Maria Alice Nogueira_Favorecimento Economico e Excelencia Escolar
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8/13/2019 Maria Alice Nogueira_Favorecimento Economico e Excelencia Escolar
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Favorecimento econmico e excelncia escolar
Revista Brasileira de Educao 133
Favorecimento econmico e excelncia escolar:um mito em questo
Maria Alice NogueiraUniversidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Educao
Introduo
A sociologia da educao tanto no Brasil quanto
no exterior s muito recentemente passou a se inte-
ressar pela escolarizao dos jovens pertencentes afamlias favorecidas do ponto de vista social, j que,
tradicionalmente, para os meios populares que a
ateno do pesquisador se dirige. Atualmente a situa-
o vem modificando-se com o surgimento de alguns
trabalhos que deslocam o olhar da desvantagem so-
cial para o privilgio (Sirota, 2000, p. 166). Talvez,
em nosso pas, a prova mais bem acabada desse inte-
resse seja a publicao, em 2002, da coletneaA es-
colarizao das elites (Almeida & Nogueira, 2002)
que oferece um panorama da pesquisa nacional e in-
ternacional sobre o tema e que j se encontra em sua
segunda edio.
No entanto, mesmo em terreno to lacunar, uma
distino precisa ser feita. que a reflexo sobre o
impacto do patrimnio cultural familiar sobre a esco-
laridade dos filhos j se encontra bem mais desenvol-
vida, graas sobretudo aos estudos, de inspirao
bourdieusiana, sobre a transmisso da herana cultu-
ral pela famlia. J o papel da riqueza econmica nos
destinos escolares dos indivduos no logrou ainda se
constituir em objeto sistemtico de pesquisa do soci-
logo. A meu conhecimento, apenas duas excees
extemporneas, diga-se de passagem podem ser re-gistradas: os trabalhos de Fourasti (1970, 1972) e o
livro de Ballion (1977), ambos franceses.
Jean Fourasti, econometrista do Conservatoire
National des Arts et Mtiers (CNAM), em Paris, in-
terrogou, ao longo de toda a dcada de 1960 e por
meio de questionrio, um conjunto de 1.276 famlias
pertencentes a categorias socioprofissionais ditas su-
periores: empresrios da indstria, funcionrios p-
blicos de alto escalo, artistas clebres, mdicos com
alta reputao, egressos das grandes colesfrancesas
(Politcnica, Normal Superior e Central), englobando
assim tanto as fraes das elites bem aquinhoadas do
ponto de vista cultural, quanto aquelas privilegiadas
financeiramente. Seus resultados demonstraram que,
embora essas categorias sociais apresentem taxas de
sucesso escolar acima da mdia da populao, elas no
so imunes ao fracasso escolar, pois uma porcenta-
gem considervel dos filhos dos pesquisados (30%,
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tgias de reproduo prprias de determinados gru-
pos sociais, dentre elas as que incidem sobre o uso da
instituio escolar (Truzzi, 1991; Grn, 1992, 2002).
Mas, de um modo geral, pode-se afirmar que o tema
constitui territrio ainda a ser explorado entre ns.
Resolvi ento aceitar o desafio de investigar em
meios sociais favorecidos, colocando-me questes
como: que tipo de trajetria escolar realizam os jo-
vens provenientes de lares economicamente privile-
giados? Quais so as condies sociais e familiares
que tornam possveis e inteligveis esses destinos es-
colares? De que modo os privilgios ligados fam-
lia de origem podem constituir-se em trunfos (ou em
obstculos) perante os estudos?
Sem pretender nem poder responder a essas per-guntas de modo cabal e completo no espao deste tra-
balho, apresento aqui apenas alguns aspectos (e de
forma bastante resumida) de uma pesquisa recente-
mente concluda, com a finalidade principal de abrir
o debate.
Trata-se de um estudo realizado, em 2000-2001,
com 25 famlias de grandes e mdios(as) empres-
rios(as) de Minas Gerais.1Seu objetivo era conhecer
as histrias escolares dos jovens e as estratgias edu-
cativas postas em prtica por esses pais ao longo des-ses itinerrios. Como instrumento de coleta dos da-
dos, utilizei-me de entrevistas semidiretivas feitas com
os prprios jovens e com suas mes, separadamente.
O estudo baseia-se, portanto, num corpus formado por
50 entrevistas.
Sua origem imediata associa-se minha perple-
xidade perante o alto grau de disseminao, no senso
comum, da ideologia de que o padro de excelncia
escolar apangio dos ricos ou, em outros termos,
em mdia) no teve acesso, na poca, ao ensino supe-
rior. Entretanto, o autor constatou diferenas signifi-
cativas entre os diferentes grupos ocupacionais inves-
tigados, as quais poderiam ser resumidas na concluso
maior da pesquisa, a saber: o desempenho escolar dos
jovens oriundos das fraes economicamente domi-
nantes da amostra (os filhos de empresrios), quando
comparado ao das fraes mais intelectualizadas (eli-
tes cientficas e artsticas), se mostrou bem inferior.
Partindo dessas constataes de Fourasti, o so-
cilogo Robert Ballion debruou-se sobre um tema
absolutamente inusitado para os anos de 1970: o do
insucesso escolar em meios altamente favorecidos do
ponto de vista econmico. Mediante dados empricos
obtidos em universo de 670 alunos de estabelecimen-tos privados de ensino secundrio, localizados em
Paris e caracterizados por atender a uma clientela de
filhos de homens de negcios, Ballion chegou a, pelo
menos, duas concluses de grande importncia.
