Mary L Pratt - Os Olhos do Império

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7 I,' r f f," Mary Louise Pratt f:.' . r' EOl1§C Editora da Unlvartldada do Sagrado Coração COO1'detlação Editorial Irmã ]acinta TUi'Olo Garcia Assessoria Administrativa Irmã Teresa Ana SofiJ tti Assessoria Comercial Irmã Áurea de Almeida Nascimento Coordenação tia Coleção Ciências ,,'iociais Luiz Eugênio Véscio .di. c:tencJaS SOCIaIs \IU\C l' ..I \ 1 ,o-- (" \ ... l ff r: /; I: i' I, I i I: ! , , I: i I j, . ! I , I ! " I ( i Os , o (I olhos do relatos de viagem .... , e transculturaçao Tradução Hernani Bonfim Gutierre Revisão técnica Maria Helena Machado Carlos Valero li li

Transcript of Mary L Pratt - Os Olhos do Império

Page 1: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

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Editora da Unlvartldada do Sagrado Coraccedilatildeo

COO1detlaccedilatildeo Editorial Irmatilde ]acinta TUiOlo Garcia

Assessoria Administrativa

Irmatilde Teresa Ana SofiJ tti

Assessoria Comercial

Irmatilde Aacuteurea de Almeida Nascimento

Coordenaccedilatildeo tia Coleccedilatildeo Ciecircncias iociais

Luiz Eugecircnio Veacutescio

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Os bull o (Iolhos do lmperlC~ bull relatos de viagem e transculturaccedilao

Traduccedilatildeo

J~zio Hernani Bonfim Gutierre

Revisatildeo teacutecnica

Maria Helena Machado Carlos Valero

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~_~~ --1~--~ -1------ conSClenCla planetaacuteria interiores

(Elepo~k)~~mpreen(1er uma viagem pelo mundo em liro~ se frzer mestre da geografia do universo pelr)s mapas albs l

mensura~Qes de nossoS matemaacuteticos Pode viajar por terra com nossos historiadores pelo mar com os Pode circushynavegar o com Dampier e Rogers e ao fazer isso nuumll vezes mais do que rodos os mrinheiros iktrados

(f11I1elllill (1750)(Daniel Defoe 11Je Compeat

A paesiH mio estaacute mais em moda Todos passaram a hrincar dc scr geocircmetra ou fiacutesico Sentimento imagifw~~lO c s grals banidos A liacuteteratura est1 nfrfcendo ante nossos ciacutenrios olhll

(Volta ire Cna a Cicleville 1( de abliI de 17~i

A europeacuteia desta histoacuteria comeccedila no ano cushyropeu 1735 Ao menos este eacute o ponto em que a narratimiddot va comeccedilaraacute a histoacuteria leva outros vinte ou trinta para realmente deslanchar No ano de ltlCorrem dois eventos de certa forma e Um foi a publicaccedilagraveo do S)JstemCl Natll me (() Sisema do Nomiddot

Ar IlIlclprelliollI lm()I1 l(j(Iacuteq nl26

JIrfSIgtOII(II(e de Voltjrlt 01 rvferecircnd li

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

tureza) de Carl Linneacute no qual o naturalista francecircs estabeshylece um sistema classifica toacuterio que visa categorizar todas as formas vegetais do planeta fossem conhecidas ou desshyconhecidas dos europeus O outro foi a inauguraccedilatildeo da prishymeira expediccedilatildeo cientiacutefica internaccedilional da Europa um esshyforccedilo conjunto visando determinar de uma vez por todas a forma exata da Terra Como pretendo argumentar estes eventos e sua coincidecircncia sugerem a importante magnitushyde das mudanccedilas no entendiment9 que as elites europeacuteias tinham de si mesmas e de suasmiddot ~elaccedilotildees com o resto do mundo Este capiacutetulo se volta para ordf emergecircncia de uma nova versatildeo do que gosto de chamar consciecircncIacuteltl ria da Europa uma versatildeo marcada pela tendecircncia agrave exploshyraccedilatildeo do interior e pela construccedilatildeq ccp significado em niacutevel global por meio dos aparatos desc~itivFls da histoacuteria natural Esta nova consciecircncia planetaacuteria como sugiro eacute elemento baacutesico na construccedilatildeo do moderno eurocentrismo o reflexo hegemocircnico que incomoda os Ccedillcilt1entais continuando mesmo a ser uma segunda natureZa para eles

Sob a lideranccedila francesa a expediccedilatildeo cientiacutefica intershynacional de 1735 foi montada ccin ccedil) fito de responder a uma candente questatildeo empiacuterica seria a Terra uma esfera como afirmava a geografia (francesa) cartesiana ou seria ela como Co inglecircs) Newton havia conjecturado um esferoacuteishyde achatado nos poacutelos Esta era uma questatildeo altalTente carshyregada pela rivalidade poliacutetica entre Franccedila e Inglaterra Um grupo de cientistas e geoacutegrafos liacutederados pelo fiacutesico francecircs Maupertuis foi enviado para o norte para a Lapocircnia a fim de mensurar um grau longitudinal no meridiano Outro rushymou para a Ameacuterica do Sul para proceder agrave mesma menstlmiddot raccedilatildeo no Equador proacuteximo a Quito Nominalmente encabeshyccedilada pelo matemaacutetico Louis Godin esta expediccedilatildeo entrou para a histoacuteria com o nome de um de seus poucos sobrevishyventes o geoacutegrafo Charles de la Condaminc

A expediccedilatildeo La Condamiacutene foi um triunfo co marcante para a comunidade cientiacutefica europeacuteia Os tershyritoacuterios americanos da Espanha estavam estritamentecirc fechashydos para viagens oficiais de estrangeiros de qualquer tipo e

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ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

haviam permanecido assim por mais de dois seacuteculos A ohshysessatildeoda corte espanhola de proteger suas colocircnias (k toela influecircncia e espionagem estrangeiras era legenebria Apoacutes perder10 controle do traacutefico de escravos para a Gratilde-Bretashynha em 1713 a Espanha havia se tornado mais temeros~

que nunca em relaccedilatildeo agraves incursotildees em seus econocircmicos e culturais Quanto mais se torn shyvarri os ltcontatos internacionais ebs elites criollbs Lt1l SlI

colocircnias mais receosos ficava11 os espanloacuteiacutes A

dos espanhoacuteis escreveu o cors8rio britflnico gunda deacutecada do seacuteculo consiste procurar por todos os meios e form~IS as vastas riquezas daqueles extensos domiacutenios

matildeos O conhecimento dessas riqucltls lllrl1HHI

I3etaghe da grande denunda entre americanos por pn dutos europeus tem excitado todas aS nlccedilcJc da EUrGpai As instalaccedilocirces militan-s nos portos Ameacutericl

e a mineraccedilatildeo no interior eram IS clU1S (Ollstrll

coloniais mais cuidadosamente nrorelidIS do olhar

tern ao meSmolrempl) em te investigadas pelos rivais de

o rei da Franccedila contratou um jovem tngtnhciro Ch~lll-cio para viajar ao longo da costa do Chile L do fingindo-se de comerciante para melhor ip scuir-sc cn

espanhoacuteis e ter todas as il iacutedldls d Obcecado minas ltrlziel I)

grou ver uma No entanto memo os relllos ele segu matildeo que ele reproduziu foram avidamente peshylos leitores na Franccedila e na InglaterrJ N~l auscncia l n()middot()middot~ escritos sobre a Ameacuterica do Sul o compibclor da dv

de Churchill em 1745 traduziu noUS soiJt-e o Cl1ishyle escritas um seacuteculo antes pelo Jesuiacuteta fsnlIlhol ilol1s0

2_ Capitt10 Ilcragh f)hsemalioIS())llbeColIIllrul bullbullbull1II (lId IaIS DIlIIacuteIIiacutei his CCpiioilV in ohn linkerton (limiddot middot()middot(I~lt (111

in ali Paris World London Longman el alll 01 i- I MI p M Freacutezier 1 Voyage lO Ibe ouh Sea cmd (iIOll

anel Penl in Years 1712 73 e 1711 lraduido do 1 ( 111

glecircs c editado por London Lonah Bowyer l717 llLki

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ciecircncia e sentimento 1750-1800-----_--------shy _

Ovalle 4 No que se refere ao interior da Ameacuterica hispacircnica mesmo relatos antigos eram mais confiaacuteveis que conjecturas ccntemporacircneas ccmo a descriccedilatildeo que faz Betagh de UO

terremoto no in~eror que levantou aacutereas inteiras e as arrasshytou para milhas dali 5

No caso da expediccedilatildeo La Condamine a coroa espa-I _

nhola pocircs de lado o seu famoso protecionismo Avido por alicerccedilar o seu prestiacutegio e mitigar a lenda a respeishyto da crueldade espanhola V aproveitou a oportuni dade para agir como um ilustrado monarca continental Condiacuteccedilocirces estabelecendo os limites expediccedilatildeo acordadas e dois espanhoacuteis Antonio de Ulloa e ge Juan agregados para assegurar que a pesquisa natildeo desse lugar agrave espionagem - o que prontamente aconte-

I ceu Da mesma forma praticamente tudo o mais errashydo A expediccedilatildeo La Condamine foi 1Im empreendimento tatildeo aacuterduo que mais de sessenta anos Sy passariam antes que qualquer coisa semelhante fosse outra vez tentada6 Rivalishydades dentro do contingente francecircs rapidamente cindiram 05 viacutenculos de colaboraccedilatildeo A cooperaccedilatildeo internacional deu lugar a interminaacutevel disputa com autoridades coloniais sobre o que poderia ou natildeo ser visto medido desenhado ou quais amostras poderiam ser recolhidas A certa altura toda a expediccedilatildeo foi mantida em Quito por oito meses acushysada de planejar o saque dos tesouros incas Os estrangeishyros com seus estranhos instrumentos suas menshysuraccedilotildees - da gravidade da velocidade do som alturas e distacircncias cursos de rios altitudes pressotildees barom~tricas eclipses refmccedilocirces trajetoacuterias das estrelas eram objeto de contiacutenua ampuspeita Em 1739 o meacutedico do grupo foi assassishy

--I 4 Alonso de Ovalle - An Htsloricaf Reluacutetion (~ lhe Kingdom of Chile em Pinkerton op cito vol 14 pp 30-210

5 Beragh op cit pS 6 Miacutenha analise nesse ponto faz uso d()~ trabalhos de Victor Von Hagen - South Amerlca Calted Them New York Knorf 1911 lfeacutelecircne - Introduccedilatildeo a Voyage sur L iacuteimazone de La Condamine Paris Maspero 1981 pp5-27 Edward J Goodman - Tbe fJxporers of South Amerim New York Macmillan 1972

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ciacuteecircnciu conscifncia planetaacuteria interiores

nado apoacutes ter se envolvido numa entre duas rosas funiacutelias em Cuenca no Equador LI COl1daminc p lI pouco escapou do mesmo destino Uma batalha iudicial f()i travada por rnais de um ano sobre se a de poderia ser afixada sobre as piracircmides triangulares eh expcshydiccedilatildeo fleur de lys perdeu) A eacutexploraccedilatildeo do interior eS(J

va provando ser um pesadelo poliacutetico aineb ma ior cio a sua precedente mariacutetimn

Os pesadelos logiacutesticos da cio interit lI eram tambccedilm novos e a expediccedilatildeo La ConclamIacutene nlO foi poupada de nenhum deles Os rigores do clima allclino e J

viagem por terra provocaram enfermidades continuadasbull I

danificados Derda de eSDeacutecimes cJckmos de anotaccedilotildees nlOJhados frus

o grupo francecircs se desintegrou clbendo a cada um encontrar sua proacutepria maneira de voltar para CIS~l

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ou entatildeo permanecer abandonado na Ameacuterica cio Sul Ainshyda qUe a expediccedilatildeo sul-americana tivesse tido iniacutedo UI1l ~ln() antek de sua contrapartida enviada para o Artiol

l damente uma deacutecada transcorreu antes que os bre~iventes comeccedilassem sua tortuosa volta pnra a Haacute muito a questatildeo do formato da Terra bavLl siclo decidi da (Newton ganhou)

Aleacutem de informaccedilatildeo sobre outros assunto () grup() sul-americano trouxe para casa desconfoni veis sohr a poliacutetica e o (anti-) heroiacutesmo da ciecircncia O l11atcmlti() Pill re Bouguer retornou primeiro e ficou com 1 gloacuteria ele rcl~lllr

o ocorrido agrave Academia Franrpccedila de Ciacuteenciacute~l La CondamIacutelll em 1744 via e foi aclamldo pur sua inC

dita jOiI1ada amazocircnica Por meio de uma Glmplshy

nha contra Bouguer La Condamine conseguiu se firmar por toda a Europa como o priacutencipal da expcdiacuteccedilu En quanto isso Louis Godiacuten o lideI nominal ca expedicatildeo esshytava lentamente percorrendo o caminho de volta a Espanha em 1751 foi-lhe

devido a O naturalista Joseph de continuou n Hll suas pcsqu ias na Nova foi mll1dlcO tmhlat~1771

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

lt1 de Quito completamente louco O jovem teacutecnico Godin des Odonnais alcanccedilou Caiena onde esperou dezoito anos por sua esposa peruana (voltaremps agrave trdjetoacuteria desta mulher mas adiante) retomando finalmente para a Franccedila em Dos outros nada mais se ouviu

A cooperaccedilatildeo da Espanha com a expediccedilatildeo La Condashymine constitui evidecircncia flagrante do ipoder da ciecircncia para elevar os europeus acima de suas mais intensas rivalidades nacionais O proacuteprio La Condamine celebrou este impulso continental no prefaacutecio a seu relato da viagem no qual conshygratulou Luiacutes XV por apoir a Coop~racircCcedilatildeo cientiacutefica entre as naccedilotildees consorciadas mesmo quando simultaneamente em guerra contra elas Enquanto os exeacutercitos de Sua Majestade moviam-se de um confim a outro da Europa afirmOl~ La Condamine seus matemaacuteticos disp~rsos por toda a Terra trabalhavam em Zonas Toacuterridas e Friacutegijlas para o avltmccedilo das ciecircncias e o benefiacutecio comum de todas as naccedilotildees Todavia natildeo se pode deixar de notar aqui o cpnspiacutecuo tom nacionashylista de La Condamine o cientista francecircs orgulhosamente congratula seu proacuteprio rei por seu cosmopolitismo esclarecishydo Num espiacuteritoigualmentc duacutebio tanto a Real Sociedade Britacircnica quanto a Academia Francesa de Ciecircncias galardoashyram os espanhoacuteis Juan e DUoa com o tiacutetulo de membros hoshynoraacuterios - gestos transnacionais indissociaacuteveis da intensa ri validade nacional entre a Gratilde-Bretanha e a Franccedila e seus inshyteresses conflitantes na Ameacuterica espanhola Tais gestos resumem o jogo ambiacuteguo de aspiraccedilotildees nacionais e contishynentais que havia sido uma constante ao longo da expansatildeo europeacuteia e que haveria de permanecer assim durante a era da ciecircncia Por um lado as ideologias dominantes traccedilavam uma dara distinccedilatildeo entre a (interessada) busca de riqueza e a (desinteressada) procura de conhecimento por outro lado

~~~e de la Condamine - A Succint Abridgiment ()f a made withiacuten the Inland Parts of Suuth-America Lonclon E 1748 piv Esta eacute a primeira traduccedilatildeo em Inglecircs de seu Relatiun abreacutegieacute dun voyage fait dans liacutenteacuterieur de lA meacuterique meridionale (1745) (ecl~j bras Ralato abreviado de uma viagem pelo interior da Ameacuterica meridioshynal Satildeo Paulo Cultura 1944J

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a compeuccedilao el~tre as naccediloeq cOntinuou a ser () 1l()lor (11 c 1 ~

pansao europela no extenor Num aspecto a expediccedilatildeo La Concbmine toi unI sushy

cesso verdadeiro elhquanto relato As hist(iacuteriacutes L texlOS

ela provOcou circularam por toda a Europ~1 pm em circuitos escritoS e orais De fato o corpo de textos sultante daexpecliccedilagraveo La Condamine sugere hcm () alclllrl e a vadedade dos relatos de viagem produzidos el11 mea(b~ do seacutecuumllo )VIII relatos que por sua vez trouxcrl111 outrlS

as imaginaccedilotildees cios euro~)Ius [11ll

breve inventaacuterio dos relatos da expedi~agraveo 1lt1 Condanliacutem sugerir o que significa falar sohre

relatose zonas de contato neste momento da llistciacuteria O matemaacutetico13ouguer o primeiro a retornar escreV(u

seu relatoacuterio para a Academia Francesa de CiCnchls em ]7-H

num) Narrativa Abeviada de urna Viagenl (I() PCII Dl cio a ~oz do cientista predomina neste retllo eillLllLlrandnmiddot se o discurso em torno das

etc Entretanto quando sua viagem se voltl r1lr1 i)

narrativa cientiacutefica de Bouguer se c de sofrimentos e privaccedilocirces qUl lllS11l0

leitura se torna comovente No ponto em que a aeacutearllpa no topo da gelada cordilheira elos Andei IXlssaglI1 sobre frieiras hemorraacutegicas e escravos ameriacutendios ll1on(mlt 1

do frio se confundem com cio calor do corpo Sobre as minas Boushy

guer relaw apenas boatos observando que i]

natureza do paiacutes torna difiacutecil que outras detas sejmn enconshytradas e tambeacutem que os iacutendios satildeo saacutebios bastl1te parlI)

muito pre3tativos neste tipo de caso fossem bem-sucedidos estariam a quase insuportuumlvel exploraccedilatildeo de seu do porccedilatildeo iacutenfima dos rendimentos Bouguer tunl)em proshyduziu um livro teacutecnico sobre a expedicatildeo

cla (YI lu ~(JU ( I 1111Pierre Bouguer - Ali Iinkerton ojJ Cil vol i

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e sentimento 1750-1800

FigA A expediccedilatildeo La Condamine fazendq mensuraccedilotildees Extraiacutedo de Mesure des rois premiers degres du Meacuteridien dans IHeacutemispbere Austral (Mensuraccedilagraveo dos Primeiros Trecircs Graus do Meridiano no liemifteacuterio Austral) de Charles de la Condamine Paris lmprimerie Roya 1751

La Condamine tambeacutem pllblicOll seu relatoacuterio para a Academia Francesa sob o tiacutetulo Breve Narrativa das Viagens atraveacutes do Interior na Ameacuterica Co Sul (745) o qual foi muishyto lido e amplamente traduzido Talvez porque Bourguer jaacute tivesse falado d2 palte andlna da missatildeo o relato de La Conshydamine se volta principalmeme para sua extraordinaacuteria viashygem de volta descendo o Amazonas e suas tentativas de re- gistrar seu curso e afluentes O texto eacute escrito essencialmenshyte natildeo como um relatoacuterio cientiacutefico mas no gecircnero popular da literatura de sobrevivecircncia Ao lado das navegaccedilotildees os doIs grandes temas da literatura da sobrevivecircncia satildeo os soshyfrimentos e perigos de um lado e as maravilhas exoacuteticas e as curiosidades de outro Na narrativa de La Condamine o drama das expediccedilotildees do seacuteculo XVI na regiatildeo Olellana Raleigh Aguirre - eacute recapitulado com todas as suas associashyccedilotildees miacuteticas Ao adentrar na selva La Condamine se encon tra nun novo mundo longe de tedo comeacutercio humano soshybre um mar de aacutegua fresca Laacute me encontrei com novas

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

plantas novos animais e novos homens) Ele ~T~ comomiddot jaacute haviam feito todos os seus precursores sobre a ]0shy

calizaccedilatildeo do El Dorado e a existecircncia das amazonas as I

quais ainda que bem possam ter existido muito provavelshyrnentetenham hoje em dia abandonado seus costu mes mevoslO A selva permanece sendo um mundo de fascinashyccedilatildeoe perigq1l

AcircindaqJe a Breve Narrativa de 1745 certanlente mais conhetida das obras de La CondarliI1t ele tamheacutem P(shyblicol copiosJmente em outrns gecircneros todo llcs basl~ld(

viagens americanas Sua Cal1a 1

em Cuacutecnca surgiu em 17tiacute6 seguida por uml flisl(i ria do Piracircmides deacute Quito (1751) e por um rtlltoacuterlo a

d~l Merstraccedilacirco dos Primeiros Trecircs GrelIs do J[(liduumlIIlO I di Pe o resto e sua vida ele se empenhou na

e em pblecircmkas sobre um leque de temas cientiacutefico relacioshynados atilde Ameacuterica incluindo os efeitos do

(amplamente utilizada por missiomiacuterino eSIX nhoacuteis)a existecircncia das Amazonas a geografia cio Orenoco ( do RiacuteoNegro Ele esCreveu sobre a borracha que arrcsentoll aos cientistas europeus o curare e seus antiacutedotos e a nelesmiddot siclade d~ pflclrocirces europeus comuns de mcnsuraccediluumlo Os csshyctitos cientiacuteficos especializados de La Conelmine dlO a mlshy(lida de quanto a ciecircncia veio articular os contatos curolxlI~ com a fronteira imperial e cio quanto foi articulada por tle~ o

Foram os dois esparhoacuteis JlI~1Jl l llloa elaboraram o uacutenico relato extensivo da por Ulloa a pedido do rei de lica do Sul veio a puacuteblico na Espanha em 1747 v sua tLI

feita por John Adams mereceu cinco cdi~ lt Ullqa 1 nem cieacuteleil 1ll11I litcrltu

de estaacute escrito num estil() que gosto (Iv

ciacutevica Virtualmente iSlnto de

La Condallinc ofJ Cil p24 Ir) IbiacutecL p51 11 Evidentltlllente ainda C A nwiacutes recente re-l11ccmiddotI1ICcedilmiddot tI Irlt amazoms eacute 11I1111Iacute1f lhe 1CZOII ele 1ltII1l tmiddot Ymk l111l

House J989

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

quer rodeio de entretenimento o livro eacute um enorme comshypecircndio de informaccedilotildees acerca de muitos da geoshygrafia colonial espanhoiacutea e da vida nas espanholas

- eacute claro minas -LV

maccedilotildees estrateacutegicas Eacute um trabalho estatiacutestico no sentido original do termo isto eacute uma investigaccedilatildeo sobre o estado de um paiacutes (Oxford English Dictionary) Adams louvou o tratado por sua confiabiHdade emj contraste com os pomshyposos narradores de curiosidades maravilhosas12 uma alushysatildeo agrave literacura de sobrevivecircncia e~gerd e provavelmente a ta Condamine em particular

]uan e Ulloa tambeacutem endereccedilaram a seu rei um seshygundo volume clandestino intitultdo Noticias secretas de Ameacuterica (Nntiacutecias secretas da Amlt1rica) que dissertava critishycamente sobre vaacuterios aspectos da colonial espanhoshyla e como um cOmentarista obselvou llmuito que natildeo foi dito nos trabalhos dos Natildeo foi senagraveo nos primeiros anos ltlo Impeacuterio Espanhol entrou em seu obra caiu las matildeos dos ingleses e

Junto ao cataacutelogo de textos da La Condashymine que foram publicados existe I um rol de escritos que natildeo J foram Est~ inclui por exempto o trabalho de ]osepb de ]ussieu () naturalista que permaneceu na Ameacuterica do Sul e continuou a exercer sua profissatildeo por outros vinte anos Quando ele afinal enlouqueceu e teve de ser reembarcado

de Quito para a Franccedila os que o enviaram ao que parece perderam de vista o bauacute que continha o trashy

de toda a sua vida de Apenas um estudo sobre os efeitos do quinino veio a ser publicado - sob o nome de La Condamine O restante dia em Quito

A mais apabonante e duradoura histoacuteria que adveio da expediccedilatildeo La Condamine foi um relato oral

-12 john~~~l~S shy Prefaacutecio a VOy(lge lo Sowh AII(ric(1 (747) em linkershyton op cit vo~ 14 p313 13 Von H~gn - op cit p300

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ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

apenas parcialmente Eacute lima histoacuteria de sobrevivecircncia heroacutei natildeo eacute um homem de ciecircncb eurupcu IJUS Llllla IlIUshy

lher euro-americana IsabeIa Godin des Odorais da aristoshyperuana que se casou com um membro da expe(lishy

com quem teve quatro filhos () (Sr~i Tia men t () do grupocientiacutefiacuteco seu G1arido rumou para Caiena onde passou dezoito anos tentando obter gem para a Franccedila para si mesmo e sua famiacutelia Apoacutes a tLIacuteshy

mor~e de seu quarto e uacuteltimo filho Mme Godin agoshyra jaacute c9m maIs de quarenta anos tomou uma ousada deci satildeo Acompanhada por um grupo que incluiacutea seus irmlos sobrinho e numerosos criados partiu para se juntar a seu

esposo atravessando os Andes e descendo o Amazonas pela mesma rota que fez de La Condamine um heroacutei O deshysastre se seguiu Consta que amedrontados pela variacuteoLi seus guias indiacutegenas desertaram e todos incluindo seus ilshy

sobrinho e criados morreram apoacutes definharem por dias na selva Mme Godin em deliacuterio grlclu~dshy

mente voltou sozinha ateacute o rio onde foi resgatada por illshyerm canoas que a levaram ateacute o

Com assim prossegue o il COSIltI

da Guiana para ser levada para a empre

devotado marido A romacircntica e arrepiante narrativa de Goclin

publicada em 1773 - natildeo por ela mas por Sl c-pOSO a pcshydico de La Conclamine que a anexou agraves ele Ul pria narrativa Mesmo hoje o ocorrido (gt profuJ1cbnCIlll

emocionante suas complexidades irresistiacuteveis elmo pareshycem frequumlentemente ser sempre que protlgonitas feminishynas aparecem na prosa sobre ltI coloniaL A histoacuteril

Mme Godin eacute uma reaoresentacatildeo cIl grande proem1 amaona - ou

a isto O amor a e l Cll tral1SfOflllltll11

a mulher crioula ele uma aristocrata bntllCl na (ombatIi

1 L Luiacute~ Goclin eles Odollnb Carla M la C()IlLlll1iacutellL anexada li Ahrh(red Nmnllili em Pinkerlon ul cil

51

1 )

e sentimento 1750-1800

mulher guecircrreira que os europeus haviam criado para simshybolizar para si mesmos a Ameacuteriql Ao mesmo tempo sua saga a destroacutei enquanto objeto sexual Mme Godin emerge Como uma versatildeo real da arruinada princesa Cuneacutegonde do Cacircndido Inversotildees simboacutelicas abundam na histoacuteria O coshymeacutercio de ouro por exemplo tem sua direccedilatildeo revertida A certa altura Mme Godin oferece duas de suas correntes de ouro para os iacutendios que salvaram a sua vida na selva invershytendo o paradigma da conquista Para sua fuacuteria os presenshyres foram imediatamente tomados pelo padre residente e substituiacutedos pela quintessecircncia da mercadoria colonial tecishydos Por tais deliciosas ironias natildeo admira que a amazona de Mme Godin tenha feito carreira e circulado por toda a Europa por mais de cinquumlenta anos A carta de vinte nas seu marido representa um traccedilo modesto de uma exuumltecircncia vital dentro da cultura oral

-uumltapete aleacutem da orla

Textos orais textos escritos text~s perdidos textos seshycretos apropriJdos abreviados traduzidos coligidos e giadosj cartas relatoacuterics histoacuterias de sobrevivecircncia descrishyccedilatildeo ciacutevica narrativa de navegaccedilatildeo monstros e maravilhas tratados medicinais polecircmicas acadecircmicas velhos mitos reencenados e invertidos - o corpus La Cond~~mine ilustra o muacuteltiplo perfil dos relatos de viagem nas fronteiras de exshypansatildeo da Europa em meados do seacuteculo XVIII A expediccedilatildeo mesma eacute de interesse neste contexto C0l110 uma instacircncia precursora e notoriamente malsucedida daquilo que logo se tornaria um dos mais ostentados e conspiacutecuos instrumentos europeus de expansatildeo a expediccedilatildeo cientiacutefica internacional Na segunda metade do seacuteculo XVIII a expediccedilatildeo cientiacutefica tornlr-se-ia um catalisador das energias e recursos de intrinshycadas alianccedilas das elites comerciais e intelectuais por toda a Europa Igualmente relevante eacute que a exploraccedilatildeo cientiacutefiacuteca haveria de se tornar um foco de inte-nso interesse ouacuteblico e

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ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores ---~-----~~

~~Jwnt-IAfftu rnmiddotpmiddot~JIiltT~) urmiddot k

Fig5 fenocircmenos naturais da Ameacuterica elo Sul tais COlllO vi[os peb l-

La Condamine Embaixo 11 () nJilro de neve e em o canto haiacute-(J 1 dirciu 1l[lWCImiddotmiddot11

o renomeno do arco da obre middotI1l(lII~ dts 11l )1111

nhas acima 2t direitl ilUotrase o fenocircmeno do IIICO-ir Iriplo aacuteI( primeira vez em Pambamarca e JosteriOrJ11lllll CllI middotmiddotlli

montanhas EXlrliacutedo (eacioacutell biie)lica derioi fi lo llIlcnlaquo(I ridiacuteonat deJorge Juan e Amonio de Ulolt Madri nloni 111111 1- li

fonte de alguns dos mais poderosos aparal()~ KI(()I()gll()~ l

de idealizaccedilatildeo por meio dos quais os cicladlrus el1f()pell~ relacionaram com outras paltes do mundo Estes l

palticularmente os relatos de viagem sagraveo o lema 11 ser tral

lhado em Para os propoacutesitos deste estudo a expediccedil~o La COllshy

damine tambeacutem possui um significado pois foi dos primeiros exemplos uma nova tendecircnci~l lO que refere agrave e agrave documentaccedilatildeo dos interiores conlishy

em contrtste com o paradigma mariacutetimo que ocupado o centro do oalco por trezentos anos No uacuteltimus

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novo

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ciecircncia consci~ncia planeUiacuteria interiorps ciecircncia e sentimento 1750-1800 -__----_------ -~--

ccedilas na concepccediluumlo CJue tem a Europa ele si Il1lSIll1 c (1( ~IIanos do seacuteculo XVIII a exploraccedilatildeo do interior havia se transe globais Natildeo obstante seus calamitosos formado no objeto principal das energias e imaginaccedilatildep ex~

expediccedil1lo aparece como precursora Enquanto relatopan8ionisas Esta mudanccedila teve con~quumlecircncias significativas exerriplifica ltonfiguraccedilotildees de relatos ele viagem que 111para os relatos de viagem exigindomiddotc dando vazatildeo a novas 11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus noshy

vos modelos para os contatos eurom~ls aleacutem-fronteiras e noc impuls~) seriam radicalmente reorganizados (O

vas formas de codificaccedilatildeo das ambiccedilotildees imperiais europeacuteias seguinte examinmaacuteestas transformaccedilotildees nos cclatos de viashy

Em o espilo francecircs Freacutezier c~n$iderava impossiacutevel a gem na Aacutefrica Meridional) Na segunda metade do seacuteculo exploraccedilatildeo interior do Peru dado Rl1e os viajantes devem XVIII muitos viajantes-escritores vatildec se dissociar de trJclishycarregar ateacute mesmo suas proacuteprias qUlfas a menos que accedileishy tais como a da literatura de sobrevivecircnriacute

tem deItar-se no fhatildeo como os natiyos sobre peles de ovemiddotmiddot ciacutevica OU narrativa de navegaccedilatildeo pois se lha tendo o ceacuteu por teto15 Para o prefaciador inglecircs do reshy projeto de construccedilatildeo de conhecimento da histoacuteria

segul1shylato de Ulloa trinta anos mais tarde a exploraccedilatildeo do interior A emergecircncia de3te deeacute um passo ~ ser forccedilosamente dado IQue ideacuteia poderiacuteamos do evento de ] que prometi discutir a

ter de um tapete turco pergunta se observarmos apenas as Sistema da Natureza de Lineu berras ou suaorla16 Ao redor de 1792 o viajante francecircs Saugnier viu isto como uma questatildeo de justiccedila glolxl o inteshyrior tanto quanto a costa da Aacutefrica merece a honra da visishy o sistema taccedilatildec europeacuteia17 Em 1822 Alexagravender Humboldt nacirco haveraacute de ser pela navegaccedilatildeo costeira que poderemos descobrir a direccedilatildeo das cordilheiras e sua constituiccedilatildeo geoloacuteshy a expeOlccedilao La Condamine lt-SlIV1 cruzam ) gica O clima de cada regiatildeo e sua influecircncia sobre as formas o Atlan~lCO em nome da ciecircncia um naturalist succo de inshye haacutebitos dos seres organizados Para seu tradutor inglecircs a te e oito anos levava ao prelo a sua primeirl grande contrishyquestatildeo era de ordem esteacutetica Em geral as expediccedilotildees mashy ao O laturalista se chamava Cad LinnG ou lIll riacutetimas tecircm uma certa monotonia que vem da necessidade Linnaeus e o livro tinha por tiacutetulo ~vslCn1( VIlil(( (()

se falar continuamente da navegaccedilatildeo numa linguagem teacutecnishy Sistema da Natureza) Encontrava-se aiacute uma criaccedil~lO cxtrI()[ ca A histoacuteria das jornadas por terra em regiotildees distantes eacute -dinaacuteria que teria profundo e duradouro il11plCto 1110 ltlpena~00

muito mais apropriada para incitar ( interesse geralR a~ e os rehltos de viagem mas n1 maneirl Como portanto a expediccedilatildeo La Condamine dos cidadatildeos europeus construiacuterl11l l lomprcllI

de uma era de viagens cientiacuteficas e derem seu lugar no planeta Para um leitor COnrCI11p(Jr1nc() interior que por seu turno sugere mudan- () Sistema da Natureza parece um fcito modcsto v nl Vll

um tanto quanto escranho Era um sitema ccscritIacutemiddot) designado panl classificar rodas as plantas d1 TerrI conlllshy

15 Freacuteziacuteer np cit plO e desconhecidas de acordo com as Clr1Cl1 iacutestics ( 16 dams 01 cit p314

17 Messrs eacute Blisson - Vovages to the Coas ofAfrica (1792) Ne- reprooutivasll Vinte e CJllatro (c 111lis ll(c 111 gro U P 1969 eacute traduccedilatildeo em inglecircs do original francecircs de 1792 Reshylation de plusiers voyages agrave la cocircte d Agraverlque 18 Alexander von Humboldt Persortal Narratiue of Cf Voyage to lhe

19 A discuss~io de Lineu e d biacutestoacuteria naturalEquinoctiacuteal Regiom traduccedilatildeo para o inglecircs de Helen Maria Williams das seguintes fontes Heins Goerke Ceci) - Lill1a(iI

London Longman et alU 1822 voI I pviiacute

ir) ------V~

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

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ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

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Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

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1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

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ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

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sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

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IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 2: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

_ cordfI21tuJQ2_

1 1~~lC~~

~_~~ --1~--~ -1------ conSClenCla planetaacuteria interiores

(Elepo~k)~~mpreen(1er uma viagem pelo mundo em liro~ se frzer mestre da geografia do universo pelr)s mapas albs l

mensura~Qes de nossoS matemaacuteticos Pode viajar por terra com nossos historiadores pelo mar com os Pode circushynavegar o com Dampier e Rogers e ao fazer isso nuumll vezes mais do que rodos os mrinheiros iktrados

(f11I1elllill (1750)(Daniel Defoe 11Je Compeat

A paesiH mio estaacute mais em moda Todos passaram a hrincar dc scr geocircmetra ou fiacutesico Sentimento imagifw~~lO c s grals banidos A liacuteteratura est1 nfrfcendo ante nossos ciacutenrios olhll

(Volta ire Cna a Cicleville 1( de abliI de 17~i

A europeacuteia desta histoacuteria comeccedila no ano cushyropeu 1735 Ao menos este eacute o ponto em que a narratimiddot va comeccedilaraacute a histoacuteria leva outros vinte ou trinta para realmente deslanchar No ano de ltlCorrem dois eventos de certa forma e Um foi a publicaccedilagraveo do S)JstemCl Natll me (() Sisema do Nomiddot

Ar IlIlclprelliollI lm()I1 l(j(Iacuteq nl26

JIrfSIgtOII(II(e de Voltjrlt 01 rvferecircnd li

i 41

ciecircncia e sentimento 1750-1800

tureza) de Carl Linneacute no qual o naturalista francecircs estabeshylece um sistema classifica toacuterio que visa categorizar todas as formas vegetais do planeta fossem conhecidas ou desshyconhecidas dos europeus O outro foi a inauguraccedilatildeo da prishymeira expediccedilatildeo cientiacutefica internaccedilional da Europa um esshyforccedilo conjunto visando determinar de uma vez por todas a forma exata da Terra Como pretendo argumentar estes eventos e sua coincidecircncia sugerem a importante magnitushyde das mudanccedilas no entendiment9 que as elites europeacuteias tinham de si mesmas e de suasmiddot ~elaccedilotildees com o resto do mundo Este capiacutetulo se volta para ordf emergecircncia de uma nova versatildeo do que gosto de chamar consciecircncIacuteltl ria da Europa uma versatildeo marcada pela tendecircncia agrave exploshyraccedilatildeo do interior e pela construccedilatildeq ccp significado em niacutevel global por meio dos aparatos desc~itivFls da histoacuteria natural Esta nova consciecircncia planetaacuteria como sugiro eacute elemento baacutesico na construccedilatildeo do moderno eurocentrismo o reflexo hegemocircnico que incomoda os Ccedillcilt1entais continuando mesmo a ser uma segunda natureZa para eles

Sob a lideranccedila francesa a expediccedilatildeo cientiacutefica intershynacional de 1735 foi montada ccin ccedil) fito de responder a uma candente questatildeo empiacuterica seria a Terra uma esfera como afirmava a geografia (francesa) cartesiana ou seria ela como Co inglecircs) Newton havia conjecturado um esferoacuteishyde achatado nos poacutelos Esta era uma questatildeo altalTente carshyregada pela rivalidade poliacutetica entre Franccedila e Inglaterra Um grupo de cientistas e geoacutegrafos liacutederados pelo fiacutesico francecircs Maupertuis foi enviado para o norte para a Lapocircnia a fim de mensurar um grau longitudinal no meridiano Outro rushymou para a Ameacuterica do Sul para proceder agrave mesma menstlmiddot raccedilatildeo no Equador proacuteximo a Quito Nominalmente encabeshyccedilada pelo matemaacutetico Louis Godin esta expediccedilatildeo entrou para a histoacuteria com o nome de um de seus poucos sobrevishyventes o geoacutegrafo Charles de la Condaminc

A expediccedilatildeo La Condamiacutene foi um triunfo co marcante para a comunidade cientiacutefica europeacuteia Os tershyritoacuterios americanos da Espanha estavam estritamentecirc fechashydos para viagens oficiais de estrangeiros de qualquer tipo e

~-- __-142 -

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

haviam permanecido assim por mais de dois seacuteculos A ohshysessatildeoda corte espanhola de proteger suas colocircnias (k toela influecircncia e espionagem estrangeiras era legenebria Apoacutes perder10 controle do traacutefico de escravos para a Gratilde-Bretashynha em 1713 a Espanha havia se tornado mais temeros~

que nunca em relaccedilatildeo agraves incursotildees em seus econocircmicos e culturais Quanto mais se torn shyvarri os ltcontatos internacionais ebs elites criollbs Lt1l SlI

colocircnias mais receosos ficava11 os espanloacuteiacutes A

dos espanhoacuteis escreveu o cors8rio britflnico gunda deacutecada do seacuteculo consiste procurar por todos os meios e form~IS as vastas riquezas daqueles extensos domiacutenios

matildeos O conhecimento dessas riqucltls lllrl1HHI

I3etaghe da grande denunda entre americanos por pn dutos europeus tem excitado todas aS nlccedilcJc da EUrGpai As instalaccedilocirces militan-s nos portos Ameacutericl

e a mineraccedilatildeo no interior eram IS clU1S (Ollstrll

coloniais mais cuidadosamente nrorelidIS do olhar

tern ao meSmolrempl) em te investigadas pelos rivais de

o rei da Franccedila contratou um jovem tngtnhciro Ch~lll-cio para viajar ao longo da costa do Chile L do fingindo-se de comerciante para melhor ip scuir-sc cn

espanhoacuteis e ter todas as il iacutedldls d Obcecado minas ltrlziel I)

grou ver uma No entanto memo os relllos ele segu matildeo que ele reproduziu foram avidamente peshylos leitores na Franccedila e na InglaterrJ N~l auscncia l n()middot()middot~ escritos sobre a Ameacuterica do Sul o compibclor da dv

de Churchill em 1745 traduziu noUS soiJt-e o Cl1ishyle escritas um seacuteculo antes pelo Jesuiacuteta fsnlIlhol ilol1s0

2_ Capitt10 Ilcragh f)hsemalioIS())llbeColIIllrul bullbullbull1II (lId IaIS DIlIIacuteIIiacutei his CCpiioilV in ohn linkerton (limiddot middot()middot(I~lt (111

in ali Paris World London Longman el alll 01 i- I MI p M Freacutezier 1 Voyage lO Ibe ouh Sea cmd (iIOll

anel Penl in Years 1712 73 e 1711 lraduido do 1 ( 111

glecircs c editado por London Lonah Bowyer l717 llLki

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I ~ 1

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ciecircncia e sentimento 1750-1800-----_--------shy _

Ovalle 4 No que se refere ao interior da Ameacuterica hispacircnica mesmo relatos antigos eram mais confiaacuteveis que conjecturas ccntemporacircneas ccmo a descriccedilatildeo que faz Betagh de UO

terremoto no in~eror que levantou aacutereas inteiras e as arrasshytou para milhas dali 5

No caso da expediccedilatildeo La Condamine a coroa espa-I _

nhola pocircs de lado o seu famoso protecionismo Avido por alicerccedilar o seu prestiacutegio e mitigar a lenda a respeishyto da crueldade espanhola V aproveitou a oportuni dade para agir como um ilustrado monarca continental Condiacuteccedilocirces estabelecendo os limites expediccedilatildeo acordadas e dois espanhoacuteis Antonio de Ulloa e ge Juan agregados para assegurar que a pesquisa natildeo desse lugar agrave espionagem - o que prontamente aconte-

I ceu Da mesma forma praticamente tudo o mais errashydo A expediccedilatildeo La Condamine foi 1Im empreendimento tatildeo aacuterduo que mais de sessenta anos Sy passariam antes que qualquer coisa semelhante fosse outra vez tentada6 Rivalishydades dentro do contingente francecircs rapidamente cindiram 05 viacutenculos de colaboraccedilatildeo A cooperaccedilatildeo internacional deu lugar a interminaacutevel disputa com autoridades coloniais sobre o que poderia ou natildeo ser visto medido desenhado ou quais amostras poderiam ser recolhidas A certa altura toda a expediccedilatildeo foi mantida em Quito por oito meses acushysada de planejar o saque dos tesouros incas Os estrangeishyros com seus estranhos instrumentos suas menshysuraccedilotildees - da gravidade da velocidade do som alturas e distacircncias cursos de rios altitudes pressotildees barom~tricas eclipses refmccedilocirces trajetoacuterias das estrelas eram objeto de contiacutenua ampuspeita Em 1739 o meacutedico do grupo foi assassishy

--I 4 Alonso de Ovalle - An Htsloricaf Reluacutetion (~ lhe Kingdom of Chile em Pinkerton op cito vol 14 pp 30-210

5 Beragh op cit pS 6 Miacutenha analise nesse ponto faz uso d()~ trabalhos de Victor Von Hagen - South Amerlca Calted Them New York Knorf 1911 lfeacutelecircne - Introduccedilatildeo a Voyage sur L iacuteimazone de La Condamine Paris Maspero 1981 pp5-27 Edward J Goodman - Tbe fJxporers of South Amerim New York Macmillan 1972

--_~_

ciacuteecircnciu conscifncia planetaacuteria interiores

nado apoacutes ter se envolvido numa entre duas rosas funiacutelias em Cuenca no Equador LI COl1daminc p lI pouco escapou do mesmo destino Uma batalha iudicial f()i travada por rnais de um ano sobre se a de poderia ser afixada sobre as piracircmides triangulares eh expcshydiccedilatildeo fleur de lys perdeu) A eacutexploraccedilatildeo do interior eS(J

va provando ser um pesadelo poliacutetico aineb ma ior cio a sua precedente mariacutetimn

Os pesadelos logiacutesticos da cio interit lI eram tambccedilm novos e a expediccedilatildeo La ConclamIacutene nlO foi poupada de nenhum deles Os rigores do clima allclino e J

viagem por terra provocaram enfermidades continuadasbull I

danificados Derda de eSDeacutecimes cJckmos de anotaccedilotildees nlOJhados frus

o grupo francecircs se desintegrou clbendo a cada um encontrar sua proacutepria maneira de voltar para CIS~l

gt I

ou entatildeo permanecer abandonado na Ameacuterica cio Sul Ainshyda qUe a expediccedilatildeo sul-americana tivesse tido iniacutedo UI1l ~ln() antek de sua contrapartida enviada para o Artiol

l damente uma deacutecada transcorreu antes que os bre~iventes comeccedilassem sua tortuosa volta pnra a Haacute muito a questatildeo do formato da Terra bavLl siclo decidi da (Newton ganhou)

Aleacutem de informaccedilatildeo sobre outros assunto () grup() sul-americano trouxe para casa desconfoni veis sohr a poliacutetica e o (anti-) heroiacutesmo da ciecircncia O l11atcmlti() Pill re Bouguer retornou primeiro e ficou com 1 gloacuteria ele rcl~lllr

o ocorrido agrave Academia Franrpccedila de Ciacuteenciacute~l La CondamIacutelll em 1744 via e foi aclamldo pur sua inC

dita jOiI1ada amazocircnica Por meio de uma Glmplshy

nha contra Bouguer La Condamine conseguiu se firmar por toda a Europa como o priacutencipal da expcdiacuteccedilu En quanto isso Louis Godiacuten o lideI nominal ca expedicatildeo esshytava lentamente percorrendo o caminho de volta a Espanha em 1751 foi-lhe

devido a O naturalista Joseph de continuou n Hll suas pcsqu ias na Nova foi mll1dlcO tmhlat~1771

-

ciecircncia e sentimento 1750-1800

lt1 de Quito completamente louco O jovem teacutecnico Godin des Odonnais alcanccedilou Caiena onde esperou dezoito anos por sua esposa peruana (voltaremps agrave trdjetoacuteria desta mulher mas adiante) retomando finalmente para a Franccedila em Dos outros nada mais se ouviu

A cooperaccedilatildeo da Espanha com a expediccedilatildeo La Condashymine constitui evidecircncia flagrante do ipoder da ciecircncia para elevar os europeus acima de suas mais intensas rivalidades nacionais O proacuteprio La Condamine celebrou este impulso continental no prefaacutecio a seu relato da viagem no qual conshygratulou Luiacutes XV por apoir a Coop~racircCcedilatildeo cientiacutefica entre as naccedilotildees consorciadas mesmo quando simultaneamente em guerra contra elas Enquanto os exeacutercitos de Sua Majestade moviam-se de um confim a outro da Europa afirmOl~ La Condamine seus matemaacuteticos disp~rsos por toda a Terra trabalhavam em Zonas Toacuterridas e Friacutegijlas para o avltmccedilo das ciecircncias e o benefiacutecio comum de todas as naccedilotildees Todavia natildeo se pode deixar de notar aqui o cpnspiacutecuo tom nacionashylista de La Condamine o cientista francecircs orgulhosamente congratula seu proacuteprio rei por seu cosmopolitismo esclarecishydo Num espiacuteritoigualmentc duacutebio tanto a Real Sociedade Britacircnica quanto a Academia Francesa de Ciecircncias galardoashyram os espanhoacuteis Juan e DUoa com o tiacutetulo de membros hoshynoraacuterios - gestos transnacionais indissociaacuteveis da intensa ri validade nacional entre a Gratilde-Bretanha e a Franccedila e seus inshyteresses conflitantes na Ameacuterica espanhola Tais gestos resumem o jogo ambiacuteguo de aspiraccedilotildees nacionais e contishynentais que havia sido uma constante ao longo da expansatildeo europeacuteia e que haveria de permanecer assim durante a era da ciecircncia Por um lado as ideologias dominantes traccedilavam uma dara distinccedilatildeo entre a (interessada) busca de riqueza e a (desinteressada) procura de conhecimento por outro lado

