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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA MAPEAMENTO DAS MANCHAS DE INUNDAÇÃO PARA A CIDADE DE MATIAS BARBOSA - MG Tábatha Carvalho da Silva Juiz de Fora 2016

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL E SANITÁRIA

MAPEAMENTO DAS MANCHAS DE

INUNDAÇÃO PARA A CIDADE DE MATIAS BARBOSA - MG

Tábatha Carvalho da Silva

Juiz de Fora 2016

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MAPEAMENTO DAS MANCHAS DE INUNDAÇÃO PARA A CIDADE DE MATIAS

BARBOSA - MG

Tábatha Carvalho da Silva

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Tábatha Carvalho da Silva

MAPEAMENTO DAS MANCHAS DE INUNDAÇÃO PARA A CIDADE DE MATIAS

BARBOSA - MG

Trabalho Final de Curso apresentado ao

Colegiado do Curso de Engenharia

Ambiental e Sanitária da Universidade

Federal de Juiz de Fora, como requisito

parcial à obtenção do título de

Engenheiro Ambiental e Sanitarista.

Área de concentração: Saneamento

Básico

Linha de pesquisa: Drenagem Urbana

Orientador: Fabiano César Tosetti Leal

Coorientador: Celso Bandeira de Melo

Ribeiro

Juiz de Fora

Faculdade de Engenharia da UFJF

2016

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“MAPEAMENTO DAS MANCHAS DE INUNDAÇÃO PARA A CIDADE DE

MATIAS BARBOSA - MG”

TÁBATHA CARVALHO DA SILVA

Trabalho Final de Curso submetido à banca examinadora constituída de acordo com o

artigo 9° da Resolução CCESA 4, de 9 de abril de 2012, estabelecida pelo Colegiado do

Curso de Engenharia Sanitária e Ambiental, como requisito parcial à obtenção do título de

Engenheiro Sanitarista e Ambiental.

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AGRADECIMENTOS

Obrigada aos professores Fabiano e Celso por terem me aceitado nesta jornada que foi o

TCC: quando crescer, quero ser que nem vocês!

Obrigada à administração de Matias Barbosa pela ajuda no trabalho, foi uma grande

gentileza que muito contribuiu para este “parto”.

Obrigada ao professor Carlos Alberto, por ter me dado uma forcinha logo no comecinho

do trabalho.

Obrigada aos demais professores do curso, amigos, colegas e funcionários. Aprendi com

vocês e quero levar esse experiência para o resto da minha vida.

Obrigada pai e irmã, por sempre me darem apoio. Menção honrosa para o resto da família

que me deu força. Et merci beaucoup, Kevin.

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RESUMO

O homem sempre procurou ocupar as margens dos rios, de modo a facilitar a captação de água para

consumo e permitir um melhor escoamento de seus dejetos. Se no passado o homem facilmente se

adaptava ao ciclo hidrológico, o mesmo não se pode dizer da atual relação homem-água-cidade. A

ocupação e densificação urbana forçou as habitações para perto do rio, sem que as medidas de

proteção contra enchentes e inundações fossem tomadas nas mesmas velocidades. Uma vez a

ocupação urbana já consolidada, a regularização da ocupação do solo é de difícil aplicação. Se a

realocação daquela população em área de risco é um assunto delicado, cabe aos órgãos responsáveis

então prever as consequências de eventos extremos e a partir desta experiência, prever planos para

a gerência de situações de risco, a fim de minimizar problemas sanitários, materiais e risco à

população. A modelagem de inundações e enchentes é uma ferramenta útil neste sentido, pois apesar

de fornecer dados sintéticos, permite ao usuário estabelecer um limite físico, onde este poderá focar

as operações de emergências ou mesmo a regularização da área, através de planos de drenagem

urbana, por exemplo. Neste sentido, o presente estudo estabeleceu as manchas de inundações na

cidade de Matias Barbosa, dando continuidade ao trabalho de final de curso “Diagnostico preliminar

para o Plano Diretor de Drenagem Urbana no município de Matias Barbosa – MG”. Foram geradas

manchas baseadas em diferentes vazões do Rio Paraibuna, destacando-se certas áreas sensíveis na

cidade e que necessitam de uma maior atenção.

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ABSTRACT

Humankind has always tried to settle on rivers’ banks, in order to facilitate water catchment for

personal use and allow a better flow of organic waste. In the past, mankind easily coped with the

hydrologic cycle, but the current relation among people, water and cities demonstrates that the game

has changed. Human occupation and urban densification had homes get closer to the river, without

protection measures against flood being taken at the same speed. Once human occupation is

consolidated, it is harder to regulate land use. In that case, if the relocation of the population is a

sensitive topic, it falls to the responsible bodies to foresee the consequences of extreme events and,

from this experience, to establish plans to manage risk situations, in order to minimize health

problems, material damage and risks for people. To this end, flood-modeling is a useful tool, as

even though it provides synthetic data, it allows the user to establish a physical borderline where

they can focus on emergency measures, or even on regulating the area through urban draining

schemes, for example. Therefore, the current study has settled the flood map in the city of Matias

Barbosa (Minas Gerais), in continuity to the final course assignment “Preliminary diagnosis for the

Urban Draining Master Plan of the municipality of Matias Barbosa – Minas Gerais”. Those maps

have been generated considering different water flows of the Paraibuna River, highlighting some

sensitive areas in the city craving for more attention.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................................................1

2 OBJETIVO.................................................................................................................................2

2.1 Objetivo geral ......................................................................................................................2

2.2 Objetivos específicos ...........................................................................................................2

3 REVISÃO DE LITERATURA ..................................................................................................3

3.1 Matias Barbosa – breve revisão .........................................................................................24

3.2 Morfologia .........................................................................................................................26

3.3 Drenagem: breve revisão histórica ......................................................................................4

3.4 HEC-RAS ............................................................................................................................6

3.4.1 Erros do modelo ...........................................................................................................7

3.4.2 Erro do coeficiente de rugosidade ................................................................................8

3.4.3 Erro da topografia do terreno .......................................................................................8

3.4.4 Erro de vazão ...............................................................................................................9

3.5 Mapas de inundação ..........................................................................................................10

3.5.1 O que são? ..................................................................................................................10

3.5.2 Construção dos mapas ................................................................................................10

3.5.3 Classificação de mapas ..............................................................................................12

3.6 Base legal e exemplos .......................................................................................................16

3.7 A urbanização e as inundações ..........................................................................................16

3.8 Onde atuar: prevenir as inundações ou suas consequências? ............................................19

3.9 Técnicas alternativas de drenagem ....................................................................................21

4 METODOLOGIA ....................................................................................................................24

4.1 HEC Geo RAS...................................................................................................................27

4.2 HEC RAS ..........................................................................................................................31

4.3 Geração do mapa de inundação .........................................................................................32

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4.3.1 Preparação de dados ...................................................................................................33

4.3.2 Simulação no HEC RAS ............................................................................................34

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ...........................................................................................36

6 CONCLUSÃO .........................................................................................................................47

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .................................................................................................50

ANEXOS .......................................................................................... Erro! Indicador não definido.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 3.1: Localização das estações pluviométricas e fluviométricas da cidade de Matias

Barbosa, instaladas ao longo do Rio Paraibuna .................................................................................4

FIGURA 3.2: Relações entre perigo, risco e vulnerabilidade. .......................................................12

FIGURA 3.3: Diferentes tipos de mapas (A) mapa histórico de inundação; (B) Mancha de

inundação; (C) Profundidade de inundação; (D) Mapa de perigo; (E) Mapa de perigo quantitativo;

(F) Mapa de perdas econômicas. ......................................................................................................13

FIGURA 3.4: Mapa de vulnerabilidade de inundações para o trecho do Rio Paraibuna que corta

Matias Barbosa e Córrego Monte Alegre. Em vermelho, tem-se alto perigo e em amarelo, médio

risco. .................................................................................................................................................14

FIGURA 3.5: População urbana estimada para o ano de 2016, segundo a ONU (2014). O Brasil,

destacado em vermelho, terá aproximadamente 85% de sua população morando em cidades. ......17

FIGURA 3.6: Mecanismos para a gestão integrada de inundação. ................................................19

FIGURA 3.7: Este telhado-horta construído sobre um prédio residencial atende à demanda de 22

famílias de Paris ...............................................................................................................................23

FIGURA 4.1: Localização do município de Matias Barbosa, em vermelho, em relação ao Estado

de Minas Gerais. ..............................................................................................................................24

FIGURA 4.2: Municípios que compõe o Comitê de Bacia do Médio Paraíba do Sul, sendo Matias

Barbosa destacado em vermelho. .....................................................................................................25

FIGURA 4.3: Modelo numérico do terreno, em reamostrado de 15 metros para 1 metro .............26

FIGURA 4.4: Urbanização urbana de Matias Barbosa, concentrada na parte central do Vale ......27

FIGURA 4.5: Esquema da criação da base de dados no ArcGis ....................................................30

FIGURA 4.6: Esquema para criação e execução do projeto de simulação da mancha de inundação

com o programa HEC RAS ..............................................................................................................32

FIGURA 4.7: Esquema para criação do mapa da mancha de inundação com a extensão HEC Geo

RAS ..................................................................................................................................................33

FIGURA 5.1: Incongruências encontradas para a profundidade das inundações. No natal de 2013,

quando a vazão máxima alcançada foi de 155 m3.s-1, a régua localizada no mapa marcou 80

centímetros de água, enquanto a simulação alcançou mais de 20 metros de profundidade. ...........44

FIGURA 5.2: Em rosa está o contorno da mancha de inundação para a simulação de 155 m³.s-1,

enquanto o contorno em vermelho foi feito pelo PAC “gestão de riscos e proposta a desastre”. ...45

FIGURA 5.3: Cachoeira ao final do córrego Monte Alegre, a jusante do córrego São Fidélix. ....46

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FIGURA 6.1: Habitações próximas ao córrego Monte Alegre, evidenciando a ocupação

desordenada. .....................................................................................................................................48

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LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS

APP – Áreas de Preservação Permanente

CBH – Comitê de Bacia Hidrográfica

CEIVAP – Comitê de Integração da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba do Sul

CEMADEN – Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais

HEC RAS – Hydrologic Engineering Centers River Analysis System

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IGAM – Instituto Mineiro de Águas

MNT – Modelo Numérico do Terreno

PAC – Programa de Aceleração do Crescimento

PCH – Pequena Central Hidroelétrica

PD/JF ZN – Plano de Drenagem de Juiz de Fora para a Zona Norte.

