Marcadores Discursivos
-
Upload
monica-vieira -
Category
Documents
-
view
33 -
download
0
description
Transcript of Marcadores Discursivos
1
Marcadores Discursivos: definição, forma e função
IELP II – 08/12/14
Marcuschi (1991), Castilho (2010),
Risso et al. (2006),
Risso (2006), Urbano (2006),
Simões (1997)
Profa. Verena Kewitz
Introdução
• assim, por exemplo, então, né?, mas, quer dizer,
agora, fala aí, sei lá, sabe?, já
• QUESTÕES:
1. Como podemos identificar os MDs ?
2. Como podemos classificá-los ?
3. Que funções cumprem essas expressões na construção do texto falado ?
2
Marcuschi (1991)
� Num mesmo trecho de um texto falado, aparecem
vários marcadores com funções e posições
diferentes: "O mais comum é coocorrerem vários tipos
de recurso", como pausa, marcador verbal, mudança
de tom de voz.
� Isso demonstra que a língua (especialmente na sua
modalidade falada) é multissistêmica (cf. Castilho
2010), opera por estímulos e impulsos simultâneos,
dinâmicos, não-linearmente, mas
multidimensionalmente. E os elementos e fenômenos
linguísticos mostram sua faceta polifuncional.
Classificação (Marcuschi 1991)
usa-se muito marcador; o cara foi preso; dizem
que...; pode ser que...; detesto isso, a menos que
esteja errado...; suponho, espero, acho que...;
presumivelmente, certamente; fiz bem, não fiz? etc.
(f) MD de abrandamento / modalização
uh-hun, claro, certo etc.ué, não, de jeito nenhum, isso não etc.
(e) MD de concordância e discordância
quanto a isso, agora que você tocou nesse assunto, sobre tal coisa etc.
(d) MD de armação de quadro tópico
né? viu? é isso aí, o que vocês acham? etc.(c) MD de saída ou entrega de turno
viu? entende? tá certo? né? em resumo... etc.(b) MD de sustentação de turno
olha, bom, então, em relação a isso... etc.(a) MD de tomada de turno
3
Castilho (2010)
• Quando escrevemos um texto, precisamos de recursos que articulam as idéias, as sentenças. Que recursos são esses ?
• Na conversação, as unidades devem obedecer princípios comunicativos e não (exclusivamente) sintáticos, para sua organização. Para isso, fazemos uso de articulares discursivos, chamados de Marcadores Discursivos (MD). Os critérios de definição e classificação variambastante na literatura.
Critérios (Castilho 2010)
• sintaticamente independentes do verbo
• compostos por um ou mais itens lexicais ou ainda itens
não lexicais
• funcionam no monitoramento da conversação e na
organização do texto
• podem ocorrer no início, no meio ou no fim de unidades
que estamos analisando (turnos, pares adjacentes,
UDs etc.)
• ainda que não tenham um sentido que afete o todo do
tópico discursivo em desenvolvimento, são essenciais
na interação. Sem eles, um texto oral fica incoerente, monótono e desarticulado.
4
Classes (Castilho 2010)
• Marcadores prosódicos: alongamentos, pausas; mudança na tessitura da voz e da velocidade da fala [anunciando os parênteses] etc.
• Marcadores não-lexicais: expressões hesitativas ah, eh; outras com valor distinto como ih, ué, hmm, afff etc.
• Marcadores lexicais: agora, então, olha, sabe etc.
• Q = quais itens podem ser candidatos a MDs ? A resposta a essa pergunta vai depender dos critérios que adotarmos, mas podemos dizer que tem de ser itens multifuncionais, dentre eles os elementos fóricose dêiticos de tempo e lugar (aí, daí, agora, então, isso, é isso aí etc.), que especificam o tempo e o lugar do e no discurso, entre outros elementos.
Distribuição – Funções e Tipos (Castilho 2010)
• início: então... a prova foi fácil...
• meio: a prova digamos assim foi fácil...
• final: a prova não foi difícil sabe?________________________________________________
• marcadores orientados para os interlocutores: como você sabe, entende?, escuta...vem cá, olha etc.
= marcadores pragmáticos ou interpessoais
• marcadores orientados para o texto: é o seguinte, por exemplo, e por falar em..., corta essa, de certa forma, por assim dizer, e tem mais..., já, agora etc. = marcadores textuais ou ideacionais
5
Traços definidores dos Marcadores Discursivos(Risso/Silva/Urbano 2006)
• O conjunto de MD vai se tornando cada vez mais amorfo e heterogêneo, ao agregarem-se novos itens (que vão surgindo com certa frequência)
• Na dinâmica das relações textuais, dificilmente um MD exerce uma única função em caráter permanente e absoluto
• Os dados foram analisados de acordo com algumas variáveis, consideradas pela frequência e regularidade com que ocorrem no corpus do NURC (anos 60/70). Os autores propõem traços básicos que identifiquem o estatuto dos MD.
