MARCONI

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Rua das Mercês, 8 9000-420 – Funchal Telef (+351291)214970 Fax (+351291)223002 Email: [email protected] [email protected] http://www.madeira-edu.pt/ceha/ Vieira, Alberto (1995), A Companhia Portuguesa Rádio Marconi na Madeira. 1922-1995 COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO: Vieira, Alberto (1995), A Companhia Portuguesa Rádio Marconi na Madeira. 1922-1995, F unchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira- edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/MARCONI.pdf, data da visita: / / RECOMENDAÇÕES O utilizador pode usar os livros digitais aqui apresentados como fonte das suas próprias obras, usando a norma de referência acima apresentada, assumindo as responsabilidades inerentes ao rigoroso respeito pelas normas do Direito de Autor. O utilizador obriga-se, ainda, a cumprir escrupulosamente a legislação aplicável, nomeadamente, em matéria de criminalidade informática, de direitos de propriedade intelectual e de direitos de propriedade industrial, sendo exclusivamente responsável pela infracção aos comandos aplicáveis.

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ACompanhiaPortuguesaRádio MarconinaMadeira.1922-1995 Vieira,Alberto(1995), Vieira,Alberto(1995),ACompanhiaPortuguesaRádio MarconinaMadeira.1922-1995,Funchal, CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira- edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/MARCONI.pdf,datadavisita:// RuadasMercês,8 9000-420–Funchal Telef(+351291)214970 Fax(+351291)223002

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Rua das Mercês, 89000-420 – FunchalTelef (+351291)214970Fax (+351291)223002

Email: [email protected]@madeira-edu.pt

http://www.madeira-edu.pt/ceha/

Vieira, Alberto (1995),

A Companhia Portuguesa RádioMarconi na Madeira. 1922-1995

COMO REFERENCIAR ESTE TEXTO:

Vieira, Alberto (1995), A Companhia Portuguesa Rádio Marconi na Madeira. 1922-1995, Funchal,CEHA-Biblioteca Digital, disponível em: http://www.madeira-edu.pt/Portals/31/CEHA/bdigital/avieira/MARCONI.pdf, data da visita: / /

RECOMENDAÇÕESO utilizador pode usar os livros digitais aqui apresentados como fonte das suas próprias obras,usando a norma de referência acima apresentada, assumindo as responsabilidades inerentes ao

rigoroso respeito pelas normas do Direito de Autor. O utilizador obriga-se, ainda, a cumprirescrupulosamente a legislação aplicável, nomeadamente, em matéria de criminalidade informática,de direitos de propriedade intelectual e de direitos de propriedade industrial, sendo exclusivamente

responsável pela infracção aos comandos aplicáveis.

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A COMPANHIAPORTUGUESA RADIOMARCONI NAMADEIRA.1922-1995

TEXTO: ALBERTO VIEIRA

EDIÇÃO: CPRM

CAPA E MAQUETE: ESC. RICARDO VELOSA

DISCURSOS E DOCUMENTOS: DIÁRIO DE NOTÍCIAS,JORNAL DA MADEIRA, VIA PORTUCALE E ARQUIVO DACPRM-DIRECÇÃO REGIONAL DA MADEIRA.

FOTOGRAFIA : MUSEU DE PHOTOGRAFIA VICENTES,RAUL PERESTRELO E J. PESTANA

ISBN:

DEPÓSTIO LEGAL :

FUNCHAL, 1995

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APRESENTAÇÃO

Habituados aos meandros da História, no sentido lato dos maisdiversos domínios temáticos e dentro de um maior afastamentocronológico, foi com algumas reticências que encaramos a hipótesede elaborar uma monografia sumária de uma empresa como aMarconi, de História recente mas cuja actividade tem marcado, demodo evidente, nos últimos anos a Madeira. Mesmo assimaceitámos o desafio lançado pelo Eng1 Graciano Góis, porque nosagradam novas experiências, desde que enriquecedoras para anossa faina historiográfica.

A micro-história, um campo pouco conhecido no País, assumiu-senas últimas décadas como uma via importante para a plenaafirmação do conhecimento histórico: As História de uma empresa,de uma personalidade são fundamentais para a compreensão dodevir histórico. Alguns dos grandesmestresda Historiografia o têmdemonstrado. Aqui, queremos apenas seguir o seu exemplo e fazercom que esta monografia possa revelar a vida recôndita destaempresa que é parte significativa do devir históricodo arquipélagono presente século.

Habituados que estamos a ver neste tipo de publicação uma forma,por vezes, insossade valorização da entidadeem questão,quisemoscom o presente texto mostrar que, a par disso, se pode concretizarum trabalho mais gratificante para quem o promove, elabora erecebe. O enquadramento da empresa no processohistórico, de queela é resultado e factor, foi um dos principais objectivosorientadores

Aqui, foi nossa intenção demonstrar e relevar a importância que aMarconi assumiu e continua a ter na sociedade madeirense: osfeitos relatados são prova disso e não precisamosde tais referênciasinsossas para realçar o seu protagonismo no campo dasTelecomunicações. A intervenção da Marconi,nos últimossessentaanos, transformou, em certa medida, os hábitos quotidianos dosmadeirenses. Além disso, os meios que a empresa colocouao nossodispor vieram banir todas as barreiras que definiam o casulo donosso isolamento insular.

Por fim queremos declarar que procuramos atribuir a este texto adimensão de documento-testemunho capaz de transmitir aquiloque foi e continua a ser a acção da companhia no último meioséculo de História da Madeira: aqui estão reunidos discursos,

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recortes de jornais, ilustrados com fotografias recentes e antigas,uma breve cronologia das telecomunicações, que queremosfiquempara a posterioridade como testemunho da real importância daMarconi na História madeirense. Por outro lado foi nossa intençãoconciliar também o aspecto didáctico por meio de organigramas,fornecidos pelos respectivos serviços da direcção regional daempresa, que explicitam a evolução do sistema detelecomunicações.

Ao longo deste périplo pelos meandros da História da Marconicontámos com a colaboração de alguns responsáveis dos diversosserviços da empresa e amigos, que não podemos esquecer. Emprimeiro lugar o Sr. Eng. Graciano Góis, o principal mentor daideia, que acompanhou com devota dedicaçãoeste projecto.Depoisos Srs. Eng1s Barros e Londral que nos revelaram os segredos dastecnologias disponibilizadas pela empresa, por meio da elaboraçãodos organigramas explicativos sobre o equipamento.

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MARCONI

E AS

TELECOMUNICAÇÕES

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"Os meus esforços permitiram a milhões de seres humanos viver aum nível inatingível noutras condições. Pode acusar-se a máquinade ser em certo grau, a causa de excessiva produção. Talvez. Masnão é menos verdadeiroque os habitantes de Londres,por exemplo,não poderiam trabalhar como hoje fazem se não dispusessem dotelefone e do telégrafo" (Marconi, 1933).

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No presente momento o acto de comunicar faz parte do nossoquotidiano. Para isso a tecnologia colocou ao nosso disporinúmeros meios que o facilitam e fazem dele um dos aspectos maisevidentes deste final do século vinte. Eles destronaramas inúmerastorres de Babel e fizeram com que o mundo se reduzisse a umaaldeia, onde todos se intercomunicam, ainda que anonimamente.

São múltiplos os inventos do Homem que deram a verdadeiraexpressão ao acto de comunicar. Por muito tempo a comunicaçãosópodia fazer-se por meio da escrita ou sinais sonoros e visuais. Mas,passados alguns séculos sobre esta realidade, eis que aparece apossibilidade de comunicar por meio do sistema electromagnéticoou por ondas hertzianas: a Telegrafia com ou sem fios, o cabosubmarino, e, mais recentemente, o satélite, foram os meiosnecessários a tal revolução no acto de comunicar. A eles vieramjuntar-se os instrumentos de comunicação, que cada vez mais seaperfeiçoam: a rádio, o telefone, a televisão, o telex, o fax (...).

O sociólogo canadiano Marshall Macluhan foi quem primeirochamou a atenção para a importância dos meios e técnicas queasseguram a transmissão das mensagens. Segundo ele os mesmosexercem um efeitomuito maior que a própria mensagem.Macluhandefiniu três estádios para a evolução do sistema técnico de difusãoda mensagem: a sociedade tradicional e tribal, as galáxias deGutemberg e Marconi. As duas últimas marcaram de formaevidente a difusão da mensagem. Aqui os inventos de Marconitiveram um efeito espectacular ao propiciarem uma rápida e eficazdifusão da mensagem. A tão propalada "aldeia global", tambémdefinida por este sociólogo, é o resultado disso.

Para um espaço insular como a Madeira o acto de comunicar, pelafruição destes meios, apresenta-se vital, sendo imprescindívelparaabater as barreiras geográficas, que definem a insularidade. É porisso, que hoje fazemos parte dessa "aldeia global", dispondo dealguns dos meios mais sofisticados de comunicação.

Todo este serviço com o exterior é garantido pela CompanhiaPortuguesa Rádio Marconi, que desde 15 de Dezembro de 1926iniciou as actividades na Madeira: começou com o TSF, mas hojeoferece aos madeirenses uma multiplicidade de serviços, atravésdoseu Centro de Telecomunicações do Funchal.

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Ontem como hoje as comunicações são um factor de desen-volvimento económico e social. Mas enquanto no passado era asituação económica das regiões e a conjuntura emergente das áreasem que se inseriam que quebravamo isolamento, mercêda atracçãoque exerciam sobre os potenciais interessados no comércio econsumo dos seus produtos, hoje a sua implementação é resultadode um compromisso político-social, um serviço prestado às regiõesperiféricas, que resulta num factor de franco progresso social eeconómico.

Hoje dispomos de uma avançada tecnologia que torna possível arecepção da nossa voz e imagem em qualquer parte do mundo e,por isso mesmo, nos esquecemos das dificuldades que sentiram osnossos antepassados para saírem do casulo madeirense. Por isso,aqui apresentamos, numa breve síntese a situação dascomunicações da Madeira desde o século XV até à actualidade,donde se destaca a função primordial da ilha no espaço atlântico,função que só a hodierna geração espacial do satélite e da aviaçãoretiraram.

Para um espaço como a Madeira, isolado no meio do oceano,comunicar foi sempre uma necessidade imperiosa das suas gentes.Mas, se na actualidade a tecnologia das telecomunicações permiteum contacto imediato com o exterior, tempos houve em que estasligações só seriam possível após alguns dias e, por vezes, meses deperipécias no vasto mar oceânico. No século XV as ligações com oreino só se tornavam possíveis apenas em seis meses do ano,demorando a viagem cerca de uma a duas semanas. Já nos finais doséculo dezanove a viagem do navio Priscilla, que saiu da Madeiracom destino ao Hawaii durou cento e vinte dias.

Estas dificuldades nas comunicações, que durante muito tempo sefizeram única e exclusivamente por via marítima, não sãofacilmente perceptivas à maioria de todos nós habituados àscomodidades da actual tecnologia das comunicações, que vai doavião ao mais sofisticado sistema de telecomunicações.

