Material didatico para professores-matematica em musica

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Como construir uma aula relacionando as disciplinas matematica e musica

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    Caro(a) Leitor(a)

    Apresento a voc uma verso preliminar da Coleo Cadernos de Ensino e Pesquisa em Educao

    Matemtica. Nela, voc encontrar livretos com proposta de ensino e de formao de professores e

    sugestes para compreender seu aluno, motiv-lo, avali-lo.

    Cada Caderno representa o esforo de um(a) professor(a) de Matemtica em buscar alternativas para

    a melhoria do ensino dessa disciplina. Todos eles cursaram o Mestrado Profissional em Educao

    Matemtica da Universidade Federal de Ouro Preto e suas pesquisas tiveram como foco a sala de aula, a

    formao de professores e/ou processos que envolvem professores, alunos e a Matemtica. Dessa forma, ao

    final, cada professor defendeu uma pesquisa e construiu um produto educacional escrito e organizado para

    compartilhar com voc essa experincia.

    Essa primeira verso, preliminar, pretende apresentar a voc a Coleo e, em breve, teremos a verso

    definitiva disponvel para aquisio (impressa) e na pgina do Programa (www.ppgedmat.ufop.br).

    Espero que gostem!

    Ana Cristina Ferreira

    Coordenadora do Mestrado Profissional em Educao Matemtica

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    SUMRIO

    I. INTRODUO ..................................................................................................................... 4

    II. PROJETOS ENVOLVENDO MATEMTICA E MSICA .......................................... 5

    1. ESTUDO DE PROPORES: O MONOCRDIO E A MARIMBA DE GARRAFAS. ........................ 5 1.1. Interao .............................................................................................................................. 5

    1.2. Matematizao ................................................................................................................... 10

    1.2.1. A escala de Zarlino ......................................................................................................... 11

    1.3. O MODELO MATEMTICO .................................................................................................. 11

    2. PROGRESSES GEOMTRICAS: CONSTRUO DE INSTRUMENTOS

    ENVOLVENDO A RAZO DO TEMPERAMENTO MUSICAL. .................................. 15

    2.1. INTERAO ........................................................................................................................ 15

    2.2. MATEMATIZAO: IMPLEMENTANDO AS ATIVIDADES .................................................... 16

    2.3. MODELO MATEMTICO. ................................................................................................... 21 2.3.1. Um exemplo de como montar o instrumento Marimba de Metal ............................... 29 2.4. VALIDAO E EXPOSIO DO PROJETO. .......................................................................... 32

    3. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................. 33

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    I. INTRODUO

    Este manual fruto de uma dissertao1 do Mestrado Profissional em Educao

    Matemtica da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP MG). Para desenvolver o

    contedo dessa obra, foram feitas pesquisas relacionando Matemtica Msica e Projetos

    envolvendo Modelagem Matemtica, alm da experincia do autor mediante a realizao de

    oficinas e aulas sobre o tema.

    O primeiro projeto envolve um estudo de propores: O Monocrdio e a Marimba de

    Garrafas, foi baseada em mini-cursos desenvolvidos por Camargos (2003), Ferreira e

    Carvalho (2007) e em uma monografia de Especializao, Camargos (2008).

    O segundo projeto apresenta atividades relacionando progresses geomtricas e

    construo de instrumentos, envolvendo a razo do Temperamento Musical. Esse projeto foi

    desenvolvido por pesquisas realizadas entre 2008 e 2010, tendo como base a Dissertao

    referida anteriormente. Sugerimos ao leitor que, caso encontre dificuldades ou tenha dvidas

    em implantar algum dos projetos, recorra dissertao na ntegra, nela o leitor encontrar

    uma descrio minuciosa sobre a experincia da aplicao da atividade envolvendo

    progresses geomtricas e notas musicais, bem como alguns questionamentos e dvidas mais

    comuns, que podem surgir, no decorrer da implementao desse tipo de projeto.

    Este manual expe sugestes embasadas, principalmente, em perspectivas de

    Modelagem Matemtica na Educao Matemtica propostas por Biembengut e Hein (2003) e

    Barbosa (2001, 2004, 2007).

    Conforme Barbosa (2004), a aplicao de um modelo matemtico varia de acordo com

    o grau de conhecimento do professor e alunos que iro desenvolv-lo. No caso de um modelo

    relacionado Msica, interessante que o professor tenha noes de teoria musical (ou

    proponha uma parceria com um professor de msica), pois tal projeto sempre desperta nos

    alunos o interesse em maiores informaes sobre msica e, conforme observamos em oficinas

    relacionando Matemtica e Msica, a parte prtica, isto , a execuo musical de alguma obra

    de interesse dos estudantes ou de notas ou escalas, facilita bastante a compreenso dos alunos.

    No final deste manual, apresentamos algumas referncias bibliogrficas que se

    enquadram como sugestes de leitura ao professor que pretenda aplicar algum desses projetos.

    1 CAMARGOS, C. B. R. Msica e Matemtica: A harmonia dos nmeros revelada em uma estratgia de

    Modelagem. 2010. Dissertao de Mestrado. Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto MG.

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    II. PROJETOS ENVOLVENDO MATEMTICA E MSICA

    1. Estudo de propores: O Monocrdio e a Marimba de Garrafas.

    Em todos os projetos que realizamos, em sala de aula, percebemos que a utilizao de

    um tema como a Msica consegue despertar facilmente o interesse da maioria dos estudantes,

    o que de suma importncia no desenvolvimento de projetos de Modelagem Matemtica.

    O primeiro projeto que apresentamos fruto de pesquisas realizadas pelo autor,

    inicialmente, em 2003. As atividades a seguir so propcias para alunos do 9 ano do Ensino

    Fundamental, para o estudo de proporcionalidade.

    No intuito de facilitar a organizao do projeto, sistematizaremos suas etapas em trs,

    conforme Biembengut e Hein (2003): Interao, Matematizao e Modelo Matemtico,

    lembrando que um projeto de Modelagem Matemtica nem sempre se mantm em moldes

    pr-determinados, esses servem apenas para dar uma orientao inicial.

