MAPEAMENTO DA CRIMINALIDADE - PRINCÍPIOS E PRÁTICAS

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MAPEAMENTO DA CRIMINALIDADE: PRINCPIOS E PRTICAPREFCIOEste guia introduz a cincia do mapeamento da criminalidade para policiais, analistas criminais e quem quer que se interesse pela visualizao dos dados sobre a criminalidade atravs de mapas. A maioria dos interessados provavelmente faz parte das agncias responsveis pelo cumprimento da lei, entendidas de maneira geral como os tribunais, sistema penitencirio, polcia militar e agncias federais como o FBI, o Comit Nacional para o lcool, Tabaco e Armas de Fogo, o Servio Nacional de Parques, a Alfndega Norte-Americana e o Servio Secreto Norte-Americano, bem como os departamentos de polcia. Este material foi projetado especialmente para aqueles que tm pouco ou nenhum conhecimento sobre o mapeamento da criminalidade, e que desejam aprender mais. Este no um guia de software. No h mais que uma palavra ou outra sobre como proceder tecnicamente com um computador. Um guia meramente tcnico seria rapidamente superado, e um guia que servisse a usurios de um software no serviria para outros. Deve se buscar uma melhor orientao tcnica nos manuais e grupos de interesse especficos para cada programa de software. O que ser encontrado aqui uma ampla abordagem para os tipos de questes s quais o mapeamento da criminalidade pode responder, e como, em termos gerais, ele pode respond-las. Os leitores so advertidos algumas vezes a tomarem cuidado com a aceitao crtica de todos os modelos oferecidos pelo software de mapeamento da criminalidade. A maioria dos leitores no ler este guia do incio ao fim. Alguns se concentraro no material referente aplicao, e outros se interessaro pela histria do mapeamento da criminalidade, considerando que o passado pode ajudar-nos a vislumbrar o futuro. A apresentao deste guia fortemente baseada em exemplos; ele constitui-se, na realidade, de exemplos cercados por palavras. Contriburam para este guia analistas criminais e pesquisadores dos Estados Unidos, Canad e Reino Unido; sem sua ajuda, ele seria apenas uma casca vazia. Sou extremamente grato a todos que cederam seu trabalho, e nos agradecimentos h uma lista parcial destas almas to gentis. Keith Harries

CAPTULO 1: CONTEXTO E CONCEITOSDos alfinetes aos computadores O mapeamento da criminalidade h muito parte integrante do processo conhecido hoje como anlise da criminalidade. O departamento de polcia da cidade de Nova Iorque, por exemplo, utiliza mapas desde, no mnimo, 1900. O mapeamento da criminalidade tradicional consistia em alfinetes pregados em uma representao 'jumbo' de uma jurisdio (figura 1.1). Os antigos mapas de alfinetes eram teis por mostrarem onde os crimes ocorriam, mas contavam com graves limitaes. Na medida em que eram atualizados, os padres de criminalidade anteriores eram perdidos. Enquanto os dados brutos podiam ser arquivados, os mapas no, exceto talvez quando eram fotografados. 1 Os mapas eram estticos; no podiam ser manipulados ou investigados. Seria difcil, por exemplo, acompanhar uma srie de roubos que ultrapassasse a durao de um mapa de alfinetes (uma semana ou um ms). Alm disso, esses mapas eram de difcil leitura quando misturava-se diversos tipos de crime - normalmente representados por alfinetes de diferentes cores. Os mapas de alfinetes ocupavam espaos considerveis nas paredes; Canter (1997) notou que, para se fazer um nico mapa das 610 milhas quadradas do condado de Baltimore, deveriam ser combinados 12 mapas, cobrindo uma rea de 70 ps quadrados. Os mapas de alfinetes tinham, assim, valor limitado - podiam ser utilizados de modo eficaz, porm por um perodo curto de tempo. Contudo, estes mapas so utilizados ainda hoje, porque suas grandes escalas permitem a visualizao detalhada de toda uma jurisdio. Hoje, podem ser feitos mapas de alfinetes "virtuais" no computador, utilizando alfinetes ou outros cones como smbolos (figura 1.2).

Fig. 1.1

Fig.1.2

Na ltima dcada, a abordagem manual do mapeamento com alfinetes deu lugar ao mapeamento computadorizado - mais especificamente, ao mapeamento computadorizado desktop. Durante as dcadas anteriores ao mapeamento computadorizado desktop, este era realizado em computadores mainframe gigantescos atravs de um processo extremamente trabalhoso. Em primeiro lugar, a identificao das fronteiras do mapa envolvia muito trabalho, com as coordenadas numeradas em cartes perfurados. Seguia-se, ento, o

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As fotografias no eram muito teis pois tinham que ser aumentadas at um tamanho impraticvel para que pudessem ser lidas.

trabalho de perfurar os cartes, e um processo semelhante de codificao e perfurao para inserir os dados no mapa. Reconhecendo todo o trabalho necessrio para a produo de um mapa no computador, muitos cartgrafos 2 (construtores de mapas) em potencial concluram que o mapeamento computadorizado era demasiado trabalhoso. Eles estavam certos - era uma "chatice." S era produtivo se fossem necessrios muitos mapas (se valesse a pena preparar um mapa base, ou mapa de fronteira, da jurisdio), e se a equipe necessria para a codificao dos dados e perfurao dos cartes se encontrasse disponvel. Poucas organizaes podiam se dar a esse luxo. Desde meados da dcada de 80, e especialmente no incio da dcada seguinte quando a velocidade de processamento do computador aumentou dramaticamente - o mapeamento desktop se tornou rpido e comum, auxiliado e estimulado pela disponibilidade de impressoras coloridas a preos razoveis. Que parceria! Na gerao anterior, os mapas no papel (em contraste com os mapas de alfinetes nas paredes dos departamentos de polcia) eram desenhados mo utilizando tinta indiana 3 e canetas especiais, com moldes para as legendas. Se um erro era cometido, a legenda era raspada do papel com uma lmina. Se fosse necessria a variao dos tons, padres Zipatone eram cortados do tamanho certo e polidos para que pudessem ser afixados. Que dias eram aqueles? Dias de construo do carter, talvez! O que tudo isso tem a ver com o mapeamento da criminalidade de hoje? O recente acesso ao mapeamento desktop significa que um nmero nunca visto de indivduos tm a tarefa - ou a oportunidade - de produzir mapas no computador. Alm disso, a enorme demanda por mapas significa que a maioria dos analistas criminais, policiais e outras pessoas envolvidas no mapeamento da criminalidade no receberam treinamento formal para a construo de mapas - a cincia denominada de cartografia. Ao longo de toda a histria da construo de mapas, desenvolveu-se um corpo de princpio e prticas teis e aceitas. A maioria dos textos cartogrficos contm estes princpios, mas no considera as necessidades especiais do analista criminal, do policial, de seu comandante ou do usurio comunitrio dos mapas da criminalidade. A meta deste guia , portanto, oferecer diretrizes da cartografia que sejam adaptadas a necessidades especiais, e que ao mesmo tempo falem o idioma do cartgrafo.Mapas So desenhos de informaes sobre reas e lugares. Nos ajuda a visualizar os dados. So como aquelas figuras proverbiais que valem mais que mil palavras. Permitem a rpida visualizao da informao.

Este guia no pretende permanecer sozinho, isolado dos desenvolvimentos no campo do mapeamento da criminalidade. Deve ser utilizado em conjunto com outros materiais e abordagens. Em 1998, por exemplo, um grupo que trabalhava como apoio ao Centro de Pesquisa do Mapeamento da Criminalidade (CMRC) no Instituto Nacional de Justia desenvolveu um currculo nacional para o mapeamento da criminalidade. Muitas das informaes contidas neste guia podem ser encontradas no currculo e em outros2 3

Do latim c(h)art(a) e do grego graph(os), algo desenhado ou escrito, portanto, "desenho de mapa." A tinta indiana uma mistura de negro de fumo e cola.

materiais difundidos pelo CMRC. Os leitores so aconselhados a visitarem o web site do CMRC na http://www.ojp.usdoj.gov/cmrc.

Histria antiga: cartografia e mapeamento da criminalidade Evidncias conclusivas retiradas de placas de cermica encontradas no Iraque comprovam que os mapas existem h milhares de anos - talvez dezenas de milnios (Campbell, 1993). A necessidade de visualizar dados geogrficos , evidentemente, fundamental e persistente. Em nenhum outro lugar a necessidade de mapas to premente quanto no campo da navegao, seja para uma viagem pica em torno do planeta, seja para o esforo de um policial iniciante em encontrar um endereo em um mapa da cidade. Os mapas podem ser, para a navegao, uma questo de vida ou morte, e a incapacidade dos primeiros navegadores se localizarem com preciso na superfcie da Terra resultou com freqncia em desastres, como o descrito vivamente por Dava Sobel em Longitude (1995). Felizmente, os mapeadores da criminalidade no tm que se preocupar com estas questes picas. O mapeamento da criminalidade , contudo, uma atividade cientfica - uma aplicao do campo mais amplo da cartografia, que sofreu transformaes com o advento dos sistema de informao geogrfica (GIS). H mais ou menos uma dcada, a cartografia assumia uma dimenso muito mais ampla que o GIS, com aplicaes em campos to diversos como surveys, navegaes de todos os tipos (inclusive orientao e mapeamento de vias rodovirias), geologia, explorao espacial, gerenciamento ambiental, turismo e planejamento urbano. Hoje, no entanto, a convergncia entre a cartografia e o GIS est quase completa. Ambos so ferramentas para uma grande amplitude de aplicaes, o que reflete o propsito mais importante dos mapas - comunicar informao. O mapeamento da criminalidade, conforme notamos no incio deste captulo, conta com uma longa histria. Phillips (1972) notou que "foram escritos centenas de estudos espacialmente orientados sobre a criminalidade e delinqncia por socilogos e criminlogos desde cerca de 1830 ..." e identificou trs grandes escolas: A escola cartogrfica ou geogrfica predominou entre 1830 e 1880, comeando na Frana e passando Inglaterra. Este trabalho se baseava em dados sociais, que os governos comeavam a coletar. Seus resultados tendiam a se concentrar na influncia de variveis como riqueza e densidade populacional sobre os nveis da criminalidade. A escola tipolgica predominou entre o perodo cartogrfico e o perodo ecolgico, que adentraria o sculo XX. Os tipologistas enfocavam a relao entre as caractersticas fsicas e mentais das pessoas e a criminalidade. A escola da ecologia social concentrou-se nas variaes geogrficas em condies sociais, pressupondo que estas se relacionavam aos padres de criminalidade.

