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Maria de Fátima Claudino Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna 1 Só a memória enriquece e alimenta. Não há pedra que mais sangre nem asa que mais nos liberte. Talvez por isso os saberes da memória respiram um tempo e um espaço muito próprios. A morte que tudo transfigura pratica as artes supremas da imprevisibilidade. E, nesta impreveidência se compraz, irremediavelmente, a nossa humana condição. Manuel Lopes Prefácio, 1995 “O Barco Poveiro”, de Octávio Lixa Filgueiras

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Maria de Fátima Claudino Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna

1

Só a memória enriquece e alimenta.

Não há pedra que mais sangre nem asa que mais nos liberte.

Talvez por isso os saberes da memória respiram um tempo e um espaço muito

próprios.

A morte que tudo transfigura pratica as artes supremas da imprevisibilidade.

E, nesta impreveidência se compraz, irremediavelmente, a nossa humana condição.

Manuel Lopes

Prefácio, 1995

“O Barco Poveiro”, de Octávio Lixa Filgueiras

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INTRODUÇÃO

O forte de São Lourenço é um sítio arqueológico peculiar, visto ser a única

estrutura militar que se conhece em território português submersa em água e imersa

em areia. O forte foi erguido em plena Ria Formosa, rodeado de água, perto da Barra

Grande, num contexto defensivo da entrada da cidade de Faro. Os solos arenosos

onde o forte foi assente encontravam-se em constante movimentação para Levante,

numa dinâmica permanente, levando a uma deslocação da barra para longe da

fortificação. Os efeitos provocados pela sismicidade que ali se fizeram sentir, ajudaram

ainda mais a fragilizar a estrutura construtiva ao longo dos anos.

A dificuldade do estudo deste sítio provem do fato de os vestigios da estrutura

se encontrarem dispersos à superfície e os trabalhos arqueológicos serem muito

dificultados pelo fato de o acesso ao sítio ter de ser realizado em período de marés

vivas, que permitam trabalhar o sítio a seco. Em meio submerso os trabalhos são

dificultados pela forte corrrente existente. No entanto, estes trabalhos levados a efeito

no contexto da aqueologia em meio aquático, foram fundamentais para estudar este

tipo de sítio.

Pretende-se, pois, demonstrar a importância estratégica desta fortificação ao

longo da época moderna, integrado na planificação da defesa marítima da costa

algarvia e mais especificamente na defesa da Barra de Faro, num contexto construtivo

que representou o espírito da sua época. Pareceu-nos que este trabalho poderá ajudar

a melhor conhecer as estruturas militares levantadas no pós-Restauração, bem como a

evolução de um pensamento cujas opções de construção, podendo parecer estar

condenadas ao fracasso desde os primeiros anos, nunca foram totalmente

abandonadas, dada a importância estratégica para o qual a Forte foi planeado. Ele

poderá permitir, também, trazer novos dados sobre os equipamentos disponíveis no

Forte e a vida quotidiana da sua guarnição.

Não há praticamente estudos sobre o Forte de São Lourenço, salvo o

conhecimento do fundo particular de Carlos Pereira Callixto doado ao Arquivo

Histórico Militar, bem como os seus trabalhos editados nos Anais do Município de Faro

entre 1979 e 1986.

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Face à escassa informação disponível sobre o sítio, nomeadamente no que diz

respeito a desenhos e plantas, este trabalho obrigará a uma pesquisa pormenorizada

dos vestígios materiais existentes do Forte, relacionando-os e comparando-os com os

documentos cartográficos e iconográficos disponíveis da época, a fim de ser possível a

reconstituição histórica, o conhecimento sobre a sua construção e reconstruções

sucessivas, relacionadas com a condição geoeconómica, sísmica, quotidiano e

funcionalidade.

Assim, quanto à metodologia da investigação arqueológica, procurámos

alcançar os seguintes objectivos: relocalização do sítio arqueológico; definição das

áreas de incidência de materiais pertencentes ao Forte; interpretação topográfica /

batimétrica e geofísica rebocada; registo arqueográfico e posicionamento e recolha

eventual de espólio associado ao sítio. Pretendeu-se avaliar o potencial arqueológico

da zona, nomeadamente confirmar a existência de anomalias reveladas previamente

pelo side scan sonar.

Num trabalho de arqueologia histórica, será também muito importante

recolher toda a informação presente na documentação escrita sobre o Forte de São

Lourenço, investigando nomeadamente os pareceres dos Conselhos de Guerra

existentes no Arquivo Histórico Militar, bem como a informação contida nos relatórios

de inspecção às fortalezas da costa algarvia.

*

Dividimos este estudo em cinco capítulos. No primeiro, Enquadramento

geográfico, pretendemos analisar todo um contexto físico que se encontrava associado

à fortificação, iniciando com uma abordagem geral sobre o Algarve e particularmente a

região do Sotavento, mas centrando-nos essencialmente no sistema lagunar da Ria

Formosa. Esta caracterização terá em conta aspectos relacionados com o regime de

marés, os fundos e dinâmicas sedimentares, bem como a sismicidade histórica, visto

terem condicionado a história do Forte de São Lourenço. A relação entre a geografia

física e humana durante a Idade Moderna, a interacção histórica mar / terra e a

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exposição da costa do Algarve a diversas acções militares, no contexto turbulento da

Idade Modera, serão outros temas aflorados.

No segundo capítulo, Construção e evolução da estrutura fortificada, foram

abordadas todas as questões relacionadas com a caracterização da estrutura militar e

também as características e o material utilizado na sua construção.

Fundamentalmente assentes em documentação escrita e na iconografia disponível,

procuraremos traçar a evolução do Forte ao longo dos séculos posteriores à sua

ereção em 1653 e até ao seu abandono em 1821. Nesse sentido iremos expor os dados

históricos do Forte, a evolução da sua construção, referindo episódios que lhe estão

associados, reconstrução e as causas naturais que se reflectiram neste processo.

No terceiro capítulo, Caracterização do sítio arqueológico, foi feita uma análise

dos vestígios existentes no local, com vista à localização e caracterização do Forte. Foi

realizado em 2006 um primeiro levantamento da zona referenciada, mas sem

resultados conclusivos quanto à localização exata do Forte. Já no âmbito da realização

deste mestrado foi assumido como objetivo a continuação da caracterização dos

vestígios de superfície e, sobretudo, a delimitação das suas áreas de dispersão.

Efectuou-se um levantamento de todos os vestígios vísiveis em maré baixa através de

GPS. Procurou-se, igualmente, interpretar os dados obtidos anteriormente por sonar

de varrimento lateral, em comparação com a cartografia histórica.

No quarto capítulo, Os equipamentos militares e a guarnição fizemos uma

análise histórica sobre o quotidiano das guarnições que o Forte albergou. Apoiámo-nos

da leitura das Relações da Guarnição e Artilharia, existentes no Arquivo Histórico

Militar. Nesta documentação foi-nos dada informação sobre o número de efectivos, a

caracterização da guarnição e as patentes militares. Analiámos o uso da artilharia

utilizada no Forte e outros objectos relacionados com a a vida militar da fortificação,

nomeadamente no que dizia respeito à sua origem, número de peças, calibre e o

estado da sua conservação ao longo do tempo de vida do Forte. A documentação

proporcinou também dados relativos à assistência espiritual e à existência de uma

ermida.

No quinto capítulo, Utilidade estratégica e militar, foi definida e avaliada a

importância estratégica e militar do Forte de São Lourenço na defesa da Barra e Praça

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de Faro, no contexto lagunar da Ria Formosa. Importou avaliar sobre a funcionalidade

e utilidade do Forte no seu período de actividade. Foi analisado o seu desempenho

militar durante este período, se serviu para a inibição de combates, defesa e amparo

das embarcações.

*

O contacto direto com as evidências arqueológicas e manifestações de cultura

constitui sempre uma apropriação e valorização da uma herança cultural, propiciando

uma consciêncialização para o estudo da história, em particular num sítio que se

caracteriza apenas pela existência de evidências dispersas e visíveis em alturas de

baixa-mar. Fatores indispensáveis neste contexto, e que nos motivam particularmente,

são a leitura do mundo que rodeia o sítio arqueológico, a promoção do diálogo e a

dinamização de atitudes geradoras de posturas civicas em relação ao património.

Desta forma, este estudo visa também ser um ponto de partida para a

valorização deste património, a sua defesa, recuperação e divulgação. É, pois,

importante que, para lá deste trabalho, se continue a consciencializar a população

local para este valor histórico, desenvolvendo actividades que propiciem a

aproximação a um património que é colectivo, nomeadamente junto das escolas do

concelho, promovendo palestras e incentivando os professores a visitar o sitio onde se

encontram os vestigios do Forte, com o apoio da capitania do Porto de Olhão. Uma

acção que julgamos pertinente é a realização de uma exposição fotográfica, com base

em todos os materiais recolhidos no decurso deste estudo, iniciativa que contaria com

o apoio da Câmara Municipal de Olhão e da Bilbioteca Municipal, instituições

fundamentais no desenvolvimento deste trabalho.

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CAPITULO I

Enquadramento geográfico

A unidade territorial portuguesa ficou definida com a conquista do Algarve, em

1249, e com a assinatura do Tratado de Alcanices em 1297. O medo de Castela reduziu

a população na fronteira, a raia foi fortificada e intensificou-se o povoamento atlântico

para um destino marítimo. Mas a costa do Algarve, desde muito cedo, ficou exposta a

ações de força da mais variada espécie. Uma próspera e diversificada atividade

marítima, incluindo a recoleção, a pesca, o comércio de cabotagem e de longa

distância, além de uma agricultura e ganadaria proveitosa, haveriam de ser fatores de

grande cobiça desde muito cedo1.

Se relacionarmos o mar e a serra, a fachada marítima Algarvia voltada a poente

oferece-nos uma massa rochosa voltada aos difíceis ventos oceânicos, sendo de acesso

marítimo muito difícil. Meridionalmente, até à foz do Guadiana, encontramos duas

configurações distintas a definir a comunicação com o mar: até Albufeira, onde o

recorte do litoral é feito por arribas, o Barlavento, dos promontórios do Sudoeste,

dificultando o contacto com o mar; para nascente, um cordão de ilhas de natureza

aluvial que defendem a linha de costa e os portos do Sotavento, Faro, Olhão, Fuzeta e

Tavira, dando viabilidade a uma ativa e intensa economia marítima2. Em todo o caso, o

litoral algarvio proporciona inúmeros ancoradoiros, tanto no Sotavento como no

Barlavento.

Devido à ação de forças tectónicas que originaram e esculpiram diferenças

entre o Sotavento e o Barlavento Algarvio após a última glaciação, a subida do mar

1 Luís L. Guerreiro, “Depradações, combates e capturas na costa do Algarve”, in Dinâmica Defensiva da

Costa do Algarve. Do período islâmico ao século XVIII, Ed. Instituto de Cultura Ibero Atlântica, Portimão, dezembro de 2001, pp. 37-39 2 António Sérgio, Introdução geográfica-sociológica à História de Portugal, 2º edição, Livraria Sá da

Costa, Lisboa. 1974.

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levou à movimentação de grandes quantidades de areia, fornecidas pelas ribeiras e à

movimentação de grandes quantidades de areia, fornecidas pelas ribeiras e rios, que

acosta, formando-se assim o Sistema das Ilhas Barreira3, na área Leste do Algarve.

A laguna da Ria Formosa integra um ambiente de deposição de sedimentos que

separa o cordão arenoso do continente. No decorrer da fase máxima da última

glaciação, os cursos de água que chegavam à Ria eram torrenciais e facilmente

entravam nos vales, escavando e alargando os leitos, formando depressões que, mais

tarde, com a invasão marítima, foram apoderadas pelo mar. Diz-nos Estrabão, no

século I. d.C., que “na costa da Tordetânia (Algarve) há muitas aberturas, formando

esteiros de água salgada onde se situam no interior cidades, tais como Ossonoba”4.

Esta realidade explica-se pelo facto do volume do mar ser superior ao atual, facilitando

a penetração nos vales, que deveriam estar pouco assoreados.

Fig. 1 –Ria Formosa (in http://www.lnec.pt/organization/dha/nec/estudos_id/berna)

3 Filipe Ceia,

“Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na Óptica da Gestão”, in

Revista da Gestão Costeira Integrada, 9 (1): 57-77, 2009, p. 57. 4 Alberto Iria, O Algarve e os Descobrimentos, Vol 2, Tomo 1, Instituto da Alta Cultura, Lisboa, 1976, p.

236.

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O sistema lagunar da Ria Formosa localiza-se, pois, no Sotavento Algarvio e é

atualmente composto por duas penínsulas, Ancão e Cacela, que constituem os limites

ocidental e oriental do sistema. É formado por cinco ilhas-barreira de Oeste para Este:

Barreta, Culatra, Armona, Tavira e Cabanas. Dentro deste espaço, existe um vasto

corpo lagunar com sapais, canais de maré, ilhotas e barras de maré, que, ao migrarem

de posição, começam a assorear e através deste processo, as ilhas vão sendo

progressivamente destruídas e construídas.5

O sistema de ilhas-barreira é assim designado por possuir um grupo de ilhas

que define, entre estas e o continente emerso, um corpo lagunar; as ilhas constituem,

assim, uma barreira entre a laguna e o oceano. Caracteriza-o uma dinâmica

sedimentar muito intensa, com dois tipos de migração: uma longitudinal, com

acumulação de areias na extremidade de uma ilha e erosão da extremidade da

seguinte; outra transversal, empurrando todo o sistema em direção ao continente,

respondendo a pequenas variações do mar. Os sedimentos têm naturalmente

tendência para migrar de poente para nascente, até atingir uma posição limite,

provocando assoreamento; este movimento leva a que, no decurso de um temporal

maior, se abra uma barra a ocidente, iniciando-se, assim, novo ciclo6.

Analisando e comparando as representações cartográficas do sistema, a partir

do século XVI, podemos inferir que as ilhas foram variando de forma e de localização.

Num mapa quinhentista existente na Biblioteca do Escorial7 aparece a zona Oriental da

atual Ria Formosa, delimitada de Tavira a Faro por cinco ilhas principais. Já a

representação de 1590, mostra que as ilhas se prolongam e movimentam de Faro,

passando por Figueira Godar, Tavira, Cacela e Castro Marim. A representação é,

porém, claramente mais esquemática, evidenciando uma barra junto a Marim, outra

em Tavira e a mais oriental em Faro. João Teixeira figura novamente esta zona em

5 P. Bernardo & J.A.Dias, “História da Ocupação das Ilhas Barreira da Ilha Formosa”, in 4º Simpósio sobre

a Margem Ibérica Atlântica, Espanha, 7/10 de julho de 2003, p. 189. 6 J. A. Dias, Ó. Ferreira e D. Mou “O sistema de ilhas-barreira da Ria Formosa” in II Reunião Científica,

Rede Cyted-XVII – 3º Simpósio Interdisciplinar dobre Processos Estuarinos, UALG, 25-28 maio de 2004, p.1. 7 Fernando Castelo Branco, “Alguns aspetos da Evolução do Litoral Português”, in Boletim da Sociedade

Portuguesa de Geografia, 75, Lisboa, 1957, p. 195.

