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1 MATHESE SOPHIANICA LIÇÃO I - 4º sabado após a Paschoa [calendario juliano] DADIVA DA ECLESIALIDADE A ECLESIALIDADE 1 é o nome daquelle refugio onde se acalma toda a inquietude do coração, onde se acalmam as pretensões do entendimento 2 , onde um grande repouso desce sobre a razão. Pouco importa que nem eu, nem ninguém, tenha sido capaz no passado, nem no presente, nem tampouco no futuro, definir a essencia da eclesialidade! Que os que tentam faze-lo disputem entre si e se refutem mutualmente sua formula de eclesialidade! O fato mesmo de que seja indefinivel, imperceptivel em termos logicos, inexpressavel, já não demonstra que a eclesialidade é vida, uma vida especial, nova, outorgada como um dom aos homens, porém, como toda a vida, inacessivel ao entendimento? E as divergencias na definição da eclesialidade, a possibilidade das intenções diversas de determinar em palavras, apartir de ângulos diferentes, o que é a eclesialidade, esta varieadade de formulas imcompletas e sempre inadequadas pelo que se pretende descrever, não por porventura uma nova confirmação, desta vez pela experiencia, do que já nos havia dito o Apostolo, a saber, que a Igreja é o Corpo de Christo, “a Plenitude τπλήρωμα – do que enche tudo em todos” (Eph I,23). Muito bem, como poderia esta Plenitude, τπλήρωμα, ser depositada no estreito sepulcro da definição logica? Seria ridiculo pensar que esta impossibilidade testemunharia de algum modo contra a existencia da eclesialidade; pelo contrario, sua existencia é melhor fundamentada com esta impossibilidade. E mais, uma vez que a eclesialidade antecede as suas manifestações particulares, dado que constitue aquelle elemento divino-humano a partir do qual, por assim dizer, se condensa e cristaliza no transcorrer histórico da humanidade eclesial: o rito dos sacramentos, a formulação dos dogmas, os cânones, as regras de vida e incluvise, em parte, os costumes mutaveis e passageiros da vida cotidiana da Igreja, nesta mesma medida a profecia do Apostolo se refere de um modo preponderante a esta plenitude: “É necessario que se deem divergencias entre vós – δεγρ κααρέσεις ν μν εναι” (I Cho XI, 19), divergencias na compreensão da eclesialidade. E portanto, A MAIS ANTIGA SUPLICA A MÃE DE DEUS (250 AD) Ὑπὸ τὴν σὴν εὐσπλαγχνίαν, καταφεύγομεν, Θεοτόκε. Τὰς ἡμῶν ἱκεσίας, μὴ παρίδῃς ἐν περιστάσει ἀλλ᾽ ἐκ κινδύνων λύτρωσαι ἡμᾶς, μόνη Ἁγνή, μόνη εὐλογημένη. Sob o vosso bom coração, nos refugiamos, oh Mãe de Deus. Das nossas suplicas não fiqueis além, nas tribulações, mas dos perigos livrai-nos. Oh unica Immaculada, oh unica Bendita! ICONE DA SANTA SOPHIA

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MATHESE SOPHIANICA LIÇÃO I - 4º sabado após a Paschoa [calendario juliano]

DADIVA DA ECLESIALIDADE

A ECLESIALIDADE1 é o nome daquelle refugio onde se acalma toda a inquietude do coração, onde se acalmam as pretensões do entendimento2, onde um grande repouso desce sobre a razão. Pouco importa que nem eu, nem ninguém, tenha sido capaz no passado, nem no presente, nem tampouco no futuro, definir a essencia da eclesialidade! Que os que tentam faze-lo disputem entre si e se refutem mutualmente sua formula de eclesialidade! O fato mesmo de que seja indefinivel, imperceptivel em termos logicos, inexpressavel, já não demonstra que a eclesialidade é vida, uma vida especial, nova, outorgada como um dom aos homens, porém, como toda a vida, inacessivel ao entendimento? E as divergencias na definição da eclesialidade, a possibilidade das intenções diversas de determinar em palavras, apartir de ângulos diferentes, o que é a eclesialidade, esta varieadade de formulas imcompletas e sempre inadequadas pelo que se pretende descrever, não por porventura uma nova confirmação, desta vez pela experiencia, do que já nos havia dito o Apostolo, a saber, que a Igreja é o Corpo de Christo, “a Plenitude – τὸ πλήρωµα – do que enche tudo em todos” (Eph I,23). Muito bem, como poderia esta Plenitude, τὸ πλήρωµα, ser depositada no estreito sepulcro da definição logica? Seria ridiculo pensar que esta impossibilidade testemunharia de algum modo contra a existencia da eclesialidade; pelo contrario, sua existencia é melhor fundamentada com esta impossibilidade. E mais, uma vez que a eclesialidade antecede as suas manifestações particulares, dado que constitue aquelle elemento divino-humano a partir do qual, por assim dizer, se condensa e cristaliza no transcorrer histórico da

