Manual Suporte Basico de Vida

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA 1 S U P O R T E B Á S I C O D E V I D A

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SUPORTE BÁSICO DE VIDA

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S U P O R T E

B Á S I C O D E

V I D A

SUPORTE BÁSICO DE VIDA

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Apresentação

O conteúdo deste manual encontra-se em conformidade com as

recomendações, para a formação de operacionais em suporte básico de

vida, publicadas pelo ERC (Guidelines 2005). Encontra-se enfatizado as

principais manobras de reanimação cardiopulmonar, respeitando os

algoritmos aprovados pelo ERC e transmitir os conteúdos teóricos e

práticos necessários ao tratamento de adulto e crianças em situações de

emergência cardiovascularcerebral.

O manual contém três seções de importância fundamental para o curso de

suporte básico de vida: Principais modificações relacionadas a todos os

socorristas, modificações na RCP aplicada por socorristas leigos e

modificações nos procedimentos de Suporte Básico de Vida, realizados por

profissionais de saúde. Pretende-se deste modo obter uma uniformidade e

complementaridade de atuação entre os vários elos do Sistema Integrado

de Emergência Médica, visando atingir o objetivo maior que é aquele de

diminuir a mortalidade e morbidade das vítimas em situação de

emergência cardiovascular cerebral.

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SIGLAS

AMBU – Designação Comercial para Insuflador Manual

AMS – Auto-Maca de Socorro

EMIR – Equipa Médica de Intervenção Rápida

ERC – European Ressuscitation Council

FC – Frequência Cardíaca

FV – Fibrilação Ventricular

PCR – Paragem Cardiorespiratória

PLG – Posição Lateral de Segurança

SAV – Suporte Avançado de Vida

SBV – Suporte Básico de Vida

VOS – Ver, Ouvir, Sentir

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SUMÁRIO

Introdução.......................................................................................5

Suporte Básico de Vida em perspectiva................................................6

A cadeia de sobrevivência..................................................................6

O sistema integrado de emergência....................................................7

Procedimentos de suporte básico de vida.............................................7

Pontos importantes no SBV..............................................................12

Obstrução de Via aérea no adulto......................................................13

Obstrução de via aérea no lactente ...................................................15

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I – INTRODUÇÃO: O PROBLEMA - Emergência médica, boa tarde. - Mande-me uma ambulância! O meu vizinho acabou de desmaiar e está ficando roxo!

- Ele respira? - Acho que não. Depressa! Quer deixar o homem morrer? - Escute, a ambulância vai já a caminho, bem como uma equipa médica. Quer fazer alguma coisa para ajudar a salvar o seu vizinho? Sabe realizar manobras básicas de reanimação? - Já lhe disse que o que quero é uma ambulância... Quando surge uma parada cardiorrespiratória as hipóteses de sobrevivência para a vítima variam em função do tempo de intervenção. A medicina atual tem recursos que permitem recuperar a vítima, desde que sejam assegurados os procedimentos adequados e em tempo oportuno. Se o episódio ocorrer num estabelecimento de saúde, em princípio serão iniciadas de imediato, manobras de suporte básico e avançadas de vida, para que haja maior probabilidade de sucesso. No entanto, a grande maioria das paradas cardiorrespiratórias ocorre fora de qualquer estabelecimento de saúde. No mercado, no bar, em casa, no centro comercial ou no meio de uma estrada. Na sequência de um acidente ou de uma doença súbita. A probabilidade de sobrevivência e recuperação nestas situações dependerá da capacidade de quem presencia o acontecimento, de seu preparo para acionar a Cadeia de Sobrevivência.

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II - SUPORTE BÁSICO DE VIDA EM PERSPECTIVA A chegada de um meio de socorro ao local, ainda que muito rápida pode demorar tanto como... 6 minutos! As hipóteses de sobrevivência da vítima terão caído de 98 para... 11 % se os elementos que presenciaram a situação não souberem atuar em conformidade. Em condições ideais, todo o cidadão devia estar preparado para saber fazer “SBV”. No nosso país existe ainda um longo caminho a percorrer neste âmbito de conhecimento das regras internacionais estabelecidas para formação em suporte básico de vida. III - CADEIA DE SOBREVIVÊNCIA À luz do conhecimento atual, consideram-se três atitudes que modificam os resultados no socorro às vítimas de parada cardiorrespiratória: • Pedir ajuda, acionando de imediato o sistema de emergência médica; • Iniciar de imediato as manobras de SBV; • Realizar desfibrilação tão precoce quanto possível, quando indicado. Estes procedimentos sucedem-se de uma forma encadeada e constituem uma cadeia de atitudes em que cada elo articula o procedimento anterior com o seguinte. Surge assim o conceito de cadeia de sobrevivência composta por quatro elos, ou ações, em que o funcionamento adequado de cada elo e a articulação eficaz entre os vários elos é vital para que o resultado final possa ser uma vida salva. Os quatro elos da cadeia de sobrevivência são:

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IV - O SISTEMA INTEGRADO DE EMERGÊNCIA MÉDICA Fundamental para o 1° elo da cadeia de sobrevivência é a existência de um pedido de ajuda imediato, a existência de meios de comunicação e equipamentos adequados bem como uma capacidade de resposta imediata e adequada. O Serviço de resgate do corpo de Bombeiros Militar, através do número 190 e o Serviço SAMU 192, dispõem de meios para responder, a qualquer hora, a situações de emergência médica e traumática. O 1° elo da cadeia de sobrevivência depende de você, isto é, da sua capacidade de reconhecer a situação e ativar o sistema de emergência médica, pelo qual é fundamental que faculte forneça toda informação que lhe seja solicitada. Ao ligar 190 ou 192, você deverá estar preparado para informar:

• A localização exata da ocorrência e pontos de referência do local, para facilitar a chegada dos meios de socorro

• O que aconteceu (p. e. acidente, parto, falta de ar, dor no peito etc.) • O número de pessoas que precisam de ajuda • Condição em que se encontra a(s) vítima(s) • Se já foi feita alguma coisa (p. e. controle de hemorragia) • O número de telefone de contato • Qualquer outro dado que lhe seja solicitado (p. e. se a vítima sofre de alguma doença ou se as vítimas de um acidente estão encarceradas)

V - PROCEDIMENTOS DE SBV O suporte básico de vida é um conjunto de procedimentos bem definidos e com metodologias padronizadas, que tem como objetivo reconhecer situações de perigo de vida iminente, saber como e quando pedir ajuda e souber iniciar de imediato, manobras que contribuam para a preservação da ventilação e da circulação de modo a manter a vítima viável até que possa ser instituído o tratamento médico adequado e, eventualmente, se restabeleça o normal funcionamento respiratório e cardíaco. Tem como objetivo a manutenção de algum grau de ventilação e de circulação de modo a manter a vítima viável até que possa ser instituído o tratamento médico adequado e revertida a causa de paragem. A interrupção da circulação durante 3-4 minutos (ou mesmo menos no caso de uma vítima já previamente com hipoxemia) implica lesões cerebrais, que poderão ser irreversíveis, e cuja tradução clínica pode ser variável. Qualquer atraso no início de SBV reduz drasticamente as hipóteses de recuperação

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1. Posicionamento da vítima e do reanimador As manobras de SBV devem ser executadas com a vítima em decúbito dorsal em superfície rígida. Se a vítima se encontrar, por exemplo, numa cama, as manobras de SBV, nomeadamente as compressões torácicas, não serão eficazes uma vez que a força exercida será absorvida pelas molas ou espuma do próprio colchão. Se a vítima se encontrar em decúbito ventral deve ser rolada em bloco, isto é, mantendo o alinhamento da cabeça pescoço e tronco. O reanimador deve posicionar-se junto da vítima para que, se for necessário, possa fazer ventilações e compressões quase sem ter de se deslocar. 2. Avalie se a vítima responde; toque suavemente os ombros e

pergunte em voz alta: “Sente-se bem?”. “Está me ouvindo? 3. Se a vítima responder, deixe-a na posição em que a encontrou (desde que isso não represente perigo acrescido), avalie a situação e peça ajuda. Reavalie periodicamente. 4. Se a vítima não responder, peça ajuda gritando em voz alta ou ligando para o serviço de emergência. Não abandone a vítima e prossiga com a avaliação. A – via aérea Pelo fato da vítima se encontrar inconsciente, os músculos da língua perdem o seu tônus habitual (isto é, relaxam) e a queda da língua para trás (na vítima e m decúbito dorsal) pode causar obstrução da via aérea (Fig.1). Este mecanismo é a causa mais frequênte de obstrução da via aérea num adulto inconsciente. Outros fatores podem, também, condicionar obstrução da via aérea como sejam o vômito, sangue, dentes partidos ou próteses dentárias soltas. Assim, é fundamental proceder à permeabilização da via aérea:

• Afrouxe roupa em volta do pescoço da vítima e exponha o tórax • Verifique se existem corpos estranhos dentro da boca (comida, próteses dentárias soltas, secreções), se existir deve removê-los, mas somente se os visualizar;

Nota: As próteses dentárias bem fixas não devem ser removidas.