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1648, mostrando que o sistema lagunar se alterara, e, pelos pontilhados existentes no

desenho é-nos demonstrada a movimentação das ilhas, para Este. Acima de tudo a Ria

parece fechar-se paulatinamente, dificultando a entrada e saída de embarcações.

O mapa de 1772 compilado por Francisco Pereira de Sousa evidencia também o

prolongamento das ilhas para Oeste. São representadas as cinco ilhas barreira que se

estendem de Vale do Lobo até Cabanas e a posição das suas barras. Figuram-se as de

Farilhões, a Barra Nova junto a Faro, a Barra Grande a Sudoeste de Olhão, a Barra da

Fuzeta e a de Tavira. Junto a Olhão foi representado o Forte de São Lourenço, algo

afastado da Barra Grande.

Finalmente em 1811 já se apresenta uma composição próxima da atual. As ilhas

barreira estão então em ativa fase de migração e em direção ao continente.

Fig 2 - Costa do Algarve no Atlas da Península Ibérica (século XVI), existente na Biblioteca do Escorial (cf.

Fernando Castelo Branco, “Alguns aspetos da Evolução do Litoral Português”, in Boletim da Sociedade

Portuguesa de Geografia, 75, Lisboa, 1957, p. 195).

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Fig. 3 – Evolução geográfica do Sotavento do Algarve (cf. Fernando Castelo Branco, “Alguns aspetos da Evolução do Litoral Português”, in Boletim da Sociedade Portuguesa de Geografia, 75, Lisboa, 1957).

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Fig. 4 – Mapa datado de 1772, compilado por Francisco Pereira de Sousa

As barras que separam as ilhas são de caráter migratório e deslocam-se, ao

longo do tempo, de Oeste para Este, até atingirem uma posição limite, onde começam

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a assorear. Podemos provavelmente aduzir a conclusão de que as ilhas iam variando

de forma e localização.

As ilhas e penínsulas são atualmente separadas por seis canais de maré: Ancão

ou São Luís, Faro - Olhão, Armona ou Grande, Fuzeta, Tavira e Lacém ou Cacela. Estas

viabilizam trocas hídricas, sedimentares, químicas e de nutrientes entre o meio lagunar

e o oceano. Das barras aludidas, a de Faro-Olhão e a de Tavira são artificiais, estando

fixadas com molhes. Em termos gerais, o sistema tem cerca de 50Km de comprimento,

que se desenvolve entre as longitudes de 8º02´W e 7º31´W. A Ria estende-se pelos

concelhos de Loulé, Faro, Olhão, Tavira e Vila Real de Santo António, abrangendo uma

área de aproximadamente 18.400 hectares8.

Apresenta-se como uma lagoa expansiva, pois o seu volume de água aumenta

entre as maré baixa e a maré alta e a sua profundidade média situa-se entre os 3 a 5

metros. Esta grande variação é causada pela oscilação das marés mesotidais, as trocas

de água que se estabelecem com o mar em cada ciclo de maré, pela profundidade

média muito baixa da lagoa e pela existência de uma rede de canais que facilitam a

propagação de ondas que se movem de Sul para Norte através da barreira arenosa9.

O fundo da Ria é essencialmente constituído por um banco de areia

transportado pela deriva Oeste – Leste. Comunidades de plantas halófitas têm um

papel determinante na colmatação da laguna, pois ao empatarem a circulação da água

aliviam-na das matérias em suspensão, que se decantam e depositam no fundo,

elevando-o por vezes cerca de 10cm em apenas 1 ano10.

Esta região caracteriza-se também pela particularidade da sua planície costeira

ser recente, estreita e ladeada de calcários e relevos de xisto. A deposição destes

materiais reflete uma intensa atividade tectónica que é testemunhada por uma rede

de falhas ativas ainda mal conhecidas, por sismos e tsunamis intensos ao longo dos

anos.

8 Filipe Ceia,

“Vulnerabilidade das Ilhas-Barreira e Dinâmica da Ria Formosa na Óptica da Gestão”, in

Revista da Gestão Costeira Integrada, 9 (1): 57-77, 2009, p. 58. 9 Idem.

10 M. E. Figueirosa, “Margem Continenteal - Linhas de Costa”, in Atas da I Reunião do Quaternário

Ibérico, Grupo de Trabalho para o Estudo do Quaternário, Vol. 1, Lisboa, 1985, p. 373.

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O Algarve encontra-se numa região de moderada e elevada perigosidade

sísmica, dada proximidade de fronteira das placas Ibérica / Euro-asiática e Africana11. A

análise de dados mostra que Portugal, e muito em especial o Algarve, tiveram uma

atividade muito significativa. Dos quatro sectores de grande intensidade recenseados

em Portugal, dois situam-se na margem sul: Banco de Goringe, a SW do Cabo de S.

Vicente, onde se situam os epicentros dos sismos de 60 a.C., 382, 1356 e 175512, e as

falhas da região Loulé-Tavira, onde se situam os epicentros dos sismos de 1587, 1722 e

1856 . A maioria dos autores, fundamentados na distribuição dos danos, localiza a área

epicentral de alguns dos sismos históricos mais importantes que afetaram o território

de Portugal continental, no mar, a sudoeste do Cabo de São Vicente, na região do

Banco de Gorringe13.

Com dinâmica portuária ainda antes da romanização, o Sotavento Algarvio

conheceu intensa ocupação urbana costeira durante a partir do século I a. C.,

moldando-se progressivamente aos novos padrões civilizacionais e humanos do

império14.

Principal aglomerado urbano do Sotavento, em 1415, Tavira foi o porto de

partida da armada portuguesa para o Norte de África, iniciando um período de grande

prosperidade. Tornou-se escala de tráficos com o Magrebe, com a importação de cera,

mel, courama, pescado seco, tâmaras e gado em troca de mercadorias diversas,

nomeadamente para abastecimento às praças portuguesas conquistadas no Algarve de

Além. Foi elevada a cidade em 1520. A economia e a população estavam então em

crescimento, sendo o centro populacional mais destacado do Algarve. A sua principal

indústria era a armaria, o comércio marítimo era florescente e recebia privilégios como

forma de incentivo15.

11

Plano Regional de Ordenamento do Território - Apreciação do Risco Sismico no Algarve, Ministério do Ambiente, do Ordenamento do Território e do Desenvolvimento Regional, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, Vol II, anexo J– Caracterização e Diagnóstico, abril 2004, p. 7. 12

João M.C. Estevão, http://w3.ualg.pt/~jestevao/JEsismo_hist.html. 13

J.Alveirinho Dias,http://w3.ualg.pt/~jdias/GEOLAMB/GA5_Sismos/57_Portugal/572_SismicidPort.html 14

Maria da Graça Marques, O Algarve da Antiguidade aos nossos dias, Edições Colibri, Lisboa, 1999. 15

Ofir Chagas, Tavira, Memórias de uma Cidade, Edição O Autor, Tavira, Dezembro 2004, pp..43-78.

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O último quartel do século XVI em Tavira foi conturbado pela dominação

filipina e pelo surto de peste em 1580. O porto foi encerrado, a população diminuiu e

pragas de gafanhotos dizimaram culturas. Inimigos da monarquia hispânica

ameaçavam o porto, e um novo surto de peste em 1599 arrasou a cidade. Em 1622 o

assoreamento do rio e da barra acelerou a decadência da cidade.

A partir de meados do século XVI, com a decadência de Tavira, Faro foi

dominando todo o comércio marítimo do Sotavento algarvio, a zona da província que

mais contribuía nessa época para a exportação. Foi-se tornando assim o maior e mais

importante aglomerado urbano do Algarve16. A Ria Formosa dotava Faro de um

magnífico porto, que foi a causa determinante do seu desenvolvimento.

A Ria era, efetivamente uma zona de intensa atividade marítima. Frei João de

referia em 1577 que “Desta barra (Tavira) à de Farão (Faro) acima dela há quatro

léguas para a banda do poente e duma à outra corre um braço do mar por direito de

terra (…), Há continuamente pescadores neste rio e torna-se nele todo o género de

peixe e de marisco e tudo tão avantajado na bondade e sabor que facilmente se

conhece17.

A conjuntura de finais do século XVI, o domínio filipino e o pós Restauração,

foram caracterizados pelas investidas de piratas e corsários, o enfraquecimento da

presença portuguesa no Norte de África e o resgatar clandestino sucessivo dos galeões

das carreiras das Índias de Castela com metais preciosos, levando à consolidação do

sistema defensivo do Algarve18. Desde meados de quinhentos que as autoridades

algarvias manifestavam grande receio e representantes de interesses locais pediam

uma urgente proteção litoral. A relação dirigida ao rei, em 1631, por Rodrigo Rebelo

Falcão, provedor das almadravas, testemunhava a violência sistemática a que estavam

sujeitos os pescadores19.

16

Idem. 17

Frei João de S. José, Corografia do Reino do Algarve, Universidade do Algarve, Faro, [s/d] 1577. 18

António Borges Coelho, Questionar a História (ensaios sobre a História de Portugal), Editorial Caminho, Lisboa, 1983, pp. 77 e 220. 19

Valdemar Coutinho, Dinâmica defensiva da Costa do Algarve, do Período Islâmico ao século XVIII, Instituto de Cultura Ibero Atlântica, Ed. Inventário e Itinerários, Portimão, 2001, pp. 39 - 53.

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Em 1638 temia-se um ataque à região e a Faro por holandeses e franceses. A

cidade era tida como sendo a “mais rica, menos forte e com mais dezembarcações (…)

os lugares mais abertos que nelle há”. O confronto entre franceses e espanhóis viria

também a ameaçar o Algarve, em 1639. A correspondência trocada com o governador

do Algarve, denuncia a defesa precária das povoações: cercas e baluartes em ruínas,

pouca população para lutar, poucos recursos financeiros, armas e munições20.

A partir de 1640, com a Restauração da Independência, iniciou-se um esforço

para suster as tentativas de invasão dos exércitos de Filipe IV, até o tratado de Paz ser

definitivamente assinado, em 1668. O exército português foi, entretanto, amplamente

reorganizado e ocorreu também um muito importante processo de construção,

reconstrução ou readaptação de fortalezas e cercas urbanas21.

Ao longo dos anos, o assoreamento, a mobilidade das areias, o depósito de

aluviões, tornaram impraticáveis ou de difíceis entradas as barras de Tavira e de

Faro22. Outros povoados, foram então surgindo com os primitivos arraiais localizados

em locais próximos e estrategicamente posicionados face à respetiva armação de

pesca, onde os companheiros e seus agregados familiares se fixavam.

A convergência da intensa morfodinâmica da Ria, a pirataria, o corso,

associado a uma ineficiência do sistema defensivo, levaram a que, apesar do potencial

que a laguna constituía em termos de pescado, a ocupação das ilhas só se começasse a

processar mais ou menos permanentemente já tarde, com o fim dos ataques e o

intensificar das atividades piscatórias no fim do século XIX23.

Ao abrigo das ilhas que separam o mar da Ria, entre os esteiros e os sapais,

desenvolveu-se na segunda metade do século XVII, um povo de pescadores e

mareantes: os Olhanenses. Contudo, só a construção do Forte de São Lourenço, em

20

Carta dos Governadores do Algarve (1638-1636), Academia Portuguesa de História, 1978, p.52. 21

Natércia Magalhães, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas, Letras Várias, Edições e Arte, Faro, novembro de 2008. 22

Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, Lisboa, 1993. 23

J.A. Dias, P. Bernardo; “História da Ocupação das Ilhas Barreira da Ria Formosa” , in 4º Simpósio sobre a Margem Ibérica Atlântica, Vigo, Espanha, 7/10 de julho de 2003.

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1653 criou as condições de segurança para uma instalação populosa permanente nesta

localidade24.

24

Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa,Lisboa,1980, p.112.

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17

CAPÍTULO II

Construção e evolução da estrutura fortificada

“O pescador de Olhão bastava-se a si próprio. Oo espírito de independência reinava e desde a construção da

própria casa à improvisação das artes piscatórias e o aproveitamento dos meios materiais ao seu alcance,

constituíram uma forma de vida muito própria e notada no espírito da classe. As casas construiam-nas perto da

beira-mar, agrupadas om os meios que as rodeavam.. Nas dunas e barreiras das praias, colhiam o barrão, que com

estruturas de paus e canas da Índia, formaram as primeiras cabanas, que foram evoluindo para as paredes laterais

em alvenaria e finalmente foram substituídas por telhados com placas dee açoteias, sobre abóbodas de tijolos,

dando origem à primeira povoação no lugar de Olhão”.

Adérito Fernandes Vaz, “Olhão da Restauração no tempo e a 1ª Invasão Francesa em 1808, no contexto regional e

nacional”, Elos Clube de Olhão, 2º volume, 2009, p. 101.

Entre 1580 e 1640 a costa algarvia ficou particularmente vulnerável

militarmente e a partir da Restauração foram efetuados esforços para constituir um

sistema de vigilância da costa e a fortificação de variados locais, a fim de garantir o

apoio à navegação, a continuidade da atividade pesqueira e a luta contra a atividade

corsária25.

A cidade de Faro compreendia então as muralhas medievais que protegiam o

núcleo urbano. Para além disto existiam outras fortificações, algumas de carácter

provisório, edificadas em ilhas e construídas na sua maior parte com materiais frágeis

e de pouca consistência, de areia, faxina ou madeira e tendo como alojamentos

cabanas de junco e tabuado. Estas fortificações tinham pouco tempo de duração,

devido à ação do mar e à própria morfodinâmica da Ria26.

Neste contexto frágil de construção, propôs-se em 1653 a construção do Forte

de São Lourenço, para defesa da Barra de Faro. O engenheiro militar Pedro de Santa

25

Natércia Magalhães, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas, Letras Várias, Edições e Arte, Faro, 2008, p. 29. 26

Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, sep do Anais do Município de Faro, Nº VIII, Faro, 1979.

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18

Colomba, ao acompanhar o Governador e Capitão General do Algarve, em missão de

inspeção a todas as fortificações de Castro Marim a Sagres, sugeriu que o Forte fosse

construído na ponta de uma elevação de areia. A sua estrutura e alicerces deveriam

assentar em grade de madeira grossa, bem travada com pregaria, preenchida por

alvenaria miúda. Sobre ela deveria colocar-se lajes, a partir das quais arrancariam as

paredes27. O Forte deveria ter quatro baluartes, levantados em frente respetivamente,

exterior e que se estenderia de ponta a ponta do baluarte28.

O financiamento do Forte importou a contribuição de várias autoridades. Os

comerciantes de Faro ofereceram 2% dos impostos das fazendas que durante 6 anos

saíssem ou entrassem da Barra. A Câmara de Faro contribuiu com seis anos sobre as

sobras do cabeção das sisas e o próprio rei D. João IV decidiu autorizar uma despesa de

4.000 cruzados, tirados das sobras da alfândega da cidade ou, se esta contribuição

fosse insuficiente, de qualquer outra fonte de financiamento pertencente à Real

Fazenda.

A construção do Forte deve ter-se iniciado ainda em 1653, pois em abril do ano

seguinte se noticiava que a estrutura, assente em 2.000 traves de pinho grossas estaria

prestes a receber artilharia num dos quatro baluartes, pelo bom ritmo em que a

construção estava a ser levada a cabo previa-se que estaria concluído em dois anos29.

