Marés d’@prender
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Plano Nacional de LeituraLER+ MAR
Prof. Filomena Pedroso 2
“M@ré de Redes”
“M@ré de descobrir”
“M@rés das Redes na rede”
“M@rés de gente a aprender”
“M@rés futuras” Prof. Filomena Pedroso 3
“Da minha língua vê-se o mar.
Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto.
Por isso a voz do mar foi a da nossa inquietação.”
Vergílio Ferreira
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“Diz-se que numa das línguas faladas pelos indígenas da América do Sul, talvez na Amazónia, existem mais de vinte expressões, umas vinte e sete, creio recordar, para designar a cor verde. “
José Saramago, A viagem do elefante, 2008
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A língua que falas e escreves É uma árvore de sons Que tem nos ramos as letras, Nas folhas os acentos E nos frutos o sentido de cada coisa que dizes. (…) A língua cresceu com o país, que se alongou até ao sul e depois chegou às ilhas, vencendo os tormentos do mar. O país ganhou a forma de uma língua de terra capaz de usar palavras como ‘lonjura’ e ‘saudade’. (…) É uma língua que se veste de baiana no Brasil, ganhando feitiços de som em Angola e Moçambique e novos significados lá para as bandas de Timor.(…)
José Jorge Letria, Esta Língua Portuguesa, 2007 Prof. Filomena Pedroso 7
“Na língua do nosso lugar não há palavra exacta para dizer pescar. Diz-se ‘matar o peixe’. Não há palavra própria para dizer barco. E oceano se diz assim: ‘o lugar grande’. Somos gente da terra, o mar é recente.”
Mia Couto, Mar me quer, 2000)Prof. Filomena Pedroso 8
“A representação do mar na literatura é tão antiga quanto a própria literatura.”
José Cândido Martins
Poesia Trovadoresca (XII-XIV)
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HORIZONTEÓ mar anterior a nós, teus medosTinham coral e praias e arvoredos.Desvendadas a noite e a cerração,As tormentas passadas e o mistério,Abria em flor o Longe, e o Sul sidérioSplendia sobre as naus da iniciação. Linha severa da longínqua costa -Quando a nau se aproxima ergue-se a encostaEm árvores onde o Longe nada tinha;Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:E, no desembarcar, há aves, flores,Onde era só, de longe a abstracta linha. O sonho é ver as formas invisíveisDa distância imprecisa, e, com sensíveisMovimentos da esp´rança e da vontade,Buscar na linha fria do horizonteA árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte -Os beijos merecidos da Verdade.
Fernando Pessoa, Mensagem Prof. Filomena Pedroso 12
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País do Gelo
Lá vai a nau catrineta que tem tudo por contarOuvi só mais uma história que vos vai fazer pasmarEram mil e doze a bordo nas contas do escrivãoSem contar os galináceos sete patos e um cão
Era lista mui sortida de fidalgos passageirosDesde mulheres de má vida a padres e mesteireirosIam todos tão airosos com seus farnéis e merendasMais parecia um piquenique do que a carreira das Índias
Ao passarem cabo verde o mar deu em encresparLogo viram ao que vinham quando a nau deu em bailarVeio a cresta do equador e o cabo da boa esperançaOnde o velho adamastor subiu o ritmo da dança
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Foi tamanha a danação foi puxado o bailaricoQuem sanfonava a canção era a mão do mafarricoTinha morrido o piloto e em febre o capitão ardiaEncantada pela corrente para sul a nau se perdia
Subia a conta dos dias ficavam podres os dentesEram tantas as sangrias morriam da cura os doentesE o cheiro era tão mau e a fé tão vacilanteParecia que a pobre nau era o inferno de Dante
Com o leme sem governo e a derrota já perdidaFizeram auto de fé com as mulheres de má vidaE foram tirando à sorte quem havia de morrerPara que o vizinho do lado tivesse o que comer
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No céu três meninas loiras cantavam um cantochãoTodas vestidas de tule para levar o capitãoNo meio do seu delírio mostrou a raça de bravoTeve ainda força na língua para as mandar ao diabo
Neste martírio sem fim ficou o lenho a boiarAté que um vento gelado a terra firme o fez vararQue diria o escrivão se pudesse escrevinharEram mil e doze a bordo e doze haviam de chegar
Ao grande país do gelo com mil cristais a brilharOnde a paz era tão branca só se quiseram deitarNaqueles lençóis de linho a plumas acolchoadosE lá dormiram para sempre como meninos cansados Rui Veloso, Auto da Pimenta
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Mar Português
Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.
Quem quere passar além do BojadorTem que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa, Mensagem
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Fundo do marFundo do marNo fundo do mar há brancos pavores,Onde as plantas são animaisE os animais são flores.
Mundo silencioso que não atingeA agitação das ondas.Abrem-se rindo conchas redondas,Baloiça o cavalo-marinho.Um polvo avançaNo desalinhoDos seus mil braços,Uma flor dança,Sem ruído vibram os espaços.
Sobre a areia o tempo poisaLeve como um lenço.
Mas por mais bela que seja cada coisaTem um monstro em si suspenso.
Sophia de Mello Breyner AndresenProf. Filomena Pedroso 23
As ondas
“As ondas quebravam uma a umaEu estava só com a areia e com a espumaDo mar que cantava só para mim.”
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Mar sonoro
“Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim.A tua beleza aumenta quando estamos sósE tão fundo intimamente a tua vozSegue o mais secreto bailar do meu sonho.Que momentos há em que eu suponhoSeres um milagre criado só para mim. ”
Sophia de Mello Breyner Andresen
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Lancei ao mar um madeiro,espetei-lhe um pau e um lençol.Com palpite marinheiromedi a altura do sol. Deu-me o vento de feição,levou-me ao cabo do mundo.Pelote de vagabundo,rebotalho de gibão. Dormi no dorso das vagas,pasmei na orla das praias,arreneguei, roguei pragas,mordi peloiros e zagaias.
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Chamusquei o pêlo hirsuto,tive o corpo em chagas vivas,estalaram-me as gengivas,apodreci de escorbuto.
Com a mão direita benzi-me,com a direita esganei.Mil vezes no chão, bati-me,outras mil me levantei. Meu riso de dentes podresecoou nas sete partidas.Fundei cidades e vidas,rompi as arcas e os odres.
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Tremi no escuro da selva,alambique de suores.Estendi na areia e na relvamulheres de todas as cores. Moldei as chaves do mundoa que outros chamaram seu,mas quem mergulhou no fundoDo sonho, esse, fui eu. O meu sabor é diferente.Provo-me e saibo-me a sal.Não se nasce impunementenas praias de Portugal.
António Gedeão, In Teatro do Mundo, 1958
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VIAGEMAparelhei o barco da ilusãoE reforcei a fé de marinheiro.Era longe o meu sonho, e traiçoeiroO mar...(Só nos é concedidaEsta vidaQue temos;E é nela que é precisoProcurarO velho paraísoQue perdemos).Prestes, larguei a velaE disse adeus ao cais, à paz tolhida.Desmedida,A revolta imensidãoTransforma dia a dia a embarcaçãoNuma errante e alada sepultura...Mas corto as ondas sem desanimar.Em qualquer aventura,O que importa é partir, não é chegar.
Miguel TorgaProf. Filomena Pedroso 31
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