NOTAS DE AULA – CONSTRUÇÃO DO MARCO TEÓRICO CONCEITUAL1

Profa. Gláucia Russo

Um projeto de pesquisa pode se organizar de diversas formas, naquela que estamos trabalhando

aqui, a problematização estaria inserida nos no marco teórico conceitual e pressupõe:

A definição do problema ou objeto de estudo – Implica em dizer claramente aquilo que

pretendemos pesquisar. É importante não esquecer que é preciso fazer um recorte preciso do

assunto a ser pesquisado, delimitar o nosso objeto de estudo. O tema deve ser problematizado

e é preciso ter clareza do nosso objeto e do problema a ser resolvido.

Nesse momento também formulamos hipóteses a serem investigadas – Podemos encarar as

hipóteses como a busca de “respostas objetivas” construídas ao longo da investigação ou

como uma tentativa de criar indagações a serem verificadas na investigação, mas, de uma

forma ou de outra, estas sempre estarão presente na nossa pesquisa. De acordo com o método

com o qual iremos trabalhar podemos elaborá-las como enunciados ou como pressupostos ou

questões, ou seja, como um diálogo entre pesquisador e realidade a ser investigada.

O marco teórico conceitual é o momento de diálogo com a sua teoria/método, bem como com as

contribuições teóricas existentes sobre o tema, assim:

Neste tópico o pesquisador deve fazer suas escolhas, explicitar a base teórica da sua pesquisa,

essa definição é a base de sustentação do seu trabalho. Esta deve permitir que a realidade

social seja reconstruída enquanto objeto do conhecimento, por meio de um processo de

categorização. Pode-se optar por não explicitar o referencial teórico-metodológico, mas deixá-

lo implícito por meio da discussão empreendida sobre as categorias utilizadas. Estando ou não

explícito, a maneira como se faz a discussão, os pressupostos que o pesquisador toma e as

próprias categorias que utiliza apontam para o seu referencial teórico-metodológico.

Trata-se de embasar o problema de pesquisa em um corpo de conhecimentos. “Isto implica

analisar e expor os elementos teóricos gerais e particulares que se entende serem pertinentes

para orientar o processo de pesquisa” (SORIANO, 2004, p. 61).

1 Notas de aula elaboradas para a disciplina Seminário de Monografia I, do curso de Serviço Social, da Universidade

do Estado do Rio Grande do Norte (UERN), durante o semestre letivo de 2013.1.

Neste item é imprescindível a definição clara dos pressupostos, categorias e conceitos a serem

utilizados. Os conceitos são as vigas mestras da teoria. São unidades de significação que

definem a forma e o conteúdo de uma teoria. Segundo Minayo (1996), “Podemos considerá-

los como operações mentais que refletem certo ponto de vista a respeito da realidade, pois

focalizam determinados aspectos dos fenômenos, hierarquizando-os” (p. 92). Eles são ao

mesmo tempo um caminho de ordenação e de criação da realidade. A própria hierarquização

dos conceitos demonstra os aspectos da realidade que se dá mais atenção. A ideia de conceito

está ligada a de concepção, ele está vinculado a subjetividade, é concebido. Estes, segundo a

teoria marxista, são historicamente específicos e socialmente condicionados, para o

positivismo, por exemplo, devem ser tomados logicamente, buscando-se as leis que os fazem

ser entendidos de uma determinada forma, disso decorre, que os conceitos serão trabalhados

de acordo com o referencial teórico metodológico de quem pesquisa.

O termo noção, por sua vez, expressa elementos de uma teoria que ainda não são

suficientemente claros e são usados como “imagens” na explicação do real. As noções

expressam a relação intrínseca entre a experiência e a construção do conhecimento.

Os conceitos mais importantes dentro de uma teoria são chamados de categorias. As

categorias indicam conceitos historicamente relevantes, expressando aspectos fundamentais

dentro de sua abordagem. Estas são construídas por meio do conhecimento e da prática social.

Definir o conceito não é apenas repetir palavras decoradas, mas manifestar o que se sabe

sobre a coisa e o que foi aprendido, sobretudo por meio da experiência. É pela apresentação

de suas características que chegamos a aprender um conceito. Nesse sentido, quanto mais

características forem apresentadas, melhor a compreensão que se terá do conceito.

Na ciência não basta apenas o indivíduo saber, mas seu conhecimento precisa ser constituído

por conceitos adequados, claros e distintos. Portanto, um conceito é adequado quando nele se

encontram todas as características próprias que o compõem. “Um conceito é claro quando,

por ele, entre diversas outras coisas, pode-se reconhecer a coisa a que ele se refere” (RUDIO,

1986, p. 25).

Em ciência busca-se explicitar o sentido das palavras, seus significados, não apenas a própria

palavra.

É preciso construir um diálogo entre a teoria e o problema a ser investigado. Esse diálogo

pode trazer alguns elementos conceituais ou realizar uma análise histórica do fenômeno,

dependendo do marco teórico que embasa nosso conhecimento.

A elaboração da parte conceitual requer informações sobre a realidade concreta ligada ao

problema de estudo, tendo em vista que os conceitos são elaborados com base nas referências

teóricas e informações empíricas pertinentes.

A discussão realizada nesse momento permite orientar a análise e interpretação dos dados. A

sustentação teórica garante o rigor científico da pesquisa.

O marco teórico conceitual não é uma camisa de força que tolhe a capacidade criativa do

pesquisador, mas deve ser concebido como “um processo em que as proposições teóricas se

aprofundam continuamente para dar apoio ao processo de pesquisa” (SORIANO, 2004, p.

62).

