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MAURO PALMEIRA MOTA GINÁSTICA NA ESCOLA Análises e perspectivas UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA Corumbá-MS 2014

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MAURO PALMEIRA MOTA

GINÁSTICA NA ESCOLA

Análises e perspectivas

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Corumbá-MS

2014

UFMS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

MAURO PALMEIRA MOTA

GINÁSTICA NA ESCOLA

Análises e perspectivas

Corumbá-MS Julho-2014

MAURO PALMEIRA MOTA

GINÁSTICA NA ESCOLA

Análises e perspectivas

Monografia apresentada como requisito parcial para conclusão do Curso de Educação Física para obtenção do Título de Licenciado em Educação Física.

Orientadora: Profª. Me. Hellen Jaqueline Marques

Corumbá-MS 2014

Aminhafamília, pоr sua confiança, depois de muitos erros que cometi, nunca deixou de

acreditar еm mim. Mãe, sеu cuidado е dedicação me deram еm alguns momentos, а esperança para eu continuar minha caminhada. Pai, suа presença significou segurança е certeza de que não estou sozinho nessa caminhada. Aos meus irmãos, sem vocês não sou nada.

AGRADECIMENTOS

A Deus por ter me dado saúde е força para superar as dificuldades.

Agradeço а todos os professores por me proporcionar о conhecimento não apenas

racional, mas а manifestação do caráter е afetividade da educação no processo de formação

profissional, pelo tanto que se dedicaram а mim, não somente por terem me ensinado, mas por

terem me feito aprender. Quero em especial agradecer a minha orientadora Hellen Marques,

pelo suporte no pouco tempo que lhe coube, pelas suas correções е incentivos.

Agradeço а minha mãe “Dona Nina” , heroína que me deu apoio, incentivo nas horas

difíceis, de desânimo е cansaço.

Ao meu pai “Seu Pedro”, que apesar de todas as dificuldades me fortaleceu е que

para mim foi muito importante.

Obrigada meus irmãos Marcelo e Maurício , que nos momentos de minha ausência

dedicados ao estudo superior, sempre fizeram entender que о futuro é feito а partir da

constante dedicação no presente.

Meus agradecimentos aos meus grandes, eternos, espetaculares e loucos amigos,

irmãos na amizade que fizeram parte da minha formação е que vão continuar presentes еm

minha vida com certeza. “Para conhecermos os amigos é necessário passar pelo sucesso e

pela desgraça. No sucesso, verificamos a quantidade e, na desgraça, a qualidade.”

(Confúcio)

Quero agradecer aos professores Marcos, Flavio e a Branca, que foram com quem eu

aprendi tudo sobre Ginástica e Circo, a quem me instigaram a vontade e desejo em seguir por

esse caminho e que acreditaram em mim desde o inicio.

Quero agradecer aqui a todos meus companheiros, colegas e amigos que ganhei dentro

do curso, sei que algumas vezes nos desentendemos, mas quero agradecer por estarmos

vencendo mais essa batalha juntos.

Enfim, quero agradecer do fundo do meu coração aos funcionários, técnicos

administrativos, coordenadores e diretores da UFMS/CPAN, sem vocês, nossas salas nunca

estariam limpas, nossa biblioteca não estaria arrumada e nossos documentos não estariam

sempre organizados.

“Talvez não tenha conseguido fazer o melhor,

Mas lutei para que o melhor fosse feito.

Não sou o que deveria ser, mas Graças a Deus,

Não sou o que era antes”.

(Marthin Luther King)

RESUMO

O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de analisar qual o conhecimento que os acadêmicos ingressantes do curso de Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no Campus do Pantanal no ano de 2013, possuem sobre Ginástica. Para isso foi aplicado um questionário com perguntas semiabertas, abertas e fechadas e de cunho qualitativo, afim de realizar essa analise a qual podemos concluir que, esses acadêmicos ainda não tem uma noção clara e nem um conceito certo sobre Ginástica. Sabemos que todos os entrevistados possuem algum conhecimento sobre alguma modalidade de ginástica e que a maioria possui esse conhecimento advindo de algum outro local externo a escola. Propusemos uma abordagem mais concisa com o conteúdo ginástica, a abordagem Critico-Superadora, pois acreditamos que ela leva em conta o conhecimento historicamente acumulado do aluno, tornando ele um agente de transformação social, um cidadão pensante e critico na sociedade.

Palavras- chave: Educação Física Escolar, Ginástica, Abordagem Critico-Superadora

ABSTRACT

The present study was developed with the objective to analyze how the knowledge that the freshmen students of Physical Education, Federal University of Mato Grosso do Sul in the Pantanal Campus in 2013, have about Gymnastics. For this a questionnaire with open half, open and closed questions and a qualitative approach was applied, with the purpose of performing this analysis which we can conclude that these students do not have a clear idea and not a right concept of Gymnastics. We know that all respondents have some knowledge about a sport club, and that most have this knowledge gained from some other location outside the school. We proposed a more concise approach to content gymnastics, in approach Critical surpassing, because we believe that it takes into account the historically accumulated knowledge of the student, making it an agent of social transformation, a citizen and critical thinking in society.

Key Words: Physical Education classes, Gymnastics, Approach Critical Surpassing

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11

2. GINASTICA – História e modalidades ......................................................................... 17

2.1. Ginástica, Negação e Sistematização ......................................................................... 17

2.2. As modalidades de Ginástica ..................................................................................... 20

2.2.1 As Modalidades Ginásticas reconhecidas pela FIG .................................................. 21

3. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E GINÁSTICA NA ESCOLA ................................ 23

3.1 Possibilidades para exploração da Ginástica na Escola ................................................ 28

3.2 Ginástica e a Abordagem Crítico-Superadora.............................................................. 30

4. ANALISANDO A REALIDADE ................................................................................. 33

4.1 Levantamento de Dados .............................................................................................. 33

4.2 Conhecimento Dentro e Fora do Ambiente Escolar ..................................................... 34

4.3 O que é Ginástica na visão desses acadêmicos ............................................................ 36

4.3.1 Temas mais destacados ............................................................................................ 37

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 41

6. REFERENCIAS ........................................................................................................... 43

APÊNDICE ...................................................................................................................... 45

11

1. INTRODUÇÃO

A presente pesquisa teve como foco principal a ginástica e suas contribuições na

educação física escolar. Tal temática surgiu a partir de minha própria falta de experiência com

este conteúdo e a dificuldade que encontrei com o mesmo ao ingressar no Curso de Educação

Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus do Pantanal

(CPAN) no ano de 2009. Além disso, a proposta deste estudo vem associada ao aprendizado

que tive no Curso em disciplinas como: Ginástica I e II, Práticas de Ensino e Lazer e

Educação Física, nos quais discutimos muito sobre essa carência do conteúdo “Ginástica” nas

aulas de Educação Física da escola, porque os professores negam ou negligenciam esses

conhecimentos ao aluno.

Durante a disciplina de Ginástica I foi aplicado a nós estudantes um questionário com

algumas perguntas relacionadas à Ginástica: 1. O que é Ginástica? 2. Quais os

tipos/modalidades de Ginástica que existem? 3. Onde tivemos ou podemos ter contato e

adquirir conhecimentos sobre essas Ginásticas? E após ter-mos respondido a essas perguntas,

o professor fez algumas considerações sobre as respostas dadas pelos alunos e, na sua grande

maioria, as respostas às questões 1 e 2 foram insuficientes ou equivocadas. Mas, a situação

pior foram às respostas da terceira questão, no que diz respeito ao local de prática, acesso e

estudo desses conhecimentos, apenas duas pessoas responderam que tiveram esses

conhecimentos ao longo de sua educação física escolar e mesmo assim, menos de um

bimestre de aprendizado sobre o conteúdo. Isso nos levou a pesquisar sobre o porquê desses

conhecimentos não serem aplicados dentro da escola ou quando aplicados, porque tão pouco.

A Ginástica, para além de ser uma “atividade física”, é definida como um dos

conteúdos que constituem a chamada cultura corporal1, juntamente com os jogos, esportes,

danças e lutas (COLETIVO DE AUTORES, 2012). A Ginástica é de fundamental

importância nas escolas, ela pode proporcionar, além do divertimento e satisfação provocada

pela própria atividade, o desenvolvimento da criatividade, da ludicidade e da participação, a

apreensão pelos alunos das inúmeras interpretações da ginástica, e a busca de novos

significados e possibilidades de expressão gímnica. (AYOUB, 2003)

Mas conforme Pereira (2006) a ginástica vem sendo atividade acessória, secundária e

limitada quantitativa e qualitativamente na Escola. Ela até pode estar presente “em quase

1 A cultura corporal pode ser entendida como o conjunto de práticas corporais que se tornaram patrimônio da humanidade (como a ginástica, o jogo, a dança, o esporte, a luta, entre outras), as quais foram sendo construídas pelo ser humano com determinados significados conferidos por diferentes contextos histórico-culturais. AYOUB (2001 apud Freitas e Rinaldi, 2014,s/p)

12

todas as aulas”, no entanto é praticada como formas de aquecimentos ou alongamentos antes

das principais atividades, os quais são realizados de forma simplista, repetitiva e minimalista.

A ginástica, por ser pouco difundida, fora dos grandes centros, é pouco utilizada nas

aulas de educação física na escola. Os professores alegam que é por falta de materiais e de

locais apropriados à prática dessa atividade. Mas será? Será que não é um “comodismo” por

parte de alguns professores que negligenciam esses conteúdos? Se durante a graduação dentro

dos cursos de Educação Física, os acadêmicos têm disciplinas que tratam exclusivamente

sobre Ginástica e algumas outras disciplinas que discutem muito esse mesmo conteúdo,

porque esses professores não trabalham com seus alunos na escola?

O Coletivo de Autores (2012) apresenta que, ao ingressar no Curso de Educação

Física, os acadêmicos ainda não têm uma perspectiva geral do que é a Educação Física,

apenas alguns conteúdos (geralmente o esporte) são tidos como parte dessa área. Os alunos

ainda não percebem a Educação Física como uma disciplina que trata, pedagogicamente, do

conhecimento de uma área denominada cultura corporal, que configurada com temas ou

formas de atividades, particularmente corporais, como jogo, esporte, ginástica, dança ou

outras, constituirão seu conteúdo (COLETIVO DE AUTORES, 2012).

Assim, o professor de Educação Física tem uma função importante dentro da escola

para a constituição desses conteúdos, pois ocupa uma posição privilegiada dando auxilio de

cunho educativo e social junto aos seus alunos. É um propósito a ser alcançado por todos

aqueles que acreditam e começam a perceber a importância de se recuperar o sentido de ser

humano e suas relações com as práticas corporais.