Mesmo assim nos séculos que nos antecederam a Madeira foi umespaço privilegiado a esse nível. Para isso terão contribuído algunsfactores, sendode consideraras condiçõesfavoráveis do oceanoquea circunda e as condições económicas da ilha, resultantes da culturada cana sacarina e da vinha: o mar ao mesmo tempo que separa a

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ilha une-a aos mais diversos portos costeiros, tendo sido até aopresente século o meio privilegiado de ligação com o exterior; osprodutos, o ouro arrancado à terra, desperta a atenção dosaventureiros do atlântico e fazem do Funchal um dos principaisportos de comércio e navegação. Uma e outra situaçãocontribuírampara que a ilha quebrasse o isolamento definido pelo oceano e semantivesse um assíduo contacto com o velho continente europeu eo novo mundo.

Já nos alvores do século XV a coroa definira em 1443, segundoopinião de Zurara, o Funchal como principal entreposto de escala eapoio à navegação lusíada no Atlântico. Ao longo dos séculosXVI eXVII as novidades e contactos com a Europa são resultado dafrequência de navegadores, expedicionários e mercadores queescalavam periodicamente o Funchal. A chegada de umaembarcação era sempre alvo da curiosidade dos presentes no calhauou daqueles que dos terraços das suas casas as conseguiam avistar.As torres avista navios são o testemunho dessa ancestral miragemoceânica.

A situação manteve-se por largos séculos e só foi quebrada com aafirmação da máquina a vapor na navegação e a crise do comérciodo vinho. Desde então, a Madeira perdeu o convívio com as gentesdo mar e acentuou-se o isolamento, só quebrado com a afirmaçãodo turismo terapêutico, da afirmação da cidade do Funchal comoestância de aclimatação para os colonialistas britânicos e odesenvolvimento da telegrafia sem fios.

Também a posição privilegiada da Madeira, no caminho para aMadeira ou a América, fez com que assumisse uma função primor-dial na rede de cabos submarinos. Foi a partir da ilha que sefizeram em 1874 as primeiras ligações transatlânticas. Todavia oincremento deste meio em princípios do nosso século veio aconfirmar o Porto da Horta (Faial-Açores) como o principal eixo doemaranhado de cabos que estabeleciam as ligações entre ocontinente americano e a Europa: para o período de 1893 a 1928estão registados 15 cabos que amarravam ao referidoporto.Mas, naactualidade, a Madeira volta a assumir de novo o protagonismooitocentista afirmando-se com um importante nó de comunicações,via cabo submarino, no espaço banhado pelo Atlântico.

Para o necessário enquadramento do historial da C.P.R.M. naMadeira considerámos necessário estabelecer as principais linhas

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mestras desta galáxia da comunicação no arquipélago em que aC.P.R.M. foi o principal e, por muito tempo, único protagonista.Deste modo optámos por estabelecer um pequeno historial dosmeios postos à disposição do homem para o acto de comunicar emque inserimos a situação da Madeira. E só depois falaremos daC.P.R.M. e das concretizações e actuais meios que a empresa colocaà disposição do madeirense.

Já atrás o dissemos que o acto de comunicar é uma necessidadebiológica, nasceu com o Homem, e foi ele o principal obreiro dasmúltiplas cambiantes que o mesmo tem tido. Mas a comunicaçãotem muitas expressões de acordo com a distância a que seencontram os dois interlocutores: o emissor e receptor. Astelecomunicaçõesexpressamum distanciamento expressivoentreosdois factores deste acto.

De início a comunicação a longa distância a partir desta formafazia-se por intermédio de meios pouco adequados mas capazes decumprir a sua missão. Eram os sinais sonoros ou visuais, que apartir de um código preestabelecido, tornavam o acto possível.Dizem os anais de História que teria sido Plínio quem nos deu aconhecer em 100 A.C. o sistema de transmissão por combinaçõesdeluzes, que teve a primeira aplicação prática no exército deAlexandre, o Grande. Todavia os grandes aperfeiçoamentos dosistema tiveram lugar muito mais tarde,sendo obra de Lippershem,Galileu e Kipler. Ele manteve-se até finais do século XVIII, alturaem que os irmãos Chappe, em França, criaram o primeiro sistemasemafórico, cujo princípio estará na origem do telégrafo (1844).Ambos foram também aplicados em Portugal e na Madeira, servin-do de meio de comunicação das embarcaçõesentre si, com os portose entre os vários núcleos de povoamento.

Uma das principais utilidades deste sistema foi no aviso dapresença de corsários, prontos a assaltar barcos e povoações. Desdeo início da ocupação da ilha que os seus habitantes estiveramexpostos ao livre arbítrio de piratas e corsários. Eles frequentavamcom assiduidade o mar madeirense e apresentavam-se como umapermanente ameaça para as populações costeiras. Ficaram célebresos assaltos dos franceses em 1566 ao Funchal e dos argelinos em1616 ao Porto Santo. Perante esta permanenteameaçafoi necessárioestabelecer medidas de vigilância e protecção. No primeiro casodestacam-se as vigias colocadas em locais estratégicos ao longo davertente sul da Madeira, onde permaneciam turnos de guarda. A

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presença de um navio estranho,indiciador de um pirataou corsário,era de imediato avisado aos comandantes das ordenanças que deimediato reuniam as hostes por meio de um sinal sonoro: o repicardos sinos da igreja ou o toque do tambor. Todavia as demaispopulações costeirasprecisavam tambémde ser avisadosde modo apoderem preparar a defesa. Para isso definiu-se em toda a ilha umsistema de comunicação por sinais luminosos (os fachos), quecirculavam ao longo da orla costeira, por intermédio das elevaçõesque propiciavam este contacto. A rede terminava no Pico da Cruz,em S. Martinho, que foi conhecido como o Pico Telégrafo. Daíresultou a designação de Pico do Facho às elevações onde se faziamos sinais luminosos. Com este nome surgem-nos dois picos noPorto Santo e na Madeira (em Machico). A forma de organizaçãodesta comunicação por sinais ópticos é-nos apresentada em 1805pelo governador D. Diogo Pereira Forjaz Coutinho num regimentoque estabeleceu para tal fim.

Como é óbvio o sistema não permitia uma perfeita e total comuni-cação entre os dois interlocutores actuando apenas como meio deaviso rápido e eficaz. A par disso, inúmeros obstáculos secolocavam à sua concretização, numa ilha marcada pelo acidentadodo terreno. Estas dificuldades só podiam ser ultrapassadas com oaparecimento de um novo meio de comunicação, no caso o telégrafoeléctrico, surgido em 1837. Foi neste ano que William Cooke eCharles Whatstone registaram a patente. Aqui há a considerar aTelegrafia com fios e sem fios, sendo de destacar na primeira a quese realizava por via terrestre ou marítima (=cabo submarino). Osistema de telegrafia com fios surgiu em Portugal a partir de 1855,mas só em Agosto de 1873 se procedeu à sua instalação na Madeira,por meio de uma linha que ligava o Funchal à Ponta do Sol e, noano imediato, com a Ponta do Pargo e Machico.

O facto de em 10 de Março de 1876 Alexandre Bell ter patenteado onovo invento (o telefone) veio a tornar obsoleto o sistema detelegrafia. Todavia ele em chegar à Madeira: em 1881 foi concedidoo alvará de exploração à companhia Edison Gower Bell Companypara a rede de Lisboa, mas só em 1911 é que os madeirensespuderam usufruir dele. A primeira ligação telefónica teve lugar a 6de Outubro entre o Governador e o Diário de Notícias, que tinha onúmero 32. Entretanto no ano imediato a Câmara solicitava oalargamento a toda a ilha, o que só foi conseguido nos quarentaanos que se seguiram.Para as ligações com o exterior continuou a manter-se o sistematelegráfico e o usufruto do mesmo sistema, por meio do TSF ou

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cabo submarino, que teve lugar muito mais cedo, mercê do facto dea ilha se situar num eixo importante das comunicações com o conti-nente africano.

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O CABO SUBMARINO

A ideia do cabo submarino havia sido sugerida em 1795 pelocatalão Salvat numa comunicação sobre o uso da corrente eléctricapara transmissão à distância, apresentada à Academia de Ciênciasde Barcelona. Três anos mais tarde era lançado em Madrid oprimeiro circuito com 44 km, mas só a partir da década de quarentada centúria seguinte este meio ganhou novo incremento. Para issoterá contribuído o facto de o português José de Almeida ter trazidoda Malásia para a Europa a gutta-percha, apresentada em 1843 naRoyal Asiatic Society de Londres. Este produto passou a serutilizado como isolador dos cabos submarinos a partir de 1845.

O período que se sucede foi marcado por múltiploslançamentos docabo e pela criação de companhias para a sua exploração. Em 1856surge a Atlantic Telegraph Company e em 1783 a BrazilianSubmarine Telegraph Co. A última foi responsável pelo lan-çamento e exploração de um circuito entre Portugal e o Brasil compassagem pelo Funchal e S. Vicente (Cabo Verde).

A imersão do cabo começou a 28 de Agosto de 1873, sendoexecutada pelo vapor inglês Seins. A 19 de Março de 1874 estavaconcluída a ligação com o Funchal, estabelecendo-se de imediato aprestação do serviço público. A ligação entre as ilhas da Madeira eS. Vicente foi realizada pelo vapor Hibernia, ficando concluído em11 de Março de 1874, altura em que foram trocadostelegramasentrea Câmara de S. Vicente e a sua congénere no Funchal.

Em Janeiro de 1876 rebentou o cabo no percurso de Lisboa aoFunchal, o que levou a companhia a propor o lançamento de outro,concretizado em 1882, mas com o dobro dos circuitos.

A partir de 1889 a companhia de exploração do cabo passou achamar-se Western Telegraph e foi ela a responsável pelolançamento de outro em 1901. Entretanto em 1947 foi estabelecidoum novo cabo entre Gibraltar e o Funchal e, finalmente, em 1972era inaugurada uma nova geração de cabos por iniciativa daMarconi. A companhia inglesa do cabo submarino havia encerradooficialmente as instalações a 31 de Dezembro de 1970.

A GALÁXIA DE MARCONI

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A afirmação do cabo submarino como meio privilegiado decomunicação com o exterior foi de vida efémera. A concorrência datelegrafia sem fio, mercê dos progressos técnicos gerados porMarconi, a afirmação do correio aéreo, associados à depressão de1929 conduziram a que este meio se tornasse obsoletoe de elevadoscustos, dando lugar a uma complexa rede de T.S.F. Este foi oprimeiro passo para um rápidoenlacede todo o mundo,conseguidoem pleno na actualidade com a geração dos satélites.

Não obstante as primeiras experiências de rádio serem de 1825, foiem finais do século dezanove, com Guilherme Marconi, que sederam os grandes progressos na transmissão pela Telegrafia semfios. Foi em 1896, após um ano de experiências, que o mesmoregistou em Londres a patente, criando no ano imediato a WirelessTelegraph Company.