~~~e de la Condamine - A Succint Abridgiment ()f a made withiacuten the Inland Parts of Suuth-America Lonclon E 1748 piv Esta eacute a primeira traduccedilatildeo em Inglecircs de seu Relatiun abreacutegieacute dun voyage fait dans liacutenteacuterieur de lA meacuterique meridionale (1745) (ecl~j bras Ralato abreviado de uma viagem pelo interior da Ameacuterica meridioshynal Satildeo Paulo Cultura 1944J

1

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ciacuteecircnciacutea consciecircncia planetaacuteria interiores

-

partes Ido mundo para

pode ajudar a

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interior a urna histoacuteria

peb cas sobre a

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a compeuccedilao el~tre as naccediloeq cOntinuou a ser () 1l()lor (11 c 1 ~

pansao europela no extenor Num aspecto a expediccedilatildeo La Concbmine toi unI sushy

cesso verdadeiro elhquanto relato As hist(iacuteriacutes L texlOS

ela provOcou circularam por toda a Europ~1 pm em circuitos escritoS e orais De fato o corpo de textos sultante daexpecliccedilagraveo La Condamine sugere hcm () alclllrl e a vadedade dos relatos de viagem produzidos el11 mea(b~ do seacutecuumllo )VIII relatos que por sua vez trouxcrl111 outrlS

as imaginaccedilotildees cios euro~)Ius [11ll

breve inventaacuterio dos relatos da expedi~agraveo 1lt1 Condanliacutem sugerir o que significa falar sohre

relatose zonas de contato neste momento da llistciacuteria O matemaacutetico13ouguer o primeiro a retornar escreV(u

seu relatoacuterio para a Academia Francesa de CiCnchls em ]7-H

num) Narrativa Abeviada de urna Viagenl (I() PCII Dl cio a ~oz do cientista predomina neste retllo eillLllLlrandnmiddot se o discurso em torno das

etc Entretanto quando sua viagem se voltl r1lr1 i)

narrativa cientiacutefica de Bouguer se c de sofrimentos e privaccedilocirces qUl lllS11l0

leitura se torna comovente No ponto em que a aeacutearllpa no topo da gelada cordilheira elos Andei IXlssaglI1 sobre frieiras hemorraacutegicas e escravos ameriacutendios ll1on(mlt 1

do frio se confundem com cio calor do corpo Sobre as minas Boushy

guer relaw apenas boatos observando que i]

natureza do paiacutes torna difiacutecil que outras detas sejmn enconshytradas e tambeacutem que os iacutendios satildeo saacutebios bastl1te parlI)

muito pre3tativos neste tipo de caso fossem bem-sucedidos estariam a quase insuportuumlvel exploraccedilatildeo de seu do porccedilatildeo iacutenfima dos rendimentos Bouguer tunl)em proshyduziu um livro teacutecnico sobre a expedicatildeo

cla (YI lu ~(JU ( I 1111Pierre Bouguer - Ali Iinkerton ojJ Cil vol i

n

---_~

e sentimento 1750-1800

FigA A expediccedilatildeo La Condamine fazendq mensuraccedilotildees Extraiacutedo de Mesure des rois premiers degres du Meacuteridien dans IHeacutemispbere Austral (Mensuraccedilagraveo dos Primeiros Trecircs Graus do Meridiano no liemifteacuterio Austral) de Charles de la Condamine Paris lmprimerie Roya 1751

La Condamine tambeacutem pllblicOll seu relatoacuterio para a Academia Francesa sob o tiacutetulo Breve Narrativa das Viagens atraveacutes do Interior na Ameacuterica Co Sul (745) o qual foi muishyto lido e amplamente traduzido Talvez porque Bourguer jaacute tivesse falado d2 palte andlna da missatildeo o relato de La Conshydamine se volta principalmeme para sua extraordinaacuteria viashygem de volta descendo o Amazonas e suas tentativas de re- gistrar seu curso e afluentes O texto eacute escrito essencialmenshyte natildeo como um relatoacuterio cientiacutefico mas no gecircnero popular da literatura de sobrevivecircncia Ao lado das navegaccedilotildees os doIs grandes temas da literatura da sobrevivecircncia satildeo os soshyfrimentos e perigos de um lado e as maravilhas exoacuteticas e as curiosidades de outro Na narrativa de La Condamine o drama das expediccedilotildees do seacuteculo XVI na regiatildeo Olellana Raleigh Aguirre - eacute recapitulado com todas as suas associashyccedilotildees miacuteticas Ao adentrar na selva La Condamine se encon tra nun novo mundo longe de tedo comeacutercio humano soshybre um mar de aacutegua fresca Laacute me encontrei com novas

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

plantas novos animais e novos homens) Ele ~T~ comomiddot jaacute haviam feito todos os seus precursores sobre a ]0shy

calizaccedilatildeo do El Dorado e a existecircncia das amazonas as I

quais ainda que bem possam ter existido muito provavelshyrnentetenham hoje em dia abandonado seus costu mes mevoslO A selva permanece sendo um mundo de fascinashyccedilatildeoe perigq1l

AcircindaqJe a Breve Narrativa de 1745 certanlente mais conhetida das obras de La CondarliI1t ele tamheacutem P(shyblicol copiosJmente em outrns gecircneros todo llcs basl~ld(

viagens americanas Sua Cal1a 1

em Cuacutecnca surgiu em 17tiacute6 seguida por uml flisl(i ria do Piracircmides deacute Quito (1751) e por um rtlltoacuterlo a

d~l Merstraccedilacirco dos Primeiros Trecircs GrelIs do J[(liduumlIIlO I di Pe o resto e sua vida ele se empenhou na

e em pblecircmkas sobre um leque de temas cientiacutefico relacioshynados atilde Ameacuterica incluindo os efeitos do

(amplamente utilizada por missiomiacuterino eSIX nhoacuteis)a existecircncia das Amazonas a geografia cio Orenoco ( do RiacuteoNegro Ele esCreveu sobre a borracha que arrcsentoll aos cientistas europeus o curare e seus antiacutedotos e a nelesmiddot siclade d~ pflclrocirces europeus comuns de mcnsuraccediluumlo Os csshyctitos cientiacuteficos especializados de La Conelmine dlO a mlshy(lida de quanto a ciecircncia veio articular os contatos curolxlI~ com a fronteira imperial e cio quanto foi articulada por tle~ o

Foram os dois esparhoacuteis JlI~1Jl l llloa elaboraram o uacutenico relato extensivo da por Ulloa a pedido do rei de lica do Sul veio a puacuteblico na Espanha em 1747 v sua tLI

feita por John Adams mereceu cinco cdi~ lt Ullqa 1 nem cieacuteleil 1ll11I litcrltu

de estaacute escrito num estil() que gosto (Iv

ciacutevica Virtualmente iSlnto de

La Condallinc ofJ Cil p24 Ir) IbiacutecL p51 11 Evidentltlllente ainda C A nwiacutes recente re-l11ccmiddotI1ICcedilmiddot tI Irlt amazoms eacute 11I1111Iacute1f lhe 1CZOII ele 1ltII1l tmiddot Ymk l111l

House J989

~I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

quer rodeio de entretenimento o livro eacute um enorme comshypecircndio de informaccedilotildees acerca de muitos da geoshygrafia colonial espanhoiacutea e da vida nas espanholas

- eacute claro minas -LV

maccedilotildees estrateacutegicas Eacute um trabalho estatiacutestico no sentido original do termo isto eacute uma investigaccedilatildeo sobre o estado de um paiacutes (Oxford English Dictionary) Adams louvou o tratado por sua confiabiHdade emj contraste com os pomshyposos narradores de curiosidades maravilhosas12 uma alushysatildeo agrave literacura de sobrevivecircncia e~gerd e provavelmente a ta Condamine em particular

]uan e Ulloa tambeacutem endereccedilaram a seu rei um seshygundo volume clandestino intitultdo Noticias secretas de Ameacuterica (Nntiacutecias secretas da Amlt1rica) que dissertava critishycamente sobre vaacuterios aspectos da colonial espanhoshyla e como um cOmentarista obselvou llmuito que natildeo foi dito nos trabalhos dos Natildeo foi senagraveo nos primeiros anos ltlo Impeacuterio Espanhol entrou em seu obra caiu las matildeos dos ingleses e

Junto ao cataacutelogo de textos da La Condashymine que foram publicados existe I um rol de escritos que natildeo J foram Est~ inclui por exempto o trabalho de ]osepb de ]ussieu () naturalista que permaneceu na Ameacuterica do Sul e continuou a exercer sua profissatildeo por outros vinte anos Quando ele afinal enlouqueceu e teve de ser reembarcado

de Quito para a Franccedila os que o enviaram ao que parece perderam de vista o bauacute que continha o trashy

de toda a sua vida de Apenas um estudo sobre os efeitos do quinino veio a ser publicado - sob o nome de La Condamine O restante dia em Quito

A mais apabonante e duradoura histoacuteria que adveio da expediccedilatildeo La Condamine foi um relato oral

-12 john~~~l~S shy Prefaacutecio a VOy(lge lo Sowh AII(ric(1 (747) em linkershyton op cit vo~ 14 p313 13 Von H~gn - op cit p300

f --~- ---_

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

apenas parcialmente Eacute lima histoacuteria de sobrevivecircncia heroacutei natildeo eacute um homem de ciecircncb eurupcu IJUS Llllla IlIUshy

lher euro-americana IsabeIa Godin des Odorais da aristoshyperuana que se casou com um membro da expe(lishy

com quem teve quatro filhos () (Sr~i Tia men t () do grupocientiacutefiacuteco seu G1arido rumou para Caiena onde passou dezoito anos tentando obter gem para a Franccedila para si mesmo e sua famiacutelia Apoacutes a tLIacuteshy

mor~e de seu quarto e uacuteltimo filho Mme Godin agoshyra jaacute c9m maIs de quarenta anos tomou uma ousada deci satildeo Acompanhada por um grupo que incluiacutea seus irmlos sobrinho e numerosos criados partiu para se juntar a seu

esposo atravessando os Andes e descendo o Amazonas pela mesma rota que fez de La Condamine um heroacutei O deshysastre se seguiu Consta que amedrontados pela variacuteoLi seus guias indiacutegenas desertaram e todos incluindo seus ilshy

sobrinho e criados morreram apoacutes definharem por dias na selva Mme Godin em deliacuterio grlclu~dshy

mente voltou sozinha ateacute o rio onde foi resgatada por illshyerm canoas que a levaram ateacute o

Com assim prossegue o il COSIltI

da Guiana para ser levada para a empre

devotado marido A romacircntica e arrepiante narrativa de Goclin

publicada em 1773 - natildeo por ela mas por Sl c-pOSO a pcshydico de La Conclamine que a anexou agraves ele Ul pria narrativa Mesmo hoje o ocorrido (gt profuJ1cbnCIlll

emocionante suas complexidades irresistiacuteveis elmo pareshycem frequumlentemente ser sempre que protlgonitas feminishynas aparecem na prosa sobre ltI coloniaL A histoacuteril

Mme Godin eacute uma reaoresentacatildeo cIl grande proem1 amaona - ou

a isto O amor a e l Cll tral1SfOflllltll11

a mulher crioula ele uma aristocrata bntllCl na (ombatIi

1 L Luiacute~ Goclin eles Odollnb Carla M la C()IlLlll1iacutellL anexada li Ahrh(red Nmnllili em Pinkerlon ul cil

51

1 )

e sentimento 1750-1800

mulher guecircrreira que os europeus haviam criado para simshybolizar para si mesmos a Ameacuteriql Ao mesmo tempo sua saga a destroacutei enquanto objeto sexual Mme Godin emerge Como uma versatildeo real da arruinada princesa Cuneacutegonde do Cacircndido Inversotildees simboacutelicas abundam na histoacuteria O coshymeacutercio de ouro por exemplo tem sua direccedilatildeo revertida A certa altura Mme Godin oferece duas de suas correntes de ouro para os iacutendios que salvaram a sua vida na selva invershytendo o paradigma da conquista Para sua fuacuteria os presenshyres foram imediatamente tomados pelo padre residente e substituiacutedos pela quintessecircncia da mercadoria colonial tecishydos Por tais deliciosas ironias natildeo admira que a amazona de Mme Godin tenha feito carreira e circulado por toda a Europa por mais de cinquumlenta anos A carta de vinte nas seu marido representa um traccedilo modesto de uma exuumltecircncia vital dentro da cultura oral

-uumltapete aleacutem da orla

Textos orais textos escritos text~s perdidos textos seshycretos apropriJdos abreviados traduzidos coligidos e giadosj cartas relatoacuterics histoacuterias de sobrevivecircncia descrishyccedilatildeo ciacutevica narrativa de navegaccedilatildeo monstros e maravilhas tratados medicinais polecircmicas acadecircmicas velhos mitos reencenados e invertidos - o corpus La Cond~~mine ilustra o muacuteltiplo perfil dos relatos de viagem nas fronteiras de exshypansatildeo da Europa em meados do seacuteculo XVIII A expediccedilatildeo mesma eacute de interesse neste contexto C0l110 uma instacircncia precursora e notoriamente malsucedida daquilo que logo se tornaria um dos mais ostentados e conspiacutecuos instrumentos europeus de expansatildeo a expediccedilatildeo cientiacutefica internacional Na segunda metade do seacuteculo XVIII a expediccedilatildeo cientiacutefica tornlr-se-ia um catalisador das energias e recursos de intrinshycadas alianccedilas das elites comerciais e intelectuais por toda a Europa Igualmente relevante eacute que a exploraccedilatildeo cientiacutefiacuteca haveria de se tornar um foco de inte-nso interesse ouacuteblico e

---~_ ~~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores ---~-----~~

~~Jwnt-IAfftu rnmiddotpmiddot~JIiltT~) urmiddot k

Fig5 fenocircmenos naturais da Ameacuterica elo Sul tais COlllO vi[os peb l-

La Condamine Embaixo 11 () nJilro de neve e em o canto haiacute-(J 1 dirciu 1l[lWCImiddotmiddot11

o renomeno do arco da obre middotI1l(lII~ dts 11l )1111

nhas acima 2t direitl ilUotrase o fenocircmeno do IIICO-ir Iriplo aacuteI( primeira vez em Pambamarca e JosteriOrJ11lllll CllI middotmiddotlli

montanhas EXlrliacutedo (eacioacutell biie)lica derioi fi lo llIlcnlaquo(I ridiacuteonat deJorge Juan e Amonio de Ulolt Madri nloni 111111 1- li

fonte de alguns dos mais poderosos aparal()~ KI(()I()gll()~ l

de idealizaccedilatildeo por meio dos quais os cicladlrus el1f()pell~ relacionaram com outras paltes do mundo Estes l

palticularmente os relatos de viagem sagraveo o lema 11 ser tral

lhado em Para os propoacutesitos deste estudo a expediccedil~o La COllshy

damine tambeacutem possui um significado pois foi dos primeiros exemplos uma nova tendecircnci~l lO que refere agrave e agrave documentaccedilatildeo dos interiores conlishy

em contrtste com o paradigma mariacutetimo que ocupado o centro do oalco por trezentos anos No uacuteltimus

-) ))

~ ~ ~

~

novo

sobre mais

dade

cidas suas

1

ciecircncia consci~ncia planeUiacuteria interiorps ciecircncia e sentimento 1750-1800 -__----_------ -~--

ccedilas na concepccediluumlo CJue tem a Europa ele si Il1lSIll1 c (1( ~IIanos do seacuteculo XVIII a exploraccedilatildeo do interior havia se transe globais Natildeo obstante seus calamitosos formado no objeto principal das energias e imaginaccedilatildep ex~

expediccedil1lo aparece como precursora Enquanto relatopan8ionisas Esta mudanccedila teve con~quumlecircncias significativas exerriplifica ltonfiguraccedilotildees de relatos ele viagem que 111para os relatos de viagem exigindomiddotc dando vazatildeo a novas 11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus noshy

vos modelos para os contatos eurom~ls aleacutem-fronteiras e noc impuls~) seriam radicalmente reorganizados (O

vas formas de codificaccedilatildeo das ambiccedilotildees imperiais europeacuteias seguinte examinmaacuteestas transformaccedilotildees nos cclatos de viashy

Em o espilo francecircs Freacutezier c~n$iderava impossiacutevel a gem na Aacutefrica Meridional) Na segunda metade do seacuteculo exploraccedilatildeo interior do Peru dado Rl1e os viajantes devem XVIII muitos viajantes-escritores vatildec se dissociar de trJclishycarregar ateacute mesmo suas proacuteprias qUlfas a menos que accedileishy tais como a da literatura de sobrevivecircnriacute

tem deItar-se no fhatildeo como os natiyos sobre peles de ovemiddotmiddot ciacutevica OU narrativa de navegaccedilatildeo pois se lha tendo o ceacuteu por teto15 Para o prefaciador inglecircs do reshy projeto de construccedilatildeo de conhecimento da histoacuteria

segul1shylato de Ulloa trinta anos mais tarde a exploraccedilatildeo do interior A emergecircncia de3te deeacute um passo ~ ser forccedilosamente dado IQue ideacuteia poderiacuteamos do evento de ] que prometi discutir a

ter de um tapete turco pergunta se observarmos apenas as Sistema da Natureza de Lineu berras ou suaorla16 Ao redor de 1792 o viajante francecircs Saugnier viu isto como uma questatildeo de justiccedila glolxl o inteshyrior tanto quanto a costa da Aacutefrica merece a honra da visishy o sistema taccedilatildec europeacuteia17 Em 1822 Alexagravender Humboldt nacirco haveraacute de ser pela navegaccedilatildeo costeira que poderemos descobrir a direccedilatildeo das cordilheiras e sua constituiccedilatildeo geoloacuteshy a expeOlccedilao La Condamine lt-SlIV1 cruzam ) gica O clima de cada regiatildeo e sua influecircncia sobre as formas o Atlan~lCO em nome da ciecircncia um naturalist succo de inshye haacutebitos dos seres organizados Para seu tradutor inglecircs a te e oito anos levava ao prelo a sua primeirl grande contrishyquestatildeo era de ordem esteacutetica Em geral as expediccedilotildees mashy ao O laturalista se chamava Cad LinnG ou lIll riacutetimas tecircm uma certa monotonia que vem da necessidade Linnaeus e o livro tinha por tiacutetulo ~vslCn1( VIlil(( (()

se falar continuamente da navegaccedilatildeo numa linguagem teacutecnishy Sistema da Natureza) Encontrava-se aiacute uma criaccedil~lO cxtrI()[ ca A histoacuteria das jornadas por terra em regiotildees distantes eacute -dinaacuteria que teria profundo e duradouro il11plCto 1110 ltlpena~00

muito mais apropriada para incitar ( interesse geralR a~ e os rehltos de viagem mas n1 maneirl Como portanto a expediccedilatildeo La Condamine dos cidadatildeos europeus construiacuterl11l l lomprcllI

de uma era de viagens cientiacuteficas e derem seu lugar no planeta Para um leitor COnrCI11p(Jr1nc() interior que por seu turno sugere mudan- () Sistema da Natureza parece um fcito modcsto v nl Vll

um tanto quanto escranho Era um sitema ccscritIacutemiddot) designado panl classificar rodas as plantas d1 TerrI conlllshy

15 Freacuteziacuteer np cit plO e desconhecidas de acordo com as Clr1Cl1 iacutestics ( 16 dams 01 cit p314

17 Messrs eacute Blisson - Vovages to the Coas ofAfrica (1792) Ne- reprooutivasll Vinte e CJllatro (c 111lis ll(c 111 gro U P 1969 eacute traduccedilatildeo em inglecircs do original francecircs de 1792 Reshylation de plusiers voyages agrave la cocircte d Agraverlque 18 Alexander von Humboldt Persortal Narratiue of Cf Voyage to lhe

19 A discuss~io de Lineu e d biacutestoacuteria naturalEquinoctiacuteal Regiom traduccedilatildeo para o inglecircs de Helen Maria Williams das seguintes fontes Heins Goerke Ceci) - Lill1a(iI

London Longman et alU 1822 voI I pviiacute

ir) ------V~

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

---

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ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

ii

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1 j ~ j

J Ij I1

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Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

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ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

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I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

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IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 3: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentimento 1750-1800

tureza) de Carl Linneacute no qual o naturalista francecircs estabeshylece um sistema classifica toacuterio que visa categorizar todas as formas vegetais do planeta fossem conhecidas ou desshyconhecidas dos europeus O outro foi a inauguraccedilatildeo da prishymeira expediccedilatildeo cientiacutefica internaccedilional da Europa um esshyforccedilo conjunto visando determinar de uma vez por todas a forma exata da Terra Como pretendo argumentar estes eventos e sua coincidecircncia sugerem a importante magnitushyde das mudanccedilas no entendiment9 que as elites europeacuteias tinham de si mesmas e de suasmiddot ~elaccedilotildees com o resto do mundo Este capiacutetulo se volta para ordf emergecircncia de uma nova versatildeo do que gosto de chamar consciecircncIacuteltl ria da Europa uma versatildeo marcada pela tendecircncia agrave exploshyraccedilatildeo do interior e pela construccedilatildeq ccp significado em niacutevel global por meio dos aparatos desc~itivFls da histoacuteria natural Esta nova consciecircncia planetaacuteria como sugiro eacute elemento baacutesico na construccedilatildeo do moderno eurocentrismo o reflexo hegemocircnico que incomoda os Ccedillcilt1entais continuando mesmo a ser uma segunda natureZa para eles

Sob a lideranccedila francesa a expediccedilatildeo cientiacutefica intershynacional de 1735 foi montada ccin ccedil) fito de responder a uma candente questatildeo empiacuterica seria a Terra uma esfera como afirmava a geografia (francesa) cartesiana ou seria ela como Co inglecircs) Newton havia conjecturado um esferoacuteishyde achatado nos poacutelos Esta era uma questatildeo altalTente carshyregada pela rivalidade poliacutetica entre Franccedila e Inglaterra Um grupo de cientistas e geoacutegrafos liacutederados pelo fiacutesico francecircs Maupertuis foi enviado para o norte para a Lapocircnia a fim de mensurar um grau longitudinal no meridiano Outro rushymou para a Ameacuterica do Sul para proceder agrave mesma menstlmiddot raccedilatildeo no Equador proacuteximo a Quito Nominalmente encabeshyccedilada pelo matemaacutetico Louis Godin esta expediccedilatildeo entrou para a histoacuteria com o nome de um de seus poucos sobrevishyventes o geoacutegrafo Charles de la Condaminc

A expediccedilatildeo La Condamiacutene foi um triunfo co marcante para a comunidade cientiacutefica europeacuteia Os tershyritoacuterios americanos da Espanha estavam estritamentecirc fechashydos para viagens oficiais de estrangeiros de qualquer tipo e

~-- __-142 -

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

haviam permanecido assim por mais de dois seacuteculos A ohshysessatildeoda corte espanhola de proteger suas colocircnias (k toela influecircncia e espionagem estrangeiras era legenebria Apoacutes perder10 controle do traacutefico de escravos para a Gratilde-Bretashynha em 1713 a Espanha havia se tornado mais temeros~

que nunca em relaccedilatildeo agraves incursotildees em seus econocircmicos e culturais Quanto mais se torn shyvarri os ltcontatos internacionais ebs elites criollbs Lt1l SlI

colocircnias mais receosos ficava11 os espanloacuteiacutes A

dos espanhoacuteis escreveu o cors8rio britflnico gunda deacutecada do seacuteculo consiste procurar por todos os meios e form~IS as vastas riquezas daqueles extensos domiacutenios

matildeos O conhecimento dessas riqucltls lllrl1HHI

I3etaghe da grande denunda entre americanos por pn dutos europeus tem excitado todas aS nlccedilcJc da EUrGpai As instalaccedilocirces militan-s nos portos Ameacutericl

e a mineraccedilatildeo no interior eram IS clU1S (Ollstrll

coloniais mais cuidadosamente nrorelidIS do olhar

tern ao meSmolrempl) em te investigadas pelos rivais de

o rei da Franccedila contratou um jovem tngtnhciro Ch~lll-cio para viajar ao longo da costa do Chile L do fingindo-se de comerciante para melhor ip scuir-sc cn

espanhoacuteis e ter todas as il iacutedldls d Obcecado minas ltrlziel I)

grou ver uma No entanto memo os relllos ele segu matildeo que ele reproduziu foram avidamente peshylos leitores na Franccedila e na InglaterrJ N~l auscncia l n()middot()middot~ escritos sobre a Ameacuterica do Sul o compibclor da dv

de Churchill em 1745 traduziu noUS soiJt-e o Cl1ishyle escritas um seacuteculo antes pelo Jesuiacuteta fsnlIlhol ilol1s0

2_ Capitt10 Ilcragh f)hsemalioIS())llbeColIIllrul bullbullbull1II (lId IaIS DIlIIacuteIIiacutei his CCpiioilV in ohn linkerton (limiddot middot()middot(I~lt (111

in ali Paris World London Longman el alll 01 i- I MI p M Freacutezier 1 Voyage lO Ibe ouh Sea cmd (iIOll

anel Penl in Years 1712 73 e 1711 lraduido do 1 ( 111

glecircs c editado por London Lonah Bowyer l717 llLki

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ciecircncia e sentimento 1750-1800-----_--------shy _

Ovalle 4 No que se refere ao interior da Ameacuterica hispacircnica mesmo relatos antigos eram mais confiaacuteveis que conjecturas ccntemporacircneas ccmo a descriccedilatildeo que faz Betagh de UO

terremoto no in~eror que levantou aacutereas inteiras e as arrasshytou para milhas dali 5

No caso da expediccedilatildeo La Condamine a coroa espa-I _

nhola pocircs de lado o seu famoso protecionismo Avido por alicerccedilar o seu prestiacutegio e mitigar a lenda a respeishyto da crueldade espanhola V aproveitou a oportuni dade para agir como um ilustrado monarca continental Condiacuteccedilocirces estabelecendo os limites expediccedilatildeo acordadas e dois espanhoacuteis Antonio de Ulloa e ge Juan agregados para assegurar que a pesquisa natildeo desse lugar agrave espionagem - o que prontamente aconte-

I ceu Da mesma forma praticamente tudo o mais errashydo A expediccedilatildeo La Condamine foi 1Im empreendimento tatildeo aacuterduo que mais de sessenta anos Sy passariam antes que qualquer coisa semelhante fosse outra vez tentada6 Rivalishydades dentro do contingente francecircs rapidamente cindiram 05 viacutenculos de colaboraccedilatildeo A cooperaccedilatildeo internacional deu lugar a interminaacutevel disputa com autoridades coloniais sobre o que poderia ou natildeo ser visto medido desenhado ou quais amostras poderiam ser recolhidas A certa altura toda a expediccedilatildeo foi mantida em Quito por oito meses acushysada de planejar o saque dos tesouros incas Os estrangeishyros com seus estranhos instrumentos suas menshysuraccedilotildees - da gravidade da velocidade do som alturas e distacircncias cursos de rios altitudes pressotildees barom~tricas eclipses refmccedilocirces trajetoacuterias das estrelas eram objeto de contiacutenua ampuspeita Em 1739 o meacutedico do grupo foi assassishy

--I 4 Alonso de Ovalle - An Htsloricaf Reluacutetion (~ lhe Kingdom of Chile em Pinkerton op cito vol 14 pp 30-210

5 Beragh op cit pS 6 Miacutenha analise nesse ponto faz uso d()~ trabalhos de Victor Von Hagen - South Amerlca Calted Them New York Knorf 1911 lfeacutelecircne - Introduccedilatildeo a Voyage sur L iacuteimazone de La Condamine Paris Maspero 1981 pp5-27 Edward J Goodman - Tbe fJxporers of South Amerim New York Macmillan 1972

--_~_

ciacuteecircnciu conscifncia planetaacuteria interiores

nado apoacutes ter se envolvido numa entre duas rosas funiacutelias em Cuenca no Equador LI COl1daminc p lI pouco escapou do mesmo destino Uma batalha iudicial f()i travada por rnais de um ano sobre se a de poderia ser afixada sobre as piracircmides triangulares eh expcshydiccedilatildeo fleur de lys perdeu) A eacutexploraccedilatildeo do interior eS(J

va provando ser um pesadelo poliacutetico aineb ma ior cio a sua precedente mariacutetimn

Os pesadelos logiacutesticos da cio interit lI eram tambccedilm novos e a expediccedilatildeo La ConclamIacutene nlO foi poupada de nenhum deles Os rigores do clima allclino e J

viagem por terra provocaram enfermidades continuadasbull I

danificados Derda de eSDeacutecimes cJckmos de anotaccedilotildees nlOJhados frus

o grupo francecircs se desintegrou clbendo a cada um encontrar sua proacutepria maneira de voltar para CIS~l

gt I

ou entatildeo permanecer abandonado na Ameacuterica cio Sul Ainshyda qUe a expediccedilatildeo sul-americana tivesse tido iniacutedo UI1l ~ln() antek de sua contrapartida enviada para o Artiol

l damente uma deacutecada transcorreu antes que os bre~iventes comeccedilassem sua tortuosa volta pnra a Haacute muito a questatildeo do formato da Terra bavLl siclo decidi da (Newton ganhou)

Aleacutem de informaccedilatildeo sobre outros assunto () grup() sul-americano trouxe para casa desconfoni veis sohr a poliacutetica e o (anti-) heroiacutesmo da ciecircncia O l11atcmlti() Pill re Bouguer retornou primeiro e ficou com 1 gloacuteria ele rcl~lllr

o ocorrido agrave Academia Franrpccedila de Ciacuteenciacute~l La CondamIacutelll em 1744 via e foi aclamldo pur sua inC

dita jOiI1ada amazocircnica Por meio de uma Glmplshy

nha contra Bouguer La Condamine conseguiu se firmar por toda a Europa como o priacutencipal da expcdiacuteccedilu En quanto isso Louis Godiacuten o lideI nominal ca expedicatildeo esshytava lentamente percorrendo o caminho de volta a Espanha em 1751 foi-lhe

devido a O naturalista Joseph de continuou n Hll suas pcsqu ias na Nova foi mll1dlcO tmhlat~1771

-

ciecircncia e sentimento 1750-1800

lt1 de Quito completamente louco O jovem teacutecnico Godin des Odonnais alcanccedilou Caiena onde esperou dezoito anos por sua esposa peruana (voltaremps agrave trdjetoacuteria desta mulher mas adiante) retomando finalmente para a Franccedila em Dos outros nada mais se ouviu

