MAURÍCIO CABRAL DUTRA

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MAURÍCIO CABRAL DUTRA Uso de antimicrobianos em suinocultura no Brasil: analise crítica e impacto sobre marcadores epidemiológicos de resistência São Paulo 2017

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MAURÍCIO CABRAL DUTRA

Uso de antimicrobianos em suinocultura no Brasil: analise crítica e

impacto sobre marcadores epidemiológicos de resistência

São Paulo

2017

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MAURÍCIO CABRAL DUTRA

Uso de antimicrobianos em suinocultura no Brasil: analise crítica e

impacto sobre marcadores epidemiológicos de resistência

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Epidemiologia

Experimental Aplicada às Zoonoses da

Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia da Universidade de São Paulo

para obtenção do Título de Doutor em

Ciências.

Departamento:

Medicina Veterinária Preventiva e Saúde

Animal

Área de concentração:

Epidemiologia Experimental Aplicada às

Zoonoses

Orientador:

Profa. Dra. Andrea Micke Moreno

São Paulo

2017

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Autorizo a reprodução parcial ou total desta obra, para fins acadêmicos, desde que citada a fonte.

DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO

(Biblioteca Virginie Buff D’Ápice da Faculdade de Medicina

Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo)

T. 3522

FMVZ

Dutra, Maurício Cabral Uso de antimicrobianos em suinocultura no Brasil: análise crítica e impacto sobre

marcadores epidemiológicos de resistência. / Maurício Cabral Dutra. -- 2017.

92 p. : il.

Tese (Doutorado) - Universidade de São Paulo. Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal, São Paulo,

2017.

Programa de Pós-Graduação: Epidemiologia Experimental Aplicada às

Zoonoses.

Área de concentração: Epidemiologia Experimental Aplicada às Zoonoses.

Orientador: Profa. Dra. Andrea Micke Moreno.

1. Resistência antimicrobiana. 2. Suíno. 3. MRSA. 4. ST398. I. Título.

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

AUTOR: DUTRA, Mauricio Cabral

TÍTULO: Uso de Antimicrobianos em Suinocultura no Brasil: Analise crítica e Impacto

Sobre Marcadores Epidemiológicos de Resistência

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Epidemiologia

Experimental Aplicada às Zoonoses da

Faculdade de Medicina Veterinária e

Zootecnia da Universidade de São Paulo

para obtenção do Título de Doutor em

Ciências

Data: _____/_____/_____

Banca Examinadora

Prof. Dr.__________________________________________________________

Instituição:____________________________Julgamento:__________________

Prof. Dr.__________________________________________________________

Instituição:____________________________Julgamento:__________________

Prof. Dr.__________________________________________________________

Instituição:____________________________Julgamento:__________________

Prof. Dr.__________________________________________________________

Instituição:____________________________Julgamento:__________________

Prof. Dr.__________________________________________________________

Instituição:____________________________Julgamento:__________________

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pelo dom da vida, pela minha família, amigos, saúde física e mental e a

graça de viver cada dia, confiando somente no Senhor.

Aos meus pais, Emanuel e Lídia Dutra pelo seu amor incondicional e seu apoio em

toda minha jornada.

À minha esposa e eterna companheira, Cláudia Cambria Dutra pelo seu amor, apoio

nos momentos difíceis, pela sua ajuda e paciência comigo durante a elaboração

desta tese.

À Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo

pela oportunidade de aperfeiçoar meus conhecimentos.

À orientadora Profa. Dra. Andrea Micke Moreno pela oportunidade de trabalharmos

juntos, pela confiança, pelo apoio e pela orientação sábia, precisa e determinada.

A todos os colegas e funcionários do Laboratório de Sanidade Suína pelo apoio na

realização do experimento e, sobretudo, pela amizade frutificada neste período.

A todos os colegas do Departamento de Suínos da BRNova/Trouw Nutrition,

incluindo diretoria pela confiança, pelos anos de trabalho juntos e por permitirem a

realização deste trabalho.

Aos suinocultores, gerentes e funcionários das granjas, pela confiança ao

disponibilizar seus animais para a realização do experimento, bem como pelo auxílio

em sua execução.

Page 7: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

RESUMO

DUTRA, MC. Uso de Antimicrobianos em Suinocultura no Brasil: Análise

crítica e Impacto Sobre Marcadores Epidemiológicos de Resistência. [Use

of Antimicrobials in Swine in Brazil: Critical Analysis and Impact on

Epidemiological Markers of Resistance]. 2017. 92 f. Tese (Doutorado em

Ciências) – Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de

São Paulo, São Paulo, 2017.

O uso indiscriminado de antimicrobianos na suinocultura nacional e

mundial tem sido uma prática comum, visando minimizar possíveis falhas

no manejo e no ambiente em que vivem os animais, no entanto, este uso

é descrito como potencial fator de risco na seleção de estirpes

resistentes à antimicrobianos, entre elas as estirpes de Staphylococcus

aureus resistentes à meticilina (MRSA). O presente estudo revelou o uso

médio de 358,0 mg diferentes antimicrobianos/ kg de suíno produzido

nos 25 sistemas de produção pesquisados, sendo este valor considerado

elevado, quando comparado a tendência global de 172,0 mg, bem como

período médio de exposição de 66,3% da vida dos animais e exposição à

7 diferentes princípios ativos em média, variando de 2 a 11. A pesquisa

de animais carreadores de estirpes MRSA revelou 80,0% dos sistemas

de produção positivos, sendo 68,0% positivos para LA-MRSA-ST398, e

60,0% positivos para a presença do gene czrC, codificador de resistência

ao óxido de zinco e cádmio. Não foi evidenciada correlação significativa

entre o uso de antimicrobianos, nível de biossegurança, produtividade,

status dos rebanhos para Mycoplasma hyopneumoniae, tipo de criação

em sítio único (ciclo completo) ou dois sítios e positividade para MRSA.

Apesar da ausência das correlações significativas ficou evidente no

presente estudo a possibilidade de grandes melhorias nos programas de

biossegurança, manejo, assim como nos programas de utilização de

antimicrobianos. A alta frequência de sistemas de produção positivos

para as estirpes MRSA são um importante alerta para o risco de

disseminação deste agente para os seres humanos.

Palavras-chave: Resistência antimicrobiana, suíno, MRSA, ST398

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ABSTRACT

DUTRA, MC. Use of Antimicrobials in Swine in Brazil: Critical Analysis and

Impact on Epidemiological Markers of Resistance. [Uso de Antimicrobianos

em Suinocultura no Brasil: Análise crítica e Impacto Sobre Marcadores

Epidemiológicos de Resistência]. 2017. 92 f. Tese (Doutorado em Ciências) –

Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Universidade de São Paulo,

São Paulo, 2017.

The indiscriminate use of antimicrobials in Brazilian and global pig farms

has been a common practice in order to minimize possible failures in the

management and environment in which animals live, however, this use is

described as a potential risk factor in the selection of strains resistant to

antimicrobials, including strains of methicillin resistant Staphylococcus

aureus (MRSA). The present study revealed the average use of 358.0 mg

of different antimicrobials / kg of pig produced in the 25 production

systems surveyed, which is considered high when compared to the

overall trend of 172.0 mg, as well as the mean exposure period of 66.3%

of the animals life and exposure to 7 different active principles on average

ranging from 2 to 11. Research on MRSA strains showed 80.0% of the

positive production systems, and 68.0% were positive for MRSA strains.

LA-MRSA-ST398, and 60.0% positive for the presence of the czrC gene,

encoding resistance to zinc oxide and cadmium. There was no significant

correlation between antimicrobial use, biosafety level, productivity, herd

status for Mycoplasma hyopneumoniae, single site (complete cycle) or

two sites and MRSA positivity. Despite the absence of significant

correlations, it was evident in the present study the possibility of great

improvements in biosafety programs, management, as well as in

programs for the use of antimicrobials. The high frequency of positive

production systems for MRSA strains is an important warning for the risk

of dissemination of this agent to humans.

Keywords: Antimicrobial resistance, swine, MRSA, ST398

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - Representação esquemática das formas de disseminação da

resistência aos antimicrobianos....................................................16

Figura 2 - Comparação do consumo de antimicrobianos na população

animal (mg ATB / kg) em diferentes países no ano de

2013..............................................................................................46

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Antimicrobianos com uso permitido como facilitadores de

crescimento no Brasil...................................................................19

Quadro 2 - Características e distribuição dos sistemas de produção de suínos

avaliados no estudo......................................................................24

Quadro 3 - Distribuição dos princípios ativos utilizados em cada granja de

acordo com a classe antimicrobiana e frequência de granjas

usando cada ativo......................................................................29

Quadro 4 - Distribuição dos princípios ativos utilizados nas diferentes fases

do sistema de produção.............................................................31

Quadro 5 - Descrição dos primers e produtos amplificados utilizados para

caracterização das estirpes de S. aureus.....................................59

Quadro 6 - Informações comparativas entre granjas positivas e negativas

para MRSA...................................................................................64

Quadro 7 - Formulário utilizado na coleta de dados sobre programas de

medicação e vacinação................................................................86

Quadro 8 - Formulário utilizado na coleta de dados sobre programas de

biosseguridade e características de manejo do

rebanho.........................................................................................87

Quadro 9 - Frequência de animais carreadores de estirpes positivas ou

negativas para mecA, pertencentes ao ST398 e positivas para o

gene czrC nos diferentes sistemas de produção..........................92

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Uso de antimicrobiano nas 25 granjas avaliadas (mg ATB/ kg

suíno produzido)...........................................................................26

Gráfico 2 - Nível de biossegurança determinado através dos questionários

aplicados as 25 granjas avaliadas................................................27

Gráfico 3 - Produtividade média dos 25 rebanhos avaliada em kg suíno

produzido por matriz por ano........................................................27

Gráfico 4 - Período de vida dos animais do nascimento ao abate em que

estão expostos à antimicrobiano (%)............................................28

Gráfico 5 - Frequência de utilização das diferentes classes de

antimicrobianos (%)......................................................................30

Gráfico 6 - Doses dos antimicrobianos utilizados preventivamente em leitões

de maternidade (mg / kg de peso)................................................32

Gráfico 7 - Frequência de utilização das diferentes classes de

antimicrobianos na Creche-Terminação (%)................................33

Gráfico 8 - Doses máximas e mínimas dos antimicrobianos utilizados nas

fases de Creche a Terminação (mg/ kg de peso).........................34

Gráfico 9 - Período em dias de uso dos antimicrobianos nas fases de Creche

a Terminação (mg/ kg de peso vivo)............................................35

Gráfico 10 - Aspectos de biossegurança inadequados ou com necessidade de

ajustes (%) – Parte 1....................................................................37

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Gráfico 11 - Aspectos de biossegurança inadequados ou com necessidade de

ajustes (%) – Parte 1....................................................................38

Gráfico 12 - Análise estatística de correlação entre uso de antimicrobianos e

biossegurança..............................................................................39

Gráfico 13 - Análise estatística de correlação entre uso de antimicrobianos e

produtividade................................................................................40

Gráfico 14 - Análise estatística de correlação entre biossegurança e

produtividade................................................................................40

Gráfico 15 - Comparação das médias de uso preventivo de antimicrobianos

(mg ATB/ kg suíno produzido) – Ciclo Completo vs.

