Marco 288

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Dos campos para a tela Empresários do futuro marco LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas jornal Abrigo antiaéreo do Edifício Acaiaca, no centro, é utilizado por lojistas como depósito de carga e descarga. Página 11 Aplicação da lei que obriga ensino de música está em estágio diferente nas escolas particulares e públicas da Região Noroeste Página 13 Nascido em Itabirito, Telê Santana, técnico que fez história no futebol brasileiro, é reverenciado por seus conterrâneos Página 15 Abril • 2012 Ano 40 • Edição 288 MARIA CLARA MANCILHA FELIPE AUGUSTO VIEIRA VINÍCIUS DIAS ALVES POLÍCIA MUDA PARA GANHAR Quase um ano após pesquisa do Governo indicar desconfiança de mais da metade dos entrevistados nas forças policiais de Minas, a PMMG desenvolve projetos em BH, que ten- tam modificar essa realidade. Página 3 A jornalista Ana Paula de Oliveira, ex-assis- tente de arbitragem, que tenta se consolidar como apresentadora na TV Alterosa, em BH, considera o torcedor mineiro “bairrista”. Página 16 Programa ‘Aqui Tem Farmácia Popular’ possui lista com 113 medicamentos. Na rede privada o programa disponibiliza apenas 24. Página 9 Jovens empreendedores foram premiados no Desafio Sebrae, no Rio. Jornal MARCO foi escolhido para representar Minas Gerais. Página 7 Há mais de 30 anos, moradores do Bairro Minas Brasil dizem sofrer com as conse- quências das frequentes quedas de energia, principalmente à época de chuvas. Página 4 Minas Brasil sofre quedas de energia CONFIANÇA Distribuição não é igual DANIEL NUNES DANIEL NUNES MARIA CLARA MANCILHA MARIA CLARA MANCILHA LAURA DE DAS CASAS

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Jornal Marco, 288

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Page 1: Marco 288

Dos campospara a tela

Empresáriosdo futuro

marcoLaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas•LaboratóriodeJornalismodaFaculdadedeComunicaçãoeArtesdaPucMinas

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Abrigo antiaéreo doEdifício Acaiaca, no centro, é utilizado porlojistas como depósito decarga e descarga. Página 11

Aplicação da lei queobriga ensino de músicaestá em estágio diferentenas escolas particulares epúblicas da RegiãoNoroeste Página 13

Nascido em Itabirito,Telê Santana, técnico quefez história no futebolbrasileiro, é reverenciadopor seus conterrâneos Página 15

Abril • 2012Ano 40 • Edição 288

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POLÍCIA MUDA PARA GANHAR

Quase um ano após pesquisa doGoverno indicar desconfiança de maisda metade dos entrevistados nasforças policiais de Minas, a PMMGdesenvolve projetos em BH, que ten-tam modificar essa realidade. Página 3

A jornalista Ana Paula de Oliveira, ex-assis-tente de arbitragem, que tenta se consolidarcomo apresentadora na TV Alterosa, em BH,considera o torcedor mineiro “bairrista”. Página 16

Programa ‘Aqui Tem Farmácia Popular’ possuilista com 113 medicamentos. Na rede privada oprograma disponibiliza apenas 24. Página 9

Jovens empreendedores foram premiados noDesafio Sebrae, no Rio. Jornal MARCO foiescolhido para representar Minas Gerais. Página 7

Há mais de 30 anos, moradores do BairroMinas Brasil dizem sofrer com as conse-quências das frequentes quedas de energia,principalmente à época de chuvas. Página 4

Minas Brasil sofrequedas de energia

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2 ComunidadeAbril • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

jornal marcoJornal Laboratório da Faculdade de Comunicação e Artes da PUC Minas www.pucminas.br . e-mail: [email protected]

Rua Dom José Gaspar, 500 . CEP 30.535-610 Bairro Coração Eucarístico Belo Horizonte Minas Gerais Tel: (31)3319-4920

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Diretora da Faculdade de Comunicação e Artes: Profª. Glória Gomide Chefe de Departamento: Profª.Maria Libia Araújo Barbosa Coordenador do Curso de Jornalismo: Profº. Francisco Braga Coordenadora do Curso de Comunicação / São Gabriel: Profª.Alessandra GirardiCoordenador do Curso de Jornalismo (São Gabriel): Profº. Jair Rangel

Editor: Profº Fernando Lacerda Subeditores: Profª Maria Libia Araújo Barbosa e Profº Mário Viggiano Editor Gráfico: Profº. José Maria de Morais

Monitores de Jornalismo: Felipe Augusto Vieira, Gabriela Matte, Isabela Cordeiro,Keneth Borges, Marina Neves, Michelle Oliveira, Mouni Dadoun, Piero Morais eRaíssa Pedrosa. Monitora de Fotografia: Maria Clara MancilhaMonitor de Diagramação: Nathan Godinho

Fotolito e Impressão: Fumarc . Tiragem: 12.000 exemplares

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RAISSA PEDROSA, 4º PERÍODO

Chegamos ao número 288, primeira edição

deste ano especial em que o MARCO completa 40

anos. Durante todo esse tempo, o jornal manteve a

ideia de informar e trazer fatos que sejam rele-

vantes para seus leitores, assumindo, assim, um

contrato com o público, tendo o compromisso de

sua periodicidade e credibilidade ao passar a infor-

mação. Buscamos sempre trazer assuntos perti-

nentes a serem discutidos, que atinjam direta ou

indiretamente a comunidade, como casos de

dengue, particularidades do trânsito, curiosidades,

diferentes culturas, entre outros que possam infor-

mar e entreter nosso leitor.

São reportagens que remetem ao bem estar,

assim como grandes acontecimentos, e que

mostram de certa forma, fatos marcantes para os

moradores do entorno do Coração Eucarístico e,

com a criação do Curso de Comunicação no São

Gabriel, no ano 2000, atingindo a comunidade

daquele bairro, que fazem nosso jornal. Em outubro

de 1974, na edição 11, o Jornal MARCO fez uma

cobertura sobre os 3 anos do acidente no Pavilhão

da Gameleira que marcou a vida dos moradores do

Bairro de mesmo nome. A edição 54, em 1981, foi

dedicada às crianças dos Bairros Dom Cabral, João

Pinheiro e Vila 31 de março, que saiu na segunda

quinzena de outubro, mês em que se comemora o

‘Dia das Crianças’ e contou com ilustrações e par-

ticipação efetiva desses meninos.

O MARCO acompanha, desde o início, as cons-

truções e modificações feitas na comunidade, assim

como o abandono destas, como, por exemplo, em

abril de 1994, o Jornal mostrou a situação do

Centro de Integração e Promoção do Menor, no

Bairro Minas Brasil, que fora abandonado em 1991

e que estava em uma situação que atraía ratos,

baratas e entulho. Recentemente, a equipe do

MARCO apontou os problemas na Praça da

Federação, no Coração Eucarístico, em reportagem

na edição 280, de abril de 2011, que apresentava

lixeiras quebradas, falta de cuidado e não atraía

mais os moradores.

Posteriormente, o jornal acompanhou a reforma

da praça que foi adotada pela PUC Minas e

mostrou os benefícios da mudança para a comu-

nidade, bem como o retorno dos moradores à

praça, que ganharam um novo espaço de lazer, no

mês de setembro, edição 284. Nesta edição, o

MARCO reporta a construção da 9ª Companhia da

PM, no Bairro Coração Eucarístico, uma conquista

para os moradores que buscam mais policiamento.

Durante anos, o MARCO vem recebendo reco-

nhecimento através de prêmios nacionais, o mais

recente foi representar Minas Gerais, em março, na

Final Internacional no Desafio Sebrae 2012, jogo

voltado para universitários, que simula o dia a dia

das empresas. Este reconhecimento é de grande

importância para nós, mas, mais importante ainda,

é o seu reconhecimento, leitor, que participa do

Jornal sugerindo pautas, fazendo críticas e dando a

possibilidade para os repórteres terem, além de

uma experiência laboratorial, uma experiência de

relacionamento com o mundo real.

MARCO, criado há 40 anos, juntocom a comunidade

editorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialeditorialEDITORIAL

expedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteexpedienteEXPEDIENTE

APÓS 5 MESES, COREUVOLTA A TER DELEGADOQuarta Delegacia Distrital tenta atender ocorrências que ficaram paradas entre outubro de 2011 e março de 2012

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MARIANA OZÓRIO LACORTE

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

KENETH BORGES1º, 4º, 5º PERIODO

O delegado RodrigoBaptista Damiano, de 34anos, assumiu em marçoúltimo a 4ª DelegaciaDistrital da Polícia Civil deMinas Gerais, localizada àRua Dom Joaquim Silvério,365, no Bairro CoraçãoEucarístico, Região No-roeste de Belo Horizonte,que ficou cinco meses semtitular. Segundo ele, oprimeiro desafio é colocarem dia as cerca de 12 milocorrências que ficaramacumuladas no período.

Remanejado pela Supe-rintendência de Inves-tigações e Polícia Judiciária,Rodrigo Damiano atuou,por cinco anos, no Depar-tamento de Operações Es-peciais do Barreiro(Deoesp). Ele informou aoMARCO que duas milocorrências que estavamparadas já foram des-pachadas desde que eleassumiu o cargo.

"Foram cinco meses semnenhum despacho no sis-tema", conta o delegado,acrescentando que a maio-ria dessas ocorrências refe-rem-se a furtos e roubos.Ele destaca ainda uma ten-tativa de homicídio noAglomerado Buraco doPeru. "A demora consi-derável no despacho dasocorrências é o que geraessa sensação de insegu-rança, e os bandidos vãotendo essa sensação de quenão aconteceu nada e vão

reiterando nessas condu-tas", observa.

As ocorrências que estãosendo regularizadas nãodizem respeito exclusiva-mente ao Coração Eu-carístico e sim a toda áreade atuação da 4ª DelegaciaDistrital, que abrangevários outros bairros, comoAdelaide, Alto do Caiçara,Alto dos Pinheiros,Caiçara, Carlos Prates,Dom Cabral, Jardim Mon-tanhês, João Pinheiro, Mi-nas Brasil, Padre Eustáquio,Pedro II, os aglomeradosSavassinha no Bairro JoãoPinheiro e Buraco do Peruno Bairro Carlos Prates,além das vilas Delta, dosMarmiteiros, Itaú, Lorenae Oeste.

De acordo com nota ofi-cial encaminhada pela As-sessoria de Comunicação

da Polícia Civil de MinasGerais (Ascom-PMMG) ocargo ficou vago no períodoentre outubro de 2011 amarço de 2012 porque aautoridade policial queseria a responsável pelaunidade, esteve impossibi-litada de assumir o cargoem função de licençamaternidade. Para suprir aausência da titular, delega-dos de outras unidadesforam destinados a títulode revezamento para aten-der à demanda da delega-cia.

Também por intermédiode nota, a Assessoria deComunicação da PolíciaCivil informou a dinâmicade alternância que delega-dos de outras unidadesfazem de acordo com ademanda, a fim de que osmalefícios da carência de

uma autoridade sejamreduzidos, minimizando osprejuízos gerados pelaausência do respectivo titu-lar.

Atualmente há um con-curso público em andamen-to para a Polícia Civil, ondejá houve a prova escrita queestá em processo avaliativopara a etapa seguinte que éa prova oral como soluçãopara a falta de pessoal emcargos operacionais eadministrativos da corpo-ração. Porém, segundoRodrigo Damiano, dasvagas oferecidas, não sãosuficientes para suprir ademanda existente emMinas Gerais. O policialinforma que atualmentesão mil delegados. “Paraum estado gigantesco, épouco", conclui o delegado.

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LEIDIANE APARECIDA SOUSA1º Período

Em troca de dois quilosde alimentos não pere-cíveis, doados ao GrupoFraternidade Irmã Scheila,candidatos a diferentesconcursos públicos tiveramaula de português, pre-parando-se para enfrentar aforte concorrência. Essaaula, realizado no começodeste mês e que não temfinalidade lucrativa, foiministrada pela dupla deprofessores Márcia Baldi eÂngelo Zorzi, dentro doprojeto batizado ProjetoAulão Solidário Portuguêsin Foco'.

A aula aconteceu na sededa Associação Pré-PUC &UFMG, localizada à Ruados Goitacazes, 42, no cen-tro de Belo Horizonte, queabrigará também as próxi-mas edições do projeto. Agarantia disso foi dada pelagerente do pré-vestibular,Jeanne d'Arc de AlmeidaFerreira, que anunciou acessão gratuita do espaçopara que o 'Aulão SolidárioPortuguês in Foco' possaser realizado ali. Segundoela, não haverá nenhumacobrança dos participantesdessa iniciativa.

O principal objetivodesse projeto é auxiliar can-didatos a concursos públi-cos, que não têm recursospara pagar cursinhos. Oprograma e o materialseguem o conteúdo pro-gramático já estabelecidonos editais. "O material é

estruturado levando emconsideração as dificul-dades mais comuns naLíngua e as tendências debancas examinadoras paraconcursos", explica MárciaBaldi, que atua como pro-fessora da matéria há 23anos.

Eliete Maria Martins, de22 anos, aluna do projeto,soube do aulão peloFacebook, um dos meiosutilizados para a divul-gação, assim como ofamoso "boca-a-boca". Osinteressados ficam sabendotambém por conheceremum dos professores, como éo caso da candidata ao con-curso do Tribunal deJustiça, Lúcia Oliveira. "Jáfui aluna da Márcia e par-ticipei de outras aulas",declarou.

As aulas são realizadassem qualquer intenção degerar lucros, apenas com oobjetivo de ajudar ao pró-ximo. O projeto foi ideal-izado por Márcia Baldi,que convidou o colegaÂngelo Zorzi para ajudá-la.Juntos eles iniciaram asatividades. Grupo Fra-ternidade Irmã Scheilaatende crianças e idososcarentes. "Este trabalho émuito válido, pois a con-tribuição acontece nos doissentidos, é bom para oaluno que pode estudarsem grandes custos e para ainstituição que recebe asdoações", afirma ÂngeloZorzi.

Preparatório gratuito e solidário

Rodrigo Baptista Damiano tem como primeira missão despachar todas as ocorrências que ficaram acumuladas

Objetivo do projeto é ajudar na preparação de candidatos a concursos

MARIA CLARA MANCILHA

RAISSA PEDROSA

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3ComunidadeAbril • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

No Bairro Califórnia, na RegiãoNoroeste, os moradores reclamamda ausência da Polícia Militar,segundo o diretor sócio-cultural daAssociação de Moradores doConjunto Califórnia, Júlio CésarTeixeira. "Eles tinham que estarmais presentes. Mas a gente vê queé uma necessidade geral da cidadetoda, não é específico do bairro",diz. "Como a PM é mais preventi-va, quanto mais eles fossem vistos,melhor seria", completa. Júlio Césarrelata que a aproximação da PolíciaMilitar existe e que, quandoacionados, os policiais aparecem,mas que há uma necessidade de

uma presença maior deles no bair-ro. "A gente tem um problemagrave aqui. As estatísticas epesquisas dizem que é uma regiãosuper calma, então a PM atuapouco. O pessoal não faz ocorrên-cia e para efeito de pesquisa isso éruim", explica. Ele afirma que aassociação tem instruído a popu-lação a registrar ocorrência paraque a polícia dê maior atenção paraa região. Um novo posto de serviçoda PM está sendo instalado nobairro, mas ainda não está pronto.Juntamente com essa novidade ecom o projeto de instalação daRede de Vizinhos Protegidos no 2º

semestre, a população espera que opoliciamento melhore.

O presidente e fundador daAssociação dos Moradores doBairro Santo Antônio e entorno daAv. Prudente de Morais (Amor-santo), Geraldo Angelino, 60 anos,diz que a população ali tem “inteiraconfiança” na PM. O advogadoGege, como é conhecido entre osmoradores, mora no bairro SantoAntônio há 26 anos e refundou aassociação em 2006. A parceriacom a PM existe desde então. "Essaparceria sempre funcionou. Nóstemos um canal muito aberto coma PM. Nós vamos a reuniões,

somos chamados, fazemos su-gestões", conta. Ele diz que aequipe de policiais que atende aosbairros é majoritariamente fixa."Claro que existe uma movimen-tação natural de contingente, masa maioria dos militares é fixo. Isso émuito importante", diz.

O casal Luiz Antônio BatistaFerreira, 47 anos, e AnaMagmani, 44 anos, que cami-nhava pela Avenida Prudente deMorais, aproveitando o fecha-mento de um quilômetro delaaos domingos para o trânsito deveículos, informou se sentirseguro no bairro. "Eu vejo carro

da PM passando com frequên-cia. A gente não tem nada areclamar não", diz a Ana. "Umaaproximação com a polícia nãoexiste. Eu não conheço ninguémpor nome, mas não me sintoinseguro, eu confio", completaLuiz Antônio. Eles estavamacompanhados dos dois filhos ede uma amiga. Outra moradorado Santo Antônio, AdelinaVarela, 90 anos, declara quenunca teve problemas de segu-rança. "Moro há 70 anos aqui eninguém nunca entrou naminha casa. Qualquer coisa apolícia está lá”, afirma.

Líderes comunitários têm opiniões distintas

PM MAIS PERTO DA POPULAÇÃONovo Comando da Polícia Militar na capital mineira direciona ações para aproximar a Corporação dos moradores e, desta forma, ganhar mais credibilidade em seu trabalho diário

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GABRIELA MATTE

3º PERIODO

Um ano após a divulgação depesquisa realizada pela Secretariade Estado de Defesa Social(SEDS) que constatou que maisda metade da população mineiranão confia no trabalho desen-volvido pelas forças policiais noestado, a Polícia Militar vemimplementando ações em BeloHorizonte, desde o início desteano, visando mudar essa reali-dade. Um caminho é a setoriza-ção da Polícia Militar nos bairrosda capital mineira.

O projeto começou a ser insta-lado a partir da mudança noComando de Policiamento daCapital (CPC), em janeiro últi-mo, quando assumiu o coronelPM Luiz Rogério de Andrade, etem a intenção de desmembrar acélula da polícia para que ela tra-balhe de forma mais próxima docidadão, melhorando o canal decomunicação entre a população eos policiais. Segundo a tenenteDébora Santos Perpétuo Antu-nes, chefe da Assessoria de Co-municação do CPC, essa é umadiretriz para todo o estado e temcomo foco o policiamento comu-nitário. "Antes não tinha nemtempo para esse tipo de projetocomunitário. Pensava-se que anossa missão tinha que ser sóprender bandido mesmo, e acomunidade ia ter que aguentardo jeito que está", observa.

O projeto visa conseguir, nomínimo, uma célula em cada bair-ro, ao invés de centralizar o coma-ndo num único quartel que aten-de a 50 bairros, por exemplo. Essacélula poderia agir como base co-munitária móvel, que usa veículo,uma edificação, uma sala ou espa-ço cedido pela Prefeitura. Seriaimplementado um modelo seme-lhante ao de Unidades de PolíciaPacificadora (UPP) do Rio deJaneiro, e o modelo de São Paulo,de bases comunitárias. "Hoje, agente tem um investimento bemmaior. As viaturas são tercei-rizadas, a frota aumentou muito,a gente tem uma condição deequipamento, de armamento quedão condições para o policial tra-balhar. O efetivo está aumentan-do, mas em contrapartida, temum monte de gente aposentan-do", explica a oficial.

