a eles. O código utilizado

deve ser comum ao emissor e ao receptor.

Canal de comunicação: é a via, física ou virtual de circulação da mensagem, que garante o contato

entre emissor e receptor. Como exemplo, há as ondas sonoras, no caso da mensagem sonora.

Contexto: é a situação a qual a mensagem se refere. O contexto pode se constituir nas

circunstâncias de espaço e tempo em que se encontra o destinador da mensagem. Pode também

dizer respeito aos aspectos do mundo textual da mensagem.

Ruído: são os elementos que perturbam, dificultam a compreensão pelo destinador, como, por

exemplo, o barulho ou mesmo uma voz muito baixa. O ruído pode ser também de ordem visual,

como borrões, rabiscos etc.

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Receber a mensagem não é o mesmo que compreender a mensagem. Para que esse

Processo de Comunicação seja satisfatório e completo, é necessário que, além de receber a

mensagem sem ruídos, o destinatário a compreenda.

Para isso, precisamos compreender o outro, ter empatia, ou seja, desenvolver uma aptidão

para sentir o que o outro sente e pensa, além de uma flexibilidade comunicativa, ter um repertório

linguístico que varia conforme a situação e a pessoa.

Quando as pessoas comprometem o ato comunicativo:

não ouvem;

interrompem os outros quando falam;

são agressivas;

gostam de impor suas ideias;

não compreendem as outras pessoas além do seu ângulo de visão.

Desenvolvendo um comportamento compreensivo e a capacidade linguística, você terá

condições para uma comunicação mais eficaz.

1.1.2 Linguagem verbal X Linguagem não verbal

A linguagem verbal é aquela que se utiliza de mensagens simbólicas e sonoras para ser

comunicada. Ela pode ser oral (falada) ou escrita. Já a linguagem não verbal é aquela composta por

ícones, imagens, sons diversos, vibrações, cores, cheiros, sabores etc.

1.1.3 Linguagem oral X Linguagem escrita

Pronominais - Oswald de Andrade 1925

Dê-me um cigarro

Diz a gramática

Do professor e do aluno

E do mulato sabido

Mas o bom negro e o bom branco

Da Nação Brasileira

Dizem todos os dias

Deixa disso camarada

Me dá um cigarro

“A informação simplesmente transmitida,

mas não recebida, não foi comunicada”.

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A língua falada é improvisada e dinâmica (espontânea) e temos o próprio corpo, tom de

voz, expressões coloquiais, gírias como facilitadores da comunicação.

Pode apresentar expressões que denotam pouco acesso à educação formal, cheia de erros

gramaticais (vulgar); linguajar mais básico, utilizado no dia a dia, com gírias e certa preocupação

com as normas gramaticais (coloquial) ou um vocabulário mais pomposo, imitando a escrita

“padrão”, muito ouvida nos discursos (formal).

Já a língua escrita exige um treino constante, foco e vasto vocabulário. Pode ser

considerada como: vulgar, que reproduz gírias e aspectos da linguagem falada; padrão, que não

admite gírias e expressões vulgares, demonstrando preocupação em seguir as normas gramaticais;

ou literária, que apresenta uma preocupação com a estética, pouca preocupação com as normas

gramaticais e é praticada pelos escritores.

Toda linguagem possui suas regras, sendo assim – para que a comunicação se estabeleça de

forma coerente –, é preciso que o autor (do texto ou do discurso) adapte suas expressões conforme

o público que deseja alcançar e utilize-se dessas regras como forma de aproximação.

Conteúdo adaptado do material da professora Juliana Serpa

1.2 Texto acadêmico 1.2.1 Gênero textual

Dificilmente encontraremos um texto que seja exclusivo de um tipo ou gênero textual. Para identificação, precisamos observar qual sequência textual está mais evidente.

Narrativo:

marcado pela temporalidade;

o fato e a ação estão presentes;

desenvolve-se numa linha de tempo e espaço;

o texto de sequência narrativa pode apresentar-se de diversas formas, como: conto, romance, fábula, piada, quadrinhos, conto de fada etc.

Descritivo:

apresentação do estado do ser descrito em um determinado momento;

o texto de sequência descritiva pode apresentar-se de diversas formas, como: cardápio, lista de compras, anúncio de classificados, bula(composição) etc.

Argumentativo:

defesa de um ponto de vista;

objetivo de persuadir o leitor ou ouvinte;

progressão lógica de ideias com linguagem formal, objetiva e denotativa ou subjetiva e conotativa;

o texto de sequência argumentativa pode apresentar-se de diversas formas, como: redações dissertativas, crítica, editorial de jornal ou revista etc.

Explicativo:

tem por função informar ou explicar sobre algum assunto;

tem por objetivo identificar conceitos e definições;

o leitor adquire conhecimento;

o texto de sequência explicativa pode apresentar-se de diversas formas, como, verbetes de dicionário, textos dos manuais, textos da bula, livros didáticos, textos científicos etc.

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Instrucional:

a marca fundamental é o verbo no imperativo;

indica ordem, orientação;

o texto de sequência injuntiva pode apresentar-se de diversas formas, como:

propaganda, receita culinária (modo de preparo), manual de instrução de um aparelho,

horóscopo, bula de remédio etc.

1.2.2 Intertextualidade

“Intertextualidade acontece quando há uma referência explícita ou implícita de um texto

em outro. Também pode ocorrer com outras formas além do texto, música, pintura, filme, novela

etc. Toda vez que uma obra fizer alusão à outra ocorre a intertextualidade”.

(http://www.infoescola.com/portugues/intertextualidade-parafrase-e-parodia/)

1.2.3 Ler e compreender

Faulstich (2003, p.14) aponta dois tipos de leitura para que um texto técnico seja bem lido:

a leitura informativa e a leitura crítica. Vejamos: segundo essa autora, ao se fazer uma leitura

informativa, busca-se respostas a questões específicas. Para tal, propõe a elaboração de uma

leitura seletiva.

Mas o que vem a ser uma leitura seletiva? Nesse tipo de leitura, o leitor deve buscar no

tópico frasal ou na frase-núcleo a palavra-chave, pois “é em torno dela que o autor normalmente

desenvolve a ideia principal” (op. cit., 2003, p. 14). Antes de iniciarmos as atividades, cabe-nos

explicar o que vem a ser frase-núcleo ou tópico frasal. Para tal, consultamos especialistas no

assunto: Othon Garcia, Magda Soares e Edson Nascimento Campos.

Para Garcia (1992, p. 206), trata-se do parágrafo inicial, representado por um ou dois

períodos, em que se expressa de maneira sucinta a ideia-núcleo a ser desenvolvida posteriormente.

Para Soares e Campos (1978, p.62), após delimitar o assunto escolhido e após escolher o

objetivo orientador do parágrafo, cria-se uma ou mais frases para traduzir o objetivo escolhido. A

essa frase ou frases, esses autores denominam tópico frasal ou frase-núcleo.

Vamos exercitar! Leia o texto abaixo e aponte a palavra-chave.

“A propaganda, seja ela comercial ou ideológica, está sempre ligada aos objetivos

econômicos e aos interesses da classe dominante. Essa ligação, no entanto, é ocultada por uma

inversão: a propaganda sempre mostra que quem sai ganhando com o consumo de tal ou qual

produto ou ideia não é o dono da empresa, nem os representantes do sistema, mas, sim, o

consumidor. Assim, a propaganda é mais um veículo da ideologia dominante.”

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à Filosofia.

2. ed. São Paulo: Moderna, 1997.

Se você apontou a palavra “propaganda”, você acertou.

Após a seleção da palavra-chave principal, você deverá identificar as palavras-chave

secundárias.

Com certeza, você apontou: propaganda ideológica, propaganda comercial, objetivos

econômicos, classe dominante, consumidor e ideologia dominante.

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Agora que você já sabe o que é leitura informativa. Ao ler textos de outras disciplinas, isto

é, de outras áreas do conhecimento, exercite os conceitos aprendidos.

No que tange à leitura crítica, Faulstich (2003, p.18) salienta que “a leitura crítica exige uma

visão abrangente em torno do assunto que está sendo focalizado”. E acrescenta que é preciso que

se faça uma pré-leitura do material a ser analisado. Ainda segundo essa autora (op. cit., 2003, p.

18), “ler criticamente significa reconhecer a pertinência dos conteúdos apresentados, tendo como

base o ponto de vista do autor e a relação entre este e as sentenças-tópico”.

Apresentamos-lhe, abaixo, um texto que faz parte da obra da Profª. Drª. Magda Soares

(Linguagem e escola: uma perspectiva social), para a sua apreciação. E, também, para que você

observe como há coerência entre os parágrafos. Após a leitura, identifique a palavra-chave de cada

parágrafo e as palavras-chave secundárias. Observe, também, que a coerência é que permite o

estabelecimento de uma hierarquia entre a ideia mais abrangente e as que a auxiliam, dando-lhe

base. O título do texto é:

Uma primeira explicação: a ideologia do dom.

“Democracia?” A pergunta é de Mario Quintana. E ele mesmo fornece a resposta: “É dar, a

todos, o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um”.

Que todos tenham seu lugar na escola — e a todos terá sido dado o mesmo ponto de

partida. Qual será o ponto de chegada — o sucesso ou o fracasso —, isso dependerá de cada um.

Eis aí definida a ideologia do dom, segundo a qual as causas do sucesso ou do fracasso na

escola devem ser buscadas nas características dos indivíduos: a escola oferece “igualdade de

oportunidades”; o bom aproveitamento dessas oportunidades dependerá do dom — aptidão,

inteligência, talento — de cada um.

A ideologia do dom oculta-se sob um discurso que se pretende científico: a existência de

desigualdades naturais, de diferenças individuais vem sendo legitimada pela Psicologia, desde sua

já distante constituição como ciência autônoma, na segunda metade do século XIX. Assim, a

Psicologia Diferencial e a Psicometria — ramos da Psicologia — legitimam desigualdades e

diferenças pela mensuração de aptidões intelectuais (aptidão verbal, numérica, espacial etc.), de

prontidão para a aprendizagem, de inteligência ou de quociente intelectual (QI) etc., por meio de

testes, escalas, provas, aparentemente “objetivos”, “neutros”, “científicos”. Essas desigualdades e

diferenças individuais assim legitimadas é que explicaram as diferenças de rendimento escolar.

Dessa forma, não seria a escola responsável pelo fracasso do aluno, a causa estaria na

ausência, deste, de condições básicas para aprendizagem, condições que só ocorreriam na presença

de determinadas características indispensáveis ao bom aproveitamento daquilo que a escola

oferece. Esta seria responsável, isto sim, pelo “atendimento às diferenças individuais”, isto é, por

tratar desigualmente os desiguais. Passa, assim, a ser “justo” que a escola selecione os “mais

capazes” (por exemplo, pelos exames vestibulares), classifique e hierarquize os alunos (por exemplo:

em “turmas fortes” e “turmas fracas”), identifique “bem-dotados” e “superdotados”, e a eles dê

atenção especial, e oriente os alunos para diferentes modalidades de ensino (por exemplo: os

“menos capazes” para um 2º grau profissionalizante, os “mais capazes” para um 2º grau que leve

ao acesso a cursos superiores).

A função da escola, segundo a ideologia do dom, seria, pois, a de adaptar, ajustar os alunos

à sociedade segundo suas aptidões e características individuais. Nessa ideologia, o fracasso do

aluno explica-se por sua incapacidade de adaptar-se, de ajustar-se ao que lhe é oferecido. E de tal

forma esse conceito está presente na escola e internalizado nos indivíduos que o aluno sempre

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culpa a si mesmo pelo fracasso, raramente pondo em dúvida o direito da escola de reprová-lo ou

rejeitá-lo, ou a justiça dessa reprovação ou rejeição. Assim, para a ideologia do dom, não é a escola

que se volta contra o povo; é este que se volta contra a escola, por incapacidade de responder

adequadamente às oportunidades que lhe são oferecidas.

Embora a ideologia do dom esteja até hoje muito presente na educação, a cientificidade de

seus pressupostos foi irremediavelmente abalada quando se evidenciou, sobretudo a partir da

ampliação do acesso das camadas populares à escola, que as “diferenças naturais” não ocorriam,

na verdade, apenas entre indivíduos, mas, sobretudo, entre grupos de indivíduos: entre os grupos

social e economicamente privilegiados e os grupos desfavorecidos, entre pobres e ricos, entre as

classes dominantes e as classes dominadas.

Ao trabalho! Faça uma leitura crítica do texto, discuta-o com alguém. Você concorda com

as afirmações apresentadas? Por quê? Separe as ideias apresentadas, parágrafo por parágrafo, e

forme a sua opinião sobre o assunto.

É nesse momento, após ter feito a leitura informativa e a leitura crítica, decompondo o

texto, que se faz a leitura interpretativa ou cognitiva. Segundo Faulstich (2003, p.22), para que se

faça uma leitura interpretativa é preciso ter o total domínio da leitura informativa. E acrescenta

que entender um texto é compreender claramente as ideias expressas pelo autor, no intuito de

interpretar e ir além dessas ideias, ajustando as informações analisadas no texto com as que o

leitor já possui em seu arquivo de conhecimentos.

1.3 Ortografia

Ortografia é a parte da gramática que estabelece a forma correta de escrever as palavras.

1.3.1 Emprego das Letras Conteúdo adaptado do material da professora Juliana Serpa

O emprego das letras depende da origem da palavra, contudo, existem algumas

orientações que podem facilitar bastante.

Usa-se x em vez de ch

a) Depois de ditongos - ameixa, faixa, paixão

Exceto: recauchutar (e derivados) e guache.

b) Depois das iniciais me e en - mexer, enxada, enxuto

Exceto: mecha (e derivados), enchova, encher (derivado de cheio), encharcar (derivado de charco)

Usa-se c e ç

a) Depois de ditongos - foice, coice, ouço, traição

b) Palavras de origem árabe, tupi ou africana - cetim, paçoca, miçanga

c) Nos sufixos -ação, -aço, -iço e -iça - acentuação, ricaço, caniço, carniça

d) Nomes derivados do verbo ter - deter – detenção / ater – atenção

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Usa-se s

a) depois de ditongos - pausa, maisena, deusa, coisa

b) no sufixo -ês (indicando origem, procedência) - chinês, francês, polonês

c) nos sufixos –esa e –isa (formando feminino) - princesa, profetisa, freguesa

d) Palavras substantivadas derivadas de verbos com radicais terminados por nd -

compreender – compreensão / pretender – pretensão; ascender – ascensão /

expandir – expansão

Usa-se z

a) Substantivos abstratos derivados de adjetivos - moleza (derivado de “mole”), certeza

(derivado de “certo”)

b) No sufixo -triz (formando feminino) - imperatriz, atriz

c) Nos sufixos formadores de aumentativos e diminutivos - florzinha, paizinho, cafezinho,

pezão

d) nos verbos formados pelo sufixo -izar - utilizar, atualizar, hospitalizar

Usa-se j

a) nas palavras de origem tupi, africana ou árabe - jiboia, canjica, alfanje (foice para

roçar o mato)

b) nas palavras derivadas de outras que já contêm a letra j - varejo - varejista

c) na conjugação de verbos terminados em –jar - viajar, bocejar, cacarejar

Usa-se g

a) nos substantivos terminados por –agem, -igem, -ugem - barragem, vertigem, ferrugem

Exceto: pajem, lambujem

b) nas terminações –ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio - pedágio, colégio, vestígio, relógio,

refúgio

ATENÇÃO!

Quando o radical da palavra terminar por -s, este será conservado: análise = analisar / friso = frisar

ATENÇÃO!

Quando o radical da palavra terminar por -s, este será conservado: rosa - rosinha / lápis - lapisinho

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1.3.2 Atual acordo ortográfico

O que muda com o atual ACORDO ORTOGRÁFICO?

Alfabeto - ganha três letras

Antes: 23 letras.

Depois: 26 letras: entram k, w e y.

Quando utilizá-las:

em nomes próprios estrangeiros – Kafka;

siglas, símbolos e unidades de medidas internacionais – km, kg;

palavras estrangeiras usadas por nós com a grafia original – show.

Trema - desaparece em todas as palavras

Antes: Freqüente, lingüiça, aguentar (fica o TREMA em nomes como Müller).

