Marcelo de Araújo Cansini

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MARCELO DE ARAUJO CANSINI ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA E EFETIVIDADE NA UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA ESTUDO DE CASO PARA ENSINO EM DISCIPLINAS DO CURSO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS CURITIBA 2011

Transcript of Marcelo de Araújo Cansini

MARCELO DE ARAUJO CANSINI

ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA E EFETIVIDADE NA UTILIZAÇÃO DA

FERRAMENTA ESTUDO DE CASO PARA ENSINO EM DISCIPLINAS DO CURSO

DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

CURITIBA

2011

MARCELO DE ARAUJO CANSINI

ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA E EFETIVIDADE NA UTILIZAÇÃO DA

FERRAMENTA ESTUDO DE CASO PARA ENSINO EM DISCIPLINAS DO CURSO

DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

Dissertação de Mestrado apresentado como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Organizações e Desenvolvimento, da FAE - Centro Universitário Franciscano do Paraná. Orientador: Prof. Dr. José Henrique de Faria

CURITIBA

2011

MARCELO DE ARAUJO CANSINI

ANÁLISE DA IMPORTÂNCIA E EFETIVIDADE NA UTILIZAÇÃO DA

FERRAMENTA ESTUDO DE CASO PARA ENSINO EM DISCIPLINAS DO CURSO

DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS

Este trabalho foi julgado adequado para obtenção do título de Mestre em

Organizações e Desenvolvimento e aprovado na sua forma final pela Banca

Examinadora, da FAE – Centro Universitário.

Curitiba, ___ de ______________ de 2011.

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. José Henrique de Faria

Orientador

Profº: ________________________

Profº: ________________________

Dedico este trabalho primeiramente aos meus anjos

da guarda, meu pai e minha mãe, que me fazem

sentir que estou protegido 24 horas por dia.

Uma das coisas que me impulsionam e me fazem

planejar momentos de tanta glória familiar é o intuito

de manter vivos meu pai e minha mãe.

A minha maravilhosa mulher Sumaya que sempre

me entende em determinadas situações que nem eu

mesmo sei se me entenderia.

Aos meus filhos, anjos enviados do céu, César

Augusto e Gabriela, que Vindo ao mundo me

trouxeram muita alegria, sobretudo, dando a energia

extra que faltava para completar mais esta

importante jornada.

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos valiosos inputs e intervenções de meu orientador, Professor

Doutor José Henrique de Faria, que de maneira sábia e gentil soube conduzir um

aluno deveras ocupado e complicado como eu, cujo estudo embora por mim

desenvolvido, jamais existiria sem sua valiosa participação. Agradeço e peço

desculpas por ser um aluno tão complicado.

Ao brilhantismo e inteligência acima do padrão de meu amigo, colega de

trabalho e chefe André Gontijo Resende, que me deu força e liberdade, o que

certamente contribuiu e muito na realização deste trabalho.

Porém, o agradecimento mais importante vai para Deus, que renova minhas

energias diariamente, refazendo-me como pessoa e como profissional, ajudando a

reinventar-me constantemente como ser humano. Somente Deus sabe das minhas

dificuldades para cumprir todas as minhas tarefas durante o dia. Além do que, sabe-

se que, se este trabalho tornou-se realidade, foi resultado da vontade e permissão

Dele.

Certeza!

De tudo, ficaram três coisas:

A certeza de que estamos sempre

começando;

A certeza de que precisamos continuar;

A certeza de que seremos Interrompidos

antes de terminar.

Portanto, devemos:

Fazer da interrupção um caminho novo;

Da queda um passo de dança;

Do medo, uma escada;

Do sonho, uma ponte;

Da procura, um encontro.

(FERNANDO PESSOA)

RESUMO

CANSINI, Marcelo de Araújo. Análise da Importância e Efetividade na Utilização da Ferramenta Estudo de Caso para Ensino em Disciplinas do Curso de Administração de Empresas. 69p. Dissertação (Mestrado em Organizações e Desenvolvimento) – FAE - Centro Universitário. Curitiba, 2011.

A presente dissertação procura apresentar uma análise sobre a importância da utilização da ferramenta “Estudo de casos para ensino” Para a elaboração deste estudo foi utilizada a metodologia de análise documental. O trabalho enfatiza as diferenças entre Estudo de caso/ pesquisa e Estudo de caso para ensino. Foi analisada a utilização da ferramenta em duas instituições de porte internacional e que utilizam a ferramenta por muitos anos e consideram a mesma o motivo de sucesso de seus acadêmicos no mercado de trabalho: Harvard Business School - USA e Ivey School of Business – Canadá. O trabalho apresenta um histórico sobre a evolução do ensino da Administração, bem como dos dilemas e das dificuldades encontrados no ensino da Administração ao longo do tempo. A partir de então, é feita uma análise sobre andragogia, que é o ensino para adultos e suas correlações com a ferramenta, justificando, efetivamente, o estudo. Faz parte deste trabalho o exemplo de um caso e os devidos comentários. Por fim, conclui-se o presente trabalho atestando a importância da utilização do estudo de caso como instrumento de aprendizagem eficaz. O trabalho está organizado da seguinte forma: 1) O capítulo um contextualiza o estudo de caso para o ensino na Administração, apresenta o problema, os objetivos, justificativa, os procedimentos metodológicos, o objetivo geral e o objetivo específico; 2) O capítulo dois trabalha toda a revisão teórica, apresentando em primeira mão o estado da arte do ensino de administração no Brasil, seguido dos tópicos: A história do ensino de administração no Brasil, as opiniões de especialistas sobre o ensino de administração no Brasil, processo de educação /aprendizagem de adultos x crianças, estudo de caso para pesquisa e estudo de caso para ensino de administração; 3) Estudo de caso para pesquisa e estudo de caso para ensino de administração; 4)O capítulo quatro vai apresentar as experiências de Harvard Business School e Ivey College of Business; 5) O capítulo cinco apresenta um exemplo de estudo de caso para ensino e seus devidos comentários; 6) Conclusão; 7) Considerações finais. Palavras-chave: Estudo de caso; Ferramenta; Caso Ivey; Harvard Business School.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 10

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO ....................................................................................... 10

1.2 PROBLEMA ........................................................................................................ 11

1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 12

1.3.1 Objetivo Geral .................................................................................................. 12

1.3.2 Objetivos Específicos ....................................................................................... 12

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ............................................................ 12

1.5 JUSTIFICATIVA .................................................................................................. 14

2 REVISÃO TEÓRICA .............................................................................................. 17

2.1 HISTÓRIA DO ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO .................................................. 17

2.2 A HISTÓRIA ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS NO BRASIL .......................... 19

2.3 O ESTADO DA ARTE DO ENSINO DE ADMINISTRACÃO NO BRASIL: .......... 20

2.4 ENSINANDO OS UNIVERSITÁRIOS NA ATUALIDADE .................................... 22

2.5 A EDUCAÇÃO IDEAL NA PERSPECTIVA DE PAULO FREIRE ........................ 23

3 ESTUDO DE CASO PARA PESQUISA ................................................................. 26

3.1 ESTUDO DE CASO/PESQUISA ......................................................................... 26

3.2 ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO EM SALA DE AULA .............................. 32

4 AS EXPERIÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA DE ESTUDO DE

CASO PARA ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS POR DUAS

DAS MELHORES INSTITUIÇÕES DE ENSINO DE GESTÃO DO MUNDO ............ 36

4.1 OBJETIVOS DO CASO PARA ENSINO SEGUNDO HARVARD ........................ 37

4.2 GERENCIAMENTO DO CASO PARA ENSINO E QUESTÕES PARA

ESTUDO EM SALA DE AULA SEGUNDO HARVARD ............................................. 37

4.3 TAREFA PÓS-AULA ........................................................................................... 38

4.4 AVALIAÇÃO DE UM CASO PARA ENSINO ....................................................... 38

4.5 CONSTRUÇÃO DE UM CASO PARA ENSINO .................................................. 39

4.6 CARACTERÍSTICAS DE UM BOM ESTUDO DE CASO PARA ENSINO ........... 40

4.7 EXPERIENCIA DE UTILIZAÇAO DA FERRAMENTA SEGUNDO IVEY ............. 41

4.7.1 O Que é um Caso ............................................................................................ 42

4.7.2 Por que o Estudo de Caso é Importante .......................................................... 44

4.8 POR QUE CASOS PARA ENSINO SÃO UTILIZADOS ...................................... 46

4.9 A APRENDIZAGEM POR MEIO DE CASOS PARA ENSINO ............................. 47

4.10 O QUE É ESPERADO DA FERRAMENTA ESTUDO DE CASO PARA

ENSINO .................................................................................................................... 48

4.11 O DESAFIO DA EDUCAÇÃO DE UM CASO PARA ENSINO ........................... 49

5 APRESENTAÇÃO DE UM CASO PARA ENSINO ............................................... 52

5.1 O CASO .............................................................................................................. 52

5.2 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA ...................................................................... 53

5.3 RELATO OCORRIDO EM 11 DE SETEMBRO DE 2001 .................................... 53

5.4 A RESOLUÇÃO DO CASO ................................................................................. 58

5.5 NOTAS DE ENSINO ........................................................................................... 60

5.6 ANÁLISE DO CASO WORLD STUDY DE ACORDO COM A TEORIA PARA

ELABORAÇÃO DE CASOS ...................................................................................... 61

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................ 63

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 65

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 66

10

1 INTRODUÇÃO

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO

A principal razão desta dissertação é o fato de que no Brasil a ferramenta

“estudo de caso para ensino de gestão em sala de aula” ainda não foi disseminada.

O estudo de casos para ensino surgiu na Universidade de Harvard, no início

do século XX, passando a ser utilizado por escolas e universidades ao redor do

mundo. As escolas de negócios passaram a dar enfoque especial ao método de

estudo de caso para ensino aplicado ao contexto empresarial, trazendo para a sala

de aula os problemas e dilemas gerenciais enfrentados pelos administradores das

mais variadas organizações em suas diferentes épocas. Com as atividades mais

práticas e realistas, passou-se a exigir uma visão mais holística dos participantes

que, para chegarem às suas conclusões, assumiam o papel de protagonistas dos

casos. O aprendizado se dá de forma menos passiva e o conhecimento passa a ser

assimilado através de vivências de situações mais próximas da realidade

(HASHIMOTO, 2004).

Essa prática vem sendo utilizada com sucesso por diversas escolas

reconhecidas internacionalmente como referências no ensino da gestão no mundo

inteiro.

Mediante essa prática, o aluno é inserido no mundo dos negócios,

conduzindo o aprendizado de forma mais prática, sem perda de base conceitual e

teórica. No Brasil, essa iniciativa partiu do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas (SEBRAE), que além de promover capacitação de seus

técnicos, disponibiliza, em forma de casos, várias experiências vivenciadas por

comunidades de todo o país.

Este trabalho parte da premissa da existência de uma relação positiva entre

o ensino da administração de empresas em sala de aula e a utilização da ferramenta

“estudo de caso para ensino”.

Assim, considera-se que:

11

- O método de estudo de caso para ensino coloca o aluno no papel de

tomador de decisão, agente principal das mudanças e rupturas a se optar

no estudo;

- A melhor maneira para ensinar o processo de gestão é colocar o aluno

nessa posição e conduzi-lo, de fato, a tomar decisões.

O estudo de caso para ensino e o estudo de gestão resultam de uma

combinação eficaz de inúmeros fatores. Se, por um lado, no ensino da gestão tem-

se como objetivo transformar o aluno em um sujeito tomador de decisão e fazer com

que, por meio dos diversos conhecimentos, utilize as ferramentas disponíveis e

necessárias, com a ferramenta estudos de casos para ensino, tal combinação

propicia ao aluno e ao ambiente de sala de aula uma atmosfera extremamente

propícia à construção de novos conhecimentos.

Tem-se a certeza de que os professores das disciplinas do curso de

Administração de Empresas farão uma grande adesão ao estudo de caso para

ensino em sala de aula. A maioria das disciplinas foca no profissional e em suas

decisões, fazendo com que o método propicie o surgimento de novas oportunidades

na resolução de problemas aparentemente complexos, mas que podem ser

resolvidos de maneira simples.

A realidade é que os professores não têm conseguido atingir os objetivos da

aprendizagem, e, por mais que saiam da sala de aula com a sensação de missão

cumprida, os objetivos finais de aprendizagem não são alcançados. O que falta no

ensino é um envolvimento efetivo dos alunos e a identificação destes com casos da

vida real, o que vem concorrer para a utilização do método de estudo de casos no

ensino do empreendedorismo, por exemplo (DORNELAS, 2006).

1.2 PROBLEMA

Analisar a importância da ferramenta para o ensino de gestão.

12

1.3 OBJETIVOS

Os objetivos gerais e específicos desta pesquisa são, descritos a seguir.

1.3.1 Objetivo Geral

O objetivo geral da presente dissertação é analisar a importância da

ferramenta estudo de caso para ensino em administração de empresas.

1.3.2 Objetivos Específicos

Os objetivos específicos da presente dissertação são:

- Apresentar as diferenças entre estudo de caso/pesquisa e estudo de

caso para ensino;

- Justificar através dos estudos de andragogia a importância da utilização

desta ferramenta;

- Estudar e historiar o ensino de administração de empresas no mundo e

apresentar sua respectiva evolução no mundo e no Brasil;

- Conhecer as experiências de duas IES na utilização da ferramenta – Ivey

School of Business e Harvard Business School.

1.4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Esta dissertação de mestrado utiliza como método de pesquisa a análise

documental e a análise descritiva, que busca descrever um caso, com base no

pensamento de Bardin (1977; 1997; 2002). Segundo esse autor, a pesquisa

descritiva descreve fatos, como, porque e quando acontecem, os quais devem ser

13

devidamente registrados em relatórios, pelo pesquisador, no momento da coleta,

para posterior análise de seu teor.

O uso de documentos em pesquisa deve ser apreciado e valorizado (SILVA

et al., 2009). A riqueza de informações que deles se pode extrair e resgatar justifica

seu uso em várias áreas das Ciências Humanas e Sociais, por possibilitar a

amplitude do entendimento dos objetos em análise, cuja compreensão necessita de

contextualização histórica e sociocultural. Por exemplo, na reconstrução de uma

história vivida:

[...] o documento escrito constitui uma fonte extremamente preciosa para todo pesquisador nas ciências sociais. Ele é, evidentemente, insubstituível em qualquer reconstituição referente a um passado relativamente distante, pois não é raro que ele represente a quase totalidade dos vestígios da atividade humana em determinadas épocas. Além disso, muito frequentemente, ele permanece como o único testemunho de atividades particulares ocorridas num passado recente (CELLARD, 2008, p. 295).

O uso de documentos em pesquisa justifica-se por permitir que seja

acrescentada a dimensão do tempo à compreensão do social. A análise documental

favorece a observação do processo de maturação ou de evolução de indivíduos,

grupos, conceitos, conhecimentos, comportamentos, mentalidades, práticas, entre

outros (CELLARD, 2008).