A primeira refere-se constatao de que o ndi-
ce de insucesso escolar, entre essas categorias sociais,
bem mais elevado do que se poderia supor, atingin-
do, por exemplo, quase a metade dos filhos de em-
presrios da indstria. E a segunda diz respeito des-
coberta, feita pelo autor, de que largent effacelchec ou, em outros termos, de que as posses eco-
nmicas conseguem reparar, em boa parte, os preju-
zos dos atrasos e dos acidentes ocorridos no percurso
escolar. Isso porque essas famlias dispem de meios
de luta contra o insucesso escolar, atravs de estrat-
gias variadas de compensao e de reparao, capa-
zes de remediar ou, ao menos, de atenuar os efeitos
nefastos do fracasso. Dentre essas estratgias, sobres-
saem aquelas relacionadas escolha de certos tipos
de estabelecimento de ensino, que o autor chamou de
tablissements de rattrapage, os quais funcionam
como refgio para alunos em situao de fracasso
escolar, para os quais organizam uma estrutura espe-
cial de recepo.
Na pesquisa brasileira, ainda no contamos com
estudos sobre o assunto, embora alguns trabalhos mais
recentes, mas fora do campo da educao, tenham tra-
zido alguma contribuio, ao se ocuparem das estra-
1Delimitei para estudo famlias em que o pai e/ou a me
exercessem funes empresariais e, vivendo ou no em regime de
unio conjugal, tivessem filho(s) residente(s) no domiclio e em
idade (esperada) de realizao de estudos universitrios. Porm,
em razo de dificuldades encontradas no acesso a essa populao,
foi preciso incluir um caso de uma famlia cujo filho mais velho
tinha, na poca, 16 anos e cursava o ensino mdio.
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de que as elites escolares se compem de alunos ri-
cos. A tentativa , portanto, a de colocar em questo
algo que no discutido usualmente, porque consi-
derado (implicitamente) como indiscutvel: o papel
incondicionalmente positivo do capital econmico no
destino escolar do aluno.
Por outro lado, sua origem terica se enraza
numa problemtica clssica na sociologia da educa-
o: a dos fatores em jogo ou das mediaes que se
interpem na relao entre o meio social de pertenci-
mento e os resultados escolares, em particular a con-
trovrsia sobre o peso relativo dos fatores culturais e
dos fatores econmicos na definio dos rumos de
uma trajetria escolar.
As trajetrias escolares dos jovens pesquisados2
O estudo das trajetrias escolares, lato sensu, no
constitui propriamente uma novidade na sociologia
da educao, pois, j a partir dos anos de 1960, os
socilogos passaram a se interessar pelas relaes
entre os percursos dos indivduos no interior do siste-
ma de ensino e seu meio social de pertencimento. No
entanto, nesse primeiro momento, as interrogaes re-
caam sobre as macrorrelaes entre o sistema esco-lar e a origem social, utilizando-se, geralmente, como
metodologia de anlise, o acompanhamento longitu-
dinal (e em grande escala) de coortes de alunos, com
o objetivo de observar a distribuio das oportunida-
des escolares. Consistindo basicamente numa anlise
de fluxos, esses estudos deixavam de considerar a di-
menso individual das biografias escolares.3
Foi somente a partir da dcada de 1980 que se
viu emergir um novo enfoque que se afasta duplamen-
te da generalidade do modelo anterior. Primeiro, por-
que desenvolve um interesse sociolgico pela diversi-
dade (relativa) dos destinos e das prticas escolares
no interior de um mesmo meio social. Segundo, por-
que se interessa pelas histrias de vida escolar de in-
divduos concretos (de carne e osso) e pelos proces-
sos subjetivamente vividos e interpretados por eles.4
No perodo mais recente, a partir dos anos de
1990, surge uma nova abordagem inaugurada por pes-
quisadores que se interessam pelas trajetrias atpicas,
excepcionais, inesperadas, em suma, aquelas que fo-
gem s regularidades estatsticas que haviam sido des-
cobertas nos anos de 1950/1960. Doravante, o insig-
nificante estatstico vai tornar-se sociologicamente
significativo (Baudelot, 1999).5
Assim, podemos afirmar sem receio a existncia,nos dias atuais, de uma sociologia das trajetrias es-
colares, embora tal afirmativa deva ser acompanhada
da observao de que esta, a exemplo de toda a socio-
logia da educao contempornea, abriga uma certa
pluralidade interna: os horizontes tericos, as formas
de abordagem, os dispositivos metodolgicos no so
os mesmos de um autor a outro. Um ponto, no entanto,
parece constituir consenso: o de que a trajetria esco-
lar no completamente determinada pelo pertenci-
mento a uma classe social e, portanto, de que ela seencontra associada tambm a outros fatores, como as
dinmicas internas das famlias e as caractersticas
pessoais dos sujeitos, ambas apresentando um certo
grau de autonomia em relao ao meio social.6
Com relao definio operacional do termo, a
maioria dos pesquisadores concorda em considerar a
2Em relao varivel sexo, o grupo de 25 jovens entrevis-
tados compunha-se de 13 rapazes e 12 moas. Quanto faixa etria,
sua idade variou entre 16 e 26 anos.
3Exemplo clssico desse tipo de trabalho so as pesquisas
realizadas nos anos de 1960/1970 pelo Institut National dtudes
Dmographiques (INED), na Frana.
4Representam esse segundo momento trabalhos como os de
Terrail (1984, 1990) sobre os operrios, de Zroulou (1988) sobre
os imigrantes e de Berthelot (1993) sobre os camponeses.
5Constituem exemplos dessa ltima abordagem o artigo de
Laacher (1990) e os livros de Laurens (1992), de Lahire (1997) e
de Ferrand, Imbert e Marry (1999).
6No entanto, com relao dimenso do pessoal, preciso
reconhecer, de acordo com Dubet (1996), que a sociologia no
dispe [ainda] de categorias de anliseslidaspara enfrent-la.
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trajetria como um encadeamento temporal de posi-
es sucessivamente ocupadas pelos indivduos nos
diferentes campos do espao social (Battagliola et
al., 1991, p. 3), direcionando essa definio para o cam-
po educacional. Em consonncia com isso, um per-
curso biogrfico escolar dever ser captado por meio
dos acontecimentos que o pontuam, com seus momen-
tos decisivos, suas bifurcaes e suas encruzilhadas.
