Massafeira 30 anos diáriodo nordeste d8_17092010

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8| caderno3 DIÁRIO DO NORDESTE | FORTALEZA, CEARÁ - SEXTA-FEIRA, 17 DE SETEMBRO DE 2010 TETI Cantora H Não imaginava o que o evento se tornaria. Tudo era carregado de muita emoção” RODGER ROGÉRIO Cantor e compositor HA juventude daquele tempo se uniu conosco para mostrar suas composições” NELSON AUGUSTO Repórter G estado num perío- do de dois anos, o livro “Massafeira Li- vre – 30 Anos – Som Imagem Movimen- to Gente” terá seu lançamento marcado por 12 horas de ativida- des culturais no Theatro José de Alencar, a partir das 18h de ama- nhã. O cantor e compositor Ed- nardo, responsável pela coor- denação do projeto, fez uma triagem e escolha, consulta e seleção de textos, fotografias, cartazes e ilustrações. Somen- te das fotos, foram mais de 500 negativos, além de captura de imagens dos filmes do Massa- feira, em 1979, e do show de lançamento do disco, em 1980, em restauração de registros fei- tos em super 8 por Rosemberg Cariry. “Foi uma verdadeira pesqui- sa de garimpagem. A escolha foi muito criteriosa, tanto de grafismos quanto de textos. Além de artistas que participa- ram da Massafeira, há contri- buições de outras pessoas que não estiveram ligadas direta- mente ao movimento, como o professor e escritor Gilmar de Carvalho; Ruy Vasconcelos, que é cineasta e compositor, e um da geração mais nova, o professor Michel Platini, que fez uma celebração da Massafei- ra na UECE”, contabiliza. Ainda no campo acadêmico, Ednardo também selecionou um trabalho científico exclusiva- mente focado no movimento: a monografia universitária “O Pes- soal do Ceará e a Massafeira”, da então estudante Vanderly Cam- pos de Oliveira, do Departamen- to de Comunicação Social e Bi- blioteconomia da UFC, defendi- da em 2000, sob a orientação de Gilmar de Carvalho. O livro está ilustrado com de- senhos gráficos de Brandão, Fausto Nilo e Ednardo. Também traz reverberações do movimen- to na mídia local e nacional. “Apesar de o espaço da impren- sa local na época do aconteci- mento ter sido quase nulo, ao longo do tempo as pessoas fo- ram valorizando o movimento”, destaca. “Incluímos também no livro matérias de jornais e textos das comemorações dos 20 e 30 anos da Massafeira, este último no ano passado, no show na Pra- ça do Ferreira ”. Canto de liberdade Remanescente do Pessoal do Ceará e da Massafeira, Rodger Rogério, que também subirá ao palco na festa de amanhã no TJA, lembra com afetividade al- guns momentos. “Quando, atra- vés da Tânia Araújo, fiquei sa- bendo da Massafeira, participei de algumas reuniões, mas não imaginava no que o evento se tornaria. A música, a alegria de um canto de liberdade explodia em pleno palco do Theatro José de Alencar”, recorda Rodger. “Já no Rio de Janeiro, na grava- ção do disco, ficava a maior par- te do tempo no estúdio da CBS. Lembro de dezenas de músicos, instrumentistas, cantores e com- positores que pela primeira vez entravam em um estúdio de gra- vação. Tudo era carregado de muita emoção. Não tive muito tempo para curtir, não partici- pei da boemia, mas foi tudo mui- to bom para mim”. No disco duplo “Massafeira”, Rodger Rogério fez a coordena- ção musical, ao lado de Stélio Valle e Petrúcio Maia. “Traba- lhar com gravação é uma das atividades mais prazerosas para mim, de forma que foi um bom presente que recebi. Petrúcio e o Stélio completavam as tarefas”, conta Rodger, destacando espe- cialmente a música "Último Raio de Sol", de sua autoria, que ainda não tinha letra e foi sola- da em vocalise por Teti e Ednar- do. Mais tarde, a melodia ganha- ria letra de Fausto Nilo. Rodger lamenta que o lança- mento do álbum duplo, em 1980, não tenha tido repercus- são à altura do evento. “Proble- mas internos na fábrica da CBS impediram um lançamento que tão importante registro merece- ria. Mas, pelo que representou para os jovens da cidade naquele momento e pela repercussão al- cançada em outras capitais, com o passar do tempo, a Mas- safeira foi se revestindo de importância histórica. “Outra participante da Massafeira e dos eventos que a ela se seguiram é a cantora Teti, que ressalta a presença dos jovens músicos de Forta- leza. “A juventude daquele tempo se uniu conosco do Pessoal do Ceará para também mostrar suas composições. Foi o pontapé inicial em todas as áreas da arte que divulgou nos- sa rica música para o Brasil intei- ro até hoje. O disco não vingou muito por conta da burocracia da gravadora, mas alavancou a carreira de todos”. o MEMÓRIA I B A caravana cearense no bairro de Santa Teresa, no Rio de Janeiro, quando das gravações do disco duplo, em 1979 FOTOS: ACERVO GENTIL BARREIRA O livro “Massa- feira Livre - 30 Anos” reú- ne textos de 17 autores. Entre eles, os organizado- res do evento original, Ed- nardo e Augusto Pontes, e os compositores Brandão, Fausto Nilo, Mona Gade- lha, Calé Alencar, Rodger Rogério, Graco Sílvio Braz e Ruy Vasconcelos. Mas há contribuições de outros no- mes da cultura cearense, como os professores e pes- quisadores Gilmar de Car- valho e Pedro Rogério (fi- lho de Rodger) e o cineasta Rosemberg Cariry. Em seu texto, Gilmar de Carvalho destaca aspectos estéticos e contextuais do grande encontro de artis- tas cearenses em 1979, res- saltando o intercâmbio en- tre músicos já então nacio- nalmente consagrados e nomes que despontavam em começo de carreira, no cenário local. “A Massafei- ra pode ser pensada como uma epifania na linguagem da composição popular cea- rense. Foi um instante de luz, uma centelha de ilumi- nação mostrando um possí- vel diálogo entre famosos e novíssimos, entre os estabe- lecidos e os que sonhavam em emplacar um sucesso ou deixar sua marca (...)O fato de a Massafeira ter sido pro- posta por Ednardo e Augus- to Pontes mostra que eles queriam evitar esse desgas- te e conseguiram, até certo ponto, atingir esse intento. A grande importância da Massafeira vem de seu cará- ter coletivo e plural. (...) A diversidade das propostas e a embricação dos cantos le- vam a um momento único. O que os une é a necessida- de de cantar como interfe- rência estética e política”. o Publicado após dois anos de pesquisas, o livro “Massafeira Livre - 30 Anos”, que será lançado amanhã no Theatro José de Alencar, registra em textos e fotos inéditas o grande encontro da música cearense TEXTOS LIVRO A Massafeira Livre em múltiplos olhares Páginas de uma história musical I D Lúcio Ricardo, Teti, Rodger Rogério e Luiz Miguel Caldas, na CBS: a música cearense nos estúdios de uma multinacional I B O livro “Massafeira Livre - 30 Anos” reúne imagens inéditas do evento e dos bastidores da gravação do disco VEJA AMANHÃ C MASSAFEIRA - O SHOW