Os ecologistas sociais identificavam e classificavam reas das cidades com caractersticas sociais semelhantes. Shaw e McKay (1942) produziram uma anlise clssica sobre a delinqncia juvenil em Chicago. Este trabalho amplamente reconhecido como a pedra fundamental da pesquisa envolvendo o mapeamento da criminalidade na primeira metade do sculo XX. Shaw e McKay mapearam milhares de incidentes de delinqncia juvenil e analisaram as relaes entre a delinqncia e diversas condies sociais. O

trabalho dos pesquisadores da "escola de Chicago" tambm delineou um modelo urbano baseado em zonas concntricas - a primeira tentativa de desenvolver uma teoria que explicasse o layout das cidades (Burgess 1925). Outras contribuies significativas para a escola ecolgica partiram de Lander (1954), Lottier (1938) e Boggs (1966). Acreditamos que o primeiro provvel uso do mapeamento computadorizado da criminalidade na anlise criminolgica aplicada tenha ocorrido em meados da dcada de 60 em St. Louis (McEwen e Research Management Associates, Inc. 1966; Pauly, McEwen e Finch 1967; Carnaghi e McEwen 1970; para uma maior discusso, ver captulo 4). Ironicamente, os gegrafos profissionais entraram em cena com atraso. As primeiras contribuies partiram de Lloyd Haring (que organizou um seminrio sobre a geografia do crime na Universidade do Estado do Arizona por volta de 1970), David Herbert no Reino Unido, Harries (1971, 1973, 1974), Phillips (1972), Pyle et al. (1974), Lee e Egan (1972), Rengert (1975), Capone e Nichols (1976), entre outros. Entre as mais notveis (e pouco conhecidas) obras que enfatizaram o mapeamento da criminalidade esto Crime in the State of Washington (1972) de Schmid e Schmid, e Crime in Minneapolis: Proposals for Prevention (1997) de Frisbie et al. (figuras 1.3 e 1.4). Esta ltima foi especialmente notvel por estreitar o abismo entre o mapeamento da criminalidade acadmico e as anlises/aplicaes especficas para a preveno da criminalidade. Os primeiros esforos de mapeamento computadorizado utilizavam impressoras lineares como instrumento de apresentao; sua resoluo se limitava, portanto, ao tamanho fsico dos caracteres da impressora. Isto impediu a utilizao dos mapas computadorizados para a representao de dados pontuais, pelo menos at que passassem a ser mais utilizados grficos capazes de desenhar linhas mais finas e smbolos pontuais. (Para uma excelente reviso das primeiras aplicaes dos mapas na preveno da criminalidade, ver Weisburd e McEwen 1997, pp.126.)

Fig. 1.3

Fig. 1.4

Mesmo em 1980, a revoluo do mapeamento da criminalidade no estilo GIS ainda demoraria uma dcada. Foi necessrio esperar por desenvolvimentos na capacidade dos computadores desktop e das impressoras, bem como por redues nos preos, para que o mapeamento desktop se tornasse um fenmeno cotidiano e amplamente aceito. Para ilustrar como estes desenvolvimentos ocorreram, apresento o caso da minha histria pessoal. Em abril de 1984, este autor comprou seu primeiro computador pessoal, um Kaypro 10 fabricado pela Digital Research, Inc. Esta maravilha funcionava a 4 megahertz, possua uma memria RAM de 64 kilobytes e um disco rgido de 10 megabytes. ("Como voc conseguia utilizar toda essa capacidade?", perguntavam os amigos.) Ele tambm tinha um pequeno monitor monocromtico e funcionava no sistema operatrio

CP/M, o precursor do Microsoft DOS. E tudo isso por no mnimo $2.795, em dlares de 1984. A impressora de margarida Silver Reed, comprada para complementar o computador, custou $895 (cada margarida extra custava $22,50, e o pino de trao para o papel custava $160), e o modem de taxa de transmisso de 300k custou $535. Aps acrescentar mais alguns penduricalhos, um computador pessoal custava, de sada, quase $5.000 (novamente, em dlares de 1984). Em contraste, a RAM tpica em 1999 talvez 1.000 vezes maior (64 megabytes), a velocidade de processamento 100 vezes mais rpida (ao menos 400 megahertz), e os discos rgidos so em geral 100 vezes maiores (10 gigabytes), todos a preos inferiores. Este tipo de ambiente facilitou a entrada do GIS na atividade policial (e em outros lugares) e permitiu que os princpios e prticas cartogrficas passassem a ser utilizados no dia a dia. O mapeamento da criminalidade se tornou o que hoje devido principalmente aos avanos na informtica que, por sua vez, facilitaram as aplicaes GIS. Alm de todas as vantagens evidentes, outro grande benefcio que o mapeamento computadorizado permite a liberdade de experimentao, um luxo inexistente nos dias do mapeamento manual. Voc quer saber como ficaria um certo modelo de mapa? Tente-o. No gostou? Comece novamente e tenha um novo mapa em minutos.

Mapeamento como um caso especial de visualizao de dados A computao desktop colocou ferramentas grficas ao alcance de (teoricamente) qualquer um. A preparao de grficos de alta qualidade, estatsticos ou outros, era um processo rduo h apenas uma gerao. Hoje isso muito mais fcil, embora o processo ainda demande cuidado e esforo considerveis. Essa nova facilidade e flexibilidade ampliaram nossa perspectiva sobre os grficos como ferramentas de visualizao da informao. Isto ocorreu porque as pessoas no precisam mais devotar seu tempo a uma metodologia especializada, como a cartografia. Hoje, os mapas podem ser produzidos com maior facilidade, e o computador liberou as pessoas para produzirem outros tipos de grfico conforme a necessidade, como os grficos de barra, os diagramas de disperso, e os grficos de setores circulares. O lado negativo dessa facilidade de produo que to fcil produzir lixo quanto criar uma perfeio tcnica e artstica. A famosa autoridade em grficos, Tufte (1983, captulo 5) referiu-se ao que ele denominou "dados inexistentes," "dados redundantes" e "parafernlia grfica" - todos sintetizados no termo "chartjunk" (lixo grfico), um conceito aplicvel tanto para mapas quanto para grficos. Um mapa exemplar, de acordo com Tufte, foi preparado por Joseph Minard em 1861 para ilustrar o declnio do exrcito napolenico na Rssia em 1812-13 (figura 1.5). Tufte notou que este "pode at ser o melhor grfico estatstico j desenhado" (Tufte 1983, p.40). O que faz dele to bom que mostra seis variveis com uma clareza extraordinria, e sem a utilizao da variao de cores. A amplitude das faixas proporcional ao nmero de tropas, comeando em 424.000 e terminando em 100.000 no momento da chegada em Moscou. O mapa mostra o desgaste da viagem de volta (os raios verticais expressam as temperaturas nas datas selecionadas), da qual sobreviveram apenas 10.000 homens. O fato de o mapa ilustrar a devastadora perda de vidas aumenta ainda mais o seu drama.

Fig. 1.5

A atual simplicidade na produo de grficos ajuda a colocar os mapas em perspectiva. Os mapas so apenas um dos modos de representar informaes, e nem sempre so o modo apropriado. Se o que se est representando so informaes acerca de lugares, os mapas so a melhor forma. Entretanto, se no h informaes geogrficas (de lugar para lugar), como quando todos os dados de uma cidade so combinados em uma tabela, no h nada a ser mapeado. Toda a jurisdio representada por um nmero (ou vrios nmeros, cada qual representando a cidade como um todo); o mapa, portanto, tambm mostrar apenas um nmero. Nesta situao, um grfico de barra que simplesmente mostre os nveis relativos de cada categoria criminal seria a melhor escolha. O que significa dizer que os mapas so uma forma de visualizao? Simplesmente que um mapa so dados colocados de tal maneira que possamos v-los de uma s vez. Os livros ou tabulaes de dados tambm so visualizaes, no sentido de que os assimilamos visualmente, porm se tratam de visualizaes trabalhosas. Os mapas e outros grficos so basicamente figuras de informao, aquelas figuras proverbiais que "valem mais que mil palavras." Se bem feitos, passam sua mensagem mais ou menos de uma s vez.

Mapeamento como arte e cincia Assim como outras formas de visualizao, os mapas so resultado da atividade cientfica: formulao de hipteses, coleta de dados, anlise, reviso dos resultados e avaliao da hiptese inicial como aceita ou rejeitada em prol de uma verso modificada. Este ciclo, conhecido como processo hipottico-dedutivo, utilizado por toda a cincia como ferramenta fundamental. um paradigma universal, ou modelo, de investigao cientfica. A construo dos mapas envolve tomar um conjunto de dados e decidir de acordo com o processo hipottico-dedutivo. Deve-se tomar decises acerca do tipo de mapa a ser preparado, de como sero os smbolos ou os tons, de como sero tratadas as informaes estatsticas, etc. Essas decises devem se basear no objetivo a ser alcanado, considerando inclusive a audincia alvo. Certos princpios cientficos podem ser aplicados; se estamos, por exemplo, preparando um mapa sombreado com um intervalo de dados estatsticos a ser divido igualmente, ento uma frmula simples pode nos orientar: Intervalo dos valores dos dados Nmero de classes. Assim, se o intervalo (diferena entre o valor mximo e o valor mnimo) dos valores dos dados 50, e foi determinado que so adequadas 4 classes (ou "sub-intervalos") de dados,

cada uma abranger 12.5 unidades. Este exemplo simples demonstra um princpio cartogrfico elementar. No entanto, a cincia no auxilia no design dos mapas, como a escolha das cores, smbolos ou legenda, e a configurao dos elementos do mapa na pgina ou dentro de uma moldura. Estes elementos so parte da arte da cartografia, e so to importantes quanto os elementos cientficos para o propsito e eficcia geral do mapa. Um mapa cientificamente perfeito pode ser ineficaz caso seja um desastre artstico. Arte e cincia podem mesclar-se imperceptivelmente, e confundir-se uma com a outra de maneiras infelizes. Smbolos ou legendas exageradas podem, por exemplo, chamar ateno para partes do mapa que deveriam ser menos enfatizadas do ponto de vista puramente cientfico. Uma m escolha de cores ou de intervalos estatsticos tambm pode fazer muita diferena. A misso cientfica do mapa pode, assim, ser subvertida por escolhas artsticas inadequadas, e escolhas ruins do lado da cincia podem afetar de maneira semelhante os elementos artsticos. Na cartografia, como na medicina, arte e cincia so inseparveis. O mapa perfeito mescla arte e cincia em uma ferramenta de comunicao visual eficaz. A figura 1.6 mostra elementos de design fracos (figura do meio) e fortes (figura de baixo). O grfico (figura de cima) conhecido como histograma, que acompanha os mapas, apresenta uma distribuio dos valores aproximadamente normal (em forma de parbola) sobre um ndice que representa a associao entre violncia e pobreza em um bairro de Baltimore. Os valores apresentam uma mdia zero, e uma medida de disperso em torno da mdia (desvio padro) de 1.0. Tecnicamente, isto significa que os grupos de quarteires dentro do intervalo entre -1.0 e +1.0 no diferem significativamente da mdia. Aqueles com valores abaixo de -1.0 ou acima de +1.0 so considerados extremos relativos. por vezes desejvel mapear os extremos, uma vez que eles podem constituir informaes valiosas para o policiamento comunitrio reas com uma forte associao entre pobreza e violncia podem demandar alocao especial de recursos para a preveno da criminalidade e servio social.