Depois: Frequente, linguiça, aguentar.

Acentuação

- Some o acento no i e no u fortes depois de ditongos (junção de duas vogais), em palavras

paroxítonas.

Antes: Baiúca, bocaiúva, feiúra.

Depois: Baiuca, bocaiuva, feiura.

*Se o i e o u estiverem na última sílaba, o acento continua como em: tuiuiú ou Piauí.

Observação: as demais regras de acentuação permanecem as mesmas.

- Some o acento agudo no u forte nos grupos gue, gui, que, qui, de verbos como averiguar,

apaziguar.

Antes: averigúe, apazigúe. Ele argúi, enxagúe. Você averigue, apazigue. Ele argui. Enxague

você.

Depois: arguir, redarguir, enxaguar.

- Some o acento diferencial

Antes: pára, para, péla, pêlo, pólo,polo, pêra.

Depois: para, pela, pelo, polo, pera, coa.

*Não some o acento diferencial em pôr (verbo) / por (preposição) e pôde (pretérito) / pode

(presente). Fôrma, para diferenciar de forma, pode receber acento circunflexo ou não (é

facultativo).

- Some o acento dos ditongos abertos éi e ió das palavras paroxítonas (as que têm a

penúltima sílaba mais forte).

Antes: européia, idéia, heróico, apóio, bóia, asteróide, Coréia, estréia, jóia, platéia,

paranóia, jibóia, assembleia.

Depois: europeia, ideia, heroico, apoio, boia, asteroide, Coreia, estreia, joia, plateia,

paranoia, jiboia, assembleia.

*Herói, papéis, troféu mantêm o acento (porque têm a última sílaba mais forte - são

oxítonas).

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- Some o acento circunflexo das formas verbais terminadas em eem.

Antes: dêem, vêem, lêem, relêem, descrêem etc.

Depois: deem, veem, leem, releem, descreem etc

- Some o acento circunflexo do encontro oo, seguido ou não de s.

Antes: abençôo, perdôo, enjôo, vôo, zôo etc.

Depois: abençoo, perdoo, enjoo, voo, zoo etc.

Hífen - veja como ficam as principais regras do hífen com prefixos:

Prefixos: agro, ante, anti, arqui, auto, contra, extra, infra, intra, macro, mega, micro, maxi,

mini, semi, sobre, supra, tele, ultra...

- Quando a palavra seguinte começa com h ou com vogal igual à última do prefixo:

auto-hipnose, auto-observação, anti-herói, anti-imperalista, micro-ondas, mini-hotel.

- Em todos os demais casos ”juntamos”:

autorretrato, autossustentável, autoanálise, autocontrole, antirracista, antissocial,

antivírus, minidicionário, minissaia, minirreforma, ultrassom.

- Quando a palavra seguinte começa com h ou com r:

Hiper, inter, super

super-homem, inter-regional.

- Em todos os demais casos:

hiperinflação, supersônico.

- Sub / Quando a palavra seguinte começa com b, h ou r:

sub-base, sub-reino, sub-humano( a forma subumano também é correta).

- Em todos os demais casos:

subsecretário, subeditor.

- Vice e Ex sempre mantém o hífen:

vice-rei, vice-presidente , ex-vereador, ex-aluno.

- Em todos os demais casos:

pansexual, circuncisão.

- Pan, circum - Quando a palavra seguinte começa com h, m, n ou vogais:

pan-hispanismo, pan-mágico, pan-negritude, pan-africano, pan-eslávico, pan-iconográfico,

pan-ótico.

circum-hospitalar, circum-meridiano, circum-navegação, circum-ambiente, circum-escolar,

circum-uretral.

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Tabela Simplificada - Principais Usos do Hífen

Vogais diferentes Não use hífen infraestrutura, coautor

Vogais iguais Use hífen semi-interno, contra-ataque

Consoantes diferentes Não use hífen intermunicipal, superproteção

Consoantes iguais Use hífen hiper-realista, super-requintado

Vogal + Consoante Não use hífen autoproteção, autopeça

Consoante + Vogal Não use hífen superamigo, hiperacidez

Vogal + R ou S Não use hífen e duplique as

consoantes: RR e SS ultrarrápido, autossuficiente

ex, sem, pré, pró, pós, recém, além, aquém, vice

Use hífen ex-aluno, sem-terra, pré-operatório, pró-réu,

pós-graduação, recém-nascido, além-mar, aquém-mar, vice-prefeito

Palavra iniciada por H Use hífen anti-higiênico, ultra-humano

Tabela produzida pela professora Juliana Serpa

1.3.3 Acentuação

Acento tônico

Palavras de apenas uma sílaba

TÔNICAS (com uma sílaba forte)

O(S); E(S); A(S)

Exemplo: pó, sós; fé, pés; já, pás.

Palavras de mais de uma sílaba

OXÍTONAS (em que a última sílaba é forte)

O(S); E(S); A(S); EM (ENS)

Exemplos: avó, cipó; café, cafés; Pará, Carajás; porém, vinténs.

Diante de casos mais complexos ou dúvidas, recorra a um bom dicionário!

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PAROXÍTONAS (em que a penúltima sílaba é forte)

Terminadas em:

r - caráter

l - provável

x - tórax

n - hífen*

ps- bíceps

us- vírus

i, is - júri, júris

ã, ãs - órfã,

um, uns - álbum, álbuns

ditongos (ea, ia, io, ua etc)-área, pátria, próprio, água

*Não acentuadas se terminarem em – ENS - hifens

PROPAROXÍTONAS (em que a sílaba tônica (forte) é a antepenúltima)

Todas são acentuadas

Exemplo: supersônico, lâmpada, cândido, mórbido, tétano, dúvidas, pântano, código, sólido, árvore

etc.

1.3.4 Dúvidas Gráficas

Dúvidas acerca de expressões e algumas “inutilidades”

As dúvidas, a seguir, são acerca de expressões. Primeiramente, a palavra “acerca”.

Leia: acerca de, há cerca de, a cerca de. Qual o significado de cada uma destas expressões?

No início da frase, quando se afirma que as dúvidas são acerca de expressões, já há a “dica”

do significado desta expressão. Acerca (junto) significa SOBRE, A RESPEITO.

Assim:

Escreve-se sobre as dúvidas, acerca das dúvidas, a respeito das dúvidas.

Pode-se, também, falar acerca de alguém, isto é, sobre alguém, a respeito de alguém.

Agora, observe

Há cerca de dez expressões difíceis no texto. (Neste caso, substitua a expressão por

existem perto de).

Há cerca de 775 alunos estudando Português Instrumental neste semestre.

Havia cerca de dez provas para revisar.

Houve cerca de 772 aprovações.

Observe outro exemplo

Não entro na plataforma há cerca de vinte dias. (Substitua por faz perto de.)

Entretanto, muito cuidado ao utilizar a expressão a cerca de. Tal expressão deve ser usada

quando há a ideia de futuro ou de distância.

Observe

Encontrar-nos-emos daqui a cerca de dez dias. (FUTURO)

O corpo se encontra a cerca de três metros da calçada. (DISTÂNCIA)

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Agora, observe outra expressão muito falada na atualidade. Entretanto, no Vocabulário

Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras (ABL), não há o registro dessa

expressão. Ela não existe!

Poderá um dia ser registrada, possivelmente. Mas, no momento, ela não existe. E a norma

culta, às vezes um tanto cruel, abomina esta expressão.

Trata-se do famoso “a nível de”.

Houve um momento, antes de renomados gramáticos informarem que a expressão era

inexistente, que era “chic” falar o “a nível de”. Ouvia-se alto e bom som a expressão nos

telejornais, nos programas de entrevistas, entre outros. (Cabe destacar que a expressão alto e bom

som assim deve ser falada e escrita : ouvi alto e bom som e não “em alto e bom tom”, pois tente

substituir por “em baixo...”) Assim, ouvia-se nos “salões nobres da vida”, a nível de informática, a

nível de Brasil, a nível de economia mundial, a nível de Educação, a nível de globalização,

mundialização e planetarização, e por aí segue uma extensa lista da utilização dessa expressão.

Encontramos essa expressão, pela primeira vez, numa tradução. Trata-se do livro

Macrotendências, uma importante obra, lançada nos anos 1980, sobre análise econômica, escrita

por John Naisbitt. E, acreditem, é uma tradução feita em Portugal, em 1988. Lê-se, na página 52

dessa obra, “A nível universitário ...”

Tal expressão deve ser evitada. É modismo! Em vez de escrever ou falar a nível de, escreva

ou fale:

por falar em Educação, (...)

em se tratando de Educação, (...)

em Informática, (...)

No entanto, a expressão EM NÍVEL DE existe!!! E pode ser utilizada quando houver a ideia

de nivelamento.

Observe

A reunião será em nível de diretoria. (Isto quer dizer em termos de, no plano de, em

outras palavras, trata-se de uma reunião somente para diretores — gerentes e

supervisores não estão convocados.)

Cabe lembrar que há a forma ao nível de, com o significado de “à mesma altura”, por

exemplo, “está ao nível do mar”.

Mais uma expressão para a sua apreciação: HAJA VISTA.

É uma expressão invariável com o sentido de “tendo em vista”. Atenção: não existe “haja

visto”. Exemplos

Ele tirou dez, haja vista que estudou em demasia.

Ela foi aprovada, haja vista as notas do boletim.

Outro assunto: modismo? Sim! De tempos em tempos, surgem expressões utilizadas por

muitos, entretanto, com significado duvidoso e inútil.

É o caso de tempo hábil, vida útil e meio ambiente, já consagrado.

Observe

Não tenho tempo para ouvi-lo agora.

Tenho tempo para realizar esta tarefa.

Teremos tempo para estudar, professor?

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Pergunta: por que pôr depois da palavra tempo a palavra hábil? Por que dar essa

“habilidade” ao tempo? Não é inútil? Portanto, evite a expressão.

Observe

A vida útil do aparelho é de quatro anos.

Existe vida inútil? Aparelho tem vida? Por que não trocar a palavra? Por que não falar em

“durabilidade” do aparelho. Problemas com a garantia?

No que tange à expressão “meio ambiente”, já consagrada, sugerimos que você procure no

dicionário o sinônimo de meio e o sinônimo de ambiente.

Percebeu? Problemas do meio. Problemas do ambiente ou problemas ambientais.

É só buscar a simplicidade.

Agora, responda sinceramente: você está a fim de continuar a ler esta apostila?

Que bom! Ao trabalho!

Observe

Eu estou a fim de ir ao teatro assistir à peça “Gota D’água — Breviário”, no Sesc

Copacabana.

Ela está a fim de terminar os estudos de Filosofia.

No sentido de finalidade, com o propósito de, você deve usar a expressão desta forma

(escreve-se separadamente) A FIM DE, isto é, no intuito de, com a intenção de.

Agora, caro(a) aluno (a), na expressão afim de, há a ideia de afinidade.

Exemplos

O português é uma língua afim do espanhol.

Descobrimos que eles são parentes afins (isto é, parentes por afinidade).

Em princípio, parece fácil. No entanto, é preciso exercitar, praticar, pôr as informações no

papel ou na tela do computador, é preciso aplicar as informações adquiridas.

Observe a palavra em negrito: em princípio.

Em princípio é diferente de a princípio.

Em princípio significa teoricamente, em tese, de um modo geral, em termos.

A princípio significa no começo, inicialmente.

Por exemplo

Em princípio, não somos contra o ensino da Gramática Normativa.

(Teoricamente não somos contra.)

A princípio, éramos contra o internetês ou língua escrita teclada.

(Agora não somos mais, pois concebemos o internetês como mais uma possibilidade de

comunicação, que deve ser usada somente na grande rede - nunca em trabalhos acadêmicos.)

Onde foi que paramos? Aonde você vai? Continue a leitura!

Onde paramos? Esse "onde" é um advérbio.

Agora, observe a frase abaixo:

Aprecio o autor onde você se baseou. ONDE?

O pronome onde deve ser usado caso o antecedente forneça a ideia de “lugar”. Nesse caso,

onde é pronome relativo e não advérbio.

Observe que a palavra “autor” não dá a ideia de lugar, portanto, você deve usar em que.

Assim - Aprecio o autor em que você se baseou.

Agora - Fomos à cidade onde você nasceu.

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Perfeito! Cidade dá a ideia de lugar. Também pode ser “em que” você nasceu ou “na qual”

você nasceu.

Outra forma de uso: onde substituindo quando

No ano de 1898, onde as pessoas ainda não conheciam o computador, havia problemas

diferentes.

A palavra anterior não dá a ideia de lugar e sim de tempo, portanto: No ano de 1898,

quando as pessoas ainda não conheciam o computador, havia problemas diferentes.

E como se deve usar onde e aonde (como advérbio)?

Resposta - Você deve usar a palavra onde com verbos que não indicam movimento.

Por exemplo - Onde você está? Você está onde?

Entretanto, com verbos que indicam movimento, você deve usar aonde.

Por exemplo - Aonde você vai? Você vai aonde?

— Você quer chegar aonde com essas informações? — Você me pergunta?

Note bem: a palavra muitas vezes. Evite escrever muita das vezes. É inadequado.

Repetindo, utilize: muitas vezes.

Esta atividade é de reciclagem ou de atualização?

Certamente de atualização. Vamos fazer um curso de atualização em Informática?

Vamos fazer um curso de atualização em História? Em Educação Artística?

Nós nos atualizamos! Entretanto, usamos a palavra reciclar para coisas, por exemplo,

reciclar o lixo, reciclar latinhas etc.

Observe que os nomes de disciplinas devem ser escritos com letras maiúsculas ou

minúsculas, pois o atual Acordo ortográfico, assim o permite, isto é, tornou-se opcional.

Introdução à Filosofia ou introdução à filosofia; Teoria da Comunicação ou teoria da

comunicação; Banco de Dados ou banco de dados; Algoritmos ou algoritmos; Matemática ou

matemática; Língua Portuguesa IV ou língua portuguesa IV; Oficina de Redação ou oficina de

redação etc.

E a palavra através, como usá-la?

É preferível usar esta palavra com o seu sentido original, equivalente a “por dentro de”, que

dá a ideia de atravessar. Por exemplo - A bala passou através do pequenino corpo.

Jogou o olhar através da janela e viu a bela cena.

Entretanto, já é aceitável o uso desta locução prepositiva (através de) no sentido de “por

meio de”, “por intermédio de”.

Como dito anteriormente, é preferível o sentido original. Observe.

Começou a estudar através de livros esotéricos.

Começou a estudar com livros esotéricos.

Fez a edificação através de muito esforço.

Fez a edificação com muito esforço.

Elaborou a pesquisa através de investigação bibliográfica.

Elaborou a pesquisa por meio de investigação bibliográfica.

Há ou A?

Usa-se "há", quando o espaço de tempo já tiver decorrido e puder ser substituído por "faz".

Por exemplo - "Eu nasci há dez mil anos." (Faz dez mil anos que eu nasci.)

Usa-se "A", quando o espaço de tempo ainda não transcorreu (e, mesmo se tiver

transcorrido, não puder ser substituído por "faz").

Por exemplo - Ele estará aqui daqui a duas horas.

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MAS E MAIS

Observe as frases.

Ela é mais esperta que a irmã e também é mais bonita, mas tem um gênio...

Mais - advérbio de intensidade.

Mas - conjunção adversativa (pode ser substituída por porém, entretanto, contudo,

todavia, no entanto).

OS PORQUÊS

a) POR QUÊ

Usado no final de frase (também antes de um ponto e vírgula ou dois pontos).

Você parou por quê? Ela parou, mas eu não sei por quê.

b) PORQUÊ

"Porquê" junto e com acento = motivo ou indagação.

Está substantivado e admite artigo ou pronome adjetivo.

Exemplos - Não sei o porquê de você ter parado de tocar esse instrumento.

Estou procurando resposta aos teus porquês.

c) PORQUE

Esse porque, junto e sem acento significa "pois", enfim, uma explicação.

Parei de tocar o instrumento porque quis.

d) POR QUE

No início da frase (ou após – menos no final), uma indagação, escreve-se separado e sem

acento.

Por que você parou? Então, diga-me por que você parou?

Por que = por que motivo, pelo qual, por qual, o motivo pelo qual

Não sei por que você parou.

Não sei por que estrada elas foram.