A cooperaccedilatildeo da Espanha com a expediccedilatildeo La Condashymine constitui evidecircncia flagrante do ipoder da ciecircncia para elevar os europeus acima de suas mais intensas rivalidades nacionais O proacuteprio La Condamine celebrou este impulso continental no prefaacutecio a seu relato da viagem no qual conshygratulou Luiacutes XV por apoir a Coop~racircCcedilatildeo cientiacutefica entre as naccedilotildees consorciadas mesmo quando simultaneamente em guerra contra elas Enquanto os exeacutercitos de Sua Majestade moviam-se de um confim a outro da Europa afirmOl~ La Condamine seus matemaacuteticos disp~rsos por toda a Terra trabalhavam em Zonas Toacuterridas e Friacutegijlas para o avltmccedilo das ciecircncias e o benefiacutecio comum de todas as naccedilotildees Todavia natildeo se pode deixar de notar aqui o cpnspiacutecuo tom nacionashylista de La Condamine o cientista francecircs orgulhosamente congratula seu proacuteprio rei por seu cosmopolitismo esclarecishydo Num espiacuteritoigualmentc duacutebio tanto a Real Sociedade Britacircnica quanto a Academia Francesa de Ciecircncias galardoashyram os espanhoacuteis Juan e DUoa com o tiacutetulo de membros hoshynoraacuterios - gestos transnacionais indissociaacuteveis da intensa ri validade nacional entre a Gratilde-Bretanha e a Franccedila e seus inshyteresses conflitantes na Ameacuterica espanhola Tais gestos resumem o jogo ambiacuteguo de aspiraccedilotildees nacionais e contishynentais que havia sido uma constante ao longo da expansatildeo europeacuteia e que haveria de permanecer assim durante a era da ciecircncia Por um lado as ideologias dominantes traccedilavam uma dara distinccedilatildeo entre a (interessada) busca de riqueza e a (desinteressada) procura de conhecimento por outro lado

~~~e de la Condamine - A Succint Abridgiment ()f a made withiacuten the Inland Parts of Suuth-America Lonclon E 1748 piv Esta eacute a primeira traduccedilatildeo em Inglecircs de seu Relatiun abreacutegieacute dun voyage fait dans liacutenteacuterieur de lA meacuterique meridionale (1745) (ecl~j bras Ralato abreviado de uma viagem pelo interior da Ameacuterica meridioshynal Satildeo Paulo Cultura 1944J

1

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ciacuteecircnciacutea consciecircncia planetaacuteria interiores

-

partes Ido mundo para

pode ajudar a

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interior a urna histoacuteria

peb cas sobre a

natildeo serem

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a compeuccedilao el~tre as naccediloeq cOntinuou a ser () 1l()lor (11 c 1 ~

pansao europela no extenor Num aspecto a expediccedilatildeo La Concbmine toi unI sushy

cesso verdadeiro elhquanto relato As hist(iacuteriacutes L texlOS

ela provOcou circularam por toda a Europ~1 pm em circuitos escritoS e orais De fato o corpo de textos sultante daexpecliccedilagraveo La Condamine sugere hcm () alclllrl e a vadedade dos relatos de viagem produzidos el11 mea(b~ do seacutecuumllo )VIII relatos que por sua vez trouxcrl111 outrlS

as imaginaccedilotildees cios euro~)Ius [11ll

breve inventaacuterio dos relatos da expedi~agraveo 1lt1 Condanliacutem sugerir o que significa falar sohre

relatose zonas de contato neste momento da llistciacuteria O matemaacutetico13ouguer o primeiro a retornar escreV(u

seu relatoacuterio para a Academia Francesa de CiCnchls em ]7-H

num) Narrativa Abeviada de urna Viagenl (I() PCII Dl cio a ~oz do cientista predomina neste retllo eillLllLlrandnmiddot se o discurso em torno das

etc Entretanto quando sua viagem se voltl r1lr1 i)

narrativa cientiacutefica de Bouguer se c de sofrimentos e privaccedilocirces qUl lllS11l0

leitura se torna comovente No ponto em que a aeacutearllpa no topo da gelada cordilheira elos Andei IXlssaglI1 sobre frieiras hemorraacutegicas e escravos ameriacutendios ll1on(mlt 1

do frio se confundem com cio calor do corpo Sobre as minas Boushy

guer relaw apenas boatos observando que i]

natureza do paiacutes torna difiacutecil que outras detas sejmn enconshytradas e tambeacutem que os iacutendios satildeo saacutebios bastl1te parlI)

muito pre3tativos neste tipo de caso fossem bem-sucedidos estariam a quase insuportuumlvel exploraccedilatildeo de seu do porccedilatildeo iacutenfima dos rendimentos Bouguer tunl)em proshyduziu um livro teacutecnico sobre a expedicatildeo

cla (YI lu ~(JU ( I 1111Pierre Bouguer - Ali Iinkerton ojJ Cil vol i

n

---_~

e sentimento 1750-1800

FigA A expediccedilatildeo La Condamine fazendq mensuraccedilotildees Extraiacutedo de Mesure des rois premiers degres du Meacuteridien dans IHeacutemispbere Austral (Mensuraccedilagraveo dos Primeiros Trecircs Graus do Meridiano no liemifteacuterio Austral) de Charles de la Condamine Paris lmprimerie Roya 1751

La Condamine tambeacutem pllblicOll seu relatoacuterio para a Academia Francesa sob o tiacutetulo Breve Narrativa das Viagens atraveacutes do Interior na Ameacuterica Co Sul (745) o qual foi muishyto lido e amplamente traduzido Talvez porque Bourguer jaacute tivesse falado d2 palte andlna da missatildeo o relato de La Conshydamine se volta principalmeme para sua extraordinaacuteria viashygem de volta descendo o Amazonas e suas tentativas de re- gistrar seu curso e afluentes O texto eacute escrito essencialmenshyte natildeo como um relatoacuterio cientiacutefico mas no gecircnero popular da literatura de sobrevivecircncia Ao lado das navegaccedilotildees os doIs grandes temas da literatura da sobrevivecircncia satildeo os soshyfrimentos e perigos de um lado e as maravilhas exoacuteticas e as curiosidades de outro Na narrativa de La Condamine o drama das expediccedilotildees do seacuteculo XVI na regiatildeo Olellana Raleigh Aguirre - eacute recapitulado com todas as suas associashyccedilotildees miacuteticas Ao adentrar na selva La Condamine se encon tra nun novo mundo longe de tedo comeacutercio humano soshybre um mar de aacutegua fresca Laacute me encontrei com novas

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

plantas novos animais e novos homens) Ele ~T~ comomiddot jaacute haviam feito todos os seus precursores sobre a ]0shy

calizaccedilatildeo do El Dorado e a existecircncia das amazonas as I

quais ainda que bem possam ter existido muito provavelshyrnentetenham hoje em dia abandonado seus costu mes mevoslO A selva permanece sendo um mundo de fascinashyccedilatildeoe perigq1l

AcircindaqJe a Breve Narrativa de 1745 certanlente mais conhetida das obras de La CondarliI1t ele tamheacutem P(shyblicol copiosJmente em outrns gecircneros todo llcs basl~ld(

viagens americanas Sua Cal1a 1

em Cuacutecnca surgiu em 17tiacute6 seguida por uml flisl(i ria do Piracircmides deacute Quito (1751) e por um rtlltoacuterlo a

d~l Merstraccedilacirco dos Primeiros Trecircs GrelIs do J[(liduumlIIlO I di Pe o resto e sua vida ele se empenhou na

e em pblecircmkas sobre um leque de temas cientiacutefico relacioshynados atilde Ameacuterica incluindo os efeitos do

(amplamente utilizada por missiomiacuterino eSIX nhoacuteis)a existecircncia das Amazonas a geografia cio Orenoco ( do RiacuteoNegro Ele esCreveu sobre a borracha que arrcsentoll aos cientistas europeus o curare e seus antiacutedotos e a nelesmiddot siclade d~ pflclrocirces europeus comuns de mcnsuraccediluumlo Os csshyctitos cientiacuteficos especializados de La Conelmine dlO a mlshy(lida de quanto a ciecircncia veio articular os contatos curolxlI~ com a fronteira imperial e cio quanto foi articulada por tle~ o

Foram os dois esparhoacuteis JlI~1Jl l llloa elaboraram o uacutenico relato extensivo da por Ulloa a pedido do rei de lica do Sul veio a puacuteblico na Espanha em 1747 v sua tLI

feita por John Adams mereceu cinco cdi~ lt Ullqa 1 nem cieacuteleil 1ll11I litcrltu

de estaacute escrito num estil() que gosto (Iv

ciacutevica Virtualmente iSlnto de

La Condallinc ofJ Cil p24 Ir) IbiacutecL p51 11 Evidentltlllente ainda C A nwiacutes recente re-l11ccmiddotI1ICcedilmiddot tI Irlt amazoms eacute 11I1111Iacute1f lhe 1CZOII ele 1ltII1l tmiddot Ymk l111l

House J989

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

quer rodeio de entretenimento o livro eacute um enorme comshypecircndio de informaccedilotildees acerca de muitos da geoshygrafia colonial espanhoiacutea e da vida nas espanholas

- eacute claro minas -LV

maccedilotildees estrateacutegicas Eacute um trabalho estatiacutestico no sentido original do termo isto eacute uma investigaccedilatildeo sobre o estado de um paiacutes (Oxford English Dictionary) Adams louvou o tratado por sua confiabiHdade emj contraste com os pomshyposos narradores de curiosidades maravilhosas12 uma alushysatildeo agrave literacura de sobrevivecircncia e~gerd e provavelmente a ta Condamine em particular

]uan e Ulloa tambeacutem endereccedilaram a seu rei um seshygundo volume clandestino intitultdo Noticias secretas de Ameacuterica (Nntiacutecias secretas da Amlt1rica) que dissertava critishycamente sobre vaacuterios aspectos da colonial espanhoshyla e como um cOmentarista obselvou llmuito que natildeo foi dito nos trabalhos dos Natildeo foi senagraveo nos primeiros anos ltlo Impeacuterio Espanhol entrou em seu obra caiu las matildeos dos ingleses e

Junto ao cataacutelogo de textos da La Condashymine que foram publicados existe I um rol de escritos que natildeo J foram Est~ inclui por exempto o trabalho de ]osepb de ]ussieu () naturalista que permaneceu na Ameacuterica do Sul e continuou a exercer sua profissatildeo por outros vinte anos Quando ele afinal enlouqueceu e teve de ser reembarcado

de Quito para a Franccedila os que o enviaram ao que parece perderam de vista o bauacute que continha o trashy

de toda a sua vida de Apenas um estudo sobre os efeitos do quinino veio a ser publicado - sob o nome de La Condamine O restante dia em Quito

A mais apabonante e duradoura histoacuteria que adveio da expediccedilatildeo La Condamine foi um relato oral

-12 john~~~l~S shy Prefaacutecio a VOy(lge lo Sowh AII(ric(1 (747) em linkershyton op cit vo~ 14 p313 13 Von H~gn - op cit p300

f --~- ---_

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

apenas parcialmente Eacute lima histoacuteria de sobrevivecircncia heroacutei natildeo eacute um homem de ciecircncb eurupcu IJUS Llllla IlIUshy

lher euro-americana IsabeIa Godin des Odorais da aristoshyperuana que se casou com um membro da expe(lishy

com quem teve quatro filhos () (Sr~i Tia men t () do grupocientiacutefiacuteco seu G1arido rumou para Caiena onde passou dezoito anos tentando obter gem para a Franccedila para si mesmo e sua famiacutelia Apoacutes a tLIacuteshy

mor~e de seu quarto e uacuteltimo filho Mme Godin agoshyra jaacute c9m maIs de quarenta anos tomou uma ousada deci satildeo Acompanhada por um grupo que incluiacutea seus irmlos sobrinho e numerosos criados partiu para se juntar a seu

esposo atravessando os Andes e descendo o Amazonas pela mesma rota que fez de La Condamine um heroacutei O deshysastre se seguiu Consta que amedrontados pela variacuteoLi seus guias indiacutegenas desertaram e todos incluindo seus ilshy

sobrinho e criados morreram apoacutes definharem por dias na selva Mme Godin em deliacuterio grlclu~dshy

mente voltou sozinha ateacute o rio onde foi resgatada por illshyerm canoas que a levaram ateacute o

Com assim prossegue o il COSIltI

da Guiana para ser levada para a empre

devotado marido A romacircntica e arrepiante narrativa de Goclin

publicada em 1773 - natildeo por ela mas por Sl c-pOSO a pcshydico de La Conclamine que a anexou agraves ele Ul pria narrativa Mesmo hoje o ocorrido (gt profuJ1cbnCIlll

emocionante suas complexidades irresistiacuteveis elmo pareshycem frequumlentemente ser sempre que protlgonitas feminishynas aparecem na prosa sobre ltI coloniaL A histoacuteril

Mme Godin eacute uma reaoresentacatildeo cIl grande proem1 amaona - ou

a isto O amor a e l Cll tral1SfOflllltll11

a mulher crioula ele uma aristocrata bntllCl na (ombatIi

1 L Luiacute~ Goclin eles Odollnb Carla M la C()IlLlll1iacutellL anexada li Ahrh(red Nmnllili em Pinkerlon ul cil

51

1 )

e sentimento 1750-1800

mulher guecircrreira que os europeus haviam criado para simshybolizar para si mesmos a Ameacuteriql Ao mesmo tempo sua saga a destroacutei enquanto objeto sexual Mme Godin emerge Como uma versatildeo real da arruinada princesa Cuneacutegonde do Cacircndido Inversotildees simboacutelicas abundam na histoacuteria O coshymeacutercio de ouro por exemplo tem sua direccedilatildeo revertida A certa altura Mme Godin oferece duas de suas correntes de ouro para os iacutendios que salvaram a sua vida na selva invershytendo o paradigma da conquista Para sua fuacuteria os presenshyres foram imediatamente tomados pelo padre residente e substituiacutedos pela quintessecircncia da mercadoria colonial tecishydos Por tais deliciosas ironias natildeo admira que a amazona de Mme Godin tenha feito carreira e circulado por toda a Europa por mais de cinquumlenta anos A carta de vinte nas seu marido representa um traccedilo modesto de uma exuumltecircncia vital dentro da cultura oral

-uumltapete aleacutem da orla

Textos orais textos escritos text~s perdidos textos seshycretos apropriJdos abreviados traduzidos coligidos e giadosj cartas relatoacuterics histoacuterias de sobrevivecircncia descrishyccedilatildeo ciacutevica narrativa de navegaccedilatildeo monstros e maravilhas tratados medicinais polecircmicas acadecircmicas velhos mitos reencenados e invertidos - o corpus La Cond~~mine ilustra o muacuteltiplo perfil dos relatos de viagem nas fronteiras de exshypansatildeo da Europa em meados do seacuteculo XVIII A expediccedilatildeo mesma eacute de interesse neste contexto C0l110 uma instacircncia precursora e notoriamente malsucedida daquilo que logo se tornaria um dos mais ostentados e conspiacutecuos instrumentos europeus de expansatildeo a expediccedilatildeo cientiacutefica internacional Na segunda metade do seacuteculo XVIII a expediccedilatildeo cientiacutefica tornlr-se-ia um catalisador das energias e recursos de intrinshycadas alianccedilas das elites comerciais e intelectuais por toda a Europa Igualmente relevante eacute que a exploraccedilatildeo cientiacutefiacuteca haveria de se tornar um foco de inte-nso interesse ouacuteblico e

---~_ ~~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores ---~-----~~

~~Jwnt-IAfftu rnmiddotpmiddot~JIiltT~) urmiddot k

Fig5 fenocircmenos naturais da Ameacuterica elo Sul tais COlllO vi[os peb l-

La Condamine Embaixo 11 () nJilro de neve e em o canto haiacute-(J 1 dirciu 1l[lWCImiddotmiddot11

o renomeno do arco da obre middotI1l(lII~ dts 11l )1111

nhas acima 2t direitl ilUotrase o fenocircmeno do IIICO-ir Iriplo aacuteI( primeira vez em Pambamarca e JosteriOrJ11lllll CllI middotmiddotlli

montanhas EXlrliacutedo (eacioacutell biie)lica derioi fi lo llIlcnlaquo(I ridiacuteonat deJorge Juan e Amonio de Ulolt Madri nloni 111111 1- li

fonte de alguns dos mais poderosos aparal()~ KI(()I()gll()~ l

de idealizaccedilatildeo por meio dos quais os cicladlrus el1f()pell~ relacionaram com outras paltes do mundo Estes l

palticularmente os relatos de viagem sagraveo o lema 11 ser tral

lhado em Para os propoacutesitos deste estudo a expediccedil~o La COllshy

damine tambeacutem possui um significado pois foi dos primeiros exemplos uma nova tendecircnci~l lO que refere agrave e agrave documentaccedilatildeo dos interiores conlishy

em contrtste com o paradigma mariacutetimo que ocupado o centro do oalco por trezentos anos No uacuteltimus

-) ))

~ ~ ~

~

novo

sobre mais

dade

cidas suas

1

ciecircncia consci~ncia planeUiacuteria interiorps ciecircncia e sentimento 1750-1800 -__----_------ -~--

ccedilas na concepccediluumlo CJue tem a Europa ele si Il1lSIll1 c (1( ~IIanos do seacuteculo XVIII a exploraccedilatildeo do interior havia se transe globais Natildeo obstante seus calamitosos formado no objeto principal das energias e imaginaccedilatildep ex~

expediccedil1lo aparece como precursora Enquanto relatopan8ionisas Esta mudanccedila teve con~quumlecircncias significativas exerriplifica ltonfiguraccedilotildees de relatos ele viagem que 111para os relatos de viagem exigindomiddotc dando vazatildeo a novas 11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus noshy

vos modelos para os contatos eurom~ls aleacutem-fronteiras e noc impuls~) seriam radicalmente reorganizados (O

vas formas de codificaccedilatildeo das ambiccedilotildees imperiais europeacuteias seguinte examinmaacuteestas transformaccedilotildees nos cclatos de viashy

Em o espilo francecircs Freacutezier c~n$iderava impossiacutevel a gem na Aacutefrica Meridional) Na segunda metade do seacuteculo exploraccedilatildeo interior do Peru dado Rl1e os viajantes devem XVIII muitos viajantes-escritores vatildec se dissociar de trJclishycarregar ateacute mesmo suas proacuteprias qUlfas a menos que accedileishy tais como a da literatura de sobrevivecircnriacute

tem deItar-se no fhatildeo como os natiyos sobre peles de ovemiddotmiddot ciacutevica OU narrativa de navegaccedilatildeo pois se lha tendo o ceacuteu por teto15 Para o prefaciador inglecircs do reshy projeto de construccedilatildeo de conhecimento da histoacuteria

segul1shylato de Ulloa trinta anos mais tarde a exploraccedilatildeo do interior A emergecircncia de3te deeacute um passo ~ ser forccedilosamente dado IQue ideacuteia poderiacuteamos do evento de ] que prometi discutir a

ter de um tapete turco pergunta se observarmos apenas as Sistema da Natureza de Lineu berras ou suaorla16 Ao redor de 1792 o viajante francecircs Saugnier viu isto como uma questatildeo de justiccedila glolxl o inteshyrior tanto quanto a costa da Aacutefrica merece a honra da visishy o sistema taccedilatildec europeacuteia17 Em 1822 Alexagravender Humboldt nacirco haveraacute de ser pela navegaccedilatildeo costeira que poderemos descobrir a direccedilatildeo das cordilheiras e sua constituiccedilatildeo geoloacuteshy a expeOlccedilao La Condamine lt-SlIV1 cruzam ) gica O clima de cada regiatildeo e sua influecircncia sobre as formas o Atlan~lCO em nome da ciecircncia um naturalist succo de inshye haacutebitos dos seres organizados Para seu tradutor inglecircs a te e oito anos levava ao prelo a sua primeirl grande contrishyquestatildeo era de ordem esteacutetica Em geral as expediccedilotildees mashy ao O laturalista se chamava Cad LinnG ou lIll riacutetimas tecircm uma certa monotonia que vem da necessidade Linnaeus e o livro tinha por tiacutetulo ~vslCn1( VIlil(( (()

se falar continuamente da navegaccedilatildeo numa linguagem teacutecnishy Sistema da Natureza) Encontrava-se aiacute uma criaccedil~lO cxtrI()[ ca A histoacuteria das jornadas por terra em regiotildees distantes eacute -dinaacuteria que teria profundo e duradouro il11plCto 1110 ltlpena~00

muito mais apropriada para incitar ( interesse geralR a~ e os rehltos de viagem mas n1 maneirl Como portanto a expediccedilatildeo La Condamine dos cidadatildeos europeus construiacuterl11l l lomprcllI

de uma era de viagens cientiacuteficas e derem seu lugar no planeta Para um leitor COnrCI11p(Jr1nc() interior que por seu turno sugere mudan- () Sistema da Natureza parece um fcito modcsto v nl Vll

um tanto quanto escranho Era um sitema ccscritIacutemiddot) designado panl classificar rodas as plantas d1 TerrI conlllshy

15 Freacuteziacuteer np cit plO e desconhecidas de acordo com as Clr1Cl1 iacutestics ( 16 dams 01 cit p314

17 Messrs eacute Blisson - Vovages to the Coas ofAfrica (1792) Ne- reprooutivasll Vinte e CJllatro (c 111lis ll(c 111 gro U P 1969 eacute traduccedilatildeo em inglecircs do original francecircs de 1792 Reshylation de plusiers voyages agrave la cocircte d Agraverlque 18 Alexander von Humboldt Persortal Narratiue of Cf Voyage to lhe

19 A discuss~io de Lineu e d biacutestoacuteria naturalEquinoctiacuteal Regiom traduccedilatildeo para o inglecircs de Helen Maria Williams das seguintes fontes Heins Goerke Ceci) - Lill1a(iI

London Longman et alU 1822 voI I pviiacute

ir) ------V~

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

---

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ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

ii

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1 j ~ j

J Ij I1

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i ~~--shy

Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

r I

--------------t~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

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ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 4: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

(ocircshy

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1 f--middotshy

ciecircncia e sentimento 1750-1800-----_--------shy _

Ovalle 4 No que se refere ao interior da Ameacuterica hispacircnica mesmo relatos antigos eram mais confiaacuteveis que conjecturas ccntemporacircneas ccmo a descriccedilatildeo que faz Betagh de UO

terremoto no in~eror que levantou aacutereas inteiras e as arrasshytou para milhas dali 5

No caso da expediccedilatildeo La Condamine a coroa espa-I _

nhola pocircs de lado o seu famoso protecionismo Avido por alicerccedilar o seu prestiacutegio e mitigar a lenda a respeishyto da crueldade espanhola V aproveitou a oportuni dade para agir como um ilustrado monarca continental Condiacuteccedilocirces estabelecendo os limites expediccedilatildeo acordadas e dois espanhoacuteis Antonio de Ulloa e ge Juan agregados para assegurar que a pesquisa natildeo desse lugar agrave espionagem - o que prontamente aconte-

I ceu Da mesma forma praticamente tudo o mais errashydo A expediccedilatildeo La Condamine foi 1Im empreendimento tatildeo aacuterduo que mais de sessenta anos Sy passariam antes que qualquer coisa semelhante fosse outra vez tentada6 Rivalishydades dentro do contingente francecircs rapidamente cindiram 05 viacutenculos de colaboraccedilatildeo A cooperaccedilatildeo internacional deu lugar a interminaacutevel disputa com autoridades coloniais sobre o que poderia ou natildeo ser visto medido desenhado ou quais amostras poderiam ser recolhidas A certa altura toda a expediccedilatildeo foi mantida em Quito por oito meses acushysada de planejar o saque dos tesouros incas Os estrangeishyros com seus estranhos instrumentos suas menshysuraccedilotildees - da gravidade da velocidade do som alturas e distacircncias cursos de rios altitudes pressotildees barom~tricas eclipses refmccedilocirces trajetoacuterias das estrelas eram objeto de contiacutenua ampuspeita Em 1739 o meacutedico do grupo foi assassishy

--I 4 Alonso de Ovalle - An Htsloricaf Reluacutetion (~ lhe Kingdom of Chile em Pinkerton op cito vol 14 pp 30-210

5 Beragh op cit pS 6 Miacutenha analise nesse ponto faz uso d()~ trabalhos de Victor Von Hagen - South Amerlca Calted Them New York Knorf 1911 lfeacutelecircne - Introduccedilatildeo a Voyage sur L iacuteimazone de La Condamine Paris Maspero 1981 pp5-27 Edward J Goodman - Tbe fJxporers of South Amerim New York Macmillan 1972

--_~_

ciacuteecircnciu conscifncia planetaacuteria interiores

nado apoacutes ter se envolvido numa entre duas rosas funiacutelias em Cuenca no Equador LI COl1daminc p lI pouco escapou do mesmo destino Uma batalha iudicial f()i travada por rnais de um ano sobre se a de poderia ser afixada sobre as piracircmides triangulares eh expcshydiccedilatildeo fleur de lys perdeu) A eacutexploraccedilatildeo do interior eS(J

va provando ser um pesadelo poliacutetico aineb ma ior cio a sua precedente mariacutetimn

Os pesadelos logiacutesticos da cio interit lI eram tambccedilm novos e a expediccedilatildeo La ConclamIacutene nlO foi poupada de nenhum deles Os rigores do clima allclino e J

viagem por terra provocaram enfermidades continuadasbull I

danificados Derda de eSDeacutecimes cJckmos de anotaccedilotildees nlOJhados frus

o grupo francecircs se desintegrou clbendo a cada um encontrar sua proacutepria maneira de voltar para CIS~l

gt I

ou entatildeo permanecer abandonado na Ameacuterica cio Sul Ainshyda qUe a expediccedilatildeo sul-americana tivesse tido iniacutedo UI1l ~ln() antek de sua contrapartida enviada para o Artiol

l damente uma deacutecada transcorreu antes que os bre~iventes comeccedilassem sua tortuosa volta pnra a Haacute muito a questatildeo do formato da Terra bavLl siclo decidi da (Newton ganhou)

Aleacutem de informaccedilatildeo sobre outros assunto () grup() sul-americano trouxe para casa desconfoni veis sohr a poliacutetica e o (anti-) heroiacutesmo da ciecircncia O l11atcmlti() Pill re Bouguer retornou primeiro e ficou com 1 gloacuteria ele rcl~lllr

o ocorrido agrave Academia Franrpccedila de Ciacuteenciacute~l La CondamIacutelll em 1744 via e foi aclamldo pur sua inC

dita jOiI1ada amazocircnica Por meio de uma Glmplshy

nha contra Bouguer La Condamine conseguiu se firmar por toda a Europa como o priacutencipal da expcdiacuteccedilu En quanto isso Louis Godiacuten o lideI nominal ca expedicatildeo esshytava lentamente percorrendo o caminho de volta a Espanha em 1751 foi-lhe

devido a O naturalista Joseph de continuou n Hll suas pcsqu ias na Nova foi mll1dlcO tmhlat~1771

-

ciecircncia e sentimento 1750-1800

lt1 de Quito completamente louco O jovem teacutecnico Godin des Odonnais alcanccedilou Caiena onde esperou dezoito anos por sua esposa peruana (voltaremps agrave trdjetoacuteria desta mulher mas adiante) retomando finalmente para a Franccedila em Dos outros nada mais se ouviu

A cooperaccedilatildeo da Espanha com a expediccedilatildeo La Condashymine constitui evidecircncia flagrante do ipoder da ciecircncia para elevar os europeus acima de suas mais intensas rivalidades nacionais O proacuteprio La Condamine celebrou este impulso continental no prefaacutecio a seu relato da viagem no qual conshygratulou Luiacutes XV por apoir a Coop~racircCcedilatildeo cientiacutefica entre as naccedilotildees consorciadas mesmo quando simultaneamente em guerra contra elas Enquanto os exeacutercitos de Sua Majestade moviam-se de um confim a outro da Europa afirmOl~ La Condamine seus matemaacuteticos disp~rsos por toda a Terra trabalhavam em Zonas Toacuterridas e Friacutegijlas para o avltmccedilo das ciecircncias e o benefiacutecio comum de todas as naccedilotildees Todavia natildeo se pode deixar de notar aqui o cpnspiacutecuo tom nacionashylista de La Condamine o cientista francecircs orgulhosamente congratula seu proacuteprio rei por seu cosmopolitismo esclarecishydo Num espiacuteritoigualmentc duacutebio tanto a Real Sociedade Britacircnica quanto a Academia Francesa de Ciecircncias galardoashyram os espanhoacuteis Juan e DUoa com o tiacutetulo de membros hoshynoraacuterios - gestos transnacionais indissociaacuteveis da intensa ri validade nacional entre a Gratilde-Bretanha e a Franccedila e seus inshyteresses conflitantes na Ameacuterica espanhola Tais gestos resumem o jogo ambiacuteguo de aspiraccedilotildees nacionais e contishynentais que havia sido uma constante ao longo da expansatildeo europeacuteia e que haveria de permanecer assim durante a era da ciecircncia Por um lado as ideologias dominantes traccedilavam uma dara distinccedilatildeo entre a (interessada) busca de riqueza e a (desinteressada) procura de conhecimento por outro lado

~~~e de la Condamine - A Succint Abridgiment ()f a made withiacuten the Inland Parts of Suuth-America Lonclon E 1748 piv Esta eacute a primeira traduccedilatildeo em Inglecircs de seu Relatiun abreacutegieacute dun voyage fait dans liacutenteacuterieur de lA meacuterique meridionale (1745) (ecl~j bras Ralato abreviado de uma viagem pelo interior da Ameacuterica meridioshynal Satildeo Paulo Cultura 1944J

1

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ciacuteecircnciacutea consciecircncia planetaacuteria interiores

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partes Ido mundo para

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interior a urna histoacuteria

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a compeuccedilao el~tre as naccediloeq cOntinuou a ser () 1l()lor (11 c 1 ~

pansao europela no extenor Num aspecto a expediccedilatildeo La Concbmine toi unI sushy

cesso verdadeiro elhquanto relato As hist(iacuteriacutes L texlOS

ela provOcou circularam por toda a Europ~1 pm em circuitos escritoS e orais De fato o corpo de textos sultante daexpecliccedilagraveo La Condamine sugere hcm () alclllrl e a vadedade dos relatos de viagem produzidos el11 mea(b~ do seacutecuumllo )VIII relatos que por sua vez trouxcrl111 outrlS

as imaginaccedilotildees cios euro~)Ius [11ll

breve inventaacuterio dos relatos da expedi~agraveo 1lt1 Condanliacutem sugerir o que significa falar sohre

relatose zonas de contato neste momento da llistciacuteria O matemaacutetico13ouguer o primeiro a retornar escreV(u

seu relatoacuterio para a Academia Francesa de CiCnchls em ]7-H

num) Narrativa Abeviada de urna Viagenl (I() PCII Dl cio a ~oz do cientista predomina neste retllo eillLllLlrandnmiddot se o discurso em torno das

etc Entretanto quando sua viagem se voltl r1lr1 i)

narrativa cientiacutefica de Bouguer se c de sofrimentos e privaccedilocirces qUl lllS11l0

leitura se torna comovente No ponto em que a aeacutearllpa no topo da gelada cordilheira elos Andei IXlssaglI1 sobre frieiras hemorraacutegicas e escravos ameriacutendios ll1on(mlt 1

do frio se confundem com cio calor do corpo Sobre as minas Boushy

guer relaw apenas boatos observando que i]

natureza do paiacutes torna difiacutecil que outras detas sejmn enconshytradas e tambeacutem que os iacutendios satildeo saacutebios bastl1te parlI)

muito pre3tativos neste tipo de caso fossem bem-sucedidos estariam a quase insuportuumlvel exploraccedilatildeo de seu do porccedilatildeo iacutenfima dos rendimentos Bouguer tunl)em proshyduziu um livro teacutecnico sobre a expedicatildeo

cla (YI lu ~(JU ( I 1111Pierre Bouguer - Ali Iinkerton ojJ Cil vol i

n

---_~

e sentimento 1750-1800

FigA A expediccedilatildeo La Condamine fazendq mensuraccedilotildees Extraiacutedo de Mesure des rois premiers degres du Meacuteridien dans IHeacutemispbere Austral (Mensuraccedilagraveo dos Primeiros Trecircs Graus do Meridiano no liemifteacuterio Austral) de Charles de la Condamine Paris lmprimerie Roya 1751

La Condamine tambeacutem pllblicOll seu relatoacuterio para a Academia Francesa sob o tiacutetulo Breve Narrativa das Viagens atraveacutes do Interior na Ameacuterica Co Sul (745) o qual foi muishyto lido e amplamente traduzido Talvez porque Bourguer jaacute tivesse falado d2 palte andlna da missatildeo o relato de La Conshydamine se volta principalmeme para sua extraordinaacuteria viashygem de volta descendo o Amazonas e suas tentativas de re- gistrar seu curso e afluentes O texto eacute escrito essencialmenshyte natildeo como um relatoacuterio cientiacutefico mas no gecircnero popular da literatura de sobrevivecircncia Ao lado das navegaccedilotildees os doIs grandes temas da literatura da sobrevivecircncia satildeo os soshyfrimentos e perigos de um lado e as maravilhas exoacuteticas e as curiosidades de outro Na narrativa de La Condamine o drama das expediccedilotildees do seacuteculo XVI na regiatildeo Olellana Raleigh Aguirre - eacute recapitulado com todas as suas associashyccedilotildees miacuteticas Ao adentrar na selva La Condamine se encon tra nun novo mundo longe de tedo comeacutercio humano soshybre um mar de aacutegua fresca Laacute me encontrei com novas

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

plantas novos animais e novos homens) Ele ~T~ comomiddot jaacute haviam feito todos os seus precursores sobre a ]0shy

calizaccedilatildeo do El Dorado e a existecircncia das amazonas as I

quais ainda que bem possam ter existido muito provavelshyrnentetenham hoje em dia abandonado seus costu mes mevoslO A selva permanece sendo um mundo de fascinashyccedilatildeoe perigq1l

AcircindaqJe a Breve Narrativa de 1745 certanlente mais conhetida das obras de La CondarliI1t ele tamheacutem P(shyblicol copiosJmente em outrns gecircneros todo llcs basl~ld(

viagens americanas Sua Cal1a 1

em Cuacutecnca surgiu em 17tiacute6 seguida por uml flisl(i ria do Piracircmides deacute Quito (1751) e por um rtlltoacuterlo a

d~l Merstraccedilacirco dos Primeiros Trecircs GrelIs do J[(liduumlIIlO I di Pe o resto e sua vida ele se empenhou na

e em pblecircmkas sobre um leque de temas cientiacutefico relacioshynados atilde Ameacuterica incluindo os efeitos do

(amplamente utilizada por missiomiacuterino eSIX nhoacuteis)a existecircncia das Amazonas a geografia cio Orenoco ( do RiacuteoNegro Ele esCreveu sobre a borracha que arrcsentoll aos cientistas europeus o curare e seus antiacutedotos e a nelesmiddot siclade d~ pflclrocirces europeus comuns de mcnsuraccediluumlo Os csshyctitos cientiacuteficos especializados de La Conelmine dlO a mlshy(lida de quanto a ciecircncia veio articular os contatos curolxlI~ com a fronteira imperial e cio quanto foi articulada por tle~ o

Foram os dois esparhoacuteis JlI~1Jl l llloa elaboraram o uacutenico relato extensivo da por Ulloa a pedido do rei de lica do Sul veio a puacuteblico na Espanha em 1747 v sua tLI

feita por John Adams mereceu cinco cdi~ lt Ullqa 1 nem cieacuteleil 1ll11I litcrltu

de estaacute escrito num estil() que gosto (Iv

ciacutevica Virtualmente iSlnto de

La Condallinc ofJ Cil p24 Ir) IbiacutecL p51 11 Evidentltlllente ainda C A nwiacutes recente re-l11ccmiddotI1ICcedilmiddot tI Irlt amazoms eacute 11I1111Iacute1f lhe 1CZOII ele 1ltII1l tmiddot Ymk l111l

House J989

~I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

quer rodeio de entretenimento o livro eacute um enorme comshypecircndio de informaccedilotildees acerca de muitos da geoshygrafia colonial espanhoiacutea e da vida nas espanholas

- eacute claro minas -LV

maccedilotildees estrateacutegicas Eacute um trabalho estatiacutestico no sentido original do termo isto eacute uma investigaccedilatildeo sobre o estado de um paiacutes (Oxford English Dictionary) Adams louvou o tratado por sua confiabiHdade emj contraste com os pomshyposos narradores de curiosidades maravilhosas12 uma alushysatildeo agrave literacura de sobrevivecircncia e~gerd e provavelmente a ta Condamine em particular

]uan e Ulloa tambeacutem endereccedilaram a seu rei um seshygundo volume clandestino intitultdo Noticias secretas de Ameacuterica (Nntiacutecias secretas da Amlt1rica) que dissertava critishycamente sobre vaacuterios aspectos da colonial espanhoshyla e como um cOmentarista obselvou llmuito que natildeo foi dito nos trabalhos dos Natildeo foi senagraveo nos primeiros anos ltlo Impeacuterio Espanhol entrou em seu obra caiu las matildeos dos ingleses e

Junto ao cataacutelogo de textos da La Condashymine que foram publicados existe I um rol de escritos que natildeo J foram Est~ inclui por exempto o trabalho de ]osepb de ]ussieu () naturalista que permaneceu na Ameacuterica do Sul e continuou a exercer sua profissatildeo por outros vinte anos Quando ele afinal enlouqueceu e teve de ser reembarcado

de Quito para a Franccedila os que o enviaram ao que parece perderam de vista o bauacute que continha o trashy

de toda a sua vida de Apenas um estudo sobre os efeitos do quinino veio a ser publicado - sob o nome de La Condamine O restante dia em Quito

A mais apabonante e duradoura histoacuteria que adveio da expediccedilatildeo La Condamine foi um relato oral

-12 john~~~l~S shy Prefaacutecio a VOy(lge lo Sowh AII(ric(1 (747) em linkershyton op cit vo~ 14 p313 13 Von H~gn - op cit p300

f --~- ---_

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

apenas parcialmente Eacute lima histoacuteria de sobrevivecircncia heroacutei natildeo eacute um homem de ciecircncb eurupcu IJUS Llllla IlIUshy

lher euro-americana IsabeIa Godin des Odorais da aristoshyperuana que se casou com um membro da expe(lishy

com quem teve quatro filhos () (Sr~i Tia men t () do grupocientiacutefiacuteco seu G1arido rumou para Caiena onde passou dezoito anos tentando obter gem para a Franccedila para si mesmo e sua famiacutelia Apoacutes a tLIacuteshy

mor~e de seu quarto e uacuteltimo filho Mme Godin agoshyra jaacute c9m maIs de quarenta anos tomou uma ousada deci satildeo Acompanhada por um grupo que incluiacutea seus irmlos sobrinho e numerosos criados partiu para se juntar a seu

esposo atravessando os Andes e descendo o Amazonas pela mesma rota que fez de La Condamine um heroacutei O deshysastre se seguiu Consta que amedrontados pela variacuteoLi seus guias indiacutegenas desertaram e todos incluindo seus ilshy

sobrinho e criados morreram apoacutes definharem por dias na selva Mme Godin em deliacuterio grlclu~dshy

mente voltou sozinha ateacute o rio onde foi resgatada por illshyerm canoas que a levaram ateacute o

Com assim prossegue o il COSIltI

da Guiana para ser levada para a empre

devotado marido A romacircntica e arrepiante narrativa de Goclin

publicada em 1773 - natildeo por ela mas por Sl c-pOSO a pcshydico de La Conclamine que a anexou agraves ele Ul pria narrativa Mesmo hoje o ocorrido (gt profuJ1cbnCIlll

emocionante suas complexidades irresistiacuteveis elmo pareshycem frequumlentemente ser sempre que protlgonitas feminishynas aparecem na prosa sobre ltI coloniaL A histoacuteril

Mme Godin eacute uma reaoresentacatildeo cIl grande proem1 amaona - ou

a isto O amor a e l Cll tral1SfOflllltll11

a mulher crioula ele uma aristocrata bntllCl na (ombatIi

1 L Luiacute~ Goclin eles Odollnb Carla M la C()IlLlll1iacutellL anexada li Ahrh(red Nmnllili em Pinkerlon ul cil

51

1 )

e sentimento 1750-1800

mulher guecircrreira que os europeus haviam criado para simshybolizar para si mesmos a Ameacuteriql Ao mesmo tempo sua saga a destroacutei enquanto objeto sexual Mme Godin emerge Como uma versatildeo real da arruinada princesa Cuneacutegonde do Cacircndido Inversotildees simboacutelicas abundam na histoacuteria O coshymeacutercio de ouro por exemplo tem sua direccedilatildeo revertida A certa altura Mme Godin oferece duas de suas correntes de ouro para os iacutendios que salvaram a sua vida na selva invershytendo o paradigma da conquista Para sua fuacuteria os presenshyres foram imediatamente tomados pelo padre residente e substituiacutedos pela quintessecircncia da mercadoria colonial tecishydos Por tais deliciosas ironias natildeo admira que a amazona de Mme Godin tenha feito carreira e circulado por toda a Europa por mais de cinquumlenta anos A carta de vinte nas seu marido representa um traccedilo modesto de uma exuumltecircncia vital dentro da cultura oral

-uumltapete aleacutem da orla

Textos orais textos escritos text~s perdidos textos seshycretos apropriJdos abreviados traduzidos coligidos e giadosj cartas relatoacuterics histoacuterias de sobrevivecircncia descrishyccedilatildeo ciacutevica narrativa de navegaccedilatildeo monstros e maravilhas tratados medicinais polecircmicas acadecircmicas velhos mitos reencenados e invertidos - o corpus La Cond~~mine ilustra o muacuteltiplo perfil dos relatos de viagem nas fronteiras de exshypansatildeo da Europa em meados do seacuteculo XVIII A expediccedilatildeo mesma eacute de interesse neste contexto C0l110 uma instacircncia precursora e notoriamente malsucedida daquilo que logo se tornaria um dos mais ostentados e conspiacutecuos instrumentos europeus de expansatildeo a expediccedilatildeo cientiacutefica internacional Na segunda metade do seacuteculo XVIII a expediccedilatildeo cientiacutefica tornlr-se-ia um catalisador das energias e recursos de intrinshycadas alianccedilas das elites comerciais e intelectuais por toda a Europa Igualmente relevante eacute que a exploraccedilatildeo cientiacutefiacuteca haveria de se tornar um foco de inte-nso interesse ouacuteblico e

---~_ ~~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores ---~-----~~

~~Jwnt-IAfftu rnmiddotpmiddot~JIiltT~) urmiddot k

Fig5 fenocircmenos naturais da Ameacuterica elo Sul tais COlllO vi[os peb l-

La Condamine Embaixo 11 () nJilro de neve e em o canto haiacute-(J 1 dirciu 1l[lWCImiddotmiddot11

o renomeno do arco da obre middotI1l(lII~ dts 11l )1111

nhas acima 2t direitl ilUotrase o fenocircmeno do IIICO-ir Iriplo aacuteI( primeira vez em Pambamarca e JosteriOrJ11lllll CllI middotmiddotlli

montanhas EXlrliacutedo (eacioacutell biie)lica derioi fi lo llIlcnlaquo(I ridiacuteonat deJorge Juan e Amonio de Ulolt Madri nloni 111111 1- li

fonte de alguns dos mais poderosos aparal()~ KI(()I()gll()~ l

de idealizaccedilatildeo por meio dos quais os cicladlrus el1f()pell~ relacionaram com outras paltes do mundo Estes l

palticularmente os relatos de viagem sagraveo o lema 11 ser tral

lhado em Para os propoacutesitos deste estudo a expediccedil~o La COllshy

damine tambeacutem possui um significado pois foi dos primeiros exemplos uma nova tendecircnci~l lO que refere agrave e agrave documentaccedilatildeo dos interiores conlishy

em contrtste com o paradigma mariacutetimo que ocupado o centro do oalco por trezentos anos No uacuteltimus

-) ))

~ ~ ~

~

novo

sobre mais

dade

cidas suas

1

ciecircncia consci~ncia planeUiacuteria interiorps ciecircncia e sentimento 1750-1800 -__----_------ -~--

ccedilas na concepccediluumlo CJue tem a Europa ele si Il1lSIll1 c (1( ~IIanos do seacuteculo XVIII a exploraccedilatildeo do interior havia se transe globais Natildeo obstante seus calamitosos formado no objeto principal das energias e imaginaccedilatildep ex~

expediccedil1lo aparece como precursora Enquanto relatopan8ionisas Esta mudanccedila teve con~quumlecircncias significativas exerriplifica ltonfiguraccedilotildees de relatos ele viagem que 111para os relatos de viagem exigindomiddotc dando vazatildeo a novas 11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus noshy

vos modelos para os contatos eurom~ls aleacutem-fronteiras e noc impuls~) seriam radicalmente reorganizados (O

vas formas de codificaccedilatildeo das ambiccedilotildees imperiais europeacuteias seguinte examinmaacuteestas transformaccedilotildees nos cclatos de viashy

Em o espilo francecircs Freacutezier c~n$iderava impossiacutevel a gem na Aacutefrica Meridional) Na segunda metade do seacuteculo exploraccedilatildeo interior do Peru dado Rl1e os viajantes devem XVIII muitos viajantes-escritores vatildec se dissociar de trJclishycarregar ateacute mesmo suas proacuteprias qUlfas a menos que accedileishy tais como a da literatura de sobrevivecircnriacute

tem deItar-se no fhatildeo como os natiyos sobre peles de ovemiddotmiddot ciacutevica OU narrativa de navegaccedilatildeo pois se lha tendo o ceacuteu por teto15 Para o prefaciador inglecircs do reshy projeto de construccedilatildeo de conhecimento da histoacuteria

segul1shylato de Ulloa trinta anos mais tarde a exploraccedilatildeo do interior A emergecircncia de3te deeacute um passo ~ ser forccedilosamente dado IQue ideacuteia poderiacuteamos do evento de ] que prometi discutir a

ter de um tapete turco pergunta se observarmos apenas as Sistema da Natureza de Lineu berras ou suaorla16 Ao redor de 1792 o viajante francecircs Saugnier viu isto como uma questatildeo de justiccedila glolxl o inteshyrior tanto quanto a costa da Aacutefrica merece a honra da visishy o sistema taccedilatildec europeacuteia17 Em 1822 Alexagravender Humboldt nacirco haveraacute de ser pela navegaccedilatildeo costeira que poderemos descobrir a direccedilatildeo das cordilheiras e sua constituiccedilatildeo geoloacuteshy a expeOlccedilao La Condamine lt-SlIV1 cruzam ) gica O clima de cada regiatildeo e sua influecircncia sobre as formas o Atlan~lCO em nome da ciecircncia um naturalist succo de inshye haacutebitos dos seres organizados Para seu tradutor inglecircs a te e oito anos levava ao prelo a sua primeirl grande contrishyquestatildeo era de ordem esteacutetica Em geral as expediccedilotildees mashy ao O laturalista se chamava Cad LinnG ou lIll riacutetimas tecircm uma certa monotonia que vem da necessidade Linnaeus e o livro tinha por tiacutetulo ~vslCn1( VIlil(( (()

se falar continuamente da navegaccedilatildeo numa linguagem teacutecnishy Sistema da Natureza) Encontrava-se aiacute uma criaccedil~lO cxtrI()[ ca A histoacuteria das jornadas por terra em regiotildees distantes eacute -dinaacuteria que teria profundo e duradouro il11plCto 1110 ltlpena~00

muito mais apropriada para incitar ( interesse geralR a~ e os rehltos de viagem mas n1 maneirl Como portanto a expediccedilatildeo La Condamine dos cidadatildeos europeus construiacuterl11l l lomprcllI

de uma era de viagens cientiacuteficas e derem seu lugar no planeta Para um leitor COnrCI11p(Jr1nc() interior que por seu turno sugere mudan- () Sistema da Natureza parece um fcito modcsto v nl Vll

um tanto quanto escranho Era um sitema ccscritIacutemiddot) designado panl classificar rodas as plantas d1 TerrI conlllshy

15 Freacuteziacuteer np cit plO e desconhecidas de acordo com as Clr1Cl1 iacutestics ( 16 dams 01 cit p314

17 Messrs eacute Blisson - Vovages to the Coas ofAfrica (1792) Ne- reprooutivasll Vinte e CJllatro (c 111lis ll(c 111 gro U P 1969 eacute traduccedilatildeo em inglecircs do original francecircs de 1792 Reshylation de plusiers voyages agrave la cocircte d Agraverlque 18 Alexander von Humboldt Persortal Narratiue of Cf Voyage to lhe

19 A discuss~io de Lineu e d biacutestoacuteria naturalEquinoctiacuteal Regiom traduccedilatildeo para o inglecircs de Helen Maria Williams das seguintes fontes Heins Goerke Ceci) - Lill1a(iI

London Longman et alU 1822 voI I pviiacute

ir) ------V~

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

---

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ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

ii

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1 j ~ j

J Ij I1

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Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

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ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

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Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 5: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentimento 1750-1800

lt1 de Quito completamente louco O jovem teacutecnico Godin des Odonnais alcanccedilou Caiena onde esperou dezoito anos por sua esposa peruana (voltaremps agrave trdjetoacuteria desta mulher mas adiante) retomando finalmente para a Franccedila em Dos outros nada mais se ouviu