Utilizando os princípios da pesquisa bibliográfica e tendo como material de

apoio investigativo livros e artigos que enfocam o campo da pesquisa documental,

nesta dissertação pretende-se utilizar esse método de estudo para entender o

conceito de documento, entender os procedimentos de análise dos documentos a

serem analisados, reconhecer as limitações na abordagem da totalidade da

metodologia de trabalho com os tipos de documentos que serão analisados,

priorizando a discussão da análise com o texto escrito ou impresso (SILVA et al.,

2009).

De acordo com Cellard (2008, p. 296):

[...] o documento se caracteriza como uma declaração escrita, oficialmente reconhecida, que serve de prova de um acontecimento, fato ou estado; qualquer objeto que comprove, elucide, prove ou registre um fato, acontecimento; arquivo de dados gerado por processadores de texto.

14

Phillips (1974, p. 187) expõe sua visão ao considerar que documentos são

“quaisquer materiais escritos que possam ser usados como fonte de informação

sobre o comportamento humano”.

No sentido de buscar elementos que possibilitem melhor compreender o

método de análise e pesquisa e, relacionando esses conceitos ao campo da

pesquisa documental, encontra-se o pensamento de pesquisadores como Minayo

(2008) que, ao discutir o conceito e o papel da metodologia nas pesquisas em

ciências sociais, imprime um enfoque plural para a questão: “a metodologia inclui as

concepções teóricas de abordagem, o conjunto de técnicas que possibilitam a

apreensão da realidade e também o potencial criativo do pesquisador” (MINAYO,

2008, p. 22).

A pesquisa documental tem o documento como objeto de investigação. No

entanto, o conceito de documento ultrapassa a ideia de textos escritos e/ou

impressos. O documento como fonte de pesquisa pode ser escrito e não escrito, tais

como: filmes, vídeos, slides, fotografias ou pôsteres, que são utilizados como fontes

de informações, indicações e esclarecimentos que trazem seu conteúdo para

elucidar determinadas questões e servir como prova para outras, de acordo com o

interesse do pesquisador (FIGUEIREDO, 2007).

A pesquisa documental recorre a materiais que ainda não receberam

tratamento analítico, ou seja, são fontes primárias de pesquisa. No entanto, nesse

modelo de pesquisa: “[...] o trabalho do(a) pesquisador(a) requer uma análise mais

cuidadosa, visto que os documentos não passaram antes por nenhum tratamento

científico” (OLIVEIRA, 2007, p. 70).

As fontes primárias são dados originais, a partir dos quais se tem uma

relação direta com os fatos a serem analisados, ou seja, é o(a) pesquisador(a) que

analisa. Por fontes secundárias compreende-se a pesquisa de dados de segunda

mão (OLIVEIRA, 2007), ou seja, informações trabalhadas por outros estudiosos, por

isso, são de domínio científico, o chamado estado da arte do conhecimento.

1.5 JUSTIFICATIVA

Infelizmente, o sistema educacional brasileiro nasceu e inverteu os papéis

15

de alunos e professores. No entanto, assuntos e professores são o ponto de partida,

e os alunos, que deveriam ser o centro, na realidade, tem sido elementos

secundários no processo de educação.

Quando se ensina uma criança, ensina-se um ser indefeso, totalmente

dependente e sem autonomia, com uma bagagem de conhecimento ainda vazia,

que precisa de cuidados, higiene, proteção, alimentação, entre outros elementos

indispensáveis à sua sobrevivência. Percebe-se neste momento a criação de uma

dependência normal do ambiente ao longo da vida. A professora é um modelo a ser

seguido, é a heroína das crianças.

Com o passar dos anos, na fase adolescente, a infalibilidade e a autoridade

do professor já não é tão absoluta assim. Normalmente, nesta fase os alunos

querem saber por que devem aprender determinadas matérias ou conteúdos e, a

partir daí, tudo começa a ser questionado e problematizado.

Chegam então à fase adulta e o problema se agrava. Os seres humanos já

são independentes, escolhem sua profissão, seu carro, seu(sua) namorado(a), onde

irão morar ou com quem irão relacionar-se, que esporte desejam praticar,

representando uma evolução brutal. Mas quando se olha atentamente para a forma

de ensino nas instituições de educação parece que a evolução da criança, para um

ser adulto, é totalmente desconsiderada. Continuam com a mesma forma de ensino,

porém, em vez de bandeirinhas e bichinhos nas paredes das salas de aula, estão

presentes figuras animadas em slides de Power Point.

Na fase adulta, o sujeito tem sua bagagem experimental e aprende com

seus erros e acertos e consegue definir exatamente o que não sabe. No entanto, de

acordo com o sistema tradicional de ensino, esse sujeito chega à sala de aula e

sente-se totalmente desconsiderado como parte ativa da aprendizagem, o que

refletirá negativamente para sua formação. Desta forma, 90% da aprendizagem

consiste na transferência passiva de conhecimento de um “gigante, profundo

conhecedor do saber”, para alguém totalmente sem conhecimento, que deve

apreender com a experiência do outro, porém sem poder formar suas próprias ideias

e desenvolver, a partir dele, seu próprio conhecimento.

Linderman (1926), quando pesquisou sobre as melhores formas de educar

adultos para a American Association for Adult Education escreveu: “nós aprendemos

aquilo que nós fazemos”, a experiência encontra-se respaldada no texto vivo da obra

“Adulto Aprendiz”. Infelizmente, as ideias de Lindermann ficaram esquecidas por

16

muito tempo, mas em 1970, Malcow Knowles trouxe à tona o que foi implantado por

Linderman.

A obra The Adult Learning: A Neglected Species (1973) introduziu, para

efeitos de estudos sobre o ensino de adultos, o termo andragogia e como: a arte e

a ciência de como orientar os adultos a aprenderem.

Miller (1999 apud CAVALCANTI, 1999) afirma que “estudantes adultos retêm

apenas 10% do que ouvem, após 72 horas. Entretanto, serão capazes de lembrar

85% do que ouvem, vêm e fazem no mesmo prazo”. Somente esta estatística, per

sí, mostra a importância e relevância deste estudo.

Comparando o aprendizado de crianças e o de adultos, é fundamental

destacar algumas diferenças na relação professor-aluno. Para a criança o professor

revela-se como o centro de atenções, pois é a partir dele que surgem os

ensinamentos e o aprendizado flui. Nesse mesmo entendimento, para o adulto, o

professor deveria ser um mediador entre cérebro-mente, trazendo questionamentos

e estímulos à autoaprendizagem, por meio da descoberta, a partir dos diferentes

resultados de aprendizagens encontrados, em cada aluno.

É claro que nesse modelo o professor exige mais de seus alunos, porém

precisa estar constantemente atualizado sobre a matéria e assuntos que serão

discutidos em classe.

Razões da aprendizagem: as crianças aprendem o que devem aprender, o

que a sociedade espera que saibam. Porém, os adultos querem aprender o que

precisam saber para aplicações práticas na vida.

Experiência do aluno: ao contrário da Educação Infantil, o ensino do adulto

leva em consideração a experiência de cada participante, a discussão em grupo e a

resolução de problemas de forma coletiva para a aprendizagem efetiva.

Orientação da aprendizagem: a aprendizagem infantil se dá por assunto ou

por material. Entretanto, a aprendizagem do adulto, na utilização da ferramenta

estudo de caso para ensino e outras ferramentas afins, se dá pelas discussões

promovidas do grupo e exigem do aluno um arcabouço de conhecimento teórico e

prático bem maior, por promover debates permeados pela interdisciplinariedade.

17

2 REVISÃO TEÓRICA

2.1 HISTÓRIA DO ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO

A história da Administração se inicia em 5.000 (a.C.), na Suméria quando os

Sumerianos ensaiavam formas organizadas de resolver seus problemas. No Egito,

Ptolomeu desenvolveu um sistema econômico que poderia funcionar somente se

houvesse uma forma organizada para se trabalhar.

Na China, no ano 500 (a.C.), houve a necessidade de adotar-se um sistema

organizado de governo para ser aplicado na administração do Império, nascendo

então a Constituição de Chow, com oito regulamentos e também com as regras da

Administração Pública de Confúncio.

Ao se prestar atenção, vê-se que em vários lugares do mundo houve

movimentos que podem ser considerados como movimentos históricos para o

desenvolvimento da Administração, como, por exemplo, o nascimento de um grupo

de fiscalistas ou cameralistas na Áustria e na Alemanha.

Todavia, o mais importante resume-se a duas instituições que se

destacaram: a igreja e as organizações militares. Não existe organização ocidental

mais eficaz que a Igreja Católica Romana, perpetuando-se através de anos e

atraindo milhões de fiéis. É organizada, produz riquezas, cumpre seu papel social e

está sempre no ranking da liderança.

O militarismo se desenvolveu com as hierarquias rígidas e modernas, sendo

bem diferente das estruturas medievais.

O nascimento da empresa surge através da Revolução Industrial,

considerada como um dos fenômenos mais importantes da história da Administração

e, deu origem a novas áreas de estudo e pesquisa, visando organizar novos

recursos disponíveis.

A Revolução Industrial ocorreu ao final do Século XIII, estendendo-se por

todo o Século XIX, chegando ao Século XX com vigor. Em função da Revolução

Industrial, houve o aparecimento da empresa e da Administração moderna.

Isto aconteceu porque a ela transformou o mundo e, além de provocar o

surgimento de empresas, fez com que houvesse crescimento galopante das

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mesmas, exigindo, naturalmente, uma organização mais eficaz para acabar com a

falta de planejamento e o foco dos imprevistos.

É difícil saber se os homens da antiguidade tinham consciência de que

estariam praticando administração.

Um marco para os estudos de Administração foi o surgimento de Frederick

W Taylor em pleno início de Século XX. Engenheiro mecânico, Taylor foi

considerado o pai da Administração Científica, com sua teoria batizada de “Teoria da

Administração Científica”. A teoria parte de duas premissas básicas: “máxima

produção e mínimo custo” possível. Para isso o trabalhador era analisado

profundamente para ver onde melhor se encaixava para desempenhar suas funções

em termos de qualidade e tempo de duração das tarefas. Para Taylor, a organização

era comparada com uma máquina e os homens trabalhadores eram parte das peças

da mesma.

Em 1911, Taylor publica o livro Princípios da Administração Científica,

tornando-se uma das obras mais vendidas no mundo. Paralelamente a Taylor, Henri

Fayol, que era francês, defendeu as mesmas bases na Europa.

Outra contribuição de peso foi de Elton George Mayo, com a criação da

Teoria das Relações Humanas, sendo basicamente uma oposição à Teoria Clássica

da Administração. A Teoria das Relações Humanas, como o próprio nome já

informa, é focada nas pessoas. Mayo defendia princípios básicos como o nível de

produção como fruto das interações sociais e a importância do cargo, considerando,

é claro, os aspectos emocionais.

Em 1950 surge a Teoria Estruturalista, que se inicia com a Teoria da

Burocracia de Max Weber, que parte da premissa de que os meios devem ir ao

encontro dos objetivos finais. Naquele momento não bastava mais a administração

de chão de fábrica. O crescimento das empresas e a diversificação dos processos

requeriam um procedimento que permitisse à empresa organizar-se internamente. O

objetivo final era alcançar o máximo de eficiência possível.

Em 1970 ainda surge a Teoria dos Sistemas e a Teoria da Contingência. A

primeira via a empresa como um sistema aberto em constante interação com o

mercado; a segunda colocava a empresa dependente de variáveis que acontecem

no ambiente interno.

19

2.2 A HISTÓRIA ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS NO BRASIL

No Brasil, a história da Administração se dá com a criação do Instituto da

Organização Racional do Trabalho (IDORT), que teve como Diretor Técnico o

Professor Roberto Mange.

Em 1938, foi criado o Departamento de Administração do Serviço Público

(DASP), no governo Getúlio Vargas, para promover maior eficácia no serviço público

federal e produzir maior isenção e democracia nas contratações.

Depois da criação do DASP, o governo autorizou o próprio órgão a criar

outra Instituição, a chamada Fundação Getúlio Vargas (FGV), que viria servir para o

estudo das organizações e racionalização do trabalho, bem como para preparar

quadros de profissionais em nível superior.

Essa Fundação foi inaugurada em 1944, com o Decreto no. 6.933,

estabelecendo a sede, próxima a lideranças do país, à época, no Distrito Federal,

que era a cidade do Rio de Janeiro.

Em 1934, vale lembrar, foi criada a Universidade de São Paulo (USP), que

em 1946 criou a Faculdade de Economia e Administração (FEA).

Em 1948, os gestores da FGV realizaram visitas aos cursos de

Administração Pública, nos Estados Unidos, para aprenderem a organizar e fazer

esses cursos funcionarem no Brasil. Essas visitas originaram a Escola Brasileira de

Administração Pública (EBAP), em 1952. Através de cooperação técnica e científica,

a criação desta escola teve o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) e da

Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO).

Em 1952, a FGV promove a criação da Escola de Administração de

Empresas de São Paulo (EAESP) e a cidade de São Paulo é escolhida, naquele

momento, para contemplar seu porte.

Essas escolas de gestão foram criadas com o objetivo de formar

profissionais para as grandes organizações públicas e privadas, promovendo a

organização do trabalho, racionalização das atividades, elaboração e gestão de

orçamentos, comercialização e gestão de patrimônio e gestão de pessoas.

20

Os cursos inicialmente oferecidos na FEA foram somente de Economia e

Contabilidade, sendo que o primeiro curso de Administração foi somente oferecido

em 1964.

Todas essas escolas tiveram origem nas demandas próprias do Sistema

Econômico Brasileiro e também de acordo com a formação social brasileira.

Em 1960, finalmente, é fundada a Associação Brasileira de Técnicos em

Administração (ABTA), originada na criação do DASP. A ABTA rapidamente

organizou-se, reunindo esforços para preparar um Projeto de Lei que

institucionalizasse a administração de empresas.

Entretanto, é importante ressaltar o papel fundamental do Professor Alberto

Guerreiro Ramos, Técnico em Administração no DASP e Deputado Federal à época,

que trabalhou na aprovação do Projeto de Lei, mas que ainda assim encontrou

forças contrárias.

A Lei Federal, de 13 de junho de 1985, muda a nomenclatura de Técnico em

Administração para a denominação de Administrador apenas.

Atualmente, existem 300 mil administradores registrados e 1700 IES que

ensinam Administração.

2.3 O ESTADO DA ARTE DO ENSINO DE ADMINISTRACÃO NO BRASIL:

No mundo empresarial atual, temos uma revolução acontecendo todos os

dias dentro das empresas. Segundo Tachizawa et al.(2004), o ensino da gestão de

negócios é afetado por essas mudanças.

