Marqµ.ê·s CAI NEVE NO POVOAD() .. . O...
Transcript of Marqµ.ê·s CAI NEVE NO POVOAD() .. . O...
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POR TUDO
E POR
TODOS ....... ...... :: : ;!· ~}~~~:::~!::: :::::~
EDITOR: José Luís de Pina - LORIGA DJ,RECfOR E PROPRIE'I' ARIO: Dr Corfos L<õo Bastos:
R. Marquês do' frooteírcr. 84-1 .0 - Lisboa 11
N.º !-MARÇO~ t949
A BEM DE
LO RIGA E DA -REGIAO
REDAcroru Emfiio Leitão Pdulo
Rua do Bolhão, 149 - PORTO
ADMINISTRADOR: Armando Leilão - R. Marqµ.ê·s éla Fronteira, 84-1." - Lisbot; COMP. E · IMPRESSO; •União GT6flca• - R. San la Maria, 46 - Lisboa
CAI NEVE NO POVOAD() .. . A.O APARECER «A NEVE» DESEJAMOS QUE
CADA UM SINTA QUE CAI NEVE; NO PO·
VOADO E CAI NG SEU CORAÇÃO
e UMPRE-NOS, e iazêmo-lo de muito boa
vontade, escrever algumas despretencio-
sas linhas, no alvorecer de «A Neve•.
Antés, porém, daqui lançwnos a n1ão em afee·
iuosos cumprimentos às autoridades adminis·
1rc.1tiv:as do concelho, em particular a Sua Ex." . ,.
,-0 Sr. Presidente da Câmara, oferecendo-lhe a
nossa vontade e desajo de ombr.earmos na luta
pelo beni: · e progresso da Recyião. Igualmente;
~nvoLyemos num fraternal abraÇ!o, a s dutotida·
""4.es «dtr n0ssd querida terra, oferecendo-lhe as 1 . •
_ "qg_~~~ :·~.~lu!_l~.S como baluarte do .progress9 de Loriga, e como reflexo da nCJssa vontade: von·
tade da alma de todos os bons Loriguenses qµe
anseiam em «A Neve» a vitória de um sonho ...
Seria ingratidão não envolvermos nesse abraço, aqueles Loriguenses que, longe da ter
ra-mãe, muito em particular à colónia do !3ra"
1 sil, grangeiam o sustento dos seus, enaltecem e
engrandecem o nome de Loriga pelo seu traba·
lho. Nunca os esqueceríamos, nem nunca os es
queceremos. Por isso lhe dedicamos e dedicare
mos um cantinho especial.
Caro leitor! •A Neve» nasceu de um pu
nhado de fapazes, cônscios da sua posiç.ã:ô -
~e do §eu dever -, ardentes nas vontad~s. so~ nhadôz;esl Sabem que assu1niram perante -a
grei que os éstitna e çonsidera, uma obriga~ô:o
de bem cumprirem . . Esforçar-nos-emos por cumprir.
Vamos para a luta, como não podíamos dei
xar de ir, com um plano previamente troçado;
.não interessa saber qual. Interessa sermos uni·
dos, porque necessitamos de força, e, só unidos,
a poderemos ter.
Interessa colaborar, porque Loriga pede; L."1-
teressa boa vontade e sacrifício porque são de
veres de um filho para com a sua mãe, ... natal.
Soou a hora decisiva de Loriga: •A Neve» 111ar
:ca-nos o horizonte e , não basta vê-lo, há que
perçorrê-lo. Há que vir para a ruÇc coberta por
essa toalha; primeiro o frio e o receio, e, por
<::rqµi, é bom que fiquem os límiélos, os ttles
ctentes, parét que nã0 dêm trabalho aos que
querem prosseguir. Sigamos mais longe: mar·
chemos com boa-vontade e a passo lento, mos
seguro; há quem na neve queira levianamenti;i, ' começar a correr ... t queda certa.
Há que primeiro desbrava'r catninho; não
se esql:leçam que quantos ma\,;> melhor ...
Ah! leitor! como é lindo sonhar! ~as a vida
é.'.'llma rea1tdade. Que imporfa?.I
Lorigp: é um ~ónho da natµxeza;:' todo o .so-~ . . .
nho tem um desp<;!rtar, e Lorigq é o de$per'to.r da
magnânima: e altiva $~rra da ~strela. Sonhemos
,gqi~J~i.!gr~~ ! Sonherno's realizar tudo q:µanto ~a _
alma sagrada de Loriga imane incenso de progresso· e de bem.
Aqueles q_ue comnosco queiram sonhor têm
ná «Neve• o doce leito dos suas vontades.
H6 porém quem a sonhar ressone de má fé:
êsses têm que ser impiedosamente acordados,
não porque em nós não exista p iedade, mas
porque achamos da mais elementar justiça não
deixar derrubar aquilo que é de Loriga e por
Loriga.
Há q~e ler ca1ma e perseverança. Já que CQ·
c'omeÇâmos, elevemos ·bem a lto o estandarte
das Justas aspirações de LoX:iga; ninguém o de
ve erquer, devemos ergue•lo todos, e t9d.os
dquém e alem Loriga devem vê-lo, porque se
deve olhar para h.ido que é Justo e belo.
- Começamos e, coma diz Camões, é feio de·
.sistir de cousa iá começàda. Mostremos q ue Lo·
riga tem estado votada a um abandono incom:
preens.fvel, -e que nos cumpre a nós, levantá-la - '
desss abismo. Mostremos que Loriga tem di-
reitos que lhe não têm sido dados, e que pelo
direito e pela justiça é um dever lutar. Depçira·
cSe perante nós o campo. Deus nos. aiudaráJ . porque Deus a.ludo as vontade imaculadas.
O Governo da Noção - ç:lecerto desconhe-· ' J
ceder deis justas aspirações de Loriga -· esta
mo:;; co.nHantes, que pela sua política de verda
de( também nos ajudará, porque as aspiraçõe.s
de Loriga são uma verdade - Delas lhe dar~·
ml!ls, conhecimento e s6 esperamos a sua rea.
lizçiç&o.
"O Nosso Jornal" . .
Com a aparecimento .de .o jornal «A NEVf.», julgamos nós, .rapazes novos, ter encontrado o melhor meío de pugnar pelo desenvolvimento· ele Loúga, defendendo os seus interesses, e pro· cw:ando em especial, contribuir para a resolução daqueles problemas, cuja realização deseja·mos que se}a urgente, por se tornar absolutamente necessária a todos o.s Loriguenses.
Para .isso nas colunas do nosso jornal. serão _ publica<los -artigos e entrevistas, que de maneira dir~cta ou indirecta contribuirão para esse fim.
Ninguém, me1hor do que n6s próprios, reconh.eêe quão longe está a realização do fim que nos propomos, Qias forçoso se torna, que sejamos auxiliados pela boa vontade de todos aquele~ que prezall.1 acima de tudo o bom nome a~ sua terra.
Não queremos neste mon1ento esquecer todos os Lorjguen,ses que longe da sua terra. principalmente no Bi:asil e Argentjha, procuram ô .
s.usterito Pará. as sl!las famílias. A estes que com honra e dignid'ade zelam pelo bom nome de Lorigá, <<A NEVE:», 'l~va-lhes à sua saudade o intei:esse .dos' accori~ecimentos que de dia a dia se
.. de:;enrola-m'' na-l1QS$é\ terra,. nYlVl'\•lhes •. a. dQ.!'é. lembrança dos sítios onde se enra°l?.() 11 a sua 1•,.ro. citla:<:Ie 9 ·seu ª!Tlor a Loriga.
Àqueles que nascidos em terras estrangeiras, mas em cujas veias corre o sangue de um Loriguense, tambêm «A NEVEll lhes tom ará conhecic)os os variados aspectos da terta dos seus , avos.
F axemos ass_im com que o sentimen to Loriguense não se corrompa e antes se cimente pela saudade e pelo-orgUlho de pertencerem a uma terra cújo progresso intelectual, artístico, industrial, comercial e agrfcola, se vem registando de ano pq,ra ano.
Esperamos que nos seja reconhecida a b.oa von,ta~e e. ~ sinceridade com que é fundado este jornal.
Sê a·ssim acontecer, ficará para nós constituirrdo um motivo d.o.s nóvos empreendimentos.
Alicerçada ,na nossa ju,ventt.~cle e n(;)s bqns l,..o6guepses, «A NEVEn, conservará para sempre . a · fres·cura das no~sas ideias i:l a pureza das nossasjnte11Ções, para que sempre possa gritar: c1POR Tt.Jút) E POR TODOSn. A BEM DE LORIGA, E DA REGIÃO».