A cooperaccedilatildeo da Espanha com a expediccedilatildeo La Condashymine constitui evidecircncia flagrante do ipoder da ciecircncia para elevar os europeus acima de suas mais intensas rivalidades nacionais O proacuteprio La Condamine celebrou este impulso continental no prefaacutecio a seu relato da viagem no qual conshygratulou Luiacutes XV por apoir a Coop~racircCcedilatildeo cientiacutefica entre as naccedilotildees consorciadas mesmo quando simultaneamente em guerra contra elas Enquanto os exeacutercitos de Sua Majestade moviam-se de um confim a outro da Europa afirmOl~ La Condamine seus matemaacuteticos disp~rsos por toda a Terra trabalhavam em Zonas Toacuterridas e Friacutegijlas para o avltmccedilo das ciecircncias e o benefiacutecio comum de todas as naccedilotildees Todavia natildeo se pode deixar de notar aqui o cpnspiacutecuo tom nacionashylista de La Condamine o cientista francecircs orgulhosamente congratula seu proacuteprio rei por seu cosmopolitismo esclarecishydo Num espiacuteritoigualmentc duacutebio tanto a Real Sociedade Britacircnica quanto a Academia Francesa de Ciecircncias galardoashyram os espanhoacuteis Juan e DUoa com o tiacutetulo de membros hoshynoraacuterios - gestos transnacionais indissociaacuteveis da intensa ri validade nacional entre a Gratilde-Bretanha e a Franccedila e seus inshyteresses conflitantes na Ameacuterica espanhola Tais gestos resumem o jogo ambiacuteguo de aspiraccedilotildees nacionais e contishynentais que havia sido uma constante ao longo da expansatildeo europeacuteia e que haveria de permanecer assim durante a era da ciecircncia Por um lado as ideologias dominantes traccedilavam uma dara distinccedilatildeo entre a (interessada) busca de riqueza e a (desinteressada) procura de conhecimento por outro lado

~~~e de la Condamine - A Succint Abridgiment ()f a made withiacuten the Inland Parts of Suuth-America Lonclon E 1748 piv Esta eacute a primeira traduccedilatildeo em Inglecircs de seu Relatiun abreacutegieacute dun voyage fait dans liacutenteacuterieur de lA meacuterique meridionale (1745) (ecl~j bras Ralato abreviado de uma viagem pelo interior da Ameacuterica meridioshynal Satildeo Paulo Cultura 1944J

1

i

ciacuteecircnciacutea consciecircncia planetaacuteria interiores

-

partes Ido mundo para

pode ajudar a

VlILI-R

interior a urna histoacuteria

peb cas sobre a

natildeo serem

i 1

re la terre

I

a compeuccedilao el~tre as naccediloeq cOntinuou a ser () 1l()lor (11 c 1 ~

pansao europela no extenor Num aspecto a expediccedilatildeo La Concbmine toi unI sushy

cesso verdadeiro elhquanto relato As hist(iacuteriacutes L texlOS

ela provOcou circularam por toda a Europ~1 pm em circuitos escritoS e orais De fato o corpo de textos sultante daexpecliccedilagraveo La Condamine sugere hcm () alclllrl e a vadedade dos relatos de viagem produzidos el11 mea(b~ do seacutecuumllo )VIII relatos que por sua vez trouxcrl111 outrlS

as imaginaccedilotildees cios euro~)Ius [11ll

breve inventaacuterio dos relatos da expedi~agraveo 1lt1 Condanliacutem sugerir o que significa falar sohre

relatose zonas de contato neste momento da llistciacuteria O matemaacutetico13ouguer o primeiro a retornar escreV(u

seu relatoacuterio para a Academia Francesa de CiCnchls em ]7-H

num) Narrativa Abeviada de urna Viagenl (I() PCII Dl cio a ~oz do cientista predomina neste retllo eillLllLlrandnmiddot se o discurso em torno das

etc Entretanto quando sua viagem se voltl r1lr1 i)

narrativa cientiacutefica de Bouguer se c de sofrimentos e privaccedilocirces qUl lllS11l0

leitura se torna comovente No ponto em que a aeacutearllpa no topo da gelada cordilheira elos Andei IXlssaglI1 sobre frieiras hemorraacutegicas e escravos ameriacutendios ll1on(mlt 1

do frio se confundem com cio calor do corpo Sobre as minas Boushy

guer relaw apenas boatos observando que i]

natureza do paiacutes torna difiacutecil que outras detas sejmn enconshytradas e tambeacutem que os iacutendios satildeo saacutebios bastl1te parlI)

muito pre3tativos neste tipo de caso fossem bem-sucedidos estariam a quase insuportuumlvel exploraccedilatildeo de seu do porccedilatildeo iacutenfima dos rendimentos Bouguer tunl)em proshyduziu um livro teacutecnico sobre a expedicatildeo

cla (YI lu ~(JU ( I 1111Pierre Bouguer - Ali Iinkerton ojJ Cil vol i

n

---_~

e sentimento 1750-1800

FigA A expediccedilatildeo La Condamine fazendq mensuraccedilotildees Extraiacutedo de Mesure des rois premiers degres du Meacuteridien dans IHeacutemispbere Austral (Mensuraccedilagraveo dos Primeiros Trecircs Graus do Meridiano no liemifteacuterio Austral) de Charles de la Condamine Paris lmprimerie Roya 1751

La Condamine tambeacutem pllblicOll seu relatoacuterio para a Academia Francesa sob o tiacutetulo Breve Narrativa das Viagens atraveacutes do Interior na Ameacuterica Co Sul (745) o qual foi muishyto lido e amplamente traduzido Talvez porque Bourguer jaacute tivesse falado d2 palte andlna da missatildeo o relato de La Conshydamine se volta principalmeme para sua extraordinaacuteria viashygem de volta descendo o Amazonas e suas tentativas de re- gistrar seu curso e afluentes O texto eacute escrito essencialmenshyte natildeo como um relatoacuterio cientiacutefico mas no gecircnero popular da literatura de sobrevivecircncia Ao lado das navegaccedilotildees os doIs grandes temas da literatura da sobrevivecircncia satildeo os soshyfrimentos e perigos de um lado e as maravilhas exoacuteticas e as curiosidades de outro Na narrativa de La Condamine o drama das expediccedilotildees do seacuteculo XVI na regiatildeo Olellana Raleigh Aguirre - eacute recapitulado com todas as suas associashyccedilotildees miacuteticas Ao adentrar na selva La Condamine se encon tra nun novo mundo longe de tedo comeacutercio humano soshybre um mar de aacutegua fresca Laacute me encontrei com novas

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

plantas novos animais e novos homens) Ele ~T~ comomiddot jaacute haviam feito todos os seus precursores sobre a ]0shy

calizaccedilatildeo do El Dorado e a existecircncia das amazonas as I

quais ainda que bem possam ter existido muito provavelshyrnentetenham hoje em dia abandonado seus costu mes mevoslO A selva permanece sendo um mundo de fascinashyccedilatildeoe perigq1l

AcircindaqJe a Breve Narrativa de 1745 certanlente mais conhetida das obras de La CondarliI1t ele tamheacutem P(shyblicol copiosJmente em outrns gecircneros todo llcs basl~ld(

viagens americanas Sua Cal1a 1

em Cuacutecnca surgiu em 17tiacute6 seguida por uml flisl(i ria do Piracircmides deacute Quito (1751) e por um rtlltoacuterlo a

d~l Merstraccedilacirco dos Primeiros Trecircs GrelIs do J[(liduumlIIlO I di Pe o resto e sua vida ele se empenhou na

e em pblecircmkas sobre um leque de temas cientiacutefico relacioshynados atilde Ameacuterica incluindo os efeitos do

(amplamente utilizada por missiomiacuterino eSIX nhoacuteis)a existecircncia das Amazonas a geografia cio Orenoco ( do RiacuteoNegro Ele esCreveu sobre a borracha que arrcsentoll aos cientistas europeus o curare e seus antiacutedotos e a nelesmiddot siclade d~ pflclrocirces europeus comuns de mcnsuraccediluumlo Os csshyctitos cientiacuteficos especializados de La Conelmine dlO a mlshy(lida de quanto a ciecircncia veio articular os contatos curolxlI~ com a fronteira imperial e cio quanto foi articulada por tle~ o

Foram os dois esparhoacuteis JlI~1Jl l llloa elaboraram o uacutenico relato extensivo da por Ulloa a pedido do rei de lica do Sul veio a puacuteblico na Espanha em 1747 v sua tLI

feita por John Adams mereceu cinco cdi~ lt Ullqa 1 nem cieacuteleil 1ll11I litcrltu

de estaacute escrito num estil() que gosto (Iv

ciacutevica Virtualmente iSlnto de

La Condallinc ofJ Cil p24 Ir) IbiacutecL p51 11 Evidentltlllente ainda C A nwiacutes recente re-l11ccmiddotI1ICcedilmiddot tI Irlt amazoms eacute 11I1111Iacute1f lhe 1CZOII ele 1ltII1l tmiddot Ymk l111l

House J989

~I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

quer rodeio de entretenimento o livro eacute um enorme comshypecircndio de informaccedilotildees acerca de muitos da geoshygrafia colonial espanhoiacutea e da vida nas espanholas

- eacute claro minas -LV

maccedilotildees estrateacutegicas Eacute um trabalho estatiacutestico no sentido original do termo isto eacute uma investigaccedilatildeo sobre o estado de um paiacutes (Oxford English Dictionary) Adams louvou o tratado por sua confiabiHdade emj contraste com os pomshyposos narradores de curiosidades maravilhosas12 uma alushysatildeo agrave literacura de sobrevivecircncia e~gerd e provavelmente a ta Condamine em particular

]uan e Ulloa tambeacutem endereccedilaram a seu rei um seshygundo volume clandestino intitultdo Noticias secretas de Ameacuterica (Nntiacutecias secretas da Amlt1rica) que dissertava critishycamente sobre vaacuterios aspectos da colonial espanhoshyla e como um cOmentarista obselvou llmuito que natildeo foi dito nos trabalhos dos Natildeo foi senagraveo nos primeiros anos ltlo Impeacuterio Espanhol entrou em seu obra caiu las matildeos dos ingleses e

Junto ao cataacutelogo de textos da La Condashymine que foram publicados existe I um rol de escritos que natildeo J foram Est~ inclui por exempto o trabalho de ]osepb de ]ussieu () naturalista que permaneceu na Ameacuterica do Sul e continuou a exercer sua profissatildeo por outros vinte anos Quando ele afinal enlouqueceu e teve de ser reembarcado

de Quito para a Franccedila os que o enviaram ao que parece perderam de vista o bauacute que continha o trashy

de toda a sua vida de Apenas um estudo sobre os efeitos do quinino veio a ser publicado - sob o nome de La Condamine O restante dia em Quito

A mais apabonante e duradoura histoacuteria que adveio da expediccedilatildeo La Condamine foi um relato oral

-12 john~~~l~S shy Prefaacutecio a VOy(lge lo Sowh AII(ric(1 (747) em linkershyton op cit vo~ 14 p313 13 Von H~gn - op cit p300

f --~- ---_

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

apenas parcialmente Eacute lima histoacuteria de sobrevivecircncia heroacutei natildeo eacute um homem de ciecircncb eurupcu IJUS Llllla IlIUshy

lher euro-americana IsabeIa Godin des Odorais da aristoshyperuana que se casou com um membro da expe(lishy

com quem teve quatro filhos () (Sr~i Tia men t () do grupocientiacutefiacuteco seu G1arido rumou para Caiena onde passou dezoito anos tentando obter gem para a Franccedila para si mesmo e sua famiacutelia Apoacutes a tLIacuteshy

mor~e de seu quarto e uacuteltimo filho Mme Godin agoshyra jaacute c9m maIs de quarenta anos tomou uma ousada deci satildeo Acompanhada por um grupo que incluiacutea seus irmlos sobrinho e numerosos criados partiu para se juntar a seu

esposo atravessando os Andes e descendo o Amazonas pela mesma rota que fez de La Condamine um heroacutei O deshysastre se seguiu Consta que amedrontados pela variacuteoLi seus guias indiacutegenas desertaram e todos incluindo seus ilshy

sobrinho e criados morreram apoacutes definharem por dias na selva Mme Godin em deliacuterio grlclu~dshy

mente voltou sozinha ateacute o rio onde foi resgatada por illshyerm canoas que a levaram ateacute o

Com assim prossegue o il COSIltI

da Guiana para ser levada para a empre

devotado marido A romacircntica e arrepiante narrativa de Goclin

publicada em 1773 - natildeo por ela mas por Sl c-pOSO a pcshydico de La Conclamine que a anexou agraves ele Ul pria narrativa Mesmo hoje o ocorrido (gt profuJ1cbnCIlll

emocionante suas complexidades irresistiacuteveis elmo pareshycem frequumlentemente ser sempre que protlgonitas feminishynas aparecem na prosa sobre ltI coloniaL A histoacuteril

Mme Godin eacute uma reaoresentacatildeo cIl grande proem1 amaona - ou

a isto O amor a e l Cll tral1SfOflllltll11

a mulher crioula ele uma aristocrata bntllCl na (ombatIi

1 L Luiacute~ Goclin eles Odollnb Carla M la C()IlLlll1iacutellL anexada li Ahrh(red Nmnllili em Pinkerlon ul cil

51

1 )

e sentimento 1750-1800

mulher guecircrreira que os europeus haviam criado para simshybolizar para si mesmos a Ameacuteriql Ao mesmo tempo sua saga a destroacutei enquanto objeto sexual Mme Godin emerge Como uma versatildeo real da arruinada princesa Cuneacutegonde do Cacircndido Inversotildees simboacutelicas abundam na histoacuteria O coshymeacutercio de ouro por exemplo tem sua direccedilatildeo revertida A certa altura Mme Godin oferece duas de suas correntes de ouro para os iacutendios que salvaram a sua vida na selva invershytendo o paradigma da conquista Para sua fuacuteria os presenshyres foram imediatamente tomados pelo padre residente e substituiacutedos pela quintessecircncia da mercadoria colonial tecishydos Por tais deliciosas ironias natildeo admira que a amazona de Mme Godin tenha feito carreira e circulado por toda a Europa por mais de cinquumlenta anos A carta de vinte nas seu marido representa um traccedilo modesto de uma exuumltecircncia vital dentro da cultura oral

-uumltapete aleacutem da orla

Textos orais textos escritos text~s perdidos textos seshycretos apropriJdos abreviados traduzidos coligidos e giadosj cartas relatoacuterics histoacuterias de sobrevivecircncia descrishyccedilatildeo ciacutevica narrativa de navegaccedilatildeo monstros e maravilhas tratados medicinais polecircmicas acadecircmicas velhos mitos reencenados e invertidos - o corpus La Cond~~mine ilustra o muacuteltiplo perfil dos relatos de viagem nas fronteiras de exshypansatildeo da Europa em meados do seacuteculo XVIII A expediccedilatildeo mesma eacute de interesse neste contexto C0l110 uma instacircncia precursora e notoriamente malsucedida daquilo que logo se tornaria um dos mais ostentados e conspiacutecuos instrumentos europeus de expansatildeo a expediccedilatildeo cientiacutefica internacional Na segunda metade do seacuteculo XVIII a expediccedilatildeo cientiacutefica tornlr-se-ia um catalisador das energias e recursos de intrinshycadas alianccedilas das elites comerciais e intelectuais por toda a Europa Igualmente relevante eacute que a exploraccedilatildeo cientiacutefiacuteca haveria de se tornar um foco de inte-nso interesse ouacuteblico e

---~_ ~~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores ---~-----~~

~~Jwnt-IAfftu rnmiddotpmiddot~JIiltT~) urmiddot k

Fig5 fenocircmenos naturais da Ameacuterica elo Sul tais COlllO vi[os peb l-

La Condamine Embaixo 11 () nJilro de neve e em o canto haiacute-(J 1 dirciu 1l[lWCImiddotmiddot11

o renomeno do arco da obre middotI1l(lII~ dts 11l )1111

nhas acima 2t direitl ilUotrase o fenocircmeno do IIICO-ir Iriplo aacuteI( primeira vez em Pambamarca e JosteriOrJ11lllll CllI middotmiddotlli

montanhas EXlrliacutedo (eacioacutell biie)lica derioi fi lo llIlcnlaquo(I ridiacuteonat deJorge Juan e Amonio de Ulolt Madri nloni 111111 1- li

fonte de alguns dos mais poderosos aparal()~ KI(()I()gll()~ l

de idealizaccedilatildeo por meio dos quais os cicladlrus el1f()pell~ relacionaram com outras paltes do mundo Estes l

palticularmente os relatos de viagem sagraveo o lema 11 ser tral

lhado em Para os propoacutesitos deste estudo a expediccedil~o La COllshy

damine tambeacutem possui um significado pois foi dos primeiros exemplos uma nova tendecircnci~l lO que refere agrave e agrave documentaccedilatildeo dos interiores conlishy

em contrtste com o paradigma mariacutetimo que ocupado o centro do oalco por trezentos anos No uacuteltimus

-) ))

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novo

sobre mais

dade

cidas suas

1

ciecircncia consci~ncia planeUiacuteria interiorps ciecircncia e sentimento 1750-1800 -__----_------ -~--

ccedilas na concepccediluumlo CJue tem a Europa ele si Il1lSIll1 c (1( ~IIanos do seacuteculo XVIII a exploraccedilatildeo do interior havia se transe globais Natildeo obstante seus calamitosos formado no objeto principal das energias e imaginaccedilatildep ex~

expediccedil1lo aparece como precursora Enquanto relatopan8ionisas Esta mudanccedila teve con~quumlecircncias significativas exerriplifica ltonfiguraccedilotildees de relatos ele viagem que 111para os relatos de viagem exigindomiddotc dando vazatildeo a novas 11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus noshy

vos modelos para os contatos eurom~ls aleacutem-fronteiras e noc impuls~) seriam radicalmente reorganizados (O

vas formas de codificaccedilatildeo das ambiccedilotildees imperiais europeacuteias seguinte examinmaacuteestas transformaccedilotildees nos cclatos de viashy

Em o espilo francecircs Freacutezier c~n$iderava impossiacutevel a gem na Aacutefrica Meridional) Na segunda metade do seacuteculo exploraccedilatildeo interior do Peru dado Rl1e os viajantes devem XVIII muitos viajantes-escritores vatildec se dissociar de trJclishycarregar ateacute mesmo suas proacuteprias qUlfas a menos que accedileishy tais como a da literatura de sobrevivecircnriacute

tem deItar-se no fhatildeo como os natiyos sobre peles de ovemiddotmiddot ciacutevica OU narrativa de navegaccedilatildeo pois se lha tendo o ceacuteu por teto15 Para o prefaciador inglecircs do reshy projeto de construccedilatildeo de conhecimento da histoacuteria

segul1shylato de Ulloa trinta anos mais tarde a exploraccedilatildeo do interior A emergecircncia de3te deeacute um passo ~ ser forccedilosamente dado IQue ideacuteia poderiacuteamos do evento de ] que prometi discutir a

ter de um tapete turco pergunta se observarmos apenas as Sistema da Natureza de Lineu berras ou suaorla16 Ao redor de 1792 o viajante francecircs Saugnier viu isto como uma questatildeo de justiccedila glolxl o inteshyrior tanto quanto a costa da Aacutefrica merece a honra da visishy o sistema taccedilatildec europeacuteia17 Em 1822 Alexagravender Humboldt nacirco haveraacute de ser pela navegaccedilatildeo costeira que poderemos descobrir a direccedilatildeo das cordilheiras e sua constituiccedilatildeo geoloacuteshy a expeOlccedilao La Condamine lt-SlIV1 cruzam ) gica O clima de cada regiatildeo e sua influecircncia sobre as formas o Atlan~lCO em nome da ciecircncia um naturalist succo de inshye haacutebitos dos seres organizados Para seu tradutor inglecircs a te e oito anos levava ao prelo a sua primeirl grande contrishyquestatildeo era de ordem esteacutetica Em geral as expediccedilotildees mashy ao O laturalista se chamava Cad LinnG ou lIll riacutetimas tecircm uma certa monotonia que vem da necessidade Linnaeus e o livro tinha por tiacutetulo ~vslCn1( VIlil(( (()

se falar continuamente da navegaccedilatildeo numa linguagem teacutecnishy Sistema da Natureza) Encontrava-se aiacute uma criaccedil~lO cxtrI()[ ca A histoacuteria das jornadas por terra em regiotildees distantes eacute -dinaacuteria que teria profundo e duradouro il11plCto 1110 ltlpena~00

muito mais apropriada para incitar ( interesse geralR a~ e os rehltos de viagem mas n1 maneirl Como portanto a expediccedilatildeo La Condamine dos cidadatildeos europeus construiacuterl11l l lomprcllI

de uma era de viagens cientiacuteficas e derem seu lugar no planeta Para um leitor COnrCI11p(Jr1nc() interior que por seu turno sugere mudan- () Sistema da Natureza parece um fcito modcsto v nl Vll

um tanto quanto escranho Era um sitema ccscritIacutemiddot) designado panl classificar rodas as plantas d1 TerrI conlllshy

15 Freacuteziacuteer np cit plO e desconhecidas de acordo com as Clr1Cl1 iacutestics ( 16 dams 01 cit p314

17 Messrs eacute Blisson - Vovages to the Coas ofAfrica (1792) Ne- reprooutivasll Vinte e CJllatro (c 111lis ll(c 111 gro U P 1969 eacute traduccedilatildeo em inglecircs do original francecircs de 1792 Reshylation de plusiers voyages agrave la cocircte d Agraverlque 18 Alexander von Humboldt Persortal Narratiue of Cf Voyage to lhe

19 A discuss~io de Lineu e d biacutestoacuteria naturalEquinoctiacuteal Regiom traduccedilatildeo para o inglecircs de Helen Maria Williams das seguintes fontes Heins Goerke Ceci) - Lill1a(iI

London Longman et alU 1822 voI I pviiacute

ir) ------V~

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

---

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ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

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1 j ~ j

J Ij I1

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Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

r I

--------------t~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 6: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

---_~

e sentimento 1750-1800

FigA A expediccedilatildeo La Condamine fazendq mensuraccedilotildees Extraiacutedo de Mesure des rois premiers degres du Meacuteridien dans IHeacutemispbere Austral (Mensuraccedilagraveo dos Primeiros Trecircs Graus do Meridiano no liemifteacuterio Austral) de Charles de la Condamine Paris lmprimerie Roya 1751

La Condamine tambeacutem pllblicOll seu relatoacuterio para a Academia Francesa sob o tiacutetulo Breve Narrativa das Viagens atraveacutes do Interior na Ameacuterica Co Sul (745) o qual foi muishyto lido e amplamente traduzido Talvez porque Bourguer jaacute tivesse falado d2 palte andlna da missatildeo o relato de La Conshydamine se volta principalmeme para sua extraordinaacuteria viashygem de volta descendo o Amazonas e suas tentativas de re- gistrar seu curso e afluentes O texto eacute escrito essencialmenshyte natildeo como um relatoacuterio cientiacutefico mas no gecircnero popular da literatura de sobrevivecircncia Ao lado das navegaccedilotildees os doIs grandes temas da literatura da sobrevivecircncia satildeo os soshyfrimentos e perigos de um lado e as maravilhas exoacuteticas e as curiosidades de outro Na narrativa de La Condamine o drama das expediccedilotildees do seacuteculo XVI na regiatildeo Olellana Raleigh Aguirre - eacute recapitulado com todas as suas associashyccedilotildees miacuteticas Ao adentrar na selva La Condamine se encon tra nun novo mundo longe de tedo comeacutercio humano soshybre um mar de aacutegua fresca Laacute me encontrei com novas

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

plantas novos animais e novos homens) Ele ~T~ comomiddot jaacute haviam feito todos os seus precursores sobre a ]0shy

calizaccedilatildeo do El Dorado e a existecircncia das amazonas as I

quais ainda que bem possam ter existido muito provavelshyrnentetenham hoje em dia abandonado seus costu mes mevoslO A selva permanece sendo um mundo de fascinashyccedilatildeoe perigq1l

AcircindaqJe a Breve Narrativa de 1745 certanlente mais conhetida das obras de La CondarliI1t ele tamheacutem P(shyblicol copiosJmente em outrns gecircneros todo llcs basl~ld(

viagens americanas Sua Cal1a 1

em Cuacutecnca surgiu em 17tiacute6 seguida por uml flisl(i ria do Piracircmides deacute Quito (1751) e por um rtlltoacuterlo a

d~l Merstraccedilacirco dos Primeiros Trecircs GrelIs do J[(liduumlIIlO I di Pe o resto e sua vida ele se empenhou na

e em pblecircmkas sobre um leque de temas cientiacutefico relacioshynados atilde Ameacuterica incluindo os efeitos do

(amplamente utilizada por missiomiacuterino eSIX nhoacuteis)a existecircncia das Amazonas a geografia cio Orenoco ( do RiacuteoNegro Ele esCreveu sobre a borracha que arrcsentoll aos cientistas europeus o curare e seus antiacutedotos e a nelesmiddot siclade d~ pflclrocirces europeus comuns de mcnsuraccediluumlo Os csshyctitos cientiacuteficos especializados de La Conelmine dlO a mlshy(lida de quanto a ciecircncia veio articular os contatos curolxlI~ com a fronteira imperial e cio quanto foi articulada por tle~ o

Foram os dois esparhoacuteis JlI~1Jl l llloa elaboraram o uacutenico relato extensivo da por Ulloa a pedido do rei de lica do Sul veio a puacuteblico na Espanha em 1747 v sua tLI

feita por John Adams mereceu cinco cdi~ lt Ullqa 1 nem cieacuteleil 1ll11I litcrltu

de estaacute escrito num estil() que gosto (Iv

ciacutevica Virtualmente iSlnto de

La Condallinc ofJ Cil p24 Ir) IbiacutecL p51 11 Evidentltlllente ainda C A nwiacutes recente re-l11ccmiddotI1ICcedilmiddot tI Irlt amazoms eacute 11I1111Iacute1f lhe 1CZOII ele 1ltII1l tmiddot Ymk l111l

House J989

~I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

quer rodeio de entretenimento o livro eacute um enorme comshypecircndio de informaccedilotildees acerca de muitos da geoshygrafia colonial espanhoiacutea e da vida nas espanholas

- eacute claro minas -LV

maccedilotildees estrateacutegicas Eacute um trabalho estatiacutestico no sentido original do termo isto eacute uma investigaccedilatildeo sobre o estado de um paiacutes (Oxford English Dictionary) Adams louvou o tratado por sua confiabiHdade emj contraste com os pomshyposos narradores de curiosidades maravilhosas12 uma alushysatildeo agrave literacura de sobrevivecircncia e~gerd e provavelmente a ta Condamine em particular

]uan e Ulloa tambeacutem endereccedilaram a seu rei um seshygundo volume clandestino intitultdo Noticias secretas de Ameacuterica (Nntiacutecias secretas da Amlt1rica) que dissertava critishycamente sobre vaacuterios aspectos da colonial espanhoshyla e como um cOmentarista obselvou llmuito que natildeo foi dito nos trabalhos dos Natildeo foi senagraveo nos primeiros anos ltlo Impeacuterio Espanhol entrou em seu obra caiu las matildeos dos ingleses e

Junto ao cataacutelogo de textos da La Condashymine que foram publicados existe I um rol de escritos que natildeo J foram Est~ inclui por exempto o trabalho de ]osepb de ]ussieu () naturalista que permaneceu na Ameacuterica do Sul e continuou a exercer sua profissatildeo por outros vinte anos Quando ele afinal enlouqueceu e teve de ser reembarcado

de Quito para a Franccedila os que o enviaram ao que parece perderam de vista o bauacute que continha o trashy

de toda a sua vida de Apenas um estudo sobre os efeitos do quinino veio a ser publicado - sob o nome de La Condamine O restante dia em Quito

A mais apabonante e duradoura histoacuteria que adveio da expediccedilatildeo La Condamine foi um relato oral

-12 john~~~l~S shy Prefaacutecio a VOy(lge lo Sowh AII(ric(1 (747) em linkershyton op cit vo~ 14 p313 13 Von H~gn - op cit p300

f --~- ---_

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

apenas parcialmente Eacute lima histoacuteria de sobrevivecircncia heroacutei natildeo eacute um homem de ciecircncb eurupcu IJUS Llllla IlIUshy

lher euro-americana IsabeIa Godin des Odorais da aristoshyperuana que se casou com um membro da expe(lishy

com quem teve quatro filhos () (Sr~i Tia men t () do grupocientiacutefiacuteco seu G1arido rumou para Caiena onde passou dezoito anos tentando obter gem para a Franccedila para si mesmo e sua famiacutelia Apoacutes a tLIacuteshy

mor~e de seu quarto e uacuteltimo filho Mme Godin agoshyra jaacute c9m maIs de quarenta anos tomou uma ousada deci satildeo Acompanhada por um grupo que incluiacutea seus irmlos sobrinho e numerosos criados partiu para se juntar a seu

esposo atravessando os Andes e descendo o Amazonas pela mesma rota que fez de La Condamine um heroacutei O deshysastre se seguiu Consta que amedrontados pela variacuteoLi seus guias indiacutegenas desertaram e todos incluindo seus ilshy

sobrinho e criados morreram apoacutes definharem por dias na selva Mme Godin em deliacuterio grlclu~dshy

mente voltou sozinha ateacute o rio onde foi resgatada por illshyerm canoas que a levaram ateacute o

Com assim prossegue o il COSIltI

da Guiana para ser levada para a empre

devotado marido A romacircntica e arrepiante narrativa de Goclin

publicada em 1773 - natildeo por ela mas por Sl c-pOSO a pcshydico de La Conclamine que a anexou agraves ele Ul pria narrativa Mesmo hoje o ocorrido (gt profuJ1cbnCIlll

emocionante suas complexidades irresistiacuteveis elmo pareshycem frequumlentemente ser sempre que protlgonitas feminishynas aparecem na prosa sobre ltI coloniaL A histoacuteril

Mme Godin eacute uma reaoresentacatildeo cIl grande proem1 amaona - ou

a isto O amor a e l Cll tral1SfOflllltll11

a mulher crioula ele uma aristocrata bntllCl na (ombatIi

1 L Luiacute~ Goclin eles Odollnb Carla M la C()IlLlll1iacutellL anexada li Ahrh(red Nmnllili em Pinkerlon ul cil

51

1 )

e sentimento 1750-1800

mulher guecircrreira que os europeus haviam criado para simshybolizar para si mesmos a Ameacuteriql Ao mesmo tempo sua saga a destroacutei enquanto objeto sexual Mme Godin emerge Como uma versatildeo real da arruinada princesa Cuneacutegonde do Cacircndido Inversotildees simboacutelicas abundam na histoacuteria O coshymeacutercio de ouro por exemplo tem sua direccedilatildeo revertida A certa altura Mme Godin oferece duas de suas correntes de ouro para os iacutendios que salvaram a sua vida na selva invershytendo o paradigma da conquista Para sua fuacuteria os presenshyres foram imediatamente tomados pelo padre residente e substituiacutedos pela quintessecircncia da mercadoria colonial tecishydos Por tais deliciosas ironias natildeo admira que a amazona de Mme Godin tenha feito carreira e circulado por toda a Europa por mais de cinquumlenta anos A carta de vinte nas seu marido representa um traccedilo modesto de uma exuumltecircncia vital dentro da cultura oral

-uumltapete aleacutem da orla

Textos orais textos escritos text~s perdidos textos seshycretos apropriJdos abreviados traduzidos coligidos e giadosj cartas relatoacuterics histoacuterias de sobrevivecircncia descrishyccedilatildeo ciacutevica narrativa de navegaccedilatildeo monstros e maravilhas tratados medicinais polecircmicas acadecircmicas velhos mitos reencenados e invertidos - o corpus La Cond~~mine ilustra o muacuteltiplo perfil dos relatos de viagem nas fronteiras de exshypansatildeo da Europa em meados do seacuteculo XVIII A expediccedilatildeo mesma eacute de interesse neste contexto C0l110 uma instacircncia precursora e notoriamente malsucedida daquilo que logo se tornaria um dos mais ostentados e conspiacutecuos instrumentos europeus de expansatildeo a expediccedilatildeo cientiacutefica internacional Na segunda metade do seacuteculo XVIII a expediccedilatildeo cientiacutefica tornlr-se-ia um catalisador das energias e recursos de intrinshycadas alianccedilas das elites comerciais e intelectuais por toda a Europa Igualmente relevante eacute que a exploraccedilatildeo cientiacutefiacuteca haveria de se tornar um foco de inte-nso interesse ouacuteblico e

---~_ ~~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores ---~-----~~

~~Jwnt-IAfftu rnmiddotpmiddot~JIiltT~) urmiddot k

Fig5 fenocircmenos naturais da Ameacuterica elo Sul tais COlllO vi[os peb l-

La Condamine Embaixo 11 () nJilro de neve e em o canto haiacute-(J 1 dirciu 1l[lWCImiddotmiddot11

o renomeno do arco da obre middotI1l(lII~ dts 11l )1111

nhas acima 2t direitl ilUotrase o fenocircmeno do IIICO-ir Iriplo aacuteI( primeira vez em Pambamarca e JosteriOrJ11lllll CllI middotmiddotlli

montanhas EXlrliacutedo (eacioacutell biie)lica derioi fi lo llIlcnlaquo(I ridiacuteonat deJorge Juan e Amonio de Ulolt Madri nloni 111111 1- li

fonte de alguns dos mais poderosos aparal()~ KI(()I()gll()~ l

de idealizaccedilatildeo por meio dos quais os cicladlrus el1f()pell~ relacionaram com outras paltes do mundo Estes l

palticularmente os relatos de viagem sagraveo o lema 11 ser tral

lhado em Para os propoacutesitos deste estudo a expediccedil~o La COllshy

damine tambeacutem possui um significado pois foi dos primeiros exemplos uma nova tendecircnci~l lO que refere agrave e agrave documentaccedilatildeo dos interiores conlishy

em contrtste com o paradigma mariacutetimo que ocupado o centro do oalco por trezentos anos No uacuteltimus

-) ))

~ ~ ~

~

novo

sobre mais

dade

cidas suas

1

ciecircncia consci~ncia planeUiacuteria interiorps ciecircncia e sentimento 1750-1800 -__----_------ -~--

ccedilas na concepccediluumlo CJue tem a Europa ele si Il1lSIll1 c (1( ~IIanos do seacuteculo XVIII a exploraccedilatildeo do interior havia se transe globais Natildeo obstante seus calamitosos formado no objeto principal das energias e imaginaccedilatildep ex~

expediccedil1lo aparece como precursora Enquanto relatopan8ionisas Esta mudanccedila teve con~quumlecircncias significativas exerriplifica ltonfiguraccedilotildees de relatos ele viagem que 111para os relatos de viagem exigindomiddotc dando vazatildeo a novas 11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus noshy

vos modelos para os contatos eurom~ls aleacutem-fronteiras e noc impuls~) seriam radicalmente reorganizados (O

vas formas de codificaccedilatildeo das ambiccedilotildees imperiais europeacuteias seguinte examinmaacuteestas transformaccedilotildees nos cclatos de viashy

Em o espilo francecircs Freacutezier c~n$iderava impossiacutevel a gem na Aacutefrica Meridional) Na segunda metade do seacuteculo exploraccedilatildeo interior do Peru dado Rl1e os viajantes devem XVIII muitos viajantes-escritores vatildec se dissociar de trJclishycarregar ateacute mesmo suas proacuteprias qUlfas a menos que accedileishy tais como a da literatura de sobrevivecircnriacute

tem deItar-se no fhatildeo como os natiyos sobre peles de ovemiddotmiddot ciacutevica OU narrativa de navegaccedilatildeo pois se lha tendo o ceacuteu por teto15 Para o prefaciador inglecircs do reshy projeto de construccedilatildeo de conhecimento da histoacuteria

segul1shylato de Ulloa trinta anos mais tarde a exploraccedilatildeo do interior A emergecircncia de3te deeacute um passo ~ ser forccedilosamente dado IQue ideacuteia poderiacuteamos do evento de ] que prometi discutir a

ter de um tapete turco pergunta se observarmos apenas as Sistema da Natureza de Lineu berras ou suaorla16 Ao redor de 1792 o viajante francecircs Saugnier viu isto como uma questatildeo de justiccedila glolxl o inteshyrior tanto quanto a costa da Aacutefrica merece a honra da visishy o sistema taccedilatildec europeacuteia17 Em 1822 Alexagravender Humboldt nacirco haveraacute de ser pela navegaccedilatildeo costeira que poderemos descobrir a direccedilatildeo das cordilheiras e sua constituiccedilatildeo geoloacuteshy a expeOlccedilao La Condamine lt-SlIV1 cruzam ) gica O clima de cada regiatildeo e sua influecircncia sobre as formas o Atlan~lCO em nome da ciecircncia um naturalist succo de inshye haacutebitos dos seres organizados Para seu tradutor inglecircs a te e oito anos levava ao prelo a sua primeirl grande contrishyquestatildeo era de ordem esteacutetica Em geral as expediccedilotildees mashy ao O laturalista se chamava Cad LinnG ou lIll riacutetimas tecircm uma certa monotonia que vem da necessidade Linnaeus e o livro tinha por tiacutetulo ~vslCn1( VIlil(( (()

se falar continuamente da navegaccedilatildeo numa linguagem teacutecnishy Sistema da Natureza) Encontrava-se aiacute uma criaccedil~lO cxtrI()[ ca A histoacuteria das jornadas por terra em regiotildees distantes eacute -dinaacuteria que teria profundo e duradouro il11plCto 1110 ltlpena~00

muito mais apropriada para incitar ( interesse geralR a~ e os rehltos de viagem mas n1 maneirl Como portanto a expediccedilatildeo La Condamine dos cidadatildeos europeus construiacuterl11l l lomprcllI

de uma era de viagens cientiacuteficas e derem seu lugar no planeta Para um leitor COnrCI11p(Jr1nc() interior que por seu turno sugere mudan- () Sistema da Natureza parece um fcito modcsto v nl Vll

um tanto quanto escranho Era um sitema ccscritIacutemiddot) designado panl classificar rodas as plantas d1 TerrI conlllshy

15 Freacuteziacuteer np cit plO e desconhecidas de acordo com as Clr1Cl1 iacutestics ( 16 dams 01 cit p314

17 Messrs eacute Blisson - Vovages to the Coas ofAfrica (1792) Ne- reprooutivasll Vinte e CJllatro (c 111lis ll(c 111 gro U P 1969 eacute traduccedilatildeo em inglecircs do original francecircs de 1792 Reshylation de plusiers voyages agrave la cocircte d Agraverlque 18 Alexander von Humboldt Persortal Narratiue of Cf Voyage to lhe

19 A discuss~io de Lineu e d biacutestoacuteria naturalEquinoctiacuteal Regiom traduccedilatildeo para o inglecircs de Helen Maria Williams das seguintes fontes Heins Goerke Ceci) - Lill1a(iI

London Longman et alU 1822 voI I pviiacute

ir) ------V~

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

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ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

ii

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1 j ~ j

J Ij I1

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Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

r I

--------------t~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 7: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentimento 1750-1800

quer rodeio de entretenimento o livro eacute um enorme comshypecircndio de informaccedilotildees acerca de muitos da geoshygrafia colonial espanhoiacutea e da vida nas espanholas

- eacute claro minas -LV

maccedilotildees estrateacutegicas Eacute um trabalho estatiacutestico no sentido original do termo isto eacute uma investigaccedilatildeo sobre o estado de um paiacutes (Oxford English Dictionary) Adams louvou o tratado por sua confiabiHdade emj contraste com os pomshyposos narradores de curiosidades maravilhosas12 uma alushysatildeo agrave literacura de sobrevivecircncia e~gerd e provavelmente a ta Condamine em particular

]uan e Ulloa tambeacutem endereccedilaram a seu rei um seshygundo volume clandestino intitultdo Noticias secretas de Ameacuterica (Nntiacutecias secretas da Amlt1rica) que dissertava critishycamente sobre vaacuterios aspectos da colonial espanhoshyla e como um cOmentarista obselvou llmuito que natildeo foi dito nos trabalhos dos Natildeo foi senagraveo nos primeiros anos ltlo Impeacuterio Espanhol entrou em seu obra caiu las matildeos dos ingleses e

Junto ao cataacutelogo de textos da La Condashymine que foram publicados existe I um rol de escritos que natildeo J foram Est~ inclui por exempto o trabalho de ]osepb de ]ussieu () naturalista que permaneceu na Ameacuterica do Sul e continuou a exercer sua profissatildeo por outros vinte anos Quando ele afinal enlouqueceu e teve de ser reembarcado

de Quito para a Franccedila os que o enviaram ao que parece perderam de vista o bauacute que continha o trashy

de toda a sua vida de Apenas um estudo sobre os efeitos do quinino veio a ser publicado - sob o nome de La Condamine O restante dia em Quito

A mais apabonante e duradoura histoacuteria que adveio da expediccedilatildeo La Condamine foi um relato oral

-12 john~~~l~S shy Prefaacutecio a VOy(lge lo Sowh AII(ric(1 (747) em linkershyton op cit vo~ 14 p313 13 Von H~gn - op cit p300

f --~- ---_

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores

apenas parcialmente Eacute lima histoacuteria de sobrevivecircncia heroacutei natildeo eacute um homem de ciecircncb eurupcu IJUS Llllla IlIUshy

lher euro-americana IsabeIa Godin des Odorais da aristoshyperuana que se casou com um membro da expe(lishy

com quem teve quatro filhos () (Sr~i Tia men t () do grupocientiacutefiacuteco seu G1arido rumou para Caiena onde passou dezoito anos tentando obter gem para a Franccedila para si mesmo e sua famiacutelia Apoacutes a tLIacuteshy

mor~e de seu quarto e uacuteltimo filho Mme Godin agoshyra jaacute c9m maIs de quarenta anos tomou uma ousada deci satildeo Acompanhada por um grupo que incluiacutea seus irmlos sobrinho e numerosos criados partiu para se juntar a seu

esposo atravessando os Andes e descendo o Amazonas pela mesma rota que fez de La Condamine um heroacutei O deshysastre se seguiu Consta que amedrontados pela variacuteoLi seus guias indiacutegenas desertaram e todos incluindo seus ilshy

sobrinho e criados morreram apoacutes definharem por dias na selva Mme Godin em deliacuterio grlclu~dshy

mente voltou sozinha ateacute o rio onde foi resgatada por illshyerm canoas que a levaram ateacute o

Com assim prossegue o il COSIltI

da Guiana para ser levada para a empre

devotado marido A romacircntica e arrepiante narrativa de Goclin

publicada em 1773 - natildeo por ela mas por Sl c-pOSO a pcshydico de La Conclamine que a anexou agraves ele Ul pria narrativa Mesmo hoje o ocorrido (gt profuJ1cbnCIlll

emocionante suas complexidades irresistiacuteveis elmo pareshycem frequumlentemente ser sempre que protlgonitas feminishynas aparecem na prosa sobre ltI coloniaL A histoacuteril

Mme Godin eacute uma reaoresentacatildeo cIl grande proem1 amaona - ou

a isto O amor a e l Cll tral1SfOflllltll11

a mulher crioula ele uma aristocrata bntllCl na (ombatIi

1 L Luiacute~ Goclin eles Odollnb Carla M la C()IlLlll1iacutellL anexada li Ahrh(red Nmnllili em Pinkerlon ul cil

51

1 )

e sentimento 1750-1800

mulher guecircrreira que os europeus haviam criado para simshybolizar para si mesmos a Ameacuteriql Ao mesmo tempo sua saga a destroacutei enquanto objeto sexual Mme Godin emerge Como uma versatildeo real da arruinada princesa Cuneacutegonde do Cacircndido Inversotildees simboacutelicas abundam na histoacuteria O coshymeacutercio de ouro por exemplo tem sua direccedilatildeo revertida A certa altura Mme Godin oferece duas de suas correntes de ouro para os iacutendios que salvaram a sua vida na selva invershytendo o paradigma da conquista Para sua fuacuteria os presenshyres foram imediatamente tomados pelo padre residente e substituiacutedos pela quintessecircncia da mercadoria colonial tecishydos Por tais deliciosas ironias natildeo admira que a amazona de Mme Godin tenha feito carreira e circulado por toda a Europa por mais de cinquumlenta anos A carta de vinte nas seu marido representa um traccedilo modesto de uma exuumltecircncia vital dentro da cultura oral

-uumltapete aleacutem da orla