Tachizawa et al.(2004), afirma que segundo pesquisas publicadas na revista

Veja (2000) e relatório do conselho Federal de Administração comprovam que a

formação oferecida pelas escolas de negócios no Brasil vem sendo duramente

criticada nas últimas décadas.

Segundo Tachizawa et al.(2004), grande parte das críticas referem-se ao

fato de que o ensino da administração está cada vez mais dissociado do meio

empresarial.

Na pesquisa, foram entrevistados empregadores ou executivos com poder

de tomada de decisão.

21

As deficiências segundo os empregadores são:

- Os graduados em administração carecem de formação prática;

- Os conhecimentos dos graduados são superficiais e genéricos;

- As IES estão completamente dissociadas das necessidades de mercado;

- As IES proporcionam ensino desatualizado e não criativo.

As principais razões apontadas para a má preparação para o mercado de

trabalho são:

- Curso teórico e pouco prático;

- Não criativo, somente repetitivo;

- Matérias inúteis, currículo mal elaborado;

- Não proporciona a visão geral de uma organização empresarial.

Quando olhamos estes resultados que ainda são seguidos de outras

pesquisas que convergem nas mesmas conclusões, pode-se concluir que o estudo

de gestão precisa de reforma. Laner e Cruz Junior (2008) propõem através dos

estudos de Reinert e Reinert, uma reinvenção na forma de aprender. Aprender

brincando é aprender de fato. Esta é uma realidade. Os autores mostram o que são

os alunos cliente/produto e defendem que as IES devem transformar seus alunos

em parceiros.

O aluno produto é recebido como uma matéria prima que deve ser

processada, inspecionada, classificada e jogada no mercado como produto final. O

aluno é dependente sem nenhuma participação no processo de ensino/aprendizem,

o que faz que nem motivação este aluno tenha. O aluno cliente que está na mesma

categorização é aquele que é recebido pela instituição como comprador de um

pacote fechado de serviços.

O aluno parceiro é o que vai ver na aprendizagem uma grande brincadeira,

além de ser um verdadeiro trabalhador do conhecimento. Ele desenvolverá a arte da

argumentação, da discussão, da curiosidade em aprender.

Mesmo passados muitos anos que os fundamentos da Administração de

Empresas foram criados, a forma como se ensina a Administração ainda é a mesma.

Na prática, o que se tem são os velhos e conhecidos administradores que já

morreram, mas que continuam querendo administrar as empresas brasileiras. Hoje,

o país forma administradores que consideram que vão sair dos cursos de

22

Administração com uma “receita” para solucionar os problemas que irão encontrar. O

mais grave ainda é que os professores são coadjuvantes no fortalecimento de tal

crença. Ao olhar para frente e perguntar se as empresas de amanhã serão

administradas de forma semelhante ao modo que estão sendo administradas na

atualidade, qual seria a resposta?

Será preciso inovar a gestão, propor novas maneiras de reunir talentos,

distribuir recursos e formular estratégias. Ao analisar o século passado, verifica-se a

administração de empresas foi marcante para aumentar a produtividade das grandes

organizações, bem como estabelecer uma ordem e um caminho para a organização

dos processos empresariais.

Hamel (2008) afirma que as empresas precisarão de ousada inovação em

gestão. O modelo centrado no controle-eficiência, próprio do desenvolvimento do

estudo da Administração, conforme relatado anteriormente, per si, não é mais

suficiente em um mundo em que itens como habilidade e criatividade são

verdadeiros impulsionadores do sucesso empresarial. Os preceitos e os

ensinamentos de gestão do passado podem até mesmo atrapalhar o entendimento

nos dias de hoje. Atualmente, faz-se necessário inventar o futuro da administração,

livrando-se de crenças herdadas que impedem o crescimento das empresas do

Século XXI.

2.4 ENSINANDO OS UNIVERSITÁRIOS NA ATUALIDADE

Na atualidade, há enorme dificuldade para ensinar estudantes universitários,

considerando que os universitários de hoje chegam aos bancos escolares e

parecem crianças, continuam se comportando como crianças no decorrer de anos.

Isso se deve ao fato, também, da manutenção da pedagogia na vida adulta, no

ensino clássico. Isso não afeta a todos, mas à grande maioria deles, por continuar a

colocá-los em posição de dependência na relação professor-aluno,. No processo de

educação, são as instituições quem definem o quê, quando e como o aluno deve

aprender cada assunto e nessa linha o estudante deve seguir as regras.

Sem sombra de dúvida, em qualquer país existe um modelo curricular para

ser seguido, mas o plano de aulas deve ser costurado e refeito a cada nova aula, a

23

depender dos resultados obtidos no grupo e a solução dos problemas que se

formam mediante as discussões interpostas. No fim do processo, pode-se ter

certeza que aquele plano de aulas produziu efeitos para aquela turma. No entanto,

para outra turma, certamente devem ser usadas outras ferramentas, pois diferentes

filmes, discussões aprofundadas em outros assuntos é que irão definir um plano de

aula ideal. Manter um mesmo padrão de ensino é coletivizar a aprendizagem e isso

gera uma série de dúvidas, isto é, se conseguir produzir conhecimentos e

aprendizagens necessárias para ter como resultado alunos de alta performance.

Nos meios acadêmicos, ainda se encontra resistência para a utilização desta

ferramenta, uma vez que torna a vida dos docentes da instituição mais difícil e exige

deles um preparo andragógico, pois, afinal, também terão que aprender.

Esse método conduz o professor sair da posição de orador para assumir a

posição de professor, mediador, tutor, “caixinha de perguntas”, e então transmitir a

importância da discussão, na vida prática, como aquilo está mudando a vida dos

alunos, inclusive, trabalhando não apenas o conhecimento, mas aproveita-se do

modelo para trabalhar habilidades e atitudes do grupo, fechando o tripé conceitual

de competência.

A experiência para quem aplica a ferramenta do estudo de caso em sala de

aula é que os alunos ficam ansiosos para assistir à próxima aula e sabem que será

uma aula participativa, que não irão sentir sonolência.

Isso porque o adulto vive seu dia a dia rodeado de problemas, experiências,

alegrias e frustrações, por isso busca participar de uma discussão que traga relação

entre o que vive, o que aprende ou discute, apropriando-se assim do conhecimento.

Esta é uma justificativa plausível para aplicar tal ferramenta.

2.5 A EDUCAÇÃO IDEAL NA PERSPECTIVA DE PAULO FREIRE

Paulo Freire não pode deixar de ser citado neste trabalho, pois recomenda a

ferramenta para o ensino de adultos. Nasceu em 19 de setembro de 1921, em

Recife, Pernambuco, Brasil e faleceu em 2 de maio de 1997, vítima de ataque

cardíaco. Em 1943, Paulo Freire inicia o curso de Direito na Faculdade de Direito da

Universidade de Recife, porém nunca exerceu a profissão de advogado, preferindo

24

ser professor de uma escola do Ensino Médio, lecionando a disciplina de Língua

Portuguesa.

Em 1944, casou-se e, em 1946, inicia o trabalho com pessoas analfabetas e

pobres já na função de diretor do Departamento de Educação e Cultura do Serviço

Social do Estado de Pernambuco.

Em 1961, torna-se diretor do Departamento de Extensões Culturais da

Universidade de Recife e nesse mesmo ano, junto a sua equipe, constitui o Método

Paulo Freire, cujo resultado foi a alfabetização de trezentos cortadores de cana em

45 dias, trabalho que deu origem, à época, ao Plano Nacional de Alfabetização,

porém, abortado pela Ditadura.

Nesse ínterim, Paulo Freire é exilado e passa por vários países e retorna ao

Brasil em 1980, filiando-se ao Partido dos Trabalhadores. Em 1988, com a vitória

conquistada por Luiza Erundina, é nomeado Secretário de Estado, assumindo em

1989 o cargo de Secretário de Educação da Cidade de São Paulo, Estado de São

Paulo, Brasil.

Em 1991 é fundado nessa mesma cidade o Instituto Paulo Freire, para

disseminar e elaborar as interessantes e proveitosas ideias de Paulo Freire. .A

trajetória deste homem como educador é comentada no mundo todo e suas

publicações são freneticamente lidas em todas as línguas.

Este trabalho justifica-se somente pelo registro das obras de Paulo Freire e,

por isso, encontra-se fundamentado na obra “Pedagogia da Autonomia: Saberes

Necessários à Prática Educativa” (FREIRE, 1996).

É uma obra de real valor por registrar o verdadeiro significado de ensinar os

sujeitos, revela-se como um processo de troca entre aluno-professor, onde ambos

fazem perguntas, oferecem respostas, trocam afetos, ensinam, aprendem e crescem

como seres humanos. Paulo Freire deixa claro que o conhecimento que o educando

traz para a sala de aula deve ser respeitado, uma vez que como ser social e ser

histórico estabelece um relacionamento peculiar com o mundo.

Desta forma, Paulo Freire mostra que não há Docência sem Discência e que

ensinar não é obrigação única do professor e que também o aprender não é

obrigação única do aluno. Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina

ao aprender. A relação estabelecida mostra que as aulas expositivas - nas quais o

aluno somente recebe uma bagagem de matéria e, partindo do conteúdo, deve

entender aquilo como um conhecimento adquirido - devem ser questionadas de fato,

25

pois representa um “brincar de ensinar e aprender”. Na sua proposta de ensino,

mostra que o educador não é superior ou mais importante somente porque detém

um conhecimento que o aluno ainda não possui.

A ferramenta estudo de caso remete aluno-professor a pensarem. Paulo

Freire, na mesma obra, afirma que não existe ensino se não houver uma espécie de

“saber pensar” do professor, o qual deve questionar suas certezas e verdades

absolutas e que devem deixar de ser absolutas. A sala de aula deve propiciar a

formação de um espírito em que alunos e professores constroem ideias.

Segundo Freire (1996), o método que trabalha o conhecimento já existente e

a produção do conhecimento não existente em sala de aula é eficaz. No entanto, em

classes tradicionais também se trabalha o conhecimento já existente, mas Freire

defende que o professor deve ouvir e dialogar com o aluno, transformando suas

aulas em momentos de liberdade e curiosidade para uma construção conjunta.

No entendimento de Freire (1996), ensinar não é mera transferência de

conteúdos ou conhecimentos diversos, mas ensinar deve abrir espaço para pensar,

testemunhar sobre a vida, ensinar o sujeito a conviver com o inacabado e entender

que o tempo é um tempo de possibilidades infinitas.

Freire (1996) afirma que a liberdade do aluno é castrada em nome da

eficácia da memorização, tolhendo-lhe a capacidade de entender, duvidar,

questionar ou problematizar, tornando-se um conhecimento pronto, para ser apenas

decorado. Consequentemente, o espírito argumentativo, questionador, discordante,

que conduz a sentir-se um ser participante no processo de construção do

conhecimento permanece ignorado.

Ao ser-lhe concedida a liberdade de expressão e de questionamento o aluno

tende a apegar-se mais à aula, tornando-se um participante, criando um clima de

respeito mútuo. A abordagem de Paulo Freire tornou-se tema central na formação

de professores, o que justifica o tema desta dissertação.

26

3 ESTUDO DE CASO PARA PESQUISA

No sentido de atingir os objetivos inicialmente propostos para essa

dissertação, esse capítulo apresenta a revisão da literatura sobre o método de

estudo de caso para o ensino em sala de aula, bem como o método de estudo de

caso/pesquisa. No Brasil o estudo de caso/pesquisa é, além de desenvolvido, bem

conhecido. No entanto, o estudo de caso para o ensino tem outra abordagem.

A literatura apresentada contempla o discurso de diversos autores, nacionais

e internacionais, embora a bibliografia disponível para a ferramenta estudo de caso

para ensino se mostrou escassa, não disponibilizando vasta gama de obras e

variedade de autores. Ainda assim tornou-se possível um aporte bibliográfico que

permite evidenciar a importância do estudo de caso no meio acadêmico para avaliar

o ensino em cursos de Graduação e Pós-graduação.

3.1 ESTUDO DE CASO/PESQUISA

O estudo de caso com finalidade de pesquisa ainda representa um

empreendimento desafiador para as Ciências Sociais contemporâneas, porém,

amplamente utilizado (YIN, 2010).

A pesquisa inclui procedimentos importantes, mantém uma cadeia de

evidências científicas e sua investigação é protegida contra a não validação dos

resultados ou a não eficácia (YIN, 2010).

O estudo de caso fundamenta-se no emprego de exaustivo rigor científico,

permitindo detalhar o conhecimento nas suas especificidades. No entanto, segundo

Yin (2010), definir as questões de pesquisa representa um passo fundamentalmente

importante, exigindo dedicação e paciência na tarefa de desenvolvimento. No

entendimento de Yin (2001, p. 27):

O estudo de caso é a estratégia escolhida ao se examinarem acontecimentos contemporâneos, mas quando não se podem manipular comportamentos relevantes. O estudo de caso conta com muitas das técnicas utilizadas pelas pesquisas históricas, mas acrescenta duas fontes de evidências que usualmente não são incluídas no repertório de um historiador: observação direta e série sistêmica de entrevistas. O estudo de

27

caso, comparativamente ao método histórico, possui a vantagem de poder lidar com uma variedade maior de evidências, além de permitir, no caso da observação participante, a manipulação informal das variáveis utilizadas. [Grifo do autor]

De acordo com Goode e Hatt (1969, p. 422 apud BRESSAN, 2000 p. 2), o

método do estudo de caso: "[...] não é uma técnica específica. É um meio de

organizar dados sociais preservando o caráter unitário do objeto social estudado" (.

Vindo ao encontro do mesmo pensamento, Tull (1976, p. 323) comenta que "um

estudo de caso refere-se a uma análise intensiva de uma situação particular".

Bonoma (1985, p. 203 apud BRESSAN,2000, p. 2) entende que o "estudo de caso é

uma descrição de uma situação gerencial".

Para Yin (1989, p. 23):

[...] o estudo de caso é uma inquirição empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de um contexto da vida real, quando a fronteira entre o fenômeno e o contexto não é claramente evidente e onde múltiplas fontes de evidência são utilizadas.

A definição técnica de Yin (1989) ajuda a compreender que o método de

estudo de caso se distingue de outras estratégias de pesquisa, tal como o método

histórico, de entrevista em profundidade, experimental e survey. Normalmente, o

estudo de caso é mais adequado para empregar em pesquisas exploratórias,

particularmente, para a geração de hipóteses.

No ensino, os materiais do estudo de caso podem ser alterados para

demonstrar determinado ponto, a pesquisa não permite a alteração de dados. Sendo

assim, todo pesquisador de estudo de caso deve trabalhar deliberadamente para

relatar as evidências encontradas em campo (YIN, 2010).

O estudo de caso fornece pouca base para a generalização científica.