PMSB/MB – Plano Municipal de Saneamento Básico de Matias Barbosa.

UFJF – Universidade Federal de Juiz de Fora.

UFV – Universidade Federal de Viçosa

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1 INTRODUÇÃO

O avanço da urbanização no Brasil ocorre, de forma geral, sem controle. As habitações

se espalham conforme as possibilidades socioeconômicas dos habitantes: ricos ou pobres,

eles se instalam naquela localidade que melhor supre suas necessidades e de acordo com

seu poder aquisitivo. Neste ritmo, a impermeabilização do solo ocorre sem levar em

consideração as necessidades de escoamento pluvial e de sua infiltração. Soma-se à estes

fatores as modificações da topografia natural do terreno, que por muitas vezes acaba por

diminuir o tempo de concentração da bacia, além da retificação de rios.

Estes fatores acabam contribuindo para a ocorrência de inundações em eventos pluviais

extremos, ou mesmo para eventos medianos que antes não representavam risco.

Neste contexto, o conhecimento prévio das áreas sensíveis às inundações representa uma

importante ferramenta para que os órgãos responsáveis consigam se preparar: órgãos de

urbanização podem se basear nas manchas de inundação para restringir ou limitar

construções em certas áreas; órgãos de defesa civil podem localizar seus esforços

naquelas regiões mais problemáticas e passíveis de maiores perdas; etc.

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2 OBJETIVO

2.1 Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo geral fornecer informações suplementares para as

políticas públicas de gestão de drenagem urbana para a cidade de Matias Barbosa,

identificando as manchas de inundação para a mesma e algumas diretrizes de atuação em

sua política urbana.

2.2 Objetivos específicos

Obter as vazões máximas para os tempos de retorno de 10, 20, 50, 100 e 500 anos à

partir das equações de regionalização para o Rio Paraibuna;

Correlatar vazões registradas com inundações relatadas na cidade;

Obter as manchas de inundação para tempos de retorno de 10, 20, 50, 100 e 500 anos.

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3 REVISÃO DE LITERATURA

Conforme o Boletim de Qualidade de Aguas fornecido pelo (IGAM, 2015), o parâmetro

coliformes se encontra acima do permitido pela Resolução CONAMA n° 357/2005, de

1000 NMP/100 ml, indicando uma contaminação por esgoto doméstico (TABELA 4.1 –

). As estações de qualidade BS018 e BS024, que estão a montante e jusante da cidade de

Matias Barbosa respectivamente, indicam ultrapassagem deste parâmetro. Esta poluição

pode ser explicada pelo esgoto doméstico dos mais de 500 000 habitantes que estão na

bacia do Rio Paraibuna e que ainda não recebem tratamento adequado em grande parte

de seu volume. Como exemplo, a cidade de Juiz de Fora trata apenas 10% de seu esgoto

doméstico (CESAMA, 2016).

TABELA 3.1 –

Parâmetros em desconformidade dos Rios Paraibuna e Paraíba do Sul. As estações

BS018 e BS024, localizadas à montante e jusante de Matias Barbosa, estão destacadas

em vermelho.

Fonte: (IGAM, 2015), modificado

Uma vez que as águas desta bacia encontram-se poluídas, um processo de cheia e

inundação pode se tornar potencialmente perigoso: vetores e microrganismos

transmissores de doenças, presentes na água, podem acabar atingindo a população,

ocasionando um surto de doenças (DEUTSCH e TASSIN, 2000).

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Há um total de 6 estações de monitoramento pluviométrico na cidade de Matias Barbosa,

Apesar dos dados de todas as estações encontrarem-se disponíveis online, através dos

sites HIDROWEB ou CEMADEN, eles podem não estar disponíveis para download

(casos das estações PCH Paciência e CBA). A localização das estações estão reunidas na

FIGURA 3.1.

Considerando que existem 6 pontos de monitoramento de pluviometria, a densidade de

pluviômetros na região é de 6 pluviômetros/ 158Km², um número considerado acima da

média, segundo a Organização Mundial de Monitoramento Meteorológico, que prevê um

densidade mínima de 1 estação automática para 5.750Km² ou 1 estação convencional para

cada 575Km² em áreas de colina (WMO, 2008).

3.1 Drenagem: breve revisão histórica

Os primeiros sinais de drenagem urbana aparecem na civilização egípcia (3200A.C. –

32A.C.). Devido à intrínseca relação dos egípcios com o rio Nilo e suas inundações. Estes

desenvolveram um sistema de drenagem primitivo, mas eficiente. Canais de derivação e

bacias de estocagem de água foram criados de forma a propiciar a irrigação de áreas mais

FIGURA 3.1: Localização das estações pluviométricas e fluviométricas da cidade de

Matias Barbosa, instaladas ao longo do Rio Paraibuna

Fonte: CEMADEN

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secas, além de permitir o transporte de mercadoria entre as áreas isoladas e o Nilo

(SUBIAS, FIZ e CUESTA, 2013).

Concomitantemente ao surgimento dos canais de drenagem egípcios, os povos

mesopotâmicos (3500 A.C – 2500 A.C.) desenvolveram um sistema rústico, que

mesclava evacuação de dejetos e escoamento de água da chuva. As residências e ruas

possuíam canalizações para a evacuação de rejeitos, carregados por água de chuva ou

água servida, o que não necessariamente era eficiente (COOPER, 2001).

Com os gregos e romanos, surge o conceito de “a solução para poluição é a diluição”

(COOPER, 2001). Os primeiro relatos de uma tecnologia mais avançada de saneamento

datam de 3000 A.C. Durante o período da civilização Minóica, há indícios de que as

cidades gregas já contavam com transporte de água, sistema de coleta de esgoto e proteção

contra inundações. O conhecimento deste povo já era avançado, sendo os responsáveis

pela criação de banheiros com descarga, aos moldes dos banheiros modernos, além disso

as águas servidas dos banhos públicos, prática comum aos gregos, tinham condutos

independentes uns dos outros. Em relação às águas de chuvas, essas eram encaminhadas

para o mesmo sistema de coleta das águas servidas, constituindo então um sistema

unitário.

Entretanto, sabe-se que algumas cidades gregas enfrentavam problemas de

abastecimento de água e existem indícios de coletores de água de chuva, corroborando as

evidência de que essa tipo de água era utilizada para fins menos nobres, como irrigação

(ANGELAKIS, KOUTSOYIANNIS e TCHOBANOGLOUS, 2005).

Um maior desenvolvimento ocorreu com os Romanos (800 A.C. – 450 D.C.), quando os

engenheiros da época desenvolveram a Cloaca Maxima, que servia para o escoamento do

esgoto vindo das casas, além de água da chuva. As cidades romanas eram abastecidas

pelos grandes aquedutos, que culminavam em cisternas privadas ou fontes de

abastecimento públicas. Com a queda do império romano, todo sistema de abastecimento

de água, coleta de esgoto e drenagem entrou em decadência pela falta de manutenção.

Um renascer do saneamento ocorre no século 12. Em Londres, alguns monastérios

implementaram sumidouros rudimentares, mas o resto da cidade não acompanhou tal

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modernidade, visto o episódio conhecido como Great Sink, quando um grande cheiro de

excrementos tomou conta da cidade de Londres, devido à soma de um clima quente e

esgoto não tratado despejado no Tâmisa. Já no século 14, o esgotamento sanitário coletivo

reaparece em Paris, após uma crise do escoamento dos esgoto e do lixo, que eram jogados

na rua (tout à la rue), levando à um estado de calamidade (COOPER, 2001).

Com a Revolução Industrial, o aumento da população nas cidades trouxe consigo a

propagação de doenças. Nestas época, a teoria da transmissão de doenças por ares

impuros estava em voga. Esta teoria era conhecida como teoria miasmática e começou a

se popularizar, embasando os conceitos higienistas de que era necessário limpar os ares

das cidades para se evitar as doenças (COOPER, 2001). É dentro deste período que as

medidas coletivas de saneamento começam a ocorrer.