Traços definidores dos Marcadores Discursivos
(Risso/Silva/Urbano 2006)
Quando o MD desempenha ou não os
papéis de sequenciador do tópico
(estabelecendo aberturas, retomadas ou
fechamentos = 47,8%) ou como
sequenciadores frasais (unindo orações
ou segmentos internos = 5,1%) ou ainda
como não-sequenciador (47%).
(2) articulação
de segmentos
no discurso
Frequência com que ocorrem – 78% ocorrem + de 10 vezes.
(1) padrão de recorrência
6
Traços definidores dos Marcadores Discursivos(Risso/Silva/Urbano 2006)
Grande parte dos MDs não integram o conteúdo
proposicional do enunciado (exterior ao conteúdo =
91,8%).
(4) relação
com o
conteúdo
proposicional
Orientação do ouvinte e do falante, além do envolvimento
recíproco dos interlocutores.
(i) Basicamente orientadora = 37,5%, corresponde à
busca de aprovação discursiva (certo? entendeu?),
monitoramento da conversa (uhn uhn), envolvimento
interpessoal (digamos).
(ii) Secundariamente orientadora = 44,7%, corresponde
a manifestações pessoais (acho, bom).
(iii) Fragilmente orientadora = 17,9%, corresponde à
realização de tarefas comuns entre os interlocutores.
(3) orientação
da interação
Traços definidores dos Marcadores Discursivos
(Risso/Silva/Urbano 2006)
(i) sintaticamente independentes (86,9%)
(ii) sintaticamente dependentes (13,1%)
(6) relação
sintática
com a
estrutura
gramatical
(i) totalmente transparente (sentido lexical = em estado de
dicionário = 36%. Exs. agora e então)
(ii) parcialmente transparente (=53,4%. Exs. bom e olha)
(iii) opaco (=2%).
No espaço discursivo, determinados itens apresentam
graus diferentes de sentido original (estado de dicionário),
podendo cristalizar-se, tornar-se estereótipo etc. Casos que
não se enquadram nessa classificação são os itens não
lexicalizados, como uhn uhn, éh etc.
(5)
transparên-
cia
semântica
7
Traços definidores dos Marcadores Discursivos
(Risso/Silva/Urbano 2006)
com ou sem marcação prosódica = 68,9% e
31,1%, respectivamente.
Podem vir marcados por pausas, abaixamento
da voz, correspondendo a uma variação
melódica. Exs.: agora, então, já etc.
(8) demar-cação
prosódica
(i) forma única (49,2%)
(ii) forma variante (50,8%)
As duas formas ocorrem com a mesma frequência, o que não revela grande relevância, considerando a classificação desses autores. Exemplos: entende? entendeu? olha, olhe, não é? né? etc.
(7)
apresentação
formal
Traços definidores dos Marcadores Discursivos
(Risso/Silva/Urbano 2006)
Os resultados mostram que 96,2% das ocorrências
são dependentes do conteúdo proposicional do
enunciado, ou seja, por si próprios, os MDs não são
portadores de conteúdo proposicional, cumprindo mais
outros papéis (orientação dos interlocutores,
enquadramento tópico etc.).
(10) autonomia comunicativa
Grande parte dos MDs têm até 3 sílabas tônicas(96,7%), o restante apresenta mais de três sílabas
tônicas.
Há segmentos fônicos não lexicalizados que ocorrem o tempo todo (uhn-uhn); conceito de delimitação de palavras (sobretudo quanto se trata de LF) é sempre polêmico, a exemplo de como se falam pode fazer, acho que, diz que – ['p�fa'ze]; [a�ki]; [diski].
(9) massa
fônica
8
resumindo...
• MD prototípicos: olha, sabe?, bom, éh, entende? tá?, quer dizer, então, certo etc.
• MD não prototípicos: nós vamos encontrar,
está claro até aqui?, por sinal, eu tenho a impressão de que, eu continuo achando que, justamente, logicamente, exatamente etc.
resumindo...
• Alguns MD podem passar por processo de
estratificação (morfossintática e semântica), da
construção mais elaborada a um estágio de forte
redução e cristalização:
O meu discurso está claro até aqui?
Está claro isso até aqui?
Está claro até aqui?
Está claro?
Claro? / Tá?
9
Simplificando...
� MD basicamente
sequenciadores (Risso 2006)
� MD basicamente interativos
(Urbano 2006)
MDs sequenciadores (Risso 2006)
� agora, então, depois, aí, mas, bem, bom, enfim, finalmente, quer dizer, por exemplo, assim, primeiro ponto... segundo..., etc. e tal etc. ou esses itens conjugados
� atuam no amarramento textual das porções de informação progressivamente liberadas ao longo da situação comunicativa e, simultaneamente, no encaminhamento de perspectivas assumidas em relação ao assunto.