Mas em 1657 as obras ainda continuavam e, apesar de estar concluída a parte do

Forte voltado para a Barra, foi proposto que se fizessem de torrão os dois baluartes

27

ANTT, Conselho de Guerra, caixa 17, maço 14, Documento 181, consulta de 21 de Outubro de 1654. Parecer do Engenheiro Pedro de Santa Colomba datado de 20 de Fevereiro de 1653, transcrito em Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, in Anais do Município de Faro, Nº XI de 1981, pp. 217-218. 28

A planta que acompanhou o parecer de Pedro Santa Colomba não consta da Consulta em 3. Neste desenho, a legenda informa-nos que a posição do forte já distava da Barra um quarto de légua e de Faro, uma légua grande. Tem 3 peças de ferro calibre 18 e duas de bronze de calibre 6. A entrada, e do lado direito, um poço, e ao fundo, a ermida. Os quartéis posicionam-se do lado esquerdo à ermida com o paiol ao fundo. No exterior, a referência a ruínas e a um rochedo. 29

ANTT, Conselho de Guerra, Decretos, maço 14, decreto de 24 de Abril de 1654, compilado pelo General Cláudio Chaby na “Synopse dos Decretos Remetidos ao Extinto Conselho de Guerra”, volume 1º, p. 287. Documento transcrito por Carlos Pereira Calixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, in Anais do Município de Faro, Nº 11, 1982.

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19

voltados para terra, pois este flanco era igualmente importante defendê-la de

possíveis ataques30.

Contudo, cedo a estrutura demonstrou a sua fragilidade. Apenas oito anos após

o lançamento da primeira pedra, em 1661, o Forte “começou-se a arruinar”31. Foi

efetuado um esforço de reconstrução pela união das pedras com ferro, betume e mós

de moinho32. Parecia ser difícil a reparação com um dos baluartes muito destruído,

permitindo que as marés vivas alagassem o recinto até aos alojamentos. O estado do

Forte levou mesmo a que fossem retiradas as peças de artilharia. Assim, em pouco

tempo “ficaram as diligências baldadas e perdido o gasto pelo reparo se fez”33.

Não obstante a ruína em que o Forte se encontrava, a Coroa não desistiu da sua

posição e ordenou em 1661 a Pedro Santa Colomba uma deslocação ao local, a fim de

desenhar uma planta do terreno e da ruína, apontando o que seria necessário reparar

e conservar. Os custos deveriam ser poucos e a utilidade do Forte inquestionável para

defesa da barra e amparo aos pescadores e navios que fugiam dos corsários34. O rei

acabou por determinar a reedificação do Forte de São Lourenço neste mesmo ano35.

Contudo, em 1669, um dos baluartes do Forte estava destruído pelo mar36. Devido à

falta de condições do terreno, a Coroa decidiu a reedificação em local mais seguro37.

Em 1701, temos a informação que o Forte ainda se encontrava imperfeito38, pelo que

podemos concluir que as ordens da Coroa não foram cumpridas ou que neste período

de tempo o Forte teria sido reedificado e logo a seguir sofrido nova derrocada.

30

Synopse dos Decretos Remetidos ao Extinto Conselho de Guerra, pelo Major Cláudio Chaby, Volume 2º, Nº 29, p 20, Lisboa 1870, Carta do Conde de Val de Reis, Governador e Capitão General do Reino do Algarve, à Rainha Regente, 10 de Abril de 1657, anexa ao Decreto de 21 de Abril 1657. 31

Alberto Iria, Cartas dos Governadores do Algarve 1638-1663 p 411, documento 556, Carta do Governador do Reino do Algarve Martim Correa da Silva, 21 de Abril de 1661. 32

Idem. 33

Idem. 34

ANTT, Conselho de Guerra, Livro de Registo da Secretaria da Guerra, nº26 (etiqueta nº 24), folha 92, verso, 1661. 35

ANTT, Conselho de Guerra, º 25, 1661. 36

ANTT, Conselho de Guerra, caixa 28, maço 29, Consulta de 11 de abril de 1669. 37

ANTT, Resolução Real, caixa 28, maço 29 Consultas de 1669. 38

Geographia Histórica do Brasil, África, Ásia, Portugal, etc. Geographia do Reino de Portugal, fl 134, 1701.

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20

Devido à intensa dinâmica da Ria que conduzia a uma fragilidade do solo e dos

fundamentos dos alicerces da construção - as areias corriam de Poente a Levante, e

conjugando ainda a força das marés e do vento, o Forte ia derrocando sucessivamente

A reconstrução era sempre temporária até nova derrocada.

Em 1707, encontramos o Forte artilhado e guarnecido, conforme consta da lista

dos pontos fortificados do litoral português39. No seguimento de anteriores derrocadas

e reconstruções o forte ruíra por completo. Contudo a necessidade de defesa da Barra

levou à sua reedificação no governo do 10º Conde de Atouguia, D. Luis Peregrino de

Ataíde (1700-1758), sendo os fundamentos da nova estrutura erguidos sobre a

fortaleza arruinada. A documentação refere que foi erguida uma plataforma artilhada,

com o fim de servir de registo às embarcações que entravam e saiam da Barra40. A

subtileza da terminologia, opondo a nova “plataforma” à arruinada “fortaleza”, parece

indiciar um carácter menos militar ou mais precário da nova estrutura.

Com o terramoto de 1755, o Forte de São Lourenço sofreu grande derrocada,

tendo o mar arrasado por completo a construção 41. Porém, logo no ano seguinte a sua

reconstrução foi mais uma vez proposta e de novo concedida42. Em duas das visitas de

inspeção efetuadas nos anos seguintes aos pontos fortificados do litoral algarvio foi

representado o Forte de São Lourenço43. Atentando ao desenho do Sargento Romão

José do Rego, provavelmente de 1762, pensamos que este representa o estado do

forte após a referida reconstrução.

39

Veja-se a obra do Mestre de Campo António do Couto Castelo-Branco, Memórias Militares, Ed. Lit. António de Novaes Ferram, 1707. 40

ANNT, Conselho de Guerra, maço 20, consultas de 28 de setembro de 1753. 41

ANTT, Papéis do Ministério do Reino, Ofício do Governador e Capitão General do Reino do Algarve, D. Rodrigo António de Noronha e Menezes dirigido a Sebastião José de Carvalho e Melo, 9 de Fevereiro de 1756. 42

Arquivo Histórico Militar, DIV/1/06/28/46, ofício de José Vieira da Luz para D. Luís da Cunha Manuel, Secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, sobre a autorização para obras na Fortaleza de São Lourenço da Barra, Setembro de 1756. 43

BN, Reservados – Casa Forte, Tesouros do ANTT, Plantas do Ministério do Reino, doc Nº 2 e 6- Relatório de Lagos, 22 de Junho de 1754 – Visita de Inspecção a todos os pontos fortificados do litoral algarvio, publicado por Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro, A Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro”, in Anais do Município de Faro, Faro, 1978, Nº VIII, p.88.

Arquivo Histórico Militar, Romão José do Rego, Rellação da Artilharia, Palamentas, pólvora e ballas

que há nos Armazens da Cidade de Faro, Planta do Reduto de São Lourenço, 2ª metade do século XVIII.

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21

A fortificação apresentava a traça de um quadrado de 15 varas de

comprimento (16,50 m). Os alojamentos, alguns destruídos e outros em ruina,

situavam-se virados a Norte e a plataforma com as peças de artilharia a Este. Entre os

alojamentos e a plataforma, ao fundo da construção, encontra-se a ermida. É-nos

assinalado no desenho, do lado exterior à ermida, o sítio mais frágil do forte, onde se

iniciava nova derrocada. A toda a sua volta encontra-se registado o que nos parece ser

os reforços da estrutura, provavelmente posteriores ao terramoto e, finalmente, a Sul

representava-se a porta arruinada.

Fig. 5 – Romão José do Rego, Rellação da Artilharia, Palamentas, pólvora e ballas que há nos Armazens da Cidade de Faro, Planta do Reduto de São Lourenço, 2ª metade do século XVIII, Arquivo Histórico Militar

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22

No entanto, as obras de reparação do Forte sucederam-se, pois estão

documentadas em 177244. Em relatório de inspeção realizado em 1792 foi proposto

proceder a realização de trabalhos de consertos no Forte de São Lourenço, pois era

necessária a continuação da funcionalidade de fiscalização das embarcações que

entravam e saíam da Barra. Os trabalhos de reconstrução foram levados a efeito, pois

em relatório datado do ano seguinte é-nos indicado que o Forte já se encontrava

operacional e em bom estado de conservação, necessitando apenas de algumas

reparações nos seus telhados45. O Forte era então denominado como “pequena

bateria”46.

Baltazar de Azevedo Coutinho, capitão do Real Corpo de Engenheiros, deixa-

nos um desenho do Forte de São Lourenço, datado de 1798.

Fig. 6 - ANTT, “Fortificações do Algarve”, 1798, Baltazar de Azevedo Coutinho, Capitão do Real Corpo de Engenheiros.

44

ANTT, Registo da Secretaria da Guerra, Livro Nº 64, fl.20, de 6 de outubro de 1772. 45

Arquivo Histórico Militar, caixa 18, “Relatório do Tenente-Coronel do Real Corpo de Engenheiros, Alexandre José Montana – Visita de inspeção feita a todas as fortalezas da costa algarvia desde o Forte da Arrifana à Praça de Alcoutim, 1793”. 46

Arquivo Histórico Militar, DiV/4/1/04/22,“Projeto sobre as Fortificações do Reino do Algarve, 27 de agosto de 1796”.

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23

Anastácio Joaquim Roiz, nesse mesmo ano de 1798, fornece-nos uma

minuciosa descrição do Forte de São Lourenço47. O Forte era então um quadrilátero,

com o maior lado de comprimento de 10 toesas. As suas frentes viradas a Oeste e

Norte não tinham plataformas para a artilharia e eram mais elevadas que as outras

duas. Era na parede Norte que encostavam as casas para a guarnição e uma

dependência para o Governador repousar, o conjunto edificado tinha também um

armazém, e uma capela, ao fundo, entre os alojamentos e a bateria. Estas últimas

dependências seriam cobertas de telha. Tinha uma guarita no ângulo Nordeste e no

ponto mais alto, um paiol adossado aos quartéis.

Nesta descrição Anastácio Roiz não refere a existência de poço, ao contrário do

desenho de Baltazar Coutinho, que o figura no canto Sudeste à entrada do Forte. Esta

fazia-se pelo lado Sul. Os parapeitos da bateria eram a barlete, pelo que as peças

assentavam sobre ele, não existindo canhoneiras; eram construídos de alvenaria e

tinham 1 pé e meio de espessura (0,49cm). O resto das muralhas era de pedra e terra,

com ¾ a 4 pés de grossura (1,20m). Para Este e para o lado do mar, a Sul, existiam

duas baterias em plano mais baixo, também à barla. São assinaladas ruínas a toda a

volta da fortificação, em especial do lado Sul.

Comparando a descrição de Baltazar Coutinho de 1798 com a mencionada

representação do Forte de Romão José do Rego, datada de 1762, observamos algumas

diferenças. No desenho de 1762 não encontramos referência à existência do poço, do

paiol ou de artilharia montada. Também não há referência a ruínas, mas sim “ao sítio

por onde mais propícia arruinar a Fortaleza”. A maior diferença é, porém, que no

desenho de Baltazar Coutinho se nota um alargamentos da estrutura fortificada em

dois flancos – no lado da bateria e no lado da entrada do Forte, pelo que podemos

deduzir que este alargamento serviria para reforçar a estrutura defensiva.

Em 1821, o Forte de São Lourenço era um reduto de alvenaria em ruinas,

cercado por um fosso e assente numa coroa de areia. Via-se a porta por onde se

entrava no Forte, os alojamentos da guarnição caídos, e a ermida arruinada. Por uma 47

Arquivo Histórico Militar, caixa 4, nº 6, Anastácio Joaquim Roiz, Rapport sur le Fort Appelé São Lourenço de Olhão, 22 de março de 1798.

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24

escada de pedra de 2 palmos de largo (4,44m), subia-se à bateria , levantada por 2

braças sobre o nível do mar, com plataformas de lajedo, em melhor estado que tudo o

resto, e tinha 24 passos de comprimento e 11 de largo (17,76m de comprimento e

6,06m de largura). Num dos ângulos, do lado da gola é de abóboda. O mar entrava na

construção, correndo o risco de ruir se não fosse reparada48.

Outra documentação coeva descreve o Forte. “Estava de tal modo arruinada

que não se podia observar, nem conhecer a sua configuração a não ser em baixa-mar”.

O alicerce da muralha, estava com a estacaria descoberta e parte da sapata caída a

Oeste. Ainda se podia observar a bateria rasante e superior, para Leste. A bateria

superior, deixava ver a sua configuração. Tinha ruína no alicerce da parede que ficava

para a bateria rasante49. Nos anos subsequentes50, revela-se a progressiva e

irreversível ruina do Forte de São Lourenço ao longo do século XIX.

*

No contexto das Guerras da Restauração, toda a costa portuguesa foi reforçada

militarmente. Foi, pois, quando o sistema medieval das torres de vigia deixou de

corresponder às necessidades tácticas da guerra anfíbia, praticada pela pirataria turca,

que se iniciou a construção de fortalezas modernas, a partir de meados do século

XVII51.

Após a Restauração, a principal preocupação foi assegurar a defesa do Reino

contra as investidas espanholas e, para isso, em 11 de dezembro de 1640 foi instituído

48

Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, “Memória Resumida do Reconhecimento Militar feito à Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendiadas desde a Foz do Rio de Odeceixe até à Foz do Guadiana, 1821”. 49

Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar – 3231, 1821. 50

Arquivo Histórico Militar, Decretos, “Reconhecimento de Todos os Pontos Fortificados desde o Forte de Arrifana no Oceano Atlântico, à Praça de Alcoutim no Rio Guadiana, Comissão de Reconhecimento de Oficiais do Real Corpo de Engenharia, 1825”. Arquivo Histórico Militar, 3D9SCIN49,“Mapa Geral das Fortificações Existentes na 8ª Divisão Militar, 1840”. 51

Rafael Moreira, “A arquitetura militar do Renascimento em Portugal”, in Atas do Congresso Centenário de João de Romão. Introdução da Arte da Renascença na Península Ibérica, Coimbra, 1980.

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25

o Conselho de Guerra com a finalidade de coordenar a defesa do Reino52. A defesa

marítima foi assegurada por meio de fortificações de caracter precário e de efémera

existência pelos materiais nelas utilizadas e devido às sua fundações em areia, sendo

disto exemplo as Baterias de Farrobilhas, Ancão, Barreta, Barra Nova, Olhão, Bateria

de São José da Armona, Lama, e Ponta de Mós todas localizadas no mesmo contexto

geográfico do Forte de São Lourenço, a Ria Formosa 53. Todas estas estruturas

obedeciam aos protótipos das pequenas fortificações marítimas, típicas da estratégia

seiscentista da defesa da costa54.