Porém, oferece evidência para complementar os experimentos, os quais, embora

estabeleçam eficácia, mostram-se limitados na capacidade de explicar o como e o

porquê de as coisas funcionarem ou de os fenômenos ocorrerem (YIN, 2010).

[...] uma investigação científica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos, enfrenta uma situação tecnicamente única em que haverá muito mais variáveis de interesse do que pontos de dados e, como resultado, baseia-se em várias fontes de evidência [...] e beneficia-se do desenvolvimento prévio de

28

proposições teóricas para conduzir a coleta e análise dos dados (YIN, 2001, p. 32-33).

No entendimento de Gil (2009, p. 137), as etapas para desenvolver o estudo

de caso incluem: “formulação do problema; definição da unidade-caso; determinação

do número de casos que serão estudados; elaboração de um protocolo; coleta de

dados; avaliação e análise de dados e; a preparação do relatório de verificação”.

A formulação do problema, semelhante a qualquer outra pesquisa, constitui

a etapa inicial de um trabalho de estudo de caso, cuja formulação, normalmente,

decorre de longo processo de reflexão e imersão em fontes bibliográficas. Nessa

etapa é importante garantir que o problema formulado seja passível de verificação,

por meio desse tipo de delineamento.

De acordo com Khum (2009), o método estudo de caso corresponde a uma

das formas de realizar perguntas empíricas, de caráter qualitativo, sobre o fenômeno

em curso e no contexto real, partindo da premissa de que é possível explicar

determinado fenômeno por meio de intensa e exaustiva exploração de uma unidade

de estudo única (denominado estudo de caso holístico) ou de várias unidades de

estudo (denominado estudo de caso múltiplo), tanto segmentado como comparativo,

que possibilite elaborar o exercício de análise comparativa.

No entendimento de Yin (2001, p. 27):

Quando um pesquisador opta pelo estudo de caso [...] pode realizar um estudo de caso único ou múltiplo. [...] para ser possível criar generalizações científicas o ideal é o estudo de casos múltiplos. [...] casos únicos representam um projeto comum para se realizar estudos de caso e foram descritos em duas etapas: as que utilizam projetos holísticos e as que utilizam unidades incorporadas de análise. A realização de estudo de caso único, segundo Yin é justificável se o caso se constituir em um evento raro ou exclusivo ou se servir a um propósito revelador.

O estudo de caso envolve o exercício sistematizado e descritivo,

interpretação e análise da(s) unidade(s) de estudo considerada(as) utilizando

diferentes fontes de evidência, com o objetivo de compreendê-las internamente,

segundo os termos próprios. A adoção do método privilegia a análise estatística,

viabiliza um processo de imersão integral, profunda e minuciosa, por parte do

pesquisador, sobre a realidade social investigada.

O objetivo do método é favorecer uma visão acerca do conjunto de

elementos, especialmente, para pesquisadores ainda não iniciados no método, cujas

29

etapas de investigação, se seguidas passo a passo e norteadas pelo uso adequado,

transfere ao pesquisador condições de conhecimento sobre a unidade a qual está

sendo estudada. No entanto, jovens pesquisadores devem avaliar criteriosamente o

nível de complexidade do recurso metodológico e pertinência frente às

especificidades do tema e do problema que pretende investigar.

Para McClintock et al. (1983, p. 150), os objetivos do método são: capturar o

esquema de referência e a definição da situação de um dado participante; permitir

um exame detalhado do processo organizacional e; esclarecer fatores particulares

ao caso que possam levar a um maior entendimento da causalidade.

No estudo de caso, Bonoma (1985) comenta que entre os objetivos da

coleta de dados fatores como quantificação ou enumeração não são muito

importantes. Porém, fatores como descrição e classificação, incluindo o

desenvolvimento de uma tipologia, o desenvolvimento teórico e o teste limitado da

teoria são fundamentais à compreensão dos fatos ocorridos.

Seguindo a mesma linha de pensamento, Yin (1989) entende que há quatro

hipóteses que permitem que um estudo de caso seja utilizado: para explicar ligações

causais nas intervenções da vida real, consideradas complexas para serem

abordadas pelo método survey ou via estratégia experimental; para descrever o

contexto da vida real na qual a intervenção ocorreu; para avaliar, ainda que

descritivamente, a intervenção realizada; para explorar situações onde as

intervenções avaliadas não possuam resultados claros ou específicos.

No entendimento de Yin (1989, p. 19), a preferência pelo uso do estudo de

caso deve ser dada quando envolve eventos contemporâneos, caracterizada pela

"[...] capacidade de lidar com uma completa variedade de evidências - documentos,

artefatos, entrevistas e observações”. Porém, Bonoma (1985) entende que o método

é útil, especialmente quando o fenômeno é complexo ou quando o corpo de

conhecimentos é insuficiente para propor questões causais ou quando um fenômeno

não pode ser estudado fora do contexto no qual naturalmente ocorreu.

O método de estudo de caso contempla uma variedade de problemas, tanto

práticos como teóricos, requerendo adequada orientação. Em relação ao assunto

tratado, Goldemberg (1999 apud LIMA, 2009, p. 33) comenta que:

O pesquisador deve estar preparado para lidar com uma grande variedade de problemas teóricos e com descobertas inesperadas, e também, para reorientar seu estudo [na medida em que] é muito frequente que surjam

30

novos problemas que não foram previstos no inciso da pesquisa e que se tornam mais relevantes do que as questões formuladas inicialmente.

Todo e qualquer processo de investigação tem início com a formulação de

um projeto de pesquisa capaz de apontar a direção, que é representada pelos

objetivos do trabalho, os caminhos, que são representados pelos procedimentos

metodológicos, bem como pela pertinência frente às especificidades do tema e do

problema que se deseja investigar.

De acordo com Khum (2009, p. 35), entre as estratégias que permitem o

alcance dos objetivos no estudo de caso, inclui-se o reconhecimento antecipado dos

“[...] tipos de pesquisa, tipos de técnicas de coleta de materiais, tipos de

instrumentos de coleta de materiais, tipos de tratamento, interpretação e análise dos

materiais coletados”.

O autor comenta que deve haver uma previsão de realização da pesquisa de

campo, especialmente:

[...] concentrando os limites de uma unidade social de estudo (uma equipe, um departamento, uma instituição, uma organização, uma comunidade [...] ou em mais de uma unidade social de estudo. Considerar, ainda, que qualquer que seja a modalidade de método de estudo de caso adotada far-se-á necessário estabelecer os critérios adotados em uma seleção. Tais critérios derivam necessariamente da representatividade qualitativa da(s) unidade(s) de estudo selecionada(s) (KHUM, 2009, p. 35).

Gil (2009) comenta que os critérios de seleção dos casos a serem

analisados variam segundo a intenção de pesquisa. Stake (2000 apud DENZIN;

LINCOLN, 2000) identifica três modalidades de estudo de caso: intrínseco,

instrumental e coletivo.

Os estudos de caso podem ser construídos por apenas um único caso ou

por múltiplos casos, que ao envolverem casos específicos, requerem minuciosa

análise à luz do rigor científico e do detalhamento, conduzindo à descoberta de

intervenções preventivas adequadas para cada caso particular. Pesquisas sociais

podem envolver o estudo de múltiplos casos e evidenciar diferentes contextos,

resultando em um trabalho de melhor qualidade. Porém, exige metodologia mais

apurada, com maior tempo de coleta e análise de dados, sendo necessário reaplicar

as mesmas questões em todos os casos (GIL, 2009).

Não se determina o número de casos aleatoriamente. No entanto, o critério

pode adicionar progressivamente novos casos até que se alcance uma espécie de

31

saturação teórica. A utilização de múltiplos casos é mais frequente em pesquisas

sociais, porém, menos de dez casos é pouco provável que gere uma teoria, tendo

em vista a inconsistência de dados, porém mais de dez dificulta o trabalho frente à

quantidade de dados e complexidade das informações1 (GIL, 2009).

No estudo de caso, o processo de coleta de dados é complexo,

comparativamente a outros tipos de pesquisa, pois grande maioria utiliza-se de

técnicas básicas, embora outros possam ser utilizados complementarmente. Os

resultados do estudo devem provir da convergência ou divergência das observações

oriundas de diferentes procedimentos e tornar possível conferir maior validade ao

estudo, evitando a subjetividade. É importante saber que em experimentos ou

levantamentos, anteriormente à coleta, são realizados testes para garantir a validade

e fidedignidade dos instrumentos de coleta (GIL, 2009). A utilização de múltiplas

fontes de evidência constitui o principal recurso de que se vale o estudo de caso

para conferir significância a seus resultados (YIN, 2001).

O método para a coleta de dados representa o mais completo de todos os

delineamentos, por apropriar-se de dados oriundos de pessoas e também advindos

do papel, por meio da análise de documentos, entrevistas, depoimentos pessoais,

observações espontâneas, do participante ou a análise de artefatos físicos.

Quanto à natureza metodológica, a que apresenta maior carência de

sistematização é a análise e interpretação dos dados. O estudo de caso vale-se de

procedimentos de coleta multivariados, cujo processo de análise e interpretação

pode envolver diferentes modelos de análise. Todavia, pode ter predominância

qualitativa, no entanto o mais importante é preservar a totalidade da unidade social,

requerendo o desenvolvimento de uma tipologia antecipada, que represente um tipo

ideal para o planejamento de pesquisa2.

1 A elaboração de um protocolo constitui-se de um documento que não apenas contém o instrumento de coleta de dados, mas também define a conduta a ser adota para a devida aplicação, representa a melhor forma para aumentar a confiabilidade do estudo de caso. De acordo com Yin (2001, p. 89), o protocolo inclui pontos como: visão global do projeto (informa os propósitos e cenário em que será desenvolvido o estudo de caso), procedimentos de campo (envolve acesso às organizações ou informações, material e informações gerais sobre os procedimentos a serem desenvolvidos), determinação de questões (constituem as lembranças sobre as informações que devem ser coletadas e devem ser acompanhadas de prováveis fontes de informação) e guia para a elaboração do relatório (é importante, porque o relatório pode ser elaborado paralelamente à coleta de dados). 2 De acordo com Khum (2009, p. 36): “a formulação do projeto de pesquisa para estudo de caso deve ser consistente, apresentar clareza de definições e de justificativas teórico-empíricas”, privilegiando profundidade na estrutura, a observação do participante, do grupo, o levantamento de documentos. Os instrumentos de coleta de materiais podem incluir um roteiro de entrevista, organização dos grupos de discussão, mapa do processo de observação, concepção de um diário de pesquisa, dentre outros elementos.

32

Entretanto, o maior problema que se apresenta na interpretação de dados no

estudo de caso é a falsa sensação de certeza que o pesquisador venha ter sobre

suas próprias conclusões, todavia relativamente comum nessa situação.

Ainda que o estudo de caso seja bastante flexível, não dispensa a

elaboração de relatórios e outras formalidades conforme preconizam as instruções

teóricas ou metodológicas..

Segundo Khum (2009, p. 37), o relatório de pesquisa deve ser claro, porém,

para isso, deve apresentar os seguintes pontos:

Os objetivos que justificaram a realização da pesquisa: i. Os recursos metodológicos explorados; ii. A caracterização das unidades sociais de estudo; iii. A descrição, interpretação e análise dos materiais coletados com o suporte do referencial teórico privilegiado; iv. A apresentação das conclusões alcançadas.

O material coletado e registrado em relatórios permite descrições,

interpretações e a análise dos dados coletados, tornando possível avaliar a

pertinência e a suficiência do material reunido, necessidade de ampliar ou reduzir

fontes de consulta, aprofundar ou não o delineamento da pesquisa ou os

instrumentos de coleta (aspectos inicialmente não previstos), estabelecimento de

categorias norteadoras, interpretação e análise do conteúdo.

Diante das explanações colocadas, é possível concluir que o estudo de caso

constitui procedimento científico, não tem fins literários, porém, o relatório pode ser

estruturado de maneiras diversas.

3.2 ESTUDO DE CASO PARA O ENSINO EM SALA DE AULA

No Brasil, o uso da ferramenta estudo de caso para ensino em sala de aula

nas escolas de Administração é recente, embora não se tenha um registro fiel sobre

a data real de suas primeiras utilizações. É sabido que teve origem na Universidade

de Harvard, a qual deu início ao uso do método nas faculdades de Medicina e Direito

com a finalidade de aproximar os alunos da realidade prática nessas áreas de

estudo.

33

Na faculdade de Administração de Harvard, foi implantada em 1919, quando

os executivos foram convidados às aulas para apresentar questões vivenciadas na

sua realidade empresarial; aos alunos, foi solicitado que desenvolvessem análises e

recomendações para as questões que seriam tratadas (ERSKINE et al., 2001). A

experiência representou o início do desenvolvimento de estudos de casos.

A ferramenta é baseada no método socrático, constitui uma ferramenta de

ensino participativa, voltada para o envolvimento do aluno, valendo-se de cases ou

casos, ou seja, trata de “situações onde empresas e pessoas reais precisam tomar

decisões sobre determinado dilema” (ABRANTES et al., 1999, p. 200).

A aplicação da ferramenta envolve um processo de discussão, onde o aluno

deve se colocar no lugar do tomador de decisão, gera e avalia alternativas que serão

apresentadas para a solução do problema, propondo um curso de ação

(MAUFFETTE-LENDERS et al., 1997).

Segundo Corey (1980), o uso da ferramenta no ensino de Administração

permite ao aluno ensinar-se a si próprio e aos colegas. Para Cifuentes (1977), a

capacidade de gerenciar, foco de aprendizado para o administrador, não está

retratada na ciência ou na soma de algumas ciências. Compreende, todavia, um tipo

específico de saber que envolve julgamento e decisão sobre o melhor curso de ação

para cada situação nova e particular. A ferramenta é mais apropriada para preparar

gerentes na difícil tarefa de julgar ou decidir.

O uso do estudo de caso para o ensino em sala de aula propicia ao aluno

aprender por meio da possibilidade de descoberta, do desenvolvimento das

habilidades analíticas e através do processo de aprendizagem: a motivação,

indispensável na aprendizagem de todo ser humano. Tanto a participação como o

envolvimento dos alunos provoca grande impacto no aprendizado e no próprio

processo de crescimento. A participação e o envolvimento conferem sentimento de

maior pertencimento ao grupo, de tornar-se capaz. Os métodos participativos

apresentam impacto favorável na atitude do aluno e na relação com a aula,

fomentando sentimentos como: gostar e envolver-se com a aula; sentir-se criativo,

ser desafiado e curioso em relação a um tema ou uma dada situação. A combinação

entre vivência pessoal, interação com o grupo, estudo de autores e diferentes teorias

promove insights individuais de valor para a construção do conhecimento

(ABRANTES et al., 1999, p. 200).