Textos orais textos escritos text~s perdidos textos seshycretos apropriJdos abreviados traduzidos coligidos e giadosj cartas relatoacuterics histoacuterias de sobrevivecircncia descrishyccedilatildeo ciacutevica narrativa de navegaccedilatildeo monstros e maravilhas tratados medicinais polecircmicas acadecircmicas velhos mitos reencenados e invertidos - o corpus La Cond~~mine ilustra o muacuteltiplo perfil dos relatos de viagem nas fronteiras de exshypansatildeo da Europa em meados do seacuteculo XVIII A expediccedilatildeo mesma eacute de interesse neste contexto C0l110 uma instacircncia precursora e notoriamente malsucedida daquilo que logo se tornaria um dos mais ostentados e conspiacutecuos instrumentos europeus de expansatildeo a expediccedilatildeo cientiacutefica internacional Na segunda metade do seacuteculo XVIII a expediccedilatildeo cientiacutefica tornlr-se-ia um catalisador das energias e recursos de intrinshycadas alianccedilas das elites comerciais e intelectuais por toda a Europa Igualmente relevante eacute que a exploraccedilatildeo cientiacutefiacuteca haveria de se tornar um foco de inte-nso interesse ouacuteblico e

---~_ ~~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores ---~-----~~

~~Jwnt-IAfftu rnmiddotpmiddot~JIiltT~) urmiddot k

Fig5 fenocircmenos naturais da Ameacuterica elo Sul tais COlllO vi[os peb l-

La Condamine Embaixo 11 () nJilro de neve e em o canto haiacute-(J 1 dirciu 1l[lWCImiddotmiddot11

o renomeno do arco da obre middotI1l(lII~ dts 11l )1111

nhas acima 2t direitl ilUotrase o fenocircmeno do IIICO-ir Iriplo aacuteI( primeira vez em Pambamarca e JosteriOrJ11lllll CllI middotmiddotlli

montanhas EXlrliacutedo (eacioacutell biie)lica derioi fi lo llIlcnlaquo(I ridiacuteonat deJorge Juan e Amonio de Ulolt Madri nloni 111111 1- li

fonte de alguns dos mais poderosos aparal()~ KI(()I()gll()~ l

de idealizaccedilatildeo por meio dos quais os cicladlrus el1f()pell~ relacionaram com outras paltes do mundo Estes l

palticularmente os relatos de viagem sagraveo o lema 11 ser tral

lhado em Para os propoacutesitos deste estudo a expediccedil~o La COllshy

damine tambeacutem possui um significado pois foi dos primeiros exemplos uma nova tendecircnci~l lO que refere agrave e agrave documentaccedilatildeo dos interiores conlishy

em contrtste com o paradigma mariacutetimo que ocupado o centro do oalco por trezentos anos No uacuteltimus

-) ))

~ ~ ~

~

novo

sobre mais

dade

cidas suas

1

ciecircncia consci~ncia planeUiacuteria interiorps ciecircncia e sentimento 1750-1800 -__----_------ -~--

ccedilas na concepccediluumlo CJue tem a Europa ele si Il1lSIll1 c (1( ~IIanos do seacuteculo XVIII a exploraccedilatildeo do interior havia se transe globais Natildeo obstante seus calamitosos formado no objeto principal das energias e imaginaccedilatildep ex~

expediccedil1lo aparece como precursora Enquanto relatopan8ionisas Esta mudanccedila teve con~quumlecircncias significativas exerriplifica ltonfiguraccedilotildees de relatos ele viagem que 111para os relatos de viagem exigindomiddotc dando vazatildeo a novas 11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus noshy

vos modelos para os contatos eurom~ls aleacutem-fronteiras e noc impuls~) seriam radicalmente reorganizados (O

vas formas de codificaccedilatildeo das ambiccedilotildees imperiais europeacuteias seguinte examinmaacuteestas transformaccedilotildees nos cclatos de viashy

Em o espilo francecircs Freacutezier c~n$iderava impossiacutevel a gem na Aacutefrica Meridional) Na segunda metade do seacuteculo exploraccedilatildeo interior do Peru dado Rl1e os viajantes devem XVIII muitos viajantes-escritores vatildec se dissociar de trJclishycarregar ateacute mesmo suas proacuteprias qUlfas a menos que accedileishy tais como a da literatura de sobrevivecircnriacute

tem deItar-se no fhatildeo como os natiyos sobre peles de ovemiddotmiddot ciacutevica OU narrativa de navegaccedilatildeo pois se lha tendo o ceacuteu por teto15 Para o prefaciador inglecircs do reshy projeto de construccedilatildeo de conhecimento da histoacuteria

segul1shylato de Ulloa trinta anos mais tarde a exploraccedilatildeo do interior A emergecircncia de3te deeacute um passo ~ ser forccedilosamente dado IQue ideacuteia poderiacuteamos do evento de ] que prometi discutir a

ter de um tapete turco pergunta se observarmos apenas as Sistema da Natureza de Lineu berras ou suaorla16 Ao redor de 1792 o viajante francecircs Saugnier viu isto como uma questatildeo de justiccedila glolxl o inteshyrior tanto quanto a costa da Aacutefrica merece a honra da visishy o sistema taccedilatildec europeacuteia17 Em 1822 Alexagravender Humboldt nacirco haveraacute de ser pela navegaccedilatildeo costeira que poderemos descobrir a direccedilatildeo das cordilheiras e sua constituiccedilatildeo geoloacuteshy a expeOlccedilao La Condamine lt-SlIV1 cruzam ) gica O clima de cada regiatildeo e sua influecircncia sobre as formas o Atlan~lCO em nome da ciecircncia um naturalist succo de inshye haacutebitos dos seres organizados Para seu tradutor inglecircs a te e oito anos levava ao prelo a sua primeirl grande contrishyquestatildeo era de ordem esteacutetica Em geral as expediccedilotildees mashy ao O laturalista se chamava Cad LinnG ou lIll riacutetimas tecircm uma certa monotonia que vem da necessidade Linnaeus e o livro tinha por tiacutetulo ~vslCn1( VIlil(( (()

se falar continuamente da navegaccedilatildeo numa linguagem teacutecnishy Sistema da Natureza) Encontrava-se aiacute uma criaccedil~lO cxtrI()[ ca A histoacuteria das jornadas por terra em regiotildees distantes eacute -dinaacuteria que teria profundo e duradouro il11plCto 1110 ltlpena~00

muito mais apropriada para incitar ( interesse geralR a~ e os rehltos de viagem mas n1 maneirl Como portanto a expediccedilatildeo La Condamine dos cidadatildeos europeus construiacuterl11l l lomprcllI

de uma era de viagens cientiacuteficas e derem seu lugar no planeta Para um leitor COnrCI11p(Jr1nc() interior que por seu turno sugere mudan- () Sistema da Natureza parece um fcito modcsto v nl Vll

um tanto quanto escranho Era um sitema ccscritIacutemiddot) designado panl classificar rodas as plantas d1 TerrI conlllshy

15 Freacuteziacuteer np cit plO e desconhecidas de acordo com as Clr1Cl1 iacutestics ( 16 dams 01 cit p314

17 Messrs eacute Blisson - Vovages to the Coas ofAfrica (1792) Ne- reprooutivasll Vinte e CJllatro (c 111lis ll(c 111 gro U P 1969 eacute traduccedilatildeo em inglecircs do original francecircs de 1792 Reshylation de plusiers voyages agrave la cocircte d Agraverlque 18 Alexander von Humboldt Persortal Narratiue of Cf Voyage to lhe

19 A discuss~io de Lineu e d biacutestoacuteria naturalEquinoctiacuteal Regiom traduccedilatildeo para o inglecircs de Helen Maria Williams das seguintes fontes Heins Goerke Ceci) - Lill1a(iI

London Longman et alU 1822 voI I pviiacute

ir) ------V~

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

---

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ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

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1 j ~ j

J Ij I1

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Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

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ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

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shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 8: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

1 )

e sentimento 1750-1800

mulher guecircrreira que os europeus haviam criado para simshybolizar para si mesmos a Ameacuteriql Ao mesmo tempo sua saga a destroacutei enquanto objeto sexual Mme Godin emerge Como uma versatildeo real da arruinada princesa Cuneacutegonde do Cacircndido Inversotildees simboacutelicas abundam na histoacuteria O coshymeacutercio de ouro por exemplo tem sua direccedilatildeo revertida A certa altura Mme Godin oferece duas de suas correntes de ouro para os iacutendios que salvaram a sua vida na selva invershytendo o paradigma da conquista Para sua fuacuteria os presenshyres foram imediatamente tomados pelo padre residente e substituiacutedos pela quintessecircncia da mercadoria colonial tecishydos Por tais deliciosas ironias natildeo admira que a amazona de Mme Godin tenha feito carreira e circulado por toda a Europa por mais de cinquumlenta anos A carta de vinte nas seu marido representa um traccedilo modesto de uma exuumltecircncia vital dentro da cultura oral

-uumltapete aleacutem da orla

Textos orais textos escritos text~s perdidos textos seshycretos apropriJdos abreviados traduzidos coligidos e giadosj cartas relatoacuterics histoacuterias de sobrevivecircncia descrishyccedilatildeo ciacutevica narrativa de navegaccedilatildeo monstros e maravilhas tratados medicinais polecircmicas acadecircmicas velhos mitos reencenados e invertidos - o corpus La Cond~~mine ilustra o muacuteltiplo perfil dos relatos de viagem nas fronteiras de exshypansatildeo da Europa em meados do seacuteculo XVIII A expediccedilatildeo mesma eacute de interesse neste contexto C0l110 uma instacircncia precursora e notoriamente malsucedida daquilo que logo se tornaria um dos mais ostentados e conspiacutecuos instrumentos europeus de expansatildeo a expediccedilatildeo cientiacutefica internacional Na segunda metade do seacuteculo XVIII a expediccedilatildeo cientiacutefica tornlr-se-ia um catalisador das energias e recursos de intrinshycadas alianccedilas das elites comerciais e intelectuais por toda a Europa Igualmente relevante eacute que a exploraccedilatildeo cientiacutefiacuteca haveria de se tornar um foco de inte-nso interesse ouacuteblico e

---~_ ~~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiores ---~-----~~

~~Jwnt-IAfftu rnmiddotpmiddot~JIiltT~) urmiddot k

Fig5 fenocircmenos naturais da Ameacuterica elo Sul tais COlllO vi[os peb l-

La Condamine Embaixo 11 () nJilro de neve e em o canto haiacute-(J 1 dirciu 1l[lWCImiddotmiddot11

o renomeno do arco da obre middotI1l(lII~ dts 11l )1111

nhas acima 2t direitl ilUotrase o fenocircmeno do IIICO-ir Iriplo aacuteI( primeira vez em Pambamarca e JosteriOrJ11lllll CllI middotmiddotlli

montanhas EXlrliacutedo (eacioacutell biie)lica derioi fi lo llIlcnlaquo(I ridiacuteonat deJorge Juan e Amonio de Ulolt Madri nloni 111111 1- li

fonte de alguns dos mais poderosos aparal()~ KI(()I()gll()~ l

de idealizaccedilatildeo por meio dos quais os cicladlrus el1f()pell~ relacionaram com outras paltes do mundo Estes l

palticularmente os relatos de viagem sagraveo o lema 11 ser tral

lhado em Para os propoacutesitos deste estudo a expediccedil~o La COllshy

damine tambeacutem possui um significado pois foi dos primeiros exemplos uma nova tendecircnci~l lO que refere agrave e agrave documentaccedilatildeo dos interiores conlishy

em contrtste com o paradigma mariacutetimo que ocupado o centro do oalco por trezentos anos No uacuteltimus

-) ))

~ ~ ~

~

novo

sobre mais

dade

cidas suas

1

ciecircncia consci~ncia planeUiacuteria interiorps ciecircncia e sentimento 1750-1800 -__----_------ -~--

ccedilas na concepccediluumlo CJue tem a Europa ele si Il1lSIll1 c (1( ~IIanos do seacuteculo XVIII a exploraccedilatildeo do interior havia se transe globais Natildeo obstante seus calamitosos formado no objeto principal das energias e imaginaccedilatildep ex~

expediccedil1lo aparece como precursora Enquanto relatopan8ionisas Esta mudanccedila teve con~quumlecircncias significativas exerriplifica ltonfiguraccedilotildees de relatos ele viagem que 111para os relatos de viagem exigindomiddotc dando vazatildeo a novas 11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus noshy

vos modelos para os contatos eurom~ls aleacutem-fronteiras e noc impuls~) seriam radicalmente reorganizados (O

vas formas de codificaccedilatildeo das ambiccedilotildees imperiais europeacuteias seguinte examinmaacuteestas transformaccedilotildees nos cclatos de viashy

Em o espilo francecircs Freacutezier c~n$iderava impossiacutevel a gem na Aacutefrica Meridional) Na segunda metade do seacuteculo exploraccedilatildeo interior do Peru dado Rl1e os viajantes devem XVIII muitos viajantes-escritores vatildec se dissociar de trJclishycarregar ateacute mesmo suas proacuteprias qUlfas a menos que accedileishy tais como a da literatura de sobrevivecircnriacute

tem deItar-se no fhatildeo como os natiyos sobre peles de ovemiddotmiddot ciacutevica OU narrativa de navegaccedilatildeo pois se lha tendo o ceacuteu por teto15 Para o prefaciador inglecircs do reshy projeto de construccedilatildeo de conhecimento da histoacuteria

segul1shylato de Ulloa trinta anos mais tarde a exploraccedilatildeo do interior A emergecircncia de3te deeacute um passo ~ ser forccedilosamente dado IQue ideacuteia poderiacuteamos do evento de ] que prometi discutir a

ter de um tapete turco pergunta se observarmos apenas as Sistema da Natureza de Lineu berras ou suaorla16 Ao redor de 1792 o viajante francecircs Saugnier viu isto como uma questatildeo de justiccedila glolxl o inteshyrior tanto quanto a costa da Aacutefrica merece a honra da visishy o sistema taccedilatildec europeacuteia17 Em 1822 Alexagravender Humboldt nacirco haveraacute de ser pela navegaccedilatildeo costeira que poderemos descobrir a direccedilatildeo das cordilheiras e sua constituiccedilatildeo geoloacuteshy a expeOlccedilao La Condamine lt-SlIV1 cruzam ) gica O clima de cada regiatildeo e sua influecircncia sobre as formas o Atlan~lCO em nome da ciecircncia um naturalist succo de inshye haacutebitos dos seres organizados Para seu tradutor inglecircs a te e oito anos levava ao prelo a sua primeirl grande contrishyquestatildeo era de ordem esteacutetica Em geral as expediccedilotildees mashy ao O laturalista se chamava Cad LinnG ou lIll riacutetimas tecircm uma certa monotonia que vem da necessidade Linnaeus e o livro tinha por tiacutetulo ~vslCn1( VIlil(( (()

se falar continuamente da navegaccedilatildeo numa linguagem teacutecnishy Sistema da Natureza) Encontrava-se aiacute uma criaccedil~lO cxtrI()[ ca A histoacuteria das jornadas por terra em regiotildees distantes eacute -dinaacuteria que teria profundo e duradouro il11plCto 1110 ltlpena~00

muito mais apropriada para incitar ( interesse geralR a~ e os rehltos de viagem mas n1 maneirl Como portanto a expediccedilatildeo La Condamine dos cidadatildeos europeus construiacuterl11l l lomprcllI

de uma era de viagens cientiacuteficas e derem seu lugar no planeta Para um leitor COnrCI11p(Jr1nc() interior que por seu turno sugere mudan- () Sistema da Natureza parece um fcito modcsto v nl Vll

um tanto quanto escranho Era um sitema ccscritIacutemiddot) designado panl classificar rodas as plantas d1 TerrI conlllshy

15 Freacuteziacuteer np cit plO e desconhecidas de acordo com as Clr1Cl1 iacutestics ( 16 dams 01 cit p314

17 Messrs eacute Blisson - Vovages to the Coas ofAfrica (1792) Ne- reprooutivasll Vinte e CJllatro (c 111lis ll(c 111 gro U P 1969 eacute traduccedilatildeo em inglecircs do original francecircs de 1792 Reshylation de plusiers voyages agrave la cocircte d Agraverlque 18 Alexander von Humboldt Persortal Narratiue of Cf Voyage to lhe

19 A discuss~io de Lineu e d biacutestoacuteria naturalEquinoctiacuteal Regiom traduccedilatildeo para o inglecircs de Helen Maria Williams das seguintes fontes Heins Goerke Ceci) - Lill1a(iI

London Longman et alU 1822 voI I pviiacute

ir) ------V~

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

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ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

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1 j ~ j

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Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

r I

--------------t~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

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ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 9: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

~ ~ ~

~

novo

sobre mais

dade

cidas suas

1

ciecircncia consci~ncia planeUiacuteria interiorps ciecircncia e sentimento 1750-1800 -__----_------ -~--

ccedilas na concepccediluumlo CJue tem a Europa ele si Il1lSIll1 c (1( ~IIanos do seacuteculo XVIII a exploraccedilatildeo do interior havia se transe globais Natildeo obstante seus calamitosos formado no objeto principal das energias e imaginaccedilatildep ex~

expediccedil1lo aparece como precursora Enquanto relatopan8ionisas Esta mudanccedila teve con~quumlecircncias significativas exerriplifica ltonfiguraccedilotildees de relatos ele viagem que 111para os relatos de viagem exigindomiddotc dando vazatildeo a novas 11edida em que formas burguesas de autoridade ganhavanl fonuas de conhecimento e autoconhecimento europeus noshy

vos modelos para os contatos eurom~ls aleacutem-fronteiras e noc impuls~) seriam radicalmente reorganizados (O

vas formas de codificaccedilatildeo das ambiccedilotildees imperiais europeacuteias seguinte examinmaacuteestas transformaccedilotildees nos cclatos de viashy

Em o espilo francecircs Freacutezier c~n$iderava impossiacutevel a gem na Aacutefrica Meridional) Na segunda metade do seacuteculo exploraccedilatildeo interior do Peru dado Rl1e os viajantes devem XVIII muitos viajantes-escritores vatildec se dissociar de trJclishycarregar ateacute mesmo suas proacuteprias qUlfas a menos que accedileishy tais como a da literatura de sobrevivecircnriacute

tem deItar-se no fhatildeo como os natiyos sobre peles de ovemiddotmiddot ciacutevica OU narrativa de navegaccedilatildeo pois se lha tendo o ceacuteu por teto15 Para o prefaciador inglecircs do reshy projeto de construccedilatildeo de conhecimento da histoacuteria

segul1shylato de Ulloa trinta anos mais tarde a exploraccedilatildeo do interior A emergecircncia de3te deeacute um passo ~ ser forccedilosamente dado IQue ideacuteia poderiacuteamos do evento de ] que prometi discutir a

ter de um tapete turco pergunta se observarmos apenas as Sistema da Natureza de Lineu berras ou suaorla16 Ao redor de 1792 o viajante francecircs Saugnier viu isto como uma questatildeo de justiccedila glolxl o inteshyrior tanto quanto a costa da Aacutefrica merece a honra da visishy o sistema taccedilatildec europeacuteia17 Em 1822 Alexagravender Humboldt nacirco haveraacute de ser pela navegaccedilatildeo costeira que poderemos descobrir a direccedilatildeo das cordilheiras e sua constituiccedilatildeo geoloacuteshy a expeOlccedilao La Condamine lt-SlIV1 cruzam ) gica O clima de cada regiatildeo e sua influecircncia sobre as formas o Atlan~lCO em nome da ciecircncia um naturalist succo de inshye haacutebitos dos seres organizados Para seu tradutor inglecircs a te e oito anos levava ao prelo a sua primeirl grande contrishyquestatildeo era de ordem esteacutetica Em geral as expediccedilotildees mashy ao O laturalista se chamava Cad LinnG ou lIll riacutetimas tecircm uma certa monotonia que vem da necessidade Linnaeus e o livro tinha por tiacutetulo ~vslCn1( VIlil(( (()

se falar continuamente da navegaccedilatildeo numa linguagem teacutecnishy Sistema da Natureza) Encontrava-se aiacute uma criaccedil~lO cxtrI()[ ca A histoacuteria das jornadas por terra em regiotildees distantes eacute -dinaacuteria que teria profundo e duradouro il11plCto 1110 ltlpena~00

muito mais apropriada para incitar ( interesse geralR a~ e os rehltos de viagem mas n1 maneirl Como portanto a expediccedilatildeo La Condamine dos cidadatildeos europeus construiacuterl11l l lomprcllI

de uma era de viagens cientiacuteficas e derem seu lugar no planeta Para um leitor COnrCI11p(Jr1nc() interior que por seu turno sugere mudan- () Sistema da Natureza parece um fcito modcsto v nl Vll

um tanto quanto escranho Era um sitema ccscritIacutemiddot) designado panl classificar rodas as plantas d1 TerrI conlllshy

15 Freacuteziacuteer np cit plO e desconhecidas de acordo com as Clr1Cl1 iacutestics ( 16 dams 01 cit p314

17 Messrs eacute Blisson - Vovages to the Coas ofAfrica (1792) Ne- reprooutivasll Vinte e CJllatro (c 111lis ll(c 111 gro U P 1969 eacute traduccedilatildeo em inglecircs do original francecircs de 1792 Reshylation de plusiers voyages agrave la cocircte d Agraverlque 18 Alexander von Humboldt Persortal Narratiue of Cf Voyage to lhe

19 A discuss~io de Lineu e d biacutestoacuteria naturalEquinoctiacuteal Regiom traduccedilatildeo para o inglecircs de Helen Maria Williams das seguintes fontes Heins Goerke Ceci) - Lill1a(iI

London Longman et alU 1822 voI I pviiacute

ir) ------V~

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

---

~-

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

ii

I

1 j ~ j

J Ij I1

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i ~~--shy

Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

r I

--------------t~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 10: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

----------------------- ciecircncia e sentimento 1750180(

r te e seis) configuraccedilotildees baacutesicas de estames pistilos etc foshyram identificadas e distribuiacutedas de acordo com as letras alfabeto (vejase ilustraccedilatildeo 6) Quatro paracircmetros visuais adishycionais completavam a taxonomia nuacutemeto forma posiccedilagraveo e tammho relativo Todas as plantas da Terra argumentava Lineu poderiam ser inseridas neste simples sistema disshytinccedilotildees incIuindo aquelas ainda desconhecidas pelos euroshypeus Tendo sua origem nos esforccedilos c1assificatoacuterios anterioshyres de Roy Tournefort e outros a abordagem de Lineu tinha uma simplicidade e elegacircncia ausente em seus antecessores

I Combinar o ideal de um sistema c1assificatoacuterio de todas as

I plantas Com uma sugestatildeo concreta e praacutetica de como consshytruiacute-lo constituiacutea um tref1endo avanccedilo Seu esquema considerado mesmo por seus criacuteticos como algo que impushynha ordem ao caos - tanto ao caos da natureza como ao da botacircnica anterior O fio de Ariadne em botacircnica afirmou Lineu eacute a classificaccedilatildeo sem a qual soacute existe o caos lO

Como veio a se verificar o Sistema de 1735 foi apeshynas um primeiro passo Enquanto Condamine abria seu caminho pela Ameacuterica do Sul Lineu aperfeiccediloava seu sisteshyma dando-lhe forma final em suas duas obras capitais Phishyloophia Botanica (1751) e Species Plantarum (753) Eacute a estes trabalhos que a ciecircncia europeacuteia deve a nomenclatura botacircnica padratildeo que atribui agraves plantas o nome de seu gecircneshyro seguido por sua espeacutecie e por qualquer outra diferenccedila

de Denver Liacutendley New York Scribners 1973 Tore Frangsmyr (ed) - Llnnaeus The Man and bis Work Berkeley California U P 1983 Gunshynar Broberg Ced) - Liacutennaeus Progress and Pmspects in Lirmaean Reshysearcb PittburghStockholm 1980 Daniel Boorstin - The Disco1erels New York Random House 1983 (ed bras Os descobridores Rio de jashyneiro Civiizaccedilio Brasileira 19891 Henry Stee1e Coomager - The Empire ofReason New York Doubleday 1977 pJ Marshall e GJyndwr WilJiams

Tbe Great Map qMankind Cambridge Harvard U P 1982 Edward DlJdJeye Maximilian Eacute Novak (eds) - The Wild Man Witbiacuten Pittsburgh Pttsburgh li P 1972 Michel Foucault - The arder r Tbings New York Pantheon 1970 Cedo bfltls As pala1ra e as coisas Satildeo Paulo Martins Fontes 19811 Gay op cit Em 1956 o Museu Britacircnico publicou exemshyrlares em fac-siacutemi~e da ediccedilatildeo de 1758 de O Sistema du Naurelta sob seu tiacutetulo enl latim Carolt Linnaeiacute Systema Naume 20 FOllcault op cit p136

ciecircncia conseacuteiecircnciacutea planetaacuteria interiores ---~---

essencial que as distinga de tipos adjacentes Sistemas parlshyIelos foram tambeacutem propostos para animai c minerais

O sistema lineano sintetizou as aspir(otildees contintllshytais e transnacionais da ciecircncia europeacuteia discutidas anterimshymente no contexto da expediccedilatildeo La Conclamine Lineu deshyliberadamente restaurou o latim em sua cisamente porque nagraveo era liacutengua nacionltJ I de n ingultl1 ~) fato de que ele mesmo fosse oriundo da Sueacutecia um protlshygonista relativamente menor na

indubitavelmente aumentou 1

de de seu sistema por todo o continente PI

em oarticular pelos te continentais em amplitude e incenccedilJo rbs s() () iSltI1LI

de Lineu constituiu um empreendimeilto tlIrOpllI con~middot

truccedilatildeo do saber numa escala e atrativo sem Suas paacuteginas de listas em latim podem ptrecer LstiacutetiC1S l

abstratas mas o que fizeram e foram concebidas pam fazeacuteshyfoi colocar em movimento um projeto a ser realizauo n()

mundo da forma mais concreta possiacutevel Na medida elll

que sua taxonomia se difundia por toda a Europa na segunshyda metade do seacuteculo seus disciacutepulos Cpoi eles assim se denominavam) espalhavam-se agraves duacutezias por todo o globo por mar e terra executando aquilo que Daniel Boorstin chamou de estrateacutegia messiacircnica 21 Acordos com as companhias ultramarinas de comeacutercio especialmente Companhia Sueca da iacutendia Oriental franquelvam passashygens para os estudantes de Lineu que comeccedilaram a Secirc eles locar por toda palte coletando plantas e insetos npc1inl

preservando fazendo desenhos e tentando mente levar tudo isso intacto de volta para Glsa i informashyccedilatildeo era veiculada em livros os caso mortllS eram inseridos em coleccedilotildees de histoacuteria nltural que se naram passatempos importantes para pessoas ele recursos em todo o continente se vivos eram em botacircnicos que tambeacutem comeccedilaram a em cldadc~ e propriedades particulares ao longo ele tmb 1

21 Boorstn cil p

)7

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

---

~-

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

ii

I

1 j ~ j

J Ij I1

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i ~~--shy

Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

r I

--------------t~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 11: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

pela

consciecircncia planetaacuterta interiores

fosse conJ1ecicla Interiormente

e os relatos de viagem jamais seriam ( metade do seacuteculo XVIll fosse uma

primariamente cientiacutefica ou nagraveo fosic ()

viajante um cientista ou natildeo a histoacuteria I1ltltunl nharia algum papel nela A coleta de espeacutecimes a constru ccedilatildeo de o batismo de novas espeacutecies a iclentificlshyccedilatildeo de outras jaacute conhecidas tornaram-se temas LIacutepicos nas

e nos livros de viagem Ao lado dos pelsonagell de fronteira como o hornem do mar o conquistado (J

cativo o diplomaui comeccedilava a surgir em toda pa Itt t

e decididamente letrada do herholizI dor armado com nada mais do que uma bolsa de (okmiddot

um caderno de notas e alguns hISCUS de esplti

conveacute~nClonais

nada mais do que umas poucas PKI os insetos e as flores Todos os tipos de

comeccedilaram a clesenvohLl pausas dc 11

estudo cavalheirt~sco ela na llCZl

Hora e fauna natildeo eram ctn si nOI 11(

Ao contraacuterio haviam sido cOl1lpmcntcs desde (

como ou digressotildees formais Contudo se firmou o projeto classifica toacuterio

e catalogaccedilatildeo da proacutepria natureza se LOrnaram podendo constituir uma sequumlecircncia ele evento

ou mesmo estruturar um enredo Poderil11 fOrJll~lr 1 base narrativa de todo um relato Dl um acircngulo pai

ticular o que se conta eacute 1 histoacuteria dos europeus o prr) cesso de urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilagraveo l proclIr1 clt reLI

natildeo exploradoras com a natureza mesmo que [1 is cc

estivessem sendo destruiacutedas por lJcc el11l~US centros de poder Como procurarei mostII [lO jlll)

ximo capiacutetulo o que tambeacutem estaacute em clt)()JlC10 l ~1I111

23 Sten Liacutemlrol] Linnalu11 his EuropcolI1 CH1h1 11 In il

cil)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 ~-__---_

iI t Kalm pupilo de Lineu foi para a Ameacuterica do Norte em 1747 Osbeck para a China em 1750 Lofling para a Ameacuterishyca do Sul em 1761 enquanto Solander juntou-se agrave primeishyta viagem de Cook em 1768 Sparrman agrave sua segunda e11 1772 (consulte~se capiacutetulo 3 a seguir) e assim sucessivashymente As palavras do proacuteprio Lineu para um colega em J771 expressam a a excItaccedilatildeo e o caraacuteter mundial do empreendimento

Meu luno Sparrman acabou de zarpar para o Cabo da Boa Esshyperanccedila e outro de meus Thunberg deve acompanhar uma embaixada holandesa o Japatildeo ambos satildeo competentes naturalistas O ainda estaacute na Peacutersia e meu Falck se encontra na Tartaacuteria Mutis estaacute fazendo esnlecircndirllt cobertas botacircnicas no Meacutexico de novidades em Tranquebar O jJlUlt33UI

nhague estaacute publicando o registro das Suriname por Rolander As descobertas l1o logo mandadas para o

Eacute como se ele estivesse falando de embaixadores e de um impeacuterio O que pretendo aflqnar eacute evidentemente que de uma forma muito significativa ele efetivamente esshytava Assim como a Cristandade havia inaugurado um trashybalho global de conversatildeo religiosa que se verificava a cada contato com outras sociedades assim tambeacutem a histoacuteria nashytural iniciou um esforccedilo de escala mundial que entre oushytras coisas tornou as zonas de contato um local de trabashylho tanto intelectual quanto manual e laacute instalou a distinshyccedilatildeo entre estes dois Ao mesmo tempo o projeto de sisteshymatizaccedilatildeo de Lineu tinha uma dimensatildeo marcadamente deshymocraacutetica popularizando a pesquisa cientiacutefica de um modo sem precedentes Uneu como colocou um comentarista contemporacircneo acima de tudo um homem para o natildeoshyprofissional Seu sonho era que com seu meacutetodo nasse possiacutevel para qualquer um que o sistema dispor qualquer planta de qualquer lugar do mundo em sua classe e ordem corretas se natildeo em seu gecircshy

22 Citado em ibid p444

--_ __-----~ f)~)

---

~-

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

ii

I

1 j ~ j

J Ij I1

i I-

i ~~--shy

Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

r I

--------------t~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

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ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 12: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

---

~-

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -----------shy

ii

I

1 j ~ j

J Ij I1

i I-

i ~~--shy

Fig6 O sistema de Lineu para a identificaccedilatildeo dao plantas por meio de seus componentes de reproduccedilatildeo Esta ilustraccedilatildeo de Georg D Ehshyret surgiu pela primeira vez na eciccedilio Leielen ele 1736 elc ~ua SPecircshycies Plantarum

__~_6~_

ciecircncia_ consciecircncia planetaacuteria interiores ~_~_1______ c

11 narrativq Ide anticonquista na qual o naturdistl naturI ishyZ 4 p~oacutepria presenccedila mundial e l autoricLlde do burguts europeu EsLL narrativa nanlrllista mantcri um tnOrll1l forccedila ideoloacutegica por todo () seacuteculo XIX te lll1111lCC 11uishy

to presente hoje em clia entre noacutes O sistema lineano eacute apenas uma vertente cios eSCJlleshy

mas classificltoacuterios totalizadores que se aglutinall1 em melshycios do seacuteculoVIII na disciplina histoacuteria mturnl A verslo definitiva do sistema de Lineu surgiu paraJcLtl11cnte a obras igualmente ambiciosas como a Hiacutestoire No til clle c1e~ Buftol1 que comeccedilc)U a ser publicada ctn 1749 ou (lIlle de plantes (1763) ele Aclansun Mesmo que lstcs tlltorCS tc nhan1 proposto sistemas rivais com diferen~ls suhslmtias em relaccedilatildeo ao ele Lineu os debates entre eles perl11tIllshycerain baseados no projcto totalizante e cltssificlleiacuterio qUl c1istingtle este periacuteodo Tais esquemas constitulm C0l10 oi 1shy

serva Gunnar Eriksson estrateacutegias alternativas riLl t re~tlishyzaccedilatildeo de um projeto comum a toda a histoacuteria tlatural cio seshyculo XVIII a representaccedilatildeo fidedigna do plano d~l proacutepril naturez~21 Eil1 sua d8ssica anaacutelise do pensamento do seacutecushylo XVIII The _Order (f 17Jings (970) Miclll1 oucnilt eles

creve assim tal projeto Dada sua estruturl 1 grlndt vari(shy(ide de seres que ()lUPIl11 a superfiacutecie elc) glc)l)o pode SCIshyelistribuiacuteda tanto na sequumlecircncia de Ulml lingutgcl11 t1escriti1 quanto no campo de uma mathesis que POcleIia 1 illC1 S(Ishyuma ciecircncia geral da orelem Falando clt hist(lril nttur11 C01110 algo que processa uma descriccedilatildeo do -isiacutelJ 1 a ni lise de Foucault salienta () caraacuteter verbt1 c1l~il empls I

qual como afirma

lem comu cOllcliccedil(IO lil sua possihilidllk -I -Ifillltlacl dl (i e da lingulgem com a representaccedilatildeo 11 111 cilc- ell1l111

tarefa aplnI n1 i11ectilLI cm que as cois-I I pdITltl e(vjilll separalLts_ Deve portanto reduzir esta diliacutellCi1 CIltlC e 11( ishyforma a trazer a linguagem tatildeo proacutexima qUlnl(l jlos_sinl lll plshy

l -1_ Gunnar Irikss()1 -Tlic ilo(lnical SUll- (li 1illll(lI_S_ Tlll 1((1 I

Olganizatiol1 anci ]ulllicit LllI 13r(lb~lg UI) cll __ Jl (Uacute

25 Foucaut ()p- cll [11

tii

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

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ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

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sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 13: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

1ltlnnt5rh

Natildeo se encontrar que o conhecimento existe nacirco C(Jmo

fatos e isoladas ma a verbais e

EvidentemeJlite a empresa de suportes linguumliacutesticos Militas formas ele fala e leitura veicularam o conhecimento 11 (Sretl

criararne sustentaram seu valor A autoridade da ciecircncil csLIshy

va envolvida I mais diretamente nos textos clesniacutetivo como os incontaacuteveis

em torno das vaacuterias nomenclaturas e taxonoJ11ias Os rclall) jornaliacutesdcos e a narrativa de vieacutelgem contuclo eram res essenciais entre a rede cientiacutefica e o puacuteblico europeu mah amplo eram agentes centrais na legitima~Io da lLllUncb

Ide cientiacutefica e de seu projeto global ao lado de outlS forma de ler o mundo e habitaacute-lo Na segunda metade

I viajantes-cientistas haverian de desenvolver mas clediscurso que se distinguiam incisi1i1 1

qdc LaConchlmineacute hwia herdado n8 primeir Meu argumento eacute que a

um projeto europeu de novo tipo que se poderia chamar de consciecircncia

IPor trecircs conhecirnento tinham construiacutedo o em termos da projetos totalizadores ou planetaacuterios Um seriacuteltt ~l ccedilagraveo um feito duplo que consiste na mundo do relato escrito deste termo circunavegaccedilatildeo se refere tanto 8

Os europeus tinham repetido este feito que continuamente desde que primeira vez l1el deacutecada de 1520 O rio igualmente dependente da tinta e do mento do costeiro do mundo

estava em andamento durante o seacuteculo JI1II mas que se sabia ser

Europa como nas palavras de um editor de livros de viacuteiacuteshygem algo que se estendia ateacute os

ccediliecircncia e sentimento 1750-18QO ~~-__~_-----~~_~- _-~-

servaccedilocirces e as coisas observadas tagraveo perto quanto possiacutevel das palavras 6

Sendo um exerciacutecio natildeo apenas de correJaccedilagraveo mas tambeacutem de reduccedilatildeo a histoacuteria na~ural

1ltUl11S a aacuterea total do visiacutevel a um sistema de variaacuteveis valorlS podem ser designados se nagraveo por uma quantidade ao meno~ por uma descriccedilatildeo perfeitamehte clara e sePlpre finita Eacute portanto possiacutevel estabelecer o sistema de identidadc~ e a ordem das diferenccedilas existentes entre entidades naturais

Embora os historiadores naturais muitas vezes se conshysiderem engajados na descoberta dealgo jaacute exLltente (o pIashyno da natureza por exemplo) de um ponto de vista conshytemporacircneo seria antes questatildeo de um novo campo de vishysatildeo estar sendo constituiacutedo em toda a sua densidade

Se a histoacuteria natural foi inquestfonavelmente constituiacuteshyda dentro e por meio da linguagebrt foi tambeacutem um emshypreendimento que se concretizou em vaacuterios da vida material e social A crescente capacidide tecnoloacutegica da Eushyropa foi desafiada pela demanda por melhores meios de preshyservaccedilatildeo transporte exposiccedilatildeo e documentaccedilatildeo de C JCL shy

mes as especializaccedilotildees artiacutesticas do desenho em botacircnica e zoologia se desenvolveram tipoacutegraf~ls foram levados a aprishymorar a reproduccedilatildeo relojoeiros eram procurados para inventar e provera manutenccedilatildeo de instrumentos emshypregos foram criados para cientistas em expediccedilotildees coloniais e postos coloniais avanccedilados redes de patrociacutenio financiashyvam as viagens cientiacuteficas e os escritos subsequumlentes socieshydades amadoras e profissionais de todos os tipos proliferashyvam local nacional e internacionalmente as coleccedilotildees de hisshytoacuteria natural adquiriram e valor jardins botacircnicos tornaram-se espetaacuteculos puacuteblicos de larga e () trabalho de supervisionaacute-los transfofl1iacuteou-se no sonho do Jllturalista (Buffon veio a ser o mantenedor do jardim real

-t-~6 Ibid pJ32 27 Ibid 28 Ihid pl32

_~--~-

interiores

devotou sua vida JO SeU pr()[illCl

mais viacutevido comprov11

(Liacutetico como tl i icli de

emulvi

PJ llicl l

botacircnicos

ntt l1etlclt

uma nlt )v foI n

os supOltes europeus ce Jci11l de

Estes termos deram

uma COletiV1 que

Em 1704 era possiacutevel falar do

da terra onde vuacute

53

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

r I

--------------t~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 14: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentimento 1750-1800

rias de suas naccedilotildees mantinham possessotildeeEe colocircnias 29 A cirshycunavegaccedilatildeo e a cartografia entatildeo jaacute haviam ensejado aquilo que se poderia chamar de sujeito europeu mundial ou planeshytaacuterio Seus contornos satildeo esboccedilados com desenvoltura e liaridade por Daniel Defoe na passagem constante da primeishyra epiacutegrafe aeste capiacutetulo Como as palavras de Defoe deixam patente este sujeito histoacuterico mundial eacute europeu homem3uuml secular e letrado sua consciecircncia plall1etaacuteria eacute produto de seu contato com a cultura impressa infinitamente mais compleshytaili que as experiecircncias vivenciadas por marinheiros

A sistematizaccedilatildeo da naturezmiddot na segunda metade do seacuteculo havlt=ria de firmar ainda mais poderosamente a autoshyridade do prelo e assim tambeacutem da classe que o controlashyva Ela parece cristalizar imagens do mundo de tipo bastante diferente daquelas propiciadas pelas imagens anteriores de navegaccedilatildeo A histoacuteria natural mapeia natildeo a estreita faixa de uma determinada rota natildeo as linhas onde terra e aacutegua seenshycontram mas os conteuacutedos internos daquelas massas de terra e aacutegua cuja extensatildeo constitui a superfiacutecie do planeta Estes vastos conteuacutedos seriam conhecidos natildeo por meio de

1 bull

linhas finas sobre um papel em branco mas por representashyccedilotildees verbai que por sua vez satildeo condensadas em nomenshyclaturas ou por meio de grades rotuladas nas quais as entishydades satildeo inseridas A totalidade finita destas representaccedilotildees ou categorils constitui um mapeamento natildeo soacute de linhas costeiras ou rios mas de cada polegada quadrada ou messhymo cuacutebica da superfiacutecie terrestre A histoacuteria natural escrcshyveu Buffon em 1749

vista em toda a sua extensatildeo eacute uma Hiacutetoacuteria imensa encampanshydo todos os objetos que o Universo nos apresenta Esta prodigioshysa multiplicidade de Quadruacutepedes Paacutessaros Peixes Insetos Plantas Minerais etc oferece um vasto espetaacuteculo para a curloshy

t 29 Citado em Marshall e WilUams op cit p 48 30 Isto natildeo quer dizer evidentemente que natildeo havia mulheres naturrlshylistas - elas certamente existiam ainda que sua particiacutepaccedilatildeo na esfera profissional fosse limitada e qut natildeo estivcssem inicialmente entre os disshydpulos destacados para o desempenho de missltles no (middotxteri) Cf capiacutemiddot

I tulos 6 e 8 adiante para uma discussatildeo sobre lgllJ1lltlS mulheres escrishytoras de viagem em relaccedilatildeo agraves missotildees denriacuteficlsi

I

r I

--------------t~

ciecircncia consciecircncia planetaacuteria irlteriores ___middotmiddot__middot - ---~-

_W_~~

sidaele do espiacuterito humano sua toralidade lltlU grlIldl qUl PIshyrece ser e de fato eacute inexauriacutevel em todos os scu- (llahe~ middot

Ao lado deste uni verso totalizador ce o velho costume linJr() t nJvl~pacagraveo ele se espaccedilo~ ~m l)ranco dos In3pas com c1esenllOS icocircnicos dl curiosidades e perigos regionais arnazonlS no Amazonas

no Caribe camelos no Saar8 elefantes na Iacutendil bull 1assIm por

Damiddot mesma forma o mapeamento sistemaacutetico da

cstuacute correlacionado ~l crescente busca ele nxursos exploraacuteveis mercado terras para coloniacuteLlr tll1lo

quanto O mapeamento mariacutetima estaacute Ija~Hln 1 Drocur~l de m tas oomeacutelcio Diferentemente do gaccedilatildeo todavia a histoacuteria natural concebeu () mundu COlllO

um caos a partir do qual o cientista prodllzio Lima Oldem INatildeo portanto uma simples questatildeo de

do tal como tele era Para Aclanson (1763) o mundo n~ltural sem o concurso do olho ordenador do cientista seri1

mescla de seres que _ o ouro est~ mesclado com outm I1llld lOl

