Martín-Baró, Ignacio. (2013). O Método em Psicologia Política. Trad. fernando Lacerda. RPP...

18
 O MÉTODO EM PSICOLOGIA POLÍTICA PSICOLOGIA POLÍTICA. VOL. 13. 28. PP. 575-592. SET.    DEZ. 2013 575 O Método em Psicologia Política The Method in Political Psychology El método en Psicología Política La Méthode en Psychologie Politique Trabalho finalizado, por Ignácio Martín-Baró (07.11.1942 – 16.11.1989), no início de 1989 e  publicado, pela primeira vez, em 1991 no segundo livro organizado por Maritza Montero sobre a psicologia  política latino-americana: Martín-Baró, Ignácio . (1991).  El método en psicología política. Em Maritza Montero (Org.),  Acción y discurso: Problemas de psicología  política en América Latina (pp. 39-56). Caracas:  EDUVEN. Traduzido por Fernando Lacerda.  Prof. Dr. em Psicologia pela PUC Campinas, Campinas, SP, Brasil. Atualmente é professor na Universidade  Federal de Goiás, Faculdade de Educação, Goiânia, GO, Brasil. Martín-Baró, Ignácio. (1991). El método en psicología  política (2013, Fernando Lacerda, trad.). O Método em Psicologia Política.  Psicologia Política, 13(28), 575- 592. Problemas Metodológicos da Psicologia Política A psicologia política é um dos ramos que, em sua formalidade específica, começou a ser cultivado recentemente na América Latina. Isto não quer dizer que a psicologia dirigiu sua atenção para o âmbito da política apenas nos últimos anos e que, consequentemente, não podem ser identificados trabalhos de psicologia    C    l    á   s   s    i   c   o   s   e   m     P   s    i   c   o    l   o   g    i   a    P   o    l    í    t    i   c   a

description

Texto originalmente publicado em espanhol.

Transcript of Martín-Baró, Ignacio. (2013). O Método em Psicologia Política. Trad. fernando Lacerda. RPP...

  • O MTODO EM PSICOLOGIA POLTICA

    PSICOLOGIA POLTICA. VOL. 13. N 28. PP. 575-592. SET. DEZ. 2013 575

    O Mtodo em Psicologia Poltica

    The Method in Political Psychology

    El mtodo en Psicologa Poltica

    La Mthode en Psychologie Politique

    Trabalho finalizado, por Igncio Martn-Bar (07.11.1942 16.11.1989), no incio de 1989 e publicado, pela primeira vez, em 1991 no segundo livro organizado por Maritza Montero sobre a psicologia poltica latino-americana: Martn-Bar, Igncio. (1991). El mtodo en psicologa poltica. Em Maritza Montero (Org.), Accin y discurso: Problemas de psicologa poltica en Amrica Latina (pp. 39-56). Caracas: EDUVEN. Traduzido por Fernando Lacerda. Prof. Dr. em Psicologia pela PUC Campinas, Campinas, SP, Brasil. Atualmente professor na Universidade Federal de Gois, Faculdade de Educao, Goinia, GO, Brasil. Martn-Bar, Igncio. (1991). El mtodo en psicologa poltica (2013, Fernando Lacerda, trad.). O Mtodo em Psicologia Poltica. Psicologia Poltica, 13(28), 575-592.

    Problemas Metodolgicos da Psicologia Poltica

    A psicologia poltica um dos ramos que, em sua formalidade especfica, comeou a ser cultivado recentemente na Amrica Latina. Isto no quer dizer que a psicologia dirigiu sua ateno para o mbito da poltica apenas nos ltimos anos e que, consequentemente, no podem ser identificados trabalhos de psicologia

    Cl

    ssic

    os e

    m P

    sico

    logi

    a Po

    ltic

    a

  • CLSSICOS EM PSICOLOGIA POLTICA

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA POLTICA 576

    poltica em datas anteriores. Apenas significa que somente nas duas ltimas dcadas, especialmente na dcada de 1980, que a psicologia poltica comeou a ser cultivada de forma sistemtica por um bom nmero de cientistas sociais latino-americanos.

    Trs aspectos contriburam especialmente para este interesse pela psicologia poltica: (a) o desenvolvimento da psicologia e, especialmente, da psicologia social, assim como o aumento do nmero de psiclogos em diversos pases da Amrica Latina; (b) a conscincia sobre a urgncia e a gravidade dos problemas sociopolticos enfrentados pelos povos latino-americanos e o impacto, direto e indireto, tanto sobre a sade mental dos indivduos, quanto sobre o desenvolvimento pessoal coletivo; (c) a crescente insatisfao com o papel desempenhado pela psicologia no interior do ordenamento social dos pases latino-americanos, identificado como um papel que serve predominantemente aos interesses das classes no poder (Martn-Bar, 1986; 1987a).

    Ao se buscar a elaborao sistemtica da psicologia poltica, comearam a aparecer, explicitamente, diversos problemas enfrentados por este ramo do quefazer das cincias sociais. Estes problemas podem ser sintetizados em trs categorias (ver Martn-Bar, 1988a):

    (1) Problemas tericos. Inexiste uma boa teoria que ilumine e oriente o trabalho de pesquisa e prtica. J existem alguns esboos iniciais (ver, por exemplo, Fernndez Christlieb, 1987; Gonzlez Rey, 1987) que no so menos valiosos por serem incipientes, mas que, sem dvida, esto muito longe de constituir uma teorizao suficientemente abrangente e que, ao mesmo tempo, serve de sustentao para a diversidade de problemas sobre os quais se busca pesquisar e atuar, indo desde a alienao no trabalho at a organizao sindical e poltica, desde os traumas produzidos pela represso at as lutas revolucionrias, desde a liderana grupal at o sentimento nacionalista dos povos latino-americanos.

    (2) Problemas metodolgicos. No h acordo e nem mesmo clareza sobre os princpios que devem orientar o trabalho de pesquisa ou as formas de interveno e, muito menos, quanto ao instrumental adequado para estas tarefas. Neste sentido, muitas das crticas formuladas ao quefazer da psicologia dominante no se desdobram na elaborao de metodologias alternativas. Este ponto ser analisado no presente trabalho.

    (3) Problemas prticos. Evidentemente, a psicologia poltica enfrenta dificuldades consequentes de suas deficincias tericas e metodolgicas: a falta de clareza sobre a natureza dos processos e fatos analisados, assim como a inexistncia de uma metodologia consistente para a anlise e a interveno acarretam bvios problemas prticos. A esta dificuldade intrnseca, so acrescidas as barreiras que as condies sociais imperantes colocam para este tipo de trabalho, que sero tanto maiores quanto mais crticas forem as reas de interveno. Fazer psicologia poltica implica envolver-se de maneira explcita no jogo de foras polticas, com tudo o que isso significa no interior dos regimes existentes nos pases latino-americanos.

    Vamos examinar, brevemente, cinco problemas metodolgicos concretos enfrentados pela

    psicologia poltica latino-americana, tal como ela est se desenvolvendo no momento atual e partindo dos trabalhos apresentados no presente livro e naquele que antecedeu esta publicao (Montero, 1987).