3.2 HEC RAS

O programa HEC RAS é um software livre, programado pelo Hydrologic Engineer

Center, pertencente ao Departamento do Corpo de Bombeiros dos Estados Unidos. O

cálculo das vazões simuladas é baseado nas Equações de Saint Venant, também

conhecidas como equação de conservação da energia e equação de momento. Uma vez

que esta equação se baseia no movimento unidirecional da massa d’água, ignorando os

movimentos convectivos possíveis, este modelo é considerado como unidimensional

(HEC RAS, 1997; MELO et al, 2013).

Basicamente, existem três tipos de simulação disponíveis: regime permanente, regime

transiente e regime misto. Para o caso de um simulação de regime permanente, esta é

calculada pela equação da continuidade (EQUAÇÃO 3.1), enquanto para os outros dois

a equação escolhida é a equação do momento (Equação 3.2). Independente da metologia

utilizada para o cálculo da vazão, a perda de carga no sistema é calculada através da

equação de Manning (HEC RAS, 2010).

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EQUAÇÃO 3.1: Equação da energia

𝑍2 + 𝑌2 +𝑎2 ∗ 𝑉2

2

2𝑔⁄ = 𝑍1 + 𝑌1 +𝑎1 ∗ 𝑉1

2

2𝑔⁄ + ℎ

EQUAÇÃO 3.2: Equação do momento

𝜕𝑢

𝜕𝑡+ 𝑢

𝜕𝑢

𝜕𝑥+ 𝑔

𝜕ℎ

𝜕𝑥= 𝑔(𝑆𝑜 − 𝑆𝑓)

Na Equação 3.1, “V1,2” representam a velocidade média em duas seções; “α1,2”

representam coeficientes de Coriólis; “Y1,2”representam o nível da linha d’água; “Z1,2”

referem-se à cota do fundo do canal.

Na Equação 3.2, “u” refere-se a velocidade da água; “x” ao deslocamento linear; “h” a

perda de carga; “g” a gravidade, enquanto “S” representam a referência da linha d’água.

Esta equação não será relevante nos estudos posteriores, uma vez que sua utilização

ocorre na simulação unsteady flow, ou seja, regime transiente.

3.2.1 Erros do modelo

O modelo HEC RAS é uma simplificação do complexo sistema hidráulico e hidrológico

que ocorre em um real corpo hídrico. Em particular as condições hidráulicas utilizadas

no presente trabalho, vazão de regime permanente, limita o cálculo da energia entre as

seções como normal depth, ou seja, a declividade do canal e do nível d’água é a mesma.

Segundo o Manual do usuário do HEC RAS (2010), esta opção assume que Froude é igual

a 1 para todo o canal, caracterizando assim uma zona de energia crítica. Entretanto, este

valor não está presente na natureza, principalmente em corpos d’água naturais.

Além desta suposição, a condição normal depth corresponde a um modelo geométrico

homogêneo, onde o nível d’água ocupa apenas metade do canal, calculando assim uma

mesma altura de lâmina d’água para aquela seção. Goodell et al (2006) e Merwade et al

(2008a) ressaltaram que este tipo de suposição pode ocasionar erros na superfície de

inundação simulada, uma vez que um único valor de altura d’água será representando na

célula final do GRID de inundação, sub ou superestimando o resultado final. Além das

simplificações inerentes ao modelo 1D, como condições de contorno fixa, falta de

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deposição de sedimentos, a forma de resolução da equação governante, que é feita de

forma indireta por Newton-Raphson no software HEC RAS (HEC RAS, 2010), pode

apresentar um erro de resolução, inerente ao método (PAPPENBERGER et al., 2005).

3.2.2 Erro do coeficiente de rugosidade

O parâmetro rugosidade está ligado a outros parâmetros e é difícil julgar qual o seu efeito

isoladamente ( BOZZI et al., 2015; BERNADARA et al., 2010; MUKOLWE et al., 2013;

PAPPENBERGER et al., 2005; WOHL, 1998).

Em alguns estudos, ao se avaliar qual a influência no resultado final da modelagem apenas

variando o coeficiente de Manning, percebeu-se que para baixos valores de vazão

utilizados e uma geometria mais retilínea do leito do canal, o coeficiente de Manning

pode ter um peso maior no resultado final (BOZZI et al, 2015; BERNADARA et al, 2010;

MUKOLWE et a., 2013), enquanto Wohl (1998) conclui que o parâmetro rugosidade

pode ser mais significativo para rios com baixa razão largura/profundidade e com

declividade maior que 0,001 m/m. Mukolwe et al (2013) apresentam a rugosidade das

planícies de inundação como aquela de maior peso no erro, uma vez que ao ocorrer a

enchente, a modelagem considera toda a área como um único canal, (SCHUMANN et al,

2008) mostrou uma insensibilidade do modelo à este parâmetro, destacando então a

sinergia entre as diversas incertezas do modelo. Apesar dos erros relacionados ao

coeficiente de rugosidade de Manning e sua difícil quantificação in situ, a calibração e

validação do modelo permitem obter dados satisfatórios no resultado final (PARHI, 2013;

MERWADE, COOK e COONROD, 2008; BERNADARA et al, 2010).

3.2.3 Erro da topografia do terreno

A extração das manchas de inundação no programa HEC RAS se baseia na diferença

entre duas superfícies: a superfície de inundação simulada e o modelo numérico do

terreno (NOMAN, NELSON e ZUNDEL, 2001). A topografia do terreno a ser

monitorada acaba sendo para muitos a principal fonte de erro (COOK e MERWADE,

2009; MERWADE et al, 2008).

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Uma das principais fontes de erro neste parâmetro é o detalhamento do Modelo Numérico

do Terreno a ser utilizado. O HEC RAS permite a inserção do modelo como um TIN ou

como GRID. Ao se inserir o MNT na forma de TIN, ocorre perda de dados, visto que este

arquivo se trata da ligação entre três pontos, o que pode acarretar na perda de cotas

individuais de cada pixel do GRID. O mesmo vale para a saída da superfície de inundação

simulada, que é fornecida em TIN e em seguida convertida em GRID (MERWADE,

COOK e COONROD, 2008).

Em seguida, o tamanho dos pixels do GRID influenciam na acurácia do resultado final.

Diversos estudos apontam que um pixel mais refinado, à exemplo do LIDAR (pixel de 6

m), fornece uma saída muita mais refinada do que um pixel fornecido pelo SRTM (30 m)

(MERWADE, COOK e COONROD, 2008; COOK e MERWADE, 2009; HUNTER et

al, 2007; MERWADE et al, 2008; SCHUMANN et al, 2008, PAPPENBERGER et al.,

2005).

Um outro ponto importante de erro é a geometria da calha do rio. Quanto mais refinado

este, mais adequado à realidade será o resultado final. Melhores resultados são alcançados

quando se usa a batimetria de certas seções integradas ao MNT, podendo se obter até

100% de acurácia na calibração do modelo (COOK e MERWADE, 2009). A

representação da geometria do canal de maneira mais fidedigna possível é de importância

para aqueles canais onde a declividade seja mais heterogênea (MERWADE,

MAIDMENT e GOFF, 2006) ou quando há falta de dados na acuidade da elevação do

terreno (JUNG e MERWADE, 2012). Além disso, ao se traçar as seções, as mesmas

devem ser realizadas com o máximo de cuidado para que todas as feições sejam retratadas

de forma mais realista possível (MERWADE et al, 2008).

3.2.4 Erro de vazão

A maioria das vazões utilizadas em processos de modelagem provem elas mesmas de

outros modelos. Seja obtida através de modelo chuva-vazão ou através de uma simples

regionalização de vazão, a vazão terá influência dos erros inerentes ao método

(PAPPENBERGER et al, 2005). Entretanto, a importância do erro aumenta na mesma

proporção que a vazão, sendo mais significativo para maiores tempo de retorno

(BERNADARA et al, 2010; MERWADE, COOK e COONROD, 2008).

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3.3 Mapas de inundação

3.3.1 O que são?

Mapas de inundação fornecem informações sobre uma ou várias inundações, contendo ao

menos uma das seguintes informações:

Extensão da mancha de inundação

Profundidade da inundação

Velocidade da inundação

Entretanto, o mapa final pode conter apenas as informações das características do evento

ou mesmo ser combinado à outras informações do local, como população atingida, custos

e outros (EXCIMAP, 2007; DE MOEL, VAN ALPHEN e AERTS, 2009). Segundo o

EXCIMAP (2007), a obtenção das características de uma inundação é o passo

fundamental para se construir a política de gestão destes eventos, pois é esta que deverá

guiar decisões como ocupação do solo, investimentos em prevenção e até mesmo qual o

deslocamento prioritário das equipes de resgate.

3.3.2 Construção dos mapas

Em geral, as características da inundação podem ser determinadas a partir da simulação

de dados de saída de modelos pluviométricos; ou de dados reais de vazões, como é o caso

do HEC-RAS (RIBEIRO e LIMA, 2011; FRANÇA e RIBEIRO, 2013).

Modelos não são a regra para a obtenção de dados de inundação. Furdada, Calderon e

Marques (2008), por exemplo, levantaram informações sobre manchas de inundação na

Nicarágua a partir de uma pesquisa de campo de testemunhos de eventos extremos

(marcas de água em parede, entrevista com a população), uma vez que as bases de

informação foram destruídas durante um evento extremo.