UPL+Terminação.........................................................................41

Gráfico 16 - Comparação das médias de uso preventivo de antimicrobianos

(mg ATB/ kg suíno produzido) – Status Positivo vs. Negativo

Mycoplasma hyopneumoniae.......................................................42

Gráfico 17 - Comparação das médias de biossegurança (score) – Ciclo

Completo vs. UPL+Terminação....................................................42

Gráfico 18 - Comparação das médias de biossegurança (score) – Status

Positivo vs. Negativo Mycoplasma hyopneumoniae.....................43

Gráfico 19 - Comparação das médias de produtividade (kg suíno produzido/

matriz/ ano) – Ciclo Completo vs. UPL+Terminação....................44

Gráfico 20 - Comparação das médias de produtividade (kg suíno produzido/

matriz/ ano) – Status Positivo vs. Negativo Mycoplasma

hyopneumoniae............................................................................44

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Gráfico 21 - Frequência de ocorrência (%) de Staphylococcus aureus

resistente à meticilina (MRSA) encontrada em cada um dos

sistemas de produção...................................................................60

Gráfico 22 - Frequência (%) de animais carreando estirpes MRSA positivas

para o gene czrC e do ST398 em cada um dos sistemas de

produção diferentes genes pesquisados......................................61

Gráfico 23 - Frequência de animais carreando estirpes de Staphylococcus

aureus sensíveis à meticilina MSSA positivas para o gene czrC e

do ST398 em cada um dos sistemas de produção diferentes

genes pesquisados.......................................................................62

Gráfico 24 - Análise estatística de correlação entre positividade para MRSA e

uso de antimicrobianos.................................................................63

Gráfico 25 - Análise estatística de correlação entre positividade para MRSA e

biossegurança..............................................................................63

Gráfico 26 - Análise estatística de correlação entre positividade para MRSA e

produtividade................................................................................64

Gráfico 27 - Comparação das médias de uso de antimicrobianos (mg ATB / kg

suíno produzido – Status Positivo vs. Negativo MRSA................65

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Sumário

INTRODUÇÃO ................................................................................................. 14

CAPITULO I ..................................................................................................... 15

ANALISE CRÍTICA DO USO DE ANTIMICROBIANOS EM GRANJAS DE

SUÍNOS COMERCIAIS NO BRASIL ................................................................ 15

1. REVISÃO DE LITERATURA .................................................................. 16 2 OBJETIVOS .......................................................................................... 22 3 MATERIAL E MÉTODO ......................................................................... 23

SELEÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO .......................................... 23 OBTENÇÃO DOS DADOS ........................................................................ 25 DADOS COLETADOS .............................................................................. 25 ANÁLISE DOS DADOS............................................................................. 25

4 RESULTADOS ...................................................................................... 26

CAPITULO II .................................................................................................... 52

AVALIAÇÃO DA OCORRÊNCIA DE STAPHYLOCOCCUS AUREUS

RESISTENTES A METICILINA. ....................................................................... 52

1 REVISÃO DE LITERATURA .................................................................. 53 2 OBJETIVOS .......................................................................................... 56 3 MATERIAL E MÉTODO ......................................................................... 56

COLETA DE AMOSTRAS ......................................................................... 56 ISOLAMENTO BACTERIANO .................................................................. 57 IDENTIFICAÇÃO DO AGENTE ................................................................ 57 EXTRAÇÃO DE DNA ................................................................................ 58 REAÇÃO EM CADEIA PELA POLIMERASE ............................................ 58

4 RESULTADOS ...................................................................................... 60 5 DISCUSSÃO ......................................................................................... 66 6 CONCLUSÕES ..................................................................................... 73

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................. 74

ANEXOS .......................................................................................................... 85

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14

INTRODUÇÃO

A demanda por proteína de origem animal é crescente em todo o mundo. Com o

objetivo de atender a esta demanda a suinocultura mundial vem buscando níveis cada vez

maiores de produtividade. Os sistemas de produção de suínos atuais abrigam um grande

número de animais em suas instalações e apesar de todas as medidas de prevenção e

controle que devem ser tomadas, a propagação de alguns agentes infecciosos torna-se

uma fonte importante de preocupação para o médico veterinário. Por estas razões, o uso

de antimicrobianos na suinocultura se tornou uma ferramenta importante, sendo

empregada não apenas no tratamento, mas também na profilaxia de doenças bacterianas

em rebanhos de suínos no Brasil e no Mundo.

No Brasil, no ano de 2014 o mercado de antimicrobianos para suínos movimentou

mais de 146 milhões de reais, representando cerca de 31% do mercado de produtos

veterinários para a espécie. Destes antimicrobianos, a maior fatia do faturamento ficou com

os antimicrobianos administrados via ração, que movimentaram mais de 92 milhões de

reais.

O uso de antimicrobianos em animais de produção tem sido amplamente discutido

em todo o mundo e acredita-se que este uso crescente pode, pelo aumento da pressão de

seleção, levar ao crescimento indiscriminado da população bacteriana resistente a

antimicrobianos.

Tendo em vista a importância mundial do controle no uso de antimicrobianos em

animais de produção e a escassez de dados nacionais sobre o uso destes ativos em

suinocultura, os objetivos do presente estudo foram caracterizar o regime de utilização de

antimicrobianos em sistemas de produção de suínos comerciais no Brasil, correlacionar

estes dados com características de biosseguridade e produtividade dos sistemas

estudados e avaliar a presença de Staphylococcus aureus resistentes a meticilina (MRSA)

nos rebanhos estudados.

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15

CAPITULO I

Analise Crítica do Uso de Antimicrobianos em Granjas

de Suínos Comerciais no Brasil

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16

1. REVISÃO DE LITERATURA

A resistência bacteriana em patógenos de importância em medicina humana é

descrita como um desafio de saúde global pela Organização Mundial de Saúde (WHO). É

consenso geral que o uso de antimicrobianos em medicina humana é o maior responsável

pelo crescimento nos níveis de resistência e disseminação de genes codificadores de

mecanismos de resistência na população, mas o uso de antimicrobianos em animais de

produção também pode ter uma importante participação na disseminação destes agentes

(BARTON, 2014), bem como outras formas de disseminação, conforme figura abaixo:

Figura 1 - Representação esquemática das formas de disseminação da resistência aos

antimicrobianos

Fonte: https://www.linkedin.com/feed/update/urn:li:activity:6130434285649297408/

A demanda por proteína de origem animal para consumo humano está crescendo

globalmente em uma velocidade sem precedentes. As práticas modernas de produção

animal estão associadas ao uso regular de antimicrobianos, e este uso pode estar levando

ao aumento na pressão de seleção de estirpes bacterianas resistentes. Apesar do

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17

potencial aumento nos níveis de resistência a antimicrobianos, não há estudos

mensurando o consumo de antimicrobianos em animais de produção (VAN BOECKEL et

al, 2015).

Na Ásia, o consumo diário de proteína de origem animal passou de 7 gramas/dia

para 25 gramas/dia entre 1960 e 2013, enquanto a participação do arroz e trigo na dieta

tem decrescido progressivamente. Para atender esta demanda, países como Brasil,

Rússia, Índia, China e África do Sul (BRICS) investiram fortemente nos sistemas intensivos

de produção animal. Nestes sistemas a necessidade de uso de antimicrobianos para a

manutenção da saúde dos animais é crescente, assim como os relatos de isolamento de

estirpes bacterianas resistentes a diversos antimicrobianos (VAN BOECKEL et al, 2015).

O uso de antimicrobianos em suinocultura ocorre de três formas principais: como

promotor de crescimento, com fim profilático/ metafilático ou em doses terapêuticas. O uso

tradicional como promotor de crescimento é o mais controverso, principalmente quando se

utilizam classes de antimicrobianos importantes para o tratamento de infecções em

humanos. Este uso dos princípios ativos em doses baixas e constantes via ração cria uma

situação ideal para a seleção de estirpes resistentes a antimicrobianos e disseminação

destas estirpes no ambiente intestinal dos animais (BARTON, 2014).

O uso preventivo profilático (individual) ou metafilático (em uma fase da produção ou

baia) de antimicrobianos também envolve a administração dos ativos via ração. A intenção

é que o uso destes ativos ocorra quando há um surto de doença e durante um curto

período de tempo (5 a 10 dias). No entanto, trata-se de uma oportunidade de estender o

uso dos ativos por vários ciclos de produção, e as doses utilizadas são bem maiores que

as utilizadas como promotor de crescimento e geralmente próximas a doses terapêuticas.

O uso terapêutico de antimicrobianos geralmente é individual por via oral ou injetável, no

entanto, a administração via ração também é realizada com frequência. O uso terapêutico

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18

de antimicrobianos via ração é bastante questionado, uma vez que animais doentes podem

apresentar reduzido consumo de ração não ingerindo a quantidade adequada do ativo

(BARTON, 2014; SILVA et al, 2013).

A legislação brasileira relativa à alimentação animal data da década de 1970 com a

Lei 6.198/74 e o Decreto 76.986/76, sendo válidas até hoje. A legislação vigente pertinente

ao uso de antimicrobianos via ração pode ser dividida nos dois seguintes grupos

(SCHROEDER R., 2006; BRASIL, 2017):

a) Normativa: relativa à forma de utilização, regula a forma correta de rotulagem e

controles que devem ser feitos para utilização de determinados produtos, sendo

as Instruções Normativas 65/2006 e 14/2016 as atualizações mais recentes,

disponibilizando inclusive modelo de cadastro para produtor que pretenda

manipular produto destinado à alimentação animal com medicamento de uso

veterinário;

b) Restritiva: relativa a produtos proibidos ou que possuem algum tipo de restrição de

uso, como período de carência ou espécies nas quais não podem ser utilizados.

Desde 1998, por meio de Portarias e Instruções Normativas, o Ministério da

Agricultura, Pecuária e Abastecimento restringiu os antimicrobianos avoparcina,

anfenicóis, tetraciclinas, penicilinas, cefalosporinas, quinolonas, sulfonamidas,

eritromicina, espiramicina e colistina como melhoradores de desempenho.

O quadro 1 apresenta a lista de antimicrobianos com uso permitido como

melhoradores de desempenho nas diferentes espécies de animais de produção no Brasil.

Page 20: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

19

Quadro 1. Antimicrobianos com uso permitido como facilitadores de crescimento no Brasil.

Antimicrobiano Espécie animal

Avilamicina Frango, peru e suíno

Bacitracina metileno disalicilato Frango, galinha poedeira, peru e suíno

Bacitracina de zinco Frango, galinha poedeira, peru, codorna, suíno e bovino

Sulfato de colistina Frango, galinha poedeira, suíno e bovino

Clorexidina Frango, galinha poedeira e suíno

Enramicina Frango, galinha poedeira, suíno e bovino

Eritromicina Suíno

Espiramicina Frango, suíno e bezerro

Flavomicina Frango, suíno, coelho e bovino

Halquinol Frango, galinha poedeira e suíno

Lasalocida Bovino

Lincomicina Frango e suíno

Monensina Bovino e ovino

Salinomicina de sódio Suíno e bovino

Tiamulina Suíno

Tilosina Frango, galinha poedeira e suíno

Virginiamicina Frango, peru, suíno e bovino

Adaptado de SILVA et al, (2013)

O consumo de antimicrobianos pela população humana e animal tem sido

importante objeto de estudo nos últimos anos. Dados alemães mostram um consumo de

aproximadamente 2000 toneladas em 2013, segundo Meyer et al.(2013), sendo 1700

toneladas pela população animal, dos quais 33,0% tetraciclinas e 29,0% penicilinas.

Levantamento similar no Canadá em 2014 apresentou um consumo aproximado de 1740

toneladas, sendo 1500 toneladas utilizadas na produção animal, sendo as tetraciclinas, β-

lactâmicos, macrolídeos e lincosamidas, os principais grupos de antimicrobianos utilizados

(CANADA, 2017).

Estudo qualitativo realizado em frangos de corte no Brasil, estado do Paraná,

revelou o uso de 49 princípios ativos, sendo as fluorquinolonas (34,0%), ionóforos (20,0%),

macrolídeos (10,0%), quinolonas e tetraciclinas (6,0%), os grupos de antimicrobianos mais

Page 21: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

20

utilizados preventivamente, enquanto ionóforos (25,0%), fluorquinolonas (19,0%),

sulfonamidas (14,0%), tetraciclinas (11,0%) e β-lactâmicos (7,0%) foram os mais

comumente utilizados de forma terapêutica (SESA, 2005).

De acordo com Morés (2014), a maioria dos modelos de sistemas de produção de

suínos utilizados atualmente no Brasil com alta densidade animal, mistura de leitões de

diferentes leitegadas e origens após o desmame, maximização no uso das instalações em

detrimento de práticas adequadas de manejo, bem como presença de vários outros fatores

de risco nos rebanhos cria condições propícias para a manifestação de doenças, as quais

são mitigadas pelos produtores através do uso de antimicrobianos em doses

subterapêuticas e/ou promotoras de crescimento.

A concentração da produção de suínos em larga escala também favorece à

manifestação de doenças enzoóticas multifatoriais e complexas, como o Complexo das

Doenças Respiratórias dos Suínos (FLABET et al., 2012), no qual diferentes agentes

bacterianos e virais estão envolvidos e amplamente difundidos no Brasil, como

Mycoplasma hyopneumoniae, Haemophilus parasuis, Actinobacillus pleuropneumoniae,

Pasteurella multocida, PCV-2 causando sérios impactos econômicos e aumento

considerável no uso de antimicrobianos (BARCELLOS et al., 2007). Diferentes princípios

ativos têm sido utilizados na prevenção e controle das pneumonias bacterianas,

apresentando elevada sensibilidade amoxicilina, tilmicosina e ceftiofur (BOROWSKI et al.,

2006).

Estudo realizado por Deen (2002) revelou falta de uniformidade atingindo 18,0% dos

animais na idade de abate, sendo as doenças respiratórias e entéricas como enteropatia

proliferativa suína, as principais causas, além das doenças serem responsáveis por 63,0%

das mortes no período de recria e terminação.

