Material para aula de Memórias de um sargento de Milícias, de Manuel A. de Almeida e sobre...

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    PROF. WELINGTONFERNANDES

    Memrias de um Sargento de Milcias, de M.A.

    de Almeida eIracema, de Jos de AlencarFortuna crtica:Memrias de um Sargento de Milcias, obra-prima e nicade Manuel Antnio de Almeida uma obra singular emvrios aspectos. Sua ortuna crtica a! inve"a a de muitasobras dos mais consagrados autores de nossa lngua. #mparte isso se deve ao ato de o livro ter agradado n$oapenas a um pblico considervel mas, principalmente, porter sido muito apreciado por alguns dos mais importantesautores %ue o sucederam. & desse modo %ue Mac'ado deAssis o elegeu como um dos modelos a serem emulados.(ambm Mrio de Andrade nutre grande admira)$o poresse livro %ue ele c'ega a estudar e para o %ual publica umprecio-comentrio.*m dos primeiros crticos a analisar a obra prima de ManuelAntonio de Almeida ainda no inal do sculo ++ oi oserssimo para %uem as memriasse coniguravam comouma obrapr-realista devido ao prevalecimento decamadas populares representadas atravs de suaspersonagens. /a dcada de 01 do sculo passado, o crtico2arc3 2amasceno ponderou %ue Memrias de um sare!t"de mil#$iasn$o se en%uadrava nas conven)4es da pocaem %ue ora publicado e classiicou o romance comopertencente 5 tradi)$o das !"%elas pi$ares$as espan'olasdos sculos + e +, segundo ele a obra de Antonio deAlmeida seria, portanto um r"ma!$e pi$ares$". & tambmdesse modo %ue o grande poeta, romancista e crticoliterrio Mrio de Andrade 6%ue, em parte, se inspirou em7eonardo para a constru)$o de seu Ma$u!a#ma8 analisa olivro, como um r"ma!$e pi$ares$". (al classiica)$oprevalece, mais ou menos, at a anlise proposta por

    Antnio 9andido para %uem o livro de Antonio de Almeidaseria uma obra de r"ma!tism" at#pi$"ou, nas palavras docrtico, r"ma!tism" e&$'!tri$". crtico destaca noromance a emerg;ncia da mala!draem, %ue representauma op)$o de vida para os pobres livres no sculo ++.Segundo ele, eortanto, segundo o crtico, a narrativa apresenta umaanlise crtica e ir?nica dos costumes morais estruturando-se a partir do antagonismo: ORDEM x DESORDEM. Aprimeira representada pela sociedade constituda e peloaparato legal 6personiicada na igura do Ma"or idigal8 @como tal, o universo da classe dirigente. A DESORDEM, porsua ve!, representada pelos estrat"s mdi"s e p"pulares,para %uem as leis e os valores estabelecidos nunca seriaminle

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    %ue 7eonardo alcan)a o posto %ue aparece estampado nottulo da narrativa.G #strutura @ N captulos episdicos e relativamenteaut?nomos do ponto de vista da Dtrama principalE. /averdade, dicil alar em trama principal, uma ve! %ue aobra ragmentria, descritivista e costumbristaLeapresenta como um dos nicos ios condutores a biograia

    do il'o de 7eonardo >ataca com Maria da Jortali)a.G /arrador @ Oapessoa muito interessante o modo como oautor constri essa narrativa: por um lado, ' o dinamismode um DcausoE contado em prosa cotidiana. autor simulaum Dbate-papoE, como se o narrador estivesse a dialogarcom o leitor. >or outro lado, ' como %ue uma seguracondu)$o da narrativa at um desec'o 6%ue n$o sedistancia do tpico 'app3-end ol'etinesco8. 2o %ual,bastaria citar o ttulo do ltimo captulo para se ter um idia+7 @ 9onclus$o Feli!BG 7inguagem @ atpica para o padr$o literrio de sua pocaIinluenciada pelo dinamismo da linguagem "ornalstica epelo padr$o da ala, ou se"a, linguagem colo%uial 6embora

    para um leitor atual possa, 5s ve!es, parecer um tantoormal8.