A pesquisa da SEDS, divulga-da em junho de 2011, referenteao ano anterior, constata que ape-nas 47,3% dos entrevistados dis-seram confiar no trabalho da PMe da Polícia Civil. Esse índice foimensurado pela primeira vez peloGoverno. Foram ouvidos 2808cidadãos de 96 cidades mineiras,todos maiores de 16 anos, devariada escolaridade, classes so-ciais, sexo e cor de pele. Foramrealizadas 315 entrevistas emBelo Horizonte. Paradoxalmente,o indicador é considerado positi-vo, se comparado às outrasregiões do Brasil e à média

nacional, que é de 27,32%."Ainda há muita truculência na

abordagem da população nocotidiano", afirma o doutor emsociologia Luis Flávio Sapori,especializado em segurança públi-ca. Para ele, os graves problemasde corrupção em Minas e emtodo o Brasil também contribuempara a corrosão da imagem dapolícia, uma vez que o cidadãotem a percepção dessa realidadeno seu dia a dia. Conforme osociólogo, que foi adjunto deSegurança Pública do Estado deMinas Gerais de 2003 a 2007, etambém coordenou o InstitutoMinas Pela Paz entre 2010 e2011, os dois fatores básicos quepodem explicar a baixa confiabili-dade da população são as ati-

tudes, algumas vezes, agressivas,mal-educadas, preconceituosas eopressivas da PM em relação àpopulação e à corrupção.

A tenente Débora concordaque a corrupção, infelizmente,existe, mas a considera minoria."Não é sempre que a gente temcasos desse tipo de denúncia. Elessão sempre apurados, a gentebusca esclarecer e informar a po-pulação pra realmente tirar oproblema de circulação quandoele houver", diz a policial militar,ao defender que a Corporaçãotem meios de correção muito efi-cientes e um juizado especial, aJustiça Militar, criada para com-bater esse tipo de crime.

Segundo Débora, a corrupçãocertamente contribui para dene-

grir a imagem da polícia e provo-ca um distanciamento da popu-lação. "Faz com que caia na valacomum e no senso comum de quepolicial e político são corruptos eaí gera esse medo de achar quenão vai adiantar de nada dar umainformação para um corrupto",desabafa. A tenente diz que exis-tem outras pesquisas mais antigasque revelam que a população deMinas, no que diz respeito à polí-cia mineira, não generaliza todosos polícias como corruptos, comoacontece em outros estados.

Sapori afirma que faltamavanços fundamentais para re-verter a baixa confiabilidade dapopulação nas polícias mineiras.Primeiramente, a polícia deve seaproximar mais do cidadão, tor-nando-se pacificadora e, paratanto, precisa conversar mais. "Apolícia precisa perceber que atarefa dela é prevenir o crime enão combatê-lo", diz. Em segun-do lugar, Sapori coloca que é pre-ciso melhorar a capacitação e otreinamento do policial, que jáestá na rua há alguns anos,trazendo-o de volta para dentroda corporação para se reciclar.Em contrapartida ao quedefende a PM, Sapori consideraque é preciso ser mais vigilante àcorrupção dentro das corpo-rações. "É necessário melhorar ascorregedorias que ainda sãomuito corporativistas. Não con-seguem punir o policial corruptoque é como uma ervadaninha”.diz

Há 21 anos, o ProgramaEducacional de Resistênciaàs Drogas e à Violência(Proerd) vem mudando avida de crianças e jovens deBelo Horizonte. O projeto éuma réplica de um programacopiado dos Estados Unidose, por isso, possui suporteinternacional. "A gente passalições de cidadania, comodizer não às drogas e à vio-lência, como valorizar osamigos e a família", explica ocabo Marcelo Rosa da Silva,41 anos, que desde 2004 tra-balha com o Proerd, aten-dendo crianças e jovens do5º e 7º ano do ensino funda-mental.

Cabo Marcelo conta quepara começar a dar aulas no

projeto, teve que fazer umcurso e que a cada seis mesesfaz seminários de reciclagempara aprender novos méto-dos. "Eu faço porque gosto.É uma questão de satisfação.Além de você estar fazendoseu trabalho, você está aju-dando vidas de jovens", diz.Ele trabalha em oito escolasdiferentes, nos turnos damanhã e tarde. Em umamesma sala de aula, o cursodura seis meses.

A Polícia Militar fornecelivro e certificado para cadaaluno. Ao final do curso, umconcurso de redação é feitoentre os alunos, que devemescrever sobre o que apren-deram. Na escola MunicipalAntônio Mourão Guima-

rães, no Bairro Cardoso,Região do Barreiro, JoãoPaulo Basílio dos Santos, 11anos, foi o ganhador dosemestre passado. "Eu gosteimais de aprender sobre asdrogas, mudou muita coisapara mim, eu passei a darconsciência para minhafamília e meus amigos",conta. A vice diretora daescola, Shirley ZaniniGaudareto, 49 anos, aprovaa existência do projeto. "Adisciplina, que é o grande nóda educação, melhorou bas-tante na escola com a chega-da do Proerd", relata.

A mãe de um ex-aluno daescola, Mônica Aurora, 43anos, diz que o Proerdmudou a vida do seu filho. "A

criança nunca esquece. Agoraele já é um rapaz, mas foimuito bom pra ele. Elecresceu e eu não tive medonem preocupação de deixá-lolivre", diz.

Em uma escola do mesmobairro, a Escola MunicipalDinoráh Magalhães Fabri, ocabo Mauro Lúcio Alves deCarvalho, que trabalha ali,conta que participa do proje-to por prazer e adora o cari-nho que recebe das crianças."O militarismo já acabou. Apolícia mudou. A gente estásempre dentro da Vila. Ofoco do Proerd é vila e aglo-merado pra mostrar que elesnão estão esquecidos",esclarece o Cabo Carvalho.

Programa auxilia jovens no combate às drogas

Especialista em segurança pública Luis Flávio Sapori analisa a falta de confiança nas polícias

Cabo Mauro Lúcio Carvalho: “o militarismo acabou. A Polícia mudou”

DANIEL NUNES

DANIEL NUNES

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ISABELLA GOMES BARBOSA

ISABELLE DE MELO RÊDA1º PERIODO

A açougueira MariaVicentina De Paula, de 48anos, é uma pessoa em quetodo ano, junto com seumarido, faz promessas. Eesse ano foi especial paraela. "Parei de beber du-rante a quaresma e con-segui graças”, diz Mariaagradecendo pelo sonhoalcançado. "Meu filho de13 anos conseguiu entrarpara a escolinha de vôleido Cruzeiro e eu nãopoderia estar mais feliz",conta. Ela diz que suafamília é muito religiosa epor isso seguem sempre ospreceitos da Igreja Cató-lica. "Em agradecimentofaço promessas", acrescen-ta.

As promessas, assimcomo as caridades, absti-nências e orações, sãomuito comuns nos dias daquaresma, período come-morado pela Igreja Cató-lica que antecipa a Páscoa,e no bairro Coração Euca-rístico há muitas adesões aessa prática de cumprirpromessas, como no casode Maria Vicentina e suafamília.

Mesmo sendo muitosignificativas para alguns,outros não conseguemseguir à risca as promessas.As amigas Vera Rocha eFátima Camargos seguema mesma tradição: a denão comer carne durante aquaresma nas quartas esextas-feiras. Porém antesdo fim dos quarenta diassagrados elas quebraram apromessa, interrompendoa tradição. Apesar disso,ambas disseram não seesquecer da importânciada mesma.

Apesar de ter muitos

praticantes, o verdadeirosentido pelo qual as pes-soas fazem as promessasnão é entendido portodos, e é explicado peloprofessor de CulturaReligiosa da PUC Minas,Salustiano AlvarezGomez, 56 anos. "As pes-soas fazem promessas pormotivação pessoal, o sacri-fício como a igreja colocatem um sentido de melho-rar sua vida, de soli-dariedade e contribuição",observa.

Dentre as promessas, amais conhecida é a de tro-car a carne vermelha por

peixe nesse período.Giovanni Viana, gerentecomercial do CarrefourCoração Eucarístico, afir-ma que a venda de peixessobrepõe à de carnedurante o período daquaresma, e os peixes maisvendidos foram bacalhau emerluza.

"Os quarenta dias da qua-resma significam travessia,percurso, preparação parauma vida melhor. Fazer osacrifício da promessa é sedispor a procurar o ideal deuma vida melhor", reforçaSalustiano.

4 ComunidadeAbril • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

As quedas de energia

acontecem com a mes-

ma frequência em bair-

ros próximos ao Minas

Brasil. O sapateiro

Antônio Sabino, mora-

dor do Bairro Padre

Eustáquio há 39 anos,

conta que já passou noi-

tes inteiras sem energia.

“A última vez foi na

temporada de chuva, é

só chover que a energia

cai”, afirma.

Já Noraldo Eugênio,

comerciante e morador

do bairro há 55 anos,

diz que há algum tempo

não tem quedas de ener-

gia onde ele mora. “Pa-

ra mim o problema não

é tão grave, até que a

energia cai poucas na

minha rua”, diz. A mo-

radora Márcia Rezende,

que está há 32 anos no

Padre Eustáquio, tam-

bém diz que não houve

quedas recentes, mas

confirma que deve exis-

tir um problema com as

conexões elétricas da

região onde ela mora.

“Além da demora para

voltar, a energia fica

‘fraca’ por muito tem-

po”, diz.

Há reclamações de

quedas de energia tam-

bém no Coração Euca-

rístico, próximo à divisa

com o Minas Brasil. O

aposentado Olírio

Ferreira, morador do

bairro há 29 anos, diz

que tem problemas

constantes com o for-

necimento. “Neste ano

a energia já caiu duas

vezes na minha rua, o

maior problema é ficar

sem o elevador para

subir para o meu

apartamento”, conta.

José Inácio, aposentado

e morador do bairro há

20 anos, afirma que as

quedas de energia não

acontecem somente na

época de chuvas. “Aqui

a energia cai quando

chove, mas quando não

chove também”, diz.

Ele ainda menciona a

importância do for-

necimento contínuo de

energia. “Quem de-

pende do fornecimento

de energia para tra-

balhar está correndo um

grande risco nessa

região”, acrescenta.

Outros bairros daregião são afetados

FALTA DE LUZCAUSA PREJUÍZO Moradores sofrem com a frequente interrupção de energia causada pelas temporadas

de chuvas. A região possui postes com excesso de fiação, o que potencializa o problema

nJONAS SOUSA2º PERIODO

O fornecimento deenergia elétrica no BairroMinas Brasil tem sofridointerrupções frequentes,principalmente em dias dechuva e ventos. A regiãoapresenta instalações elé-tricas em contato comárvores antigas e postescom excesso de fiação, oque facilita a interrupçãode energia causada por aci-dentes simples, como que-das de galhos, arrebenta-mentos de fios e curtos-circuitos. De acordo commoradores ouvidos peloMARCO, o problema exis-te há mais de 30 anos eainda não teve uma solu-ção definitiva. Os mora-

dores reclamam tambémda demora para o restabe-lecimento da energia, oque causa transtornos eaumenta os danos materi-ais.

O engenheiro RodrigoSoares, morador do BairroMinas Brasil há cerca de35 anos, afirma que ofornecimento de energia éinterrompido em todas astemporadas de chuva. Se-gundo ele, as quedas deenergia tem diminuído nosúltimos anos, mas o pro-blema ainda não teve umaresolução efetiva. "Há cin-co anos as quedas de ener-gia eram mais frequentes,mas o problema ainda nãoacabou", afirma.

Ainda de acordo comRodrigo, a crescente verti-calização do bairro torna

maior a demanda porenergia e, portanto, au-menta os prejuízos e osproblemas quando seu for-necimento é interrompido.O pai dele, o advogadoaposentado Pedro Jorge,que mora no bairro há 38anos, afirma ter perdidoaparelhos eletrônicos porcausa das quedas de ener-gia, mas não teve sucessoao tentar reembolso pelaCompanhia Elétrica deMinas Gerais (Cemig).

O comerciante GilmarVieira, morador do MinasBrasil há 15 anos, tambémafirma que o restabeleci-mento da energia elétricanormalmente é demorado,chegando a períodos deseis horas sem eletrici-dade. "Há um ano,enquanto acontecia uma

instalação de internet naminha casa, um pombopousou em um fio de ener-gia, levou um choque e feztoda a rua ficar sem luzpor mais de cinco horas”,afirma. “O técnico disseque ele conseguiu der-rubar seis conexões deenergia tamanha a fragili-dade das instalações",acrescenta Gilmar.

A mulher dele, MônicaRodrigues, moradora dobairro há 38 anos e donado restaurante onde elestrabalham, afirma termuitos prejuízos combebidas e alimentos que setornam inutilizáveis quan-do são condicionados deforma inadequada pormuito tempo. "Sempreperco as carnes quandofalta energia. Também nãodá para salvar as bebidas,

não posso vender nem de-volver depois que elas fi-cam sem refrigeração pormuito tempo", dizMônica.

A assessoria de impren-sa da Cemig revelou nãopoder dar uma posiçãoimediata da empresa, jus-tificando que o problema écomplexo e que a apuraçãoé demorada, mas infor-mou que o setor técnicoestá verificando se a situ-ação é específica do BairroMinas Brasilo e se existealgum projeto a respeitodas quedas de energia. Osmoradores entrevistadosdisseram que quandoligam para avisar à Cemigsobre interrupções dofornecimento de energia,sempre escutam uma

gravação que informa que

a empresa já está ciente do

problema e que está tra-

balhando para resolvê-lo.

"Nem ligamos mais, já até

desistimos depois de tan-

tos anos com esse proble-

ma", afirma Gilmar.

Durante esse tempo de

energia oscilante e com

frequentes quedas, ne-

nhum projeto de pre-

venção às interrupções do

fornecimento de energia

em períodos de chuva fun-

cionou efetivamente. "A

solução definitiva seria a

instalação subterrânea da

fiação ou, pelo menos, a

poda das árvores que estão

em contato com os fios",

propõe o morador e enge-

nheiro Rodrigo Soares.Pedro Jorge não obtve reembolso dos aparelhos eletônicos perdidos com as quedas de energia no Bairro Minas Brasil

Gilmar Vieira e sua esposa, Mônica Rodrigues, sofrem com prejuízos em seu restaurante devido a falta de luz

MARIA CLARA MANCILHA

Promessas se repetem todoano no período da quaresma

Maria Vicentina prometeu não ingerir bebidas alcoolicas durante a quaresma deste ano e atingiu o objetivo

MARIA CLARA MANCILHA

MARIA CLARA MANCILHA

Page 5: Marco 288

5ComunidadeAbril • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

O crescimento dacriminalidade em Mi-nas Gerais em 2011 foide aproximadamente22% em relação ao anode 2010, considerandoos casos de homicídiosem Belo Horizonte,conforme dados divul-gados no dia 01 demarço, pela Secretariade Estado de DefesaSocial (SEDS). Somen-te em Belo Horizonte, onúmero de furto ouroubo de veículos foi19,7% maior em 2011,em relação ao ano ante-rior. Em 2010, a capitalregistrou 5.088 roubosou furtos, o que equi-

vale a 14 crimes pordia.

Segundo o majorGibran Guedes, é pos-sível acompanhar umdecréscimo da crimina-lidade do ano de 2003até 2010, mas a partirdo ano de 2011, houveo aumento da crimina-lidade em MinasGerais. "A gente temque analisar, também,que em razão dessesvários anos de decrésci-mo, chegamos numponto em que o fenô-meno criminal se tor-nou mutante, que énecessário também àimplantação de novas

formas de gestão, parapoder fazer frente a essepequeno acréscimo dacriminalidade, que foiobservado em 2011.Isso já vinha sendoimplementado com asetorização dos serviçosda Polícia Militar, e essanova forma de gestãoda Polícia Militar,forma setorizada, buscaa aproximação daspatrulhas fixadas emdeterminados bairros,para que o policial efeti-vamente tome conheci-mento e mantenha umrelacionamento maisaproximado com acomunidade", disse.

Crescimento da criminalidade

entre 2010 e 2011 é de 22%

COMÉRCIO NO ANEL RODOVIÁRIO Preço popular, diversidade de produtos e facilidade no pagamento conquistam o consumidor e garantem o sustento de várias familias que se estabeleceram às margens do Anel Rodoviário

n

MARIANA OZÓRIO LACORTE1º PERÍODO

Em meio ao fluxo cons-tante de carros, caminhõese motos que caracteriza arotina do Anel Rodoviário,na altura dos Bairros JoãoPinheiro e Dom Cabral, háum comércio variado àsmargens da via que,muitas vezes, passa des-percebido por motoristas,motociclistas e pedestres.

Estabelecimentos sim-ples, criados e administra-dos igualmente por pes-soas simples, que possuemuma trajetória históricafamiliar profunda: mãesque iniciaram o comérciopara sustentar a casa e osfilhos e, hoje, filhos quedão continuidade a essemesmo comércio e queajudam as mães a susten-tar a casa.

Esse, por exemplo, é ocaso de Efigênia Medeiros,61 anos, que há 15, desdeque os filhos eram pe-quenos, comercializa emsua modesta loja, que -funciona de segunda-feiraa sábado, uma variedadede produtos: roupas, sapa-tos, brincos e colares usa-dos, roupas íntimas e

ovos. No mesmo local háuma faixa logo acima daloja que anuncia "Com-putação e Papelaria", localno qual o filho deEfigênia, Ronildo Medei-ros, 24, é responsável pordar aula de informática.

A loja, situada abaixoda casa da família, foi cria-da com essa variedade deprodutos com o intuito deque a proprietária pudessevender um pouco de cadacoisa para ajudar em casa,mas sem ter que se afastarda mesma. A escolha pelavenda de roupas usadasocorreu em função da faltade dinheiro para investirna compra de roupasnovas para revenda. Essasroupas não são compradaspor Efigênia previamente,os donos das mesmaslevam-nas à loja paraserem vendidas em con-signação, e Efigênia recebeum percentual de 30%sobre a peça vendida. As -roupas ofertadas são mui-to baratas, com variaçãode preço, estabelecido pelo dono da roupa, entreR$1,00 e R$10,00.

Segundo Efigênia, avenda dos produtos ajudabastante nas contas decasa, e uma dificuldade é,

às vezes, a venda dos pro-dutos 'fiado' que não sãopagos posteriormente."Ajudam bastante: é umafruta, um leite, uma carneque dá para comprar,ajuda bem. De vez emquando fica alguém sempagar, de vez em quandotomo um cano", conta.