34

A ferramenta estudo de caso para o ensino em sala de aula é utilizada no

ensino, por meio de relatos de situações da vida organizacional, com o propósito

específico de ser discutido em sala de aula visando desenvolver, nos participantes,

habilidades e comportamentos considerados chave para o sucesso gerencial, para

conhecer a organização e seu ambiente.

A ferramenta estudo de caso para o ensino aplicado ao ensino gerencial tem

longa tradição. Segundo Roberts (2004), foi usado pela primeira vez em 1908, em

cursos de Direito Comercial na Harvard Business School, em Boston, Estados

Unidos. Posteriormente, em 1912, estendeu-se para a área de Políticas de

Negócios, incluindo discussões em grupo e a presença de executivos em salas de

aula. A Universidade de Harvard é a maior difusora em estudos de caso para o

ensino no mundo.

De acordo com Roberts (2004), no final da década de 30, o acervo de casos

para ensino na Universidade de Harvard estava sendo usado por mais de 80

Universidades dos Estados Unidos. Em 1930, na França, com a participação ativa

de professores e o apoio da Câmara de Comércio e Indústria daquele país, foi criado

o Centro de Aperfeiçoamento para Administração de Negócios, que passou a adotar

a ferramenta de estudos de caso para o ensino em sala de aula.

Atualmente, praticamente cem anos depois, a ferramenta para o ensino em

sala de aula é amplamente utilizada e em escala mundial, enfatizando o aprendizado

por descoberta, com foco na discussão, não no resultado final, de modo que o

professor atua mais como facilitador no processo e é comparado a um instrutor. A

característica principal da ferramenta para o ensino centra-se em apresentar um

modelo indutivo de ensino-aprendizagem, fazendo com que o aluno, ao analisar o

problema, dialogue, debata, reflita e chegue a conclusões próprias sobre o caso

questionado, com o fornecimento de sugestões sobre o caminho a ser tomado e

percorrido (BÖCKER, 1987).

A forma de exposição do caso para ensino tem variado segundo diferentes

estudiosos dessa ferramenta. Nos estudos de caso de Harvard, deve-se relatar uma

história curta e salientar os diversos aspectos da vida organizacional e dos gestores

que devem contemplar, desde questões pessoal-emocionais, até questões racionais

das organizações (ROESCH, 1997).

35

Richardson (1994) sugere que os casos sejam apresentados em forma de

vídeo, mostrando as diversas situações reais. Lima (2002) criou um software que

permite um instrutor colocar as diferentes decisões dos alunos durante a discussão.

Enquanto a abordagem tradicional utiliza palestras, o estudo de caso traz

uma situação real de negócio, procurando criar maior motivação e envolvimento por

parte dos alunos, agregando valor ao aprendizado (ROBERTS, 1999).

Segundo Roesch (1997), as diferenças de estruturas são as seguintes:

ITEM ESTUDO DE CASO PARA ENSINO ESTUDO DE CASO PARA PESQUISA

Tamanho · Máximo de oito a dez páginas de

texto, espaço 1 e até cinco páginas de anexos

· Geralmente, acima de 30 páginas, espaço 1.

Objetivos

(Objetivos educacionais explícitos apenas nas notas de ensino) · Desenvolver habilidades

gerenciais. · Ilustrar aulas expositivas. · Informar sobre o contexto gerencial

e organizacional.

(Objetivos de pesquisa explícitos no texto) · Descrever ou explorar

situações. · Ilustrar ou desenvolver

teorias. · Testar hipóteses.

Público-alvo Alunos de determinado curso e nível de ensino.

Acadêmicos ou profissionais.

Coleta de dados

· Planos de ensino. · Coleta específica a uma

organização de fatos, opiniões, números, documentos, dados publicados, cenário, episódios, gestos, falas.

· Revisão bibliográfica. · Coleta ampla em uma

ou mais organizações de fatos, opiniões, números, documentos, dados publicados.

Estrutura do texto

· Sanduíche ou na forma de uma história.

· Analítico- linear, ensaio, ordem cronológica ou por itens.

Redação

· Narração da situação-problema do ponto de vista de um ou mais personagens do caso.

· Descrição, sumário cronológico de eventos, uso de cenas e diálogos.

· Nota de ensino dirigida ao professor para uso do caso.

· Narração por um observador independente.

· Descrição, análise dos dados, críticas, sugestões.

· Interpretação, tendo em vista conceitos ou teorias.

QUADRO 1 - DIFERENÇAS DE ESTRUTURAS PARA O ENSINO/CASO E ENSINO/PESQUISA FONTE: ADAPTADO DE ROESCH (1997)

36

4 AS EXPERIÊNCIAS DA UTILIZAÇÃO DA FERRAMENTA DE ESTUDO DE

CASO PARA ENSINO DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS POR DUAS DAS

MELHORES INSTITUIÇÕES DE ENSINO DE GESTÃO DO MUNDO

Neste capítulo, apresenta-se a investigação documental feita, mostrando a

utilização da ferramenta pela Harvard Business School, e pela Ivey School Of

Business.

A experiência de Harvard é descrita por diversos autores.

Segundo Nascimento (2004), um estudo de caso, para que o ensino seja de

excelência deve, necessariamente, seguir os pontos descritos na sequência:

- Ser um caso que não represente um comentário de situação específica;

- Não apresentar conclusão alguma que possa ser fonte geradora de

dúvida ou curiosidade;

- Não incluir, em hipótese alguma, conclusões ou opiniões pessoais;

- Não recomendar nenhum tipo de ação;

- Iniciar de forma generalizada e introduzir especificidades no decorrer de

sua apresentação;

- Ser escrito sempre no passado;

- Ter a introdução e fechamento diretamente ligados aos objetivos e

questões propostos;

- Sempre situar o leitor em termos de tempo e espaço;

- Apresentar de maneira cronológica o protagonista a empresa, o setor, o

ambiente e o contexto em que estão inseridos;

- Apresentar situações, dados e opiniões dentro da empresa;

- Apresentar anexo que apoie as narrativas;

- Ter relevância no contexto da aprendizagem;

- Produzir diversidade de opiniões, inclusive, geração de conflitos e de

ideias;

- Ter como objetivo ilustrar uma teoria.

37

4.1 OBJETIVOS DO CASO PARA ENSINO SEGUNDO HARVARD

No exemplo do caso utilizado nesta dissertação, é possível perceber que o

facilitador deve deixar claro o esperado após a leitura do caso. Assim, entre os

elementos que devem ser tratados encontram-se pontos relevantes como:

- Discutir aspectos fundamentais do empreendedorismo contemplando

questões teóricas;

- Discutir as diferenças entre Empreendedor e Administrador;

- Discutir o papel da empresa na vida do empreendedor;

- Discutir a importância da visão da empresa e o papel de líder

empreendedor no processo;

- Aprofundar a discussão sobre características inerentes ao perfil de

empreendedor;

- Compreender como conseguir isso em uma corporação em que não se é

líder ou empreendedor, mas que percebe determinadas saídas criativas

para o dilema.

4.2 GERENCIAMENTO DO CASO PARA ENSINO E QUESTÕES PARA ESTUDO

EM SALA DE AULA SEGUNDO HARVARD

Para implementar o estudo de caso para ensino, o facilitador deve ter

certeza de que foram discutidos em sala de aula, no mínimo, aspectos teóricos do

empreendedorismo como:

- Definição de empreendedorismo;

- Histórico de empreendedorismo;

- A descoberta da inovação e os ciclos econômicos;

- Diferenças entre o empreendedor e o administrador;

- Aspectos do empreendedorismo corporativo;

- Teoria Visonária de Filion;

38

O facilitador deve pedir para os alunos que leiam a primeira parte do caso e

após uma leitura individual se reúnam em grupos para discutir aspectos relevantes

ligados ao empreendedorismo. O facilitador deve aplicar perguntas que possam

construir a resolução do dilema e, simultaneamente, contemplar a teoria.

4.3 TAREFA PÓS-AULA

Após a aula, o facilitador deve fazer todas as anotações da participação de

cada aluno, bem como identificar aspectos relevantes discutidos em determinada

turma e que possam enriquecer o caso. No entanto, é importante que os alunos

cheguem à classe com o caso previamente discutido, que façam pesquisa sobre a

contextualização da empresa e seus fatores relevantes.

4.4 AVALIAÇÃO DE UM CASO PARA ENSINO

Para que um caso possa ser avaliado, é importante elencar perguntas que,

de acordo com Roesch (2004), sintetizam pontos como:

- Há problemas efetivamente gerenciais ou a necessidade da tomada de

decisão no caso?

- Os personagens são reais e os alunos podem se identificar com eles?

- O caso é capaz de provocar a discussão dos participantes?

- Existe informação suficiente para tratar dos problemas apresentados no

caso?

- A informação está clara o suficiente?

- O caso é interessante?

- Está bem escrito e organizado?

- Os gráficos e quadros são úteis?

- A narrativa do caso é baseada em uma situação real?

- O caso trata da história em uma organização existente?

39

- A grafia, pontuação e acentuação do texto estão corretas?

- Que fontes de informação foram utilizadas no caso?

- As fontes de informação estão indicadas?

4.5 CONSTRUÇÃO DE UM CASO PARA ENSINO

Antes de iniciar a construção de qualquer caso para ensino, o instrutor deve

ter claro quais são os objetivos gerais e específicos de aplicação do caso em estudo.

Desta forma, é fundamental que o instrutor saiba quais os objetivos de ensino e da

aprendizagem que o caso propiciará aos alunos. Uma vez que estejam traçados, o

instrutor pode iniciar a coleta de materiais e/ou entrevistas para a elaboração do

caso (ROBERTS, 2001).

Segundo Roesch (2004), o parágrafo inicial do caso para ensino é uma

declaração que descreva o dilema, ou seja, a situação que o determina e deve

conter elementos como:

- Breve apresentação da organização;

- Identificação da pessoa da organização com a qual o aluno deverá

identificar-se;

- Local e época em que ocorreu o dilema determinado;

- Breve descrição do problema ou situação.

Segundo Nascimento (2004), o estudo de caso deve ser constituído a partir

de elementos como:

- Protagonista: autor principal da história, aquele que tem a ação do

dilema;

- Antagonistas: que se opõem às forças contrárias inseridas no contexto

do dilema;

- Deuteragonistas: os coadjuvantes, ou seja, quem participa;

Os três primeiros elementos são os personagens da história e por isso

devem ter atuação direta no caso. No entanto, um estudo de caso obedece a algum

dos critérios abaixo descritos, que também ocorrem em determinado tempo e

espaço.

40

- Enredo: pode ser uma fábula, ou seja, uma história sem muito segredo

ou uma trama, um texto com qualidade de construção superior;

- Narrativa: o narrador do caso pode ser o próprio protagonista que

escreve sua própria história ou pode ser como um testemunho em se

fala sobre uma terceira pessoa. O narrador é como um cameraman, ou

seja, ele mesmo mostra o ângulo que melhor expressa sua ideia. O

narrador vai escrever de acordo com aquilo que quer mostrar;

- Tempo: definição de quando começa e termina a história, porque é

importante que o leitor esteja situado no tempo;

- Espaço: é o palco, ou seja, onde as coisas realmente acontecem.

É mister que se parta do princípio de que o caso para o ensino em sala de

aula deva servir como multiplicador, não como um fim nele mesmo (TOWL, 1969

apud YIN, 1994).

4.6 CARACTERÍSTICAS DE UM BOM ESTUDO DE CASO PARA ENSINO

Abell (1997) relata que bons estudos de caso devem conter:

- Uma ou mais questões gerencias ou a necessidade da tomada de

decisão;

- Algum tópico relevante para a área;

- Proporcionar uma espécie de viagem de descoberta, amparado no rumo

que a organização em estudo tome a partir da descoberta do potencial

interno de seus colaboradores;

- Controvérsias que proporcionem diferentes interpretações, decisões e

planos de ação de quem está envolvido no processo;

- Contrastes e comparações;

- Generalização de lições e conceitos para outras situações;

- Dados para tratar de problemas: descrição do produto, indústria e

mercado, pessoas envolvidas e dados quantitativos;

- Um toque pessoal, incluindo a fala dos participantes e descrição dos

processos formais e informais;

41

- Boa estruturação e relatos;

- No máximo 8 a 10 páginas de texto e que os anexos somem até cinco

páginas.

4.7 EXPERIÊNCIA DE UTILIZAÇAO DA FERRAMENTA SEGUNDO IVEY

As experiências da Ivey são registradas nas obras de Mauffette-Leenders.

De acordo com Mauffette-Leenders (1999), a escola Richard Ivey School of

Business encontra-se entre as escolas de negócios mais importantes do mundo,

indispensável para estudiosos da ciência da Administração, por alicerçar as

empresas na trajetória de captação e manutenção de clientes, por meio do estudo

de caso.

Hoje, a Richard Ivey School of Business dispõe de um acervo para compra e

consulta com 8000 casos, acrescentando anualmente cerca de mais duzentos novos

casos para a coleção.

A Ivey Publishing aceita o registro seletivo de estudos de fora da Richard

Ivey School of Business, a fim de comercializá-los, mas devem ser submetidos à

revisão antes de sua publicação, sendo que os direitos autorais devem ser

atribuídos à Ivey Publishing (IVEY PUBLISHING, 2011).

Em contrapartida, anualmente, a Ivey Editorial paga 15% de royalty para

todas as vendas externas do caso, exceto se usados em programas Ivey. Promove o

uso como se escritos por professores da Ivey fossem, Dispõe de profissionais

qualificados que ajudam na edição e formatação do caso, distribuem amostras do

caso para educadores selecionados pela escola, fornece amostras para clientes

cadastrados no site sem custo algum, segundo a política de permissão Ivey.

Concede ou não direito ao uso do caso em cursos ministrados pelo corpo docente

fora da Ivey, isento de taxa, de acordo com as políticas de permissão Ivey,

publicando em livro, caso o autor do caso concorde (IVEY PUBLISHING, 2011).

O estudo de caso pode ser trabalhado em classe com um caso único, ou

dois ou três casos em conjunto; pode ser tratado de caso específico ou comparativo

e com foco dirigido. Geralmente, os casos que são investigados seguem um

processo comum (MAUFFETTE-LEENDERS, 1999).

42

Quando um aluno estiver matriculado em um curso que trate de estudo de

caso, normalmente, recebe atribuições antecipadas, requerendo preparo prévio de

materiais de leitura para a compreensão de dados e fenômenos que se

desencadeiam, cuja ordem pode depender do assunto que está sendo tratado ou da

empresa estudada em si, porém, não dispensa o olhar atento do(s) pesquisador(es)

(MAUFFETTE-LEENDERS, 1999).

Alguns principiantes mais novatos nem sempre fazem a leitura adequada

logo de início do caso. Essa atividade requer um período de preparo, de leitura e

releitura que harmonizem tanto a inquietude como a ansiedade do pesquisador. À

medida que o tempo passa, fatores como frustração e insatisfação, pela inabilidade

ou por ser novidade, deixam de existir e, não raras vezes também podem prevalecer

em alguns dos pesquisadores (MAUFFETTE-LEENDERS, 1999).