Fig. 1.6

Se o objetivo do mapa for representar os extremos inferiores e superiores, ento a figura de baixo bem melhor que a do meio, tanto em termos da forma como os dados esto divididos, quanto em termos da forma como so simbolizados com cores. A figura de baixo divide os dados em unidades de desvio padro, sendo os valores azuis e vermelhos o

centro das atenes. Na figura do meio, a mensagem visual quase toda perdida na combinao entre uma escolha ruim de cores e tonalidades, e em uma diviso confusa dos dados entre as classes. As mensagens visuais passadas pelos mapas so diferentes, embora a geografia e a estatstica subjacentes sejam idnticas. Este exemplo enfatiza a importncia do mapa como meio de interpretao da informao. As escolhas subjetivas relacionadas ao contedo tanto artstico quanto cientfico do mapa so cruciais. A figura 1.6 tambm nos lembra que to fcil mentir com mapas quanto mentir com estatsticas. (Lembremo-nos dos trs tipos de mentira: mentiras, mentiras 'cabeludas' e estatsticas e, talvez, mapas?) "Mentir" pode ser um pouco demais. mais provvel que o construtor do mapa engane mais os leitores na escolha de designs inadequados que na falsificao intencional da informao. Isto pode acontecer em diversos nveis, sendo o mais bsico deles quando o autor do mapa o cria para alcanar um objetivo diferente daquele de seus leitores. Em seguida, h as questes relacionadas manipulao dos dados e da arte cartogrfica. As possibilidades de apresentao e interpretao equivocadas so, em ltima instncia, praticamente infinitas. A questo chave se esses problemas constituem falhas fatais para mapas especficos.

Mapas como abstraes da realidade: benefcios e custos Os mapas tentam mostrar algum aspecto da realidade. Mas assim como os livros, filmes, televiso ou jornais que tentam fazer o mesmo, eles so insuficientes (figura 1.7). Afinal de contas, a nica representao perfeita da realidade a prpria realidade. ("Voc tinha que estar l.") Todo o resto se trata, em maior ou menor grau, de uma abstrao. As abstraes colocam escolhas. Quanta abstrao podemos tolerar? Quanta informao podemos nos dar ao luxo de perder? O tradeoff fundamental : Mais abstrao igual a menos informao (mais longe da realidade). Menos abstrao igual a mais informao (mais prximo da realidade).

Fig. 1.7

O tradeoff tambm pode ser pensado da seguinte forma: Mais abstrao igual a mais simplicidade e inteligibilidade (comunicao visual mais eficaz). Menos abstrao igual a mais complexidade e menos inteligibilidade (comunicao visual menos eficaz).

Na busca pela representao mais fiel possvel da realidade, podemos ser tentados a colocar "coisa" demais nos mapas ou em outros grficos. Isso pode resultar em mapas com muita informao, mas que podem, contudo, no passar de um amontoado ininteligvel de lixo. Normalmente, o tradeoff abstrao-realidade nos faz tender simplicidade. Melhor termos um ou dois pontos importantes claramente compreendidos do que uma confuso absoluta que leve os leitores a sentirem raiva e frustrao. Esta confuso pode, ainda, levlos a tirarem concluses equivocadas; isto seria pior do que no ter mapa algum. A considerao desse tradeoff deve ser parte do processo de produo do mapa. Com a prtica, isto se tornar "automtico", e no exigir muita reflexo. Para o iniciante, porm, uma questo importante a ser ponderada, e talvez discutida com os colegas (ver Tufte 1983, 1990).

Incidentes criminais: mensurao no tempo e espao Os crimes ocorrem tudo ocorre tanto no tempo quanto no espao. Vasiliev (1996) sugeriu que o tempo um conceito mais complexo que o espao. Espaos e localizaes podem ser vistos e medidos um tanto facilmente atravs de sistemas simples de referncia, como as coordenadas x-y. O tempo , no entanto, mais difcil de compreender, e os mapas o tm representado de diversas maneiras (Vasiliev 1996, p.138), entre as quais: Momentos. Fornecer a hora dos eventos no espao geogrfico. Quando e aonde ocorreu o incidente criminal? Durao. Como um evento ou processo se perpetua em um espao especfico? Por exemplo: por quanto tempo uma taxa de criminalidade permanece acima ou abaixo de certo nvel em uma rea especfica? Por quanto tempo persiste uma zona quente (rea de alta criminalidade)? Tempo estruturado. Espao padronizado segundo o tempo (por exemplo: regies, distritos e postos de patrulha com rotao de turnos). Distncia como tempo. Com freqncia ns expressamos a distncia como tempo. " muito longe?" "Cerca de 20 minutos." Mais especfica, talvez, a preocupao com os tempos de resposta. Na prtica, um tempo de resposta admissvel mximo e fixo corresponde distncia mxima capaz de ser percorrida pelas unidades de patrulha. Outra aplicao seria checar se um suspeito poderia ter viajado do ltimo lugar em que foi visto at a localizao do crime dentro de um certo perodo de tempo.

Atividades especializadas, como o policiamento, tm sua prpria perspectiva singular para o tempo e espao; assim, os elementos da tipologia de Vasilev variaro com relao sua relevncia de hora para hora e de local para local. No h dvida de que o tempo um elemento importante do mapeamento da criminalidade, devido ao modo como as coisas se organizam nos departamentos de polcia atravs de turnos. As fronteiras da rea de patrulha podem diferir segundo o turno, os comandantes podem requisitar mapas da criminalidade segundo o turno, e os recursos podem ser alocados diferentemente segundo o turno. Os mapas devem ser preparados semanal, mensal, quadrimestral e anualmente para que ilustrem as tendncias. Os mapas baseados no tempo devem ser ainda sofisticados temporalmente atravs do acrscimo da dimenso do turno. Os dados da criminalidade podem ser mapeados verticalmente, empilhando (fundindo) mapas um sobre o outro, utilizando diferentes smbolos para diferentes perodos de tempo. Alternativamente, pode ser preparado um mapa diferente para cada perodo de tempo. Todas essas modificaes podem ser automatizadas atravs do GIS. A importncia da seleo de perodos de tempo adequados para o mapeamento no pode ser superenfatizada. Um mapa que cubra, por exemplo, um ms, pode mascarar variaes semanais importantes. A seleo de intervalos de mapeamento por convenincia administrativa pode no ser a melhor para propsitos analticos. O calendrio semanal pode, por exemplo, ser o melhor para a convenincia do departamento de poltica, mas eventos locais como um feriado comercial, um evento esportivo, o fechamento de uma fbrica ou algum fenmeno natural podem cortar as unidades de tempo administrativas e tambm serem relevantes para a freqncia dos crimes. As questes relevantes so: Aps quanto tempo um mapa se desatualiza? Todos os dados se tornam obsoletos mais cedo ou mais tarde, mas quando mais cedo? Quando mais tarde? Essas decises so um tanto subjetivas, e exigem que "sintamos" os dados em questo. Outro aspecto do mapeamento da criminalidade no tempo e no espao se relaciona representao da mudana. Uma das questes cruciais levantadas nos departamentos de polcia : Como a criminalidade mudou neste bairro durante a ltima semana, ms, ou ano? Os mapas podem ajudar a responder esta questo atravs da representao da mudana atravs de smbolos, ao mostrar o crime como uma "superfcie" com picos que representam nveis altos de ocorrncia (reas cinzas) e vales, nveis baixos (reas vermelhas) (figura 1.8). Esta abordagem se baseia na metodologia do mapa topogrfico, na qual a superfcie da Terra representada por linhas de contorno, cada qual unindo pontos de igual valor. No mapa da superfcie da criminalidade, as reas de crime em declnio podem ser sombreadas de modo diferente das reas onde ele est em ascenso. O nico limite aos mapeadores da criminalidade, ao representarem o tempo e o espao em duas dimenses ou ao simularem trs dimenses, a sua prpria imaginao.

Fig. 1.8

Devemos, como sempre, manter nossa mente aberta. Alguns dados espao-tempo podem ser melhor representados atravs de um grfico que no seja um mapa, ou de uma combinao entre mapa e grficos estatsticos, como grficos de barra ou de setores circulares inseridos em um mapa de distritos. Aqui damos a volta completa, de volta cartografia como arte e cincia e ao tradeoff abstrao/detalhe. Apenas os mapeadores da criminalidade podem decidir, provavelmente com base em alguma experimentao, qual representao grfica a melhor para eles prprios e para sua audincia.

Projeo do mapa O que ? Um problema fundamental enfrentado pelos construtores dos mapas que a Terra redonda, e o papel no qual colocamos os mapas, plano. Quando representamos a Terra redonda sobre o papel plano, alguma distoro (talvez muita, dependendo da amplitude da Terra esfrica que tentamos mostrar) inevitvel. A projeo do mapa assim denominada porque como se colocssemos uma fonte de luz no meio de um globo transparente (figura 1.9). As sombras (grade) refletidas na superfcie prxima so a projeo.4 Suas caractersticas variam de acordo com onde a superfcie colocada. Se a superfcie toca o globo, no haver distoro neste ponto ou ao longo desta linha caso de um cilindro encaixado em torno do globo tocando-o na altura do Equador. Fora do ponto ou da linha de contato, a distoro aumenta. Entre as projees mais comuns esto a cilndrica (j descrita) e a cnica, na qual envolve-se um cone em torno do globo, como se fosse um chapu, com o seu topo sobre o plo (ver figura 1.9). O cilindro ou o cone cortado e aplanado para criar o mapa. A projeo cilndrica tende a apresentar muito mais distoro que a cnica nas altas latitudes (mais prximo aos plos).