Page 22: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

21

Prática comum no Brasil, o desmame dos leitões em idade precoce, inferior à 23

dias de idade, segundo Smith et al. (2010) é um importante fator de risco na utilização de

antimicrobianos nas dietas pós-desmame, pois tem influência direta na integridade

intestinal, especialmente na função barreira da mucosa, prevenindo doenças crônicas do

intestino. Outros fatores de risco relevantes são baixo peso ao nascimento, baixo peso à

desmama e não adoção do fluxo de produção “todos-dentro / todos-fora” (DE GRAU et al.,

2005).

Não foram encontrados estudos relatando os regimes de utilização de

antimicrobianos nos sistemas de produção de suínos no Brasil. Os dados existentes são

obtidos a partir de estimativas de venda fornecidas pela indústria farmacêutica. Para

permitir estudos mais aprofundados e que contribuam para a redução do risco global e

minimizem os efeitos das intervenções sobre a produtividade, há necessidade de uma

vigilância contínua e integrada entre o uso de antimicrobianos e a ocorrência de

resistência, de preferência associada a avaliação de dados sobre produção e ocorrência

de doenças para determinar o impacto positivo e negativo da redução do uso de

antimicrobianos em pecuária (AARESTRUP, 2015).

Investimento em biossegurança por meio de boas práticas de manejo, como adoção

de vazio sanitário associado a programa de limpeza e desinfecção (MORES, 1997),

disponibilização de condições ambientais adequadas às necessidades dos animais

(HESSING & TIELLEN, 1994), entre outras, favorece a manutenção do status sanitário dos

rebanhos, minimizando a necessidade da utilização preventiva de antimicrobianos.

Page 23: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

22

2 OBJETIVOS

Avaliar o uso de antimicrobianos em granjas comerciais de suínos no Brasil e

correlacionar os dados obtidos com os dados de biosseguridade, manejo sanitário e

produtividade.

Page 24: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

23

3 MATERIAL E MÉTODO

SELEÇÃO DOS SISTEMAS DE PRODUÇÃO

Vinte e cinco sistemas de produção de suínos foram selecionados abrangendo

todos os Estados de maior representatividade na produção de suínos nacional. Para

facilitar o acesso e a coleta de informações todas as granjas são de produtores

independentes com número de matrizes alojadas variando de 150 a 15000, totalizando

61410 matrizes (Quadro 2).

O nível técnico e sanitário dos rebanhos é similar e representa a maioria dos

sistemas de produção intensiva independente de suínos do Brasil.

Foram coletadas amostras de rebanhos mantidos em sítio único, denominado Ciclo

Completo, mas também de rebanhos criados em dois sítios, denominados UPL (Unidade

Produtora de Leitões), onde os leitões são produzidos e posteriormente transferidos para

as instalações de Terminação, onde serão mantidos dos 70 dias de idade até o abate.

Todas as granjas fazem uso de vacina comercial contra infecção por PCV-2 nos

leitões, enquanto somente as granjas positivas para Mycoplasma hyopneumoniae fazem

uso preventivo de vacina contra este agente nos leitões.

Page 25: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

24

Quadro 2- Características e distribuição dos sistemas de produção de suínos avaliados no estudo.

Granja Estado Plantel (n⁰ matrizes)

Tipo de Criação Presença de Mycoplasma hyopneumoniae

A DF 3500 UPL e Terminação Negativo

B PR 3500 UPL Positivo

C MG 1000 Ciclo Completo Positivo

D MT 15000 UPL e Terminação Positivo

E RS 600 UPL e Terminação Positivo

F GO 560 Ciclo Completo Positivo

G SC 2200 UPL e Terminação Positivo

H ES 480 Ciclo Completo Negativo

I SP 150 Ciclo Completo Positivo

J MG 5200 UPL e Terminação Positivo

K SP 540 Ciclo Completo Positivo

L SP 900 UPL e Terminação Negativo

M DF 8000 UPL e Terminação Positivo

N RS 300 UPL e Terminação Negativo

O SC 1700 UPL e Terminação Positivo

P MG 500 Ciclo Completo Positivo

Q MG 800 Ciclo Completo Positivo

R PR 1550 Ciclo Completo Positivo

S SP 3500 Ciclo Completo Positivo

T RS 600 UPL e Terminação Positivo

U MG 1000 Ciclo Completo Positivo

V PR 480 UPL e Terminação Positivo

W PR 2350 Ciclo Completo Positivo

X PR 5500 UPL e Terminação Negativo

Y MG 1500 Ciclo Completo Positivo

Page 26: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

25

OBTENÇÃO DOS DADOS

Os dados foram coletados em uma visita presencial a granja agendada com

antecedência. Estas visitas, bem como a coleta de todas as informações utilizadas no

estudo foram realizadas por uma única pessoa, exceto nas granjas 14 e 21.

Os dados relativos à estrutura e condição ambiental do rebanho foram avaliados

visualmente e os dados relativos aos antimicrobianos utilizados ou dados de produtividade

obtidos em entrevista com o gerente de produção e/ou proprietário.

DADOS COLETADOS

Foram avaliados dados qualitativos e quantitativos referentes à condição sanitária

do rebanho, estrutura, biosseguridade, uso de vacinas e uso de antimicrobianos. Os

questionários empregados na obtenção dos dados avaliados são detalhados nos quadros

7 e 8 (Anexo).

Para as análises não foi realizada discriminação entre as diferentes formas de uso de

antimicrobianos, sendo considerados os ativos usados como facilitadores de crescimento e

de uso preventivo, via ração ou injetável.

ANÁLISE DOS DADOS

As variáveis quantitativas foram submetidas a análises de correlação e regressão

linear. Realizou-se comparação de médias pelo teste não paramétrico U de Mann-Whitney,

devido à distribuição não ser normal. Para ambas as análises utilizou-se o pacote

estatístico do programa de computador EXCEL.

Page 27: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

26

4 RESULTADOS

Os dados referentes à utilização de antimicrobianos foram mensurados em mg dos

diferentes princípios ativos antimicrobianos (ATB) utilizados/ kg suíno produzido (gráfico 1),

obtendo-se 358,0 mg ATB/ kg como valor médio, porém este valor variou de 5,4 até 586,0

mg, permitindo desta forma a comparação entre os sistemas avaliados, bem como a

comparação na utilização de antimicrobianos na produção de suínos em outros países.

Gráfico 1: Uso de antimicrobiano nas 25 granjas avaliadas (mg ATB/ kg suíno produzido)

O nível de biossegurança foi obtido através da aplicação de check-list abordando

áreas relativas à susceptibilidade dos sistemas de produção aos riscos sanitários, sendo

possível uma pontuação máxima de 1200. Em média, os sistemas avaliados obtiveram 708

pontos, variando de 435 até 1105. Os dados encontram-se representados no gráfico 2.

Page 28: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

27

Gráfico 2: Nível de biossegurança determinado através dos questionários aplicados as 25 granjas

avaliadas.

Mensurou-se a produtividade média dos rebanhos através da somatória dos kg

suíno produzido/ matriz/ ano obtendo-se uma produção média de 2852,0 kg

suíno/matriz/ano, porém com uma amplitude significativa de 2004,0 até 3979,0 kg

suíno/matriz/ano.

Gráfico 3: Produtividade média dos 25 rebanhos avaliada em kg suíno produzido por matriz por

ano.

Page 29: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

28

Outra mensuração relativa ao uso de antimicrobianos foi o percentual do tempo de

vida dos animais destinados ao abate no qual eles tiveram contato com algum

antimicrobiano, seja administrado de forma injetável ou oral, através da ração ou água de

bebida. Em média, os animais tiveram contato com algum antimicrobiano durante 66,3%

de sua vida, variando de 2,9% até 90,4% nos diferentes rebanhos, conforme dados

presentes no gráfico 4.

Gráfico 4: Período de vida dos animais do nascimento ao abate em que estão expostos à

antimicrobiano (%)

Considerando os dados das 25 granjas avaliadas foi observada a utilização de 26

diferentes princípios ativos pertencentes à 14 classes de antibióticos. A frequência de

granjas usando os princípios ativos, bem como das classes utilizadas encontra-se,

respectivamente no quadro 3 e gráfico 5.

Page 30: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

29

BAMBERMICINA CLORANFENICOL ÁC. FOSFÔNICO DITERPENO HIDROXIQUINOLINA LINCOSAMIDA ORTOSOMICINA QUINOLONA SULFONAMIDA

GEN ESP NEO FLA AMO CEF FLO FOS TIA HAL LIN JOS TILM TIL TUL AVI BMD BZN COL ENR NOR ST CLO DOX OXI

A X X X X X X X X X

B X X X X X X X X

C X X X X X X

D X X X X X X

E X X X X

F X X X X X X X

G X X X X X X X X

H X X X X X X X X

I X X X X X X X X X

J X X X X X X X X X

K X X X X X X X X X

L X X X

M X X X X X X X

N X X

O X X X X X

P X X X X X X

Q X X X X X

R X X X X X X X X X X

S X X X X X X X X

T X X X X X X

U X X X X X X

V X X X X X X X X

W X X X X X X X X X

X X X X X

Y X X X X X X X X X X X

FREQ. (%) 20,0 28,0 8,0 4,0 100,0 40,0 68,0 4,0 88,0 8,0 52,0 16,0 8,0 24,0 8,0 8,0 4,0 12,0 52,0 32,0 20,0 4,0 8,0 72,0 4,0

TETRACICLINASGRANJA

AMINOGLICOSÍDEOS β-LACTÂMICOS MACROLÍDEOS POLIPEPTÍDEOS

Quadro 3: Distribuição dos princípios ativos utilizados em cada granja de acordo com a classe antimicrobiana e frequência de granjas usando

cada ativo.

Legenda: AMO=amoxicilina, AVI=avilamicina, BMD=bacitracina metileno-disalicilato, BZN=bacitracina de zinco, COL=colistina, CEF=ceftiofur, CLO=clortetraciclina, DOX=doxiciclina, ENR=enramicina, ESP= espectinomicina, FLA=flavomicina, FLO=florfenicol, FOS=fosfomicina, GEN=gentamicina, HAL=halquinol, JOS=josamicina, LIN=lincomicina, NOR=norfloxacina, NEO=neomicina, OXI=oxitetraciclina, ST=sulfa+trimetoprim, TIA=tiamulina, TIL=tilosina, TILM=tilmicosina, TUL=tulatromicina

Page 31: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

30

Gráfico 5: Frequência de utilização das diferentes classes de antimicrobianos (%)

A estratificação da utilização de antimicrobianos nos diferentes setores produtivos,

Maternidade, Creche e Terminação está presente no quadro 4. A frequência média

encontrada foi de 7 diferentes princípios ativos por granja, variando de 2 a 11. Das 25

granjas envolvidas no estudo, 18 fazem uso preventivo de pelo menos um princípio ativo

antimicrobiano em leitões na maternidade, administrado principalmente via injetável,

enquanto 7 fazem uso de mais de um princípio ativo na mesma fase.

No período de creche, compreendido entre desmame, por volta dos 21-25 dias, e os

70 dias de idade, 24 granjas fazem uso preventivo de antimicrobiano, principalmente via

ração. A mesma frequência foi encontrada no período de terminação.

Page 32: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

31

GRANJA MATERNIDADE CRECHE TERMINAÇÃO TOTAL ATIVOS

A CEF AMO, COL, FLO, LIN+ESP, TIA AMO, AVI, ENR, FLO, TIA 9

B CEF, BMD AMO, COL, DOX, LIN+ESP, TIA AMO, DOX, TIA 8

C AMO, TUL AMO, COL, DOX, JOS AMO, DOX, TIA 6

D AMO, FLO, HAL AVI, OXI, TIA 6

E FLO AMO, DOX, FLO, TIA 4

F CEF AMO, LIN, TIA BZN, DOX, TIA, TIL 7

G CEF AMO, LIN, NOR FLO, FLA, LIN+ESP, TILM 8

H AMO, GEN AMO, FLO, FOS, JOS CLO, FLO, LIN, NOR 8

I AMO, CLO, HAL, LIN, ST COL, DOX, ENR, TIA 10

J LIN+ESP AMO, COL, FLO BZN, COL, DOX, TIA, TIL 9

K AMO, GEN AMO, COL, DOX, JOS, TIA AMO, DOX, ENR, FLO, NOR 9

L LIN+ESP AMO 3

M CEF AMO, COL, DOX, FLO, TIA DOX, ENR, TIA 7

N AMO, TIA 2

O AMO, COL DOX, FLO, TIA 5

P AMO, TIA DOX, FLO, LIN, TIA, TIL 6

Q AMO AMO, FLO, TIA DOX, ENR, FLO, TIA 5

R AMO, GEN AMO, COL, LIN+ESP, TIA, TILM DOX, ENR, FLO, TIA, TILM 10

S CEF AMO, COL, FLO, LIN AMO, DOX, ENR, TIA 8

T CEF AMO, DOX, JOS, TIA AMO, DOX, FLO, TIA 6

U AMO, GEN AMO, COL, TIA DOX, TIA, TIL 6

V CEF AMO, COL, DOX, LIN+ESP, TIA AMO, FLO, LIN, TIA 8

W CEF AMO, DOX, FLO, NOR, NEO, TIA AMO, DOX, ENR, FLO, NOR, TIA, TIL 9

X AMO, GEN, LIN AMO, TIA 4

Y CEF, TUL AMO, COL, NOR, NEO, TIA BZN, COL, DOX, FLO, TIA, TIL 11

FREQUÊNCIA % 72 (18/25) 96 (24/25) 96 (24/25) MÉDIA ATIVOS : 7

Quadro 4: Distribuição dos princípios ativos utilizados nas diferentes fases do sistema de produção.