A chave da estratégia desta época foi pois a construção de pequenos fortes.

Ciclicamente, perante o ressurgir de ameaças à segurança do Reino, o terramoto de

1755, no envolvimento de Portugal na Guerra dos Sete Anos (1762-63), bem como em

iniciativas preventivas no pós Revolução Francesa (1793), foram lançadas programas

de reconstrução destas fortificações, nas quais o Forte de São Lourenço também foi

envolvido55.

Assim, as plantas de que dispomos do Forte de São Lourenço, mostram-nos os

seus espaços distintos. Ao nível da organização, o Forte segue as características que

identificam as pequenas fortificações costeiras erguidas durante a Restauração56. A

traça é simples, e as dimensões reduzidas. A bateria retangular, cuja plataforma

serviria para a artilharia, tinha na sua retaguarda, adossado, um edifício destinado aos

alojamentos, igualmente de planta retangular, subdivididos em quatro

compartimentos. Ao fundo, a capela, entre os quartéis e a bateria. O paiol, localizava-

se junto aos alojamentos.

A organização funcional e o traçado destas estruturas modernas eram, pois,

comuns em muitos aspectos: adoptaram a solução das baterias voltadas a barlete,

usando-as na defesa da costa, por deste modo se dar menos tempo à direção das

52

Carlos Callixto, “As Fortificações Marítimas no tempo da Restauração”, in História das Fortificações Portuguesa no Mundo, dir de Rafael Moreira, Edições Alfa, 1989. 53

Idem. 54

Mário Barroca, As Fortificações do Litoral Portuense, Edições Inapa, s/d, p 103. 55

Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barroso; Margarida de Magalhães Ramalho, As Fortificações Marítimas da Costa de Cascais, Quetzal Editores, dezembro 2001, p 21. 56

Idem, p. 108.

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26

bocas-de-fogo e em todos os sentidos contra um alvo, como uma embarcação,

permitindo assim uma mais eficaz movimentação das bocas-de-fogo57. Os alojamentos

(separados por um corredor central), ocupavam uma área sensivelmente igual à da

bateria. Os compartimentos eram destinados a servir de quartel, registando-se

normalmente um espaço destinado a cozinha, um a armazém, outro a paiol da

pólvora, a casa da palamenta, além de guaritas e poço ou cisterna58.

De notar que embora nas descrições destas fortificações seja referida a

existência de uma cozinha, o fato é que não há qualquer referência a um

compartimento específico para estes fins no Forte de São Lourenço. Contudo, no

aparece-nos a referência sobre a existência de um tacho para cozinhar, a mesa e as

cadeiras da guarnição59, pelo que a guarnição confeccionava certamente as suas

refeições no local. Ao todo, este tipo de fortes podia ocupar uma área de 200m2,

como se verifica em alguns exemplares da costa de Cascais, para as quais existe estudo

sitstemático60.

Enfim, desde o ano da sua construção, até ao abandono da guarnição, em 1821,

o Forte de São Lourenço sofreu diversas derrocadas e intervenções de reconstrução,

ainda que efémeras. A sua história acompanhou vários contextos políticos e militares

do Portugal moderno, num total de 168 anos de presença num local de difícil

conservação, mas sempre presente no quotidiano da população.

57

Idem, p. 115. 58

Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barroso; Margarida de Magalhães Ramalho, As Fortificações Marítimas da Costa de Cascais, Quetzal Editores, dezembro 2001, pp. 96, 101, 107-8, 122, 139, 140-143, 148, 183, 201-208. 59

Arquivo Histórico Militar, DIV/4/1/04/05, “Extrato dos Petrechos, Palamentas, Muniçoens que existem na Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, em 8 de fevereiro de 1795”, de José Lopes de Souza. 60

Joaquim Boiça; Maria de Fátima Barroso; Margarida de Magalhães Ramalho, As Fortificações Marítimas da Costa de Cascais, Quetzal Editores, dezembro 2001, p. 87.

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27

CAPÍTULO III

Caracterização do sítio arqueológico

Os vestígios do Forte de São Lourenço não foram objeto de qualquer

investigação de terreno até 2006. Perduraram, porém, na memória local, até ao

presente, nomeadamente entre as comunidades marítimas de pescadores e

mariscadores da Ria, habituados a fazer as suas presas nas ruínas do Forte. Os três

canhões de ferro que se encontram in situ, são local constante apanha de polvos pelos

pescadores. A população local quando se desloca para uma certa zona da Ria, utiliza

vulgarmente a expressão, “vamos à pesca no Forte”, ou “vou buscar búzios ao Forte”.

Em 2006, uma equipa da Universidade Autónoma de Lisboa e da Universidade

de Connecticut realizou um primeiro levantamento da zona referenciada, mas sem

resultados conclusivos quanto à localização exata do Forte. Foi, contudo, possível

delimitar uma zona de potencial arqueológico, contituida por vestigios dispersos de

elementos em pedra, um conglomerado construtivo circular de 3,5m de diâmetro e

65cm de espessura e três bocas-de-fogo de ferro muito concrecionadas.

Apesar da sondagem arqueológica realizada no decurso daqueles trabalhos de

levantamento não ter permitido identificar com segurança a estrutura primitiva,

permitiu recolher espólio arqueológico do período moderno e contemporânio,

nomeadamente fragmentos de cerâmica, objetos em metal e material de construção.

Numa análise mais pormenorizada, verificou-se que os artefactos recolhidos, cuja

função seria doméstica, eram exógenos à zona sondada e que o depósito seria

resultante dos efeitos das marés61.

Em 2007, a Universidade Autónoma de Lisboa e a Universidade de Aveiro

realizaram nesta área trabalhos de prospeção geofísica através de sonar de varrimento

61

Proc. Instituto de Gestão do Património Arquitectónico e Arqueológico, CNANS 2006/024.

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lateral, com vista a localizar a área onde se referenciavam os vestígios do Forte de São

Lourenço. Em março de 2011, e já no âmbito deste mestrado, esses resultados foram

objeto de tratamento e de avaliação. Assumimos, dentro dos limites logísticos

possíveis, que o trabalho de sonar por varrimento lateral foi realizado na extensão da

Ria onde se localizavam os vestígios superficiais do Forte de São Lourenço em 2006,

tendo sido gerados diversos arquivos de imagens digitalizadas.

Fig 7- Olhão e o sítio arqueológico na CMP 611 (1980)

Recentemente foram realizados trabalhos na mesma área sob a direcção de

Mário Ferreira e da signatária. Foi assumido como objetivo a continuação da

caracterização dos vestígios de superfície e, sobretudo, a delimitação das suas áreas de

dispersão. Efectuou-se um levantamento de todos os vestígios vísiveis em maré baixa

através de GPS. O acesso ao sítio tem de ser efetuado em períodos de marés vivas, que

permitem trabalhar no sítio a seco, caso contrário o trabalho em meio submerso é

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mais dificil, uma vez que o sítio se encontra em local de muita corrente, sobetudo na

vazante. A metodologia de trabalho definida assentou pois no registo georeferenciado

e caracterização sumária dos vestígios de superfície. No caso das bocas de fogo, muito

concressionadas, optou-se por um registo gráfico e por uma caracterização crono-

tipológica seguindo o que foi estabelecida por Francisco Alves para o sitio de Faro B62.

Fig. 8 - Geoposicionamento dos achados arqueológicos (vestígios de superfície)

A área objeto de trabalho de terreno situa-se em plena Ria Formosa, em sítio

submerso e parcialmente a seco aquando das marés vivas, nas coordenadas WGS84,

Latitude 37.00813N, Longitude -7.81963W. Fundamentalmente, a superfície da área

de intervenção é constituída por uma dispersão de materiais de construção de

62

Francisco Alves, “Ponta do Altar B, Arqueologia de um naufrágio no Algarve nos alvores do século XVII, in O Arqueólogo Português, Série IV, Volume 8 / 10, Lisboa, 1990-1992.

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pequenas e grande dimensão, alguns blocos em alvenaria, que se crê fazerem parte

dos muros do Forte, registando-se grande dispersão destes vestígios por uma área de

289m2, orientado NE-SW.

Registaram-se 32 blocos aparelhados, com uma significativa concentração a

Nordeste do conglomerado circular; estes blocos mediam entre os 40 e os 80 cm de

comprimento, entre os 50 e 60 cm de largura e os 15 e 30cm cm de espessura (Fig. 15,

16, 17, e 18). Encontrando-se bastante concressionados, devem ter pertencido a

alvenaria de pedra e silharia, idêntica à de grande parte das construções desta época,

como é o caso do Forte da Conceição, em Tavira, o Forte da Meia Praia, em Lagos, o

Forte da Ponta da Bandeira, também nesta cidade, o Forte do Burgau, em Vila do

Bispo, o Forte de Santa Catarina, em Portimão, ou ainda o Forte do Rato, em Tavira,

todos erigidos no século XVII63.

Os edificios destinados a usos militares e de defesa, eram construções

resistentes com argamassas duráveis. As paredes dos edificios variavam com a época,

a região e tipo de edificio, mas com caracteristicas comuns, em função da resistência,

da proteção em relação aos agentes climáticos e às ações externas. Em geral os

materiais eram porosos e a capacidade de resistência e de proteção era assegurada

através da sua espessura64.

A Nordeste do conglomerado circular, já perto do limite oriental da área,

registaram-se dois fragmentos de muro aparelhados, com blocos envolvidos por

argamassa do tipo arenoso, de cor esbranquiçada . Os blocos nº 34 e nº 64 encontram-

se alinhados, podendo corresponder a um dos lados do Forte, dada a sua dimensão e

constituição, sendo um dos lados visivelmente alisado. O maior deles media 2,40m de

comprimento, 1,20m de largura e 60cm de espessura. (Fig. 19 e 20)

Verificou-se também uma maior dispersão de blocos de pedras de tamanho

muito variado, entre os 30 e 40 cm cm de comprimento e os 20 e 30 cm de largura,

63

http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-9300-11ff2619a4d2. 64

Maria do Rosário Veiga, “Alvenarias de Edificios Históricos: intervenções sustentáveis com materiais compativeis”, in VI Encontro Nacional de Estudos de Engenharia Civil, LNEC, abril de 2010.

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com vestígios de argamassa, também a Este do conglomerado construtivo. (Fig. 21 e

22). Outros blocos dispersos, não aparelhados, foram registados a Norte e Nordeste

do conglomerado; estes podem corrresponder ao enchimento das cortins do forte, ao

ao contrário dos aparelhados, que deviam formar os paramentos (Fig. 23).

Fig. 9- Posicionamento das bocas-de-fogo

As bocas-de-fogo encontram-se localizadas a Nordeste do conglomerado

circular, junto ao referido local onde se detectou maior quantidade de blocos

aparelhados. Todas elas foram fabricadas em ferro, têm entre 3,10m e 3,15m de

comprimento, entre 0,35cm e 0,40cm de largura e 0,20cm a 0,23cm de diâmetro de

boca. Estas peças estão certamente relacionadas com o armamento do Forte, podendo

interpretar-se como esperas, muito comuns nos finais do século XVIII65. Com efeito, no

registo arqueológico é muito normal encontrarem-se peças de artilharia nas

65

Agradecemos esta informação a João Pedro Cardoso.

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32

imediações de fortalezas66. Geralmente tratam-se de peças abandonadas, obsoletas do

ponto de vista militar, já sem utilidade (Fig. 24 e 25).

A dispersão dos materiais e ausência de alguma coerência construtiva deve-se

ao continuado desgaste pela ação das marés, que tem vindo a afastar de forma muito

desordenada as pedras de menores dimensões para longe da sua implantação original.

Acrescente-se a utilização destas pedras pela população local para a delimitação dos

viveiros de bivalves e também o reaproveitamento destas pedras para a construção de

habitações. Claro que se deve ter em conta que a estrutura foi continuadamente

erguida e reconstruída sobre areia, em certas ocasiões sobre estrutura de madeira, o

que impediu também uma melhor conservação. Em todo o caso, os dados

arqueológicos apontam para uma concentração de vestígios estruturais a Este-

Nordeste do conglomerado circular referido, local onde também repousam as peças de

artilharia. Este facto pode sugerir-nos uma eventual localização do cerne do Forte.

Encontraram-se, ainda, alguns fragmentos de cerâmica descontextualizados,

provenientes por arrastamento sendo atribuíveis a período cronológico recente. Em

ambientes de grandes movimentações de areias resultantes do assoreamento da ria

Formosa, o espólio recolhido não foi por isso revelador.

Outros materiais estão referenciados como sendo provenientes do Forte de São

Lourenço, embora essas informações careçam de confirmação segura. Por um lado,

registou-se uma boca-de-fogo em ferro no Museu Municipal de Olhão. Esta peça

encontra-se na reserva do Museu desde os anos 80 e foi entregue por pescadores que

na altura disseram pertencer aquele forte. (Fig. 26 e 27).

Por outro lado, Carlos Pereira Callixto informa-nos que em 1986 foi detectado

um pedaço de azulejo perto do sítio onde, estamos em crer, se encontrarem os

vestígios do Forte de São Lourenço. Fernando Cartucho, um pescador local, terá

66

http://www.igespar.pt/media/uploads/cnans/16/16.pdf

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33

encontrado este material no local, mostrando-o depois ao investigador José Meco, que

o datou do século XVII67. Não foi possível confirmar a sua existência no Museu de Faro.

Não havendo especificidade quanto ao azulejo, pensamos que este poderá ter

pertencido à ermida, eventualmente revestida, pelo menos parcialmente, com este

tipo de material. Assim se verifica, por exemplo, no Forte de São Filipe, em Setúbal,

erigido em finais do século XVI, no Forte da Ponta da Bandeira de Lagos, datado do

século XVII, e no Forte da Insua, em Caminha68. Ao longo do século XVII foram

produzidos azulejos com composições de diferentes padrões, lembrando tapeçarias

suspensas, um efeito decorativo que resultava da repetição regular de padrõe69,

pricipalmente utilizado nos revestimentos de igrejas e capelas; incluíam composições

figurativas autónomas de pequenas dimensões, representando séries de santos e

episódios de narrativas religiosas. Estes registos representavam de um modo geral

cenas do Antigo e Novo Testamento e imagens de santos colocados sequencialmente

nas paredes. Podiam ainda figurar apenas símbolos da Eucaristia, sendo aplicados

então isolados em lugares especialemente simbólicos do espaço.

Existe também uma pedra de armas no Museu Paroquial de Moncarapacho, em

Olhão, que segundo a conservadora do Museu pertenceu ao Forte de São Lourenço70.

A pedra, de calcário, apresenta o escudo real português, as cinco quinas, rodeada por

sete castelos. Peça simples, é característica da época de construção do Forte,

detetando-se idênticas em parte das fortalezas erguidas na época após a Restauração

(Fig. 28).

*

67

Informação obtida na consulta efetuada ao fundo documental de Carlos Callixto, existente no Arquivo Histórico Militar. 68

http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3607e http://www.monumentos.pt/Site/APP_PagesUser/SIPASearch.aspx?id=0c69a68c-2a18-4788-9300-11ff2619a4d2. 69

J.M. dos Santos Simões, e Emílio Guerra de Oliveira, Azulejaria em Portugal no século XVII, Tomo I, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1971, pp. 11-13. 70

Esta pedra de armas foi adquirida pelo padre Isidoro Domingos da Silva a um particular. Encontrava-se exposta à porta de uma taberna em Moncarapacho.