humanidade eclesial: o rito dos sacramentos, a formulação dos dogmas, os cânones, as regras de vida e incluvise, em parte, os costumes mutaveis e passageiros da vida cotidiana da Igreja, nesta mesma medida a profecia do Apostolo se refere de um modo preponderante a esta plenitude: “É necessario que se deem divergencias entre vós – δεῖ γὰρ καὶ αἱρέσεις ἐν ὑµῖν εἶναι” (I Cho XI, 19), divergencias na compreensão da eclesialidade. E portanto,

A MAIS ANTIGA SUPLICA A MÃE DE DEUS (250 AD) Ὑπὸ τὴν σὴν εὐσπλαγχνίαν,

καταφεύγοµεν, Θεοτόκε. Τὰς

ἡµῶν ἱκεσίας, µὴ παρίδῃς ἐν

περιστάσει ἀλλ᾽ ἐκ κινδύνων

λύτρωσαι ἡµᾶς, µόνη Ἁγνή, µόνη

εὐλογηµένη.

Sob o vosso bom coração, nos refugiamos, oh Mãe de Deus. Das nossas suplicas não fiqueis além, nas tribulações, mas dos perigos livrai-nos. Oh unica Immaculada, oh unica Bendita!

ICONE DA SANTA SOPHIA

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todo aquelle que não deixa a Igreja admite e percebe em si mesmo, por meio de sua propria vida, este elemento unitario da eclesialidade: sabe que existe a eclesialidade e em que consiste.

“a eclesialidade é vida, uma vida especial, nova, outorgada como um dom aos homens, porém, como toda a vida, inacessivel

ao entendimento” – Pavel Florensky [Martyr da Igreja]

A ECLESIALIDADE NO CATHOLICISMO E NO PROTESTANTISMO

Onde não há vida espiritual é necessario que algo exterior proporcione uma promessa de eclesialidade. Uma função determinada, o papado, ou um conjunto e um sistema de funções, a hierarchia: tal é o criterio da eclesialidade para o catholico. Uma determinada formula confessional, um symbolo, ou um sistema de formulas, o texto da escriptura: tal é o criterio de eclesialidade para o protestante. Ao fim das contas, tanto num caso como noutro o que decide é o concepto, um concepto juridico-eclesial para os catholicos e um concepto scientifico-eclesial para os Protestantes. Portanto, propondo-se como criterio supremo, o concepto torna deste modo desnecessária toda a manifestação da vida. Mais ainda: dado que qualquer vida é desproporcional ao concepto, todo o movimento da vida transborda inevitavelmente fora das fronteiras marcadas pelo concepto e por isso aparece ao concepto como algo nefasto e insuportavel. Para o catholicismo (entenda-se que tomo o catholicismo e o protestantismo em sua tendencia limite, em seu principio typico) toda a manifestação de vida independente implica em não ser canônica, enquanto que para o protestantismo em não ser scientifica. Num caso ou noutro a vida é estorvada pelo concepto, rejeitada previamente em nome da noção. Habitualmente nega-se que haja liberdade no catholicismo, enquanto que se atribui apressadamente liberdade ao protestantismo: ambas as opiniões são injustas. Tanto o catholicismo preve a liberdade, porém determinada previamente; assim tudo que está fora do limite é ilegitimo. Também o protestantismo admite a perda de liberdade, porém somente fora da via previamente traçada pelo racionalismo; tudo o que a margeia é desprovido de sciencia. Se é possivel observar no catholicismo o fanatismo da canonicidade, não é menor no protestantismo o fanatismo da sciencia.

