Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se...

24
Director: Gonçalo Sousa Uva | Segunda-feira 27 de Setembro 2004 | N.º 4 | Quinzenal | distribuição gratuita | www.mundouniversitario.pt Queres ser delegado do Mundo Universitário e fazer a ponte entre o jornal e a tua faculdade? Man- da os teus contactos e nome da tua faculdade para: [email protected] [toma nota] Tubarões com medo, lulas cantoras e pei- xes afins estreiam esta semana. P. 20 Pins, pins, pins e mais pins com fartura. Complemen- tos da diferen- ça para usar. P. 9 Pluto em entrevista, Nick Cave, ben Harper e a nossa agenda de concertos . P. 21 [ jukebox ] [ 7.ª Arte ] [ moda ] Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. P. 6-7

Transcript of Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se...

Page 1: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

Director: Gonçalo Sousa Uva | Segunda-feira 27 de Setembro 2004 | N.º 4 | Quinzenal | distribuição gratuita | www.mundouniversitario.pt

Queres ser delegado do MundoUniversitário e fazer a ponte entreo jornal e a tua faculdade? Man-da os teus contactos e nome datua faculdade para:

[email protected]

[toma nota]Tubarões commedo, lulascantoras e pei-xes afinsestreiam estasemana.P. 20

Pins, pins, pinse mais pinscom fartura.Complemen-tos da diferen-ça para usar.P. 9

Pluto ementrevista,Nick Cave,ben Harper e anossa agendade concertos .P. 21

[ jukebox ][ 7.ª Arte ][ moda ]

Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. P. 6-7

Page 2: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ notícias ]2 | 27 SETEMBRO 2004

Fic

ha

Téc

nic

a: T

ítu

lo r

egis

tad

o n

o I.

C.S

. so

b o

1244

69 |

Pro

pri

edad

e: M

etro

New

s P

ub

licaç

ões

Ld

a | E

mp

resa

2235

75 |

Mat

rícu

la n

º 10

138

da

C.R

.C. d

e L

isb

oa

| NIP

C 5

0543

4229

| C

on

selh

o d

e G

erên

cia:

An

tón

io S

tilw

ell Z

ilhão

;F

ran

cisc

o P

into

Bar

bo

sa;

Go

nça

lo S

ou

saU

va |

Ch

efe

de

red

acçã

o:

Mig

uel

Pac

hec

o |

Co

lab

ora

do

res:

Mig

uel

Ara

gão

; S

ara

Go

mes

| P

roje

cto

Grá

fico

e P

agin

ação

: S

ara

del

Rio

| Rev

isão

: Ad

rian

a D

uar

te S

á | I

lust

rad

ore

s: A

nd

ré L

aran

jinh

a, B

run

o F

ran

qu

et e

Car

los

Po

nte

s | S

ede

Red

acçã

o:

Ru

a D

amiã

o d

e G

óis

48 3

º E

149

5-04

3 A

lgés

| Te

l: 2

1 41

1230

0 | F

ax:

21 4

1123

02 |

Tir

agem

:35

000

| P

erio

dic

idad

e: Q

uin

zen

al| D

istr

ibu

ição

: G

ratu

ita |

Imp

ress

ão:

Lis

grá

fica

, Im

pre

ssão

e A

rtes

Grá

fica

s, S

.A;

Mo

rad

a: C

asal

Sta

. Leo

po

ldin

a –

Qu

elu

z d

e B

aixo

274

5 B

arca

ren

a

O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro.

Estudar compensaEm Portugal, os licenciados ganham em média mais78% do que uma pessoa com o ensino secundário.Segundo um relatório recente da OCDE, o nosso paísapresenta uma das mais altas taxas de rentabilidadedo Ensino Superior, ultrapassando muitos dos seuscongéneres europeus. Em Espanha, os licenciadosganham apenas mais 29%, em França este valor nãoultrapassa os 49%. Os dados da Organização para aCooperação e Desenvolvimento contidos no relatório“Education at a Glance” ilustram também o reverso damedalha. Portugal é dos países com mais baixos ní-veis de escolaridade no conjunto dos 30 que perten-cem à OCDE. 60% dos portugueses entre os 20 e os24 anos não acabaram o ensino secundário, garan-tem as estatísticas oficiais.

Mais dinheiro para as Universidades711 milhões de euros será o valor destinado às Uni-versidades no Orçamento de Estado para 2005,mais 11 milhões de euros do que no ano passado.Os números foram avançados recentemente peloConselho de Reitores das Universidades Portugue-sas e serão agora discutidos com o Governo. OConselho considera o reforço insuficiente dado o au-mento nominal da inflação em 1,5%.

Recuperar os desempregadosOs licenciados sem emprego vão passar a ter aces-so a cursos de especialização para a admnistraçãopública. A intenção do Governo é recoverter os 40mil licenciados desempregados, garantindo-lhes no-va formação e saídas profissionais. Em entrevista aoDiário de Notícias, a ministra do Ensino Superior,Graça Carvalho garantiu ainda que os novos cursosde especialização vão também ser abertos a quemtenha apenas concluído o secundário. A formaçãodurará em média pouco mais do um ano, consoanteo nível do curso.

Erasmus fora da EuropaCinco universidades vão receber já a partir do próxi-mo ano alunos de todo o mundo. Nova de Lisboa,Católica, Trás-os-Montes e Alto Douro, Aveiro e aUniversidade do Algarve, bem como o políticenicode Tomar, estão entre as 82 instituições escolhidaspela Comissão Europeia para participar neste pro-grama, com um custo avaliado de 230 milhões deeuros até 2008. Circulação de estudantes, bem co-mo o acesso a Masters internacionais de alta quali-dade estão entre os objectivos desta iniciativa, quesegundo a comissária europeia para o sector, Vivia-ne Reding, visa colocar a Europa na liderança dacena universitária internacional.

1

1 Marylin Manson, Best of quase nas lojas. Na Jukebox

2 Surfistas da poeira em destaque no Radical

3 Fugir para longe, descobrir recantos escondidos no Fugas.

4 Tubarões para todos os gostos. Na 7.ª arte.

2

3 4

Painel de Ouro

AgendaUniversitária

UNIVERSIDADE DO PORTOX Congresso de Ciências do Desporto e de Educa-ção Física dos Países de Língua PortuguesaDe 27 de Setembro a 1 de Outubro

INSTITUTO SUPERIOR DE PSICOLOGIA APLI-CADA – ISPA9th International Conference on Motivation1 de Outubro

UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOUROEncontro de Algebristas Portugueses 200428 de Setembro | [email protected]

UNIVERSIDADE DA BEIRA INTERIORIMAGO – V Festival Internacional de Cinema e VídeoJovem4 de Outubro

[ intervenção ]

“Jovens licenciados no desemprego” é já um vulgar títu-lo de imprensa. É a realidade nua e crua com a qual nosdeparamos mal deixamos o stress diário dos horáriosapertados e aulas teóricas do fantástico percurso univer-sitário. Os 4 anos investidos na valorização académica,profissional e pessoal são uma aura protectora: “eu seique isto lá fora está negro, mas hei-de conseguir!” Mas osonho desmorona-se quando caímos aos trambolhões nomercado de trabalho (eminentemente empresarial, finan-ceiro, agreste e competitivo). É urgente uma melhor articulação entre o meio universi-

tário, os centros de emprego e as empresas. É urgente areal concretização dos processos de estágios profissio-nais. Ainformação existe. Falta “apenas” articulação entreos diferentes sectores de responsabilidade nos proces-sos de emprego.Por tudo isto, encontrar emprego na área de formaçãoexige uma postura activa e determinada. Elaborar um bomCurriculum e dar-se a conhecer ao mercado de trabalhocom confiança é fundamental. Mãos à obra que encon-trar emprego é um verdadeiro “trabalho”!Vera Martins | recém-licenciada em Ciências da Comunicação

ILU

ST

RA

ÇÃ

O D

E A

ND

LA

RA

NJI

NH

A

Canudo na mão. E agora?Trabalhar num centro comercial é muito desgastante. O movimento daspessoas, para cá e para lá, as músicas de fundo habituais... há sempretanta informação para absorver!Estou a fazer uma campanha de solidariedade social. O meu trabalho,basicamente, é abordar as pessoas que diariamente passam por ali,apressadas, sem mãos suficientes para carregar as compras. Às vezes édifícil prender-lhes a atenção, mesmo tratando-se de um problema real.“Bom dia, já conhece a nossa nova campanha de solidariedade? É paraajudar crianças com cancro...”, digo. “Não estou interessado” ou “Jáconheço” são algumas das respostas mais frequentes. Outrassimplesmente ignoram. Tentam escapar-se ao contacto directo e à pressãoexercida sobre o olhar.Por outro lado, alguns rostos são sempre os mesmos. Andam por alisozinhos, em busca de alguém que possa falar com eles. Outros sãoviciados nos centros comerciais, e não conseguem deixar depassear por ali, mesmo que seja só uma vez por dia. Trabalharem locais como estes, faz-nos aprender muito sobre aspessoas... apercebermo-nos de como os centros comerciaispodem ser um autêntico refúgio da solidão diária para muita gente. Andreia Arenga | Ciências da Comunicação

Centro comercial, um refúgio da solidão

Page 3: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa
Page 4: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ 5.ª dimensão ]4 | 27 SETEMBRO 2004

Sobe, sobe,

balão sobeA pensar nas festas que, já se sabe, abundamnesta fase inicial do ano lectivo... Pocket BreathAnalyzer... Em condições de conduzir? Contraacidentes de viação ou apreensões de carta,este balãozinho em miniatura – do tamanhode aproximadamente dois dedos –funciona de forma bem simples. Apitaquando está pronto a ser utilizado epassados alguns segundos o resultadodos copos aparece no visor. Só nãochama táxis.PVP: €45 | www.smarthome.com