4.7.1 O Que é um Caso

De acordo com Mauffette-Leenders et al. (1999), um caso é a descrição

detalhada de uma situação real. Geralmente, envolve uma decisão, um desafio, uma

oportunidade, um problema organizacional, um problema enfrentado por uma

pessoa ou por várias pessoas, em determinada organização. O caso permite que os

estudantes, em sentido figurado, sintam-se posicionados como um verdadeiro

tomador de decisão em particular.

Normalmente, os casos são escritos e encontram-se disponíveis na versão

impressa. De forma progressiva são apresentados em outros formatos como: filmes,

fitas de vídeo, CD Rom, fitas de áudio, disco ou combinados. Com a computação

gráfica interativa, redes de comunicação e bases de dados hipermídia os casos

podem envolver participantes em novos formatos. No entanto, os tipos de casos com

cópia impressa são mais comuns devido à larga conveniência.

Os casos se fundamentam em histórias reais. Normalmente, um pesquisador

visita uma organização e pinça dados que compõem determinado caso. Além disso,

na organização de coleta alguém assina um documento oficial para estudo, cuja

versão permite distinguir o caso de qualquer outro tipo de material educativo. O

lançamento serve para quatro propósitos: primeiro, garantir que o escritor do caso

43

tenha de fato ido a campo e feito o trabalho necessário para escrever a história de

outras pessoas ou organizações, tornando-se uma história autêntica, cuja situação é

retratada com precisão e justeza; segundo, não é incomum que sejam usados certos

disfarces no sentido de não divulgar dados a pedido de seu titular, de modo que haja

total liberdade para a coleta e reunião de dados; terceiro, algumas informações

sobre o caso, como nome da organização e das pessoas envolvidas podem ser

alterados para garantir confidencialidade, de forma que esforços não devem ser

medidos para que dados sejam devidamente preservados; quarto, a autorização

pelo responsável para o uso do caso concede permissão de uso com fins

educacionais, cujo lançamento contribui para manter as relações positivas entre a

instituição de ensino e a organização sobre as quais os casos são escritos.

Materiais educativos, como um exercício, um problema, um artigo ou uma

simulação são diferentes de um caso em que o escritor ou o autor não pode ter

usado os dados da vida real e obteve autorização.

Os casos resultam de um processo cuidadosamente pensado. Embora um

caso contenha informações disponíveis para o tomador de decisão no momento em

que é desenvolvido, o conteúdo varia com o propósito educativo do caso. Seguindo

os objetivos específicos de ensino, um caso tem como finalidade relatar informações

sobre a decisão enfrentada pela pessoa do caso em si, na sua organização.

Obviamente, nem tudo o que é visto ou ouvido pode ser incluído, devendo o

pesquisador ser seletivo.

Uma grande parte dos casos permanece na forma não escrita. O contexto

econômico, social, político e tecnológico do caso está implícito pela data e o local de

ocorrência. Nesse contexto, a análise para a solução do caso é relevante, prevê seu

próprio entendimento e experiência sobre o caso para suportá-lo.

O estudo de caso é uma estratégia de estudo que impulsiona rapidamente a

investigação e permite ao pesquisador avaliar a atividade e as dificuldades em torno

desta, determinando a necessidade, ou não, de ajuda extra, com foco na teoria e em

ferramentas de análise que permitam uma leitura sobre a aderência e os detalhes do

caso, com economia de tempo, para posterior leitura e análise intermediária

(MAUFFETTE-LEENDERS, 1999).

Geralmente, a solução da abordagem inclui a definição do questionamento,

análise dos dados do caso com foco nas causas e efeitos, contratempos,

oportunidades, viabilidade, alternativas, seleção do critério de decisão, análise sobre

44

a evolução de possíveis alternativas, seleção da alternativa preferida e

desenvolvimento de um plano de ação que verse um modelo ainda não contemplado

ou aplicado, que ofereça maior ênfase, comparativamente a outros, com diferentes

tempos de duração (MAUFFETTE-LEENDERS et al., 1999).

O estudo de caso pode referir-se a situações ou decisões específicas, com

desafios e oportunidades que exigem a elaboração de traçados para o caso que

está sendo estudado, requer a aquisição de softwares para um melhor manejo dos

dados coletados, ou determinado programa que trate do desenho das informações

no sistema, ou da responsabilidade sobre o caso em si.

4.7.2 Por que o Estudo de Caso é Importante

Neste estudo busca-se conhecer a importância do estudo de caso para

ensino no contexto de uma Instituição de Ensino Superior. De acordo com a Escola

Ivey, a preparação individual é pré-requisito básico para elaborar o aprendizado do

sujeito aprendiz, indispensável para pequenos ou grandes grupos, por facilitar um

ensino-aprendizagem significativo e eficaz.

A discussão diária, em sala de aula, por meio do estudo de caso, representa

uma oportunidade única para o aluno desenvolver-se, aprimorar-se, adquirir

autoconfiança e habilidade, articulando um posicionamento pessoal sobre o fato em

estudo, permitindo que reaja e elabore ideias novas e receba respostas críticas do

grupo exigente. O método representa uma oportunidade experimental que possa ser

colocada em prática nos ambientes de trabalho, com alto índice de resolutibilidade

(MAUFFETTE-LEENDERS, 1999).

A ferramenta permite verdadeira contribuição ao aluno em sala de aula e ao

aprendizado estabelecido em ambientes educativos, cuja participação pode assumir

significativa performance. Deve, contudo, haver avaliação prévia do problema em

questionamento para identificar soluções alternativas e imaginação realista sobre o

caso discutido, com análise e elaboração de estratégias em busca de implementar o

caso concreto.

O estudo de caso, enquanto ferramenta, é um instrumento coadjuvante para

que metas sejam alcançadas através de um nível de questionamento gerador de

45

respostas, que conduza o sujeito ou a classe posicionar-se perante determinado

problema, cuja ênfase deve voltar-se para a qualidade e contribuição empreendida,

não em relação a quantidade/frequência, mas no fato (MAUFFETTE-LEENDERS,

1999).

A preparação de um caso pode representar tarefa árdua para todos os

envolvidos no trabalho de análise e equacionamento, cujos processos podem ser

longos, quando não complexos, despendendo o fator tempo e criticidade, com ou

sem arguição, que nem sempre conduz o investigador a respostas corretas e

concretas logo de imediato (MAUFFETTE-LEENDERS, 1999).

A natureza aberta tal como o estudo de caso é tratado, com enorme

quantidade de informação fornecida e pela inexperiência com problemas inerentes à

organização da indústria, sobre o produto ou serviço, tem gerado elevado nível de

confusão, frustração e ansiedade, sendo fundamental o preparo do indivíduo de

forma eficaz, no sentido que apresente melhores resultados (MAUFFETTE-

LEENDERS, 1999).

A ferramenta estudo de caso para ensino permite que determinado tipo de

estudo se torne mais relevante e divertido, comparativamente a outros modelos de

ensino, por envolver os sujeitos que estudam, servindo como ensaio para a carreira

futura, pela chance ofertada de aprender de primeira mão, com a prática de todos os

tipos de habilidade requeridas pelo trabalho.

Há satisfação ou excitação a partir de comentários reais de participantes no

processo de aprendizagem de alunos matriculados em programas de graduação,

pós-graduação e também de executivos.

O objetivo do estudo de caso é maximizar o aprendizado em um período de

tempo razoável e repetir o processo de estágio de aprendizagem de preparação

individual, discussão em pequenos grupos e de grandes grupos, permitindo tornar-

se um profissional bem sucedido na carreira escolhida.

Uma maneira útil para começar é desenvolver compreensão elaborada

sobre o que realmente representa um caso, porque se mostra valiosa ferramenta de

aprendizagem para os sujeitos que estudam e que aprendem.

46

4.8 POR QUE CASOS PARA ENSINO SÃO UTILIZADOS

Os casos permitem ao indivíduo aprender, pela tarefa de fazer e ensinar ao

outro. O que é aprendido torna-se profundamente enraizado e fica retido no sujeito.

A oportunidade de análise e resolução de uma série de questões, em uma variedade

de configurações prepara o sujeito para tornar-se verdadeiramente profissional em

seu campo de trabalho.

O estudo de caso para ensino permite que indivíduos assumam funções e

responsabilidades específicas em suas organizações e isso deve ser pensado como

uma forma de treinamento para o trabalho. Os casos proporcionam oportunidade de

envolvimento em decisões para se tornarem mais envolvidos nas decisões

enfrentadas por pessoas reais, também em organizações reais, para tomar posse,

sentir e suportar pressão, reconhecer riscos e expor as suas ideias para outros.

A experiência acumulada ao longo do tempo, os desafios das áreas

funcionais, os níveis de responsabilidade, tipos e tamanhos de organizações e

indústrias distribuídas em todo o mundo deve ser entendida e estudada com

interesse e precisão. Nesse contexto, há enorme oportunidade de aprendizagem em

cada caso estudado ao colocar-se na posição de decisor, cujo impacto cumulativo

desses desafios permite assumir tarefas futuras e enfrentar o processo de decisão

de forma eficaz.

A oportunidade de praticar arte e ciência de gerenciamento em um ambiente

de laboratório, com poucos riscos corporativos e pessoais envolvidos é fundamental.

Noutras palavras, diz-se que os casos são para estudantes de gestão o que

cadáveres são para estudantes de medicina, figurando como oportunidade para

praticar experiências sobre a coisa real.

Os casos são excelentes ferramentas para compreender a teoria, interligá-la

e aplicá-la, desenvolvendo outros conhecimentos teóricos. Podem conter materiais

teóricos ou leituras que cubram perspectivas teóricas e ofereçam oportunidade para

se perceber como a teoria se aplica na prática. Além disso, o estudo de caso para

ensino fornece informações sobre como o trabalho foi planejado e organizado em

vários cenários, como os sistemas funcionam e como as organizações competem

entre si, interna e externamente.

47

4.9 A APRENDIZAGEM POR MEIO DE CASOS PARA ENSINO

Nem sempre os gestores têm acesso a todas as informações pertinentes às

decisões. Da mesma forma, os casos raramente contêm todas as informações que

os gestores gostariam que tivessem. Assim, são forçados a tomar decisões com as

informações que estiverem disponíveis e tolerar a incompletude e ambiguidade da

informação.

A discussão utilizando a ferramenta do caso para ensino é um excelente

veículo para desenvolver autoconfiança, capacidade de pensar de forma

independente e trabalhar cooperativamente. Além disso, os casos fomentam o

desenvolvimento de insights sobre as próprias forças e fraquezas individuais e

organizacionais, permitindo profundo crescimento pessoal.

A ferramenta de estudo de caso para ensino é adequada por instruir a lidar

com situações novas e complexas. No mundo dos negócios, em particular, os

gerentes, precisam adaptar-se às circunstâncias em constante mutação. Para isso, o

estudo de caso para ensino força o indivíduo a pensar por si mesmo e gerar sua

própria aprendizagem, permite acoplar o processo de aprender a aprender. Embora

cada caso seja individualmente diferente, o processo de aprender a aprender é

generalizável. A aprendizagem com casos fornece a oportunidade de desenvolver

ampla gama de habilidades, que se torna amplamente útil e enriquecedora. O

inventário de habilidades desenvolvidas pelo método do caso fundamenta-se nos

seguintes pressupostos:

1. Habilidades analíticas: a ferramenta do caso para ensino permite desenvolver quadros qualitativos e quantitativos para analisar situações de negócios, incluindo habilidades de identificação do problema, habilidades, manuseio e habilidades de pensamento crítico. [...] 2. Habilidades de tomada de decisão: A ferramenta do caso empurra, com base em seu trabalho analítico, para avaliar o que pode ser feito e para tomar decisões. [...] vai aprender a gerar diferentes alternativas, selecionar critérios de decisão, avaliar alternativas, escolher o melhor, formular uma ação congruente e planos de implementação; 3. Aplicação das habilidades: os casos proporcionam oportunidade para praticar usando ferramentas, técnicas e teorias que [...] aprendeu; 4. Habilidades de comunicação oral. A ferramenta do estudo de caso para ensino fornece ampla oportunidade não só para ouvir seus colegas, mas também para se expressar, construir argumentos e convencê-los de seus pontos de vista. Assim, todo um conjunto de falar, ouvir e debater as habilidades são desenvolvidas. Nesta troca de ideias e argumentos [...]

48

aprende a pensar em seus pés, considerar os pontos de vista dos outros, bem como tomar e defender suas posições; 5. Gestão de competências e do tempo: sob forte pressão de preparação do caso e malabarismos das várias outras responsabilidades [...] é forçada a programação de atividades educacionais com cuidado e gerir o tempo de forma eficaz; 6. Habilidades interpessoais e sociais: A ferramenta de caso. através de pequenos e grandes grupos de discussão promove a aprendizagem de como lidar com seus pares. Esse aprendizado inclui habilidades de resolução de conflitos e pratica a arte do compromisso. Porque muito de sua vida profissional futura envolverá comitês, forças-tarefa, placas ou equipes de projetos, aprender a trabalhar com eficácia e em um grupo vai diferenciá-lo; 7. Habilidades criativas: [...] a ferramenta do caso para ensino incentiva a procurar e a encontrar soluções orientadas para circunstâncias únicas de cada caso [...] convida você para usar sua imaginação na resolução de problemas, como normalmente há múltiplas soluções para cada caso; 8. Habilidades em comunicação escrita: através de regulares e eficazes relatórios de anotações, exames de casos.

4.10 O QUE É ESPERADO DA FERRAMENTA ESTUDO DE CASO PARA ENSINO

Com a finalidade de obter vários benefícios com a ferramenta do caso para

ensino e desenvolver todas as habilidades listadas, o método incentiva cumprir

importantes expectativas, como: preparar-se para ingressar na análise e aprender

com o caso; exercer papel ativo na aprendizagem e preparar-se para a

aprendizagem do grupo visando ensinar o outro, mediante uma participação ativa,

mencionando os riscos e, enquanto instrutor, aprender com os colegas.

A conduta do profissional integra o conjunto de expectativas e a ética é

fundamental no tratamento durante o processo de investigação. No sentido de

prosperar é essencial que o trabalho seja ancorado no respeito genuíno, confiança e

abertura. Como futuros gestores e líderes de negócios, o pesquisador deve aprender

a comportar-se de maneira profissional. O senso de profissionalismo não envolve

apenas a realização de si mesmo, com civilidade para com seus pares e com

abertura para a diversidade, mas o respeito à confidencialidade da discussão dos

casos.

A aprendizagem será mais agradável quando um indivíduo realmente estiver

convencido de qual problema trata o caso e, afinal, o que está aprendendo com o

problema apresentado. Portanto, deve fornecer uma visão sobre o desafio

49

educacional apresentado no caso e como se traduz em dificuldade, no sentido de

obter uma visão geral do processo em três estágios de aprendizagem.