MAL e MAU

Mal é o contrário de bem - é um advérbio.

Seu mal é relembrar o passado. Mal ele chegou, ela saiu.

Mau é o contrário de bom - é um adjetivo.

Ele não é mau.

*Mal pode ser também um substantivo.

Exemplo - A dengue é um mal que assola o país.

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1.4 Frase, período e oração

De acordo com Othon Garcia (1992, p. 6),

Frase é todo enunciado suficiente por si mesmo para estabelecer comunicação. Pode expressar um juízo, indicar uma ação, estado

ou fenômeno, transmitir um apelo, uma ordem ou exteriorizar emoções. (...) Oração, às vezes, é sinônimo de frase ou de período

(simples), quando encerra um pensamento completo e vem limitada por ponto final, ponto de interrogação, de exclamação e,

em certos casos, por reticências.

Vamos dialogar com o Mestre Othon Garcia?

Primeiramente, vamos procurar as palavras-chave do texto. Há duas definições no trecho

lido. Correto? Eis as palavras-chave: frase e oração.

Com relação ao vocábulo frase, o autor informa que se trata de todo enunciado suficiente

por si só. Podemos afirmar que frase é uma unidade mínima de comunicação linguística. Assim,

entendemos frase como qualquer vocábulo ou grupo de vocábulos necessários para atender à

necessidade do emissor, isto é, de quem fala, para efetivar a comunicação. Observe o diálogo a

seguir, intitulado “dedinho de prosa”.

Observe que a palavra não, logo após a pergunta, como resposta, sozinha, não pode ser

considerada como uma frase. Entretanto, no pequeno diálogo, dedinho de prosa, ela passa a ser

frase. O mesmo ocorre com a palavra sim.

Podemos citar outros exemplos.

Vale ressaltar que, na língua falada, a frase é marcada pela entonação. Porém, na língua

escrita, a referida entonação vem representada pelos sinais de pontuação.

Tipos de Frase

Existem vários tipos de frase. A frase pode ou não ter verbos. Chamamos de frase nominal

a frase sem verbos. Tradicionalmente, as frases são classificadas do seguinte modo: frase

interrogativa, frase declarativa, frase exclamativa, frase imperativa e frase optativa.

— Meia-volta!

— Sujeira!

— Você está lendo “Política para não ser idiota”?

— Não.

— Trata-se de um livro de Mario Sergio Cortella e de Renato Janine Ribeiro. Está interessado em ler?

— Sim.

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Frase interrogativa: ocorre quando se faz uma pergunta direta ou indiretamente. Por exemplo,

para se fazer uma pergunta direta.

E uma pergunta indireta.

Frase declarativa: é utilizada para afirmação ou para negação de alguma coisa.

Exemplos

Frase exclamativa: é aquela em que expressamos admiração, surpresa.

Exemplos

Frase optativa: é usada para exprimir um desejo e vem, geralmente, com um verbo no modo

subjuntivo.

Exemplos

— Espero que sejas recompensado.

— Quero que vivas muito, meu amor.

— Que calor!

— Você é um doce!

— É um espetáculo!

— É belíssima!

— Ouvir o outro é fundamental para as relações interpessoais.

— Não posso controlar a interpretação do leitor.

— Não sei por que o texto pontuado já é um texto interpretado.

— Você já leu a última obra de Pierre Lévy e André Lemos?

— O que significa hermenêutica?

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Frase imperativa: indica ordem, pedido ou súplica, de modo afirmativo ou negativo.

Exemplos

A formação do imperativo

Como é formado o modo imperativo? Antes de responder à questão, é preciso informar

que, em português, há três modos de indicar a atitude de quem fala em relação ao fato que se

comunica. São eles: o modo indicativo, o modo subjuntivo e o modo imperativo.

Por exemplo, no modo indicativo.

No modo subjuntivo.

No modo imperativo.

O modo imperativo pode ser afirmativo ou negativo. Então, surge a pergunta: como é

formado o imperativo afirmativo?

Simples! O modo imperativo afirmativo é formado pelo presente do indicativo e pelo

presente do subjuntivo. Como? Outra pergunta importante.

Do presente do indicativo, saem a 2ª pessoa do singular (tu) e a 2ª pessoa do plural (vós).

No entanto, retira-se o “s” final que essas formas apresentam. As outras pessoas (ele, nós, eles)

são as do presente do subjuntivo.

O imperativo negativo é formado somente pelo presente do subjuntivo, mais a palavra não.

Leia a obra de Cortella e Ribeiro: “Política para não ser idiota”.

Gostaria de que você lesse a obra “A mulher que escreveu a Bíblia”.

“Defendo a ideia de que a corrupção não aumentou; ela só está sendo mais percebida.” (CORTELLA e RIBEIRO, 2010)

— Redija um parágrafo. (afirmativa)

— Se dirigir, não beba. (negativa)

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Exemplificando o imperativo afirmativo com o verbo cantar

Presente do indicativo Presente do subjuntivo Imperativo afirmativo

Eu canto Que eu cante —

Tu cantas (-s) Que tu cantes canta (tu)

Ele canta Que ele cante cante (você)

Nós cantamos Que nós cantemos cantemos (nós)

Vós cantais (-s) Que vós canteis cantai (vós)

Eles cantam Que eles cantem Cantem (vocês)

No imperativo negativo, temos:

Não cantes (tu)

Não cante (você)

Não cantemos (nós)

Não canteis (vós)

Não cantem (vocês)

1.5 Uso adequado dos pronomes

Em primeiro lugar, é preciso informar que os pronomes pessoais oblíquos exercem a função

de complemento (objeto direto, objeto indireto, complemento nominal).

PRONOMES

RETOS OBLÍQUOS ÁTONOS OBLÍQUOS TÔNICOS

EU ME MIM, COMIGO

TU TE TI, CONTIGO

ELE, ELA SE, O, A, LHE SI, CONSIGO, ELE, ELA

NÓS NOS NÓS, CONOSCO

VÓS VOS VÓS, CONVOSCO

ELES, ELAS SE, OS, AS, LHES SI, CONSIGO, ELES, ELAS

Observação: evite iniciar frases com pronomes oblíquos átonos.

"Me fale sobre a sua vida."

De acordo com a norma culta, na língua escrita, não se deve iniciar frase com pronome

oblíquo. Assim:

Fale-me sobre a sua vida.

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Como usar adequadamente os pronomes oblíquos átonos?

Se o verbo for transitivo direto, você deverá usar o pronome oblíquo átono adequado (o, a,

os, as). Exemplos.

Eu jogo bola. (Eu jogo o quê? Bola - objeto direto).

Eu a jogo.

Entretanto, se o verbo for transitivo indireto, você deverá usar o pronome oblíquo átono

adequado (lhe, lhes, a ele, a ela).

Ela obedeceu ao diretor. (Obedeceu a quem? Ao diretor - objeto indireto.)

Ela lhe obedeceu.

Ela obedeceu a ele.

Para compreender melhor o assunto, consulte um dicionário. É o verbo que determina se o

objeto é direto ou indireto.

E se o verbo estiver na terceira pessoa do plural ou terminar por ditongo nasal?

Fica assim:

levam + o = levam-no

dão + o = dão-no

põe + o = põe-no

E se o verbo terminar por R, S ou Z?

Fica assim:

enviar + o = enviá-lo (observe o acento, nesse caso)

observamos + o = observamo-lo

pões + o = põe-lo

fiz + o = fi-lo

No que tange aos pronomes demonstrativos, para indicar lugar, observe:

a) quando está perto do emissor da mensagem, use - "Este aqui."

b) quando está perto do receptor da mensagem, use - "Esse aí."

c) Quando está distante, use - "Aquele lá."

Para indicar tempo, observe:

a) para indicar o tempo presente – hoje - "Este dia."

b) para indicar tempo passado - "Nessa semana, eu li a obra de José Saramago." (A semana

anterior.)

c) para indicar o tempo futuro - "Nesta semana, realizarei vários projetos."

d) para fazer referência a algo que já foi citado - "Não lia quase nada. Por esse motivo, foi

reprovado."

Alguma dúvida? É para eu entrar no AVA ou é para mim entrar no AVA, a fim de esclarecer

alguma dúvida?

Se você disse:

"É para eu entrar no AVA...", você acertou.

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"EU" é pronome pessoal reto. "MIM" é pronome pessoal oblíquo tônico.

Sempre que houver verbo no infinitivo, usa-se o pronome reto (EU), que é sujeito. "MIM"

nunca exerce a função de sujeito e, obrigatoriamente, deve ser usado com preposição: a mim, de

mim, entre mim, para mim...

1.6 Estudo sobre verbos

É a palavra que pode ser flexionada em número, pessoa, tempo e modo. Observe.

Cantei

– flexão de número (está no singular);

– flexão de pessoa (é da primeira pessoa);

– flexão de tempo (é o pretérito perfeito);

– flexão de modo (é o indicativo).

Segundo Sacconi (1994, p. 187), “ao conjunto de flexões verbais se dá o nome de

conjugação. Verbo é, assim, a palavra que pode ser conjugada; indica essencialmente um

desenvolvimento, um processo (ação, estado ou fenômeno)”.

Flexão de número: singular (cantei) plural (cantamos).

Flexão de pessoa: indica as pessoas do discurso.

Flexão de modo: “indica a maneira, o modo como o fato se realiza. São três os modos: o

indicativo, o subjuntivo e o imperativo. [...] Além dos modos, existem as formar nominais: infinitivo,

gerúndio e particípio” (op. cit., 1994, p. 188).

Flexão de tempo: “indica o momento ou a época em que se realiza o fato. São três os

tempos: o presente, o pretérito e o futuro. Somente o pretérito e o futuro são divisíveis” (op. cit,

1994, p. 188).

Conjugações

São três as conjugações:

primeira conjugação: verbos terminados em “AR” (cantAR, falAR, dAR), caracterizada pela vogal

temática “A”.

segunda conjugação: verbos terminados em “ER” (perdER, vendER, sofrER), caracterizada pela

vogal temática “E”.

terceira conjugação: verbos terminados em “IR” (partIR, pedIR, construIR), caracterizada pela vogal

temática “I”.

Observação: verbo “pôr” é da segunda conjugação. Sua forma antiga era “poer”.

Verbo Radical Terminação Vogal Temática

Estudar ESTUD AR A

Escrever ESCREV ER E

Partir PART IR I

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Morfologia

Quanto à morfologia, classificam-se em: regulares, irregulares, anômalos, defectivos e

abundantes.

Regulares: são aqueles que não sofrem alterações no radical durante a conjugação.

Exemplos: atuar, continuar, suar, recuar, disputar, amar, falar, cantar, vender, partir etc.

Irregulares: são aqueles que sofrem pequenas alterações no radical durante a conjugação.

Exemplos: dar, estar, caber, crer, dizer, fazer, haver, poder, pôr, querer, saber, trazer, valer,

ver, agredir, fugir, cobrir, ir, vir, cair, ouvir, rir etc.

Anômalos: são aqueles que sofrem grandes alterações no radical durante a conjugação.

Exemplo: ser = sou, é, fui, era, serei.

Defectivos: são aqueles que não possuem conjugação completa.

Exemplos: adequar, delinquir, reaver, falir, abolir, colorir, emergir, exaurir, explodir,

computar, precaver, feder etc.

Adequar – Presente do indicativo

Eu -

Tu -

Ele/Ela -

Nós Adequamos

Vós Adequais

Eles/Elas -

Abundantes: são aqueles que possuem dois particípios, um regular e outro irregular.

Verbo (infinitivo) Particípio regular Particípio irregular

Aceitar aceitado aceito

Benzer benzido bento

completar completado completo

Eleger elegido eleito

Fixar fixado fixo

Gastar gastado gasto

Morrer morrido morto

Pagar pagado pago

Pegar pegado pego*

Segundo Sacconi (1994, p. 223), o particípio “pego”(ê) é da língua popular.

Observação: Não são abundantes os verbos “trazer” (trazido – particípio regular somente) e

chegar (chegado – particípio regular somente).

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Pessoas verbais

1ª pessoa do singular EU

2ª pessoa do singular TU

3ª pessoa do singular ELE

1ª pessoa do plural NÓS

2ª pessoa do plural VÓS

3ª pessoa do plural ELES

Modos

Indicativo: presente; pretéritos perfeito, imperfeito e mais-que-perfeito; futuro do presente e

futuro do pretérito.

Subjuntivo: presente; pretérito imperfeito; futuro.

Imperativo: afirmativo e negativo

Formas nominais: infinitivo impessoal; infinitivo pessoal; gerúndio e particípio.

Verbos auxiliares

Para Sacconi (1994, p. 224), “são os que auxiliam a conjugação de outro, chamado principal,

que é expresso numa das formas nominais”.

Os mais comuns são: ser, estar, ter, haver (irregulares).

Exemplos

Temos falado acerca desse assunto.

Havíamos comprado um barco.

Foi preso o assassino.

Está impresso o documento.

Verbos pronominais

“São os que se conjugam com pronomes átonos integrantes, ou seja, com pronomes que

fazem parte do verbo. [...] Tais pronomes petrificaram-se junto ao verbo; por isso, alguns lhes

chamam pronomes fossilizados ou pronomes integrantes dos verbos” (op. cit., 1994, p. 224).

Exemplos fornecidos por esse autor.

Eu me arrependi do que fiz.

Ela se queixa de tudo.

Observação: o verbo deparar não é pronominal.

Exemplo

Deparei com a situação.

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Verbos reflexivos

“São os que se conjugam com pronomes átonos que exercem a função de objeto – direto

ou indireto” (SACCONI, 1994, p. 224).

Exemplo fornecido por esse autor.

Eu me cortei (me = objeto direto)

Ainda de acordo com esse autor, por serem reflexivos, esses verbos aceitam a posposição

das expressões a mim mesmo, a ti mesmo, a si mesmo, a nós mesmos.

Principais verbos: banhar-se, vestir-se, lavar-se, machucar-se, ver-se (ao espelho), pintar-se,

tatuar-se, trancar-se, ferir-se etc.

1 - Quais as principais diferenças entre a linguagem escrita e a falada?

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Unidade II – Coerência e Coesão

Reconhecer e empregar os elementos de coerência e coesão textual.

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2.1 - Coerência e adequação vocabular

2.1.1 Coerência

Assim como as palavras se organizam na oração, as orações também se organizam no

período, por processos de subordinação e coordenação.

Conforme afirma o Mestre Othon Garcia (1992), “nossa liberdade de construir frases está,

assim, condicionada a um mínimo de gramaticalidade — que não significa apenas nem

necessariamente correção (há frases que, apesar de, até certo ponto, incorretas, são plenamente

inteligíveis)”. E acrescenta que, desprovidas da articulação sintática necessária, não há frase, há

somente um agrupamento de palavras sem sentido. Observe.

“O estamos notável disse escritor grunhido de ao que volta português.”

É claro que não há sentido em tal agrupamento. Faz-se necessária a organização de tal

agrupamento de palavras. Assim - “O notável escritor português disse que estamos de volta ao

grunhido”.

Entretanto, esse autor adverte que: “não basta que a frase seja gramatical para ser

inteligível: importa, ainda, que ela preencha outras condições (...); importa, enfim, que ela, além da

condição de gramaticalidade” exclua a ambiguidade, exclua as tautologias nulificadoras de

significado, ou seja, as repetições desnecessárias, exclua as incoerências semânticas, revele

conformidade com a experiência geral de uma dada comunidade cultural e que não seja caótica na

sua estrutura.

Em primeiro lugar, qual o significado de “exclua a ambiguidade”?

Observe a frase abaixo.

O professor magoado saiu da sala.

O “professor magoado” ou “o professor saiu magoado”?

E quanto à segunda afirmação: “exclua as tautologias nulificadoras”.

Tautologia é a repetição de ideias com palavras distintas, às vezes, expressões distintas;

nulificadoras, que tornam nulas.

Assim, temos: sair para fora, entrar para dentro, antecipar para antes, conviver juntos, criar

novos, sentidos pêsames, emulsão de óleo, adiar para depois, parte integrante, entre outros.