A conjuntura da primeira metade do século foi favorável ao rápidodesenvolvimento da T.S.F. A primeira guerra mundial (1914-1919),os conflitos militares isolados, como o dos boers na África do Sul,criaram a necessidade de um rápido e eficaz sistema decomunicações, só possível com a telegrafia sem fios. A utilização, apartir de 1905, do rádio nas comunicações militares, e a acuidadedestes conflitos nos primeiros decénios da presente centúriatraçaram o caminho para a plena afirmação das comunicações viarádio. Foi Marconi quem durante a guerra divulgou no seu país oserviço de telegrafia e telefonia.

Entretanto o invento patenteadopor Marconiia dando os primeirosresultados. Dos iniciais 4 km de comunicação passou-se para os 400km e para a total cobertura do mundo. As experiências realizadasentre Julho e Dezembro de 1902 a bordo do vapor Carlos Albertolevaram ao desenvolvimento do sistemade transmissão em morse ea recepção telefónica de ondas, que lhe proporcionaram em 1902 atransmissão da primeira mensagem radiotelegráficaentreo Canadáe Inglaterra, e no ano imediato com os USA. A 16 de Setembro de1906 foi inaugurado o primeiro serviço radiotelegráfico regularentre a Europa e a América.

Os benefícios deste novo sistema de comunicações tornam-seevidentes na guerra ou no salvamento de embarcações naufragadas,como sucedeu em 1909 com os vapores Florida, e Republica e em1912 com o grande paquete Titanic.

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Em 1916 Marconi apresentava o primeiroaparelhode Telefoniaporondas curtas e contribuía, decisivamente, para o progresso dascomunicações a longa distância, e a afirmação de uma nova realida-de que marcou a sociedade mundial a partir da década de vinte.Foram os anos da rádio: primeiro nos E.U.A. desde 1914, depois naEuropa com a BBC (1922). Após isso o inventor desenvolveu asinvestigações sobre o sistema de ondas curtas, servindo-se, para oefeito, do vapor Electra. Deste modo em Maio de 1924 transmitiapela primeira vez a voz humana por meio da radiofonia entre aInglaterra e a América.

A descoberta do TSF, patenteada em 2 de Junho de 1896, colocou-oentre as personalidades ilustres e mais badaladas da primeirametade da presente centúria, e levou-o ao panteãodo prémioNobelao receber o respectivo da Física em 1909. O iate Electra, o seumundo ambulante, consideradopelos italianos"nave del miracolo",tornou-se no centro de experiências, enquanto Roma e Londresfuncionavam como o meio de concretização técnica dos inventos,por meio da companhia que criara em Julho de 1897.

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GUGLIELMO MARCONI NA MADEIRA

Entre as primeiras experiências em 1896 e a generalização do uso doTSF nas comunicações marítimas, terrestres e aéreas,desde 1913-14,medeia um curto espaço de tempo, pelo que estes anos e ossucedâneos foram de intensa actividade para o cientista. Destemodo entre 1922-24 devassou o Atlântico, desde Cabo Verde, aosAçores e à Madeira, no sentido de encontrar uma soluçãoadequadaà dirigibilidade das ondas de pequena extensão: de 17 a 18 de Julhode 1922 esteve na Horta (Faial-Açores) e de 25 de Agosto a 2 deSetembro de 1924 passou pela Madeira.

Esta curta estânciana Madeiraenquadrava-se no plano de experiên-cias traçado para o mesmo ano que o levou também a Lisboa, CaboVerde e Gibraltar. Foram três meses de demoradas pesquisas quecontribuíram para a solução das principaisdificuldadesresultantesda comunicação rádio eléctrica. Deste modo no seu regresso aLondres, a 3 de Novembro, deu início à construção da primeiraestação equipada com o novo invento.

Marconi chegou à Madeira na madrugada do dia 26 de Agosto e cápermaneceu até ao dia 2 de Setembro. O seu iate Electravinhasob ocomando do oficial da marinha italiana Comandante Lauro eacompanhavam-no nestaviagem a mulhere filha. Aqui,no Funchalprocurou acolhimento no Hotel Reid's,onde constaa sua assinaturano livro de honra de hóspedes. Durante esta curta estância na ilhadeu continuidade às experiências, tendo, também, aproveitado opouco tempo disponível para visitar a cidade de automóvel, o quesegundo os jornais da época foi alvo da curiosidade de muitostranseuntes. Todavia a imprensa local deu pouca atenção à suapresença, noticiando laconicamente a chegada e partida. Apenas oDiário de Notícias na edição de Domingo do dia 31 de Agostotranscreveu na primeira página uma entrevista que Marconiconcedera ao "Século" de Lisboa, no dia 23 sob a epígrafe: "Asgrandes celebridades. Marconi na Madeira".

Sabemos que o mesmo estivera no Porto Santo e que no Pico doCastelo teria feito algumas experiências, mas mais uma vez a nossaimprensa ignorou o feito, empenhada que estava na difícilconjuntura política e económica em que a ilha estava submersa. Ainexistência de uma biografia completa e do seu livro de memórias,o esquecimento da imprensa e o desinteresse dos testemunhospresenciais, impedem-nos de conhecer e divulgar com pormenor a

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sua breve estadia na Madeira: apenas o testemunho documental élegítimo enunciar.

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A COMPANHIA DE MARCONI NA ILHA

A ligação de Marconi à ilha ficou apenas testemunhada, até à suamorte em 1937, por esta efémera passagem em 1924. Mas aconcretização em 1926 de uma estação de TSF no Caniçal, trouxe denovo a este rincão o seu nome, através dos inventos e de umadelegação da empresa criada em Setembro de 1922 para prover oterritório nacional de uma rede de TSF.

Esta presença foi evidente a partir de 15 de Dezembro de 1926, datamemorável para os anais da firma, que marcam o início deactividade em Portugal e também a afirmação da TSF emdetrimento do cabo submarino, que entra na curva descendente.Desde então a concorrência entre os dois meios de comunicaçãodominará o panorama regional até que a companhia do cabosubmarino encerra em 1970 os seus serviços na ilha, ficando aC.P.R.M. com o exclusivo das comunicações por TSF e cabosubmarino. A viragem não foi pacífica, manifestando-se através deuma concorrência entre os meios de transmissão de telegramas porTSF e cabo submarino. Uma das primeiras consequências foi aredução das taxas cobradas por palavra na emissão de telegramas.

Em 1942 a via Portucale confirma a supremacia do TSF. A derrotado cabo submarino na guerra de comunicação era evidente: o caboestava velho e sujeito a constantes e custosas reparações, asdespesas de manutenção eram elevadas, não podendo o cabo, destemodo, competir com o seu concorrente a TSF.

A 16 de Outubro de 1927 a Western Telegraph Co. encerrou o seuHotel e escola em Santa Clara. O cabo submarino, entretantoprecisava de ser substituído em face da idade e dos constantesreparos a que foi sujeito em 1928, 1931,1933, 1934, 1936.A sua mortefoi protelada em 1929 com o estabelecimento de um pacto decolaboração entre as duas companhias. Mas, aos poucos, acompanhia do cabo submarino ia perdendo o controlo daexploração no espaço português: em 1943 era estabelecido umacordo telegráfico com o Brasilque dava uma posiçãoprivilegiadaàMarconi, enquanto em 4 de Abril de 1969 no acordocelebradoentreo governo português e a The Western Telegraph Company e aCable and Wireless Limited não lhe é concedido qualquerexclusivo. O governo português reservava-se o direito deestabelecer e explorar, directamente ou mediante concessão, outrocabo submarino, ou quaisquer sistemas de telecomunicações.

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Vingou a última situação com a concessão à Marconi do direitoa 11de Agosto de 1966, de que resultou a inauguração da estação decabo submarino de Sesimbra, que estabelecia a ligação entreLondres e a África do Sul.

Os reflexos das descobertas de Marconi chegaram a Portugal porintermédio da companhia, Marconi Wireless Telegraph Co. Ldt. aquem o governo português concedeu a 22 de Agosto de 1922 aexploração, por um período de quarenta anos, da rede de rádiotelegráfica nacional. A 14 de Setembro do mesmo ano foiconstituída a empresa em Portugal e a 15 de Dezembro de 1926eram inaugurados os primeiros serviços de TSF de ligação docontinente com a Madeira, Açores e Inglaterra. Entretanto em 1966foi feita nova concessão por 25 anos, sendo a prestação de serviçosalargada ao cabo submarino de que resultou o aparecimento denovo cabo no Funchal em 1970.

Note-se que as transmissões da telegrafia sem fios na Madeira nãose iniciaram em 1926 com a estação da Marconi do Caniçal, pois noperíodo da primeira guerra mundial os ingleses haviam já criadoum serviço na Quinta Santana(espaço do actualhospitaldo Dr. JoãoAlmada), que encerrou as suas actividades em 2 de Abril de 1919. Omaterial ficou na ilha sendo usado na montagem de uma novaestação no 11 andar de um edifício da Rua de João Gago onde estavainstalada a Estação Telegráfico-Postal do Funchal.

As obras da primeira estação da Marconi ficaram concluídas em 31de Maio de 1922, iniciando-se as emissões no dia imediato. Asprimeiras comunicações foram com Las Palmas e depois com ovapor inglês Kenil Worth Castle. Esta estação fora criada pordespacho publicado no diáriodo governo em 26 de Julho. Todaviaapretensão dos madeirenses era a de uma estação telegráfica maisadequada, integrada na rede estabelecida para todo o País,aprovada na Câmara dos Deputados em 21 de Agosto de 1922.

Note-se que em 20 de Agosto o jornalista do Diário de Notíciasreclamava a montagem de uma estação telegráfica no Funchal,parao necessário apoio à navegação, uma vez que a existente cobria umraio de acção de apenas 400 milhas. Entretanto em 1926 a estaçãodoFunchal estava situada no Pico Rádio, mas com a entrada emfuncionamento a 4 de Novembro da estação do Caniçal todo oserviço marítimo passou a ser assegurado por esta.O desenvolvimento dos meios de comunicação por meio de ondaselectromagnéticas iniciou-se em 1924, tendo-se alcançado alguns

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progressos nos anos de 1935-38, que levaram ao início das emissõesregulares de televisão em Londres a partir de 25 de Agosto de 1938.Note-se que algumas das experiências que conduziram à afirmaçãoda televisão tiveram lugar na Madeira em 1936 por iniciativa de W.L. Wrigth. Todavia a televisão só chegou aos lares madeirenses emépoca muito recente, se exceptuarmos a recepção da de Canárias.

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OS ANOS DA RÁDIO

Os anos vinte foram de autêntica euforia das ondas eléctricas. Operíodo de 1920 a 1926 foi de perfeita loucura nos Estados Unidos,que levou o governo a estabelecer em 1926 uma legislação especialpara disciplinar o espectro rádio-eléctrico. Esta vaga chegou àMadeira a partir do Verão de 1927, pois foi a partir de então quevimos referenciados os primeirosanúncios para a venda de materialde telefonia da Marconi e Sterling.

As primeiras recepções de rádio tiveram lugar a partir do anoimediato, enquanto em 1929 se dava os primeiros passos de umaemissão com a onda de 47 metros. Para isso deverá ter contribuído apresença de Alberto Carlos de Oliveira, funcionário da empresa docabo submarino. Ele havia iniciado em 1914 em Cabo Verde asprimeiras comunicações com os navios do alto mar. Em 1920 foitransferido para a delegação da empresano Funchale aqui manteveas experiências, tendo ensaiado em 1925 a transmissão com umemissor de lâmpadas em ondas curtas. Foi assim que se gerou naMadeira uma verdadeiraaficcion pelo semfilismo que perduraaté àactualidade.