“a orthodoxia se mostra, porém não se demonstra” – Pavel Florensky [Martyr da Igreja]

A ECLESIALIDADE NA ORTHODOXIA

O caracter indefinivel da eclesialidade orthodoxa, repito, é a melhor prova de sua vitalidade. Certamente, nós não podiamos indicar uma função eclesial que pudesse dizer que “resuma em si mesma a eclesialidade”; para que serviriam então as restantes funções e atividades da Igreja? Do mesmo modo, tampouco poderiamos indicar a formula ou o livro que pudessem responder pela plenitude da vida eclesial. Mais uma vez: se existisse esse livro ou essa formula que finalidade teria então todos os outros livros, as outra formulas, todas as restantes atividades da Igreja? Não existe o concepto de eclesialidade, senão a existencia della mesma, e para todo o membro vivo da Igreja a vida eclesial é a

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coisa mais real, determinada e tangivel que conheça. Contudo, apenas pode ser assimilada e conhecida vivendo-se della, não basta uma abstração nem o mero raciocínio do entendimento. Finalmente, se não há mais recursos senão dar-lhe alguma noção, as mais convenientes não seriam as juridicas, nem as archeologicas, mas as biologicas e estheticas. Que é, por fim, a eclesialidade? É a vida nova, a vida no Espirito. Qual é o criterio para julgar que esta vida é justa? A Belleza. Se há uma belleza espiritual inalcançavel às formulas logicas, também ella é o único caminho seguro para poder definir o que é orthodoxo e o que não é. Os conhecedores desta belleza são os conselheiros [staretzes], aquelles que receberam o dom da paternidade espiritual, os mestres da “arte das artes”, como os santos Padres chamavam a Ascese. Os conselheiros [staretzes] espirituais se exercitaram, por assim dizer, no discernimento da qualidade da vida espiritual. O gosto orthodoxo, a forma orthodoxa, podem ser percebidos por um sentido especial, e não mediante um calculo arithmetico; a orthodoxia se mostra, porém não se demonstra. Por isso, todo aquelle que deseje compreender a orthodoxia não dispõe mais que este meio: a experiencia orthodoxa direta. Dizem que no estrangeiro inventou-se um meios para aprender a nadar fora da agua; do mesmo é possivel fazer-se catholico ou protestante lendo livros, sem necessidade de entrar em contato com a vida, no próprio aposento. Mas vejam bem, para converter-se em orthodoxo deve-se mergulhar completamente no elemento mesmo da orthodoxia, deve-se começar a viver como orthodoxo; não existe outro caminho.

* Tradução parcial de Ao Leitor, em A Columna e o Fundamento da Verdade [Pavel Florensky]

ESPISTOLARIO DE PAVEL FLORENSKY

Agora comprehendo perfeitamente porque com esta escolha me afasto de todos, e porque antes, em certos momentos, me encontrava em desacordo comigo mesmo. Anteriormente me aproximava da Igreja de outra maneira, olhando-a objetivamente, "como um menino olha sua mãe quando se separa de seu organismo". E naquelles momentos via na Igreja milhares de defeitos, uma espessa crosta sob a qual, para mim, não havia mais que symbolos vazios de conteudo. Não sei de que maneira – interprete-os como queiras –, mas de algum modo, entrei, contra minha vontade, em uma relação subjetiva com o povo e ao mesmo tempo com a Igreja, que é amada pelo povo. De um momento a outro me encontrei inserido em todos os seus poros, e deixei fora os seus defeitos. Diante de mim se abriu a vida, uma vida que talvez lute por sua sobrevivencia e tem apenas uma pequena pulsação, mas que é, de qualquer modo, uma vida; foi-me revelado, sem nenhuma duvida,

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sua alma santa. Naquelle momento compreendi que nunca mais abandonaria aquelle lugar onde havia visto tudo isso; (...) Disse a mim mesmo: "nossa Igreja, ou é absolutamente um absurdo ou deve haver crescido a partir de uma semente santa. Eu encontrei essa semente, e agora vou fazê-la crescer, a levarei até os santos mysterios, não irei traí-la.... (...) Se sou culpado (...) por haver percebido, sob uma crosta de sujeira (que é talvez para mim ainda mais espessa que para os outros, porque me repugna), a vida e a santidade, se é um pecado amar o que é santo, então eu sou verdadeiramente culpado ante todos aquelles que não pensam como eu.