    Seleta de trec'os representativos(rec'o L @ aten)$o 5 linguagem $"l",uial, ao aspectomemorialstico e ao tom despo"ado e intimista. - P#M, /AS9M#/( # =A(SM#ra no tempo do rei.*ma das %uatro es%uinas %ue ormam as ruas do uvidor eda Quitanda, cortando-se mutuamente, c'amava-se nessetempo @ O $a!t" d"s meiri!"s / e bem l'e assentava onome, por%ue era a o lugar de encontro avorito de todosos indivduos dessa classe 6%ue go!ava ent$o de n$o

    pe%uena considera)$o8. s meirin'os de 'o"e n$o s$o maisdo %ue a sombra caricata dos meirin'os do tempo do reiIesses eram gente temvel e temida, respeitvel erespeitadaI ormavam um dos eor mais %ue se i!esse n$o 'avia remdio em taiscircunstKncias sen$o dei

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    dos seus raciocnios. >elo ocio do pai... 6pensava ele8gan'a-se, verdade, din'eiro %uando se tem0eit"1 pormsempre se ' de di!er:-ora, um meirin'oR... /ada... poreste lado n$o... >elo meu ocio... erdade %ue euarran"ei-me 6' neste arra!0ei-me uma 'istria %ue'avemos de contar8, porm n$o o %uero a!er escravo dos%uatro vintns dos regueses... Seria talve! bom mand-lo

    ao estudo... porm para %ue diabo serve o estudoT erdade %ue ele parece ter boa memria, e eu podia mais paradiante mand-lo a 9oimbra... Sim, verdade... eu ten'oa%uelas patacasI estou " vel'o, n$o ten'o il'os nemoutros parentes... mas tambm %ue diabo se ar ele em9oimbraT licenciado n$o: mau oicioI letradoT era bom...sim, letrado... mas n$oI n$o, ten'o !anga a %uem me lidacom papis e demandas... 9lrigoT... um sen'or clrigo muito bom... uma coisa muito sria... gan'a-se muito...pode vir um dia a ser cura. #st dito, ' de ser clrigo... ora,se ' de serI 'ei de ter ainda o gostin'o de o ver di!ermissa... de o ver pregar na S, e ent$o 'ei de mostrar atoda esta gental'a a%ui da vi!in'an)a %ue n$o gosta dele

    %ue eu tin'a muita ra!$o em l'e %uerer bem. #le est aindamuito pe%ueno, mas vou tratar de o ir desasnando a%uimesmo em casa, e %uando tiver L ou L anos ' de meentrar para a escola.

    nclus$o do 7eitor U M.A. de Almeida precursorB deMac'ado de Assis

    >or estas palavras v;-se %ue ele suspeitara alguma coisaI esaiba o leitor %ue suspeitara a verdade.#spiar a vida al'eia, in%uirir dos escravos o %ue se passavano interior das casas, era na%uele tempo coisa t$o comum eenrai!ada nos costumes, %ue ainda 'o"e, depois de

    passados tantos anos, restam grandes vestgios desse belo'bitoO.Sentado pois no undo da lo"a, aiando por disarceos instrumentos do ocio, o compadre presenciara ospasseios do sargento por perto da rtula de 7eonardo, asvisitas eor isso contava ele mais diamenos dia com o %ue acabava de suceder.A7M#2A, Manuel Ant?nio de. Memrias de um sargentode milcias. 0V ed., S$o >aulo: Wtica, LXXY 6=om 7ivro8.

    #ntretanto vamos satisa!er ao leitor, %ue ' de talve! tercuriosidade de saber onde se meteu o pe%ueno.9om os emigrados de >ortugal veio tambm para o =rasil a

    praga dos ciganos. Pente ociosa e de poucos escrpulos,gan'aram eles a%ui reputa)$o bem merecida dos maisreinados vel'acos: ningum %ue tivesse "u!o se metia comeles em negcio, por%ue tin'a certe!a de levar carolo. Apoesia de seus costumes e de suas cren)as, de %ue muitose ala, deielo ocio do pai... 6pensava ele8 gan'a-se, verdade,din'eiro %uando se tem0eit"1 porm sempre se ' de di!er:-

    ora, um meirin'oR... /ada... por este lado n$o... >elo meuocio... erdade %ue eu arran"ei-me 6' neste arra!0ei-meuma 'istria %ue 'avemos de contar8, porm n$o o %ueroa!er escravo dos %uatro vintns dos regueses...