Para o Coletivo de Autores (2012, p.50), a Educação Física é

(...) uma prática pedagógica que, no âmbito escolar, tematiza formas de atividades expressivas corporais como: o jogo, esporte, dança, ginástica, formas estas que configuram uma área de conhecimento que podemos chamar de cultura corporal.

A ginástica é também reconhecida como conteúdo parte do currículo escolar pelos

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). De acordo com o documento a Educação Física

deve ser entendia como:

Uma área de conhecimento da cultura corporal de movimento e a Educação Física escolar como uma disciplina que introduz e integra o aluno na cultura corporal de movimento, formando o cidadão que vai produzi-la, reproduzi-la e transformá-la, instrumentalizando-o para usufruir os jogos, os esportes, as danças, as lutas e as ginásticas em benefício do exercício crítico de cidadania e da melhoria da qualidade de vida. (BRASIL, 1998, p. 29).

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Para além desta perspectiva de ensino da ginástica, o Coletivo de Autores (2012),

destaca como conteúdo da Educação Física escolar os elementos da cultura corporal. Neste

sentido, esta disciplina escolar deve ensinar conhecimentos históricos, científicos e

culturalmente construídos e apropriados do mundo, pelo homem (COLETIVO DE

AUTORES, 2012).

A ginástica é de essencial importância na escola, ela pode estimular no aluno o

desenvolvimento da sua criatividade, união, respeito, fazer com que o aluno conheça as suas

capacidades e limitações de movimentos corporais, bem como suas possibilidades de ação.

Ela utiliza desde as formas mais básicas de movimento, como o andar, correr e saltar, até o

desenvolvimento de flexibilidade, força, velocidade, equilíbrio, resistência, agilidade e

coordenação.

A Ginástica como parte integrante dessa área denominada de cultura corporal pode ser

entendida e discutida como forma de trabalho corporal, podendo ser realizada em espaços

fechados, ao ar livre e na água, com apoio de materiais e aparelhos ou não, com ou sem

utilização de músicas. Proporcionando experiências corporais, visando à conscientização do

próprio corpo, suas possibilidades de movimentos e a busca de um estilo individual de

execução, através de movimentos ritmados e alegres, expressivos e com variações dinâmicas,

podendo ocorrer individualmente ou em grupo.

Assim, o Coletivo de Autores (2012, p.77) justifica a presença da mesma dentro da

escola, pois considera a Ginástica “como uma forma particular de exercitação onde, com ou

sem uso de aparelhos, abre-se a possibilidade de atividades que provoquem valiosas

experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal da criança”.

A escola bem como o professor de Educação física é de suma importância nesse

aprendizado sobre Ginástica. É ele quem vai possibilitar e transmitir aos alunos esse

conhecimento. Deste modo, a Educação Física na educação escolar deve estar relacionada à

nossa realidade e contexto social.

Assim, para alcançarmos nossos objetivos que foram propostos em nossa pesquisa,

tivemos que nos pautar em algumas ideias gerais, que fundamentaram nossa visão de mundo e

de sociedade. Ideias essas que nos remeteram a procurar entender qual a função essencial da

educação escolar; qual o objetivo que o professor de educação física dentro da escola deve se

basear para realizar suas aulas, no sentido de contribuir para a formação da cidadania dos

alunos; e que concepção de conhecimento e que conhecimentos podemos trabalhar na

Ginástica dentro das aulas de Educação Física.

14

Nossa visão é de que compete à escola transmitir conhecimentos científicos e

culturais, juntamente a um conjunto de valores, contribuindo para a formação humana dos

alunos. Portanto, a escola tem a responsabilidade de fazer com que os alunos tenham o

domínio e a possibilidade crítico-reflexiva para fundamentar e justificar esses conhecimentos,

bem como relacioná-los com sua prática social. Criando uma ideia de que esse aluno possa

usar esses conhecimentos no sentido do seu bem estar, da sua auto-realização e da qualidade

de vida coletiva.

A escola deve estar comprometida com uma educação que visa a criticidade e a

criatividade do aluno, em seu bem estar social, atuando no sentido de questionar cada vez

mais a realidade onde estamos inseridos e estar ciente de qual o papel do professor nesse

comprometimento.

Faggion (2000) diz que o professor é uma ferramenta essencial para propor tal visão

nos seus alunos, mas para tanto precisa deixar de trabalhar os conteúdos que enfoquem

somente um ou outro esporte, podendo então permitir que os alunos compreendam que a

Educação Física na escola não se resume apenas a algumas práticas. O professor deve

trabalhar o que for melhor em sua ação pedagógica levando seus alunos a uma reflexão de sua

prática social, podendo proporcionar uma visão crítica e transformadora.

O professor tem o papel de ser mediador do ensino-aprendizagem, usando de seus

conhecimentos para se obter uma boa metodologia, trabalhando seus conteúdos atingindo a

todos, propondo assim a formação do aluno.

Com isso, esse trabalho nos levou a investigar quais os conhecimentos que os alunos

ingressantes no curso de Licenciatura em Educação Física da Universidade Federal de Mato

Grosso do Sul (UFMS), Campus do Pantanal (CPAN), no ano de 2013, possuem sobre

Ginástica e analisar as contribuições da Educação Física Escolar para a constituição destes

conhecimentos.

Apontamos também, quais as contribuições que a Ginástica trouxe para a formação

humana critica e transformadora desses acadêmicos entrevistados procurando identificar as

experiências que eles obtiveram acerca do conteúdo ginástica, durante sua formação escolar.

Criamos um perfil dos acadêmicos ingressantes do curso de Educação Física da UFMS,

Campus do Pantanal, e analisamos qual poderia ser a melhor abordagem pedagógica dentro da

escola para a aplicação desse conhecimento.

A pesquisa que apresentaremos é de cunho qualitativo e conforme já apresentamos

tem como foco de análise o processo de ensino e aprendizagem da ginástica na educação

15

escolar. Essa pesquisa envolveu uma coleta de dados descritivos sobre pessoas, lugares ou

processos interativos, procurando entender os acontecimentos e situações sobre o conteúdo

Ginástica, segundo a perspectiva dos participantes do estudo. Foi processo de reflexão e

análise da realidade utilizando métodos e técnicas, realizando uma compreensão detalhada do

objeto de estudo, em um contexto histórico ou segundo a estruturação da pesquisa

(SEVERINO, 2000). Todo esse processo implicou em analisarmos e em nos basearmos em

literaturas pertinentes ao tema, observações, aplicação de questionários, entrevistas e analise

de dados, que foram apresentadas de forma descritivas (SOUZA JUNIOR, 2010).

Para o desenvolvimento desse estudo fizemos um levantamento bibliográfico sobre o

tema e realizamos uma pesquisa de campo com os acadêmicos ingressantes do curso de

Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Campus do Pantanal que

foi realizada no mês de maio de 2014. A coleta dos dados se deu através de questionário

descritivo com perguntas abertas, semiabertas e fechadas.

Para a análise dos dados utilizamos a técnica de análise de conteúdos que é um recurso

técnico, onde, analisamos todas as respostas colhidas em mensagens escritas ou transcritas.

Segundo Souza Junior (2010), a análise dos dados tem como objetivo compreender o que foi

coletado, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e ampliar a compreensão de contextos

para além do que se pode verificar nas aparências do fenômeno.

Sendo assim, esse trabalho, foi dividido em cinco seções, onde discorremos já na

próxima seção, sobre a história da Educação Física e da Ginástica, o seu surgimento como

“culto ao corpo”, a sua negação enquanto pratica corporal, onde não eram bem vistas pelos

burgueses e ainda a sua sistematização tornando-se uma Ginástica Científica. Ainda nessa

seção, falamos sobre as modalidades de Ginásticas competitivas e não competitivas

reconhecidas pela Federação Internacional de Ginástica – FIG, órgão maior que rege a

modalidade.

Na seção número 3, discutiremos sobre a educação física escolar e a inserção da

Ginástica na escola. Como esta sendo vista a Educação Física no âmbito escolar, qual o papel

do professor e da escola, e a sua importância como conteúdo curricular. Apresentaremos

também algumas outras manifestações de ginásticas descritas por Souza (1997), fazendo uma

breve comparação entre elas, focando um pouco mais na Ginástica Para Todos2 .

Apresentaremos também alguns temas que podem ser utilizados como propostas de discussão

2 No ano de 2007, a Ginástica Geral passa a ser chamada de Ginástica Para Todos. Uma escolha da FIG para demonstrar a importância do papel dessa Ginástica. (FIG, 2014)

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e exploração da Ginástica dentro das aulas de educação física, bem como a abordagem

Critico-Superadora, pois acreditamos ser a mais condizentes para aplicação desses conteúdos.

Já na seção 4, faremos a analise do questionário aplicado aos acadêmicos.

Discutiremos sobre as respostas desses acadêmicos apresentando um quadro comparativo

sobre o conhecimento da Ginástica obtido dentro e fora do ambiente escolar. Apresentamos

também os conceitos que foram descritos pelos acadêmicos na questão “Para você, o que é

Ginástica?”, separamos em temas e discutimos sobre esses conceitos.

17

2. GINASTICA – História e modalidades

Neste capitulo, vamos falar um pouco sobre o que é a Ginástica e sua história, desde a

antiguidade com seu surgimento, passando por suas várias fases, até os dias atuais.

Realizamos esse resgate histórico para podermos discutir sobre a sua importância como

conteúdo escolar, bem como seu inicio sistematizado nas grandes escolas da Europa.

Apresentaremos, conforme alguns autores, algumas possibilidades de classificação e

divisão das modalidades ginásticas com ênfase na Ginástica Para Todos. A partir disso,

discutiremos sobre o papel do professor e a importância do conteúdo ginástica nas aulas de

educação física escolar.

2.1. Ginástica, Negação e Sistematização

A Ginástica tem uma historia muito curiosa e surpreendente. Segundo Vieira e Freitas

(2007), a ginástica surgiu na Antiguidade. Elas dizem que teve suas origens poucos séculos

antes da era Cristã, no Egito mais precisamente com algumas praticas acrobáticas, muito

semelhantes aos movimentos que a ginástica atual realiza.

Viera e Freitas (2007) também diz que os maiores dados que se tem sobre o esporte

mesmo, remete a Grécia antiga, onde relata sobre os hábitos dos Gregos de praticar exercícios

com finalidade de manter o corpo em forma e como forma de recurso no preparo para outros

esportes e aperfeiçoamento do treino físico do seu exército.

O nome Ginástica originou-se da palavra em grego gymnastiké (téchne), e também do

francês gymnastique que significa “arte ou ato de exercitar o corpo para fortificá-lo e dar-lhe

agilidade.” (FERREIRA, 2010, p.1031).

Após alguns séculos em “baixa”, a ginástica volta a se evoluir somente no

Renascimento (entre os séculos XIV e XVI). “Com as teorias humanistas em plena

efervescência e a consequente valorização do corpo humano, a ginástica passou a ser

incentivada, já com o uso de alguns aparelhos especiais nos exercícios” (VIEIRA; FREITAS,

2007, p.16).