A partir de 1930 aumenta o interesse pela rádio na ilha, sendoevidente a publicidade nos periódicos às diversas emissões emonda curta que seria possível sintonizar. Em 1935 era instaladonuma casa particular do Estreito de Câmara de Lobos um aparelhode Telefonia tendo como objectivo propiciar diversão à populaçãoda localidade. Neste momentoa recepçãode programasde rádio eravariada, vindo de Madrid, México, Marrocos, Vaticano, Suiça, Riode Janeiro e Moscovo.

Ao nível local, seguiram-se várias emissões experimentais - rádioemissor CT3 AQ (Rádio Eddystone), CT3 AI, CT3 AR, que levaramà abertura da primeira estação de rádio: o Rádio Clube da Madeira,que começou as emissões em 25 de Maio de 1937, que só veio areceber o alvará a 4 de Janeiro de 1948. Entretanto em 28 deDezembro iniciaram-se as experiências do emissor regional daEmissora Nacional que fez a primeira emissão em 20 de Maio.

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A GERAÇÃO DO SATÉLITE

A partir dos finais da década de cinquenta iniciou-se nova revo-lução nas tecnologiasdas telecomunicaçõescom o desenvolvimentodos satélites. Depois do Sputnik, lançado em 1957 pelos russos. Aevolução deste meio foi rápida, sendo de referenciar as iniciativasda NASA, a partir de 1958. Em 10 de Julho de 1962 o Telstar I emitiaos primeiros sinais electromagnéticos, iniciando-se em 1965 asemissões regulares de Televisão.

Portugal entrou também na geração dos satélites em 1974 com aentrada em funcionamento de três estações terrenasde tipo IntelsatIV - A. (Sintra, Angola e Moçambique). A estas vieram juntar-semais duas: em 1977 a de Ponta Delgada (Açores) e em 1982 a doFunchal.

Hoje o total domínio ao nível das vias de informação está nosatélite, meio rápido e eficaz de comunicar entre os quatro cantosdo mundo. E é por meio dele que o mundo, que aos portugueses doséculo XV se apresentava na sua vastidão e dificuldade decomunicação, se tornou numa aldeia. A par desta imprescindívelfunção de comunicar o satélite oferece-nos ainda, através do sinalde TV, múltiplos canais de diversão levando à plena afirmação deuma Televisão sem fronteiras.

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A COMPANHIA PORTUGUESA RADIO MARCONI

"A Marconi, nascia e haveria de desenvolver-se, sob o signo derenovação e do aperfeiçoamento técnico".

(Discurso do Secretário de Estado das Comunicações Eng. OliveiraMartins no momento da inauguraçãoda estaçãodo cabo submarinodo Porto Novo em 1 de Setembro de 1971).

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O Historial da CPRM em Portugal estende-se por mais de meioséculo, sendo rico em realizações que fizeramdesterincãoocidentalum espaço aberto e em contacto permanente com o mundo. Aposição charneira de Portugal continental e das ilhas doarquipélago da Madeira e dos Açores fez com que este eixo seafirmasse importante no domínio das telecomunicações.

Havia uma tradição secular que perpetuaraa funçãodeste triângulonas comunicações atlânticas, posição reforçada a partir de finais doséculo dezanove com o incremento das telecomunicações. O cabosubmarino, a TSF, e o satélite vieram a atribuir-lhe uma nova erelevante missão.

A Companhia Rádio Marconi foi constituída em 20 de Junho de1897, mas só em 1922 a empresa chegou a Portugal onde se tornoupioneira na prestação do serviço de telecomunicações: pela lei n1.1353 de 22 de Agosto de 1922 o governo foi autorizado a contratarcom a Marconi Wireless Telegraph Company Ltd. oestabelecimento de uma rede radiotelegráfica. Todavia nesta leiestabelecia-se como cláusula contratual a obrigatoriedade daempresa constituir uma congénere nacional, até ao fim do ano.

A constituição teve lugar em 14 de Setembro e em 8 de Novembrofoi assinado o acordo de concessão do serviço público da rádiocomunicações da C.P.R.M., ficando ela com o direito de exploraçãodos serviços entre o continente, a Madeira, os Açores, ProvínciasUltramarinas e o estrangeiro, por um período de quarenta anos.Novos contratos foram assinados em 23 de Abril de 1930, 20 deNovembro de 1956 e 23 de Abril de 1966. No último foi ampliada aconcessão ao serviço de cabo submarino e o prazo prorrogado pormais 25 anos. Situação que vigora na actualidade.

Durante o período da primeira concessão a Marconi empenhou-seno estabelecimento de um serviço nacional e ultramarino: a 15 deDezembro de 1926 a inauguração das instalações em Lisboacoincidiu com a abertura dos circuitos radiotelegráficos entre ocontinente e as novas estações telegráficas do Funchal e PontaDelgada. Nos anos imediatos, para além da prestação de novoserviço (o radiotelefone) tivemos a abertura de novos circuitos com

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as possessões ultramarinas: em 1927 com Cabo Verde, Angola eMoçambique e, depois, com Macau (1939), Goa (1938), S. Tomé(1949), Timor (1950) e Guiné-Bissau (1959). Com estas iniciativas aMarconi dava corpo à unidade do espaço metropolitano e colonial.

A segunda fase de concessão, iniciada em 1956, é definida pelorecurso a novos e mais adequados meios de comunicação. Nadécada de sessenta foi a reafirmação do cabo submarino com ainauguração da estação de Sesimbra em 11 de Agosto de 1969. Esteserviço (Sat 1) divergia para uma ligação de Londres a Portugal e àÁfrica do Sul num comprimento total de 10.787 Km e comcapacidade para 360 circuitos. Ao longo do percurso estabeleceram-se três amarrações (Tenerife, Sal e Ascensão). Seguiram-se outrosque estabeleceram a ligação com a Madeira (1971), França (1979),Portugal/Senegal/Brasil (1982), Marrocos (1982) e África do Sul(1992).

Em 1964 foi criada nos Estados Unidos a Intelsat (OrganizaçãoInternacional para a Exploração de Telecomunicações por Satélite),mas Portugal só aderiu à organização em 1971, de modo que oprimeiro serviço só foi instalado em 1974. Na estação terrena deSintra estabeleceram-se os primeiros contactos com Angola eMoçambique e só depois com os Açores (1917) e a Madeira (1982).Em Sintra encontram-se quatro estações para o serviço de satélitesdisponíveis: Intelsat, Eutelsat, Inmarsat.

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A MARCONI NA MADEIRA

Até à inauguração do serviço rádio telegráfico da Marconi em 15 deDezembro de 1926 todo o serviço de comunicação entre a ilha e oexterior fazia-se por cabo submarino ou por uma incipienteestaçãode TSF, montada em Junho de 1922 na estação RádioTelegráfica doFunchal, situada na Rua de João Gago. Todavia um mês depoischegava ao Funchal o equipamento necessário para a montagemdanova estação rádio telegráfica da Madeira, que ficou instalada noCaniçal. Os trabalhos continuaram em ritmo acelerado e em 10 deJulho de 1926 o superintendente da estação de Lisboa, João MariaCarneiro, faz a primeira inspecção ao posto do Caniçal, onde sedavam os últimos retoques na instalação das antenas eequipamentos. Finalmente a 4 de Novembro estavam por concluí-dos os trabalhos,podendo a estaçãoreceberas primeirasmensagense estabelecer contactos com o exterior. Durante o dia dez ostelegrafistas mantiveram contactos com inúmeros vapores quecirculavam nas águas do oceano, próximas da Madeira.

A abertura do serviço da Marconi na Madeira surge num momentode grandes dificuldades económicas, agravadas com a crise docomércio do bordado e de encerramento de algumas casasbancárias. Os prenúncios da crise que assolou o estado americanoem 1929 eram já evidentes neste ano e conduziram ao processoconhecido como revolta da Madeira.

O serviço da estação de TSF da Marconi era feito com extremadificuldade devido às difíceis condições de acesso ao local ondeestavam instaladasas antenase a inexistência de pessoalhabilitado.O acesso às referidas instalações era muito mais fácilpor via maríti-ma do que pelos caminhos íngremes que circundavam as serrasentre Machico e o Caniçal. Deste modo a empresa tinha ao seudispor na vila de Machico uma embarcação a remos quetransportava os técnicos e operadores. Eles, de um modo geral,viviam no Funchal e deslocavam-se para aí, no início, de barco e,depois nos transportes públicos disponíveis.

A estação encontrava-se isolada e por isso mesmo havia-se insta-lado aí os meios para que os funcionários da empresa se pudessemmanter por uma semana a quinze dias. Para além das instalações derádio telegrafia existiam quartos de dormir, cozinha e refeitório. Aalimentação dos funcionários baseava-se em peixe seco e carne

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salgada, que adquiriam na vila vizinha do Caniçale de produtosdaprodução própria do local: aí plantavam leguminosase tratavamdecoelhos e galináceos.

O testemunho presencial do senhor Germano da Costa Campos,funcionário que entrou ao serviço como telegrafista em Outubrode1927, traça-nos, de forma emotiva, os primeiros anos de vida daMarconi na Madeira. Numa prolongada conversa que tivemosoportunidade de presenciar em Lisboa, ficamos a saber dasdificuldades e da monotonia do dia-a-dia na estaçãodo Caniçal,dasdificuldades para aí chegar e da vida de boémianos sarausmusicaisdos casinos e salões madeirenses da época, no períodode descanso.Foi desta verdadeira aventura, a exigir um redobrado esforço doHomem, que a Madeira perdeu o isolamento, através dos serviçosde TSF da Marconi.

As antenas e a estação estavamcolocadasnum extremoda ilha, localcom melhores condições de recepção e emissão para os meiostécnicos da época, mas o principal destinatário estava no Funchal.Deste modo entre as duas localidades existiam fios telegráficos decomunicação que percorriam mais de cinquenta quilómetros. Ocentro estava instalado na estação telegráfica postal da Travessa doCabido. Todavia a partir de 1927 foi negociado com os correios etelégrafos a instalação de um posto da Marconi nesta estação.Aí foiinstalado em Setembro de 1927 um aparelho de comunicaçãopermanente com o Caniçal. Em face disto melhoraram os serviçosde atendimento ao público, que passaram a ser feitosininterruptamente, só fechando aos sábados, domingos e feriados,mas em 4 de Fevereiro de 1931 ficará aberto todos os dias.

Durante os 42 anos de existência este serviço de radiotelegráficofixo da Marconi foi alvo de múltiplas transformações, sendo asmais significativas operadas em 1947 com a oferta do serviçoradiotelefónico a partir da estação do Garajau. Os esquemas,preparados pelo engenheiro Barros, elucidam-nos sobre a formacomo se processavam estas comunicações.