Observe: se vai sair, só pode ser para fora de algum lugar; se vai entrar, vai entrar em algum

lugar; se vai antecipar, é porque já é antes; se vai conviver, só pode ser junto de alguém; se vai

criar, é porque é novo; se você deseja expressar os seus sentimentos, é com pesar, então, use as

expressões “meus sentimentos” ou “meus pêsames”; emulsão: só pode ser de óleo, não há

emulsão com água; se vai adiar, só pode ser para depois, nunca adiar para “ontem”; se é parte, já é

integrante; e assim por diante.

A compreensão somente ocorre quando há coerência, que é o resultado da articulação das

ideias no texto, veiculando sentidos para o receptor.

Primeiramente, vejamos as definições da palavra “coerência”, encontradas em dois

dicionários.

• Coerência s.f. 1. Qualidade, estado ou atitude de coerente. 2. Harmonia, entre ideias ou

acontecimentos. (Aurélio)

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• Coerência s.f. Do latim cohaerente 1. Qualidade ou estado do que é coerente;

conformidade, harmonia entre dois fatos ou ideias; nexo; conexão; (fís.) aderência recíproca entre

as moléculas de um corpo. (Dicionário Brasileiro Globo)

Em diálogo com as definições e ligando-as ao nosso assunto, podemos perceber que o

conceito está ligado à existência de conexão, de sentido entre ideias. Para corroborar tal afirmação,

apresentamos as palavras de Tiski-Franckowiak (2008, p. 87):

(...) a compreensão do todo envolve processos mentais, elos que relacionam os fatos, ou

seja, elementos que relacionam e interligam os fatos. Segundo essa autora, o processo de

compreensão das relações entre os elementos de uma gestalt se inicia com um insight, que

significa aquele “heureca!” ou “achei!”. O insight é aquele estalo que, de repente, acontece, e o

sujeito pode até dizer, numa linguagem informal, que “caiu a ficha”. Para que ocorra o insight, é

necessária a presença de elementos suficientes no campo externo (idem). De acordo com essa

pesquisadora, “o ser humano tende naturalmente para a complementação e a organização das

coisas incompletas, busca o equilíbrio das formas perfeitas (ibidem)".

Nesse momento, à procura de organização e de compreensão, o receptor da mensagem

busca a coerência, busca explicação, busca sentidos.

Em se tratando de textos escritos, que será o nosso objeto de estudo, cabe lembrar que o

produtor da mensagem pode não conseguir realizar as articulações entre os elementos da

mensagem de maneira coerente. Nesse sentido, a seguir, discutimos os problemas de coerência

textual.

Van Dijk e Kintsch, citados por Koch e Travaglia (2002, p. 42), apontam diversos tipos de

coerência.

Para explicar o que foi dito, apresentamos os tipos de coerência com exemplos, fornecidos

por Koch e Travaglia (2002, p. 43) — dois pesquisadores que mais entendem desse assunto no país.

a) Coerência semântica — é a que se refere à relação existente entre os significados dos elementos

das frases em sequência em um texto ou entre os elementos do texto em sua totalidade.

Exemplo

“A frente da casa de vovó é voltada para o leste e tem uma enorme varanda. Todas as

tardes ela fica na varanda em sua cadeira de balanço apreciando o pôr do sol.”

Observe que a posição da frente da casa — a varanda — está voltada para o local onde o

sol nasce (leste). A seguir, o autor da mensagem informa que, à tarde, a vovó gosta de ficar na

varanda apreciando o poente (oeste).

Ora, se a varanda é voltada para o leste...

Portanto, não há coerência se não existir relação entre os elementos do texto em sua

totalidade.

b) Coerência sintática — é a que se refere aos meios sintáticos para expressar a coerência

semântica. Os meios sintáticos para expressar a coerência semântica são, por exemplo, os

conectivos, o uso de pronomes, entre outros.

Exemplos

“A felicidade, onde não existem técnicas científicas para sua obtenção, faz-se de pequenos

fragmentos captados de sensíveis expressões vivenciais (...)” (Koch e Travaglia)

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Observe que a utilização de “onde” causa a incoerência sintática. Para tornar o trecho

coerente, é preciso reconstruí-lo.

“A felicidade, para cuja obtenção não existem técnicas científicas, faz-se de fragmentos

captados de sensíveis expressões vivenciais.”

Outros exemplos fornecidos por Kock e Travaglia (202, p. 42).

“João foi à festa, todavia porque não fora convidado.”

”João foi à festa, todavia ele não fora convidado.”

No primeiro exemplo, observe que não há continuidade da ideia. Com a utilização de

“todavia”, espera-se a continuação da ideia, que não é apresentada.

No segundo exemplo, o texto é coerente, pois toda a ideia é apresentada pelo produtor do

trecho.

Kock e Travaglia (2002, p. 44) salientam que “a coerência sintática nada mais é do que um

aspecto da coesão que pode auxiliar no estabelecimento da coerência”.

c) Coerência estilística — o produtor da mensagem deve usar em seu texto elementos linguísticos,

isto é, léxico, tipos de estruturas, frases etc., que pertençam ao mesmo estilo ou registro

linguístico. No entanto, o uso de estilos diversos parece não criar problemas para a compreensão.

Esses autores (op. cit., 2002, p. 45) afirmam que, na verdade, “esta é uma noção que tem utilidade

na explicação de quebra estilística”. E exemplificam o caso com o uso de gírias em textos

acadêmicos, sobretudo orais, e com o uso de expressões de ressalvas antes de anunciar o que se

deseja, com expressões como “se me permitem o termo”, para usar expressão popular que bem

expressa isso, “com o perdão da palavra”, entre outros.

Observe o exemplo fornecido por esses autores em que há uma incoerência estilística

inaceitável pelas normas sociais; entretanto, não é problemática do ponto de vista do

estabelecimento de sentido, caso a intenção do produtor da mensagem fosse a de irreverência ou

de não respeito ao sentimento do receptor.

Exemplo

Prezado Fulano,

neste momento, quero expressar meus profundos sentimentos por sua mãe ter batido as

botas.

d) Coerência pragmática — relaciona-se com o texto visto como uma sequência de atos da fala.

Tais atos devem satisfazer as mesmas condições “presentes em uma dada situação comunicativa”.

Caso contrário, temos incoerência (op. cit., 2002, p. 46). Observe o exemplo fornecido por esses

autores.

Se um amigo faz um pedido a outro, pode-se esperar a seguinte sequência de atos:

• pedido/atendimento;

• pedido/promessa;

• pedido/jura;

• pedido/solicitação de esclarecimento;

• atendimento ou promessa;

• pedido/recusa/justificativa;

• pedido/recusa.

E não sequências, como:

• pedido/ameaça;

• pedido/declaração de algo que não se relaciona com o pedido.

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Caso sejam apresentadas essas últimas sequências, vistas como incoerentes, o autor do

pedido, provavelmente, pode pedir esclarecimentos e considerar a fala do outro como recusa ou

descaso, entre outras possibilidades — acrescentam esses autores.

Exemplos

Você não vai ao Rock in Rio?

Eu entrei na página e deixei o comentário sobre o texto.

Como nos alertam Koch e Travaglia (2002, p. 46), vale lembrar que:

A coerência é um fenômeno que resulta da ação conjunta de todos esses níveis e de sua influência no estabelecimento do sentido do texto, uma vez que a coerência é, basicamente, um princípio de interpretabilidade do texto, caracterizado por tudo de que o processo aí implicado possa depender, inclusive a própria produção do texto, na medida em que o produtor do texto quer que seja entendido e o constitui para isso, excetuadas situações muito especiais.

2.1.2 - Adequação Vocabular

Uso adequado dos verbos definir, colocar, botar e pôr, adequar e reverter.

O Objetivo desta atividade é o de minimizar as inadequações para a construção de futuros

textos.

Responda.

— Você já foi picado(a) por um pernilongo?

Certamente, a sua resposta será: — Sim!

— Você já foi mordido(a) por um leão?

— É claro que não! — você, certamente, responderá.

Pensemos juntos: o pernilongo é pequenino; já o leão, com uma arcada dentária enorme, é

tão grande. Entretanto, é o pequenino que nos atinge; o grande, se nos pegar, provavelmente nos

deixará “fora de cena”.

Pois é! Vamos transformar essa questão em uma lição.

“As pequenas coisas nos atingem; as grandes podem nos pegar, mas não estaremos aqui, depois,

para contar a história.”

E tal fato pode acontecer num texto: pequenas inadequações podem desvalorizar o que foi

escrito. São as pequeninas coisas...

Lembre-se: um texto deve apresentar, entre outras qualidades, adequação vocabular.

Como você já sabe e percebeu também, adequar o vocabulário é uma coisa pequenina, entretanto,

importantíssima!

É imprescindível o cuidado no uso de determinadas palavras.

Quando você está construindo um texto, no calor e no entusiasmo do ato criativo,

possivelmente você acredita que certas palavras são sinônimas. Porém, algumas vezes, há enganos.

Por exemplo, atualmente, há o uso (excessivo) de um verbo que “está na moda” — na TV e

na mídia impressa — e circula pelos “salões nobres da vida” lépido e fagueiro: o verbo definir.

Observe as frases a seguir e note como o verbo foi utilizado.

O Presidente definirá como vai abaixar os juros do BC.

Milena e Marcos, finalmente, definiram a data do casamento.

Os deputados não definiram quem dirigirá esta CPI.

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Agora, consulte o dicionário o sinônimo do verbo DEFINIR. Compare o que você encontrou

no dicionário com as palavras grifadas nos exemplos. Certamente, você percebeu que ninguém

mais decide, marca, estabelece, determina, escolhe...

O que realmente parece é que a ordem é DEFINIR. Vamos definir!

Você, provavelmente, perguntará:

— Mas isso é errado?

Não se trata de certo ou errado. O problema é maior. Maior porque se trata de

empobrecimento vocabular.

Afirma-se, aqui, que simplicidade vocabular não significa pobreza vocabular.

É inadequado utilizar o verbo definir com tais significados.

Portanto...

O Presidente decidirá como vai abaixar os juros do BC.

Milena e Marcos, finalmente, marcaram a data do casamento.

Os deputados não escolheram quem dirigirá esta CPI.

Para sua informação, o mesmo ocorre com os verbos colocar, botar e pôr.

Alguns autores de Manuais de Redação e professores renomados perceberam o uso

excessivo do verbo colocar. Etimologicamente, colocar vem do latim collocare (co + locare), que

significa pôr, pôr ao lado de, pousar.

De acordo com o Prof. Sergio Nogueira Duarte da Silva, o uso do verbo colocar só é

apropriado quando houver claramente a ideia de “lugar”.

Exemplos

Coloque as almofadas naquele canto.

Vamos colocar os livros na estante.

Então, evite usar o verbo colocar quando não houver claramente a ideia de lugar. Utilize os

outros verbos, como botar e pôr.

Eis alguns exemplos...

A galinha do vizinho bota ovo amarelinho. (E não coloca.)

A galinha põe ovos diariamente. (E não coloca.)

Vestiu a camiseta do América Futebol Clube. (E não colocou.)

Chegou mais um: vamos botar água no feijão! (E não colocar.)

O planejamento escolar é ótimo. Vamos pô-lo em prática. (E não colocá-lo.)

Trata-se de uma sugestão — de um ponto de vista — fazer tais substituições. Há quem

discorde. Mas, a maioria concorda com essa substituição.

Entretanto, vamos pensar juntos: não é mais simples?

Cabe destacar o uso corrente do...

“Posso fazer uma colocação?” e “O autor coloca que ...”

Outra vez, vamos pensar juntos?

COLOQUE OUTRO VERBO NO LUGAR DE COLOCAR!

Por exemplo - Posso falar? Posso opinar? Posso argumentar? Posso afirmar? (Em vez de: posso

fazer uma colocação?)

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Outro exemplo...

Margulis e Sagan (2002, p. 211) afirmam que os componentes de nosso corpo retornam

para a biosfera de que vieram. E advertem que “na economia restrita da arrogância e da fantasia

humanas, os indivíduos podem acumular grande riqueza e poder”, no entanto, ressaltam que, “na

economia solar da realidade biológica, cada um de nós é despachado para abrir espaço para a

próxima geração”. E salientam que, “recebidos de empréstimo, o carbono, o hidrogênio e o

nitrogênio de nosso corpo têm que ser devolvidos ao banco biosférico”. (MARGULIS, Lynn; SAGAN,

Dorion. O que é vida? São Paulo: Zahar, 2002.)

Observe: os autores afirmam, advertem, ressaltam, salientam... (E não colocam!).

Morin (2000, p. 59) afirma que “conhecer e pensar não é chegar a uma verdade

absolutamente certa, mas dialogar com a incerteza”. (MORIN, Edgar. A cabeça bem-feita: repensar

a reforma, reformar o pensamento. Rio de Janeiro: Bertrand-Brasil, 2000.)

Observe: o autor afirma e não coloca.

Fique atento ao significado das expressões: em vez de e ao invés de

Usa-se a expressão EM VEZ DE quando há a ideia de substituição.

Exemplo

Vou ao cinema, em vez de ir ao teatro.

Na expressão AO INVÉS DE, há a ideia de contrariedade.

Exemplo

Ele subiu, ao invés de descer.

Agora, outros verbos utilizados de forma inadequada: adequar e reverter. Consulte o

dicionário e anote o sinônimo desses verbos.

A seguir, leia as frases abaixo e faça uma comparação com o que você acabou de anotar,

isto é, com os sinônimos encontrados no dicionário.

A alternativa não se adeqúa (ou adéqua) a essa questão.

Para melhorar o produto, é necessário que a firma se adéque (ou adeqúe) à nova visão

empresarial.

O verbo adequar vem do latim adaequare. Trata-se de um verbo defectivo: usado somente

nas formas arrizotônicas.

Arrizotônicas!

Ao dicionário! O significado desta palavra é: a (prefixo grego, significa não) + rizo (radical

grego, significa raiz). Decifrou a charada agora?

Arrizotônica significa que tem a tonicidade fora da raiz, isto é, a tonicidade não está em

“adeq”, mas nas terminações.

Relembrando: o verbo adequar é defectivo.

“Defectivo: diz-se do verbo a que faltam pessoas (eu, tu, ele...), modos ou tempos.”

Em outras palavras — e para encurtar o assunto — o verbo adequar não apresenta as três

pessoas do singular (eu, tu, ele) e a 3ª pessoa do plural (eles) do presente do indicativo.

Consequentemente, nada haverá no presente do subjuntivo.

Cabe lembrar que nos tempos do pretérito e do futuro tudo “corre” normalmente.

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Então, você poderá, certamente, escrever ou dizer...

Ele adequou...

Eu adequava...

Ela adequara...

Eu adequaria...

Ela adequará...

Eu estou adequando...

Isto é adequado...

Assim, as frases dos exemplos podem ser escritas da seguinte forma.

A alternativa não está adequada a essa questão.

Para melhorar o produto, é necessário que a firma fique adequada à nova visão

empresarial.

Com relação ao verbo reverter, no dicionário, há a seguinte definição:

REVERTER = v. tr.ind. Regressar; tornar (ao ponto de partida); retroceder; voltar (para a

posse de alguém); do latim revertere.

Leia, agora, as frases abaixo e compare-as com a definição da palavra.

É necessário reverter a situação em que se encontra a Educação.

— Vamos reverter o placar — grita a torcida furiosa.

O professor quer reverter o quadro atual.

É claro que se trata de uso excessivo do verbo em questão.

Portanto, se a ideia não for a de retornar, utilize, por exemplo, mudar, inverter ou alterar,

conforme o caso.

É necessário mudar (ou alterar) a situação em que se encontra a Educação.

— Vamos inverter o placar — grita a torcida furiosa.

O professor quer mudar o quadro atual.

Como bem nos lembra o Prof. Sergio Nogueira, não se pode confundir o verbo reverter

(que tem o prefixo –re) com verter e inverter.

Veja:

verter para o inglês: O livro está sobre a mesa (The book is on the table.)

reverter (prefixo –re): dá a ideia de repetição, volta, regresso.

Se você disser que é preciso “reverter a situação atual”, isso significa voltar à situação

anterior.

Entretanto, quando os médicos dizem que é necessário “reverter o quadro clínico”, estão

cobertos de razão. Isso quer dizer que haverá uma volta à situação inicial, ou seja, a um estado

saudável (o que é muito bom).

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2.1.3 - Redundâncias

O que é redundância? Redundância é um substantivo feminino, qualidade de redundante.