• Efetue simultaneamente a extensão da cabeça e elevação do maxilar inferior (fig.2).

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Atenção: Nas situações em que exista suspeita de trauma não fazer extensão da cabeça. Nestes casos a permeabilização da via aérea deve ser feita apenas por sub-luxação da mandíbula, mantendo o alinhamento do corpo, pescoço e cabeça.

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B - RESPIRAÇÃO (BREATHING)

O tórax do paciente deve ser exposto para avaliação quanto à ventilação. A patência das vias aéreas não necessariamente asseguram respiração eficaz, a qualidade e a quantidade da ventilação do doente devem ser avaliadas. Com ventilação anormal, o socorrista deve expor o tórax rapidamente e procurar:

Figura 1. Obstrução pela língua e epiglote.

Figura 2. Tração da mandíbula sem inclinação da cabeça.

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VER - se existem movimentos torácicos e corporais; OUVIR - se existem ruídos de saída de ar junto à boca e nariz da vítima; SENTIR - na sua face se há saída de ar pela boca da vítima (Fig.3). Deverá Ver, Ouvir e Sentir (VOS) em menos de 10 segundos. Movimentos respiratórios ocasionais e ineficazes habitualmente designados por “gasping” ou “respiração agônica” não devem ser confundidos com respiração normal.

Em caso de respiração ausente duas ventilações deverão ser realizadas (Fig.4)

Figura 3. Sentir

Figura 4. Ventilação

boca-máscara

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C - CIRCULAÇÃO (CIRCULATION)

A avaliação do comprometimento ou falência do sistema circulatório é a próxima etapa no cuidado com o paciente. Na avaliação inicial deve ser identificada presença de pulso (Fig.5). Em caso de parada cardíaca, iniciar compressões torácicas (Fig.6)

• Para executar estas compressões torácicas: • Deve colocar a base de uma das suas mãos no meio do esterno da vítima

• Coloque a base da outra mão sobre a primeira, mantendo as mãos paralelas;

• Entrelace os dedos e levante-os, de forma a não exercer qualquer pressão sobre as costelas;

• Mantenha os braços esticados, sem fletir os cotovelos, e se posicione de forma a que os seus ombros fiquem perpendiculares ao esterno da vítima;

• Pressione verticalmente sobre o esterno, de modo a causar uma depressão de 4 a 5 cm - no adulto;

• Alivie a pressão, de forma que o tórax possa descomprimir totalmente, mas sem perder o contacto da mão com o esterno;

• Repita o movimento de compressão e descompressão de forma a obter uma frequência de 100/min

• • O gesto de compressão deve ser firme, controlado e executado

na vertical e os períodos de compressão e descompressão devem ter a mesma duração;

Fig.5 - Verificação de presença de pulso carotídeo.

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VI - Pontos importantes no SBV A insuflação de ar deve ser rápida, efetuada em menos de 2 segundos, e não deverá sentir grande resistência à insuflação. Se oferecer muita resistência reposicione a cabeça e faça novamente a manobra de permeabilização da via aérea. O volume de ar a insuflar é de 500 a 600 ml, quando não é utilizado aporte suplementar de oxigênio, o que deverá corresponder apenas à quantidade necessária para causar uma expansão visível do tórax da vítima. A duração exata da expiração (habitualmente cerca de 4 seg.) não é um valor crítico, o que é fundamental, é esperar que o tórax relaxe completamente antes de voltar a efetuar nova ventilação. As compressões torácicas mesmo quando corretamente executadas conseguem apenas gerar aproximadamente um terço do débito cardíaco normal. Efetuar compressões obliquamente em relação ao tórax da vítima faz com que a vítima possa rolar e diminui a eficácia das compressões. É importante permitir que o tórax descomprima totalmente durante a realização de compressões para permitir o retorno de sangue ao coração antes da próxima compressão e otimizar assim o débito cardíaco que se consegue. As compressões torácicas podem causar fraturas de articulações condrocostais e consequentemente causarem lesões de órgãos internos