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8 | caderno3 DIÁRIODONORDESTE | FORTALEZA,CEARÁ-SEXTA-FEIRA, 17DESETEMBRODE2010

TETICantora

HNão imaginavaoqueoeventosetornaria.Tudoeracarregadodemuitaemoção”

RODGERROGÉRIOCantore compositor

HAjuventudedaquele temposeuniuconoscoparamostrarsuascomposições”

NELSONAUGUSTO

Repórter

Gestado num perío-do de dois anos, olivro“MassafeiraLi-vre – 30 Anos – SomImagem Movimen-

to Gente” terá seu lançamentomarcadopor12horasdeativida-des culturais no Theatro José deAlencar,apartirdas18hdeama-nhã. O cantor e compositor Ed-nardo, responsável pela coor-denação do projeto, fez umatriagem e escolha, consulta eseleção de textos, fotografias,cartazes e ilustrações. Somen-te das fotos, foram mais de 500negativos, além de captura deimagens dos filmes do Massa-feira, em 1979, e do show delançamento do disco, em 1980,em restauração de registros fei-tos em super 8 por RosembergCariry.

“Foi uma verdadeira pesqui-sa de garimpagem. A escolhafoi muito criteriosa, tanto degrafismos quanto de textos.Além de artistas que participa-ram da Massafeira, há contri-buições de outras pessoas quenão estiveram ligadas direta-mente ao movimento, como oprofessor e escritor Gilmar deCarvalho; Ruy Vasconcelos,que é cineasta e compositor, eum da geração mais nova, oprofessor Michel Platini, quefez uma celebração da Massafei-ra na UECE”, contabiliza.

Ainda no campo acadêmico,Ednardo também selecionouumtrabalhocientíficoexclusiva-mente focado no movimento: amonografiauniversitária“OPes-soal do Ceará e a Massafeira”, daentão estudante Vanderly Cam-posde Oliveira, do Departamen-to de Comunicação Social e Bi-blioteconomia da UFC, defendi-da em 2000, sob a orientação deGilmar de Carvalho.

O livro está ilustrado com de-senhos gráficos de Brandão,Fausto Nilo e Ednardo. Tambémtraz reverberações do movimen-to na mídia local e nacional.“Apesar de o espaço da impren-sa local na época do aconteci-mento ter sido quase nulo, aolongo do tempo as pessoas fo-ram valorizando o movimento”,destaca. “Incluímos também nolivro matérias de jornais e textosdas comemorações dos 20 e 30anos da Massafeira, este últimono ano passado, no show na Pra-ça do Ferreira ”.