O universo da Ginástica existe nos dias de hoje com grande influência do Movimento

Ginástico Europeu3, sistematizados no século XIX, que é considerado um dos séculos mais

importantes para a história da ginástica (SOARES, 2005). O Movimento Ginástico teve

quatro importantes escolas: a Inglesa, a Alemã, a Sueca e a Francesa. Esse Movimento surge

3 Expressão usada por Langlade & Langlade (1986) Apud Soares (2005)

18

através de sua pratica em vários países da Europa como oposição às práticas corporais do

circo e das ruas. Estas práticas eram a expressão das culturas locais, partindo da construção de

suas relações cotidianas nos divertimentos em festas populares, espetáculos feito nas ruas,

manifestações circenses, exercícios militares e alguns passatempos da aristocracia da época

(SOARES, 2005).

Porem a ginástica circense não era aceita pela burguesia da época, por ter como

característica principal o “divertimento” (SOARES, 2005). Para ser aceita pela burguesia,

necessitava de uma ordem e disciplina mais rígida.

As práticas corporais realizadas nas feiras e nos circos, onde os artistas despertavam

ideias confusas de medo e fascínio por suas apresentações, e passam a ser observados mais de

perto pelas autoridades, pois seus corpos eram tidos como o centro do espetáculo. A burguesia

tinha um receio crescente sobre o universo gestual do circo, eles diziam que apresentava uma

total ausência de utilidade “A atividade física fora do mundo do trabalho devia ser útil ao

trabalho” (SOARES, 2005, p.24). Assim a Ginástica Cientifica, estudava esses movimentos

dos artistas circenses e a partir desse universo gestual, criavam outros movimentos pensados a

partir de grupos musculares e de funções orgânicas, com objetivos específicos e úteis, e não

mais como mero entretenimento, nascendo assim as “séries de exercícios físicos”.

A ginástica cientifica passa a ser oferecida como espetáculo “controlado” com relação

ao corpo, não acontecia mais livremente, passando a ser realizado dentro de instituições.

Assim, no “Espetáculo institucionalizado” como era chamado, o corpo deveria apresentar

ações previsíveis e controlados, demonstrando a utilidade dos movimentos para a vida

cotidiana.

Afirmavam na época que “(...) enquanto na ginástica (cientifica) se aprendia a adquirir

forças, armazenar e economizar energias humanas, no circo os artistas faziam o uso

desmedido de suas forças e gastavam inutilmente as energias” (SOARES, 2005, p.26),

deixando clara a negação sobre a criatividade, a alegria e a cultura que o Circo trazia em suas

apresentações.

Mas com o passar dos anos, percebe-se que é nas atividades circenses que a própria

ginástica tem um dos seus mais sólidos eixos. Portanto a retórica da negação do circo sobre a

ginástica no século XIX vai se acabando, vai se perdendo ao longo do caminho para os dias

atuais.

19

E nesse longo caminho, era necessário criar um “novo homem” em aparência,

linguagem e sentimento, surgindo assim uma “pedagogia do signo4 e do gesto”. A Ginástica,

tal qual a conhecemos hoje, tem um inicio e ganha espaço, afirmando-se como “forma

especifica de treinamento do corpo e da vontade deste homem novo que se desejou criar ao

longo de todo século XIX” (SOARES, 2005, p.29).

Assim a ginástica, com o passar dos anos, foi sendo reformulada através de preceitos

da ciência, técnicas e moldadas através das condições políticas da Europa, que nesses anos era

consolidada como centro do Ocidente, para assim ser reconhecida pela burguesia.

(...) a ginástica passa a ser vista como pratica capaz de potencializar a necessidade de utilidade das ações e dos gestos. Como pratica capaz de permitir que o indivíduo venha a internalizar uma noção de economia de tempo, de gasto de energia e de cultivo à saúde como princípios organizadores do cotidiano. (SOARES, 2005, p.18)

A ginástica, portanto, passa a ser sistematizada na sociedade europeia e o termo

“Ginástica” passa a ser entendido através do estudo do seu conteúdo pratico, compreendendo

todas as formas e linguagens das práticas corporais (SOARES, 2005).

Então o Movimento Ginástico Europeu foi o primeiro esboço e o lugar de onde se

iniciou as teorias de hoje, denominadas de educação física (SOARES, 2005). Esse

Movimento, portanto, é o conjunto sistematizado pela ciência e pela técnica, que veio sendo

pensado nas diferentes escolas da época (Alemã, Sueca, Inglesa e Francesa). Um pensamento

moderno sobre as práticas corporais que estavam sendo limitadas ao mundo do trabalho,

passando a trazer a aplicação da ginástica voltada a saúde, vigor, energia e moral (SOARES,

2005).

Após isso, a Ginástica passa a ter um caráter mais científico com estudos anatômicos e

fisiológicos voltados ao trabalhador, como instrumento importante para treinar o gesto

harmônico e econômico dentro das indústrias, comércios e minas.

Soares (2005) diz que “A ginástica, então, passa a ser apresentada como produto

acabado e comprovadamente cientifico” (p.23), contrapondo o que apresentava à ginástica

anteriormente, a qual usava o corpo como forma de entretenimento.

Já no final do século XIX, a ginástica começou a ser vista como uma atividade que

não estava mais restrita aos meios militares ou institucionalizados, já havia atingido a vida

civil, ela já estava sendo preparada para atender as finalidades de uma sociedade que

preconizava alguns hábitos de vida “saudáveis”. É nesse período que se tem o inicio das

4 Signo: Tem relação com o Significado do Movimento, o movimento ter um sentido em ser executado.

20

formas mais sistemáticas de ginástica, com pesquisas que tiveram como resultado, propostas

de exercícios físicos e praticas corporais especificas para homens e mulheres.

A Ginástica Cientifica é apresentada como forma de prescrever, indicar e até ditar

movimentos, de modo que maximize de forma econômica a utilidade das forças e gestos dos

trabalhadores dentro das indústrias e fabricas. A partir de então, de acordo com Soares (2005),

os estudiosos da época passam a questionar sobre a ginástica, dizendo que ela deveria ser

pensada pelo “aparato cientifico disponível”, colocando ela igualitariamente com outras

praticas sociais, explicada e dentro de um sistema, fazendo com que seus movimentos tenham

sentido, um objetivo para a sociedade. Tornando-se obrigatória para a sociedade em geral,

levando a incorporar sua prática regular dentro de todos os currículos escolares.

Assim, em 23 de julho de 1881, é fundada a Federação Europeia de Ginástica e que

em 1921, se torna a Federação Internacional de Ginástica (FIG). No Brasil, a Confederação

Brasileira de Ginástica, é fundada em 1978, mas teve seu inicio com a colonização dos

alemães iniciada no Rio Grande do Sul, e se espalhou durante um longo tempo e em 1951 é

oficializada como ginástica olímpica, com a criação das federações do Rio Grande do Sul, Rio

de Janeiro e São Paulo.

Nesse mesmo ano as três federações filiaram-se a Confederação Brasileira de

Desportos – CBD, a qual realizou o primeiro Campeonato Brasileiro em São Paulo. Ainda em

1951, o Brasil filia-se a Federação Internacional de Ginástica – FIG.

2.2. As modalidades de Ginástica

A Federação Internacional de Ginástica (em francês: Fédération Internationale de

Gymnastique – FIG), fundada em 23 de julho de 1881 em Bruxelas, na Bélgica, cinco anos

após a sistematização do esporte, é a entidade que representa a ginástica e suas modalidades

competitivas em âmbito mundial (FIG, 2014).

A FIG reconhece e é responsável por toda a organização das sete modalidades que

envolvem o desporto, bem como detém autoridade sobre as regras e calendário utilizados

pelas ginásticas. São elas: Ginástica para Todos (que não possui campeonatos que consagram

vencedores, apenas um evento de demonstração de caráter mundial reconhecida pela FIG, a

Gymnaestrada), Ginástica Artística Masculina, Ginástica Artística Feminina, Ginástica

Rítmica, Ginástica De Trampolim, Ginástica Aeróbica Esportiva e Ginástica Acrobática.

21

2.2.1 As Modalidades Ginásticas reconhecidas pela FIG

A FIG (2014) assim descreve as modalidades de ginástica que organiza:

a) Ginástica Artística (GA) Masculina

Exercícios realizados em seis diferentes aparelhos: salto sobre a mesa, exercícios de

solo, barras paralelas simétricas, cavalo com alças, barra fixa e argolas.

b) Ginástica Artística (GA) Feminina

Exercícios realizados em quatro diferentes aparelhos: salto sobre a mesa, exercícios de

solo, barras paralelas assimétricas e trave de equilíbrio.

c) Ginástica Rítmica (GR)

Exclusivamente feminina5 , são exercícios realizados com diferentes aparelhos

portáteis: arco, corda, bola, fita e maças; também é realizada a prova individual de mãos livres

e a prova de conjunto.

d) Ginástica Acrobática (GAC)

Modalidade onde os ginastas formam pirâmides, figuras e equilíbrios, somadas à

movimentos acrobáticos em sincronia com a música. Provas: Par misto (Base masculino e top

feminino) Par feminino, Par masculino, Trio feminino, Trio masculino, Quarteto masculino.

e) Ginásticas de Trampolim (GT)

Praticada por homens e mulheres, é composta por quatro provas: individual,

sincronizado, duplo mini-trampolim e tumbling. Também há competições de minitrampolim,

porém não oficiais.

f) Ginástica Aeróbica Esportiva (GAE)

É um esporte que consiste na realização de coreografias que demonstrem força,

agilidade, sincronismo e prática. Este esporte é composto pelas seguintes categorias: Grupos,

Trios, Duplas, Individual Masculino e Individual Feminino.

5 Há no Japão e em alguns outros países da Ásia, o desenvolvimento da GRD Masculina, mas ainda não é reconhecida pela FIG.

22

g) Ginástica para Todos (GPT)

A Ginástica para Todos anteriormente conhecida como Ginástica Geral compreende

“uma grande quantidade de atividades físicas orientadas para o lazer, fundamentadas nas

atividades gímnicas, assim como em manifestações corporais com particular interesse no

contexto cultural nacional” (VIEIRA, FREITAS, 2007, p.17). A GPT traz a essência e a

ludicidade da prática das outras modalidades para dentro da Federação Internacional, ou seja,

é o conceito da própria ginástica, inserida na e para a federação. Historicamente, a origem

desta modalidade não competitiva, está atrelada à trajetória da própria FIG e tem a junção de

todas as modalidades, resultando em um conjunto de exercícios que trazem benefícios na

prática constante (FIG, 2014). Ela possui um Regulamento Técnico próprio, incluindo

objetivos e funções para a prática de todos.