    1.1. Interao

    Compreendemos essa fase como:

    Sugesto do tema a ser pesquisado;

    Motivao dos alunos a aceitarem o convite ao desenvolvimento da pesquisa;

    Diviso dos alunos em grupos (para projetos como esse, sugerimos de trs a cinco

    alunos por grupo);

    Elaborao de questionamentos para pesquisa;

    Elaborao da questo de investigao;

    Pesquisas bibliogrficas sobre o tema;

    Discusses sobre o material pesquisado entre professor e alunos.

    Nessa fase do projeto, sugerimos que o professor pea aos alunos que pesquisem sobre

    o tema Matemtica e Msica, Pitgoras, o Monocrdio e o instrumento marimba. Em seguida,

    discuta com os alunos sobre o material pesquisado, tentando chegar a uma questo de

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    investigao. Caso os alunos no consigam chegar a alguma questo que permita desenvolver

    o projeto, sugerimos ao professor propor alguma questo, exemplo: Existem relaes entre

    Matemtica e Msica? Podemos construir instrumentos musicais utilizando

    Matemtica?.

    Aps as discusses sobre o material pesquisado (pelos alunos), necessrio que os

    alunos compreendam a experincia feita por Pitgoras utilizando o Monocrdio. Para isso,

    sugerimos a anlise do DVD Arte e Matemtica (TV Cultura, 2005). Apresentamos abaixo

    uma descrio resumida de tal experincia.

    Pitgoras teria inventado um aparelho cientfico capaz de verificar a relao existente

    entre a harmonia musical e os nmeros. Esse aparelho foi denominado monocrdio (Fig.1).

    Figura 1: Modelo de monocrdio

    Fonte: prpria

    Ele teria esticado uma corda musical que produzia um determinado som, que tomou

    como fundamental, o tom. Fez marcas na corda que a dividiam em doze sees iguais.

    Observe:

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    Figura 2: Marcaes feitas por Pitgoras no Monocrdio

    Fonte: Camargos (2003)

    Tocou a corda na 6 marca e observou que se produzia a oitava. Tocou depois na 9

    marca e resultava a quarta. Ao tocar a 8 marca, obtinha-se a quinta. As fraes 1/2, 3/4, 2/3

    correspondiam oitava, quarta e quinta.

    A tnica, quarta, quinta e oitava so baseadas na sequncia das sete notas mais

    comuns, que chamamos de escala diatnica:

    D / R / Mi / F / Sol / L / Si / D

    1 8

    Os intervalos pitagricos: tomando como ponto inicial uma corda de comprimento

    igual a 1, percorrendo a escala por quintas ascendentes e transpondo as notas obtidas oitava

    relativa, obter-se-o as seguintes fraes, representando as notas musicais em relao ao

    tamanho da corda:

    D (C)= 1

    R (D) = 8/9

    Mi (E) = 64/81

    F (F) = 3/4

    Sol (G) = 2/3

    L (A) = 16/27

    Si (B) = 128/243

    D (C) = 1/2

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    Essas fraes correspondentes s notas podero ser passadas aos alunos, observando

    que cada nota representa uma proporo ao tamanho da corda.

    Caso professor e alunos achem interessante construir um monocrdio para

    compreender melhor o assunto, podero construir uma maquete do aparelho. Inicialmente o

    professor poder indicar aos alunos os materiais a serem utilizados. Uma maquete pode ser

    feita de papelo, isopor, madeira etc. Nesse caso, de acordo com Carvalho e Dias (2006),

    sugerimos os seguintes materiais:

    Pedaos retangulares de madeira de aproximadamente 3 cm 10 cm 50 cm, por

    exemplo tbuas de caixas de madeiras utilizadas para transportas verduras e legumes.

    Uma corda de violo ou fio de nylon;

    Martelo;

    Pregos;

    Rgua, caneta, lpis e borracha.

    Para montar o monocrdio o professor dever pedir aos alunos que fixem os pregos

    nas extremidades da tbua e estiquem a corda o mximo possvel, fixando-a nos pregos.

    Observe o modelo a seguir:

    Figura 3: Esquema para confeco de um monocrdio

    Fonte: Mtzenberg (2004)

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    Observe que, nesse modelo, utilizam-se materiais como transferidor, ponteiro e cutelo;

    esses materiais no sero necessrios para esse tipo de atividade que queremos desenvolver.

    Para facilitar, basta pedir aos alunos que coloquem um prego no lugar do cutelo, como nos

    mostra a figura anterior. Essa figura um modelo de Monocrdio utilizado por Mtzenberg

    (2004) em experimentos de Fsica. Consiste numa caixa de madeira de 75 cm 15 cm 10

    cm, onde foram utilizadas tbuas de madeira macia com 1,5 cm de espessura. Nas

    extremidades da caixa foram colocados blocos de madeira, para melhorar a fixao dos eixos

    em que seriam enrolados os fios.

    Ao terminarem de prender a corda, o professor pedir aos alunos que meam o

    tamanho da corda e, em seguida, procurem e faam as marcaes na tbua, correspondentes a

    1/2, 2/3 e 3/4 da corda, verificando e discutindo se elas realmente produzem sons em

    harmonia (agradveis ao ouvido).

    Caso o professor no queira montar os monocrdios em sala, poder utilizar um violo

    para explicar a experincia de Pitgoras. Por exemplo, pode-se utilizar a corda Mi (mais

    grave), que solta possui 65 cm, que podemos fazer corresponder tnica representada pelo

    nmero 1.

    Se quisermos encontrar a oitava, devemos calcular metade do comprimento da corda.

    Assim: 8 nota = 1/2 65 cm = 32,5 cm, que ser correspondente a pressionar a dcima

    segunda casa do violo.

    Para encontrar a quarta nota, que corresponde a 3/4 do tamanho da corda, basta utilizar

    a proporcionalidade: 4 nota = 3/4 65 cm = 48,5 cm (ser correspondente quinta casa do

    violo). Para encontrar a 5 nota, faremos: 2/3 65 cm = 43,3 cm (ser correspondente

    stima casa).

    Figura 4: Fraes pitagricas no violo

    Fonte: prpria

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    Compreenderamos, ainda, essa fase descrita como uma interao com o tema da

    oficina em questo, cujo objetivo consiste em utilizar fraes e proporcionalidade para

    construir o instrumento Marimba de Garrafas. De acordo com Camargos (2008), marimba

    um instrumento de percusso, confeccionado com lamelas de madeira, normalmente de pau-

    santo ou pau-rosa, que ao serem percutidas com baquetas, geralmente produzem sons doces e

    melodiosos; no entanto, os instrumentos que construmos utilizaram, no lugar da madeira,

    garrafas de vidro, nas quais foi colocada gua, numa proporo relacionada s fraes de

    Zarlino (veja 1.2.1). Esse projeto tambm foi aplicado em sala de aula pelo autor deste

    manual e baseado em uma oficina desenvolvida no V CNMEM, pelos autores Ferreira e

    Carvalho (2007).