Legenda: AMO=amoxicilina, AVI=avilamicina, BMD=bacitracina metileno-disalicilato, BZN=bacitracina de zinco, COL=colistina, CEF=ceftiofur, CLO=clortetraciclina, DOX=doxiciclina, ENR=enramicina, ESP= espectinomicina, FLA=flavomicina, FLO=florfenicol, FOS=fosfomicina, GEN=gentamicina, HAL=halquinol, JOS=josamicina, LIN=lincomicina, NOR=norfloxacina, NEO=neomicina, OXI=oxitetraciclina, ST=sulfa+trimetoprim, TIA=tiamulina, TIL=tilosina, TILM=tilmicosina, TUL=tulatromicina

Dos princípios ativos utilizados preventivamente na maternidade, ceftiofur foi o mais

frequente (40,0%), sendo seguido pela amoxicilina (24,0%), gentamicina (16,0%),

associação lincomicina/ espectinomicina (8,0%), tulatromicina (8,0%) e bacitracina

metileno-disalicilato (4,0%).

Page 33: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

32

As doses máximas e mínimas de cada princípio ativo encontram-se no gráfico 6,

destacando-se o uso de elevadas doses de amoxicilina, bastante acima da dose

terapêutica recomendada (20 mg/ kg peso), da mesma forma o uso de 16,7 mg ceftiofur e

9,5 mg gentamicina.

Gráfico 6: Doses dos antimicrobianos utilizados preventivamente em leitões de maternidade (mg / kg de peso).

Na mensuração da frequência dos 23 princípios ativos utilizados no período de

creche-terminação destacam-se o extensivo uso de amoxicilina, tiamulina, doxiciclina,

florfenicol e colistina (gráfico 7).

Page 34: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

33

Gráfico 7: Frequência de utilização das diferentes classes de antimicrobianos na Creche-

Terminação (%)

Outro ponto de destaque são as doses máximas e mínimas (gráfico 8), bem como o

período de uso (gráfico 9) merecendo destaque princípios ativos como clortetraciclina,

colistina, lincomicina, associação lincomicina/ espectinomicina, oxitetraciclina, tiamulina e

tilosina, os quais tem sido utilizados como promotor de crescimento e com finalidade

terapêutica.

Page 35: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

34

Gráfico 8: Doses máximas e mínimas dos antimicrobianos utilizados nas fases de creche a terminação (mg/ kg de peso)

Page 36: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

35

Gráfico 9: Período em dias de uso dos antimicrobianos nas fases de creche a terminação (mg/ kg de peso vivo)

Page 37: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

36

O questionário epidemiológico de biossegurança aplicado no estudo contém 120

questões divididas em 16 áreas, as quais abordam a susceptibilidade das granjas aos

riscos externos, risco de introdução de agentes exóticos ao sistema, mas também riscos

internos, risco de disseminação dos agentes já presentes na propriedade. Cada item foi

classificado juntamente com o gestor de cada granja como: “ADEQUADO”, implementado

e seguido de forma apropriada; “NECESSITANDO AJUSTES”, implementado, mas

exigindo correções; “INADEQUADO”, ou seja, ainda não implementado.

A análise detalhada dos pontos elencados no questionário evidencia oportunidades

significativas de implementação, aprimoramento e melhora nos diferentes aspectos

envolvidos na biossegurança dos sistemas de produção, conforme representado nos

gráficos 10 e 11.

Page 38: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

37

Gráfico 10: Aspectos de biossegurança inadequados ou com necessidade de ajustes (%) – Parte 1

Page 39: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

38

Gráfico 11: Aspectos de biossegurança inadequados ou com necessidade de ajustes (%) – Parte 2

Page 40: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

39

A análise estatística entre os parâmetros de uso de antimicrobianos (mg ATB/ kg de

peso) e pontuação de biossegurança não apresentou correlação significativa, conforme

demonstrado no gráfico 12.

Gráfico 12: Análise estatística de correlação entre uso de antimicrobianos e biossegurança

Da mesma forma, não houve correlação significativa entre o uso de antimicrobianos e o

nível de produtividade das granjas pesquisadas (gráfico 13), nem mesmo uma interação

significativa entre biossegurança e produtividade (gráfico 14).

Page 41: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

40

Gráfico 13: Análise estatística de correlação entre uso de antimicrobianos e produtividade

Gráfico 14: Análise estatística de correlação entre biossegurança e produtividade

A mesma análise estatística entre os parâmetros de uso de antimicrobianos, nível

de biossegurança e produtividade frente à individualização das granjas por características

dos sítios, ciclo completo (sítio único) e UPL+Terminação (produção em dois sítios), ou

status para Mycoplasma hyopneumoniae (granjas positivas e negativas) não apresentou

nenhuma correlação significativa.

Page 42: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

41

Na comparação das médias do uso de antimicrobianos de acordo com o sistema de

produção, obteve-se 429 mg ATB/ kg suíno produzido em sítio único (Ciclo Completo)

versus 318 mg em sistemas de dois sítios (UPL+Terminação). Apesar da diferença

numérica, não houve diferença estatística significativa (gráfico 15).

A mesma comparação na utilização de antimicrobianos foi realizada de acordo com

o status dos sistemas para Mycoplasma hyopneumoniae, importante bactéria envolvida

como agente primário no Complexo das Doenças Respiratórias dos Suínos e as granjas

negativas para este agente apresentaram menor utilização de antimicrobianos (222 mg

ATB/ kg suíno produzido) quando comparado aos sistemas positivos (392 mg ATB/ kg

suíno produzido), porém sem diferença estatística significativa, representada no gráfico 16.

Gráfico 15: Comparação das médias de uso preventivo de antimicrobianos (mg ATB/ kg suíno produzido) – Ciclo Completo vs. UPL+Terminação.

*a, b: médias com letras iguais não diferem estatisticamente entre si

a

P<0,05

a

Page 43: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

42

Gráfico 16: Comparação das médias de uso preventivo de antimicrobianos (mg ATB/ kg suíno produzido) – Status Positivo vs. Negativo Mycoplasma hyopneumoniae

O score médio de biossegurança obtido nos sistemas de produção em “Ciclo

Completo” foi 645, enquanto os sistemas “UPL+Terminação” apresentaram score 742, no

entanto a comparação das médias não apresentou diferença estatística significativa, ao

nível de significância de 5,0% (gráfico 17). Também não houve diferença estatística

significativa na comparação dos score médios de biossegurança nos sistemas positivos

(675 pontos) e negativos (838 pontos) para Mycoplasma hyopneumoniae (gráfico 18).

Gráfico 17: Comparação das médias de biossegurança (score) – Ciclo Completo vs. UPL+Terminação

a

P<0,05

a

a

P<0,05

a

Page 44: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

43

Gráfico 18: Comparação das médias de biossegurança (score) – Status Positivo vs. Negativo Mycoplasma hyopneumoniae

As médias de produtividade avaliada em kg suínos produzidos/ matriz/ ano não

apresentaram diferença estatística significativa ao nível de significância de 5,0%, seja na

comparação relativa aos sistemas de produção (2693,5 no Ciclo Completo vs. 2941,1 nas

UPLs+Term.), seja quanto ao status para Mycoplasma hyopneumoniae (2782,6 nos

sistemas positivos vs. 3129,4 nos sistemas negativos) e encontram-se representadas nos

gráficos 19 e 20.

a

a

P<0,05

Page 45: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

44

Gráfico 19: Comparação das médias de produtividade (kg suíno produzido/ matriz/ ano) – Ciclo Completo vs. UPL+Terminação

Gráfico 20: Comparação das médias de produtividade (kg suíno produzido/ matriz/ ano) – Status Positivo vs. Negativo Mycoplasma hyopneumoniae

a

a

a

a

P<0,05

P<0,05

Page 46: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

45

5 DISCUSSÃO

Antimicrobianos têm sido utilizados por mais de 60 anos em todos os estágios da

produção de suínos (JUKES et al., 1950), apresentando relação direta com a intensificação

dos sistemas de produção (MACDONALD & MCBRIDE, 2009). Uma estimativa do

consumo global de antimicrobianos (ATB) em 2014 revelou o consumo médio de 45 mg

ATB/ kg bovino, 148 mg ATB/ kg frango e 172 mg ATB/ kg suíno produzido (VAN

BOECKEL et al, 2015).

O presente estudo realizou levantamento similar revelando consumo médio de 358,0

mg ATB/ kg animal produzido, valor bastante superior ao obtido por VAN BOECKEL et al.

(2015), denotando, de modo geral, o uso excessivo de antimicrobianos em nossos

sistemas de produção. Relatórios Canadense e Europeu do sistema de vigilância de

resistência à antimicrobianos apresentaram o uso de antimicrobianos nas diferentes

espécies animais representado na Figura 2. De acordo com os dados obtidos neste estudo

os sistemas de produção Brasileiros estariam na segunda colocação, atrás apenas de

Chipre.

Segundo Viola & Devincent (2006), quatro são as principais razões de uso dos

antimicrobianos: (1) terapêutico, no tratamento de enfermidades, (2) profilático visando

prevenção doenças específicas em determinados estágios da produção, (3) metafilático,

no tratamento de grande quantidade de animais, quando a doença é observada em uma

parcela significativa do rebanho, e como (4) promotor de crescimento visando melhora no

ganho de peso e eficiência alimentar através do fornecimento de doses sub-terapêuticas

dos antimicrobianos, principalmente via ração.

Page 47: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

46

Figura 2 - Comparação do consumo de antimicrobianos na população animal (mg ATB /

kg) em diferentes países no ano de 2013.

Fonte: https://www.canada.ca/en/public-health/services/publications/drugs-health-products/canadian-antimicrobial-resistance-surveillance-system-report-2016.html

O elevado uso de antimicrobianos em diferentes dosagens associado à extensa

exposição dos animais aos mesmos (66,3% da vida dos animais, em média) nos diferentes

estágios de produção de nossos sistemas (72,0% das maternidades e 96,0% das creches

e terminações), denota uma ampla utilização de diferentes princípios ativos como

profiláticos e/ou promotores de crescimento, situação bastante favorável ao

desenvolvimento de resistência aos antimicrobianos (SWANN et al., 1969; FRYE et al.,

2011; MARSHALL & LEVY, 2011). Estes achados são similares aos levantamentos

americanos e canadenses, onde mais de 90,0% dos animais nas fases de creche e recria-

terminação são expostos à antimicrobianos (UNITED STATES DEPARTMENT OF

AGRICULTURE, 2007; DECKERT et al., 2010).

Page 48: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

47

A utilização preventiva de princípios ativos de amplo espectro como ceftiofur, já na

fase de maternidade, impacta negativamente a microbiota intestinal favorecendo o

desenvolvimento de resistência bacteriana através de uma maior eliminação de estirpes

resistentes às cefalosporinas de amplo espectro, conforme descrito por FLEURY M. A. e

colaboradores (2015), condição esta de importância também em saúde pública.

Culturalmente, a busca por máxima eficiência produtiva em nossos sistemas

promove a utilização profilática excessiva de princípios ativos, inclusive alguns de amplo

espectro como o citado, muitas vezes desconsiderando a realização de diagnóstico

laboratorial como medida auxiliar na tomada de decisões relativas ao uso de

antimicrobianos. O uso médio de 07 princípios ativos diferentes de forma preventiva,

chegando ao extremo de 11 reforça esta questão cultural, a qual é muitas vezes fomentada

por técnicos e produtores. A implementação de diretrizes para o uso prudente de

antimicrobianos em medicina veterinária na Alemanha registrou após 2 anos, uma redução

significativa de 73,0% no consumo dos mesmos, bem como redução de 31,6 para 13,6

dias no período de tratamento (UNGEMACH et al., 2006). Da mesma forma na Holanda, a

colaboração intensiva entre governantes, veterinários e produtores, associada a ações

compulsórias e voluntárias com objetivos bem definidos reduziu em 56,0% o uso de

antimicrobianos na produção animal entre 2007 e 2012 (SPEKSNIJDER et al., 2013).