Segundo Santos (2009, p.28) a:

Ginástica para Todos é uma modalidade bastante abrangente que, fundamentada nas atividades ginásticas, valendo-se de vários tipos de manifestações, tais como danças, expressões folclóricas e jogos, expressos através de atividades livres e criativas. Objetiva promover o lazer saudável, proporcionando bem estar físico, psíquico e social aos praticantes, favorecendo a performance coletiva, respeitando as individualidades, em busca da auto superação pessoal, sem qualquer tipo de limitação para a sua prática, seja quanto às possibilidades de execução, sexo ou idade, ou ainda quanto à utilização de elementos materiais, musicais e coreográficos, havendo a preocupação de apresentar neste contexto, aspectos da cultura nacional, sempre sem fins competitivos.

A GPT, por apropriar-se de algumas características das outras modalidades de

ginástica, ela pode se adaptar, misturar e recriar movimentos e elementos conforme as

propostas e objetivos a serem alcançados. Santos (2009, p. 29) também diz que:

a modalidade Ginástica Para Todos, pela sua multiplicidade de possibilidades de expressão e pela facilidade e incorporação dos processos formativos e educacionais, caracterizada pela universalidade de gestos, facilmente transforma-se numa atividade, que pode contribuir de forma bastante significativa no processo global educacional, de formação pessoal e na prática da Educação Física continuada, dependendo da metodologia utilizada para trabalhá-la. (GRIFO NOSSO)

O importante nessa modalidade é realizar os movimentos com prazer e originalidade.

Ela é a única que não é competitiva dentro da FIG e pode ser praticada por todos

independente de idade, somatotipo ou aptidão física.

23

3. EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR E GINÁSTICA NA ESCOLA

Atualmente, a atividade física passou a ser sinônimo ou estar ligada diretamente a

algum esporte. Alguns profissionais de educação física dentro da escola estão se voltando a

essa esportivização nas aulas de educação física (AYOUB, 2003).

Hoje percebemos que na escola as aulas de educação física não são ministradas de acordo com o que estabelece a legislação, na maioria das vezes os professores não seguem uma metodologia que levem os alunos a sentirem interesses pelas aulas. Observamos que ainda existe um predomínio do ambiente esportivo-competitivo sobre o escolar-educacional, resultando assim em uma aula voltada para o treinamento e aperfeiçoamento de habilidades desportivas e não voltado para as questões da cultura corporal, elementos pedagógicos e questões voltadas para a humanização (SOUSA; DANIEL, 2010, p.26).

Essas aulas na escola deixaram de ser um espaço de socialização do aluno e

desenvolvimento de seus domínios motores, cognitivo e afetivo-social, para assim deixar de

oportunizar a ele, as sensações de criação, experimentação, de tomar decisões, avaliar e se

relacionar com outros alunos (AYOUB, 2003). Ela esta servindo apenas para aqueles alunos

que possuem um bom desempenho em certo esporte, preparando equipes para representar os

interesses da escola ou do próprio professor em torneios ou campeonatos.

Neste sentido, concordamos com Soares (1996, p.11) quando diz que a aula de

Educação Física é “um lugar de aprender coisas e não apenas o lugar onde aqueles que

dominam técnicas rudimentares de um determinado esporte vão ‘praticar’ o que sabem,

enquanto aqueles que não sabem continuam no mesmo lugar”.

A partir da historia da Educação Física, Soares (1996) apresenta um quadro

comparativo sobre o “Movimento do Pensamento da Educação Física Escolar”, onde antes foi

por muito tempo denominado Ginástica.

Quadro 1: Movimento do Pensamento da Educação Física Escolar MOVIMENTO DO PENSAMENTO DA

EDUCAÇÃO FISICA CRONOLOGIA

CONTEÚDO A SER ENSINADO NA

ESCOLA

1. MOVIMENTO GINÁSTICO EUROPEU

SÉCULO XIX E INICIO DO SÉCULO XX

GINÁSTICA QUE COMPREENDIA

EXERCÍCIOS MILITARES; JOGOS; DANÇA; ESGRIMA;

EQUITAÇÃO; CANTO.

2. MOVIMENTO ESPORTIVO

AFIRMA-SE A PARTIR DE 1940

ESPORTE – HÁ AQUI UMA

HEGEMONIZAÇÃO DO

24

ESPORTE NO CONTEÚDO DE

ENSINO.

3. PSICOMOTRICIDADE AFIRMA-SE A PARTIR DOS ANOS 70 ATÉ OS

DIAS DE HOJE CONDUTAS MOTORAS

4. CULTURA CORPORAL CULTURA FÍSICA CULTURA DE MOVIMENTO

TEM INICIO NO DECORRER DA

DÉCADA DE 80 ATE NOSSOS DIAS

GINÁSTICA, ESPORTE, JOGO, DANÇA, LUTAS,

CAPOEIRA...

(SOARES, 1996)

Porque a Educação Física chegou a esse ponto, porque deixou de ser um espaço de

aprendizagem de seus alunos, bem como de ensino?

No livro Metodologia do Ensino de Educação Física (COLETIVO DE AUTORES,

2012), os autores propõem elementos da chamada Cultura Corporal, como vimos no quadro

acima, como conteúdos que podem ser abordados e estarem presentes nas aulas de Educação

Física Escolar: O Jogo, A Ginástica, As Lutas, A Dança e Os Esportes, alem de atividades

rítmicas e expressivas (COLETIVO DE AUTORES, 2012).

Esses elementos, também presentes nos PCNs, na Lei de Diretrizes e Bases da

Educação (LDB), nos Parâmetros Nacionais e Estaduais, servem como referencia curricular

para todas as escolas, objetivando o processo de Ensino-Aprendizagem, porém cabe a cada

instituição escolar adaptar esse referencial para sua realidade dentro do próprio Projeto

Político Pedagógico.

Nista Piccolo (1995) diz que a Educação Física escolar deve ter por objetivo o

desenvolvimento global de cada aluno, fazendo com que se forme nesse aluno um cidadão

participante dentro da sociedade, visando “a integração desse aluno como ser independente

criativo e capaz, uma pessoa verdadeiramente critica e consciente, adequada à sociedade em

que se vive” (Nista Piccolo, 1995, p. 12).

A Educação física escolar deve ter como característica marcante, promover uma

aprendizagem significativa para seus alunos, mostrar sobre a importância de sua pratica e o

que esses conteúdos contribuem para a vida desse aluno (Nista Piccolo, 1995).

Portanto a Ginástica, como um elemento dessa Cultura Corporal, deve estar inserida

nesse contexto escolar. O universo da ginástica, bem como sua abrangência, ou seja, suas

relações com diferentes aspectos e contextos da sociedade, é muito amplo. O que nos traz

diversas possibilidades de trabalho com diferentes modalidades.

Para uma melhor compreensão dessas áreas da Ginástica, Souza (1997) dividiu em

cinco grupos, nos quais estão os principais campos de atuação:

25

1) Ginásticas de condicionamento físico: são modalidade que tem o objetivo de manter

ou adquirir uma condição física boa ou de um “atleta”. Exemplo: ginásticas de

academia, ginástica localizada, musculação, etc..

2) Ginásticas de competição: onde estão as modalidades competitivas, regidas pela FIG:

Ginástica Acrobática, Aeróbica Esportiva, Artística (Masculina e Feminina), Rítmica e

de Trampolim.

3) Ginásticas fisioterápicas: são ginásticas que se utilizam de exercícios físicos no

tratamento ou prevenção de lesões ou doenças. Exemplo: reeducação postural,

hidroterapia, ginástica laboral, etc..

4) Ginásticas de conscientização corporal: são as novas propostas de ginásticas, voltadas

ao corpo, também chamadas de “Técnicas alternativas ou ginásticas suaves”. Algumas

dessas ginásticas vieram de origens orientais, onde buscam a solução de alguns

problemas físicos e posturais. Exemplo: Yoga, Tai chi chuan, pilates, etc..

5) Ginásticas de demonstração: onde temos como representante do grupo a Ginástica

para Todos, sendo das ginásticas reconhecidas pela FIG, como única não competitiva,

tendo como principais funções e objetivos a interação social e na formação integral do

individuo em seus aspectos motor, cognitivo, afetivo e social.

Ao analisarmos os grupos apresentados por Souza (1997), podemos destacar os grupos

1, 3 e 4 de ginásticas, que nos remetem a maneira “tradicional” de orientação voltada aos

exercícios físicos. Já no grupo de ginástica 2, são manifestações totalmente esportivas, com

regras e estatutos que devem ser seguidos, onde podemos classificar como Esporte. As

ginásticas do grupo 5, onde está inserida a Ginástica para Todos, reúne as várias e diferentes

possibilidades de ginástica integrando juntamente com outras formas de expressão corporal,

como a dança, os jogos, o folclore regional, etc.

É importante ressaltarmos que não podemos deixar de lado nenhuma dessas

modalidades de ginástica, ao contrário, todas elas nos possibilitam conhecer e compreender as

diferentes práticas corporais construídas historicamente e suas influências em nossa vida e

realidade. O que precisamos é refletir de que maneira vamos levar para dentro da escola as

diferentes modalidades ginásticas, com quais objetivos, metodologia e quais estratégias

didáticas utilizaremos.

Uma ginástica competitiva por exemplo, não pode ser trabalhada apenas na sua forma

desportiva com regras e técnicas, mas também utilizar de seus movimentos e aparelhos de

forma criativa e crítica, objetivando a formação integral do aluno (BRANDL,1999).

26

No quadro abaixo descrito por AYOUB (2003, p.68) podemos nos ater aos paralelos

em uma comparação entre a Ginástica Geral (Ginástica Para Todos) e as Ginásticas de

competição, onde demonstra a possibilidade de integrar a Ginástica Geral no currículo escolar

dentro das aulas de Educação Física.

Quadro 2: Comparação entre Ginástica Geral X Ginásticas de Competição

Ginástica Geral Ginásticas de Competição

Abrangente: Ilimitado número de

Participantes Seletivas: Limitado número de Participantes

Não existem regras rígidas preestabelecidas:

Criatividade sem fim

Regras rígidas preestabelecidas: Criatividade

controlada

Caminha no Sentido da ampliação Caminha no Sentido da especialização

Comparação informal e definida por

critérios subjetivos: Não há vencedor ou

“Todos são vencedores”

Comparação formal, classificatória e definida

por critérios objetivos (pontos): Há apenas

um vencedor

Visa, sobretudo, o Prazer Visam, sobretudo, o Vencer

(AYOUB, 2003)

Como vimos no quadro anterior, a Ginástica Geral ou Ginástica para todos como é

conhecida, deixa claro que essa manifestação ginmica, é dentre todas, a que mais se aplica a

educação física escolar, pois não há um limite de participantes e nem apenas um vencedor.