As telecomunicações implantam-se para serviçoda sociedade, ondeelas se mantêm como o cordão umbilical que mantêm a ancestralligação ao velho continente e espaço envolvente. A TSF, activa asvinte e quatro horas do dia, é a voz permanente do madeirenseanónimo, das autoridades locais, dos veraneantes e estrangeiros depassagem e a única bóia de salvação para as embarcações em

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dificuldades. Pelos transmissores de faísca e depoiselectromagnéticos perpassam todos estes problemas.

O operador, o boletineiro são correias de transmissão do circuitomas alheios a tudo isso que as suas mãos movimentam. Apenasquando a situação atinge os limites e passapara o lado da anormali-dade então os operadores, meros agentes passivos, passam a seractivos protagonistas. Assim sucedeu em Abril de 1931 com acélebre Revolta da Madeira, em que pela primeira vez foi posta aprova a funcionalidade e importância da Marconi nas transmissõesa longa distância, através da estação de TSF do Caniçal. Quando a 4de Abril rebentou a revolta o cabo que ligava o Funchal a Lisboaemudeceu e por isso a única via de contacto com o exterior eram asondas electromagnéticas emitidas pela estação de TSF da Marconino Caniçal.

As comunicações preferenciais da estação eram com Lisboa quedepois fazia a conexão com o mundo. Todavia a Madeira poderiaestabelecer contactos com a estação de Ponta Delgada, Las Palmasemesmo, de Madrid. Quando em Lisboa o receptor emudeceu paraos sinais da ilha, o emissor madeirense não deixou de emitirorientando-se para os Açores, Las Palmas ou Madrid. Todavia atéao dia 26 de Abril seguiu-se uma troca de telegramas com Lisboa,apenas entre o governo da Junta Revolucionária e o da Ditadura.

Foi, no entanto, a 26 de Abril que os emissores e receptores daestação de TSF da Marconi foram silenciados. As tropas destacadaspara a ilha, com o objectivo de pôr cobro à rebelião,desembarcaramprimeiro no Caniçal com o intuito de desmantelar a estaçãotelegráfica. A força tomou, sem oposição da guarniçãorevolucionária, as instalações da estação e desmantelou o emissorereceptor.

Por algum tempo a Madeira perdeu a ligação com o mundo. Ostécnicos telegrafistas da Marconi das estações do Caniçal e Funchalpassaram alguns dias de férias. Este foi o único período em sessentae cinco anos da empresa na Madeira que as instalações foramsilenciadas após terem sido protagonistas activas de umaconjuntura política peculiar e um importante instrumento deagitação política por parte dos revolucionários.

O desenvolvimento das novas tecnologias conduziu ao paulatinoapagamento desta estação, que acabou sendo silenciada em 1982,com o aparecimento de uma via alternativa para o cabo submarino,

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com a inauguração da Estação de Satélites. Desde esta data, com asremodelações posteriormente realizadas, aí passou a funcionarapenas uma estação do serviço móvel marítimo e uma casa derepouso para os funcionários da empresa.

A ESTAÇÃO DE TSF DO PORTO SANTO

A Madeira desde 1926 havia quebrado o isolamento com o TSF, masa ilha vizinha do Porto Santo, já então uma importante estância deveraneio, continuava isolada e carente destes meios. Foramincessantes os esforços do Ateneu Comercial do Funchal e de umgrupo de madeirenses ilustres para que o Porto Santo ficasseservido com o TSF. Em Fevereiro de 1927 conjugaram-se os esforçosda Marconi com os das autoridades do arquipélago e deram-seinício às obras de construção do edifício para instalar a estação deTSF.

As habituais dificuldades burocráticas impediram que o materialpara a montagem da estação tardasse em chegar. Por outro lado oequipamento era obsoleto e provinha da estação de Sintra. Mesmoassim conseguiu-se mantê-lo e em Outubro de 1928 faziam-se osprimeiros ensaios, estabelecendo-se contactos com a estação doCaniçal e o Funchal. Entretanto a imprensa anunciava que estavaprevista a sua inauguração para 25 de Novembro de 1928. Mas sóem 16 de Março do ano imediato saiu do Funchalo Gavião, levandoa bordo as autoridades que no dia seguinte iriam inaugurar a novaestação.

O equipamento aí instalado, sendo de segunda mão, não duroumuito tempo e cedo sugiram as dificuldades: em 15 de Dezembrode 1932 o transmissor estava mudo e permaneceu nestascircunstâncias até à chegada de novo aparelho em 10 de Novembrode 1935. Este era um novo equipamento de radiotelegrafia, maspouco se adaptou às condições da ilha, uma vez que em 15 deJaneiro de 1939 perdeu de novo a "voz" e só em Novembrochegouàilha novo equipamento.

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A ESTAÇÃO DO GARAJAU E OS NOVOS SERVIÇOS

A Marconi entretanto mantinha-se atenta aos novos inventos aonível das telecomunicações, procurando adequar as instalações eserviços na Madeira a esta realidade. Foi neste sentido que emJaneiro de 1938 iniciou as obras para a construção de um novo postono Garajau (Caniço), capaz de prestar o serviço de radiotelefonia. A10 de Dezembro todos os serviços foram transferidos para a novaestação que começou os contactos com o Continente e os Açores.

As instalações do Caniçal (1 de Janeiro de 1939) foram des-manteladas e postas à venda em 9 de Julho de 1939, sem havercomprador. No decurso da segunda guerra mundial esta estaçãoexerceu uma função primordial nas ligações da Madeira com exte-rior, mercê do bloqueio marítimo a que a ilha esteve sujeita.

Entretanto as instalações da empresa no Funchal ganharam umanova dinâmica com a abertura ao público de um serviço deaceitação e distribuição de telegramas. A nova realidade surge apartir de 31 de Dezembro de 1943 com a inauguração em novoedifício na Avenida Arriaga. O serviço funcionou até 1942 natravessa do Cabido, sendo transferido em 29 de Março de 1942 parao primeiro andar da Rosa d'Ouro à Avenida do Dr. António José deAlmeida, donde depois foi transferida em 29 de Março do anoseguinte para a sede definitiva da Av. Arriaga, inauguradaem 28 deOutubro. Aqui passou a funcionar um serviço permanente deatendimento e distribuição de telegramas. O último era realizado,de início pelos boletineiros-peões, e, depois, a partir de 1970, pormotociclistas.

Na década de cinquenta redobram as responsabilidades da compa-nhia ao ser-lhe atribuída a exploração do rádio móvel marítimo: osserviços aumentam em área, volume e qualidade. Imperativostécnicos conduziram a que se fizesse uma subdivisão entre osserviços de emissão e recepção: o Garajau permanece como central,dispondo apenas das antenas de recepção, enquanto o Caniçal éreactivado como posto de emissão e no Funchal ficavamcentralizados desde 4 de Julho de 1951 todos os serviços de rádio-escuta naval.

A mudança técnica das instalações do Caniço só ficouconcluídaem25 de Março de 1968 com a inauguração da nova estação do Caniçal.

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Ao acto estiveram presentes o governador civil do distrito e o dire-ctor técnico da Marconi,Eng1. FernandoFeijó.Aí ficaraminstaladosos serviços de recepção das comunicações telegráficas e telefónicase da estação costeira para a navegação. As obras iniciaram-se emSetembro de 1966, nas instalações abandonadasem 1942, tendosidovisitadas em 17 de Agosto de 1967 pelo então Ministrodas Comuni-cações.

Nos primeiros anos das comunicações por radiotelefone para oexterior o ambiente das operações era algo de surrealista,comparado com a situação que hoje se vive: a ligação era feita viarádio através do operador da Marconi com a estação de Lisboa.Quando sucedia qualquer interferência interrompia-se a ligação eos operadores procediam à mudança de canal para uma melhorrecepção. A sintonia era feita por meio de uma gravação do"bailinho da Madeira", que era passada pela estação do Caniçal.Concluída esta operação os utentes reatavam a sua conversão.

As ligações com o Porto Santo continuavam a ser um problema,pois em Junho de 1945, em plena época de veraneio, tivemos maisde uma interrupção. Para o futuro a solução estava na nova estaçãode radiotelefonia, inaugurada em 30 de Agosto de 1959. Nomomento da inauguração o Governador Civil do arquipélagoexclamava "que Porto Santo foi descoberto pelo estado novo".

Na época era grande o incremento do serviço telefónico no arqui-pélago e a Marconi preparava-se para corresponder à procura. NoNatal de 1958 a empresa promete presentear os madeirenses comnovos serviços (o telex e a rádio fotografia), o que só veio a sucedermuito mais tarde.

O telefone chegou à Madeira em 1911 mas só na década decinquenta teve o seu incremento, tendo-se iniciado em 1958 oprocesso de automatização da rede telefónica do Funchal, atravésdas novas instalações no actual edifício dos CTT na Avenida deZarco.

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O CABO SUBMARINO

O aumento desmesurado da procura dos serviçosde rádio telefoniae o carácter obsoleto dos meios disponíveis para a ligação com oexterior levaram a Marconi a apostar noutro serviço capaz desatisfazer as necessidades da ilha.

Sob o lema, servir mais e melhor, a Marconi avançou a partir de1969 com um novo meio de comunicação: o cabo submarino. Desdeo Verão de 1971 ficou estabelecido que a Madeira ficaria servidadeum novo cabo submarino, capaz de atender às solicitações dosmadeirenses, substituindo assim o antigo e abandonado cabo dosingleses. As obras iniciaram-se em Dezembro de 1971 e a 11 deMaio do ano seguinte deu-se início ao lançamento do cabosubmarino, que seria inaugurado a 2 de Setembro.

Para a inauguração deslocou-se, propositadamente, à ilha oSecretário de Estado das Comunicações o Eng1Oliveira Martins.Aoacto estiveram presentes os Presidente e Vice-Presidente doConselho de Administração da Marconi, respectivamente, o Dr.Manuel de Athayde Pinto de Mascarenhas e o Eng1 . José MariaCamolino Ferraz de Matos e Silva. As referidas instalações foram,depois, visitadas pelo chefe do estado, o Almirante Américo deDeus Rodrigues Thomaz, aquando da sua visitaà Madeiraem 1962.

O cabo submarino com 160 circuitos telefónicos abriu novaspossibilidades às ligações com o exterior e à disponibilização denovos serviços, como o telex. Em 1980 esta oferta de serviços foiampliada para 144 canais,com a instalação de um sistemaduplicadode vias. Com a esta nova via de comunicação a Marconi não des-mantelou as estações de TSF do Garajau e Caniçal, mantendo-as noactivo como reserva para qualquer eventualidade até aoaparecimento de novo meio alternativo, o satéliteem 1982. Duranteeste período as estações trabalharam apenas algumas horas do diade modo a não perder-se a soberania das frequências.

A substituição deste cabo teve lugar com o lançamento de doisnovos em fibra óptica: o Euráfrica e o Sat-2. O primeiro estabelecealigação entre o continente a França e Marrocos, passando pelaMadeira, enquanto o segundo estende-se até Cape Town.