4

Esta grade tambm conhecida como gratcula, um termo que representa o padro esfrico dos meridianos (linhas de longitude norte-sul) e os paralelos (linhas de latitude leste-oeste). Ver Campbell 1993, p.23.

Fig. 1.9

As projees mais conhecidas incluem a de Mercator 5 (til para a navegao), a cnica de rea equivalente de Albers 6, e a cnica conformal de Lambert 7(as duas ltimas utilizadas com freqncia nos mapas norte-americanos). Outro formato conhecido o de Robinson, hoje o default na projeo de mapas utilizada pela National Geographic Society. Sua vantagem minimizar a distoro das reas de alta latitude, mais que a maioria das outras projees cilndricas. Os EUA so tipicamente representados ou pela cnica conformal de Lambert, ou pela transversa 8de Mercator, dependendo do tamanho e da forma do estado. Dent (1990, pp. 72-73), por exemplo, notou que, para o Tennessee, uma projeo cnica de rea equivalente seria adequada, com o paralelo padro (a linha de latitude onde o cone de projeo toca o estado) passando ao longo do eixo leste-oeste do estado. As projees so uma ramificao altamente tcnica da cartografia, e os leitores que desejarem aprender mais so aconselhados a consultarem textos bsicos da cartografia como Campbell (1993), Dent (1990) e Robinson et al. (1984). Por que no precisamos nos preocupar As projees dos mapas so importantssimas para os cartgrafos preocupados em representar grandes reas da superfcie da Terra, devido ao problema das distores e mirade de escolhas e concesses envolvidas nas diversas projees e em suas formas diversas e especializadas. Mas o analista criminal no precisa se preocupar tanto com as projees, porque os distritos policiais so pequenos o suficiente para que a projeo do mapa (ou curvatura da Terra) no constitua uma questo significativa. H, no entanto, a possibilidade de que os analistas lidem com mapas com diferentes projees, e que estes mapas no se encaixem adequadamente quando unidos. As ruas e fronteiras podem estar desalinhadas e as estruturas, fora do lugar. Este alinhamento equivocado pode, ainda, ocorrer por razes no relacionadas projeo, conforme explicaremos abaixo. Embora os5

A projeo de Mercator, desenvolvida e batizada por Gerhardus Mercator (1512-1594), cartgrafo holands, til para a navegao porque uma linha reta no mapa representa a direo real sobre a superfcie da Terra. 6 As projees de rea equivalente, como o nome indica, representam a rea com preciso, mas no a forma. Este tipo de projeo mostra distribuies de rea como a da vegetao, na qual a rea crucial. 7 As projees conformais mantm a forma correta. Uma outra vantagem que, mantida a forma, a mantmse tambm a direo. 8 A transversa de Mercator apresenta a projeo cilndrica colocada horizontalmente - i.e., leste-oeste, e no tangencialmente ao Equador, ou norte-sul.

analistas criminais no precisem se preocupar com as projees per se, deve-se em geral dar ateno a uma questo relacionada, os sistemas de coordenadas, porque o analista provavelmente se deparar com sistemas de coordenadas incompatveis entre si. Quais a diferena entre as projees e os sistemas de coordenadas? As projees determinam como a grade de latitude e longitude da Terra representada no papel plano. Os sistemas de coordenadas constituem o sistema de referncia x-y que descreve as localizaes no espao bidimensional. Latitude e longitude so, por exemplo, um sistema de coordenadas baseado na medida angular sobre o globo terrestre. Mas h outras formas de se referir aos pontos. Todas as medidas podem, por exemplo, se basear em distncias em metros e em direes que tm como referncia a prefeitura municipal. Isto tambm seria um sistema de coordenadas. As distncias em ps e as direes poderiam ter como referncia o gabinete do chefe de polcia. A discusso que se segue apresenta alguns detalhes acerca dos sistemas de coordenadas mais utilizados.

Sistemas de coordenadas O que so? Os sistemas de coordenadas permitem que os usurios se refiram a pontos no espao bi ou tridimensional. Voc j deve ter ouvido falar na geometria cartesiana, relativa ao matemtico francs do sculo XVII Ren Descartes, fundador da geometria analtica e do sistema de coordenadas cartesianas. Em duas dimenses, ns normalmente nos baseamos em dois eixos principais, o x (horizontal) e o y (vertical). Se necessrio, acrescentamos o eixo z para a terceira dimenso. Os pontos so localizados tendo como referncia sua posio nas escalas das coordenadas x e y (e z). Os diagramas conhecidos como diagramas de disperso, ou grficos de disperso (figura 1.10) se baseiam nas coordenadas cartesianas, tendo sua origem no canto inferior esquerdo. As coisas se complicam um pouco mais quando o sistema de coordenadas se aplica forma esfrica da Terra.

Fig. 1.10

Latitude/ Longitude Para o globo terrestre, devem ser acrescentadas medidas angulares ao sistema de coordenadas x-y. Os ngulos da latitude so medidos a partir do centro da Terra entre o Equador e os plos, 90 graus norte e sul, sendo o Equador 0 grau e cada plo, 90 graus. Os ngulos da longitude tambm so medidos a partir do centro da Terra, 180 graus a leste e a oeste do Meridiano Primeiro, que passa pelo Real Observatrio Naval em Greenwich,

Inglaterra,9 local fixado em um acordo internacional em 1884. Assim, todos os EUA so descritos em graus de latitude norte e longitude oeste. Nova Orleans, por exemplo, se localiza a aproximadamente 30 graus de latitude norte e 90 graus de longitude oeste. As linhas de latitude tambm so conhecidas como paralelos, porque so, de fato, paralelas umas s outras, e as linhas de longitude so chamadas meridianos, como em "Meridiano Primeiro." As fronteiras dos estados a oeste do Rio Mississippi so predominantemente constitudas de segmentos de meridianos e paralelos. A maior fronteira oeste do Oklahoma, por exemplo, um segmento do 100o meridiano. Plano Estatal e Mercator Transverso Universal Conforme notamos anteriormente, foram adotadas projees de mapas adequadas para cada Estado, o que produziu projees da "Terra" com coordenadas baseadas na latitude e longitude, o sistema de referncia universal. Mas essas referncias "latitude/longitude", como nos referiremos a elas de agora em diante, so um tanto incmodas, porque se do em graus, minutos e segundos. 10 Existem dois grandes sistemas de coordenadas alternativos: o Sistema de Coordenadas do Plano Estatal e o Mercator Transverso Universal (UTM). O Sistema de Coordenadas do Plano Estatal foi desenvolvido para a maior convenincia do usurio, constituindo-se de uma grade retangular sobreposta gratcula latitude/longitude, produzindo coordenadas do plano estatal expressas em metros, jardas ou ps. Esse sistema pressupe cada estado como sendo chato, podendo, portanto, ser descrito pela geometria plana ao invs de pela grade esfrica. Esta utilizao da geometria plana aceitvel para aplicaes locais, porque o erro proveniente de no se levar em conta a curvatura da Terra no significativo em reas relativamente pequenas, como os distritos policiais. Grandes estados se dividem em zonas com grades separadas para cada uma, para evitar o problema da distoro. O Texas, por exemplo, se divide nas zonas norte, centronorte, centro, centro-sul e sul; a Luisiana, em norte, sul e zona costeira. A origem, ou ponto zero de um sistema do plano estatal, tipicamente colocada no canto sudoeste (como o grfico de disperso apresentado na figura 1.10) para evitar a inconveniente possibilidade de ter que expressar as coordenadas em nmeros negativos. A origem tambm colocada fora da rea de estudo pela mesma razo.

9

A latitude determinada com relativa facilidade, tendo como referncia objetos "fixos" como a estrela polar ou o sol. A longitude, como notamos anteriormente, apresenta maiores dificuldades. Sabe-se que os 360 graus de longitude, divididos entre as 24 horas do dia, significa que cada hora equivale a 15 graus de longitude. Assim, se o tempo em um determinado ponto pudesse ser mantido em um navio no mar, a longitude poderia ser calculada com base na diferena de tempo estabelecida localmente a partir da ocorrncia do sol do meiodia. O problema, at a inveno do cronmetro martimo confivel por John Harrison em 1761, era que nenhum relgio era capaz de manter sua preciso sob as difceis condies de uma viagem martima. A extraordinria saga do sucesso de Harrison encontrada em Sobel (1995). (Aprendi mais do que queria sobre este problema em uma viagem em um barco de 30 ps de Honolulu, Hava, at Santa Brbara, Califrnia, quando a tripulao se esqueceu de ajustar o cronmetro ao deixarmos Honolulu. A tripulao sempre soube sua latitude aproximada atravs de um sexante, mas nunca sua longitude. Felizmente, continuaram a se mover na direo leste at nos depararmos com a Amrica do Norte.) 10 Caso os curiosos desejem saber, 1 milha nutica, ou "n", equivale a um minuto de latitude, ou 1.852 metros (6.076.12 ps). Uma milha nutica equivale tambm a 1.1507 milhas estatutrias (Dent 1990, p.40).

O sistema UTM utilizado para a maior parte do mundo, com exceo das regies polares, e consiste em 60 zonas, norte-sul, com 6 graus de longitude cada. Cada zona apresenta um meridiano central, e a origem de cada zona se localiza 500.000 metros a oeste do meridiano central. A figura 1.11 traz uma amostra de localizao no Texas (a Assemblia Legislativa em Austin). Este exemplo especifica que a cpula se encontra 621.161 metros a leste do meridiano central da zona 14, e 3.349.894 metros a norte no Equador, latitude de origem. O acrnimo NAD aparecer como referncia aos sistemas de coordenadas do plano estatal e UTM. O NAD significa North American Datum, sistema de referncia com base em uma instncia do Kansas em 1927. As demandas por maior preciso, e o nvel de preciso proporcionado pelos satlites, levaram ao novo NAD em 1983, da a referncia na figura 1.11 s coordenadas UTM 83 do NAD.