É preciso examinar a bibliografia existente sobre o tema para se ter uma ideia do que já foi

pesquisado, com a análise bibliográfica é possível se “obter informação útil para a realização

do estudo, conhecendo diversas análises teóricas e abordagens conceituais do problema,

aspectos ou facetas já explorados em outros contextos e as hipóteses propostas (comprovadas

ou não), bem como procedimentos com os quais o pesquisador talvez não seja familiarizado”

(SORIANO, 2004, p. 69).

Nesse processo é preciso distinguir a informação pertinente para o estudo do problema

daquela que é irrelevante ou sem sustentação.

Deve-se dar uma coerência lógica ao texto na apresentação do material teórico, conceitual e

empírico. “As teorias, a informação empírica e as experiências sistematizadas usadas para

situar o problema devem ser válidas para a situação em questão, pois do contrário o marco

teórico conceitual elaborado pode não corresponder ao problema” (SORIANO, 2004, p. 71).

A construção do discurso científico exige o cuidado de se expor as ideias com clareza e

precisão. Portanto, devem-se utilizar frases breves e uma linguagem simples e se revisar o

texto quantas vezes for necessário para eliminar dúvidas e confusões que aí tenham lugar.

Para se elaborar o marco teórico conceitual é preciso considerar três níveis:

1º - lida com as teorias gerais e os elementos teóricos particulares relacionados com o problema;

2º - busca analisar a informação empírica secundária ou indireta fornecida por diversas fontes;

3º - considera a informação empírica primária ou direta obtida mediante o contato com a

realidade. Se lida com informações básicas colhidas pela observação direta ou contato com

fontes chaves do lugar sobre as questões mais relevantes do problema a ser pesquisado. “Nos

dois casos, o objetivo será obter informação básica visando um conhecimento e uma

compreensão mais amplos da problemática pesquisada” (SORIANO, 2004, p. 68).

Esses três níveis precisam ser integrados em uma visão de totalidade, que permita

contextualizar devidamente o problema em estudo, ou seja, estes devem estar articulados e

não trabalhados isoladamente.

A articulação entre os três níveis permite tanto conceitualizar o problema, segundo a realidade

concreta em que ele se insere, como proporcionar elementos para acompanhar a aplicação da

teoria ao objeto de estudo. “Lidar com a informação em nível conceitual – um nível superior

ao descritivo – é gerar idéias e conceitos a partir da observação sistemática dos fenômenos em

questão” (SORIANO, 2004, p. 68).

REFERÊNCIAS

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio do conhecimento. Pesquisa qualitativa em saúde.

4. d. São Paulo-Rio de Janeiro: HUCITEC-ABRASCO, 1996.

______. (Organizadora). Pesquisa social. Teoria, método e criatividade. 7. d. Petrópolis:

Vozes, 1997.

RUDIO, Franz Victor. Introdução ao projeto de pesquisa científica. 33. d. Petrópolis:

Vozes, 1986.

SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 23. d. Ver. E atual. São

Paulo: Cortez, 2007.

SORIANO, Raúl Rojas. Manual de pesquisa social. Tradução de Ricardo Rosenbusch.

Petrópolis-RJ: Vozes, 2004.

Esquema para compreensão das etapas para elaboração do Marco teórico conceitual

O que deve conter O que significa Característica

Problematização Delimitação do objeto de

estudo.

Opcional, pode estar em um

tópico separado ou em outro

item do projeto

Hipóteses Respostas objetivas

provisórias ou indagações a

serem verificadas na

investigação.

A forma como são colocadas

é opcional.

Explicitação da base

teórico/metodológica da

pesquisa

Trata-se da apresentação do

paradigma que dá suporte as

nossas discussões e visão de

mundo.

Pode ou não estar explícito,

mas sempre estará nesse item.

Definição dos pressupostos,

categorias e conceitos a

serem utilizados

Reconstrução da realidade

enquanto objeto do

conhecimento. Embasa-se o

problema de pesquisa em um

corpo de conhecimentos.

Obrigatório. Não pode haver

marco teórico conceitual sem

essa discussão.

Apresentação das

características de um

conceito.

Manifestação do que se sabe

sobre algum aspecto da

realidade, bem como aquilo

que foi apreendido por meio

da experiência.

Obrigatório, embora possa ser

apresentado de diferentes

formas.

Construção de um diálogo

entre teoria e problema a

ser investigado.

Pode ser realizada por meio

da apresentação de uma

análise histórica do fenômeno

ou de seus elementos

conceituais, por exemplo.

Obrigatório. Depende do

marco teórico que embasa

nosso conhecimento.

Exame da bibliografia

existente sobre o tema.

Busca-se obter informações

úteis e necessárias para

realização do estudo,

conhecendo aspectos do

problema já explorados.

Obrigatório, mas é preciso

distinguir a informação

pertinente daquela irrelevante

ou sem sustentação.

Coerência lógica ao texto na

apresentação do material

teórico, conceitual e

empírico.

A construção do discurso

científico exige cuidado ao se

expor as ideias.

Obrigatório. Tente utilizar

frases breves e uma

linguagem simples e revisar o

texto para eliminar dúvidas e

confusões existentes.

Elementos que

compõem o marco

teórico conceitual

O que são?

Conceitos Unidades de significação que definem a forma e o conteúdo de

uma teoria. Refletem certos pontos de vista a respeito da realidade.

Noções Elementos que ainda não são suficientemente claros, expressam

uma relação intrínseca entre experiência e construção do

conhecimento.

Categorias Os conceitos mais importantes de uma teoria.

O marco teórico conceitual abrange três níveis integrados em uma visão de totalidade:

1 Teorias gerais e elementos teóricos particulares relacionados com o problema.

2 Análise da informação empírica secundária ou indireta.

3 Considera a informação empírica primária ou direta,