José Luís de Pina ---~ ... -_,_,.._ __ , ___ ._._ .... ___ -Com pe~ido de publicação rece·
hemos a segt1inte local: nAs obras que a Empresa H idro··Eléctrica da
Serra da Estrela está a e/ ectuar nos baldios da ·freguesia de L origa, para fazer derivar por um túnel, em construção, as águas caldas na bacia liidiográfica e Ribeira do mesmo nome, para a bac.ia do Rio Aloa, atrofiam a vida económfoa e b·em estar dos povos das freguesias de Loriga; Cabeça, V ide e A lvoco das V árseas, cujos 12.000 habitantes, reclamam a directa e imediata inter· feroência do Governo da Nação>>. ---.... - "' __ , .... ___ ..,..._""~- ......... . lfVJ'!fA S~RIE ,DE DEPOIMENTOS QUE NOS
PJ!.Ç)PQll'[OfJ' F~ZER, COMEÇAMO$ PE;LA E.:XPOSlf;ÃO Q UE NOS CON(JEDE'U O PlGNO PQESll)EN'JJE I?il JUNT(J. DE FREGUESI14, PUBLICADA NA 3~" P!l!GINA. . . .
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De LORIGA de ontem ...
a LORl6A de hoje .....
Todos conhecemos sem dúvida a nossa Ter
ra; mas esse conhecimento resume-se às memórias da nossa juventude, às recordações dos nosso avós e ao presente.
Existe uma barreira para além da qual não divisamos o que se teria passado, e quão ~nteressante seria que nos fosse dado conhecê-la.
Em 1940 passaram por Lisboa milhares e milhares de portugueses em visita à grande Exposição do iVlundo Português. Era-lhes dado reviver oito séculos de Hist6ria... E com satisfação e sagrado júbilo iam passando pelas nossas relÍnils factos e documentos desde o tempo do Rei Conquistador até aos nossos dias. Nesta secção vão passar também. não os documentos mas a sua cópia fiel; não as maquetes das obras realizadas pelos nossos antepassados que mwtas foram e que fàcilmente, pela leitura, reconstittÚremos.
Por hoje apenas vos prometo publicar na íntegra e na altura compelente o foral do concelho dado a Loriga em 15 de Fevereiro de 1514 por El-Rei D. Manuel. pois que a escassez de espaço de que disponho no jornal me obriga a resumir todos os outros. Porém os mesmos documentos estão patentes a todas as pessoas que desejem consultá-los. na Redacção do nosso jornal.
O documento mais antigo que até hoje encontrei é o da confirn1ação ela doação da Jurisdição Civil e Criminal ele Longa a Álvaro Machado datado de 22 de Agosto de 1474. Ei-lo:
Dom Manuel por graça de Deus Rei de Portugal e dos Algarves daquem e dalém mar em
AJ rica, a quantos esta carta virem fazemos saber que a n6s foi apresentada uma carta que
tal é:
Dom Afonso ... A quantos esta carta virem fazemos saber que confirrnando nós a acareação
que feita temos, em Álvaro Machado fidalgo da nossa raça e aos serviços que dele e de seu pai temos recebido e esperamos que ao diante nos
faça, temos por bem dar-lhes q ue ele tenha o uso de n6s, em toda a sua vida, à jurisdição civil e criminal do lugar de Loriga que ele de nós
tern. Ressalvamos para nós a correcção e alçada. E porérll, mandamos a todos os nossos corre
gedores, juí.zes de justiça oficiais e pessoas que isto ou verem dizer e esta nossa carta for rnostrada que lhe deixem usar a dita jurisdição, como dito é, sem lhe porem sobre isso qualquer embargo porque assím é nossa mercê, de lhe assim ser feito se1n embargo de qualquer lei de direito
canónico e civil, grossas propensões de douto
res que em contrário disso seja. Dada em Lisboa aos 22 dias de Agosto, Cris
tóvão de Barros a fez no ano de 1474.
E s ta carta foi confirmada ainda por solicitação de Álvaro l\1achado nos seguintes termos:
Pedindo o dilo A/varo Machado que lhe confirmassemos a dita carta e visto por nós seu requerimento, querendo-lhe fazer graça e mercê len1os por bem lha confir1narmos e a havermos por confirmada da maneira que dito é: E porém mandamos os nossos editais para a justiça que assim lhe cumpram e façam muito inteiramente cumprir e guardar.
Dada en1 Lisboa, aos nove dias de Nlaio. João Pais a fez, no ano de 1497.
JOAQUIM LEITÃO
A NEVE MARÇ0-1949
, 'P ro Ecclesia Nastro', LORIGUENSES: Alerta! ...
Soou a hora de unir fileiras, em volta do grande ideal. que a todos nos deve animar!
A Gl6ria de Deus o exige! A necessidade urgente o impõe! E nós queremos acudir à chamada! Cada um de nós responderá bem alto: PRESENTEI Hora de Graça e de Milagre, de esforço heróico e de entusiasmo ar
dente: Deus a escolhetll . PELA NOSSA IGREJA NOVA, brademos todos:
PRESENT E!
* * ...
Vem de há longos anos, este sonho que todos acalentavam: erguer-se, em Loriga um novo templo.
Basta reflectir um momento, para fàcilmente se concluir que é absolutamente necessário levantar. no mais breve espaço de tempo possível, uma nova Igreja.
Loriga é terra populosa e uma das maiores freguesias da vasta Diocese da Guarda, pois conta alguns milhares de habitantes, aqw residentes.
(Não falamos já, evidentemente, nas numerosas colónias de Loriguenses de Belém, Estado do Pará, Brasil, e de Lisboa, Sacavém. bem como de outros filhos de Loriga que viven1 em terras do Continente, do Império. ou noutras regiões do estrangeiro. como. por exemplo, nos Estados Unidos da América do Norte. Argentina, Congo Belga, etc., mas que estão lntimamente presos à Terra que lhes serviu de berço, pelos laços n1ais estreitos do sangue e da amizade).
· Esta encantadora vila, engastada no próprio coração da Serra da Estrela. a 750 metros de altitude, progride a ol.hos vistos.
O seu movimento demográfico é sensivelmente igual à de outras vilas cio Distrito e Diocese da Guarda, mesmo as mais populosas.
Sob o ponto de vista religioso, é eloquente a voz dos factos. Demonstra-se com números e prova-se à face de documentos, relatórios e inquéritos, alguns dos quais, aliás, publicados. que este cristianíssimo povo da Beira vive intensa vida religiosa.
Podemos mesmo afirmar, baseados até em palavras que se recordam com viva emoção e profundo reconhecimento, que Loriga ocupa lugar entre as freguesias mais cristãs da Diocese, como ainda há pouco tivemos o grato prazer de ouvir a Sua Ex.ª Rev."'" o Senhor Bispo Coadjutor, o Senhor D. Domingos da Silva Gonçalves. ao dirigir-se aos Loriguenscs, numa a postólica e vibrante alocução, na Igreja Paroquial, a quando da visita de Sua Ex. t> Rev. m& à freguesia, nos dias 21 e 22 d.o passado rnês de Janeiro.
O n1eio é essencialmente industrial: várias fábricas de lanifícios, de malhas, de fundição, serralharias mecânicas, das mais bem apetrechadas do País. etc.
Dia a dia, Loriga progride, desdobrando-se a sua actividade em diversos e novos ramos de indústria e comércio.
No entanto - oh! que tristeza! - é este povo, tão numeroso, tão cristão, tão progressivo, que não tem uma Igreja ...
Sim. Loriguenses e Amigos da nossa Terra! O Templo actual. atentas as circunstâncias
expostas. será antes uma Capela, de grandes dimensões embora , do que uma Igreja - pois só pode conter, dentro das suas velhas paredes. de aspecto desolador e trisle, sem estilo que lhe dê vida. sem oferecer cómodo algum no seu inte-rior, apenas 50% da população!!!... ~
(A capela-mór, por exemplo, na parte reservada aos fiéis, mede somente 2 metros no sentido do seu comprimento, por 5,5 de largura_ .. ).
:\l
* * É dolorosamente triste ... profundamente con
frangedor ...
O vivo. sentimento da Fé, que nos anima o coração, e o nosso brio de Loriguenses, bairristas como poucos, vibra de santa indignação. diremos mesmo, revolta-se contra o presente estado de coisas, e obriga-nos a todos. ricos e pobres. presentes e ausentes. filhos de Loriga ou seus A1nigos, a envidar todos os esforços. para que o sonho ele ontem. venha a ser hoje consoladora realidade!