Fig. 1.11

Por que no precisamos nos preocupar Os mapeadores da criminalidade que utilizam dados computadorizados advindos de diferentes fontes podem se deparar com problemas resultantes da digitalizao (indicao de suas coordenadas x-y) ou converso de diferentes conjuntos de dados em sistemas de coordenadas incompatveis, ou mesmo em projees incompatveis. O conflito mais freqente provavelmente se d entre as coordenadas latitude/longitude e as do plano estatal, devido probabilidade de que dados desenvolvidos localmente (normalmente nas coordenadas do plano estatal) se misturem a dados de fontes mais gerais, expressos em latitude/longitude. Ns vimos que Nova Orleans se localiza a 30 graus de latitude norte e 90 graus de longitude oeste no sistema latitude/longitude. Mas, segundo o sistema do plano estatal, ela se localiza na Zona Sul da Louisiana, com coordenadas de 3.549.191 ps a leste da origem e 592.810 ps a norte da origem. Se tentarmos colocar os dados do plano estatal em um mapa configurado para latitude/longitude, acontecero coisas desagradveis. (O que geralmente ocorre em um GIS que o mapa fica em branco. 11) Os conjuntos de dados reunidos em um mapa devem ter projees e sistemas de coordenadas compatveis. Felizmente, o software GIS permite a converso de uma projeo para a outra e de um sistema de coordenadas para o outro; ento o problema, se houver, de soluo razoavelmente simples. Mas se as incompatibilidades no so logo reconhecidas, podem causar grandes frustraes. Recomenda-se a ao positiva de checar a11

Isto ocorre porque o GIS tentar colocar ambas as localizaes no mesmo mapa nas unidades especificadas originalmente. Como resultado, o mapa pode mudar para uma escala extremamente pequena (ver a explicao da escala neste captulo) quando o GIS tentar transformar os valores das coordenadas do plano estatal em graus de latitude/longitude, colocando os dados novos muito longe. O GIS pode tentar mostrar dados para pequenas reas do Brooklyn no que ele l como o Afeganisto ou Antrtica no mesmo mapa.

projeo e as propriedades das coordenadas de um conjunto de dados novo, porque o sistema de coordenadas pode no ser aparente.

Elementos do mapa: as miudezas de sempre Os mapas apresentam, em geral, os seguintes elementos que ajudam a proporcionar consistncia e a clareza aos leitores. Um ttulo (ou legenda) para a descrio do mapa. Uma legenda para a interpretao do contedo do mapa, como smbolos e cores. Uma escala para a traduo da distncia no mapa em distncia no solo. Orientao 12 indicando a direo.

Entretanto, uma reviso dos mapas nos textos cartogrficos e em outros revela o inconveniente fato de que essas convenes so com freqncia ignoradas. O contexto dita se um ou todos estes elementos sero includos. Em uma situao, por exemplo, na qual so produzidos e distribudos repetidamente mapas do mesmo distrito, ou partes dele, para a mesma audincia, um rtulo que indique aos leitores a rea seria desperdcio de tinta. Mas se o mapa se destina a uma distribuio mais ampla para audincias que possam no saber do que ele trata, um ttulo seria apropriado. Da mesma forma, a escala pode ser redundante quando os usurios do mapa esto acostumados s suas relaes espaciais, em geral atravs de anos de experincia no campo. A orientao tambm no importante em mapas de criminalidade utilizados localmente, nos quais o norte sempre "para cima." Vale a pena notar que o mapa de Minrad do exrcito de Napoleo (figura 1.5) no possui orientao e, se quisermos ser detalhistas, tambm no apresenta legenda per se. Assim, a legenda talvez o nico elemento do mapa de certa forma (mas no inteiramente) indispensvel. Os leitores precisam estar absolutamente certos do que significam os dados no mapa, e a legenda a nica orientao confivel para esta informao. Alguns mapas podem ser to simples que a legenda no necessria. Um exemplo seria um mapa mostrando pontos, cada qual representando um arrombamento residencial. O ttulo do mapa (como "Localizao dos arrombamentos residenciais em St. Louis, setembro de 2000") pode conter a informao necessria, dispensando, assim, a necessidade de uma legenda. Essa discusso pode parecer displicente para com os elementos do mapa, mas esta implicao no proposital. Deve-se prestar a considerao necessria sobre se um elemento em particular deve ser includo; se for includo, deve conter a informao completa e precisa (para uma maior elaborao, ver "Design do mapa" no captulo 2).

Tipos de informao dos mapas12

O termo orientao deriva dos mapas medievais T-em-O. O "O" era o oceano mundial; o "T" era formado pelo Mar Mediterrneo (vertical), pelo Rio Don (lado superior esquerdo do T), e pelo Rio Nilo (lado superior direito do T). O paraso neste estilo de mapa ficava tipicamente em cima, no leste. Assim, o verbo "orientar" um mapa passou a significar o ajustamento sua direo adequada com relao Terra. Hoje, no entanto, ns orientamos um mapa de maneira que o norte fique no topo, o que uma espcie de terminologia equivocada (Campbell 1993, pp. 246-247).

Os mapas podem fornecer uma ampla variedade de informaes, que incluem mas no se limitam localizao, distncia e direo, bem como padro de apresentao de dados pontuais ou de rea. Cada tipo de dado significa coisas diferentes para usurios diferentes. A localizao , na perspectiva do analista criminal, o tipo mais importante de informao a ser representado ou reunido em um mapa. Onde as coisas aconteceram, ou onde podem acontecer no futuro, a informao mais procurada e potencialmente til, pois tem diversas implicaes para os investigadores e para a alocao dos recursos do batalho e da comunidade, alm da sua utilidade no campo do planejamento e da poltica. A distncia no muito til como informao abstrata. Ela toma vida quando traduzida em algum tipo de relao: Qual a distncia da casa da vtima at o local em que foi ela assaltada? Qual a distncia mxima que as viaturas so capazes de percorrer dentro de um ambiente urbano especfico para que atendam s chamadas em um tempo aceitvel? Que distncia um suspeito poderia ter percorrido em um perodo de tempo especfico? A direo mais til quando combinada com a distncia, embora no seja uma informao tipicamente importante na anlise criminal, a menos que ela se relacione a outros processos e condies relevantes. utilizada em geral num contexto descritivo, como "a zona quente dos arrombamentos est se movendo para o oeste," ou "roubos seriais se movem para o sudeste," ou "o lado leste est se tornando uma rea de alta criminalidade." No exemplo apresentado na figura 1.12, observou-se uma tendncia de migrao dos roubos seriais para o sul de Baltimore ao longo das principais rodovias.

Fig. 1.12

O padro um conceito especialmente til na anlise criminal, na medida em que ela envolve a descrio ou anlise do padro das ocorrncias criminais. O padro pode ser uma ferramenta investigatria poderosa, porque o modo como os pontos se configuram pode nos dizer algo acerca do processo que leva a esta configurao. Os padres so em geral classificados como aleatrio, uniforme, aglomerado ou disperso. Em uma configurao aleatria, os pontos tm a mesma possibilidade de estar em qualquer lugar do mapa. Os pontos se distribuem aleatoriamente pelo mapa. Em uma distribuio uniforme, os pontos se encontram igualmente espaados. Tambm podemos dizer que numa distribuio uniforme a distncia entre os pontos vizinhos maximizada. Em um padro de aglomerao, os pontos se encontram aglomerados, com reas substancialmente vazias.

tentador presumir que as distribuies no-aleatrias (uniformes ou aglomeradas) significam automaticamente que existe algum processo subjacente que oferecer

informaes importantes sobre a criminalidade. Mas isto pode no ocorrer. Podemos observar, por exemplo, arrombamentos reunidos em uma aglomerao, o que sugeriria uma zona quente. Porm uma investigao mais profunda mostrar que o aglomerado corresponde a um bairro de alta densidade populacional, sendo a alta freqncia no mais que uma expresso do risco geogrfico. Os termos que descrevem os tipos de padro esto sujeitos a alguma confuso semntica. Por exemplo, o que significa disperso? Um padro de disperso pode ser aleatrio ou uniforme. "Menos disperso" o mesmo que aglomerado? Foram desenvolvidos diversos ndices para a mensurao da regularidade, aleatoriedade e disperso. Para maiores informaes ver, por exemplo, Taylor (1977, captulo 4) e Hammond e McCullagh (1974, captulo 2). Dados lineares (das redes, por exemplo) e as distribuies de rea tanto discretas quanto contnuas so tipos adicionais de dados. Dados lineares. Podem ser abstradas caractersticas ou processos lineares nos mapas. O mapa de Minard (figura 1.5) o fez, ao simbolizar o fluxo de tropas na ida e volta da viagem Moscou. Os mapas de ruas utilizados no mapeamento da criminalidade tambm contm dados lineares que mostram pontos nas ruas, indicando a configurao linear dos incidentes. Em mapa que conecta os lugares onde veculos so roubados aos lugares onde eles so recuperados, linhas fazem esta conexo. Um mapa linear tambm pode conectar o endereo da vtima ao endereo do suspeito. O fluxo de trfico pode ser mostrado atravs de linhas de espessura proporcional ao fluxo (novamente como no mapa de Minard na figura 1.5). Distribuies discretas. Quando dados pontuais so combinados dentro de unidades de rea como distritos, reas de patrulha, de recenseamento ou bairros, uma rea separada da outra; ela "discreta." O mapeamento por reas discretas pode ser utilizado para reorganizar os dados pontuais em um contexto mais significativo para um propsito especfico. Os comandantes podem, por exemplo, desejar visualizar a distribuio das transgresses relacionadas a drogas por ronda de patrulha para decidir como a carga de trabalho deve ser dividida. Isto pode ser medido atravs da densidade, que expressa a freqncia com que algo ocorre dentro de uma rea. Uma aplicao comum , por exemplo, a populao por milha quadrada. A densidade tambm cada vez mais utilizada para descrever crimes, e os dados da densidade populacional podem proporcionar uma explicao adicional para os conceitos de risco ou taxa em fruns pblicos. As representaes grficas deste tipo geral, o mapeamento dos dados por rea administrativa ou poltica, so conhecidas como mapas de coroplet. 13 (Uma explicao mais detalhada oferecida no captulo 2.) As distribuies contnuas so menos utilizadas na anlise criminal que as distribuies discretas, mas tambm podem ser teis e vm encontrando aplicaes cada vez mais freqentes em combinao, por exemplo, com softwares bastante utilizados como o ArcView Spatial Analyst. As distribuies contnuas so fenmenos observados na natureza, como a forma da Terra (topografia), a temperatura e a presso atmosfrica. Todos os lugares do planeta (acima e abaixo do nvel do mar) apresentam topografia e temperatura, e todos os lugares acima do nvel do mar (e alguns poucos em terra firme abaixo do nvel do mar) apresentam presso atmosfrica. Assim, no faz

13

Do grego choros de local, e plethos de preenchimento ou aglomerao, portanto "preenchimento da rea."

sentido representar estas condies em mapas divididos por reas, como condados ou cidades, exceto para propsitos de referncia. O que isto tem a ver com o mapeamento da criminalidade? til, por vezes, presumir que o crime possa ser representado como uma distribuio contnua quando se est preparando uma superfcie estatstica generalizada que represente a densidade criminal. Isto pode produzir um quadro da criminalidade mais "suave", que pode ser sofisticado acrescentando-se efeitos tridimensionais (figuras 1.13 e 1.14). Isto implica uma aceitao do tradeoff entre a perda da informao locacional detalhada do mapa, e a figura generalizada e suavizada proporcionada pela apresentao quasi-contnua. Esta verso suavizada pode possuir a vantagem da maior inteligibilidade que o detalhe original. Outra vantagem de uma superfcie suavizada ao longo dos distritos que ela pode mostrar com clareza que as fronteiras polticas tm pouco ou nenhum significado para os criminosos.