No caso deste trabalho, optei por me apoiar es-
sencialmente nas etapas institucionalizadas de um iti-
nerrio escolar (graus do ensino, processos seletivos),
tal como se d no sistema de ensino em vigor no pas.
Um pouco mais da metade do grupo investigado
sofreu alguma reprovao ao longo da escolaridade
bsica (ensino fundamental e mdio). Mais precisa-mente, 13 jovens foram afetados, perfazendo juntos
um total de 19 reprovaes (cf. Tabela 1). Essas lti-
mas, embora concentradas no segundo segmento do
ensino fundamental e no ensino mdio, no deixaram
de atingir, em um quinto dos casos, alunos das pri-
meiras quatro sries. H que se acrescentar ainda a
esses dados o fato de que quatro jovens passaram por
cursos supletivos: em trs casos no nvel do ensino
mdio, e no quarto, no nvel do ensino fundamental
(5 a 8 srie) e mdio. Esse ltimo fenmeno concer-ne justamente queles alunos que tiveram, em seu
percurso, duas ou mais reprovaes.
Tabela 1 Distribuio dos pesquisados
segundo o desempenho escolar na educao
bsica
Os estudos sobre trajetrias constatam que, de
um modo geral, as carreiras escolares vo construindo-
se por etapas, e que ao longo do tempo que o valor
escolar de um indivduo vai constituindo-se e adqui-
rindo consistncia, de forma a possibilitar em de-
terminados momentos algum prognstico quanto ao
futuro do percurso dentro do sistema de ensino. No
Brasil, o vestibular representa o mais forte desses
momentos, capaz de dar visibilidade ao caminho at
ento percorrido.
Menos da metade dos jovens atingiu a universi-
dade em idade regular ou antes dela, isto , aos 17 ou
18 anos. Como nesse meio social diferentemente
dos meios populares o abandono/interrupo dos
estudos, antes dessa idade, constitui fato rarssimo,
isso significa que mais da metade do universo pes-
quisado apresentou algum tipo de atraso em seu iti-
nerrio escolar, decorrente seja das reprovaes no
nvel do ensino fundamental ou mdio, seja de tenta-
tivas malsucedidas no vestibular.
Tabela 2 Distribuio dos pesquisados
segundo a idade de entrada na universidade
Obs.: O total 23 deve-se ausncia de dois sujeitos que no haviamainda atingido o ensino superior no momento da entrevista.
Tabela 3 Distribuio dos pesquisados
segundo o nmero de tentativas de ingresso
no ensino superior
Obs.: O total 24 deve-se ausncia de um sujeito que no haviaainda concludo o ensino mdio no momento da entrevista.
A defasagem acumulada no percurso no impe-
dir, no entanto, os jovens em atraso de ingressar no
ensino superior, aps um certo nmero de ensaios frus-
trados e mediante o auxlio largamente utilizado dos
cursinhos. Uma ampla maioria dos jovens serviu-
se deles (a metade por um perodo de um a dois anos;
Desempenho escolar
Nenhuma reprovao
Uma ou mais reprovaes
Total
N de pesquisados
12
13
25
Nmero de tentativas
Uma
Duas
Trs
Quatro
Total
N de pesquisados
15
6
2
1
24
Idade de entrada
17-18
19-20
21-22
23-24
Total
N de pesquisados
10
11
1123
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o restante por um perodo que ficou em torno de
seis meses).
Alm disso, h tambm o fato de que a escolha
da instituio de ensino superior recai sobre institui-
es privadas que se caracterizam por praticarem exa-
mes vestibulares menos seletivos e, na maior parte,
pouco exigentes. A tabela a seguir exibe o rol e a dis-
tribuio das instituies freqentadas pelos jovens
entrevistados:
Tabela 4 Distribuio dos pesquisados por
instituio de ensino superior freqentada
Obs.: O total 23 deve-se ausncia dos dois sujeitos que no ha-viam ainda atingido o ensino superior no momento da entrevista.
Uma distribuio bastante semelhante a essa foi
verificada entre os irmos dos interrogados que tam-
bm se encontravam, no momento da coleta, cursan-
do o ensino superior (36 casos), o que confere aos
dados maior significado.
A esse respeito, um estudo recente e, possivel-
mente, o mais completo at hoje sobre o ensino supe-
rior privado no Brasil (Sampaio, 2000), desmente a
suposio corrente na opinio pblica, na mdia e
mesmo entre os gestores educacionais de que osestudantes universitrios da rede privada apresentam
um nvel socioeconmico mais baixo do que aqueles
que estudam em instituies pblicas de ensino supe-
rior. A autora mostra que as diferenas quanto ao per-
tencimento social entre esses dois grupos de estudan-
tes so muito pequenas, indo, porm, no sentido
inverso ao da crena comum, ou seja, o corpo discen-
te dos estabelecimentos superiores particulares li-
geiramente mais elitizado do que aquele das institui-
es pblicas (cf. Captulo 6). Outro estudo ainda mais
recente, realizado por Simon Schwartzman (2004)
com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amos-
tra de Domiclios (PNAD/2001) e do Instituto Brasi-
leiro de Geografia e Estatstica (IBGE), questiona
igualmente o senso comum de que a rede pblica de
ensino superior, no Brasil, abrigaria os estudantes mais
ricos, enquanto os pobres s teriam acesso, nesse n-
vel, ao ensino privado. O autor demonstra que o
estudantado do ensino superior privado apresenta ren-
da familiar superior do estudantado da rede pblica.