Parecido com o caso deEfigênia, é o de EniMoreira Elias, de 69 anos,que junto com o filhoGilson Elias, 34, adminis-

tra um hortifrutigranjeirosituado no mesmo local há25 anos. Dona Eni, que há35 anos trabalha no seg-mento alimentício, é umamulher humilde."Eu inclu-sive nem leitura direito te-nho e trabalho aqui com abalança", diz. As frutas everduras compradas àvista na Ceasa são muitasvezes vendidas fiado aosclientes, o que podeacabar por prejudicar olucro do estabelecimento,

já que esses clientes oudemoram a pagar ou nemchegam a pagar pelosalimentos "comprados".Gladison, que desde os 14anos trabalha com a mãeno hortifruti, formou-seno segundo grau no anopassado e, através daprova do Enem (ExameNacional do EnsinoMédio), sonha em ingres-sar em uma faculdade nopróximo ano.

A fim de evitar quemuitas dessas frutas e ver-duras pereçam, mãe efilho, vendem esses ali-mentos na rua: pesam afruta ou verdura na balan-ça, depois a embalam,colocam o preço e em umcarrinho de supermercadosaem vendendo de portaem porta.

ALTERNATIVA Assimcomo nas histórias anteri-ores, Maria da PenhaFerreira, 49, que já vendeusamambaias, flores e ma-çãs feitas de garrafa pet, éproprietária de um esta-belecimento comercialdesde 1993, que já foi bar,mas que atualmente é umaloja de artesanato feitopor ela mesma. Ali, Mariada Penha, também vende

roupas femininas e mas-culinas, bolsas, colares,brincos, cintos e roupaíntima e revende produtosAvon, Natura, AbelhaRainha e Jequiti, queauxiliam muito na rendafamiliar.

Ela optou por começara vender esses produtosem função da dificuldadede se inserir no mercadode trabalho devido a suabaixa escolaridade. Mariada Penha escolheu fecharo bar que possuía anterior-mente e iniciar a venda deartesanato em panos deprato por causa do prejuí-zo gerado por vender'fiado' quando era dona dobar e por ter grande prazerem produzir artesanato.

Atualmente, a comer-ciante não vende mais'fiado', exige da clientelaque não é de sua confiançao pagamento à vista previ-amente da mercadoriaencomendada e o desenhoque mais gosta de pintarnos panos é a bailarina.Dona Maria sonha emexpandir o seu negócioatual e voltar a produzir evender objetos feitos apartir de garrafas pet.

Eni Moreira trabalha ao lado de seu filho Gilson no comércio da família

9ª CIA da PM no Coreu éconquista para a comunidade n

PETERSON MOREIRA3º PERÍODO

No mês de março,foram iniciadas as obraspara a construção do quar-tel que abrigará a 9ª CIAda Polícia Militar deMinas Gerais (PMMG),que será transferida de suaatual sede na Avenida D.Pedro II, no BairroCaiçara, para a Via Expres-sa, próximo à Fundamigo(Fundação Espírita DivinoAmigo), no Bairro Cora-ção Eucarístico, RegiãoNoroeste de Belo Hori-zonte. O cronograma pre-vê a conclusão das obrasaté o final de 2012.

De acordo com o majorGibran Condé Guedes, da9ª CIA da Polícia Militar, aconstrução desse quartel éde grande importância euma conquista da comu-nidade, que há algumtempo vem lutando paraque haja um policiamentomais efetivo no BairroCoração Eucarístico. "Temuma importância muitogrande não só para oCoração Eucarístico, mastambém para os bairrosadjacentes que compõe asubárea da 9ª CIA daPolícia Militar. A vinda da9ª CIA já é uma luta anti-ga e um desejo da comu-nidade, que integrada como comando do 34º Ba-talhão conseguiu fazercom que o Estado cedessepara a Polícia militar esseterreno, onde a partir de

março iniciou as obraspara a construção da novasede 9ª CIA da PolíciaMilitar. É uma conquistapara a comunidade, quehá muito tempo já vemperseguindo esse objetivode ter aqui no CoraçãoEucarístico uma fração daPolícia Militar," disse.

Para o major Gibran, atransferência da 9ª CIA daPolícia Militar para oBairro Coração Eucarísticofoi uma colaboração mú-tua entre comunidade e aPolícia Militar. "Na reali-dade foi a combinação devontades tanto da comu-nidade, somado tambémcom a vontade da PolíciaMilitar, especialmente docomando do 34º Batalhão,aliado a uma oportu-nidade que surgiu em ra-zão do terreno que é depropriedade do Estado. Eassim foi possível ceder oterreno a Polícia Militar,viabilizando assim a cons-trução da sede da 9ª CIAda Polícia Militar. Então, agente percebe que houve aunião de esforços tanto doEstado, da Polícia Militare da comunidade doBairro Coração Eucarís-tico, para poder conseguiresse objetivo, o de insta-lação, construção, modifi-cação da nova sede da 9ªCIA. da Polícia Militaraqui no Bairro CoraçãoEucarístico", afirma.

A chegada 9ª CIA daPolícia Militar para o BairroCoração Eucarístico, bene-ficiará a todos os moradores

do bairro e Região Noro-este, e aos estudantes efuncionários que frequen-tam a PUC Minas.

REPERCUSSÃO "OBairro Coração Eucarísticopossui uma populaçãomuito grande, uma popu-lação flutuante, porque elanão é fixa por causa dauniversidade. E isso setorna alvo visualizado pelobandido, que vem praroubar carro, sequestrar eassaltar as pessoas na rua.O bairro também temvárias saídas e isso facilitamuito para os vagabundos.Por isso, a população dobairro está nessa ansie-dade e espera, visando oinício dessas obras. Eagora com notícia do iní-cio das obras para a cons-trução do quartel, isso temtrazido muito alegria paraa população, porque vaiser bom para a populaçãodo bairro e para os estu-dantes da PUC”, afirmaIracy Firmino da Silva,presidente da Associaçãode Moradores do CoraçãoEucarístico. “A construçãodo quartel vai inibir ocrime, porque vai haveruma movimentação deviatura muito grande",acrescenta.

Barbeiro no CoraçãoEucarístico há nove anos,José dos Santos Ferreira,56 anos, acredita que obairro estava precisandode um reforço paradiminuir a criminalidade.Para ele, a chegada da 9ª

CIA da PM vai trazersegurança para todos dobairro. "Beneficia, porqueé muito difícil passar umaviatura aqui, então essaregião acaba ficando aDeus dará. Muitas vezeseu estou cortando cabeloaqui e vejo alunos da PUCserem assaltados na es-quina dessa rua, por as-saltantes que não se pre-ocupam em nem escondero rosto", disse.

Para major Gibran, o quartel é resultado da luta por mais policiamento

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

MARIA CLARA MANCILHA

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CAMILA SARAIVA GONÇALVES

DANIELLA BRITO VASCONCELOS

LORENZA LÍVIA1º PERIODO

A popularidade doesporte Artes MarciaisMistas, mais conhecidocomo MMA, que tem con-quistado os meios decomunicação, se refletenas academias, fazendocom que pessoas de diver-sas classes e idadesbusquem a prática desseesporte na academias.

Professores entrevista-dos em algumas academiasafirmam que a busca tem

crescido bastante nos últi-mos tempos, principal-mente por esportes comoo kung fu e muay thai. Deacordo com MarcoFerreira, professor daAcademia AssociadosKung Fu, os alunos seinteressam pela possibili-dade de condicionamentofísico, defesa pessoal e atémesmo pela arte.

Em relação à influênciada televisão na transmis-são de campeonatos deMMA e novelas, o profes-sor concorda que esse fatotem influenciado a procu-ra pelo esporte."Principalmente o kung fu

que é visto em novelas efilmes. Hoje, está se co-nhecendo o stand up, queé a parte da luta, como oUFC e o MMA", explica.

Antes conhecido como"vale tudo", o MMA teveseu nome alterado, poispassava uma idéia agressi-va e injusta para asociedade. "Hoje comnovas regras, as artes mar-ciais vem se tornando umesporte atraente paratodos, essa nova procuratem influências principal-mente da mídia, comonovelas, filmes e transmis-sões de campeonatos,como o UFC(UltimateFighting Championship)",relatou Pedro Novaes, pro-fessor de muay thai.

Antônio Carlos, alunode uma das academias,

pratica Muay Thai háquatro anos, mas estuda acultura chinesa há mais dedez. "Traz uma questão deformação de caráter, físicoe emocional para criançase até mesmo para o idoso",afirma. Segundo profes-sores, a maioria dos alunosnão procura a luta paraseguir carreira profissional,mas por lazer.

Para Patrick Arcanjo,aluno de artes marciais hátrês anos, o que mais oinfluenciou a praticar oesporte, foi um projetosocial na escola. O sonhodo garoto de 13 anos éencontrar um patroci-

nador e montar uma aca-demia. Já para Cristiano,de 15 anos, praticante hátrês meses, o que o levou aessa atividade foi a facili-dade de perder peso.

A busca pela prática e apopularidade do MMAnão é só do sexo masculi-no. O número de mulherespraticantes tambémaumentou. Laís Fernandesde 19 anos, por exemplo,pratica há seis meses. Elanão pretende seguir car-reira profissional, apenasluta por hobby e buscou oesporte por estar ganhan-do espaço na mídia.

muito incômodo, tantopelo barulho quanto pelocheiro exalado pelo uso dedrogas como o crack. "Jáaté entraram no prédio,umas duas vezes", conta.Para melhorar a segurançado prédio, o condomínioinstalou câmeras nagaragem e na portariaprincipal e alarmes no pré-dio. Segundo Fernando,uma delas foi violada. "Agrande maioria das vezesque eu acionei a polícia,

ela veio, mas nunca vilevando ninguém", conta.Como sua janela fica emfrente à casa, Fernandosempre aciona a PolíciaMilitar pelo 190, mesmode manhã, ou rapida-mente atendido ou comum pouco de demora,quando também há pes-soas na casa. Porém, com ainviabilidade de acesso àrua por uma viatura,segundo Fernando, quan-do vêem o carro da polícia,

6 Comunidade/ComportamentoAbril • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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FELIPE AUGUSTO VIEIRA4º PERIODO

Assim como a casa abandonada daRua Curupaiti, também no BairroMinas Brasil um imóvel localizado àRua Xavier da Veiga, 166, que foi inva-dido após a morte do proprietárioPresciliano Romualdo e problemasfamiliares, gerou transtornos duranteanos para a comunidade local. Nestecaso, no entanto, uma solução foi viabi-lizada, em março último, quando osherdeiros diretos do antigo proprietário,os filhos Antônio Romualdo, 46 anos, ePresciliano Romualdo Filho, 39, assumi-ram a responsabilide pela reforma, que

já está em andamento.Desde o início de abril, o cenário ali

está mudado. Os tapumes e placas demadeira que estavam amarrados nacerca da casa foram retirados, e materi-ais de construção, como tijolos e areia,estão armazenados. Antônio Romualdoinformou que a reforma está sendo ban-cada pelos herdeiros e que após o térmi-no o imóvel será cedido, por emprésti-mo, para o casal Fernando e GildázioMenezes. O major Gibran CondéGuedes, da 9ª Companhia da PolíciaMilitar de Minas Gerais, que participouda negociação, revelou que policiais mi-litares fizeram a retirada dos ocupantesirregulares e fazem um trabalho demonitoramento do local.

Antes de solucionar o problema, noentanto, foram muitos os transtornoscausados pelo imóvel invadido. Noperíodo de janeiro de 2006 a junho de2010 foram registrados 31 boletins deocorrência na PM referentes ao local,entre ameaças, furtos, homicídios,extravios de documentos, perturbaçãode tranquilidade, agressão, dano e posseirregular de arma, segundo o autor deprocesso aberto no Ministério Público,comerciante Ricardo Marota Silva, 43anos, que forneceu ao MARCO, cópiasdos registros dos respectivos boletins.

Morador há cinco anos do EdifícioAlfa, número 178, vizinho à casa,Ricardo diz ter se arrependido de teradquirido o imóvel no local, por causados inúmeros transtornos que

sofreu em função da casa invadida."Quando eu comprei o apartamento hácinco anos atrás, se eu soubesse dessasituação eu não comprava, porque eunão dormia", conta.

Casa invadida é desocupada e reformada após anos de incômodo

CASA VAZIA VIRA CASO DE POLÍCIAImóvel abandonado em Rua do Bairro Minas Brasil, na Região Noroeste de Belo Horizonte, é motivo de transtorno para vizinhos, que apontam o local como ponto de uso de drogas

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ANA THEREZA

PAULA MAGALHÃES1º PERÍODO

Uma casa abandonadano Bairro Minas Brasil, naRegião Noroeste de BeloHorizonte é foco de pro-blemas há mais de um anopara moradores da RuaCurupaiti e outras viaspróximas. De acordo commoradores ouvidos peloMARCO, a casa funcionacomo ponto de uso de dro-gas e inibe o trânsito dapopulação local pela esca-da que margeia a rua, notrecho que vai da esquinada Avenida Ressaca à con-fluência das ruas DonaAna e Dona Noêmia.

A aluna do Curso deGeografia da PUC Minas,campus CoraçãoEucarístico e moradora dobairro, Daiane Florêncio,25 anos, afirma evitartransitar na área conheci-da como "escadão", depoisdas 19 h. Segundo ela, osmoradores já sabem ohorário em que a casa ficacheia e têm que desviar arota que dá acesso aometrô por medo deassalto. Ela relata umasituação que viveu ali.“Perguntaram 'o quê vocêtem na sacola', e eu estavano meio da escada, sem ter

como descer e nem comosubir, e como tem um vãodo lado da casa, por maisque se olhe e não vejaninguém e ache que possadescer, quando está nomeio da escada, tem comoessas pessoas saírem e teabordarem. Não há comoter reação nenhuma", diz.

Nesse trecho da RuaCurupaiti a iluminação éprecária e, por estar emum quarteirão fechado,não tem trânsito de veícu-los. Esses fatores influenci-am no movimento da casaque já não tem móveis,janelas nem portas, vendi-dos pelos própriosusuários para sustentar ovício. "Em menos de umasemana que um novoportão foi colocado já oarrancaram de novo", afir-ma Áurea Luz AlvesPereira, 62 anos, morado-ra da Rua Dona Noêmia,há 46 anos. "Preciso passarpor essa rota para ir aoPosto de Saúde, e, depen-dendo da hora, peço parao meu marido me levarpelo menos até a metadeda rua", acrescenta.

Para os moradores doprédio ao lado, no número377 da Rua Curupaiti,segundo FernandoHenrique Figueiredo, 32anos, síndico há dois, há

ou sobem a rua se a viatu-ra vem pela AvenidaRessaca ou descem quan-do vêm da Curupaitiacima da esquina com asruas Dona Noêmia eDona Ana. "Geralmente osbandidos chegam a entrarno forro da casa paraesconder da polícia", diz.

Além de ser ponto dedrogas, a casa acumuladejetos e lixo dos usuáriosa céu aberto. SegundoFernando, profissionais da

vigilância de saúde daFundação Ezequiel Dias(Funed) sempre passampela rua, mas nuncaentraram na casa. O peri-go passa a ser, além de umindício de violência, umaquestão de saúde pública aser mais bem inspecionadapela vigilância sanitária,pois, como o telhado dacasa tem frestas, podehaver focos de dengue.

Completamente danificada, casa abandonada no Minas Brasil gera transtornos para vizinhos que reclamam da insegurança gerada

MMA ganha destaque e espaço em academias

Laís (direita) luta MMA por hobby

A reforma já foi iniciada desde o inicio de abril

FELIPE AUGUSTO VIEIIRA

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

MARIA CLARA MANCILHA

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LAURA DE LAS CASAS

5º PERÍODO

RIO DE JANEIRO - Logo noprimeiro semestre da faculdadede Ciência e Tecnologia daUniversidade Federal Rural doSemi-árido, em Mossoró, RioGrande do Norte, os cinco cole-gas nem eram tão amigos assim.Se conheciam pouco, mas ti-nham algo muito forte emcomum: o espírito empreende-dor. Isso já era o suficiente paraunir os nordestinos em umahistória que os levaria longe. Erao Desafio Sebrae entrando navida de Isaías Lima, AntônioNeto, Bruno Oliveira, CaioSantos e Victor Dantas. Noprimeiro ano que participaram,não venceram. Mas empolga-ram, persistiram, e em 2011 ga-nharam a etapa estadual. Malsabiam eles que, em breve,estariam no Rio de Janeiro,recebendo das mãos do DiretorPresidente do Sebrae, LuizBarreto, o troféu de campeõespelo Desafio Internacional de2011. "Com o jogo eu pudeexercitar esse meu lado admi-nistrador, e perceber que é issomesmo que eu quero pra minhavida: meu próprio negócio", afir-ma Caio Santos.

O Desafio Sebrae é um jogovirtual, voltado para estudantesdo ensino superior, que simulasituações empresariais. Todos osanos, a equipe do Sebrae organi-za a competição com um temadiferente, "Sempre relacionado a

algum assunto da atualidade",explica Luiz Barreto. Para decidirqual seria o desse ano, o presi-dente afirma que foi pensado emum assunto que está recorrentenos últimos anos. "A sustentabi-lidade está no centro do debate",justifica. Para ele, o importante épensar nela não apenas em uma s p e c t oambiental,mas tam-bém em uma s p e c t osocial eeconômico.

Assim, otema esco-lhido paraesse últimoano foi"Bicicletas",ou seja, osg r u p o sd e v e r i a me l a b o r a restratégiaspara geriruma fábri-ca de bici-cletas, pen-sando des-de a corque seria aparede da em-presa e o nome dado à marca, aovalor investido em cada setor.Decisões simples e outras com-plexas, como análise de concor-rência, compra de insumos e va-lores de empréstimos, que, jun-tas, fazem a diferença em umapontuação que direciona até aempresa vencedora. O jogo uti-

liza um software de gerencia-mento que durante a competiçãovai avaliando o desempenho dasequipes em cada uma das seteetapas.

Além dos brasileiros, estu-dantes da Argentina, Chile,Colômbia, Equador, Panamá,Paraguai, Peru e Uruguai estive-

ram no Rio participar do DesafioInternacional. Alguns, como aturma da Argentina, segundacolocada, por um ponto, sãotodos estudantes de EngenhariaIndustrial, se tornaram amigoslogo no começo do curso edecidiram participar do desafiopor saber que seria uma chance

de aprender a ter mais estratégiaJá o grupo que chegou doParaguai conta que são cincoamigos de infância, que resolve-ram se unir para viver essedesafio. São jovens de diferentesáreas, como medicina, enge-nharia e direito, o que mostraque o jogo é para todos.