a pedra~ com a terra laacute 1 violera creSCe lado a Ildu OI1l UIll

valho Entre estas plantas tambeacutem vagueil () npshytil e o inseto os peixes satildeo fundidos dizer com () elemento aquoso no qual navegam e com as p[II1l1S que lIlCl11l

nas profundezas das aacuteguas Esta mescla eacute ddlll11Cnle 1[ l gene ralizada e multifacerada que parece ser um (11 (I nHllftZ1

Tal perspectiva pode lllluocidentais do final do

lS inlvrvCIlshyreza camo ecossistemas auto-reguladores qut ccedilocirces humanas levam ao GlOS A histoacuteria nltlJ icrvenccedilatildeo humana (principeacuteIlmcnte intclcltul cornpu~esse a (jp1Yl n ~istPlll~lS ai

XVllI

I I Citado cm (1) cil Ipmiddotl 2 52 Citado (111 (lelull 0 111 p 1-1

(Si)

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

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ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

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I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 15: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

apropriado no interior junto a seu

nome secular europeu O proacuteprio Lineu ao teve a seu creacutedito a introduccedilatildeo de

novos itens agraveD listagens Anaacutelises da histoacuteria natural tais como a de Foucault

nem sempre salientam as dimensotildees transformadoras e apropriadoras de sua concepccedilatildeo Uma a uma as formas de vida do planeta haveriam de ser extraiacutedas do emaranhado de seu ambiente e reagrupadas conforme os padrotildees europeus

global e ordem O olh1r (letrado masculino eushy-opeu) que empregasse o sistema poderia tornar familiar (naturalizar) novos lugaresnovas v jotildees imediatamente apoacutes deg contato por meio de sua incorporaccedilatildeo agrave linguagem do sistema As diferenccedilas de distacircncia satildeo eliminadas do quadf0 no que se referisse a mimqsas a Greacutecia seria indisshytinguiacutevel d Venezuela Aacutefrica OcidEntal ou Japatildeo o roacutetulo picos graniacuteticos poderia ser aplicado identicamente agrave Euromiddotmiddot pa Oriental aos Andes ou ao oeste americano Barbara StaEshyford menciona aquele que provavelmente eacute dos exemplos mais extremos dessa realocaccedilatildeo semacircntica global um tratashydo de 1789 escrito pelo autor alematildeo Samuel Vitte afim1ashyva que tojilS as piracircmides do mundo do Egito agraves Ameacutericas eram na verdade erupccedilotildees basaacutelticas3 O exemplo eacute ficativo pois evidencia o potencial do sistema de subsumir a histoacuteriacutea e a CUltUrd agrave natureza A histoacuteria natural natildeo apenas extraiacutea os e~peacutecimes de suas relaccedilotildees orgacircnicas e eO)lcgHas um com o outro mas tambeacutem de seus lugares nas economiddot mias histoacuterias sistemas simboacutelicos e sociais de outras popushylaccedilotildees Para La Condamine na deacutecada de 1740 antes que o proJeto classificatoacuterio tivesse se firmado deg saber dos naturashylistas coexistia com os mais valiacuteosos conhecimentos locais totando profeticamente que a diversidade de plantas e aacutermiddot vores no Amazonas encontraria

t33 B~~fford Voyage ino Subslance Clmbridge M L T Prcss 1987 plO

-

Iciecircncia consciecircncia planetaacuteria interiort~s

tos anos tanlo para () mais laborioso elos bOllnicos para mais d~ um desenhisteacutel ele prossegue uma digressatildeo que havena ele ser rraticarnlnlc nos meios cientiacuteficos nO final do seacuteculo

Mcryci()fJo ltlqui ltqJllleacutelS () trabalho pIIltl tlll1

CcedilJCcedilJ destas plantas lI dislriblliccedil~() elll cada UJ1U em sell lpropriado gecircnero e () 1111 1lIluacute riacutea se adiacutecio17armos a isso um exame das III(egt IIIrifmiacutedll3

eles pelos nat[uos do [Im exame que wIIlIacuteJi((llIIellle qZIje mais IIni a uossa CltellJIO UIII fl1IalClller aacutere 1111110

A rompeu plantas e animais onde quer

nuo tem

a natureza era uma imensa de ohietos n~l-passava em revista como um

Teve ele um precursor nesta firdul 55 Ao invocar a imagem clt inocecircncia

como muitos outros c()THntarist1S mto 1 ter-semiddotia ) CI por

bumanos especialmente os europeus aprtsenshywram desde () iniacutecio um problema para os sistCll1111ilcOmiddot

Adatildeo nomem e classificar a si I11SI 11()( J~m Gl~()

estaria o naturalista suplantando ])cus~ LiiacutelI jiacute saiacuteda parece ter res[1ondido afirmativamente 1 -st ql1l~~

tatildeo _ consta haver ele certa vez afirmado quJ DlUS hImiddotit que ele bisbilhotasse Seu gnhinete secreto

54 La Condamine op cit p37 os itaacutelicos satildeo mcmiddotl

55 LIacutelldroth up cil p2S36 Barba Linctwth num enlnciado enigmaacutetico CO1wrtc 1 inocll1cll um fato da mture7a sustentando que A d() Ilillo nlo donal de Vi1)W111 (no in]l cio seacuteculo XVII) vlll plrIl lO

cios eXrorlcores e do puacuteblico de retornnr lIlllt llrccI1S(( se J11iacutetic~ da Terra tll como poderia ter sido ou C0l10 fi dccnlwru que a consciacuteecircnci humana tivesse lell 1I1arecidomiddotmiddot 01) cU IH 11)

7 Commager 01middot di p7

(H i

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 16: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

shy

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Para grande desconforto de muitos inclusive do Papaele fInalmente incluiu as pessoas em sua classificaccedilatildeo dos anishymais (o roacutechlohomo sapiens eacute desuj- autoria) Suas de~criacuteshyccedilotildees contudo diferem daquelas de Qutras criaturas_ Inicialshymente Lincu colocou entre os quadfUacutepedes uma categoria isolada bomo (descrita apenas pEla frase conhece-te a ti mesmo) e traccedilou uma uacutenica distinccedil~o entre bomo sapiens e homo mcnstrosus Jaacute em 1758 o bomo sapiens havia sido classificado em seis variedades cujas principais caracteriacutestishycas satildeo sumariadas em seguida

a) Homem selvagem QuadfUacutepede b) Americano Cor de cobre coleacuterico espesso narinas largas semblante rude barba rala alegre livre Pinta-se com fina~ linhas vermelha Guia-se por costumes i

c) Europeu Claro sanguumliacuteneo muscuJosocabelo ~ouro castanho ondulado olhos azuis delicado perspicaz inentivo Coberto por vestes justas Governado por cJ) Asiaacutetico Escuro melancoacutelico curos severo orgulhoso cobiccediloso Coberto por vestimentas solshytas Governado por opiniotildees e) Mricano Negro fleumaacutetico relaxado Cabelos negros cresshypos pele acetinacJa nariz achatado laacutebios tuacutemidos engenhoso indoiente negligente Unta-se com gordura Gove nado pelo capricholI

Uma categoria final monstro incluiacutea anotildees e gantes (os gigantes da Patagocircnia ainda eram uma forte realidade) da mesma forma que os monstros como os eunucos A categorizaccedilatildeo cios humanos como se pode notar eacute explicitament~ comparativa Dificilmenshyte se poderia ter uma tentativa mais evidente de naturashylizar o mito da su[)erioridade europeacuteia Exceto monstros e homens selvagens tal classificaccedilatildeo pouco modificada em alguns dos textos escolares de hoje em dia

Evidentemente o mapeamento associado 1S navegshyccedilotildees tatribeacutern exerceu o poder de nomear De era 11lt

processo de nomear que os projetos e seacute combinavam no sentido em que os emissaacuterios rcivindlcl vam o rrtundo pelo batismo de marcos e for ficas com nomes eurocristagraveos Mas mesmo a 1111 eacute Ceacutei-ro qUl

o nomear da histoacuteria natural eacute mais dirctan1l11shyte transformador Ele extrai todas as coisas do recolocagrave numa nova estrutura de conhecimento pousk precis~amente naquilo que a distancia do CtOacutemiddot tico Aqb o nomear o representar e () reivindicar sito todos a nicsrna coisa o nomear daacute origem ~I realidack da mdem

De uma outra DerSDectiva contudo llIacutesluacuteia llatm1 i

nagraveo eacute Se vecirc a si mesma ela nagraveo exercerit qualquer unrxlCto no ou sohre O mundo A conversatildeo da natureza hlutl )ystenwnaturao seria um ato

1 middot I I trato a go que nao exercena shy certamente nagraveo sobre almls Em

navegador e o conquistador o coletor-ntturtlisw lln~l ishygura benigna frequumlentemente simpaacutetica podere clt transformaccedilatildeo se limitam aos contextos col11csticoraquo lo dirn ou da sagravela da lhe no proacuteximo capiacutetulo d figura do naturIiiI1 1l1l1 I

sua clt (011 lltC i menta assume Ispectos decididamente nuacutelt 1 ruacute [in 1 ei h L

por Lineu em sua proacutepria inugcli1 de ri(ln seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do linolauro

Neste pomo encontramos Ima cr il1()(Lll1C l

natildeo instauraria os naturalistas eram vistos como 1L~iitr( lt1S

raccedilocirccs comerciais exnansionistas da mente em troca de tes eles pnxluziam conhecimento conwrcialI1lcl1ll lltilioacutemiddot veL nrinciDalmcnte eJ hiacutest()ria natural iliilliacuteil 1I111 ill

)ecirc (I i

(i]

3H John G Burke The Wild MlIn~ lll1 Igtudley (~ Novak Ci cit pp266-7

_ --r~shy

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 17: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

~ ~-~

cjecircncia e sentimento 1750-1800

F Fig 7 Os quatro tipos antropomoacuterficqs da esquerda para a direiacuteta o trogJpdita o homem de cayda (1 saacutetiro e o pigmeu Veicushylado originltllmente em Anthropomorpha(l760)

lor e importacircncia de qualquumler paiacute pois eacute por esta fonte que podemos conhecer tudo o que de produzl9 Na introshyduccedilatildeo a um novo compecircndio de viagens em De Brosse louvou a nova possibilidade de se aumenll a ra com o novo mundo de enriquecer o velho mundo com toda a produccedilatildeo natural e toda a mercadoria utilizaacutevel do Novo 0 Em 1766 o resenhista de um livro de viagens esshycrito por um dos ahlOos de julgava as viagens dos homens de ciecircncia como superiores agravequelas dos homens de fortuna tanto em termos literaacuterios quanto comerciais

As pesquisas do naturalista em particular natildeo apenas lhe dagraveo prazer individual como sagraveo proveitosas para outros mente as investigaccedilotildees do botacircnico cujas descohertas e conquisshytas tecircm constantemente levado a consequumlecircncias das mais signifishycativas para ~ permuta e interese comercial de seu Mais que is~o o ceacutelebre Lineu ousa afirmar que o conhecill1fnto das

+-_--_ shyI 39 Adams op cit p310

40 Citado em Staffuumlrd op cit p22

70 1 ___ bullbull 0

~onsciecircncia planetaacuteria interiores

plantas constituiria o proacuteprio fundamento de toda eco1omi puacuteblica dado ser aquilo que alimenta vesre Ul11d

Ao mesmo tempo os interesses da ciecircncia lecirc cio CO11lr

cio eraamp cuiacutedadosamente mantidos separados I montadas em nome da ciecircncia como as de

Mares do Sul nos anos 1760 e 1770 freqiicnternel1tc nheclvmiddot cUacutelm a determinaccedilotildees secretas para que estivessem ~t(lnlas

i 1 oportunidades comerciais e a perigos potenciais O Llto cl

tais ordens haverem existido ainda secretas lIiclencia ~l dial~tic~ ideoloacutegica entre empreendimentos cie1tiacuteficos e merccediliais Por um lado o comeacutercio era visto em em relaccedilatildeo ao caraacuteter abnegado da ciecircncil Por outrlt aucshy

que ambos refletiam e muacutetuas Um comeacuterc~o bem ajustado afinnaltt Ander Spar~m3tO uITl pupilo qe Lineu tanto quanto a em geralsel fundamento na ciecircnciaao que esta por sua vez recebe apoio e deve sua extensatildeo ao

dizer que as perspectivas comerciais CO()Clshy

ram de forma argumentativa a ciecircncia no fllni lO cio interesmiddot se puacuteblico geral embora na verdade os dl l

tlrel11dos hli

1lt1shy

domiacutenio no que se refere a plant~li animais e n j shy

nerais embora natildeo a pessoas - os sistenus se de maneira idecircntica tanto agrave Europa como il Asia 1

41 Resenha de Vovages (md Ihve iH lhe Li]III Ie 111111 Iil

Monthly Revcw Nova StlIacutee 101 3) 17()6 ppf2 1 42 Anders Sparrlllil1 Voyage (i lhe capc li Cpoli lu

and 1 Rohinson 17W5 di

7

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 18: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

i I I

I t

ciacuteecircrlcia e sentimento 1750-1800 __bull__ ~middote_

agraves Ameacutericas A sistematizaccedilatildeo da natureza representa natildeo apenas um discurso sobre mundos natildeo europeus como veshynho discutiacutendo mas um discurso urbano mundos natildeo

um discurso burguecircs e letrado mundos natildeo e rurais Os sistemas da natureza eram

tanto no interior das fronteiras europeacuteias em seu exshyterior Os herborizadores estariam tatildeo na campestre d~ Escoacutecia ou do Sul da quanto no Amashyzonas ou na Aacutefrica meridional Na Europa a sistematizaccedilatildeo da natureza surgiu num momento erh que as relaccedilotildees entre centros urbanos e aacutereas rurais estavam mudando rapidashymente As burguesias urbanas comeccedilaram a intervir numa nova escala na economia agriacutecola procurando racionalizar o processo produtivo aumentar 0$ lucros intensificar a exshyploraccedilatildeo do trabalho camponecircs e administrar a produccedilatildeo de

limentos que os centros urbanos dependiam completashymente O movimento do fechamento de terras (enclosure movement)middot foi uma da~ incervenccedilotildees mais retishyrando camponeses da terra e lanccedilando-os nas cidades ou em comunidades de posseiros Comeccedilaram nesta eacutepoca as tentativas de se aperfeiccediloar cientificamente a criaccedilatildeo de anishymais domeacutesticos e colheitas H Qualquer forma de sociedade de subsistecircncia parecia tatildeo atrasada em comparaccedilatildeo a moshydelos que buscavam a formaccedilatildeo de excedentes de produshyccedilatildeo quanto carente de aperfeiccediloamento Em J750 o coshymentarista francecircs Duelos em suas Consideraccedilotildees sobre os castumes deste seacuteculo sustentava que cem milhas da capital estatildeo cem anos seu modo de p~nsar e agir uma visatildeo que tudiosos do Iluminismo constantemente reoroduzem sem queigttionar 44

Na medida em que se aprofundavam as diferenccedilas enshytre os modos de vida urbano e rural os camponeses euroshy

t-middot43 Para um estudo detalhado enfocando o seacuteculo XIX consulte-se Barshyriet Riacutetvo lhe Animal Estate Cambridge larvard U P 1987 44 Glt1y op cito Gay evidentemente IfabathQ dentro dl ideologb do Iluminismo sem questionar seriamente qlle o proacuteprio []lIIllIacutemiddot

nIacuteampmo encar(jU como seus avanccedilos

r---~--- --shy

~ consciecircncia nlanetiacuteria interiores

peus Pflssavam a ser conSlOeraoos samenlc 11 111 pouco nos primitivos que os habitantes do Amazol1~IS Da mcsJtl1 forma O sistema da natureza anulou formas camponcsls li cais de saber dentro da Europa exatamente como as ind

no exterior Sten Lindroth associa I lhordlgeJl1 doell

mental e totalizadora de Lineu COfn procedimentos dn bUI()shy

tr riaccedilatildeo na Europa conl1eClmellto sua popuumllaccedilagraveo do que os suecos um milhagraveo c meio

cidadatildeos suecos enim todos ele registrlltIacuteos nl CO]UIlIshy

estatiacutesticas adequadas como nascidos morto Glsat( doentes etc De fato os roacutetulos Iineanos COl110 gecircnero v

se assemelham notavelmente aos nomes l sohrem mes requeridos dos cidadatildeos - Lineu s rdert lOS n()nw~ geneacutericos como a oficial de noss1 IcruumlbliGl l)()t~lIllshycaoacute Ainda que a sistematiza catildeo da natureza tenhl nreced

do o advento da 5 forma

(liacuteneanos) e os princiacutepios que en-1C1 5 11

Padronizaccedilatildeo e produccedilatildeo em por deIacuteXadC1J sua marca na peccedilas sobresalentes para armas de fogo Outras advecircm da organizaccedilatildeo militar a qual exatamente por est eacutepoca comeccedilou a padronizar uniformes 1111IO)rls discipli shy

na e assim por diante Tais analogias tornam-se ainda mais sugestivas quanshy

do se leva em conta que a burocraciacutea e a Illilitarizacatildeo S80

os instrumentos centrais do imoeacuterio t o

-Ishy 5 Liacutendroll Oi (11 pl1 6 r(JllC~lUI oI (11 pllj I middot17 UnclrOlh 0) di pl0

na a ser assim ateacute os dias Ie

- e ta lez t

73

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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I

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ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

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9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 19: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

decircnda consciecircncia planetaacutelia nteriores ciecircncia e sentimento 1750-1800

pode imaginar o que haveria de tatildeo avanccedila elo no mo avanccedilado) mas como for houve efetivamente uml

ra enquanto vocecirc o lecirc - em Soweto e na margem ocidenshytaldo Jordatildeo pedras estatildeo sendo atiradas contra veiacuteculos

acumulaccedilatildeo Na esfera da cultura os muito~ ele cok~t blindados por povos subjugados e desarmados) Os estudos 1t ccediloes que foram montadas neste periacuteodo c1esenvulnr~1l11-Slacadecircmicos sobre o Iluminismo resolutamente eurocentrashy~middotu

r em partecirc como a imagem dessa acumulaccedilatildeo e C0ll10 SU~I kshydos tecircm frequumlentemente negligenciado o papel dos agresshy gitimaccedilatildeo A sistematizaccedilatildeo da naureza leud esr~l clt

como modelo inspiraccedilatildeo e base de testes para formas de sivos empreendimentos coloniais e comerciais europeus

I acumulaccedilatildeo a um extremo totalizante e ao IllC311 temj1( disciplina social que re-importadas pela Europa no seacuteculo molda ccedilLcaraacuteter extrativo e transformador do lismo il XVIII foram adaptadas para a constrlccedilatildeo da ordem burgueshy clustrial e os mecanismos de ordenaccedilatildeo que estlvlill COl1e

a sociedade urbana de missamiddotmiddot 111sa A sistematizaccedilatildeo da natureza coincide com o apogeu do~ I a hegemonia burguesa Como construto j(

uma imagem do mundo apropriada e nutiLlda a 1 1 traacutefico de escravos o sistema de plantatiol1s o genociacutedio I colonial ga Ameacuterica do Norte e na Aacutefrica do Sul as rebeshy

I liotildees de escravos nos Andes Caribe Ameacuterica do Norte e tir ele uma perspectiva europeacuteia unificada Tanto na Europa quanto nas frentes externas de expallshynoutras partes Eacute possiacutevel reverter a direccedilatildeo do olhar lineashy

S~10 esta prodUCcedil~IO de conhecimellto n~tO express1 COHXOcircCSno ou daquele do viajante de Defoe de forma a se obsershyCOm relaccediloes mutaacuteveis trabalho ou de rroprieclade ouvar a Europa a partir da fronteira imperial Neste caso surshycom aspiraccedilotildecgts territoriais Este contudo eacute Unl aspecto coshygem outras formas iluministas de padronizaccedilatildeo burocracia mentado indiretamente por teorias contemporagraveneas sobre 1e normalizaccedilatildeo Pois o que seriam o traacutetico de escravos e o estrutura do Estado mcderno O Estado sustenta Nicos Poushysistema de plantations se natildeo maciccedilos experimentos em enshylantzas sempre se retrata numa imagem topoloacutegica ele extshygenharia social e disciplina produccedilatildeo em seacuterie a sistematishyrioridade como se estivesse separado da economil Eozaccedilatildeo davicla humana a padronizaccedilatildeo de pessoas Experishyquanto objeto epistemoloacutegico o Estado eacute concebido como seshymentos estes que se mostraram mais rentaacuteveis do que jamais tivesse fronteiras imutaacuteveis fixadas por meio ele sua excuuacutelgtsonhado por qualquer europeu (A riqueza que fomentou a dos domiacutenios atemporais da economia QU~Il1c1() oRevoluccedilatildeo Francesa foi criada em Santo Domingo que dushyda expansatildeo europeacuteia volta-se para as aacutereas continentais af~1sshyrante os ano) 1760 era o lugar ateacute entatildeo mais produtivo da tadas da costa pard a abertura das interiores taisTerra) A agricultura baseada em ptantatiacuteons se constitui clashyconcepccedilotildees estaratildeo tanto dentro da ramente num elemento crucial para a Revoluccedilatildeo Industrial em suas frentes de expansatildeo Os capiacutetulos a analbaroe a mecanizaccedilatildeo da produccedilatildeo E similarmente mesmo no mais aprofundadamente como tais iniacutecio do seacuteculo XVII natildeo havia burocracias semelhantes agraves elas e displltaclas na literatura de viagem r de

~ burocracias coloniais para as quais a Espanha forneceu um

~ sofisticado exemplo 1 )

Historiadores econocircmicos por vezes rotulam os anos 1500-1800 como periacuteodo de acumulaccedilatildeo primitiva no

1 qual por meio da escravidatildeo e monopoacutelios protegidos pelo e~tado as burguesias europeacuteias foram capazes de acumular

~ o capital necessaacuterio para desencadear a Revoluccedilatildeo Indusshytrial Pode-se na verdade pensar sobre o que haveria d~ S Nicos Poulantzit) - SItUe POlue SucialislI1 LOI1CIn c(J 1()8 P j shy

(ed bras () Etado u p(Jde~ o socialismo Rio iacuteIIltgtiro (Jd 1)1il)tatildeo prlmitivo nesta acumulaccedilatildeo (da mesma formt como se

7fi gt 1771~__-__----+shy

I

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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I

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ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

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I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 20: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

___rJtJ2it1Jlo

ordfordfIf_ordf-pdo a anticonquista

por ycze as luwri(adls da o principal de escrlvos

Lltilizaclo COacuteI110 um tipo de hordel

Cunin et alii AfriclIl I liI11) (F)-iJ

des~ls de diacutesrlllhki l dciordC1l1 PIII

observar oSIeiacutelorccedilos da eacutep(~ccedila envidldos por drioi co nlzadores para aperfeiccediloar os animaio dom(licos do

(George M Thea I - A Hislm)

-l shyo capiacutetulo anterior apresentou l

eulOpcU detecentista dl natureza como um

L O material sobre a histoacuteriu su-lfriacutec8neacutel foi extraiacutedo dls scgllillll 1(111

tes Chinweizu 7he 1171S anti lhe Resl ()f U~ I17bile I)redlols 3Iock l)ers emd the AfriacuteCClll Elite New York Vimage Ihillp ClIIlin )[cIln

Feierrnan Leonard Thompson e ]an vmsina - Aiacutei((I1 Litde Brown 1978 especialmente cecirclniulos 9 l 10 1) K

The Coloniallmpires A London Macnlillan 1982 ediccedilagraveo 19(5) Vernon Forlws- Ijolle

Travellers ofSmllb Africa A GeographicJ COmnlCII(IIT II)(JI [ollhs

coreis OJseruaiuJs mui Opinlorls of Trclleler ( Ibe (Ii( 1 C)()_

Cape Town A A Boekerna 19(i) Mtry Gunn ( L I (n(lel Iotlllic II

Bxploratien AJriacuteca Cape Town A A Bockcilli J C(Jtp M Theal- lfi5Ory cmd (lAiiacuteCCl S()iIb (1111)(11 ()h fi e lI (Heacute 179) Iondon AJleIl amp Unwill IH) cldiltt lltIH)

1lrica ] 795 Capetown Strtliacutelc 11

77 vmiddotmiddot

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

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I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 21: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

~~1~Aacutegt- _ _-_-J1hili

-~-~__

ciecircnciaacute e sentimento 1750-1800

truccedilatildeo do conhecimento que criou um novotipo de consshyciecircncia plane~aacuteria eurocecircntrica Cobrindo a superfiacutecie do globo ela enquadrou plantas e animais enquanto entidades discretas em termos visuais subsurpindo-as e realocando-as numa ordem de feitura europeacuteia finita e totaliacutezante Talvez devecircssemos ser mais precisos no tocante agrave nomenclatura empregada europeacuteia nesta acepccedilatildeo se refere antes de tudo a uma rede de europeus alfabetizados do nOite prinshycipalmente homens dos niacuteveis mais baixos da aristocraccedilia eacute

da meacutedia e alta burguesia NatureLJa significa antes de tudo regiotildees e ecossiscemas que natildeo eram dominados por euroshypeus emb()ra incluindo muitas regiotildees da entidade geograacuteshyfica conhecida como Europa

O projeto da histoacuteria natural determinou vaacuterios tipos de praacuteticas senatildenticas e sociais e dentre elas a viagem e o relato de viacuteagemestavam entre asmas virais Para os objeshytivos deste livrlti) o que tem relevoessencial eacute a interligaccedilatildeo entre a histoacuteria natural eo expansionismo poliacutetico e econocircshymico europeu Como sugeri acima a histoacuteria natural defendeu uma autoridade urbana letrada e masculina sobre tcdo o planeta ela elaborou um entendimento racionalizashydor extrativo dissociativo que suprimiu as relaccedilotildees fundomiddot riais experienciais entre as pessoas plantas e animais Sob estes aspectos ela prefigura uma certa forma de hegemonia global especialmente aquela baseada na po~sessagraveo de terras e recursos e nagraveo sobre o controle de rotas Concomitanteshymente enquanto paradigma descritivo este sistema da natushyreza eacute em si) e assim se julga uma apropriaccedilatildeo elo planeta totalmente benigna e abstrata Natildeo reivindicando qualquer potencial transformador ela diferia radicalmente de articulashyccedilotildees imperiais expliacutecitas de conquista conversatildeo apropriashyccedilatildeo territorial e escravizaccedilatildeo O sistma criou como sugeri anteriormente uma visagraveo utoacutepica e inocente ela autoridaele mundial europeacuteia agrave qual me referi como uma anticonquiacutesshyta O termo pretende enfatizar o significado 1-eiaciacuteonal ela histoacuteria naturl a extensatildeo em que ele se tornou significatishyvo especialmente em contraste com uma presenccedila expltJn- sionista europeacuteia a princiacutepio imoerial e

78

narrando a anticonquiacutesll ~~-~_-~-

O presente capiacutetulo procuraraacute ilustrar mais concretamiddot mente 9 impacto da histoacuteria natural e da ciecircncia mundial soshybre o relato viageacute]m Por meio ele um conjunto de exemshyplos pretendo expor como a hist6ria natural forneceu meios para a narraccedilatildeo de viagens internas e de que visavam natildeo a descoherta de novas rolltlS (e comeacutercio e simvigilacircncia territorial apropriaccedilatildeo de recursOs ( contro le administrativo Pretende-se que esta discussatildeo scjJ lida em conjunccedilatildeo com dois capiacutetulos subsequumlentes que abormiddot damo relato de viagem sentimental a OLltrl fornu de anticonquista neste periacuteodo Sustento que na literlturltl de viagem ciecircncia e sentimento codificam a frorrcira rial nas dua(i linguagens eternamente rnnflilLlntes e mentares da subiacuteetividade burguesa

No que se segue examino a sequumlecircncia de Clllttro lishyvros de viagem norte-europeus sobre a Aacutefrica escritos ao longo do seacuteculo XVIII incluindo o que tenho chamado de o divisor de aacuteguas ineano A situaccediluumlo atuol do Cabo da Boa Esperanccedila (Alemanha 1719) ele Peter Kolb Viagem ao Caho da Boa lsperanccedila (ueacutecia 177) de Pnders Sparrmatl Voyages in lhe land 1 lhe Flollenlols

and the Kalfirs (Viagens na terra dos bOfnoles e dos Aacute(I

(Gratilde-Bretanha 1789) de WiIliam PaterSOl1 c hamiddotc thelnterior (ISouthern Arica (Viagens (f() inlerio)

AacuteJica meridiona) (Gratilde-Bretanha 180n de lo1n HUTO

meta aqui natildeo eacute a de reenhar a extensa de viagem sobre a Aacutefrica Ylpldional neste vecircs disso selecionei quatro textos que ilustra 111 exempl~l rshymente o impacto discursivo ela histoacuteria natural e da l1()cl

consciecircncia planetaacuteria (Uma exemplo contrastante lO

relato de viagem ela Aacutefriacuteca meridional eacute abordado no ximo capiacutetulo) Minhas observaccedilotildees coincidem elll vuj(lS

aspectos com as de J M Coetzee em seu de Vhite Writing On the Culture of Letters in SOllb

(Bscrita Branca sobre a cultua letrada (( do SIf) Os capiacutetulos iniciais deste livro valioso se concentram rCJjshytemente nos relatos de iagem dos seacuteculos AgraverVIl t )VI i I na iacute~f1Iacuteca do Sld incluindo (]cles lttllWlCS

7~ I

---- ~

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

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I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 22: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

I

r ~

ciecircncia e sentimento 1750-1800gtI -- shyt1middot

aqui Coetzee prossegue pejo exame de como a probleshy

l maacutetica europeacuteia da representaccedilatildeo persiste na literatura dos seacuteculos XIX e XX na Aacutefrica do Sul da mesma forma que tentei fazer para o caso da Ameacuterica espanhola no cashyiacute

J ~ piacutetulo 7 iacuteI A literatura sobre o Cabo da Boa Esperanccedila eacute partishy

cularmente feacutertil para o estudo das transformaccedilotildees discurshyfii~ sivas no relato de viagem pois o Cabo foi um lugar onde a viagem cientiacutefica o impulso de expansatildeo para o interior f

ibull e as instaacuteveis relaccedilotildees de contato que estes engendraram atuaram conspiacutecua e dramaticamente A grande era da viagem cientiacutefica estaacute usualmente associada agraves expediccedilotildees de Cook Bougainville e outros aos mares do sul inicialshymente organizadas proacuteximo agrave passagem de Vecircnus meridiano em 1768 Estas mariacutetimas efetivashymente inauguraram a era da cientiacutefica e do relato de viagem cientiacutefico Mas ao tempo elas marcaram um fim o da uacuteltima grande fase da navegaccedilatildeo de explorashyccedilatildeo europeacuteia Cook descobriu e mapeou a costa do continente natildeo cartografqdo - a Austraacutelia De certa forma preparou o cenaacuterio para a i10va fase da exploraccedilatildeo de tershyra firme O Cabo da Boa Esperanccedila foi um dos poucos lushygares na iJrica em que europeus do norte tiveram acesso ao interior continental Era um iacutematilde tanto para colonos como para exploradores ansiosos deixar suas marcas Era um lugar onde a colonizaccedilatildeo do interior entrou em conflishyto aberto C01T o mercantilismo de base mariacutetima e onde a competiccedilatildeo entre as europeacuteias concretizava-se em guenas Nas primeiras deacutecadas do seacuteculo XIX enquanto a expansatildeo para o interior prosseguia a Aacutefrica meridional tambeacutem haveria se tornar um posto de teste canocircnico para a nissagraveo civilizatoacuteria nos trabalhos da London Missioshynary Society (Sociedade Missionaacuteria Londrina) e

pela

de sua inshycontrolaacutevel estrela David

Fundada em dias Orientais como um porto de suprimento para navios coshymerciais a Colocircnia do Cabo provou ser um ponto de vital para os mais variados viajantes europeus A populaccedilatildeo

~~----shy -------tsect-ordm-shy

a anuconqwlLa ____------- shy ~_0 _____~ bullbull

ros supria os navios com Vulneraacutevel a e dependente ela pecuarista a de carne fresca a curou inicialmente minimizar sua inserccedilatildeo n~l ploraccedilatilde9 cio trabalho aboriacutegene Uma propOSllt ele ]6)4 par~1 que ~e empreendesse a escravizaccedilatildeo dos khoikhoi foi da assim foram procurados escravos de iniacutecio na AacuteLica Ocishydental e posteriormente na Malaacutesia e CeiLlo Apeslr disso I)

cont1ito l de fronteira foi imediato e constante (o primeiro ~tSshysassinato inter-racial registrado ocorreu em 1653) e inlensili shycou-se bastante na deacutecada de 1670 agrave medida que a CXjXlIl

satildeo avanccedilava para o interior anos depois da fundaccedilatildeo da Colocircnia do Cab()

Ul1J)WHlil Holandesa das Iacutendias Orienteacutelis td111itiu relu-o estatuto de cidaclagraveos livres ou Li

a uma parcela ela pCI shy

que tomassem terras de cultivo e IXlstagcl11 ele Esta nnnlllac1D de colonos inshy

nheiros aportados mulheres africanas ou (Ateacute 1685 natildeo havia proibiccedilotildees em relaccedilatildeo ao casamento ter-racial neste ano o casamento entre europeus e africanos foi proscrito mas natildeo aquele entre europeus e Em 1689 o nuacutemero dos colonos foi substancialmente aumentashydo por 150 dissidentes huguenotes holandeses que trouxeshyram consigo a Igreja Holandesa Reformada Em 1699 t poshy

2 Optei peb utilizaccedilatildeo da nomenclatura empreglda flor Cunin e alii (consulte-se nota 1) que se refere aos povos afriGll10S pelos 110l1WS de origem indiacutegena e nao pelas nomenclaturas coloniais llrDpCgtias gtssim

natildeo ser em citaccedilotildees as pessoas a qLe a literatum I lopeacutei1 Chll11[ Iv hotentotes S~IO aqui meOCi()I11dls como khoikl()[ ilS 1)()sllliacuteml[i seruumlo citados (orno lkung I kaffirs serlo cWI1IIt()i ell llgllni [11 maior parte das vezes [) termo tradicional bocircer foi sulltituido pell C--

pressatildeo ceJl1teniporfine1 africacircnder

8

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 23: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentimento 1750-1800 -+shy

produtor de ouro conhecido pulaccedil-lo de cidadatildeos livres (bocircer) ~ncestrais dos atuais afrishy XV1I um impeno

de Peter Kolb 111

publicado em alematildeo em 1 para o mantendo-se

tade do do para o Cabo em 1706 por um

Ainda que sua

Clt1

difere

do no vale do Zambed

conhecidos C0111

tapa (Cunin e aUi op ci capiacutetulo 9) leter KoIb (ou Kolben)

voiacute I traduCcedillo para reeditado P(X ~ew

como Monomotapa aparentado com o Eldorado por tanto cacircnderes era de pouco mais de 1000 homens e procurado nas Ameacutericas Nacirco se acredita cdanccedilas possuindo uma quantidade ~atildeo espedfiacutecada de esshy

I primeiras expediccedilotildees tenharr alcanccedilado qualquer descobc cravos Um seacutepllo mais tarde era)11 17000 com mais de ta de valor nem produzido na era da narrativa ele navegamiddot26000 escravo~ Hoje satildeo dois milh6esl

livros de viagem Natildeo foi senacirco apoacutes o iniacutecio do seacutecu-O da sociedade agro-pastoril africacircnder de lo XVIII que a literatura europeacuteia sobre fi mermiddotliona]- e a corrente guerra de raccedilas sul-afticana - jaacute estava definishyrealmente surgiu sendo A situaccedilatildeo atual do Cabo da JJodo por volta de 1700 A prisatildeo da Ilha de Robben onde Nelshy

de seus primeiros cmiddotson Mandela e os fundadores do Congresso Nacional no foram mantidos durante a deacutecada de 60 foi constmiacutecla em 1657 para hotentotes que assaltassem ou roubassem um cidtdatildeo4 Basiacutecamente fora do control~ da administraccedilatildeo da CompanhIa e frequumlentemente em choque com os interesses _peter kolb e a defesa dos hotentotes uacuteesta a sociedade de cidadatildeos se desenvolveu de acordo com suas proacuteprias linhas de expansatildeo forccedilando seu caminho para o interior usualmente conflito e circunsshy o livro de Kolb foi trshytancialmente em alianccedila com a lideranccedila autoacutectone khoishy holandecircs (1721) (1731) e khoi Apoiaciospor cavalos (cuja posse era por vetada como uma das principais fontes imshyaos indiacutegenas africanos) armas de fogo (que por lei os coshy pressas sobre a Aacutefrica meridional ao longo da primeirZl meshylonos europeus eram obrigados a ter) epor alianccedilas estrateacuteshy ( Matemaacutetico de formaccedilatildeo fora 111lt1nell gicas com gnpos rivais os europeus gradualmente rpnl patrono prussiano par1 jaram o poder indiacutegena desmantelando estmturas soacutecio-ecoshy pesquisa astronocircmica e nocircmicas locais Epidemias de variacuteola em 1713 1755 e 1767 missatildeo fosse cientiacuteficl o tdato d enfraqueceram a posiccedilatildeo aboriacutegene Gradualmente os khoishy do mesmo modo que o ele La Concbmine n1 I1llr i

khoi ficaram cada vez mais restritos ao papel de trabalhadoshy do Sul nagraveo o foi Seu livro COml) o de La Condamitw res de subsistecircncia pastoreando o gado bocircer ao inveacutes do em vaacuterios aspectos daqueles escritos do outro ac l( seu proacuteprio Por volta de 1778 o novo governador Von PIatshy das linhas definidas por Lineu Ele se concentra tenburg relatou natildeo ter encontrado comunidades autocircnomas na Colocircnia do Cabo O que natildeo quer dizer evishydentemente que a sociedade local e a resistecircncia autoacutectone i Verificou-se afinal que MOlornotapa era um IUlr rlal 1llt111

eacuteculos XIWe~XIV um grm1(le estado minerlclr de um lagrave colonizaccedilatildeo tenham acabado ambas continuaram em pelos hiswriadores modernos de Grande ZimbII1c 1Iiacute c middotU1(Jiacuted(

formas que discutirei mais extensamente entndo em longo conilitn t()m

Desde sua chegada os europeus no Cabo montavam il cara do metal nos seacuteculus XVI e XVII entrando [DI lllllc1I11

ca em decliacutenio Seus rernaJl(~centes relgrllptrltlt1l-~V middottlv lk lIlll Iperiodicamente expediccedilotildees para a exploraccedilatildeo do interior afluentes do Zambezi onde tambeacutem bVrlvt1ll ouro CllS dirigLldcUm dos primeiros objetos de tiacutepico do seacuteculo

Mwenc Murara de onde veio

lhe lresell Sate ltIi (fI)(

o inglecircs de Mr Medley LLJ11l1on tmiddot- C~rtin et ait op cit p295 York johnson Heprint Corporlllilt 114 Theal op cit vol m reimpressatildeo de 1964 p68

L ()182

---~- ~_

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 24: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

da ediccedilatildeo francesa de A silllil~acircu 1I1IIal do Ccl) Boa Espemnccedilu du cap de BOll11C-HjJ(IilIICC Am~tLr

dam Jean Camffe 1741) Peter Kolb A Histoacuteria di prcpara-e para escrever lquilo que lhe cia que S~ apresenta J ci mesma com ua vIsa Renan Iilfagiacutestm No pInO de fundo Boa Esperanccedila e sobre uma nuvem a dia Oriental sutentael oclu tleus do Comeacutercio

llJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800 1--- ------------~ ~-

mente como a paacutegina-tiacutetulo alertas6bre Uma AVALL4CcedilAtildeO Palticular das vaacuterias NACcedilOtildehS doacutesHIQ7ENTOTES Suamiddot Reliacuteshygiatildeo Governo Leis Costumes Cedmotildenias e Opiniotildees Sua Arte de Guerra Profissotildees Linguagem Caraacuteter ampc conjunshytamente a Uma Pequena AVALL4CcedilAtildeO da COLOcircNIA HOLANshyDESA no CIBO A narrativa de Kolbconsiste especialmenshyte em uma descriccedilatildeo etnograacutefica viacutevida da sociedade e de formas de vida khoikhoi no moddltradidonal de descriccedilatildeo de maneir~~ e costumes Mesmo qule S(lJ relato seja baseashydo no que Kolb descreve como anos de contato com grushypos muito diferentes de hotentotes este contato em si natildeo eacute relatado nem b satildeo as viagens de Kolb ao interior Kolb estava escrevendo antes que paradigmas narrativos para as VIagens e exploraccedilotildees no interiorefl1ergissem nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo Em 1719 os paradigmas de navegaccedilatildeo ainda persistiam a uacutenica parte de sua experiecircncia que Kolb apreselta como narraccedilatildeo eacute a sua viag~m de seis meses em direccedilatildeo ao Cabo Mantidas as conveqccedilotildees da narrativa de navegaccedilatildeo g viagem eacute contada comoluma perfeita histoacuteria de sobrevivecircncia com tempestades doenccedila aacutegua salobra e ameaccedila de ataque em alto-mar

Como previsto por seu tiacutetulo a narrativa de Kolb inshyclui capiacutetulos sobre as formas khoikhoi de governo religiatildeo cerimocircnias economia domeacutestica gerenciamento do gado medicina e assim por diante Eacute faacutecil admitir a vivacidade da descriccedilatildeo mas natildeo eacute tatildeo simples subscrever sua precisatildeo Kolb afirma que assumiu a Regra de jamais acreditar em qualquer Coisa que natildeo tenha visto dentre aquelas que se possam ver mas justlmente na sentenccedila seguinte ele susshytenta ter visto que Negros nascem Brancos e soacute mudam de cor vaacuterios dias mais tarde7 No entanto seu relato eacute inegavelshymente a mais substantiva fonte sobre a populaccedilatildeo indiacutegena do Cabo no periacuteodo considerado Citemos uma passagem rcmiddot presentativa para mostrar algo do sabor de sua escrita

tmiddot~ Ibid ~~-bull NT Aqui como em outr0s pontos do texto proclllci manter a transshycriccedilatildeo original das maiuacutesculas e do itaacutelico

j I WilJ Ir--middotmiddot __-_ ~

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

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foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

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I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

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  • mari
Page 25: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

e sentimento 1750-1800-__-

Para a preparaccedilatildeo da Manteiga ellls usam em Lugar de uma Bashytedeira umaPele de Animal Sclvagem disposta na Forma de um SJco a Paitf com Pelos no Interior Neste Saco eles derramam o Leite o bastante para enchecirc-lo pela metade Eles entatildeo amarram o Saco middote duacuteas Pessoas Homens ou Mulheres segurando um numa Ponta outro na Outra sacodem o Leite animadamente para frent~~para traacutes ateacute que ele se transforme m Manteiga Eleacutes entatildeo acirc colocam em Potes para untar seus Corpos e E~tanshydartes agraveup~m vendecirc-Ia para os Europeus pois os Hotentotes a

t menos que a Serviccedilo dos Europeusnagraveo comem Manteiga I

A uacuteltima sentenccedila eacute significativa pois coloca os Eushyropeus na mesma estrutura que os Hotentotes num de interaccedilatildeo diaacuteria que se processa toclo o tempo em zonas de contato Tal interaccedilatildeo teraacute pouca expressatildeo nos autores subsequumlentes Abbservaccedilatildeo de Kblb sobre a manteiga reshyverte a Oacutesual do intercacircmbi6 e valores culturais eurocoloniais Encontramos aqui OSI europeus consumindo um alimento ql~os africanos rejeitam como natildeo comestiacuteshyvel osmiddote1lropeuSmiddoteacutestatildeo comprando um produto manufaturashydo dds~frican6secte natildeo o vendendo para eles Quem seriam os baacuterbacirc~os q~em os civilizados Quem seria o mercado quem os inercadores II