O desmantelamento do CAM-1 ocorreu pelas 11 horas do dia 29 deJunho de 1993. O Cabo Submarino de sistema analógico, ao fim de

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vinte e um anos de serviço, passava à História, dando lugar àtecnologia digital. Note-se que a sua entrada em funcionamentocontribuiu para uma melhoriasignificativa das comunicações com oexterior, uma vez que aos seis circuitos de rádio existentes veiojuntar-se os 120 do cabo. O crescimento destes circuitos duplicoucom a estação terrena de satélites, atingindo, na actualidade, com osnovos cabos submarinos, mais de quinze mil circuitos.

A concretização do Euráfrica, cuja assinatura do acordo deconstrução e manutenção teve lugar em 3 de Julho de 1989, com aparticipação francesa, marroquina e portuguesa. Este cabo vemsubstituir o Tagide, Amite, Atlas e Cam-1, estabelecendo umaligação entre St Hilaire de Riez(França), Sesimbra, Funchal eCasablanca. Em 28 de Setembro de 1992 abriu-se esta via,fornecendo aos utentes um amplo leque de serviços de te-lecomunicações.

O Sat-2 surge em substituição do Sat-1. O Sat-1 foi inaugurado em18 de Fevereiro de 1969 estendia-se por 10787 Km, ligando CapeTown a Lisboa com amarrações em Ascenção, Cabo Verde eCanárias: com capacidade para 360 canais, atingiu em 1978 o limiteda sua utilização pelo que se tornou necessário o lançamento donovo cabo, o Sat-2. Este cabo de fibra óptica liga o continente àMadeira, Canárias e África do Sul (Sat- 2), numa extensão de 9 milKm e com capacidade para 15 mil circuitos bidireccionais e 30canais de televisão. Em 8 de Março de 1990 foi assinado um acordode intenção, subscrito pela Companhia Portuguesa RádioMarconi,Correios e Telecomunicações de África do Sul, France Telecom,Telefónica de Espanha, British Telecom, Bundespost Telekom. Ocabo com uma extensão de 9000 Km foi avaliado em 30.000 contos.

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O SATÉLITE

As telecomunicações que haviam avançado de forma lenta no meioaquático ganharam um novo vigor com a conquista do espaçocelestial. Desde as primeiras tentativas de afirmação na década decinquenta até ao presente sucederam-se inúmeros progressos quechegaram também às telecomunicações madeirenses. Todavia aMadeira que havia sido dos primeiros locais a usufruirdas ligaçõespor cabo submarino e depois por TSF é agora a última a usufruirdesse novo serviço de Telecomunicações -o satélite. As ligaçõesporessa via entre as ilhas, o continenteportuguêse o mundo só tiveramlugar em 1982, isto é passados mais de oito anos sobre a entrada emfuncionamento desteserviçoem Portugal. Esta nova via foi possívelgraças a abertura de uma nova estação terrena em Sintra.

A montagem da estação do Funchal, situada em S. Martinho, ini-ciou-se em Fevereiro de 1980, num investimento global de mais demeio milhão de contos. Os trabalhos para a este empreendimentotiveram lugar em Outubro de 1977 com a criação de um grupo detrabalho com o objectivo de estudar as possibilidades dealargamento à Madeira deste meio de comunicação.

Em Fevereiro de 1980 iniciaram-se obras e foi aberto concursointernacional para o fornecimento do material necessário àsestações terrenas da Madeira e de Sintra: o contratofoi assinadoem18 de Fevereiro de 1981 com o consórcio italiano SatelitTelecomunications Systems. A antena instalada é o do tipoCassegram, com reflector parabólico de 25 metros de diâmetro,pesando 240 toneladas.

Ao acto de inauguração, que teve lugar no dia 16 de Novembro,estiveram presentes o Secretário de Estados dos TransportesExteriores e Comunicações, José da Silva Domingos e ospresidentes dos conselhos de administração da CPRM e CTT/TLP,respectivamente, o Dr. Miguel Horta e Costa e Eng1. OliveiraMartins, bem como as autoridades regionais.

A referida inauguração foi considerada pelo Presidente do GovernoRegional da Madeira , Dr. Alberto João Jardim como "umareposição da unidade nacional", por outro lado salientou que ofacto de a ilha ser "uma Região voltada para o mundo" este tipo deinauguração tornava-se imprescindível para a sua plena afirmação.

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Na verdade a abertura do referido serviço na ilha veio propiciaraosmadeirenses o acesso directo às emissões televisivas.

Este meio veio propiciar, ainda, aos vinte mil assinantes da redetelefónica da Madeira o acesso telefónico directo à Europa e algunspaíses da África e América, uma maior aproximação entre osmadeirenses residentes na ilha e aqueles que se encontramemigra-dos nos mais diversos destinos. Neste contexto merece referência ainauguração a 20 de Fevereiro de 1984 das ligações telefónicasdirectas com a Venezuela e África do Sul: seguiram-se depois oPanamá e Antilhas Holandesas (20 de Setembro de 1984), o Hawai(19 de Janeiro de 1985) e com a Europa Oriental (28 de Agosto de1986). Hoje esta ligação directa abrange mais de setenta países.

As potencialidades deste serviço ainda não se esgotaram. E temhoje continuidade com o acesso, cada vez mais fácil dosmadeirenses aos programas televisivos transmitidos por satélite.Em 15 e 16 de Dezembro de 1986 a Marconi propiciou aosmadeirenses o visionamento de algunsdestesprogramas:recebidosem Sintra através do Eutelsat I- F1 eram depois retransmitidosparao Funchal pelo Intelsat V- F11. Esta situação transitória foi umademonstração daquilo que agora é possível com a série de satélitesEutelsat II e outros que permitem à Madeira a recepção de TV eoutros sinais de telecomunicações, com una antena parabólica dedimensõesreduzidas. Destemodo a Marconi continuaa demonstraruma total capacidade de respostaaos desafiosdas novas tecnologiasde informação neste final de século.

Perante esta situação a Marconi passou a oferecer aos madeirenses288 circuitos, sendo 144 de cabo submarino e 144 via satélite.Todavia os serviços da companhia não se ficaram por aqui, poispara além do cabo submarino de fibra óptica, para substituir o de1972, digitalizou-se as comunicações por satélite. Este esforço demodernização dos serviços da empresa, a partir de 1982, foi de maisde um milhão e setecentos mil contos.

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O SERVIÇO MÓVEL MARITIMO

Na actualidade a via rádio é apenas utilizada no Serviço MóvelMarítimo (SMM). Esta via baseia-se num serviço telefónico etelegráfico permanente em V.H.F., Onda Média e Curta. A suamodernização teve lugar a partir de 1979, assistindo-se desde1984 auma melhoria e variedade na oferta de serviços: em 1984 entrou emfuncionamento a estação de V.H.F.do Porto Santo;em Maio de 1986foi a vez da estação da Ponta do Pargo; em 1 de Agosto de 1988inaugurou-se o centro de operações do Funchal, a partirdo qual sãotelecomandadas todas as estações espalhadas pelo litoral da ilha;em 1989 foi o estabelecimento a cobertura em onda média com aentrada ao serviço das estações da Ponta do Pargo(em Abril), Picoda Cruz(em Maio)e Porto Santo(em Julho).

Com este investimento no valor de cerca de 350 mil contos aMarconi conseguiu a cobertura total da ZEE madeirense, sendo aprimeira no país a merecer tal oferta de serviços.

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A NOVA SEDE

Esta nova infra-estrutura corresponde a uma nova fase devalorização da empresa ao nível regional, iniciada em 1986 com aelevação da delegação local ao estatuto de Direcção Regional. Até1982 a empresa era representada por um gerente de estação,passado, desde então, a existir o cargo de delegado regional, para oqual foi empossado o Eng1 Graciano Góis a 15 de Maio. Dois anosdepois, em 27 de Abril foi decidido atribuir a esta à dos Açores acategoria de Direcções Regionais, situação que se mantém naactualidade.

A partir de 15 de Março de 1991 a CPRM-Marconi passou a disporde novas instalações para a sede da sua delegação regional naMadeira. Um espaço amplo,até então abandono,foi transformado eadaptado para a prestação de um novo serviço, que o imortalizarános anais da História da ilha.

Durante e após o acto de inauguração, momento solene na vida dacidade, foi referido a nobreza da iniciativa da Marconiem reabilitarum dos prédios mais importantes dos antigos que ainda restam daRua de João Esmeraldo. Todos nós nos regozijámos com o acto queveio enobrecer a urbe, gerando neste espaço nobre da cidade(definido pela alfândega e Sé) uma nova dimensão. De um prédioem ruínas e de uso duvidoso fez-se nascer um edifício inteligente.De um vasto quarteirão de destroços, onde outrora se erguia opalácio de João Esmeraldo, traça-se agora uma praça. O futuro dacidade joga-se hoje neste espaço nevrálgico.

Todos ou quase todos temos consciência da importância patri-monial do imóvel agora reabilitado mas poucos saberão quão con-turbada e rica foi a sua História.

A exemplo de muitos prédios que integram a malha urbana dacidade andou de mão em mão e a sua estrutura adaptou-se à bolsa erequinte dos seus usufrutuários ou inquilinos. Deste modo não es-távamos perante um edifício de traça inalterável (coisa rara naarquitectura de um espaço construído de permanenteuso), mas simde um espelho destas transformações sociais e económicas, que serepercutiram no traçado dos espaços interiores e no requinte doselementos decorativos. Ele acompanhou os êxitos e fracassos dosseus proprietários: uma actividade compensadora no comércio

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manifestava-se sempre nos gastos desnecessários de aprimora-mento do interior, ao contrário o fracasso produz, inevitavelmente,o abandono.

Na História do edifício são conhecidas três grandestransformações,que definem iguais momentos importantes da vida do imóvel. Aúltima acaba de ocorrer e pretendeu, num regresso ás origens, re-constituir os elementos mais genuínos dos momentos anteriores.Esta foi uma fase decisiva para a vida do prédio que se pronuncioupor uma tragédia: o período prolongado de degradação, seguidodeum incêndio a 14 de Julho de 1986, tornou o prédio disponível parauma possível transacção, o que aconteceu a 16 de Dezembro de1986.

A partir daqui o percurso para a sua transformação foi rápido: emJaneiro de 1988 iniciaram-se os estudos sobre a componentehistórica do prédio e a definição do programa dos serviços a im-plantar; em Novembro de 1989 começaram as obras com um prazode execução previsto de 14 meses. Aqui se iniciou uma nova era eterminou outra que havia marcado profundamente a fisionomiadoedifício, até à sua fase de declínio no presente século. Este mo-mento que antecedeu a actual situação é a mais controversa da suavida e a que deixou marcas mais evidentes na sua estrutura. A cadaproprietário e/ou inquilino terá coincidido uma nova roupagem euso.

A FAMÍLIA DA SILVA BARRETO

Ao prédio inicial, propriedade da família de Nicolau da SilvaBarreto, a quem pertence o brasão de armas pintado na tábua cen-tral, que cobria o salão principal onde se encontrava o oratório depedra lavrada. Este espaço dominava o primeiro piso do imóvel aque lhe foram enxertados, com os posteriores proprietários, osblocos que o confrontavam.