Fig. 6 – Massagem cardíaca externa

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como: rotura do pulmão, do coração ou mesmo do fígado. Este risco é minimizado, pela correta execução das compressões. O SBV serve fundamentalmente para ganhar tempo, mantendo algum grau de perfusão cerebral e coronária até à chegada do SAV. Quando se interrompem as compressões, a perfusão cerebral e coronária diminuem para valores muito baixos levando algum tempo a retornar aos valores prévios.Por estes motivos não faz qualquer sentido interromper o SBV para pesquisar a existência de sinais de circulação, exceto se a vítima fizer qualquer movimento que possa traduzir a existência de circulação. Caso contrário não deve interromper as manobras de SBV até à chegada de SAV. A existência de midríase foi valorizada no passado como sinal de lesão cerebral irreversível. No entanto, sabe-se hoje que a midríase pode estabelecer- se precocemente após a cessação de circulação cerebral e é influenciada por múltiplos fatores pelo que não deve ser critério de decisão ou de prognóstico. VII - OBSTRUÇÃO DE VIA AÉREA NO ADULTO A obstrução da via aérea é uma emergência absoluta que se não for reconhecida e resolvida leva à morte em minutos. A causa mais comum de obstrução da via aérea em vítima adulta é a obstrução causada pela queda da língua quando a vítima está inconsciente - obstrução anatômica. Pode também ocorrer obstrução da via aérea por edema dos tecidos da via aérea como, por exemplo, no caso de uma reação anafilática (alergia), uma neoplasia (cancer) ou uma inflamação da epiglote (epiglotite) sendo esta última mais frequente nas crianças - obstrução patológica. A obstrução da via aérea pode ser total ou parcial. Na obstrução parcial a vítima começa por tossir, ainda consegue falar e pode fazer algum ruído ao respirar. Na obstrução total da via aérea a vítima não consegue falar, tossir ou respirar. Poderá demonstrar grande aflição e ansiedade e agarrar o pescoço com as duas mãos (Fig.7). É necessário atuar rapidamente, porque se a obstrução não for resolvida a vítima poderá rapidamente ficar inconsciente e morrer. A obstrução da via aérea, sobretudo quando ocorre num local público,

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como um restaurante, é frequentemente confundida com um ataque cardíaco. É importante distinguir a obstrução da via aérea de outras situações dado que a abordagem é diferente.

Na obstrução da mecânica da via aérea existem várias manobras que podem ser efetuadas com o objetivo de resolver a obstrução e que caso sejam bem sucedidas podem evitar a parada respiratória. Preconiza-se, atualmente, que se deve perguntar: “você está engasgando”? “consegue falar”?

Se a vítima ainda se mantém consciente, mas incapaz de tossir, falar ou respirar deve proceder-se de imediato à aplicação da manobra de Heimlich (Fig. 8).

Sinal universal da obstrução

das vias aéreas

Fig.7 – Sinal de engasgamento.

Fig.8 – Manobra de Heimlich.

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1. Colocar-se trás da vítima; 2. Colocar os braços à volta da vítima ao nível da cintura, mantendo-a inclinada para frente; 3. Fechar uma das mãos, em punho, e colocar a mão com o polegar encostado ao abdômen da vítima, ao nível do epigástrio; 4. Com a outra mão agarrar o punho da mão colocada anteriormente e tracionar, com um movimento rápido e vigoroso, para dentro e para cima na direção do reanimador; 5. No caso de uma vítima de obstrução da via aérea ficar inconsciente durante a tentativa de desobstrução da via aérea o reanimador deve:

� Chamar por ajuda;

� Iniciar manobras básicas de reanimação. VIII – OBSTRUÇÃO DE VIA AÉREA NO LACTENTE 1. Confirmar obstrução de VA. Verificar se há dificuldade grave de

respiração, tosse ineficaz ou choro débil; 2. Aplicar manobra de tapotagem cinco vezes nas costas do lactente; 3. Aplicar compressões torácicas rápidas;

4. Repetir o passo 1 e 2 ou até ser efetivo ou a vítima tornar-se

inconsciente. 5. Em caso de inconsciência, Ativar SME

6. Fazer tração da língua e da mandíbula e, se enxergar o objeto, removê-lo.

7. Abrir as vias aéreas e ventile (02 ventilações): 8. Continuar com manobra de tapotagem 5 vezes nas costas do

lactente.

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MANOBRAS DE DESOBSTRUÇÃO DE VIA AÉREA EM LACTENTE

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BIBLIOGRAFIA ERC European Resuscitation Council Guidelines for Resuscitation 2005; Elsevier. INEM Instituto Nacional de Emergência Médica – Manual de Suporte Avançado de Vida: Direção dos Serviços de Formação, 2002