Pode-se provavelmente atribuirtLIacutes manipulaccedilotildees de perspectiva ao polecircmico intento de Kolb de resgatar os khoi dos estereoacutetipos negativos estabelecidos por autores precedentes Kolb ataca seus antecessores por sua Irresponshysabilidade e Precipitaccedilatildeo nas Caracterizaccedilotildees que fizeram dos Hotentotes cujas Memes e Maneiras embora bastante vis natildeo satildeo tatildeo vis quanto as descreveram9 Com um humanismo natildeo encontrado em escritores ulteriores Kolb manteacutem que os hotentotes satildeo acima de tudo seres culturais Ecirc incisivamente criacutetico em relaccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees segundo as quais lhes faltaria a capacidade para a crenccedila reshyligiosa afirmaccedilotildees evidentemente sustentadas por escritores cristatildeos que procuravam uma explicaccedilatildeo para a total falecircnshy

8 Ibid pln 9 Ibid p37

~-~--~

narrando a anticonquista ---~ - _~

da da accedilatildeo missionaacuteria no Cabo Em sua reacuteplica 10111 enf~ishytiza a profundidade cio com~)fomisso dos khoikhoi J SlIi proacutepria religiatildeo - em outras palavras insiste em que eles clvshyvem ser compreendidos pelos europeus em termos idecircntico aos qlccedil os europeus entendem a si mesmos Sem negl a lshy

pugnacircncia ql1e muitas dos khoikhoi suscitavam 1(

eurQpeus rejeita de diferenls lSSli1lIacute1Iacute Cjll tornagravem natural para os europeus com os arriem( )

I l

de formas diferentes aue mantecircm entre si A passlgem transhyde mantcigl por

prossegJe com a condenaccedilatildeo ga vileza do prOlluto l I

imunsiqs condiCcedilJOtildees em que e elaborado - mas o segufntccedil condena igualmente os europeus que o COIllIXUl1

em graQdes quantidades Estranhos e freqCtcl1tvll1lnll Jlpul sivos os khoikhoi conforme o retrlt1to fomtciacuteclo por Kolh

nagraveo sacirco um povo conquistado nem ele advogl SUl ce)1e]llbshyta Na terdade quando descreve as relaccedilocirces que mantem comoscolonos holandeses tragraveccedila uma imagem idealizada de

duas que apoacutes iniciclis estaheleceram o mais solene Compromisso de natildeo mais gLlerre~lrem ma

eXlstirem como uma Confederaccedilatildeo ( ccfe1(ilnll1~l

contra inimigos comuns manter sua perspectiva interativ jCIlto (Ie Kolliacute

em com notavelmente c1ialoacutegica Os indiviacuteduos klloiacutekhoiacute SIC) Iml

vezes citados (emJoJltl em sua proacuterna 11) ou j(

preseltados t~lando por si mesmos em reSp()~Il is qlllSICl do autor sobre suas e costumes ele bto Kolh rcvdl uma fascinaccedilatildeo particular pelas dentro da zona de contato Logo no iniacutecio ele seu texto eshyplicita o que se poderia chamar de uma perspectia de C(liacute

tato por meio de uma extensa histoacuteria sohn um ttlentosl empresaacuterio khoikhoiacute chamado Claas que se tornoll um in termediaacuterio entre europeus e habitantes indiacutegelJas caSU1 mente entrando em conflito com ambos Uml outrl histoacuteri1 inicial discorre sohre um menino criado por holandeses l

mandado para () exterior que retornou para lm(shymente agrave sociedade aboriacutegene

Eacute na insistecircncia cle Kolb sobre a COllKl1illUhili(bde (b~

87

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

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  • mari
Page 26: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentimento 1750-1800

sociedades khOlkhoi e europeacuteia que reside a limitaccedilatildeo de sua abordagem Sua estrateacutegia para a defesa dos khoikhoi natildeo consiste em mostrar que eles satildeo iguais aos europeus ele natildeo acredita) mas em mostrar que satildeo genuiacutenos seres anshytropoloacutegicos em termos europeus Contrariamente agraves afirmashyccedilotildees de seus detratores eles efetivamente podem ser descrishytos com base no completo arsenal deccedilategorias com o qual os europeus Cltlracterizam outras sociedades como reais e hushymanas religiotildees governo leis profissotildees etc - o cataacutelogo inshytegraldo tiacutetulo de Kolb Estas satildeo tambeacutem as categorias por meio das quais os europeus definem e avaliam a si mesmos e se comparam com outros A defesa dos khoikhoi por Kolb implica obviamente em assimilaacute-los a paradigmas culturais eushyropeus As diferenccedilas que extrapolamos paradigmas satildeo inashycessiacuteveis ao discyrso ou podem ser expressas apenas como ausecircncias e lacunas Tanto assim que como J M Coetzee sushygere as mais fwdamentais diferenccedilas entre a sociedade khoishykhoi e a europeacuteiagravepodem estar mais claramente presentes emshybor de forma p~rversa no discurso de seus detratores Coetshyzee atribuiacute a generalizada vilificcedilaccedilatildeo dos hotentotes nos esshycritos dos europeacuteus dos seacuteculos XVII e XVIII agrave frustraccedilatildeo pelo fracasso dos khoIacutekhoi em correspo1-d~r a expectativas antroshypoloacutegicas e econocircmicas Desde seu primeiro contato com o Cabo como documentado por Coetzee os europeus incesshysantemente critiCltlram os hotentotes por sua indolecircncia e preshyguiccedila - ou seja seu fracasso em (ou resistecircncia a) responder agrave oportunidade de (demanda por) trabalho em troca de reshycompensa material O que falta segundo Coetzee seria o reshyconhecimento dos valores internos da sociedade khoikhoi e de sua forma~ de vida voltadas para a subsistecircncia O moshymento em que o viajante-escritor condena o hotentote por natildeo fazer nada marca o instante em que o hotentote o coloshyca frerte agrave frente (caso ele admita isso) com os limites de sua

i 10 J M Coetzee - White Writing On the CUfure ofLetters in South ifrimiddot ca New Haven Yale U P 1988 p 32 Coetzee tambeacutem parece aqui se chocar contra os llmites de sua proacutepria estrutura conceitual A visatildeo ltllshyternativa de oacutecio a que ele parece se referir llesre ensaio lt aquela de Adatildeo apoacutes a Queda um paradigma cuja idealizaccedilagraveo e eurocentrismo ele claramente reconhece

188------- ~-~~---r

narrando a anticonquista

proacutepria estrutura conceituallO Tanto a anaacutelise de Peter Kolh quanto as anaacutelises contra as quais ele escreveu exibem eSll profunda limitaccedilatildeo

Ernfins do seacuteculo agrave medida que modernas cashytegorias r~cistas emergiam que o iacutentervencionisno europeu se tornavagrave crescenteme~te militante e a socieamplde era fissuiada e desmantelada pelos colonos a posiccedilatildeo hushymanista de Kolb desapareceu enquanto oossibiHehcle (Iisshycursiva Os hotentotes deixaram de ser mesmo descritiacuteveis por europeus em termos de categori~ como governo profissotildees opiniotildees ou caraacuteter (como no tiacuteshytulo de Kolb) De fato a classificaccedilatildeo feita por Lineu dos manos (cf p 68) em ]759 eliminou exawmente categorias com a frase depreciativa governados pelo caprishycho Como outros comentaris~as observaram mesmo as fishylosofias europeacuteias que valorizavam formas nlO europeacuteias de

neste periacuteodo apresentavam uma propensatildeo a assimishylar esta atitude reducionista nos enfoques europeus lS noshybres selvagens americanos e polineacutesios paradisiacuteacos eram valorizados justamente por Sl~ ausecircncia de prc fissotildees leis e instituiccedilotildees 11 Kolb escreveu antes que esta feacute

duccedilatildeoglobal das sociedades de subsistecircncia agrave natureza hotlshyvesse sido adotada

Finalmente e previsivelmente o tratamento ela t1r1 do espaccedilo na anaacutelise de Kolb se afasta radicalmente c1aqul le assumido em obras posteriores Em retrospecto a lustnshycia daquilo que viria a se tornar a histoacuteria natural e do 11shy

eacute conspiacutecua no trabalho de Kolb Quando ela ocorshyre os termos em que ocorre satildeo muito diferentes seguidos por escritores classificadores nns-lineanos A desshycriccedilatildeo do interior do Cabo por variedade mas natildeo mostra nenhum sinal de inmulso clisniacuteshy

n~() lilfupeb-Como muitas eze se nota tais leiturls Ueacute WItPO1parecem relktir 15 ansiedades dos proacuteprios

sot(IlltIls () da iacutenstituconali7lccedilagraveo e racionalizaccedilatildeo dl suas pr()pri i1ln~H) (Ilvamcnte c nlto-entendimento ocidental opera

um outro que efetivamente (- () proacutepri() tlrO[X1

8gt1 I~ 11

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 27: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentimento 1750-1300 middotI-----------middot---middotmiddot~middot

Fig9 Como os hotentotes carregam e cuidam de suas o equipamento para fumar tabaco da traduccedilatildeo francesa de 1741 obra de Peter Kolb A situaccedilatildeo atual do Cabo da Boa lioacuteperanccedila (Desshycription du cap de Bonne-Esperance Amsterdam Jean Catuffc 174])

___ _~~

narrando a anticonquista

amp7fuiteI d~ 2Iotildett-entxns

FiacuteglO Vilas e Cabamls dos Hotel1t0leS dl lradll~l() IrlIKtsl dI 1741 da obra de Peler Kolb ri SiiacutelWccedilacirco atual do C(lI)() rI1 lioll

(DesCIiptio1 dIlt caJ de 13onne-Kccedilpemnce imlvr(ll1 klfl (1

r41)

9J

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

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r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

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I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 28: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

Ciecircnc~-=-ntime~ 17150-1800

minador ou cassificatoacuterio As Planiacutecies e os Vales sagraveo todos Pradarias onde a Nashytureza suige com tal Profusatildeo Encantos que maraviacutelha os Olhos -qu~f1observam Elas conjo -que sorriem em todo lugar satildeOsempreadomadas por lindas Arvpres Plantas e Flores algushymaS delaitilo singulares e atraentes em Forma e Beleza toccedillas tatildeo Olorosas que enchem os Olhos cbIh incriacutevel Prazer e o Ar com o mais d~ce dos Aromas Entre ienas estatildeo o Aloeacutes e outras cushyriosas AacuterVores medicinais e Abundantes Ervas com Qualidades meacutedicas

A linguagem empregada conQrma a caracterizaccedilcio de James Turr--r da descriccedilatildeo seiscentisra do panorama como um composto natildeo o retrato de um lugar individual mas urna constmccedilatildeo ideal de motiacuteft especiacutefiacutecos Seu propoacutesito eacute expressar ( caraacuteter de uma regiatildeo _ ou a ideacuteia geral de uma boa-terra13 Como na narrativa Condamine tos particulares da fauna e florl siio mencionados no texto de Kolb por seu exotismo seu potencial como medicamenshyto ou seu papel dentro doacute modo de vida dos indiacutegenas Por exemplo os dois retratos botacircnicos mais elaborados que Kolb constroacutei complementados por gravuras satildeo subsshytacircndls que os proacuteprios khoikhoi prezam a folha da dacha (cannabis) e a raiz de Kanna (ginseng) Natildeo haacute traccedilo do projeto desClitivo tatalizador europeu

Mesmo que Kalb rejeite distinccedilotildees essenciais entre aficanos e europeus uma outra estrutura hieraacuterquica atrashyvessa seu mundo humanista o escravismo Embora combashytendo estereoacutetipos reducionistas os khoikhoi (que natildeo eram possuiacutedos como escravos) Kolb manifestamente escreve a partir do interior de um mundo preacute-abolicionista Sua descriccedilatildeo da Colocircnia do Caoo principia com casas e igrejas e- termina com senzalas e estaacutebulos Satildeo os eScravos que continuamente levam a sociedade e o discurso de Kolb agrave desordem Descrevendo os escravos da Aacutefrica ocidental no Cabo como os canaD1as mais intrataacutevcis vimmtivos e

12 Kolb 13 ]ames - Tbe Polittcs 01 Landscape_ Ruml Scenery mui Society in English Poetry 1630-1660 Cambridge Harvard U P 1979 p10

92

cwecircjs de que jamais tive notiacutecia Kolb termina seu ro volume com uma apaVOf(lnt 2 exposiccedilagraveo urm ou duas Execuccediloes Uma das histoacuteria envolve o destino de um grushypo de escravos tentaram e no processo assasshy

) - - sinaram um europeu cortaram sua Barriga arrancaram suas Entranhas e as penduraram nos arbustos mais j shy- -

mos ranturaclos e condenados eles forll11 torurldlllt I( 1

morte

dos homcns fOrlI11 Icit()s m

enforcada uumls Hestll1tes forll1

CUIll ferros em 1111gt1 l h

nilo l11ostrIltlm qullquvr

COI- c-Otn -1

foranl atado sobrc 1 Joda_ I11SI11O griltLIIL

nenhum deles nem mesmo um Oh l ou de reclamI~uacuteo mesmo seus membrogt (11111 qUllll-ldos

que o executor lhes illll)Ul1h

ral Eu Pierre Reviere 1 reconheceratildeo suaI e sensadorlalist-l sobre torturl que gaccedilatildeo de formas institucionais de controle soei I C()1ll0 a

cliacutenic13e escolas- Kolb expressl qUdqUlT d~ com - discurso emhora as llisu-)rilgt -( (lI

turs de escravos efetivamente IacutentclTomTXl111 Iacuterr( )lll)ml 111)

- seu texto A dilleacutet1s1io palavras mas a silenciol

que eacute datildeo parece s([ lima perturb~lccedil~10 uma ocasiacuteJo PIII (jlllS1

contic1o c normi1iJLn )

--l-I

In uacuteltimas CltCilb do SlUl

14 Kolb op_ cu p2l 5_ Michel fOUCll1lt - J Piene [(criecircre )ouJg SmlfiI)d Iill 1 nlhel

Siacutester and my Brolher Ne York lnh~ol1 19--) ITIIltI 11 il1gk 4101 Pien( Niuiire (~)J(u ~r()j[(i nra ere Ul(( SfJ(lIi ( JIJU)

cas de parricide (11 X1X sih1c IJui~ Gdlimali_ Itr__ tI IH

Fierre Riviere (jlle devoe milh(1 matildee minb( I)i lt lIiL1i

Janriacutero Graal ]982)

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 29: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

)

ciecircncia e sentimento 1750-1800 _------shy

menos contido e normalizado Nos escritores posteriores de viagens ciem1ficcedilas o sensacionalismo e a escravidatildeo virtualshymente desaparecem como desaparece 1 maior parte dos dramas sociais de qualquer espeacuteci~Por outro lado como procurarei mostrar no capiacutetulo segtlinte ambos encontram uu novo lar nos relatos de viagem sentimentais muitos dos quais se aliam a causa abolicionista Nesse contexto a linshyguagem sensacionaasta sobre a dor utilizada por Kolb para reasseverar a escravidatildeo eacute estrategicamente transformada numa intensa retoacuterica de protesto

Em suma ai narrativa de pela -CAIJCUIl-aV anteceshy

de tanto o Sistema da Natureza rnfnrlt daexshy ploraccedilatildeo e viagem da expansatildeo

europeacuteia Tambeacutem um momento histoacuteria sul-afrkana Quando da anos de contiacutenua presenccedila natildeo haviam uma conquista local e a hegemonia nativa ainda se mantishynha COftuduacute a dominaccedilatildeo era sugerida especialshymente por alueles livros contrltt os quais Kolb se opocircs que advogavar1 a 4nediata sujeiccedilatildeo do~ khoikhoi No ciacuterculo ideoloacutegico daqueles livros a proacuteprilt1 resistecircncia dos khoishykhoi agrave cristandade por exemplo Contava como evidecircncia de inferioridades intriacutensecas que justificavam ainda mais a conquista Neste contexto a identificaccedilagraveo dos khoikhoi por Kolb enquanto seres culturais poliacuteticos religiosos e sociais possivelmente natildeo seja um igLlalitaacuterio ingecircnLlo mas sim criacutetico no qual a superioridade europeacuteia (agrave qual Kolb certaraente subscreve) natildeo implica necessariamente a subshyjugaccedilatildeo Sessenta anos mais os disculfOS vigentes torshy

e virtualmente impossiacuteveis quaisquer gestos

narrando a antiacuteconquista

--~~uralizando a zona de anders sparrman e paterson

o fim do seacuteculo XVIII foi uma eacutepoca de crise e reshyvolta noacute Cabo da Boa Esperanccedila Quanto mltlIacute~ crescia a colocircnia europeacuteia mais se intensificava a impaciecircncia IOC~lJ

com as poliacuteticas proacutetecionistas da Companhia das um processo semelhante ao qIacute1e ocorria ao messhy

mo tempo nas Ameacutericas Na Cidade do Caho lima Icoll1

dos eclodiu em 1779 No interior as encrgias dos Africacircnderes os levaram a UI11 i11shy

e endecircmico conflito tanto contra os interesStS mel-

cantis da Companhia quanto contra os povos indiacutegenas Em os dirigentes ela Companhia tentaran estalwcClr o Rio Fish como o limite interior para o encbve colonial

va para seacute ria necessaacuterio pJfZL que povo como Cu rtin et alh o a stus proacuteprios interesses e a COtlst

cLts soccshyJanto

priacutea sociedade Leis de passe como as suspcnsl~ nl 11 JI~

ca do Sul em 1987 jaacute est8vam em vigor na cleacutecadl de Gmpos Nguni continuavam a se opor agrave incursatildeo AfricflI1~ der aleacutem do rio e estes continuavam a ser fust igad s peshylos indiacutegenas em seu meio especialJ11ll1tc (]~ IU

Eles tinham ~~- se preocuplr com outro nocircmeno da zona de conteacutelto os assim chamados band()~ mistos de khoiacutekhoi kung escraV(S fugidos cu nos e o renegado branco ocasionl1

16 Curtin li p29H

niacute194l ____ _ ____--+-__

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

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I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 30: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentiacutemento 1750c1800 -------~

Apesar dos distuacuterbios do periacuteodo pelos fins do seacutecushylo XVIII a difusatildeo da sociedade dos colonos estava tornanshydo a viagem para o interior no sul da Aacutefrica cada vez mais exequumliacutevel para os europeus O florescimento da histoacuteria nashytural tornou-a gradualmente mais desejaacutevel e a emergecircncia de novos paradigmas narrativos fizeram com que tais viashygens fossem cada vez mais adaptadas agrave escrita e 8 leitura Estas mudanccedilas estatildeo claramente registradas na obra de dois viajantes dos anos 1770 - o sueco Anders Sparrman ( o inglecircs William Paterson I

Pupilo de Lineu Sparrman foi mandado para a Aacutefrica meridional em 1772 como um naturalista que ganharia a vida como professor particular Mais tarde naquele mesmo ano ele se juntou agrave segunda expediccedilatildeo de Cook ao redor do mundo reassumindo seu trabalho no Cabo dois anos deshypois e laacute permanecendo ateacute 1776Cccedilnsiderado como o prishymeiro relato integralmente pessoal de viagens no extremo interior da Aacutefrica Meridional 17 o muito citado Viagem ao Cabo da Boa Esperanccedila18 de Sparrman foi publicado em sueco em 1783 aparecendo numa traduccedilatildeo alematilde em seguida por quatro ediccedilotildees inglesas a paltir de 1785 e trashyduccedilotildees em holandecircs e francecircs em 1787

Paterson era filho de um jardineiro escocecircs e foi manshydado ao Cabo na qualidade de coletor botacircnico pela conshydessa de Strathmore Foi descrito como o primeiro a escreshyver e publicar em inglecircs um livro inteiramente devotado agrave descriccedilatildeo de experiecircncias em primeira matildeo de uma viagem na fifrica do Sul19 j sua Narratiacuteve of Four Voyages in the Land ofthe Hottentots and the KaffirsJdeg (Narrativa de quatro

t 17 Forbes op cit p46 18 Anders Sparrman - A Voyage to Ibe Cape of Good Hope Landon G and] RobhltiOn 1785 vol I reediccedilatildeo New York ]ohnson Heprint Corshyporation 1971 19 Forbes op clt p46 20 Lt Guillaume Paterson - Retation de quatre voyages dans fts pays eles Hottentots et dcns ta Caflrerie traduzjdo por M T 1101 Paris Letelier 1790 Desaforrunadamente natildeo tive acesso agrave ediccedilatildeo original em inglecircs da narrativa de Patersonj as traduccedilotildees do francecircs satildeo rninlYds Em 1980 uma luxuos ediccedilatildeo do manuscrito original de Paterson (descobelto nos

I narratdo a anticonquista __J~___ bullbull

viacuteagEns rtC~ terra dos hotentotes e dos elll 1789 sendo que

uma segunda ediccedilatildeo

em illshy

ak~l1l (

Em l781 agora tenente inglecircs Paterson que bfiacutet~nico ~I Colocircnia do Clbo o que levou ) que sua~ viagens haviam sido motivadas por

I(n 111 111

Patcron iclentiliGl1l1-sc lYPIICltClJ1lttlll COlll

uma nova era de exploraccedilagraveo do interior e de CiCill inshycas paJticula lTllel1te no tocante ~1 Aacutefrica E~( TllI1lI() seu priacuteo prefaacutecio Paterson se define como contr~rio aos (onqtlistaclorcs e viacuteajeacutemtes pois SI h

tenta ele nenhum deles tinha sido capaz de e111ctllllr a

a ambiccedil~lO jamais tenha instilldu lOS

do mundo o desejo cle estender seus imperios llllt

Af~ica mesmo que o comeacutercio natildeo tenha ltlraiacutedo hOl11ens p~ILl ()

exame de um paiacutes cuja aparecircncia exterior nlo o(~jl de 1lodo gum capltlz de seduzir algueacutem clja uacutenica mela 1 de il1lTc

mental sua riqueza mesmo assim existem 110111(11 que 111

obstante Lodos os terrores associados a estes 11 iacuteses os Celll eJlshytre os objetos capazes de aumentar sua

Estes novos homens suumlo evidentemente ()s lJ[LlLlli~Il

O prefaciador inglecircs de Sparrman tambeacutem () qUllilicl Cl1l11(l

um inovador observando que de bto o rel1l0 qUl ( do perfil cio pauacute ser medida como novo iacuteaacute que dos se poderia esperar que fornecessem lal inforlllICcedill()

Como seria de se esperar ambos esttS lll[Ons disll1

ciam-se claramente da literltwa anedoacutetica de sohrevivecircllcil

anos 1950) in publicada em Joanesburgo PreparadlJ Verl1O[ S Fllrshybes e John Rourke (Patersons Cape Trales 1777-79 JO1l1ltshurgo llrcnmiddot thurst Prefs 1980) volume inclui rotas meticulosls mI]lIS

suplementares e muitas das lacircminas coloridas origintis Em scu cSIldo

original o manuscrito difere muito da Narralive -tdl tIli iUSlilk1I1- do-se a minha pr utilizar () texto francecircs 21 PatersOll op cll p5 22 Sparrn1an

j op cit) pvi

t)7196r-shy

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 31: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

( I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

e do discurso sensacionalista sobre monstruosidades e mashyravilhas Na verdade fundamentam sua autoridade so

tal contraste O prefaacutecio dei Paterson alJsteram(nte anuncia que seu livro natildeo eacute um romance sob a pele de um livro de viagem ao passo que Sparrman avisa ao leitor que muitos dos prodiacutegios e apariccedilotildees incomuns sobre os quais tenho sido frequumlentemente questionado natildeo seratildeo enconshytrados em meu diaacuterio Ainda que homens com um soacute peacute ecirc com efeito Ciacuteclopes Sereias Trogloditas e semelhantes se~es imaginaacuterios tenham quase que cido nesta era iluminada lembra ~rrrn Sares tinham sido culpados sas particularmente em relaccedilatildeo aos

eacute dirigida principalmente a Petbr Kolb) Ambos estes emissaacuterios llneanos organizam sua

narrativa por meio do empreendi~ento cumulativo e obshyservacional de documentar a geografia a flora e a fauna O encontro com a natureza e sua conversatildeo em histoacuteria natural constituem o palco da narraccedilatildeo O procedimento p-arece Latildeo oacutebvio que eacute difiacutecil imaginaacute-lo como uma inoshyvaccedilatildeo Como se poderia esperar a paisagem nestes nagraveo eacute mais emblemaacutetica ou composta mas peciacutefica e diferenciada A passagem a ilustra como o sistema da natureza a do relato de viagem de Paterson

Quando passou o calor do dia mmamos para o Nordeste atraveacutes de uma regiatildeo extremamente aacuterida mantendo a imensa cadeia de montanhas agrave nossa direita quarenta milhls adiante avis(amos oushytra cadeia de montanhas agrave nossa esquerda Ainda que esta aacuterea seja extremamente aacuterida em aparecircncia ela apresenta abundacircncia de plantas da classe das euforbiaacuteceas de mesembriacircntemos e de vaacuterias espeacutecies de geracircnios

A linguagem eacute intensamente visual e analiacutetica Itaacutelicos lineanos espalham-se pelas paacuteginas ainda que nunca tatildeo

23 Ibld op dt ppxv-xvi 24 Paterson op dt p23

~tr--- _--~-

nrrr a anticonquista ----~~--

numerosos a ponto de desconcertar o nflo-iniciado Em ttshy

ela semelhante encontramos Sparrman afirmando

I

Muito tarde da noite chegamos agrave fazenda de noso condutor apra-middot zivelmente situada no outro lado do rio Borr Este rio e[~ ladeado a intervalos por belas e altas montanhas cujos picos l encostas emprestavam ao cenaacuterio uma variedade encantadora Nos declives de algumas delas viam-se gmtas e cavltrns que cenalllenshyte natildeo existiam desde sua origem mas eram nsultajo elas vicissishytudes e mudanccedilas a que todos os naturais estagraveo sujeitos

paacuteginas de tais benignos regisros sagraveo suficienshytes para novamente sugerir a do nalll[alista COI1l0

Adatildeo sozinho em seu jardim Onde poder-se-ia per~lIntar estatildeo todos A paisagem eacute descrita com) inlbitacla devol ta sem histoacuteria desocupada ateacute mesmo jantes A atividade de descrever a ra e estrutura uma narrativa a-social na qual a presenshyccedila humana eurooeacuteia ou africana eacute absolutamente ainda

I

e parecem desa parecer do

o eacute claro explica que ele possa andar por toda pane como aprouver e que nomeie as coisas com o seu notne ou o de amigos de seu paiacutes natal A certa alturl numa ilho ta deserta Sparrman se dcscreve alheio 80 estlldo hotltlishyco - nas mesmas vestes que Adatildeo usou em seu esudo 111shy

tural Nos termos incorporados naturalista a au()riacute(lshy

de e legitimidade da autoridade sagraveo inconlestaacuteveis - uma visatildeo indubitavelmente atraente leIacutelortS lIIUpCUi

do tempo o mundo humano eacute natushyralizado como pano de fundo para a busca du naturalista Nos relatos tanto de 11 qlla nto d

como eacute norrn8lmente () caso o grupo em ilgc1l1

constitui um microcosmo das coonIacute1 is visto (]v

relance em passagens ocasionais Fora do ~nglllu do olhar atente para a paisagem servos khoikboi se rnovimcntllll

ri I t

l---parm~- op cI bull p12R

D)

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 32: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

I

~

decircnCia e sentimento 1750-1800

para dentro e para fora das margens da histoacuteria levando

If aacutegua carregando bagagens tocando o gado roubando beshy

bidas alcooacutelicas guiando interpretando procurando carreshyI tas perdidas Referidos apenas corrio um (uns)o(s)meu(s) hotentote(s) (ou simplesmente orpitIacutedos como em nossa bagagem chegou no dia seguinte todos satildeo intercambiaacuteshyveis nenhum eacute distinguiacutevel pelo nome ou qualquer outra caracteriacutestica e sua presenccedilasua d~ponibiacuteliacuteteacute e estado sushybalterno satildeo tidos como certos (Paterson Na manhatilde seshyguinte havendo encontrado uma povoaccedilatildeo hotentote milhas adiante tomei um de seus habitantes como g~lia

Afora sua presenccedila fantasmagoacuterica como membros do grupo os d~oikhoi habitam uma seara distinta nos textos destes livros ccedilmde satildeo apresentados enquanto objetos de descriccedilatildeo etnogclfica formal Sparrman lhes dedica uma gressatildeo descritiva de trinta paacuteginas n9 meio de seu livro enmiddot quanto Paterson os coloca numa nota de catorze paacuteginas em seu primeiro capiacutetulo em meio a n0tilS menores sobre o veamiddot do-do-cabo e a zebra Estes retratos etnograacutetkos poacutes-Iineashynos dos khoikhoi se afastam da deacutescriccedilatildeo feita por Peter Kolb de maneiras que expressam esquematicamente o avanmiddot ccedilo dos interesses colonialistas Muito simplesmente enquanshyto Kolb descreveu os khoikhoi primariamente como seres culturais estes dois textos da deacutecada de 1780 os apresentam antes de tudo como corpos e acessoacuterios A estrateacutegia etnoshygraacutefica de pergunta e resposta de Kolb eacute subst~tuiacuteda em Sparrman e Paterson pelo escrutiacutenio visual enquanto meio de obtenccedilatildeo de conhecimento O retrato de Sparrman dos hotentotes comeccedila por cinco paacuteginas devotadas agraves partes do corpo especialmente as genitais7 quatro agraves vestimentas trecircs aos orname1tos Kolb tambeacutem escreveu sobre corpos e geshynitais 10 entanto em seu discurso os corpos eram entidashydes formadas ou no jargatildeo moderno estabeleCidas oela culshy

t~~alersonJ clt p196 27 Ao longo dos seacutecdos XVIII e XIX e tambeacutem no seacuteculo XX a geniraacuteshylia dos hotentotes foi objeto de infindaacuteveis usualmente deshybates e discussotildees por toda a Europa () tema e fantasia principal veio

t~ - ---- 11O~

narranduacute a anticonquista ---~ --~ _~-~~

tura Ao descrever por exemplo uma cerimocircnil 1J qUlI J()shyvens meninos tinham (supostamente) um de seus testiacuteculos removidos e substituiacutedo por uma bola de gordura de a priacutericipal reaccedilatildeo de Kolb eacute a de frisar repetidamente a fishyneza e l precisatildeo com que a operaccedilatildeo eacute cuado Cf cou Sparrman por seu turno observa que os homens hotentotts tecircm dois testiacuteculos e com base em sua proacutel lriacutea nega a existecircncia do procedimento descrito por Kolh uuml efeimiddot to eacute lt1 dfsculturaccedilatildeo dos cada vez mais Nagraveo eacute necessaacuterio que se diga que a di111enlt10 c1ial(lgica da narrativa de rltolb contrasta com os aparatos descritivos C(I shy

ricos de Paterson e Sparrman As vozes iacutendiacutegcnls quase ca satildeo ~itadas reproduzidas ou mesmo inventldas nestes esshycritos dI final do SeacuteC~llo ArvIII os atributos intelectuais e esshy

analisados por Kolb satildeo negados pralicamente ponshyQuando Sparrman faz um comentaacuterio sobre 1

cannahts ele explicitamente natildeo pretende discutir o seu lushygar nos costumes indiacutegenas mas sugerir que os colonizadoshyres a ptilizem em panos plra lenccediloacuteis na oroducatildeo de sacos lonas cprdame e outros artigos 2H

Inteiraccedillos da atual criacutetica acadecircmica ao discursu dos colonizadores os leitores contemporacircneos facilmnte rel1shycionamesta criaccedilagraveo de um corpo sem discurso desnudo biologizado com a forccedila de trabalho desenraizada da e disponiacutevel que os colonialistas europeus tatildeo CeSlll11ltl

na e incansavelmente Jutaram parltl criar em suas hases no

a ser a questatildeo sobre se as I11ulheres khoikhoi pOS5uiacutelI11 pm c1lIl1cnto gl niral adicional que veio a ser chamado de avenral hOlclloll TeSle 11unhas dos dois lados envolvidos no debate Sr() nu lllll(lSCIS c dlhi te repre~centa sem dLlvida um dos mais soacuterdidos GIjtuos hiq()lill d imaginaacuteriacuteo colonial desumanizado da Sanlkl L Gilmll1 c-lll

gUlls aspectos deiLa milologi1 sexual enl Bodllgt Vilill 1dllS I()

Varei an Icol1ography 01 l(mall Sexuallty in Lare Nil1lillI1II-Cll1llln

iVlediciacutene mel Liter~lrllre in HCllJy Luis (Ht~ Ceci) - liilCl WlIacutelillg Wirl

Difference Chictgo Chicago n p llt)H(Iacute O anigo Li CIIJl1C1n 3cenrdamCnll crimado por reproduzir lXalIl1Ill1lt I lillll11SUacute) fIacutela que estaacute procurando condenar Cnllte SL( por (l11111 1

de Houston Baker II Giacutelman outlOs na mesma COIciacircnlI

28 Sparrmm ojJ p26S

101

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 33: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentimento 1750-1800

1 exterior Poder-se-ia argumentar que os relatos de Sparrman

i e Paterscnmiddot simplesmente refletem mudanccedilas que os 1 proacuteprios povos khoikhoi haviam experimentado durante as iacute cinco deacutecactas de intervenccedilatildeo colonial desde Kolb Suas forshyI i mas de vida tradicionais tinham sido afinal permanenteshy

mente despedaccediladas No entanto a concordacircncia entre esshytes textos vem jaacute do fato de retratarem os povos africanos natildeo como objetos de mudanccedilas histoacutericas em suas formas de vida mas como indiviacuteduos sem ql~alquer forma de vida

I seres sem cultura (sans moeurs na versatildeo ffdncesa de Paterson) Quaiacutesquer mudanccedilas qu~ porventura tenham ocorrido tendem a natildeo ser express~s fomo mudanccedilas mas sim naturalizadas como ausecircncias I lacunas A descriccedilatildeo de Sparrman apresenta a si mesmfl ~omo verdade atemposhyral e sempre que as duas entram em conflito simplesmenshyte rejeita a veracidade da narrativa anterior de Kolb Assim como os khoikhoi satildeo desterrados ~I extraiacutedos da paisagem em que vivem - satildeo tambeacutem retiacuter~dos de sua economia cultura e histoacuteria Estes satildeo procedtnientos que a accedilatildeo da histoacuteria natural torna simples e de fat9 obrigatoacuterios Assim a anticonquista subscreve a apropd~ccedilatildeo colonial mesmo quando rejeita a retoacuterica e provavelhlente a praacutetica da conshyquista e subjugaccedilatildeo

Enquanto deixa rigidamente agrave parte os povos IllUlgcshy

nas africanos Sparrman em particular frequumlentemente drashymatiza suas interaccedilotildees com os colonos africacircnderes (bocirceshyres) de cuja assistecircncia ele tambeacutem depende Aqui a vra que daacute lustro e idealiza as relaccedilocirces entre colonos e viashyjantes eacute hospitalidade Os encontros dos viajantes com os africacircnderes satildeo regularmente ajuizados tendo por base o apreciado cenaacuterio burguecircs do rude e humilde campocircnio reshypartindo al-egremente seus viacuteveres com o homem ilustrado da metroacutepole cuja superioridade essencial eacute ainda que suas fragilidades sejam desprezadas Sparrman e Paterson raramente se eacute que alguma vez o fizeram menshycionam as praacuteticas de troca que estruturavam mais concreshytamente suas relaccedilotildees com oS colonos Era costumeiro por exemplo que a assistecircncia dos colonizadores africacircnderes shy

I~------~

comida alojamento gado selVentes fosse plga em poacutelshyvora e municcedilatildeo substacircncias difiacuteceis de armazenar e de chshyter em aacutereas remotas e das a invasagraveo colonizadnJa de~

total e sistematicamente Nos relatos de viagem esta troca natildeo eacute mencionada talvez pelas mesmas razocirccs que tatildeo pouco eacute dito a respeito dos usos qUt teria tal Imlt1iccedilJo

As complexidacles da vicb na zon1 ele C()i1tato silo LGUlIUm expostas apenas ele relance A pohn~za dos colon()~ africacircnderes frequumlentemente confunde categorias -shy t1 nto Sparrml11 quanto Paterson contam ter se aproximado de (1shy

banas africanas que afinal percebem ser lares de colonos europeus Nas aacutereas mais remotas solitaacuterios europeus itimshyrantes ~agraveo encontrados movimentando-se de um lugar para outm cruzando os limites da diferenccedila Ambos os autores

sobre alianccedilas sexuais e casamentos transraciais n1o apenls o caso comum de hOlljlens europeus e concubinls africanas mas tl1lilbeacutem de urna mulher que daacute agrave luz o filho de um arpante africano de um europeu que se casa C0111

uma mulher tribal por verdadeiro amor A violecircncia e (k~shytmiccedilagraveo da zona de corrtato tambeacutem satildeo tn(S

apenas em suas e111 traccedilos nos corpos ou anedotas uma mulher terida hl anos por 11111 kcb lI

quiacutemana um homem cuja mdher e filhos 1()]1111 l1l(lrOS Ull)

chefe de quem se tinha tinido as tClTlS ) lito l lct1-()1

entre trabalhadores africltlIl()$ contratados l gt~lIS p~1 [IUacutelS

ropeus permanecem Oi

mencionados mas nIO Por

nha genocida contra os da por meio de uml descriccedilatildeo melhante a uma receita de como os bocirceres caccedila aos bosquiacutemanos

No livro de Sparr do colono muitas vezes drama ideoloacutegico essencial uacute autoridade do naturalista () dv

sua forma de saber sobre outra Cjllt ~

-1-9 Jbid p202

HJ

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 34: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e sentimento 1750-1800

~

Pign frontispiacutecio da traduccedilatildeo inglesa de 1785 de Viagem ao Cubo da Boa Esperanccedila de Sparrman representando o Panorama do Clmpo no Cabo da Boa Esperanccedila

As interaccedilotildees de Sparnnan com os africacircnderes frequenteshymente representam choques entre o conhecimento camposhynecircs e a ciecircncia Significativamente Sparrman impotildee o termo camponecircs aos africacircnderes em geral mesmo os abastados os quais certamente natildeo aplicariam o termo a si mesmos Em muitas anedotas os africacircnderes satildeo tratados com prezo ou ridicularizados especificamente enquanto n~ses Uma seacuterie divertida de anedotas enfatiza o contraste entre as visotildees da natureza mantidas pelo colono e aquelas do naturalista Num dia particularmente feacutertil na coleta de espeacutecimes Sparrman nota que sua caixa de insetos estaacute cheia e ele eacute forccedilado a colocar toda a profusatildeo de moscas e insetos em tomo da aba de (seu) chapeacuteu lO Procurando um lugar para se hospedar eacute encaminhado para a casa de

t-- lbid p61middot

uma rica e

do durante

multigloacutessico

de insetos antes

mesmo

lecem aparece

51 Ibid 32 ibid

narrando a anticonquiacutesta

viuacuteva de cinquumlenta e dois lt1I10S de idade Ao chegar Sparrman tenta ocultar seu chapeacuteu infestado de bichinhos para natildeo alarmar sua anfitriatilde Ele eacute rrltliacuteshy

o pelos criados um dos quais slIsswra para sut patroa que o chapeacuteu do conviebdo (stl cheio llv pequenas bestas (kleine bestjes) Sparrman tem a preser~a de espiacuterito necesstria para a

Foi entatildeo necessaacuterio que interrompesse por para que mIo me engasgasse com das lflornwc

pal-vras e frases do holandecircs que Illcltsitc cunhar illllshydiatamrntc para convencecirc-la da utiliclltldc de -c cntlndrr estes pequenos animais tanto para fins mldicos CU[)lO (con(llllshy

cos e tambeacutem para a do grande Criador

Ao citar a frase afridmer kleine SjXlrrman llishynha a substituiccedilatildeo verbal que constitui iua ll1issilo enquan to naturalista Ele forneceraacute os nomes corretoi O aspecto

eacute poderoso rois a frase afric-lner alinha a pashytroa africacircnder e seu criado africano na cmegoril elos nuumloshyinicuumlidos cientificamente Na continuaccedilatildeo da ~l exshy

plicaccedilatildeo de Sparrman eacute ben--sucedida mas uma nO1 pll

formance faz-se necessaacuteria pouco quando chegl numeroso grupo de amigos e parentes da viuacuteva Nman1lllshyte a distacircncia entre conhecimento e rrofissiona eacute hushymoristicamente apresentada Eles tin l-ull1 visto

mas quando examinaram minha de plantas e encontraram nela natildeo apenas beacutem grama e pequenos ramos de arbustos e aacutervores nI() puderam conter seu riso ante visagraveu tatildeo

Sparrman estaacute inquestionavelmeIlle tol11hando ec- ~i

nesta anedota tanto quanto atribuindo a seus anfitriocirces Esta autozombmiacutea l consistentl

com a relaccedilatildeo que eses dois escritorei poacutes-lim111os lstahlshyentre eles e seus leitores Quando CH1t ua IllWlltl

o aUlo-ohliterado (b uHiCOII( l

p(d_ pN

or

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

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I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

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I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 35: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

e sentimento 1750-1800

frequumlentemente rodeado por uma aura natildeo de autoridade mas de inocecircncia e vulnerabilidade Sob este a aneshydota de Sparrman sobre a viuacuteva eacute reveladora Deixando de lado o potencial eroacutetico convencional da cena (jovem solshyteiro I viuacuteva rica) o escritor a transforma em paroacutedia de drashyma edipiano Infantilizando-se a si Sparrman rotiza a viuacuteva ao comentar sua fragilidade e explicitar ao inshyveacutes de apenas insinuar sua idade Ao se esforccedilar para n~lO falar com a boca cheia o menino-Sparrman procura possuir I a matildee-viuacuteVa por meio de palavras utilizando especificashy

I mente o discurso da histoacuteria naturaL () momento eacute claro interrompido por outras pessoas que a requisitam pessoas a quem Sparrman eacute incapaz de assustar ou impressionar Soshy

I cialmente tanto quanto sexualmente Sparrman leva a efeishyto umaanticonquista

I Nada disso eacute muito grave pois a pessoa que realmenshyte importa eacute seu pai na Sueacutecia agrave espera do retorno de seu fllho Diversamente de antecessores como o conquistador e o caccedilador a figura do naturalista-heroacutei assume mente uma certa impotecircncia ou androgeniaj muitas vezes ele se retrata em termos infantis ou adolescentes A proshyduccedilatildeo de conhecimento do naturalista tem aspectos decididamente natildeo faacutelicos talvez aludidos pela proacutepria imagem feita por Liacuteneu de Ariadne seguindo seu fio ateacute a saiacuteda do labirinto do Minotauro (cf p acima) Serpeanshydo pelos campos olhando coletando inlprovisando do loque quer que encontrem os disciacutepulos de Lineu natildeo se assemelham integralmente a Dr Frankensteins ou a Proshymeteus ladrotildees de fogo (Os devaneios do caminhante soUshytaacuterict de Rousseau inclui um famoso retrato do autor hershyborizando num longo manto turco33)

Os heroacuteis naturalistas natildeo satildeo mulheres - neshynhum mundo eacute mais androcecircntrico do que aquele da histoacuteshyria natural (o que natildeo quer dizer evidentemente que natildeo tenham existido mulheres naturalistas) A estrntura paternal

t-middot-NT --bras Brasiacutelia Editom da UnB 1995 33 Agradeccedilo a Elizabeth Cook por trazer este exemplo agrave minha atenccedilatildeo

106

de diacutescipulado eacute sobejamente evidente preside em casa ao

lham pelo mbndo agrave busca das peccedilas pletaratildeo A imagem de Adatildeo imageiTI qlle

neanos ao exterior envolve

I

sua

missatildeo Eva eacute o saqu~ia e possui

nha ccediloleccedilatildeo Mas contrtriamente ao

cadosnatildeo tecircm qualquer valor em si instacircncias de si mesmos

quista e a anticonquista

objetos

traI nas muito excitado pela satildeo desconhecidos

Que emaranhado nestas poucas sentenccedilas Por um lado a

34 Paterson op cito p)

de inocecircn cia e desinteresse por outro o vocabulaacuterio ele e deseio au~()centrado De um lado um eu demandante (masshy

no jardim rril11orcli~iI (~ UJl1