"Resolvemosformar essae q u i p eporque nosc o n h e c e -mos, sabe-mos quetodos sãop e s s o a sr e s p o n -sáveis, com-petentes, eapesar de teracontecidoa l g u m a sbrigas nosmomentosdas deci-sões, essa émais umaparte impor-tante dan o s s ah i s t ó r i a " ,conta o fu-turo médico

Emillio Arriolla.A etapa estadual do Desafio

dura cerca de seis meses, sendoela divida em cinco fases, trêsvirtuais e duas presenciais. Nesseano foram mais de 150 mil estu-dantes inscritos no Brasil, paraserem filtrados, ao decorrer dojogo, e chegar a uma única

equipe vencedora. Quandocomeçam as fases presenciais, asequipes são recebidas em salasisoladas, longe de qualquer con-tato, para darem inicio àsdecisões mais complexas do jogo.Cada decisão tomada, desde oinício, pode influenciar a empre-sa de uma maneira irreversível,por isso, todas as decisões devemser tomadas com cuidado, depoisde estudadas e analisadas.Afinal, os desafios colocadospara as equipes são muitos. Elesdevem saber lidar com emprésti-mos, greves e demissões de fun-cionários, concorrência, entreoutras situações bastantecomuns nas empresas reais. Aequipe vencedora da etapaestadual viaja para competir noDesafio Internacional.

A premiação da etapa estadualé um troféu, além de uma bolsapara participar de cursos ofereci-dos pelo Sebrae. Já na etapaInternacional todos os partici-pantes ganham um Ipad, e osvencedores ganham uma viageminternacional de dez dias a umcentro de referência mundial emempreendedorismo, além de bol-sas de estudos integrais naFundação Getúlio Vargas. Comoa final do último Desafio foi nacapital carioca, os latinos aindativeram o privilégio de conheceruma das cidades mais famosasdo Brasil. "É realmente maravi-lhosa, mas eu esperava um marmais quentinho", conta, sor-rindo, o argentino Tomás Balma.

7EspecialAbril • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

RIO DE JANEIRO - Otema escolhido para oDesafio Sebrae 2012 é"Frutas Tropicais". Asincrições para participarvão do dia 11 de abril a18 de maio. As equipesdevem ter entre dois ecinco integrantes deinstituições públicas ouprivadas, desde quesejam todas do mesmoEstado do Brasil.

O presidente Luiz

Barreto explica que o

Sebrae tem como obje-

tivo se aproximar das

universidades do Brasil.

Nesse próximo ano a

ideia é participar mais

ativamente de cerca de

oito universidades do

país, que terão o jogo

virtual como parte do

conteúdo das disci-

plinas. "Espero que isso

possa contar pontos

para os alunos e para os

professores, que possa

aproximar essa lin-

guagem e esse con-

teúdo, cada vez mais

das universidades",

afirma.

A aproximação com

os professores é, re-

almente, prioridade

para o Sebrae. Este ano,

o jogo será feito tam-

bém para eles, como

uma tentativa de en-

volvê-los no projeto e

dar a eles a opor-

tunidade de conhecer

melhor o jogo virtual e

ter essa experiência

concreta de envol-

vimento em equipe.

"Estamos buscando

melhorar, ao longo

dessa experiência de

mais de 12 anos",

finaliza Luiz Barreto.

Instituição muda programa, que será aberto à participação de professores

EM DESAFIO, SEBRAE PREMIAJOVENS EMPREENDEDORES

Final de jogo de

empreendedorismo

organizado pelo Serviço

de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas,

no Rio de Janeiro, reuniu

estudantes do Brasil

e de outros oito países

latino-americanos

Finalistas do desafio Sebrae, após muito esforço conjunto, recebem o prêmio no Rio de Janeiro

MARCO representaMinas Gerais na finaldo Desafio Sebrae

RIO DE JANEIRO - AFinal Internacional doDesafio Sebrae contoucom uma novidade em2012: foram escolhidosum estudante de jorna-lismo de cada estado doBrasil e do DistritoFederal, para acompa-nhar a premiação e par-ticipar de uma versãocompacta do jogo.

Fomos ao Rio deJaneiro acompanhar osúltimos dias do DesafioSebrae e a tão esperadapremiação. Divididosem equipes de quatro acinco integrantes, fomosconfinados em umapequena sala para quepudessemos começar atomar as primeirasdecisões de gerencia-mento das empresas debicicletas, mesmo temaproposto para os parti-cipantes do jogo real.Sem conhecer muitosdos conceitos apresenta-dos no decorrer do jogo,as equipes se esforçarampara tomar as decisõesda melhor forma para

cada empresa ima-ginária, aproveitando opouco tempo entre umafase e outra do desafiopara discutir e analisarcada atitude.

Em dois dias de com-petição, passamos porsete fases, cada umacom um tempo dedecisão que variava de30 a 45 minutos, edessa forma tivemos achance de perceber acomplexidade do mun-do empresarial, a influ-ência de cada estratégiae a importância do bomgerenciamento não sópara essa área especifica,mas também para a vidade qualquer pessoa.

No final, conhecemosos ganhadores da simu-lação, e nos juntamospara discutir sobre asfases, os erros e acertose entender a dimensão eimportância que oDesafio Sebrae pode terna vida de um futuroempreendedor (Laura de

Las Casas).

Luiz Barreto revela novidades na próxima edição do Desafio Sebrae, que será aberto aos professores

LAURA DE LAS CASAS

LAURA DE LAS CASAS

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8 Campus/PerfilAbril • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

ALUNA LEVA PROJETO A HONDURASSimone Moura, aluna de Comunicação Social da PUC Minas, representou o Brasil no Encontro Centro-Americano de Jovens Comunicadores, que foi realizado em Honduras

n

ANA LUISA PERDIGAO

PRISCILA MELO

1º PERÍIODO

A estudante SimoneMoura, 28 anos, aluna do5° período de Jornalismoda PUC Minas, represen-tou o Brasil no EncontroCentro-Americano de Jo-vens Comunicadores Co-munitários, na cidade deToncontin, em Honduras.O evento, em fevereiroúltimo, contou com a pre-sença de representantes dediversos países das Amé-ricas, incluindo Colômbia,Nicarágua, Costa Rica eCanadá. Criadora da Ofi-cina de Comunicação emPeriferias, no Aglomeradoda Serra, Região Centro-Sul de Belo Horizonte,Simone foi convidada aapresentar seu projeto,que desde 2006 reúnejovens entre 12 e 24 anoscom a proposta de pro-duzir programas de rádio,dando a eles a oportu-nidade de transmitir seustrabalhos a partir de emis-soras comunitárias noaglomerado e mais recen-temente a produção dedocumentários que abor-dam como tema o direito acomunicação e sua de-mocratização.

Os objetivos centrais doencontro foram discutir ademocratização dos meiosde comunicação, e comoesses são apropriados prin-cipalmente pelos jovens, e

trocas de informaçõesentre os diversos países eseus respectivos projetos,apresentando como estesse desenvolveram, a me-todologia e recursos uti-lizados as parcerias e asmaneiras de manter finan-ceiramente esses projetosde maneira sustentável.

Em Honduras, a estu-dante teve contato comestudantes de toda Amé-rica e, segundo ela oprimeiro aspecto a chamarsua atenção foi a cultura."Lá havia pessoas de váriospaíses, pude aprender ma-is sobre outras línguas,principalmente o espa-nhol, além disso, foi muitobom por resultar na perdado preconceito e quebrade estereótipos que muitasvezes criamos sobre outrospaíses e pessoas da Amé-rica Latina", disse Simone.Ela também teve a oportu-nidade, apesar de serempaíses diferentes, de en-contrar diversas pessoascom projetos semelhantesao seu, e, segundo ela, atroca de informações foimuito valiosa. "O apren-dizado e troca de infor-mações que fiz, foi muitoimportante para minhapesquisa na área de comu-nicação e para projetos aserem feitos futuramente.Conversei com muitaspessoas, algumas delasmais experientes, acreditoque abri minha mentepara novas idéias, fiz

vários contatos e tambémamigos", disse.

Ao perguntarmos sobrequal impressão os outrospaíses possuíam do Brasila resposta não poderia sermelhor. "Os outros paísesvêem o Brasil como umareferência na AméricaLatina, fiquei impressiona-da ao saber da boa impres-são que já temos lá fora, oautor Paulo Freire é citadoa todo o momento", co-mentou Simone.

De volta ao Brasil,Simone está cheia deideias, e pretende iniciarum documentário sobresegurança pública usando

o que aprendeu lá, além desuas pesquisas. "Acreditoque a principal con-tribuição tenha sido asentrevistas que fiz com aspessoas, e as experiênciasque tive. Amadurecimuito", conclui. O docu-mentário será fruto doatual projeto que Simoneestá envolvida com cri-anças e adolescentesmoradores do Aglomeradoda Serra, Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Oprojeto, iniciado em feve-reiro desse ano, envolvecapacitar jovens para aprodução de cinema evídeo, formatos considera-

dos por Simone, im-prescindíveis para a in-clusão. "No ano passado,desenvolvi com a mesmacomunidade um projetoque envolvia rádio e opúblico que alcançamosfoi de jovens mais rela-cionados e interessados aouniverso musical. Comessa nova oficina, abrimoso leque para inserir maisjovens que, independentedo interesse que desejamabordar, o formato per-mite", salienta.

Entre os 15 jovens quecomparecem às reuniões,que acontecem todas asquartas e sextas-feiras no

Centro de ReferênciaEspecializado de Assis-tência Social (Creas) doAglomerado, está AnaKarine de Freitas, 15anos, estudante do ensinomédio, que fez parte dogrupo de jovens que par-ticiparam oficina de rádio,e a partir das experiênciasadquiridas nas aulasministradas por Simone,já demonstra interessepela área da comunicaçãoe pelo domínio dos su-portes utilizados pelaárea, para informar. "Atra-vés dessas oficinas, tive aoportunidade de visitarmuitos lugares que semprequis conhecer, como umestúdio de rádio. Eu tenhomuita vontade de fazerjornalismo", ressalta.

A proposta de Simone élecionar através das ofici-nas, noções de produçãode cinema, desde o roteiroaté a edição. "Concluindoa primeira parte com osjovens, que é ensiná-losnoções de como construirum documentário, e asoficinas permitem issoatravés de temas que elesmesmos sugerem, a próxi-ma etapa será dar início aprodução do documen-tário", afirma. A conclusãodo documentário é pre-vista para novembro desteano.

Simone Moura desenvolve projetos no Centro de Referência Especializado de Assistência Social

Influência da India em Minas é valorizadan

IGOR PATRICK SILVA

AMARANE SANTOS

2º PERIODO

Ao entrar no consuladoindiano em Belo Horizonte,localizado no Bairro Funcio-nários, na Zona Sul da capitalmineira, a pessoa é apresenta-da a uma construção de arcosfortes, peças e mais peças emouro dos deuses hindus e ostapetes cuidadosamente fei-tos à mão. A reportagem doMARCO estava ali paraconhecer o cônsul honorárioda Índia em Minas, Élson deBarros Gomes Júnior, e suahistória singular, mas o dife-rente que se descortinavabem à frente parecia tão sin-gular quanto. As paredesalaranjadas eram sustentadaspor colunas decoradas comtoda sorte de símbolos. Aolado, um restaurante típicoanexo, mantido pelo consula-do, ostentava com destaque,fotos e objetos que reafirmamsua identidade cultural. Porsua vez, Ganesha, semi-deusda sabedoria e do intelecto,observava os visitantes comseus olhos pétreos e douradosenquanto o tempo passava.

Se ainda hoje, a cultura deum país com história e crençatão distintas do Brasil soacurioso, há não muito tempoeram vistas com censura.Quem olha para o cônsul,Élson de Barros, mal pode

mensurar o quão a vontadeele parece se sentir em meioàquela série de símbolos earquitetura característicos dopaís não que lhe deu a vida,mas que lhe deu valoresmorais. Élson encontroulugar na diferença.

Ele era só um menino nacidade mineira de PonteNova, sua cidade natal, paraentender os choques culturaismarcantes que distinguiam afamília de onde vinha dolocal onde vivia. Descendentede um grupo de imigrantes deGoa, ex-colônia portuguesaque viria a ser anexada àÍndia posteriormente, Élsonnão compartilhava de certasconcepções religiosas às quaisera compulsoriamente sub-metido, ao lado do colegajudeu; fogueiras de livrosconsiderados hereges e pre-conceitos das famílias mi-neiras por ser diferente dastradições seguidas no estadosão algumas das dificuldadesenfrentadas. "Não podiaassistir à aula de religião, masera obrigado a fazer asprovas", conta.

Os anos 70 vieram e, comeles, a possibilidade de cursarEconomia na PUC Minas.Tão logo terminou, Élsonpartiu para a Índia. Seguindoo caminho contrário de umaconsiderável parcela dosjovens estudantes indianos,ele optou por procurar suas

origens e estudar História. "AÍndia tem grandes universi-dades, tudo lá é muitogrande. Contudo, uma dasdiferenças entre Brasil e Índiaé que lá, é comum verfamílias da zona rural quemandam seus filhos paraestudar fora porque a edu-cação é prioridade. Podemviver em um quartinho aper-tado e o filho estudando emCambridge, Princeton, Har-vard," diz.

A família de Élson Gomesera detentora de prósperosrelacionamentos no país deorigem. "A história territorialda Índia é bem diferente.Apesar de sermos uma civi-lização milenar, até 1962, ascolônias fixadas lá pertenci-am à Inglaterra e meu avô tra-balhou ativamente pela unifi-cação de Goa às demaisporções do território, o queestreitou laços com famíliascomo as de Gandhi e Neru.Também quando um em-baixador indiano visitou oBrasil, em 1948, ele esteveenvolvido na criação de umaAssociação de Amigos daÍndia, da qual eram sig-natários Cecília Meireles,Manoel Bandeira, GilbertoFreire, Sérgio Buarque deHolanda, e outras pessoasimportantes da época," dizenquanto empurra para nósum livro com as assinaturasdos eruditos.

O contato com personali-dades históricas para fun-dação do estado indepen-dente da Índia somado aofato de ter nascido aqui deu aÉlson uma oportunidaderara: seu nome foi submetidoao Congresso Indiano eaprovado para o cargo hono-rário de cônsul logo após ter-minar os estudos. Geral-mente, a carreira diplomáticatradicional leva anos atéchegar ao patamar de cônsul(3º, 2º e 1º Secretário,Conselheiro, Ministro eCônsul), mas por ser indica-do, a oportunidade de inter-cambiar a cultura familiarcom a cultura do país ondeele sempre viveu se mostravaúnica.

Hoje, com o consulado jáestabelecido, Élson já con-seguiu firmar diversas parce-rias entre as empresas indi-anas e o Brasil, sobretudocom Minas, estado respon-sável por uma delegação deempresários que visitaram aÍndia recentemente parafechar negócios. "Os maioresempresários do estado são daÍndia. Um indiano é dono de18% da Fiat, o grupo AcellorMital também é de lá. AInfosys, a Celafarm, todas sãoou possuem participação deindianos. O consulado temestreitados estes laços e pro-movido negócios bem-sucedi-dos".

Atualmente, existem cercade 60 famílias indianasmorando na capital, divididasprincipalmente entre profes-sores da UniversidadeFederal de Minas Gerais(UFMG) e executivos em"temporada". Élson diz que obrasileiro é receptivo e semostra curioso com os costu-mes. "Nosso cozinheiro veioda Índia há pouco tempo e jáé muito acolhido pelas pes-

soas. O Brasil por muitotempo quis ser igual aosEstados Unidos e Europa,dando as costas para a Áfricae para a Ásia. Agora o paísaprendeu a olhar para lá eestamos estabelecendo nãouma relação de explorado eexplorador, mas de naçõescom passados semelhantesque agora têm voz no cenáriomundial".

Élson de Barros: investimentos de empresas indianas em território mineiro

PIERO MORAIS

MARIA CLARA MANCILHA

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9CidadeAbril • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

DIVERGÊNCIA NA LISTA DE REMÉDIOS Lista de medicamentos do Programa Aqui tem Farmácia Popular, da rede privada, não contém todos os remédios indicados pelo SUS na rede pública do Programa Farmácia Popular

programa, pois o objetivonão é o lucro. "O usuáriodeve ter a consciência deque se porventura pagarmenos em uma rede priva-da por um medicamentoque só se encontra na listade desconto das populares,estará claramente usufru-indo de uma promoçãotemporária", analisa.

A gerente de Coor-denação das FarmáciasPopulares salientou queentre as dificuldades está aadequação da receita, quedeve estar dentro do prazode validade. Segundo ela,é preciso que na receitaconste o nome genérico do

medicamento, a dosagemrecomendada ao pacientee a apresentação de CPF edocumento de identidade."Nos casos de pacientesimpossibilitados de com-parecer às farmácias paraobter o medicamento énecessário que seu repre-sentante possua procu-ração legal dando-lhepoderes para retirar a me-dicação e apresente alémdos seus, os documentosdo paciente", orienta.

Ela ainda relata quemuitos pacientes vão àsfarmácias com receitasincompletas ou sem osdocumentos necessários enão podem ser atendidos.

O sistema de dispensa demedicamentos não per-mite a saída de qualqueritem sem que se cumpramas exigências.

As modalidades do pro-grama não são dire-cionadas a uma únicacamada social - o usuárionão precisa comprovarrenda para receber gra-tuitamente o medicamen-to ou adquiri-lo a baixocusto - o que o tornaacessível a todo e qualquercidadão brasileiro.

Outras informações so-bre o programa em BeloHorizonte:

Maria Auxiliadora, auxiliar de serviçoes gerais, utiliza a Farmácia Popular desde o início do projeto

Centro

Barreiro

Noroeste

Ende r e ç o

R. Rio Grande do Sul, 54

R. Alcindo Vieira, 69

Rua Formiga 140, Lagoinha

Te l e f o n e

3277-4591

3277-9183

3277-6063/3277-6112

Venda Nova R. Padre Pedro Pinto, 1500 3277-5514

n

CAROLINA LACERDA

DANIEL DE ANDRADE

EMÍLIO PIO1º E 2º PERÍODO

Comprar medicamentospelo Programa FarmáciaPopular do Brasil, fundadoem 2004 a partir de umaparceria entre o GovernoFederal e as prefeiturasmunicipais, exige cautelados usuários. O programatem uma lista de 113medicamentos, no site doMinistério da Saúde, quepodem ser comprados comdesconto de até 90%, paratratamento de doençascomuns entre os bra-sileiros. Cinco desses me-dicamentos, usados nocombate à diabetes ehipertensão, são ofereci-dos gratuitamente. NoPrograma Aqui tem Far-mácia Popular, criado em2006 pela adesão da redeprivada de farmácias, o kitpertencente à lista temapenas 24 medicamentos.

Segundo a gerente deCoordenação das Farmá-cias Populares, IlcaMoraes, no cargo há doisanos, o problema dessadiferença, que gera trans-torno aos usuários, é a pu-blicidade do programa narede particular. "O bannerde divulgação na entradadas farmácias particularescom os dizeres 'Aqui temFarmácia Popular' con-funde os usuários e muitosdesconhecem a existênciada rede pública de farmá-cias do programa, e, conse-quentemente, a disponi-bilidade nestas, de outrosmedicamentos que nãosão encontrados a baixocusto na rede privadaatravés do convênio", afir-ma a gerente.

A equipe do MARCOesteve em uma drogaria da

rede privada e constatou adisparidade. O paraceta-mol, medicamento usadono combate à febre, estána lista da FarmáciaPopular do Brasil e umfrasco de 10ml pode seradquirido por apenas R$0,85. A atendente disseque o paracetamol não fazparte da lista de medica-mentos do Aqui temFarmácia Popular. Elaainda citou que existiamoutros medicamentos queestavam incluídos na lista,mas em momento algumindicou a existência dasfarmácias populares.