� atuam na sequenciação tópica, i.e. são articuladores tópicos
� Análise de (i) agora, (ii) então e (iii) bom, bem, olha, ah
10
Agora
(1) agora eu assumi também uma secretaria da APM [NURC]
(1a) Agora é que assumi uma secretaria...
(1b) Foi agora que assumi...
(2) agora:: o Luís desde pequeno gosta de história
(2a) * É agora que o Luís desde pequeno gosta...
(2b) * Foi agora que o Luís desde pequeno...
���� Agora MD não responde à pergunta quando / desde
quando? – e não é parafraseável por atualmente, neste
momento.
Agora: articulador de estruturação tópica
11
Agora: articulador de estruturação tópica
Então
(1) Em 1989, o TSE ocultou fatos que prejudicavam Collor.
Tribunal só divulgou inquérito contra o então candidato após a eleição. [Folha de S.Paulo, 1992]
(2) Até então, ninguém se manifestou.
(3) ... os MDs são portanto articuladores textuais... entãovamos terminar por aqui hoje retomando neste ponto na
próxima aula...
� Então MD não é parafraseável por naquele tempo
(advérbio de tempo)
12
Então: conector frasal
(1) Você coloca a farinha... junta os ovos... e depois
então adiciona o açúcar o leite e bate tudo junto... então coloca numa assadeira... [sequencialidade temporal dos eventos]
(2) Buda já dizia isso já dizia isso também... entãoisso não é novidade pra ninguém...[NURC] [conclusão ou resultado entre fatos/argumentos]
(3) Vamos fazer isso agora ou então faremos sóamanhã [contraste entre alternativas excludentes]
Então: articulador textual-interativo
O MD agora faz o discurso avançar para algo novo, com
força de ressalva, contraposição, reordenação de enfoque
ou desacordo referente a uma situação colocada anteriormente; já o MD então conduz o texto na mesma
direção antecedente (Risso 2006: 456).
xxxxxxxxxxxxxxxx agora yyyyyyyyyyyyyy
xxxxxxxxxxxxxxxxxx então yyyyyyyyyyyyy
13
Então: articulador textual-interativo
(1) ... eles acham que o melhor estágio que eles fazem (...) porque Medicina você sabe que é prática... não é só teoria... então a aula prática é muito mais interessante... [encaminhamento de tópico]
(2) mas acho válido você botar a criança o mais cedo possível na escola (...) como eu não tinha condições de ensinar muita coisa a ela (...) [INF relata sua experiência em torno desse assunto] então... eu acho válido botar a criança o mais cedo possível na escola [fechamento de tópico]
(3) ... prejudica eu acho que um pouco nesse... nessa parte o estudo a não ser que seja uma educação rigorosa { (...) agora em agosto estamos com um problema grande... seis horas todos têm que:: jantar... } então há um eles escolhem os programas que querem ver [retomada tópica depois de parêntese]
Então: articulador textual-interativo
� Gestão de turnos:
L2 eu tinha consultório aqui na avenida Rio Branco ... e o meu telefone havia enguiçado...L1 mas me diga uma coisa... você ( )
[L2 então... eu de tanto pedir...L1 hein...L2 à telefônica para vir preparar...
14
Bom, bem, olha, ah: prefaciadores
(1)
D1 seria interessante que você
descrevesse... o senhor também viajou no
Brasil?
L1 já... já...
D1 descrevesse um: Brasil ( )
L1 bom eu...
D1 ( )
L1 olha eu... eu... saí daqui... eu viajei...
Bom, bem, olha, ah: prefaciadores
(2) L2 é que as nossas ruas não estão preparadas... para... automóveis... veículos... particulares...
L1 ah:... tem alguns carros...
(3) Doc daí é que vem minha pergunta por que que: o experimento em laboratório... émais válido do que experimento in loco?
Inf bem... o de laboratório é mais válido...
15
Bom, bem, olha, ah: prefaciadores
� Perguntas fechadas “Você veio ontem?”suscitam em geral respostas mais breves: “sim” ou “não”.
� Perguntas abertas “o que/qual, quem, quantos, sobre tal coisa...?” propiciam desenvolvimento do tópico.
� Os MD bom, bem, olha, ah: distribuem-se igualmente nas respostas a esses dois tipos de pergunta.
Bom, bem, olha, ah: prefaciadores
(1) Doc – o senhor nunca cozinhou nada?
Inf – olha... eu me limito a fazer um bom churrasco... mas eu posso falar...
(2) Doc – qual é digamos assim o esporte que você:: aconselharia ao tipo de criança conforme... os primeiros anos do curso primário?