    1.2. Matematizao

    Segundo Biembengut e Hein (2003), a Matematizao constitui-se no processo de

    formulao do problema, criao de possveis hipteses que possam estar relacionadas a ele e

    sua resoluo usando o modelo criado; contudo, inicia-se a anlise de possveis teorias

    matemticas que possam ser abordadas em sala de aula e aplicadas com o desenvolvimento do

    Modelo Matemtico que buscamos.

    Para que se possa prosseguir com o desenvolvimento do Modelo Matemtico,

    devemos analisar primeiramente a relao entre as cordas e suas frequncias. Em Camargos

    (2003), observa-se que Galileu Galilei e Marin Mersenne (1588-1648) no incio, do sc. XVII,

    estabeleceram o que hoje denominamos Lei Fundamental das Cordas Vibrantes: A

    Frequncia de um som fundamental inversamente proporcional ao comprimento da corda

    vibrante, isto :

    L

    Kf

    Sendo f, a frequncia do som fundamental, L, o comprimento da corda e K, uma

    constante que depende da tenso a que est sujeita a corda e da sua massa por unidade de

    comprimento (K a velocidade de propagao da deformao imprimida corda). Por

    exemplo, para uma corda com K = 130,5 m/s, o comprimento L = 50 cm produz um som

    fundamental de f = 261 Hz, o que corresponde nota D, usada principalmente na Frana.

  • 11

    Nesse momento, o professor pode abordar o tema da proporcionalidade inversa, um

    dos objetivos desse projeto, podendo dar mais exemplos de relaes que envolvem tais

    propores.

    1.2.1. A escala de Zarlino

    De acordo com Rodrigues (1999), o sistema de Zarlino acrescentou o nmero 5 nas

    relaes de frequncias pitagricas. Como essas fraes so mais simples que as pitagricas,

    poderemos utiliz-las na construo das marimbas. Supondo-se que a primeira nota, d, tenha

    frequncia um, obter-se-o, para as outras notas, as seguintes frequncias:

    D / R / Mi / F / Sol / L / Si / D

    1 8

    9

    4

    5

    3

    4

    2

    3

    3

    5

    8

    15 2

    No entanto, para construir o instrumento, devemos utilizar as fraes inversas, para

    calcular a quantidade de gua que devemos colocar nas garrafas.

    1.3. O Modelo Matemtico

    Observamos em Barbosa (2007), que um modelo matemtico pode ser considerado

    como qualquer representao matemtica de uma situao em estudo, o que pode ser

    estendido: a qualquer situao analisada que possamos modelar matematicamente. Nosso

    modelo seria representado, portanto, por fraes inversamente proporcionais s fraes de

    Zarlino.

    Daremos um exemplo de como ocorreu a construo dos instrumentos numa turma de

    quinze alunos do 9 ano do Ensino Fundamental. Esse trabalho foi fruto de pesquisas

    realizadas pelo autor em 2007 e 2008, num Curso de Especializao em Educao

    Matemtica.

    Ao iniciarmos as pesquisas e as discusses sobre o tema, no intuito de desenvolvermos

    este projeto, dividimos a sala em trs grupos, cada um composto preferencialmente por cinco

    alunos, para a construo dos instrumentos.

    Quando os grupos demonstraram estar a par dessas relaes matemtico-musicais e o

    interesse em seguir adiante no projeto, passamos a analisar hipteses de como criaramos um

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    instrumento musical (marimba) utilizando as razes descobertas por Pitgoras e Zarlino.

    Surgiram novas idias de montagem de instrumentos, utilizando tubos de pvc, placas de

    madeira, dentre outras, porm o professor / pesquisador sugeriu utilizar garrafas de vidro

    idnticas (mesma espessura e material), de maneira a ench-las de gua em proporo s

    fraes citadas anteriormente, j que a matria a ser trabalhada era proporcionalidade.

    Ento, surgiu a hiptese de que, se colocssemos uma garrafa cheia de gua e

    denominssemos como a tnica, as outras seriam obtidas, a partir das razes de Zarlino,

    relacionadas garrafa cheia, ou melhor, se uma garrafa cheia produz um som, que seria a

    tnica, ento esta mesma garrafa com gua pela metade produziria a oitava. No entanto,

    partiramos agora para obteno e validao do modelo.

    As fraes que utilizamos para relacionar a proporo de gua que deveramos colocar

    na garrafa foram:

    Garrafa cheia, primeira ou tnica: 1

    Segunda: 8/9

    Tera: 4/5

    Quarta: 3/4

    Quinta: 2/3

    Sexta: 3/5

    Stima: 8/15

    Oitava: 1/2

    Um exemplo:

    Se voc tem uma garrafa com 300 mL de gua e considerar essa como a tnica, a

    segunda garrafa dever ter 300 mL 8/9 que corresponde a aproximadamente 266,7 mL. A

    terceira garrafa dever ter 300 mL 4/5 que corresponde a 240 mL e assim por diante.

    De um modo geral, poderamos considerar a garrafa cheia ou tnica como a nota d e

    as fraes seguintes correspondentes s notas da escala diatnica, por exemplo: 8/9

    corresponderia ao r, 4/5 corresponderia ao mi, e assim sucessivamente.

    D / R / Mi / F / Sol / L / Si / D

    1 2 3 4 5 6 7 8

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    Para construo dos instrumentos utilizamos os seguintes materiais:

    Oito garrafas de vidro idnticas;

    Fita crepe;

    Barbante e um cabo de vassoura para prender as garrafas;

    Calculadora;

    Medidores de volumes (como mamadeiras, seringas e medidores de xaropes).

    necessrio deixar as garrafas penduradas por um barbante, fixo ao cabo de vassoura,

    e com aproximadamente 5 cm de distncia da superfcie lateral uma da outra, para que elas

    no fiquem em atrito quando os alunos tocarem o instrumento.