Outro fator importante na extensa utilização preventiva de antimicrobianos em

nossos sistemas é a negligência com manejos básicos, cuja mensuração foi realizada

através da aplicação do questionário epidemiológico de biossegurança.

A ausência de correlação estatística significativa entre a utilização de

antimicrobianos e o nível de biossegurança encontrado no estudo é justificada pelo método

utilizado, com amplo questionário epidemiológico, mas impossibilidade de análise

estatística individualizada dos riscos internos e externos, haja vista que comparação

Page 49: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

48

semelhante realizada por Laanen et al. (2013) utilizando sistema de análise de risco

“Biocheck” encontrou associação significativa com menor utilização de antimicrobianos em

granjas apresentando menores riscos internos, enquanto Postma et al. (2016) também

utilizando “Biocheck” encontrou a mesma associação somente em granjas com menores

riscos externos.

A avaliação individualizada dos riscos externos presentes no questionário

epidemiológico aplicado revela várias oportunidades de melhora, considerando que 56,0%

das granjas não possuem ou não manejam seus quarentenários de forma adequada, pelo

menos 60,0% não promovem controle adequado de pragas, 76,0% não promovem

tratamento adequado da água destinada à dessedentação dos animais, 80,0% das

propriedades negligenciam riscos sanitários relativos ao transporte de animais, entre

outros.

A mesma análise individualizada dos riscos internos denota negligência nos

programas de limpeza e desinfecção em pelo menos 40,0% dos sistemas avaliados,

utilização inadequada das instalações, não sendo adotado o sistema “todos-dentro/ todos-

fora” por 64,0% das propriedades, bem como não sendo respeitado o vazio sanitário em

72,0% dos casos.

A negligência na adoção de medidas que minimizem os riscos externos e internos

dos sistemas de produção tende a médio e longo prazo aumentar as enfermidades

presentes, promover uma maior pressão de infecção ambiental, aumentando por fim a

utilização preventiva de antimicrobianos (RIBBENS et al., 2008).

A ausência de correlação entre produtividade e as outras duas variáveis, uso

preventivo de antimicrobianos e nível de biossegurança, é explicada pelo fato da

produtividade estar associada a diferentes fatores, como genética dos animais, número de

Page 50: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

49

leitões nascidos, desmamados e vendidos em cada sistema, aspectos nutricionais com

interferência direta no ganho de peso, idade e peso de abate.

A não correlação entre produtividade e o uso preventivo de antimicrobianos indica

também a ausência de impacto negativo na produção com o reduzido uso destes ativos,

quando outros parâmetros são atendidos, como sanidade adequada do rebanho de

origem, ambiência, manejo e nutrição apropriadas, situação confirmada pela granja “L” do

estudo, a qual apresentou maior produtividade e menor uso de antimicrobianos, bem como

por dados dinamarqueses e holandeses, segundo os quais não houve impacto no

desempenho após o banimento dos antimicrobianos como promotores de crescimento

(WEGENER, H. C., 2003).

Na comparação das médias identificou-se menor utilização de antimicrobianos nos

sistemas de produção em dois sítios, UPL + Terminações (429,0 mg), em relação aos

sistemas de sítio único, Ciclo Completo (318,0 mg), o que é esperado, em função da

menor pressão de infecção presente nos sistemas de dois sítios, no entanto, não houve

diferença estatística significativa em decorrência do elevado uso dos antimicrobianos como

promotores de crescimento e/ou ação profilática.

A menor utilização de antimicrobianos também foi identificada nos sistemas

negativos para Mycoplasma hyopneumoniae (222,0 mg), em relação aos sistemas

positivos (392,0 mg), porém esta diferença não foi estatisticamente significativa, dada a

elevada amplitude encontrada nos sistemas negativos, variando de 5,4 até 521,4 mg, o

que é explicado pela positividade para outros agentes patogênicos importantes, sejam eles

bacterianos como Haemophilus parasuis, Lawsonia intracellularis, ou mesmo virais, como

Influenza.

Page 51: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

50

Todos os sistemas positivos para Mycoplasma hyopneumoniae fazem uso de vacina

contra este agente, além do fato de todas as granjas avaliadas também utilizarem vacina

contra infecção pelo PCV-2, importante agente imunossupressor dos suínos. Entende-se

que as vacinas são importantes na redução de excreção bacteriana e viral, redução na

incidência e sintomatologia clínica das enfermidades, porém isoladamente não são

capazes de reduzir a utilização de antimicrobianos (KRUSE et al., 2017), sendo outras

práticas de manejo tão importantes quanto esta, para a obtenção deste alvo.

A mensuração das práticas preventivas de manejo através do “check-list” de

biossegurança não apresentou diferença estatística significativa na comparação das

médias de score entre os sistemas de produção de sítio único (645) e dois sítios (742),

nem mesmo entre as granjas positivas (675) e negativas (838) para Mycoplasma

hyopneumoniae, situação explicada pelo aspecto cultural de negligência às questões

relativas à biossegurança de uma parcela significativa do setor produtivo, haja vista a

ausência total de auditoria dos sistemas, bem como à identificação de grandes

oportunidades de melhoria dos programas de biossegurança das granjas pesquisadas.

Os sistemas de produção de 2 sítios apresentaram produtividade superior aos de

sítio único, 2941,1 kg vs. 2693,5 kg respectivamente, no entanto a diferença não foi

estatisticamente significativa, dada a grande quantidade de fatores de interferência neste

parâmetro.

Apesar da diferença numérica encontrada na produtividade entre granjas positivas

(2782,6 kg) e negativas (3129,4 kg) para Mycoplasma hyopneumoniae, a mesma não

apresentou significância estatística, justificada pela presença de outros desafios sanitários

importantes nos sistemas.

Page 52: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

51

6 CONCLUSÃO

A utilização de antimicrobianos na produção de suínos apresenta-se excessiva

quando comparada a países de expressão no mesmo setor, decorrente principalmente da

utilização de diferentes princípios ativos como promotores de crescimento e/ou profiláticos

por longos períodos.

Apesar da ausência de correlação direta entre uso de antimicrobianos e

produtividade ou nível de biossegurança, significativas possibilidades de melhoria nestas

práticas foram identificadas em nossos sistemas de produção e sua adoção tende, em

médio e longo prazo, minimizar a utilização destes ativos.

O engajamento de todos os envolvidos no setor produtivo associado ao melhor

diagnóstico dos desafios sanitários, mudança cultural na prescrição de princípios ativos,

busca por aditivos alternativos promoverá o uso prudente dos antimicrobianos na produção

animal, minimizando riscos de resistência à estes ativos.

Page 53: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

52

CAPITULO II

Avaliação da Ocorrência de Staphylococcus aureus

Resistentes a Meticilina.

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53

1 REVISÃO DE LITERATURA

A introdução de agentes antimicrobianos em medicina clínica humana e veterinária

tem sido uma das realizações mais significativas do século XX. Os primeiros agentes

antimicrobianos foram introduzidos na década de 1930, e um grande número de novos

compostos foram descobertos nas décadas seguintes. Nos últimos 80 anos, os agentes

antimicrobianos literalmente mudaram a medicina e nossa maneira de viver. Tornaram

possível o tratamento de infecções anteriormente consideradas letais, e sem o uso

profilático de agentes antimicrobianos mesmo simples operações tais como cirurgias do

intestino ou remoção de dentes seriam impossíveis ou associadas a taxas de mortalidade

muito elevadas (NORRBY et al, 2005; AARESTRUP, 2015).

Logo após a introdução de agentes antimicrobianos, no entanto, a resistência

bacteriana começou a crescer e o surgimento de resistência foi geralmente seguido pela

introdução de novos compostos antimicrobianos. Tornou-se claro que a resistência aos

antimicrobianos representa uma ameaça para a continuação do uso dos mesmos em

medicina humana e veterinária (AARESTRUP, 2015).

A resistência tornou-se um problema crescente e a expectativa da vida útil (eficácia)

dos compostos antimicrobianos recentemente desenvolvidos gira em torno de 10 a 20

anos. O tempo gasto para desenvolvimento de novos ativos não tem acompanhado este

ritmo, portanto, estamos perante um enorme desafio para encontrar alternativa para o

combate de patógenos bacterianos ou encontrar maneiras de retardar o desenvolvimento

de resistência. A velocidade com que a resistência antimicrobiana emergiu, evoluiu e se

espalhou em todo o mundo tem sido sem comparação e mostra claramente a grande

capacidade adaptativa das bactérias. Estudos recentes têm demonstrado um enorme

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54

reservatório de potenciais genes de resistência de diferentes origens ambientais

(AARESTRUP, 2015).

As bactérias possuem vários mecanismos genéticos que podem facilitar a

disseminação de genes de resistência adquiridos, além disso, o mundo globalizado

forneceu maneiras eficazes para as bactérias e os genes de resistência se espalharem

rapidamente através do comércio de produtos alimentares, animais vivos e das viagens de

pessoas. No futuro, a globalização só irá aumentar, assim como o comércio e os contatos

internacionais. Ao lado dos inúmeros benefícios desta nova realidade, podem surgir sérios

problemas, portanto, o modo como iremos lidar com o controle da resistência

antimicrobiana em patógenos humanos, incluído os de origem animal, patógenos

veterinários e reservatórios não patogênicos terá importantes consequências para a saúde

pública no futuro (ALLEN et al, 2010; AARESTRUP, 2015).

Vários agentes bacterianos têm sido monitorados como marcadores de resistência a

antimicrobianos em animais de produção. Dentre os mais estudados nos últimos anos

destacam-se as estirpes de Staphylococcus aureus resistentes a meticilina, Enterococcus

faecalis e Enterococcus faecium resistentes à vancomicina e enterobactérias produtoras de

beta- lactamase extendida. Não foram identificados na literatura avaliada relatos de

isolamento de estirpes de Staphylococcus aureus resistentes a meticilina em criações de

suínos no Brasil e este agente foi escolhido para avaliação no presente estudo.

Com a introdução do uso de meticilina em 1959 imaginou-se que seria o fim dos

problemas terapêuticos associados as estirpes de S. aureus resistentes a penicilina.

Infelizmente, estirpes resistentes ao antimicrobiano (MRSA) foram descritas 2 anos após a

introdução desta droga semi-sintética. A aquisição de resistência a meticilina ocorre devido

a integração do cassete cromossomal mec (SCCmec) que contém o gene mecA que

confere resistência a beta-lactâmicos. A disseminação das primeiras estirpes MRSA foi

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55

limitada a poucos clones com distribuição geográfica limitada, em seguida a disseminação

do SCCmec levou ao surgimento de vários clones não relacionados geneticamente. Os

primeiros casos de resistência foram também limitados a hospitais e centros de saúde,

com surtos esporádicos envolvendo pessoas da comunidade que tiveram alguma

exposição prévia relacionada a área da saúde. No final da década de 1990, no entanto,

novos clones de MRSA surgiram na comunidade, causando infecções em indivíduos sem

exposição prévia a ambientes hospitalares ou outros fatores de risco (GUARDABASSI et

al, 2013).

A espécie S. aureus compreende múltiplas linhagens, sendo que cada linhagem

geralmente é associada a um grupo de hospedeiros (por exemplo: humanos, bovinos,

aves, suínos, felinos e etc). Apesar disso são descritos numerosos relatos de transmissão

cruzada do agente entre as diferentes espécies animais. Os primeiros relatos de animais

carreando estirpes de MRSA datam de 1972 em cães e bovinos de leite. No entanto, é

possível que estes primeiros isolamentos tenham sido consequência de contaminação dos

animais por estirpes de origem humana (GUARDABASSI et al, 2013).

A sequência tipo (ST) 398 foi a primeira realmente identificada como MRSA de

origem animal, sendo descrita com alta frequência em suínos, funcionários de granjas,

veterinários e suas famílias na Holanda em 2005. Desde então estirpes de MRSA ST 398

foram descritas com frequência crescente em suínos e outras espécies animais em vários

países da Europa e da América do Norte (GUARDABASSI et al, 2013).

Outras linhagens genéticas de MRSA foram identificadas em suínos na Itália (ST1,

ST9, ST97), Dinamarca (ST 433), Sudeste Asiático (ST9) e Canadá (ST5). A Linhagem

MRSA ST130 foi descrita carreando um novo determinante de resistência a meticilina

semelhante a mecA denominado mecC, esta linhagem foi associada a ruminantes e a

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56

raras descrições em humanos na Inglaterra, Dinamarca e Alemanha (GUARDABASSI et al,

2013).