Levemos a toda a parte, onde palpite um coração de Loriguense. este brado apaixonado da nossa Fé, grito entusiasta da nossa esperança. vibração ardente do grande amor que à nossa terra amada consagramos:
•. PRO ECCLESlA NOSTRA))
uPELA NOSSA IGREJA NOV Au
Lor iguenses: Alerta !
Amigos de Loriga: com todos vós contamost
Por Deus!
Por Santa Maria Maior, Padroeira da Fre
guesia!
Pela nossa T errai
A COMISSÃO
"' * * NOTAS: nos próximos números, uA Nevei>
cca todos «aqueceráo com dados concretos sobre a uconstrução da nova Igreja Paroquial de Loriga11, e nas suas colunas se publicarão também os donativos que a Comissão for recebendo.
Por hoje co1nunicamos somente que a Comissão Central, já nomeada, é constituída pelos Ex.'"º' Srs. António Cardoso de Moura, Carlos Nunes Cabral e Abílio Luís Duarte Pina. De todos é assaz conhecido o dinamismo, capacidade organizadora, visão clara dos problemas, vontade de trabalhar e Fé sincera dos membros eleitos.
É já ta1nbém do domínio público o gesto tão simpático e generoso do Sr. Cardoso de Moura. oferecendo uma propriedade, sita na uCarreita» e que é avaliada em dezenas de milhar de escudos.
É de louvar a atitude deste ilustre membro da Comissão. atenta a grande dificuldade. porventura a maior, da falta de lerreno próprio para o local do novo templo.
Se os arquitectos se pronunciaren1 pela escolha de outro local. senão mais central. pelo 1nenos em nível superior ao oferecido. de mais fáci l acesso e n1ais jnclicado sob o ponto de estética. adentro do plano de urbanização, sabemos. no entanto. que a generosidade de Sun E.x.• é sempre a mesma. e a freguesia jamais poderá esquecer a sua oferta.
Sua Ex.' Rev.'"' o Senhor Bispo Coadjutor, teve o incómodo de visitar os locais indigitados, lembrando a conveniência de conservar a Igreja actual, caso o novo templo se venha a construir a relativa distã11cia daquela, pois a paróquia tende a desdobrar-se em duas freguesias.
A uNeve», hoje o pregão mais alto a favor de Loriga, · sente-se orgulhosa e honrada ao· transmitir a todos os seus assinantes, neste primeiro número, o apelo veemente da Comissão.
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MARC0 -1949 A NEVE
O PRESIDENTE DA JUNTA DE FREGUESIA FALA- NOS DOS P ROBLE VIAS QUE MAIS VIVAM E N T E P REOCUPAM A FAMILIA L ORIGUE NSE
Convjdados em representação do cargo que exercemos, a focar no primeiro número do jornal eA NE.VE.11, o que pensamos sobre a solução dos diferentes aspectos que dizem respeito ao prosrresso da freguesia que há mais de 3 anos ser;imos, pretendemos, em princípio furtar-nos ao embate de tão delicada querela - por antevermos a nossa espinhosa missão - , sobretudo por faltar, no caso presente, o esteio de u1n fundo de autoriClade grangeado com os louros do triunfo. Ainda assin1. i·eflectidarnente, acede1nos ao convite que nos foi feito pelo eeu ilustre Di~eçtor, somente por uma questão de cega obediência ao critério que traçan1os na nossa consciência, que nos dita o in1perativo de em n~nhuma circunstância voltar a fronte e os sentidos, à Terra que nos serviu de berço. Afora o ditame deste sentimentalismo nada de novo aguaramos neste momento que dizer, além de exaltar a virtude do seu pr6prio esforço e a senda interminável do seu esquecimento.
* * * Como é natural. a existência de um jornal de
fensor dos interesses de Loriga e região. despertou o mais vivo entusiasmo na gente da Serra. Essa espectativa é justificada por a Grei ver à frente deste periódico um grupo de académicos universitários, alguns dos quais com a sua carreira terminada com brilhantismo, uns e outros cheios · de exuberante vigor, de coração desempoeirado, e alma lavada, que querem deste modo elevar e engrandecer a sua Terra.
Esperamos que esta jniciativa seja amparada e forla lecida por todos os Serranos , tornando cada vez mais forte e 1netálica a p 1·onúncia vigorosa dà nossa devoção, por tudo que nos liga ao altar da Serra, que nos irmana .
Há muito a fazer e a lembrar - tão pouco há feito - todavia. é nosso indeclinável dever, saber pedir, com verdadeiro sentido de justiça porque na maneira de o conseguir se encontrará o segredo do lriunfo.
Já que falamos em lembrar vamos referir nas suas linhas gerais as cinco maiores necessidades de Loriga, as quais concrctisamos pela ordem seguinte:
1.0 - Saneamento (esgotos e retretes públi
cas); 2.º - Calcetamento da via pública; 3.0
- Construção urgente de 2 edifícios um para cadá sexo (deste número faz parte um com quatro salas de aula para o sexo feminino, jncluido há 9 anos no Plano Centenário) ; ·
4. 0 - Construção de casas de renda econó
mica e para pobres: 5.0
- Criação de um Centro de Assistência Social.
Principiamos po-r esc)a1·ecer o estado em que se apresentam neste momento cada um dos pontos focados acima, para se fazei- uma ideia precisa do que há a realizar.
Para a efectivação do primeiro melhoramento, ·impõe-se a conclusão do Plano de Urbanização, desta vila, há muito iniciado, sem cujo elemento básico de trabalho, se não podem alicerçar os fundamentos deste importantíssimo empreendimento. É certo que já existem cerca de 400 metros de manilha, na posse da Junta de Freguesia, em tempo fornecidas pela Câmara i\tlunicipaJ, havendo até um esboço delineado para a sua aplicação num troço da rua principal, porém, por insuficiência de subsídio, continuam empilhadas a aguardar a fina lidade para que foram adquiridas há cerca de 4 anos. Quanto à construção de retretes públicas, previstas no mesmo artigo, foi há tempo mandado elaborar o projecto respectivo, o qual nos informam haver sido remetido a Sua Excelência o Senhor Ministro das Obras Públicas, para ser comparticipado. Estamos convencidos que Sua Excelência saberá tomar em conta o que este melhoramento representa para uma população superior a 3.500 almas.
Referindo-nos ao calcetamento da via p ública . somos de opinião que embora seja uma
das maiores nec~ lsidades de Loriga, pois os seus pavimentos estão pessimamente arruinados, o mesmo só poderá ser levado a efeito simultâneamente ou depois de resolvido o saneamento, evitando deste modo um duplo dispêndio.
O problema escolar é• sem dúvida o mais grave, dado o enorme movimento demográfico desta localidade, numa cadência progressiva 'de mais de 400 crianças dos dois sexos em idade escolar, para cujo número há presenten1ente 7 professores e pedido de criação de mais dois lugares. Para satisfazer tão premente necessidade, há apenas un1 edifício pr6prio na sede de freguesia com duas salas de aula, onde fucionam dois lugares do sexo masculino, um dos quais, tal qual acontece com o sexo feminino, funciona em regime de desdobramento , em prédio improvisado há mais de 40 anos. Está previsto no Plano Centenário a construção de um edifício para o sexo feminino com quatro salas de aula, ignorando as causas por que vem sendo protelada a sua construção desde 1940, quando a maioria das freguesias do Concelho, já estão servidas deste elementar factor de educação. Recomendamos a resolução deste problema a Sua Excelência o Senhor Ministro da Educação Nacional e da Câmara i\1unicipal do Concelho, para ser dada prioridade. à construção deste edifício e bem assim daquele que .agora apontamos, dada a insuficiência de alojamento para tão elevado número de alunos.
Reportando-nos ao aspecto referido no artigo 4.u, somos forçados a lamentar a morosidade como está a ser levada a efeito a implantação do bairro de 30 cas1:1s para pobres, iniciado há cerca de 3 anos em determinante de um pedido feito di rectamente pelos operários de Loriga ao maior dos Portugueses Doutor Oliveira Salazar. o qual neste m-:>mento tem apenas duas casas ainda incompletas. A Caixa Sindical de Previdência do Pessoal da Indústria de Lanifícios, mandou çomunicar oficialmente à Junta de Freguesia o seu propósito de construir muito breve nesta localidade, 10 casas de renda económica para os seus filiados. tendo já sido indicado o local para tal fim, pr6ximo do pitoresco lugar uChão das Relvas>>. Mesmo depois de construídas as 40 habitações atrás previstas, não damos o problema habitacional de Loriga como solucionado, pois há a tomar em ünha de conta as necessidades presentes e as que advêm do aumento anual da sua população numa medida de 100 a 120 indivíduos.