    O professor dever pedir aos grupos que providenciem o material e dever marcar uma

    aula para um primeiro teste dos instrumentos.

    Feito o teste, novas discusses e anlises sobre o modelo devero ser feitas e, se

    possvel, os grupos podero fazer uma exposio de seus trabalhos e apresent-los escola e

    comunidade.

    No trabalho que realizamos, aps a construo dos instrumentos, foram feitos alguns

    testes de afinao e cada grupo falou um pouco sobre alguma dificuldade que encontraram ou

    fizeram algumas observaes. Uma das observaes que mais chamaram a ateno foi o

    questionamento de uma aluna sobre a proximidade dos volumes entre a ltima garrafa e a

    penltima, o que recorre a outra histria, relacionando teorias musicais e matemtica, quando

    os povos orientais (japoneses e chineses), ao fazer suas divises, no conseguiram determinar

    a stima nota da escala por se aproximar muito da oitava; mas isso j delinearia outros

    caminhos para pesquisa.

    No dia vinte e seis de maro de 2008 fizemos trs marimbas e contamos com a

    presena dos alunos do ensino mdio e demais professores da escola para avaliar o nosso

    trabalho. Cada grupo ficou responsvel por explicar como foi feito o trabalho e quais as

    relaes matemticas presentes nos instrumentos.

    Algumas fotos dos instrumentos:

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    Figura 5: Marimba de Garrafas 1

    Figura 6: Marimba de Garrafas 2

  • 15

    2. Progresses Geomtricas: Construo de instrumentos envolvendo a razo do

    Temperamento Musical.

    O segundo projeto que apresentaremos fruto de pesquisas realizadas no Mestrado

    Profissional em Educao Matemtica (UFOP), pelo autor, entre 2008 a 2010. As atividades

    a seguir so recomendadas para alunos do 2 ano do Ensino Mdio, no estudo de Progresses

    Geomtricas.

    Como relatamos anteriormente, para facilitar a organizao desse projeto,

    sistematizaremos novamente suas etapas em trs: Interao, Matematizao e Modelo

    Matemtico, relatando um pouco da experincia, no decorrer da implementao deste em sala

    de aula.

    2.1. Interao

    O incio do projeto dever se apresentar como um convite ao cenrio de investigao

    pretendido. O professor deve tentar aguar a curiosidade dos alunos sobre os temas

    Matemtica e Msica. Em nosso caso, como o professor pesquisador possui certa experincia

    como msico, isso foi relevante na motivao dos alunos.

    Trabalhamos com uma turma de 19 alunos do 2 ano do E. M. e as discusses sobre o

    tema proporcionaram o surgimento de dilogos entre professor e alunos, com

    questionamentos do tipo: Existem relaes entre Matemtica e msica?, Se existem,

    podemos aprender algo relacionado Matemtica a partir da Msica?

    Em casos em que o professor queira envolver os alunos com a ideia de um trabalho de

    Modelagem Matemtica, sugerimos que fale um pouco sobre o que seria a Modelagem

    Matemtica, porm, no se apegando s definies, simplesmente ao processo ou ideia de

    obteno de um modelo, dando exemplos, como observa-se em Biembengut e Hein (2003, p.

    52-69) e em REIS, F. S. et al. (2005), sobre construes de maquetes, pois definies tericas

    podem apresentar-se cansativas aos alunos.

    Para uma interao maior com o tema, sugerimos ao professor pedir aos alunos que

    realizem pesquisas sobre definies de: Msica, Matemtica, ritmos, compasso, sons, notas

    musicais e oitavas, sendo necessria a discusso dos assuntos pesquisados, pelos alunos e

    professor, pois dessa forma podero surgir questionamentos que impulsionem o projeto.

  • 16

    Durante a nossa pesquisa, o professor colocou os seguintes questionamentos, em meio

    s discusses dos temas pesquisados: Pelas suas definies de Matemtica e de Msica,

    vocs acham que existe alguma relao de uma com a outra?

    Isso foi necessrio para que pudssemos definir nossa primeira questo de

    investigao: Existem relaes entre Matemtica e Msica?

    Em seguida, achamos necessrio que o professor proponha uma diviso da sala em

    grupos de trs a quatro alunos, antes da implementao das atividades do Projeto de

    Matemtica e Msica.

    2.2. Matematizao: implementando as atividades

    Poderamos denominar essas aulas iniciais como aulas musicais, no entanto, como o

    leitor perceber, o contedo matemtico estar implcito nas atividades.

    Para essa fase do projeto, o professor precisar de:

    Folhas contendo pautas musicais (ou caderno de escrita musical);

    Metrnomo analgico ou digital (Instrumento utilizado para marcar as batidas ou

    tempos de um compasso).

    Um instrumento musical (em nosso caso, utilizamos um violo).

    necessrio, nessa fase, o auxlio de algum professor de Msica, caso o professor de

    Matemtica no tenha noes bsicas de escrita musical.

    Iniciando a aula de msica, o professor distribuir folhas contendo pautas musicais aos

    grupos j divididos e desenhar no quadro uma pauta para explicar sobre a escrita musical e,

    em especial, para falar sobre tempos e compassos.

    Utilizando o metrnomo, podemos explicar sobre tipos de compassos 4/4, 3/4 e 2/4,

    concentrando-se principalmente no compasso 4/4, que provavelmente ser o nico utilizado

    no decorrer do projeto.

    Ao terminar a explicao sobre compassos, o professor dever desenhar algumas

    figuras de representao das notas musicais no quadro e explicar aos alunos que cada figura

    corresponde a um determinado tempo do compasso.

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    Poderamos considerar essa aula de implementao do projeto como o incio da fase

    de Matematizao, pois inicia-se uma interpretao dos valores das figuras musicais, de

    acordo com as batidas do aparelho metrnomo.

    1 atividade: PG crescente

    Na realizao do nosso projeto, o professor explicou sobre as figuras que representam

    notas musicais e, utilizando um metrnomo analgico e um violo, iniciou-se a tentativa de

    obteno de um modelo para o termo geral da PG, a partir da figura abaixo:

    Figura 7: Figuras do Som e seus valores

    Fonte: http://9a.athoscompanny.com.br/Apostila_Iniciacao_Musical.pdf.