Ilca Moraes garante queas Farmácias Popularesinformam os usuáriossobre os medicamentosque constam na lista. Afarmacêutica JulianaRodrigues, 25 anos, res-ponsável pela unidade doBairro Lagoinha, uma dasquatro existentes em BeloHorizonte, também atestaque as farmácias cum-prem o papel de informar."Dizemos como devemfazer para participar doprojeto, informamos quaissão os medicamentos gra-tuitos e jamais recebemosuma receita sem infor-mações que não sigam osparâmetros exigidos peloMinistério da Saúde",conta Juliana.

Além das diferenças delistas outros problemas sãofrequentes para os quetentam economizar adqui-rindo medicamentos peloprograma. A auxiliar deserviços gerais, MariaAuxiliadora de SousaXavier faz uso contínuo demedicamentos para hiper-tensão e diabetes. Elarecorre a essas medicaçõesdesde 1993 e passou aadquiri-las por meio doPrograma Farmácia Popu-

lar do Brasil desde o iníciodo projeto. Auxiliadorarecebe gratuitamente trêsmedicamentos: Enalapril,Metformina e Propanolol.Mas utiliza também ou-tros dois, que não fazemparte da lista de gratu-idade: Sinvastatina eDiamecon. Entre algumasdificuldades que ela en-contra como se depararcom o sistema das farmá-cias conveniadas ao Pro-grama Aqui tem FarmáciaPopular, da rede privada,fora do ar - é quando restaapenas um comprimido nacartela. Nessas ocasiõesela não consegue compraro que precisaria tomar nodia seguinte, por conta doprazo para a dispensa dosmedicamentos. "Às vezes,quando a cartela terminaem fins de semana ou feri-ados, acabo comprando oremédio em outra farmá-cia perto da minha casapor um preço mais caro,porque na farmácia popu-lar eles não deixam pegaruma nova quantidade doremédio se ainda não tiverpassado 30 dias", reclama.

Outro problema apon-tado por Maria Auxilia-dora está relacionado aouso da Sinvastatina 40mg.O medicamento não fazparte da lista de gratu-idade, mas é encontradona versão de 20mg nasFarmácias Populares. Elajá comprou duas cartelasde comprimidos de 20mgna rede privada pagandomenos que nas farmáciaspopulares.

Ilca alega que as redesprivadas têm autonomiapara fazer promoções e ospreços da Farmácia Popu-lar são tabelados e inalte-rados desde a criação do

Regional

MARIA CLARA MANCILHA

Postos de coleta de achados e perdidos em BH n

PEDRO NASCIMENTO

2º PERIODO

No cotidiano apressadoda capital, é comum queas pessoas deixem algopara trás em um momentode descuido e nem perce-ber. É aí que entra emação os postos de "achadose perdidos". Em BeloHorizonte, são três pontosde coleta, gerenciados pelaPrefeitura, que recebem ositens encontrados pelacapital e aguardam osrespectivos donos para aentrega. Esses postos sãono Terminal Rodoviário deBelo Horizonte, a Estaçãode Metrô do SantaEfigênia e exclusivamentepara documentos, a Agên-cia Central dos Correios,na Avenida Afonso Pena,no Centro.

Na Estação de Metrôdo Santa Efigênia, o postode achados e perdidos fun-ciona desde a inauguraçãodo metrô em 1986. Lá

todos os itens sãocadastrados de acordocom o dia e a estação emque são encontrados, faci-litando a vida de quemprocura algo. Porém, alémde todo o trabalho, aprocura pelos objetos per-didos ainda é pequena esegundo a funcionáriaFabiana de Oliveira,responsável por gerenciaros achados e perdidos dometrô, não mais que 20%dos itens encontradosretornam aos donos epouco mais de 10 pessoasprocuram o setor diaria-mente. "Geralmente quemperde alguma coisa nometrô não imagina que aspessoas costumamdevolver", disse. O metrôainda disponibiliza umalistagem de itens perdidosno próprio site(www.metrobh.gov.br).Casos curiosos como bici-cletas, produtos eróticos eaté dinheiro já foram re-gistrados, mas pouquíssi-ma coisa retorna aos

donos. Após um mês semnenhuma procura, os obje-tos são doados a institu-ições de caridade.

No Terminal Rodo-viário de Belo Horizonte,as malas são campeãs deperda pelos usuários, masobjetos menores comochaves, carteira e roupassão encontrados diaria-mente. Itens como cadeira

de rodas, videogame, den-tadura e até mesmo diplo-mas são esquecidos.Sebastiana Marques, en-carregada dos achados eperdidos da rodoviária há29 anos já está acostuma-da com coisas estranhasdeixadas para trás pelosusuários. "Já deixaramuma lata com 2 kg de mi-nhocuçu para trás. Ela

ficou de sexta para sábadofechada e quando encon-traram, todo o terminal jáestava fedendo".

Os números de objetosperdidos não chegam aassustar durante épocasmais tranquilas, chegandoa uma média de dois obje-tos perdidos por dia, masdurante épocas como ocarnaval, por exemplo, amédia sobe para 40 obje-tos perdidos por dia.Assim como no metrô, osobjetos que ficam mais de90 dias sem procura sãodoados para instituiçõesde caridade. Um pontopositivo nos últimos anostem sido a participação detaxistas em convênio coma rodoviária. Os objetosdeixados nos táxis são le-vados também para osachados e perdidos darodoviária, centralizandoo serviço e facilitando avida dos usuários.

A Agência de CorreiosJuscelino Kubitscheck na

Avenida Afonso Pena é oprincipal ponto de coletade onde são recolhidos pordia, uma média de 400documentos. Tudo quechega até lá é registrado deacordo com o nome queestá no documento e sepa-rado por envelopes, umesforço que exige tempo eespaço. No momento exis-tem pouco mais de 8.000documentos à espera dosdonos. Os correios ofere-cem uma busca pelo site,mas raramente é utilizadopelos usuários. Mesmocom todo o trabalho feito,apenas 2% dos documen-tos são devolvidos aosdonos. A gerente daAgência dos CorreiosViviane Gomes explica:"Essa porcentagem de pes-soas que encontram osdocumentos já foi de 10%,mas devido à facilidade detirar a segunda via, essenúmero caiu bastante".

Fabiana Oliveira, funcionária do achados e perdidos do metrô de BH

MARIA CLARA MANCILHA

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10CidadeAbril • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

TRADIÇÃO, CULTURAE DIVERSÃO NOS BARES

Exposição no Abílio Barreto conta história dos bares belo-horizontinos

MARIA CLARA MANCILHA

n

JULIANA ALMEIDA

1º PERIODO

Hoje, ao se pensar embar há logo uma associ-ação com a capital mi-neira. E não é para menos,pois a Região Metropo-litana de Belo Horizonteconta com mais de 12 milbares e restaurantes espa-lhados por toda a suaextensão, e com uma leimunicipal que intitula acidade como a "CapitalMundial dos Botecos" eestabelece o "Dia Mundialdos Botecos" a ser come-

morado no terceiro sábadodo mês de maio.

Foi pensando nessa tra-dição boêmia, que oMuseu Histórico AbílioBarreto, se propôs a fazera exposição. "Em voltadessas mesas uma cidade",retratando o histórico dacapital desde os seusprimórdios e o surgimentode bares e botecos que emprimeira instância ex-pandiram-se quando oantigo Curral Del Reiabriu espaço para a nova

capital mineira. Foi du-rante a construção dacidade que se percebeu aprecisão de se criar umlugar voltado para o lazere o convívio social. E é,inicialmente, entre os tra-balhadores da obra, que obar surge como esseespaço múltiplo e urbano.

Atualmente os baresagregam elementos comocultura, conflitos sociais,memória, e podem ser umlocal tanto de trabalho,para garçons, gerentes eoutros, como de lazer, paraquem pretende fazer um

happy hour. Osmomentos de traba-lho, lazer e apren-dizagem, se fundeme fazem com que obar se torne o palcodesse novo tipo decomportamento.

Desse modo, o barjá é parte inseparável dacultura e tradição belo-horizontina, e atrai turis-tas devido à sua fama e aeventos como o ‘Comidadi Buteco’, que difundeme divulgam o que a cidadetem de mais antigo.

Um dos elementos quemais chama a atenção naexposição é uma cortinafeita com copos do tipolagoinha. Ao ser questi-onada sobre o desafio dese fazer essa cortina,Michelle Mafra, uma das

donas da empresa respon-sável pela montagem daamostra valorizou o efeitoalcançado. "Queríamosque todos aqueles coposcriassem uma atmosferade impac-to, com ain-tençãode surpre-ender, im-possibili-tando queo observa-dor pudes-se ver o espaço expositivoantes de sua entrada.Claro que houve muitosajustes para chegar a ter oefeito que buscávamos.Pois o tamanho do furonos copos, o peso, os cabosde aço, o distanciamentodos copos, tudo influen-ciava no resultado final.Pouco a pouco o conceitofoi se adequando àsexigências de segurança,orçamento e processo deconstrução, gerando novoselementos, como a silhue-ta de edifícios, que permi-tiram integrar dois con-ceitos fundamentais doprojeto museológico: a ci-dade de Belo Horizonte eos bares existentes nela. Aeste ponto o desafio jáhavia se transformado emrealização", conta.

Outra curiosidade daamostra é o MercadoCentral. Fundado em 7 deSetembro de 1929, pelo

então prefeito CristianoMachado, é hoje um dospontos turísticos mais visi-tados de Belo Horizonte.A exposição narra a suacriação e a sua relação com

o bar, rela-ção essaque perma-nece vivaatualmentee que nãose mantémsó por cli-entes anti-

gos, mas que a cada diaconquista novas pessoasque passam lá só parafazer um lanche ou pararelaxar com uma bebidaantes de ir para casadepois de mais um dia detrabalho.

Ao caminhar por aque-les corredores, encontra-mos bares antigos, como oBar do Mercado Centralque está lá há 48 anos.Luc i anoSilva, 29anos, fun-c ionár iodo bar há10, contaas histó-rias queo u v i u ."Era uma portinha que sóvendia pastel de carnemoída e queijo. O mercadotinha poucas lojas e era acéu aberto. Depois, com o

passar dos anos, a lojaaumentou e o mercado foicoberto, a Praça Sete era aestação dos bondes e suaproximidade fez com quea clientela aumentasse. Etudo no bar leva jiló,porque os clientes pediampara fazer um pastel decarne com queijo e jiló. E amistura deu tão certo que

dura atéhoje", a-firma.

Ex i s t e

também o

Café Dois

I r m ã o s ,

que tem

sua loja

no mercado desde 1985.

Sydnei Gonçalves de

Castro Neto, 28 anos, é

filho do dono e relembra

com carinho a história

contada pelo pai. "O

Itamar Franco anunciou

sua candidatura a gover-

nador na loja acompanha-

do pelo Fernando

Pimentel (ex-prefeito de

Belo Horizonte e atual

ministro do Desenvolvi-

mento Indústria e Co-

mércio Exterior), conta.

A exposição pode ser

conferida no Museu

Histórico Abílio Barreto,

localizado na Avenida

Prudente de Morais, 202 -

Cidade Jardim, e vai per-

manecer até julho, funcio-

nando às terças, quartas e

sextas, sábados e domin-

gos de 10 às 17h, e às

quintas de 10 às 21h. A

entrada é franca.

Obras da BRT na CristianoMachado gera transtornosn

GISTAYNE SANT’ANA

5º PERÍODO

Não está fácil a rotinade quem passa diaria-mente pela AvenidaCristiano Machado, emBelo Horizonte. As obrasde implantação do BRT,ou Bus Rapid Transit(transporte rápido porônibus, na sigla eminglês), causa váriostranstornos aos mora-

dores, comerciantes emotoristas. Além dobarulho, alterações naspistas e retenção notrânsito, fazem com quea realização dessa obraseja motivo para muitareclamação.

O novo sistema detransporte é a grandeaposta para melhorar ofluxo de veículos e depassageiros na regiãopara a Copa de 2014,

no Brasil. Entretanto, ocenário é desanimadorquando a discussão émobilidade urbana.

Um dos pontos críti-cos está na esquina daAvenida Cristiano Ma-chado com SilvianoBrandão, entre os Bair-ros da Graça e Floresta,Região Leste de BeloHorizonte. O problemaé que o local está inter-

ditado há mais de doismeses e nenhuma obrafoi iniciada até agora."Não dá para entender.A BHTrans fecha o cru-zamento, tumultua otrânsito, complica a vi-da de todo mundo e agente não vê nenhumaobra", desabafa o mora-dor do Bairro da Graça,Philippe Hipólito. "Faltaplanejamento da Prefei-tura; nos horários depico, o trânsito em ruasque eram tranquilas ficacaótico”, acrescenta.

"Obras sempre criamalgum problema. Nãoestamos tendo muitasqueixas, as pessoas re-clamam dos engarrafa-mentos e da falta demobilidade, mas acredi-tam na obra", defende ogerente de coordenaçãode Mobilidade Urbanada BHTrans, RogérioCarvalho.

Ele ainda lembra que

o BRT, quando estiverimplantado, será um sis-tema que convencerámuitos motoristas adeixarem o carro nagaragem, aliviandoassim parte do trânsitonas principais vias dacapital mineira. "O pro-jeto vai melhorar otransporte e a quali-dade, além de outrosimpactos positivos co-mo nível de conforto",observa.

A ideia já foi implan-

tada em Curitiba, São

Paulo e em outros países

como México e Colôm-

bia. "O BRT vai trans-

portar cerca de 250 mil

pessoas por dia somente

na Cristiano Machado",

ressalta Rogério Car-

valho. A obra tem pre-

visão de término no fim

do primeiro semestre de

2013.

Obras causam transtornos para motoristas, transeuntes e moradores

Obras na Avenida Cristiano Machado para a implantação do BRT (Bus Rapid Transit) mudam a rotina em BH

Os bares de BH representam muito mais do que um lugar para encontrar e relaxar com os amigos, estando inserido

no contexto social e cultura da capital. O assunto chegou ao Museu Abílio Barreto, que montou exposição sobre o tema

MARIA CLARA MANCILHA

MARIA CLARA MANCILHA

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n

JULIANA LACERDA

THIAGO VIDIGAL2º PERÍODO

Um dos mais antigos efamosos prédios de Belo Hori-zonte, o edifício Acaiaca,localizado na Avenida AfonsoPena, esquina com a RuaEspírito Santo, Região Centralde Belo Horizonte, possui umabrigo antiaéreo, construído noprédio por exigência governa-mental no auge da SegundaGuerra Mundial, entre 1939 e1945, devido ao medo de que acidade pudesse ser atacada.Atualmente, este espaço é usadocomo área social de carga edescarga do edifício. Síndico doedifício desde2001, Her-mengardo An-drade Nettoafirma que, an-tes mesmo deleassumir o car-go de adminis-trador, o abrigojá era utilizadodesta forma ealega inviávelnão utilizar oabrigo destamaneira. “Ogrande fluxo depessoas impe-de que as car-gas sejam leva-das pelo salãoprincipal, então o uso do abrigoé essencial”, explica.

Esse fluxo é formado por3500 pessoas trabalhando nas

lojas e escritórios do Acaiaca quepossui 29 andares e 460 salas,compostas por consultóriosmédicos, dentistas e escritóriosde advocacia, além de ainda seruma referência para o público.Devido à sua localização, as lojase salas nunca ficam muito tempodesocupadas e isso justifica o usodo abrigo como depósito decarga e descarga. SegundoHermengardo, todos os con-dôminos têm direito de acessoao abrigo, desde que seja feitocontato prévio à administração.

O abrigo, na época em que foiconstruído, tinha função de pro-teger todos aqueles que estives-sem no prédio, que, em eventualataque, deveriam se deslocar

imediatamentepara o salão,que fica lo-calizado na par-te inferior dolocal. O espaçoconta com umafundação maisreforçada que ado restante doprédio e foi soli-damente estru-turado e funda-mentado pararesistir a es-combros de umeventual bom-bardeio. Atual-mente, nenhu-ma carga é

armazenada no local, comexceção de material de cons-trução para reformas doscondôminos.

Sobre o uso de umespaço vazio dentro deum edifício, o advoga-do jurídico imobiliárioKênio Pereira, presi-dente da Comissão deDireito Imobiliário –OAB – MG alega que asituação do abrigoantiaéreo do EdifícioAcaiaca está na legali-dade, apenas se segue asnormas do condomínio.“Para adotar uma utili-dade a uma área ociosado edifício é necessárioque a administração docondomínio resolva, deforma consensual, comos condôminos a formamais apropriada paraaplicar a utilidade, deforma que atenda a cole-tividade do prédio”, afir-ma.

Em seus tempos áure-os, o edificio foi bas-tante badalado pelapopulação da capital naépoca, já que possuíauma boate, o famosoCine Acaiaca, sala decinema com capacidadepara 900 pessoas, e tam-bém a TV Itacolomi,criada por Assis Chateu-briand. O prédio étombado pelo Patri-mônio Histórico de BeloHorizonte e até hoje éconsiderado cartão devisita, atraindo muitoscuriosos.

11Cidade/CidadaniaAbril • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

ABRIGO ANTIAÉREO VIRA DEPÓSITOAbrigo antiaéreo, construído no Edifício Acaiaca, no Centro de Belo Horizonte, à época da Segunda Guerra Mundial, funciona hoje, como depósito de carga e descarga das lojas do prédio

Hermengardo Neto, síndico do Acaiaca

O Edifício Acaiaca, localizado no Centro, é um dos mais antigos e famosos prédios em Belo Horizonte

MARIA CLARA MANCILHA

Crianças desenvolvem a criatividade em oficinan

MARINA NEVES

SARA MARTINS

VINÍCIUS ANDRADE3° PERÍODO

As manhãs de quinta-feira dePaulo Henrique Alves Silva, 11anos, ganharam um novo encan-to. Agora, ao invés de assistirtelevisão, ele ocupa seu tempocom sua paixão: desenhar trens.Não importa a cor, o tamanhoou o modelo, o fato é que seusonho de tornar-se maquinistaestá sempre estampado em suascriações. "Eu quero ser maquinis-ta, eu gosto muito de trem.Quero conduzir os trens, levar osvagões", afirma.

O garoto foi encaminhado hádois meses pelo Posto de Saúdeda Região Oeste de Belo Hori-zonte, e desde então frequenta aoficina "Arte da Saúde - Ateliê deCidadania", no Centro CulturalSalgado Filho. Na companhia deoutras crianças, desenvolve ativi-dades artístico-culturais sob asupervisão da professora SandraMariá da Silva, 33 anos. "Aquina oficina a gente faz máscaras,fantoches, cria cenas teatrais, fazalongamentos. Tem dias que eudou pinturas em caixas, tem diasque eu dou bordados", conta aprofessora, que também é arte-educadora, artesã e atriz.