Entretanto, ao se decidir o início de um projeto deste tipo deve-se considerar os diferentes

modelos disponíveis no mercado, até mesmo aqueles do tipo Open Source. Cada modelo

fornece um resultado diferente, estando a escolha deste fortemente atrelada ao resultado

Page 23: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

11

esperado e, principalmente, da capacidade de se obter os dados de entrada necessários

para o mesmo (HUNTER et al, 2007).

Apesar de aparentar ser uma informação limitada, os mapas de manchas de inundação são

o passo mais importante na gestão de riscos de inundações e enchentes. EXCIMAP (2007)

define que as bases para um trabalho de gestão de inundação deve ter como princípio

mapas de risco, feitos para diversos tempos de retorno, abordando a extensão e

profundidade da inundação e, quando necessário, até mesmo a velocidade da água. Além

disso estas informações devem ser casadas com outras, como quantidade de população

afetada. Estas informações são de extrema importância, pois além de permitir a

construção de um plano de emergência no caso de uma situação extrema, permitem guiar

as futuras expansões urbanas da cidade e o direcionamento de construções de controle de

enchentes (EXCIMAP, 2007; DE MOEL et al, 2015)

Além disso, a participação de todos os stakeholders na elaboração dos mapas e mesmo

na gestão de riscos é essencial. Se antes estas informações eram atadas aos órgãos

governamentais e modelos teóricos, novas metodologias tem sido aplicadas com o intuito

de melhorar a acurácia, eficiência e eficácia da gestão.

A população tem uma contribuição fundamental na construção dos mapas e na elaboração

do plano de gestão de inundações. Primeiramente, é ela quem mais sofre com efeitos

diretos destes eventos extremos, sendo suas memórias um importante auxiliar na validade

das características da inundação, como a extensão das áreas atingidas e profundidade

alcançada (FURDADA, CALDERON e MARQUES, 2008; MEYER et al, 2012). No

mais, a eficiência dos planos de gestão devem ter uma participação ativa dos stakeholders,

pois são eles que avaliarão se as medidas contidas nos planos de gestão de um comitê de

bacia, por exemplo, serão realmente efetivas e possíveis de serem realmente aplicadas

(WIKINSON et al., 2015). Em um exemplo hipotético, pode-se pensar na limitação do

escoamento da parcela; caso a urbanização já esteja consolidada e a população tenha uma

menor condição financeira a implantação destas medidas na propriedade privada podem

ter uma implementação não satisfatória.

Entretanto, cabe aos dirigentes da execução de tais mapas o senso crítico em sua

elaborações, pois cada stakeholder tenderá para seu campo: a defesa civil tende a se

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12

preocupar com áreas de risco, seguradoras tendem a valorizar a questão financeira em

detrimento de riscos ambientais e humanos, entre outros (MEYER et al, 2012).

3.3.3 Classificação de mapas

Primeiramente, deve-se esclarecer os termos “risco” e “perigo”. Perigo é aquela

características inerente ao problema: no caso de uma inundação, se relaciona à

probabilidade na ocorrência de uma mancha de inundação; geralmente, estas informações

são caracterizadas como “baixo, médio e alto perigo”; por outro lado, risco está

relacionada à sensibilidade de um fator de perigo, conforme a FIGURA 3.2 (EXCIMAP,

2007; FLOODSITE, 2009; DE MOEL, VAN ALPHEN e AERTS, 2009).

FIGURA 3.2: Relações entre perigo, risco e vulnerabilidade.

Fonte: adaptado de FLOODsite, 2009.

A EXCIMAP (2007) define que mapas de risco são aqueles obtidos entre a intersecção

das características da inundação com a população afetada ou custos. Já as diretivas do

FLOODsite (2009) vão além; além de realizar o cruzamento fator exposto, deve-se

realizar uma maior intersecção entre os dois fatores, nas palavras adaptadas de (KLIJN et

al, 2015): As consequências de uma cozinha molhada são diferentes de uma casa

submersa.

Baseado então nestas informações sobre risco e vulnerabilidade, os mapas de inundação

podem ser divididos em dois grandes grupos. Aqueles que fornecem informações sobre

Page 25: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

13

as características da inundação são chamados de “mapas de risco” (FIGURA 3.3). Outros

mapas, que reúnem informações casadas das características de inundação com outros

pontos sensíveis de uma cidade, como quantidade de casas afetadas, são conhecidos como

mapas de vulnerabilidade (EXCIMAP, 2007; KLIJN et al., 2015).

FIGURA 3.3: Diferentes tipos de mapas (A) mapa histórico de inundação; (B) Mancha

de inundação; (C) Profundidade de inundação; (D) Mapa de perigo; (E) Mapa de perigo

quantitativo; (F) Mapa de perdas econômicas.

Fonte: de Moel (2009), adaptado.

Dentro destes dois grupos ocorrem diversas outras subdivisões, sendo que um mesmo

mapa pode ser classificado em uma ou várias categorias, como proposto por de Moel et

al (2009) e pela EXCIMAP (2007). A categorização do mapa ocorre antes da sua

confecção, uma vez que cada informação levantada ou simulada atenderá um público alvo

distinto (DE MOEL et al, 2015). Para de Moel (2009), há alguns tipos de mapas: mapas

de extensão, que definem apenas os limites da inundação, que podem ser utilizados para

zoneamento do solo ou mesmo possíveis danos à agricultura do local (TAPIA-SILVA et

Page 26: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

14

al., 2011); os mapas de profundidade, que podem determinar quais os danos provocados

aos prédios; os mapas de custo de perdas, que representam as perdas econômicas

estimadas no caso de um evento extremo; mapas de risco, classificando zonas de baixo a

alto perigo de inundação; mapas de perigo de inundação e mapas históricos, que utilizam

dados de eventos passados como dado de entrada. Obviamente, outros parâmetros podem

ser customizados no mapa, segundo o consumidor final, como velocidade e tempo de

inundação, que podem provocar danos provocados à pontes (KREIBICH et al, 2009) por

exemplo. Conforme o avanço dos modelos hidráulicos e da necessidade do cliente, vários

outros parâmetros podem ser gerados.

No Brasil, ainda predominam os mapas de extensão de inundação, as chamadas Manchas

de Inundação (UFJF e PREFEITURA DE JUIZ DE FORA, 2011) ou mesmo apenas

mapas de risco de inundação, geralmente classificando o grau de um determinado trecho

ao risco de inundação, conforme visto no site do Sistema Nacional de Informações sobre

Recursos Hídricos, reportado na FIGURA 3.4.

FIGURA 3.4: Mapa de vulnerabilidade de inundações para o trecho do Rio Paraibuna

que corta Matias Barbosa e Córrego Monte Alegre. Em vermelho, tem-se alto perigo e

em amarelo, médio risco.

Fonte: (ANA, 2015)

Page 27: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

15

A escala do mapa também deve ser pré-definida antes da elaboração do mesmo. Quanto

mais refinado o mapa, melhores são as características a serem trabalhadas e integradas ao

plano de gestão. de Moel et al.( 2015) e EXCIMAP (2007) categorizam 3 tipos de escalas:

macro, meso e microescala. As escalas macro são aquelas que abrangem um mapa a nível

nacional (escalas na faixa de 1:250 000). Apesar de detalhes mais grosseiros, estes tipos

de mapas podem apresentar sim uma importância em questões como orientações sobre

áreas de risco; alocação de investimentos prioritários, a exemplo da Holanda e Reino

Unido, enquanto outros países focam nas perdas financeiras ocasionadas (Estados

Unidos). Como estes mapas podem ser feitos de maneira mais grosseira, pode haver

superestimação de áreas de perigo ou de perdas, por exemplo. Um exemplo singular deste

tipo de programa de alocação financeira é o PAC (Programa de Aceleração do

Crescimento) “gestão de riscos e proposta a desastre”, iniciado em 2011 e já em fase de

obras, segundo o Ministério do Planejamento1. Apesar deste programa ser em nível

federal, dentro de obras do PAC, a delimitação daquelas zonas prioritárias foram feitas in

locu.

As escala medianas são aquelas que abrangem uma região ou mesmo uma bacia, sendo

base para a gestão integrada de cidades dentro de uma mesma bacia, ou seja, escalas que

estão entre 1:25 e 1:250.000.

Já as microescalas, entre 1 e 25 metros de detalhamento, apresentam a premissa de

permitir um maior detalhamento, tanto de topografia, quanto de features (pontes,

batimetria do canal) que possam vir a interferir no fluxo de água, além de permitir uma

modelagem de dados maior e mais complexa de certos parâmetros, como velocidade do

fluxo da inundação. Além disso, esta escala permite o cálculo mais refinado dos dados de

perdas: por exemplo, contagem de perdas de imóveis um por um, uma vez que se torna

mais fácil a visualização destes dados.

1 http://www.pac.gov.br/obra/44752

Page 28: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

16

3.4 Base legal e exemplos

Diversos países ao redor do globo já adotam Guidelines para a elaboração de mapas de

inundação. Nos Estados Unidos, a Federal Emergency Management Agency propõe as

bases para a elaboração das manchas de inundação, além de fornecer um software livre

para a elaboração da mesma (FEMA, 2015). Na Suécia, uma página online da Federal

Office for the Environment permite consultar, em tempo real, o risco de inundação de

qualquer área do país (SUÍÇA, 2015); O mesmo tipo de serviço, conhecido como

vigicrues, é oferecido pelos responsáveis na França.