Os participantes de uma experiência de aprendizagem de caso são sempre

limitados pelo tempo, tal como para ler, analisar e discutir cada caso cujo objetivo é

aprender a preparar os casos de forma rápida e bem estruturada. Para alcançar tais

objetivos é necessário ter melhor compreensão de onde gastar o tempo em cada

caso e desenvolver um processo para resolver casos que ajudarão a alcançar

resultados consistentemente superiores.

4.11 O DESAFIO DA EDUCAÇÃO DE UM CASO PARA ENSINO

A dificuldade ou o desafio educacional de um caso para ensino pode ser

visto sob três grandes dimensões: analítica, conceitual e sua apresentação. Cada

dimensão apresenta três graus de dificuldade.

Na dimensão analítica, a dimensão de análise de um caso questiona a tarefa

do leitor com relação à decisão-chave ou o número do caso e depende de como a

decisão é apresentada.

O caso pode ser escrito com um tema indicado, as alternativas devem ser

consideradas, os critérios de decisão utilizados e a decisão final tomada. Esse tipo

de caso tem um grau de dificuldade de análise. A maioria dos participantes no

processo de aprendizagem de caso reconhece que no momento em que a há

chance de um estudo de caso, a situação descrita no caso provavelmente é decidida

na vida real. No entanto, existe diferença entre perceber e ser informado do caso.

Um caso para ensino pode ser escrito exatamente sobre o mesmo problema,

com ou sem alternativas disponibilizadas, mas, excluindo-se a decisão final tomada,

refere-se ao segundo grau de dificuldade analítica, comumente encontrado no

estudo de caso.

Um caso para ensino alcança o terceiro grau de dificuldade analítica quando

até mesmo a decisão do que precisa ser feito não é identificada. Há apenas a

descrição de uma situação. A tarefa do participante é analisar a situação, descobrir

se uma decisão, ou mais, deve ser tomada, que alternativas podem ser

50

consideradas, quais critérios de decisão devem ser aplicados e qual alternativa é

preferível, como pode ser implementado e que resultados são mais susceptíveis.

A dimensão conceitual ou teórica do caso é em relação à pergunta: "que

teorias, conceitos ou técnicas podem ser úteis na compreensão e/ou resolução do

caso ou de dada situação?".

Conceitos ou perspectivas teóricas podem estar contidos em capítulos ou

em leituras sobre o caso, podem ter sido abordados anteriormente, no curso ou em

outros cursos, podem vir após o caso, uma vez que a necessidade da perspectiva

teórica é estabelecida através do caso.

No momento da concepção do curso, o educador pode decidir sobre qual

melhor forma para integrar conceitos ou teorias, em sentido prático, utilizando um

caso único. Os casos, muitas vezes, servem mais para ilustrar conceitos, teorias ou

técnicas do que a grande maioria das pessoas imagina.

Como a dimensão analítica, a dimensão conceitual do caso para ensino é

dividida em graus de dificuldade e apresentada sob dois aspectos. Primeiro, quão

difícil é entender o conceito, teoria ou o próprio caso em si. O segundo grau de

dificuldade refere-se ao número de conceitos a serem usados simultaneamente para

lidar com a(s) decisão (ões) ou problema(s) em que o caso estiver focado.

O terceiro desafio educacional que pode apresentar um caso se relaciona à

dimensão de apresentação que fornece oportunidade para desenvolver habilidades

na classificação e estruturação da informação, questionando o que realmente é

importante e relevante no trabalho de estudo e ensino.

O grau de dificuldade relacionado à apresentação do caso pode ser

aumentado, tornando curto ou desorganizado o prazo. A falta de informações

relevantes disponíveis as torna irrelevantes e, se pouco relevantes tornam grande

quantidade de informações irrelevantes. No entanto, um formato único e

provavelmente escrito, torna múltiplos formatos, como escrita, além de banco de

dados de vídeo.

Quanto maior o grau de dificuldade na “dimensão apresentação”, mais

tempo o participante deve gastar na leitura, classificação, priorização, identificação

de informações faltantes, organização e estruturação de dados, cujas competências

são necessárias e amplamente úteis na tarefa.

51

Um caso para ensino, em contraste, é direto e relativamente simples em

cada dimensão, identifica um problema e uma solução, é um conceito simples e

contém material relevante claro apresentado.

52

5 APRESENTAÇÃO DE UM CASO PARA ENSINO

Este capítulo tem como finalidade exemplificar um caso para ensino em sala

de aula. Optou-se por mostrar o caso vivenciado pela World Study, empresa

paranaense especializada em Intercâmbio Cultural e Experiências Internacionais,

frente sua situação peculiar e o fato ocorrido em 11 de setembro de 2001, com a

queda das torres gêmeas, em Nova York, Estados Unidos e respectivas

consequências para a empresa.

5.1 O CASO

A violência tem marcado a história do mundo, em todas as esferas do globo

e em níveis marcantes, produzindo efeitos inimagináveis, com repercussão na saúde

física e espiritual de indivíduos e também na saúde econômica e financeira de

empresas ao redor do mundo.

Em 11 de Setembro de 2001, um dia marcado pelo sangue e violência, em

que terroristas invadiram o espaço aéreo Americano e explodiram as torres gêmeas

por meio do sequestro de aviões da American Airlines que foram atirados contra o

World Trade Center.

A World Study é uma empresa paranaense, especializada em intercâmbio

cultural e experiências internacionais, que frente ao evento teve elevado índice de

cancelamento dos alunos inscritos com embarque marcado para os Estados Unidos

da América, gerando um desequilíbrio jamais experimentado na história da empresa.

Os números apontavam para o imediato fechamento da organização, conduzindo o

sonho de dois empreendedores a fragmentar-se e imediatamente desaparecer.

Foram vários os cenários e situações desesperadoras que emergiram na

época. O pensamento confuso paira sobre muitas nações, o pessimismo, o medo e

a angústia se manifestam e o conflito entre razão e ética se instala e se cruzam em

busca de respostas, mas que nem sempre são exatas. Desta forma, questiona-se o

que, como aconteceu e como foi resolvida a problemática

53

5.2 APRESENTAÇÃO DA EMPRESA

A empresa World Study oferece serviços e programas no exterior voltado à

educação internacional, visando ao desenvolvimento do ser humano como um ser

integral, propiciando aos alunos experiências interculturais em todas as esferas.

Apesar de ter uma missão bem explícita, existem indivíduos que apresentam muitas

dúvidas em relação ao posicionamento de mercado. A World Study não é um

escritório de viagens estudantis ou uma agência de turismo especializada em

turismo jovem, uma escola de idiomas ou um despachante de vistos e documentos.

O maior compromisso da escola é com a sociedade brasileira, ou seja, de

continuar o trabalho de vanguarda em projetos e realizações, quebrando paradigmas

do setor e assim dar continuidade à história da Educação Intercultural, sem, no

entanto, esquecer que a inovação deve ser a característica principal da escola.

Dentro dessa filosofia de atuação a empresa oferece ao mercado diversas

oportunidades de atividades no exterior, incluindo cursos de idiomas, estudos em

escolas de ensino médio, programa de férias em grupo, intercâmbio desportivo,

estágios e trabalho no exterior.

Atualmente, a organização possui duzentos e trinta colaboradores

espalhados por onze estados brasileiros e dezessete cidades como: Porto Alegre,

Caxias do Sul, Florianópolis, Blumenau, Curitiba, Londrina, Maringá, Guarapuava,

São Paulo, Rio de Janeiro (no bairro do Leblon e na Barra), Niterói, Belo Horizonte,

Juiz de Fora, Vitória, Manaus, Uberlândia, Recife e Campo Grande.

A empresa tem como missão ser uma organização de educação intercultural

comprometida com a qualificação do profissional para o mercado do século XXI,

satisfação e crescimento de seus colaboradores, a fim de promover o

desenvolvimento cultural, acadêmico e social do ser humano e das sociedades,

contribuindo para o estabelecimento da paz entre os povos.

5.3 RELATO OCORRIDO EM 11 DE SETEMBRO DE 2001

Um dia ensolarado e frio em Curitiba, Marcelo (um dos proprietários da

54

empresa), aos 34 anos de idade, após passar 15 anos dedicados exclusivamente ao

trabalho, saiu tranquilamente e feliz de uma loja de materiais de construção, onde

acabara de comprar um lote de telhas para finalizar o telhado de sua nova casa.

Neste dia, contrariamente ao que estava acostumado a fazer cotidianamente,,

resolve trocar a sintonia da rádio de notícias por um CD de música clássica, pois

sentia necessidade de aproveitar aquele momento que, além de maravilhoso, era

tão esperado.

Como a empresa havia batido o recorde de vendas em 2001, dirigiu-se para

o escritório, pois sabia que ao se aproximar o final de ano, muito trabalho o

esperava. No entanto, Marcelo, um típico sonhador, ainda não havia imaginado

quanto sua vida mudaria nos próximos meses com os acontecimentos daquele

fatídico dia.

Marcelo e Cláudio Roberto (sócios da empresa) se conhecem desde os seis

anos de idade e desse entrosamento surgiu uma grande amizade.

Em 1985 ambos fizeram um programa de Intercâmbio Cultural (Ensino

Médio no exterior) e, estimulados pelo pai de Marcelo, se separaram: Claudio foi

para os Estados Unidos e Marcelo para o Canadá. Ao retornarem ao Brasil,

perceberam que suas vidas haviam mudado. Sentiam-se pessoas completamente

diferentes daqueles dois meninos de dezesseis anos que haviam embarcado para o

exterior no ano anterior.

No entanto, a reaproximação dos dois jovens surge exatamente no momento

em que alguns indivíduos que buscavam o intercâmbio, por não dominar a língua

inglesa (o que não era de grande relevância à época), fizeram contato com Marcelo

e Claúdio para que ajudassem com os papéis necessários para realizar o intento. A

experiência de intercâmbio cultural e a aproximação de pessoas que queriam ter a

mesma experiência fez com que a amizade de ambos se solidificasse ainda mais.

Aos poucos, Marcelo e Claúdio foram se tornando referência na cidade de

Curitiba para pessoas que tinham interesse semelhante, tanto para colegas quanto

para pessoas que os procuravam para ajudá-las com documentações e detalhes de

intercâmbio.

A maior preocupação de Marcelo e Claudio foi auxiliar esses indivíduos a

passarem pelo mesmo processo por que passaram, porém, com mais know-how.

Enquanto adquiriam satisfação em ajudar quem os procurava, essas pessoas,

faziam questão de remunerá-los de alguma forma. Entretanto, Marcelo e Claúdio se

55

preocupavam com um entrada de cinema ou um simples lanche em uma lanchonete

tradicional da época.

Depois de alguns meses trabalhando única e exclusivamente pelo prazer de

ajudar as pessoas, ambos chegaram a considerar que o trabalho poderia ser a

profissão futura para ambos.

Passaram alguns dias estudando os custos iniciais do empreendimento e

partir de então surgiu a ideia de criar uma empresa. Com vontade e grande alegria,

Marcelo e Claúdio apresentaram a ideia aos familiares a fim de conseguir junto a

eles auxílio financeiro, já que ambas as famílias possuíam situação financeira

estável. Porém, não reagiram favoravelmente a eles.

Para ter uma ideia do nível de resistência dos familiares, ao serem

consultados sobre a possibilidade de serem fiadores do aluguel de uma linha

telefônica que na época custava em torno de U$: 200,00 (duzentos dólares) por mês

um dos pais disse: “Eu não vou ser fiador de uma empresa que vai falir”.

Esse foi somente o início da história bem sucedida dessa empresa que hoje

fatura em torno de R$: 30.000.000,00 (trinta milhões de reais) por ano, detentora de

forte tradição e reputação no Brasil, um ícone mundialmente respeitado.

Naquele dia, ao chegar à empresa, encontrou as pessoas que lá

trabalhavam pálidas e de cabeça baixa ao telefone. Ninguém sequer olhava firme

em seus olhos. Marcelo ficou andando em volta, fingindo ler jornal, quando, na

verdade, prestava atenção nas conversas de seus colaboradores ao telefone e ouvia

respostas do tipo: “não se preocupe, estamos verificando” ou então: “é muito cedo

para dizermos algo mais concreto”. Entretanto, pensou como um típico

empreendedor: “puxa, basta eu não estar aqui para que todos comecem a agir como

se uma bomba tivesse caído neste lugar”.

Marcelo, então, ainda com o pensamento voltado para a tonalidade do

amarelo das telhas que acabara de comprar, mas com a autoconfiança de sempre,

dirigiu-se até a sala de seu sócio para desejar-lhe um bom dia!

Ao entrar na sala de Cláudio, este se encontrava com os olhos arregalados

em frente à televisão. Marcelo o acompanhou com o olhar e viu as torres do World

Trade Center serem destruídas por aviões. Depois do terceiro cumprimento que fez

a Cláudio, recebeu a seguinte resposta: “Nossa, Marcelo! É o fim do mundo”.

O Trabalho Remunerado para Universitários no Exterior (TRUE), Programa

com embarque em novembro/dezembro tinha um total de 2417 alunos matriculados.

56

A empresa tinha contrato firmado com os participantes do programa que

contemplava,, em caso de cancelamento do programa, até 30 de setembro de 2001

uma devolução de U$ 1.600,00 do total dos U$ 1.900,00 pagos. Historicamente, a

empresa tinha um percentual de 14% de cancelamentos dos contratos, porém, por

questão de segurança trabalhava com uma margem de segurança de 20% dos

valores pagos.

Diante da nova realidade, em 30 de setembro de 2001 Marcelo e Cláudio

procuraram inteirar-se dos números finais dos contratos, sendo 2417 o total de

alunos matriculados, com valores recebidos na ordem de U$ 4.560.000,00 O número

de cancelamento foi de 1648 alunos, e os valores a serem reembolsados seriam de

U$ 2.636.800,00, enquanto os valores existentes em caixa atingiam U$

1.712.000,00..Os valores a serem gastos com alunos que viajariam totalizavam U$

461.000,00.

Os resultados mostraram que a empresa tinha disponível um valor de U$

1.251.000,00 para efetuar uma devolução total de U$ 2.636.800,00, porém,

dispunha de 30 dias (prazo contratual) para levantar um total de U$ 1.385.800,00.

No entanto, além dessa situação, existia outro agravante: a empresa apresentava

uma despesa fixa de R$: 500.000,00 por mês e desde 11 de setembro de 2001, data

em que ocorreu o atentado, até 30 de setembro desse mesmo ano, a empresa não

tinha efetuado uma única venda.