  • O MTODO EM PSICOLOGIA POLTICA

    PSICOLOGIA POLTICA. VOL. 13. N 28. PP. 575-592. SET. DEZ. 2013 577

    O Objeto Especfico da Psicologia Poltica

    Como no poderia deixar de ser, o primeiro problema metodolgico est ligado aos problemas tericos: no est claro ou, pelo menos, no existe um consenso convincente sobre qual o objeto especfico da psicologia poltica, isto , o ponto ou aspecto peculiar sobre o qual deve se centrar a anlise e/ou a interveno.

    A primeira confuso surge da dvida sobre se a psicologia poltica deve focar a psicologia do quefazer poltico ou se deve examinar o que pode ser chamado de poltica da psicologia, isto , tudo aquilo que, na psicologia e no trabalho dos psiclogos, est determinado por interesses sociopolticos ou contribua para articular esses interesses na prxis social (h um desenvolvimento maior deste ponto em Martn-Bar, 1988a). Certamente, uma coisa examinar a participao de uma populao no processo eleitoral ou proporcionar ateno psicoteraputica para pessoas torturadas por razes polticas e outra, muito distinta, analisar a funo social que a psicologia est desempenhando no interior de um sistema social, por exemplo, avalizando com o selo de cincia a discriminao social realizada pelo sistema escolar.

    No caso de se escolher por uma psicologia da poltica, fica ainda por precisar o que pode ser definido formalmente como comportamento poltico. Pode-se destacar pelo menos trs possibilidades: (a) que o carter poltico provm daquilo que se faz; (b) que sua especificidade surge mais claramente do como se faz; e (c) que o poltico est determinado pelo sentido do que se faz (Martn-Bar, 1988b). Expliquemos brevemente estas trs possibilidades.

    (a) Uma viso considera polticos, todos os comportamentos realizados nos marcos do Estado, tomando como atores tanto os organismos e representantes estatais (por exemplo, governantes, legisladores ou partidos polticos), quanto os indivduos e os grupos que ingressam nesses marcos (por exemplo, cidados que participam de um processo eleitoral ou de uma manifestao poltica). Esta definio tem a vantagem de delimitar de forma precisa os comportamentos e os processos que so considerados polticos. Porm, como bem destacam Cot e Mounier (1985:19): definir a poltica como Estado cair no institucionalismo e, com isso, deixar de lado um grande nmero de comportamentos que, sem dvida alguma, tm um importante carter poltico: por exemplo, uma greve ou uma paralisao sindical.

    (b) Outra viso, toma como polticos todos os comportamentos em que se coloca em jogo alguma forma de poder. Em outras palavras, s poltico aquele comportamento que se realiza com poder ou que desdobra alguma forma de poder. No entanto, todo comportamento humano, na medida em que coloca em relao duas ou mais pessoas, envolve o equilbrio de recursos entre os atores, dando poder (ou no) para uns em detrimento de outros (Martn-Bar, 1989). Neste sentido, todo comportamento interpessoal ou intergrupal supe, por menor que seja, algum grau de poder e, portanto, seria poltico. Mas, se todo comportamento poltico, o objeto da psicologia poltica se torna excessivamente amplo e vago e, na prtica, pode ser identificado com o objeto da psicologia em geral. Mesmo aceitando que poltica e poder so reas intimamente relacionadas, necessrio detalhar em que condies o exerccio de poder nas relaes humanas pode definir um ato como poltico.

  • CLSSICOS EM PSICOLOGIA POLTICA

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA POLTICA 578

    (c) Uma terceira viso considera um comportamento como poltico a partir do seu sentido, isto , da relao que esse comportamento tem com a ordem social e do impacto que produz nela. claro que todo ato pode remeter, de alguma forma, ordem social em que ocorre, mas nem todo ato tem o mesmo impacto sobre ela; somente aqueles atos que tm algum efeito significativo no sistema social, seja para manter, seja para mudar, podem ser considerados como polticos. A criana que retira de seu irmo um brinquedo est exercendo poder, mas este ato no exerce o mesmo impacto sobre a ordem social que o ato do patro que se apropria da mais-valia gerada pelo trabalho de seu operrio ou do governo que estatiza parte das terras de um pas com o fim de realizar reforma agrria. Nestes casos, o poder exercido tem efeito sobre o sistema social estabelecido, no primeiro se contribui para a manuteno e no segundo para a mudana. Definir o ponto em que o impacto de um comportamento na ordem social pode ser considerado significativo algo difcil, mas parece a melhor maneira de especificar quando um ato poltico ou em que mbito e em que medida poltico.

    O fato de nos inclinarmos pessoalmente pelo terceiro tipo de definio sobre o poltico no significa que seja uma proposio inquestionvel e que responde todas as dvidas sobre o objeto da psicologia poltica. Nenhuma alternativa totalmente convincente, porque nenhuma consegue resolver satisfatoriamente as dificuldades que surgem no momento de especificar a anlise ou a interveno da psicologia poltica. E como possvel caminhar at o objeto da psicologia poltica (metodologia) se ele nem mesmo est adequadamente definido ou especificado? Muitas das deficincias metodolgicas que podem ser apreciadas nos trabalhos de psicologia poltica so decorrentes desta impreciso de seu objeto.

    Os Pressupostos Neopositivistas

    indubitvel que a psicologia alcanou seu desenvolvimento atual a partir dos pressupostos do neopositivismo, os quais tomam como paradigma de pesquisa o mtodo experimental tal como realizado no laboratrio. Este acorrentamento da psicologia ao mtodo experimental e aos pressupostos neopositivistas foi duramente criticado, especialmente na psicologia social. Entre as crticas mais importantes esto aquelas que qualificam esta viso psicolgica como hedonista, individualista e a-histrica (Martn-Bar, 1986), alm de baseada em uma viso muito pobre de ser humano.

    Mas, aps aceitar aquilo que vlido nestas crticas, seria um grave erro jogar fora a criana junto com a gua suja. necessrio reconhecer que a psicologia conseguiu um desenvolvimento metodolgico e instrumental valioso. Pode-se e deve-se criticar o emprego mecanicista e abusivo dos testes e possvel e necessrio at recusar muitos dos testes mais comumente empregados, que revelam srios preconceitos culturais e de classe. Todavia, no se pode descartar o teste como um mtodo de pesquisa e de prtica profissional, renunciando, assim, a uma fonte de conhecimento cuja utilidade foi verificada em diversas circunstncias e com diversos objetivos. No est provado que a utilizao dos testes significa, automaticamente, uma subordinao aos pressupostos positivistas e menos ainda subordinao s necessidades do poder sociopoltico estabelecido, ainda que seja necessrio admitir que, frequentemente, este o caso.

  • O MTODO EM PSICOLOGIA POLTICA

    PSICOLOGIA POLTICA. VOL. 13. N 28. PP. 575-592. SET. DEZ. 2013 579

    Se a ideia de que os mtodos empregados pela psicologia no esto necessariamente vinculados com os pressupostos positivistas assumida, ento necessrio revisar sua utilizao concreta para identificar o que a filosofia neopositivista acrescenta aos mtodos, podendo afetar essencialmente sua natureza. Assim, por exemplo, a operacionalizao das hipteses no tem porque incorrer em coisificao das variveis e nem a interpretao dos resultados pode absolutizar a ligao unidirecional, estatisticamente estabelecida, ou negar o sentido macrossocial do dado individual.