2 OBJETIVOS

Avaliar a ocorrência de Staphylococcus aureus positivos para o gene codificador de

resistência a meticilina mecA nos diferentes sistemas de produção avaliados e

correlacionar sua ocorrência com os dados obtidos sobre o uso de antimicrobianos.

3 MATERIAL E MÉTODO

COLETA DE AMOSTRAS

Foram avaliados 30 suínos da fase de terminação em cada um dos 25 sistemas de

produção selecionados para o estudo e descritos no Capítulo I (Quadro 2)

De cada suíno foi coletado um suabe da cavidade nasal, sendo o mesmo

acondicionado em meio de transporte de Stuart e resfriado até o momento do

processamento.

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57

ISOLAMENTO BACTERIANO

Os suabes foram semeados em placas de Baird Parker (Difco-BBL). As placas

foram incubadas por 24h a 37º C e avaliadas quanto ao crescimento de colônias de

coloração enegrecida.

IDENTIFICAÇÃO DO AGENTE

As colônias com coloração sugestiva de Staphylococcus spp. foram semeadas em

caldo BHI (Brain Heart Infusion -Difco) incubado a 37ºC por 24 horas. Uma alíquota desse

cultivo foi centrifugada a 5.000 rpm por 5 min. O sobrenadante foi descartado; o pélete

recebeu 300 µl de água ultrapura e 900 µl de etanol, foi agitado e em seguida os tubos

foram centrifugados a 13.000xg por 2 minutos. Após descarte do sobrenadante, os

sedimentos foram secos em temperatura ambiente. Aos sedimentos, foram adicionados 50

µl de ácido fórmico (70%) e 50 µl de acetonitrila (100%). A mistura foi novamente

centrifugada a 13.000xg por 2 minutos e o sobrenadante foi transferido a um microtubo

novo e armazenado a -20°C.

Para leitura pelo MALDI-TOF MS foi utilizado o espectrofotômetro de massa

Microflex™ (Bruker Daltonik) da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo - CETESB,

com o auxílio técnico da Dra. Maria Inês Zanoli Sato e sua equipe. Para leitura, 1 uL de

suspensão proteica foi transferido para a placa de aço inox de 96 poços. Após secagem

em temperatura ambiente, foi adicionado sobre a amostra 1 uL da matrix (ácido α-ciano-4-

hidróxido-cinamico). Cada estirpe foi distribuída em dois poços (duplicata) e para cada

placa foram realizadas duas leituras. Para captura dos espectros proteicos foi utilizado o

programa FlexControl™ (Bruker Daltonik) pelo método MTB_autoX. O espectrofotômetro

Page 59: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

58

foi externamente calibrado com a utilização de proteínas ribossômicas de Escherichia coli

(BTS - Bruker Daltonik).

Para a identificação bacteriana pelo espectro proteico foi utilizado o programa

BioTyper™ (MALDI Biotyper CA Systems) 3.0 (Bruker Daltonik) a partir do qual foi

realizada uma comparação dos espectros capturados para cada estirpe com a biblioteca

do fabricante. Desta comparação de presença/ausência de picos específicos por gênero e

espécie bacteriana, obteve-se um valor de escore (log (score) value). Os critérios para

interpretação dos padrões da fabricante Bruker Daltonik foram utilizados neste estudo

como segue: escores ≥ 2.0 foram aceitos para atribuição de espécie, e escores ≥ 1.7 e <

2.0 foram utilizados para identificação de gênero.

EXTRAÇÃO DE DNA

As amostras previamente identificadas como S. aureus foram submetidas à extração

do DNA genômico segundo descrito por Boom et al. (1990). As amostras de DNA foram

armazenadas a -20oC.

REAÇÃO EM CADEIA PELA POLIMERASE

As estirpes identificadas como S. aureus pelo MALDI-TOF foram caracterizadas

pela PCR conforme descrito no quadro 5 quanto a presença do gene codificador de

resistência a meticilina (mecA), gene codificador de resistência a oxido de zinco e cadmio

(czrC), gene da termonuclease (nuc) específico para identificação de S. aureus, região

genética relacionada ao ST398.

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59

Como controle positivo para a reação proposta foram utilizadas as estirpes de S.

epidermidis ATCC 1228 (czrC+), S, aureus SA7112 (nuc, mecA e ST398+).

A reação foi padronizada na forma de multiplex utilizando-se 5 µL do DNA

bacteriano, 1.5 mM de MgCl2, 10 a 50 pmoles de cada iniciador, 1.0 U de Taq DNA

polimerase (Fermentas Inc), 200 M de cada deoxiribonucleotídeo trifosfato,1 X tampão de

PCR e água até o volume final de 50 µL. Foi utilizado um termociclador (Bio-Rad

Laboratories) programado para um ciclo a 95oC por 15 minutos, 35 ciclos de 950 C por 1

minuto, 56oC por 1 minuto, 72oC por 1 minuto e um ciclo final de 72o por 5 minutos.

A detecção dos produtos de amplificação foi realizada através da eletroforese em

gel de agarose 1,5%, utilizando-se tampão TBE 0,5X (Tris-base 45 mM, ácido bórico 45

mM e EDTA 1 mM, pH 8), com corrida de 110V por 40 minutos. Os fragmentos foram

visualizados em sistema de fotodocumentação Gel Doc XR System (Bio-RadLaboratories),

sendo os mesmos corados com BlueGreen™ (LGC Biotecnologia) e comparados ao

marcador 100 pb DNA Ladder™ (New England BioLabs Inc).

Quadro 5- Descrição dos primers e produtos amplificados utilizados para caracterização das estirpes de S. aureus.

Alvo Primer Sequencia Produto Referência

Gene mecA

mecA264-F GGTGAAGTAGAAATGACTGAACGT 264 pb Panda et al, 2014

mecA264-R CAATATGTATGCTTTGGTCTTTCTGC

S. aureus auNuc-F TCGCTTGCTATGATTGTGG

349 pb Sazaki et al, 2010 auNuc-R GCCAATGTTCTACCATAGC

Gene czrC czrC-F TAGCCACGATCATAGTCATG

655 pb Cavaco et al, 2010 czrC-R ATCCTTGTTTTCCTTAGTGACTT

ST398 SA_C01-F CATTCATCACACGTATATTC

140 pb van Wamel et al, 2010

SA-C01-R GGTGATTATTCATGGTTAAG

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60

4 RESULTADOS

Dentre os sistemas de produção pesquisados 80,0% foram positivos para presença

de animais carreando Staphylococcus aures resistente à meticilina (MRSA), confirmada

através do isolamento de S. aureus a partir de suabes nasais e detecção de estirpes

positivas para o gene mecA. O número de animais positivos para MRSA variou de um até

28 por granja. Do total de 750 animais avaliados, 260 foram positivos para isolamento de

MRSA, denotando uma frequência média de 34,6% de animais positivos. A frequência de

animais positivos em cada um dos sistemas encontra-se representada no gráfico 21.

Gráfico 21: Frequência de ocorrência (%) de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA)

encontrada em cada um dos sistemas de produção.

A pesquisa de genes de resistência ao óxido de zinco e cádmio (gene czrC),

apresentou frequência de 60,0% de granjas positivas. A identificação de estirpes MRSA

associadas ao ST398, que é a sequência tipo (ST) mais descrita em estirpes de MRSA

oriundas dos animais de produção (LA-MRSA: “livestock associated”) foi possível em

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61

68,0% dos rebanhos. A frequência de animais carreando estirpes positivas para o gene

czrC e do ST398 em cada um dos sistemas de produção encontra-se representada no

gráfico 22.

Gráfico 22: Frequência (%) de animais carreando estirpes MRSA positivas para o gene czrC e do

ST398 em cada um dos sistemas de produção diferentes genes pesquisados.

A prevalência de estirpes de Staphylococcus aures sensíveis à meticilina (MSSA)

também foi pesquisada, encontrando-se 52,0% dos sistemas de produção com animais

positivos, variando de um até 29 animais positivas. O sistema K foi o único rebanho

positivo apenas para isolamento de MSSA, enquanto os sistemas N, P, Q e V foram

negativos para isolamento de S. aureus, tanto MRSA, quanto MSSA.

A pesquisa de genes de resistência para óxido de zinco e cádmio (czrC) nas

estirpes MSSA apresentou uma frequência de positividade de 0,9% e esteve presente em

8,0% dos rebanhos, enquanto a frequência de animais carreando estirpes pertencentes ao

ST398 e sensíveis a meticilina (LA-MSSA) foi de 14,8% representando 40,0% dos

rebanhos. As frequências de animais positivos nos sistemas de produção para as estirpes

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62

MSSA (mecA-), MSSA-ST398 e MSSA positivas para o gene czrC encontram-se no gráfico

23.

Gráfico 23: Frequência de animais carreando estirpes de Staphylococcus aureus sensíveis à

meticilina MSSA positivas para o gene czrC e do ST398 em cada um dos sistemas de produção

diferentes genes pesquisados.

Correlação entre o uso de antimicrobianos em mg dos diferentes princípios ativos /

kg suíno produzido e a positividade para MRSA (número de amostras positivas) foi

pesquisada em cada um dos sistemas de produção apresentando-se não significativa, haja

vista a grande dispersão dos dados e o baixo coeficiente de determinação (R2=0,0195)

representado no gráfico 24.

Pesquisou-se a correlação entre positividade para MRSA e score de biossegurança

nos sistemas de produção avaliados, variando de 0 até 1200, sendo mais seguro o

sistema, quanto maior o score. Da mesma forma, não houve correlação significativa entre

estes parâmetros, com os dados apresentando-se bastante dispersos e um baixo

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63

coeficiente de determinação (R2=0,0344), os quais se encontram representados no gráfico

25.

Gráfico 24: Análise estatística de correlação entre positividade para MRSA e uso de

antimicrobianos

Gráfico 25: Análise estatística de correlação entre positividade para MRSA e biossegurança

P-value: 0.50

P-value: 0.37

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64

A correlação entre produtividade mensurada através dos kg suíno produzido/ matriz/

ano em cada sistema de produção e a positividade para MRSA também foi pesquisada,

não se encontrando correlação significativa entre estes parâmetros, os quais se

apresentam representados no gráfico 26.

Gráfico 26: Análise estatística de correlação entre positividade para MRSA e produtividade

O quadro seguinte apresenta um comparativo no uso de antimicrobianos, tipo de

sistema de produção e status para Mycoplasma hyopneumoniae entre as granjas positivas

e negativas para MRSA.

Quadro 6: Informações comparativas entre granjas positivas e negativas para MRSA

Característica MRSA Positivas MRSA Negativas

Unidades de Produção 20 5 Uso Antimicrobianos: mg ATB / kg (mínimo, máximo, média)

5,4-585,6 (369,8) 27,6-573,4 (312,6)

Número de Princípios Ativos 3-11 2-9

Status Mycoplasma (Neg / Pos) 04 / 16 01 / 04

UPL / CC 14 / 06 02 / 03

P-value: 0.60

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65

O uso de antimicrobianos pelas granjas positivas e negativas para MRSA não

apresentou diferença estatística significativa, ao nível de significância de 5,0% (gráfico 27),

quando comparado através do teste não paramétrico U de Mann-Whitney, sendo este teste

aplicado, em função dos dados não apresentarem uma distribuição normal.

Gráfico 27: Comparação das médias de uso de antimicrobianos (mg ATB / kg suíno produzido –

Status Positivo vs. Negativo MRSA

A comparação das médias de amostras positivas para MRSA de acordo com o

sistema de produção, ou seja, granjas de sítio único (Ciclo Completo-CC) versus granjas

em 2 sítios (UPL+Terminação), com tendência deste último a diminuir a pressão de

infecção ambiental à diferentes patógenos, não apresentou diferença estatística através do

mesmo teste não paramétrico, ao nível de significância de 5,0%.

Comparando-se as amostras positivas para MRSA e sua relação com o status dos

sistemas para Mycoplasma hyopneumoniae, importante agente etiológico de enfermidades

respiratórias em suínos, também não se evidenciou diferença estatística através do mesmo

teste, ao nível de significância de 5,0%.

a a

P<0,05

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66

5 DISCUSSÃO

A frequência de 80,0% de sistemas de produção positivos para animais carreadores

de MRSA pode ser considerada bastante elevada, porém é similar a estudos realizados em

países com elevada concentração de suínos, como Alemanha, com 70,0% das granjas

apresentando-se positivas (KOCH et al., 2009) e Holanda, onde 67,0% das granjas de

reprodução e 71,0% das granjas de terminação foram positivas para este agente

(BROENS et al., 2011).