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34

Os dados obtidos por sonar permitiram registar uma anomalia na mesma área

onde realizámos os trabalhos arqueológicos atrás descritos e cujos vestígios

pensávamos poderem corresponder ao Forte de São Lourenço, nomeadamente a

referida concentração de elementos pétreos. Identificaram-se “alterações” no leito da

Ria, mostrando-nos diversas feições salientes no fundo, de coloração escura nos

registos. As áreas mais claras, diziam espeito a sombras e substratos incosolidados,

como lamas.

Fig. 10 – Levantamento de sonar

A informação obtida pelos dados de sonar foi cruzada com o

geoposicionamento dos vestígios de superficie e com a cartografia antiga. Utilizou-se a

cartografia de 1875, levantada sob a direção de Filipe Folque, com vista a relacionar os

dados antigos que localizam o Forte, com os vestígios revelados pelos trabalhos

arqueológicos. A Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos apresenta um trabalho com

bastante rigor, tendo sido possível sobrepô-la aos mapas atuais. Nele se indicavam

“Pedras do antigo Forte São Lourenço”, que nesta data estava já sem guarnição,

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desmantelado e em ruínas, como referimos no capítulo anterior. Aparentemente

aqueles vestígios estavam então localizados sobre uma pequena ilhota, num dos

pontos mais altos do solo arenoso da Ria, perto da barra da Armona.

Fig. 11 - Plano hydrographico das barras e portos de Faro e Olhão [Material cartográfico] / levantado por B. M. F. de Andrade, A. J. Pery e G. A. Pery ; sob a direção de F. Folque. - Escala 1:20000. - [Lisboa] : Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos, 1875, com indicação da área provável de

localização do Forte de São Lourenço.

Esta ilhota foi confrontada com a cartografia militar de finais do século XX, bem

como com a fotografia aérea atual. A sobreposição revelou que a ilhota do mapa

oitocentista era ainda representada há três décadas, revelando uma assinalável

manutenção da orografia da Ria neste ponto, talvez em torno dos vestígios pétreos

enterrados do Forte. Note-se, no entanto, que na cartografia militar apenas subsiste já

uma porção da ilhota, devido a mudanças na configuração da Ria.

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Fig. 12 - Carta Militar de Portugal, 1:25, 0000, nº 611 , Faro, Instituto Geográfico do Exército, 1980, assinalando-se a localização do Forte de São Lourenço representada na cartografia de 1875.

Fig. 13 – Ortofotografia assinalando-se a localização do Forte de São Lourenço representada na cartografia de 1875.

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FIg. 14 - Posicionamento sobre ortofotografia.

Enfim, verificou-se ma coincidência apreciável entre a área onde realizámos a

referida prospeção, detectando-se os referidos elementos pétreos e peças de

artilharia, a anomalia detetada no levantamento de sonar e a cartografia de 1875,

onde os vestígios do forte ainda eram visíveis, embora arruinados. A cartografia e

fotografia atual ainda assinalam aqui uma área mais elevada, coincidente com a antiga

ilhota. Assim, ficam claramente relacionados os vestígios arqueológicos identificados

com e o antigo Forte de São Lourenço.

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Fig. 15 – Conglomerado construtivo circular

Fig. 16 – Concentração de blocos aparelhados a Nordeste do conglomerado

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Fig. 17 - Bloco aparelhado junto ao conglomerado circular

Fig. 18 - Blocos aparelhados e dispersos junto ao conglomerado

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Fig. 19 – Fragmento de muro com restos de argamassa (nº34 da planta)

Fig. 20 - Frgamento de muro junto ao conglomerado, com restos de argamassa (nº 64 da planta)

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Fig. 21 – Medição entre dois vestigios de muro (nº 34 e nº 64 da planta)

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Fig. 22 – Fragmento de muro com restos de argamassa

Fig. 23 - Blocos de pedra não aparelhados

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Fig. 24- Boca- de- fogo C1 (nº31 da planta)

Fig. 25- Bocas- de- fogo C2 e C3 (nº32 da planta)

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Fig. 26 – Boca-de-fogo do Museu Municipal de Olhão

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Fig. 27 – Boca- de-fogo no Museu Municipal de Olhão

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Fig. 28- Pedra de Armas no Museu Municipal de Moncarapacho

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Capitulo IV

Os equipamentos militares e a guarnição

A documentação coeva dá-nos alguns dados relativamente a diversos aspetos

da vida do Forte de São Lourenço, úteis para a compreensão da sua funcionalidade e

evolução. Um desses elementos tem que ver com os equipamentos militares.

O nascimento oficial da artilharia em Portugal data do século XIV. Por carta

régia de 29 de janeiro de 1515, D. Manuel I criou em Lisboa os bombardeiros da

nomina, em número de cem, considerados o primeiro esboço de organização da

artilharia em Portugal. Em 1641 esse número seria aumentado para trezentos. Mas só

no reinado de D. Pedro II, em 1701, foi feita oficialmente a militarização dos

artilheiros71. Nessa época, os requisitos para ser um bom artilheiro eram: “para saber

bem do seu offício hade ser bom christão, são de pés e de mãos, de boa vista e bom

juízo. Alem do seu ofício deve entender os seguintes: que meça, compare e pese,

entender do offício de polvorista, e carpinteiros, ferreiro, etc”72.

A partir de 1744, com a obra Exame de Artilheiros de Fernandes Alpoim e por

influência dos estrangeiros que se encontravam ao serviço do Exército Português, os

calibres por que eram designadas as bocas-de.fogo passaram a ter relação direta com

o peso da bala de ferro em arráteis ou libras. A normalização dos calibres nos moldes

atuais só viria a ser regulamentada a partir de 1865, já com as peças estriadas73.

A artilharia era, pois, a arma de combate fundamental à época de construção

do forte. Um ano após o início da construção do Forte, em 1654, existiam quatro peças

71

João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas, Lda., abril de 2009, p. 25. 72

“Tratado de Artilharia de La isla”, cit. Por João Manuel Cordeiro, Apontamentos para a História da Artilharia Portuguesa, s. 1., Typographia do Commando Geral da Artilharia, 1895, p. 186. 73

João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas, Lda., abril de 2009, p. 43.

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de artilharia no recinto74. Trata-se, contudo, de um dado único para o primeiro século

de existência do Forte, só se voltando a ter informação, então mais detalhada, a partir

de meados do século XVIII. Em 1753 as bocas-de-fogo eram apenas três75. A partir do

ano seguinte verificamos um aumento do número de peças para seis, mantendo-se

esse quadro até 1764. O reforço defensivo estará relacionado com a Guerra dos Sete

Anos (1756-1763).

Fig. 29 - Número de peças

Por essa altura o Marquês de Pombal chamara a Lisboa o Conde de Lippe, a fim

de reformar o exército português, que se encontrava desorganizado, miserável, sem

fardamento e sem dinheiro. Lippe mandou restaurar e artilhar da maior parte das

fortalezas portuguesas76, de tal forma que muitas das bocas-de-fogo produzidas na sua

época ainda foram utilizadas durante a Guerra Peninsular, mais de meio século depois;

depois de 1763, chegou-se a fundir uma peça por dia em Portugal, tal era a capacidade

74

ANTT, Conselho de Guerra, consulta de 21 de outubro de 1654. 75

ANTT, Conselho de Guerra, maço 20, consulta de 28 de setembro de 1753. 76

Margarida de Magalhães Ramalho, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, 2010, pp. 20-23.

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e empenho neste domínio77. Este facto parece ter tido consequência na fortificação

marítima ao largo de Olhão, dado o referido aumento do dispositivo militar.

No ano de 1765 o arsenal voltou a reduzir-se para cinco peças, mas foi

rapidamente colmatado com um reforço de três peças de ferro provenientes do Forte

da Armona, que por esta altura já se encontrava arruinado78. Entre 1768 e 1786 o

número de peças manteve-se estabilizado em cinco unidades. Em 1793 verificamos um

reforço do número de peças, aumentando-se para sete unidades, facto que se poderá

relacionar com uma conjuntura política de conflitos armados, nomeadamente as

guerras revolucionárias francesas, que levaram a um confronto entre a França e a Grâ-

Bretanha, incluindo também os Países Baixos, a Espanha e Portugal, ficando os navios

portugueses sujeitos ao corso dos navios franceses.

O acréscimo de peças de artilharia foi, porém, fugaz, já que logo a partir de

179379, e até o período 1802-180580, o Forte manteve o seu número médio de cinco a

seis peças. Atingiu o seu número máximo nos anos das Guerras Peninsulares, entre

1805 e 1806, quando foram contabilizados oito bocas-de-fogo. As derradeiras

informações reportam-se ao período posterior à Revolução Liberal de 1820, quando

existiam no Forte de São Lourenço três peças.

Assim, verificamos que houve um aumento do número de peças, por altura,

respetivamente, da Guerra dos Sete Anos, e das Invasões Francesas. As estruturas e as

peças de artilharia eram alvo de maior ou menor cuidado de manutenção ao sabor da

oscilante sucessão dos períodos de guerra e paz81.

Quanto ao material das peças de artilharia de fogo registam-se bocas-de-fogo

em ferro e em bronze. O predomínio foi quase sempre das peças em ferro, sendo que

77

João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas, Lda., abril de 2009, p. 43. 78

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87NS, Romão José do Rego, “Visita de Inspeção a todas as Fortificações desde o Cabo de S. Vicente à Bateria da Fuzeta, 18 de julho, 1765”. 79

Arquivo Histórico Militar, Mapa da Guarnição e Artilharia, 1763. 80

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N54, José Garcia, “Mapa da Guarnição referente aos meses de junho e dezembro”, 1805 e idem. 81

Margarida de Magalhães Ramalho, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, 2010, p. 183

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entre os anos 1786 e 1793 não temos registo quanto à informação sobre o material

das peças existentes no Forte. Registamos que apenas nos anos de 176582, 176683 e

180684, o número de peças em bronze e em ferro foi igual.

Fig. 30 - Material das peças

Destacamos o fato de que em 1821, aquando do desmantelamento do Forte,

existiam três peças em ferro e duas em bronze85, e em 182386 sabemos haver três

82

Idem. 83

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N6, “Dos Governadores das Praças do Reino”, 1766. 84

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N56, José Garcia, “Mapa da Guarnição referente ao mês de junho 1806”. 85

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N23, António Pereira e Sousa, “Memória Resumida do Reconhecimento Militar feito às Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendidas desde a Foz de Odeceixe até à foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Marechal de Campo e Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros, Inspetor das Praças e Fortalezas do Reino”, 1821.

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peças em ferro12. Deduzimos que pelo atrás anunciado relativamente ao

desmantelamento do Forte, e ao número de peças existentes, que as peças em bronze

existentes tenham sido levantadas nessa altura.

Sobre a utilização e operacionalidade de todas as peças em ferro e em bronze

atrás referidas entre os anos 1653 e 1821, encontramos referência no ano de 1758 a

seis peças montadas em carros na areia, por não estarem as muralhas do Forte de São

Lourenço suficientemente capazes estruturalmente para as susterem na sua posição

original87, o que nos leva a crer que nesta altura o Forte ainda estaria a sofrer as

consequências do terramoto de 1755.

Os reparos estariam incapazes em 1776, registando-se que as três peças em

ferro estavam encravadas e as peças em bronze desmontadas88. Esta situação

continuava em 177889, com uma das três peças de ferro encravadas, e em reparos

incapazes, e as peças em bronze desmontadas sem reparos ou em carros onde laborar.

Sem registo quanto ao seu material, encontramos em 1802 as seis peças

existentes montadas em carros na areia pois as muralhas não as podiam suster90. Em

plena invasão francesa, o Forte tinha três peças incapazes de ação, uma peça em

bronze montada em reparos arruinados e uma peça em bronze pronta a servir91. No

ano do seu desmantelamento, o Forte de São Lourenço possuía três peças em ferro

desmontadas e incapazes e duas peças em bronze montadas mas em reparos

incapazes92. Relativamente ao estado de operacionalidade das peças, não obstante o

86

Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Miliar, nº 3189 / II, José Feliciano, “Relatório de Inspeção”, 3 de janeiro de 1823, nº 3189 / II. 87

ANTT, Sebastião de Sousa, Dicionário Geográfico, vol. V, 1758. 88

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia”, 1776. 89

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia de 31 de dezembro de 1776 a 30 de abril de 1778”. 90

Arquivo Histórico Militar, “Relação das Praças que tem Governadores na Província do Alentejo e Reino do Algarve e as que se acham vagas, de 14 de junho de 1802”. 91

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N4, “Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, 8 de abril de 1807”, 92

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N23, António Pereira e Sousa, “Memória Resumida do Reconhecimento Militar feito às Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendidas desde a Foz de Odeceixe até à foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Marechal de Campo e Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros, Inspetor das Praças e Fortalezas do Reino”, 1821.

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referido que assinala-se que tal não impediu que cumprissem o seu papel. Veja-se por

exemplo os registos em 1758 e em 1802, onde vimos que as peças, apesar de se

encontrarem na areia, ainda se mantinham em função.

Assim, os números avançados inicialmente devem ser matizados. Embora seja

impossível avaliar a prontidão militar da artilharia do Forte ao longo destes séculos,

esta, deve ter conhecido flutuações mais importantes que as assinaladas. A momentos

de reequipamento militar, sucediam-se outros de quase ausência de defesa. Esta

situação não pode deixar de estar relacionada com as próprias construções e

reconstruções sucessivas do forte.

Relativamente ao calibre das peças, verificamos grandes variações e nem

sempre temos informações fidedignas. Assim, o primeiro registo de que dispomos data

de 1754, quando o Forte tinha três peças em ferro de calibre 18, provenientes do Forte

da Armona, que se havia desmoronado nesta data e três peças em bronze, duas de

calibre três e uma calibre cinco93.

Analisando os calibres e o material das peças, registamos que as peças em ferro

tinham calibres 18 e 24, ao passo que as de bronze tinham calibres três, quatro, cinco,

seis, oito, nove e 12. Registamos ainda que as peças de calibre 18 e calibre 24, em

ferro, foram as mais frequentes e que as peças calibre oito e calibre três, em bronze,

são as que mais se registam.

Cronologicamente, as peças de calibre menor (três e cinco) aparecem

registadas em 175494, a única de calibre quatro, em 176395. Entre 1770 e 1778, as

peças calibre oito e nove encontram-se registadas sempre juntas96. As peças em ferro,

de calibre 18, registam-se entre 175497 e 176398, em 180799 e após o

93

ANTT, Plantas do Ministério do Reino, Maço nº 625, documentos nº2 e nº 6, 1754. 94

Idem. 95

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N3, “Mapa de guarnição e artilharia de 31 de março de 1763”. 96

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia, 1776” e “Mapas de Artilharia de 31 de dezembro de 1776 a 30 de abril de 1778”. 97

ANTT, Plantas do Ministério do Reino, maço n0 625, documentos nº 2 e nº 6, 1754. 98

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N3, “Mapa da Guarnição e artilharia, 31 de março de 1763”. 99

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N4, “Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, 8 de abril de 1807”.