Tabela 5 Distribuio dos irmos dos
pesquisados por instituio de ensino superior
freqentada
Com relao especificamente ao vestibular da
UFMG,7trs quartos dos jovens tentaram (quase sem-
pre, uma nica vez), mas no obtiveram aprovaonesse vestibular. Quanto ao quarto restante, razo-
vel supor que, diante do alto grau de competitivida-
de, jovens com preparo insuficiente, ou que assim se
sintam, no se candidatem a esse exame vestibular
7A UFMG uma das universidades pblicas de maior pres-
tgio do pas e a mais conceituada do Estado de Minas Gerais,
sendo seu vestibular altamente seletivo.
Instituio de ensino
PUC-MG
FUMEC
Newton Paiva
UNA
UNI-BH
Izabela Hendrix
IBMEC
Promove
UFMG
Total
N de pesquisados
9
4
2
2
2
1
1
1
1
23
Instituio de ensino
PUC-MG
Milton Campos
FEAD
FUMEC
UNI-BH
Universidades no exterior
UNA
IBMEC
UFMG
Izabela Hendrix
Newton Paiva
Faculdades Machado Sobrinho
FMU (So Paulo)
UEMG (FUMA)
Total
N de pesquisados
10
3
3
3
3
3
2
2
2
1
1
1
1
1
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por considerarem suas possibilidades de xito como
muito exguas. Na verdade, dentre os 25 sujeitos fo-
calizados pela pesquisa, apenas um cursava a UFMG,
qual teve acesso, no entanto, no pela via do vesti-
bular, mas sim por meio de transferncia a partir de
uma faculdade privada do interior do estado. Todos
os restantes freqentavam, na poca da pesquisa, es-
tabelecimentos privados de ensino superior, como se
viu na Tabela 4.
Tais resultados parecem questionar a idia cor-
rente de que para se conquistar uma vaga nas gran-
des universidades pblicas de alto prestgio basta
possuir recursos financeiros, os quais supostamente
condicionariam um passado escolar de excelncia que
fatalmente levaria ao sucesso na seleo dessas ins-tituies. preciso tambm que os indivduos este-
jam predispostos a ambicionar os destinos universi-
trios mais favorecidos e a pr em prtica meios de
conquist-los.
Como no nvel do ensino fundamental e mdio
esses jovens freqentaram igualmente escolas parti-
culares,8pode-se afirmar que a escolaridade dos fi-
lhos de empresrios se desenrola, de ponta a ponta,
na rede privada de ensino. Essa fidelidade ao ensino
privado surpreende quando se trata de ensino supe-rior, no qual a reputao e o prestgio das instituies
pblicas so, de um modo geral, bem superiores ao
das particulares. Ela questiona, por um lado, as falsas
evidncias do senso comum que consistem em pen-
sar que os ricos estudam em universidades pbli-
cas, enquanto os pobres o fazem nas instituies
privadas de ensino superior. Mas, por outro, ela ques-
tiona tambm a extenso, a esse grupo social, da hi-
ptese do circuito virtuoso que circula no meio aca-
dmico (cf. Souza, 1990-1991) e que prev, para os
favorecidos, em geral, freqncia a escolas privadas
no nvel da educao bsica e, em seguida, ensino
superior pblico.
Quanto ao ramo universitrio escolhido, ntida
a orientao dominante para um certo tipo de forma-
o superior: aquela que prepara para o mundo dos
negcios e para a gesto empresarial, pois praticamente
a metade dos jovens pesquisados optou pelo curso de
Administrao de empresas, como se v na Tabela 6.
Tabela 6 Distribuio dos pesquisados
segundo o curso superior freqentado
Obs.: O total 23 deve-se ausncia dos dois sujeitos que no ha-viam ainda, no momento da entrevista, atingido o ensino superior.
Se a esse contingente acrescentarmos aqueles que
fizeram opo por reas conexas, como Publicidade
e propaganda ou Relaes pblicas, teremos um agru-
pamento macio dessa populao em torno de um setor
profissional especfico: o da direo e organizao
do mundo da empresa. Os dois casos, na amostra, de
jovens que no haviam ainda atingido o grau superior
s vm reforar esse quadro: no primeiro deles, a for-
mao secundria escolhida pelo jovem estava se dan-do em um curso denominado Tcnico gerencial; e, no
segundo, a jovem se preparava, no momento da en-
trevista, para prestar o vestibular para o curso de Ad-
ministrao de empresas.
Aumentando ainda mais o significado desses
dados, a Tabela 7 mostra que entre os irmos dos in-
terrogados que, no momento da coleta, tambm se
encontravam cursando o ensino superior a mesma ten-
dncia se verifica, apesar de maior disperso das es-
8No meu propsito, neste texto, tratar da escolha dos
estabelecimentos de ensino pelas famlias, embora esse tenha sido
um ponto abarcado pela pesquisa. Esclareo apenas que, de um
modo geral, a preferncia dos pais no recai sobre os colgios
particulares de maior reputao por suas exigncias acadmicas e
por aparecerem habitualmente como campees nos rankingsde
aprovao nos vestibulares mais concorridos.
Curso
Administrao de empresas
Arquitetura
Relaes pblicas
Publicidade e propaganda
Psicologia
Direito
Medicina
Pedagogia
Total
N de pesquisados
12
2
2
2
2
1
1
1
23
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colhas. Se queles que cursam Administrao de em-
presas juntarmos os irmos que fizeram opo por
reas conexas (Economia, Publicidade e propaganda,
Cincias contbeis, Comrcio exterior,Design indus-
trial,Marketing em design e Relaes pblicas), te-
remos mais da metade deles em ramos universitrios
ligados ao mundo empresarial.
Tabela 7 Distribuio dos irmos dos
pesquisados segundo o curso superior
freqentado
A propenso aos estudos de Administrao no
distingue homens e mulheres pois os doze casos en-
contrados dividem-se em propores praticamente
iguais entre os sexos: sete rapazes e cinco moas (seis
moas, quando se acrescenta o caso da ento vestibu-
landa).