Inf – bom qualquer tipo de esporte é válido... viu?
16
Mas... marcador discursivo?
� (advérbio lat.) magis ���� (port.) mais
� Estabelecer comparações de quantidade e de qualidade: Ele tem mais livros do que o amigo
� Inclusão de elementos num conjunto: Precisamos de mais professores na Letras
mas
� Já no latim, magis era ativado em construções com sed
(“porém”), transferindo-lhe o valor adversativo.
� Processo de metonímia: não + mais “não quero mais”
[+negação] mais
� mas conjunção adversativa
[+inclusão] [+contrajunção]
17
mas inclusivo
1) a gente vive de motorista o dia inteiro mas o dia
inteiro (D2 SP 360: 94)
2) tem um choque uma diferença uma depressão um
vazio... sabe?... uma coisa incrível mesmo...mas
incrível (D2 RJ 147: 188)
3) é muito difícil (...) mas de um modo geral é difícil...
sabe ? (D2 RJ 147: 120)
4) nós temos tantos amigos desintegrados (...) mas nós
só temos amigos assim de família desestruturada (D2
RJ 147: 167)
mas contrajuntivo, unindo segmentos negativos
1) agora caminha por... talvez não por caminho direto mas por caminhos indiretos (D2 REC 5: 101)
2) eu acho bonito tudo aquilo como paisagem... assim... mas como meio de vida eu não me adaptaria a isso... eu gosto de ficar em lugares isolados por algum tempo... mas não por muito tempo (D2 RJ 158: 86-88)
3) a programação... havia sido planejada...mas não deu certo (D2 SP 360: 8)
4) talvez os tempos não fossem os mesmos... mas ela conseguiu (D2 POA 291: 207)
18
mas contrajuntivo em sentenças afirmativas
1) tem Ituaçu... que é uma cidadezinha lá... que inclusive oferece hospedagem... mas me disseram que é uma miséria... (D2 SSA 98: 244)
2) eu acho por exemplo cebola uma coisa imprescindível... masacho horrível o gosto puro da cebola (D2 POA 291: 133)
3) a Fazenda Sampaio... (...) pertence ao Banco do Brasil (...) mas ela é aberta ao público...(D2 RJ 158: 205)
4) (o garoto) é mais novo que eu... mas tem uma compreensão..
uma visão fora do comum (D2 RJ 147: 161)
5) as mais velhas estão entrando na adolescência mas são muito acomodadas (D2 SP 360: 41)
mas... resumindo
Mas ganha o valor de contrajunção por conta das seguintes
propriedades:
(a) internalização da negação por um processo metonímico
(b) o valor contrajuntivo é derivado da ocorrência de masem contextos de negação (latim vulgar); daí mas >
operador argumentativo de contrajunção – negando a
expectativa contida no termo anterior
(c) operador de inclusão : escopo à direita (adiciona)
operador de contrajunção : espoco à esquerda (quebra
a expectativa criado pelo primeiro termo/segmento)
19
MD basicamente
interacionais
IELPII – 10/12/14
Urbano (2006)
Profa. Verena Kewitz
MDs interacionais
� Turnos inseridos por esses MDs: ah, sei, certo, é, claro, verdade, entendo, tá, uh-hun etc.
L1 – uma vez eu fui pra praia...
[
L2 – sei...[
L1 – e aí eu vi um cara...
20
MD interacionais
� Fáticos de natureza imperativa ou
exclamativa: olha! veja!
� Fáticos de natureza interrogativa: né?
sabe? entende? tá? viu? etc.
� orientados para o ouvinte
MD interacionais
L1 três es/ vão para o colégio e dois vão para uma...um cursinho...de matemática...e o menor então esses cinco saem...e vão...para Pinheiros...
L2 uhn uhn...
L1 quando não é éh não é dia do meu marido ir para a faculdade...eu fico por Pinheiros e volto para casa agora em dois dias da semana...eu levo faculdade também...não é?
[
L2 ahn ahn
L1 e::depois volto para casa mas chego já apronto o outro para ir para a escola...o menorzinho...e fico na::quelas lides domésticas
[
L2 ahn ahn
L1 e::uma coisa e outra...e::...agora à tarde vão dois para a escola mas...tem ativi/ os que ficam em casa têm atividades extras...
L2 uhn uhn
[
L1 então é um corre-corre realmente...não é?...agora eu assumi também... uma::secretaria de APM...lá do colégio das crianças
[
L2 certo
21
SimõesSimõesSimõesSimões (1997)
� Marcadores estruturadores do discurso oral
1. De gestão de turno
2. De gestão de tópico
� Marcadores modalizadores ou ideacionais
1. Epistêmicos
2. Deônticos
3. Afetivos