Fig. 1.13

Fig. 1.14

Escala Os mapas so representaes em miniatura de parte da realidade. A escala nos indica o nvel desta miniatura. A escala normalmente expressa como uma proporo, em palavras, ou como uma barra localizada em algum ponto do mapa. Uma proporo coloca a escala como unidade da distncia do mapa em relao distncia na superfcie terrestre. Isto se chama frao de representao (RF). Assim, uma RF de 1:10.000 significa que uma unidade da medida linear no mapa representa 10.000 dessas unidades no solo terrestre. As unidades so intercambiveis; para um mapa 1:10.000, 1 polegada no mapa equivale a 10.000 polegadas no solo, 1 centmetro no mapa equivale a 10.000 centmetros no solo. A terminologia da escala pode ser confusa. Mapas de grande escala e fotografias areas utilizadas pelos governos locais (e provavelmente pelos analistas criminais), por exemplo, tm em geral uma escala de 1:2.400. Se expressa em polegadas ou ps, isto equivale a 1 polegada igual a 200 ps. Os usurios, portanto, costumam se referir a estes mapas simplesmente como "escala 200." Grande escala ou pequena escala? A distino entre grande e pequena escala tambm fonte de confuso, mas h uma regra simples que nos ajuda a compreend-la. Consideremos a frao de representao. Se

uma frao grande, a escala do mapa grande e vice-versa. Abro, por exemplo, meu Atlas Mundial da National Geographic e o folheio at chegar a um mapa do mundo. A escala expressa em palavras e diz: "Escala 1:66.300.000 no Equador." Esta uma escala extremamente pequena, j que 1/66.300.000 de algo no muito. Algumas pginas adiante, chego a um mapa do meio-oeste norte-americano. Sua escala expressa como "1:2.278.000" - uma frao 29 vezes maior que a do mapa do mundo. medida que as escalas vo ficando maiores, passamos do domnio dos "mapas" ao que costumamos chamar de "planos," como 1:20, onde 1 unidade no mapa (plano) equivale a 20 unidades no solo. Essas verses de grande escala predominam na arquitetura ou na engenharia, mais que na cartografia. A escala tem implicaes para a interpretao e significao dos mapas. Implcito no conceito de escala est o j conhecido tradeoff entre a abstrao e o detalhe. Uma escala pequena implica maior abstrao; uma escala grande, menor. Evidncias da psicologia cognitiva citadas por MacEachren (1995) sugerem a importncia da progresso de uma escala pequena para uma escala grande ao representarmos mapas de reas diferentes - o princpio da precedncia global-local. Em outras palavras, se voc tivesse que preparar mapas para todo o distrito e tambm para uma pequena parte dele, o melhor modo de apresentao seria colocar primeiro o mapa de pequena escala (do distrito inteiro, talvez na forma de uma imagem de satlite). O mapa da rea menor (grande escala) viria a seguir.Regrinha para a Escala do Mapa Mapas de pequena escala mostram grandes reas. Mapas de grande escala mostram pequenas reas.

Outra implicao da escala que os dados da criminalidade parecero diferentes em escalas diferentes, como nos nveis das reas de ronda e do municpio. Os mesmos dados parecero mais dispersos (menos densos) na escala da ronda, e mais aglomerados (mais densos) na escala do municpio. Na realidade, porm, as densidades (crime por unidade de rea) so as mesmas em ambos os mapas. O que mudou foi a escala. A escala tambm apresenta implicaes para a coleta dos dados. Se os mapas esto em grande escala, adequada uma coleta de dados detalhada. Mas os mapas de pequena escala so incapazes de representar detalhes muito precisos, ento se a nica escala disponvel para um propsito especfico pequena, no faz sentido a coleta de dados no nvel micro. O detalhe se perder em um mapa incapaz de mostr-lo. O inverso tambm verdadeiro. Coletar dados no nvel do cdigo postal ser uma escala demasiado grosseira para um mapa que mostre endereos de ruas.

Mapas da criminalidade: mapas temticos O que um mapa temtico? simplesmente, como o nome sugere, um mapa para um tema ou tpico. Os mapas temticos so de uma variedade quase infinita e incluem a maioria dos mapas mostrados pela mdia, como por exemplo a disperso das formigas vermelhas, a situao dos impostos sobre vendas por estado, ou a densidade populacional mundial. Os mapas temticos so como um grande kit de ferramentas - podemos selecionar um tpico e ento escolher entre as diversas maneiras possveis de converter os dados em

um mapa inteligvel que comunique audincia de maneira eficaz. Os mapas temticos podem ser quantitativos ou qualitativos. Mapas quantitativos apresentam informaes numricas, como o nmero de crimes em uma rea ou a taxa de criminalidade. Mapas qualitativos mostram dados no-numricos, como o tipo de utilizao da terra ou caractersticas vtima/criminoso, como homem ou mulher, jovem ou adulto.

Os analistas criminais utilizam ambos os tipos de mapa. Os mapas temticos podem incluir quatro tipos de medidas: nominal, ordinal, proporo e intervalo. (Para uma explicao mais detalhada, ver qualquer texto bsico em estatstica, como Burt e Barber 1996.) As medidas nominais nomeiam ou rotulam itens em categorias no-ordenadas, como raa. Se um mapa mostra vtimas de homicdio por raa, ele um mapa temtico qualitativo. O mapeamento por raa, faixa etria ou estado civil rotula os grupos sem orden-los como maior ou menor, melhor ou pior. (A informao quantitativa tambm pode ser inferida a partir deste tipo de mapa. O nmero de incidentes que afeta os grupos raciais por rea, por exemplo, pode ser contado, portanto combina interpretaes qualitativas e quantitativas. Os tipos de medidas em geral se misturam nos mapas.) As medidas ordinais classificam caractersticas dos incidentes, vtimas ou transgressores, ou algum outro atributo (talvez rea) de acordo com uma ordem. Assim, as reas de patrulha ou distritos podem ser ordenadas de acordo com sua taxa de criminalidade, incidncia de queixas ou idade mdia dos policiais. Isto envolve apenas a classificao e avaliao dos dados de acordo com seus valores relativos para que os sujeitos possam ser ordenados. No se considera quanto os sujeitos so diferentes. Podemos, portanto, colocar caractersticas qualitativas em uma escala ordinal, como a hierarquia das reas de policiamento com base no tamanho - regies acima de distritos, e distritos acima das reas de patrulha. As escalas de proporo, como distncia em polegadas, ps, jardas, milmetros, metros, etc. comeam no zero e continuam indefinidamente. O zero significa que no h nada, e 20 significa que h duas vezes mais que 10. A taxa de homicdio na cidade , por exemplo, de 3 por 10.000 habitantes. Os analistas criminais utilizaro escalas de proporo, medidas ordinais e nominais para estes dados, mas dificilmente utilizaro o quarto tipo de medida, o intervalo. As escalas de intervalo apresentam valores, mas no mostram a proporo entre eles. A temperatura um bom exemplo. Ns podemos medi-la, mas no podemos dizer que 80 graus duas vezes mais quente que 40 graus, j que os pontos de partida tanto da escala Celsius quanto Fahrenheit so arbitrrios - ou seja, no so zeros reais. Uma exceo possvel assero de que o analista criminal no utilizar escalas de intervalo pode ser o peso da gravidade (Ver Wolfgang et al. 1985a e 1985b, para mais sobre este tpico.)

Os mapas temticos existem em uma variedade considervel, e sero examinados com maiores detalhes no captulo 2. Cada tipo representa melhor algum tipo de dado. A informao no nvel do endereo demanda um tipo de mapa temtico, enquanto os dados medidos apenas no nvel do bairro, distrito ou unidade de recenseamento requer uma outra

abordagem. Na seguinte caracterizao dos mapas temticos h exemplos dos diversos modos com que os mapas temticos podem ser produzidos: Os mapas estatsticos utilizam smbolos proporcionais, grficos de setores circulares ou histogramas para visualizar os aspectos quantitativos dos dados. So colocados smbolos estatsticos em cada subdiviso do mapa, como reas de patrulha, unidades de recenseamento, bairros ou distritos. Estes mapas podem ser de difcil leitura caso contenham uma grande quantidade de detalhes, especialmente quando so mapeadas muitas subdivises geogrficas e diversas propriedades de informao. Dados nominais, como raa das vtimas em grficos de setores circulares com base nos distritos, podem ser representados em um mapa estatstico. Mapas pontuais (de pino) utilizam pontos para representar incidentes individuais ou nmeros especficos, como quando um ponto equivale a cinco incidentes. (A agregao de diversos incidentes em um nico ponto s seria feita em um mapa de pequena escala.) Um mapa que mostre a localizao do trfico por tipo de droga dominante em cada caso um exemplo de mapa pontual com dados em escala nominal. Os mapas pontuais so provavelmente os mais utilizados pela polcia, na medida em que mostram a localizao dos incidentes de maneira bastante precisa quando se utiliza dados no nvel dos endereos. Os mapas coroplet mostram a distribuio discreta de reas especficas como reas de ronda, distritos, regies, condados ou quarteires. Embora os dados pontuais possam oferecer-nos maior detalhe em termos de onde os eventos ocorrem, podemos necessitar de informao sinttica para as reas, o que importante em termos de planejamento, gerenciamento, investigao ou polticas. Notemos que os dados pontuais e as representaes coroplet podem ser ambos colocados em um mesmo mapa, se isto for adequado e no resultar em baguna. Podem ser colocados dados (pontuais) dos arrombamentos nos limites dos bairros (dados coroplet) ou em quaisquer reas que representem a geografia da polcia. Tambm podemos dar aos mapas coroplet uma aparncia tridimensional, transformando cada rea em um bloco, sendo sua altura o valor dos dados relevantes. A isolinha deriva de "iso," prefixo grego para igual, e se refere aos mapas com linhas que unem pontos de mesmo valor. A geografia fsica est repleta de mapas com isolinhas: isobarras (mesma presso baromtrica), isoetas (mesmo ndice pluviomtrico), isotermas (mesma temperatura), isobanho (mesma profundidade) e, em uma diferente utilizao do prefixo iso, linhas de contorno que unem pontos de mesma elevao. A forma mais comum utilizada na anlise criminal a isoplet (mesmo preenchimento), na qual dados para a rea como crimes por bairro ou densidade populacional, so calculados e utilizados como pontos de controle para a determinao de onde sero traadas as isolinhas.14 (Ver Curtis 1974, para um exemplo de mapa isoplet de homicdio, estupro e agresso em Boston.) Os mapas de superfcie podem ser conceitualmente considerados como um caso especial de apresentao do tipo isolinha. Estes mapas acrescentam um efeito tridimensional, erguendo uma superfcie para os valores dos dados. colocada sobre o