Qual o sentido subjetivo dessa escolha? O que
dizem seus protagonistas? Ao justificar sua deciso
por Administrao, alguns jovens confessam t-lo feito
por eliminao, na ausncia de alternativas mais
atraentes entre os ramos universitrios existentes:
E como eu no gosto nem um pouco de Medicina, de
Direito, nem muito de Exatas, eu fiquei meio em dvida
entre Engenharia e Administrao. [...] Eu no tinha certe-
za absoluta, no. Mais por eliminao, de eu no querer
mesmo outros cursos, ento sobrou mais ou menos esses
dois, eu preferi Administrao que tem mais a ver com o
negcio da famlia, uma coisa que me interessava. Eu via
que meu pai gostava, e tal, ento influenciou e eu fui fazer
Administrao.
Eu, pra falar a verdade, eu fiz Administrao foi por
falta de opo, porque eu no sei o que eu quero fazer.
Eu queria uma coisa mais ampla assim... nada ligada
a Medicina, nada ligada a Engenharia, nada ligada a Hu-
manidade, nada. A eu optei por Administrao e nem fiz
pesquisa, foi por excluso.
Franois Dubet, em um estudo sobre o estudante
universitrio dos dias atuais, chama a ateno paraesse fenmeno da escolha negativa que tambm
encontrou entre seus interrogados. Ele recomenda que
no se veja a um sujeito sem projeto, mas sim al-
gum que s dispe do projeto que pde formular ao
final de uma srie de renncias. Para o autor, a con-
cordncia entre desejos e projetos privilgio apenas
de uma elite escolar, com real poder de escolha. Ele
exemplifica com palavras altamente sugestivas: Os
estudos de Medicina no so nunca apresentados [pe-
los entrevistados] como uma escolha na falta de coisamelhor. Se mdico porque se escolheu ser mdico
desde sempre (Dubet, 1994, p. 520).
Nos casos em que justificativas para a opo pelo
curso de Administrao so fornecidas, os argumen-
tos giram em torno de dois eixos. De um lado, so
evocados aspectos objetivos, relacionados s carac-
tersticas imputadas ao curso, em torno do qual paira
um forte imaginrio: o de ser um curso de fracas exi-
gncias acadmicas.
Como eu nunca fui um cara de gostar de estudar em
casa, de ler livros e ler essas coisas, eu falei... eu sempre
que eu via meu irmo, o cara pra fazer Direito tem que
estudar igual a um co, que ele tem que saber ler de trs
pra frente e de frente pra trs, ler cdigo disso, daquilo,
cdigo, cdigo, cdigo, e isso no pra mim, e eu falei isso
no pra mim, Direito eu sabia que no era a minha praia,
a foi Administrao.
Curso
Administrao de empresas
DireitoEngenharia civil
Economia
Arquitetura
Publicidade e propaganda
Cincias contbeis
Pedagogia
Comrcio exterior
Design industrial
Decorao
Marketing em design
Relaes pblicas
Matemtica
Total
N de pesquisados
10
6 4
3
3
2
1
1
1
1
1
1
1
1
36
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Mas tambm, e sobretudo, por ser um curso cujo
contedo de natureza muito geral, o que propiciaria
uma certa maleabilidade, seja em termos de forma-
o posterior, seja em termos de atividade profissio-
nal futura. Assim, o contedo do curso visto mais
em sua funo instrumental de adaptao do que em
sua dimenso de desenvolvimento intelectual:
Eu cheguei concluso que Administrao uma base
de tudo. A, depois, s fazer uma ps-graduao que voc
j... Por exemplo: eu fao Administrao, e eu fao uma
ps-graduao em Economia, eu acho que Administrao
seria o pilar da construo.
Eu acho que um curso que os ensinamentos queesto l so muito amplos, d pra voc usar em muitos cam-
pos, n? Eu acho que o curso de Administrao te d uma
base de muitas coisas, entendeu? De Direito, de Contabili-
dade, de cada Administrao especfica, n? Logstica... en-
to, assim, um campo muito amplo e eu acho que eu pen-
sei Administrao por isso.
Mas, por outro lado, os pesquisados em sua
maior parte apontam razes do mbito da indivi-
dualidade (gosto, personalidade, vocao etc.) comoresponsveis por sua opo com relao ao curso:
Eu queria uma coisa ligada rea de Matemtica, eu
adorava! Mas eu queria uma coisa mais geral, e foi Admi-
nistrao mesmo. Papai tinha uma factoring, a eu fazia
controle de cheque pra ele, juros, uns negcios...
Eu sempre gostei de Administrao e Publicidade, mas
tambm por ter a empresa, meu pai sempre me falou: Voc
poderia optar, j que voc t entre as duas, voc podia optar
pela Administrao.
O fato de eu ser filho de empresrio e de eu no ter
caracterstica para fazer alguma outra coisa. De ver tam-
bm que eu tenho caracterstica para ser um administrador,
pelo fato do meu jeito parecer um pouco com o do meu pai.
Ento, mais por isso, pela influncia tambm.
Eu tava no terceiro ano [do ensino mdio] e eu j
tinha... eu queria Administrao. Eu j sabia disso [...]. Acho
que eu vi muito meu pai, assim... o que ele fazia, acabava
que apesar de eu no entender muito assim aquela lingua-
gem tcnica que ele tava falando, eu assim... pequenininho,
eu ia pra garagem,9minha diverso era ficar brincando l
de almoxarifado, eu acho que entendia o que era aquilo,
assim... uma viso diferente, mas entendia, a eu acho que
isso influenciou muito.
As falas anteriores sugerem que, no essencial, as
preferncias pessoais no se opem aos constrangi-
mentos exteriores que se manifestam, nesse caso, na
forma da influncia parental. O sentimento experi-
mentado de realizao de inclinaes pessoais evi-dencia que o exerccio da subjetividade pode se dar
em harmonia com e no interior de imperativos de or-
dem social que escapam ao sujeito, sem que sua sen-
sao de liberdade seja atingida. Qual a alquimia
que est por trs desse processo?