    Sugerimos que o professor desenhe essas figuras no quadro sem os nmeros abaixo,

    pois precisaremos que os alunos interpretem as relaes de tempo das notas com os nmeros

    que percebero.

    Procedimento:

    Sugerimos regular o metrnomo num tempo entre 80 a 100 batidas por minuto;

    Pedir aos alunos (divididos em grupos) que observem as notas no quadro e quantas

    sero necessrias para preencher um compasso 4/4, sempre fazendo anotaes em suas

    folhas;

    Sugerimos que o professor inicie tocando uma semibreve no violo, questionando:

    Quanto tempo ela durou? ou Quantas batidas durou essa nota?

  • 18

    Lembrando que as respostas devem partir dos alunos. O professor dever repetir o

    procedimento at os alunos compreenderem que a semibreve dura quatro tempos, e

    que precisamos de uma para preencher um compasso 4/4.

    Em seguida, o professor dever seguir o mesmo procedimento para as figuras

    musicais: mnima, semnima e colcheia. Nos dois ltimos casos, sugerimos que o

    professor faa notas mais agudas e sucessivas, para que os alunos possam

    compreender quantas notas estariam utilizando para completar o compasso. Por

    exemplo, precisamos de oito colcheias para completar o compasso 4/4, logo sugerimos

    que o professor faa as oito notas no compasso, para os alunos observarem que cada

    uma equivale a meio tempo, o que auxiliar na prxima atividade.

    Realizada a atividade anterior, podemos pedir aos alunos que faam algumas

    observaes relacionadas sequncia de nmeros encontrada. Em nosso trabalho, aps

    discusses entre alunos e professor, os alunos levantaram as seguintes hipteses, que foram

    transcritas no quadro pelo professor:

    uma proporo.

    O primeiro termo um.

    Os termos so obtidos multiplicando-se o anterior por dois.

    O nmero de termos n vale sete (isso se deve ao fato de que foram desenhadas sete

    figuras musicais, da semibreve semifusa).

    Ao invs de somar, multiplica (essa hiptese surgiu do comentrio de um aluno:

    uma PA, s que ao invs de somar, multiplica!).

    Observe a representao das notas e seus respectivos valores na figura a seguir:

  • 19

    Figura 8: Notas musicais e a PG Crescente

    Fonte: http://osnildo.files.wordpress.com/2008/10/modulo-2.pdf.

    Ao terminar essa atividade, sugerimos ao professor que faa alguns questionamentos,

    caso necessrio, para os alunos refletirem sobre elementos essenciais de uma PG, como por

    exemplo: Existe alguma razo nessa sequncia? Qual seria? Por qu? Essa sequncia

    crescente ou decrescente? Porm sem nenhuma formalizao sobre o tipo de sequncia.

    No entanto, consideramos importante que os alunos j possuam algum conhecimento sobre

    Progresso Aritmtica, matria que geralmente apresentada anteriormente s Progresses

    Geomtricas.

    2 atividade: PG decrescente.

    Continuando o projeto, daremos um exemplo de atividade que envolve uma sequncia

    desta vez decrescente.

    Novamente ser necessrio que o professor desenhe as figuras de tempo no quadro e,

    desta vez, analise com os alunos a quantidade de batidas (marcaes no metrnomo) a que

    as figuras correspondem.

    Para isso ser refeita a experincia anterior, utilizando violo e metrnomo, porm,

    dessa vez devemos observar a quantas batidas do metrnomo corresponde cada figura

    musical. Observe a figura a seguir:

  • 20

    Figura 9: Notas musicais e a PG decrescente.

    Fonte: http://9a.athoscompanny.com.br/Apostila_Iniciacao_Musical.pdf

    Procedimento:

    Comeando pela semibreve, o professor dever tocar a nota no violo respeitando o

    tempo marcado no metrnomo e questionar: Quantas batidas do metrnomo essa

    nota durou?

    Novamente, ser necessrio repetir a experincia at os alunos compreenderem que a

    semibreve equivale a quatro tempos.

    O professor dever anotar as respostas dos alunos no quadro para discusso.

    Sugerimos que se repita a experincia at a colcheia e se tente estender discusses at

    a semifusa (equivalente a 1/128).

    Algumas hipteses levantadas pelos alunos em nosso trabalho foram:

    A sequncia decrescente.

    A nota seguinte o quociente da nota anterior por dois.

    Considerando as notas no quadro, o n (nmero de elementos) seria sete.

    Lembramos que essas observaes, feitas pelos alunos, so de suma importncia para

    darmos sequncia ao trabalho. Caso isso no ocorra, sugerimos ao professor novamente fazer

    questionamentos sobre a razo dessa nova sequncia e sobre crescimento ou decrescimento da

    mesma.

  • 21

    2.3. Modelo Matemtico.

    Essa fase compreende a terceira atividade do projeto e d sequncia a novas sugestes

    para pesquisas e desenvolvimento de instrumentos.

    3 atividade: Obteno do termo geral da PG.

    Nessa atividade, devemos propiciar aos alunos caminhos para obterem o termo geral

    da PG, ainda sem nenhuma formalizao sobre o tipo de sequncia que esto trabalhando,

    para que possamos evitar algum tipo de consulta a algum livro didtico ou material que

    possua a frmula que devemos obter.

    Procedimento:

    Pedir aos grupos de alunos que analisem a primeira sequncia vista (1, 2, 4, 8, 16, 32,

    64...);

    Propor aos alunos que tentem criar uma frmula geral (modelo matemtico) para

    encontrar outros termos da sequncia, recorrendo s hipteses anotadas anteriormente;

    No decorrer de nossa pesquisa, obtivemos vrias discusses a respeito do que poderia

    ser o modelo matemtico procurado, algumas conjecturas feitas pelos alunos foram:

    Cada termo o dobro do anterior;

    a2 a1 vezes dois... a3 a2 vezes dois... a4 a3 vezes dois... (observe que os alunos

    costumam recorrer nomenclatura dada aos termos de uma PA);

    Ao chegarem a essas observaes, sugerimos ao professor que tente propiciar aos

    alunos trabalharem com o termo geral.

    Podemos fazer os seguintes questionamentos: Como faramos para chegar ao termo

    geral ou an? ou Como poderamos representar o an por meio de uma frmula?