Ela faz com que teu aluno explore sua criatividade visando o bem estar, a cooperação de todos

e o prazer.

Conforme o Coletivo de Autores (2012) entende-se que a Ginástica é uma forma

particular de exercitação onde, com ou sem uso de aparelhos, se abre a possibilidade de

atividades que provocam valiosas experiências corporais. Dentro da escola, essas experiências

corporais são essenciais aos alunos, por meio de práticas corporais criativas, interessantes,

desafiadoras, prazerosas, reflexivas, desenvolvidas nas aulas de Educação Física Escolar

(COLETIVO DE AUTORES, 2012).

Segundo a LDB 9.394/96, a Educação Física possui finalidades especificas na sua

atuação dentro da escola. É preciso resgatar a importância dessas aulas principalmente no

ensino básico, para que mais a frente os alunos compreendam o valor das suas aulas, sendo o

27

professor o principal mediador no processo de Ensino-Aprendizagem para com os alunos

(SOUSA; DANIEL, 2010). O professor deve possibilitar o ensino dos conhecimentos que

abrangem a cultura corporal, utilizando uma metodologia adequada para que ocorra a

assimilação e formação crítica dos seus alunos.

No entanto, Sousa e Daniel (2010) afirmam que em nossa área ainda há o predomínio

dos esportes competitivos sobre a escola-educacional, sendo a educação física escolar voltada

para o treinamento e aperfeiçoamento desportivo, e não para questões voltadas a humanização

do aluno e nem para a Cultura Corporal.

Souza (1997), propõe alguns pontos importantes sobre o ensino da Ginástica dentro da

escola. A autora se baseia no paradigma socialização/sociabilização6, ancorada nos princípios

de formação humana e capacitação, descritas como propostas feitas pelo Grupo Ginástica da

Unicamp, a qual ela faz parte:

• O incentivo e a valorização do indivíduo em beneficio do grupo.

• O conteúdo utilizado parte das experiências individuais, socializadas a fim de servirem de

base para a exploração de todo o grupo. Socializar para poder Sociabilizar.

• A liberdade na utilização dos conteúdos da cultura corporal.

• O resgate dos valores culturais de cada grupo social.

• O prazer na atividade (ludicidade).

• A promoção da cooperação e da participação.

• A experimentação de diferentes formas de organização social.

• A elaboração e respeito às normas, regras e regulamentos criados pelo grupo.

• O estimulo à auto-superação e à criatividade.

• A possibilidade de participação de todos os membros da sociedade (criança, adultos,

idosos, deficientes, etc.).

• A discussão crítica - superadora das diferentes manifestações da cultura corporal que

sejam utilizadas.

• O aumento da interação social.

• A demonstração das composições como produto final do processo educativo.

De acordo com o Coletivo de Autores (2012) as ginásticas “são técnicas de trabalho

corporal, que de modo geral, assumem um caráter individualizado com finalidades diversas”

6 GGU – Grupo Ginástico UNICAMP - 1989

28

(p.49). Ela pode ser realizada como uma maneira preparatória para outras modalidades

esportivas ou outras atividades, como relaxamento e também como forma de manutenção ou

recuperação da saúde. A ginástica pode ser feita em espaços fechados ou ao ar livre e ate

mesmo na água, de forma recreativa em um convívio social, caracterizando assim a Ginástica

Para Todos. Esses conteúdos têm uma relação privilegiada com “Conhecimentos sobre o

corpo”, pois nas atividades de Ginástica, esses conhecimentos são bem evidenciados e

transparecem com bastante clareza (COLETIVO DE AUTORES, 2012).

Ayoub (2003) nos diz que existem vários outros traços essenciais sobre a Ginástica

Para Todos, sendo ela aberta a participação de todos e voltada ao lazer, dando valor ao prazer

da pratica, exaltando a criatividade e a liberdade de expressão. A Ginástica para todos “pode

constituir-se num espaço viável e privilegiado para a vivência do componente lúdico da

Cultura Corporal por meio da ginástica.” (AYOUB, 2003, p.75).

Mas como a Ginástica pode ser explorada dentro das aulas de educação física dentro

da escola, como ela pode ser melhor assimilada pelos alunos e aceita, valorizando suas

qualidades e características (criatividade, prazer, participação de todos, etc.)?

3.1 Possibilidades para exploração da Ginástica na Escola

A ginástica, como já foi falado anteriormente, é uma área de conhecimento da

educação física escolar que compõem a Cultura Corporal, assim como a dança, o jogo, as

lutas e outras formas de manifestações corporais (COLETIVO DE AUTORES, 2012).

No que diz respeito a Ginástica dentro da escola, Ayoub (2003, p.84) diz “que o

processo de limitação que vem ocorrendo na educação física escolar brasileira, restringindo

seu conteúdo ao esporte e deixando de lado a ginástica (entre outros temas da cultura

corporal), é muito séria e preocupante”. A falta de infraestrutura e equipamentos para o

desenvolvimento da ginástica na escola, segundo o Coletivo de Autores (2012), é tido como

um fator que “desestimula o professor a ensinar à Prática” (p.77).

De fato, essa falta de materiais e a crescente esportivização das aulas de educação

física escolar pode influenciar e muito a decisão dos professores, negligenciando essa pratica

nas escolas, causando assim, um desinteresse também por parte dos alunos.

A ginástica é uma forma de exercitar o corpo e, dentro do ambiente escolar, pode vir a

provocar “valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal das crianças,

em particular e, do homem, em geral” (COLETIVO DE AUTORES, 2012, p.77); e de acordo

com a nossa proposta ela se torna necessária dentro da escola, pois ela é, por sua essência,

29

uma pratica rodeada de um significado cultural por resgatar a tradição histórica do mundo

ginástico, permitindo aos alunos darem sentido as suas exercitações ginásticas (COLETIVO

DE AUTORES, 2012).

A ginástica pode ser trabalhada através de várias possibilidades e problemática dentro

das aulas de educação física, até a própria falta de materiais e equipamentos podem se tornar

uma possibilidade.

No quadro abaixo apresentaremos algumas possibilidades as quais podemos utilizar,

nas aulas de educação física.

Quadro 3: Temas e possibilidades para as aulas de Educação Física Escolar

Tema Possibilidades, Discussão e/ou Exploração

Historia da Ginástica

• Surgimento da Ginástica; • Como foi a evolução ate os dias de hoje; • Fazer uma ligação com professores de outras disciplinas

como História e Geografia,, fazendo uma discussão sobre os acontecimentos da época;

• Fazer um resgate de como era praticada a ginástica no inicio.

Diferentes Modalidades

• Quais as modalidades que existem na ginástica; • Quais as diferenças entre elas; • Discutir com os alunos uma forma de vivenciar cada uma

delas na escola; • Ginásticas de competitivas e não competitivas

• Quais os conhecimentos que os alunos possuem sobre as modalidades.

Relação de Gêneros • Qual é essa relação entre homens e mulheres na ginástica; • Porque em algumas modalidades há essa diferença entre

sexos.

Concepções de Corpo • Estereótipos voltados a ginástica; • Uso de anabolizantes e suplementação alimentar.

Esporte • Discutir sobre as modalidades Masculinas e Femininas; • Regras, pontuação e aparelhos;

• Campeonatos Oficiais.

Técnicas Corporais • Expressão Corporal;

• Alongamentos e postura;

Cultura e Sociedade • A cultura da ginástica;

• Folclore e dança; • Ginástica para Todos;

Ginástica na Mídia • A crescente divulgação na mídia dos campeonatos;

30

• Os atletas que se destacam (Daiane dos Santos, Daniele e Diego Hipólito, Arthur Zanetti e Sérgio Sasaki)

Treinamento

• Como é o treinamento desses atletas e como pode ser feito um treinamento para a escola;

• Ritmo e carga de treino; • Diferença entre treinamento para atletas ou para não atletas.

Adaptação de Materiais

• Quais aparelhos são usados nas modalidades de ginástica e como podemos adapta-los a nossa realidade;

• Será que só podemos vivenciar e experimentar os movimentos da ginástica em locais próprios ou podemos adaptar algum lugar na escola

Construção de

Coreografias

• Criatividade e originalidade; • Qual a diferença entre as modalidades, com relação às

coreografias; • Coreografias individuais ou em grupo;

• Criação de coreografias ou reprodução de coreografias; Ginástica e Saúde • Benefícios da ginástica para todas as idades;

Todos esses temas citados podem se inter-relacionar, criando assim outras

possibilidades de se trabalhar a Ginástica dentro da escola. Ao se trabalhar a questão da

diferença entre Gêneros na ginástica, por exemplo, temos a possibilidade de relacionar com a

historia, fazendo com que os alunos entendam como que historicamente se chegou a essa

separação entre homens e mulheres, podendo também entender a diferença dos aparelhos,

técnicas e regras criadas para cada gênero.

A ginástica tem um leque de possibilidades para se trabalhar dentro da escola, ela não

deve ser baseada apenas em treinamento técnico desportivo, mas pensando no bem estar do

aluno.

Assim, para uma melhor compreensão desses conteúdos descritos, concordamos em

utilizar a Abordagem Critico-Superadora, descrita pelo Coletivo de Autores (2012), a qual

apresentaremos a seguir.

3.2 Ginástica e a Abordagem Crítico-Superadora

Para desenvolver uma reflexão sobre os temas citados anteriormente, é necessária uma

apropriação do conhecimento científico, confrontando-o com o saber que o aluno traz de seu

cotidiano, constatando, interpretando, compreendendo, fazendo com que possamos entender a

realidade social onde esse aluno esta inserido.

31

A perspectiva crítico-superadora vem de encontro a isso. Ela exige a coerência na

seleção dos conteúdos da Educação Física em relação ao objetivo proposto, promovendo uma

leitura crítica da realidade (TEIXEIRA e RINALDI, 2014). A organização dos conteúdos

deve prever tanto uma análise sobre sua origem e o que determinou a necessidade de seu

ensino, quanto à realidade da escola, visando uma formação do cidadão de forma integral e

diferenciada.

Em duas pesquisas feitas sobre a aplicação desses conteúdos e possibilidades dentro da

ginástica (TEIXEIRA e RINALDI, 2014) e (FREITAS e RINALDI, 2014), apontam sobre a

metodologia Critico-Superadora proposta pelo Coletivo de Autores (2012) onde essa

metodologia “expõe e discute questões teórico-metodologicas da Educação Física, tornando-a

como matéria escolar, que trata, pedagogicamente, temas da cultura corporal” (p.18).

Concordamos com a metodologia aplicada nas pesquisas, pois essa abordagem, leva em conta

o aprendizado historicamente acumulado do aluno, trazendo para dentro da sala de aula esse

aprendizado.