Marcelo e Cláudio passavam horas pensando o que fazer, sem chegar a

nenhuma solução. Os dias passavam e os gerentes regionais ligavam para saber

quando receberiam os valores para devolver aos alunos. Marcelo, sem saber

exatamente o que fazer, procurou seu Professor de Administração Financeira, no

sentido de fornecer “um olhar sobre a situação da empresa” e, muito especialmente,

para dar um parecer sobre o que exatamente poderia ser feito. O diálogo mantido

entre o professor de Administração Financeira e Marcelo respalda-se no seguinte:

- P. É, Marcelo, pelo que eu estou vendo, você não tem muita saída não.

- M. Como assim, Professor?

- P. Bem, talvez, você ache chato o que eu vou dizer, mas eu não consigo

ver outra saída.

- M. Que saída?

57

- P. Você acompanhou o caso da Soletur? Decretou falência. É uma pena,

mas é um motivo de força maior. Você coloca esse dinheiro em caixa

para fora da empresa, decreta falência e não paga a ninguém.

- M. Eu pelo menos quero embarcar aqueles que estão com tudo pronto

para ir.

- P. Isso você pode fazer.

- M. Mas, professor, é o meu sonho de todos estes anos? De fazer

diferença na vida das pessoas? Onde fica isso tudo? Eu não quero fazer

outra coisa na vida, professor!

- P. Marcelo, não é culpa sua, meu filho. Não foi você que pediu para que

acontecessem aqueles atentados terroristas.

- M. Eu sei, eu sei, mas então a empresa acaba?

- P. Ué, isso é parte da vida. Na vida tudo tem um início e um fim.

- M. Mas é meu projeto de vida, professor!

- P. Você tem garantias para levantar estes valores junto a um banco,

Marcelo?

- M. Não professor, infelizmente não.

- P. E você acha que algum banco vai emprestar dinheiro para uma

empresa de seu ramo em um momento como este?

- M. Não sei.

- P. Qual é a sua venda diária histórica nesta época do ano?

- M. No Brasil, uma média de 100 intercâmbios por dia.

- P. E quantas matrículas você está fechando?

- M. Nenhuma, professor. Os olhos de Marcelo ficaram marejados [...]

- P. Força, Marcelo, isso é assim mesmo, meu filho. Não é culpa sua!

Marcelo levantou-se cabisbaixo, saiu da Faculdade atemorizado, andou a pé

até o escritório de sua propriedade. O mundo parecia ter desabado e a impressão

que teve é que seus sonhos haviam caído por terra. O ato é que nem raciocinar

conseguia frente ao iminente problema. Entretanto, sentou-se em sua mesa e pôs-

se a elaborar uma retrospectiva dos anos que passou trabalhando na empresa. Em

uma retrospectiva, lembrou-se do período inicial, das dificuldades, do sonho em

realizar tal propósito e da diferença que também procurou realizar na vida das

pessoas. Daí enxergava um resultado apenas: como iria deixar várias pessoas sem

58

receber esses valores de volta? Como poderia controlar o mundo? Qual sua

responsabilidade nesse acontecimento?

O relógio marcava dez minutos passados da meia noite quando Marcelo

telefonou para sua namorada e a convidou para ir para Porto de Galinhas, em

Pernambuco. Ela, insistentemente, quis saber por que e Marcelo explicou que não

estava vendo saída para seu impasse, principalmente, pelo fato da conversa que

havia tido com o Professor de Administração Financeira. Não sabia se continuava

lutando pelo seu sonho ou se seguiria o caminho da Soletur e pediria falência.

Eis a questão: pedir falência e acabar com o sonho de adolescência ou

correr atrás de uma solução para manter o sonho vivo?

A empresa era um propósito de sua vida. Entretanto, não conseguiria

empréstimo bancário naquele momento e, embora conseguisse o mercado de

viagens internacionais, estava completamente paralisado, impossibilitando gerar

capital para pagar as instituições financeiras. Se a falência fosse decretada, ainda

ficaria com um capital de quase U$: 2.000.000,00, possibilitando recomeçar a vida e

mesmo outra empresa. Porém, o que fazer?

Mas qual a melhor decisão para Marcelo e por quê? A resposta deve estar

embasada em toda a teoria do empreendedorismo vista nesta dissertação até o

momento.

5.4 A RESOLUÇÃO DO CASO

Naquele momento da história da organização, não havia nada que pudesse

ser feito. Os bancos não emprestariam valores numerosos para uma empresa do

ramo. Além disso, não poderia contar com empréstimos internacionais em função de

todos os problemas que pairavam sobre o ramo da interculturalidade em todo o

mundo.

Os noticiários internacionais não falavam em outra coisa, senão o assunto

sobre a queda das torres gêmeas. Havia previsão de que novos ataques terroristas

ocorreriam em breve. O mundo estava em pânico e não se sabia o que fazer.

Marcelo e Cláudio, depois de muito refletirem sobre a história dos jovens

empreendedores e sobre a história da empresa, sobre o que haviam construído

59

naqueles anos, resolveram continuar lutando com os recursos que tinham em mãos.

Contrataram um escritório de advocacia de alto padrão e o grupo de advogados

juntamente com Marcelo viajou para todo o Brasil, para conversar com cada aluno e

seus pais pessoalmente.

Antes do início da viagem efetuaram diversos estudos sobre o perfil de cada

cidade e região para conhecer a cultura de negociação de cada região. A jornada

teve início com a cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil, estendendo-se

para o restante do país.

Marcelo ausentou-se de Curitiba por um período que perdurou por mais de

dois meses para conversar com cada aluno. Porém, não contou com a possibilidade

de não ser escutado por algum deles, seus respectivos pais e/ou parentes e assim o

fato ocorreu.

Marcelo contou sua história desde os primeiros dias, desde o momento em

que iniciou as atividades até o sonho de intercambista, em relação à World Study e

todos os momentos pelos quais a organização estava passando naquele momento.

Com sentimento sincero, Marcelo fez questão de olhar para cada pessoa que havia

entrado no mesmo sonho, de maneira direta ou indireta, fixamente, “olho no olho”,

procurando mostrar, de fato, para todos os envolvidos que a verdadeira intenção da

empresa seria não deixar nenhum aluno sem embarcar ou ter seu valor investido

devolvido.

Em meio a muito diálogo, visitas, desconfianças, longas explicações,

colocações calorosas, principalmente, porque a proposta da World Study era

começar a devolver os valores a partir de setembro de 2002, ou seja, em 36 meses.

Para surpresa dos meios acadêmicos e da própria empresa 96% dos

envolvidos, após conversar com Marcelo autorizavam os advogados a redigir o

contrato personalizado e aceitavam a proposta.

Nesse contexto, após visitar o Brasil inteiro, Marcelo chega a casa com a

sensação de ter vencido uma batalha, com a sensação de que a empresa havia

renascido. Porém, Marcelo não imaginava que os alunos e os pais (clientes) da

World Study eram tão maravilhosos quanto se mostraram naquele momento.

Durante os 36 meses que passaram, Marcelo entrou em contato

constantemente com os familiares. No começo, o diálogo era mais distante. Quando

os pagamentos iniciaram tudo tornou-se mais fácil. À medida em que os familiares

recebiam seus valores de volta , sentiam-me mais à vontade com Marcelo ao

60

telefone. O processo começou a se inverter e, de vez em quando algumas famílias

ligavam para Curitiba para dar um simples “alô” para Marcelo.

Com o passar do tempo algumas pessoas se dirigiam aos escritórios da

World Study, ao serem indagadas como chegaram à empresa, descobria-se que

haviam sido indicadas pelos clientes que estavam no plano de devolução parceira,

nome que a World Study deu ao programa, plano este que cada um abriu mão de

parte. Parceira porque a empresa continuava a existir graças ao entendimento

daquele grupo de pessoas. Marcelo não via a negociação como simples negociação,

porém, via muito mais longe. Entendia que houvera parceria para praticar o

ganha/ganha. Quando passava por uma das cidades onde havia escritórios da

empresa jamais deixava de telefonar para seus amigos parceiros. No final, em um

prazo de menos de 36 meses, todos receberam os valores prometidos. No início de

2006, cada um dos alunos recebeu uma carta da empresa com o seguinte teor:

Você foi fundamental em nossa vida. Obrigado por ter aderido ao Programa Devolução Parceira. Sem seu entendimento e cooperação não saberíamos dizer se nossa organização ainda existiria. Se trabalhamos os últimos três anos para poder devolver os valores que pertenciam a vocês e não a nós, não nos custa trabalharmos um pouco mais para oferecer-lhes um presente, singelo, simples, mas com um significado muito grande para o nosso relacionamento. A World Study neste momento lhe entrega uma carta de crédito com U$: 300,00 (Trezentos dólares) de desconto para qualquer um dos nossos programas bem como um ticket aberto de uma viagem nacional partindo de São Paulo para qualquer ponto do país, ida e volta, como uma forma de agradecê-lhe pela parceria, suporte, entendimento e confiança. Isso é o mínimo que uma organização séria e comprometida com sua missão e propósito no mercado deve fazer.

Assim o caso foi finalizado. Além de conseguir solucionar o problema os

clientes foram surpreendidos com um presente ou bonificação. Um dado importante

é que em dezembro de 2006 quase 70% dos alunos já tinham voltado a fazer algum

tipo de viagem pela empresa World Study, que certamente mostrou o

restabelecimento da confiança conquistada.

5.5 NOTAS DE ENSINO

A ferramenta estudo de caso para ensino World Study foi escrita nesta

61

dissertação para ser utilizada nas disciplinas de Empreendedorismo. De maneira

geral, permitiu que perguntas diretas que abordassem praticamente toda a Teoria de

Empreendedorismo fossem abordadas.

O caso foi utilizado,,aplicado e discutido em quatro turmas de Pós-

graduação. A elaboração da nota de ensino serve para que outro professor possa

fazer uso do mesmo caso e registrar sua experiência com o caso. É um trabalho que

não tem fim.

5.6 ANÁLISE DO CASO WORLD STUDY DE ACORDO COM A TEORIA PARA

ELABORAÇÃO DE CASOS

Segundo Nascimento (2004), um estudo de caso para ensino de

excelência deve, necessariamente:

- Ser um caso que não represente determinado comentário de situação

específica; (NÃO PODE SER UM SIMPLES COMENTÁRIO);

- Não apresentar conclusão alguma que possa ser fonte geradora de

dúvida ou curiosidade; (A CONCLUSÃO TEM QUE SER CLARA);

- Não incluir, em hipótese alguma, conclusões ou opiniões pessoais;

(QUANDO O AUTOR FOR DIFERENTE DO PROTAGONISTA).

- Não recomendar nenhum tipo de ação; (OK).

- Iniciar de forma generalizada e introduzir especificidades no decorrer de

sua apresentação; (OK).

- Ser escrito sempre no tempo passado; (OK).

- Ter introdução e fechamento diretamente ligado aos objetivos e questões

propostas; (OK).

- Situar o leitor em termos de tempo e espaço; (OK).

- Apresentar de maneira cronológica o protagonista, a empresa, o setor, o

ambiente e o contexto em que estão inseridos; (OK).

- Apresentar situações, dados e opiniões dentro da empresa; (OK).

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- Apresentar anexo que apoie as narrativas; (NESTE CASO, DEVERIA

TER AS PUBLICAÇÕES DE 11 de SETEMBRO E NOTÍCIAS SOBRE AS

CONSEQUÊNCIAS PARA O SETOR DE VIAGENS).

- Ter relevância no contexto da aprendizagem; (OK).

- Produzir diversidade de opiniões, inclusive, geração de conflitos e ideias;

(OK).

- Ter como objetivo ilustrar uma teoria. (OK).

Nota-se, portanto, que o caso atende aos requisitos de elaboração de um

caso para ensino. Publicações referentes ao atentado de 11 de setembro de 2001 e

suas consequências, não apenas para a data, mas as futuras devem ser anexadas

para que o caso fique completo.

63

6 CONCLUSÃO

Logo na introdução deste trabalho é registrado que o estudo de caso teve

sua origem em Harvard e hoje é utilizado por inúmeras Universidades de reputação

internacional;

Hashimoto (2004) afirma que o aprendizado se dá de forma menos passiva

e que traz vivências mais próximas da realidade;

Ainda na introdução, registra-se que o SEBRAE utiliza a ferramenta estudo

de casos para ensino para a capacitação de seus técnicos;

Atesta Dornellas (2004) que na disciplina de Empreendedorismo falta o

efetivo envolvimento dos alunos e a identificação destes com casos da vida real;

Diferentemente de Harvard e da Ivey, os objetivos de aprendizagem não têm

sido alcançados na maioria das disciplinas e isso, por si, faz com que não se utilizem

da valorosa ferramenta.

Na justificativa deste trabalho, inicialmente, foi citado Linderman (1926),

quando pesquisou as melhores formas de educar, deixando claro que o sujeito

aprende o que faz e a experiência é mostrada no livro-texto: Adulto Aprendiz;

Malcom Knowles (1970) retoma aos trabalhos de Linderman e da obra The

adult Lerning: A negleted Species (1973) e introduz o termo andragogia, definindo o

a educação de adultos, indo ao encontro das características do estudo de caso para

ensino.

Entusiasticamente, Paulo Freire é quem mais defende o estudo de caso

como ferramenta para ensino. Enquanto renomado cientista, voltado as questões da

educação, afirma que não há aprendizagem se não houver a participação entre

educador-educando, onde ambos discutam e construam conhecimentos por meio de

ferramentas que conduzam o aluno à aprendizagem.

Freire reafirma que quando o aluno tem liberdade de expressão e de

questionamento, apega-se mais à aula e faz questão de participar, criando um clima

de respeito mútuo. A obra de Paulo Freire tornou-se tema central na formação de

professores o que faz concluir que tamanha é a importância desta ferramenta.

Na fundamentação teórica fica evidente o histórico sobre a real importância

da Administração e a atual realidade das empresas, onde há a demanda constante

do incremento de profissionais que dispõem de criatividade e capacidade de

64

inovação (que estão ligadas à capacidade de pensar) e liderança, o que também

induz a concluir a importância do estudo de caso como ferramenta para capacitar

novos empreendedores.

Por fim, conclui-se que a importância desta ferramenta é enorme e, uma vez

aplicada em instituições de ensino, especialmente em IES, fará o grande diferencial

e educará adultos tal como devem ser educados, preparando-os, simultaneamente,

para o enfrentamento da realidade do século XXI. Por meio desta ferramenta, fica

evidente o fato de que o aluno será o reprodutor do conhecimento. Ela se apresenta

como uma alternativa real e assertiva para o início de mudança de mentalidade

dentro das IES no Brasil.

65

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho cumpre o objetivo de avaliar a ferramenta de estudo de casos

para ensino de administração. Entretanto, para que seja mais eficiente e eficaz ele

poderia ser aproveitado para a implantação da ferramenta dentro de uma IES com

testes específicos de medição de eficácia, fazendo as devidas correções e

construindo um processo de ensino-aprendizagem muito mais eficaz e gradativo.

66

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