    Em nosso projeto, mediante esses questionamentos, conseguimos que os alunos

    chegassem a um primeiro modelo, que foi:

  • 22

    21 nn aa

    Observe que esse modelo ainda no a frmula geral da PG, mas em seguida

    sugerimos:

    Possveis questionamentos para direcionar a obteno do modelo: possvel obter

    uma frmula que chegue direto ao an caso tivssemos s o a1? Por exemplo, teria

    alguma forma de calcular o a10?.

    Esses questionamentos podero produzir muitas discusses em sala, entre alunos e

    professor, contudo achamos vlido que o professor tente conduzir essas discusses e anotar no

    quadro algumas observaes importantes que tenha percebido em relao nova frmula

    procurada.

    Como observamos em nossa pesquisa, alguns grupos j estavam pensando em termos

    relacionados com PA, tentando trabalhar com o primeiro termo apenas e com a razo, isso foi

    relevante para o desenvolvimento do projeto. Observe algumas conjecturas feitas pelos

    alunos:

    Devemos elevar o nmero dois (razo) a quantas vezes ele foi multiplicado;

    Elevamos o nmero dois a n menos um (n se refere ao nmero de termos).

    o nmero que voc quer, menos um (n 1).

    Essas conjecturas foram relevantes para que os alunos, ento, pudessem desenvolver a

    frmula do termo geral, pois, nesse momento, eles perceberam que precisariam somente do

    primeiro termo, como j tinham a razo. Alguns grupos chegaram ao seguinte modelo:

    1

    1 2 nn aa

    O professor dever manter a discusso para que os grupos restantes possam tentar

    chegar a um modelo qualquer.

  • 23

    Para chegar ao modelo final, sugerimos que o professor tente fazer com que os alunos

    entendam que a razo, nesse caso, seria o nmero dois; poder pedir aos alunos que

    testem suas frmulas na segunda sequncia que foi desenvolvida: (4, 2, 1, , , 1/8,

    1/16,...), tentando achar, por exemplo, o termo a10;

    O professor deve auxiliar os alunos a perceberem que a razo dever ser representada

    por uma incgnita. Sugerimos alguns questionamentos: Como podemos representar

    um nmero, caso no saibamos seu valor? Se a razo no for conhecida, como

    podemos denomin-la?

    Em nosso projeto, definimos que nossa razo seria representada pela letra x; o

    modelo obtido em nosso projeto, pelos prprios alunos, foi:

    1

    1

    nn xaa

    Em seguida, no intuito de permitir aos alunos que testem o modelo desenvolvido, o

    professor poder pedir-lhes que calculem alguns termos das sequncias conhecidas.

    4 atividade: Interpolao geomtrica

    Em nosso projeto, antes de passar 4 atividade, achamos necessrio explicar aos

    alunos mais elementos relacionados msica2; foram feitas aulas expositivas sobre:

    A experincia de Pitgoras com o monocrdio isso facilita a interpretao da

    proporo inversa entre o comprimento de uma corda ou tubo e a frequncia sonora

    (nota musical) emitida;

    2 Para maiores detalhes sobre as definies e como foram realizadas as aulas, sugerimos ao leitor que recorra ao

    relato de experincia: Camargos, C. B. R.; Moreira, J. M.; Reis, F. S. (2009) e dissertao, base desse manual.

  • 24

    Oitavas e escalas para compreenderem as diferentes divises que podemos obter

    entre uma tnica e sua oitava. Sugerimos, nesse momento, direcionar escala

    temperada: D / D#/ R / R# / Mi / F / F# / Sol / Sol# / L / L# / Si / D

    Frequncias sonoras esse tema pode ser auxiliado pelo professor de Fsica. Nessa

    atividade envolveremos algumas frequncias de notas musicais;

    Harmnicos so frequncias mltiplas de uma frequncia inicial, isso nos propicia

    caminhos para envolver PG com frequncias baseadas em harmnicos;

    A histria do Temperamento Musical o professor no dever explicar como foi feita

    a diviso pelo matemtico Euler, isso ser realizado pelos prprios alunos, na

    atividade;

    Formalizao das sequncias vistas como uma PG e anlise do modelo obtido com

    alguma frmula definida no livro didtico.

    Em nosso projeto, antes de passarmos 4 atividade visitamos uma escola de Msica e

    os alunos puderam fazer questionamentos ao professor de Msica sobre harmnicos,

    frequncias (graves ou agudas), alm de algumas dvidas sobre os tpicos j vistos.

    Gostaramos de destacar a visita escola de Msica como uma das atividades motivadoras

    para o projeto, essa interao com outro ambiente (diferente da sala de aula) pareceu aguar

    ainda mais a curiosidade e a motivao para o projeto, alm de um interesse musical que

    pudemos observar em alguns alunos quando os professores de Matemtica e de Msica

    tocaram alguns trechos musicais aos alunos.

    A 4 atividade envolve algumas propriedades de PG e um problema de interpolao

    geomtrica.

    Procedimento:

    Antes de passar ao problema de interpolao, o professor dever escrever outros

    exemplos de PG no quadro, como a sequncia de valores de uma nota musical (1, 2, 4,

    8, 16, 32,...), e pedir aos alunos que analisem se existe alguma propriedade (sugerimos

    ao professor que pea aos alunos para fazerem analogias com as propriedades da PA).

    Espera-se que os alunos consigam chegar a umas das propriedades da PG: O produto

    dos extremos igual ao produto dos meios ou Sejam trs termos em PG, o termo do

    meio igual mdia geomtrica dos outros dois. Caso no seja possvel, o professor

    poder concluir tal afirmao, pois isso no afetar nossa atividade.

  • 25

    Em seguida, passa-se para o seguinte problema de Interpolao Geomtrica (tpico da

    disciplina PG) envolvendo a teoria musical:

    Temos uma nota L, de frequncia supostamente igual a 110 Hz e sua oitava, como

    sabemos, ter o dobro de sua frequncia (220 Hz). Queremos dividir o espao entre esse L e

    sua oitava com outras onze notas musicais. Observe a sequncia abaixo:

    L, L#, Si, D, D#, R, R#, Mi, F, F#, Sol, Sol#, L

    Como podemos fazer para encontrar a frequncia das outras notas?.

    O professor dever esperar que os alunos se pronunciem. Em nosso caso, planejamos

    30 minutos para essa atividade, mas um grupo resolveu a questo rapidamente e

    tivemos que controlar a situao para que os outros alunos pudessem tentar terminar

    tal atividade.