REDUNDANTE é um adjetivo, que significa supérfluo, excessivo, pleonástico.

Por exemplo, a música que o Raul Seixas cantava e que ainda muitos dela se lembram...

“Eu nasci há dez mil anos atrás...”

Se foi há dez mil anos, só pode ser “atrás”. A palavra em destaque é redundante. Não há

necessidade de enfatizá-la.

Observe outros exemplos.

Ela fará parte integrante da banca. Se fará parte, é porque integra. Use uma ou outra

palavra. Assim, é melhor: Ela fará parte da banca.

Receberam o piso salarial mínimo. Sé é piso, só pode ser mínimo, não é? Apenas diga ou

escreva: piso salarial.

Todos os países do mundo estão lutando contra esse mal. É melhor afirmar: Todos os

países estão lutando contra esse mal. (Os países, é claro, pertencem ao mundo.)

Os candidatos, na hora do abraço, foram cercados por todos os lados. Se foram cercados...

Não dá para cercar e deixar espaços abertos. Melhor afirmar: “Os candidatos, na hora do abraço,

foram cercados” (pela multidão, com certeza!).

A Diretora da escola afirmou que o projeto é inteiramente subsidiado. Ora, o projeto

apenas é subsidiado. Inteiramente?

Procure no dicionário o significado da palavra subsídio. Percebeu? Como se lê a palavra

subsídio, com o som de “s” ou de “z”? Com o som de “s”, é claro.

Uma curiosidade: procure no dicionário como se lê a palavra OBSOLETO.

Interessante, não é? A sílaba tônica está no LE (aberto).

2.2 - Coesão textual

Os urubus e os sabiás

“(1) Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam... (2) Os

urubus, aves por natureza ‘becadas’, mas sem grandes dotes para o canto, decidiram que, mesmo

contra a natureza, eles haveriam de se tornar grandes cantores. (3) E para isto fundaram escolas e

importaram professores, gargarejaram dó-ré-mi-fá, mandaram imprimir diplomas, e fizeram

competições entre si, para ver quais deles seriam os mais importantes e teriam a permissão de

mandar nos outros. (4) Foi assim que eles organizaram concursos e se deram nomes pomposos, e o

sonho de cada urubuzinho, instrutor em início de carreira, era se tornar um respeitável urubu

titular, a quem todos chamavam por Vossa Excelência. (5) Tudo ia muito bem até que a doce

tranquilidade da hierarquia dos urubus foi estremecida. (6) A floresta foi invadida por bandos de

pintassilgos tagarelas, que brincavam com os canários e faziam serenatas com os sabiás... (7) Os

velhos urubus entortaram o bico, o rancor encrespou a testa, e eles convocaram pintassilgos, sabiás

e canários para um inquérito. (8) “- Onde estão os documentos dos seus concursos?” (9) E as

pobres aves se olharam perplexas, porque nunca haviam imaginado que tais coisas houvesse. (10)

Não haviam passado por escolas de canto, porque o canto nascera com elas. (11) E nunca

apresentaram um diploma para provar que sabiam cantar, mas cantavam simplesmente... (12) –

Não, assim não pode ser. Cantar sem a titulação devida é um desrespeito à ordem. (13) E os

urubus, uníssono, expulsaram da floresta os passarinhos que cantavam sem alvarás...

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(14) MORAL: em terra de urubus diplomados não se ouve canto de sabiá.”

Rubem Alves. Estórias de Quem Gosta de Ensinar.

“Um texto não é uma soma de sequência de frases isoladas.” Analisando o texto de “Os

urubus e os sabiás”.

1. “Tudo aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam...”

Que tudo é esse?

O que foi que aconteceu numa terra distante, no tempo em que os bichos falavam?

2. “E para isto fundaram escolas...”

Isto o quê? De que se está falando?

Qual o sujeito dos verbos fundaram, importaram, gargarejaram, mandaram, fizeram? É o

mesmo de teriam?

3. Fala-se em quais deles. Deles quem? E quem são os outros?

4. Qual o referente de eles em (4)?

5. Tem-se novamente a palavra tudo: (5) “Tudo ia muito bem...”Esta segunda ocorrência do termo

tem o mesmo sentido da primeira?

6. A quem se refere o pronome eles (7)?

7. E o pronome possessivo seus (8)?

8. Quais são as pobres aves de que se fala em (9)? E as tais coisas?

9. E elas, em (10), refere-se a pobres aves ou a tais coisas?

10. De que passarinho se fala em (13)?

“Se tais perguntas são facilmente respondidas, é porque os termos em questão são

elementos da língua que têm por função estabelecer relações textuais: são recursos de coesão

textual.”

Outro grupo de palavras que tem como função assinalar determinadas relações de sentido

entre os enunciados ou partes de enunciados:

mas – oposição ou contraste

mesmo – oposição ou contraste

para – finalidade, meta

foi assim que (4) – consequência

até que – tempo

E (11) – adição de argumentos ou ideias

porque – explicação, justificativa

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2.2.1 Coesão Textual - Teoria

I. Coesão por retomada ou por antecipação

1. Retomada ou antecipação por uma palavra gramatical (pronomes, verbos, numerais, advérbios)

“Eu darei sempre o primeiro lugar à modéstia entre todas as belas qualidades. Ainda sobre

a inocência? Ainda, sim. A inocência basta uma falta para a perder; da modéstia só culpas graves,

só crimes verdadeiros podem privar. Um acidente, um acaso podem destruir aquela, a esta só uma

ação determinada e voluntária.” (Almeida Garrett. Viagens na minha terra.)

A palavra aquela retoma o substantivo inocência; o vocábulo esta recupera a palavra

modéstia. Todos os termos a que servem para retomar outros são chamados de anafóricos.

“Qualquer que tivesse sido seu trabalho anterior, ele o abandonara, mudara de profissão e

passara pesadamente a ensinar no curso primário: era tudo o que sabíamos dele. O professor era

grande, gordo e silencioso, de ombros contraídos.”(Clarice Lispector. A legião estrangeira.)

O possessivo seu e o pronome pessoal reto de 3ª pessoa ele antecipam a expressão o

professor. São, pois, catafóricos.

O pronome pessoal oblíquo o retoma a expressão seu trabalho anterior. É, então, um

termo anafórico.

2. Retomada por palavra lexical (substantivos, verbos, adjetivos)

Lia muito, toda espécie de livro. Policiais, então, nem se fala, devorava.

Elipse

Na elipse, temos a retomada de um termo que seria repetido, mas que é apagado, por ser

facilmente depreendido do contexto.

“Itamar Franco era um homem feliz ao passar a faixa presidencial para Fernando Henrique

Cardoso, mas estava tristonho ao acordar no dia seguinte. Já não era presidente da República

desde 1º de janeiro e precisava deixar o Palácio do Jaburu (...) Calado, foi ao banheiro e embalou

alguns objetos.” (Veja: 24, jan. 1995.)

O sujeito do primeiro era é explicitamente mencionado, Itamar Franco. Os outros verbos

do texto têm o mesmo sujeito. No entanto, ele vem elíptico, isto é, oculto.

2.3 - Concordância nominal e verbal

2.3.1 Concordância Verbal

Antes de iniciar o trabalho, seguem algumas orientações sobre concordância verbal. Tais

orientações foram retiradas da obra “Nossa Gramática: teoria e prática”, de Sacconi (1994, p. 367-

369).

1) A turma não aprovou o trabalho ou a turma não aprovaram o trabalho?

Com coletivos (a turma, um bando...), concorda no singular.

A turma não aprovou o trabalho.

2) Um milhão de pessoas passou o Ano Novo em Copacabana ou um milhão passaram o Ano Novo

em Copacabana?

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Um bilhão de pessoas não está com a virose ou um bilhão de pessoas não estão com a

virose?

Um milhão de pessoas passou o Ano Novo em Copacabana.

Um milhão de pessoas não está com a virose.

Observe...

Um milhão e duzentos mil reais, um milhão e pouco, um bilhão e meio...

Exemplo - Um trilhão e trezentos mil reais foram roubados do banco.

Se não houver número determinado, continua no singular.

Exemplo - Um bilhão e meio de pessoas verá o espetáculo pela televisão.

4) Concordância facultativa antes do pronome relativo que (concorda com o coletivo ou com o

nome)

Exemplo - Fez alusão à série de infortúnios que aconteceu (aconteceram) na sua vida.

Ele não aprovou o trabalho da turma de operários que construiu (construíram) o prédio.

5) A maioria de, grande parte de, metade de

Exemplo - A maioria dos entrevistados informou (informaram) que não esperam o outro

terminar uma frase.

Metade dos entrevistados refletiu (refletiram) sobre o ato de ouvir o outro.

Grande parte dos entrevistados ouve (ouvem) mal.

6) Vinte por cento (20%), um por cento (1%)

Exemplo - Trinta por cento dos entrevistados afirmam que ouvir é fundamental.

Um por cento afirmou que não interrompe o outro.

Trinta por cento do grupo pesquisado ouve (ouvem) mal.

7) Mais de, menos de, cerca de...

Exemplo - Mais de um entrevistado chegou.

Mais de dois entrevistados informaram que não gostariam de responder à pergunta.

Cerca de oito entrevistados choraram.

Mais de 1% da entrevista não é válida.

Menos de 40% dos entrevistados ouvem bem.

8) um dos que, nenhum dos que

O primeiro entrevistado é um dos que ouvem bem.

2.3.2 Concordância Nominal

“A relação entre um substantivo (ou um pronome ou numeral substantivo) e as palavras

que a ele se ligam para caracterizá-lo (artigos, adjetivos, pronomes adjetivos, numerais adjetivos)

recebe o nome de concordância nominal (INFANTE, 1997, p. 463).

Segundo esse autor, merecem destaque as seguintes palavras e construções - PRÓPRIO,

MESMO, ANEXO, INCLUSO, QUITE E OBRIGADO.

Tais palavras concordam em gênero e número com o pronome a que se referem. Observe

os exemplos fornecidos por esse autor (op. cit., 1997, p. 465-467).

“Elas próprias disseram: – Nós mesmas fizemos isso.”

“Seguem inclusos os documentos requeridos.”

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“Seguem anexas as cópias solicitadas.”

“Estamos quites”.

“O rapaz agradeceu: – Muito obrigado.”

Com relação às palavras MEIO e BASTANTE (INFANTE, 1997, p. 466)

Meio e bastante podem atuar como adjetivos ou como

advérbios. No primeiro caso, referem-se a substantivos e

são variáveis.

Exemplos -‘Pedi meia cerveja e meia porção de batatas.’

‘Bastantes coisas estão erradas.’

No segundo caso, referem-se a verbos, adjetivos ou

advérbios e são invariáveis.

Exemplos - ‘As jogadoras estavam meio desgastadas pela

competição. ’

‘A atleta não foi bem porque estava meio ansiosa. ’

‘Andamos meio aborrecidos. ’

‘Ainda acreditamos bastante em nós mesmos, apesar de

estarmos bastante cansados. ’”

Vale destacar que expressões como - É PROIBIDO, É BOM, É NECESSÁRIO, É PRECISO,

quando desacompanhados de determinante (artigos, pronomes e numerais adjetivos), os

substantivos podem ser tomados no sentido amplo (INFANTE, 1997, p. 466).

Eis os exemplos fornecidos por esse autor - É proibido entrada.

Água é bom.

Liberdade é necessário.

Com determinante, teríamos - A água é boa.

É proibida a entrada.

A liberdade é necessária.

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Unidade III – Texto e sua estrutura

Identificar estruturas, interpretando textos e ideias.

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3.1- Técnica de redação

3.1.1 Planejamento do Parágrafo

Antes de iniciar o texto, faça um planejamento.

Soares e Campos (1977, p. 68) sugerem que se deve ter em mente, antes da escrita do

texto, o seguinte:

qual é o assunto?

qual é a delimitação do assunto?

qual é o objetivo? O que se pretende fazer?

E fornecem (op. cit., 1977, p. 68) o seguinte exemplo (para se ter a ideia de como se deve

elaborar o planejamento).

Assunto: o riso.

Delimitação do assunto: situações que provocam riso.

Objetivo: mostrar que o riso é provocado pela tristeza.

(A palavra riso está presente no assunto, na delimitação do assunto e no objetivo.)

Após a organização desses três pontos importantes do ato de planejar, elabore a frase-

núcleo ou tópico frasal (a frase introdutória).

Observe...

Se o meu assunto é o riso, delimitei-o para abordar as situações que causam riso e o meu

objetivo é o de “mostrar que o riso é provocado pela tristeza”; a frase-núcleo a ser elaborada para

introduzir o texto deverá ser uma tradução do objetivo.

Tradução do objetivo?

Você vai se perguntar, certamente. Isso mesmo: traduza o objetivo.

O objetivo é o de “mostrar que o riso é provocado pela tristeza”, por exemplo – entre

várias opções que você certamente pensará.

Então, na sua frase-núcleo, você deverá deixar isso claro para o seu leitor.

A seguir, há duas possibilidades fornecidas por esses autores (op. cit., 1977, p. 68).

Possivelmente, você poderá criar outra(s); entretanto, você deverá estar atento(a) ao seu objetivo.

Frase-núcleo 1

Todo mundo ri das desgraças dos outros. Como diz a velha marchinha de carnaval,

“pimenta nos olhos dos outros é refresco”.

Frase-núcleo 2

O riso é, quase sempre, provocado pelo ridículo. Pela situação incômoda, pelo grotesco,

pela tristeza.

Observe que as duas frases introdutórias (chamadas frase-núcleo ou tópico frasal) contêm

os elementos elaborados no objetivo.

Percebeu agora a importância de planejar o texto? Assim, você não se perde do seu

assunto. Isso proporciona mais “foco” (como se diz por aí...).

Lembre-se de que, para a produção textual, 99% é fruto de transpiração; 1%, de

inspiração.

Leia o trecho a seguir.

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47

Tipos de violência

Nem sempre é fácil identificar a violência. Por exemplo, uma cirurgia não constitui violência,

primeiro porque visa ao bem do paciente, depois porque é feita com o consentimento do doente.

Mas certamente será violência se a operação for realizada sem necessidade ou se o paciente for

usado como cobaia de experimento científico sem a devida autorização.

Mas, se o motorista causador de um acidente alegar que não foi violento por não ter

causado prejuízo voluntariamente, é preciso verificar se não houve descuido ou omissão da parte

dele. Afinal, a violência passiva ocorre toda vez que deixamos de fazer determinadas ações cujo

cumprimento seria necessário para salvar vidas ou evitar sofrimentos. É nesse sentido que podemos

lastimar os altos índices de acidentes de trabalho apontados no Brasil pela Organização

Internacional do Trabalho (OIT).

Outras vezes, estamos diante da violência indireta. Por exemplo, se sabemos que o

clorofluorcarbono (CFC) destrói a camada de ozônio da Terra e com isso provoca câncer de pele,

usar um desodorante spray contendo CFC significa agressão não só aos contemporâneos, como

também às gerações futuras.

Há situações em que não existe violência física, mas outro tipo de violência, de natureza

psicológica. Por exemplo, não existe violência quando tentamos superar as contradições e conflitos

convencendo, por meio da persuasão, os que pensam de maneira diferente da nossa. No entanto,

existe violência quando, mesmo sem usar o chicote ou a palmatória, o pai ou o professor exigem o

comportamento desejado, doutrinando as crianças, impondo valores e dobrando-as para a

obediência cega e aceitação passiva da autoridade. Nesse caso, embora não haja violência física,

existe violência simbólica, já que a força que se exerce é de natureza psicológica e atua sobre a

consciência, exigindo a adesão irrefletida, que só aparentemente é voluntária.

Ocorre violência simbólica também nos casos em que um candidato a cargo público distorce

informações para conseguir votos, quando a imprensa manipula a opinião pública ou ainda quando

o governo usa propaganda e slogans para ocultar seus desmandos. Enfim, constitui violência

simbólica toda manipulação ideológica que obriga a adesão sem crítica das consciências e das

vontades. O manipulador dirige, molda as formas de pensar e agir de maneira que o manipulado

acredita estar pensando e agindo por livre vontade. Portanto, a violência existe, mas não se

apresenta como tal.