    Os mtodos e, especialmente, os instrumentos no so mais do que isso, mtodos e instrumentos, e o que se faz com eles depende, em boa medida, do marco terico em que so utilizados, assim como do carter de sua utilizao. Obviamente, isto no quer dizer que qualquer metodologia ou qualquer instrumento podem ser usados a partir de qualquer teoria ou para qualquer problema; significa, apenas, que o mtodo deve ser definido a partir da elaborao do problema e no o inverso (Wright Mill, 1959/1977).

    Como resgatar a rica metodologia de pesquisa da psicologia despojada de pressupostos neopositivistas? Este um problema e um desafio elaborao e clareza cientfica daqueles psiclogos que querem cultivar a psicologia poltica e algo que aparece em vrios trabalhos deste volume e de Psicologa Poltica Latinoamericana (Montero, 1987).

    Mtodos Quantitativos e Qualitativos

    Sempre existiu na psicologia uma tenso entre aqueles que do primazia aos mtodos quantitativos e aqueles que a atribuem aos qualitativos. Durante muito tempo, esta tenso esteve inclinada em favor da metodologia quantitativa, compreendida em um sentido muito rgido e quase mecnico. Ainda difcil convencer alguns psiclogos formados no neopositivismo que possvel fazer cincia, pelo menos esse tipo de cincia que a psicologia, sem necessariamente recorrer estatstica e que um estudante pode realizar uma excelente tese sem obrigatoriamente incluir nela alguma anlise de varincia.

    Toda quantificao implica a reduo dos fenmenos a apenas uma nica dimenso e, por mais que se detalhe, esta reduo significa perder grande quantidade de informaes sobre a realidade, perda que, com frequncia, desfigura a natureza mesma do fenmeno sobre o qual se pretende refletir. Mais ainda, a quantificao pode induzir uma perigosa codificao do objeto, reduzido ao nmero. Um caso tpico a anlise psicolgica da inteligncia humana. A anlise fatorial aplicada ao comportamento inteligente chegou ao ponto de compreender a inteligncia como um conjunto de fatores ou dimenses ortogonais que foram, na prtica, considerados como elementos reais. Mas a realidade desses fatores ou dimenses a de um simples artifcio analtico: so os resultados batizados por meio de um processo de rotao de uma matriz que, em um determinado momento, so apreendidos por uma deciso do analista, que atribui certa razo de ser para a disperso dos comportamentos diante de certos estmulos.

    De fato, boa parte dos estudos mais importantes, antigos e modernos da psicologia social e, certamente, aqueles com maiores implicaes polticas (como os estudos de Sherif ou de Asch, de Lewin ou de Milgram) se restringiram ao nvel da estatstica mais elementar, a apresentao de porcentagens. Todavia, as principais revistas da rea, como Journal of Personality and Social Psychology que considerada a ctedra por excelncia da psicologia

  • CLSSICOS EM PSICOLOGIA POLTICA

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA POLTICA 580

    social dominante, esto se caracterizando pela crescente complexidade metodolgica, que se notabiliza pelo desenvolvimento e pela acessibilidade dos sistemas de computao e dos pacotes estatsticos.

    Mas, recentemente, a psicologia social e, ao seu lado, a psicologia poltica esto buscando, cada vez mais, uma srie de mtodos qualitativos que permitem a compreenso e interpretao dos processos, e no apenas a explicao causal ou a correlao. No meio latino-americano, a traduo e publicao do livro de Schwartz e Jacobs (1984) representou um reconhecimento formal desta orientao, agora legitimada por um texto acadmico reconhecido que j era utilizada em alguns mbitos por influncia social militante.

    Contudo, a tenso permanece. Em parte, porque com frequncia a aplicao dos mtodos qualitativos no extrapola um nvel descritivo elementar e, em certas ocasies, no passa da mera especulao, o que duramente criticado pelos defensores da quantificao; mas a tenso continua, tambm, porque agora alguns dos defensores dos mtodos qualitativos passaram para a ofensiva e pretendem negar o valor social, quando no toda validade, dos mtodos quantitativos. Esta tenso claramente observvel nos trabalhos de psicologia poltica: em alguns casos, a metodologia de corte quantitativo, mais ou menos complexo; em outros, so aplicados mtodos qualitativos. So poucos os trabalhos que buscam uma sntese metodolgica, que integra a formalizao quantitativa sem prejuzo da anlise e da compreenso qualitativa dos fenmenos.

    O Compromisso Pessoal

    Um dos problemas mais intensamente debatidos sobre o trabalho cientfico e que particularmente crtico em tudo o que se relaciona com a poltica, o das opes axiolgicas do prprio indivduo: necessrio introduzir no desenvolvimento da cincia os valores ou a natureza do trabalho cientfico demanda a assepsia e o esforo deliberado para evitar que as opes pessoais condicionem a busca da verdade?

    A partir da perspectiva neopositivista no h muitas dvidas sobre o tema: o cientista deve se abster de misturar seus valores com seu trabalho e se esforar na busca pela objetividade total diante dos fenmenos que estuda. Porm, o assunto no to simples e no basta a inteno, por mais sincera que ela seja, para evitar o envolvimento pessoal no trabalho. A partir de diversas perspectivas foi destacada a inevitvel implicao do cientista em seu trabalho, tanto pela natureza do ato de conhecer, quanto pelo carter da relao entre o sujeito e o objeto de conhecimento, especialmente quando, como ocorre na psicologia, o sujeito se v refletido em seu objeto. Querendo ou no, a perspectiva assumida pelo pesquisador, seu posicionamento social e pessoal, condiciona aquilo que ele pode apreender do objeto e, ainda, como pode apreend-lo. A objetividade, ento, no pode residir em uma mera negao desse condicionamento limitante, mas em saber e reconhecer onde reside e como lidar adequadamente com essa parcialidade ou limitao.

    O problema do envolvimento pessoal particularmente agudo na psicologia poltica, j que, desde o incio, h uma implicao dupla do sujeito e do objeto: desde a psicologia, porque o cientista tambm humano; desde a poltica, porque tudo o que se relaciona com o ordenamento da vida social afeta decisivamente a vida e o destino do cientista. Assim, absurdo buscar assepsia diante do fenmeno da tortura, indiferena diante dos conflitos de

  • O MTODO EM PSICOLOGIA POLTICA

    PSICOLOGIA POLTICA. VOL. 13. N 28. PP. 575-592. SET. DEZ. 2013 581

    nossa prpria classe social ou imparcialidade diante da educao poltica de nossos prprios filhos. Em todos estes casos, o cientista sente-se afetado pelo objeto de sua anlise, diante do qual assume uma postura e uma opo que obviamente condicionam a compreenso do que ele pode realizar. Conseguir o senso crtico necessrio para manter sob controle a influncia dos prprios valores , portanto, um dos problemas mais difceis que enfrenta o psiclogo que pretende trabalhar na rea da poltica.

    Epistemologia Psicopoltica

    Vincula-se com o problema anterior uma questo ainda mais crtica para o psiclogo poltico: o critrio para se determinar quando um conhecimento verdadeiro e, portanto, esclarecer o que verdade na poltica.

    Na psicologia clnica bem conhecido o chamado efeito iatrognico, ou seja, a influncia que o diagnstico e a atitude do mdico podem ter sobre a enfermidade do paciente. O enfermo com alta temperatura pode piorar pela preocupao e pela angstia provocadas por saber que est em estado grave, mas pode melhorar com a tranquilidade e o otimismo produzidos por saber que no est to mal. Disto no se conclui que o mdico deve ocultar sistematicamente dos enfermos o seu estado atual; mas se conclui que uma enfermidade no algo que afeta somente o corpo e que a relao com o mdico um fator importante para a evoluo psicossomtica da doena. Onde est, ento, a verdade? Em indicar positivamente o estado atual do paciente ou antecipar o efeito que pode ter o conhecimento adquirido, isto , como o paciente ficar aps conhecer seu estado?