Cantode liberdade

Remanescente do Pessoal doCeará e da Massafeira, RodgerRogério, que também subirá aopalco na festa de amanhã noTJA, lembra com afetividade al-guns momentos. “Quando, atra-vés da Tânia Araújo, fiquei sa-bendo da Massafeira, participeide algumas reuniões, mas nãoimaginava no que o evento setornaria. A música, a alegria deum canto de liberdade explodiaem pleno palco do Theatro Joséde Alencar”, recorda Rodger.“Já no Rio de Janeiro, na grava-ção do disco, ficava a maior par-te do tempo no estúdio da CBS.Lembro de dezenas de músicos,instrumentistas, cantores e com-positores que pela primeira vezentravam em um estúdio de gra-vação. Tudo era carregado demuita emoção. Não tive muito

tempo para curtir, não partici-pei da boemia, mas foi tudo mui-to bom para mim”.

No disco duplo “Massafeira”,Rodger Rogério fez a coordena-ção musical, ao lado de StélioValle e Petrúcio Maia. “Traba-lhar com gravação é uma dasatividades mais prazerosas paramim, de forma que foi um bompresente que recebi. Petrúcio e oStélio completavam as tarefas”,conta Rodger, destacando espe-cialmente a música "ÚltimoRaio de Sol", de sua autoria, que

ainda não tinha letra e foi sola-da em vocalise por Teti e Ednar-do. Mais tarde, a melodia ganha-ria letra de Fausto Nilo.

Rodger lamenta que o lança-mento do álbum duplo, em1980, não tenha tido repercus-são à altura do evento. “Proble-mas internos na fábrica da CBSimpediram um lançamento quetão importante registro merece-ria. Mas, pelo que representoupara os jovens da cidade naquelemomento e pela repercussão al-cançada em outras capitais,com o passar do tempo, a Mas-safeira foi se revestindo deimportância histórica.

“Outra participante daMassafeira e dos eventos quea ela se seguiram é a cantoraTeti, que ressalta a presençados jovens músicos de Forta-leza. “A juventude daqueletempo se uniu conosco doPessoal do Ceará para tambémmostrar suas composições. Foi opontapé inicial em todas asáreas da arte que divulgou nos-sa rica música para o Brasil intei-ro até hoje. O disco não vingoumuito por conta da burocraciada gravadora, mas alavancou acarreira de todos”. o

MEMÓRIA IBAcaravanacearensenobairrodeSantaTeresa,noRiodeJaneiro,quandodasgravaçõesdodiscoduplo,em1979FOTOS: ACERVOGENTIL BARREIRA

Olivro “Massa-feira Livre -30Anos”reú-ne textos de17 autores.

Entre eles, os organizado-res do evento original, Ed-nardo e Augusto Pontes, eos compositores Brandão,Fausto Nilo, Mona Gade-lha, Calé Alencar, RodgerRogério, Graco Sílvio Braze Ruy Vasconcelos. Mas hácontribuiçõesdeoutrosno-mes da cultura cearense,como os professores e pes-quisadores Gilmar de Car-valho e Pedro Rogério (fi-lho de Rodger) e o cineastaRosembergCariry.

Em seu texto, Gilmar deCarvalho destaca aspectosestéticos e contextuais dogrande encontro de artis-tas cearenses em 1979, res-saltando o intercâmbio en-tre músicos já então nacio-nalmente consagrados enomes que despontavamem começo de carreira, nocenário local. “A Massafei-ra pode ser pensada comouma epifania na linguagemdacomposição popularcea-rense. Foi um instante deluz, uma centelha de ilumi-nação mostrando um possí-vel diálogo entre famosos enovíssimos, entre os estabe-lecidos e os que sonhavamem emplacar um sucesso oudeixar sua marca (...)O fatode a Massafeira ter sido pro-posta por Ednardo e Augus-to Pontes mostra que elesqueriam evitar esse desgas-te e conseguiram, até certoponto, atingir esse intento.A grande importância daMassafeira vem de seu cará-ter coletivo e plural. (...) Adiversidade das propostas ea embricação dos cantos le-vam a um momento único.O que os une é a necessida-de de cantar como interfe-rência estética epolítica”. o

Publicado após doisanos de pesquisas, olivro “Massafeira Livre- 30Anos”, que serálançado amanhã noTheatro José deAlencar, registra emtextos e fotos inéditaso grande encontro damúsica cearense

TEXTOS

LIVRO

AMassafeiraLivre emmúltiplosolhares

Páginas de umahistória musical

ID LúcioRicardo,Teti,RodgerRogérioeLuizMiguelCaldas,naCBS:amúsicacearensenosestúdiosdeumamultinacional

IBOlivro“MassafeiraLivre-30Anos”reúneimagensinéditasdoeventoedosbastidoresdagravaçãododisco

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C MASSAFEIRA-OSHOW