Para finalisar as considerações que vimos fazendo, resta-nos abordar o 5.0 enunciado, o qual com .um pouco de boa vontade pode ser criado, atentas as seguintes particularidades:
a) Esta Terra possui, graças à generosidade de. um seu filho estremecido, uma casa legada para um fim de assistência a 9ual se encontra desabitad a para tal fim.
b ) Há igualmente a oferta de Esc. 30.000$00 de um prestimoso loriguens~. para a compra de n1aterial cirúrgico da sua instalação e finalmente este centro industrial contribui para os cofres da Assistêncja com uma importância superior a Esc. 5.000$00 mensais. que os naturais de Loriga gostariam fossem os primeiros a beneficiar do seu próprio sacrifício. A Sua Excelência o Senhor Sub-Secretário da Assistência, recomendamos a viabilidade deste grande problema social. para deste modo se evitar a apavorante mortalidade infantil que infelizmente se verifica nesta fregues1a.
Mais tínhamos que focar de urgente necessidade. como a construção de uma praça fechada, para evitar a exposição de géneros agrícolas, em plena via pública, sem os mais rudimentares preceitos de higiene. A praça à falta de melhor local, devia ser transferida do centro da vila para o Largo Dr. Amorim da Fonseca, o que daria motivo aos arruamentos permanecerem mais limpos e menos congestionados aos Domingos.
Eis em síntese o pouco que por ora enten,demos dizer, do 1nuito que desejávamos lem-b rar. •
3
• Pelas cri ancas ..:>
DE LO RIGA cO QUE TORNA DIF!CIL A OBRA DA EDU
CAÇÃO DOS FILHOS J:: QUE ELA TEM DE INCLUIR, QUASE SEMPRE, A REEDUCAÇAO DOS PRÓPRIOS PAIS>.
Dr. Agostinho de Campos
Por toda a parte, com mais ou menos eloquência, erguem-se vozes cm uníssono, defendendo a criança - expoente máximo da perfeição divina .
T ambé1n neste jornal, 'cujo len1a é, ((POR T UDO E. POR TODOS)) a lgu6m, com fé imperecível no auxílio divino, pretende acordar da inércia em que se tem mantido uma grande parte, senão a totalidade, das mães Loriguenses.
Referir-me-ei , hoje, ao ambiente familiar, • visto ele ser o espectáculo a que diàriamente a
criança assiste e cujas cenas indelevelmente se manterão na sua imaginação.
Horroriza-me a ideia do que virão a ser as crianças de hoje - homens de amanhã -. habituadas a não saber calcar a c6lera, especializadas na intriga, adaptadas à falta de higiene e
• • 1 nem sei que mais .... Será admissível que os pais, educadores por
direito próprio, cavem assim, inconscientemente, um abismo a seus filhos, tornando-os indesejáveis à sociedade~
Há, pois, que r eagÍr contra o que existe de censurável no nosso meio, sobretudo no familiar.
Aos pais, mais do que a ninguém, compete: Manterem-se fortes de carácter; mostrarem-se em q ualquer acto da sua vida (agradável ou desagradável) francos, leais, dedicados; fazerem compreender a os seus filhos (mais pelas acções do que pelas palavras) que os que presentemente enganam, continuarão no futuro, a enganar no próp rio lar, no escrit6rio, na fábrica e em toda a parte para onde a vida os lançar.
Por conseguinte, é necessário - absolutamente necessário - que os pais tenham sempre presente que da boa ou má orientação que derem à sua vida familiar , resultarão, mais tarde, cidadãos úteis ou inúteis à humanidade.
Se todos .agirem segundo os ditames da consciência e conforme a luz da razão , terão com a sua difícil ureeducaçãon uma família mais digna, uma Loriga melhor e uma Pátria maior.
Atinem
REPAROS Há tempos a Junta de Freguesia teve a fe
liz ~deia de proibir que as galinhas transitassem na via pública, determinação que a princípio foi cumprida com certo rigori poré1n, certamente devido à falta de fisca lização, o número de delinquentes tem aumentado à medida que o tempo passa, sendo vulgar hoje verem-se aqui e além õs galináceos livreniente a passear e cacarejar como que protestando pela sua falta de liberdade , abuso a que é preciso pôr cobro, senhoras Autoridades, para que Loriga deixe de vez de «andar com galinha».
* Ainda desta vez a promessa do Centro de
Assistência não foi uma realidade, o que é de lamentar.
* Ultimamente tem-se notado menos rigor na
limpeza das ruas, não sabemos se por desleixo ou por conveniência em não eslragar mais as já tão arruinadas calçadas.
* Contínua a fazer-se sentir a fa lta de um mar
co postal, pois a caixinha é insuficiente para uma terra tão comercial e jndustrial como Longa.
Tribo
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[ UM MILAGRE na Beira Baixa _I
El'a eu peciueno quando ouvi da boca de uma senhora já velhinha, que morava em frente da Ininha casa, a hist.õria que vou narrar-vos e que ela, desde então,. me contou por várias vezes, sem-1~re de lágrimas nos olhos. •Creio que de tantas que lhe ouvi tol esta a que mais me feriu a minha sensibilidade de criança e de cristão.
Ela começava, invariàvelmente, assim. depois das minhas insistências:
- Pols, sim, flll10, queres então que te conte o milagre do Natal? Pois be1n, escuta:
-Morava para os lados da sen·a. muito perto de São Domingos, junto ela casa daquela velhinha que o nosso povo diz ser bruxa. um homem c1ue toda a gente desta vi1a conhecia pelo nome de Zé Foguetel.J:o. Parece-me que este apelido de Fogueteiro lhe veio de, durante vários anos, ser ele o fabricante do fogo que alegrava, à noite, as nossas romarias.
- Outros homens começaram a fazer-llle concorrência na sua arte e, pouco a .pouco, o- Zé Fogueteiro viu-se forçado a pôr de parte a profissão que tinha herdado do pai e que tanta fama lhe dera, para .se dedicar ao amanho da terra e ao trabalho nas pedreiras.
- Tudo corria bem; o 11osso hon1em constituiu fami)ia e deu à Pátria três rapazes que, nrn,\s tarde, se tornaram rapagões fortes e sádios, trabalhadores e l1onestos.
- Ora, quando um dia, vésperas de Natal, o J,l'oguetelro procedia ao rebentainen.to de uma pedreira, por desculdo, não fugiu a tempo e !Oi atingido, nos olhos, com grande violência, por pequenos fragmentos que da pedreira se haviam desprendido.
- Foi, nesta terra, o grito das almas; todos lam.entava1n a sorte do pobre homem, únicco arri-1no da fan1ilia que, certamente. seria lançada, assim, na nuüs negra e dura n1Iséria.
De facto, cinco ou seis dias depois, em casa do Zé Fogueteiro não havia pão, nem lume; sobravam as lágrimas e faltava o azeite na candeia. • • . . . • • ' • • • • .. ' • • • • • • e. • , . • • • . • . • . . • •.. • . • •.. • • • • • •
-Aprox1mava-se o dla do Natal: no adro da igreja os rapazes das «sor tes> tinham descarregado o «1nade!1·0.»; os garotos baviam começado já, entre grande algazarra. a distribuir pancadas a êsmo, com os i;eus inacos, sobre os velhos troncos de sobreiro que, durante a noite de vinte e quatr6 seria queimado em honra do Deus Menino. Os corpos necessitavam, para agasalhar-se, de fortes .roupas, 1nas as almas mantinha1n-se quentes pelas chamas lnvisivets da fé. A crença dos nossos antepassados continuava inalte1·áve1 nos homens desta boa e santa ten-a., que por lei só tinhan1 a de De11s, que lhes bastava.
- E o dia do nascimento chegou. frio e ventoso; a neve caia e. lentamente, tudo se ia tornando branco como lençol de linho corado pelos rai-os fulvos do nosso sol: e1n todas as casas, pobres ou i·icas, mas não na do Zé Fogueteiro, se voltavam as ültí.mas filhós dentro dos caldeirões de cobre, reluzentes como ouro, suspensos sobre ai;; lareiras.
-Uma onda de alegria aproximava os homens entre si e eleva,va os corações a Deus, incitando-os ao bem e ao perdão.