Uma das respostas sociolgicas atualmente pos-
sveis est na idia de que as inclinaes, prefern-
cias, disposies aparentemente irredutveis s
estruturas sociais no podem ser concebidas inde-
pendentemente das condies de existncia, em rela-o s quais representam ajustamentos que escapam,
na maior parte do tempo, conscincia individual. O
conhecimento desse processo subjetivo que leva o ator
a amar seu destino social o amor fatique prope
Bourdieu afasta o risco de uma dupla armadilha, a
saber: considerar as percepes e aes dos indiv-
duos seja como fruto de uma coero social mecni-
ca, seja como ato de pura liberdade.
Na verdade, um longo e lento processo de socia-
lizao familiar encarrega-se da constituio do gosto
por alguma atividade (pelos negcios, por exemplo) e
da transmisso de predisposies que possibilitam a
integrao a grupos sociais ou a universos profissio-
9O pai proprietrio de uma empresa de transporte rodo-
virio.
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Maria Alice Nogueira
142 Maio /Jun /Jul /Ago 2004 No26
cher;11a necessidade de conhecer o mundo profissio-
nal real, em contraposio viso abstrata que a
escola supostamente tem dele.
A percepo mais geral que fica para o pesquisa-
dor a de que a escola pouco para esses jovens, e
isso em sentido mltiplo. pouco porque toma ape-
nas parte do tempo de sua rotina diria. So recorren-
tes, no discurso deles, expresses como: meu tempo
estava ocioso; eu ficava em casa sem fazer nada;
toa; sem ocupao, referindo-se aos perodos
do dia em que no freqentavam as aulas.
pouco porque ocupa lugar secundrio em suas
preferncias pessoais e afetivas: por mim eu no es-
tudava no, s trabalhava, mas..., declara uma das
entrevistadas; eu nunca gostei de estudar, eu no seise eu gosto... mas eu gosto muito mais de trabalhar
do que estudar, afirma um outro; meu trabalho t
acima [dos estudos] e pronto!, sentencia um tercei-
ro; ou ainda, nas palavras de mais um deles: eu no
gostava, eu no me sentia bem na aula, no gostava
da faculdade, e at hoje eu no sinto o menor teso da
faculdade....
A escola pouco, ainda, porque desempenha pa-
pel secundrio em sua preparao profissional, j que,
a seu ver, transmite conhecimentos e teorias acad-micas em grande descompasso com o dia-a-dia em-
presarial, no conseguindo portanto rivalizar com a
realidade vivida no prprio meio. Um dos interroga-
dos afirmou:
Tdio, me entedia profundamente [referindo-se aos
estudos], principalmente depois de uma certa poca que eu
tava trabalhando com publicidade, desde 96, muita coisa
que voc v na prtica no bate com o que eles ensinam.
Ento voc tem uma perda de tempo gigantesca, na minha
viso. Eu acho que se fosse resumir o curso de Publicidade
ou qualquer outro curso a, no ia levar dois anos. S que
tanta encheo de lingia e tanta abobrinha, que leva
quatro, cinco anos e no final perda de tempo e dar dinhei-
ro para os outros.
Essas concepes encontram eco nas represen-
taes e nos valores parentais verificados nas entre-
vistas com as mes, as quais revelaram, de um modo
geral, a crena de que a formao para o empreende-
dorismo deve comear cedo e em famlia. A despeito
das contradies e ambigidades detectadas nos de-
poimentos maternos com relao escolaridade dos
filhos, essa insero precoce no mundo dos negcios
representa um poderoso fator de socializao, pois elatrabalha pela formao de vocaes para o univer-
so empresarial (Grn, 2002) ou, em outros termos,
pela constituio do gosto pelos negcios. Um
desapreo pelo destino de empregado, do qual ten-
tam poupar os filhos, constitui a outra face desse dis-
curso parental, assim como o ceticismo e a descon-
fiana em relao aos conhecimentos escolares, vistos
como demasiadamente livrescos e abstratos.
Quanto s estratgias familiares, a melhor forma
que encontro para caracterizar a relao que as fam-lias de empresrios mantm com o universo escolar
emprestada da linguagem ordinria: esses pais no
apostam todas as suas fichas na escola, investindo
semelhana dos filhos moderadamente (sempre
em termos relativos) no setor. Na verdade, os pais do
meio empresarial se servem tambm (ou at mais) de
outros tipos de estratgia para salvaguardar ou elevar
a posio do grupo familiar no espao social. Nesse
sentido, pude detectar estratgias de tipo econmico,
tais como: preparar os filhos desde muito cedo para
sua sucesso; associ-los empresa paterna; ou abrir
para eles um pequeno negcio, ainda durante seu pe-
rodo de formao.
Quanto aos jovens, o fato de que eles no inves-
tem toda sua energia na causa escolar , sem dvida,
o resultado de todo um processo de socializao fa-
miliar que escapa, em boa parte, conscincia dos
sujeitos. O que no exclui atitudes de natureza mais
11Cabe lembrar que como se viu as escolhas dos ramos
universitrios, por parte desse grupo de jovens, no recaem sobre
as carreiras mais exigentes do sistema de ensino, como os cursos
superiores mais seletivos, em perodo integral. Tampouco eles rea-
lizam atividades acadmicas extracurriculares, tais como: moni-
toria, iniciao cientfica, auxlio pesquisa etc.