Do total de 750 suabes coletados, 26,3% apresentaram positividade para MRSA-

ST398, a qual é comumente denominada “livestock associated-LA”, dada sua elevada

prevalência na população de animais de produção, mas também para diferenciar das

estirpes adquiridas em ambientes hospitalares (“healthcare acquired-HA”) e circulantes na

população sadia (“community acquired-CA”) que geralmente são classificadas em outros

grupos de sequencia tipo ou complexos clonais.

As estirpes “healthcare acquired-HA” tem sido detectadas desde a década de 1960,

apresentando cassete cromossomal Sccmec I-III, são multirresistentes à diferentes classes

de antimicrobianos, sendo bastante comuns nas infecções humanas nosocomiais, onde

fatores de risco como terapia antimicrobiana prolongada, cirurgias, tratamento em

unidades de terapia intensiva, proximidade com outros pacientes MRSA positivos tem

elevada importância na transmissão (KALLEN et al., 2010). Já as estirpes “community

acquired-CA”, as quais foram primeiramente descritas na Austrália na década de 1990,

apresentam cassete cromossomal Sccmec VI-V, podem acometer pessoas saudáveis sem

terem sido expostas a riscos associados a cuidados médicos, sendo fator de risco o

contato próximo entre humanos em centros esportivos, escolas, presídios, quartéis e

similares (GRAVELAND et al., 2011). No Brasil, estudos de dermatologia humana tem

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67

sugerido a revisão da medicação empírica para lesões de pele, dada à crescente

positividade para CA-MRSA (GELATTI et al., 2009).

As estirpes LA-MRSA-ST398 são amplamente disseminadas na população suína de

alguns países europeus, tendo sido primeiramente descritas na França (LEFEVRE et al.,

2005) e confirmada a presença massiva no rebanho suíno holandês desde 2003 (VAN

LOO et al., 2007). Em levantamento realizado em 4597 granjas suínas de 26 países do

continente europeu foram detectados 14,0% dos rebanhos multiplicadores e 26,9% das

granjas comerciais positivas para LA-MRSA-ST398, sendo que alguns países

apresentaram todos rebanhos negativos, caso da Suécia enquanto outros apresentaram

aproximadamente 50,0% dos rebanhos positivos, caso da Espanha e Itália, sendo 92,5%

dos isolados de MRSA caracterizados como ST398 (EUROPEAN FOOD SAFETY

AUTHORITY, 2009).

Baixas prevalências de LA-MRSA-ST398 têm sido descritas na América do Norte,

sendo descritas apenas 11,0% das granjas e 4,6% dos suínos de 45 granjas avaliadas

positivas estas estirpes no Canadá (WEESE et al, 2011), nos Estados Unidos são

descritas 9,0% das granjas e 4,6% dos suínos carreando o agente em 45 granjas (SMITH

et al., 2013).

Na Ásia, em estudo realizado em abatedouros chineses, foi observado 27,4% de

positividade para LA-MSSA-ST398 em suabes nasais de suínos e apenas 6,4% de

positividade para estirpes MRSA, sendo estas amostras pertencentes à linhagem genética

ST-9 (YAN et al., 2014).

A elevada frequência para LA-MRSA-ST398 nos rebanhos nacionais pesquisados

pode estar relacionada a ausência de práticas preventivas frente à este agente, práticas

higiênicas deficientes, as quais foram confirmadas pelo inquérito epidemiológico sobre

biossegurança, além da ocorrência em âmbito nacional, da importação de animais para

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68

reprodução, sem levar em conta o status dos mesmos como carreadores de estirpes

MRSA, condições ratificadas em diferentes pesquisas realizadas, principalmente no

continente europeu (LEONARD & MARKEY, 2008; EUROPEAN FOOD SAFETY

AUTHORITY, 2009; NATHAUS et al., 2010).

Dada a fácil disseminação das estirpes de S. aureus de um animal para outro no

mesmo ambiente após inoculação nasal com baixa dose (DOYLE et al., 2012), bem como

a transmissão aerógena, além do contato direto, a importância epidemiológica e clínica das

estirpes LA-MRSA-ST398 reside no fato das mesmas colonizarem outras espécies, como

cavalo, gado bovino, frango, animais de companhia e até mesmo o homem (SPRINGER et

al., 2009), podendo causar nesta última espécie, desde lesões leves de pele e tecidos

moles até mesmo casos letais de pneumonia necrotizante (RASIGADE et al., 2010).

Outro ponto importante a ser considerado na colonização das estirpes LA-MRSA-

ST398 em humanos é o elevado risco ocupacional de pessoas expostas à animais de

produção, principalmente suínos e bovinos, sendo este risco 12,2-19,7 vezes maior,

quando comparado à outras categorias de trabalhadores (VAN LOO et al., 2007), 6,0

vezes maior em semelhante trabalho norte-americano (WARDYN et al., 2015) e 7,4 vezes

maior conforme trabalho realizado na China com estirpes LA-MRSA-ST9 (YE et al., 2016).

Paralelo à esta situação, tem-se identificado baixa transmissibilidade das estirpes

ST-398 para familiares e pessoas de contato próximo com trabalhadores sofrendo risco

ocupacional, alcançando 4,0-9,0% na Alemanha (CUNY et al., 2013), bem como baixa

persistência na colonização. Com relação a este último aspecto, estudo realizado nos

Estados Unidos da América com estudantes visitando granjas suínas com positividade de

30,0% para a estirpe em questão, revelou 22,0% dos estudantes positivos após visitarem

os sistemas de produção, porém 100,0% apresentaram-se negativos para a mesma

estirpe, 24 horas após a visita (FRANA et al., 2013).

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69

Infecções por LA-MRSA-ST398 têm sido descritas na Holanda nos últimos anos,

mesmo em pessoas sem contato prévio com animais de produção, revelando a presença

de reservatórios fora dos sistemas de produção animal, bem como a ocorrência de um ou

mais subtipos desta estirpe circulando na população humana (VAN DER MEE-MARQUET

et al., 2011).

A pesquisa do gene czrC nas estirpes de S. aureus isoladas, revelou uma

frequência de 60,0% dos sistemas de produção com animais carreando este gene em

associação as estirpes MRSA e apenas 8% (2/25) apresentavam animais carreando

estirpes MSSA positivas para este gene. O gene czrC está associado a resistência a

metais como zinco e cadmio e a alta frequência do mesmo pode estar relacionada ao

elevado uso de óxido de zinco nas dietas dos animais. Considerando-se a frequência de

animais positivos para MRSA/ czrC+ foi observado 16% (120/750), o que representa 46%

dos animais positivos para MRSA (120/260). Já os animais carreando estirpes MSSA/

czrC+ foi bem inferior, representando 0,9% do total (7/750) e 5,9% dos animais

carreadores de MSSA (7/118). Nair et al, (2014) em estudo avaliando estirpes de S. aureus

proveniente de suínos e seres humanos observaram uma relação semelhante entre a

presença do gene czrC e a positividade para o gene mecA (MRSA). Os referidos autores

descrevem 50% das estirpes MRSA positivas para o gene czrC e apenas 6,6% das

estirpes MSSA positivas para o mesmo gene. O gene czrC tem sido descrito com

localização no cassete cromossomal (SSC)mec próximo ao gene mecA em estirpes do

complexo clonal 398 (LA-MRSA).

No presente estudo não foi realizado um levantamento detalhado na quantidade de

oxido de zinco utilizada, no entanto, é sabido que todos os sistemas avaliados utilizam este

aditivo, principalmente no período pós-desmame, como medida auxiliar no controle do

Page 71: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

70

desafio entérico, em níveis superiores à 2000 ppm, sendo este um importante fator de risco

na seleção de estirpes positivas para este gene (SLIFIERZ et al., 2015).

O presente trabalho revelou também uma prevalência média de 52,0% dos sistemas

de produção apresentando estirpes de Staphylococcus aureus sensíveis à meticilina

(MSSA), 40,0% apresentando estirpes LA-MSSA-ST398, ou seja, de origem animal e

apenas 8,0% apresentando estirpes MSSA-czrC+. A importância da colonização por

estirpes LA-MSSA-ST398 reside no fato das estirpes LA-MRSA-ST398 facilmente

transmitirem genes de resistência entre si, bem como entre outras espécies de

Staphylococcus (ROBINSON & ELRIGHT, 2004). Há uma situação de risco eminente no

sistema de produção K, o qual apresentou elevada prevalência de estirpes LA-MSSA-

ST398, sendo negativo para estirpes LA-MRSA-ST398, bem como dos sistemas E, G, J e

X, os quais apresentaram alta prevalência de estirpes LA-MSSA-ST398 e baixa

prevalência de estirpes LA-MRSA-ST398.

A pesquisa de correlação entre uso de antimicrobiano nas granjas, mensurado em

mg dos diferentes princípios ativos antimicrobianos / kg suíno produzido, e positividade

para estirpes MRSA não foi estatisticamente significativa, com as granjas MRSA positivas

apresentando em média 369,8 mg e as negativas 312,6 mg. Situação semelhante foi

evidenciada em diferentes experimentos, entre os quais rebanhos livres do uso de

antimicrobianos no Canadá apresentaram elevada prevalência para MRSA (WESSE et al.,

2011), enquanto granjas convencionais americanas com elevado uso de antimicrobianos

em sua rotina apresentaram baixa prevalência das mesmas estirpes (SMITH et al., 2013).

Apesar da ausência de correlação direta, os casos de sucesso de programas de

controle das infecções por MRSA adotado por hospitais europeus e asiáticos, nos quais o

uso prudente e restritivo de antimicrobianos, entre outras medidas, foi eficiente em reduzir

a pressão de seleção sobre estirpes MRSA, reduzindo consequentemente os casos de

Page 72: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

71

infecção por este agente, devem também ser considerados na produção animal (VAN

KNIPPENBERG-GORDEBEHE G., 2010; TATOKORO et al., 2013), principalmente se

considerarmos resultados de estudos de sequenciamento genômico realizados para

investigar evolução das estirpes ST398, os quais revelaram provável ancestral de origem

humana, além de revelar ocorrência de eventos múltiplos e independentes na aquisição de

resistência (Sccmec), implicando a pressão seletiva do uso de antimicrobianos na

produção animal como importante fator para o desenvolvimento da resistência às

diferentes classes de antimicrobianos, muitas delas amplamente utilizadas na produção

animal, como tetraciclinas, macrolídeos, lincosamidas, aminoglicosídeos e pleuromutillinas

(KADLEC et al., 2009; PRICE et al., 2012).

Levantamento econômico do programa de controle de infecção por MRSA adotado

há mais de 20 anos nos hospitais holandeses, no qual além do uso racional de

antimicrobianos, adota-se programa severo de limpeza e desinfecção e política “search

and destroy”, onde todos os funcionários e pacientes são testados para MRSA, isolados e

tratados caso sejam positivos, promoveu economia anual de mais de 200.000 euros em

um hospital, além da redução dos casos de morte (VAN RIJEN & KLUYTMANS, 2009).

A pesquisa de correlação entre positividade para MRSA e nível de biossegurança,

mensurado através de score variando de 0-1200, onde a granja apresenta maior proteção,

quanto maior o score, não foi estatisticamente significativa, apresentando baixo coeficiente

de correlação e determinação, o que é justificado pela ausência de qualquer controle na

detecção e introdução de animais positivos ou não para MRSA nos sistemas de produção.

O esforço sueco de manutenção dos rebanhos livres de MRSA através de limitações

das importações de animais, quarentena para material genético importado, sejam animais,

embriões ou sêmen, teste laboratorial para MRSA, sendo teste pareado durante a

quarentena com eliminação dos positivos, além de suabe das baias e adoção restrita do

Page 73: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

72

sistema “todos-dentro/todos-fora” nas terminações promove benefícios sociais e

econômicos, considerando o caráter ocupacional desta enfermidade e sua importância em

saúde pública (HÖJGARD et al., 2015).

Estratégias para proteger pessoas da exposição ocupacional aos suínos MRSA

positivos, como intensificação da higiene das mãos, banho antes e após contato com os

animais, troca de roupa, tratamento das feridas e machucaduras, limpeza e desinfecção da

área de banho e alimentação, entre outras ações de biossegurança foram estudadas e os

resultados apresentaram-se inconclusivos em pequeno estudo realizado nos EUA, mas

provavelmente efetivas, de acordo com os autores, se utilizadas corretamente em

experimentação de larga escala (LARSON et al., 2012).