Anota aí!“Não é roxo, mas também é design”. Fabricadoem papel maleável, este engenhoso MorphSculptural Notepad consegue ser funcional eescultural ao mesmo tempo. Além disso, comodocumenta a imagem, também serve paranão termos sempre de andar à procura dolápis, ou da caneta. Uma pequena maravilha.PVP: €19 | //www.unicahome.com

Alvoraaada!Pois é, a temporada das sonecas até

às 15h já lá vai. Para acordar comestilo e sempre à hora certa

propomos esta verdadeira máquinado tempo. O Atomic Projection AlarmClock, como o nome indica, projecta

na parede ou no tecto os seus dígitos.Acerta-se automaticamente e nem

lhe falta o precioso calendário.PVP: €40 |

www.radiocontrolledclock.com

Brilha no escuro Relatórios para ontem? Noitadas de labutaintensiva? Sem ser um exclusivo parailuminados, este Eluminx prometefacilitar a tarefa dosestudantes noctívagos,que assim evitamperder tempo àprocura das teclas.Pesa apenas 800gramas, é compatível como Windows e com a PS2. Orato a condizer é de borla paraquem encomendar o teclado.PVP: €79 | www.eluminx.com

Tás a ber? Concebidos para visualização de televisão, teatro e eventosdesportivos... voilá, os óculos-lupas binoculares. Ajustamentofácil, lentes anti-riscos, apoio para visualização de mãos-livres. Ideais para o gigantesco anfiteatro ou para a bola.

Para o menino desfrutar do lance na perfeição e para a meninaapreciar as pernocas das vedetas. Um assombro.

PVP: variável | www.electrosertec.pt

Põe aí um

faduncho, ó meu!Haverá melhor para quem gosta de dar música? Comquatro colunas acopladas – 5w de potência –, a SoundSak Sonic possuiainda duas saídas para headphones e uma bateria com dez horas deautonomia. À prova de água e com dois compartimentos laterais, sónecessita de um discman ou walkman para cumprir como animador defestas. PVP: €129 | www.onlinesports.com

Regresso às aulasNão é nas grandes superfícies, não. Não temos mochilas da Barbie nem canetas a preço da chuva. Pedimos aos fornecedores auscultadoresinvisíveis, imagens holográficas, saltos quânticos para um futuro de exames realizados. Ainda nada chegou ao nosso humilde estabelecimen-to. | Miguel Aragão

Para os

tempos livresApós uma cura de emagrecimento, a nova PS2 da Sonytem menos 25% de volume e metade do peso. Só 2,8 cmde espessura contra os 7,8 cm da actual, tudo graças auma arquitectura interna redesenhada. Vem aindaequipada com uma porta Ethernet integrada para jogosonline. Nas lojas a 1 de Novembro.PVP: €149 | www.sony.com

Page 5: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa
Page 6: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ ídolos ]6 | 27 SETEMBRO 2004

Amúsica sempre fez parte. Da infância, de uma

adolescência igual a tantas outras. Tocava piano, es-

colheu Direito mas não gostou de ser advogada.

Preferiu realizar os seus sonhos, dar voz aos Clã, es-

gotar-se em palco. Depois do álbum Rosa Carne e de

um Verão de concertos, Manuela Azevedo, aqui.

| Entrevista de Miguel Aragão e Miguel Pacheco

COMOÉODIA-A-DIALONGEDOSCON-CERTOS? ACORDAS, vais ao café...Eu vivo numa aldeia (perto de Vila doConde), de maneira que não dá para ir logoao café. Acordo normalmente tarde, tomo opequeno-almoço em casa, porque acordosempre esfomeada. Depois depende. Seestamos numa altura de concertos, voltocheia de saudades para casa, mas tenhologo de pôr a roupa a lavar e passar a ferropara voltar para os concertos.

Já tinhas saudades deste regresso àcalma...Todos nós sentimos isso. A família é muitoimportante, dá muita segurança. A vida deestrada, apesar de ser muito entusias-mante é também muito desgastante. Pas-sas por muitas coisas diferentes, por horá-rios complicados, por noites de concertosque são bestiais quando corre tudo bem,mas depois tens cinco horas para dormir.Estás sempre a viver opostos, momentosde grande euforia com momentos de gran-de cansaço.

Nunca te apetece desligar, abandonartudo?Eu gosto muito da estrada. Divirto-memuito com as viagens e temos gente muitofixe connosco. Não me sinto muitas vezescom vontade de desligar. Há alturas emque sim, quando já estamos com muitosconcertos nas costas, muitas entrevistas.

Nunca se fartam uns dos outros?Também, mas nós sabemos lidar com isso.O “já estou farto de te ver, o sai daqui, baza,”acontece. Mas também nos conhecemosmuito bem e com os anos aprendemos a teralguma elasticidade para lidarmos uns comos outros. Quando um começa a ficar can-sado e com saudades, temos que ter pézi-nhos de lã para que a vida seja toda melhor.

Mas há sempre hábitos que irritam...Somos pessoas muito normais e acabamospor ter alguma normalidade na estrada. Àsvezes há uma ou outra coisa. Muita gentepergunta se temos rituais para entrar nopalco. Mas nós não temos nada disso.Somos uma seca de um grupo. Não temosmanias nenhumas.

São todos grandes amigos, partilhamtudo?O contrário seria impossível em 12 anos detrabalho. Que implicam ensaios, estrada,discutir o que vais fazer na carreira de umgrupo.Decisões importantes para todos co-mo parar e deixar de ganhar di-nheiro durante algumtempo .Essetipo dede-

“ O mundo não é nadasimpático”

Page 7: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

| 727 SETEMBRO 2004

cisões fazem com que nos conheçamosmuito bem. Apesar de tudo não somosdaqueles grupos que andam muito jun-tos. Cada um tem o seu reduto onde osoutros não entram. Não vamos jantar, to-mar café. Há alguma distância. Nós esta-mos tão juntos durante tanto tempo que épreciso esse espaço para respirar.

Nessa tomada de decisões, há alguémque pese mais, quando?O Hélder é decididamente o chefe. Não nosentido de ser mandão, mas é a pessoa quetem ideias muito mais claras, do que deveser o caminho musical dos Clã, o caminhoartístico. E as decisões são sempre moti-vadas por necessidades artísticas. É mui-tas vezes o Hélder que coloca as questões,aponta problemas e soluções, mas a deci-são é sempre assinada por todos.

Também é o Hélder quem escreve a maio-ria das letras. Não te incomoda cantarsem escrever? Não, de todo. A identificação completanão passa por achares que és aquelacriatura. Muitas vezes nem és. A coisaporreira da interpretação é poderes fazerda canção uma coisa tua. Isso é muitogratificante e não vejo nenhuma dificul-dade nisso. A minha maior dificuldadeseria escrever. Acho maravilhoso, masnão sou nada criativa.Nunca te apetece falar sobre o que vês?

Passar uma mensagem mais crítica?Nós já fizemos coisas dessas. O “Luso-QualquerCoisa” é um disco muito mais con-taminado de críticas sociais, de um discursomais irónico sobre a realidade. O Kazoo tam-bém tem muitas dessas coisas. Este discotem um universo tão pessoal, tão intimistaque não há espaço para esse tipo de dis-curso. O importante na criação artística é oque é urgente para o artista fazer e não omais correcto ou eticamente mais necessá-rio. Não acho que é por aí que a gente vá.

E o que é que te choca mais quando olhaspara fora, para o mundo?É sempre um bocadinho doloroso olhar.Ainda por cima tendo sido mãe há poucotempo, ainda me custa mais. O mundo sem-pre foi muito violento, mas não estávamoscom o canal de televisão sintonizado. Ape-sar de confiar no futuro, há muita coisa queme deixa descontente, o mundo actual, ofacto de termos sido obrigados a aceitar umaguerra contra o Iraque por razões mentiro-sas. Esse tipo de impotência das pessoas edas ideias contra o dinheiro e os poderosossão coisas que me chocam. Em Portugalpreocupa-me imenso a mudança políticaque houve com o Governo, o desinvesti-mento na cultura, na educação.

Nunca sentem que precisam de dar o aler-ta, de falar sobre esses temas..Nós falamos disso em entrevistas, mas

nunca quisemos tomar posições políticasassociadas a partidos. Mais importante doque estar associado a um ideário político éfalarmos das ideias certas, das coisas cer-tas. E acho que isso dá mais força do quesermos militantes de um partido ou apoiar-mos uma candidatura. Em iniciativas quetenham a ver com ideias, a gente está lá.Se for para dizer não à despenalização doaborto, estamos lá. Se for para dizermos

não à guerra do Iraque, estamos lá. Masnão para apoiar um partido.

Voltando à música, como é que vêem ofuturo dos Clã?O nosso objectivo é continuar a fazer disto anossa vida e isso implica fazer discos, con-certos, fazer cada vez melhores espectácu-los, investir sempre na nossa profissão parapodermos alargar, não só territorialmentecomo artisticamente o nosso trabalho. Masnão existe nenhuma programa, nenhumaespécie de metas definidas de números dediscos vendidos.

Há destino certo, sons e projectos ondequerem chegar?Nós não temos muitas preocupações comcatalogações estéticas. Porque nunca foiisso que a gente fez. Tivemos sempremuita liberdade nos ingredientes que utili-zámos para fazer a nossa música, o nossoespectáculo, as nossas canções. Acha-mos mesmo que a grande vantagem deestarmos nesta profissão é podermosexercer a liberdade para chegarmos aboas canções, a bons espectáculos, aboas banda sonoras. Seja o que for. É issoque nos move. |

Aos 18 anos e já com vários anos de for-mação musical, aparece o curso de Direi-to em Coimbra. Foi uma opção cons-ciente?Sim, foi muito pensada. Eu era uma meni-na responsável e era o que queria seguir.Além da música, claro.