No Coletivo de Autores, a Abordagem Critico-Superadora,

Busca desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo que o homem tem produzido no decorrer da historia, exteriorizadas pela expressão corporal: jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, esporte, malabarismo, contorcionismo, mímica e outros, que podem ser identificadas como formas de representação simbólica de realidades vividas pelo homem, historicamente criados e culturalmente desenvolvidas (COLETIVO DE AUTORES, 2012, p.39).

Essa abordagem, propõem uma interação entre o conteúdo a ser ministrado com a

realidade do aluno, visando a transformação da sociedade através da “ação – compreensão –

ação” (FREITAS e RINALDI, 2014, p.11) do aluno, objetivando o conteúdo produzido

historicamente e socialmente pelos alunos. Essa abordagem é dividida em cinco momentos

distintos, mas totalmente interligados: Prática Social Inicial, Problematização,

Instrumentalização, Síntese (Catarse) e Pratica Social Final.

A Pratica Social Inicial é caracterizada como uma preparação, onde o aluno constrói o

seu conhecimento escolar, ele estabelece um contato inicial com o conteúdo a ser trabalhado

pelo professor (FREITAS e RINALDI, 2014). O aluno é desafiado a dizer o que conhece e/ou

o que gostaria de saber a mais sobre o conteúdo.

A Problematização é a transição entre teoria e prática. É a união entre o saber do

aluno (historicamente acumulado) e o que o professor irá ensinar (conhecimento cientifico

32

elaborado). Aqui o aluno é preparado a realizar uma analise do conteúdo, para assim aprender

o mesmo, em suas varias dimensões (FREITAS e RINALDI, 2014).

A Instrumentalização é onde o conteúdo produzido é levado ao conhecimento do

aluno, para que possam assimilar e recriar esse conhecimento (FREITAS e RINALDI, 2014).

É aqui na instrumentalização que o conhecimento cientifico do aluno é estruturado.

A Síntese vem logo após o conhecimento adquirido pelo aluno através da

instrumentalização. Ela é a operação fundamental para a construção do conhecimento

(FREITAS e RINALDI, 2014). Freitas e Rinaldi (2014) completam dizendo que é na Síntese

que podemos observar que o aluno teve uma mudança em seu conhecimento, se tornando uma

nova postura mental, sendo capaz de reunir intelectualmente os conhecimentos do cotidiano

com o cientifico, a teoria com a prática.

Na Pratica Social Final, consiste na nova forma de pensar a realidade, onde o aluno

atinge o final do seu conhecimento (FREITAS e RINALDI, 2014).

Em uma síntese geral, Freitas e Rinaldi (2014), dizem que:

(...) a pratica social inicial e a pratica social final compõem o contexto de onde provem e para onde retornam os conteúdos reelaborados pelo processo escolar. A problematização, a instrumentalização e a catarse constituem os três momentos de efetiva construção do conhecimento no e para a pratica social. (p.12)

Portanto, defendemos a abordagem Critico-Superadora como a melhor abordagem

para se ensinar a ginástica na escola, pois ela contribui para a formação dos alunos em sujeitos

sociais, capazes de reconhecer o próprio corpo, autônomo e com uma expressividade

consciente.

33

4. ANALISANDO A REALIDADE

Temos como proposta para este estudo identificar os conhecimentos que os

acadêmicos ingressantes no ano de 2013 no curso de Educação Física, da Universidade

Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus do Pantanal (CPAN), têm acerca do

conteúdo ginástica. Para tanto, foram aplicados 26 questionários com perguntas fechadas,

abertas e semiabertas em maio de 2014. O questionário aplicado aos acadêmicos se encontra

no Apêndice “A” desse trabalho.

Tendo como fundamentação a pesquisa bibliográfica, realizamos uma pré-análise de

todos os questionários a partir de uma primeira leitura e exploração do material, identificando

dados importantes para o nosso trabalho. Após isso, destacamos alguns temas importantes

para a discussão em nosso estudo, verificando termos e definições que os acadêmicos

participantes apontaram sobre a ginástica e a forma como obtiveram esses conhecimentos.

É importante destacar que esses acadêmicos já estão cursando Educação Física há

quase 1 ano, portanto, podemos levar em conta o que já ouviram e aprenderam em aulas do

próprio curso. Pois, como vimos no primeiro capitulo a própria ginástica se confunde por um

tempo com a origem da Educação Física e algumas disciplinas podem tratar minimamente de

alguns pontos referentes à ginástica na educação física escolar. Os acadêmicos participantes

desta pesquisa tiveram no primeiro semestre (agosto a dezembro de 2013) e segundo semestre

(fevereiro a julho de 2014) do curso disciplinas como: Fundamentos Históricos da Educação

Física, Lazer e Educação Física e Pratica de Ensino I.

4.1 Levantamento de Dados

Dentre os 33 acadêmicos devidamente matriculados no ano de 2014 (2º semestre), 26

responderam ao questionário, 7 estavam ausentes no dia. Dos 26 acadêmicos participantes, 12

são mulheres e 14 homens, com idades que variam de 18 a 48 anos, mas em sua grande

maioria (21) estão com idades entre 18 e 30 anos.

Dezesseis acadêmicos disseram que estudaram sempre em escolas públicas e apenas 4

em escolas privadas, os outros 6 dividiram-se entre escolas públicas e privadas ao longo de

sua formação escolar.

Voltamos a destacar que a Ginástica, bem como a educação física, são conteúdos

obrigatórios nos currículos escolares de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases para

Educação (LDB, 1996).

34

No entanto, em discussões dentro de salas de aula na universidade, ouvimos sempre

que nas escolas públicas há uma negligência, com relação aos professores, no ensino do

conteúdo “Ginástica”. Alguns professores nas escolas alegam falta de materiais ou espaço

apropriado para a prática. Mas será que é somente isso? Será que essa falta de materiais e/ou

espaço “apropriado” é suficiente para negar ou negligenciar a sua pratica?

Não temos como apontar onde se encontram as falhas do ensino-aprendizagem na

escola apenas pela analise desse questionário, mas podemos rever alguns pressupostos e tentar

entender como podemos levar a Ginástica para dentro da escola.

De acordo com os dados colhidos, não é tarefa difícil levar a Ginástica para dentro da

escola, pois ao serem questionado sobre quais as modalidades que eles conheciam de uma

forma ou de outra, todos responderam que conheciam ao menos uma modalidade.

As modalidades que mais os acadêmicos disseram que conheciam dentre as propostas

a eles no questionário, foram a Ginástica Rítmica com 14 pessoas e a Ginástica Artística com

17 pessoas, as duas são modalidades de ginásticas de competição. Podemos visualizar que nas

ultimas décadas, ocorreu um aumento da exposição dessas modalidades, assim vieram

ganhando mais prestigio no Brasil através da mídia, com transmissão de Campeonatos e

Olimpíadas e/ou ganhando destaques em jornais. Podemos pressupor que a midia tem grande

influencia nesses conhecimentos, levando em conta que apenas 1 pessoa respondeu ter tido a

Ginástica Rítmica (1,4%) como conteúdo dentro da Escola e 3 pessoas, a Ginástica Artística

(17,3%).

Na mesma questão sobre o conhecimento das ginásticas (questão 5), colocamos

algumas modalidades, descritas por Souza (1997), onde trata das varias manifestações

gimnicas e de expressão corporal, mais conhecidas da população (SOUZA, 1997), para

instigar um pouco mais o acadêmico sobre seu conhecimento com relação ao tema.

4.2 Conhecimento Dentro e Fora do Ambiente Escolar

No quadro abaixo fizemos uma comparação entre o conhecimento adquirido dentro da

escola, vivenciadas nas aulas de educação física e o conhecimento adquirido em outro local.

Nos dias de hoje o acesso a outros meios de comunicação esta mais facilitada. A

internet, com sites e blogs7, e a televisão, principalmente canais pagos específicos sobre

esportes, transmitem e fazem uso de imagens muito mais amplamente.

7 Diários escritos online por qualquer pessoa, sobre qualquer tema.

35

Quadro 4: Conhecimento de Ginástica Fora X Dentro da escola

Modalidades de Ginásticas

Conhecimento adquirido fora do ambiente escolar (quantidade de

respostas)

Conhecimento adquirido dentro do

ambiente escolar (quantidade de

respostas)

Porcentagem de respostas entre Fora da

escola X Dentro da escola

Ginástica Artística

17 3 17,3 %

Ginástica de Trampolim

3 0 0,0 %

Ginástica Rítmica 14 1 1,4 % Ginástica Acrobática

7 3 42,8 %

Ginástica Aeróbica

7 4 57,1 %

Ginástica Laboral 9 1 11,1 % Ginástica de Academia

11 0 0,0 %

Ginástica Circense

10 0 0,0 %

Hidroginástica 12 0 0,0 % Pilates 8 0 0,0 % Yoga 9 1 11,1 % Ginástica Para Todos

7 6 85,7 %

Podemos perceber nesse quadro de comparação que muitos entrevistados disseram que

conhecem alguma modalidade de Ginástica, mas nem todos vivenciaram na escola. Isso nos

remete a outra questão aplicada (questão 6): Onde você adquiriu conhecimento sobre essas

Ginásticas? Dentre as respostas obtidas, 17 pessoas (25,75%) disseram que adquiriram pela

Televisão, 12 pessoas (18,18%) disseram que foram na Universidade, 11 pessoas (16,67%) na

Escola e 11 (16,67%) na Internet, 8 (12,13%) foram através de Jornais/Revista e 7 pessoas

(10,60%) disseram ter adquirido esse conhecimento nas Academias; perguntamos também

sobre Escolas de Ginásticas, mas não houve incidência de respostas (0,0%).

Como dito anteriormente, a mídia tem grande influencia no conhecimento adquirido

sobre as ginásticas e isso pode ser uma aliada da educação física escolar. Podemos

problematizar com os alunos o porquê disso, porque a mídia8 só fala sobre algumas

modalidades e não dá tanta importância a outras.

8 A mídia como elemento articulador está presente na vida das pessoas e a rapidez das informações dificulta a possibilidade de reflexão a respeito das notícias. Assim a mídia deve propiciar a discussão das práticas corporais transformadas em espetáculo e, como objeto de consumo. (LDB, 1996)

36

O professor de educação física escolar pode aproveitar esse crescimento que a mídia

proporciona e incitar nos alunos a vontade em aprender ginástica, de assimilar um novo

conhecimento, explorando ele de tal forma, que os alunos se surpreendam, trazendo até eles às

possibilidades de se trabalhar a mesma ginástica que assistem pela televisão, para dentro da

escola. Podem utilizar como exemplo os atletas brasileiros de Ginástica Artística e fazer uma

discussão sobre o “corpo escultural9 ” desses atletas, ou confeccionar aparelhos que se

assemelham com os utilizados na Ginástica Rítmica.