    Resoluo:

    Trata-se de um problema de interpolao geomtrica com a1 = 110 e a13 = 220, logo

    teremos n = 13, utilizando a frmula 11. nn qaa , teremos:

    1212113

    113 2.110220. qqqaa , logo:

    12 2q ou 12/12q

    Em seguida, o professor dever pedir aos alunos que calculem as frequncias de

    algumas notas, como por exemplo, as notas D, F e Sol, correspondentes,

    respectivamente, aos termos a4, a9 e a11, utilizando uma calculadora, para testarem a

    razo encontrada.

    O projeto inicial de Modelagem terminaria nesse ponto, em seguida seria aplicado

    questionrio sobre alguns temas trabalhados para verificar se houve alguma contribuio do

    projeto para aprendizagem dos alunos; contudo, os alunos propuseram uma nova questo:

    possvel construir um instrumento musical usando Matemtica?.

  • 26

    5 atividade: Utilizando PG na construo de instrumentos.

    Um projeto de Modelagem Matemtica pode no ficar restrito ao que fora

    sistematizado pelo professor. As divises feitas em meio s atividades (Interao,

    Matematizao e Modelo Matemtico) serviram para nortear o desenvolvimento do projeto,

    porm os questionamentos, discusses e possibilidades que surgem no decorrer podem

    extrapolar procedimentos pr-fixados.

    Sugerimos uma nova atividade, que envolve a construo de instrumentos utilizando a

    razo encontrada pelos alunos no problema de interpolao geomtrica, feito anteriormente, a

    razo do Temperamento Musical.

    Procedimento:

    Propor uma nova pesquisa aos alunos sobre relaes entre frequncias de notas

    musicais e comprimentos de uma corda (ou de tubos) e como fazer instrumentos

    musicais com materiais reciclveis ou materiais mais acessveis.

    Para os alunos terem tempo de pesquisar e para o professor poder analisar as

    pesquisas, sugerimos que o professor continue com a matria sobre PG, passando para

    assuntos como Somas finita e infinita de PG, Produto de uma PG finita, pois esses

    assuntos no vo interferir na realizao dessa atividade;

    Aps analisar e discutir as pesquisas feitas pelos alunos, o professor poder sugerir a

    construo de alguns instrumentos. Essa escolha dever ser discutida e analisada com

    cuidado, pois existem instrumentos que, somente utilizando aparelhos profissionais,

    poderiam ser confeccionados.

    Obviamente, existem muitas possibilidades para se criar ou construir algum

    instrumento, depender da criatividade dos alunos; sugerimos aqui cinco instrumentos que

    foram confeccionados em nossa pesquisa:

    Flauta de PVC feita com pedaos de tubos de PVC;

  • 27

    Figura 10: Flauta de PVC

    Marimba de Metal feita com pedaos de canos de metal;

    Figura 11: Marimba de Metal

    Carrilho feito com pequenos cilindros (de preferncia slidos) de metal;

  • 28

    Figura 12: Carrilho

    Marimba de garrafas feita com garrafas de vidro;

    Figura 13: Marimba de Garrafas

    Piano de PVC (marimba de PVC) feito com tubos de PVC.

  • 29

    Figura 14: Piano de PVC

    Caso os grupos no tenham decidido qual instrumento construir, o professor poder

    propor um sorteio, entre eles, dos instrumentos escolhidos.

    Dando sequncia construo dos instrumentos, o professor dever propiciar no

    mnimo uma aula para que os alunos discutam seus projetos para construrem os

    instrumentos.

    Os grupos devero discutir como construir os instrumentos e devero calcular o

    tamanho dos tubos, quantidade de gua nas garrafas etc, utilizando a razo do

    Temperamento Musical, s que, dessa vez, devero utilizar 12/12

    1q , pois estaro

    trabalhando com medidas de comprimento e, como os alunos devero ter visto

    anteriormente, o comprimento do tubo ou a quantidade da gua na garrafa seria

    inversamente proporcional frequncia da nota procurada.

    Material necessrio:

    Aproximadamente 4 metros de tubos de metal de 2 a 3 cm de dimetro;

    2.3.1. Um exemplo de como montar o instrumento Marimba de Metal1

  • 30

    Pedaos de madeira (ou suporte de metal) para montar a base do instrumento;

    Pregos e martelo;

    Fita mtrica;

    Calculadora;

    Lpis e papel para anotaes.

    Como calcular o tamanho dos tubos:

    Seguiremos as dimenses e os clculos feitos pelos alunos em nosso projeto. Para esse

    instrumento, os alunos decidiram que a tnica ou a1 teria comprimento igual 40 cm.

    Devemos utilizar como modelo a escala temperada para definir as notas a serem

    calculadas:

    D / D# / R / R# / Mi / F / F# / Sol / Sol# / L / L# / Si / D

    1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13

    Tamanho (comprimento) dos tubos:

    Para calcular o tamanho dos tubos, utilizaremos a frmula do termo geral com a razo

    do temperamento musical 12/12

    1q

    a1 1 nota (D) = 40cm

    a2 2 nota (D#) = cmqn 75,37

    2

    1.40.40

    1

    12/1

    1

    a3 3 nota (R) = cmqn 64,35

    2

    1.40.40

    2

    12/1

    1

    a4 4 nota (R#) = cmqn 64,33

    2

    1.40.40

    3

    12/1

    1

    . . .

    . . .

    . . .

  • 31

    a13 13 nota (D) = cmqn 20

    2

    1.40.40

    12

    12/1

    1

    Aps calcular o tamanho dos tubos, os alunos devero fazer as marcaes do local

    onde devero cort-los (sugerimos um espao para corte de 1cm) e para isso podero utilizar

    uma segueta (lmina prpria); no entanto aconselhamos o professor ou os alunos que levem o

    material a uma serralheria, para evitar algum tipo acidente.

    Caso os alunos ou professor forem comprar o material, outra sugesto seria calcular

    anteriormente o tamanho dos tubos e pedir aos funcionrios da loja de materiais de construo

    que j cortem no tamanho correto.

    Base do instrumento:

    A base do instrumento dever ser retangular, com aproximadamente 45 cm 20 cm

    (para canos de 2 cm de espessura), a espessura podendo variar de 1 a 4 cm. O material poder

    ser madeira ou metal.