O programa é uma iniciativada Secretaria Municipal deSaúde de Belo Horizonte(SMSA) e acontece em espaçosespalhados pelas nove regionais

da cidade. Ele atende a criançase adolescentes que sofrem algumtipo de exclusão, seja devido adistúrbios de comportamento ouvulnerabilidade social. "Se a cri-ança está solta na rua, fica sozi-nha em casa, está em umasituação de risco, ela já é perfil. Éum projeto de inclusão social",explica Sandra.

A oficina sediada no CentroCultural Salgado Filho visa ati-var a criatividade. "O objetivo édeixar que eles criem, deixar olúdico, permitir. Trazer a concen-tração por uma outra via, umpadrão diferente da escola", rela-ta a arte-educadora. As turmassão de no máximo doze alunospara que eles recebam atençãoespecial e sejam tratadosindividualmente. A professoraSandra atende aos alunos àsterças e sextas-feiras, de 13h às16h 30, e às quartas e quintas-feiras de 8h às 11h30.

Além dos resultados obtidosem sala de aula, os alunos tam-bém apresentam melhorias emcasa e na escola. Maria doNascimento Gonçalves, 57 anos,tia e responsável por PauloHenrique, conta que os doismeses de programa ajudaram nadesenvoltura do garoto. "A ofici-na ajudou tanto em casa quantona escola. Lá ele era mais quieto,não tinha tantos amigos. Agoraestá mais aberto, tem mais ami-gos, é mais comunicativo", diz.

Outra criança beneficiadapelo projeto foi Edilene Vitória

Soares, 12 anos, frequentadorada oficina há seis meses. A von-tade de fazer algo diferente é oque motiva Vitória a ir todas asquintas-feiras, pela manhã, aoCentro Cultural Salgado Filho."Gosto de fazer peças de teatro emáscaras. Ano passado eu até fizuma caixinha decorativa paradar de presente para minha cole-ga", diz. E é com um largo sorrisono rosto que ela comemora osucesso que as atividades lheproporcionam. "Antes eu eramuito tímida, mas agora estouperdendo a timidez. Eu já atéapresentei uma peça sem medo,consegui memorizar tudo, nãoprecisei de papel nenhum paraler as falas", afirma.

O progresso se estende tam-bém para os lares. As famíliasconstatam melhorias na con-vivência, no comportamento ena disciplina dos filhos. É commuita satisfação que SebastiãoMonteiro de Souza, 56, acom-panha seu filho Paulo Henriqueao Centro Cultural e admira osresultados. "Graças a Deus estátudo certo com ele. Ele estámuito bem depois que entroupara a oficina", destaca. Para quehaja a continuidade desta cami-nhada é essencial o papel dosfamiliares. "Esse é só o início deum processo, a gente começaaqui, mas a família tem que fazersua parte para conservar issopara o resto da vida. Aqui é opontapé inicial, mas não é tudo",ressalta Sandra Mariá. Professora e supervisora da oficina, Sandra Mariá ensina crianças a confeccionar máscaras

Aluno Paulo Henrique mostra por meio de seu desenho seu sonho de ser maquinista

RAÍSSA PEDROSA

MARIA CLARA MANCILHA

MARIA CLARA MANCILHA

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12CulturaAbril • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

CINEMAS DE RUA PERDEM TRADIÇÃOn

IGOR PATRICK SILVA

RAFAELA GONÇALVES2º PERÍODO

"Hoje em dia, cinemassão apenas um sonho".Com esta frase, o perso-nagem Spaccafico (inter-pretado por Enzo Ca-navalle) explica a SalvatoreDi Vita (Jacques Perrin)sobre o motivo do fe-chamento do Cinema Pa-radiso, no premiado filmehomônimo de 1988. Em-bora a demolição do prédiofaça parte de uma peça deficção, os cinemas de ruasofrem atualmente do mes-mo problema: a realidademetropolitana acabou porapagar sua importância cul-tural e designou aos seusespaços funções que nemde longe refletem a gran-deza de outrora. É nestecontexto em que se insere"Metrópoles", documentá-rio realizado pelo cineastaBellini Andrade como des-dobramento de uma disser-tação de mestrado que nãodeu certo.

Bacharel em Comunica-ção Social pela Univer-sidade Federal de MinasGerais (UFMG), Bellinichegou à Emvídeo comoestagiário. "A produtora jáera referência, principal-mente na área de filmesculturais", relembra. Com otempo, o acúmulo defunções e a importânciadentro da empresa aca-baram por torná-lo sócio.Concomitante, Andradetentava obter da Univer-sidade, o título de mestre.Foi da sua dissertação, "Dostempos da imagem, aostempos do consumo" quesurgiu a ideia de "Metró-poles", título inspirado nolonga distópico alemão de1927.

"A intenção inicial eraproduzir uma dissertaçãode mestrado sobre os cine-mas de rua, mas de umaforma mais dinâmica. O

documentário seria como aconclusão do trabalhoacadêmico", conta. "Contu-do, a Federal é rígida nessaquestão e esperava algomais teórico, de modo queacabei não sendo aprovado.A ideia, porém continuou",acrescenta.

Depois de aprovado naLei Municipal de Incentivoà Cultura, iniciaram-se asfilmagens. Bellini recorda-se de algumas raridades doslocais onde conseguiugravar. "Existiam coisas quehoje não se vê mais, porexemplo, o Cine México,localizado próximo ao quehoje é o ShoppingOiapoque. Ainda é possívelver as pinturas imitando aarquitetura maia na borda",diz. "Também não fazmuito tempo, durante areforma do Cine Brasil,acharam a pintura originaldo local. As obras pararampor causa disso porque vaiser necessário restaurar econtratar especialista",completa.

O fechamento dos cine-mas de rua seguiu umatendência indiretamenteproporcional ao crescimen-to das cidades. Antes, pro-blemas como necessidadede espaço para construção,a chamada especulaçãoimobiliária, vagas de esta-cionamento e criminali-dade não eram assuntosrecorrentes e tão impor-tantes como hoje. Os novostempos demandavam novasprovidências, providênciasestas que os cinemas nãoconseguiram tomar.

Com o advento dosshoppings e, consequente-mente, da abertura de cine-mas neles, a experiência deir ao cinema encontra-seatualmente muito mais li-gada ao consumo. Segundoa Agência Nacional deCinema (Ancine), apenas17% das salas em atividadeno Brasil encontram-selocalizadas fora dos shop-

Diversos cinemas de rua perderam brilho, encanto e o cheiro da pipoca. Deram espaço para outros estabecimentos, perdendo a memória e o público que se encantava ao longo dos anos

pings, sendo que deste per-centual inclui-se não só oscinemas de rua, mas tam-bém os chamados cine-clubes. "Não acho que sejauma banalização da arte,mas antigamente as pessoasiam ver um filme. Hoje, elasvão ao shopping e talvezpassem para ver um filme.Antes, ir ao cinema eraplanejamento de um dia",conta.

Pablo Villaça, crítico decinema nascido em BeloHorizonte, lembra-se bemdessa época. "Minha paixãopelo cinema começoumuito cedo. O dia de verfilme era diferente, nós tí-nhamos um almoço espe-cial, a roupa específica e jásaíamos de casa com a pro-gramação completa do quefazer antes e depois de ir àsessão", lembra Pablo, nãosem uma dose de nostalgiano olhar.

CULPA Belini Andraderesponsabiliza o Poder Pú-blico pela decadência dos ci-nemas de rua. "É claro quetêm as questões mais práti-cas. Ir ao cinema em um

shopping é mais seguro, vocêtem lugar para estacionar seucarro, não se preocupa tantocom assalto. Mas também háum abandono do poderpúblico nos cinemas de rua",avalia. "O que tem acontecidoé o governo tombar e dizer'aqui não pode mexer', masnão oferece nenhuma ajudapara recuperar o lugar", acres-centa.

O Cine Pathé e o CineCandelária são dois dosexemplos mais vívidos parailustrar o problema listadona fala do cineasta. O pri-meiro, amarga uma destrui-ção lenta e gradual empleno coração de umaSavassi que está sendo revi-talizada. No segundo, existea obrigatoriedade de semanter a arquitetura dafachada original, mas só lherestam escombros deixadospelo incêndio e paredes quepodem desabar a qualquermomento.

"Infelizmente, nesse ca-so, os donos dos imóveisficam torcendo para que oprédio caia rápido e elespossam se livrar do ter-reno", diz. "Já que não é

O cineasta Bellini Andrade realizou o documentário “Metrópoles”

Situação dos cinemas de rua em Belo Horizonte

Cine Belas Artes

Continua em funcionamento.

Conta com o patrocínio da Usiminas para permanecer aberto.

Em reforma pela V&M, teve suas obras paralisadas depois que

a pintura original do local foi descoberta. Não há prazo para

reinauguração.Cine Brasil

Cine CandelariaTeve fim em 2004 após um incêndio, cujas causas nunca foram

completamente esclarecidas.

Cine Metrópole Fechou em 1983, depois de várias manifestações que pediam a

construção de uma agência bancária no local, o que aconteceu.

Cine Odeon

Outrora um dos mais famosos cinemas de Belo Horizonte

(chegou a ser tema de poesia de Carlos Drummond de Andrade

quando foi fechado), tornou-se Igreja Evangélica e atualmente é

sauna gay.

Cine Pathé

Fechado em 1990, o Cine Pathé chegou a ser um estacionamen-

to. Apesar de tombado pelo patrimônio, encontra-se abandona-

do pelo Poder Público, que não permite a demolição e nem

restaura o prédio.

Cineclube Savassi

Funcionou na Rua Levindo Lopes até o início deste ano, quan-

do foi fechado principalmente pelas dificuldades de manutenção

do local.

possível reformar por contaprópria e a restauração éum processo caro, elesficam esperando que acabelogo de uma vez. Muitosdos cinemas antigos passampor brigas de espólio naJustiça, rixas entre empre-sas", conta.

SALVAÇÃO No Oscardeste ano, a nostalgia e asaudade do cinema nosmoldes como ele era antiga-mente triunfaram. Doisfilmes, diametralmente o-postos em suas propostas,buscaram homenagear asétima arte e saíram comexatamente cinco estatue-tas, cada; "A Invenção deHugo Cabret", rodado em3D e dirigido pelo aclama-do Martin Scorcese e "OArtista", filme mudo e empreto e branco escrito edirigido pelo até então des-conhecido francês MichelHazanavicius. Seria umaresposta de um públicocansado da constante mega-lomania hollywoodiana euma vontade de resgatar opassado?

Bellini Andrade acha quenão é bem assim. Quandoquestionado se esta suposta"saudade" do público porum cinema mais tradicionale clássico poderia ajudar noreerguimento destes antigosespaços de convívio queeram os cinemas de rua, suaresposta foi enfática.

"Não sei, acho que é ummomento, um modismo docinema americano. Podeolhar, a bilheteria de 'OArtista' (quando a entre-

vista foi realizada, o nú-mero girava em torno deapenas US$28 milhões embilheteria doméstica, frenteaos US$135,4 milhões de"O Discurso do Rei", ga-nhador do ano passado) foiquase inexpressiva porquenão é o tipo de filme que opúblico está acostumado aver. Tomara, torço para queisso seja uma tendência eque chegue pra ficar, masnão sei se podemos usarcomo esperança", analisa.

A despeito da situaçãoprecária dos cinemas derua, Bellini é otimista quan-to ao impacto que seu do-cumentário talvez cause nosentido de chamar aatenção para o problema."Espero que ajude. Queromuito ver o Cine Brasilfinalizado, gostaria de ver aprefeitura cuidar do CinePathé como se preocupouem cuidar da Praça daSavassi".

"Metrópoles" encontra-seem fase de pós-produção.Estima-se lançamento ain-da no mês de Abril. Ao lon-go da gravação do docu-mentário, Bellini conta queenfrentou alguns contra-tempos. "Em alguns locaisnão nos deixaram entrar.Tentamos obter um depoi-mento das Igrejas Evan-gélicas, principais com-pradoras dos espaços dosantigos cinemas, mas espe-ramos durante muitotempo em vão. Tambémtive a falta de sorte de ver oCine Candelária ser interdi-tado pela Defesa Civil nasemana em que íamosgravar lá".

MARIA CLARA MANCILHA

MARIA CLARA MANCILHA

Cine Roxy

Cine Acaiaca

Cine Palladium

Inaugurado em 1963, o antigo Cine Palladium, depois de 12

anos de portas fechadas, foi reaberto em agosto de 2011, após

sete anos de reforma. Rebatizado Cine Sesc Palladium, o pro-

jeto teve investimento aproximado de R$ 90 milhões.

Localizado no térreo do Edifício Acaiaca, atualmente é utilizado

por uma igreja evangélica.

O antigo Cinema Democrata, fundado em 1927 fechou as por-

tas em 1956 para que, no ano seguinte, fosse inaugurado o Cine

Roxy, que acabou em abril de 1995, virando loja e se integran-

do ao Pólo de Moda do Barro Preto.

Pablo Villaça, crítico de cinema, conta sobre sua paixão pelas telas

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n

SARA MARTINS

FERNANDA COSTA

3º PERÍODO

Em 2012 entra em vigor a leinº 11.769, que determina amúsica como conteúdo obri-gatório do componente curricu-lar nas escolas públicas e pri-vadas de todo o Brasil. Agosto éa data limite para que todas elasse adaptem às exigências esta-belecidas. A imposição surgiu em2008 e decretou três anos letivospara a implantação da disciplina.Em 2011 o governo estabeleceumais um ano de prazo. Para a lei,o conteúdo música não precisaser aplicado como matéria única,tendo a escolha de ser multidis-ciplinar. E, segundo a Lei deDiretrizes e Bases de 1996,apenas professores licenciadosem Universidades e InstitutosSuperiores de Educação sãoautorizados a lecionar o conteú-do música.

Há poucos meses para o fimdo prazo, escolas da RegiãoNoroeste de Belo Horizonte, es-pecificamente dos bairros DomCabral, Coração Eucarístico,Gameleira, Minas Brasil, NovaGameleira e Nova Suíça, encon-tram-se em situações diferentespara obedecer à demanda da lei.Enquanto algumas encontramdificuldades para a implemen-tação, outras já trabalham o con-teúdo há algum tempo. De seteescolas pesquisadas na região,apenas duas introduziram mú-sica na grade curricular, ambasparticulares. São os colégiosSalesiano e Santa Maria, uni-dade Coração Eucarístico.

Há aproximadamente quatroanos, antes mesmo da lei, oColégio Salesiano contava com adisciplina no currículo. A inicia-tiva veio por parte da professorade música Maria da ConceiçãoMartins Vieira, 47 anos. Antesde lecionar na instituição, amusicista tinha contato com adiretoria por meio do filho, quecursava o ensino fundamental, eos incentivou a introduzir amúsica através de um coral, doqual participam os alunos inte-

ressados. Por causa dos resulta-dos positivos o colégio expandiuo contato musical para todos,por intermédio da disciplina deMúsica. Durante as aulas sãopraticadas brincadeiras, cantos edanças com os alunos. "Eu sem-pre crio alguma coisa, algumritmo. Além disso, uso enfeitescoloridos, artifícios, coisas paramanter os meninos entretidos naaula, para não ficar enjoativo",conta Maria da Conceição.

O Colégio Santa Maria ofe-rece a música para os alunosdesde 1985. Ela é trabalhadacom a disciplina de EducaçãoFísica. "O nome da matéria é'Musicalização e Movimento',justamente para termos comofoco a questão da música mais aparte esportiva, a parte de coor-denação motora", explica a ori-entadora pedagógica AdrianaMartins Dornas Dutra, 47 anos.E a partir de agosto, quando a leientra em vigor, não será dife-rente. Segundo a diretoraMônica Maria Ribeiro dosSantos, 58 anos, o colégio nãoprecisará implantar uma disci-plina específica de música, umavez que as aulas de 'Musi-calização e Movimento' já aten-dem o que foi determinado.Além disso, o colégio tambémdesenvolve projetos com o estu-do da obra e da vida de grandesnomes da música popular brasi-leira, para ampliar o conhe-cimento cultural.

DIFERENÇAS Das cincoescolas públicas pesquisadas naregião, nenhuma incluiu a disci-plina. Ao serem procuradas paradar esclarecimentos, duas não sepronunciaram. Foram elas asEscolas estaduais Leon Renault eOrdem e Progresso. E apenasuma, a Escola Estadual Assis dasChagas, tomou iniciativas parafazê-lo. Segundo a diretora, Ritade Cássia Penalva, pedagoga há18 anos, medidas que não foramespecificadas têm sido tomadaspela Secretaria Estadual deEducação (SEE).

As escolas estaduais MaurícioMurgel e Odilon Behrens, até o

momento não tomaram medidaspara atender a demanda da leifederal. Antônio Silva de Souza,vice-diretor da escola MaurícioMurgel, explica que a instituiçãode ensino estava envolvida comreposições das aulas do últimoano letivo, que ficaram pen-dentes devido à greve de 112dias dos professores, ocorrida em2011. "Precisamos primeiro ajei-tar essa situação de turmas. Sódepois disso que a gente vai tertempo para sentar e pensar sobreo assunto", diz o vice-diretor, queafirmou que começariam asreuniões no dia 17 de março. JáNeuza Magalhães, diretora daescola Odilon Behrens, aguardao início das atividades doPrograma Educacional de Aten-ção ao Jovem (PEAS), que auxi-lia escolas públicas a ofertar con-teúdos extracurriculares aos alu-nos do ensino médio, para apre-sentar à Secretaria de Estado deEducação (SEE) uma sugestãode projeto. Após ser avaliada, aescola contratará um professorespecialista para o trabalho.

Em nota, a SEE relatou que asua própria equipe e a das super-intendências regionais farão, aolongo do ano, o acompanha-mento da disciplina curricular deArtes nas escolas para apoio esuporte aos professores. A Se-cretaria conta ainda que mesmoantes da aplicação da lei, muitasescolas no Estado de MinasGerais já desenvolviam projetosde educação musical como partedo conteúdo ministrado na disci-plina de Artes ou com projetosem parceria com instituiçõesexternas. Orquestras de músicapopular e erudita, corais, cursosde percussão, violão e canto jáfazem parte das atividadesdesenvolvidas nas escolas.

Em Minas, há também o tra-balho da educação musical emescolas exclusivas para o apren-dizado dessa temática. Segundoa SEE, o Estado é o único doBrasil que conta com conser-vatórios de música na rede públi-ca de ensino. Os 12 conser-vatórios estaduais de música

buscam atender a diversasregiões do estado: as escolasestão nas cidades de Araguari,Ituiutaba,Uberaba e Uberlândia,no Triângulo Mineiro; em SãoJoão Del Rei (Campo dasVertentes), Juiz de Fora,Leopoldina e Visconde do RioBanco, cidades da Zona daMata; em Montes Claros noNorte de Minas; Diamantina, noVale do Jequitinhonha, e emPouso Alegre e Varginha,ambasno Sul do Estado.