Alem das ginásticas propostas no quadro 4, a questão numero 8, no qual se trata sobre

o que o acadêmico vivenciou dentro da escola, havia mais um item, que era: Somente

atividades de alongamento/aquecimento antes do inicio de outro conteúdo; e 10 pessoas

assinalaram como já terem vivenciado. Portanto, 100 % dos acadêmicos que disseram terem

vivenciado algum tipo de Ginástica, realizaram algum tipo de alongamento/aquecimento.

Alguns entrevistados (12), disseram que obtiveram esses conhecimentos dentro da

universidade. Como já havia dito, eles já tiveram algumas disciplinas que tratam de alguma

maneira com a Ginástica, mas no mesmo sentido, não conseguiram deixar claro e conciso as

suas respostas sobre Ginástica como veremos adiante.

4.3 O que é Ginástica na visão desses acadêmicos

Ao analisarmos os dados desta pesquisa, percebemos que independente de a ginástica

ser trabalhada na educação escolar, os acadêmicos têm uma ideia do que é ou deveria ser

ginástica para eles. No entanto, percebemos que as respostas que obtivemos são muito amplas

e com múltiplas interpretações.

Apenas 3 acadêmicos participantes não responderam a pergunta “Para você, o que é

Ginástica?”, destes, 2 deixaram em branco (inclusive um deles respondeu que teve o conteúdo

ginástica nas aulas de Educação Física escolar). O participante 1310 respondeu: “Eu não tenho

uma definição para essa modalidade”.

Ao fazermos a analise das respostas desta questão, concluímos que muitos

responderam varias áreas ou definições da Ginástica que eles possuem, levando em conta o

que eles tiveram em algumas matérias do curso. De uma maneira geral as respostas foram

muito amplas e diversificadas, sem no entanto conseguirem definir ou demonstrar uma

9 Relação de estaturas, distribuição e desenvolvimento muscular, culto ao corpo.

10 Para preservarmos a identidade dos participantes, os nomeamos como: acadêmico 01, acadêmico 02, e assim sucessivamente.

37

compreensão do tema. A seguir apontamos algumas definições que pudemos elaborar a partir

de nossas análises.

Abaixo, veremos os temas que foram mais descritos pelos entrevistados separados em

seis tópicos: a) A Importância da Ginástica; b) Ginástica como Atividade Física; c) Ginástica

como Alongamento e Aquecimento; d) Conhecimento do Corpo através da Ginástica e por

ultimo e) A Ginástica como Esporte.

4.3.1 Temas mais destacados

a) A importância da Ginástica

Dos questionários que foram aplicados, um acadêmico não definiu o que é ginástica,

mas respondeu sobre a importância da ginástica afirmando que é um conteúdo muito amplo e

que vai além de apenas uma matéria dentro da escola.

Neste ponto comundo do mesmo pensamento que Brandl (1999), pois a Ginástica

pode e deve proporcionar ao aluno, dentro da escola, uma “Formação Humana11” de forma

ampla e aprofundada. No entanto, esse acadêmico disse nunca ter tido o conteúdo ginástica

nas aulas de educação física. Quando perguntado se já havia vivenciado em outro local que

não seja na escola, ele respondeu que sim, dentro da universidade, ao ingressar. Assim,

podemos perceber, na analise das outras respostas, que esse aluno “descobriu” como a falta da

ginástica na escola, trouxe algumas perdas em sua vida. Sem, no entanto, ainda conseguir

compreender o real significado deste conteúdo.

b) Ginástica como Atividade Física

Dentre os entrevistados, 8 acadêmicos responderam que ginástica é uma atividade

física, afirmando que a ginástica “é uma atividade que envolve vários exercícios” (acadêmico

19). Nestas respostas percebemos que não há um claro entendimento sobre o assunto.

Numa definição mais clara sobre o que é “Atividade Física”, podemos dizer que é todo

movimento que nos propomos a realizar, movimentos que tendem a tirar o corpo do repouso

despendendo gasto calórico, até mesmo um “piscar de olhos” se torna assim uma atividade

física.

Pelas analises verificamos alguns equívocos conceituais entre os termos: Exercício

Físico; Atividade Física e Ginástica. Podemos dizer que exercício físico é aquele que se aplica

11 BRANDL (1999)

38

com uma finalidade, regularidade, com um objetivo; atividade física, como já foi dito, é

qualquer atividade praticada no dia-a-dia de uma pessoa (sentar, andar, dormir).

Nesse contexto, varias respostas podem ter sentidos conotativos, por exemplo:

“Exercícios Físicos praticados diariamente” (acadêmico 2); “Atividades Corporais”

(acadêmico 6); “Atividades que trabalham o Corpo” (acadêmico 17).

E os alunos, que apontam que a ginástica é somente uma atividade física (5

acadêmicos), disseram que tiveram o conteúdo Ginástica na escola. Assim verificamos que

não houve uma assimilação do conteúdo ou houve falha do professor ao transmitir esse

conhecimento para os alunos. Não podemos determinar qual a causa provável nos baseando

apenas nas respostas que temos, há uma necessidade de se investigar mais a fundo o porquê

dessa falta de conhecimento sobre ginástica.

c) Ginástica como Alongamento e Aquecimento

Dos 26 acadêmicos participantes desta pesquisa 12 apontam que a ginástica é

sinônimo de alongamento e aquecimento, ou seja, como preparação para outras práticas

corporais. Algumas respostas para essa pergunta foram: “Um tipo de alongamento

direcionado” (acadêmico 14), “Movimentos que alongam, dependendo da área” (acadêmico

3).

Isso nos remete a pensar que pode ser uma herança do militarismo, onde na época

(inicio até meados do século XX) a ginástica era vista como atividade acessória, como uma

atividade pré-desportiva com exercícios repetitivos de preparação corporal.

Das cinco pessoas que responderam que ginástica era um tipo de alongamento e/ou

aquecimento, 3 são maiores de 38 anos e terminaram seus estudos antes da LDB 9394/96,

onde diz que a Educação Física deve ser parte obrigatória do currículo escolar, e, de acordo

com as respostas desses acadêmicos, eles não tiveram o conteúdo de ginástica na escola.

Se pensarmos que o Alongamento e/ou Aquecimento podem estar presentes em

qualquer tipo de exercício físico ou atividade pré-desportiva, logo não pode ser considerado

como definição de Ginástica, como alguns responderam. Ela pode sim fazer parte de um

alongamento e/ou aquecimento com alguns exercícios e movimentos, mas depende do

objetivo que será usado para/com esses exercícios. Cabe ao professor o papel de explicar ao

aluno sobre essa aplicabilidade, para qual finalidade e objetivo esta se utilizando desse

exercício.

39

d) Conhecimento do Corpo através da Ginástica

Cinco participantes responderam que a ginástica é um modo de se conhecer o corpo ou

exercícios realizados que exigem um prévio conhecimento corporal.

Na análise dessas respostas dos acadêmicos, podemos dizer que todos têm um

conceito próprio sobre conhecimento corporal o qual não podemos negar, sendo que este

poderá sofrer mudanças e ter diferentes significados no decorrer do período acadêmico.

É através do corpo que nos expressamos e nos comunicamos. Neste sentido, podemos

dizer que os acadêmicos que afirmam que ginástica é conhecimento corporal, simplesmente

utilizaram um termo para um objetivo da ginástica.

Qualquer atividade ou exercício físico pode estar ligado a um conhecimento corporal,

não apenas a ginástica como alguns disseram. Nessas respostas verificamos a importância do

profissional de Educação Física na escola problematizando as questões referentes ao corpo.

Pois, muitas modalidades ginásticas em diferentes espaços acabam reproduzindo pensamentos

e valores alienantes acerca do corpo, por exemplo: a busca pelo corpo perfeito, por um padrão

de corpo veiculado pelas mídias e a mera reprodução de exercícios físicos.

Na resposta do acadêmico 04, percebemos claramente sobre a falta do conhecimento

discutido acima, ao dizer que: “A ginástica é uma modalidade onde se conhece o corpo por

meio de atividades que envolvem flexão, força, resistência, etc..” (Grifo nosso). Os

acadêmicos 07 e 08 mostram em suas respostas as mesmas ideias citando: elasticidade,

concentração, exercícios com repetição, condicionamento físico, entre outros.

Esse “Conhecer o Corpo” que muitos responderam, diz respeito às limitações

corporais na forma mecânica do corpo, possibilidades de se chegar a certo nível de

elasticidade corporal, saber de suas capacidades físicas corporais, conhecer até onde o corpo é

capaz de chegar. Conceituam a Ginástica de forma superficial e como se restringisse a

movimentos repetitivos, onde todos reproduzem os gestos que o professor demonstra, que por

sua vez, muitas vezes não resignifica ou explica o porquê daquele movimento, porque é

essencial ou porque está realizando, qual o objetivo daquela prática.

Não negamos que esses movimentos fazem parte de um conhecimento corporal, mas,

de acordo com nossa pesquisa, esse conhecimento corporal está apenas ligado ao movimento

pelo movimento. Uma possibilidade seria o professor fazer uma discussão com os alunos do

porque da realização de determinados movimentos, como as técnicas se constituem, debater

acerca do corpo levando em consideração seus aspectos, sociológicos, filosóficos,

antropológicos, estéticos, além dos biológicos e fisiológicos.

40

e) A Ginástica como Esporte

Hoje em dia a ginástica está sendo amplamente divulgada e transmitida através da

mídia. Por experiência própria, dentro das aulas de educação física no estagio, onde

ensinamos o conteúdo ginástica e atividades circenses, houve uma crescente procura de

informações sobre a Ginástica. A busca pelo conhecimento e o encanto que a “Ginástica

Esportiva” está trazendo para esses alunos é muito grande. A nossa surpresa foi que apenas

dois entrevistados responderam que a Ginástica é um esporte. Apesar de todos os

entrevistados dizerem que conhecem ao menos uma modalidade de Ginástica esportiva, esses

mesmos não conceituaram a Ginástica como Esporte. “Ginástica é um esporte com varias

características de movimento” (acadêmico 9).

No entanto, os acadêmicos não demonstraram possuir um conhecimento sobre

ginástica para além do esporte amplamente divulgado na mídia, pois responderam que só

conhecem através da televisão e/ou internet. Eles disseram também que não tiveram o

conteúdo ginástico na escola e quando questionado quais modalidades eles conheciam,

responderam apenas ginásticas competitivas (Ginástica Rítmica e Ginástica Artística).

Não pretendemos entrar em uma discussão mais profunda sobre essa Ginástica

esportivizada pela mídia, mas não negamos que isso nos ajuda a trabalhar mais a ginástica

dentro da escola, tomando como exemplo a ser levado, como uma forma de discussão com os

alunos nas aulas. Podemos criar possibilidades junto aos alunos sobre o ensino-aprendizagem

desses para/com a ginástica, tirando um pouco o foco do alto rendimento e trazendo para

nossa realidade dentro da escola. Ou ainda, problematizando as apropriações do esporte em

nossa sociedade.