    Caso seja madeira, os alunos devero utilizar pregos para fixar a ponta do tubo

    (aproximadamente 2 cm da extremidade) em sua base.

    Caso seja metal, sugerimos que levem a uma serralheria e peam para prender o

    material base, com solda ou parafuso.

    necessrio deixar um espao constante entre os tubos, de no mnimo 1 cm, para que

    esses no fiquem em atrito, quando se tocar o instrumento.

    Observaes:

    Os outros instrumentos seguem o mesmo princpio:

    Decidir o comprimento do tubo, corda ou quantidade de gua na garrafa que

    representar a tnica ou a1.

    Utilizar a frmula do termo geral, com a razo do temperamento musical 12/12

    1q

    para calcular o comprimento (ou quantidade de gua) que dever ter o material para as

    outras notas, utilizando a escala temperada como base.

  • 32

    Caso queiram obter apenas as notas da escala diatnica, como fizemos em nosso

    trabalho com a flauta de pvc, os alunos devero calcular apenas os termos

    correspondentes escala: D (a1), R (a3), Mi (a5), F (a6), Sol (a8), L (a10), Si (a12),

    D (a13).

    Para ter uma base do total de material a ser gasto nos instrumentos que utilizam as 13

    notas (a1, a2, ..., a13) sugerimos utilizar a frmula da soma de uma PG finita:

    1

    )1.(1

    q

    qaS

    n

    , deixando alguns centmetros a mais no material calculado, devido s

    perdas no corte do material.

    2.4. Validao e exposio do projeto.

    Para finalizar o projeto, sugerimos que o professor faa um primeiro teste com os

    instrumentos, juntamente com os alunos, para analisar a sonoridade do material e fazer

    sugestes, caso necessitem de aperfeioamento. uma ideia interessante o professor convidar

    algum msico para participar e dar tambm suas opinies sobre os instrumentos, o que poder

    fazer parte da validao do trabalho.

    Outra sugesto interessante a realizao de uma mostra do trabalho escola, ou at

    mesmo comunidade, em que os alunos possam apresentar os instrumentos e explicar como

    foram construdos, desde a parte matemtica (clculos, utilizao da PG) at a parte prtica

    (materiais envolvidos na construo dos instrumentos, o que cada membro do grupo realizou,

    etc.). Consideramos isso de grande importncia ao meio escolar e social, pois mostra uma de

    tantas aplicaes prticas da Matemtica e pode influenciar outros professores a adotarem

    novas metodologias de ensino.

    Como relatamos na dissertao, ao aplicar projetos envolvendo Matemtica e Msica

    em sala de aula, isso poder despertar o interesse dos alunos em fazer algum tipo de

    apresentao musical escola. Em nosso projeto, alguns alunos tiveram a iniciativa de propor

    uma apresentao; ensaiamos algumas msicas com o violo e convidamos dois msicos da

    cidade para participarem da apresentao. Formamos um coral com os alunos do 2 ano

    (participantes do projeto) e fizemos uma apresentao musical no dia em que ocorreu a

    mostra dos trabalhos desenvolvidos. Isso propiciou um grande envolvimento dos alunos,

    aumentando ainda mais seu interesse em mostrar o trabalho realizado. Se houver tempo, o

  • 33

    professor (caso tenha conhecimento mu0sical) ou algum professor de msica convidado

    poder ensaiar algumas msicas nos prprios instrumentos dos alunos.

    Finalizando, sugerimos ao leitor que, caso tenha dificuldades em alguma das etapas

    desse projeto proposto, recorra leitura de nossa dissertao e de outras referncias que

    disponibilizamos a seguir.

    Esperamos ter contribudo de alguma forma com os professores que pretendem aplicar

    esse tipo de projeto em sala de aula e que esse manual possa atrair cada vez mais novas ideias

    envolvendo o tema Matemtica e Msica, que pode parecer, a alguns, tema to distante,

    mas que cada vez mais, em nossa experincia, percebemos que novas possibilidades e novas

    inspiraes tomam conta da singela centelha musical que habita nosso esprito investigativo.

    3. Referncias Bibliogrficas

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    estratgia de Modelagem. 2010. Dissertao de Mestrado. Universidade Federal de Ouro

    Preto, Ouro Preto MG.

    ANTUNES, E. Apostila de iniciao musical. Disponvel em:

    Acesso em: 14 fev.

    2009.

    ARTE e Matemtica. Direo: Srgio Zeigler. Produo: Carlos Nascimbeni, Cludia

    Rangel, Cristiane Pederiva, Fbio da Luz, Fernanda Biscaro e Gustavo Zaghen. Elenco: Prof.

    Luiz Barco, Edson Montenegro, Joyce Roma e outros. [S.l.]: Telecinagem Estdios Mega;

    Cultura Marcas; TV Escola; Cultura - Fundao Padre Anchieta, 2005. Volume 3. 1 DVD (76

    min.), son., color.

    BARBOSA, J. C. A Prtica dos Alunos no Ambiente de Modelagem Matemtica: O esboo

    de um framework. In: BARBOSA, J. C.; CALDEIRA, A. D.; ARAJO, J. L. (org.)

    Modelagem Matemtica na Educao Matemtica Brasileira: pesquisas e prticas

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    ROM. 2003.

    CAMARGOS, C. B. R. Desenvolvimento de Modelos Matemticos relacionados

    Msica, para a Educao Bsica. 2008. Monografia de Especializao. Programa de Ps-

    Graduao em Educao Matemtica. Pontifcia Universidade Catlica de Minas Gerais, Belo

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    Elementos Musicais. VI CONFERNCIA NACIONAL DE MODELAGEM NA

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    ENCONTRO MINEIRO DE EDUCAO MATEMTICA. Ouro Preto - MG: UFOP, Anais

    do IV EMEM. 1 CD-ROM. 2006.

    FERREIRA, A. C.; CARVALHO, R. A. Matemtica e Msica: uma relao harmoniosa. V

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    REIS, F. S. et al. Modelagem Matemtica e Modelos Matemticos para os Ensinos

    Fundamental e Mdio. III ENCONTRO DE EDUCAO MATEMTICA DE OURO

    PRETO. Ouro Preto - MG, Anais do III EEMOP, p. 1-11, 2005.

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