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desmantelamento do forte, em 1823100. Relativamente às peças em ferro, calibre 24

registam-se entre 1770 101e 1778102, e depois em 1821103 e em 1823104. Assim, as peças

de maior calibre foram as mais utilizadas no Forte, na segunda metade do século XVIII

e início do século XIX.

Fig. 31- Calibres

100

Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Militar, José Feliciano, “Relatório de Inspeção, 3 de janeiro de 1823, nº 3189 / II. 101

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC95N26, “Mapas de Artilharia, 1776” e “Mapas de Artilharia de 31 de dezembro de 1776 a 30 de abril de 1778”. 102

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N23, António Pereira e Sousa, “Memória Resumida do Reconhecimento Militar feito às Costas e Fortificações do Reino do Algarve, compreendidas desde a Foz de Odeceixe até à foz do Guadiana, por ordem do Il.mº Senhor Luís Cândido Cordeiro Pinheiro Furtado, Marechal de Campo e Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros, Inspetor das Praças e Fortalezas do Reino”, 1821. 103

idem. 104

Gabinete de Estudos Arqueológicos e de Engenharia Militar, José Feliciano, “Relatório de Inspeção, 3 de janeiro de 1823”, nº 3189 / II.

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Bartholomeu da Costa (1731-1801), especialista em artilharia desta época,

informa-nos que, tipicamente, quanto maior era o calibre das bocas-de-fogo menor

era o seu número. Do seu trabalho avulta a normalização dos calibres, tendo como

referência as artilharia inglesa e a alemã. Assim, o calibres três, seis, nove e 12 eram os

mais indicados para utilização em campanha, enquanto que as peças de calibre 18 e 24

eram sobretudo de sítio105. Poderemos, pois, inferir que as peças em ferro foram as

que mais estiveram ao serviço do Forte, embora tenham sido as de menor custo e

longevidade.

Relativamente a outro material militar existente no Forte, encontramos apenas

uma descrição relativa ao ano de 1795, mas que de alguma forma podemos extrapolar

para toda esta época. Destacam-se as espingardas, pólvora armazenada, projéteis de

artilharia de vários calibres, e balas de chumbo, talvez para armas ligeiras. Ainda

relativamente ao equipamento militar, e no que diz respeito à palamenta,

encontramos soquetes (carregador), lanadas (alimpador), coxarras (colheres) de vário

calibre, diamantes (para desentupir o orifício através do qual se dava fogo à peça),

sacas de trapo, pranchadas de chumbo, agulhas e polvarinho de escovas. Tratavam-se

de ferramentas básicas, que procuravam assegurar o bom funcionamento da artilharia

instalada no Forte. Neste quadro, existe igualmente a informação sobre a bandeira do

Forte de São Lourenço.

Também faz parte desta lista outro material da guarnição, como barris para o

armazenamento de água, natural num contexto de uma fortificação rodeada por mar e

que, pelo menos até 1762106, não dispôs de uma fonte de água potável. Referem-se

ainda um tacho para cozinhar, provavelmente de grandes dimensões e para confecção

de alimento para toda a guarnição, além da mesa e das cadeiras da guarda, a candeia

de iluminação, e finalmente a tabuleta onde se inscreviam as ordens107.

105

João Vieira Borges, A Artilharia na Guerra Peninsular, Tribuna da História-Edição de Livros e Revistas, Lda., abril de 2009, p. 43. 106

Recorde-se o desenho de Baltazar de Azevedo Coutinho. 107

Arquivo Histórico Militar, DIV/4/1/04/05, José Lopes de Sousa, “Extrato dos Petrechos, Palamentas, Muniçoens que existem na Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, em 8 de fevereiro de 1795”.

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Tratava-se pois de uma fortificação artilhada, que, nestes finais de seiscentos,

dispunham de seus apetrechos, palamentas e munições. A eficácia das fortificações

após a Restauração, prendia-se sobretudo pelo seu caracter dissuasor. As dificuldades

económicas levavam a que a defesa se organizasse em caso de perigo. Assim se

compreende que a maior parte delas se encontrasse sem guarnição ou munições108.

Por este quadro inferimos que estaria pronta e ativa e que a sua guarnição ali

permanecia. Claro que esta situação não foi permanente.

*

Sobre a guarnição do Forte de São Lourenço, verificamos a existência de duas

fases. Na primeira, de 1657 até 1755, o capitão residiu na própria fortaleza, em

habitação própria, e a guarnição era permanente. A partir do terramoto e até ao final

do uso militar da estrutura, em 1821, o capitão foi residir para Olhão e a guarnição

passou a ser rendida de 8 em 8 dias109.

A nomeação do capitão do Forte era da responsabilidade do Conselho de

Guerra, tendo isso ficado definido aquando do primeiro provimento, em 1657. De

notar que em 1753, o sistema de comunicação acerca da selecção de candidatos para

o lugar alterou-se ligeirmente, passando a ser efetuado por aviso do Secretário da

Guerra e pela edição de editais, para eventuais opositores poderem contestar no prazo

de quinze dias. Destacamos o fato de que neste aviso se obrigava o novo capitão a

residir no Forte, “pelo respeito que se lhe impõe tal cargo e prudência e pela

importância que tinha a Barra”110. A verdade é que, como referido, rapidamente esta

exigência foi abandonada.

108

Margarida de Magalhães Ramalho, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, 2010, p 20-23. 109

Arquivo Histórico Militar, 1D65L, fl. 167. 110

ANTT, Conselho de Guerra, maço 20, consulta de 28 de setembro de 1753.

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Encontramos variações quanto ao tempo de permanência no cargo de capitão e

diferenças no percurso das suas carreiras. Quanto ao mandato dos capitães, este

variava entre os 4 e os 31 anos, sendo que o primeiro capitão do forte permaneceu 19

anos, após o que professou como Agostinho Descalço. O capitão nomeado

posteriormente permaneceu 22 anos até à sua morte. Outro registo informa-nos sobre

outro capitão que, após 5 anos de permanência no cargo, pediu transferência para

outro posto, em Tavira. Assim, não obstante a grande diversidade de períodos de

permanência neste cargo, parece que a nomeação era na prática vitalícia, sendo

interrompida em caso de interesse do próprio ou de provimento noutro posto mais

apetecível.

Encontramos igualmente diferenças relativamente à proveniência de cada

capitão do forte. A Companhia do Terço da Guarnição do Reino do Algarve foi uma das

unidades de recrutamento mais comuns para os nomeados com a capitania. Outros

foram propostos no decorrer da publicação de editais. Tratava-se, pois, de um

destacamento face a militares que já serviam nesta região.

Havendo referências de tentativas de prática de contrabando através da Barra

onde se instalava o forte, dispomos de um caso em que o próprio capitão foi

implicado. Verificou-se logo em 1662, quando o capitão do forte foi acusado de

descaminho da Fazenda Real111, tendo a rainha mandado prendê-lo até prova em

contrário, foi efectivamente solto em 1667, optando poém pela vida religiosa112, talvez

como expiação para os seus inconfessáveis pecados.

Interessante também verificar como as relações familiares interferiam e se

envolviam com as relações profissionais. No caso supracitado, o filho do capitão

detido, que assentara praça no forte com apenas dezasseis anos, foi nomeado Tenente

em 1675, acabando por suceder ao pai113. Muito embora no ano seguinte sucedesse

novo capitão do Forte114, foi apresentada uma reclamação pelo Governador do Reino

111

ANTT, Secretaria de Guerra, L29, 46V, consulta de 12 de maio de 1662. 112

ANTT, Secretaria de Guerra, L33, 184, consulta de 1677. 113

ANTT, Conselho de Guerra, consulta de 17 de junho de 1676. 114

ANTT, Conselho de Guerra, maço 132, nº 141, consulta de 9 de fevereiro de 1677.

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do Algarve junto do Conselho de Guerra por o filho do capitão ter assentado praça

muito jovem, e não ter antes ocupado o posto de Alferes na hierarquia115. Mas não

foram encontradas causas para que o acusado baixasse de patente e foi-lhe restituído

o posto para que fora nomeado pelo trabalho que executou durante o período em que

esteve ao serviço do Forte116.

Com o terramoto de 1755, o Forte de São Lourenço deixou de apresentar

condições para a prmanência do capitão nas suas instalações, pelo que este passou a

residir em Olhão117. A partir desta data os registos de nomeação são escassos, pelo

que apenas em 1762, 1786 e em 1804, voltamos a ter referências pelos registos dos

falecimentos dos capitães do Forte, enterrados respetivamente na Igreja Matriz118 e na

Igreja Paroquial de Nossa Senhora do Rosário de Olhão119, localidade onde se teriam

certamente enraizado. Também a informação de óbito do último capitão, de que

temos registo120..

Relativamente à guarnição, vimos atrás que até 1755, ano do terramoto, será

predominantemente composta, além do capitão, que lá residia, por homens com as

patentes de tenente, artilheiro e soldado, e atestando-se também a existência de

prisioneiros em 1659121. Depois de 1755, foram integrados homens com patentes

diversificadas que se rendiam de oito em oito dias, até ao seu desmantelamento, em

1821. Além de praças, soldados e cabos, registam-se artilheiros, praças, sargentos,

tenentes, um tambor122 e um ajudante da fortaleza, a partir de 1802123.

Entre 1763 e 1767, o número de praças vai diminuindo de dez até sete,

seguindo-se um interregno de informação quanto à guarnição do Forte. A partir de

115

ANTT, Conselho de Guerra, caixa 35, maço.45, consulta de 12 de maio de 1685. 116

ANTT, Resolução Real de 11 de abril de 1687. 117

Arquivo Histórico Militar, 1D, 65, L44, fls 167, 1755. 118

ANTT, Livro de Óbitos da Freguesia de Olhão, fls. 164v, assento do Prior Sebastião de Sousa, 1762. 119

“Livro de Óbitos de Olhão”, assento do Prior Sebastião de Sousa,1762, fls 164V, 1718-1778, ANTT. 120

ANTT, Livro de Óbito da Freguesia de Olhão, fl.3-37v, assento do Prior António Joaquim Palma, de 14 de julho. 121

ANTT, Conselho de Guerra , caixa. 321, maço 19ª, de 8 de agosto 1659. 122

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N49-50, “Mapa dos Oficiais inferiores, Tambor e Soldados de Artilharia Avulsa da Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu vencimento do mês de dezembro de 1799”. 123

Gazeta de Lisboa, julho de 1802.

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1792, o número de soldados vai aumentando, até se atingir os vinte sete, em 1799124,

e os vinte e oito, em 1805125. A patente de sargento foi registada a partir de 1792126

até 1807127. O cabo foi registado a partir de 1799128, em número de três, e em 1806129,

o número era mantido, não havendo registos desta patente até 1821.

Como referido, o Forte contava com uma capela para apoio espiritual à

guarnição, onde eram celebradas missas, a que acorria também a própria população

de Olhão, além obviamente da guarnição do forte 130.

Quanto às peças que constituíam o acervo desta capela, temos registo do que

era considerado necessário para a devida assistência religiosa em 1795 131. Assim,

nesta época e relativamente a peças sacras temos a imagem de São Lourenço; em

prata, com a palma e grelha, e um missal, com estante. Relativamente ao material de

apoio ao serviço religioso, temos registo de um frontal do altar, velho e incapaz,

colherinhas de prata, uma patena de prata, dois castiçais em estanho, palhetas e

pratinhos, toalhinhas de altar e de lavatório, uma casula, uma alva com cordas, uma

estola, uma cómoda de madeira de pinho para guardar ornamentos, uma candeia e

uma tabuleta para as ordens da missa.

Faça-se notar que o Bispo Algarve visitou a capela do Forte, em 1803132, tendo

opinado que o espaço era muito limpo e cuidado. Substituiu a pedra de ara por achá-la

124

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N49-50, “Mapa dos Oficiais inferiores, Tambor e Soldados de Artilharia Avulsa da Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu vencimento do mês de dezembro de 1799”. 125

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N54, “Mapa dos oficiais de Infantaria”. 126

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N7, Conde de Oeynhausen, “Visita de Inspeção feita a todas as fortalezas da costa Algarvia desde o Forte da Arrifana à Praça de Alcoutim”, 1 de abril de 1792. 127

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC96N4, “Mapa dos Artilheiros Avulsos da Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, 8 de abril de 1807”. 128

Arquivo Histórico Militar, “Mapa dos Oficiais inferiores, Tambor e Soldados de Artilharia Avulsa da Guarnição de São Lourenço do Registo da Barra de Faro com o seu vencimento do mês de dezembro de 1799”. 129

Arquivo Histórico Militar, José Garcia, “Mapa da Guarnição referente ao mês de junho”, 1806. 130

Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, “Monografia do Concelho de Olhão”, 3ª edição, Algarve em Foco Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p 236. 131

Arquivo Histórico Militar, José Lopes de Souza, “Extrato dos Petrechos, Palamentas, Muniçoens que existem na Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro, em 8 de fevereiro de 1795”. 132

Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, “Monografia do Concelho de Olhão”, 3ª edição, Algarve em Foco Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p 116.

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imprópria e partida. O Forte de São Lourenço revelou-se um espaço de vivência e

convivência militar e espiritual. O equipamento militar que sempre sustentou aquele

espaço, e que foi característico de uma época, a guarnição que ali se manteve, mesmo

em alturas de continuada construção e reconstrução e das frágeis condições logísticas

em que se encontravam, devido à frequente erosão por ação do mar, fez parte da

história identificador daquela época naquele espaço. A comunidade local interagiu

com o Forte, fazendo daquele sítio um local também seu. Os seus destinos foram-se

ligando cada vez mais à emergente povoação de Olhão.

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CAPITULO V

Utilidade estratégica e militar

“A população *de Olhão+ é marítima e de tanta habilidade que El-Rei só d´elles se serve nos seus escaleres da

Ribeira das Naus, indo para lá todos os annos quasi quatro centos homens, que se rendem em levas”.

Ataíde Oliveira, “Monografia do Concelho de Olhão”,

Algarve em Foco Editora, 3ª edição, Faro, 1999, p. 56

A grande fronteira do Algarve foi o mar, uma linha constantemente frágil. Alvo

de assédios de vária índole, eram comuns os assaltos da pirataria, corso e incursões

militares, originando insegurança junto das populações. Disso foi testemunho a

ocupação da fortaleza de Sagres por Francis Drake, em 1587, e o assalto a Faro por

Robert Devereux, conde de Essex, em 1596, no regresso de uma expedição a Cádiz. A

cidade foi pilhada, tendo o corsário levado parte do espólio da livraria do bispo do

Algarve, D. Fernando Martins Mascarenhas133.

Mas foi muito antes, a partir das definições jurídico-administrativas do Tratado

de Badajoz, em 1261, que o Algarve se inseriu numa zona estratégica para os intentos

da realeza portuguesa, para salvaguarda das fronteiras a Sul. Tal facto, demandou a

edificação de estruturas defensivas, como castelos, cercas, torres de vigia e fortes. Foi

só a partir de D. Sebastião que o sistema de defesa se veio a reforçar, embora com

enormes carências. Foi elucidativo o relatório de Alexandre Massai, iniciado em 1617

e terminado em 1621, resultado se uma inspeção ao estado das fortificações da região

133

Artur Manuel Ceia, “O Fenómeno da Guerra no último Quartel do Século XIV em Portugal, Tipologia e Caracterização”, in Separata da Revista Militar, Lisboa, 1986.