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As isolinhas baseadas em dados contnuos, como temperatura ou topografia, so chamas de linhas isomtricas. Podem ser tomadas medidas reais para os pontos de controle, ao invs dos pontos mdios das reas.

mapa uma grade arbitrria, e conta-se o nmero de incidentes por clula da grade. Essas contagens formam a base do mapa isoplet, onde acrescentada uma terceira dimenso, ou dimenso Z (vertical), derivada a partir dos valores da isolinha. O mapa resultante interpretado como se fosse visto a partir de um ngulo oblquo de, digamos, 45 graus. (Se fosse visto de cima, como um mapa normal, a superfcie desapareceria e o mapa apareceria como um mapa plano de contorno.) Estes mapas de superfcie contnua podem exercer um grande impacto visual, mas apresentam uma dupla desvantagem: os valores dos dados so de difcil leitura, e o detalhe por detrs dos dados mximos perdido (ver figuras 1.13 e 1.14). Os mapas lineares mostram ruas e rodovias, bem como fluxos, atravs de smbolos lineares como linhas proporcionais em espessura representando os fluxos. Alm dos mapas bsicos das ruas e rodovias, os mapeadores da criminalidade no utilizam mapas lineares com freqncia - sua aplicao mais comum a investigao do roubo de veculos, mostrando as conexes entre o local do roubo e o local da recuperao.

Dados, mapas e padres O palco est armado. Temos uma enorme carga da dados, computadores, software e impressoras. Tendo nossos dados sido coletados de forma a permitir o mapeamento computadorizado (ou convert-los a este formato; ver captulo 4), ns estamos, ao menos tecnicamente, prontos. Devemos notar que este o ponto em que o mapeamento computadorizado no s "ligar e tocar", se parecendo mais com o processamento de texto - os dados devem ser introduzidos, e as sentenas (leia-se "mapas"), compostas. Da mesma forma, no seremos capazes de realizar o mapeamento computadorizado at que tenhamos os dados em um formato passvel de ser compreendido pelo programa. Alm disso, muitas escolhas devem ser feitas. O mapeamento automtico s automtico at certo ponto. (Quando colocamos o carro no controle de velocidade, algum tem que operar o volante!) Antes que liguemos tudo e comecemos a mapear, importante que paremos e pensemos nas razes que fundamentam padres observados e mapeados. Esses padres so engendrados por condies e processos especficos, e podemos empregar teorias que nos ajudem a compreend-los. Cada tipo de crime tende a ser influenciado por diferentes condies. O furto em lojas, por exemplo, resulta de circunstncias diferentes das que produzem o homicdio. Mesmo quando se trata do mesmo tipo de crime, h diferenas qualitativas que dependem das circunstncias. Um homicdio relacionado droga, por exemplo, pode ser resultado de um conflito por causa de controle de territrio ou de dvidas no-pagas, enquanto um homicdio domstico pode ser produto de antigas animosidades entre os parceiros. Os crimes podem apresentar padres geogrficos distintos por duas razes, que com freqncia se sobrepem: Primeiro, os crimes devem ter vtimas, e essas vtimas (ou sua propriedade) possuem coordenadas geogrficas definidas em um dado momento, embora essas coordenadas possam mudar, como no caso dos veculos. Segundo, algumas reas do centro da cidade, subrbios ou reas rurais apresentam taxas de criminalidade insistentemente altas; assim, para determinados bairros, h uma

expectativa permanente de que o crime um dos grandes problemas sociais. A pesquisa de Lander (1954) em Baltimore, por exemplo, revelou altas taxas de delinqncia juvenil a leste e a oeste do centro da cidade, de 1939 e 1942. Sessenta anos depois, este padro mudou um pouco, mas permanece basicamente o mesmo. Uma discusso ampla acerca das causas do crime ultrapassa o propsito deste guia, portanto aconselhamos o leitor a consultar a literatura bsica sobre criminologia. Podemos, contudo, abordar as questes com implicaes geogrficas mais evidentes, e podemos fazlo nos movendo no continuum da escala que vai do nvel macro ao micro. Na escala macro, interpretada aqui como nacional ou regional, a variao geogrfica de alguns crimes aparente, especialmente do homicdio no caso dos EUA. Embora esse padro tenha, de certa forma, perdido sua fora nas ltimas dcadas, uma corrente de pesquisadores trabalhou com o que foi denominado estrutura da violncia sulista (SVC), a tendncia de concentrao de altas taxas de homicdio no sul. So observadas variaes regionais semelhantes em outros pases. Na ndia, por exemplo, so observadas altas taxas de homicdio nos estados do norte, mais densamente habitados. Na escala intermediria, observamos variaes nas taxas de criminalidade entre as cidades, embora grande parte dessa aparente variao possa ser explicada pelo efeito fronteira. Em outras palavras, as cidades centrais com "sub-fronteiras" (onde a rea urbanizada se espalha para alm dos limites da cidade) tendem a apresentar taxas altas, uma vez que seus territrios excluem os subrbios com baixa criminalidade. Inversamente, as cidades com "super-fronteiras" (como a cidade de Oklahoma), tendem a apresentar taxas baixas. Entretanto, de modo algum a nica explicao para a variao das taxas se encontra nas anomalias de fronteira. As cidades diferem em estrutura social, tradies, moral, fora das diversas instituies sociais, e outras condies relevantes para a criminalidade potencial. Estas incluem condies econmicas, impacto de gangues, e trfico de armas e drogas. A grande variao nas taxas de homicdio entre as cidades est representada na figura 1.15, que tambm refora o argumento de que nmeros de incidentes semelhantes podem produzir taxas bastante diferentes. (Para um exemplo interessante das comparaes interurbanas que levam em conta diversos fatores, entre eles gangues, armas e drogas, ver Lattimore et al. 1997.)

Fig. 1.15

Na escala micro ou intraurbana, devemos levar em conta diversos fatores ambientais para a compreenso dos padres de criminalidade. O princpio geral mais importante conhecido como reduo com a distncia. Este um processo derivado de outro axioma comportamental, o princpio do esforo mnimo, que sugere que as pessoas em geral exercem o mnimo de esforo possvel na execuo de tarefas de qualquer tipo. A reduo com a distncia (ver tambm captulo 6) a expresso geogrfica do princpio do esforo mnimo. Conforme mostra a figura 1.16, a relao entre o nmero de viagens e a distncia

representada por uma linha que mostra que as pessoas fazem diversas viagens curtas, porm poucas viagens longas. Observou-se que este princpio se aplica a uma enorme gama de comportamentos, como comprar, cuidar da sade, lazer, visitas sociais, jornada para o trabalho, migrao e, finalmente, a jornada para o crime. possvel criar conjuntos de curvas distncia-reduo representado diferentes classes de comportamento de movimentao. As jornadas para compras, por exemplo, podem ser dividas entre de convenincia e de comparao. A compra de convenincia se caracteriza por diversas viagens curtas, porque a maioria das pessoas comprar mercadorias como leite e po da fonte mais prxima. A compra de comparao ocorre quando os compradores necessitam de itens maiores como eletrodomsticos, carros, casas e educao universitria. Imagina-se que viagens mais longas em busca de bens e servios mais caros valem mais a pena, porque a economia no preo decorrente do melhor negcio compensar, ao menos em teoria, a maior distncia percorrida.

Fig. 1.16

Um raciocnio semelhante pode ser aplicado aos movimentos criminosos, embora no tenham sido publicados dados suficientes que permitam tal generalizao. O trabalho pioneiro de Frisbie et al. (1977), em Minneapolis, mostrou que mais de 50% dos suspeitos de arrombamentos residenciais percorreram menos de meia milha de suas casas at seus alvos. Os arrombamentos comerciais foram de certa forma mais longe, com 50% dos incidentes dentro de 0.8 milhas. Agresses de estranhos apresentaram um maior intervalo, uma vez que o limiar de 50% s foi alcanado em um raio de cerca de 1.2 milhas das casas dos agressores. Entretanto, uma grande proporo dos assaltantes de comrcio percorreram distncias mais longas que aqueles que cometeram outros crimes, provavelmente para localizar alvos mais adequados, alm evitar serem reconhecidos - o que ocorreria caso assaltassem a loja da esquina. As distncias percorridas tendem a refletir a densidade populacional e outras caractersticas do ambiente fsico (como a geografia das oportunidades) 15, sendo improvvel que as curvas distncia-reduo dos crimes sejam universalmente aplicveis. No obstante, o conceito de reduo com a distncia ainda til, mesmo se as curvas para crimes especficos no possam ser calibradas com grande preciso. Embora as jornadas para o crime variem entre os tipos de crime e com as caractersticas demogrficas dos criminosos, os alvos ou vtimas tendem a ser escolhidos perto da casa, local de trabalho, ou outras localizaes em que o criminoso vai com15

O termo "geografia das oportunidades" se refere idia de que o mundo proporciona uma abundncia de possibilidades para o crime que podem ser mais complexas do que podemos imaginar, abarcando dimenses tanto qualitativas quanto quantitativas. Por exemplo, embora os bairros ricos possam no proporcionar mais oportunidades que os bairros pobres para, digamos, crimes contra a propriedade, cada oportunidade pode proporcionar ao transgressor maior valor, porque os bens roubados valem mais.

freqncia. Se sua casa for arrombada, a chance que o criminoso no seja um vizinho to distante. A predominncia da violncia entre pessoas ntimas uma confirmao da idia de que a maioria das interaes - inclusive as negativas - ocorre a curta distncia. A reduo com a distncia um conceito geral til, mas a compreenso detalhada dos padres locais de criminalidade demanda um conhecimento tambm detalhado da especificidade local. Onde se localizam os bairros sujeitos a maior tenso social? Quais so os padres de mobilidade da populao? Quem so os chefes do cenrio das drogas e gangues, e seus movimentos afetam os padres de criminalidade? Que mudanas esto ocorrendo?