    dem, 9ap. O+ - -AA/#-M#-2 9M>A2#s leitores estar$o lembrados do %ue o compadre dissera%uando estava a a!er castelos no ar a respeito do ail'ado,e pensando em dar-l'e o mesmo oicio %ue eataca, apertara-se em la)os amorosos com ail'a da comadre, e %ue com ela vivia em santa e 'onestapa!. >ois este viver santo e 'onesto deu em tempooportuno o seu resultado.dem, 9ap.

    A9#MA @ os de Alencar

    LNNL - LX1XIra$ema em tr;s momentos:Lo@ tela de os Maria de MedeirosI o@ #stampas eucalolI Oo@ (elade Antonio >arreiras.

    >ara ter uma idia do modo como Alencar cultua a /ature!a brasileiranesse romance resolvemos apresentar um trec'o inicial da obra comalgumas ilustra)4es, %ue a"udam a entender as reer;ncias:

    +9ole)$o de >aulo =odmer. n:www.brasilcult.pro.br/indios/iracema01.htm

    O

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    Alm, muito alm da%uela serra, %ue ainda a!ula no 'ori!onte,nasceu racema.

    racema, a virgem dos lbios de mel, %ue tin'a os cabelos maisnegros %ue a asa da grana0e mais longos %ue seu tal'e de palmeira.

    avo da "atiYn$o era doce como seu sorrisoI nem a baunil'arecendia no bos%ue como seu 'lito perumado.

    Mais rpida %ue a ema selvagem, a morena virgem corria osert$o e as matas do pu\, onde campeava sua guerreira tribo, dagrande na)$o taba"araN. p grcil e nu, mal ro)ando, alisava apenasa verde pelcia %ue vestia a terra com as primeiras guas.

    *m dia, ao pino do sol, ela repousava em um claro da loresta.=an'ava-l'e o corpo a sombra da oiticicaX, mais resca do %ue oorval'o da noite. s ramos da accia silvestre espar!iam lores sobreos midos cabelos. #scondidos na ol'agem os pssaros ameigavamo canto.

    racema saiu do ban'o: o al"?ar dEgua ainda o rore"a, como 5doce mangaba %ue corou em man'$ de c'uva. #n%uanto repousa,empena das penas do garL1as lec'as de seu arco, e concerta com osabi da mata, pousado no gal'o preri%uito. s indgenas como aumentativo usavam repetir a ltimaslaba da palavra e 5s ve!es toda a palavra, como murmur. Mur -rauta, murmur - grande rauta. Arar vin'a a ser, pois, oaumentativo de ar, e signiicaria a espcie maior do g;nero.1"2 mesmo que aborgine, ou seja, ab origine 3desde a ori$em4,!ortanto5 3nati&o4.

    sobreviv;ncia do il'o, a eleva)$o ao estatuto de 'erona de umana)$o, atravs da morte.

    %nten!o e estilo9omo disse o prprio Alencar, de acordo inclusive com os ditames eromKnticos e, sobretudo com o momento 'istrico 6pro

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    de veracidade a partir da seguinte declara)$o eita pelo narrador essa a 'istria %ue me contaram nas lindas vargem onde nasci_.

    Linguagem

    _ povo %ue c'upa o ca"u, a manga, o cambuc e a "abuticabapode alar uma lngua com igual pronncia e o mesmo esprito dopovo %ue sorve o igo, a p;ra, o damasco, a n;speraT_os de Alencar in: precio a S"!"s de Our"