    Este efeito do conhecimento da realidade no algo especfico da relao clnica. Na psicologia social conhecido o chamado efeito Pigmaleo (Martn-Bar, 1983; Rosenthal & Jacobson, 1968) e, em geral, aquilo que conhecido como as profecias que provocam a prpria realizao (self-fulfilling prophecies, ver: Merton, 1968; Miller & Turnbull, 1986). Na psicologia poltica, o problema se coloca com particular importncia porque conhecimento poder. Em outras palavras, um saber pode mudar dialeticamente aquilo que verdadeiro, posto que aquilo que o era at um determinado momento, deixa de ser por consequncia de seu conhecimento pblico ou da tomada de conscincia sobre sua realidade. Este problema confrontado de maneira original pela chamada pesquisa-ao (Fals Borda, 1986), que submete o conhecimento aos interesses dos prprios pesquisados e, desta forma, faz da verdade no um dado esttico, mas dinmico.

    O problema sobre o critrio de verdade toca um dos aspectos mais fundamentais da psicologia poltica, tal como realizada atualmente na Amrica Latina: o seu objetivo. Para que fazer psicologia poltica? Ela busca a pesquisa pelo conhecimento em-si ou busca pela necessidade de mudar as situaes enfrentadas pelos povos latino-americanos? O quefazer psicopoltico no est condicionado apenas pelo a partir de onde e a partir de quem, mas tambm pelo para onde e o para quem. Alm das temticas e dos mtodos preferidos, algumas das diferenas mais significativas que vo se delineando entre a psicologia poltica latino-americana e aquela que se faz nos Estados Unidos ou na Europa surgem deste condicionamento teleolgico, com srias consequncias metodolgicas na definio da verdade e nos critrios de validao do conhecimento adquirido.

  • CLSSICOS EM PSICOLOGIA POLTICA

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA POLTICA 582

    Princpios Metodolgicos

    Diante dos cinco problemas metodolgicos enfrentados pela psicologia poltica latino-americana, podemos estabelecer cinco princpios correspondentes que, em nossa opinio, esto orientando o trabalho concreto realizado nesta rea. Isto no quer dizer que todos os psiclogos latino-americanos que pesquisam ou atuam na psicologia poltica esto de acordo com todos os princpios e muito menos que seus trabalhos se adequam a eles; uma anlise sumria dos relatos e das anlises publicados neste livro e no anterior (Montero, 1987) bastaria para refutar essa pretenso. O que se argumenta que estes princpios esboam um horizonte metodolgico fundamentalmente diferente daquele estabelecido pelo neopositivismo, isto , configuram um novo paradigma metodolgico, ao qual psiclogos, como aqueles que colaboraram com o presente livro, aderem com maior ou menor convico e coerncia.

    A Integridade do Ser Humano

    Boa parte das deficincias da psicologia deve-se ao tratamento fragmentado do ser humano. O objeto estudado e analisado pelo psiclogo, frequentemente, no o homem ou a mulher da realidade social cotidiana, a criana ou o idoso que trabalham e amam, sofrem e divertem-se, nosso vizinho ou ns mesmos, mas um ser abstrato, descontextualizado, um conjunto de variveis mais ou menos interligadas, mas que carecem de vida real e, sobretudo, de histria.

    A psicologia poltica busca reconstruir o objeto da psicologia, devolvendo o ser humano sua sociedade e sua histria, isto , recuperar sua existncia pessoal social. Isto requer, em primeiro lugar, considerar o ser humano em sua exterioridade e interioridade. O ser humano uma realidade objetiva no mbito de uma sociedade e, portanto, objeto e sujeito nas circunstncias, produto e produtor de condies materiais, interlocutor e referncia de relaes sociais. Mas o ser humano tambm realidade subjetiva, criador de uma perspectiva e de uma atividade e, portanto, produtor de uma histria (pessoal e social) e portador de uma vivncia. Ver o ser humano assim requer devolve-lo a sua circunstncia social e sua histria, que no so meras variveis somadas realidade pessoal, mas bases essenciais dessa realidade.

    Em segundo lugar, a reconstruo do objeto da psicologia requer a recuperao da dimenso macrossocial do ser humano, sem, com isso, descartar a dimenso microssocial individual, assim como necessrio elaborar as mediaes histricas entre essas dimenses. raro o estudo psicolgico que extrapola o plano do indivduo e, nos melhores casos, que converte o contexto scio-histrico em algo mais do que uma varivel ambiental. H aqueles que, inclusive, fizeram do individualismo o princpio, por excelncia, da metodologia psicolgica (ver Lukes, 1973). A psicologia poltica, ao contrrio, remete o ser humano e seu comportamento ao sistema social do qual parte e ator e, assim, obriga a incluso do marco estrutural em toda anlise, no como algo extrnseco ao comportamento das pessoas e dos grupos, mas como um constitutivo essencial.

    Agora, o perigo reside em acreditar que se resolve essa exigncia da psicologia poltica adicionando uma nova varivel, isto , limitando-se a uma mera justaposio do aspecto macrossocial com as anlises microssociais que, possivelmente, foram cuidadosamente

  • O MTODO EM PSICOLOGIA POLTICA

    PSICOLOGIA POLTICA. VOL. 13. N 28. PP. 575-592. SET. DEZ. 2013 583

    elaboradas, mas sem uma suficiente interconexo. A incorporao da dimenso macrossocial exige elaborar todas as mediaes psicossociais que vinculam historicamente a realidade das estruturas sociais bsicas com os comportamentos concretos dos indivduos. Na interface entre o macro e o micro so filtrados e depurados os interesses sociais e se gera, portanto, a ideologia. Por isto, por exemplo, a exigncia da psicologia poltica no resolvida com o estabelecimento de uma simples correlao entre uma determinada ao ou forma de agir e o pertencimento a uma classe social; necessrio examinar todos os processos que vo desde o pertencimento de um indivduo a uma classe at a sua maneira de se comportar para, assim, discernir porque esse indivduo age de um modo e seu irmo, que, em princpio, pertence mesma classe social, de outro. Mas necessrio examinar, tambm, a relao na direo inversa, isto , o sentido da ao de um dado indivduo no interior de sua sociedade e o impacto que suas diversas formas de agir produzem no equilbrio de foras sociais. Neste sentido, a psicologia poltica deve dedicar ateno aos processos do ser e agir das pessoas e dos grupos, assim como s vivncias mediadoras e aos efeitos desse agir, indo para alm das formas psquicas j definidas (independentemente da concepo adotada para essa definio) ou da apreenso dos comportamentos j realizados como meros dados positivos.