Uma das dificuldades encon-tradas é a falta de profissionaisqualificados no mercado paradar aula de música nas escolas.O número de professores forma-dos ainda é pequeno no Brasil."Está acontecendo uma situaçãocrítica na área de educação, deum modo geral, que se refere adiminuição de profissionais quese propõem a fazer licenciatura etrabalhar com educação. Ascondições de trabalho em edu-cação estão ficando difíceis emalguns setores, o que tem desa-nimado estudantes e profissio-nais. E nas áreas de Artes – ArtesVisuais, Teatro, Dança e Música,isso também tem acontecido",afirma o professor de música

Zildo André Vieira Flores, 37anos. A SEE garante que rea-lizará ampla capacitação de pro-fessores de Artes que não têmformação específica em música.A capacitação será realizada pormeio da Magistra, Escola deFormação e DesenvolvimentoProfissional de Professores.

Com a aproximação do fim doprazo, nem todos os estados jáse adaptaram à lei. Por outrolado alguns estados têm sedestacado. É o caso dePernambuco, onde 400 escolasestaduais já possuem a disci-plina desde 2007, além da aber-tura de concursos dirigidos aosprofissionais da área. Um fatovisto pela Associação Brasileirade Educação Musical é que aantecipação das medidas exigi-das pela lei acontece em algu-mas cidades que possuem con-servatórios de música locais,devido a parcerias com institui-ções de ensino. Exemplos dissosão: Santa Bárbara (MG), PortoAlegre (RS), João Pessoa (PB),Santos (SP), São Carlos (SP),Franca (SP), e Florianópolis(SC), cidades nas quais a leiapenas reforça o que já estavasendo feito.

13EducaçãoAbril • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

O contato com a música é uma fontede saúde e concentração para ascrianças, e quanto mais cedo forestabelecido maior será o benefício. Éo que acredita o psicólogo ThiagoDennavan, 27 anos. Além disso, amúsica estimula a imaginação, que éimprescindível para o progressoinfantil. "A arte é fundamental praqualquer criança, independente de qualclasse ela ocupe, de qual idade elatenha. Vai propiciar um outro mundo; etambém funciona como um lúdico, quepara a criança é essencial em suacriação e desenvolvimento", avalia.

Os resultados da relação entre alunose a música é algo que reflete posi-tivamente também para os professorese diretores que os acompanham narotina escolar. Segundo a diretora docolégio Salesiano, que implantou a

disciplina, Francisca Barbosa da Silva,59 anos, a música acalma as crianças,deixa-as mais sensíveis e amáveis,tornando a convivência e o trabalhocom elas mais agradável.

Também no Santa Maria, unidade do

Coração Eucarístico a avaliação épositiva em relação à implantação damúsica e a maneira que ela auxilia osalunos."AMúsica ajuda na alfabetização,pois desenvolve a memorização, acriatividade e a interpretação", afirma

Mônica Maria Ribeiro dos Santos, 58anos, diretora do colégio Santa Maria."Temos percebido que a música éimportante no desenvolvimento, naquestão auditiva, no saber escutar. E amúsica beneficia também vários outrosconteúdos", acrescenta AdrianaMartins Dornas Dutra, 47 anos,orientadora pedagógica do colégioSanta Maria. Deixar para atender nos últimosmomentos a demanda da Lei nº 11.769,que exige que as escolas particulares epúblicas incluam o ensino de músicaem suas grades curriculares, foi umadecisão de muitas escolas públicas dobairro Dom Cabral e entorno. Asconsequências dessa escolha sãoperdas tanto para os alunos como paraseus os professores e diretores.

Música contribui para o estímulo da imaginação e arte das crianças

Escolas públicas e

privadas de todo o Brasil

serão obrigadas a incluir

o ensino musical em suas

grades curriculares em

2012. A nova disciplina

poderá ser ministrada de

forma multidisciplinar,

em conjunto com outras

matérias

MÚSICA SERÁ CONTEÚDO

OBRIGATÓRIO EM ESCOLAS

Professora Maria Conceição mescla educação e música criando uma didática mais divertida

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

Francisca Barbosa, diretora do colégio Salesiano, que implantou a disciplina de Música para auxiliar no ensino

FELIPE AUGUSTO VIEIRA

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14ComportamentoAbril • 2012jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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MARIANA BASTOS,NATHALIA VILLELA1º PERÍODO

Moradores e comerciantes daRua Rio Pomba, localizada noBairro Padre Eustáquio, RegiãoNoroeste de Belo Horizonte, sesentem obrigados a convivercom o frequente incômodo cau-sado pela ação dos pichadores.Por toda a rua, prédios, casas eestabelecimentos comerciais sãodegradados pelos rabiscos eletras deixadas nos muros efachadas. Por esse motivo, VeraLúcia Belico Caria, professoraaposentada, cedeu, há um ano, omuro da casa para que grafiteirospudessem expor desenhos eencobrir as pichações escritas emtoda a extensão da fachada.Após um trabalho na casa vizi-nha, os grafiteiros Irön e Aironepediram permissão para grafitaro muro da casa de Vera, quemesmo preocupada com preço,permitiu o desenho prometendoque pagaria uns dias depois, oque não foi preciso.

Ela diz que durante o proces-so, um desenho que lhe chamoua atenção foi um cachorro comtrês olhos, feito pelo grafiteiroIrön. "Achei esquisito demais",conta. Foi quando Airone suge-riu a imagem de um animal.Apaixonada e dona de gatos, elaprocurou a foto de seu gatopersa, Guilherme –- que ganhouesse nome por conta do atacanteque jogou no Atlético-MG nofinal da década de 90 –, quehavia falecido alguns mesesantes. Como não a encontrou,decidiu que a imagem utilizadaseria de sua gata mais velha,Ágape, 16 anos. Vera é um exem-plo de inúmeras situações depessoas que cedem espaço aografite para combater adegradação, mas acabam incen-tivando a prática dessa expressãode arte.

O preconceito em relação aografite ainda é grande, devido aconfusão que fazem com apichação. Enquanto a pichação épraticada como uma forma dedemarcação de território, ografite, que é uma ilustração,seja ela um desenho ou umainscrição caligrafada, éconsiderado uma expressão dearte de rua, onde o espaço públi-co é a própria galeria. Uma dasdiferenças entre os dois é que apichação não tem a preocupaçãoestética do grafite e, como conse-quência, acaba causando apoluição visual. Feliz com o

resultado no muro, Vera con-segue fazer distinções entre asduas práticas e ressalta que osgrafiteiros são talentosos e que otrabalho ficou muito bonito. "Euqueria vê-los fazendo, mas foimuito rápido, um dia. Eu queriasaber como eles fazem, para euaprender", relembra a aposenta-da que pinta quadros nas horasvagas. Ela comenta também queantes, assim que mandava pintaro muro, já pichavam novamentea casa, porém, depois dotrabalho dos grafiteiros nãohouve mais degradações."Economizou pintar o muro",comenta.

Airone é o apelido de EltonMarques Lobato, 32 anos,grafiteiro desde 1994, quando omovimento de arte urbana aindaera recluso e marginalizado emBelo Horizonte. Elton começouno piche quando deixava "Air"como marca registrada nas pare-des de comércio e residências doBairro Padre Eustáquio, ondemora. No convívio com outrosgrafiteiros, conheceu o grafiteque, na época, era uma práticacujo domínio pertencia apoucos. "O grafite era algo feitoescondido pela cidade, embaixode viadutos, onde era de difícilacesso. Quando eu estava nopiche tive contato com osprimeiros grafiteiros de BH, naépoca uns quatro ou cinco. Opessoal que conhecia e sabiafazer não repassava isso pragente", recorda. Quando aindapichava, ele conta algumas difi-culdades que enfrentou como tersido preso e o preconceito, desdedesconhecidos até familiares."Eu era um aluno exemplar edepois que rodei com a políciafui tido como o marginal do bair-ro", complementa.

Através do contato com RogerDi, outro grafiteiro, que o intro-duziu ao grafite, e aliado à admi-ração por essa arte, Elton aban-donou o piche e o codinome"Air" para adotar "Airone" ecomeçar a se expressar demaneira considerada, por ele,mais digna. Airone diz que seinteressava pelos desenhos quevia, principalmente por um queficava debaixo do Viaduto SantaQuitéria no Bairro Carlos Prates,Região Noroeste de BeloHorizonte. "Depois de jogar bolacom a turma, ao invés de ir paracasa, eu descia até o viaduto paraficar olhando o grafite que tinhalá", conta. Elton explica que sódesenha com a devida autoriza-ção dos donos das casas ou dosestabelecimentos e que geral-mente é ele quem vai atrás des-ses espaços para poder grafitar.

Ronald Nascimento Ferreirada Silva, 24 anos, que égrafiteiro profissional há sete,tem história parecida com a deElton. Começou no piche, práti-ca de vandalismo do qual oinfrator ganha status entre osdemais ao registrar sua marcacom tinta em muros, viadutos eparedes, na forma de degradaçãode propriedades públicas e pri-vadas. Ao ser pego, Ronald aban-donou o piche e através de umgrafiteiro amigo e que hoje é seuprofessor no grafite, ThiagoSantos, conhecido como "OGato", que o colocou nocaminho do grafite, mostrandocomo aprimorar aquilo o que jásabia.

No Bairro São Lucas, ondemora, apesar da reprovaçãofamiliar pela ocupação escolhida,por não ter conhecimento plenodo grafite e por se uma profissãoinstável, Ronald teve o incentivodos moradores do entorno quecediam os espaços particularespara que ele e outros grafiteirospudessem mostrar a arte. "Meubairro inteiro é grafitado pormim e por meus companheiros",afirma. Ele conta que, apesardesse incentivo dado a eles, aexpressão artística era limitada.

"O pessoal cedia o espaço, masdeterminava o desenho que que-ria na parede, na maioria dasvezes paisagens. Não tínhamosliberdade para grafitar o quequeríamos", diz. Ao se profis-sionalizar, Ronald optou por nãofazer mais trabalhos em que apessoa cede o espaço de formagratuita – por motivo de falta detempo e em outros casos, as pes-soas que cedem o espaço entramcom uma ajuda de custo, umalata de tinta, por exemplo – eafirma que essa prática já foimais recorrente.

Membro do coletivo "Poesia

de Concreto", que tem comoobjetivo mudar a visão estereoti-pada do grafite, que é arte exclu-siva de rua e que não pode serexposta numa galeria, Ronald vêo grafite além da ótica profis-sional. "Eu faço versos de rap e

quando passei a grafitar foi maisuma arma de protesto queganhei", conta.

Ronald prefere retratar ocotidiano nos trabalhos espalha-dos pela cidade e vê o grafitecomo uma imposição visual queatua como protesto no meiourbano. "Da mesma forma que(o grafite) ocupa o espaçourbano criticando as formas degoverno, corremos o risco de ser-mos expulsos dele", conclui. Eleainda assimila a demanda daarte do grafite como um modis-mo estético das pessoas, da qualobserva a mídia como auxiliado-ra e reforçadora dessa melhoraceitação.

"As pessoas aceitam melhor ografite e a forma que ele ocupa acidade, porém ainda não oentendem como expressão dearte", afirma. Ronald trabalha naEscola Integrada na parte damanhã e no restante do dia tirapara atender a demanda dedesenhos e trabalhos que sóaumenta.

O bar Nelson Bordello,localizado sob o ViadutoSanta Tereza, na RegiãoCentral de Belo Horizonte,é um exemplo de comércioque cedeu espaço para ografite. Com as paredesdesenhadas, inclusive afachada, o local recebepessoas de todos os estilos eidades. O público variadesde aqueles que sópassam rapidamente, porfazer parte do percursohabitual, até aquelas quefazem parte do movimentohip-hop, principalmente oque costumam freqüentar oDuelo de Mc's, todas assextas-feiras, no viaduto.

Uma das proprietárias doBordello, Yasmini Costa, 30anos, com o intuito demanter os aspectos do local,firmou uma parceria comalguns grafiteiros do Duelopara fazer a fachada. "Afachada foi grafitada portrabalhos de grafiteiros doscoletivos que participam doDuelo de Mc's. Eles tiveramliberdade para desenhar o

que quisessem, só seguiramo contexto de cabaret, que éa idéia do bar", relembra.

Quando questionada sobrea aceitação do público emrelação ao grafite, Yasminiconta que nunca recebeucríticas, pelo contrário, sóelogios. "Acho que todosentendem que é arte, tanto ografite quanto o picho, poissão os únicos meios quealguns tem para poderprotestar", complementa.Ao procurar Érica Teperini

Dias, cabeleireira, por voltade 2008, Airone teve aautorização dela paragrafitar o muro da casa, emque há três meses funcionao salão de cabeleireirosdela. Ela diz que algunsclientes vêm o grafite comopichação, mas que mesmoassim não faz diferençapara eles. "Se ele quiserfazer de novo, pode",comenta. Ainda com-plementa que se ele puderfazer um desenho que façareferência do salão, seriaótimo.

Comerciantes usamgrafite como diferencial

Para combater a poluição visual causada pela pichação, proprietários de casas e comerciantes, em Belo Horizonte, cedem muros para que grafiteiros possam se expressar à vontade

A ARTE DO GRAFITE GANHA ESPAÇO

Ronald exibe o grafite ao público presente no Duelo de MC’s no Viaduto Santa Tereza

Música em transporte coletivo causa incômodon

ANA CAROLINA SIMÕES, MARIANA ALMEIDA

MATHEUS BARBOSA1º PERÍODO

Há quem goste de música, porvezes ela é relaxante. Com osurgimento dos aparelhoseletrônicos, como por exemplo, ocelular com mp3, tornou-secomum encontrar pessoas ouvin-do músicas nos transportes cole-tivos, sem usar o fone de ouvido.No ônibus e metrô da cidade,muitas vezes os passageiros sesentem incomodados quandosão obrigados a ouvir a música do"colega ao lado". Usar fones deouvido, como sugerem campa-

nhas de conscientização, é amaneira mais viável de nãoinvadir o espaço do outro.

O analista de sistemas LuizGustavo, que utiliza o transportepúblico todos os dias para voltardo trabalho, se sente muito inco-modado com a música, e presen-cia esta cena com frequência."Moro longe e volto cansado paracasa, além de ser falta de respeitocom todas as outras pessoas, quepodem não gostar do estilo damúsica. Eu uso fone de ouvido esei que a frequência alta faz malpara saúde, então escuto a músi-ca em uma altura ideal", afirma.

Diversas campanhas são reali-zadas todos os anos, seja nasredes sociais, que são uma das

mídias mais usadas para estadivulgação ou no "Jornal doÔnibus" ou em cartazes nometrô. Entre as principais mani-festações online, algumas se

destacam: "Doe um fone de ouvi-do a um funkeiro", "Seu fone,meu sossego" , "Não seja o DJ doônibus" e "Não transforme oônibus em trio-elétrico", entrevárias outras que visam conscien-tizar a população.

Em enquete realizada nometrô da capital, a grandemaioria dos entrevistados alega játer presenciado cenas em que sesentiram irritados e desrespeita-dos pela música alta de outrospassageiros, e acreditam que estascampanhas devem continuaracontecendo. Para o servidorpúblico Caio Túlio Guimarãescriar uma lei proibindo músicanos transportes coletivos, nãoseria solução. "Lei não resolve.

Depende da consciência de cadaum. É uma falta de respeito comas outras pessoas, por isso se deveusar o fone", avalia. O auxiliarRobson Victor Ferreira utiliza ometrô diariamente e alegou queproibir a música não seria umaforma eficiente, mesmo sehouvesse uma lei. "Não iria existiruma rígida fiscalização", diz.

A BHTrans, por meio de suaassessoria de comunicação, infor-ma receber com frequência recla-mações sobre som em ônibus,mas revela que não existe uma leique proíba os passageiros de fazero uso dos aparelhos de som nostransportes coletivos.

Robson Ferreira usuário frequente do metrô

MARIA CLARA MANCILHA

MARIA CLARA MANCILHA

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15EsporteAbril • 2012 jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas• jornalmarcolaboratóriodocursodejornalismodapucminas

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VINÍCIUS DIAS ALVES1º PERÍODO

Mineiro de Itabirito, TelêSantana da Silva foi um dosmaiores expoentes do futebolbrasileiro no Século XX. Suacarreira, iniciada no ItabirenseEsporte Clube, ganhou pro-jeção nacional na década de50, após a transferência para oFluminense. Mas, foi comotreinador que ele alcançou suasmaiores glórias. Em quase qua-tro décadas, Telê acumulouconquistas e passagens pelaseleção nacional. Falecido em21 de abril de 2006, o mestrepermanece vivo, em sua terranatal, na memória de ex-com-panheiros e admiradores dasmais diversas gerações.

Em dias de jogos do Flumi-nense, quando os itabiritensesse reuniam diante do rádiopara acompanhar as transmis-sões, Luiz Corradi Júnior, 83anos, deixava de lado suapaixão pelo Botafogo paratorcer pelo sucesso do amigono rival das Laranjeiras.

"Quando ele foi para o Rio,restava a nós a alegria de ficarao pé do rádio para acompa-nhar a transmissão dos jogosdo Fluminense e ouvir o nomede Telê. Quando ele fazia umgol, a gente vibrava. Apesar deque nós éramos botafoguenses,torcíamos pelo sucesso dele",conta.

Vizinho e amigo de Telêdurante a infância, Corradirelembra os tempos de con-vivência com o companheiro.

"Do Telê comigo, havia umarelação de afinidade, quesuperava a amizade. Ele, paramim, era como se fosse umirmão", completa.

Meia-direita com passagempelo Atlético-MG, e campeãoestadual pelo E.C Siderúrgicaem 1964, Silvestre MartinsFernandes, 78 anos, ressalta aimpor-tância do mestre parasua cidade natal. "Sobre o fute-bol, Telê Santana representatudo para Itabirito, porque foi

um grande homem, um bomrapaz e companheiro", diz.

Silvestre, que ainda no juve-nil foi levado ao Fluminensepelas mãos de Telê Santana, semostra saudoso ao recordar daboa relação com o ilustre itabi-ritense. "Eu agradeço a Deuspor ter tido Telê como amigo etambém pelo carinho que eleteve comigo", salienta, emo-cionado.

HOMENAGEM Como partedas comemorações dos 84 anosde Itabirito, completados em2007, a prefeitura inaugurouuma estátua em homenagem aTelê Santana. Esculpida peloartista plástico Luiz EugênioQuintão Guerra, a obra, emtamanho real, foi instalada naTravessa Domingos Pereira daSilva, Região Central dacidade.

A construção deum memorial, pre-vista para 2008,ainda não foi viabi-lizada. Entretanto,pe r manece nos

planos da administraçãomunicipal. É o que relata IvacySimões, secretário de Pa-trimônio Cultural e Turismo."Há a intenção de fazer ummemorial com telões, proje-tores, com toda estrutura,principalmente no centro dacidade, onde o povo possa visi-tar. Telê Santana é um marcona história de Itabirito, umapessoa que representa, e muito,a nossa cidade", afirma.

De acordo com Simões, oprojeto, que ainda não está nopapel, conta com a anuênciada família de Telê. "O filhodele, Renê Santana, já se pron-tificou a ajudar assim queItabirito estiver disposto amontar o memorial. Ele colo-cou à disposição vários objetose coisas que irão relembrá-lo",completa.