Quando é que descobriste...Que me tinha enganado? Houve algumascoisas que não me agradaram. Não só ofacto de algumas cadeiras serem muitodesinteressantes, mas que tínhamos degramar. Mesmo assim, gostei muito dotempo que lá estive. Gostei muito de algunsprofessores que encontrei. O Orlando Car-valho, que era um terror, toda a gente temiao homem, mas que dava aulas deliciosas.Mas tive bons momentos, também porquegostava muito do pensamento jurídico, dorelacionamento das coisas, de perspectivar,de argumentar. Mas havia outras dimen-sões mais chatas. O direito fiscal...

E o ambiente?Nunca me liguei muito ao ambiente acadé-mico, liguei-me muito mais a determinadaspessoas. Fiz amizades muito fortes emCoimbra.

Se a música deixasse de ser viável, oDireito seria uma hipótese?Acho que tentava fazer outra coisa qualquer,trabalhar num café, sei lá. Fiquei muito trau-matizada com o estágio, com a advocacia,com a minha falta de jeito para aquilo. Como choque dos meus ideais românticos coma realidade. Custava-me ver que se fazia

muita injustiça devido aos atrasos nos tri-bunais e por advogados estagiários e semexperiência defenderem as pessoas menosfavorecidas. Houve muita coisa ali que medeixou desapontada. Não só o sistema dejustiça português, mas também a minhaincapacidade para exercer.

Mesmo sem o Direito, acabaste por teconcretizar na música. Não há muitagente contrariada quando escolhe umcurso?Hoje em dia, qualquer pessoa pode ir paraa Universidade. Agora, não é inevitável queassim seja. Há pais que programam a vidados filhos, que insistem no “qualquer pes-soa para ter sucesso na vida, para sersocialmente útil tem que ter um curso”. E não é bem assim. Lembro-me de dizeraos meus pais que se não entrasse emDireito tentaria no ano seguinte. Não iaandar a gastar dinheiro numa coisa quenão queria fazer. E isto apesar de ter tira-do um curso que afinal acabou por não meservir para nada.

Nada mesmo?Serviu para discutir ideias, para aprendermais. Mas não serviu na perspectiva em queas pessoas vêem hoje os cursos: um canu-do que vai garantir trabalho.

A realidade acaba por destruir muitossonhos?Sim, eu também senti isso. A pessoa estácheia de vontade de ir para mundo e mudaras coisas. Mas é difícil, porque o mundo nãoé nada simpático.

A música nacional está bem e recomenda-se, garante a vocalista dos Clã. “Tem gentenova e gente velha que continua a trabalhar muito bem.” Referências da velha guarda?Da Weasel, Sérgio Godinho e Mão Morta. Quanto aos novos, admite que não é propria-mente a pessoa mais atenta, mas lá vai desfilando alguns nomes. ”O projecto Mesa émuito engraçado. Pluto, estou ansiosa por ouvir o disco, apesar de não se poder dizer quesejam propriamente novatos. O Manuel Cruz e o Peixe (vejam a entrevista na Jukebox)já têm alguma experiência. Gosto muito da voz dos Toranja, muito expressiva. Gosto damaneira como exploram a língua”, portuguesa, entenda-se. Gomo, Sam the Kid e Deale-ma completam o lote. Quanto à indústria, muda o discurso. ”Há uma grande confusãoagora com as editoras, com a crise do mercado, quebra de vendas e desinvestimentogeral em novos projectos, o que é preocupante. Temo que com a crise haja alguma dimi-nuição de produtos de qualidade no mercado, por não haver dinheiro para se patrocinarou por só se patrocinar lixo.”

[ ídolos ]

| “Era uma menina responsável” |

| Muito qualidade, pouca indústria |

Page 8: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ radical ]

Inventado por um australiano que o testava no seu filho de onzeanos, o Dirtsurfer procura agora adeptos em Portugal. Prome-te sensações semelhantes às do surf e semser preciso juntar água. | Miguel Aragão

8 | 27 SETEMBRO 2004

"Tudo o que eu queria era uma máquinaque curvasse de forma fluida como no surfou no snowboard". Cansado de um Verãosem ondas e de um Inverno sem neve, oaustraliano Graeme Attey meteu mãos àobra e um ano depois, em 1999, o Dirtsur-fer estava finalmente em condições de sercomercializado. Rapidamente, espalhou--se pelo mundo e cerca de 4 anos após oseu nascimento chegou a Portugal. "Vi-ona televisão num canal brasileiro e interes-sei-me logo. Depois, encomendei o meuem Espanha". Interessou-se de tal maneira que, além deter trazido a marca de Graeme – DirtSur-fer – para Portugal, Ricardo Encarnaçãoencontra-se actualmente empenhado nacriação da primeira associação portugue-sa da modalidade, apesar do ainda redu-zido número de praticantes. "O maior pro-blema é o aspecto do aparelho em si, queassusta um pouco as pessoas", esclareceo dirtsurfer português, "o que não deixade ser curioso, já que este desporto é se-guro e de aprendizagem muito rápida". Aocontrário do snowboard, em que são ne-cessários alguns dias, garante que meiahora é suficiente para se tomar o gosto aeste "surfar em seco". E entram os dadostécnicos, nomeadamente um inovadorsistema de direcção. A roda da frente está

montada num garfo oscilante suportadopor um cubo de rolamento colocado noponto mais baixo e dianteiro do quadro, oque facilita as mudanças de rumo. Apeli-dado nos Estados Unidos de "skateboard-on-steroids", o dirtsurfer é, acima de tudo,uma máquina com um potencial tremen-do. Tanto pode ser utilizado no tradicional"off-road downhill", descida em terrenoacidentado, como no "high-speed downhillroad", no asfalto e a alta velocidade, atin-gindo os 105 quilómetros por hora. Aténas superfícies planas se despende me-nos energia do que num skate. Actual-mente, o recorde não oficial de longa dis-tância em recta pertence ao australianoCahn Mitchell, que percorreu 55 quilóme-tros em três horas, à noite, na auto-estra-da Great Nothern-Austrália. Outra das grandes mais valias do dirtsur-fer é a possibilidade de o conjugar comuma vela de Windsurf ou com um kite. Nocaso da vela, basta apertá-la no pequenoorifício de 8mm situado na base do apare-lho. Com o kite, o conceito das duas gran-des rodas colocadas no mesmo eixo tra-duz-se numa estabilidade e confiançaimpares, garantem os especialistas. Nãofalta por isso liberdade para as manobrasmais arrojadas, na terra ou no asfalto. Océu é o limite. |

MISTURAEXPLOSIVA

Preços e contactos O preço de uma destas máquinas varia conforme as especificações de cada modelo. O maisacessível DirtsurferGP custa aproximadamente €400 enquanto que o mais dispendioso, FlexiDeckatinge os €750. Os interessados podem realizar um test-ride grátis na Serra de Sintra, cruzamentodos Capuchos, todos os domingos a partir das 15h. Marcações pelo telemóvel 96 2303138 – Ri-cardo Encarnação

Page 9: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ moda ]| 927 SETEMBRO 2004

Nos anos 90 as t-shirts com slogans de-ram cartas. Hoje, para dar a conhecer oque nos vai na alma, já não é precisotanto. Basta prender um pin na lapela.Esquecidos durante algum tempo, res-surgem dos “baús” da moda, cheios dedesign e prontos a emprestar estilo aotrapinho mais sem graça.Os pins forammoda que teve o seu auge na década de80, associada ao movimento punk, amaioria utilizava-os para dar a conhecergostos musicais, mensagens e ideolo-gias políticas. Dessas características, ospins de hoje pouco conservam. Já naosão objectos associados a uma minoria epassaram a reflectir os gostos de quemos compra. E há-os para todos os tipos:politizados, abstractos, divertidos, atrevi-dos ou até feitos à medida. O único limiteé a imaginação de quem os usa.Quem compra um pin, fá-lo essencialmen-te por um motivo: porque é uma forma ba-rata de expressar a sua identidade. Compreços entre 50 cêntimos e um euro emeio, tornam-se bastante mais apelativosdo que exibir o último modelo de telémovelou os ténis do momento. Conscientes des-te fenómeno, são já muitas as marcas queincluem pins nas suas colecções. Nomescomo David and Goliath, Pucca, Emilly theStrange, Gola ou Pepe Jeans exibem-nosorgulhosamente nas montras das suas lo-jas, pregados em t-shirts, calças de gangae até sapatos. O objectivo é poder acederà identidade da marca, massem rombos na carteira. Mui-to procurados são tambémsites como a Wear It WithPride, que fazem destaspequenas chapas, autênti-cas obras de arte. Geridopor Tim McKnight e DarrenFirth, este projecto tem comofim divulgar os pins, convidandojovens criadores a fazerem deles assuas “telas”. A ideia já resultou em

mais de 600 criações, que podem ser ad-quiridas em www.wearitwithpride.com, porapenas 3 dólares cada. Em termos históricos, os primeiros “pins”conhecidos foram criados a pedido do Pa-pa, no séc. XII. Representavam S. Pedro eS.Paulo e eram usados pelos peregrinoscomo sinal de devoção. Desde essa épo-ca, a história destes objectos percorreu umlongo caminho. Analisar o seu papel comoagentes da evoluçao político-social, é o ob-jectivo do British Museum de Londres, quelhes dedica uma exposição que estará pa-tente até 16 de Janeiro de 2005 e que po-de ser “visitada” em www.thebritishmu-seum.ac.uk/cm/badges/.Seja por coleccionismo, vaidade, rebeldiaou ideologias, a verdade é que é difícil re-sistir a este verdadeiro “vício”. O círculo damoda deu a volta por cima e este Outonoé, quase de certeza, presença indispensá-vel em todas as lapelas. Just Pin it! |