    Superar a Dualidade Sujeito-Objeto

    O quefazer dos psiclogos especialmente o daqueles dedicados pesquisa, mas, tambm, algumas vezes, daqueles ocupados com a prtica profissional tende a assumir como ponto de partida a dualidade sujeito-objeto: eles so os sujeitos da atividade e o outro ou os outros so os objetos do estudo, da anlise ou da experimentao; em todos os casos, so objetos passivos, sem possibilidade de definir ou determinar a interao. Esta relao assimtrica tende a despojar a pessoa que ocupa o lugar de objeto de algumas de suas caractersticas mais singulares e, frequentemente, ela convertida em uma coisa que examinada e estimulada, observada e questionada, mas que no tem a possibilidade de ao recproca ou, pelo menos, de participar na direo do processo. Desta forma, o saber ou o efeito produzido resultam da ao unilateral do psiclogo, mas no propriamente da interao entre o pesquisador e o pesquisado. No de se estranhar, portanto, que, com frequncia, as pessoas sintam que o pesquisador as trata como simples cobaias de laboratrio e que muitas rejeitam os pesquisadores e entrevistadores que as procuram afirmando que o conhecimento adquirido ser til no futuro quando toda a experincia indica o contrrio, isto , que este tipo de saber ou arquivado em uma tese que ningum l ou utilizado apenas por aqueles que, em posies de poder, no compartilham dos mesmos interesses.

    Romper com a dualidade na pesquisa da psicologia poltica requer que tanto o pesquisado, quanto o pesquisador sejam sujeitos do conhecimento que produzido. Segundo Fals Borda (1986:130), nisso radica a essncia da participao: na ruptura voluntria e vivencial da relao assimtrica de submisso e dependncia, implcita no binmio sujeito/objeto. A superao da assimetria particularmente importante na psicologia poltica, j que o que est em jogo um conhecimento poltico e, portanto, um poder crucial para a vida de grupos e pessoas.

    Contudo, deve-se evitar a crena ingnua na participao pela participao. Uma viso simplista que surgiu de certos desdobramentos da chamada dinmica de grupos associados

  • CLSSICOS EM PSICOLOGIA POLTICA

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA POLTICA 584

    com a no diretividade rogeriana tendem a atribuir virtudes quase milagrosas participao, o que entranha, em certas ocasies, consequncias muito ilusrias. A coisificao e a assimetria da relao de pesquisa no so superadas com qualquer tipo de participao do pesquisado; de fato, com frequncia se pede para ele atuar com espontaneidade ou expressar o que lhe parece melhor, o que, em-si, no muda a natureza da relao com o pesquisador, que continua sendo o dono das decises fundamentais. Tampouco se deve acreditar que a dualidade sujeito-objeto superada quando o pesquisador abdica de seu saber. Ocorre aqui algo semelhante quilo que ocorre quando o educador busca ser mero facilitador, mudana contra a qual Paulo Freire protestou veementemente e que nada tem que ver com sua pedagogia do oprimido. O pesquisador deve levar para a relao de pesquisa o seu conhecimento e a sua experincia tcnica, tal como o educador deve contribuir com seu saber terico e prxico para a relao pedaggica. O eixo de uma participao que possibilite superar a dualidade sujeito-objeto no significa que o pesquisador deve abandonar seu saber ou aceitar ingenuamente qualquer iniciativa do pesquisado, mas que a pesquisa seja realizada por meio de um dilogo contnuo entre o pesquisador e pesquisado, considerado como interlocutor vlido desde o incio at o final.

    Liberdade Instrumental

    Frequentemente, se confunde metodologia cientfica com instrumental tcnico e se considera, de forma mais ou menos implcita, que uma boa pesquisa psicolgica deve se servir de testes e questionrios devidamente normatizados (padronizados). No raro que o estudante de psicologia fundamente sua tese a partir de um questionrio que viu e gostou ou a partir de um teste que parece til. Assim, o ponto de partida (e, muitas vezes, tambm de chegada) o instrumento, que ganha um valor final e quase absoluto: a teorizao e, o que mais importante, a realidade analisada ficam subordinadas tica do teste ou do questionrio escolhido.

    A psicologia poltica latino-americana, ao menos aquela que se realiza durante a dcada de oitenta, parte de uma vontade explcita de contribuir para a anlise e a resoluo, junto com outras disciplinas, dos principais problemas que afligem os povos e que so de natureza poltica. Portanto, seu ponto de partida extrnseco prpria disciplina; no se trata tanto de dar continuidade ao desenvolvimento da psicologia, mas de utilizar a psicologia como forma de abordar um aspecto dos problemas enfrentados pelas maiorias populares latino-americanas.

    Assim, o mtodo e, com mais razo ainda, o instrumental estaro necessariamente determinados pelo carter do problema e vice-versa. No h nada de novo nesta proposio que no especfica da psicologia poltica, ainda que seu horizonte particular de interesses obrigue enfatiz-lo.

    Desta nfase resulta uma desmistificao de todo o instrumental tcnico da psicologia: o carter cientfico de uma pesquisa ou de um trabalho no est vinculado com a utilizao de qualquer instrumento especfico. Por isso mesmo, possvel utilizar, com toda liberdade, qualquer instrumento disponvel, sempre e quando no implique, por sua prpria natureza, em uma viso reducionista do problema estudado.

    questo que colocvamos anteriormente sobre se os mtodos e instrumentos utilizados pela psicologia neopositivista podem ser recuperados, os psiclogos polticos responderam

  • O MTODO EM PSICOLOGIA POLTICA

    PSICOLOGIA POLTICA. VOL. 13. N 28. PP. 575-592. SET. DEZ. 2013 585

    utilizando-os com grande liberdade. claro que isto no resolve o problema, j que preciso questionar a coerncia desta utilizao, analisando se os resultados obtidos no contradizem as pretenses e os objetivos da psicologia poltica latino-americana. possvel que os psiclogos polticos estejam aplicando estes mtodos e instrumentos porque so os nicos que conhecem ou dominam. Mas a resposta sobre sua validade para a psicologia poltica deve ser de carter emprico, isto , analisando, concretamente, se os resultados foram contaminados ou no. Os trabalhos apresentados no presente volume so uma amostra que pode ser submetida e este tipo de anlise.

    Envolvimento Pessoal

    A psicologia poltica latino-americana no busca apenas realizar um tratamento assptico dos problemas, mas parte de uma clara intencionalidade poltica e, portanto, de uma opo axiolgica. Isto no significa que todos os psiclogos latino-americanos que trabalham na rea poltica coincidam em suas opes concretas, ainda que tendam a estar de acordo com alguma atitude progressista e a se inclinar por posturas de esquerda, levando em conta todos os matizes que esta caracterizao implica nas circunstncias de cada pas. Mas nem mesmo este acordo mnimo pode ser generalizado a todos, j que, para apresentar um exemplo claro, existem psiclogos felizmente, no muitos trabalhando com as foras armadas de regimes conservadores e repressivos. Agora, independentemente da opo poltica concreta que os psiclogos da rea defendem, h a coincidncia nessa vontade de no se cindir pessoal e profissional e, portanto, de levar os valores ao terreno do quefazer cientfico e tcnico.

    Esta vontade poltica significa aceitar o envolvimento no jogo de foras que caracteriza a poltica. Por isso, raramente se pode dizer que ao psiclogo poltico interessa o conhecimento simplesmente por um af acadmico de promover o saber; o que interessa ao psiclogo poltico , acima de tudo, promover certas causas sociais, a partir da perspectiva particular que proporcionada por sua disciplina. A valentia no elimina a cortesia, diz o ditado; e no h razo para que o envolvimento pessoal do psiclogo poltico subtraia rigor ou objetividade de seu trabalho. Inclusive, certa dose de paixo pode servir para mostrar a dimenso mais vivencial dos problemas, uma dimenso que, frequentemente, se perde entre o estilo forosamente impessoal (se chegou a proibir a escrita em forma personalizada, como se encobrir o prprio discurso com a impessoalidade da terceira pessoa mudaria a sua natureza e o tornaria mais cientfico!) e a frieza das tabelas estatsticas.