Outras perspectivas tericas Duas das perspectivas tericas mais atraentes lidam com as atividades rotineiras (Cohen e Felson 1979; Felson 1998) e o comportamento espacial criminoso (Brantingham e Brantingham 1984). Na interpretao da atividade rotineira, os crimes so vistos como alimentados por trs ingredientes: um criminoso provvel, um alvo adequado e a ausncia de um guardio capaz de impedir o ato criminoso. O guardio interpretado de maneira geral como qualquer um capaz de desencorajar - mesmo que atravs de sua simples presena - ou de interceder, nos atos criminosos. A meno dos guardies levanta a discusso do paradoxo da densidade. Este se refere idia de que, por outro lado, uma alta densidade populacional produz um alto potencial de criminalidade, porque as pessoas e propriedades esto aglomeradas em pequenos espaos. H muitos criminosos provveis e alvos adequados. Por outro lado, a vigilncia abundante, e os atos criminosos em espaos pblicos podem ser vistos por outros que, mesmo sem inteno, assumem o papel de guardio. O crime pode ser impedido ou reduzido diminuindo-se a probabilidade de transgresso por parte das pessoas (aumentando a culpa e estimulando o desenvolvimento do "policial interior" que domestica os impulsos criminosos), reduzindo a disponibilidade dos alvos e aumentando o nmero e a eficcia dos guardies. O processo de reduo da disponibilidade dos alvos se tornou conhecido pelo termo genrico preveno situacional do crime (Clarke 1992). Colocar a abordagem da atividade rotineira e sua irm, a preveno situacional do crime, em um contexto geogrfico envolve perguntar como cada elemento se distribui no espao geogrfico. Quais so os provveis criminosos? (Qual a geografia da populao de homens jovens?) Quais so os alvos adequados? (Qual a geografia de lojas de convenincia, shopping centers, bancos 24 horas, vias pouco iluminadas?) Quem so os guardies? (Qual o potencial para vigilncia, tanto formal quanto informal, dos alvos ou reas que possam conter alvos? Onde esto os espaos pblicos ou quasi-pblicos que carecem de vigilncia e esto prontos para pichaes e outros vandalismos?) A perspectiva que enfoca o comportamento espacial criminoso desenvolve um quadro no qual o criminoso motivado (potencial) utiliza pistas, ou sinais ambientais, para avaliar as vtimas ou alvos. As pistas, ou aglomerados de pistas, e as seqncias de pistas que se relacionam aos aspectos sociais e fsicos do ambiente, so como um gabarito do qual o transgressor se utiliza para avaliar as vtimas ou alvos. Intimamente ligado a este processo est o conceito de espao de atividade, rea na qual o transgressor normalmente se move, e que lhe familiar (Brantingham e Brantingham 1984).

No nvel micro de anlise, estes conceitos so teis onde sabe-se que os espaos de atividade variam com a demografia. Pessoas jovens, por exemplo, tendem a ter espaos de atividade restritos. Elas em geral no dispem de recursos para viajar para muito longe. Historicamente, as mulheres tm tido espaos de atividade mais limitados geograficamente que os homens, devido maior probabilidade de que os homens trabalhem mais longe de casa e de que seus empregos provavelmente lhes proporcionem maior mobilidade. Isto no to verdadeiro hoje em dia, mas ainda vlido em alguma medida. Os analistas que consideram os padres de criminalidade sob uma perspectiva terica podem pensar em "filtrar" os crimes de interesse atravs de uma srie de questes. A pergunta mais evidente : A geografia importante para a explicao deste padro? (O padro aleatrio, ou no? Se no, por que?) A teoria da atividade rotineira ou a teoria do comportamento espacial criminoso ajudam a explicar este padro? Este padro normal ou incomum para esta rea? Se o padro uma anomalia, por que isto ocorre? Que recursos podem ser recrutados para uma melhor compreenso da dinmica social ou outra dinmica ambiental da rea de interesse? Os analistas podem consultar seu conhecimento sobre o ambiente local e desenvolver seu prprio conjunto de questes diagnsticas, que podem vir a constituir os fundamentos de um modelo analtico. O propsito bsico desta seo sugerir que uma abordagem sistemtica para a anlise terica pode produzir resultados mais consistentes, em um nvel mais profundo de explicao. Isto no quer dizer que o analista precise se preocupar se seu trabalho consistente com todas as pesquisas j feitas; mas sim defender um projeto de pesquisa bem pensado, consistente com alguns dos conceitos mais amplamente aceitos no campo. Conforme notamos, esta curta explicao no pode fazer justia ampla gama de material que lida com a teoria neste campo. Os leitores que desejem se aprofundar devem consultar Eck e Weisburd (1995) e as demais referncias citadas anteriormente.

Nota sobre os cartogramas Os mapas que distorcem a geografia para enfatizar um tipo especfico de informao so chamados cartogramas, por implicar uma combinao entre mapa e diagrama. A mdia com freqncia publica mapas mostrando dados da populao mundial ou norte-americana como cartogramas, com as reas dos pases ou estados proporcionais sua populao. Os cartogramas tambm podem representar dados lineares mostrando, por exemplo, o tempo de viagem, ao invs da distncia fsica entre os locais. Os cartogramas no gozam de grande aplicao no mapeamento da criminalidade, embora possam ser teis. As subdivises urbanas podem, por exemplo, ser mostradas com suas reas proporcionais ao nmero de incidentes criminais. A principal limitao da utilizao dos cartogramas para os dados da criminalidade a falta de disponibilidade de softwares que permitam sua fcil preparao. Os cartogramas sempre foram projetos trabalhosos, cada qual necessitando de confeco sob medida. De um ponto de vista custobenefcio, a novidade e o impacto dos cartogramas para os dados da criminalidade no tm valido a pena.

Lembrete: inevitvel a perda de informao no processo de abstrao

O cartgrafo Mark Monmonier (1991) notou que os trs elementos fundamentais dos mapas - escala, projeo e simbolizao - podem ser distorcidos. Na criao da abstrao chamada mapa, a perda de informao garantida. Como haver perda de informao, a questo se representamos adequadamente a informao "residual" que sobra aps os dados terem sido reduzidos a propores 'manuseveis.' Como notamos anteriormente neste captulo, nosso mapas podem "mentir" como resultado de pecados de omisso ou precipitao. Podemos nos esquecer da fazer algo, e ter como resultado erros, ou podemos fazer algo que produza erros - ou ambos. Como todas as abstraes mentem de alguma forma, ns voltamos questo da presena tanto da cincia quanto da arte na cartografia. Como mapeadores da criminalidade, devemos ter sempre em mente de que podemos tomar decises artsticas (de design) que produzem confuso. Podemos tomar decises cientficas que informam mal. Nosso mapa pode ter se desviado de um grau de preciso que talvez pudesse ter sido alcanado? (Como esses dados seriam preprocessados? Deve ser utilizada a mdia ou a mediana para caracterizar esses dados?) O analista/cartgrafo sabe melhor que ningum a veracidade com a qual um mapa transmite sua mensagem, portanto ele ou ela tm uma responsabilidade tica considervel.

Nota sobre os mapas deste guia Notemos que o processo de publicao impe algumas limitaes qualidade dos mapas utilizados com exemplos neste guia. Embora os analistas criminais costumem ser capazes de produzir mapas de alta qualidade, normalmente em um formato amplo para propsitos de exibio, nos limitamos aqui basicamente a mapas concebidos originalmente em um formato maior. Felizmente, somos capazes de produzir mapas em cores, o que nos ajuda a revitalizar a mensagem visual, ajudando tambm a abranger os diversos conceitos envolvidos. Ocorre perda da definio em alguns casos, porque o original foi escaneado ou redimensionado, ou ambos. Em alguns casos, s havia disponvel um original de baixa resoluo, o que produziu uma reproduo de baixa resoluo. Assim, a maioria dos mapas aqui contidos est comprometida em alguns aspectos, e no um exemplar perfeito daquilo que desejamos passar. Talvez "faa como eu digo mas no necessariamente como pareo ter feito" fosse um aviso ideal! claro que, idealmente, os mapas devem ser claros e sofisticados com os tons ou smbolos adequados e legendas e ttulos legveis. Se este no o caso de muitos de nossos exemplos, por favor aceitem nossas desculpas. Os autores originais dos mapas, que to generosamente consentiram que os utilizssemos aqui, no so culpados por quaisquer defeitos em sua reproduo ou adaptao. Os puristas podem se chocar com a apresentao de tantos mapas carentes dos elementos bsicos geralmente considerados essenciais no design dos mapas, como escala, seta indicando o norte, ou mesmo uma legenda. Um nmero relativamente pequeno dos mapas apresenta o que poderamos chamar de uma boa imagem clssica. Os mapas que utilizamos foram em geral selecionados pela sua capacidade de ilustrar um ponto central, e a conformidade rgida aos critrios clssicos de design no foi um determinante crucial para sua incluso. De fato, se fossem exigidos os rgidos critrios clssicos, este volume no poderia existir porque, como dissemos, poucos mapas em qualquer campo obedecem a

todas as regras. Teria sido necessrio modificar a maioria dos mapas para que se conformassem com os padres rgidos, e isto seria simplesmente impraticvel. Alguns mapas que identificam bairros especficos em cidades especficas com detalhe suficiente para permitir a possvel identificao de moradias individuais foram construdos utilizando dados hipotticos, ou foram ficcionalizados para preservar a privacidade. No minha inteno apresentar interpretaes precisas dos padres da criminalidade em cidades especficas mas, pelo contrrio, ilustrar elementos do design e da aplicao dos mapas. Nenhum mapa aqui reproduzido deve ser utilizado como guia confivel para os padres reais da criminalidade nos lugares reais.