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algarvia: estas encontravam-se degradadas, algumas mesmo decrépitas, sendo mal

dotadas de armas e munições134.

Com D. João IV passou a dar-se muito mais atenção à questão da defesa da

costa marítima, no âmbito da Guerra da Restauração. As preocupações viram-se para o

estado dos sistemas defensivos, face a uma previsível reação de Filipe IV de Espanha,

nomeadamente os que defendiam os acessos diretos à capital135.

No século XVII, a cerca urbana islâmica de Faro não tinha capacidade para

alojamento de todos os habitantes, pelo que a cidade se tornou vulnerável aos ataques

do exterior e tornava-se imperativo defender as populações. Vivia-se o medo da

incursão de piratas e a ameaça das potências maritimas navais. Era necessário vigiar

convenientemente o litoral. Desde 1638 que se receava a aparição das armadas da

Holanda e da França, em resposta aos sucessos militares alcançados por D. Lope de

Hoces , general de mar e guerra ao serviço dos Austrias, pois temia-se um ataque à

região e Faro era tido como alvo previsível136.

Em 1639, as carências defensivas do Algarve preocupavam o Governador

Henrique Correia da Silva que considerava a cidade de Faro “abrigada por muros muito

pouco capazes de defensão”. Também “a uma légua da cidade se construíra uma

trincheira de 300 passos e um reduto para quatro peças de artilharia, tudo custeado

pela população”. Lugar marítimo de fácil acesso, a cidade não dispunha de capitão137.

A primeira noticia sobre a necessidade da construção de uma cerca urbana para

Faro, data de 1654, quando o Cabido de Faro se opõe às obras realizadas nas muralhas

e no Castelo Vila Adentro, insistindo na construção de uma cerca que envolvesse os

arrabaldes. Em 1662, Martim Correia da Silva, governador militar do Algarve,

determinou a construção dessa cerca, a fim de criar uma linha defensiva à cidade de

134

Alexandre Massai, “Descrição do Reino do Algarve – Na Relação e Traça da Cidade de Faro”, Manuscrito da Coleção do Coronel Vieira da Silva (Museu da Cidade de Lisboa), 1621. 135

Margarida de Magalhães Ramalhão, Fortificações Marítimas, Câmara Municipal de Cascais, setembro 2010, pp. 20-23. 136

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Idem.

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Faro, procurando prevenir a hipótese de eventual invasão espanhola, na sequência da

Restauração; pretendia-se dificultar quaisquer ataques que ocorressem nos flancos

urbanos orientados a terra138.

A fortificação era composta por seis panos de muralha, que integravam cinco

baluartes e dois meios baluartes. Paralelamente foi estabelecida uma zona “non

aedificandi” no seu perímetro fortificado, correspondendo a uma área de uso militar,

nomeadamente para melhor uso do poder de fogo. A cerca era extensa, com mais de

2800m, circundada por um fosso em toda a sua extensão, muros com pelo menos

quatro metros de altura e as linhas de fogo rasante chegavam a tingir 300m139. No

entanto, pela Memória Paroquial, referente aos efeitos do sismo de 1755 na cidade de

Faro, sabemos que a estrutura apresentava um estado de ruína140.

Desde meados do seculo XVII que eram, contudo, evidentes a falta de

condições para que a cidade de Faro se sentisse plenamente defendida no seu tecido

urbano, face à pouca protecção do setor marítimo. Foi a partir desta altura que se

formou a consciência real e efetiva para a urgente necessidade de reforço da defesa

maritima da cidade e da consolidação da defesa da costa maritima. Foram, pois,

levantadas fortificações, a nascente e a poente da cidade, a fim de atalhar a entrada na

Ria Formosa141.

No seguimento desta preocupação, D. Nuno de Mendonça, 2º conde de Val de

Reis e governador e capitão general do Reino do Algarve (1612-1692), bem como 27

personalidades de Faro emitiram uma ordem sobre a necessidade de se defender Faro

e bem assim a respetiva Barra142. Pedro de Santa Colomba, engenheiro militar

encarregue de várias obras de defesa da costa, e designado para servir “em Alentejo, 138

Natércia Magallhães, Algarve, Castelos, Cercas e Fortalezas - As Muralhas como Património Histórico Edit. Letras Várias, Edições e Arte, Faro, novembro 2008, p. 97. 139

Francisco Sousa Lobo, “O sistema defensivo da cidade”, in, Monumentos, nº 24, Lisboa, março de 2006. 140

Idem. 141

Livio da Costa Guedes, “Aspetos do Reino do Algarve nos séculos XVI e XVII. A «Descripção» de Alexandre Massai (1621)”, in Separata do Arquivo Histórico Militar, Lisboa, 1988. 142

ANTT, consulta de 21 de outubro de 1654, caixa 17, maço 14, Documento 181, Parecer do Engenheiro Pedro de Santa Colomba datado de 20 de Fevereiro de 1653, transcrito por Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro”, in Anais do Município de Faro, Nº XI 1981, pp. 217-218.

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Lisboa e Algarve”143, foi incumbido de inspecionar todas as fortificações desde Castro

Marim a Sagres. Opinou que a defesa da Barra de Faro exigia a construção de um Forte

com a maior brevidade possível, justificando esta celeridade por achar a cidade muito

povoada e pouco defendida. Pedro de Santa Colomba assinou um contrato por três

anos, com 40$000 reis de soldo ao mês, pagos adiantadamente, e partiu de França

trazendo como ajudante o seu irmão, Bartolomeu de Massiac144.

O rei concordou com esta proposta e deu a escolher o nome da Fortificação a

D. Nuno de Mendonça, o referido governador do Algarve (1612-1692), afirmando que

“uma pedra seja posta, em local conveniente, em que se declare o nome da

fortificação que se obrou em meu e vosso tempo”145.

Começando-se a construir o Forte de São Lourenço, logo a seguir a sua utilidade

foi posta em causa pelo Cabido da Sé de Faro146, afirmando que a estrutura não

defendia a cidade, além do que a sua fundação em areias fragilizaria a construção.

Neste último ponto estava, como já vimos, correta a avaliação. Pedro de Santa

Colomba visitou as instalações do Forte e após concluir ser de pouco custo, propôs a

conservação do Forte após as primeiras destruições, pela necessidade de defender a

barra e servir de amparo aos pescadores e navios ameaçados pelos corsários147. Refira-

se que mais nenhum Forte existia naquela área, tendo este servido de dinâmica de

desenvolvimento populacional na então praia de Olhão148.

O Forte era, então, considerado como um importante ponto estratégico na

defesa da costa marítima, apesar de se verificar que a Barra de Faro se estava a afastar

meia légua de distância.149. Ao insistir em manter uma fortificação junto à Barra, em

zona claramente imprópria para a sua conservação, sem solo rochoso para se afirmar,

143

Portarias do Reino, Tomo 3º, p. 229, in Cristóvão Aires de Magalhães Sepúlveda, História de Exército Português, Lisboa, 1929, Volume 16, p. 76-77. 144

ANTT, Livro de Registos da Secretaria de Guerra, nº12, fla 155, Carta Patente de 8 de julho de 1648. 145

ANTT, Conselho de Guerra, consulta, carta Real, 1653. 146

ANTT, Conselho de Guerra, consultas, caixa 17, maço 14ª, documento 181. 147

ANTT, Conselho de Guerra, Livro de Registo da Secretaria da Guerra, nº26 (etiqueta nº24), folha 92, verso, ANTT, 1661. 148

Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, s/d, pp. 112-113. 149

Carlos Callixto, “Apontamentos para a História das Fortificações da Praça de Faro, A Fortaleza de São Lourenço da Barra de Faro”, in Anais do Município de Faro, Faro, Nº VIII, 1978, p. 88.

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deveu-se ao facto de ser efetivamente a única hipótese de defender a Barra. O

afastamento da Barra face a terra impedia que uma eventual fortificação aqui erguida

tivesse alcance de fogo para proteger a principal entrada na Ria Formosa junto a Faro.

Em meados do século XVII, a construção e posterior reparação do Forte de São

Lourenço integrava-se no projecto de criação de um sistema defensivo de todo a costa

oriental algarvia. O Forte da Fuzeta, obra iniciada no tempo de D. Sebastião, foi

intervencionada no período da Restauração150. Instalado na costa junto a esta

povoação, procurava protege-la e à barra que lhe dava acesso. Já o Forte de Santo

António, em Tavira, e a Fortaleza de São João, erguida em Cabanas, deviam proteger o

acesso à velha povoação do rio Gilão. Este último foi edificado depois do Forte de Sto

António, que a partir daí passou a ter um papel secundário na estratégia defensiva151.

Quanto à Fortaleza de Cacela, cuja primitiva fortificação remontava à época islâmica,

foi reconstruído por ordem de D. Sebastião, neste mesmo contexto de defesa das

margens da Ria Formosa.

Enfim, todas estas estruturas tinham por missão defender as respectivas barras

de acesso à Ria Formosa, impedindo a entrada de corsários nos canais navegáveis de

acesso a Faro. Procuravam também segurar as povoações junto às quais estavam

implantadas, cabendo neste caso ao Forte de São Lourenço a defesa do principal

acesso à cidade de Faro. Note-se assim a influência e características do espaço ser

único onde se podia fazer tanto a defesa terrestre como da costa marítima. Estas

construções defensivas testemunham a preocupação da Coroa portuguesa com a

defesa da costa Algarvia durante os séculos XVI e XVII, uma vez que esta era

considerada então, como afirmava Frei João de São José, “ o muro e fortaleza cuja

sombra o Reino se tem por seguro”152.

Em meados do século XVIII, o Forte recebeu nos seus fundamentos uma

plataforma de artilharia de pequeno calibre, para servir de registo às embarcações que

150

Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, Monografia do Concelho de Olhão, 3ª edição, Algarve em Foco Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p 172. 151

in www.igespar.pt/ptpatrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/ 152

www.igespar.pt/ptpatrimonio/pesquisa/geral/patrimonioimovel/

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entravam e evitando-se deste modo o contrabando153. Assim, além da função

estritamente defensiva, ligada aos eventos militares, o Forte assegurava também um

policiamento da atividade económica, garantindo uma eficaz fiscalidade régia.

Fig. 32 – “Visita de Inspeção a todos os pontos fortificados do litoral algarvio”, de Lagos, 22 de Junho de 1754. BN, Reservados– Casa Forte, Tesouros do ANTT, Plantas do Ministério do Reino,

doc Nº 2 e 6.

A planta datada de 1754, de Francisco Lobo Cardinal, faz referência à existência

de quatro Barras na Ria Formosa: a primeira e mais próxima da cidade, a Barra da

Barreta (A), aparentemente sem grandes condições para o tráfego marítimo; a Barra

Nova (B), por certo aberta há menos tempo no já mencionado processo de evolução

deste sistema geográfico e cuja largura parece também limitada; a Barra Grande (C),

considerada a principal, figurada como a mais larga e com acesso interior mais livre de

153

ANTT, Conselho de Guerra, maço 20, consultas de 28 de setembro de 1753.

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ilhotes ou bancos de areia; e a Barra da Fuzeta (D), em frente a esta povoação, com

acesso mais acidentado. Foram também identificados os povoados mais importantes à

época, a Fuzeta, Olhão, e, claro, a cidade de Faro.

A única estrutura militar representada é o Forte de São Lourenço, assente

sobre uma ilhota, com clara centralidade nesta área da Ria Formosa, muito embora um

pouco afastado da sua barra principal. Este facto, também relacionado com o citado

processo de evolução litoral, fazia com que a importância do Forte fosse decrescente,

para mais sendo constantemente assolado pela força do mar. Era, ainda assim, o único

ponto fortificado ou passível de defesa nesta parte da Ria Formosa. Era, assim, a única

forma minimamente viável de assegurar o controlo sobre o principal acesso à capital

do Algarve.

Refira-se que, anos antes, se procurara reforçar a defesa da mesma Barra

Grande. O Forte da Armona, de efémera existência pela sua construção sobre areias,

teve a sua edificação iniciada em 1743, durante o reinado de D. João V. Tinha por

objetivo complementar o Forte de S. Lourenço na defesa da principal Barra de acesso a

Faro, por onde entravam os navios de comércio com destino à cidade. A sua

construção revela ou um desejo de cruzamento de fogos entre as duas estruturas

fortificadas, ou mais provavelmente o intuito de implantar uma nova estrutura militar

mais próxima da embocadura da Barra, que mantinha a sua mutação para Leste. A

ação erosiva das ondas e esta deslocação da Barra, tornou-a impossível de

conservar154.

Com o terramoto de 1755, as fortalezas costeiras, sobretudo as do Algarve e da

Barra do Tejo, ficaram muito deterioradas. O Forte de São Lourenço sofreu grande

destruição mas continuou a ser mantido e conservado, certamente devido àquela sua

importância estratégica. Em finais do século XVIII os relatórios de inspeção sobre o

estado em que se encontravam as fortalezas algarvias referem, invariavelmente, a

mesma situação: a maior parte dos fortes estava desguarnecido de tropas, e o

armamento era sofrível. 154

Arquivo Histórico Militar, “Visita de Inspeção pelo Governador e Capitão General do Reino do Algarve. D. Rodrigo de Noronha e Meneses”, 1754.

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A função da defesa do acesso a Faro e de amparo aos navios e pescadores

contra os corsários foi-se esbatendo, dando lugar a outras funcionalidades. Na

segunda metade de Setecentos, o Forte passou a servir essencialmente como ponto

de registo e fiscalização das embarcações que entravam e saiam da Barra155. Era então

uma pequena bateria, que visava sobretudo um controlo sobre a actividade económica

do porto, isto é, mais um estabelecimento de guarda fiscal que uma estrutura militar.

Refira-se que mais nenhum Forte existia naquela área, tendo este servido de dinâmica

de desenvolvimento populacional na então praia de Olhão156.

Já em finais do século XVIII, esta parte da Ria Formosa foi objecto de novo

levantamento cartográfico. Comparando esta representação com a de 1754, esta

apresentava-nos, para além da Barra da Barreta, a Barra Nova, a Barra da Fuzeta e a

Barra Grande, esta útima sendo a principal e a mais larga. Nesta representação, a

Barra Grande apresenta-se mais fechada e mais afastada do Forte de São Lourenço. Já

as Barras de Ferrobilhas e de Tavira aparecem nesta representação, bem como o Forte

da Fuzeta, o Forte de Sto António e a Fortaleza de São João de Tavira e a Fortaleza de

Cacela, todas parte do referido dispositivo defensivo criado na centúria anterior. Faro,

Olhão, Monte Gordo e Tavira são os povoados figurados, numa clara conjuntura

defensiva tanto terrestre como maritima.

155

Arquivo Histórico Militar, 3D9SC87N5, “Relatório do Sargento-Mor Romão José do Rego, 18 de abril de 1765”. 156

Joaquim Romero Magalhães, O Algarve Económico 1600-1773, Editorial Estampa, s/d, p 112-113.