    A partir desta proposta metodolgica chega-se a uma ntima conexo entre pesquisa e participao, entre conhecimento e interveno. No se trata apenas de tomar conscincia do efeito que, desejado ou no, tende a produzir o mero fato de se fazer pesquisa, o que, tal como indicamos anteriormente, em alguns casos pode ser algo de grande importncia; trata-se de orientar a pesquisa de acordo com os objetivos que os prprios envolvidos na pesquisa determinaro. Produz-se, assim, uma relao dialtica que pode ser extraordinariamente criativa e que no permite a definio, a priori, das metas que conduzem a pesquisa, j que essas metas devem ser subordinadas s justas exigncias daqueles para quem mais importa a pesquisa, que nem sempre ou no necessariamente so aqueles que a financiam ou encomendam.

    O trabalho psicoteraputico com vtimas da represso poltica realizado no Chile pela equipe de Elizabeth Lira mostra a necessidade de que o psicoterapeuta tenha compromisso

  • CLSSICOS EM PSICOLOGIA POLTICA

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA POLTICA 586

    poltico claro e que este compromisso seja conhecido pelas pessoas que se pretende ajudar (Lira, 1988; Lira e col., 1984; Weinstein e col., 1987). De outro modo, difcil estabelecer confiana e o trabalho do terapeuta pode ser compreendido como uma nova e sutil forma de agresso sociopoltica, orientada, neste caso, prpria intimidade das pessoas. Da mesma forma, o trabalho com sindicatos realizado no Brasil pelo grupo dirigido por Wanderley Codo (1987; 1988) um exemplo de como se pode ir direcionando o conhecimento adquirido pela pesquisa para a promoo dos interesses dos setores populares (neste caso, sindicais) e isto a partir de sua prpria ao e determinao, ao invs de uma deciso benevolente do pesquisador ou de sua equipe (Martn-Bar, 1988a).

    A metodologia que melhor satisfaz esta proposta a pesquisa ao, tal como foi desenvolvida por Fals Borda (1986). Posto que neste volume, Lane e Sawaia1 oferecem um excelente captulo sobre esta metodologia, suas virtudes e seus limites, o leitor pode remeter a ele.

    O Critrio de Verdade

    A validao de um conhecimento, o critrio de verdade, um dos problemas cruciais de qualquer filosofia da cincia. Ingenuamente, tende-se a pensar que a verdade reside na mera adequao entre conhecimento e realidade, mas o problema comea no momento de definir em que consiste essa adequao e, mais ainda, o que , propriamente, a realidade.

    No se trata de elaborar uma epistemologia da psicologia poltica aqui, mas de destacar a importncia deste ponto como princpio que deve reger a metodologia desse trabalho, especialmente os desenhos de pesquisa, caso ele queira ser cientfico.

    A viso neopositivista que predominou na psicologia sustenta que a verdade reside na adequao comprovada empiricamente entre um juzo e os dados da realidade. O pressuposto o de que a realidade precisamente um dado, algo dado, e, portanto, objetivo, extrnseco ao ato de conhecer e ao sujeito que conhece. O critrio de verdade radicar, ento, na possibilidade de falsear os juzos e hipteses apresentados por meio da anlise emprica dessa realidade dada, isto , avaliar se possvel ou no manter sua validade demonstrando que so falsas. Assim, o que conta o dado positivo, o fato como objeto independente, que deve impor sua objetividade e, por assim dizer, estabelecer o juzo de verdade sobre o juzo hipottico.

    Agora, a definio positivista comea a se fragilizar a partir do momento em que aparece no apenas a relatividade histrica do conhecimento, mas o carter social da prpria realidade. No h dvida de que, particularmente considerado, cada fato um dado. Mas sua facticidade fenomenolgica perde sua aparente consistncia quando, particularidade abstrata, devolvida a concretude social e histrica. Cada fato social e, portanto, cada dado psicolgico so o que precisamente so enquanto produtos de uma histria; mas em sua objetividade dada, na afirmao de sua facticidade ( assim e no de outra maneira) entranham tambm uma negao: tudo o que poderia ter sido se fossem dadas outras condies, se tivesse sido desenvolvida outra histria social. O dado, portanto, inteligvel somente em suas

    1 Ver: Lane, S. T. M. & Sawaia, B. B. (1991). Psicologa: Ciencia o poltica? Em M. Montero (Org.),

    Accin y discurso: Problemas de psicologa poltica en Amrica Latina (pp. 59-85). Caracas: EDUVEN [N. do T.].

  • O MTODO EM PSICOLOGIA POLTICA

    PSICOLOGIA POLTICA. VOL. 13. N 28. PP. 575-592. SET. DEZ. 2013 587

    essenciais relaes, diacrnicas e sincrnicas, com todos os seus concomitantes sociais, especialmente a luta e o exerccio de poder social.

    Este ponto particularmente crtico quando se abordam comportamentos polticos. Um dos dados que mais tiraniza a realidade poltica latino-americana o da alienao, isto , a falta de controle das grandes maiorias populares sobre sua existncia e destino. Sem dvida, um exame positivista apreende que o indgena latino-americano , passivo, presentista, carente de motivao de realizao, fatalista e dotado de lcus de controle externo, para mencionar alguns dos traos com os quais se caracterizou seu estado de alienao social caractersticas que tambm foram historicamente encontradas em todos os povos colonizados (Alatas, 1977; Fanon, 1972; Martn-Bar, 1987b). Mas, no seriam estes dados construdos a partir da mente daquele que tem o poder e, mais ainda, no refletiriam precisamente essa histria de exerccio de poder? Este dado, abstrado de sua histria, perde seu sentido dialtico, a necessria referncia quilo que ele nega e coisifica, quando no naturaliza ( assumido como algo natural), de forma a favorecer aqueles que detm o poder sociopoltico.

    Passa-se, assim, de uma concepo esttica de verdade para uma concepo histrica. No se trata de negar o dado em sua facticidade; trata-se de considera-lo como um momento dialtico, e, portanto, como uma afirmao histrica, relativa. O efeito iatrognico ou as profecias autorrealizadoras, antes mencionados, mostram a transitoriedade histrica do dado social. Assim, residiria a verdade no dado (aquilo que dado) ou no que vai se dando? No fato (factum) ou no por fazer (faciendum)?

    A psicologia poltica, por sua orientao prpria, se dedica ao exerccio do poder, configurao da realidade social. Neste sentido, o critrio de verdade no pode se limitar comprovao dos dados positivos, mas deve ser o da verificao, em um dos possveis sentidos etimolgicos do termo: verum facere, fazer verdadeiro. Trata-se de fazer verdadeiras as realidades polticas que so o horizonte dos povos latino-americanos. Trata-se de converter a afirmao da alienao das maiorias em um momento dialtico que ser negado pela verificao libertadora, isto , contribuir para que se verifique, que se faa realidade e verdade o processo de libertao dessas maiorias. Assim, o dado factual da alienao apenas um momento da verdade histrica; a verdade ser sempre um processo no qual, com frequncia, aquilo que vai se fazendo possibilitado pelo conhecimento transformar o fato. Assim como, muitas vezes, a prxis desmente a afirmao positiva do discurso ideolgico, a verdade poltica por fazer revelar a falsidade, historicamente pontual, de muitos dados positivos encontrados.