Tradução de Carta do 15-Jan-1905 a Andrei Belych [Pavel Florensky]

DOSTOIESVSKY: A IGREJA COMO MÃE

Todas essas deportações a trabalhos forçados, agravadas outrora por punições corporais, não emendam ninguém e, sobretudo, não atemorizam quase nenhum criminoso; o numero dos crimes não somente não diminui, mas só faz aumentar, à medida que se avança. Estarão nisto de acordo comigo. Resulta que dessa maneira não fica a sociedade de modo algum preservada, porque, muito

embora o membro nocivo seja mechanicamente cortado e mandado para longe, oculto à vista, outro criminoso surge em seu lugar, talvez mesmo dois. Se alguma coisa protege ainda a sociedade, mesmo em nossos dias, emenda o proprio criminoso e faz dele outro homem, é ainda unicamente a lei do Christo que se manifesta pela voz de sua propria consciencia. Somente depois de ter reconhecido sua falta como filho da sociedade do Christo, isto é, da Igreja, é que a reconhecerá diante da propria sociedade, isto é, diante da Igreja. Dessa maneira, é somente diante da Igreja que o criminoso contemporâneo é capaz de reconhecer sua falta e não diante do Estado. Se a justiça pertencesse à sociedade na qualidade de Igreja, saberia então a quem revogar da excomunhão, a quem admitir em seu seio. Agora, a Igreja, não tendo nenhuma justiça efetiva, mas somente a possibilidade de uma condenação moral, renuncia ella propria a castigar efetivamente o criminoso. Não o excomunga, cerca-o de sua edificação paternal. Mais ainda, esforça-se mesmo por conservar com o criminoso todas as relações entre a Igreja e o christão; admite-o aos oficios, à comunhão, faz-lhe caridade e trata-o mais como transviado do que como criminoso. E que seria do criminoso, Senhor, se a sociedade christã, ou seja, a Igreja, o rejeitasse como o rejeita e o exclui a lei civil? Que aconteceria, se a Igreja o excomungasse cada vez que o castiga a lei do Estado? Não poderia haver maior desespero, pelo menos para os criminosos russos, porque estes ainda tem fé. Ora, aliás, quem sabe, aconteceria talvez uma coisa terrivel — a perda da fé no coração ulcerado do criminoso, e, então, que haveria? Mas a Igreja, como uma mãe terna, renuncia ella mesma ao castigo efetivo, visto que sem isto o culpado já é demasiado duramente punido pelo tribunal secular e é preciso haver alguém que tenha compaixão dele. Renuncia a isso sobretudo porque a justiça da Igreja encerra em si unicamente a verdade e não pode juntar-se, por consequencia,

ICONE DA CIDADE SANTA

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essencial e moralmente, a nenhuma outra, mesmo sob a forma de compromisso provisorio. Aqui, é impossivel transigir.

“que seria do criminoso, Senhor, se a sociedade christã, ou seja, a Igreja, o rejeitasse como o rejeita e o exclui a lei civil?” – Fiodor

Dostoievsky O criminoso estrangeiro, dizem, arrepende-se raramente, porque as doutrinas

contemporâneas o confirmam na idea de que seu crime não é um crime, mas somente uma revolta contra a força que o oprime injustamente. A sociedade o afasta de si mesma por meio de uma força que triunfa dele totalmente de maneira mechanica e acompanha essa exclusão de odio (é assim, pelo menos, que se conta na Europa) — de odio, de uma indiferença e dum esque-cimento completos a respeito do destino ulterior desse homem, do ponto de vista fraternal. Dessa maneira, tudo se passa sem que a Igreja testemunhe a menor compaixão, porque em numerosos casos não há mais Igreja lá, não subsistem senão eclesiasticos e edificios magnificos, esforçando-se as proprias Igrejas desde muito tempo por passar do tipo inferior, como Igreja, ao tipo superior, como Estado. É assim pelo menos, parece, nos paises luteranos. Em Roma, há já mil anos que em