- A noite estende os braços sobre a terra e, num repique festivo, os sinos da velha torre da igreja matriz a11unclara1n que, dentro de mornentos, na casa de Deus, se daria inicio à cerimónia por todos desejada: - a Missa do- Galo.
- As pesadas portas de carvalho da entrada principal, enfeitadas com grossos espigões de ferro, abrh·arn-se de par em par delxa,ndo ql\e a luz dos candelabros e das velas, os sons do órgão e as voze.s dos fiéis, saíssem para ~ rua, numa lufada de alegt•ia. anunciando que o nascin1ento do Deus Menino estava próximo.
- O cortejo das oferendas co.meçou. Os pat rões acompanhados dos seus criados, os pobres e os ricos, os novos e os velhos, leva11do gados ou produtos de suas terras, conforme os seus have-1·es, iam depondo, cantando sempre, os sf:')us presentes Junto d'Aquele que calcurriou caminhos, foi cugpido e maltratado e, ante sorriso.s ignominiosos, morreu na cruz, numa manifestação sin-
A NEVE
cera, sem coacção, ao F!lho de Deus, redentor desinteressado dos pecados dos homens, ingratos de sempre.
- Em frente do presépio, de joelhos e chorando convulslv.amente, um pequeno de 8 anos, não tinha mais, vestindo, unicamente. um remendado bibe de riscado e os pés descalços. didgia as suas preces ao Jesus Menino. Era o Antônio, filllo do Zé Fogueteiro.
- Alguém que viu a criança e que. certamente. no intuito de, acabada a cerimónia, a conduzir junto da mãe, se aproximou, ouviu que, da sua boca pequenina, saiam nervosamente estas palavras, enquanto dos olhitos se lhe soltavam, em catadupa, grossas lágtimas:
Meu Jesus, acode-nos ... Meu Jesus, sabes que creio em ~i e que, e1nbora nunca lne tivesses dado brinquedos como o tens feito aos outros meninos da minl1a idade, eu sou teu amigo. rvreu Jesus, porque consentes que fiquemos sem pão?! Meu Jesus, porque sendo meu pai tão trabalhador e nosso anúgo - é verdade que às vezes bebe uma pinguinha a nlals, mas nunca tratou mal a minha mãe, nem nós, por isso creio que não ê pecado - fizeste com que ele ficasse céguinho, ele que tanto gostava de nos trazer junto de ti, nesta noite?! Meu Jesus, Jem dó de nós, llvra-nos da l!llséria que nos cobre e dâ vista a meu Pai. Meu Jesus. ouve. sou eu. o António, que te peço ...
-O !Menino certamente se sorriu e, co1n a. rnãozita de marfim, deve ter lanqado a sua bênçãó sobre aquela cabecita loura de cabelos em desalinho, porque u1n homen11 de sorisso nos lâbios, de olhos btilllantes de satisfação, brilho avolumado pelo reflexo das luzes nas suas lágril11as, entra na. igreja e, em voz alta ressoa pelas abóbadas. diz: - Meu Deus nada vos trago, como era . . . de meu dever, porque nada tenho além do cora-ção que n1e destes, lTI!l.S no meu peito a vossa generosidade criou tão grande sentim"€nto de afeição que nada mais cà te1n lugar do que o amor que Vos dedico. Graças Vos dou, Senhor, pelo milagre que acabais de conceder-nie.
Borges Praze1·es
PÔR OLGA
Não penses que os olhos verdes ' Te prendem mais que os castanhos
Ou que · aqueles olhos azuis, Têm elicantos tamanhos!
Quando vires uns olhos net,rros Não fiques logo a cjsmar ... Porque os azuis são do céu, Os verdes da cor do mar ...
Ao mirares outros castanhos Não murmures já baixínho Carícias, que nesse olhar Desejavas ver pertinho ...
Se os olhos azuis são falsos, Porque ficaste esperançado? Se os verdes são traiçoeiros, Porque estás füo encantado?
É que nós nunca sape.mos O encanto dum olh~r. Os castanhos são tão meigos ... Os negros fazen1 sonhar ...
Costas dos verdes, dos negros, Dos azuis, ou dos castanhos? São sonhos que o tempo trás, E leva porque são estranhos ...
São estranhos ao coração, Porque aquilo que tu queres Não é a cor dun1 olhar, Não é isso o que preferes., .
O que te prende e atrai. É. essa meiga brandura, É o choro e a alegria Que tu vês em cada dia Nuns • olhos em que há ternura!
MARÇ0 - 1949
11lllllli1111111 A LEITURA 11mn111111111
Hoje em dia, ouve anunciar-se a formação de· pequenas bibliotecas, em terras que procuram evolu1r, sob todos os pontos de vista. Nós, Loriguenses, também não ficámos indiferentes à avidez de leitura, que a pouco e pouco, -se vai ge· neralizando entre a gente nova. Bom senso das juventudes trabalhadoras, às q~ais ne1n só o pão da boca lhes interessa, mas também a formação do espírito.
A quase totalidade da Juventude Loriguense aprendeu a ler. Necessidades económicas, não Jhes permitiram alargar a acção do professor. Abandonaram a esco.la após a aprovação do segundo grau. Só, de tempos a tempos, pega.m num jornal para lerem relatos de futebol, os des· portistas, para lerem desastres e secção de necrologia, os curiosos, para lerem de fio a pavio. os desprovidos de livros, pa.ra nada lerem, os não te 1·ales.
Lerem o jornal. enquanto aguardam a vez no barbeiro, já é alguma coisa. Preferível. seria entregarem-se à leitura de qualquer obra, quer literária, quer cientffíca. Não quero dizer que se deixem de ler os jornais, antes pelo contrário. Encontra-se nel.es muito boa ptosa, podendo ao mesmo tempo apreciar os artigos sérios ou a descrição de qualquer acontecimento que s6 a pena de jornalistas, cc.nsegue fazer em magras horas, como Ca~nilo conseguia 1natar uma ou duas personagens, nos seus romances, enquanto aguardava o almoço ott o juntar. Portanto, não rnenosprezo a leitura de· qualquer íomal.
Agora é te1npo de dizer alguma coisa sebre a leitura.
Não é com qualquer liv10, que se nos depara, que devemos perder algu1nas horas. Não. Devemos saber de antemão se o livro é sério no .conteúdo, qual o género, qual o autor, etc. r<.1uitas vezes, s6 pelo autor, podemos deduzir quetn vai na carruagem. Faz pena, ver jovens embebidos em leituras perniciosas .. com as quais deforrnam o espírito. Sonham. sonham , para um dia mais tarde se arrependerem de tanto haverem sonhado.
Quanto ao género, tenho a dizer que, por exemplo, na d_istinção que se faz nos géneros literários entre -prosa e poesia, uns gostam inais da prosa, outros da poesia. Qualquer destes géneros. é belo, mas no entanto, nem ambos são apreciados. Na divisão da prosa ou poesia, há vários géneros os quais uns, vos interessa11:l mais. que outros. Assim. posso gostar mais do épico· que do lírico ou dramático. isto na poesia. l\ilais do oratório, que do narrativo, epistolar, didático ou descritivo, isto na prosa. Por isso, há conveniência, saber de antemão. se o livro é do nosso agrado ou não.
Agora podereis perguntar-me, quem vos ilucidará sobre tal.
Anda em formação uma biblioteca no Grupo Desportivo, onde existe também em form;:i.ção um ficheiro. Con10 é a vós rapazes que eu falo. e na maioria sois sócios, tendes facilidades em levardes um livro com as qualidades que desejais. Que eu saiba. não existe ali livro algtm1 que possa prejudicar-vos na vossa formação. Por jsso, r equisitai os livros que desejais. e assim, a pouco e pouco, ides aumentando o vosso valor, lucrando vós e a sóciedade.