Na Europa, os países da União Europeia seguem as normas propostas pela EXCIMAP

(2007), normas estas criadas após um ano de chuvas extremas, que ocasionou a morte de

centenas de pessoas em várias localidades. Apesar dos desastres provocados pelas chuvas

extremas no Brasil, como as ocorridas em janeiro de 2011, na região serrana do Rio

(UOL, 2015) que provocou a morte de 710 pessoas, ainda não há um guia em nível

Federal, nem normas estabelecidas pelos órgãos competentes para a elaboração de mapas

de risco de inundação. Entretanto, a falta de embasamento legal não impede outras esferas

de realizar tais mapas. Em Minas Gerais, a SEMAD (Secretaria de Estado do Meio

Ambiente e Desenvolvimento) no ano de 2013 realizou uma classificação de risco e

vulnerabilidade às inundações no Estado de Minas Gerais, coletando informações prévias

da Defesa Civil do Estado, tal documento foi atualizado em 2014. A ANA (Agência

Nacional de Águas), através do Sistema Nacional de Informações sobre Recursos

Hídricos, fornece um mapa de vulnerabilidade do território brasileiro (ANA, 2015), a

partir de informações coletadas pelos estados da federação. Conforme a FIGURA 3.4, o

mapa disposto para o Brasil fornece-se apenas a vulnerabilidade (de baixa a alta) para

trechos de rios. Entretanto, ressalta-se que estes dados são fornecidos por informações

históricas coletadas nos Estados, não há uma simulação para determinadas vazões

especificas, nem dados de qual é o alcance da água no caso de um evento extremo.

3.5 A urbanização e as inundações

O processo de urbanização vem aumentando no globo, sendo que 54% da população

mundial já habita em áreas urbanas (ONU, 2014). Esta rápida expansão, principalmente

em países emergentes, como os da América Latina e Caribe, acabam por levar a uma

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17

expansão de cidade sem planejamento urbano, sendo que o Brasil já apresenta uma

porcentagem de 85% de sua população em área urbana, conforme FIGURA 3.5 (ONU,

2014). Segundo o mesmo relatório da ONU, até 2025 o país terá 91% da sua população

em área urbana. Já em Matias Barbosa, o Censo demográfico de 2010 (IBGE, 2015)

apurou uma taxa de urbanização de 96,3% da população total do município.

FIGURA 3.5: População urbana estimada para o ano de 2016, segundo a ONU (2014).

O Brasil, destacado em vermelho, terá aproximadamente 85% de sua população

morando em cidades.

Os efeitos desta rápida urbanização sem controle é a impermeabilização do solo, assunto

que não é aprofundado nas Leis de Uso e Ocupação de Solos ou nos Códigos de Obras

de cada município. Estudos mostraram que até 100% da água de chuva é transformada

em escoamento superficial em bacias urbanizadas, contra 25% daquelas bacias mais

vegetalizadas (SHANG e WILSON, 2009; ROSE e PETERS, 2001). Resultado similar

foi encontrado por (SURYA e MUDGAL, 212), onde os autores realizaram uma

simulação de cheias históricas em dois momentos distintos de tempo, para uma mesma

bacia, comparando períodos com 20 anos de diferença. Neste período, a taxa de

urbanização mudou consideravelmente na bacia estudada, sendo que a porcentagem de

Page 30: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

18

área construída da bacia saltou de 70,30Km² para 107,64Km², um incremento de 53%.

Constataram então que esta modificação na taxa de impermeabilização não somente

aumentou os picos de vazão, mas também a extensão das manchas de inundação. Uma

vez que os coeficientes de Rugosidade de Manning se alteram para áreas construídas,

estes contribuem para o aumento da velocidade da água naqueles espaços

impermeabilizados, diminuindo também o tempo de concentração da bacia (LEOPOLD,

WOLMAN e MILLER, 1995).

Não somente a mudança do recobrimento da superfície implica neste aumento de vazão,

mas também a localização da mesma: a área impermeabilizada efetiva é aquela que

contribui diretamente para o escoamento superficial, enquanto há outras áreas que são

impermeabilizadas, mas não contribuem para as vazões de pico, como a água de um

telhado armazenada para consumo (ALBERTI et al, 2007). Estas áreas efetivas explicam

porquê certos autores encontraram evidências de que mesmo pequenas mudanças na

impermeabilidade do solo podem ser sentida no runoff final (YANG et al, 2007; BRUN

e BRAND, 2000).

Wheater e Evans (2009) ainda destacam que as modificações causadas pela

impermeabilização do solo, além do aumento escoamento superficial, podem levar a uma

diminuição da recarga do aquífero subterrâneo devido à impermeabilização de áreas de

recarga. A modificação do solo contribui também para o aumento da quantidade de

sedimentos carreados para dentro dos corpos hídricos, fato que leva a uma modificação

do leito e da calha do rio.

Umas das maneiras destacadas pelos autores para o controle do escoamento superficial,

ao nível de parcela, é a técnica conhecida como “telhado verde”. Esta alternativa, além

de diminuir o runoff, pode contribuir para o não-consumo de água de outras fontes, a

exemplo de Singapura, onde 50% da área urbana coleta água da chuva e usa como recurso

hídrico. Esta abordagem deve permear as futuras diretrizes da gestão de risco de

inundações. Esta não deve ser apenas voltada para o aumento do nível de rios, mas sim

pensar na sua prevenção de forma integrada com outros problemas hídricos locais.

Page 31: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

19

Talvez as atuações futuras de prevenção de enchentes e inundações devam ser mais

concentradas nestas áreas, o que facilitaria de certa forma a atuação e mesmo a

fiscalização do cumprimento da diretrizes de controle por parte dos órgãos competentes.

3.6 Onde atuar: prevenir as inundações ou suas consequências?

Dewan et al (2007) atestam que a minimização dos impactos das enchentes é obtida a

partir de uma gestão integrada dos riscos de inundação (FIGURA 3.6). Estas medidas

devem ser tomadas de forma holística em toda a bacia hidrográfica de forma a se obter

êxito na minimização do problema.

Alguns países europeus já possuem políticas mais avançadas na questão de gestão de

riscos de inundação. Entretanto estas políticas, apesar de terem um objetivo comum,

podem atuar por caminhos diferentes. Pottier et al (2005) analisaram as políticas de gestão

de inundações da Inglaterra/ País de Gales e França, que possuem dois pontos em comum.

Primeiramente, estes países sofrem o mesmo tipo de inundação, que ocorrem devido à

cheia dos rios principais nos períodos úmidos e devido às tempestades nas zonas costeiras.

Em segundo, eles estão aplicados na atuação de mecanismos para minimizar as

consequências das inundações e melhorar a conservação do solo.

FIGURA 3.6: Mecanismos para a gestão integrada de inundação. Fonte: adaptado de Dewan et al (2007).

Page 32: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

20

Uma das medida adotadas na França para a minimização de impactos de inundações é o

controle de ocupação e urbanização de áreas da planície de inundação dos rios, fenômeno

denominado por eles como encrochement. Esta delimitação técnica é dada através de

força de lei, devendo então as communes (equivalente às nossas cidades) planejarem-se

para o cumprimento desta diretriz. Obviamente, impedir a construção de moradias e

industrias ao longo de rios não é efetivo, uma vez que várias variáveis locais estão em

jogo. Os moradores que moram nestas áreas tendem a apostar que as cheias não

ocorrerão, além de olhar para eventos passados como uma aberração, algo que aconteceu

por um acaso e que não acontecerá novamente. Além disso, os autores destacam que

diversas esferas do poder tem interesses diferentes nestas ocupações: se a União é contra,

o governo local pode tirar proveito através de taxas e impostos.

Uma vez que impedir 100% uma ocupação é impossível, as communes são obrigadas a

realizar o planejamento urbano através de zoneamento, levando em consideração as zonas

de risco de inundação e outros riscos, além da adoção de medidas não-estruturais para a

minimização do escoamento superficial, tanto em nível público, quanto privado. As

construções são autorizadas em área de baixo e médio risco desde que obedeçam uma

série de obras para proteção. É importante notar que para essas pessoas, a escolha do local

não foi tão impulsionada pela sua classe social ou financeira, mas aceitando a

probabilidade de um evento extremo e se preparando para ele.

Enquanto isso, o Reino Unido aposta no zoneamento de solo sem levar em consideração

os riscos de inundação ou de qualquer outro evento, sendo o uso do solo determinado por

interesses locais e para maximizar a ocupação do solo, de tal forma que beneficie a

população e economia do local. Isto ocorre também pelo fato de que na Inglaterra/País de

Gales existem diretrizes de urbanização, sendo elas mais flexíveis. Nestes países, a

decisão final sempre acaba sendo local, pois é neste nível de atuação que os problemas

são realmente conhecidos e entendidos. Além disso, as medidas britânicas de proteção se

baseiam naquelas conhecidas como estruturais, ou seja, procura-se muito mais construir

obras que retenham a vazão antes que estas cheguem aos corpos hídricos do que

minimizar o escoamento superficial.