O CÍRCULODA MODASão redondos, pequenos e baratos. Objectos de culto nos anos 80, ospins regressam agora como complemento essencial. | Vanessa Marques

Page 10: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

“SIM, ESTOU A PERCEBER. TUDOBEM. Mas se calhar é melhor ligar daqui aum bocadinho... quer dizer, isto agora nemestá com muito movimento, podemos falarjá”. Na azáfama da banca improvisada juntoà secretaria, o presidente do núcleo de estu-dantes da Faculdade de Direito da Univer-sidade de Coimbra, lá acede ao pedido. Sebem que não revele todos os segredos ine-rentes ao ritual de receber o “caloiro”, alguns“truques” sempre acabam por ser partilha-dos.Na banca há panfletos para distribuir. Apa-drinhamentos a fazer. Esclarecimentos a darsobre as regras da praxe, a faculdade, o sis-tema de ensino, a lei das propinas. “Diz-semuita coisa a respeito das praxes. A maio-ria dos caloiros vem receosa, por isso há quecomeçar a inseri-los no meio”, resumeManuel Loureiro.Com o objectivo de explicar aos caloiros ofuncionamento da instituição, do curso e domundo que os espera “lá fora” está previstauma espécie de sessão de esclarecimento.O presidente do Conselho Directivo e umantigo aluno da faculdade (o ano passadofoi o actual bastonário da ordem dos advo-gados, José Miguel Júdice) serão os anfi-triões.Entre aulas e tertúlias, modos de acolhi-mento extra, em que “integração” e “diver-

são” são as palavras de ordem. É o que seespera da semana de iniciação à vida aca-démia. Acabadinhos de chegar à faculdade,os “bichos” são levados para o jardim botâ-nico para da cidade onde desempenham opapel de touros na já “famosa tourada” deinício de ano. Fazer declarações de amoraos Drs. e às Dras., “para se desinibirem”também é da praxe. E, admite o presidentedo núcleo, “às vezes também utilizamos oscaloiros para gozar com os outros vetera-nos”. Entre fados e guitarradas, copos, e aeleição dos Mr. e Miss caloiro do 1.º ano,prevê-se que o jantar dos recém-chegadosencerre o ritual em amena cavaqueira.

Os resistentesSe na Faculdade de Direito de Coimbra atradição académica faz da praxe um costu-me indispensável ao começo do ano lecti-vo, na Faculdade de Ciências Sociais eHumanas da Universidade Nova de Lisboa,por exemplo, “não se passa grande coisa”.Quem o diz é Andreia Reis, que vai na suaquinta matrícula do curso de Ciências daComunicação. “É tudo muito calmo”. Nãofossem pequenos grupos dos cursos de lín-guas, geografia e comunicação que fazem“umas graças” e parecia o “período normalde aulas”. Até porque, no mesmo recinto,esses pequenos grupos convivem com ele-

mentos do MATA– Movimento Anti TradiçãoAcadémica -, que pintam os muros da facul-dade e distribuem panfletos, lançando rep-tos contra o que apelidam de “submissão”.Apesar de nunca ter praxado ninguém,Andreia lembra-se de ter sido praxada logono primeiro dia de aulas. Conta que foramlevados, de olhos vendados, para uma esco-

la primária que fica perto da faculdade. Pelocaminho, tempo suficiente para aprenderemo hino do curso, que os havia de inspirar nosanos subsequentes. “É orgia, é bacanal, écomuni..., é comunicação social”, lá vaidizendo o refrão. Já na escola, mal puderam abrir os olhos,repararam que estavam rodeados de miú-

10 | 27 SETEMBRO 2004

“Eu praxo, tu praxas... eu sou praxado”. Próprio do léxico académico, o “praxar” tem sido conjugado ao longo das sucessivas geraçõesestudantis. Com as mais variadas interpretações. | Raquel Louçã Silva

Bichos ao poder

Costume de tempos quase imemoriais,as tradições de praxe remontam aCoimbra e à Universidade. Já em tem-pos medievais a entrada na vida acadé-mica coimbrã implicava o uso da capa ebatina, símbolos de uma comunidadecom regras e hábitos. No século XIX apraxe mais típica era o “canelão”, umaespécie de corredor da morte para oscaloiros. Duas filas de “doutores” agru-pavam-se para dar caneladas aos “bi-chos”, que no meio dos protestos e dasdores entravam na Universidade. “Nes-ses tempos – reza a versão oficial do Có-digo da Praxe – Coimbra era o terror pa-ra “bichos” e “caloiros”. Tempos essesem que até o “sindicato das lavadeirasdo Baixo Mondego”, constatando a exis-

tência de matérias estranhas no centrodas cuecas das vitimas da Praxe, exigiaque se tomassem resoluções higiénicaspor uma Academia limpa e desempoei-rada sob o lema: “avante pela cuecalimpa”. Nessa altura ainda não existiamos “dux veteranorum”, que são uma in-venção do século passado juntamentecom os Conselhos de Veteranos. A partirde 1974, as praxes estenderam-se às ou-tras universidade com práticas mais oumenos democráticas. Porto, Lisboa,Évora, todos os pólos têm a sua, todasas universidades praxam individualmen-te ou em grupo. A capa e batina foramsubstituídas pelos trajes de festa, os ro-los de papel higiénico na cabeça, as tin-tas na cara. Sinais do tempos. | MP

[ flash ]

| Memórias da praxe |

???

Page 11: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

dos com pinturas nas mãos e “prontos a ata-car”. Comandados pelos veteranos, e “emverdadeiro delírio” foram pintando caras,unhas e o que mais conseguiam. Antes disso já os colegas do 2.º ano tinhampreparado uma “aula fantasma”, em queuma rapariga “disfarçada de professora”mencionava uma lista de bibliografia gigan-tesca com manuais em grego e alemão deleitura obrigatória. “Foi giro, foi diferente”,lembra com um sorriso.

Do passeio no Douro às brincadeirasEste ano vai haver o sarau – espectáculodos vários grupos culturais da faculdade,para que os recém-chegados fiquem aconhecer os núcleos onde podem inscrever-se. O rali paper – para ficarem a conhecera faculdade. E “estamos a pensar organizaruma viagem de barco no rio Douro”, diz oDux Veteranorum da Faculdade de Enge-nharia do Porto. Vítor Serralva desempenhao cargo máximo da hierarquia académica, éuma espécie de presidente do conselho deveteranos.“Para além disso também se fazem saídasa outras faculdades”, em que os caloirosdesfilam pela cidade ecoando “cânticos epouco mais”. Porque, diz o Dux, “as brinca-deiras” são guardadas para as alturas emque só os estudantes estão presentes.Sem querer alongar-se a explicar do queconstam essas “brincadeiras”, comentacom orgulho a antiguidade da tradição aca-démica naquela instituição. E garante: “é

aqui que se fazem os grandes amigos.” “Costumes especiais e convenções usadaspelos estudantes da Universidade de Coim-bra”, diz um velho dicionário de Língua por-tuguesa a respeito de “praxe académica”.Mas se a tradição tem raízes na academiacoimbrã, certo é que os ventos se encarre-garam de semeá-la de norte a sul do país.Por isso, nestes dias “os capas negras” vãoandar à solta. Mais rigorosos ou a viver dosimples improviso cumpre-se a tradição e,matrícula a matrícula, dá-se a ascensão dos“bichos” ao poder. |

| 1127 SETEMBRO 2004

[ flash ]

Com uma estrutura transversal porque mãodeve haver hierarquia dentro da organiza-ção, o MATAbate o pé às praxes há mais de10 anos. Em nome do quê e contra quem?Tem a palavra Tiago Gillot, do MovimentoAnti-Tradição Académica. | Miguel Aragão

O que é que vos move?

Nós aparecemos em Lisboa como reacçãoao intensificar das praxes um pouco portodo o país, no início da década de 90. Hojenão somos apenas um movimento anti-praxe, mas um grupo que tenta colocar aquestão da praxe como ponto de partidapara todas as outras.Todas as outras tradições académicas?

Não só. Nós achamos que a existência daspraxes e das outras tradições académicastêm sido uma barreira à discussão dentrodas faculdades sobre os assuntos específi-cos da própria faculdade e do mundo.Quer dizer que as energias são todas

canalizadas para o mesmo?

O que assistimos hoje na comunidade estu-dantil é que se discute apenas as praxes eoutras tradições. Movem-se estudantespor questões relativas às universidades. Nomáximo, por leis que lhes dizem respeito.A universidade deixou de ser um fórum.E como é que actuam?

Antes concentrava-mos quase todos osesforços no princípio do ano. Mas estamosa tentar inverter essa tendência. Recorre-

mos a panfletos, participamos em debates,nalgumas festas.Temos percorrido outroscaminhos, apelando a reflexões mais pro-fundas para tirar a questão do seio das uni-versidades e colocá-la na esfera pública.Quais são os maiores abusos?

É tentar transmitir às pessoas ideologias,uma moralidade. E isso é evidente no papeltransmitido do que deve ser a mulher ouna visão conservadora sobre a sexualida-de, a obediência e a estratificação sociale cultural das pessoas. Há sempre abusos,às vezes, violência física. E até mortes.Há algum caso que os tenha chocado?

O que mais directamente acompanhei emais me chocou, foi o caso da Ana Santos,no ano passado, em Santarém. Obrigaram--na durante horas a estar de pé, encheram-na de bosta e expuseram-na para que todaa gente lhe pudesse tocar.Não há vantagens na praxe? Como ritual

de iniciação?