De acordo com o Coletivo de Autores (2012) grande parte dos professores de

educação física se forem apresentar a ginástica aos seus alunos, optam pela ginástica de

Competição. Apesar de ainda ser maioria aqueles que optam pela sua ausência, alegando falta

de equipamentos e/ou locais adequados a pratica, reduzindo as possibilidades de trabalho com

as ginásticas de modalidades competitivas (artística/olímpica, rítmica, dentre outras) que

requereriam espaços e materiais específicos e oficiais.

41

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Educação Física passou por vários momentos até ser reconhecida como ela é hoje,

foi um processo longo de transformação ora aceita ora negada. Muitas coisas vão mudando e

muito ainda vai mudar, não podemos negar, portanto, é muito importante que todo professor

de educação física conheça a sua história. Há todo um histórico de colaboração da Ginástica

que devemos considerar importante para a atual educação física escolar, para assim

realizarmos uma reflexão do contexto atual e corrigir vários erros ainda cometidos por muitos

profissionais.

Defendemos que a Ginástica é entendida como uma área de conhecimento da Cultura

Corporal (COLETIVO DE AUTORES, 2012) e deve cuidar do corpo não apenas como algo

mecânico, visando apenas o desenvolvimento do aspecto físico, independentemente dos

demais, como era há décadas atrás, mas sim na sua totalidade, em uma relação com as outras

partes: o mental, o emocional, o estético, entre outros. Ela deve ser compreendida como uma

disciplina que introduz e integra o aluno, alinhando-se aos objetivos educacionais, facilitando

e promovendo a educação do corpo, formando o cidadão que vai reproduzi-la e transformá-la,

instrumentalizando-o para usufruir dos jogos, dos esportes, das danças, das lutas e das

ginásticas.

A ginástica é uma forte aliada nessa educação do corpo. Ela induz os alunos a um

pensar sobre a sua prática corporal, reconhecendo e usufruindo desse corpo, contribuindo para

o desenvolvimento moral, social e cultural através da interação com outros, o que permite o

mesmo reconhecer-se no meio, possibilitando a ele, desenvolver valores como respeito

mútuo, confiança e outras características fundamentais para o desenvolvimento integral do

individuo.

Sendo assim, a Ginástica se faz necessária em planos de ensino inclusivos e

participativos. É essencial que todos os professores proporcionem oportunidade para que

todos tenham acesso ao conhecimento da cultura corporal por meio do conteúdo Ginástica,

como um agrupamento de informação indispensável para o desenvolvimento e exercício da

cidadania de forma democrática.

Prova dessa falta do conteúdo ginástica na escola, são as respostas do questionário.

Nenhum entrevistado respondeu certo12 o que é Ginástica. Todos os entrevistados, tem um

conhecimento em ao menos uma modalidade de Ginástica e mesmo assim, não souberam

12 Para mais: Coletivo de Autores (2012), Ayoub (2003) e FIG.

42

responder com clareza. Portanto, podemos dizer que esses conhecimentos podem ser advindos

de um local externo a escola ou o ensino da ginástica na escola, foi pouco proveitoso.

Pois dessas experiências e conhecimentos que os acadêmicos puderam nos responder,

bem como as definições do que é ginástica, podemos concluir que nas suas aulas de educação

física escolar, que eles tiveram, deixa claro que não eles assimilaram o conteúdo ou talvez a

metodologia adotada pelo professor não seja a mais correta para o mesmo. Isso nos mostra, a

falta de preparo ou estimulo do professor na escola. Podemos dizer também que esses

conhecimentos não foram suficientes para que eles conhecessem e compreendessem a

ginástica de forma mais complexa e crítica, levando em consideração elementos como:

criatividade, técnica, história, preconceitos, influência da mídia, treinamento precoce,

desvalorização das práticas corporais e supervalorização do esporte.

Cabe a nós, pensarmos em uma nova postura e em novas abordagens para/com o

aluno. Acreditamos que a Educação Física é o componente curricular responsável pelo

desenvolvimento e ampliação das experiências motoras e corporais do aluno, e a ginástica, um

conteúdo que proporciona uma grande quantidade de ações com significado cultural,

permitindo aos alunos darem sentido-próprio às suas práticas corporais. A ginástica promove

a consciência cooperativa nas ações de colaboração com o outro e de segurança, abrindo

espaço para a análise dos temas propostos13.

Assim, é preciso que o professor tenha um olhar crítico na prática da ginástica,

permitindo a livre expressão dos alunos e possibilitando a criatividade e criticidade corporal.

É imprescindível que a ginástica seja desenvolvida a partir de uma abordagem de ensino

aberto e participativo, assim acreditamos que a Critico-Superadora vem de encontro a isso, no

qual o aluno é constantemente estimulado a produzir novas experiências motoras,

possibilitando a compreensão do sentido/significado das atividades realizadas.

Um leque de objetivos pedagógicos posto a Ginástica deve se manter em constante

revisão e reformulação, assim não se permite uma conclusão, e sim, uma abertura para a

intervenção dos professores juntamente com os alunos para a sua melhor aplicabilidade.

13 Ver Quadro 3: Temas e possibilidades para as aulas de Educação Física Escolar (p.29)

43

6. REFERENCIAS

AYOUB, E.. Ginástica geral e educação física escolar. Campinas: Unicamp, 2003. 137 p.

__________. A Ginástica Geral na sociedade contemporânea: perspectivas para a educação física escolar. Campinas: Unicamp (Tese de Doutorado), 1998.

BRANDL, C. E. H.. Ginástica: Um conhecimento aplicado à Educação Física Escolar. Caderno de Educação Física e Esporte, Cascavel, v. 1, n. 1, p.38-48, nov. 1999. Semestral. Disponível em: <http://e-revista.unioeste.br/index.php/cadernoedfisica/article/view/1747/1413>. Acesso em: 22 abr. 2014.

BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1998. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro07.pdf>. Acesso em: 22 abr. 2014

BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília: 1996. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 19 abr 2014

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FERREIRA, A. B. de H.. Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa. 5. ed. Curitiba: Positivo, 2010. 2272 p.

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PEREIRA, F. M.. A favor da ginástica no cotidiano da Educação Física no Ensino Médio.

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44

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VIEIRA, S.; FREITAS, A.. O que é Ginástica Artística. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2007. 92 p.

45

APÊNDICE

46

APÊNDICE A – Questionário aplicado em entrevista com os Acadêmicos Ingressantes

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CAMPUS DO PANTANAL

CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA Disciplina: Trabalho de Conclusão de Curso III

Pesquisador: Mauro Palmeira Mota Orientadora: Profª Me. Hellen Jaqueline Marques

Quais os conhecimentos que os alunos do primeiro ano do curso de licenciatura em Educação

Física da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Campus do Pantanal

(CPAN), possuem sobre Ginástica?

Data: ____/____/____

1. Idade:______________

2. Sexo: F / M

3. Nome da escola que frequentou:

a) Educação infantil (Pré-escola, Alfabetização): ( ) Publica ( ) Privada

_______________________________________________________________

Ano de início: _______________ Ano de término: _________________

Cidade/Estado: ______________________________________________

b) Ensino fundamental I (1ª a 4ª série ou 1º ao 5º ano): ( ) Publica ( ) Privada

_______________________________________________________________

Ano de início: _______________ Ano de término: _________________

Cidade/Estado: ______________________________________________

c) Ensino fundamental II (5ª a 8ª série ou 6º ao 9º ano): ( ) Publica ( ) Privada

_______________________________________________________________

Ano de início: _______________ Ano de término: _________________

Cidade/Estado: ______________________________________________

d) Ensino Médio (Segundo Grau): ( ) Publica ( ) Privada

_______________________________________________________________

Ano de início: _______________ Ano de término: _________________

Cidade/Estado: ______________________________________________

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4. Frequentou a EJA (Educação de Jovens e Adultos)? Em qual etapa?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

5. Quais as modalidades de Ginástica que você conhece?

( ) Ginástica Artística

( ) Ginástica de Trampolim

( ) Ginástica Rítmica

( ) Ginástica Acrobática

( ) Ginástica Aeróbica

( ) Ginástica Laboral

( ) Ginástica de Academia

( ) Ginástica Circense

( ) Hidroginástica

( ) Pilates

( ) Yoga

( ) Ginástica Geral ou Para Todos

( ) Outras. Especifique:____________________________________________

6. Onde você adquiriu conhecimento sobre essas Ginásticas?

( ) Escola

( ) Universidade

( ) Televisão

( ) Internet

( ) Jornais/Revistas

( ) Academia

( ) Escola de Ginástica

( ) Outros. Especifique:____________________________________________

7. Durante o período que você estudou na escola a Ginástica esteve presente nas aulas de

educação física?

( ) Sim ( ) Não

Em quais séries? __________________________________________________

8. Que tipo de Ginástica você vivenciou na escola?

( ) Ginástica Artística

( ) Ginástica de Trampolim

( ) Ginástica Rítmica

( ) Ginástica Acrobática

( ) Ginástica Aeróbica

( ) Ginástica Laboral

( ) Ginástica Circense

( ) Ginástica de Academia

( ) Hidroginástica

( ) Yoga

( ) Pilates

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( ) Ginástica Geral ou Para Todos

( ) Somente atividades de alongamento/aquecimento antes do inicio de outro

conteúdo

( ) Outras. Especifique:____________________________________________

( ) Nenhuma

9. Quais dos temas abaixo foram abordados em suas aulas de Educação Física na escola?

(Pode ser Marcado mais de uma alternativa)

( ) História da Ginástica

( ) As diferentes modalidades de Ginástica

( ) A relação de gêneros na Ginástica (Masculino e Feminino)

( ) Concepções de corpo e o ensino da Ginástica (estética corporal)

( ) Ginástica enquanto esporte (espaços e regras oficiais, competições, etc)

( ) Aparelhos de Ginástica

( ) Técnicas corporais de Ginástica

( ) Relações entre Ginástica, Cultura e Sociedade

( ) Ginástica e Mídia

( ) Treinamento em Ginástica

( ) Uso de anabolizantes (esteroides, suplementos, etc.) na Ginástica

( ) Construção de coreografias e séries de Ginástica

( ) Construção e utilização de materiais adaptados de Ginástica

( ) Relações entre Ginástica e Saúde

( ) Criação de movimentos na Ginástica

10. Para você, o que é Ginástica?

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

_____________________________________________________________________

11. Você já vivenciou algum tipo de Ginástica em outro local que não seja na aula de

Educação Física escolar?

( ) Sim ( ) Não

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12. Onde? Qual modalidade?

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________

________________________________________________________________________