Page 33: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

21

Finalizando, o Governo Britânico considera que a questão da gestão de riscos de

inundações deve ser tomada de forma a encontrar um equilíbrio entre economia, meio

ambiente e questões sociais, de forma a evitar o surgimento de riscos de inundação

(PROJECT, 2004). Além disso os responsáveis do setor deverão escolher qual o tipo de

gestão adotarão: praticas integradas, mas com maior tempo para se perceber os efeitos ou

obras estruturais, que talvez não sejam vantajosas em um longo prazo?

3.7 Técnicas alternativas de drenagem

A modificação do solo no processo de urbanização acaba por substituir os tecidos urbanos

porosos por aqueles impermeáveis, como o concreto. Estas modificações acabam por

alterar a estrutura da bacia, diminuindo o tempo de concentração da mesma, aumentando

o runoff e, consequentemente, o aumento dos picos de cheia (BARBOSA, FERNANDES

e DAVID, 2012). O que as técnicas alternativas procuram é resgatar o comportamento

hídrico de pré-ocupação, além de diminuir a poluição presente nas águas pluviais. As

águas pluviais apresentam características distintas do esgoto doméstico, sendo que a sua

composição varia conforme o uso e ocupação da bacia hidrográfica. Entretanto, alguns

estudos apontam que o rejeito pluvial possuem uma maior quantidade de metais

dissolvidos, em comparação com o esgoto doméstico (GOONETILLEKE et al, 2005;

BARBOSA, FERNANDES e DAVID, 2012). Baptista, Nascimento e Barraud (2005)

reuniram dados acumulados por evento de diversas bacias hidrográficas francesas, que

estão apresentadas na TABELA 3.2.

TABELA 3.2 –

Concentração de sólidos suspensos, DQO e DBO , em mg/L.

Sistema Sólidos suspensos DQO DBO

Drenagem pluvial 1600-27500 1120-15500 160-4500

Sistema unitário 480-9500 640-3750 140-1550

Esgoto tempo seco 40-5250 80-10500 40-5250

Efluente de ETE 8-1050 16-2100 8-1050

Fonte: Baptista, 2005. Adaptado.

Page 34: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

22

Nota-se que a quantidade dos sólidos suspensos são maiores nas águas pluviais, de onde

pode-se sugerir que:

há material orgânico e microrganismos aderidos a estas partículas, o que pode

mascarar a carga real de DBO e DQO;

um tratamento eficaz desta água pluvial poluída pode se apoiar em técnicas de remoção

de materiais em suspensão.

Schiff e Kinney (2001) e Griffith et al (2010) também detectaram a presença de bactérias

fecais em águas de inundação, em particular naquelas bacias menos desenvolvidas, o que

reforça o caráter sanitário das técnicas de drenagem.

Quanto as técnicas alternativas de drenagem urbana, estas podem ser divididas em dois

grupos (BAPTISTA, NASCIMENTO e BARRAUD, 2005; FLETCHER, ANDRIEU e

HAMEL, 2013):

Técnicas de retenção: que são aquelas estruturas feitas para amortecer a vazão de

pico, retardando a liberação do volume armazenado;

Técnicas de infiltração: são aquelas estruturas onde há uma preocupação em infiltrar

a água armazenada ao invés de redireciona-la ao sistema.

Dentro destes dois grupos, ainda existem duas outras divisões:

Técnicas lineares: como o próprio nome menciona, são aquelas obras que possuem

maior extensão do que profundidade;

Técnicas localizadas: são aquelas que podem ser aplicadas de forma unitária.

Obviamente, uma técnica pode ser classificada em um ou mais grupos, ao mesmo tempo.

Como exemplo de técnicas localizadas, temos as wetlands e poços de infiltração. As

wetlands retêm a água do runoff, formando um pequeno alagado que pode conter plantas

aquáticas ou se integrado à paisagem; o poço de infiltração é implantado ao nível da

parcela, sendo que sua estrutura é enterrada. A água do poço tanto pode ser dispersa por

infiltração, quanto ser reconduzida ao sistema de macrodrenagem. Segundo Hirschman,

Page 35: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

23

Collins e Schueler (2008) essas duas técnicas possuem uma maior capacidade de remoção

de poluentes do que de redução de volume de chuva.

Os telhados verdes (FIGURA 3.7) são classificados como técnica de retenção linear. A

vantagem desta técnica em relação à outras é o fato de que ela é implementada em 100%

da área de escoamento, além de absorver apenas a poluição “lavada” da atmosfera. Alguns

estudos mostram que a retenção destes telhados variam de 20% até 95%, sendo a média

entre 55-65% (MITCHELL e MORELLO, 2009; BERGHAGE et al, 2009). O telhado

verde ainda pode ser integrado à residência ou mesmo à comunidade de entorno, podendo

ser transformado em uma “horta suspensa”.

Uma outra alternativa, que pode ser de mais fácil instalação e de maior interesse da

população, é a coleta de água de chuva para fins não-potáveis, que pode atingir uma

redução de até 40% (FLETCHER et al, 2007). Além desta ser uma alternativa mais barata

para implantação, uma vez que não é necessário modificar a estrutura da residência.

FIGURA 3.7: Este telhado-horta construído sobre um prédio

residencial atende à demanda de 22 famílias de Paris

Page 36: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

24

4 METODOLOGIA

4.1 Matias Barbosa – breve revisão

Matias Barbosa é uma cidade localizada na Zona da Mata Mineira, em Minas Gerais,

conforme a FIGURA 4.1. A cidade possui 14.196 habitantes, dos quais 96,35%

encontram-se em área urbana, distribuídos em uma área total de 157,107Km² (IBGE,

2014; ALMEIDA, 2014)

Pela projeção populacional apresentada pela prefeitura, percebe-se um maior crescimento

da população urbana nos próximos anos, conforme a TABELA 4.1 (PMSB, 2013),

seguindo a tendência mundial.

FIGURA 4.1: Localização do município de Matias Barbosa, em vermelho, em

relação ao Estado de Minas Gerais. Fonte: Wikipédia, 2015

Page 37: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

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TABELA 4.1 –

Projeção populacional de Matias Barbosa.

Ano Projeção população urbana Projeção população total

2015 14 014 14 143

2017 14 258 14 498

2020 14 624 15 031

2025 15 234 15 919

2035 16 454 17694

Fonte: PMSB, 2013. Modificado

Em relação à sua hidrologia, Matias Barbosa é um dos 180 municípios inseridos na grande

bacia hidrográfica do Rio Paraíba do Sul. Devido à grande extensão da bacia, de cerca de

61.307Km², dividiu-se esta em sub-bacias para melhor gerenciamento (CEIVAP, 2014).

O município então pertence ao Comitê da Bacia Hidrográfica dos Afluentes Mineiros dos

Rios Preto e Paraibuna (CBH Preto e Paraibuna), conforme a FIGURA 4.2.

FIGURA 4.2: Municípios que compõe o Comitê de Bacia do Médio Paraíba do Sul,

sendo Matias Barbosa destacado em vermelho. Fonte: CEIVAP, 2014

Page 38: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

26

4.2 Morfologia

Em relação ao solo, Matias Barbosa apresenta na maioria de seu território o solo do tipo

Latossolo, de alta permeabilidade, o que dificulta a erosão, apresentando uma proporção

baixa a média de erosão. Entretanto, 68% de seu território é do tipo montanhoso (PMSB,

2013). Como é possível inferir pela análise do mapa extraído do MNT (Modelo Numérico

do Terreno), as menores cotas são ao longo do rio Paraibuna, onde a água esculpiu seu

curso por entre os montes ao longo dos anos, dando a esta região uma característica

correspondente a um vale encaixado, conforme a FIGURA 4.3.

FIGURA 4.3: Modelo numérico do terreno, em reamostrado de 15 metros para 1 metro Fonte: autoria própria

Page 39: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

27

Percebe-se também que a região ao longo do rio Paraibuna é densamente urbanizada,

conforme a FIGURA 4.4, o que agrava os episódios de enchente e inundações da cidade.

Segundo o PMSB (2013), o declive médio do trecho médio do Rio Paraibuna é de 1m/Km.

Apesar deste rio ser o principal corpo hídrico da cidade, este não é o rio utilizado como

recurso de água potável, cabendo este papel ao córrego São Fidélix.

4.3 HEC Geo RAS

A metodologia implementada neste trabalho segue a metodologia descrita por Almeida

(2014) e França e Ribeiro (2013).

Antes de iniciar a simulação da mancha de inundação, é necessário preparar os dados de

entrada do programa HEC RAS, sendo a versão 4.1 a utilizada no presente trabalho. O

software encontra-se disponível para download no site do Corpo de Engenheiros dos

Estados Unidos.

FIGURA 4.4: Urbanização urbana de Matias Barbosa, concentrada na parte central do

Vale

Fonte: GoogleEarth

Page 40: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

28

A fim de facilitar a preparação dos dados de entrada, que podem ser feitos diretamente

no programa HEC RAS, a extensão HEC Geo RAS, também gratuitamente disponível no

mesmo site (http://www.hec.usace.army.mil/software/hec-georas/), foi instalada como

extensão do programa ArcGis Esta extensão permite uma preparação de dados de forma

mais amigável.

Como base da modelagem, o software utiliza um modelo numérico do terreno. Conforme

visto na revisão bibliográfica, quanto mais refinado o MNT melhor é o resultado final.

Procurando seguir este conceito, um raster da área foi utilizado, obtido pelo radar

ASTER. Um outro ponto importante para a preparação dos dados é a geometria do canal.