Para que é que precisamos de um ritual deiniciação à entrada para a universidade?Quando ingressamos num emprego isso nãoacontece. É a visão de quem está a entrarno Olimpo, que é tudo aquilo que nós nãoqueremos. Auniversidade é um direito paratoda a gente. E pior ainda, essa iniciaçãofaz-se com moral, não é neutra nem sequerespontânea. E quando alguém não gostadessa moral, não pode ter outra. E isso nãoé normal numa escola pública.

| Uns dizem mata, outros esfola |

Page 12: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

Tam

ariz

, fe

sta

Mon

tanh

a e

Mar

, Q

uiz.

..Não

para

faz

er t

udo

num

a no

ite?

Poi

s nã

o.F

oram

vár

ias.

[ noites e copos ]12 | 27 SETEMBRO 2004

INVESTE EM TI MESMO!FAZ O TEU BOOK FOTOGRÁFICO NA CENTRALFACES

- people. Publicidade - Castings - Trabalhos Temporários e muito mais! Para mais informações: 912212779 | [email protected]

Lisboa

COM O APOIO DE:

www.centralfaces.pt

Page 13: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa
Page 14: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

14 | 27 SETEMBRO 2004

[ noites e copos ]

Porto

COM O APOIO DE:

www.centralfaces.pt

Vog

ue

afin

s no

Por

to,

Rem

ix, T

apas

Bar

e V

inyl

em

Coi

mbr

a.

Page 15: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

| 1527 SETEMBRO 2004

Coimbra[ noites e copos ]

Page 16: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ fugas ]16 | 27 SETEMBRO 2004

VAMOSEMBORACom poucos trocos no bolso. De Lisboa, ao Porto, dos vales do Douro,

às areias do Saara. Fugir para nunca mais estudar. | Raquel Louçã Silva

Lá por o Outono estar aí não quer dizer que os fins--de-semana a dois tenham obrigatoriamente de pas-sar pelo "juntinhos no sofá em frente ao televisor".Não que seja mau, entenda-se. Até ao final de Outu-bro ainda há tempo de fazer uma viagem ao passa-do, a bordo do comboio histórico que percorre os so-calcos vinhateiros da região do Douro. A vapor ou adiesel, estes comboios do início do séc. XX deslizamao longo do vale do rio Douro, no percurso Régua/Tua, ou do Corgo, no eixo Régua/ Vila Real. São várias as empresas que organizam estes per-cursos e os programas que disponibilizam tambémcostumam incluir refeições a bordo, animação e ven-da de produtos regionais. Se não és grande entu-

siasta das velhas locomotivas, há sempre a hipótese de uma viagem de barco ou de he-licóptero. Garantido está sempre um fim-de-semana entre cenários únicos.Programas válidos de Maio a OutubroPreço: 60/ 90 Euros, fim-de-semana | Informações: www.cp.pt | www.cenarios.pt | www.douronet.pt

"Descobrir a cidade das sete colinas emdezasseis visitas guiadas". Este bem po-dia ser o slogan dos vários itinerários cul-turais que a Câmara Municipal de Lisboajá promove há dois anos. São visitas guia-das e gratuitas, mesmo que muita gentenão conheça. Todas as quartas-feiras esábados de manhã, duas dezenas depessoas percorrem as ruas da capital.Desde a "Lisboa de Pessoa" até à "Lisboadas vilas operárias", são muitas as rotas

possíveis. Para as tardes de Outubro ficaa "Lisboa Boémia", as tascas para aguçaro apetite, uma ginjinha a prometer maisnoite, mais copos. Recantos esquecidosde tempos idos, pátios perdidos de umaLisboa antiga, para descobrir.Marcações: 21 356 78 00 (no primeiro dia útil decada mês para o mês seguinte)

Alguns itinerários:Lisboa de Pessoa, Lisboa Romana, Lis-boa da Sétima Colina, Lisboa Moura.

Da Sé à Ribeira, do circuito da Vitória ao circuito de Miragaia. Quatro itinerários culturaispara fazer, quatro passeios para quem quer conhecer realmente o Porto. Nas tardes desábado, com a companhia de especialistas em história, conhecem-se os contos, históriase mistérios que fazem do centro histórico património cultural da humanidade. A Câmara do Porto organiza estas visitas há sete anos. Pode-se dizer que já fazem parteda tradição da invicta. Preço: 5 Euros | Informações: www.portoturismo.pt | Marcações: 22 209 97 70

Um país vizinho, outro continente. Uma rea-lidade a poucas horas de distância, outracultura. É esta aparente contradição quedesperta a curiosidade e faz de Marrocosum dos destinos mais procurados pelos por-tugueses. Há o chá de menta para fazeresquecer o calor, as compras a preços dis-cutíveis, quase sempre negociáveis. E depois há o deserto para ajudar a des-pertar os sentidos. Para os aventureiros,uma viagem de carro até Marraqueche ouFez, é uma coisa. Entrar no Saara é outra.A beleza do deserto pode ser traiçoeira epor isso convém optar por viagens organi-zadas. Há algumas empresas que organi-zam esse tipo de percursos. A AGAPE, por exemplo, promove expedições de jipe,a que chama "Despertar dos Sentidos". O

nome não é escolhido ao acaso. Acamparno deserto e assistir a um pôr do sol mexecertamente com os sentidos. Além disso, háo convívio com o povo Berbere, a sua músi-ca, a sua tradição. Para quem se quiseraventurar por terras marroquinas esta podeser uma boa solução. Nove dias numa expe-dição para descobrir o verdadeiro significa-do de um conhecido provérbio Tuaregue:"Deus criou o mar para que o Homempudesse viver e criou o deserto para que oHomem pudesse descobrir a sua alma."Últimas datas de 2004: 22 Out. a 01 deNov. e 25 Dez. a 04 Jan.Preço: 880 Euros, tudo incluído | Marcações: 919 393 113 / 965 740 326 (até 3 semanas antesda data de partida) | Informações: [email protected]

| No calor do deserto |

| Bastam uns trocos |

| Sem vagão cama |

| De bolsos vazios |

PUB

Page 17: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ escaldante ]| 1727 SETEMBRO 2004

É VOTAR é votar!!

Ele é caras bonitas, ele é gente gira. Sem medos nem pudores, o Mundo Universitário lança-se na escolha das caras que fazem furor por esse país fora.

Os prémios?Estes telemóveis para o vencedor e vencedora. Para votar? Envia um sms para o 4478 com as iniciais MU e o número do(a) candidata(o). Exemplo: para votares na Nádia Peixe, 20 anos, escreve "MU (espaço) 8"

Tens a mania que és giro ou gira? Queres ganhar um telemóvel? Na próxima edição vamos eleger o(a) mais belo(a) da cidade do PORTO.Envia a tua fotografia e dados pessoais (nome, Universidade e telefone) para [email protected]. Os dados são confidenciais. Os prémios é que não.

André Vieira, 18 anos,CiênciaPolítica, ISCSP

Ana Proença, 20 anos,Medicina Vet., Lx

Francisca Lima, 19anos, Med. Vet., Lx

Nádia Peixe, 20 anos,Rel. Int., ISCSP, Lx

Susana Amador, 19anos, Med. Vet., Lx

Tânia Gaspar,17 anos,Gestão, ISCSP, Lx

David Cipriano,22 anos,Eng. do Ambiente, Lx

Gonçalo Sitima,19 anos,Com.Social, ISCSP, Lx

Hugo Nunes,19 anos,Med. Veterinária, Lx

Pedro Mestre, 20 anos,Med. Veterinária, Lx

COM O APOIO DE

1 2 3 4 5

6 7 8 9 10

Page 18: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ formação ]18 | 27 SETEMBRO 2004

JUBILOU-SE EM2001. Foi muito difícilabandonar a carreira docente?Foi. Até porque aquele au-ditório enorme da fa-culdade de ciênciasestava literalmentecheio, com pessoas noscorredores e tudo. Foi uma coisa comple-tamente inédita. Eu queria começar a fa-lar, mas tinha a voz embargada. Custou-me muito.

Em 40 anos de ensino teve contactocom muitas gerações de alunos...Sim, sim. No outro dia estive a fazerumas contas e o número de alunos que ti-ve situa-se entre os 11 e os 13 mil.

Que diferenças notou nos estudantesque foram chegando à sua faculdade?Acho que o "boom" resultante da demo-cratização do ensino fez com que passas-sem a entrar na universidade pessoas detodos os níveis sócio-culturais, nomeada-mente de famílias sem grande interessepelos aspectos culturais. E isso vê-se namaioria dos profissionais jovens de hoje.Falta-lhes uma preparação de base, aqui-lo que eu chamaria "berço cultural". É cla-ro que não defendo a atitude elitista deantes, em que só as classes mais favore-cidas – mais amparadas pela cultura epela educação – acediam ao ensino su-perior. Esta crítica aponta directamentepara o Estado que, nestes 30 anos, nãosoube criar condições ao nível dos esta-

beleci-mentos de ensino para rece-ber esta democratização ecompensar aquilo que algunsestudantes não tiveram a nível fa-miliar. E aqui é preciso dizer quetambém não houve o cuidado deacompanhar socialmente as fa-mílias.

Em termos de postura e in-teresse nas aulas notou diferenças?Isso mantém-se igual. Há uns tantos alu-nos muito interessados, há outros muitodesligados. Mas depois depende da arteque o docente tem de os integrar no sis-tema.

Quem é que procura a geologia?Quando fiz geologia nos anos 60 chama-vam-lhe o "curso dos falhados". Era umaespécie de último recurso para aquelesque não conseguiam fazer as matemáti-cas das licenciaturas de física e química,por exemplo, e que procuravam a geolo-gia porque tinha as chamadas matemáti-cas gerais em vez da álgebra.Mas hoje o curso é muito procurado, nãosó em Lisboa como nas outras universi-dades. Penso que isso se deve ao baru-lho que os jornais têm feito com as expo-sições de minerais, de dinossáurios…Mas estão condenados ao desemprego.