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Fig. 33- Arquivo Histórico Militar, Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Códice 4, pasta 2. “Carta corographica e hydraolica da Costa do reino do Algarve desde a Cidade de Faro até a vila de Alcoutim”, do “Projeto sobre as fortificações do Algarve pelo General de Engenheiros José de Sande Vasconcelos”,

1796.

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A utilidade do Forte de São Lourenço continuou a ser referida nos relatórios de

inspeção exarados regularmente157. E a sua utilidade foi ainda confirmada pela visita

de D. Francisco Gomes, Bispo do Algarve, efetuou à capela do Forte, em 1803.

As invasões francesas trouxeram outra dinâmica e funcionalidade ao Forte, pois

apoiou os sublevados, cedendo a pólvora que possuía. A sublevação de Olhão teve a

particularidade de ter sido a primeira das revoltas populares contra a ocupação

francesa, em que houve um real enfrentamento dos invasores. Por alvará régio de 15

de novembro de 1808, o futuro rei de D. João VI elevou o lugar de Olhão a “Vila de

Olhão da Restauração”, igualando-a “às vilas mais notáveis do reino”, expressamente

por este facto158.

Refira-se um relatório de inspeção realizado ao Forte em 1815, que conclui que

este fora útil quando a Barra estava próxima, deixando no entanto esta situação de se

verificar159, pela citada movimentação natural dos solos.

No ano em que o Forte foi desativado, em 1821, já deixara de cumprir a sua

funcionalidade, pelo continuado afastamento da Barra e pelo estado de ruina em que

se encontrava. O relatório exarado nesta data recordava que o local da construção era

estratégico, pois defendia a costa e a Barra Grande, que após o seu afastamento

deixou de ter defesa160.

O Forte de São Lourenço se encontrava integrado na planificação da defesa

marítima da costa Algarvia, por ser julgada a parte mais exposta de Portugal, mais

especificamente na defesa da Barra Nova, no contexto da guerra da Restauração e em

que toda a costa foi reforçada com construções defensivas.

157

Arquivo Histórico Militar, 3DSC87N18, Euzébio de Sousa Soares, “Relação das Praças Fortes e Baterias Distribuídas por toda a Linha Fronteira do Reino do Algarve, Quais devem Ser Conservadas e Guarnições que Devem Ter”, 12 de fevereiro de 1815. 158

Francisco Xavier de Ataíde Oliveira, Monografia do Concelho de Olhão, 3ª edição, Algarve em Foco Editora, Câmara Municipal de Olhão, 1999, p. 89-90. 159

Arquivo Histórico Militar, Euzébio de Sousa Soares, “Relação das Praças Fortes e Baterias Distribuídas por Toda a Linha Fronteira do Reino do Algarve, Quais Devem Ser Conservadas e Guarnições que devem Ter, 12 de fevereiro de 1815”. 160

Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, 3231, 1821.

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A inibição de combates e o amparo dos pescadores e das embarcações,

associado ao seu funcionamento como registo às embarcações, infere-se que o seu

grau de prontidão sempre se manteve, desde que foi iniciada a sua construção em

1653 até á data do seu desmantelamento, em 1821.

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CONCLUSÂO

A construção do Forte de São Lourenço não só pretendeu dar resposta a uma

necessidade estratégica que se impunha após a Restauração, como também veio

permitir a dinamização e o desenvolvimento de um pequeno núcleo populacional de

pescadores olhanenses que viviam na praia, em simples cabanas. População corajosa,

responsável pela primeira sublevação no contexto das invasões francesas, arriscou-se

no caique “Bom Sucesso”até ao Brasil, a fim de dar a Boa Nova ao Rei, foi o expoente

máximo desta gente no propósito dos seus objetivos e de coragem.

O contexto físico associado ao Forte foi determinante para a sua existência e

depois desmantelamento. A instabilidade do local de implantação, aliada à sismicidade

histórica, foram factores de fragilização da estrutura. Estas características refletiram-

se em todo o processo de construção e de sucessiva reconstrução da fortificação, ao

longo dos seus 168 anos de vida. Mas apesar das fragilidades verificadas, impôs-se a

sua continuidade ao longo deste período, num contexto de necessidade de defesa e de

salvaguarda da barra de Faro e das comuidades locais acossadas por habituais

incursões de piratas e de desamparo que sofriam no seu quotidiano.

Os trabalhos arqueológicos realizados no decorrer deste mestrado, bem como

a análise de dados produzidos em intervenções anteriores, possibilitaram a

delimitação das áreas de dispersão de vestígios de superfície. Associando estes

registos à cartografia antiga e aos dados de sonar de varrimento lateral, foram

relacionados os vestígios arqueológicos com o antigo Forte de São Lourenço, que assim

foi localizado com um grau de aproximação relativamente seguro.

A análise do equipamento material e da guarnição revelou ter havido

momentos de reforço da artilharia instalada, coincidente com os principais momentos

de perturbação ou reforma militar. A estrutura esteve sempre guarnecida, embora a

partir de meados do século XVIII o seu comando seja assegurado a partir de Olhão,

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havendo maior rotação na guarnição residente. A assistência religiosa que decorria no

espaço do Forte, pela existência de uma ermida, e a acorrência habitual da população

à missa, deu-nos a conhecer uma realidade afetiva e vivenciada entre a comunidade

local e a fortificação.

Por último, quanto à importância estratégica militar do forte, no contexto

lagunar da Ria Formosa, ressalvamos que, não obstante as dificuldades e fragilidades

construtivas, houve um claro esforço para a manutenção desta posição, dado ser o

meio mais eficaz de proteger uma barra fundamental de acesso à cidade de Faro,

muito afastada da costa para que pudesse ser dali defendida.

A construção e a continuada e insistente reconstrução e conservação do Forte

ao longo de 168 anos, acompanhou toda uma evolução histórica no quotidiano de uma

população que continuadamente ali permaneceu e que ainda hoje se verifica pela

constante presença dos pescadores no sitio onde se encontram os vestigios do Forte.

As bocas de fogo que ali se encontram in situ continuam a servir de guarida aos polvos

que são regularmente apanhados pelos pescadores.

Os trabalhos de arqueologia que ali se têm vindo a realizar desde 2006, e

também as visitas ao local que foram proporcionadas com o apoio da Câmara

Municipal de Olhão, no âmbito das férias escolares dos alunos das escolas do

concelho, têm vindo a revelar-se de grande importância tanto ao nível regional como

municipal para as populações que se identificam com o património arqueológico local.

Nestes campos de férias, temos vindo a sensibilizar os jovens com idades entre os 12 e

os 17 anos, para um melhor conhecimento do seu património, conseguindo deste

modo aproximar a população da sua história e a valorizar a cidade onde vivem. Mais

ainda, a entenderem o quanto a arqueologia é importante para a compeensão do

passado. Embora não sejam estes vestigios os mais expetaculares, eles não deixam de

ser importantes para as comunidades locais e para a sua identidade.

Sendo de uma importância vital a existência de uma educação patrimonial que

não se quede apenas em atividades escolares de Verão, procurámos envolver nesta

temática as escolas em Olhão que pertencem à Rede de Escolas Associadas da

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UNESCO, e que durante um ano letivo estas desenvolveram um projeto de trabalho

em conjunto, sobre a sua cidade e as suas tradições. Os alunos, em contato com a

comunidade local, com o saber antigo e as tradições, expresssas na arte de reconstruir

replicas de antigas embarcações de pesca que navegavam na Ria Formosa, souberam

reconhecer a importância do conhecimento patrimonial para o seu enriquecimento

pessoal e coletivo.

A escola, é, por excelência, o local ideal para a prática de valorização e defesa

do património e é pelo envolvimento dos jovens em projetos que saiem da sala de

aula, que a escola cumpre o seu papel como lugar de transmissão de valores da prática

da cidadania e do saber.

Enfim, a construção do Forte de São Lourenço testemunhou durante toda a sua

existência, um processo de desenvolvimento histórico, tendo sido uma importante

fonte de informação sobre a vida das pessoas que a ele estiveram ligadas. O seu

estudo permitiu-nos divulgar o conhecimento do património e através da observação

dos vestígios do passado ainda existentes no sítio, e pela leitura das fontes - registos

essenciais para a sua compreensão, sabemos que o Forte de São Lourenço fez parte

de um património que a todos continua a pertencer.

Pretendeu-se com este trabalho confirmar a existência de um património que

fez parte de um dado momento da história de Portugal, assegurar a sua memória junto

das comunidades locais e apoiar o desenvolvimento de atividades que propiciem uma

rede de conhecimento patrimonial depositário de memórias e de identidades

coletivas.

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BIBLIOGRAFIA

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Marechal de Campo Comandante Geral do Nacional e Real Corpo de Engenheiros,

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examinar as fortificações da Costa do Sul, Brigadeiro Graduado G.A.P. de Sousa, 24 de

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passar a reserva dos armazéns do Reino do Algarve assinada por Timóteo Soares da

Paz. Do Quartel de Lagos, com ofício de remessa do Conde…1761.

DIV/1/06/02/16, Relação das munições necessárias para se despenderem e para

reserva dos armazéns do Reino do Algarve, ass por Timoteo Soares da Paz, do Quartel

de Lagos, com ofício de remessa do Conde de Vilar Maior, da Junta doe Três Estados

para Luís da Cunha Manuel e Relação das Praças e Fortalezas que há neste Reino do

Algarve, 1762 .

DIV/1/06/28/46, Oficio de José Vieira da Luz para Luís da Cunha Manuel, Secretário de

Estado dos Negócios Estrangeiros e da Guerra, sobre a autorização para obras na

Fortaleza de São Lourenço da Barra, Setembro 1756.

DIV/1/06/49/12, Observações avulsas sobre algumas Praças do Algarve e seus oficiais,

nomeadamente, Faro, Lagos, Tavira, Sagres, Albufeira, Portimão e Alcoutim.

DIV/1/09/04/31, Ofício do Armador-mor para Aires de Sá e Melo, Secretário de Estado

dos Negócios da Guerra, acerca da nomeação do Governador da Fortaleza de São

Lourenço da Barra de Faro, 11 de Junho de 1777.

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Coronel de Infantaria António de Lemos de Lacerda, 1802.

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contemporâneo de Filipe III de Espanha, até ao Conde de São Lourenço, que morreu em

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80

1715- Manuscrito anónimo que na miscelânea dos Reservados da Biblioteca Nacional

tem o nº 224.

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nota nº 4817 –Pº 4003-T da 3-10-931, da 3ª rep.

Relatório da Visita de Inspeção feita a todas as fortalezas da costa algarvia desde o

Forte da Arrifana à Praça de Alcoutim, do Tenente-coronel do Real Corpo de

Engenheiros Alexandre José Montana, 1793.

Relatório da Visita de Inspeção feita a todas as fortalezas da costa algarvia desde o

Forte da Arrifana à Praça de Alcoutim, no rio Guadiana, Comissão de Reconhecimento

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Lista de figuras

Fig. 1 –Ria Formosa (in http://www.lnec.pt/organization/dha/nec/estudos_id/berna)

Fig 2 - Mapa da costa do Algarve que faz parte do Atlas da Península Ibérica (século

XVI), existente na Biblioteca do Escorial.

Fig. 3 - Representações cartográficas do Sotavento do Algarve, incluindo o sistema lagunar da Ria Formosa, em 1590, 1648 e 1811.

Fig. 4 – Mapa datado de 1772, compilado por Francisco Pereira de Sousa

Fig. 5 – Romão José do Rego, Rellação da Artilharia, Palamentas, pólvora e ballas que há nos Armazens da Cidade de Faro, Planta do Reduto de São Lourenço, 2ª metade do século XVIII, Arquivo Histórico Militar.

Fig. 6 - ANTT, “Fortificações do Algarve”, 1798, Baltazar de Azevedo Coutinho, Capitão do Real Corpo de Engenheiros.

Fig 7- Olhão e o sítio arqueológico na CMP 611 (1980)

Fig. 8 - Geoposicionamento dos achados arqueológicos (vestígios de superfície)

Fig. 9- Posicionamento das bocas-de-fogo.

Fig. 10 – Levantamento de sonar.

Fig. 11 - Plano hydrographico das barras e portos de Faro e Olhão [Material cartográfico] / levantado por B. M. F. de Andrade, A. J. Pery e G. A. Pery ; sob a direção de F. Folque. - Escala 1:20000. - [Lisboa] : Direção Geral dos Trabalhos Geodésicos,, 1875, com indicação da área provável de localização do Forte de São Lourenço.

Fig. 12 - Carta Militar de Portugal, 1:25, 0000, nº 611 , Faro, Instituto Geográfico do Exército, 1980, assinalando-se a área provável de localização do Forte de São Lourenço representada na cartografia de 1875.

Fig. 13 – Ortofotografia assinalando-se a área provável de localização do Forte de São Lourenço representada na cartografia de 1875.

FIg. 14 - Posicionamento sobre ortofotografia.

Fig. 15 – Conglomerado construtivo circular.

Fig 16– Concentração de blocos aparelhados a Nordeste do conglomerado construtivo

Fig. 17 - Bloco aparelhado junto ao conglomerado circular.

Page 89: Maria de Fátima Claudino - Universidade NOVA de Lisboa · 2015. 10. 3. · O forte de São Lourenço é um sítio arqueológico peculiar, visto ser a única estrutura militar que

Maria de Fátima Claudino Forte de São Lourenço (Olhão): Arqueologia e História de uma Fortificação Moderna

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Fig. 18 - Blocos aparelhados e dispersos junto ao conglomerado.

Fig. 19 – Fragmento de muro com restos de argamassa (nº34 da planta).

Fig. 20 - Frgamento de muro junto ao conglomerado, com restos de argamassa (nº 64

da planta).

Fig. 21 – Mediçãoo de dois vestigios de estruturas (nº 34 e nº 64 da planta).

Fig. 22 – Fragmento de muro com restos de argamassa (nº34 da planta)??.

Fig. 23 - Blocos de pedra não aparelhados.

Fig. 24 - Boca-de-fogo C1 (nº31 da planta).

Fig. 25- Bocas- de- fogo C2 e C3 (nº32 da planta).

Fig. 26 – Boca-de-fogo do Museu Municipal de Olhão.

Fig. 27 – Boca- de-fogo no Museu Municipal de Olhão.

Fig. 28- Pedra de Armas no Museu Municipal de Moncarapacho.

Fig. 29 - Número de peças.

Fig. 30 - Material das peças.

Fig. 31- Calibres.

Fig. 32 – “Visita de Inspeção a todos os pontos fortificados do litoral algarvio”, de Lagos, 22 de Junho de 1754. BN, Reservados– Casa Forte, Tesouros do ANTT, Plantas do Ministério do Reino, doc Nº 2 e 6.

Fig. 33- Arquivo Histórico Militar, Secretaria de Estado das Relações Exteriores, Códice 4, pasta 2. “Carta corographica e hydraolica da Costa do reino do Algarve desde a Cidade de Faro até a vila de Alcoutim”, do “Projeto sobre as fortificações do Algarve pelo General de Engenheiros José de Sande Vasconcelos”, 1796.