Para obter uma maior fidelidade desta geometria, a geometria foi obtida de forma

preliminar através da ferramenta Google Earth.

Uma vez as guias prontas, é necessário preparar manualmente os dados. Primeiramente

define-se o MNT a ser utilizado, com a opção layer setup, e criam-se os shapefiles: river

(opção stream centerline), banklines (opção bank lines), flowpaths (opção Flow paths) e

XScutline (opção XS cut line). Estes shapefiles devem ser criados dentro da opção Create

RAS layers, presente na ferramenta RAS Geometry. Em seguida, cada shapefile deve ser

editado.

Ao se editar o shapefile river, este deve ser desenhado de montante para jusante; o

shapefile flowpath deve ser criado de montante para jusante, primeiramente a margem

esquerda e, após, a margem direita. O nome do rio e seu respectivo trecho devem ser

então nomeados com a opção ID. Em seguida, as definições topográficas da calha são

feitas através da ferramenta Stream Centerline Attributes. Em seguida, as margens

esquerda, direita e calha devem ser identificadas através da ferramenta Assign Linetype

Attributes. Ao se editar as planícies de inundação, os mesmos cuidados ao se desenhar as

margens devem ser tomados.

Ao se editar as seções, estas podem ser executadas de duas formas: caso o canal a ser

estudado seja linear, há a opção de defini-las automaticamente, com espaçamento pré-

definido; caso o rio seja meandroso, estas devem ser desenhadas manualmente. Ao se

editar cada seção, deve-se respeitar a regra da esquerda para direita, cruzando uma única

vez cada linha dos shapefiles presentes. Finalizado o desenho, os atributos topográficos

Page 41: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

29

das seções devem ser identificados e os dados exportados através da ferramenta Extract

GIS data. Um esquema gráfico representando os passos para a preparação de dados

encontra-se na FIGURA 4.5.

Page 42: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

30

FIGURA 4.5: Esquema da criação da base de dados no ArcGis Fonte: (FRANÇA e RIBEIRO, 2013)

Page 43: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

31

4.4 HEC RAS

Uma vez dentro do HEC RAS, é necessário criar o projeto para dar continuação à

simulação. Uma vez criado, deve-se importar os dados do HEC Geo RAS e editá-los, caso

haja necessidade. Em relação aos coeficientes de Manning, estes podem ser obtidos de

maneira automática pelo HEC Geo RAS ou adicionados manualmente para cada seção,

dentro da edição da geometria do HEC RAS. Ao finalizar as modificações necessárias, o

arquivo deve ser salvo em formato compatível com o projeto.

Em seguida, os dados de vazão devem ser adicionados. Dentro da ferramenta de edição,

as condições de contorno do steady flow data devem ser denominadas em reach boundary

conditions. É necessário destacar que para o regime permanente, nem todas as opções

disponíveis poderão ser ativadas. Neste caso, a opção normal depth estará disponível,

cabendo então ao usuário definir se o cálculo da equação de Saint-Venant será calculada

de montante para jusante (downstream) ou de jusante para montante (upstream). Qualquer

que seja a opção, a declividade média do rio será solicitada. Em seguida, a vazão a ser

estuda deverá ser fornecida no profile e o arquivo salvo.

Finalmente, deve-se rodar o modelo na opção run. Para a geração do mapa, o resultado

deverá ser exportado como Export GIS data, dentro da opção file. A FIGURA 4.6 resume

os passos necessários desta etapa. O processamento final do mapa de inundação ocorre

dentro do Arc Gis, onde haverá o tratamento final dos dados.

Page 44: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

32

4.5 Geração do mapa de inundação

No Arc Gis, deve-se criar um novo projeto ou utilizar o mesmo da preparação de dados.

Os dados da simulação são importados com o auxílio da ferramenta import RAS SDF,

onde a extensão converterá o arquivo de saída do HEC RAS em outro, no formato .xml.

Em RAS mapping layer, o arquivo .xml será processado. Em analyse type, opção RAS

GIS export file, o arquivo convertido para .xml deverá ser aberto; em terrain, o modelo

numérico do terreno também deverá ser aberto. Deve-se então salvar esta etapa.

Em seguida, em RAS mapping layer, a opção read RAS map deverá ser selecionada para

a leitura dos dados. Nesta etapa, apenas um polígono será mostrado, correspondendo à

superfície de inundação simulada para cada seção. Para que as manchas de inundação

sejam obtidas, este polígono deverá ser convertido para TIN através da ferramenta water

surface generation.

A superfície de inundação simulada apresenta-se no formato TIN, enquanto o modelo

numérico do terreno encontra-se em formato GRID. Para que seja feita a conversão do

arquivo e a comparação entre as duas superfícies, de forma a gerar as manchas de

FIGURA 4.6: Esquema para criação e execução do projeto de simulação da mancha de

inundação com o programa HEC RAS

Page 45: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

33

inundação, deve-se selecionar a opção floodplain delineation using raster. A FIGURA

4.7 fornece os passos necessários para a execução desta etapa.

4.5.1 Preparação de dados

A base para a preparação de dados de uma simulação é um modelo numérico do terreno.

Existem dois tipos de rasters disponíveis de forma gratuita para usuários comuns: os

rasters podem ser obtidos através do programa Shuttle Radar Topography Mission –

SRTM -, que fornece grids com uma resolução de 90 metros; outra solução são os rasters

fornecidos pelo radar ASTER - Advanced Spaceborne Thermal Emission and Reflection

Radiometer-, presente no Satélite Terra.

Uma vez que quanto mais refinado o raster melhor é o resultado final, o modelo numérico

do terreno utilizado como base para o trabalho foi aquele de melhor resolução disponível,

de 30 metros. O arquivo ASTER foi descarregado a partir do site

http://gdem.ersdac.jspacesystems.or.jp/. Uma vez que obter o modelo numérico do

terreno a partir da técnica de aerofotogrametria que fornece uma alta resolução do terreno,

não foi possível, procurou-se refinar o pixels do arquivo RASTER.

Para se obter um MNT refinado, reamostrou-se o grid de 30 metros para 1 metro

utilizando a ferramenta resample do ArcGis através do método cúbico, que extrai o valor

para a futura célula a partir de 16 vizinhos de entorno, isto é: cada pixel possui um valor

numérico. Ao se reamostrar o grid, um valor do pixel é obtido de forma a ser condizente

com os valores do entorno.

FIGURA 4.7: Esquema para criação do mapa da mancha de inundação com a extensão

HEC Geo RAS

Page 46: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

34

Em seguida, foram preparadas guias para a geometria da calha, das margens e planícies

de inundação. Uma vez que o MNT não permite uma boa visualização deste limites, estas

guias foram traçadas utilizando-se o programa GoogleEarth. Além do Google Earth, as

curvas de nível de Matias Barbosa foram incorporadas ao arquivo, de forma a ajudar a

definir os limites das planície de inundação. Estas guias foram então importadas como

shapefile para o projeto no Arc Gis, cuidando para não haver conflito de datum entre os

arquivos.

Uma vez importadas, as guias foram utilizadas como base para o traçado da geometria da

calha do rio Paraibuna no trecho de Matias Barbosa, suas margens e os limites da planície

de inundação, de acordo com a metodologia apresentada na seção 4.3. O traçado da

seções, conhecidas como XS cutlines, foram feitas a partir de tentativa e erro. Apesar da

extensão HEC Geo Ras permitir traçado automático das mesmas, isto não foi possível

devido as feições do trecho em estudo. A base de dados foi então finalizada conforme a

metodologia proposta neste trabalho.

4.5.2 Simulação no HEC RAS

A metodologia de preparação dos dados para a simulação no HEC RAS seguiu os

preceitos da seção 4.5.

Ao se editar os dados de geometria do arquivo HEC Geo RAS, foi necessário filtrar os

dados das seções, uma vez que o programa HEC RAS possui uma limitação de

interpretação destes dados, devendo os mesmo serem fornecidos na forma de dados

discretos de até 500 pontos. As seções foram filtradas através da ferramenta cross section

points filter, onde as linhas foram filtradas afim de se obter 500 pontos em cada. Em

seguida os valores de Manning foram inseridos, seguindo os valores de França e Ribeiro

(2013). Para a margem, adotou-se o valor de 0,04; para o leito do rio, 0,03.

Finalmente, os valores das vazões para o cálculo das superfícies de inundação simuladas

foram inseridas. Ao total, 7 valores de inundação foram simulados, conforme a TABELA

4.2. As vazões de Q3 a Q7 foram obtidas a partir da equação de regionalização de vazão

para o rio Paraibuna, obtida pelo Atlas Digital das Águas de Minas. A equação de

regionalização de vazão tem como parâmetro a área da bacia hidrográfica do rio, extraída

Page 47: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

35

através do Arc Gis e adicionada às equações, sendo então a incógnita “A” substituída pelo

valor de 3259Km².

Já as vazões Q1 e Q2 foram obtidas através de dados da estação fluviométrica 58491000,

sendo as duas maiores vazões máximas do mês de dezembro de 2013. A vazão Q1 foi um

pico que ocorreu durante a inundação do dia 23/12/2013, quando 35 casas do bairro Nossa

Senhora da Penha foram atingidas. Apesar de eventos de paralisação de serviços públicos

e privados não terem sido registrados, a defesa civil do município estima seus custos com

a prevenção e gestão do evento em cerca de R$ 10 000,00.