    Segundo declara o autor desde a primeira edi)$o de Ira$ema:... preciso %ue a lngua se molde %uanto possa 5 singele!a primitivada lngua brbaraI e n$o represente as imagens e pensamentosindgenas sen$o por termos e rases %ue ao leitor pare)am naturais naboca do selvagemBL\.>ara atingir tal ob"etivo, alm do cuidado com o losteriormente, no entanto, acaboudesistindo de levar o pro"eto adiante. 2e %ual%uer orma, podemosperceber claramente certas estratgicas poticas utili!adas porAlencar, como o cuidado com a sonoridade do teersonagensS$o pla!as, bem de acordo com a tradi)$o das narrativasol'etinescas. sso %uer di!er %ue as personagens se dividem entre4"as1 p"siti%as "u eri$as6Martim e racema8 e m2s6rapu$8.A9#MA @ protagonista e personagem ttulo: ndia da tribo dostaba"aras, il'a do vel'o pa" Ara%um. & caracteri!ada como a virgemdos lbios de mel 6conorme indica o signiicado etimolgico de seu

    nome: lbios de melB8I tem cabelos compridos e mais negros do %ueas asas da grana @I mantin'a sua virgindade por motivos rituais, eraela %uem guardava o segredo de urema 6bebida mgica utili!ada nosrituais religiosos8IMA(M @ inspirado num personagem da 'istria 6Martim S"aresM"re!", descobridor do 9ear8. /o entanto, sua caracteri!a)$o eitade maneira bastante ideali!ada. #le apresentado como crist$o,branco, bonito, cora"oso, conivel, bravo, gentil com os mais rgeis./a 'istria aparece como aliado dos pitiguaras, portanto, adversriodos taba"aras.>( @ guerreiro pitiguara, amigo iel de Martim.A9A`/A @ c'ee dos pitiguaras, irm$o de >oti.A>* @ antagonista de Martim. 9omo tpico entre vil4esB, ama amesma mul'er %ue o protagonista. & um valente guerreiro, c'ee datribo (aba"ara.

    AAQ*&M @ pai de racema, pa" da tribo taba"ara. #mbora este"amuito vel'o, ainda eoti, num conrontoentre taba"aras e pitiguaras.

    1A6789A:, J.Prlogo !rimeira edio. A!ud ;id.

    9A*= @ rm$o de racema. /o incio da 'istria, designado pelo pai,Ara%um, para guiar Martim de volta 5 tribo dos pitiguaras. Atacadopor rapu$ e seus guerreiros armados, p4e-se em deesa do 'omembranco.MA9 @ il'o de Martim e racema. Seu nome em lngua indgenasigniica il'o da dorB, como eoti d de presente a Martim. Aps a morte deracema, Martim parte para >ortugal, levando o il'o Moacir e o c$oapi.

    Simbolo+iaSegundo enato anine ibeiro, racema mul'er, e portanto remetea todo um con"unto de imagens emininas. & ndia, e assim remete 5nature!a e 5 aus;ncia de 'istria. Mais %ue isso, di! nossas ra!es,a%uelas mais pr

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    Ainda surpreso do %ue vira, Martim n$o tirava os ol'os da unda cava,%ue a planta do vel'o >a" abrira no c'$o da cabana. *m surdo rumor,como o eco das ondas %uebrando nas praias, ruidava ali.9ismava o guerreiro crist$oI ele n$o podia crer %ue o deus dostaba"aras desse a seu sacerdote taman'o poder.>ercebendo o %ue passava n^alma do estrangeiro, Ara%um acendeuo cac'imbo e travou do marac : & tempo de aplacar as iras de (up$, e calar a vo! do trov$o.2isse e partiu da cabana.racema ac'egou-se ent$o do manceboI levava os lbios em riso, osol'os em "bilo: cora)$o de racema est como o abati d^gua do rio. /ingumar mal ao guerreiro branco na cabana de Ara%um. Arreda-te do inimigo, virgem dos taba"aras: respondeu o estrangeirocom aspere!a de vo!.oltando brusco para o lado oposto, urtou o semblante aos ol'osternos e %ueia":

    A virgem de (up$ guarda os son'os da "urema %ue s$odoces e saborososR

    *m triste sorriso pungiu os lbios de racema: estrangeiro vai viver para sempre 5 cintura da virgem

    brancaI nunca mais seus ol'os ver$o a il'a de Ara%um, e ele " %uer%ue o sono ec'e suas plpebras, e %ue o son'o o leve 5 terra de seusirm$osR

    sono o descanso do guerreiro, disse MartimI e oson'o a alegria d^alma. estrangeiro n$o %uer levar consigo a triste!ada terra 'ospedeira, nem dei