Nem sempre a violência “salta à vista”, não sendo claramente percebida. Às vezes, não é

possível se conhecer o agente causador, outras vezes a ação não é prevista nem nos códigos penais,

e, portanto, a tendência é não reconhecê-la como violência propriamente dita. Por exemplo, a

existência da pobreza parece ser consequência inevitável de uma certa ordem natural que comanda

as relações entre os homens. Haveria, então, pessoas pobres ou países subdesenvolvidos devido à

incompetência, ao descuido ou à fatalidade: “afinal, sempre foi assim...”, é o que se costuma dizer.

Porém, na raiz desses problemas encontramos a violência da desigualdade social decorrente da

injusta repartição das tarefas e dos privilégios que levam ao irregular aproveitamento dos bens

produzidos pela comunidade. Nesse sentido, é violência a fome crônica em amplas regiões do

mundo como resultado do planejamento econômico que visa, em primeiro lugar, ao interesse dos

negócios. É também violência a criança permanecer fora da escola, privando-a de educação e do

saber acumulado pela sociedade em que vive, porque precisa trabalhar, ou por outros motivos

decorrentes dos desfavorecimentos da classe a que pertence.

Chamamos de violência branca a esse tipo de privação, devido ao fato de não ser sangrenta

(vermelha). Mas nem por isso pode ser considerada menos cruel.

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48

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São

Paulo: Moderna, 1992.

Primeiramente, leia todo o texto.

Responda

1. Sobre qual assunto as autoras construíram o texto?

2. Como esse assunto foi delimitado?

3. Qual é o objetivo das autoras ao escrever sobre esse assunto?

Nesse momento, após responder às perguntas, você está começando a refletir sobre o

assunto e iniciando um diálogo com as autoras.

Observe que o assunto é violência.

Tal assunto foi delimitado assim: os tipos de violência.

O objetivo das autoras foi o de identificar, exemplificando, os tipos de violência.

Criada a frase-núcleo, você iniciará o desenvolvimento. Nesse estágio, você pode

perguntar...

Deve-se planejar o desenvolvimento também? Certamente!

Eis as etapas que Soares e Campos (1977, p. 75) sugerem para a elaboração de um belo

texto:

I. assunto;

II. delimitação do assunto;

III. determinação do objetivo;

IV. redação da frase-núcleo;

V. seleção dos aspectos que desenvolverão a frase-núcleo;

VI. ordenação dos aspectos selecionados;

VII. redação do desenvolvimento;

VIII. formulação da conclusão (neste ponto, você deverá retomar a frase-núcleo – com a

tradução clara do objetivo –, aspectos do desenvolvimento e finalizar).

3.1.2 Desenvolvimento

Há formas de ordenação no desenvolvimento do parágrafo.

1. Ordenação por tempo e espaço

Soares e Campos (1977, p. 88) afirmam que

Frequentemente, quando falamos ou escrevemos, temos a necessidade de indicar em que lugar estão ou estavam as pessoas a que nos referimos, onde ocorreram ou ocorrem os fatos que narramos. A nossa conversa ou a nossa redação contém, então, uma série de referências a espaço: organizamos o conteúdo de nossas mensagens, ordenando-as por indicações de espaço. (...) Entretanto, nem sempre, ao escrever e ao falar organizamos as ideias exclusivamente por indicações de espaço. Torna-se necessário, frequentemente, fazer referências ao espaço e ao tempo, simultaneamente.

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Soares e Campos (1977, p. 103) fornecem o seguinte exemplo:

assunto: a conquista do espaço

delimitação do assunto: a competição entre E.U.A. e Rússia pela conquista do espaço.

objetivo: mostrar a competição pela conquista do espaço nas últimas décadas do século

XX.

forma de ordenação: por tempo e espaço

Frase-núcleo

Nas últimas décadas do século XX, houve uma acirrada competição pela conquista do

espaço entre os E.U.A. e a Rússia.

Planejamento do desenvolvimento (após pesquisa):

Fato Tempo Espaço

Um satélite espacial foi lançado ao espaço – o Sputinik

Em 4 de outubro de 1957 Na antiga União Soviética, hoje Rússia.

Foi conseguida a supremacia espacial, com a série de naves Apolo.

Dez anos mais tarde Nos Estados Unidos

O primeiro homem foi lançado à Lua.

Em 20 de julho de 1969 Nos Estados unidos

O domínio do espaço No final do século XX, Nos E.U.A. e na Rússia

Fazendo o planejamento, fica mais fácil, certo?

2. Ordenação por enumeração

Essa é a mais fácil. É indicada sempre que a delimitação do assunto e o objetivo do

parágrafo conduzem à indicação de uma série de características, de fatos, de funções de fatores

etc.

3. Ordenação por contraste

Soares e Campos (1977, p. 133) apresentam o seguinte exemplo para clarificar o assunto...

A visão do sertão não está, como a do litoral, fechada pela floresta, pelos canaviais; ela se

estende até o infinito. O homem que vive na costa é prisioneiro do lodo que lhe dá cola ao pé, das

ervas que retardam sua marcha, das árvores que o sufocam, dos velhos engenhos em ruínas cheios

de fantasmas, dos bosques sagrados cheios de encantamento. O homem da caatinga nada tem

diante de si, a não ser um céu imenso implacavelmente azul estendendo-se sobre seu chapéu de

couro, e em que raras nuvens se esgarçam devoradas pelo sol insaciável. A seus pés, a grande

extensão de areia, de espinhos, através da qual erra o gado em rebanhos. Tudo o incita à partida, à

marcha, ao galope a cavalo, impelido pelo vento, em luta contra o espaço.

(Roger Bastide, Brasil - terra de contrastes)

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Esses autores (op.cit., 1977, p. 133) propõem o seguinte exercício:

a) indique o trecho que representa a introdução do parágrafo e assinale as palavras ou

expressões que nela mostram que o parágrafo se desenvolverá por contraste.

A visão do sertão não está, como a do litoral, fechada pela floresta, pelos canaviais, ela se

estende até o infinito.

b) quais são os dois elementos contrastados no parágrafo?

O homem, o litoral (costa), o homem do sertão (caatinga).

c) qual é o ponto de diferença entre os dois elementos apresentados no parágrafo?

Características ambientais condicionadas dos tipos humanos.

4. Ordenação por explicitação

Outra forma de ordenação das ideias para desenvolver o parágrafo é a explicitação.

Segundo os autores supracitados (op. cit., 1977, p. 157), “é frequente termos de redigir um

parágrafo com o objetivo de explicitar uma ideia, esclarecer um conceito, justificar uma

afirmativa”. Pode- se explicitar por definição, por exemplificação e por analogia. A seguir, exemplos

fornecidos por esses autores.

Explicitação por definição

“O humor, numa concepção mais exigente, não é apenas a arte de fazer rir. Isso é

comicidade ou qualquer outro nome que se escolha. Na verdade, humor é uma análise crítica do

homem e da vida. Uma análise não obrigatoriamente comprometida com o riso, uma análise

desmistificadora, reveladora, cáustica. Humor é uma forma de tirar a roupa da mentira, e o seu

êxito está na alegria que ele provoca pela descoberta inesperada da verdade.” (Ziraldo)

Observe as expressões que indicam definição: o humor não é... Isto é... Na verdade, humor

é... (entre outras no texto)

Explicitação por exemplificação

“No Brasil, o empobrecimento ou a banalização da mensagem televisual decorre, na

verdade, da incapacidade do comunicador (desde a direção das estações até os produtores de

programas) de entender a verdadeira natureza do veículo que controla e de elaborar mensagens

específicas. Um exemplo: um dos canais cariocas, achando que presta grande serviço à educação

musical, transmite concertos dominicais de música erudita. A realização do programa é algo de

extremamente dispersivo: quando a câmera se concentra na orquestra, o plano se reduz, e

dificilmente pode o telespectador distinguir com clareza os músicos e seus instrumentos. Se a

câmera desvia-se para o público, o espectador passa a ter um espetáculo paralelo: o das pessoas

que dormem, conversam ou simplesmente escutam o concerto. A impressão final do telespectador

é a de que a televisão não é veículo próprio à transmissão musical. Não o é, efetivamente, da forma

como é feita, que não corresponde à especificidade de linguagem do veículo.” (Muniz Sodré)

Explicitação por analogia

A inteligência madura sabe que as palavras nunca dizem tudo sobre o que quer que seja, e

por isso se ajusta à incerteza. Por exemplo, quando guiamos um carro, nunca sabemos o que vai

acontecer em seguida; não importa a frequência com que passamos por aquele caminho: nunca

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encontramos exatamente as mesmas condições de tráfego. Apesar disso, um motorista

competente percorre toda espécie de caminho, e até com grande velocidade, sem sentir medo ou

nervosismo. Em sua qualidade de motorista, está ele ajustado à incerteza e não se sente inseguro.

Do mesmo modo, a pessoa intelectualmente madura, ‘não sabe tudo’, seja lá sobre o que for. E

nem por isso se sente insegura, pois sabe que a única espécie de segurança que a vida oferece é a

segurança dinâmica que provém de dentro: a segurança que deriva da infinita flexibilidade da

inteligência – da orientação multipolar de uma infinidade de valores.” (S.I. Hayakawa)

Observe: a inteligência madura sabe que as palavras nunca dizem tudo sobre o que quer que seja e,

por isso, se ajusta à incerteza.

Tal afirmativa é explicitada por meio de uma analogia.

Segundo Soares e Campos (1977, p. 161), “o desenvolvimento se inicia com a expressão por

exemplo, que, neste caso, não introduz uma exemplificação, mas uma analogia: a analogia

(comparação) entre guiar um carro e viver com maturidade intelectual”.

3.1.3 Qualidades do Parágrafo

UNIDADE - Uma só ideia predominante (usar sempre que possível um tópico frasal explícito; evitar

pormenores impertinentes).

COERÊNCIA - Relação entre as ideias predominantes e as secundárias.

ÊNFASE - A ideia predominante não apenas aparece sob a forma de oração principal, mas também

se coloca em posição de relevo, por estar no fim ou próximo do fim do período-parágrafo.

Frase 1 - “Dizer que viajar é um prazer triste, uma aventura penosa, parece um absurdo.

Imediatamente nos ocorrem as dificuldades de transporte da Idade Média, quando viajar devia ser

realmente uma aventura arriscada e penosa”.

Frase 2 - Evite pormenores impertinentes, acumulações, redundâncias

O assassínio do Presidente Kennedy, naquela triste tarde de novembro, quando percorria a

cidade de Dallas aclamado por numerosa multidão, cercado pela simpatia do povo do grande

Estado do Texas, terra natal, aliás, do seu sucessor, o Presidente Johnson, chocou a humanidade

inteira não só pelo impacto provocado pelo sacrifício do jovem estadista americano, tão cedo

roubada à vida, mas também por uma espécie de sentimento de culpa coletiva, que nos fazia, por

assim dizer, como que responsáveis por esse crime estúpido, que a história, sem dúvida, gravará

como a mais abominável do século.

Temos aí um exemplo de período prolixo e centopeico. Os pormenores em excesso são, na

sua maioria, dispensáveis, pois em nada reforçam ou esclarecem a ideia - núcleo do período ("o

assassínio do Presidente Kennedy... chocou a humanidade inteira..."):

naquela triste tarde de novembro: o fato que se comenta era ainda recente, e a

indicação da data, portanto supérflua, embora se possa justificar a carga afetiva de

"triste tarde de novembro" ;

quando percorria a cidade de Dallas: também dispensável, pois como a data, o nome da

cidade onde ocorreu o crime estava ainda muito vivo na memória do leitor;

aclamado..., cercado pela simpatia do povo do grande Estado do Texas: pormenores

óbvios, dadas as circunstâncias. Talvez se justifiquem só por estabelecer um contraste

emotivo com o assassínio;

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terra natal, aliás, do seu sucessor, o Presidente Johnson: o Presidente Johnson nada tem

a ver com o crime nem com o comentário que dele se faz;

provocado pelo sacrifício do jovem estadista americano: nenhum outro fato referido no

trecho poderia ter provocado o impacto emocional;

tão cedo roubado à vida: clichê ou lugar-comum que não diz nada de novo;

que nos fazia por assim dizer, responsáveis por esse crime estúpido: se o sentimento

era de culpa coletiva, é claro que todos nos sentíamos como que responsáveis;

redundância.

Eliminadas as excrescências e redundâncias, o período ganharia em concisão e unidade.

O assassínio do Presidente Kennedy chocou a humanidade inteira, não só pelo impacto

emocional, mas também por uma espécie de sentimento de culpa coletiva por esse crime que a

História gravará como o mais abominável do século.

3.2 Pontuação

3.2.1 Uso da vírgula

Há pessoas que adoram enviar correio-eletrônico. Há pessoas que adoram receber

mensagens. Há outras que adoram colecionar as mensagens recebidas em PPS (Power Point Show).

Aparecem, de vez em quando, algumas mensagens realmente criativas, interessantes para

um colecionador de mensagens. Sobre o uso da vírgula, um dia desses, apareceu esta:

Se o homem soubesse o valor que tem a mulher andaria loucamente a sua procura.

Abaixo dessa frase, havia a seguinte informação:

— Os homens, geralmente, põem a vírgula após o verbo. Já as mulheres, põem-na logo

após um substantivo que consideram importantíssimo.

Decifra-me ou te devoro? Não se trata do enigma da Esfinge.

É fácil! Observe...

Se o homem soubesse o valor que tem, a mulher andaria loucamente a sua procura.

Observe...

Se o homem soubesse o valor que tem a mulher, andaria loucamente a sua procura.

Interessante a mudança de sentido, não é? Eis o poder da vírgula!

Uma vez que citamos o enigma da Esfinge, você vai ler agora um texto sem sinal de

pontuação e, a seguir, faremos a pontuação adequadamente. Utilizaremos vírgulas, dois pontos,

aspas, travessões e pontos finais.

“Édipo continuou rumo a Tebas quase à porta da cidade o herói foi abordado por um

monstro pavoroso a Esfinge o animal fantástico postou-se ante o rapaz e lhe disse se queres passar

por aqui em paz e prosseguir o teu caminho sem perderes a vida deverás decifrar o meu enigma

decifra-me ou te devoro qual é o enigma perguntou Édipo sem medo a esfinge fez a pergunta

cantando como era de seu hábito qual é o animal que no começo da vida anda de quatro pés no

meio com dois e no final da existência com três é o homem que no início da vida engatinha na fase

adulta anda sob os dois pés e na velhice se apoia em um bastão como uma terceira perna a Esfinge

decifrada saltou em um abismo desaparecendo para sempre quando Édipo chegou a Tebas todos já

sabiam que ele havia livrado a cidade da horrível cantora como prêmio por esse serviço notável

Édipo ganhou a mão de Jocasta a rainha cujo marido havia morrido nos arredores da cidade sem

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que ninguém soubesse quais foram os seus assassinos ou assassino assim cumpria-se o destino

reservado a Édipo pois os decretos da Moira são inexoráveis e nenhum mortal pode escapar deles”

(LEAL, José Carlos. Os deuses eram assim. Duque de Caxias/RJ: Mil Folhas, 1997.)

A seguir, eis uma das possibilidades de pontuação deste texto.

“Édipo continuou rumo a Tebas. Quase à porta da cidade, o herói foi abordado por um

monstro pavoroso: a Esfinge. O animal fantástico postou-se ante o rapaz e lhe disse:

— Se queres passar por aqui em paz e prosseguir o teu caminho sem perderes a vida,

deverás decifrar o meu enigma. Decifra-me ou te devoro.

— Qual é o enigma? Perguntou Édipo, sem medo.

A esfinge fez a pergunta cantando, como era de seu hábito:

— Qual é o animal que no começo da vida anda de quatro pés, no meio, com dois e, no

final da existência, com três?

— É o homem que, no início da vida, engatinha, na fase adulta, anda sob os dois pés e, na

velhice, se apoia em um bastão, como uma terceira perna.

A Esfinge, decifrada, saltou em um abismo, desaparecendo para sempre.

Quando Édipo chegou a Tebas, todos já sabiam que ele havia livrado a cidade da horrível

cantora. Como prêmio por esse serviço notável, Édipo ganhou a mão de Jocasta, a rainha, cujo

marido havia morrido nos arredores da cidade sem que ninguém soubesse quais foram os seus

assassinos (ou assassino). Assim, cumpria-se o destino reservado a Édipo, pois os decretos da Moira

são inexoráveis e nenhum mortal pode escapar deles.”