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Favorecimento econmico e excelncia escolar
Revista Brasileira de Educao 143
racional e consciente: no tendo a sensao de que os
estudos implicam uma via de mobilidade social as-
cendente, eles no vem razo para se engajar esco-
larmente em troca de vantagens sociais to pouco sig-
nificativas. No entanto, em contradio com isso,
percebem claramente a necessidade da cauo esco-
lar para legitimar a posio social economicamente
dominante que sero chamados a ocupar. Assim, no
deixam de ser sensveis aos benefcios simblicos do
diploma: prestgio, respeitabilidade, legitimidade cul-
tural, crculo de amizades, influncias, alianas ma-
trimoniais etc. Como seus pais, eles vivem, portanto,
uma contradio interna entre, de um lado, a descren-
a no poder do diploma e, de outro, o reconhecimen-
to de seu valor simblico; contradio essa que nofavorece a constituio de uma relao positiva e pes-
soal do jovem com a escola e no trabalha pela cria-
o de um gosto pela escola ou pelo interesse por aqui-
lo que l ensinado.
MARIA ALICE NOGUEIRA, doutora em educao pela
Universidade de Paris V, professora titular da Faculdade de Edu-
cao da UFMG e pesquisadora na rea de sociologia da educa-
o. Organizou recentemente duas coletneas: Famlia e escola:
trajetrias de escolarizao em camadas mdias e populares (com
Geraldo Romanelli e Nadir Zago, Petrpolis: Vozes, 2000), na qual
colaborou com o captulo A construo da excelncia escolar: um
estudo feito com estudantes universitrios provenientes das ca-
madas mdias intelectualizadas; eA escolarizao das elites: um
panorama internacional da pesquisa (com Ana Maria F. Almeida,
Petrpolis: Vozes, 2002), na qual publicou o captulo: Estratgias
de escolarizao em famlias de empresrios. Participou tambm
da coletneaLenseignement suprieur au Brsil: enjeux et dbats
(Paris: IHEAL/COFECUB, 2002), com o captulo La constructionde lexcellence scolaire. Trajectoires et stratgies scolaires en
milieu cultiv. Publicou ainda, em co-autoria com Cludio Mar-
ques M. Nogueira, A sociologia da educao de Pierre Bourdieu
(Educao & Sociedade, n 78, p. 15-36, abr. 2002). Atualmente
coordena o projeto integrado de pesquisa: A construo da
longevidade e da excelncia escolar em famlias de diferentes
meios sociais: processos e prticas de escolarizao, no qual de-
senvolve o subprojeto: Cosmopolitismo cientfico e escolarizao
dos filhos: o caso das famlias de ex-bolsistas no exterior. E-mail:
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Maria Alice Nogueira
144 Maio /Jun /Jul /Ago 2004 No26
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Recebido em outubro de 2003
Aprovado em janeiro de 2004
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Resumos/Abstracts
Revista Brasileira de Educao 183
time-space for the production of new
knowledge. In this study, we analyse
the processes of didactical/
museographical transposition and of
recontextualization in spaces at
science museums, in order tounderstand those mechanisms, which
constitute the discourse expressed in
expositions dealing with biological
themes. Studies carried out in the
educational and museological fields
were used to understand the specificity,
which museums impose on this process
of production. In this paper, we give
special attention to the construction of
the theoretical framework used in the
research process. The theoretical
premises that were initially used were
those of the concept of didactical/
museographic transposition. Based on
a critique of the limits of this concept,
new theoretical principles were utilised
taking as their principal support the
concept of recontextualization. Finally,
we seek to discuss the possibilities and
limits of the use of the concept of
didactical/museographic transposition
and analyse the challenges of working
with the concept of recontextualization
in order to understand those
educational processes, which take
place in spaces offered by science
museums.
Key-words: didactical transposition;
recontextualization; museographic
transposition; museum education
Alice Casimiro Lopes
Polticas curriculares: continuidade
ou mudana de rumos?
Com base nas anlises de Stephen Ball
e nos conceitos de recontextualizao
(Basil Bernstein) e de hibridismo
(Garca Canclini), analisa as polticas
curriculares no Governo Lula. Defende
que tais polticas ainda se desenvolvem
sob influncia da mesma comunidade
epistmica do Governo Fernando
Henrique Cardoso e aponta os princi-
pais marcos de mudana que poderiam
ser desenvolvidos.
Palavras-chave:hibridismo; polticas
de currculo; recontextualizao
Curriculum policy: continuity or
change?Analyses the curriculum policies
developed by the Lula Government. It
concludes by stating that they belong
to the same epistemological community
as those developed by the previous
Fernando Henrique Cardoso
Government. It also mentions the main
possible turning points, as far as Balls
analysis of curriculum policy,
Bernsteins recontextualization and
Canclinis hybridism are concerned.Key-words:curriculum policy;
hybridism; recontextualization
Mriti de Souza
Fios e furos: a trama da subjetividade
e a educao
Discute a constituio da subjetividade
atravessada pelopathose pelo logose
remetida ao singular e ao coletivo.
Essa concepo demanda a anlise do
excludo da identidade individualizadado homem moderno e do conhecimento
como ancorado exclusivamente na ra-
zo. Considerando o trabalho desen-
volvido com a populao escolar e a
escuta dos discursos produzidos pela
alocao dessas pessoas em lugares
subjetivos perante o saber, indaga-se a
possibilidade da prtica pedaggica
constituir-se em experincia produzin-
do efeitos de subjetivao.
Palavras-chave:subjetividade; educa-o; escola; modernidade
Threads and holes: the plot of
subjectivity and education
Discusses the constitution of
subjectivity cut through with pathos
and logos and addressed to the singu-
lar and the collective. This conception
requires the analysis of that which is
excluded from the individualised
identity of modern man and of
knowledge as anchored exclusively in
reason. Based on research developed
with the school population and on
listening to speeches produced by these
people situated in subjective places
with relation to knowledge, wequestion the possibility of pedagogical
practice constituting experience, which
produces subjective effects.