    Sou consciente do quanto questionvel esta proposio epistemolgica. Pode-se dizer que, ao fundo, nada muda, j que se reconhece a verdade do dado e que a nica mudana realizada a de confundir indevidamente o desejo com os fatos, as aspiraes subjetivas (por mais bem-intencionadas que sejam) com as realidades objetivas, o conhecimento cientfico com sua aplicao ulterior e sua utilizao para diversos fins. Mas diferente reconhecer o dado como um momento do processo de verificao e reconhece-lo como o fim desse processo; neste caso, se abstrai a realidade de sua histria, enquanto no primeiro, ela reconhecida em sua prpria histria, o que muda, essencialmente, seu carter, seu sentido e seu valor. Trata-se de contrapor uma epistemologia histrica a uma naturalista, uma concepo dialtica de verdade a uma concepo esttica.

  • CLSSICOS EM PSICOLOGIA POLTICA

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA POLTICA 588

    Obviamente, esta proposio tambm pode induzir a uma iluso permanente. Colocar a verdade no por fazer no significa remeter os processos a ideais inalcanveis ou perptuos se utpicos. No basta afirmar teimosamente que o povo unido jamais ser vencido, colocando a vitria em um permanente amanh escatolgico que nunca chega; preciso provar concretamente que determinada prtica histrica capaz de tornar real o que o dado positivo nega, em um tempo, em um espao e em condies sociais concretas. Justificar-se com o se no muda tudo, no muda nada pode ser certo em princpio, mas pode ser ideologicamente to ou mais enganoso, quanto aquela justificao da realidade existente que parte do pressuposto de que o ser humano sempre ser o mesmo, que sempre havero pobres e ricos e, portanto, que no cabe aspirar por algo de novo sob o sol.

    Tcnicas de Pesquisa em Psicologia Poltica

    A anlise dos trabalhos apresentados no presente volume e no anterior (Montero, 1987), prova, da melhor forma possvel, que a psicologia poltica latino-americana utiliza praticamente todas as tcnicas disponveis na psicologia, especialmente na psicologia social, com a exceo do experimento clssico de laboratrio. Porm, em nosso juzo, esta utilizao um tanto acrtica e revela uma fase de transio, pois a aplicao dos princpios metodolgicos apresentados antes significa, no fundo, um novo paradigma de pesquisa e este novo paradigma o que deve ser efetivado com desenhos criativos que utilizam as tcnicas necessrias, sejam elas tradicionais ou novas.

    No se busca aqui revisar todas as tcnicas, porque, entre outras coisas, pouco ou nada se acrescentaria ao que muitos manuais e textos especializados apresentam. Faamos, isso sim, uma breve classificao das tcnicas mais empregadas (at onde sabemos), pois isso ajudar a complementar a viso sobre a metodologia da psicologia poltica latino-americana.

    possvel classificar as tcnicas mais comuns na psicologia poltica latino-americana em trs tipos: documentais, observacionais e interativas. Estes trs tipos variam desde uma participao nula at a participao completa das pessoas pesquisadas e demandam graus diversificados de envolvimento pessoal do pesquisador.

    A utilizao da pesquisa documental experimentou grandes oscilaes e foi praticamente descartada por todas as correntes vinculadas com o behaviorismo, to dominante nos pases latino-americanos na dcada de setenta. Certamente, esta pesquisa tem o perigo de reduzir a anlise interpretao quase literal de alguns documentos, sem diferenciar, suficientemente, o plano do discurso ideolgico do plano dos processos psicolgicos envolvidos. A grande vantagem oferecida a possibilidade de recuperar a dimenso histrica dos processos e, desse modo, possibilitar especificamente uma anlise ideolgica que contrape o discurso e os comportamentos concretos.

    H uma grande diferena entre a anlise tradicional de contedo, praticada pela escola norte-americana de Ithiel Pool (1959) e que, fundamentalmente, se limita a quantificar os contedos definidos como unidades analticas (conceitos, juzos, valores e outros) e a complexa anlise estrutural desenvolvida pelo argentino Eliseo Vern (1976) ou a anlise contextual realizada por Armand Mattelart (1973) que propem uma meticulosa anlise ideolgica. Estes formatos so de grande utilidade para a anlise da psicologia poltica e recentemente foram aperfeioados por psiclogos franceses (ver tambm: Lpez Aranguren, 1986).

  • O MTODO EM PSICOLOGIA POLTICA

    PSICOLOGIA POLTICA. VOL. 13. N 28. PP. 575-592. SET. DEZ. 2013 589

    As pesquisas observacionais constituem o segundo tipo de tcnicas mais usadas na psicologia poltica latino-americana. Incluem-se a tanto questionrios e levantamentos de opinio, quanto tcnicas utilizadas pela observao participante. Por exemplo, os registros observacionais ou o dirio de campo. O maior perigo destas tcnicas a dificuldade de superar a dualidade sujeito-objeto que, como destacamos, tende a coisificar o pesquisado, submetendo-o ao poder de vivisseco do pesquisador, que controla o conhecimento e a iniciativa. Sua maior vantagem a de possibilitar realizar a quantificao sistemtica dos processos e dos comportamentos.

    H alguns anos, apresentamos a possibilidade de utilizar os estudos de opinio pblica como um instrumento de desideologizao (Martn-Bar, 1985). Nossa proposta surgia da experincia concreta obtida em nosso trabalho como psiclogo social em El Salvador, que obrigatoriamente enfrentava essa onda alienadora que a guerra psicolgica e que parte essencial dos conflitos de baixa intensidade. Uma das consequncias mais nocivas dessa guerra psicolgica a impossibilidade das pessoas efetivarem uma formalizao adequada de suas vivncias polticas. Neste contexto de conflito social, os levantamentos de opinio pblica podem ser utilizados para contribuir nessa forma especfica de conscientizao que o reconhecimento da prpria experincia no sistema social. Mencionvamos, em 1985, quatro condies para que o trabalho contribusse ao quefazer desalienador:

    (a) ser sistemtico, tanto em relao temtica, quanto ao tempo; (b) ser representativo dos grupos mais importantes de uma populao (o que uma

    condio bvia, mas que convm lembrar); (c) buscar uma totalizao de sentido, estabelecendo, at onde possvel, as

    configuraes atitudinais que sustentam as opinies; e, acima de tudo, (d) devolver dialeticamente os resultados para a populao como matria de reflexo

    crtica. Em 1986, fundamos, na Universidad Centroamericana de San Salvador, o Instituto

    Universitario de Opinin Pblica (IUDOP). A experincia desenvolvida, desde ento, confirmou nossas proposies, fazendo do IUDOP uma instncia til para intervir criticamente nos processos polticos de El Salvador no interior da guerra civil que assola o pas desde 1980. Mais ainda, a experincia do IUDOP foi essencial para se iniciar um trabalho similar em outros pases da Amrica Central (at agora: Costa Rica, Honduras, Nicargua e, possivelmente no futuro, Guatemala e Panam).