Como assim?Até hoje, apesar de não haver respostasuficiente relativamente ao número de li-cenciados que saíam, eles acabavam porcandidatar-se ao ensino. Acontece que oensino está completamente afogado enem aí encontram trabalho.

Que alternativas existem?Há sectores que são de certa maneirapromissores, como o ambiente. Vão apa-recendo empresas que absorvem alguns. Mas, estupidamente, a sociedade moder-na ainda não percebeu que a geologiaestá na base de toda a vida civilizacional.

É muito fácildemonstrar que é

ao nível da geolo-gia que está a pros-

pecção e a preservaçãodas águas subterrâ-neas; dos recursosenergéticos – carvão,petróleo, radioactivos –;

dos recursos mineiros –vidro, cerâmicas, cimen-tos, ferro, alumínio, co-bre, aço. De maneiraque isso justificava ple-namente que toda equalquer autarquia tives-se um geólogo no seuquadro, o que dava lo-go emprego a umascentenas. Estão cheiasde arquitectos paisa-

gistas (alguns como nãosabem o que hão-de fazer

fazem rotundas), de economistas, juris-tas. Felizmente há algumas que, pelo me-nos, já têm arqueólogos.

Por que é que acha que isso acontece?É uma questão cultural e de falta de pre-paração dos nossos quadros superiores.Salvo raras excepções, os próprios diri-gentes políticos a nível mais elevado nemsabem o que é a geologia.

Estará o mercado europeu aberto a re-ceber-nos?Não sei, eles têm muitos e muito bons. Sóum português que vá daqui com umagrande auréola de qualidade é que pode-rá competir com os que lá estão. Nós éque, infelizmente, ainda temos aquelaideia de que se é estrangeiro é bom. Istoé uma ilusão, o estrangeiro também estáa formar em excesso e muita mediania.

Perante este cenário, procurar umaformação para além da licenciatura po-de ser uma solução?Aqueles que fazem mestrado muitas ve-zes confrontam-se com a ideia de quetêm habilitações a mais para aquilo queas empresas ou as próprias universida-des querem. Agora não há dúvida nenhu-ma que com esta massificação do ensinoo mestrado é um complemento muito im-portante. Eu penso que uma empresa pri-vada prefere ter um mestre com uma cer-ta especialização, a ter um simplesgeneralista. |

| Perfil |

Professor Galopim de Carvalho Estávamos em 1961. Num tempo de com-padrios, apesar de não ser "sobrinho nemafilhado de ninguém importante", AntónioMarcos Galopim de Carvalho foi convida-do a leccionar na Faculdade de Ciênciasda Universidade de Lisboa, onde tinhaacabado de se formar em ciências geoló-gicas. O rapaz que no tempo de liceu nãogostava das aulas havia de estar 40 anosao serviço da carreira de docente. Jubilou--se em 2001, mas ainda hoje assume a di-recção do Museu de História Natural, comvários projectos de investigação e a per-manente luta pela preservação das jazidasde pegadas de dinossáurios. Em 1993 foi condecorado com o grau deGrande Oficial da Ordem de Santiago deEspada, para um ano depois receber oPrémio Bordalo para a Ciência. Mais doque o reconhecimento no seio da comu-nidade científica, o professor conquistouo carinho do público em geral, o "Avô dosdinossáurios", como ainda lhe chamam.A sua extensa bibliografia oscila entre tí-tulos de cariz pedagógico-científco e fic-cional. Agora, por exemplo, este eboren-se na casa dos 70 está a escrever umlivro a que vai chamar "Geohistórias".Memórias "sempre com um lado muitohumano e alegre" das relações que esta-beleceu com alunos e colegas. Porque,diz o próprio, "as histórias tristes não valea pena contar".

"ESTÃO CONDENADOS AO DESEMPREGO"

O quadro que pinta é negro. Ambientalista de convicção, geólogo de paixão, depois de 40 anos ligado ao ensino, Galopim de Carvalho apontao dedo aos erros sucessivos na Educação. A opinião do "Avô dos dinossauros", director do Museu de História Natural, figura proeminente nopanorama científico nacional. | Raquel Louçã Silva

Page 19: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa
Page 20: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ 7.ª Arte ]20 | 27 SETEMBRO 2004

A ESTE RITMO, NÃO HÁ TERROR DOSMARES QUE resista. Depois da terapiapara tubarões em "Finding Nemo", chegaagora a versão vegetariana, tão inofensivocomo sopa chinesa, tão perigoso comouma lula. Shark Tale, o último filme Dream-works, não mata o mito do grande tubarãobranco, mas quase. Trinta anos depois doprimeiro "JAWS", acabaram-se os sustosdentro de água, as fileiras de dentes bran-cos, os peixes gigantes em modelo robô,as marés de sangue. Actores, nem vê-los. Depois do sucesso de bilheteiras com osdois Shrek, a produtora de Steven Spiel-berg duplicou a aposta nas vozes, com su-cesso garantido. Robert de Niro é um tuba-rão mafioso, Angelina Jolie um peixe comfartura de curvas, Jack Black é um tubarãovegetariano que tem medo do pai. No cen-tro de tudo, Will Smith, o herói que passa odia a lavar baleias e que no Festival de Ve-neza, há poucas semanas, admitiu ter tra-balho durante dois anos no proces-so de construção de Óscar, opeixe. "Foi fantástico.Moldar a voz, iden-t i f icarmo-noscom a per-sonagem.Até come-çamos aapaixonarmo--nos." Na história, Oscaré um fala-barato com sonhosde grandeza que ao assistir à mortede um tubarão resolve tirar os crédi-tos pela proeza e tornar-se o heróido recife. A maré só muda quando oDon Corleone do sítio (Robert deNiro) resolve apanhar o presunço-so que se gaba de ter matado umdos membros da família e fazê-lopagar pela imprudência. Para de-

sespero de Oscar, o seu patrão no standde lavagem de baleias (Martin Scorcese)tenta tirar dividendos da fama do emprega-do, que também atrai a perigosa Lola (An-gelina Jolie), uma peixe beta com porme-nores de femme-fatale e intençõesduvidosas. Apesar das semelhanças comFinding Nemo e até com o"Padrinho" de FrancesFord Coppola???, ascríticas têm sido po-sitivas para umacomédia que searrisca a ga-nhar o Óscarde melhoranimação.Depois dosucessocom osdois

Shrek, a Dreamworks não deixou os seuscréditos por mãos alheias e reuniu na ban-da sonora nomes como Justin Timberlake,Ludacris e Missy Elliot. Somam-se as re-ceitas em merchandising e percebe-se quea animação parece ter-se tornado na gali-nha dos ovos de ouro para algumas produ-

toras. Como já tinha feito com"Ants", a Dreamworks

volta a copiar um dossucessos da Pixar,produtora de "BugsLife” e “Finding Ne-mo", sem comprome-ter. A julgar pelasreacções durante ofestival de Veneza,onde a lotação paraos vários dias esgo-tou em poucas horas,Shark Tale podecumprir as expectati-vas e vender tantosbilhetes como Shrek.E como a máquinanunca pode parar,já há planos parauma sequela. |

JAWS, O "TUBARÃO"1975, o início do mito. Steven Spielberg, o realizadorque ao bom estilo de Hitchcock impôs uma condiçãoantes de aceitar o filme, a de que o gigantesco tubarãobranco não poderia aparecer durante a primeira meiahora. Richard Zanuck e David Brown, os produtores,não tiveram outra opção senão ir mostrando aos pou-cos a arma do crime. Primeiro as dentadas, depois asvítimas e os litros de sangue. Na cena final, a enormeboca enche o ecrã antes do tiro fatal. Seria a morte dobicho, mas viriam mais. Quatro sequelas, quatro tuba-rões, todos maiores e piores que o original.

DEEP BLUE SEA 1999, os tubarões ficam inteligentes. Entre pernas comi-das e corpos trincados, os efeitos especiais erampobres e nem os peixes, criados por computador, pare-ciam verdadeiros. À procura de uma cura para a Alzhei-mer, Samuel L. Jackson e companhia decidem aumen-tar o tamanho do cérebro dos tubarões. A experiênciacorre mal e os animais destroem tudo na esperança devoltar ao mar. Para além dos convencionais robôs, aIndustrial Light and Music, responsável pelos efeitosespeciais concebeu em computador gigantescos tuba-rões brancos.O resultado não convence.

À PROCURA DE NEMO2003, o expresso da porcelana. Depois fugir de casa eter ido parar a um aquário, Nemo arrisca-se agora asofrer o pior dos destinos: acabar numa sanita. Nestacomédia épica que bateu recordes de bilheteira para umfilme de animação, o pai do pequeno peixe tem deenfrentar três tubarões em tratamento psicológico, capa-zes de conviver com as suas presas desde que não sin-tam o cheiro de sangue. A cura dura pouco tempo e anatureza predadora dos tubarões vem ao de cima. Nofinal, os três assassinos acabam o filme como começa-ram. Com fome.

Predadores mafiosos, lulas dançantes e baleias com direito a lavagem automática. Depois do sucesso dopeixe-palhaço, de Hollywood chega mais um gourmet dos mares em formato comédia. Esta semana entra emcena o "Gangue dos Tubarões". | Miguel Pacheco

SOPA DEBARBATANA

| A ESTREAR |

CatwomanHalle Berry em versão felina. As críticasforam más nos Estados Unidos e nem aadaptação da personagem resultou.Vale pela acção e pouco mais.

Gang de Tubarões – Shark TaleMafiosos a mais, peixes a menos.Depois de Shrek, a Dreamworks volta àcarga com piada. A não perder.