Key-words:subjectivity; education;
school; modernity
Maria Alice Nogueira
Favorecimento econmico e
excelncia escolar: um mito em
questo
Na pesquisa educacional brasileira ain-da carecemos de estudos sobre os pro-
cessos de escolarizao dos jovens ori-
ginrios de famlias privilegiadas do
ponto de vista econmico. O presente
trabalho prope-se a incursionar, por-
tanto, em terreno altamente lacunar,
apresentando alguns resultados parciais
de um estudo realizado, em 2000-2001,
com 25 famlias de grandes e mdios
empresrios(as) de Minas Gerais, cujo
objetivo principal era conhecer as his-trias escolares dos jovens e as estrat-
gias educativas postas em prtica por
esses pais ao longo desses itinerrios.
Um corpusde 50 entrevistas, feitas com
os jovens e suas mes, foi reunido. Suas
concluses permitem questionar a idia
corrente de que o padro de excelncia
escolar apangio dos ricos ou, em
outros termos, de que as elites escola-
res se compem de alunos ricos.
Palavras-chave:trajetrias escolares;
estratgias educativas familiares; rela-
o famliaescola
Economic privilege and school
excellence
In Brazilian educational research we
still lack studies which focus on the
schooling process of youngsters from
families privileged from the economic
point of view. This paper aims, therefore,
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8/13/2019 Maria Alice Nogueira_Favorecimento Economico e Excelencia Escolar
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Resumos/Abstracts
184 Maio /Jun /Jul /Ago 2004 No 26
to make an incursion into a highly
incomplete field, presenting some
partial results of a study undertaken in
2000-2001, with 25 families of average
to successful entrepreneurs from Minas
Gerais. The aim of the study was tolearn about the young peoples school
history and the educational strategies
used by their parents during that time.
A corpus of 50 interviews conducted
with the youngsters and their mothers
was compiled. Our conclusions allow
us to question the current belief that
the pattern of school excellence is a
privilege of the rich, or in other
terms, that school lites are composed
of rich students.
Key-words:school trajectory; family
educational strategies; school/family
relations
ngela C. de Siqueira
A regulamentao do enfoque
comercial no setor educacional via
OMC/GATS
Aponta o crescente interesse de grupos
empresariais na rea educacional, pe-
rante o grande volume de recursos nelaenvolvidos, apresentando a perspectiva
de incluso da educao, como servio,
na agenda do Acordo Geral Sobre Co-
mrcio em Servios, regido pela tica
da Organizao Mundial do Comrcio.
Para tanto, analisa documentos da
OMC, do GATS, propostas apresenta-
das por alguns pases, evidenciando o
interesse destes na eliminao de bar-
reiras para seu livre comrcio. Sina-
liza que a existncia de regulamenta-
es nacionais e mesmo a oferta do
ensino pblico podem ser questionados
como prticas prejudiciais livre ofer-
ta de servios educacionais, sujeitos s
sanes da OMC, entre as quais os
grupos empresariais podero vir a exi-
gir recebimento de recursos pblicos e
outros benefcios. Alerta para o fato de
que, caso o GATS se concretize, corre-
se o risco da transformao da educa-
o de direito pblico subjetivo em
simples comercializao de pacotes
educacionais (cursos, sistemas de ava-
liao e certificao, livros, uniformes,
mapas etc.). Conclui, indicando que tal
perspectiva fere a soberania e autono-mia das naes, em um caminho que
pode levar perda da diversidade cul-
tural e de valores locais, em benefcio
de um processo de homogeneizao
cultural, o que vem sendo contestado
com a emergncia de movimentos con-
trrios.
Palavras-chave:comercializao da
educao; privatizao; Organizao
Mundial do Comrcio; Acordo Geral
sobre Comrcio em Servios
The regulation of the commercial
approach to the educational sector
by WTO/ GATS
The text indicates the entrepreneurial
groups growing interest in the
educational field given the large
amount of resources involved,
presenting the perspective of including
education, as a service, on the agenda
of the General Agreement on Trade in
Services, as a World TradeOrganisation directive. To this end, it
analyses WTO and GATS documents,
as well as proposals presented by some
countries, demonstrating their interests
in eliminating barriers to free
trade in education. The text points out
that the existence of national
regulations and even the offer of public
education can be challenged as
practices which are harmful to the
free offer of educational services
and subject to WTO sanctions allowing
business groups to demand public
resources and other benefits. Should
GATS succeed, it runs the risk of
converting education from a subjective
public right into a process of simple
commercialisation of educational
packages (e.g. courses, systems of
evaluation and certification, textbooks,
uniforms, maps etc.). It concludes by
indicating that such a perspective
clearly endangers national sovereignty
and autonomy, leading potentially to
the loss of cultural diversity and local
values, to the benefit of a process of
cultural homogeneity. Notwithstanding,it also highlights the emergence of
movements opposing this tendency.
Key-words:commercialisation of
education; privatisation; World Trade
Organisation; General Agreement on
Trade in Services
Munir Fasheh
Como erradicar o analfabetismo sem
erradicar os analfabetos?
O texto desafia vrias suposies queesto freqentemente embutidas nas
discusses oficiais sobre alfabetizao,
questionando o valor inerentemente li-
bertador e positivo do processo de alfa-
betizao, com base na necessidade de
respeitar e revalorizar a diversidade de
formas de aprender, estudar, conhecer e
se expressar. Argumenta que liberao
e liberdade esto articuladas diver-
sidade e ao pluralismo e que a educao
representa apenas uma das formas deaprender. Afirma que o universalismo,
mais do que qualquer outra coisa, tem
sido a causa principal para se eliminar a
diversidade considerada a essncia da
vida. Sugere que a adoo da alfabeti-
zao como forma dominante de conhe-
cimento pode contribuir para o desapa-
recimento da diversidade e para a
predominncia de um nico caminho
para o progresso e o desenvolvimento.
Palavras-chave:analfabeto; alfabeti-
zao; linguagem; conhecimento; di-
versidade
How to erradicate illiteracy without
erradicating illiterates?
The text challenges various
suppositions which are frequently
included in official discussions on
literacy, questioning the inherent
liberating and positive value of the
literacy process on the basis of the