Uma vez que estais ilucidados onde podereis encontrar um born livro, e qual o género, procurai incutir nos vossos amigos o gosto pela leitura. quer contando partes .interessantes, quer ainda fazendo-lhes ver como o autor diz isto ou aquilo, bem diferente do n1odo .como vós ou eles se exprimem. Aqui reside o importante da leitura. Para isso, não basta passar páginas a fio a fim de acabardes o livro quanto antes, sem parardes para confrontar com ô autor, a possível construção da frase que vos pareceu harmonio· sa e bela. Só assim podereis tirar da leitura algum proveito. Quando chegardes ao terminus dum livro .sem proveito, ou não foi bem lido, ou o livro não pr~stava, preferível seria não o terdes lido. O lempo que de1norastes a lê-lo, era -vos mais útil lendo um livro melhor, ou passeando com vossos amigos. Procura sempre um bom li-
(Continua na pagina 5)
LEITÃO & IRMÃOS, Ld.ª Por escritura de 29 de Dezembro de 1948, la
vrada na secretaria notarial de Gouveia pelo notário Dr. Manuel Augusto Tavares Ferreu·a, foi .:0nstttutda uma sociedade por quotas de responsàl,)ilidade limitada entre António de Moura Lel'tão António Cabral Leitão, José Cabral Leitão, EmÍllo Reis Leitão, Antônio Fernandes Leitão, António da Rocha Cabral e D. Maria Reis Leitão, cujo pacto social consta dos artigos seguintes :
l.º - Entre eles outorgantes é constituid!-t uma sociedade por quotas de responsaoilídade limitada . cmn a denominação de Leitão & Irmãos. L.da, con1 sede em Loriga, freguesia do concelho de Seia, podendo ter as filiais e sucursais que for deliberado em assembleia geral.
2:" - o seu objecto é a indústr ia de fabricaçã(» .e venda de tecidos ou qualque1· out ro ran10 de 11êgócio que os sócios decidam explor ar , com ex}àep_ção do comércio bancário.
.3.0 - A sua duração é por tempo indeter1nina'tlo, com inicio a par tir de I de Janeiro de 1949.
4.? - O capital social é, inicialmente, de 1·!·350.000$; ei;h dinhe!ró, representado e dividido é m sete quotas, assim subscritas: uma. quota de 6oo.OÓO$. pertencente ao sócio António de l\1our a .Leitão; · uma quota de 150.QOO$, pertencente ª? só.cfo António Cabral Leitão; uma quota de 1gual 'quant ia, 150.000$, ao sócio José Cabral Leitão; uma quoté!o de 112.500$, pertencente ao sócio Emílio ~e!s Leitão; uma quota, de 112.500$, ao sócio António Fernandes Leitão; uma quota de 112.500$, pertenêente ao sócio António da Rocha Cabral, e luna ,quota de 112.500$, à sócia D. Maria Reis Leitão; quotas estas já integra.Jmente realizadas, o que expressamente declaram p~na todos os efeitos legais.
5.0 - Não são obt·ígatórlas p1·estações suplementares; porém, os sócios poderão fazer à sociedade os suprimentos de que a caixa carecer, os quais serão lançados em contas especiais; vencerão ou não juros e serão reembolsados nas condi·cões qu forem ajustadas ou fixadas pela assem-: biela geral.
· 6.0 - A sociedade será representada em j1úzo e iora dele, activa e passivamente, por três sócios, qµe ficam sendo gerentes, e a nomear em assern."Qleia geral para esse ·fim convocada.
§ t.• Os gerentes são dispensados de cauç.ão e ·Çt sua retribuição serâ fixada pela assen1bleia gerál que os no1near e qonstará da respectiva acta.
; 2.0 P al:a que a soctedade fique obrigada bas'ta: que os respectivos document os sejam e1n nome -tiela assinados por .dols sócios ger entes, mas em caso' aigum a firma será empregada em fianças, 'ábo:p.ações, letras de favor e mais actos ou ddcu-~entós estranhos aos negócios sociais, não sendo ff.tte-•.. âplicar o aqui pr~ceituado aos documentos de ''Simples expediente, que podem ser assinados apenas por um dos sócios gerentes. • § 3.0 Os sócios gerentes não podem exercer ~gerência em quaisquer outras sociedades que explorem o mesmo 1·amo de actividade. ':' '7.0 - Anua1mente· proceder-se-á ao balanço, Que será encerrado em 31 de Dezembro de cada ,ano.
8.0 -0s lucros llquidos, depois de deduZ!dos 5 por cento para o fundo de reserva legal e ainda 10 .por cento para a renovação de maquinis1nos ou outros flns de ampUaçã.o ou melhoramentos, sei;á dividido na proporção das quotas de cada um 1e.. de harmonia com a resolução tomada em assem'bleia geral, assim sendo supo1·tados os prejuízos, '.se ' os houver.
todos e far-se-á. a adjudicação àquele que melhor p roposta fizer em preço e outras vantagens.
12.• - A sociedade poderá adquirir por compra particular ou em hasta. pública quaisquer Imóveis de que necess.lte para a sua instalação e desenvolvimento industrial e comercial ou para outros fins.
13.º - Qualquer convocação para deliberar sobre assuntos sociais será feita a cada un1 dos sócios por meio de carta registada. com aviso de r ecepção e com a antecec:léncla m.inilna de quinze dias, podendo qualquer dos convocados fazer -se r e-
· presentar por outrem, munido de procuração ou cart a escrita pelo próprio ou ao inenos assinada por este, em cujos documentos devem ser especificados com precisão os fins e poderes para intervir nas cleliberações sociais.
14.0 - En1 t odo o omisso regularão as disposições legais aplicá veis.
Gouveia, 31 de Dezernbro de 1948. - O Notár io, 1vranuel Augitsto Tavares Ferreira.
Por escrit1ir a de 4 de Janetro de 1949, l avrada n a secretaria notarial de Gouveia pelo notár i o Dr. lvlanuel Aur11isto Tavares Ferre'lra, foi alterado o artigo 6.0 e seus parágrafos do pacto social ela sociedacle Leitão & Irrnãos, i.•i., co1n sede ern Lor iga, concelho ele Seia, o qual ficará assi11i redigido: · Artigo 6." - A gerência social, dispensada de
caução e sen1 retribuição, compete a todos os sócios mas a parte técnica e comerc.!al dos negócios da sociedade e a representação desta, tanto em juizo como fora dele, incumbem des!gnadan1ente a três sócios, a nomear em assembleia ger al para esse flnt convocada.
§ 1.0 Para que a sociedade fique obrigada basta que os respectivos documentos sejam em nome dela assinados por dois dos três sócios a nomear em assembleia geral, mas em caso aJgum a firma será empregada em fianças, abonações, let ras. de favor e mais actos ou documentos estran hos aos n egócios sociais.
§ 2.0 Os documentos de mero expedien te poder ão ser .finnados apenas por mn dos três sócios gerentes a nomear em asseinbleia. geral.
§ 3.0 Nenhum destes três sócios poderá exercei· gerência silnllar em qualquer ou quaisquer outras sociedades ou firmas que explorem o mesmo ran10 de actividade da sociedacle ,açiui constituída.
Seçl·etaria Notarial de Gouveiã, 14 de Janeiro de 1949. - O N"otár io, Maniie.l Augusto Tavares Ferreira.
LEITURA (Cont. da pág. 3)
vro que é na frase já feita, um bom amigo. Sede conscienciosos nas leitu ras que façais,
porque só assim podereis tirar algo de útil. Is to pode ser dirigido também aos homens e
mulheres, mas são poucos e poucas, àqueles e àquelás que se dedicam à leitura, por isso preferi dirigir-me a os jovens.
Manuel de Loriga
eaH-titiAo. d" Sauclacle
A fastados do convívio fraterno na luta insana pela V ida, mourejais longe do berço da vossa infância, o conforto da vossa velhice. Qual de nós, loriguense, não sen te palp itar o ·coraçao agitado, por uma saudade forte, dum ente que a Vida nos roubou para a Vida. Em que coração de loriguense não tend es vós um estro de saudade, de que a fé na Virgem SenhoJa da C u ia é ·o mais pode roso le nitivo. En1 que lar loriguense se não encontra uma recordação vossa , através dum re trato por vezes antigo , que uma ·carta faz reviver mais fo rtemenl:e, e. a pertar em comoção frenética aos nossos peitos.
T a1nbém no jornal teremos o t1Cantinho da Saudaden e é a vós e a todos os que se encontram longe d a T erra-Mãe , que vos compete preenche-lo.
Queremos que as vossas notícias. as vossas sugestões, os vossos anseios e as vossas espe-ranças nos sejam transn1itidas, para serem divulgadas a través dum jornal, que é nosso e pela nossa Terra.e cujas d irectrizes vão traçadas no artigo do nosso director.
Q ueremos que o jornal seja o elo de lig~ção de todos os loriguenses espalha • .dos pelo mundo e que a.traves dele sejam dados a conhecer os problemas e as necessidades mais prementes da nossa querida Loriga.
Queremos que o jorna l seja nosso e por nos pertencer nos cabe dar-lhe todo o nosso a poio através da nossa colaboração e do nosso precioso auxílio quer mora l quer materia l.