O Diário da nossa paixãoComédia romântica de desencontros eamores perdidos, eternamente adiados.Vale a pena reviver o género, para quemgosta. Realizado por Nick Cassavetes.

| TV |

Big Brother da bolaÉ o sonho de qualquer treinador de ban-cada ou aspirante a jogador. "Campioniil Sogno", o novo concurso televisivo daSky italiana promete construir uma equi-pa de estrelas a preço da chuva, pegan-do num clube das distritais, o modestoCervia, e catapultando-o para o horárionobre da televisão .Dia após dia, treinoapós treino, os amadores aspirantes acraques são sujeitos ao escrutínio dostelespectadores que votam na equipaideal através de sms. Com o plantelsempre aberto a novas entradas, orecrutamento é tudo menos pacífico, ajulgar pelos apelos no site www.campio-niilsogno.com. " Se te sentes em condi-ções de substituir um dos 24 jogadoresdo Cervia, não hesites, avança”. Se amoda pega em Portugal, não há plantelque aguente.

| DENTADAS |

Page 21: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ jukebox ]| 2127 SETEMBRO 2004

AgendaConcertos

LISBOAVII Festival Internacional de Orgão emLisboaSão Vicente de Fora, Sé Patriarcal, Igreja de SãoRoque, da Basílica da Estrela | Até 4 de OutubroTelefone | 21 887 66 28 www.jmp.pt/festivaldeorgao/setimo/

Xutos e Pontapés, 25 anosPavilhão Atlântico | 8 de OutubroBilhetes de 16 a 26 euros

The Magnetic FieldsAula Magna | 20 de OutubroBilhetes a 30 euros

Caetano Veloso & Sinfonietta de LisboaPavilhão Atlântico | 24 de Outubro Bilhetes de 25 a 60 eurosTicketline | 21 003 63 00

RammsteinPavilhão Atlântico | 09 NovembroTicketline | 21 003 63 00

Rufus WainwrightAula Magna | 13 Novembro de 2004Ticketline | 21 003 63 00Bilhetes de 20 a 25 euros

LEIRIA E MARINHA GRANDEFestival de Jazz da Alta EstremaduraLeiria e Marinha Grande | Até 9 de OutubroTelefone | 24 481 39 82

3 4 51

SEM TECLADOS, MAIS GUITARRA,MENOS ORNATOS VIOLETA, mais Pluto.Dois anos depois do adeus, o monstro queprecisava de amigos já não é o mesmo.Mudou de nome, tem novo álbum – “Só maisum começo” – , mas não faltam caras conhe-cidas. Manuel Cruz na voz e nas letras.Peixe na guitarra e nas palavras que se con-tam aqui. | Miguel Pacheco

Já tinham saudades?Já, apesar de não ter deixado de tocar.Quando os Ornatos acabaram comecei afazer outras coisas. Tenho um projecto dejazz, editei um disco, toquei na banda doDavid Fonseca e nunca cheguei a estarafastado da estrada. Mas voltar a ter um pro-jecto de canções e estar na estrada sem serum “convidado” é algo de que tinha sauda-des. E acho que o Manel também.

Vocês sentem o peso das expectativas?

De preencherem o espaço vazio deixadopelos Ornatos Violeta?Tentamos não sentir esse peso. Às vezeslembramo-nos dele mas por causa das pes-soas que volta e meia falam e perguntam,dizem que é parecido com Ornatos ou quenão tem nada a ver. É uma nova história,com novos músicos, novas ideias na cabe-ça. A estética das canções e dos arranjos édiferente, o próprio universo é diferente.

Tudo é espontâneo? Ou preocupam-seem não repetir o que está para trás?Não, não. É espontâneo. Não há essa direc-triz em não repetir o que já fizemos, nem derepetir fórmulas. Aideia é partir para isto livre-mente, como aliás já tinha sido a filosofia dosOrnato. Nesse sentido, se calhar isso écomum. Mas houve de facto uma preocu-pação em conceber um novo universo esté-tico, nos arranjos, nas letras. Houve umacerta coerência.

Há novas influências neste disco? Cada um ouve música de diferentes géne-ros e é difícil de dizer se há esta ou aquelainfluência, até porque não há nenhumabanda de eleição para os Pluto. Eu ouçoimenso jazz, o Manel gosta de projectos decanções, mas ouve todo o tipo de música,hip-hop, r&b. No fundo, nós os quatro gos-tamos de música e ouvimos qualquer coisaque nos satisfaça e nos preencha.

Já têm ideia do futuro?Sinceramente, não pensei ainda muitonisso. Eu tento viver esta história dos Plutodia-após-dia, sem fazer grandes planospara o futuro, até porque quando os Orna-tos terminaram, apercebemo-nos que ofuturo é sempre relativo. O mais normal serálançar o disco, fazer concertos e se houvervontade e criatividade que o justifique, fazeroutro disco. Acaba por ser o percurso nor-mal das bandas.

Music for TV dinners – the 60’s

Música de supermercado para os loucosanos 60, melodias upbeat para comprarervilhas, pagar na caixa, levar para casae fazer o jantar. Lançado em 1997 pelabritânica Scamp, o excelente “Music ForTv Dinners 60’s” é a parte dois de umacolectânea de sons dispersos, desde “opsicadélico tema militar para tenentesconsumidores” até ao Hollyday Commer-cial, uma música para “turistas em fugaque preferem postais aos nativos”. Numamistura de referências à América subur-bana desenvolvem-se 30 minutos de pu-ro génio, que só encontrámos à venda naAmazon. Para os mais curiosos, o Kazaaou Soulseek chegam e sobram para en-contrar algumas das músicas.

PLUTO

| Pérolas para distraídos |

2Peace, Love, MetalEagles of Death Metal

Mundo CatitaIrmãos Catita

8 tracks on RedD3o

EsquissosToranjaT

OP

One plus One is OneBadly Drawn Boy

Nick CaveAbbatoir Blues / TheLyre of Orpheus

Um baptismo duplopara o álbum quemarca o reencontrode Nick Cave com ossuspeitos do costume, os Bad Seeds. AbbatoirBlues e Lyre of Orpheus são registos separa-dos em atmosferas alternativas. O álbum duplo,gravado em Paris, foi fruto de um longo pro-cesso de escrita, traduzido por um som forte eorgânico, onde a voz do cantor é acompanha-da em alguns temas pelo coro de gospel de Lon-dres. O resultado promete ser um dos melho-res trabalhos de Nick Cave and the Bad Seeds.

BEM HARPER | There will be a light | Ben Har-per e os Blind Boys of Alabama num resultadoque o vocalista considerou uma das mais exci-tantes experiências musicais da sua carreira.

MOONEY SUZUKI | Aliveand Amplified | Terceiroábum da banda de NovaIorque, o mesmo rock in-

die com influências dosKinks, Rolling Stones eoutras referências kitschdos anos 70.

cá d

o sí

tio

Rammstein em PortugalMarylin MansonLest we forget – Best of

Já quase nada é novo em Brian Warner. Oscenários pós-apocalítpicos, a sexualidade re-primida, os fetiches em palco, quase tudo pa-rece batido dez anos depois de ter sido novo.O ícone de outros tempos continua o mesmoe apesar de lhe faltar frescura, continua achocar sem ser chocante. Se os Best of sãoquase sempre sinais de uma estável falta de

criatividade, pelo menos resumem o quemelhor ficou para trás e no ca-

so de Marylin Manson,o passado é sempresinal de orgulho. LestWe Forget resumeclássicos como TheLove Song, FightSong, as versões maismelódicas de SweetDreams e Tainted Lo-ve e acrescenta-lhe onovo Personal Jesus,

visão autobiográfica doclássico dos DepecheMode. A edição limitadacom DVD inclui umacurta-metragem realiza-da por Manson.

A estrear

Page 22: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

[ cultura ]22 | 27 SETEMBRO 2004

| TEATRO |

Os Deuses querem ser homensAlcmena está só. Anfitrião, o marido, foipara a guerra. Júpiter anda perdido deamores por Alcmena. Desesperado, odeus supremo, faz-se valer dos seuspoderes e disfarça-se de Anfitrião, paraconseguir a mulher desejada. O queacontece quando os deuses passampor mortais para gozar a luxúria terre-na?. "Anfitrião ou Júpiter e Alcmena"estreou no passado dia 17 de Setem-bro, no Teatro Nacional São João, emantém-se em cena até 10 de Outubro.A peça, que subiu pela primeira vez aopalco, em 1736, no Teatro do BairroAlto, é uma das obras mais importantesdo dramaturgo setecentista AntónioJosé da Silva. O encenador, Nuno Cari-nhas, continua a adaptar o repertóriobarroco à linguagem cénica actual – em1996 já tinha encenado "O Grande Tea-tro do Mundo", de Calderón de la Barcae, em 1999, "A Ilusão Cómica", de Cor-neille – e promete levar a peça a outrospalcos do país.Preço: 7/ 15 Euros (desconto cartão jovem e estudante)

| www.tnsj.pt

AgendaCulturalteatro, dança, exposições e feiras

BRAGA17º Encontros da Imagem Exposições de fotografia, conferências, works-hops e projecções de vídeo em torno da "Meta-morfose do Real".Mosteiro de Tibães, Museu da Imagem, Museu Noguei-ra da Silva, Casa dos Crivos, Torre de Menagem, Bra-gaparque. www.cm-braga.pt | Até 24 de Outubro.

PORTOPlayback: Robert Whitman Primeira exposição retrospectiva do norte-ame-ricano, pioneiro no uso das novas tecnologiascomo material artístico. Museu Serralves. Telf.- 22 615 65 84 | Até 17 de Outu-bro, das 10h às 19h.

GAIARevista-meDo cinema ao coleccionismo, passando pelaactualidade. Selecção de revistas para todosos gostos.Fnac GaiaShoping. Telf.- 22 371 91 90 | Até ao final deOutubro.