Das casas térreas, que João Esmeraldo aí fizera erguer em finais doséculo XVII, Eusébio da Silva Barreto fez construir outras desobrado, onde se instalou após o seu casamento a 27 de Maio de1986.

A forma como sucedeu esta transacção não é conhecida, pois apenasse sabe da sua posse e escolha dela para albergue nupcial.ambos osnubentes estavam relacionados com as mais destacadas famílias

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madeirenses. Eusébio da Silva Barreto era filho do terceirocasamento de Pedro Ribeiro Barreto e Maria de Sousa Silveira ebisneto de Domingos Alvares Onzel, cavaleirofrancêsque se haviafixado na Tabua e aí casou com Maria Delgada. Leanor de Freitasera filha de Diogo de Freitas Corrião e de Leanor de Freitas.

Nos ascendentes de ambos é evidente as ligações aos Bettencourts,Azevedos, Ornelas e Vasconcelos. A sua esposa era neta pela partematerna de João de Ornelas de Vasconcelos. Entretantoem 1699 pormorte de António Carvalhal Esmeraldo, sucedeu-lhe comoadministrador do morgadio do Vale da Bica a seu sobrinhoAiresdeOrnelas e Vasconcelos. Esta mudança do morgadio para a casa vin-culada dos Ornelas, com importantes interesses fundiários no Ca-niço, deverá ter propiciado o aceso de Eusébio da Silva Barreto aoconvívio dos Ornelas e certamente à posse das referidas casastérreas da Rua de João Esmeraldo. A forma como isso sucedeu é ig-norada, não existindo rasto na documentação.

Deste enlace nasceram dez filhos: dois foram padres, outros doiscapitães de ordenança e as seis filhas fizeram voto no convento deSanta Clara. Com tamanha prole e em face de momentos menospropícios ao pecúlio familiar, a vida de fulgor desapareceu numápice como o seu património.

A entrada, a partir de 1696, das filhas (Helena Maria, Tormina doSocorro, Maria da Exaltação, Vitorina Caetano, Antóniade S. Pedroe Patronilha) no convento implicou elevados encargos com a suacomedoria e depois dote. Assim o casal deveria desembolsaranualmente 25000rs por cada uma, divididos em dois pagamentossemestrais. Mesmo assim ainda foi possível ao mesmo reunir em1700 os réditos necessários para ampliaçãodo patrimóniofundiáriocom a compra a Francisco Carvalhal Figueira de terras e casas em S.Gonçalo. Este terá sido o último acto nesse sentido, pois a partirdaí

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o património do casal entrou em franco declínio.

A 23 de Março de 1718 Eusébio da Silva Barreto vergava sobre osefeitos da doença e velhice. Morreu, deixando entregue aos seusherdeiros um vasto património que na acto das partilhas se desfez.Á frente da casa sucedeu-lhe Nicolau Geraldo de Freitas Barretoque ficou como seu testamentário que, por isso teve direito à suaterça nos bens agora partilhados pelos herdeiros.

Não nos foi possível encontrar o testamento feito junto do notárioLuís Soares Severim, pois perderam-se os livros deste, massabemos, por outro documento de partilhas, disponível nos cartó-rios do convento de Santa Clara, do valor dos bens legados. Assimàs casas da Rua de João Esmeraldo, avaliadas em 2681$122rs,reuniam-se as quintas de Boa Nova e S. Gonçalo. Noutrodocumento de 1730 sabe-se que também pertencia ao casal outraquinta nos Louros. Note-se que em 28 de Maio de 1715 Nicolauhavia sido nomeado capitão do Forte de Nossa Senhora daencarnação dos Louros. Das casasda rua de João Esmeraldo224$374rs eram pertença do Convento de Santa Clara, como herança dasseis filhas aí recolhidas.

Nicolau Geraldo casou com Isabel JulianaBetencourtde Menezes eAtouguia, filha do capitão do presídio de S. Lourenço, Amaro deAtouguia e Bettencourt. A sua estirpe nobre fez com que atingisse apatente de capitão e em 3 de Maio de 1731 a sua coroação máximacom a carta de armas. Este título deve ter-lhe custado muito caro,pois em 20 de Abril de 1731 foi forçado a pedir um empréstimo de307$500 rs, deixando como hipotecaas fazendasde Sto Antónioe S.Gonçalo. Mas maiores dificuldades se sucederam com os compro-missos de entrada de seis filhas no convento de Santa Clara, entre1739 e 1751. Mesmo assim em 1742 ainda possuem os meios sufi-cientes para comprar terras na Camacha a António Machado de

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Moura por vinte e seis mil reis.

Terá sido neste período, a partir de 1718, que este, como principalinquilino dos aposentos da Rua de João Esmeraldo, procedeu aalgumas transformações. A data de 1731, como o momento deconcessão da carta de armas, poderá indiciaro momentoem que fezobras no salão principal do primeiro andar, construindo o referidooratório, que depois cobriu com uma pintura que ornava as suasarmas. Outras duas hipóteses são possíveis: em 1748, altura doregisto da carta de armas no tombo da câmara do Funchal, ou 1758,pois nesta data pediu um empréstimo à Santa Casa no valor de80$370rs, dando como fiança a fazenda de S. Gonçalo e a própriacasa onde vivia.

OS INGLESES À CONQUISTA DA CIDADE

No compromisso do empréstimo e hipoteca da casa ficara esta-belecido o pagamento desta quantia a partir de Julho do ano ime-diato. Mas a vida não parece ter-lhe corrido de feição. A hipotecaperdurou sendo em 1794 de 1217$390rs, com juros acumulados de909$731rs. Perante esta delicada situação os filhosnão conseguiramsegurar o património e decidiram vender as referidas casasa LamarHill Bisset & Co. Saldada a dívida restaram ainda 1200$000rs.

Esta transacção marca o início de uma nova fase da rua. O comérciodo vinho estava no seu auge e quase todos os edifíciosdela estavamreservados a armazém de vinhos. Algumas das principais casascomerciais de súbditos ingleses têm aí ou nas proximidades as lojase escritórios.

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A atracção estrangeira por esta rua surgiu em 1704 com BenjamimHemingl que alugou os velhos aposentos de João Esmeraldo aAgostinho Dornelas e Vasconcelos. Em 1727 foi a vez de John Bis-sett, seguido do Dr. Richard Hill, que em 1739 montou o seu es-critório no número 39. A estes juntaram-se em 1802 a firma NewtonGordon, Murdoch & Co que arrematouem praça públicaum prédioda Misericórdiapor 1150$000rs. DepoistivemosGordonDuff & Co,que comprou o imóvel de José do Egipto da Costa, foreiro da SantaClara, por 3626$700rs.

Em data que desconhecemos Gordon Duff & Co adquiriu o prédioque fora de Nicolau Geraldo à firma americana, Hil Bisset & Co eampliou com os granéis fronteiriços do lado do Beco do Assucar,deNuno de Freitas Lomelino. Ambos foram vendidos em 1859, por3800$000rs a James Adam Gordon Duff, ficando o edifício que oconfrontava a norte na posse da viúva. O acto de venda teve lugarno número doze, pertencente à propriedade da viúva doproprietário do imóvel transaccionado, onde, então, vivia DiogoBean. Pelo menos desde 1855 este detinha todos os aposentos,onderesidia, tinha o seu escritório e, parte deles, subalugados a diversosinquilinos.

Na posse de James Adam Gordon Duff o edifício conheceu ummomento de fulgor na sua História ter-se-ão sucedido algumas al-terações no espaço interior, sendo desta época a construção da salade música e os estuques pintados.

De novo as dificuldades começaram a surgir aos seus inquilinos.Para isso contribuiu a contracção do mercado do vinho desde osinícios do século dezoito e as crises de produção motivadas pelooídio(1852) e filoxera(1872), que quase deram o golpe de finados aeste produto. E com isso a maior parte dos ingleses fez as malas erumou a outras paragens. As casas, até então apinhadas de pipasde

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malvasia, quasepareciamfantasmas. Destemodo ElisaJennet Duff,viúva de James Adam Gordon Duff, optou em 1875 pela vendadestes aposentos à Sociedade Cooperativa de Consumo e Creditodo Funchal SARL, representada por personalidades ilustres dacidade: José Leite Monteiro, Manuel José Vieira e AugustoMourãoPitta. A escritura de venda dá a entender ser este um amplo espaço,constituído de 6 pavimentos, dispondo de dois poços com bomba eágua potável.

Esta Sociedade Cooperativa, que teve os estatutos aprovados em 29de Abril de 1875, durou pouco tempo, saldando-se a sua actividadepor um fracasso: a primeira mercearia encerrou em 1880, sendoreaberta depois por iniciativa de dois comerciantes que amantiveram até 1888, data em que se procedeu à liquidação dasociedade.

O imóvel foi mais tarde, certamente em 1916, vendido a JoséFigueira Júnior por quarenta contos. Termina aqui a sua fase deampliação e engrandecimento, iniciando-se a de prolongadadecadência. José Figueira Júnior é desde 1916 o novo proprietárioque, em 14 de Março de 1969, fez o registo predial sob o n1 1045 emseu nome.

José Figueira Júnior(1902-1970) foi um importante comerciante,societário das firmas Figueira, Freitas & Co, Lda e Figueirae Freitas(adubo), Lda, com sede no prédio em questão. Note-se que já noperíodo de posse deste prédio por ele funcionou aí umestabelecimento para o ensino primário e secundário, que ficouconhecido como o "colégio Câmara", sob a direcção de AlfredoBettencourt da Câmara. Este destacou-se como professor edivulgador da temática do ensino.

Em 1967 o edifício servia de escritório da firma, de que o seu dono

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era societário. Foi no decurso deste ano que Samuel GonçalvesCanha Jardim, escriturário da firma, deparou-se no salão centraldoprimeiro andar com um conjuntode tábuaspintadas, então cobertaspor estuque. A descoberta foi o início de um aceso debate quecontribuiu para a valorização do imóvel que, não obstante,avançava a passos largos para a total degradação. Em 1985 a entãoCaixa Económica do Funchal adquiriu o imóvel aos herdeiros deJosé Figueira Júnior.

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1478. Primeira viagem de Colombo ao Funchal com o objectivo decomprar açúcar.

1480-84. Estância de Cristóvão Colombo na Madeira e Porto Santo.

1480. Data provável de fixação de João Esmeraldo no Funchal.

1489. Abertura da rua, que mais tarde ficaria com o nome dosEsmeraldos.

1495. João Esmeraldo constrói a sua residência no Funchal.

1498/Julho/10. Terceira passagem de Colombo pelo Funchal,aquando da terceira viagem.

1531. Primeira referência à Rua de João Esmeraldo.

1533/Outubro/30. Testamento de João Esmeraldo, referindo noinventário dos bens as "casinhas térreas" defronte do seu palácio.

1686/Maio/27. Casamento de Eusébio da Silva Barreto com Leanorde Freitas.

1715/Maio/28. Nicolau Geraldo de Freitas Barreto é nomeadocapitão do Forte dos Loures.

1718/Março/23. Morte de Eusébio da Silva Barreto, ficando comotestamentário Nicolau Geraldo.

1731/Maio/3. Concessão da carta de armas do Capitão NicolauGeraldo.