(LEAL, José Carlos. Os deuses eram assim. Duque de Caxias/RJ: Mil Folhas, 1997.)

No intuito de evitar polêmicas quanto à posição da vírgula, seguem as possibilidades e

algumas explicações.

a) “O Olimpo, a morada dos deuses imortais, estava em festa, pois se casava a deusa

marinha Thétis com o mortal Peleu.”

Por quê?

Observe que a morada dos deuses imortais se refere ao Olimpo. Note que há uma

explicação: o Olimpo é a morada dos deuses. Isto significa que o que está em negrito é um aposto

explicativo. E o aposto deve ficar entre vírgulas.

Note uma outra possibilidade.

A morada dos deuses imortais, o Olimpo, estava em festa ...

Entretanto, a conjunção pois, com valor explicativo ou causal, pode ou não vir antecedida

de vírgula.

O Olimpo, a morada dos deuses imortais, estava em festa pois se casava a deusa marinha

Thétis com o mortal Peleu. (Pois = Porque)

Ou

O Olimpo, a morada dos deuses imortais, estava em festa, pois se casava a deusa marinha

Thétis com o mortal Peleu.

É preferível pôr a vírgula antes do pois. Em outras palavras, trata-se de uma questão de

preferência.

Para informação, a conjunção pois, com valor conclusivo, deve ficar entre vírgulas.

Afrodite compareceu à festa, será, pois, agraciada com néctar e ambrosia.

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b) “Todos os deuses, foram convidados.”

Foram convidados? Quem?

— Todos os deuses —, certamente você responderá!

Note: não se deve separar o sujeito do predicado com vírgula.

Portanto...

“Todos os deuses foram convidados.”

c) “Éris que é a deusa da Discórdia não foi convidada.”

Quem é a deusa da Discórdia? Éris, é claro! Note que há uma explicação. A vírgula, então,

deve ser utilizada quando a oração adjetiva é explicativa.

Éris, que é a deusa da Discórdia, não foi convidada.

(Duas ideias: Éris é a deusa da Discórdia e Éris não foi convidada.)

d) “Éris reclamou por não ter sido convidada entretanto não aceitou o convite de Hera.

Usa-se a vírgula antes das conjunções adversativas (mas, porém, no entanto, entretanto,

contudo, todavia).

“Éris reclamou por não ter sido convidada, entretanto não aceitou o convite de Hera.”

e) “Após dizer que não gostava de festas ou melhor que não gostava de barulho, a

Discórdia informou que estava lá somente para deixar a maçã para a deusa mais bela.”

A vírgula deve ser utilizada para separar os incisos explicativos. Incisos explicativos?

Sim, eis alguns deles: por exemplo, isto é, ou melhor, a saber, aliás, digo, ou seja, além disso

etc.

“Após dizer que não gostava de festas, ou melhor, que não gostava de barulho, a

Discórdia informou que estava lá somente para deixar a maçã para a deusa mais bela.”

Nestas mesmas orações, vale destacar que há um deslocamento. Observe as orações na

ordem direta (sujeito + predicado + complementos).

“A Discórdia informou que estava lá somente para deixar a maçã para a deusa mais bela

após dizer que não gostava de festas, ou melhor, que não gostava de barulho.”

Também é uma possibilidade!

3.2.2 Uso de aspas

Numa citação, por exemplo, você deverá usar as aspas.

a) Você inicia a citação com aspas

“Na Grécia antiga, toda vez que uma pessoa tentava se igualar em feitos a algum Deus,

dizia-se que ela cometia hybris. Então, por ter ultrapassado o seu métron, isto é, a sua medida

humana, era punida com um castigo divino. A hybris é o que, em psicologia, denominamos inflação

da personalidade.”

(Grinberg, Luiz Paulo. Jung: o homem criativo. São Paulo: FTD, 1997.)

Então, caso você tenha iniciado com aspas e vai utilizar toda a citação, você deverá colocar

o ponto final e depois fechar as aspas, como no exemplo.

b) Entretanto, se você iniciar com um texto (de sua propriedade ou já parafraseado,

possivelmente) e deseja inserir uma citação, a posição do ponto final será diferente.

Ao argumentar sobre o si-mesmo como imago Dei, Jung salienta que as pessoas ligadas a

profissões de autoajuda, como professores e médicos, por exemplo, devem ficar atentas às

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projeções divinas que se costumam fazer sobre elas. No entanto, é parte do ato de educar não

acatar essa projeção que o aluno confere ao educador. Na perspectiva de Buber (2003), “aceitar

uma projeção divina é impedir o estabelecimento de uma relação Eu-Tu, uma vez que é essa relação

que poderá gerar a transformação e a libertação do outro”.

(BUBER, Martin. Eu e Tu. 6. ed. São Paulo: Centauro, 2003.)

c) para destacar uma expressão

O diálogo ao qual nos referimos deverá ser tecido por uma palavra “dialógica”, na qual

prevaleça a intenção de um “voltar-se para o outro” (BUBER, 2003).

3.2.3 Uso do travessão

Cuidado! Hífen (-) não é igual ao sinal de travessão (–).

Quanto ao uso, eis duas informações:

a) quando marca a troca de interlocutor no diálogo

“Com voz desagradavelmente aguda, ela disse:

— Festinha, heim? Nem fui convidada.

— Que é isso, Éris, você é da família. Não depende de convite. Disse Hera em tom

conciliador.

— Tudo bem. Por natureza, não gosto de festas. Disse a Discórdia secamente.

— Está bem, Éris. Porém, se você já está aqui, fique conosco e aproveite a festa. Disse

Atená.

— Já disse que não sou de festa. Vim aqui para trazer esta maçã. Ela pertence à deusa mais

bela. Bem, a maçã está aí, e eu já vou.”

LEAL, José Carlos. Os deuses eram assim. Duque de Caxias/RJ: Mil Folhas, 1997.

b) quando você deseja dar destaque a palavras, expressões, substituindo as vírgulas:

A energia psíquica — para Freud — é de natureza unicamente sexual, o que implica que o

desenvolvimento se completaria ao se atingir a maturidade sexual.

A energia psíquica — para Jung — pode ser considerada como a própria energia vital, que

não é só biológica, e o desenvolvimento ocorre ao longo de toda a vida.

(GRINBERG, 1997).

3.2.4 Uso dos dois pontos

Dois Pontos são utilizados para anunciar uma explicação, uma enumeração uma citação e

após palavras como observação, nota, por exemplo.

Por exemplo:

“Sensação: diz que algo existe.

Pensamento: revela o que é esse algo.

Sentimento: mostra o seu valor.

Intuição: indica suas possibilidades.”

(GRINBERG, Luiz Paulo. Jung: o homem criativo. São Paulo: FTD, 1997.)

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Unidade IV – Texto e vocabulário

Utilizar vocabulário adequado e com correção gramatical do texto.

Construir textos acadêmicos.

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4.1 - Paráfrase

Segundo Garcez (2001, apud KÖCHE, BOFF e PAVANI, 2009, p. 91), "a paráfrase é um texto

que traz as mesmas informações de um outro texto, por meio de outras palavras; tem a mesma

função, mas apresenta uma forma de organização diferente". Assim, podemos afirmar que

parafrasear um texto é reescrevê-lo, expressando as ideias de um autor ou de autores, com o nosso

vocabulário, preservando o mesmo sentido, sem inserir a nossa opinião sobre o assunto.

De acordo com Köche, Boff e Pavani (2009, p. 92), há diversas maneiras de parafrasear uma

frase. Essas autoras fornecem o seguinte exemplo.

O sucesso do futebol brasileiro deve-se ao empenho de nossos jogadores.

Paráfrases

1) O empenho de nossos jogadores garante o sucesso do futebol brasileiro.

ou

2) O sucesso do futebol brasileiro é fruto do empenho de nossos jogadores.

Perceberam? Duas possibilidades de reescrever a mesma frase com as próprias palavras.

Importante

Qual é a sílaba tônica (FORTE) na palavra "paráfrase". Certamente, você responderá: "Rá"

(com acento agudo indicando a tonicidade. Portanto, não pronuncie "parafrase", com a sílaba

tônica em "fra". Diga alto e bom som: Pa-RÁ-fra-se!

Mas por que aprender a parafrasear textos?

Simplesmente, para produzir trabalhos acadêmicos (sem CTRL C/CTRL V). O aluno de curso

superior, um universitário, deve elaborar trabalhos acadêmicos utilizando-se desta técnica.

Durante os próximos períodos, muitos professores solicitarão trabalhos a todos vocês. Ler

os textos e compreendê-los faz parte da vida acadêmica. Podemos afirmar que o aluno que elabora

paráfrases para produzir os referidos trabalhos passa a compreender mais o assunto. Podemos

afirmar, também, que é uma forma de estudar textos. Todo aluno que deseja mais "qualidade"

para desenvolver o seu aprendizado precisa aprender esta técnica. Temos certeza de que você se

empenhará para aprender este assunto, porque você, acreditamos, quer fazer mudanças em sua

vida. É por meio da leitura que adentramos no universo do outro. Além disso, afirmamos também

que, ao parafrasear textos, o aluno melhora a sua compreensão de textos e, possivelmente,

aperfeiçoa a lectoescrita (isto é, a leitura e a escrita).

Por exemplo, suponhamos que um professor solicite que você procure a origem e a

definição da palavra "ciberespaço" e reescreva o trecho encontrado com as suas próprias palavras,

preservando o sentido do texto e fazendo referência ao autor do texto.

Você poderá buscar no "google" ou em um livro a definição. No entanto, é imprescindível

saber quem fez a definição e qual a importância, no meio acadêmico, do autor que fez tal definição.

Devemos buscar autores com visibilidade. Visibilidade? Isso mesmo: autores conceituados no meio

acadêmico. Mas por quê? Hoje em dia, qualquer um pode "postar" material na rede. E pode haver

erro conceitual (ou até mesmo ser "plágio").

Optamos por buscar a definição em um livro chamado "Ciberespaço, de Pierre Lévy,

publicado em 1999. O trecho transcrito a seguir está na página 99 da obra mencionada. Ei-lo:

"A palavra ciberespaço foi inventada em 1984, por William Gibson, em seu romance de

ficção Neuromante. No livro, esse termo designa o universo das redes digitais, descrito como

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campo de batalha entre multinacionais, palco de conflitos mundiais, nova fronteira econômica e

cultural. Eu defino o ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial

de computadores e das memórias dos computadores. Essa definição inclui o conjunto dos sistemas

de comunicação eletrônicos (aí incluídos os conjuntos de rede hertzianas e telefônicas clássicas), na

medida em que transmitem informações provenientes de fontes digitais ou destinadas à

digitalização."

Eis a referência bibliográfica da obra consultada:

LÉVY, Pierre. Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.

Como fazer a paráfrase?

Isto será explicado detalhadamente mais a frente. No momento, apresentamos-lhe uma

possível paráfrase do texto:

Segundo Lévy (1999, p. 92), ciberespaço é o espaço de comunicação aberto pela

interconexão mundial de computadores e das memórias desses computadores. Nessa definição,

esse autor inclui o conjunto dos sistemas de comunicação eletrônicos, porque transmitem

informações vindas de fontes digitais ou destinadas à digitalização. Informa, ainda, que a palavra foi

inventada por William Gibson, em 1984, no romance de ficção Neuromante.

Complicado?

Observe que, entre parênteses, foram insertos o ano em que a obra foi publicada e a

página em que se encontra o trecho. O seu professor ou orientador poderá fazer a verificação,

consultando o livro e verificando se a paráfrase está adequada ou não.

Mais uma paráfrase? Ótimo! Percebemos o seu interesse!

Suponhamos, agora, que o seu professor lhe pergunte o que você entende sobre

cibercultura. Difícil? Sem pesquisa, provavelmente, a resposta não será satisfatória. Então, o que

fazer? Simplesmente, repita a operação: entre no "google" ou vá à biblioteca.

Mais uma vez, fomos à biblioteca e eis o que encontramos (transcrevemos a referência

bibliográfica a seguir):

Eis o trecho:

CIBERCULTURA

A cultura contemporânea, associada às tecnologias digitais (ciberespaço, simulação, tempo

real, processos de virtualização, etc.), vai criar uma nova relação entre a técnica e a vida social que

chamaremos de cibercultura. Hoje podemos dizer que uma verdadeira estética do social cresce sob

nossos olhos, alimentada pelas tecnologias do ciberespaço [...].

A tese de fundo é que a cibercultura resulta da convergência entre a socialidade

contemporânea e as novas tecnologias de base microeletrônica.

[...] A tecnologia microeletrônica é, ao mesmo tempo, mágica (abolição do espaço e do

tempo; telepresença) e agregadora (societária, comunitária).

LEMOS, André. Cibercultura, tecnologia e vida social na cultura contemporânea. Porto Alegre:

Sulina, 2002.

Eis a paráfrase:

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De acordo com Lemos (2002, p. 18), cibercultura é a nova relação criada entre a técnica,

representada pela tecnologia microeletrônica, e a vida social contemporânea. Salienta que essa

tecnologia é mágica e agregadora; mágica, porque fornece uma nova ideia de tempo e espaço e

permite a telepresença, e agregadora, porque se torna uma forma de união social.

4.1.1 Concepções de leitura

Antes de iniciarmos este assunto, recolhemos algumas frases que, frequentemente,

ouvimos sobre o ato de ler. Ei-las.

“Ler é importante.”

“O homem que lê vale mais” (provérbio).

“Para escrever bem, é preciso ler muito.”

“Ler é fundamental.”

“A leitura é o alimento da alma” (ALVES, 2002).

“Ler é fazer amor com as palavras” (ALVES, 2002).

Após algumas consultas sobre definições, encontramos o que procurávamos. Retiramos um

pequeno trecho e transcrevemô-lo para a sua apreciação.

Se há concertos de música erudita, jazz e MPB — por que não há concertos de

leitura? Ouvindo, os alunos experimentarão os prazeres do ler. E acontecerá com a leitura o

mesmo que acontece com a música: depois de ser picado pela sua beleza, é impossível

esquecer. Leitura é droga perigosa: vicia... Se os jovens não gostam de ler, a culpa não é deles.

Foram forçados a aprender tantas coisas sobre os textos — gramática, usos da partícula se,

dígrafos, encontros consonantais, análise sintática — que não houve tempo para serem

iniciados na única coisa que importa: a beleza musical do texto literário. Foi-lhes ensinada a

anatomia morta do texto e não sua erótica viva. Ler é fazer amor com as palavras. E essa

transa literária se inicia antes que as crianças saibam os nomes das letras. Sem saber ler, eles

já são sensíveis à beleza.

ALVES, RUBEM. Por uma educação romântica. Campinas: Papirus, 2002.

Agora, vejamos outras definições de especialistas no assunto.

Segundo Wittrock (apud MANGUEL, 1997, p. 54),

ler não é um fenômeno idiossincrático, anárquico. Mas também não é um processo monolítico, unitário, no qual apenas um significado está correto. Ao contrário, trata-se de um processo generativo que reflete a tentativa disciplinada do leitor de construir um ou mais sentidos dentro das regras da linguagem.

Além disso, a leitura é também hábito e, por isso mesmo, é a leitura de muitos livros,

sempre comparativa, que faz emergir a biblioteca vivida, a memória de livros anteriores e de

dados culturais (GOULEMONT, 1996, p. 113). “Ler é cumulativo e avança em progressão

geométrica: cada leitura nova baseia-se no que o leitor leu antes” (MANGUEL, 1997, p. 33).

A leitura do livro é, por fim, essencialmente contemplação e ruminação, leitura que

pode voltar às páginas, repetidas vezes, que pode ser suspensa imaginativamente para a

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meditação de um leitor solitário e concentrado.

SANTAELLA, Lúcia. Navegar no ciberespaço. São Paulo: Paulus, 2004.

Primeiramente, é preciso ler todo o trecho. A seguir, grifar as palavras desconhecidas e

consultar um dicionário.

Após retirar todas as dúvidas, você poderá parafrasear o texto.