Queremos marcar uma posição e porque so-1nos uma força, que a ânsia pelo progresso da nossa Terra estimula e orien ta, não nos será difíól consegui-lo. Querer é poder e porque assim o queremos assim o have1nos de conseguir.
Colaboremos todos e essa colaboração será tanto mais p reciosa quanto mais d istante estiver o loriguense colaborador.
Está a nossa Terra condenada e votada ao abandono . Estamos todos-nós massacrados e feridos de dor pelo espectáculo que Ela nos oferece . Temos que reagir. Teroos de lutar viva e .nobremente contra este estado de coisas.
O jornal será a nossa arma: a Razão e a Justiça as nossas munições.
Descarreguemo-las para com e las acordar-.,.. . -
mos as consc1enc1as e entao mostrarmos que ve-lar pelo Bem é um acto de pura consciência.
Joaquim f o,.ge Leilão , .;.,.· 9'.0 -A cessão de quotas ou parte de quota entre~sócios será livre, mas para a cessão a estra:nnos fica ela dependente da autorização dos restantes sócios.
----------,--------------------- ..... --,--~.--.... --~ ~i'·~ § único. O sócio que pr etender ceder a quota lÇ.ti_,,Parte de quota a estranhos dever á comunicar >Q"racto à sociedade e a cada u m dos sócios incliví-1all"ahhente, com a antecedência minilna de trinta ;tit~:ll;; ::por. carta registada, COJU aviso de recepção, :e§l{ec~ficando as condições e pr eço da cessão. A sociedade ter á o di reito de pre,:!'er ência. e este será devoivido ao sócio ou sócios que dele queira m usar, l'fé 'a sociedadé o não fizer, e, querendo mais de um sócio preferir ou usar deste direito, será ele atribuído· a todos os sócios que o queiram, na proporÇ'ão das suas quotas.
10.0 - No caso de falecimento ou interdicão de ált;ul}S'sóêr'os, poderão os sobreviventes ou êãpazes éontanua1· a sociedade com os representantes dos falecidos ou ln.capazes, que legalmente forem nomeados.
§ únlco: No caso de não desejarem continuar na sociedade os herdeiros ou representantes dos incapazes, será a quota resgatada pela forma segiu.nte: o pagamento ou resgate da quota do sóçiu falecido ou incapaz será efectuado en1 doze prestaçqes txln1estraís, Iguais e sucessivas, representadas por igual número de letras aceites pelos sócios sobreviventes ou capa:.1es, em seu nome individual, e acrescidas do Juro à taxa de desconto do Banco de Portugal, sendo o valor da quota consid~rado sempre à face do último balanço, que n~este caso pode e deve ser balanço oca.sional e ne
' c~ssário pata o fim especial acin1a indicad.o. U." - A sociedade dissolve-se n os casos le
!çais"te no caso de dissolução serão liquidatários toJiõs :os. sócios e pr oceder -se-á à liquidação e partilh'fi.''.conforme acorctare1n e for de lei. No caso, po.'rém(·.,de' qualquer sócio pretender o activo e passivo social, ou seja os bens da inesma sociedade, ij;Jto~eder-se-á. à licitação por forma verbal en tre
- No passado Domingo, cUa 2'7, visitou Loriga ·mais uma vez o Rancho Folclôrico de Paços da Serra, t endo sido recebido pela Fílarmônica local e por muito povo que os aclamou entusià .St icamente ; depols de ter sido recebido na sede do Grupo Despor tivo Loriguense onde l l1e foram a-presentadas as boas vindas em nome da Comissão pelo sr. Alferes Lages, a menina Maria Teresa Seixas, estrela do Rancho, i·ecitou uns lindos versos de sua autoria dedicados a Lorlga. Em nome do Grupo Folclórico agtadeceu o Sr. Nogueira, pessoa. muito estimada nesta vila, que vincou mais un1a vez os estreitos laços de amizade que unem estas duas terras Beiras. Em seguida percorreu as ruas da vila. d11·ig!ndo-se ao Largo da Fonte do Mouro para exibir o seu vasto reportório qne foi muito aplaudido, regressando depois ao Grupo Despot'tivo onde lho foi servido um pequeno lanche. Terminou esta tarde de alegria co1n um curto baile na sede desta Sociedade.
-Tan1bé1u visitou LÓrlga. no mesmo dia 2'7 da parte da inanhã o Grupo Folclórico de s. Romão que exibiu os seus interessantes bailados; por terem vindo inesperadamente e a uma hora imprópria não ttvera1n o acolhimento que era de esperar.
- Esteve ainda nesta vila no dla 28 o Ran cho de Figueiredo que entusiasmou os Lorignenses pela originalidade dos seus númerós e apresen tação d0s seus componentes.
-Para a Cidade do Pará - Brasil - partiu no paquete «Hilary» o nosso conterrâneo Sr. Manuel Augusto Moura, comerciante naquela praça.
Para a cldacle de Manaus - Br asil, saiu tam-
bém o nosso conterrâneo Sr. J osé Jo!l.o de Brito Amaro. Também para o P a1·á; saii:a1n no passado dia 22 de Fevereiro, a Sr.• D. Altlélia Macedo Mor.ais, esposa do nosso amigo Si-. Adelino Oo1nes de Moráis, comerciante naquela p raça, compa.nh ado de sua Mãe Sr.• D. Maria J osé Lopes Macedo e seus filhinhos. A todos desejamos uma óptima viagem.
Para a capital do Pais, saiu o Sr. Emidlo Fernandes .Conde, açompanhado de sua esposa.
. Deu entrada. na casa de sa\lde de Coimbra, a f 1pi de ser submetido a uma. operação, o nosso ami.go Sr. António de Moura Leitão, a quem desejamos rápidas melhoras.
VISITAS ILUSTRES D e passagem, esteve nesta vHa no passado
dia 27 âe Fevereiro. acon1panhado de sua Ex!"ª Esposa o Sr. Sub-Secretário da. Educação Nacional.
ALMOCO DE CONFRATERNIZACÃO Reali;ando-se no próxirno dia 3 de Abri/ o
2.º A lmoço de Confraternização da Jamília loriguense, a Comissão Organizadora f.'Jede a todos q.queles que desejern assistir, o favor de se inscreverem, até ao pr6ximo dia 25 d e J\1arço, na adm inislração do nosso jornal.
-------~"'""';,,.---~-~-----Visado pela censu ro
'
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.. ••
POR TUDO
E POR
TODOS
""'"ª 'fi
A NEV.1::
A BEM OE
LORIGA E DA
REGIÃO
Considerações oportunas Começa1nos por dar os nossos parabéns aos
Loriguenses amigos da sua terra, ávidos elo seu progresso e cônscios dos seus destinos.
Senlimos necessidades a satisfazer, obras a realizar, problemas a fo'ca,r e acordos a ultimar e só com o jngente esforço dos homens que acima de tudo vêm os interesses superiores da terra-n1ãe, se conseguirão dinan1izar princípios, ho-1nogeneizar opiniões e dar realização a tudo por que todos aspiram.
Regeitamos e condenamos a inércia, repelimos com vigor o marasmo que se apossou de nós, e arvoremo-nos em arautos defensores e propugnado~es dos nossos inter~sses n1ateriais e morais. Há obras a realizar e problemas a resolver; 1nelhor ainda, há problemas a resolver e obras a realizar. .
Toda a obra pressupõe a existência dum problema que só depois de equacionado nos leve à sua ulterior realização.
Antes de realizar, conceber e antes de conceber, observar.
f.vidente1nente que se não concebe e realiza uma o bra sem que, a priori, se tenha feito uma análise das necessidades mais prementes. para depois optarmos por aquela que se nos apresenta ser a mais intensa e daí a primeira a ser realizada.
Nao vamos dispersar a nossa actividade. nem embalar sonhos de grandes e simult~neas realizações, não, indiferentes a falsos rumores ou vãs promessas, procuremos antes dar realização rac ional a todos os proble1nas, tendo o cuidado de as estudar para que cada um de per si seja resolvido.
As necessidades são múltiplas e os meios escassos e, perante .este elenlentar princípio económico, devemos condicionar a sua satisfação aos primeiros termos duma sucessão decrescente de necessidades.
Ora, há ideias ' a coordenar e actividades a controlar e só mediante elas nos será lícito caminhar para o fim que no~ propomos.
Por essa razão, entyámos a dar os parabéns à gente da nossa ten-a na convicção de que, senhores dum órgão que reputan1os mensageiro do progresso, estão em condições de, através das suas colunas se 1nanifestarem altivamente a respeito dos problemas que ã terra dizem respeito e qu.e directamente se prendem con1 o bem estar da colectividade.