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1758/Julho/7 .Pedido de empréstimo à Santa Casa da Misericórdiado Funchal, dando como fiança a casa da Rua de João Esmeraldo.

1794/Março/31. Venda do prédio da Rua de João Esmeraldo a HillBisset & Co.

1859/Novembro/30. Gordon Duff & Co vende o imóvel a JamesAdam Gordon Duff.

1875/Setembro/2. Elisa Jennet Duff vende o prédio à SociedadeCooperativa de Consumo e Credito do Funchal, SARL.

1916. Posse do edifício passa para José Figueira.

1968/Maio/ .Descoberta das tábuas pintadas, gerando acesapolémica na imprensa funchalense.

1969/Março/16. Inscrição do prédio a favor de Figueira e herdeiros,estando arrendado a diversos.

1969/Abril/24. Classificação das referidas tábuas como patrimónioinalienável para o estrangeiro.

1984. Resolução n1 .1086 do Governo Regional decidiu expropriartodos os imóveis da área em frente da sede da Marconi, para aíconstruir uma praça.

1986/Julho/14. Um incêndio destrói o prédio.

1986/Novembro/19. A Marconi decide em conselho geral adquiriroprédio em ruínas.

1986/Dezembro/16. Escritura de compra do edifício pela Marconi à

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Caixa Económica do Funchal.

1988/Janeiro/. Início dos estudos de investigação relativos àcomponente histórica do edifício e definição do programa dosserviços.

1988/Setembro/.Protocolo entre o governo Regional da Madeira, aCâmara Municipal do Funchal e a CPRM-Marconi, em que sãoestabelecidas as normas de cooperaçãonos projectosde recuperaçãodo imóvel e praça.

1989/Novembro/. Início da obra de reconstrução do edifício comprazo de execução previsto para 14 meses.

1991/Março/15. Acto inaugural do edifício.

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1731/Maio/3

ARM, CMF, Registo geral, tomo IX , fols.137-138v1 (registadoa 29 de Março de 1748).

Brasão darmas do cappitão Niculao Geraldo de Freytas Barretofidalgo da caza de Sua Magestade que Deos guarde com a merce dohabito de Christo natural da ilha de Madeyra. Passado no ano de1731

Dom Joam por graça de Deos Rey de Portugal e dos ALgarvesdaquem e dalem mar em Africa Senhor de Guine e de conquistanavegação, comercio de Ethiopia, Arabia, Percia e da India, etc.

A quantos esta minha carta virem. Faço saber que o cappitãoNiculao Geraldo de Freytas Barreto fidalgo da minha caza e de so-llar com a merce do habito de Christo, natural da ilha de Madeyrame fez petição, em como elle descendia, e vinha da geraçam e li-nhagem dos Silvas, Barretos, Freytas e Vasconcellos, que são fi-dalgos de sollar conhecido, e suas armas lhe pertencemde direito, epedindome por merce que para a memoria de seus antecessores se-não perder e elle gozar da honra das armas que pellos me-recimentos de seus servissosganharãoe lhe forão dadase assimdosprivilegios//, honras, graças, e merces, que por direitoe por bem de-llas lhe pertencem lhe mandasse dar minha carta das ditas armasque estavão registadas, em os livros dos registos das armas dosnobres, e fidalgos de meus reynos, que tem Portugal meu principalRey darmas.

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A qual petição vista por mim mandey sobre ella tirar inquiriçãode testemunhas pelo doutor Alexandre Botelho de Moraes de meudezembargo, e meu dezembargador em esta minha corte e caza desupplicação, corregedor do civel em ella, por Caetano Jozeph deMoura escrivão do dito juizo, pellos quaes fuy certo, que elleprocede, e vem da geraçam, e linhagem dos ditos Silvas, Barretos,Freytas e Vasconcellos como filho do cappitam Euzebio da SilvaBarreto, e de Dona Leanor de Freytas de Vasconcellos Netto peaparte paterna de Pedro Ribeyro Barreto, e de Maria de Souza Sil-veyra, e neto pela parte materna de Diogo Freytas Corrião, e deDona Maria de Ornelas de Vasconcellos; os quaes seus pays e avósforam pessoas nobres dependentes das illustresfamilias dos Silvas,Barretos, Freytas, e Vasconcellos,e que sempre se tratarão a ley danobreza, com o estado a ella devido, como pessoas nobresque erão,sem que nelles ouvese raça de judeu, mouro, ou mulato, nem outrainfecta nação, e que de direyto as suas bermas lhe pertencem; Asquaes lhe mandey dar em esta minha carta com seu brazão, elmo, etimbre, como aqui são devizadas, e assim como fiel, everdadeiramente se achara devizadas, e registadas em os livros dosregistos do dito Portugal meu Rey de armas. A saber hum escudoesquartellado, no primeyro quartel, as armas dos Silvas, em campode prata hum leão rompente vermelho, no segundo as dos Barretoscampo de prata semeado de arminhos, pretos;//no terceiro as dosFreytas, em campo vermelho, cinco estrellas de ouro; no quarto asdos Vasconcellos em campo preto, trez faxas veiradas de vermelhorompente, e por diferença huma brica azul com hum farpão deouro, o qual escudo, armas, e sinaes possa trazer e traga o ditocapitam Niculao Geraldo de Freytas Barreto, assim como astroxerão, e dellas uzarão seus antecessores em todos os lugares dehonra, em que os ditos seus antecessores, e os nobres, e antigosfidalgos, sempre as costumarão trazer em tempo dos muyesclarecidos Reys meus antecessores, e com ellas possa entrar embatalhas, campos, escaramuças, e exercitarcom ellas todos os outros

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autos licitos da guerra, e da paz; e assim as possa trazer em seusfirmães, aneis, sinetes e devizas, e as por em suas cazas e dificios edeixadas sobre sua propriasepultura,e finalmentese servir,honrar,gozar, e aproveitar dellas em todo, e por todo, como a sua nobrezaconvem.

Com o que quero, e me praz, que haja elle de todos seus des-cendentes todas as honras, privilegios, liberdades, graças, merces,izempções e framquezas, que hão, e devem haver os fidalgosnobres e de antiga linhagem, e como sempre de todo uzarão e goza-rão seus antecessores. Porem mando a todos meus corregedores edezembargadores, juizes, justiças, alcaydes, e especial aos meusreys darmas,e tratus, e passavantes,e a quaesqueroutros officiaesepessoas, a que esta minha carta for mostrada, e o conhecimentodella pertencer, que em todo lho cumpram, e guardem, e façam,cumprir, e guardar, como nella he contheudo, sem duvida, nemembargo algum, que em elle lhe seja posto porque assim he minhamercê. El Rey Nosso Senhor o mandar por Manuel Pereyrade Silvaseu rey darmas Portugal. Frey Joseph da Cruz// da Ordem de SãoPaulo reformador do cartorio da nobreza do reyno por especialprovizão do dito semhor a fez anno do nascimento de NossoSenhor Jezus Christo de mil setecentos e trinta e hum aos trez diasdo mes de Mayo, e vay sobescripta por Antonio Francisco e Souzaescrivão da nobreza nestes reynos, e senhorios de Portugal e suasconquistas e eu Antonio Francisco de Souza o sobrescrevy. Reydarmas Gaspar.

Fica registado este brazam no livro outavo do registo dosbrazoens de nobreza de Portugal a folhas cento e cesenta, Lisboa aoccidental aos do mes de Mayo do anno de mil septecentose trintae hum. Francisco de Sousa.

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O NOVO CENTRO DE TELECOMUNICAÇÕES

A maior oferta de serviços pela Marconie a reafirmaçãoda Madeiracom eixo importante das telecomunicações com o Atlântico sullevaram a companhia a apostar num novo Centro deTelecomunicações, capaz de corresponder a esta realidade. Destemodo a Madeira dispõe desde 25 de Setembro de 1992 deste centro,que coordena toda a actividade da empresa em termos da tráfegodos cabos submarinos de fibra óptica e transmissão digital(EURAFRICA, SAT-2, COLUMBUS-2, INLAND), rede móvel esatélites. Esta infra-estrutura concentra todos os serviços queestavam dispersos pelo Porto Novo, Garajau e Funchal. Aí estáinstalada a nova estação de cabos submarinos dos sistemasEURÁFRICA e SAT-2, os serviços de exploração, englobando oCentro de Operação e controlo do Serviço Móvel Marítimo e aCentral Telegráfica, bem como os serviços técnicos eadministrativos.

A inauguração do Centro foi em simultâneo com a do cabosubmarino internacional EURÁFRICA. A este seguiu-se em 28 deAbril de 1993 do cabo SAT-2 que liga a república da África do Sulàs Canárias e À Madeira. Este último é o maior cabo submarino doAtlântico e o terceiro no mundo. O Sat-2 permitem a ligação de 15mil circuitos telefónicos e a transmissão de 32 canais de televisão.

Esta aposta da Marconi levou a que a Madeira retomassea históricavocação de plataforma do Atlântico. De novo a Madeiraassumeumpapel destacado como entroncamento de infraestruturaissubmarinas de telecomunicações e Portugal passa a dispor de umaposição de relevo na rede atlântica de cabos submarinos.

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ASPECTOS SOCIETAIS DA EMPRESA

Folheando os diversos números da Revista"Via Portucale", surgidaem 1959 para ser a imagem ilustrada das actividades da companhiae da acção dos seus funcionários, fica-se com a ideia de que aempresa funcionava como uma ampla família. As suaspreocupações eram sentidas por todos os funcionários, o mesmo sepodendo dizer com as de cada funcionário, em particular, com aempresa e parceiros de ofício.

Ao longo do ano havia três momentos para a reunião desta família:as comemorações do dia do Arcanjo S. Gabriel (23 de Março), doaniversário da empresa (15 de Dezembro) e a festa infantil poralturas do Natal.

Nos dois primeiros momentos reunia-se a família madeirense daMarconi, para sufragar a alma dos falecidos e depois em jantar deconfraternização. Enquanto o dia do Arcanjo S. Gabriel era e écomemorado em colaboração com outras empresas do sector dastelecomunicações, o dia 15 de Dezembro era só para a Marconi.Todos os anos se reuniam administradores, empregados econvidados para comemorar o aniversário.

O momento era sempre noticiado na imprensa local, que não secansava nos seus elogios aos bons serviços da empresa. Por vezesesta data era aproveitada para a inauguração de algunsmelhoramentos de infraestruturaisda empresa,feitosno sentidodeassegurar uma melhor qualidade dos serviços. Assim sucedeu em1972 com a inauguração oficial do serviço de Telex e em 1985 com aoferta de programas de TV do satélite europeu.

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Este momento era ainda aproveitado para homenagear osfuncionários mais antigos da casa. Todos aquelesque completavamvinte anos recebiam neste dia de aniversário um relógio. Entretantoa partir de Dezembro de 1971 a delegação da empresa no Funchalpassou a contar com novos meios de apoio ao convívio destafamília. Assim foi inaugurada a 1 de Setembro a primeira filial doGrupo desportivo da Marconi. Desde esta data os trabalhos daempresa passaram a dispor de um local de convívio e para a práticade diversas modalidade desportivas.

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