TABELA 4.2 – Vazões reais e calculadas pela regionalização de vazão para a geração das manchas de

inundação do presente trabalho

Nomenclatura Tempo de retorno

(anos)

Equação Vazão (m³/s)

Q1 - Estação 155

Q2 - Estação 211

Q3 10 0,8201*A0,7912 494

Q4 20 0,9406*A0,7912 566

Q5 50 1,0961*A0,7912 660

Q6 100 1,2129*A0,7912 730

Q7 500 1,4830*A0,7912 893

As condições de contorno definidas dentro do projeto de vazão referentes às condições

de contorno (reach boundary conditions), foram determinadas como normal depth e

downstream, com declividade considerada de 1 m/m (CEIVAPA, 2013).

Após a simulação dos manchas de inundação, os mapas foram extraídos através do

programa Arc Gis, conforme a metodologia da seção 4.5.

Fonte : (UFV, 2013)

Page 48: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

36

5 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foram gerados 7 mapas de extensão de inundação, um para cada vazão presumida pelo

presente trabalho. Devido ao formato de vale encaixado de Matias Barbosa, a diferença

de superfície entre cada mapa não apresenta diferença significativas, a saber:

A vazão de 155 m³.s-1 apresenta uma área de inundação de 2,57Km²;

A vazão de 211 m³.s-1 apresenta uma área de 2,62Km², com uma diferença de 1,82%

em relação à área precedente;

A vazão de 494 m³.s-1 apresenta uma área de 3,02Km², com uma diferença de 13,09%

em relação à área precedente;

A vazão de 566 m³.s-1 apresenta uma área de 3,17Km², com uma diferença de 4,82%

em relação à área precedente;

A vazão de 660 m³.s-1 apresenta uma área de 3,25Km², com uma diferença de 2,59%

em relação à área precedente;

A vazão de 730 m³.s-1 apresenta uma área de 3,28Km², com uma diferença de 0,63%

em relação à área precedente;

A vazão de 893 m³.s-1 apresenta uma área de 3,45Km², com uma diferença de 5,06%

em relação à área precedente.

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Ressalva-se que as diferenças significativas foram encontradas nos mapas de

profundidade de inundação, entretanto estes não serão considerados na presente análise

devido à inconsistência dos dados gerados e dados em campo, conforme o exemplo

destacada na FIGURA 5.1.

As extensões de inundação, entretanto, estão satisfatórias com as extensões alcançadas

pelas águas em eventos reais. Apesar de dados sobre o alcance de outras inundações não

existirem de forma catalogada na cidade, uma série de entrevistas com o departamento de

Defesa Civil de Matias Barbosa permitiu aferir que as extensões simuladas estão em

acordo com eventos precedentes, em particular na área central da cidade. Além disso, ao

se comparar a mancha de inundação para a vazão de 155 m³.s-1 e o mapa obtido em campo

pelo PAC “gestão de riscos e proposta a desastre”, percebe-se uma grande similaridade

entre as áreas atingidas, conforme a FIGURA 5.2.

FIGURA 5.1: Incongruências encontradas para a profundidade das inundações. No

natal de 2013, quando a vazão máxima alcançada foi de 155 m3.s-1, a régua

localizada no mapa marcou 80 centímetros de água, enquanto a simulação alcançou

mais de 20 metros de profundidade.

Page 57: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

45

Uma maior atenção deve ser direcionada ao bairro Nossa Senhora da Penha,

popularmente conhecido como “Banheirinha”. Conforme o próprio nome menciona, a

região é sujeita a frequentes inundações devido à sua topografia singular, localizada logo

após um meandro do Paraibuna, local com grande perda de carga, as casas estão

localizadas na margem direita do rio. Como resultado, a área é uma das mais sensíveis e

vulneráveis da região.

Deve-se deixar claro que o presente trabalho se limitou às inundações provocadas pelo

rio Paraibuna, ignorando os córregos São Fidélix e Monte Alegre. Em uma possível

continuação deste trabalho, os mesmos deverão ser inseridos, levando em particular as

singularidades do córrego Monte Alegre.

O córrego Monte Alegre não apresenta grande extensão entre suas margens, o que

dificulta a extração da calha unicamente por SIG. Um trabalho de levantamento de cotas

deve ser feito in locu. Além disso, o córrego apresenta 200 metros de trecho retificados,

que culmina em singularidade. Além disso, antes de desaguar no córrego São Fidélix, este

FIGURA 5.2: Em rosa está o contorno da mancha de inundação para a simulação de

155 m³.s-1, enquanto o contorno em vermelho foi feito pelo PAC “gestão de riscos e

proposta a desastre”.

Page 58: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

46

passa por uma queda d’água de alguns metros de altura, tornando a hidráulica deste

córrego um estudo singular, mas extremamente interessante, conforme a FIGURA 5.3.

FIGURA 5.3: Cachoeira ao final do córrego Monte Alegre, a jusante do córrego São

Fidélix.

Fonte: autoria própria

Deve-se considerar ainda que a presente monografia apresenta apenas resultados

aproximados do que era esperado. Conforme apresentado na revisão de literatura, o

modelo HEC RAS é sensível aos dados de topografia e aos dados de coeficiente de

rugosidade de Manning. Infelizmente, nenhum dos dois tipos de dados foram possíveis

de serem recuperados em campo. Além disso, seria necessário a calibração do modelo

para a obtenção de melhores dados, o que ainda não é possível devido às limitações de

campo. Entretanto, os mapas aqui apresentados não devem ser descartados, e sim

aperfeiçoados em trabalhos futuros. Mesmo não estando suficientemente apurados, eles

podem e devem ser usados como referência pelos órgãos responsáveis.

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47

6 CONCLUSÃO

A cidade de Matias Barbosa é a última cidade da bacia do rio Paraibuna antes do seu

deságue no Rio do Peixe. Isto implica que o município recebe não apenas as águas de

escoamento de suas sub-bacias (Córrego São Fidélix e Monte- Alegre), mas também toda

a água proveniente de montante da bacia do rio Paraibuna. Em geral, as inundações

devido ao Rio Paraibuna ocorrem de forma gradual, muitas vezes devido às chuvas à

montante da cidade, que somente não são mais intensas pois a PCH Paciência acaba

funcionando como uma barragem de controle de vazão do rio.

Face a este problema e após análise dos mapas de inundação provocados por eventos

extremos, ou mesmo apenas aqueles fora da média, fica claro que o problema das

inundações devido a este curso d’água não é de fácil solução e nem cabe ao município a

correção das causas de enchente. Para que haja este tipo de controle, as ações devem

ocorrer de forma holística entre todas as cidades que compõe a Bacia do Rio Paraibuna a

montante de Matias Barbosa, através de ações clássicas de drenagem, como bacias de

detenção, ou mesmo de técnicas alternativas de drenagem urbana, que podem ser mais

facilmente aplicadas nas futuras expansões das cidades. Ao município de Matias Barbosa,

localizado no exutório da bacia, cabe a aplicação de técnicas de mitigação e prevenção de

perdas. O governo estadual, através do programa do governo federal PAC “gestão de

riscos e proposta a desastre” realizará obras de prevenção de desastres (CARVALHO,

2013). Entretanto, em relação aos córregos São Fidélix e Monte Alegre, as atuações sobre

as suas bacias está nas mãos do poder municipal. Pela FIGURA 6.1 fica clara a ocupação

desordenada das casas ao longo do córrego.

Page 60: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

48

Uma vez que este ponto já possui uma ocupação urbana consolidada, resta à prefeitura

inserir novas regras de ocupação e uso do solo para as novas expansões, como as que

ocorrem próximo ao Centro de Exposições e à montante da bacia do córrego Monte

Alegre. Estas novas instalações urbanas devem levar em conta a limitação do escoamento

superficial e os limites de APP (Área de Proteção Permanente) dos córregos. Como

exemplo de técnica alternativa de drenagem, a prefeitura pode estimular a coleta da água

de chuva para usos não-nobres, o que limitaria o escoamento superficial da parcela e

estimularia a diminuição do consumo de água, tão em foco no atual período. Ao longo

dos córregos, parques lineares poderiam ser implementados, de forma a aumentar a

infiltração do solo.

Seria interessante para o município reavaliar sua política de drenagem urbana, pois é

possível atuar dentro da sub-bacia do córrego Monte Alegre. Nesta sub-bacia, há uma

nova expansão urbana e é nela o foco da gestão: a utilização de técnicas clássicas

estruturais neste córrego deve ser a última alternativa. Antes disso, um trabalho de gestão

FIGURA 6.1: Habitações próximas ao córrego Monte Alegre, evidenciando a

ocupação desordenada.

Fonte: autoria própria

Page 61: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

49

através de medidas alternativas deve ser colocada em prática nesta sub-bacia. O município

deve atuar de forma a preservar o escoamento superficial ao mais próximo possível do

estado natural da área. Técnicas não-convencionais, como trincheiras e valas de

infiltração ao longo das vias públicas devem ser adotadas; a captação de água de chuva

também pode ser estimulada, de forma a tirar a sobrecarga do sistema de drenagem e do

sistema de abastecimento de água potável, dentre outras medidas.

Page 62: mapeamento das manchas de inundação para a cidade de matias ...

50

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