    Um interessante fruto adicional deste trabalho de opinio pblica foi o de desmascarar a manipulao realizada pelo governo norte-americano de Reagan sobre os resultados de supostos estudos realizados pelo CID-Gallup de Costa Rica. Estes resultados demonstravam que os centro-americanos apoiavam massivamente a ajuda militar aos contra na Nicargua e serviram para promover a concesso da ajuda milionria do Congresso dos Estados Unidos. Ao contrrio, os resultados obtidos pelo IUDOP e outros centros independentes demonstravam que no existia tal apoio massivo dos povos centro-americanos aos contra e contriburam, no mnimo, para neutralizar a utilizao da opinio pblica como instrumento de guerra psicolgica contra o povo nicaraguense.

    O terceiro tipo de tcnicas so as interativas. Aqui se incluem, sobretudo, as entrevistas em profundidade, os grupos de discusso e as tcnicas da pesquisa-ao. So tcnicas de carter mais qualitativo do que quantitativo e, em geral, requerem cuidadosa elaborao e

  • CLSSICOS EM PSICOLOGIA POLTICA

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA POLTICA 590

    interpretao posterior do material obtido como, por exemplo, na anlise lingustica e ideolgica das gravaes das discusses de grupo. Destas tcnicas, a mais conhecida e utilizada a entrevista que, frequentemente, serve para os chamados estudos de caso; enquanto a menos conhecida e utilizada at agora a dos grupos de discusso, ainda que seja uma tcnica prxima de certas formas de anlise grupal que so empregadas h algum tempo por psiclogos sociais latino-americanos (Ibaez, 1979). Dado o seu valor para apreender as representaes sociais e o discurso do cotidiano em sua dimenso ideolgica, provvel que ganhe rpida aceitao e seja intensamente aplicada ao trabalho da psicologia poltica em um futuro prximo.

  • O MTODO EM PSICOLOGIA POLTICA

    PSICOLOGIA POLTICA. VOL. 13. N 28. PP. 575-592. SET. DEZ. 2013 591

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    Alatas, Syed H. (1977). The myth of the lazy native. Londres: Frank Cass. Codo, Wandrely. (1987). Accin de los psiclogos en los sindicatos: Trabajo, alienacin y

    transformacin social. Em Maritza Montero (Org.), Psicologa poltica latinoamericana (pp. 277-316). Caracas: Panapo.

    Codo, Wanderley. (1988). Sade mental e trabalho: Uma abordagem psicossocial. Ribeiro Preto: Mimeo.

    Cot, Jean-Pirre., & Mounier Jean-Pierre. (1985). Sociologa poltica (J. Vinyoli, trad.). Barcelona: Ed. Blume.

    Fals Borda, Orlando. (1986). Conocimiento y poder popular: Lecciones con campesinos de Nicaragua, Mxico y Colombia. Bogot: Siglo XXI.

    Fanon, Frantz. (1972). Los condenados de la tierra (J. Campos, trad.). Mxico, D. F.: Fondo de Cultura Econmica.

    Fernndez Christlieb, Pablo F. (1987). Consideraciones terico-metodolgicas sobre la psicologa poltica. Em Maritza Montero (Org.), Psicologa poltica latinoamericana (pp. 75-104). Caracas: Panapo.

    Gonzlez Rey, Fernando. (1987). Psicologa, ideologa y poltica: Un marco conceptual para su anlisis en Amrica Latina. Em Maritza Montero (Org.), Psicologa poltica latinoamericana (pp. 105-130). Caracas: Panapo.

    Ibaez, Jess. (1979). Ms all de la sociologa: El grupo de discusin tcnica y crtica. Madrid: Siglo XXI.

    Lira, Elizabeth. (1988). Consecuencias psicosociales de la represin poltica en Chile. Revista de Psicologa de El Salvador, 8(28), 143-159.

    Lira, Elizabeth., Weinstein, Eugenia., Domnguez, Rosario., Kovalskys, Juana., Maggi, Adriana., Morales, Eliana., & Pollarolo, Fanny. (1984). Psicoterapa y represin poltica. Mxico, D. F.: Siglo XXI.

    Lpez Aranguren, Eduardo. (1986). El anlisis de contenido. Em Garca Ferrando, Manuel., Ibaez, Jess;. & Alvira, Francisco. (Orgs.), El anlisis de la realidad social: Mtodos y tcnicas de investigacin (pp. 365-396). Madrid: Alianza Editorial.

    Lukes, Steven. (1973). Methodological individualism reconsidered. Em Alan Ryan (Org.), The philosophy of social explanation (pp. 119-129). London: Oxford University Press.

    Martn-Bar, Igncio. (1983). Accin y ideologa: Psicologa social desde Centroamrica I. San Salvador: UCA Editores.

    Martn-Bar, Igncio. (1985). La encuesta de opinin pblica como instrumento desideologizador. Cuadernos de Psicologa, 7, 93-108.

    Martn-Bar, Igncio. (1986). Hacia una Psicologa de la liberacin. Boletn de Psicologa, 5(22), 219-231.

    Martn-Bar, Igncio. (1987a). El reto popular a la psicologa social en Amrica Latina. Boletn de Psicologa de El Salvador, 6(26), 251-270.

    Martn-Bar, Igncio. (1987b). El latino indolente: Carcter ideolgico del fatalismo latinoamericano. Em Maritza Montero (Org.), Psicologa poltica latinoamericana (pp. 135-162). Caracas: Panapo.

  • CLSSICOS EM PSICOLOGIA POLTICA

    ASSOCIAO BRASILEIRA DE PSICOLOGIA POLTICA 592

    Martn-Bar, Igncio. (1988a). Hacia una psicologa poltica latinoamericana. Trabalho apresentado no XIII Congreso Colombiano, Barranquilha.

    Martn-Bar, Igncio. (1988b). Procesos psquicos y poder. San Salvador: Mimeo. Martn-Bar, Igncio. (1989). Sistema, grupo y poder: Psicologa social desde Centroamrica

    II. San Salvador: UCA Editores. Mattelart, Armand. (1973). La comunicacin masiva en el proceso de liberacin. Buenos

    Aires: Siglo XXI. Merton, Robert K. (1968). Social theory and social structure. New York: Free Press. Miller, Dale T., & Turnbull, William. (1986). Expectancies and interpersonal process. Annual

    Review of Psychology, 37, 233-256. Montero, Maritza. (Org.). (1987). Psicologa poltica latinoamericana. Caracas: Panapo. Pool, Ithiel de Sola. (Org.). (1959). Tends in content analysis. Urbana: University of Illinois

    Press. Rosenthal, Robert., & Jacobson, Lenore. (1968). Pygmalion in the classroom. New York:

    Holt, Rinehart & Winston. Schwartz, Howard., & Jacobs, Jerry. (1984). Sociologa cualitativa: Mtodo para la

    reconstruccin de la realidad (C. V. Garca, trad.). Mxico, D.F.: Trillas. Vern, Eliseo. (1976). Comunicacin de masas y produccin de ideologa: Acerca de la

    constitucin del discurso burgus en la prensa semanal. Em Igncio Martn-Bar (Org.), Problemas de psicologa social en Amrica Latina (pp. 131-166). San Salvador: UCA Editores.

    Weinstein, Eugenia., Lira, Elizabeth., Rojas, Maria E, e cols. (1987). Trauma, duelo y reparacin: Una experiencia de trabajo psicosocial en Chile. Santiago: FASIC / Interamericana.

    Wright Mill, Charles. (1959/1977). La imaginacin sociolgica (F. M. Torner, trad.). Mxico, D.F.: Fondo de Cultura Econmica.