“Ler pode ser uma fonte de alegria. Pode ser. Nem sempre é. Livros são iguais à comida. Há

os pratos refinados, como o caillles au sarcophage, especialidade de Babette, que começam por dar

prazer ao corpo e terminam por dar alegria à alma. E há as gororobas, malcozidas, empelotadas,

salgadas, engorduradas, que além de produzir vômito e diarreia no corpo produzem perturbações

semelhantes na alma. Assim também os livros. Ler é uma virtude gastronômica: requer uma

educação da sensibilidade, uma arte de discriminar os gostos. O chef prova os pratos que prepara

antes de servi-los. O leitor cuidadoso, de forma semelhante, prova um canapé do livro antes de se

entregar à leitura.”

ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. 6. ed. São Paulo: Loyola, 2001.

Nota: Cailles au sarcophage = iguaria, prato exótico, prato elaborado por Babette (codorna no

sarcófago). O autor do texto se refere ao filme “A festa de Babette”.

Você poderá iniciar a sua paráfrase da seguinte maneira:

De acordo com Alves (2001, p. 49), ................................

Segundo Alves (2001, p. 49), ..........................................

Para Alves (2001, p. 49), ................................................

Entre parênteses, mencione o ano em que a obra foi editada ou reeditada e a página em

que se encontra o trecho. A seguir, informe o que o autor afirma ou aponta ou ressalta. Utilize o

verbo adequado. Eis alguns: analisar, refletir sobre, comparar, distinguir, apontar, afirmar,

salientar, ressaltar, questionar, informar, entre outros.

Vejamos...

De acordo com Alves (2001, p. 49), ler pode ou não ser uma fonte de alegria.

Indique a página com a abreviatura “p.” somente. A partir desta primeira frase, não mais

repita o nome do autor, tampouco o chame de “ele”, chame-o de “esse autor”. Você poderá repetir

o nome do autor, caso mude de página ou caso coloque o nome de outro autor logo a seguir. Se

isso não ocorrer, continue a reescritura do texto, tendo o cuidado de verificar de quem é a voz que

faz tais afirmações todo o tempo. E também não utilize mais de uma vez a expressão “esse autor”

durante a execução do trabalho.

De acordo com Alves (2001, p. 49), ler pode ou não ser uma fonte de alegria. Esse autor

salienta que os livros são iguais à comida e, para provar tal afirmação, compara os pratos refinados

e os não refinados aos livros, argumentando que, se o alimento não for bom, causará mal-estar no

corpo e na alma; da mesma forma, se o livro não for bom, causará sensações semelhantes às

provocadas por tal alimento. E conclui que ler é uma virtude gastronômica, pois demanda uma

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educação da sensibilidade, sugerindo que o leitor cuidadoso deve provar um pouco do livro antes

de lê-lo, assim como o chef de cozinha prova o alimento antes de servi-lo (op. cit., 2001, p. 49).

Nota: Para informar que se trata do mesmo autor, use:

op.cit. = obra citada (opera citatum)

ou

(idem); (ibidem)

É preciso compreender que não se trata de um modelo o trecho parafraseado. Trata-se de

uma entre as possíveis leituras.

Vamos conferir se há presença da voz do autor no texto parafraseado, respondendo às

perguntas a seguir:

a) quem afirma que ler pode ou não ser uma fonte de alegria?

b) quem salienta que os livros são iguais à comida?

c) quem compara os pratos refinados e os não refinados aos livros?

d) quem conclui que ler é uma virtude gastronômica?

e) quem sugere que o leitor cuidadoso deve provar um pouco do livro antes de lê-lo?

A resposta a tais questões deve ser sempre: Alves, o autor.

Repetimos que não é de bom tom chamar o autor somente pelo primeiro nome (ou chamá-

lo de ele).

Observe que você pode, também, iniciar a sua paráfrase com o nome do autor.

Vejamos:

Alves (2001, p. 49) afirma que ler pode ou não ser uma fonte de alegria.

(Observe que, neste caso, não há vírgula separando o nome do autor e o verbo afirmar.)

Observe, também, que, após o nome de Alves (o autor), você deverá colocar um verbo que

exprima a ação realizada. Assim,

Alves (2001, p.49) afirma......... (o quê?)

Alves (2001, p.49) analisa ........ (o quê?)

Alves (2001, p. 49) descreve ......(o quê?)

Alves (2001, p. 49) reflete sobre...(o quê?)

Alves (2001, p. 49) salienta ........(o quê?)

Alves (2001, p.49) ressalta ..... ... (o quê?)

Alves (2001, p. 49) critica ...........(o quê?)

Alves (2001, p. 49) compara ........(o que com o quê?), entre outras ações.

Para corroborar o assunto apresentado até o momento, eis a definição de Othon Garcia

sobre o termo paráfrase.

Segundo Garcia (1992, p. 185),

(...) a paráfrase corresponde a uma espécie de tradução dentro da própria língua, em que se diz, de maneira mais clara, num texto B, o que contém um texto A, sem comentários marginais, sem nada acrescentar e sem nada omitir do que seja essencial, tudo feito com outros torneios de frase e, tanto quanto possível, com outras palavras, e de tal forma que a nova versão — que pode ser sucinta sem deixar de ser fiel — evidencie o pleno entendimento do texto original.

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4.2 Regência e crase

4.2.1 Regência

Dá-se o nome de regência à relação de subordinação que ocorre entre um verbo (ou um

nome) e seus complementos. Ocupa-se em estabelecer relações entre as palavras, criando frases

não ambíguas, que expressem efetivamente o sentido desejado, que sejam corretas e claras.

Segundo Martins e Zilberknop (2003, p. 431), regência é "a relação de dependência que

existe entre os termos de uma frase. Assim, uma palavra que não tenha sentido completo (termo

regente) é complementada por uma ou mais palavras (termo regido)".

Verbos que não exigem complemento e verbos que exigem complemento

"Alguns verbos, por expressarem uma ideia completa, não exigem complemento" (op. cit.,

2003, p. 432). São denominados verbos intransitivos.

Exemplos - O homem adoeceu.

O homem morreu.

O homem brinca.

No entanto, existem outros verbos que não têm sentido completo e pedem a presença de

um complemento (objeto direto ou indireto). São denominados verbos transitivos.

Exemplos - a) João gosta de Maria (objeto indireto).

b) Eu comprei um carro (objeto direto).

Observe que, na frase "a", entre o verbo e seu complemento, há um novo elemento: uma

preposição.

Verbos com mais de um sentido e mais de uma regência:

Agradar

No sentido de acarinhar, pede objeto direto, ou seja, sem preposição.

Exemplo - O pai costumava agradar a filha desde o nascimento.

No sentido de ser agradável, pede objeto indireto, com a preposição "a".

Exemplo - Tais manifestações não agradaram ao governo local.

Aspirar

No sentido de cheirar, respirar, pede objeto direto.

Exemplo - Aspirou o perfume da manhã.

No sentido de pretender, ambicionar (objeto indireto).

Exemplo - O estudante aspira a uma carreira brilhante.

Assistir

No sentido de ser espectador, presenciar alguma coisa, pede objeto indireto, com a

preposição "a".

Exemplos - Assistia a todos os filmes de Bergman.

Assistia à peça.

Assistia ao filme.

No sentido de prestar auxílio (objeto direto).

Exemplo - O médico assistia o doente (cuidava do doente).

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Atender

No sentido de deferir, pede objeto direto.

Exemplo - O juiz atendeu o seu pedido, porque o processo foi protocolado em tempo.

Nos demais sentidos, geralmente pede objeto indireto.

Exemplos- Atendemos às reivindicações dos operários.

Atendiam aos professores com muita gentileza.

Responder

No sentido de dar resposta, pede objeto indireto com a preposição "a" em relação à

pergunta (respondeu a quem ou a quê?).

Exemplos - Respondeu a todas as perguntas do juiz.

Respondeu-lhe na hora certa.

Entretanto, pede objeto direto para expressar a resposta (respondeu o quê?).

Exemplo - Somente respondeu isso.

Visar

No sentido de pôr o visto ou de apontar uma arma, pede objeto direto.

Exemplos - A secretaria da embaixada visou o documento.

Atirou no passarinho, visando o alvo.

No sentido de ter um objetivo, pede objeto indireto.

Exemplo - O governo visa ao progresso da população.

Atenção à regência desses verbos

CHEGAR, IR, VOLTAR - esses verbos exigem a preposição "a".

Exemplos - Chegamos à fazenda.

Fomos à praia.

Vai a São Paulo.

Voltarei a São Paulo brevemente.

IMPLICAR - no sentido de trazer como resultado, pede objeto direto.

Exemplo - Tal atitude implicou descontentamento.

MORAR, RESIDIR, ESTAR SITUADO, SITUAR-SE - esses verbos pedem a preposição "em".

Exemplos- Moro em São Paulo.

Resido numa rua calma.

OBEDECER E DESOBEDECER - sempre com a preposição "a", pois pedem objeto indireto.

Exemplos - Obedecia a leis desconhecidas.

Obedeceu ao pai.

PISAR - pede objeto direto.

Exemplo - Não pise a grama.

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Regência Nominal

Segundo Infante (1997, p. 484), regência nominal “é o nome da relação existente entre um

substantivo, adjetivo ou advérbio transitivos e seu respectivo complemento nominal. Essa relação é

sempre intermediada por uma preposição”.

A seguir, apresentamos alguns exemplos de palavras regidas por preposição:

acessível a

alheio a

amor a

avesso a

capaz de

certeza de

análogo a

apego a

aversão a

desejoso de

desprezo por

digno de

gosto por

hábil em

impróprio para

idêntico a

cioso de

contrário a

independente de

isento de

nocivo a

obediência a

prejudicial a

ofensivo a

referente a

tolerante com

admiração a, por

atentado a, contra

dúvida acerca de, em,

sobre

ojeriza a, por

respeito a, com, para com,

por

acostumado a, com

contemporâneo a, de

equivalente a

grato a, por

satisfeito com, de, em, por

longe de

perto de

paralelamente a

relativamente a

4.2.2 Crase

Junção do a (preposição) e do a (artigo).

Principais casos de crase obrigatória

a) Com a palavra “moda” oculta – à moda de

Comi um bife à milanesa.

Usava sapatos à Luis XV.

b) Antes de palavra feminina

Estou atento à chamada.

Vou à feira.

Resisti à oferta.

Fui à praia.

c) Diante de pronomes demonstrativos “aquele”, “aquela” e “aquilo”

Resisti àquele doce.

Refiro-me àquilo que ocorreu hoje à tarde.

Fui assistir àquela palestra.

d) Nome de lugar

Volto da: crase há

Volto de: crase para quê?

Fui a Curitiba. (Volto de Curitiba)

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Fui à Itália. (Volto da Itália)

Fui à França. (Volto da França)

Crase proibida

Diante de palavras masculinas

Estou no Rio a trabalho.

Antes de Verbo

Estou disposto a fugir.

Estou disposto a fazer o exercício.

Diante de pronomes de tratamento

Enviarei tudo a Vossa Senhoria.

Entrarei em contato com Vossa Majestade.

Antes de pronome indefinido

Disse isto a toda pessoa.

Entregue a pasta a alguém de confiança.

Diante de casa e terra

Quando vierem especificadas, a crase é obrigatória, mas quando não vierem com um

complemento, a crase é proibida.

Fui à casa de Luciana.

Fui à terra dos anões.

Antes de casa = lar

Dirijo-me a casa

Antes de terra, antônimo de bordo

O almirante foi a terra.

4.3 Vícios de linguagem

São os desvios da norma gramatical por descuido ou desconhecimento.

“É preciso prestar atenção aos termos que se usam no dia a dia, para não empregá-los de maneira repetitiva”.

Revista Língua Portuguesa

Cacófato

“A cacofonia fere os ouvidos e o bom gosto”

Sérgio Nogueira Duarte

Consiste na junção de duas palavras formando uma terceira de sentido inconveniente ou

desagradável.

Exemplos - Na vez passada foi diferente.

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Pleonasmo

“Alguns pleonasmos passam despercebidos quando escrevemos; é o caso por exemplo de “a cada dia que passa”. De acordo com a forma exata, troque-o por ‘a cada dia’”

Antonio Carlos Viana

Repetição desnecessária de expressões.

Exemplos - monopólio exclusivo / elo de ligação / há doze anos atrás / retornou de novo / anexo

junto

Clichês ou Lugares Comuns

“Evite palavras, frases, expressões ou construções vulgares. A renovação da linguagem deve ser uma preocupação constante de quem escreve. Não há boa ideia que sobreviva num texto cheio de lugares-comuns.”

Antonio Carlos Viana

São expressões batidas e repetitivas que empobrecem o estilo.

Exemplos - Sua explicação deixou a desejar.

Agradar a gregos e troianos.

Vamos encerrar com chave de ouro.

Sua contratação veio preencher uma lacuna.

Estrangeirismos

“Só usar termos estrangeiros consagrados pelo uso e pelo tempo, para os quais não há

tradução precisa.” Sérgio Nogueira Duarte

Exemplos - Software, marketing, impeachment, réveillon, pizza

Usar a tradução sempre que possível: impedimento (off side), futebol de areia (beach

soccer), documento (paper), correio eletrônico (e-mail).

Usar a forma “aportuguesada” quando já estiver consagrada.

Exemplos - xampu, estresse, uísque, espaguete, surfe etc.

Termos cuja redundância transformaram em vício de linguagem

- A nível de

- Tipo assim

- Meio que

- Enfim

- Entende?

- Que acontece?

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68

Leia os textos disponíveis no Ambiente virtual de aprendizagem

(AVA) que discutem os Vícios de Linguagem.

“Contra a cacofonia, só a Surdez”, de Sérgio Nogueira Duarte

“O Vício que dói no ouvido” – Revista Língua Portuguesa

“Melhorando o Texto” de Antônio Carlos Viana

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69

Referências (Obras utilizadas como referência para a produção do material de apoio) ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à Filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1997. ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992. p. 171. BECHARA, Evanildo. O que muda com o Novo Acordo Ortográfico. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, BECHARA, Evanildo. Moderna gramática Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2006. BUBER, Martin. Eu e Tu. 6. ed. São Paulo: Centauro, 2003. BYINGTON, Carlos Amadeu Botelho. A construção amorosa do saber: o fundamento e a finalidade da Pedagogia Simbólica Junguiana. São Paulo: Religare, 2003, p. 74. CAMPOS, Edson, SOARES, Magda. Técnica de redação. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1989. DISCINI, Norma. Comunicação nos textos. São Paulo: Contexto, 2005. Duarte, Sergio Nogueira. O Português do Dia a Dia, Editora Rocco, 2003. GERALDI, J. W. (Org.) O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2004 GRINBERG, Luiz Paulo. Jung: o homem criativo. São Paulo: FTD, 1997. HOFFMANN, Jussara. Avaliando redações: da escola ao vestibular. Porto Alegre: Mediação, 20002, p. 40. KLEIMAN, Ângela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas, São Paulo: Pontes, 2001. KOCH, I. V. Elias, Vanda M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2007 LEAL, José Carlos. Os deuses eram assim. Duque de Caxias/RJ: Mil Folhas, 1997. NOGUEIRA, Sérgio. Manual de consulta da língua portuguesa. Rio de Janeiro: IBRAHMA, 1995. OLIVEIRA, Edison. Todo o mundo tem dúvida: inclusive você. Porto Alegre: Sagra Ed. e Distribuidora, s. d. SACCONI, Luiz Antônio. Nossa gramática: teoria e prática. 18. Ed. São Paulo: Atual, 1994. SAID ALI, M. Dificuldades da Língua Portuguesa: estudos e observações. 4. ed. Rio de Janeiro: Livraria Acadêmica, 1950. SILVA, Sérgio Nogueira Duarte da Silva. O português do dia a dia: como falar e escrever melhor. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. SILVA, Sérgio Nogueira Duarte da. O português do dia a dia. Rio de Janeiro: Rocco, 2004. SOARES, Magda Becker; CAMPOS, Edson Nascimento. Técnica de redação: as articulações linguísticas como técnica do pensamento. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1977. SOARES, Magda. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 18. ed. São Paulo: Ática, 1999. ––––––– Português na escola: história de uma disciplina curricular. São Paulo: Moderna, 1996. ------------------------. Língua Viva, Editora Rocco, 2000.

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