A ausência de correlação encontrada entre positividade para estirpes MRSA e

produtividade mensurada em kg suíno produzido/ matriz/ ano se justifica pelo fato deste

agente ser carreado por animais saudáveis, muitos deles em idade de abate, sem causar

interferência negativa em parâmetros produtivos (YAN et al., 2014; MORCILLO et al.,

2015), porém não se pode desconsiderar as evidências do envolvimento das estirpes LA-

MRSA-ST398 em lesões de diferentes tecidos suínos, como pele, articulações, pulmões,

sistema nervoso, atuando muitas vezes como agente primário (MEEMKEN et al., 2009),

bem como a possível contaminação de alimentos de origem animal por animais

carreadores de estirpes MRSA no frigorífico (NORMANNO et al., 2015).

O presente trabalho não evidenciou diferenças estatisticamente significativas na

prevalência de estirpes MRSA de acordo com o sistema de produção, seja em sítio único

(Ciclo Completo), seja em 2 sítios, (UPL+Terminação), o que é justificado pela transmissão

do agente das matrizes para suas respectivas leitegadas no período de amamentação,

bem como entre leitões após o desmame (WEESE et al., 2011).

Page 74: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

73

6 CONCLUSÕES

A elevada frequência (80,0%) de sistemas de produção pesquisados positivos para

animais carreadores de Staphylococcus aureus resistente à meticilina (MRSA), sendo

68,0% dos rebanhos de positivo para estirpes de origem animal LA-MRSA-ST398 e 60,0%

positivo para estirpes LA-MRSA-ST398 czrC+ é significativa e relevante para toda cadeia

produtiva suinícola nacional.

Apesar da falta de correlação da positividade das estirpes MRSA com parâmetros

como uso de antimicrobianos nas granjas, nível de biossegurança e produtividade, dada

sua importância em saúde pública e seu caráter ocupacional, faz-se interessante promover

o uso racional de antimicrobianos na produção animal, implementar e revisar programas de

biossegurança, considerando a pesquisa deste agente na quarentena de material genético

para reprodução, importado ou não, bem como intensificar o monitoramento e pesquisa

deste agente, visando identificar variações nas estirpes LA-MRSA circulantes e

emergência de novos clones.

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85

ANEXOS

Page 87: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

86

Quadro 7- Formulário utilizado na coleta de dados sobre programas de medicação e vacinação.

Propriedade Programa Vacinal

Plantel (n⁰ matrizes)

Produtividade (kg produzidos / matriz / ano)

Uso de Antibióticos na Maternidade Idade Peso médio

Princípio Ativo

Dose (mg/kg)

Dose Diária

Dose Total

Classificação da Dose

Via de admin.

Finalidade Dias de exposição

Maternidade / Gestação

Leitões Leitões

Total (leitões)

Matrizes Matrizes

Total (matrizes)

Uso de Antibióticos na Creche

Idade Peso médio

Princípio Ativo

Dose (mg/kg)

Dose Diária

Dose Total

Classificação da Dose

Via de admin.

Finalidade Dias de exposição

Creche

Leitões

Total (leitões)

Uso de Antibióticos na Terminação

Idade Peso médio

Princípio Ativo

Dose (mg/kg)

Dose Diária

Dose Total

Classificação da Dose

Via de admin.

Finalidade Dias de exposição

Terminação

Leitões

Total (leitões)

Dados resultantes

Quantidade de princípios ativos

Total (dias de vida exposto à antimicrobianos)

Idade e peso médio de abate / GPD (kg) - média 3 m.

Quantidade de antimicrobiano consumida / animal (mg)

mg antimicrobiano / kg de suíno produzido

Page 88: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

87

Quadro 8- Formulário utilizado na coleta de dados sobre programas de biosseguridade e características de manejo do rebanho.

ASPECTO ADEQUADO PRECISA AJUSTES INADEQUADA COMENTÁRIO

EDUCAÇÃO 10 5 0

Presença de Programa de Bioseguridade

Presença de POP relacionado à Biossegurança

Realiza Auditoria do Programa de Biossegurança (frequência)

Treinamento dos empregados

CARACTERÍSTICAS DA PROPRIEDADE E LOCALIZAÇÃO

Proximidade de outra granja (< 3,0 km de distância)

Status sanitário das granjas mais próximas

Proximidade de abatedouro (< 3,0 km de distância)

Densidade de suínos (< 1000 animais; 1001-5000; >5000 animais)

Tráfego local (leve / médio / pesado)

Presença de outros animais ao redor da granja (criação, selvagem)

Presença de outros animais dentro da propriedade (cães, gatos)

Presença de "Cinturão Verde"

Presença e manutenção de cercas

Presença de placas de biossegurança

Política de entrada na propriedade (controle dos portões de entrada)

EMPREGADOS E VISITANTES

Livro de Visitas

Política de vazio sanitário (funcionários e visitantes)

Empregados autorizados à criar próprios animais

Política de banho para entrar e sair da granja

Limpeza e manutenção da área de banho

Áreas "limpa" e "suja" bem definidas

Page 89: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

88

Sistema Dinamarquês (sem banho, mas com troca de roupa, botas e limpeza das mãos)

Equipamentos / Utensílios pessoais são permitidos adentrar à granja

Roupas e botas são providenciadas

Carne suína de origem externa autorizada à entrar na granja

Contato ou contaminação cruzada entre motoristas e funcionários da granja durante carregamentos

ISOLAMENTO / QUARENTENA

Distância da Quarentena até os barracões da granja (>500 m)

Período de Quarentena (>28-30 dias)

Política de banho para entrar e sair da quarentena

Movimento de pessoas

Transporte dos animais (veículos dedicados)

Procedimentos de testes realizados nos animais

Testes sorológicos (ELISA)

Realização de PCR

Status de saúde dos animais de reposição

Origem dos animais de reposição (mais de uma origem)

Frequência da chegada dos animais de reposição à quarentena

Animais transportados em veículos dedicados

EQUIPAMENTOS / SUPLEMENTOS

Câmera de Desinfecção ou luz UV presente

Câmera de Desinfecção ou luz UV utilizada apropriadamente

Equipamentos / Suplementos compartilhados entre granjas

Frequência de entrega de suplementos

Entrega de suplementos segue status sanitário da pirâmide

Suplementos entregues em veículos dedicados

CONTROLE DE PRAGAS

Controle de Roedores

Porta-iscas presente à cada 15-20 metros

Porta-iscas utilizados apropriadamente

Page 90: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

89

Registro da reposição de iscas

Controle de insetos

Controle de pássaros (presença de telas nos barracões)

Silos mantidos com as tampas fechadas

Restos de ração limpos adequadamente

Manutenção da área ao redor dos barracões

Presença de água parada ao redor dos barracões

SEMEN

Produzido na mesma propriedade

Recebido de outra propriedade

Sêmen entregue pela técnica de duplo empacotamento

Frequência monitoria sanitária (quais enfermidades?)

ÁGUA

Fonte de água (poço, captação de ribeirão,...)

Armazenamento de água

Tratamento da água (uso de cloro, filtros,...)

Frequência de limpeza do sistema

Frequência da análise de água

AR

Granja utiliza filtros de ar (manejo dos filtros)

TRANSPORTE DE ANIMAIS

Motoristas recebem treinamento sobre biossegurança

Motoristas utilizam jaleco, botas e luvas limpas em cada transporte

Motoristas são permitidos criarem seus próprios animais (suínos)

Veículos têm sido limpos, lavados, desinfetados e secos apropriadamente

Utiliza detergente (produto, diluição,...)

Utiliza desinfetante (produto, diluição,...)

Veículos seguem política de vazio sanitário

Transporte respeita status sanitário dos sítios

Page 91: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

90

Registro dos transportes (rastreabilidade)

Coleta de suabe dos caminhões para avaliar processo de limpeza

Linhas de separação são respeitadas na área de carregamento

Áreas de carregamento são limpas e desinfetadas antes e após cada utilização

TRANSPORTE INTERNO (LEITOAS, ANIMAIS MORTOS)

Motoristas recebem treinamento sobre biossegurança

Registro dos transportes (rastreabilidade)

Veículos têm sido limpos, lavados, desinfetados e secos apropriadamente.

Conservação, armazenamento dos veículos.

TRANSPORTE DE RAÇÃO

Motoristas recebem treinamento sobre biossegurança

Motoristas são permitidos criarem seus próprios animais (suínos)

Entrega pelo lado de fora da cerca

Motorista utiliza botas plásticas

Aceita entrega de ração em sacos

Veículos dedicados

Veículos seguem política de vazio sanitário

Transporte respeita status sanitário dos sítios

Registro dos transportes (rastreabilidade)

Procedimento de limpeza e desinfecção

MANEJOS GERAIS

Limpeza e desinfecção de equipamentos utilizados no processamento dos leitões

Lava mãos entre leitegadas

Desinfecção de botas entre salas

Procedimento de limpeza e desinfecção – Maternidade

Procedimento de limpeza e desinfecção - Creche e Terminação

Respeita vazio sanitário entre lotes

Adota sistema "todos dentro-todos fora"

Frequência de troca de agulhas durante vacinação do rebanho

Page 92: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

91

Frequência de troca de agulhas durante medicação do rebanho

Frequência de troca de agulhas durante vacinação dos leitões

Frequência de troca de agulhas durante medicação dos leitões

Programa de vacinação

Controle de qualidade das vacinas

Armazenamento de produtos veterinários

Uso de medicamentos veterinários

Manutenção dos silos

Leitor de eletricidade (fora da cerca)

MANEJO DE ANIMAIS MORTOS

Frequência de retirada

Barracões possuem áreas específicas para remoção dos animais mortos e as áreas são devidamente limpas e desinfetadas

Equipamentos, utensílios, roupas utilizadas para remoção dos animais mortos retornam para sala

Equipamentos limpos e desinfetados à cada remoção de animais mortos

Empregados não entram na granja após recolher animais mortos

Sistema de descarte propriamente utilizado (compostagem / incineração…)

RETIRADA DE LIXO

Frequência

Localização da caçamba de lixo

MANEJO DE DEJETOS

Pessoa responsável recebe treinamento sobre biossegurança

Sistema utilizado apropriadamente

Fluxo da descarga

Presença de erosão

Distribuição dos dejetos (campo ou outro sistema)

TOTAL 0 0 0 0

Page 93: MAURÍCIO CABRAL DUTRA

92

Quadro 9 – Frequência de animais carreadores de estirpes positivas ou negativas para mecA, pertencentes ao ST398 e positivas para o gene czrC nos

diferentes sistemas de produção.

Granja +

MecA N % MecA N MecA/Czr N % MecA/ST398 N % MecA- N% MecA-

/Czr+N

% MecA-

/ST398+N

A DF 1 25 83,3 6 20 15 50 3 10 0 0 3 10 30

B PR 1 4 13,3 2 6,6 0 0 1 3,3 0 0 0 0 30

C MG 1 10 33,3 0 0 0 0 1 3,3 0 0 0 0 30

D MT 1 7 23,3 0 0 7 23,3 0 0 0 0 0 0 30

E RS 1 1 3,3 0 0 1 3,3 19 63,3 1 3,3 19 63,3 30

F GO 1 19 63,3 8 26,6 12 40 0 0 0 0 0 0 30

G SC 1 4 13,3 3 10 4 13,3 12 40 0 0 12 40 30

H ES 1 18 60 5 16,6 0 0 3 10 0 0 0 0 30

I SP 1 14 46,6 11 36,6 14 46,6 8 26,6 0 0 8 26,6 30

J MG 1 6 20 0 0 6 20 18 60 0 0 18 60 30

K SP 0 0 0 0 0 0 0 29 96,6 0 0 29 96,6 30

L SP 1 10 33,3 10 33,3 10 33,3 0 0 0 0 0 0 30

M DF 1 27 90 27 90 27 90 0 0 0 0 0 0 30

N RS 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 30

O SC 1 2 6,6 2 6,6 2 6,6 4 13,3 0 0 2 6,6 30

P MG 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 30

Q MG 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 30

R PR 1 2 6,6 0 0 2 6,6 0 0 0 0 0 0 30

S SP 1 1 3,3 1 3,3 1 3,3 0 0 0 0 0 0 30

T RS 1 26 86,6 16 53,3 18 60 0 0 0 0 0 0 30

U MG 1 26 86,6 15 50 26 86,6 2 6,6 0 0 2 6,6 30

V PR 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 30

W PR 1 22 73,3 3 10 22 73,3 0 0 0 0 0 0 30

X PR 1 8 26,6 6 20 8 26,6 17 56,6 6 20 17 56,6 30

Y MG 1 28 93,3 5 16,6 21 70 1 3,3 0 0 1 3,3 30

Estado

Animais

S. aureus MecA+

Animais

S. aureus MecA+/Czr+Granja

Animais

S. aureus MecA-

/ST398+

Total S. aureus MecA+/ST398+

Animais

S. aureus MecA-

Animais

S. aureus MecA-

/Czr+

Animais