As manifestações dereverência a Telê Santananão estão restritas aosseus contemporâneos. Osjo-vens, que o acompa-nharam como treinadorna década de 90 ou pormeio de histórias con-tadas pelos familiares,também revelam admi-ração pelo conterrâneo.

Apesar de não tê-loconhecido pessoalmente,o professor de língua

inglesa Kessler CottaGomes, 18 anos, endossao discurso reverente. "Eleé o filho ilustre da cidade,a referência. É uma honrapara Itabirito ter sido olar de um dos grandeshomens da história do es-porte", diz. Kessler aindadestaca a contribuiçãodeixada pelo mestre aosclubes que comandou."Ele deixou no Atlético-MG o legado de seu

maior título, e no SãoPaulo venceu tudo", com-pleta.

Leonardo BernardaraDutra, 31 anos, consultorde informática, ressalta agenialidade de Telê. ”Co-mecei a acompanhá-lo nasua inesquecível pas-sagem pelo São Paulo, noinício dos anos 1990.Naquela época, o tricolorjogava um futebol acimado nível dos demais times

do planeta. Não à toa,foi bicampeão mundialcom vitórias sobreBarcelona e Milan. Tudoisso, devido a grandevisão do mestre", afirma.

Para Leonardo, residirem Itabirito é motivo deorgulho. "Tenho orgulhode morar na cidade ondenasceu Telê Santana, omelhor técnico de todosos tempos", conclui.

Admiração por Telê atravessa diversas gerações

CONTERRÂNEOS RELEMBRAM TELÊEnquanto o memorial em homenagem ao treinador da seleção brasileira de 1982 não se torna realidade, moradores da cidade mantêm viva a memória do filho ilustre de Itabirito

Estátua de Telê Santana na Praça Travessa Domingos Pererira da Silva, em Itabirito

Ex-jogador Silvestre Martins se emociona ao lembrar Telê

Projeto em parceria com escolinha forma atletasn

GIOVANNA EVELYN3º PERÍODO

Tornar um atleta profis-sional, revelar um jogadorpara um time de destaquee se orgulhar pelos altossalários de seus jogadores,talvez sejam os principaisobjetivos de um projetosocial ligado ao futebol.No entanto, a Escola deFutebol Moryah EsporteClube, em parceria com oAmérica Mineiro, vemmostrar que um projetosocial pode estar baseadoem valores ainda maiores,conforme diz o seu ideali-zador Elias da Silva, 42anos. "Nossa filosofia é ade que se nós não formar-mos um atleta profissio-nal, que não é o nossofoco, pois o nosso foco étrabalhar o indivíduo, suaparte social, psicológica efamiliar, nós vamos tercontribuído para a for-mação de um grandehomem", afirma.

A ideia do projetoMoryah Esporte Clubesurgiu, segundo Elias daSilva, pela preocupaçãocom a violência, a crimi-nalidade e a ociosidade de

crianças e adolescentesque vivem em torno doBairro Amazonas, emContagem, na RegiãoMetropolitana de BeloHorizonte.

Marlon Henrique, 15anos, jogador do MoryahE.C, conta que jogava emoutro time, quando ficousabendo do projeto, porintermédio de um amigo.“Como gostei das ami-zades que fiz, resolvificar", conclui. Destaforma, o projeto iniciou-seno começo de 2010, porintermédio de uma ampladivulgação pelos BairrosIndustrial, Amazonas,Durval de Barros, Lindéia,Santa Maria, dentre ou-tros. Esta divulgação possi-bilitou a formação de trêscategorias e atraiu váriospatrocinadores da região,muitos dos quais continu-am apoiando o projetoatualmente.

Victor Caleno, 14 anos,outro atleta do MoryahE.C, também conheceu oprojeto por meio de ami-gos. "Eu fiquei sabendoatravés de amigos que otime era bom, achei tam-bém as pessoas alegres e

gostei de participar doscampeonatos, em especiala Copa Mineira", explica.

Os treinos do MoryahAmérica ocorrem às quar-tas e sextas-feiras, para osque estudam durante àtarde, o treinamento érealizado na quadra dasMangueiras, na parte damanhã. Já os atletas queestudam de manhã reali-zam os treinos no campodo CSU do Bairro Ama-zonas, na parte da tarde."Hoje nós estamos comuma limitação em relaçãoao local de treinamento eestamos buscando juntoaos responsáveis do CSU apossibilidade dos atletasque treinam de manhãtambém poderem realizaros treinos neste local",observa Elias da Silva.

O responsável pelo pro-jeto ao relatar sobre a par-ticipação dos pais no dia adia dos atletas comentaque esse acompanhamentoainda é pouco, e paraminimizar este fato, oMoryah América promovepalestras e encontros soci-ais, para reafirmar a neces-sidade dos pais estaremjuntos de seus filhos. "Pou-

cos pais participam, infe-lizmente, aquilo que acon-tece dentro das escolas, apouca participação dospais acompanhando osfilhos, assim tambémacontece no futebol",ressalta.

O Moryah EsporteClube, que é um projetosocial da Igreja BatistaMoryah do Bairro Ama-zonas, já conquistouvários títulos desde o seuinício. O time foi campeãodo Primeiro Festival deCategoria de Base emContagem, realizado em2010, pelo Frigo Arnaldo.A equipe foi campeã daCopa Metropolitana2010. Em 2011 foi vice-campeão da Copa Mineirana categoria 93/94. A cate-goria de 96/97 foi campeãda Copa Futebol Show,realizada em 2011. Final-mente em janeiro de 2012a categoria 96/97 foi vice-campeã em Ilha Bela emSão Paulo, campeonatoeste, disputado com equi-pes renomadas, como oJuventus-SP, Ecus-Suzano-SP, Volta Redonda-RJ eJacarepaguá-RJ.

O projeto social já

revelou jogadores queatualmente estão em timesprofissionais. O atletaLeonardo Oliveira daSilva, 14 anos, que iniciouno Moryah América,atualmente é jogador doGol Brasil Futebol Clube,clube de Belo Horizonteformado por categoriasmirins e juvenis, apoiadopelo pelo Projeto GolBrasil. O zagueiro BrunoVieira da Silva, de apelido"Ramires", atua no VilaNova e disputou a edição2012 do CampeonatoMineiro. Outro atleta,Davi Santos, que atua nacategoria 96, está em fasede testes em um clube

espanhol, Real Sociedad.Atualmente o Moryah

Esporte Clube está for-mando uma quarta catego-ria, para atletas nascidosem 2000 e 2001, pois ocalendário deste ano prevêa disputa de importantescompetições: A CopaDadazinho, em Betim, aCopa Mineira, a 1° CopaPelô, organizada peloRecanto Esporte Clube e oCampeonato Mineiro deEscolas de Futebol.

Contato para interessados emparticipar do Moryah E.C:

Elias da Silva: 8716-8528/3046-0430

Jogadores e o técnico do Time Moryah da Categoria 96/97

GIOVANNA EVELYN

VINÍCIUS DIAS

VINÍCIUS DIAS

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diferente, realmente do queeu imaginava. Estou apren-dendo, tenho gostado, omineiro sabe receber bem aspessoas, recebe muito bem.Mas o fato de receber nãosignifica que você é daqui.

n Em relação às polêmicasna arbitragem em 2007 edepois você saiu na revista,tais questões influenciaram noseu afastamento?

Não, porque o meu afasta-mento foi uma decisãominha. Aí que tá, ninguémsabe disso. Eu me senti

injustiçada quando metiraram da Fifa da formaque fizeram. Só que eutinha o direito de conti-nuar, na CBF, de conti-nuar trabalhando. Tantoque eu continuei traba-lhando em São Paulo, euapitei a temporada 2008,apitei semifinal doCampeonato Paulista. Sóque assim como todo atle-ta chega um momento navida, que assim você éuma pessoa pública quevocê conquistou tudo. Eufui um árbitro mesmosendo mulher, eu conquis-tei três finais, na verdadequatro, em São Paulo.

Uma do Super Paulistão e três doCampeonato Paulista, semifinal da Copa doBrasil, todos os principaisclássicos inclusive,Atlético e Cruzeiro. Todos.Fiz Ba-Vi, fiz Libertadoresda América e fiz umaOlimpíadas. Cheguei agrande final dos jogosolímpicos, ganhei, tenhouma medalha de ouro emcasa que ninguém fala. E oque faltava para a AnaPaula, então, continuarmotivada? O que faltavaera a Copa do Mundo,deixei bem claro, converseicom alguns representantesque era oportunidade de dis-putar uma Copa do Mundo.Aí eu percebi que tinha umaporta aberta pra mim dentroda minha função, minhaprofissão de jornalista. Aí eucomecei a dosar e falei: seráque vale a pena tanto sofri-mento, se você tem outraporta aberta? Que pode medar talvez algumas realiza-ções? Hoje trato o mundocom frieza. Eu sonho emfazer uma Copa do Mundoe eu posso fazer uma Copacomo jornalista.

Ana Paula OliveiraEntrevistaJORNALISTA

DAS QUATRO LINHASPARA O JORNALISMO

n O preconceito foi uma barreira a mais para ser superada em sua carreira?

Eu digo que vivi os dois lados damoeda. Eu vivi um momento muitoruim, que foi logo quando eu comeceina Federação Paulista e na escola deárbitros, aonde me questionavammuito só por eu ser mulher. Existia apreocupação com o que uma mulherdo futebol faria com a sua fama, seráque ela vai ter competência paraaguentar a pressão. Sofri muito nocomeço da minha carreira, masdepois veio o fato, de eu ser uma mu-lher de 1,74m de altura, ter um corporazoável. Mas a beleza já me atrapa-lhou. As pessoas ficavam preocupadasse eu ia chamar atenção dos jogadorese técnicos, se ia interferir no jogo, eraalgo novo. Hoje, a mulher no futebolnão é mais novidade. Mas naquelaépoca, mesmo dentre os própriosárbitros, ser auxiliado por uma mu-lher era um mau sinal, achavam queestavam sendo considerados inferi-ores. Tinha até quem considerou umaofensa.

n Como você começou a trabalhar como Jornalista?

Existe um grupo que acha que só euter trabalhado com arbitragem issonão me caracteriza jornalista, maseles se enganam, pois eu sou formadaem jornalismo. Hoje, eu faço especia-lização em Comunicação Esportiva,na PUC Campinas. O curso é sobrecomunicação estratégica no esporte.Estou buscando mais referência, atéporque adoro estudar. Se a gente selimitar somente ao conhecimento dasala de aula seremos muito pobres,precisamos ir além. Acho isso paraqualquer categoria, até para ojogador, se ele acha que só com o ta-lento ele se mantém, não dá. Ele temque aperfeiçoar, a gente vê isso com oNeymar que todo ano busca umaforma de melhorar; seja um chute defora da área ou como recentementeque ele tentou fazer um gol de bicicle-ta. Tudo isso acontece com o treina-mento sempre buscando mais e mais.Acho que com as mulheres é sempreum pouco mais difícil e dessa vezaqui em Minas Gerais não vai serdiferente, e eu vim para ficar. Eu jáestou há quatro anos nesse área, nãodivulgava muito, mas já passei portrês grandes emissoras: pela CNT,Rede Record, pela CBN, e agora,desde fevereiro deste ano, estou naTV Alterosa.

n Porque você escolheu o Jornalismo?

Como tudo na minha vida, foi oacaso. Eu sou técnica em adminis-tração de 2º grau, fui para o cursosuperior fazendo administração,estudei dois anos e cheguei a passarpor grandes empresas. Só que eu nãoconseguia conciliar essa carreiraadministrativa com a de árbitra, atéque eu estava concorrendo a umapromoção no banco onde eu traba-lhava, para me tornar gerente, e perdio cargo por ser assistente Fifa. Eufiquei muito brava, falei que não iria

continuar estudando administraçãonem seguir carreira porque toda vezque eu chegava para uma promoção eia ganhar mais na minha profissão deformação, já que árbitro não é regula-mentado como uma, eu não con-seguia ir adiante. Aí o ReinaldoCarneiro Bastos, vice-presidente daFederação Paulista, em um bate-papocomigo que eu falei que estavarevoltada em conciliar as duas profis-sões, disse: ‘Você gosta de falar, falabem, porque você não vai fazer jor-nalismo? Até porque é uma forma devocê se comunicar melhor tambémcom seu público e aprender a lidarcom a imprensa.’ Porque não é fácilde lidar, hoje eu faço parte e sei queexiste toda uma polêmica em volta daprofissão. Podemos dizer que euadoro profissões polêmicas, primeiroeu fui árbitra e agora jornalista. Aícomecei no jornalismo, cursei em seteanos, comecei com 23 para 24 anos eme formei com 29, porque foi justa-mente quando eu estava no auge daminha carreira em 2003 que comeceia estudar, e viajei muito, tive jogosolímpicos, torneios internacionais,viagens pelo Brasileiro.

n Você passou por três emissoras nos últimos quatro anos, como surgiuessa oportunidade de vir para BeloHorizonte? O que atraiu você?

O desafio. Eu sempre trabalhei emoutras emissoras, trabalhei no Sportv,na Rádio Mix, que são muito fortes láem São Paulo. No Sportv eu trabalheicobrindo a Copa do Mundo de 2006na Alemanha; na Mix eu fiz a Copade 2010; na Record eu fiz o Pan-americano, cobri pela Record News,enfim a minha vinda para BH teveum fator motivacional muito grande,porque em todas essas emissoras queeu passei com exceção da CNT e daCBN, que eu apresentava e faziareportagem, todas as outras eu vinhacom o estereótipo de comentarista dearbitragem, como se eu não tivessetido formação nenhuma de jornalis-mo. O desafio de ter vindo para a TVAlterosa quando me surgiu o convite,para atuar ao lado de Jaeci Carvalho(jornalista) e do Marques (ex-jogador), no Alterosa no Ataque, foi,esse desafio de não ser somentecomentarista, mas de ancorar o pro-grama, agir como apresentadora defato. Porque hoje eu e o Jaeci, a gentedivide na verdade o trabalho de ânco-ra, e quando ele não está presente euassumo, e quando ele está eu faço co-âncora, fazendo a interlocução entreos entrevistados e as redes sociais, etambém opino e comento sobre fute-bol. Esse desafio de estar a frente deum programa foi o que mais meatraiu e sem dúvida por estar filiada auma grande emissora que é o SBT.

n Como você concilia isso de estudarem Campinas e trabalhar em BH?

Nesse 1º ano do projeto, eu estareiem BH todas terças, quartas e sextas-feiras, só não estou na segunda e naquinta porque eu estudo, e como euestudo comunicação em São Paulo etrabalho com desenvolvimento deprotocolo para web e conteúdo, tenhouma empresa especializada, vou ter

que me dividir entre a minha for-mação e o meu escritório emCampinas e provavelmente, conciliarcom o rádio, finais de semana eu con-tinuo no rádio em São Paulo. Nãotem muito problema não, para ocomeço do programa está bom, agente espera ganhar o públicomineiro, o programa é novo. A gentetem pontuado bem. É um desafioalcançar audiência, mas acho que vaiser um grande ano, se tudo funcionarcomo eu espero, aí provavelmente euvenho em definitivo para BH em2013, mas tudo depende do sucessodo programa.

n Você tem planos de voltar para os campos?

Olha minha relação com futebol émuito boa, apesar de muita genteachar que não por causa da revista.Minha relação com FederaçãoPaulista é ótima. Existe a possibili-dade de um retorno sim. Eu estoudefinindo ainda. Continuo os treina-mentos, mas estou conversando coma família e quando definir isso com osfamiliares eu volto ao trabalho. Maseu digo que estou meio a meio, issoquer dizer, antes era 80% futebol e20% no jornalismo, mas hoje eutenho 50% à 50%.

n Você tem feito alguma atuação como árbitra?

No futebol profissional não, eu deium tempo mesmo. Parei. Eu tenhofeito sim, jogos festivos, comemora-tivos, eventos. Tenho vários contratosamadores, rodo o Brasil fazendo isso.Mas no profissional eu dei um tempoporque a exigência do profissional émuito grande. Estou focada no jor-nalismo realmente. Não posso dizerque saí não. Mas gradativamentesaindo à francesa.

n Como é estar fora do eixo Rio-São Paulo?

Diferente. Tudo fora do eixo Rio-SãoPaulo é diferente, mas como estouaqui só três dias na semana, eu con-tinuo lá, continuo trabalhando emSão Paulo. Na verdade eu não perdi omercado de São Paulo. Eu só vimpara o novo. Agora uma coisa quetenho percebido é que vocêsmineiros, vocês são extremamentebairristas, é uma cultura. Estou falan-do do lado futebolístico. Então, omineiro consegue ser mais que o gaú-cho, porque eu achava que no Sulfosse mais. É uma coisa que estouaprendendo a cada dia. Quando euvinha como árbitra, você vem faz aojogo, apita, você não tem convíviocom a cultura, você vai embora. Vãofalar bem ou mau, se a arbitragem foiboa ou ruim, mas eu vou ver lá emSão Paulo, como foi o resultado dojogo. E aqui você percebe que, mesmoquando o árbitro oculta da lista, oudependendo do que você coloca, doque você fala, os nervos estão à florda pele, tanto na questão do Atlético,na questão do Cruzeiro. Eu até brin-quei que, ninguém fala do América,pouco se fala do América, por quê?Um time de respeito. Mas eu percebique a cultura mineira é uma cultura

[ ]"TENHO PERCEBIDO

QUE VOCÊS MINEIROS

SÃO EXTREMAMENTE

BAIRRISTAS"

nFABRÍCIO LIMA, FREDERICO PACO, IGOR PASSARINI, LUCAS BORGES

1º E 3º PERÍODO

Ana Paula de Oliveira, 33 anos, é a mais nova apresentadora da TV Alterosa e viu nessa proposta uma oportunidade paraexpandir a prática de sua profissão, aceitando assim participar do programa Alterosa no Ataque: "Foi o desafio de não sersomente comentarista, mas de ancorar o programa, agir como apresentadora de fato, o que me atraiu para cá", afirma. AnaPaula continua morando e estudando em Campinas (São Paulo) e vem a Belo Horizonte três vezes por semana, mas tem proje-tos. "Provavelmente eu venha em definitivo para BH no ano de 2013, mas tudo depende do sucesso do programa", ressalva.Desde o início como auxiliar do pai, Ana sempre foi destaque no mundo do futebol. Com 21 anos, ela começou sua carreira naarbitragem e foi uma das mulheres que chegou mais longe na profissão. Como árbitra auxiliar, participou de torneios impor-tantes como a Libertadores e os Jogos Olímpicos. Ficou famosa ao fazer um ensaio fotográfico para uma revista masculina em2007. Ana Paula formou-se em jornalismo e, conciliando a carreira esportiva com a acadêmica, passou por diversas experiên-cias na televisão, como programas esportivos no Sportv, na Rede Record, além da participação no reality show A Fazenda,nessa emissora.

DANIEL NUNES