O nosso jornal será a mola -impulsora de todas as boas vontades. o elemento de paz, o e.lo que a todos unirá na ânsia suprema de só servir e pela mesma causa pugnar, sobre ele incidindo reflexivamente os salutares clamores bradados em uníssono por todo um povo que pode ·e deve prosperar.
Por jsso, loriguenses, qualquer que seja a vossa condição. tendes um jornal que é vosso e através dele podeis lutar pela vossa terra.
É certo que, mlÚtas vezes, as opiniões divergirão quando se trate de levar a cabo qualquer realização. mas é ainda o jornal que se nos afigura ser o elemento coordenador, como já atrás referimos: inclusiva1nente, qualq.1.1er ideia lançada poderá ser ampliada e possivelmente corrigida por outros que dela hajam tomado conhecimento através das colunas do 1nesmo jornal; poderá ainda servir de lista aberta na aquisição de hmdos para este ou aquele empreendimento.
l\llas não é s6 no capítulo das realizações n1ateriais que o jornal se nos apresenta de importância decisiva, porquanto há outros factores a recomendá-lo e os de orde1n moral pode1n vir a ter decisiva projecção no fut1.1ro; a união, respeitada como ele1nento fundamental do progresso, sentimos com agrado, virá. a ser un\a conquista feita através do órgão co1num.
Temos a convicção ainda que um jornal da terra contribuirá bastante para o desenvolvi-
mento do interesse p8sto na leitura, ao mesmo tempo que todos nós através dum sistema de divulgação cultural e ensinamentos de várias ordem, teremos possibilidades de tomar contacto com assu~tos de ql:le andávamos um tanto arredados.
Passadas em síntese as vantagens que podem advir da pi.1blicação dum peri6dico local, seria ingratidão nossa não apresentarmos os nossos mais sinceros agradecimentos a todos aqueles que, revestidos da melhor boa vontade, responderam pronta e dignan1ente ao desinteressado apelo que lhes foi dirigido.
Se ver engrandecida e prestigiada a nossa terra é apanágio próprio de todos os loriguenses. absurdo seria se assim não tivesse acontecido.
É que Loriga não se limita hoje a ser 1.11na simples aldeia serrana, entrincheirada na fortaleza dos Hermínios, vivendo egoistamente uma vida sedentária, alheia aos problemas que vêm preocupando os demais povos civilizados.
Seu valor económico é hoje uma J;ealidade, mercê do desenvolvimento de todas as suas indústrias que estão emancipando-se do 1·otineirismo, ca1ninhando a passos largos para uma técnica caracteristicamente progressiva, competindo com a~ demais espalhadas por todo o Pa.ís.
O comércio e a lavoura não estão apáticos, procuraFfd~ valorizar-se e aos poucos vão igualmente dando entrada na senda do progresso.
Estes factores se conjugam para a creação e manutenção dum órgão que, defendendo os interesses locais, está a colaborar numa obra nacional que é de ressurgimento. ·
Felizmente também, a nossa terra se pode orgulhar de ter o analfabet!~mo em vias de exLinçào, pois é com bastante satisfação que registamos que todas as crianças em idade escolar estão recebendo o ensinamento das letras e, em tempo oportuno, todo o loriguense. qualquer que seja a sua idade, estará em condições de Ie.r o seu jornal.
Como remate uma explicação e um pedido: Caíu sobre nós, por força das circunstâncias,
a responsabilidade enorme de, em situação crítica. assumirnlos os encargos jnerentes à gerência do jornal, porém, queremos deixar bem frisado que foi bem contra nossa expressa vontade e só com relutância aceitámos os encargos que para outros quizéramos.
Somos todos jovens, cheios de puros ideais, um pouco sonhadores talvez, mas com brio e realismo ba:stante para de ideais tecer obras e de sonhos i·ealidades.
Estamos aqui para servir e jamais trairemos os fins que nos propusemos ott a obra que nos confiaram.
O pedido em pouco se resume: às pessoas i<,lóneas, verdadeiramente dedicadas à sua terra, que lutaram e lutam pelo seu prog•esso, pedimos que nunca afroixem nos seus elevados pro~ p6sitos. que de exe1nplo queiram ficar às gerações vindouras.
Aos novos, à juventude trabalhadora, pedi-, . 1nos que se unam a nos para em coniunto e com igual entusiasmo servirmos uma causa comum.
Aos derrotistas, ainda que pertur~adores iníquos, nada pedimos, porque esses vive1n fJ n1argem de·todos os acontecimentos reais.
Com os espíritos rectos e esclarecidos contamos pois.
Leitão Paulo
Nota da Redaccão J
A todos que se dignem colaborar no nosso jornal pedimos o especial favor de envia.rem directamente os seus artigos e nolícias ao nos· so Redactor.
N.º I-MARÇ0-1949
DUAS CASAS ... MEIAS FEITAS ...
Vem o nosso pequeno Jornal na 1nelhor ai. tura.
Dois problemas. com a sua criação, teremos de conseguir:
. Urn. afastar para sempre a noção cada vez. mais arreigada no seio do nosso povo de quC" em Loriga nada se · faz e nada se pretende. fazer .
Outro, é mostrar perante os nossos co.nterrâneos que estamos dispostos a lutar sempre e só pelo bem da nossa terra.
Desta sorte sere1nos dignos da divisa em que o colocamos.
POR TUDO - O QUE SEJA DE TODOS. Foi com natural regosijo que Loriga recebeu
a notícia duma comparticipação do Estado para, a construção dum bairro Ide casas económicas.
Sem dúvida constitue hoje problema de ca· pital importância para os povos a resolução de problemas de natureza social. Daí a natural e sempre crescente atenção por parte dos Gover· nos para a resolução deste e de tantos outros assuntos de similar natureza.
Com um aglomerado populacional de cerca de três 1nil pessoas, Loriga debate-se desde há muito com problemas que reputo de primordiais tão fundamentalmente eles interferem na vida do nosso povo.
Não exagero, ao afirmar, constituírem algumas das casas existentes em Loriga trjstes tugúrios On· de só a miséria e o infortúnio poderão reinar.
Em muitas sem ar e luz abrigarn-se famílias numerosas onde a par ele uma promiscuiaade e uma vida moral por vezes 1nenos sã, se desfalece toda uma existência de gerações pagando por vezes algumas delas pesado tributo a doenças altamente contagiosas.
Era confrangedor, mas a luz veio enfim. Foi pois que todos n6s, Loriguenses sentimos
imensa satisfação ao ser-nos dada a boa nova da construção para breve de um bairro económico na nossa terra.
Infelizmente cedo se veio n verificar não seguir o ritmo da construção do bairro, aquela brevidade de que tanto carecemos.
Arasta-se o bairro há pelo 1nenos dois anos .. Descrentes vêm já os Loriguenses chegar e partir os operários que se empregam na sua construção.
Se Loriga foi dotada com centenas de contos' para o seu bairro econ6mLco, ocorre-rne pergun-! tar: Onde estão os obstáculos que impedem ou têm impedido a sua construção?
Não são já evidentes os malefícios, verificados pela falta de resolução deste e de outros problemas na nossa terra?
Não recai grande responsabilidade 1noral sobre nós, ao ficarmos impassíveis perante parte da nossa juventude com sinais certos de falência e como prováveis a desgraça de tantos' lares a constituir?
DE PAS!VIAR. - apenas o fecto da nossa insensibilidade perante tudo a que estamos a assistir.
DE PASl\1AR - caros conterrâneos, o facto d e dois anos decorridos e apenas duas casas .. , meias feitas .. .
Não houve desde início espírito de equidade e justiça para a resolução deste problema em Loriga. Dotou-se o bairro com casas na grande maioria para casal e um filho. Quanto a mim o problema merecia estudo cuidado para de fa cto. se tornar efectivo e resolver um problema que verda.de;iramente conhange.
Como poderá o bairro com o tipo de casas' de que foi dotado vir satisfazer as necessidades d·e tantos lares que se orgulha1n de manter na grande maioria quatro a cinco filhos pelo menos?
Julgo ser altura de ponderarmos a resolução deste aspecto para que amanhã não possamos ter arrependimentos da indiferença de que estamos a da.r mostras
Unidos. estou certo que a construção do bair· ro se realizará com um tipo ele casas diferente tanto mais que Loriga, dadas as condições acidentadas do seu solo, não teni terrenos para es·' banjar. Para a frente pois, Loriguenses. a fim de obtermos para a n_ossa terra, esta obra de que. tanto carece.
Viriato lvfoura