VISEUConcerto de MarimbraNo dia internacional da música, um espectáculodiferente com Pedro Carneiro, vencedor devários prémios nacionais e internacionais.Teatro Viriato. Telf.- 23 248 01 10 | 1 de Outubro, às21h:30. Bilhetes entre 5 e 10 Euros.

COIMBRA“A Fala da Paixão”Oportunidade para apreciar um dos maioresmúsicos e compositores do Brasil. EgbertoGismonti e Olivia Byington percorrem as princi-pais canções da sua carreira.Teatro Académico Gil Vicente. Tel.: 23 985 56 30

Dia 4 de Outubro, às 21h30.

LISBOA6.º Mega Feira do Disco – internacional Edições especiais, novidades e antiguidadesem formato vinil, CD ou DVD. Gare do Oriente, de 1 a 5 de Outubro.

Exposição de Ilustração Portuguesa2004Na sua 6.ª edição, "Ilustração de Imprensa" se-rá o tema central deste ano. Galeria Municipal da Cordoaria Nacional. Telf.- 21 853

66 76 | De 9 de Outubro até 7 de Novembro.

ESTORILMercado Mundo MixDesigners brasileiros, banda desenhada, multi-média, espaço para os mais pequenos, works-hops gratuitos, exposições, compras e ainda oregresso da Rádio Mix. Uma mistura a descobrir.Espaço atrás do Casino | 2 e 3 de Outubro, das

14:00 às 23:00

ÉVORAFestival de teatro de Amadores de Évo-ra – FESTAEPerto de 20 grupos de teatro, amadores oumais profissionais, nacionais e espanhóis, apre-sentam espectáculos para todas as idades. www.cm-evora.pt. Até 4 de Outubro.

LAGOS“Das Histórias nascem histórias”Concebida por Fernanda Fragateiro, uma ex-posição que recria o ambiente das histórias “A Menina do Mar” e “Floresta” da recém desa-parecida Sophia de Mello Breyner Andersen.Centro Cultural de Lagos. Até 16 de Outubro. Entrada

gratuita.

| LIVROS |

"Boum! Isto são canhões!"Mongol desabafa com o escaravelho que passa, o cão, o rato, mas prefere quasesempre a amiga mosca. Das colinas que rodeiam a cidade chega o barulho medonhodos tiros. É a guerra. Não se percebe bem, mas pode ser uma das muitas cidadesafricanas onde o sinal do recolher obrigatório corta brincadeiras e esperanças aos me-ninos como Mongol. "Crianças", o mais recente livro do argumentista e desenhadorbelga Jean-Philippe Stassen, segue as pisadas do anterior "Déogratias" (uma históriabaseada no genocídio que devastou o Ruanda, em 1994). Menos áspero, menos ex-plícito, Stassen continua a puxar a realidade de vidas que parecem quase perdidaspara o traço da sua ficção. O surpreendente acaba por ser a inteligência com que do-seia a dor do que retrata com a beleza do que desenha. E não é fácil porque "desdesempre a maldade e a bondade coabitam naturalmente no espírito destas crianças". Um álbum para ler com tempo. Edições Asa. Preço: 19,25 Euros

"TRAZER AUTORES E FILMES QUENUNCA PASSARAM em Portugal, mas jáganharam inúmeros prémios internacio-nais" é o objectivo fundamental do Indie-Lisboa 2004 – 1.º Festival Internacionalde Cinema Independente. Para MiguelValverde, da programação, esta é a res-posta natural ao facto da procura de "esti-los menos formatados ao modelo ameri-cano" ter aumentado. "Before Sunset", do americano RichardLinklater, foi a aposta para a sessão deabertura de um festival que se estendeaté ao próximo dia 3, no São Jorge. Noveanos depois, o público pode testemunharo desfecho da fugaz e intensa "love story"

vivida em "Before Sunrise", por um jovemcasal que se conhece num inter rail a ca-minho de Viena.Ficção, animação, experimentais ou docu-mentários, as 79 propostas em cartaz pro-metem agradar a todos os gostos. No docu-mentário, por exemplo, destaque para"Super Size Me" de Morgan Spurlock. Orelato de uma experiência em que o própriose dispõem a mostrar os malefícios da fast-food e torna-se cliente assíduo do McDo-nald's durante 30 dias seguidos. No terrenoda competição propriamente dita, num totalde 30 filmes, Portugal leva 5 a concurso – 1longa e 4 curtas-metragens. A expectativarecai em "A Cara que Mereces", primeira

longa-metragem de Miguel Gomes. Nesta sua primeira edição o IndieLisboahomenageia ainda um Festival – e nãouma personalidade, como é hábito emacontecimentos do género. A secçãoHerói Independente é dedicada ao Festi-val de cinema independente Sundance, omais antigo certame americano do géne-ro, que é também uma espécie de inspira-ção ao projecto português. Com exten-sões confirmadas em Faro e nas Caldasda Rainha, o Indie Lisboa promete voltarno próximo ano. Na última semana deAbril, a abrir o apetite para Cannes.Preço: 2 Euros (Cartão de Estudante e menores de 25

anos) | www.indielisboa.com

FILMESNUNCA

VISTOSDurante 9 dias, Lisboa é a capital do cinema

independente. Herdeiro do trabalho desenvolvi-do na Zero em Comportamento, afilhado do

Sundance, o IndieLisboa 2004 promete abanarpreconceitos cinematográficos.

Page 23: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa

Representará "um gigantesco salto tantopara a série como para este género de jo-gos", como anuncia a KCET (KonamiTokyo), responsável pela sua cria-ção? Não sabemos, mas logicamen-te estamos com ganas de descobrir.Se Figo continua a marcar presençana selecção? É pouco provável. Àprimeira vista, a aposta no realismoreflecte-se nas principais alteraçõesintroduzidas. Novos movimentos efintas. Novas técnicas na marcaçãode grandes penalidades e a inclusãode livres indirectos. Sem esquecer ascorrecções na lei da vantagem e no-vas equipas. Ao todo, 56 clubes detrês campeonatos licenciados – es-panhol, italiano e holandês – entreum total de 136. E ainda as 50 selec-ções, ou seja, o controlo de mais de4500 jogadores da bola. De resto,prevêem-se passes e cruzamentoscom mais precisão do que nunca e a

estreia do "on-screen refe-ree". O árbitrovai deixar deaparecer ape-nas quando épreciso intervird i s c i p l i n a r -mente "ProEvolution Soc-cer 4" aterranas lojas emformato 128bits Sony emmeados deOutubro. Asversões PC e,

pela primeira vez na historia da série,Xbox chegam um mês depois.

[ play ]| 2327 SETEMBRO 2004

Do Bome do Melhor

La crème de la crème. Ou asquatro melhores razoes para

criar raízes em frente ao ecrãe calos nas pontas dos

dedos.

JÁ NÃO BASTA SABER MANEJARUM ARSENAL de diferentes armas. Nemtão pouco conduzir na perfeição umavasta gama de carros e motos. Adeus, Vi-ce City! Em San Andreas é preciso estilo.Não chega ser implacável, há que pare-cê-lo. Andar no rigor da moda e em boaforma física é sinónimo de respeito e po-de determinar a diferença entre a vida e amorte. Logo, os problemas surgem quan-do se assume o controlo de um persona-gem com laivos de autêntico pacóvio. Àmedia que melhora o seu aspecto recor-rendo a boutiques, cabeleireiros e lojasde tatuagens, CJ (Carl Jonhson) cedo seapercebe de que o dinheiro não cresce

nas árvores. E como para um gangster

trabalhar não constitui alternativa, é pre-ciso roubar. O que nos leva à grande no-vidade no cardápio de crimes contempla-dos na série GTA: assaltos a domicílios.A acção decorre no princípio dos anos 90e a dimensão de San Andreas será apro-ximadamente cinco vezes a de Vice City.A inclusão de novos veículos como mo-to4 e bicicletas aumenta as expectativas.Saliente-se ainda a inserção de um motorde jogo que promete revolucionar as dife-rentes experiências de condução, impon-do mais realismo. A versão PS2 de GTA"San Andreas" chega aos escaparates a22 de Outubro.

Pesos pesados

Grand Theft Auto: San Andreas

"Vai ser o melhor RPGde sempre", garante oseu criador. Respon-sável pela série Black& White, Peter Moli-neux aposta agoranuma aventura ondecada uma das acçõeslevadas a cabo peloprotagonista se reflec-te nas suas aptidões,aparência e reputação.O desafio é criar umahistória de vida desdea infância até à morte,transformar um peque-no adolescente no ser mais poderoso domundo. Escolher o caminho do bem ou domal? "Imaginem que têm de atravessaruma região gelada e precisam de umcasaco de peles. Podem comprá-lo, matarum animal ou até roubá-lo. É tudo umaquestão de escolha", explicou Ian Lovett,director de arte dos estúdios da Big BlueBox, responsáveis pelo jogo. Comer

demais provoca obesidade. Exposição aosol resulta em pele bronzeada. Idade sig-nifica experiência. Batalhas – em tempo-real – infligem cicatrizes. Além disso, ficoudemostrado na E3 (Electronic Entertain-ment Expo) em 2003, que graficamentetem muito bom aspecto. Fable deve estardisponível nas lojas a partir do final deSetembro.

Fable

Quando heróis do fantástico, gangsters a andar de bicicleta e livresindirectos se juntam, antevê-se o que de melhor o universo dos jogostem para oferecer. | Miguel Aragão

SIMS 2

BURNOUT 3

DOOM 3

SILENT HILL 4

Pro Evolution Soccer 4

Page 24: Manuela Azevedo, a voz dos Clã, aqui. - mundouniversitario.pt · O Mundo Universitário deve-se também ao apoio e contributo das marcas apresentadas no Painel de Ouro. Estudar compensa