lugar da Igreja proclamou-se o Estado. Assim o proprio criminoso não se reconhece membro da Igreja e, excomungado, cai no desespero. Se volta para a sociedade, é frequentemente com tal odio que a propria sociedade o exclui espontaneamente de seu seio. Podeis julgar como isso acaba. Em numerosos casos, parece que o mesmo ocorre entre nós; mas o facto é que, de parte os tribunais estabelecidos, temos além disso a Igreja, que não perde jamais o contato com o criminoso, que é para ella um filho sempre caro; além do mais, existe e subsiste, ainda que apenas em idea, a justiça da Igreja, se bem que não efetiva agora, mas viva para o futuro, mesmo em sonho, e reconhecida certamente pelo proprio criminoso, pelo instinto de sua alma. O que se acaba de dizer aqui é justo, a saber, que se a justiça da Igreja entrasse em vigor, isto é, que se a sociedade inteira se convertesse em Igreja, então não somente a justiça da Igreja influiria sobre a emenda do criminoso como não o faz nunca atualmente, mas os proprios crimes diminuiriam em proporção inverossimil. E a Igreja, sem duvida alguma, compreenderia no futuro, em numerosos casos, o crime e os criminosos duma maneira toda diferente da atual; saberia converter o excomungado, prevenir as intenções criminosas, regenerar o decaido. É verdade — e o conselheiro [staretz] sorriu — que a sociedade christã não está ainda preparada para isso e só repousa sobre sete justos; mas como eles não se enfraquecem, permanece ella na expectativa de sua transformação completa de associação quase paga em Igreja unica, universal e reinante. Assim será, nem que seja no fim dos seculos, porque só isto está predestinado a cumprir-se! E não há por

FIODOR DOSTOIEVSKY

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que preocupar-se a proposito dos tempos e dos prazos, porque o mysterio deles depende da sabedoria de Deus, de sua presciencia, de seu amor. E o que, a vistas humanas, parece bastante afastado está talvez, pela predestinação divina, em vesperas de cumprir-se. Assim seja!

* Capitulo V, Assim Seja!, de Os Irmãos Karamazov [Fiodor Dostoievsky] BULGAKOV E O METHODO ORTHODOXO

Este é, de modo geral, o methodo orthodoxo de aproximação (das questões theologicas): elle se contenta com o minimum indispensavel de dogmas obrigatorios. Isto é o oposto do catholicismo romano o qual tende à formulação canonica de todo um inventario dogmatico da Igreja. Isto não quer dizer que novas formulas dogmaticas sejam impossiveis no Oriente, formulas a serem fixadas por novos conselhos ecumenicos. Porém, estritamente fallando, o minimum já existente constitue uma base suficientemente inamovivel para o desenvolvimento da doutrina, sem a necessidade da elaboração de novas formas dogmaticas.

“a liturgia orthodoxa é direcionada, antes de tudo, para o sentimento mystico, despertando-o e auxiliando-o” – Sergio

Bulgakov [Theologo Orthodoxo]

A experiencia mystica tem um caracter objetivo: ella está fundada na saida, que alguem realiza, de suas proprias limitações, e no consequente encontro, ou contacto, de natureza espiritual (...) Toda a vida orthodoxa é repleta de visões celestiaes. Isto é o essencial na orthodoxia, algo que as suas companheiras de viagem não vêem e, assim, não vislumbram o seu significado interior, mas, unicamente, sua forma “petrificada” ou “mumificada”. A

vida da orthodoxia, em sua integralidade, é delimitada por visões do outro mundo. Sem taes visões, a orthodoxia não existiria. A Divina Liturgia comprehende não apenas a comemoração, mas a realidade dos grandes eventos. O fiel, na medida em que se desenvolve espiritualmente, participa da vida de Nosso Senhor, da Virgem e dos Santos e, assim, se comunica com o mundo invisivel. Este realismo mystico serve de fundamento para todos os serviços orthodoxos. Sem elle, a Liturgia perderia toda a sua força, força esta, de ser a eterna atualização do mysterio da Encarnação. Portanto, a liturgia orthodoxa é direcionada, antes de tudo, para o sentimento mystico, despertando-o e auxiliando-o.

PADRE SERGIO BULGAKOV

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Sergio Bulgakov em A Igreja Orthodoxa.

GLOSSARIO 1. Eclesialidade é a Igreja enquanto organismo da vida espiritual. 2. Entendimento é a faculdade de pensar.

EXERCICIOS 1. A Igreja é uma contigencia historica ou uma dadiva providencial de Deus?

2. A impossibilidade duma definição de eclesialidade é uma falta? 3. Como typicamente comprehende Florensky a eclesialidade no Catholicismo e no Protestantismo? 4. As noções biologicas [vida] e estheticas [belleza] são recursos heuristicos para eclesialidade na

orthodoxia? 5. O que representa o conselheiro [staretz] na orthodoxia russa?

PAVEL FLORENSKY [MARTYR DA IGREJA]

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