a criaccedilatildeo de Eva Como os seus livros muitas vezes sugerem o impulso que liacutev~1 (1~ lishy

uma escolha C0110 1 do 1)1

Frankeacutenstein contra a vicia conjugal heleros~exll~I l ~l~ Im lheres A ausecircncia de Eva eacute indubitavelmcnlt um1 rrc(ol

diacuteccedilagraveq para a infantiliacutedacle e inocecirc1cia de Adltio a busca do naturaliacutesllt ltnvolvl

como sugeri anteriormence LIma imagem de suh jardim que d~ modo n~to oll jltr aacutecl

Fizemos pausa part descansII di PateroQ vaacuterias vezes e acrescentei diversos eSDtciacutemes ~l mishy

natildeo eacute arrancado de ningueacutem Os pequenos espeacutecimes resstshy- eles ~I(1 merll11ltnte

de seu e ele Slll

espeacutecie O prefaacutecio de Paterson frisa o contmste entre a COI)shy

Simultane~ln1emc ele fCCshy

la sua conexatildeo Nos sertotildees da Aacutefrica escrvc

o naturalista encontraraacute um vasto campo pUfa ~1I~ ()hr( e laacute descobriraacute objetos que por sua imensa variedade rijo pazes de satisfazer todos os seus gOStos laacute tmloi (

em seu estado natural e disclrniriiacute no sllvagllli hotentotes as virtudes que talvez tenha em Vo ellU)l

sociedades civilizadas Tomado por tilis senlilwnloS l

de uma terra cujos pmcllltos no a Inglaterra com a resoluccedil10 de

fazer urna curiosidade que se nacirco uista CO101iacutelil pom Cl

de eacute CiO menos inocente (itaacutelicos meus)

pod~ ser encontrado

107

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

() I

--------l

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I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 36: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

r [ ciecircncia e sentimento 1750-1800

----_-_--------shyculino) com necessidades a serem ~atisfeitas e ao mesmo tempo um eu receptivo (feminino) ~utopenetrado por sentishymentos O orOjeto diferenciador e cumulativo da ciecircncia exshyplicitament~ ~eajusta agravequela out~d f6rma de diferenciaccedilatildeo e acumulaccedilatildeo que eacute chamada de Ccedilagrave~to O conhecimento eacute identificado a6 consumo (como Sparrman agrave mesa de jantar viuacuteva) e agrave satisfaccedilatildeo de um desejo auto-reprimido

Na literatura da fronteira imCcediljerial a inocecircncia CCcedillilSshy

pkua do naturalista suponho adq1Jire significado em sua relaccedilatildeo com uma assumida culpa pela conquista uma culshypa da qual a figura do naturalista ~ternamente procura se esquivar e que eternamente menciofla nem que apeshynas para distanciar-se dela mais uma vez Ainda que os viashyjantes estivessem testemunhando as realidades cliaacuterias ela zona de contato mesmo que as instituiccedilotildees do expansioshynismo tenham tornado possiacuteveis sti~s viagens o discurso de viagem que a histoacuteria natural produz e que eacute produzishydo por ela repousa sobre um grande desejo uma forma de tomar posse sem subjugaccedilatildeo OH violecircncia Tal anseio alcanshyccedila seus extremos no uacuteltimo relato sul-africano que me proshyponho considerar As Viagens ao Interior da Aacutefrica Merishydional nos anos 1797 e 1798 de John Barrow livro lan~ashydo em Lonclres em 1801

Jlrranhotildees na face do paiacutes ou o que o sr barrow viu na terra dos bosquiacutemanos

As viagens de Barrow no lJ1lerior da Colocircnia do Cabo foram originadas por um periacuteodo de explosivas rupturas nas relaccedilotildees Iacutenternas entre a Companhia elas iacutendias Orientais a sociedade colonial africacircnder e os potentados indiacutegenas conjuntamente agrave escalada da agressatildeo externa ela Franccedila e da Inglaterra A tentativa de se conter a expansatildeo europeacuteia no rio Fish natildeo foi bem sucedida e os africacircnderes continua

___~~o~

narrando a antie()nquista -------~~-__-

ram sua invasatildeo do territoacuterio controlado pelos povos Eles tambeacutem continuaram a se ressentir relutacircncia da Companhia em apoiaacute-los Em n11ia enviou um landrost ou administrador para conter a crescente militacircncia africacircnder Ele permaneceu ncshyapenasuns poucos meses e pouco depois um ataque 11shycacircnder contra os nguni proV(jUU um levante geral sem pn shyceddntes de africanos contra europeus3gt Enmre2ados khoishykhoi e escravos k1lng se rebelaram em se juntaram aos nguniacute fornecendo mas roubadas de seus palrocirces europeus Eles forlln cillS tadOlarnente empregados contra os colonos lfric ndercs 1

quem () governo cLi colocircnia pouco par1 prolegcr africacircnderes reagiram aacute aclministracagraveo col()nial C (111 a mas aacutereas proclamar

Inceneza e violecircncia persistiram por mJitos anos num p(jriacuteodo em que os problemas financciros da nhia Holandesa das Iacutendias Orientais limitavam sua dade de reaccedilatildeo Em 1795 a Colocircnia do Cabo foi tomad1 pela Gratilde-Bretanha (sob o pretexto de que eSlava em de cair sob o controle dos que sob viam relentemente conquistado os PiIacuteses Baixos) Os coloshynizadores britacircnicos sul-africanos ingleses de hoje) coshymeccedilaram a chegar evidentemente mal recehidos pelos afrishycacircnderes A Colocircnia foi devolvida aos holandeses em lHO retomada pelos britftniacutecos em 180(gt e dchnitivII11CIlIC enio

sob o jugo britacircnico em 1815 J0I111 13arrmv dipl0111ata de carreira chegou tO Cabo c1urll1te () periacuteodo do co~tJll()le britflniCo como secreliacuterlo novo governador colonial Lorde JkClrtlll

McCanney )

VI

dirigentes cLt Companhia estabelecer o rcconllCcil11(111() 11 presenccedila britacircnica entre as pOplllaCcedil()t~S ariclIldcllS L II

genas ieacute al(m disso cloCUI11lntlJ 1 LIcc cio nliacute

l 35 Curtin el uNi Oj) ppOI ( ss

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I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 37: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

--------l

Ij

I

I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

Diferentemente de Kolb Paterson e Sparrman Barrow estava viajando oficialmente em nome de um emshypreendimento territorial eurocolonialista Em suas narratishyvas de viagem a retoacuterica de anticonquista do naturalista quase supera o papel de um relatoacuterio oficial visando a leshygitimaccedilatildeo da ocupaccedilatildeo britacircnica dCll Cabo No que pode parecer um paradoxo o relato de Barrow faz apenas reshyferecircncias muito limitadas aos acircngulos inilitares e diplomaacuteshyticos de sua missatildeo Ele escreve ilim pouco no padratildeo de Sparrman e Paterson como naturalista geoacutegrafo e etnoacuteshygrafo Estes discursos aparecem Cle 1 forma extremamente institucionalizada no texto de Barrow e satildeo conectados agrave expansatildeo imperial de maneira mais expliacutecita que nos esshycritos de Sparrman ou Paterson talvez porque Barrow estivesse escrevendo como representante oficial (um seshycretaacuterio de fato) ou talvez por conta de seu proacuteprio temshyperamento

Como seus predecessores o relato de Barrow em geshyral separa os africanos da Aacutefrica (e os europeus dos africashynos) relegando os primeiros a retratos etnograacuteficos ensejashydos pela narrativa da viagem A narrativa de Barrow consisshyte numa supeqlbundacircncia de descriccedilotildees da natureza e da paisagem uma catalogaccedilatildeo carente de emoccedilotildees daquilo a que Barrow ele Lambeacutem gostava de se referir como a face do paiacutes A passagem seguinte eacute ilustrativa

o dia seguinte atravessamos o rio Great Fish ainda qu~ nagravec sem alguma dificuldade posto que as ribanceiras eram altas e iacutengreshymes a corrente forte o leito rochoso e as aacuteguas fundas Algushymas belas aacutervores salgueiros-da-babilocircnia ou uma variedade dashyquela espeacutecie ladeavam o rio nesta aacuterea O lado oposto apresenshytava um lindo campo com muitIs matas e cursos daacutegua eacute proshyfusamente coberto de grama entre a qual crescia em grande abundacircncia uma espeacutecie deiacutendigo aparentemente o mesmo desshycrito pelo Sr Masson como candicans A primeira noite que acampamos na regiagraveo dos kaffir estaacutevamos proacuteximos a um coacuterrego chamado Kowsha que desaacutegua no rio Great Fbh No dia seguinte passamos pelas vilas de Malloo e Tooley os dois chefes e irmatildeos que haviacuteamos visto em Zuure Vddt vilas estas encantadoramente situadas sobre duas elevashyccedilotildees que afloram do citado riacho Tambeacutem pa~samos por diver-

I~--- middotmiddot-----I~Q

narrando a anti conquista

sos povoados localizados lO longo d8s 1ll1Iglt-ns cio G Iengb l

Slas ramificaccedilotildees e no dia seguinte chegamos ~I Uill Iio de 1l1~Itmiddot nitude muito consideraacutevel chamado Kdskalllllll

E assim prossegue pela maior pHte cleIacuteOO piacutegi[11o um tipo de narrativa estranha extremamente conticla qLle

parece fazer todo o possiacutevel para minimi-~lI ~l prcscI1[ humana Em geral o que eacute narrado eacute um1 sCq([(gtncil ele vistas ou lugares Detalhes visuais satildeo intLrcaLlclos com informaccedilatildeo teacutecnica e dassificatoacuteria Tende-~e 1 formar 1I[]1

quadro panoracircmico salpicado por termos esteacuteticos mitishygando o que de outra forma seria um vocabulaacuterio integralshymente insensiacutevel Os viajantes satildeo sobretudo apresentashydos como um tipo de olho coletivo moacutevel no qual sagraveo rcshygistradas as vistaspaisdgens enquanto ngentes su[ preshysenccedila eacute muito reduzida Na passagem mencionada por excn1plo o grande esforccedilo do grupo para CllIZ8r o rio nagraveo eacute narrado ou dramatizado em termos humanos e sim expresso de maneira bastante indireta como uma enumcshyraccedilatildeo I dos traccedilos do rio responsaacuteveis pela dificulcadc Prioridades heroacuteicas satildeo eliminadas os protagonislas eu Jopeus excljJem-se de sua proacutepria histoacuteriar N~IO haacute nem mesmo traccedilos ele qualquer coleta de espeacutecinics

-1---~6-JOhn J3armw - flll[ 0 SOlAn ACCOUllf 01 Trazes illlo

than Allica Iacutelz lhe Yelrs J 797 (lIc 1798 Lo IllI C1l1l11 1e1 lil vies 1801 lClc1iccedilagraveo New York Johnsoll leprilll CorporII llc ppISgtO-l U1l1a sCqLiecircnci~1 dlS lrCiues veiu ~l llll llll l~) I C()ll() lln

segundo VOlUlllC A n~I() -(1 qU~lndu incliclllo [()dlgt 1 citI()l 1(

provenientes do vol I 37 Barrow manteacutem ~I uto-eliminaccedilagraveo Illesmo qUClllcl 111111 1110111-11

de drama e grande perigo pessoal que floderial1l alclilpr flollloS elrClIlllmiddot ricos extrerno-i Ao cJecrl~vmiddotr C()nlO se processou rl1g~ (Il 11111 Illclnclj() na Inat2~ seruumlo dS GITOccedilaS u gado os eles t o teITL110 qUl JLgi-gtlrarj() 1

crise ao peacutelSSO que a txperiecircnci lHJlnan~l ( fUkiltlilIlllnlL Jlnt~ldl

S8iacutenlos lltll pouco do calltinho que Ilvava 10 lUgl r llL oIldL prOiIlhl

H fumaccedila contudo estando ~IS carroccedilas a sot~lenl() t d~ldo llLlt (11 tania se intensificou antes que percebecircssemcs estavaJll elas lO Jlleio do incecircndio e a fumaccedila estava t~o dellsa e ante LiU iliCJ podLill10S I o grupo em toda a sua extens Os bois tendo sido LJUClillCldos 111

palas tornaraIll-se ingovem(Jv(is e fugiram a galopl llll grande COilmiddot

fusatildeo os cachorros ganianJ t houve griwria ger~l t ftll1lac lr~ SUr()shy

111

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

ele rculiacuteI(( I

elll pn)moccediluc) ur lei L11llt Iciacuted1 Paterson descrevem 1 l((lliacuteCIS qlll

e ataqu( JCI11lp~1

IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

europell (l 11j)1() k hl

a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 38: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

bull -~f

I ciecircncia e sentimento 1750-1800

Os moradores do campo fossem africanos indiacutegenas ou colonos bocirceres aparecem na narrativa principalmente como elementos do panorama Os povoados ngu1i mencioshynados acima por exemplo satildeo menos relevantes no discurshyso que os rios e Cursos de aacutegua e natildeo se fornece qualquer siGal de seus habitantes A histoacuteria que motiva a presenccedila de Barrow e determina seu itineraacuterio natildeo tem qualquer pashypel constitutivo no texto A travessia do rio Fish eacute descrita sem qualquer menccedilatildeo ao significado poliacutetico do rio CGmo fronteira da p~netraccedilatildeo africacircnder ainda que seu estatuto de fronteira constitua a verdadeira razatildeo para que Barrow o esteja atravessando As Montanhas Nevadas satildeo ultrapassashydas sem que haja qU8Jquer referecircncia agrave sua significaccedilatildeo como a principal base para a atividade guerrilheira antieushyropeacuteia - fonte de consideraacutevel apreensatildeo para todos os viashyjantes no local Noutra logo descrever uma faixa de campo selvagem inabitado Barrow efetivamente afirma que 1 regiatildeo havia anteriormente sido uma das divishysotildees mais povoadas do distrito ora despovoada em conseshyquumlecircncia do escandaloso conflito entre o campesinato e os kaffirs38 Mais tarde Barrow diria que havia propositalmenshyte evitado a discussatildeo poliacutetica em seu relato em parte por discriccedilatildeo e em parte porque concluiacute entatildeo que havia uma uacutenica opiniatildeo a respeito do real valor do Cabo da Boa Esshyperanccedila 39

Asstn o drama na narrativa de Barrow natildeo eacute produshyzido pela histoacuteria nem pela agecircncia dos proacuteprios viajantes mas pela face variada do paiacutes tal como ela se apresenta a si

cante as chamas ardiam em ambos os lados das carroccedilas o que esshypecialmente para aquelas que cominham uma quantidade de poacutelvora era muito alarmante Por vaacuterias miacutelhls a face do campo era uma [omiddot lha de fogo e o ar estava obscurecido pela nuvem de fumaccedila

(Barrow op ciI p195)

Tatildeo suprimida eacute a presenccedila humana que a sintllxe faz com que as carroshyccedilas se alarmem pelas chamas e nacirco as pessoas que estatildeo em perigo de ser destroccedilada pela explosatildeo 38 Barrow op cU p165 39 Barrow Travels vol lI p3

_-t12~~--

IiJlshymesrna acs guagem de Barrow sugere a priaccedilatildeo que est1 inscrita nesta de outra form~l ll)(r ta e passiva O olho determina o que ele lbr1I1ge em S~lI olhar as montanhas e vales se mostram apreentam UIll

cenaacuterio o paiacutes se abre para os visiWrHtS i Cll

eacute absolutamente incontlt-sucl Ao IllCSl1lC) lmpo 1 perscrutador olho europeu parece imporClll( par~1 S()

bre ou com este cenaacuterio que se ()rerlC~ si I11Cshy

nagraveo incliviclultjIi7acio Stlll ego () 1)1110 I1middotI(

ijfazer nada mais cio que ohservtr dl

estamos novamel1te 110 l-cil1l lI

darrow da paisaWIll lt10 L Hh

um discurso explica ti( clnlt li lJ

reflete os desenvolvimentos da histoacuteria naturaL no fiacutenl li seacuteculo XVIII Neste modo explicativo a GllJiJic(l -- ( 11(

a classificaccedilatildeo - define a tarefa a cumprir () cio ( vador natildeo eacute o de apenas coletar o visiacutevel lln~ () e 1111(1

etn te finos do A descriccedilClo de ))1 middotlr) shy

sa aacuterea de l(~mnamento ao lado de um

teacutermicas e cidas para explicar a presenccedila ele minerais dos pacircntanos as direccedilotildees das caclias de cursos de rios Experimentos satildeo propriedades ocultas - o mundo natildeo eacute aos olhos como o eacute para o colecionador lincalO to discurso a explicaccedilatildeo acrescenta unia c1iacutenwnsl() de pnmiddot fundidade agrave superfiacutecie encoberta da termi 1i11t111~1 Ela tambeacutem gera novoS poderes planetaacuterios para () te da histoacuteria natural agora de posse de um olho 11ltclIacute(

encarregado de decifrar aquilo que Alexancler ()1 HUIllshy

boldt (o mestre cio lTlodo ci1~llnlria ck da natureza Qud eacute a relaclo que ~lri(llb

estes novOs poderes de explicaccedilatildeo IS forca multI lil

IJO BmTOW op ciI ppJ25-6

)

)

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

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)CIill1wntecirc ()~

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e ataqu( JCI11lp~1

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mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

constantementlt escaplssem Sparrman dlp[()rl lIlll LI( l

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a sSlg li 11 I que 11ltl 1111

ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 39: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

narrando l a anticonquista _____~__4~~

Barrow suas prescnccediloes emammdo de Llm~l fonte dlt Pliacuteshy

atraacutes do e inocente eu Ecirc uacutelrefa dos ba1tedores avanccedilados cio

to cilpi~alista caracterizar que encontram como Iliiacuteo

aperIacuteeiacuteccediloado e mantendo a terminologia da aberto a perfeiccediloamenros As

devem ser apresent te pontCj a separaccedilatildeo textual de e pessOf1S de rcshy

sobre habitantes e relatos sobre seus hlhiacutetlS

a sua loacutegica O olhar apelfeiccediloador europeu bitats dtf subsistecircncia como apenfs em termos de um futuro capitalista c de SlU PPllJ1shy

daI para a produccedilatildeO de comtrcidiziacute veis Do ponto de vista de seus habitantes ObVIacuteltI mente estes messhymos espaccedilos satildeo de maneira intensamente

saturada ele histoacuteria local e ianificliO omk

nhedmento Natildeo os habitats devem ser apresentados como

vazios e natildeo aperfeiccediloados mas os habitantes tamheacutem Para o olhar aperfeiccediloadof as potencialidades do futuro nial satildeo Ijustificadas com base nas ausecircncias e tlCunL~ cLt vil

no presente Para Barrow o presente africano aperfeiccediloado inclui natildeo apenas os 11110 (hrpnrntplt

(bosquiacutemanos) e os nguni exploradores e competidores tanto quanto os africanos devem ser ltljuiz1llos

te em relaccedilatildeo agraves landesas anteriores e os 1 vem ser depreciados cacircnderes surw~ n(J texto de Barrow eacute comc

por Sll~l

l 1111 nUT

e sentimento 1750-1800

nologia ind ustrial e ao faminto iacutempeto empresarial receacutemshysurgido na Europa durante estas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo

Deoomdo de lado as profundezas ocultas natildeo eacute surshypreendente encontrar um emissaacutedo de uma potecircncia im-

I

perial europeacuteia preocupando-se acima de tudo com a finiccedilatildeo do territoacuterio e com o rastreamento de periacutemetros especialmente na Aacutefrica meridional ond~ a posse de terrishytoacuterios tornou-se parte da I=xpansionista Na n8r-middot rativa de Barrow mais que na de seus predecessqres o olho que numa acepccedilatildeo espaciali examina as potencialishyciadcs sabe tambeacutem estar examinando as perspectivas num sentido temporal - as possibilidades de um futuro coshylonial satildeo codificadas como recursos a desenvolver exceshy

I dentes a ser comerciados cidades a construir Tais perspectivas satildeo o que torna a informaccedilatildeo relevante numa descriccedilatildeo Elas fazem com que uma planiacutecie seja boa torna relevante que um pico seja graniacutetico ou um vale bem arborizado As descriccedilotildees visuais pressu potildeem - nashyturalizam - um projeto transformador incorporado pelos europeus Frequumlentemente tal projeto explicitamente afIoshyra no texto de Barrow nas expectativas de aperfeiccediloashymento cujo valor eacute comumente descrito como esteacutetico Um lugar na Baiacutea de Algoa eacute descrito como a mais bela posiccedilatildeo que se pode imaginar para uma pequena vila pesshyqueira natildeo muito longe dali encontra-se um vasto pacircntashyno que por meio de uma simples drenagem poderia ser convertido num beliacutessimo prado1 a descoberta de mineacuteshyfio contendO chumbo sugere uma valiosa aquisiccedilatildeo para a colocircnia espedalmente porque ela foi feita num lugar onde uma cidade mineira poderia ser facilmente fundada Em seus momentos mais pragmaacuteticos Barrow natildeo eacute avershyso a dlscutir o niacutevel de preccedilos de mercadorias ou o valor da presenccedila militar britacircnica enquanto um nwrcado para a produccedilatildeo local Afora estas manifestaccedilotildees expliacutecitas o esshypiacuterito britacircnico de aperfeiccediloamento pcrmeia o texto de

t 41 Ibid pp132-7 42 Ibid plO

It~r-----

Um verdadeiro C1I11pon( Iloltndecircs Oll hltI ((I llllltl d 1111lt1

si memo) nilo lem a J11lllor kl(~i do que um LIICmililmiddotltl

lntende pela pdlWII conforto Oolldo i1UIlI paio (111 qll(

)

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

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I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

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nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

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e ataqu( JCI11lp~1

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mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

e assim foi feit) tmho)1 ele

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ta eacute accirlsse a (t)cravi7lil I (Ir

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

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  • mari
Page 40: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

i

uma reJtlccedillO clJ

e 00 trabalho em favor de uma maneira de vinl os frutos da terra fossem usufruiacutedos na medida Clt)

em que o trabalho fosse evitado e o lazer e o oacutecio fossem uma e a ll1eSIlll

coisa O paracircmetro de compar~lccedilatildeo de Blrrow plra n camT)OlneSes africanos (donos de eSCr~IV()s) satildeo como s(shy

ria de se esperar em 1801 os trabalhadores pobres ela Inshyglaterra cuja su perioriacuteelacle em relaccedilatildeo aOs uro- frica 11(

residia de alguma forma no fato de que lias por semlshyna estavam condenados a uma fain~1 de doze horl~ para um pedaccedilo ele pilo para sua flmilia

ciclos ou sos de se trabalhadora

l~lll

que Ilarnl iacutecl 1

correlatos sobre ltl

no Caribe tais como o ck )ohn Sredmlll seraacute discutido no capiacutetulo 5 e que Barrow hashy

via lido Na Ameacuterica espanhob um t1uxo de viajant~s de ingleses no iniacutecio do seacuteculo XIX zombariam ela sociedade crioula hispano-americana ela

- mesma forma que Barrow c(mtra os afridll1deres se o capiacutetulo Os paralelos natildeo satildeo 1800 a estava tatildeo imensamente na Ameacuterica do SuL como na Aacutefrica meridional O Barrow fones entre as dUJs

a Colocircnil do

ao posto

t +1 Coetzec

iacute5 Barrow

lU

46 cf (oetzet op voiul11e de 111( 1( rilO o retorno do domiacuteniO holandecircS ao Cli)o continua n aUC[11l llt 111lt111 deres ele forllla (onsicenivet1wn le mais lt[(111

~i ~

ciecirc11cia e sentimento 1750-1800

apen~ls o que lhe eacute necessaacuterio mtJs praticamente toda comodi- (iacutemiddot dade da vida poderia ser produzida pela ele natildeo goza d de nenr-uma delas Ainda que possua em abundacircncia faz Ii muito p6UCO uso do leite ou da Em meio ao mais fa-I voraacutevd solo e clima para o cultivo vinhas ele natildeo bebe vishy I nho Trecircs vezes ao dia sua mesa eacute atulhada de montes de carne

de carneiro boiando na gordura de rabos de ovelha Sua casa ou eacute aberta ateacute o teto ou cobe~tl por estacas e turfa Os assentos de suas cadeiras de tiras de couro cru As janelas natildeo tecircm vidros

prossegue por duas Numa leitura este retrato poderia ser um canto de

louvor ao nobre selvagem e agrave vida simples Assertivo deshymais para que possa ser chamado de etnograacutefico o retra to termina com uma significativa mudanccedila de terminologia (os WiJicos satildeo meus)

Com a mente destituiacuteda de qualquer tipo de preocupaccedilatildeo ou rer1cshyxatildeo entregando-se excessivamente agrave de qualquer apemiddotmiddot tite sensual o campocircnio africano cresce desproporcionahnnte ateacute ser levldo pela primeira moleacutestia ilflamatoacuteria que o acomelaH

Como noacuteta Coetzee os viajantes europeus mente condenavam os bocirceres nos mesmos termos que usashyvam para condenar os hotentotes w~ando como chave indolecircncia e preguiccedila Ambos os grupos

estavam sujeitos agrave intencional euroshypeus no tocante agraves formas de vida tradicionais da Aacutefrica meshyridional fossem elas dos africanos ou dos euro-africanos colonizadores Os bocirceres sushygere apresentavam um desafio particular para os valores burgueses europeus precisamente porque na quashylidade classe colonial dominante com acesso virtualmenshyte ilimitado agrave terra e trabalho ILrre tinham os meios aproshypriados agrave consecuccedilatildeo dos ideais europeus de acumulaccedilatildeo consumo e enriquecimento por meio do trabalho e no enshy

escolheram nagraveo alcanccedilaacute-los A seu ver aos observadores europeus a possibilidade de que sob

43 Ibid pp76-7

11 iacute _--~

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

de pcs )1-- qu](

rextuali~adas tra nsforma l1l-se t11lil () nll VI1LlllllLI 1 ( tnlccedilCcedil)S O fato de que as comunidades IkLmfZ de iilLli

XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

~lmiddotIS 11 ( I1

Ele um l1t1(ilcle 1 i uma liacutesta clt caracteriacutesticas situada llU11l

diferente cio ile 111 pc I rines Fahian utiliacutezou a

neidade pma se referir

I ltI I r l~41i liJid pp2Hi-middotiacute iacute) livro de IkllTO 1lmheacutefll 11lulI dos khoikho rhcrcIlloit) t ngulll -1

llll

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

de repress30 conWI aquek povo Sl1 lgcm

a vida pastoril CO110 foi dito Uo 1qlCIlICmiddot

constantes queixas ~l)hrl lS licshyIre li1 CO1l

)CIill1wntecirc ()~

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IXlr

mais remotas (eleS natildeo vivenll11 etermU1H1

posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

1 cscravizaccedili() dos II10ikl1oi p(rllili~l ljll (l

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I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

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Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

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belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

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povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

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  • mari
Page 41: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

ciecircncia e oonttrnant 1750-1800

Horn A histoacuteria viria a corroboraacute-lo Alguns dos generais britacircnicos que reconquistaram o Cabo para a Gratilde-Bretanha em 1806 foram para a Argentina meses mais tarde particishypar do ataque britacircnico a La PIata

O principal objeto de interesse etnograacutefico das Viashygens de Barrow natildeo satildeo os khoihhoi mas os kung mais conhecidos por seus epiacutetetos coloniais de bosjesmans ou bosquiacutemanos Povo que tem permatuacute=cido tema de graride interesse et~lograacutetko e fantasia ideolOacutegica ocidenta-l ateacute os dias de hoje os kung satildeo antigos habitantes do sul da ca que quando do estabelecimento europeus jaacute se enmiddotmiddot contravam em dura competiccedilatildeo com os imigrantes khoishy

e nguni criadores de gado Enquanto populaccedilatildeo extreshymamente moacutevel vivendo em pequenos grupos nem manshytinham animais nem cultivaVeacutell11 lltvoura Nos seacuteculos XVII e XVIII eram conhecidos e temidos antes de tudo pelos atashyques noturnos ao rebanho dos khoUumlchoi e poste-iormente

I ao dos europeus

Repetindo a usual divisatildeo textval de trabalho Barrow apresenta os kung num retrato etnograacutefico de dezesseis paacuteshyginas separado do corpo principal da narrativa Deixe-me usaacute-lo como oportunidade para refletir sobre como estes aparatos padronizados do relato de viagem prodUZiam temas natildeo europeus para a audiecircncia domeacutestica do imperiashylismo Eis aaui um trecho

Por inclinaccedilatildeo (o bosqtiiacutemano) eacute vivaz e alegre e COlHO pessol ativo Seus talentos estagraveo bem acima da mediocridade ( ivesso ao oacutecio c raramente permanece sem emprego Geralmente COIlshyfinados a suas choupanas de dia por temor de serem surpreenmiddot didos fazendeiros algumas vezes danccedilll11 em noite de lu cheia ateacute o raiar do soL As pequenas trilha drculafCs em torshyno de su~ cabanas satildeo pova mento Sua alegria eacute anto mais surpreendente quando se obsershyva que as migalhas que procura para sua subistecircnda s~o obrIacuteshydas com perigo e fadiga Ele nilo cultiva () solo nem cria e sua regiatildeo produz poucos bens naturuacutes aproprilttclos ~l

taccedilatildeo Os bulbos da iacuteris e poucas raiacutezes gramiacuteneas de um gosro

Barrow 01 cil p17 e p1 respectivamente

---~~~

narrando a anticonquista

amargo e penetrante eacute ruel(gt o que o reill(l tglt~ll lhes ICCIYI

Agrave procura destes bens [oeb a sunerfiacutecie eb hniacute Dj()xiacuteI1111 11lt

gr~lpO foi _~~ AI

inicial tornlpassagem povo a subjugado isto eacute apresentando-o jeitos num coletivo eles se resume ail1cb mal~ J uni icocircnico ele ( gtp(mp nIltl11o adulto C mlchaacutel ESI(

caracterizam L111 p 1 11 LIser n~o como um (vel1l0

como uma inst~lnciacutea de costume ou traccedilo

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XIX viviam em conSlante anrecnsI() c rwrigo como um costume de Si (-conde

de dia e danccedilar agrave noite A antropologia criacutetica tem Jeconbecido a extlJnltl gt

descritivas tecircm atuado par1 1011ll1 pam I seus trltIC(l d

outro o IYlrrltt) plr1 n aternporal que tlt )(11- 1-shy

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e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

gerante e mohilizada odiada pllos khoikhoj C0l10 seh1 gcns e maldosos Estlt foi um mito que os colol1os lllJ()PCll~

assumiram aliando-se aos khoikhoi (m ClJllshy

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posto habitat natural o deserto de Kalahl aacutelente mesmo 1 eacuteroca de Sparn1an e P~ltlrS()ll nidades haviam se rornaclt) trarem tatildeo bem escondidos Lqlam () SOhrlilnl guns kung todavia foram forccedilados a Llzcr p~lrtC cIt CC()1()

mia pa3toril europeacuteia por meio de meacutetodos mente criticados pelos viajantes Enquant() 1 vi lI1 ((lll

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

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cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

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Page 42: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

e sentimento 1750-1800

to temporal9 Esta eacute uma velha praacutetica textual que efetivashymente compementa os processQS de des-culturaccedilatildeo e des-territoriacutealizaccedilagraveo discutidos anteliurmente

Sob o aspecto gramatical ocorrem na passagem citashyda dois poutos em que o presenteetnograacutefico aremporal da descriccedilatildeo normativa eacute interrompido por uma narrativa no preteacuterito As trilhas em torno das cabanas dos bosquiacutemanos eram prova de sua inclinaccedilatildeo para a danccedila e dada a sua procura de raiacutezes a superfiacutecie das vizinhas foi rasshypada De um mouo fantasmagoacuterico estas duas instacircncias de verbos no passado se referem retrospectivamente a urna ocasiatildeo ou ocasiotildees de contato entre Barrow e os bosquiacutemanos O que eles encontro c(m eles mas com os tracos aue deIXaram na sagem - cs arranhotildees na face do

A voz nOlmalizadora e elos retratos etnograacuteficos de maneiras e costumes eacute distinta da do narrador mas a ela Ambas tem a chanceshyla do projeto global da histoacuteria naturll lima apresenta a r(rshyra como paisagem e territoacuterio potencialidades a outra apresenta os habitantes indiacutegenas como corpos fugidios igualmente rastreados conforme suas potencialidashydes Conjugadamente elas desmantelam a rede soacutecio-ecoloacuteshygica que as precedia e instalam uma ordem discursiva eurocolonial cujas formas territoriais e visuais de autoridade satildeo aquelas do estado moderro Apartados da paisagem em disputa os povos indiacutegenas satildeo abstraiacutedos da histoacuteria que estaacute sendo feita - uma histoacuteria na qual os europeus tencioshynam reinseri-Ios como reservatoacuterio de trabalhu explorddo

Neste contexto natildeo se deixar de notar que em contraste com a ociosidade detectada em africacircnderes e

Barrow encontra nos kung as mesmas qualidashydes que valoriza na classe trabalhadora inglesa Eles satildeo avessos ao oacutecio e de trabalham duro por LIma pequena recompensa plra Ot) ngeses raiacuteze~ amargas

y 49 Johannes Fabian Time and lhe Olher flow Autbropoogy Makes Its Object New Columbia U P 1983 p35

---~~~

nflo obstante sua to de BaJTow ~l o elogio aos kung

O que CJuer que os modos de viver (in

sido antes do seacuteculo XVII por volu da dos europeus Iparent~rnentc FI eram Uilll

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ciecircncia e sentimento 1750-1800

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No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

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Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

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belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

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- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

  • marypdf
  • mari
Page 43: Mary L Pratt - Os Olhos do Império

I I

ciecircncia e sentimento 1750-1800

peu em troca da proximidade deseu filho Esta praacutetica foi adaptada de teacutecnicas para a captura de animais 0

No final do seacuteculo XVIII os Ruumlng haviam deixado de ser uma ameaccedila seacuteria e haviamadquiriclo o estatuto de povo conquistado Nos escritos europeus comeccedilaram a aparecer natildeo como selvagens maleacutevolos mas dentro de um novo estereoacutetipo sentimental como viacutetimas benignas ingecircshynuas e infantis Barrow eacute um dos escritores que inaugurashyiam este emiddottereoacutetipo como na passagem citada acima Num episoacutedio da narrativa ele encontra na casa de um comanshydante africacircnder uma famiacutelia kungque havia acabado de ser capturada pelos invasores africagravenderes O resumo cb conversaccedilacirco mantida por Barrow com o homem cativo apresenta um marcante contrasle em relaccedilatildeo agrave retoacuterica preshyponderante em seu livro Ao inveacutes de transformar o outro numa informaccedilatildeo Barrow procura expor sua perspectiva C

vaiorizar sua experiecircncia da perseguiccedilatildeo colonial

Ele no descreveu a condiccedilatildeo de seus compatriotas como verda deiramente deploraacutevel Afirmou que por vaacuterios meses todos os anos quando a geada e a neve os impediam de promover suas excursotildees contra os fazendeiros seu sofrimento devieb ao frio e carecircncia de alimentos era indescritiacutevel que frequumlentemente assisshytiam a morte de suas mulheres e filhos por inaniccedilatildeo sem que eles pudessem lhes dar qualquer consolo A boa estaccedilatildeo lhes trazia pouco aliacutevio agrave sua mis~ria Eles se sabiam odiados por loda a hushymanidade e que a proacutepria naccedilatildeo que os circundava era um inishymigo planejando sua destruiccedilatildeo Natildeo havia sopro de vento fadashylhando as folhas ou canto de paacutessaro que nagraveo fosse tomado como anuumlncio de perigo

No entanto natildeo se colocavj em duacutevida que o locutor fosse absorvido pela estrutura de poder ~urocolcnial Ele jaacute o havia sido de acordo com os olhos de Barrow Pretenshydia-se assim termina o episoacutedio que este homenzinho nos acompanhasse mas como ele parecia mais inclinado a honrar seus compromissos com suas mulheres foi-lhe pershymitido seguir suas inclinaccedilotildees maritais (itaacutelicos meus)

t~evo ~-observaccedilatildeo a Harriet RilVO 51 J31ITOW op cit pp24J-2

-------~~-shy

Ao final o engajamento humanitaacuterio ck 3~lIT()V C()lll os kung o leva ateacute o outro lado ela anticonquisll ciacutecnliacuteCill onde se rompe Sua retoacuterica visual e objetiacutevista O r-primiacutedo volca a seu textd rluumlm episoacutedi~) com o qull chego ~o fi I11 cll~shyte alentado capiacutetulo Fascinado pelos kung 13~ITOW JllO quer nada mais que vecirc-los em seu estado I1Jlurl perseguiccedilatildeo aos kung hlvia sido tatildeo JramIL CjlIC 1 llI1icI [()J

ma de contatCl com suas comunidades er 1 ele lillrlI11lIllL invadi-Ias Apenas por meio de um culposo 11() dc CC)Jlqlll~shyta (invaatildeo) poele o inocente lto dt antiuJIlqlIisl1 (olklri desempenhado Em nome do olhar Barj() relullIlllI11L11I contraia alguns fazendeiro lfriclllderes 1ir1 LI Llll mente isso Empunhando lS ferramentas lLI I )11LLlIgtl1 -- I mas e cavalos - eles penetram 8 noite soh 1 L()nclcI) (SI

belecicLJ por Barrow ele que nenhum tiro [IlSSC (k~rcriclL) I

natildeo ser por revide A aventura parece 11J ido IrilII11liL1 para ele uma verdadeira descida ao inferno ul[a dl~lriacutecl I

contrasta dramaticamente com o testo ~o ino () 1llljUl IH) turno agrave horda faz irromper na superfiacutecie do texlo 111110 I

linguagem da conquistltl como a linguagem do reI11orso

Nossos ouvidos estaV~Jll choc~dos pelo horrIacutell1 grilO li) illnnllllI de guena dos selvagens os guinchos das Jllullllrls l llS 1lgid elas crianccedilas procediam de todos os lados Eu CIIlIglll lOIl1 () l()

mandantltotilde ltotilde outro fazenckiro ambos os qUlis llilrl1 hl vila Eu illlcdiatamenle cxpressci ao prillleirll llliJ1i11 surpl1 1 tltotilder sido justanleacutentc ele entre todos os dcmlis1 (jlllllilr IIn1 cliccedilatildeo quc h~lvia SOcIlCI)WIltc prolllclillo ohSlIlr L IllIl III CI rara dele uma linha de conduta haswnte difercll1l lOJll lu exclamou njo viu a chuva de selas quc aiu sohl [1(i FII ll

lamente Il~l() havia visto Ilcm eLi nelll PlSIS 1)11 11IIi1 (11

do o suficiente para perJurll o mais inccnsIacuteIll clI1S (rILIIL

Seria difiacutecil exagerar o quatildeo C0I11pkI1I11l111l ll

episoacutedio destoa do resto do texto de Bm() E 1 ll 11 il1

cena noturna no trabalho a uacutenica instacircnci1 dt dillogo cli reto a uacutenica ocasiatildeo em que Barrow dramatiza a ~i mcshymo como um participante () uacutenico arroubo ele CJ11ocatildeo 1 uacutenica explosatildeo de violecircncia uma das pouc CCJ1a~ 011llcshy

i --~-Ibid p272

)) I d 1 t

- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

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- ----------ciacuteecircncia e sentimento 1750-1800

povos e lugar coincidem e a uacutenica vez que Barrow quesshytlona sua inseguranccedila a respeito de seu ambiente Um dos poucos episoacutedios dramaacuteticos no livro de Barrow eacute o uacutenishyco em que o sujeito locutor se divide surgindo tanto quanto obsevador como observado O que parece provoshycar a crise eacute o fato de que Barrow opta por exercitar seu direito assegurado pelo Estado para legitimar a da natildeo contudo para defender a si mesmo ou seus conshycidadatildeos mas simplesmente para dar uma olhada para satisfazer sua curiosidade A ideologia que constroacutei o ver como inerentemente passivo e a curiosidade como inoshycente natildeo pode ser sustentada e a ordem discursiva de Barrow SI rompe juntamente com seu discurso moral hushymanitaacuterio Nesse rompimento insere-se um contra-discurshysosenUacutementaL Barrow extravasa de modo confessional Nada diria mais tarde poderia ser mais indefensaacutevel posto que cruel e injusto do que o ataque promovido por nosso grupo agrave vila53

Estilo confessional poreacutem natildeo transformativo a pershyda da inocecircncia por parte de Barrow natildeo produziu um novo ego nem frovas relaccedilocirces de discurso Sua descida ao no colonial seria repetida muitas vezes pelos escritores subshysequumlentes Um seacuteculo mais tarde quando a Europa setenmiddot tdonal havia criado sua proacutepria lenda negra sobre a odioshysa luta genocida pela Aacutefrica aquela descida tornar-se-ia a histoacuteria canocircnica sobre a Europa na Aacutefrica a queda de uma perspectiva ensolarada para o coraccedilatildeo das trevas

__poacutes-escrito histoacuterico

Em 1803 a Gratilde-Bretanha devolveu a Colocircnia do aos holandeses uma perda que afligiu tanto Barrow a dI ele abandonar tudo durante [recircs meses para compor um segundo volume de suas Viakens evidenciando o valor do

Ibid p291

narrando a anticonquiacutesta

Cabo para os interesses comerciais e militares britacircnicos Seus argumentos podem ter sido efetivos pois em 1806 l

Gratilde-Bretanha de fato retornou o Cabo pela de Barrow marcou comeccedilo pelo domiacutenio britacircnico que foi em 1815 Os britacircnicos comprometendo-se desta forma a ajuebr os contra os nguni A resistecircncia nguniacute continuou ao seacuteculo XIX foram travadas guerras em 1819 11154) 1846

1877-8 novas leis tentaram esteacutelbelecer a sullmiddot

jugaccedilatildeo indiacutegena Em 1809 rl(~ acordo com relato riacuteco canocircnico de CUl1iacuten ct aNi o estatuto Jc gl dos khoishykhoi e de outros povos de pele escura nagraveo escclvillcOS foi definido de tal forma que a maior parte delc-gt foi obrigaeb a trabalhar para os europeus ainda que usufruiacutessem de 11shyguma proteccedilagraveo por possuiacuterem contratos ele lrlbt1ho escritos e acesso aos tribunais O truque inventado pelos bocircltre para escravizar os bosquiacutemanos foi Em lRI2 no proprietaacuterios de terra europeus foram alltorizado~ lutcLtr

as crianccedilas que haviam sido criadas em suas fazendas uma determinaccedilatildeo que tambeacutem imohilizava seus pais Em 1820 5000 colonos britacircnicos aportaram com eles

europeacuteia a lv1issionaacuteria Londrina Society] que estabeleceu Ui1l] nsi-tecircl1shy

eia humanitaacuteria a alguns dos abusos mais hruuis O ao lado ela

de viagem eacute o tema do capiacutetulo

54 Curtin e cil p II

[21____----P24

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