Manual do escuteiro

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http://sanchoscouts.no.sapo.pt/ A tua Patrulha e o teu Agrupamento Como Escuteiro, há alturas em que estás por tua conta. Identificas objectivos pessoais e esforças-te por os atingir. Aprendes técnicas ao teu próprio ritmo e decides a que velocidade queres trabalhar para dominar tudo o que um Escuteiro deve saber. Como membro de uma Patrulha, já não estás sozinho. Podes canalizar a tua energia para os esforços de Patrulha e transformar planos interessantes em realidades excitantes. Com uma Patrulha, podes ir para o monte, caminhar e acampar. Poderás conseguir muito mais do que sozinho. O teu Agrupamento é ainda maior. Com a força de muitas Patrulhas, um Agrupamento é uma comunidade de Escuteiros. Tem o tamanho e a liderança para levar a cabo grandes projectos e aventuras. O Agrupamento é a estrutura onde te podes desenvolver como Escuteiro, Cristão, e um líder. A tua Patrulha Uma Patrulha é um grupo de bons amigos a trabalharem juntos para tornar ideias em realidades. Porque sois todos diferentes, cada um tem muito para partilhar com os outros. Em reuniões, podeis ensinar uns aos outros as técnicas que

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http://sanchoscouts.no.sapo.pt/

A tua Patrulha e o teu Agrupamento

 

 

Como Escuteiro, há alturas em que estás por tua conta. Identificas objectivos pessoais e esforças-te por os atingir. Aprendes técnicas ao teu próprio ritmo e decides a que velocidade queres trabalhar para dominar tudo o que um Escuteiro deve saber.

Como membro de uma Patrulha, já não estás sozinho. Podes canalizar a tua energia para os esforços de Patrulha e transformar planos interessantes em realidades excitantes. Com uma Patrulha, podes ir para o monte, caminhar e acampar. Poderás conseguir muito mais do que sozinho.

O teu Agrupamento é ainda maior. Com a força de muitas Patrulhas, um Agrupamento é uma comunidade de Escuteiros. Tem o tamanho e a liderança para levar a cabo grandes projectos e aventuras. O Agrupamento é a estrutura onde te podes desenvolver como Escuteiro, Cristão, e um líder.

 

 

A tua Patrulha

  Uma Patrulha é um grupo de bons amigos a trabalharem juntos para tornar ideias em realidades. Porque sois todos diferentes, cada um tem muito para partilhar com os outros. Em reuniões, podeis ensinar uns aos outros as técnicas que sabeis. Em campo, podeis-vos ajudar mutuamente a montar tendas, cozinhar e limpar. Como amigos, tomais conta uns dos outros. Diz aos outros quando uma situação insegura se desenvolver. Anima-os quando estão cabisbaixos. Dá-lhes os parabéns quando desempenham algo bem. Amizade, alegria, aventura - é isso uma Patrulha.

 

Símbolos da Patrulha

Tabela 1 – Principais símbolos dos Bandos, Patrulhas, Equipas de Pioneiros e Equipas de Caminheiros

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Secção Nome do

pequeno grupo Totem ou Patrono Distintivo

Bando

Cores do Lobo

 

(ex. Bando Castanho)

Triângulo equilátero, com um vértice para cima, da cor do Bando

Patrulha

Totem animal

 

(ex. Patrulha Pinguim)

Triângulo equilátero, com as pontas arredondadas e vértice para baixo, partido verticalmente, com a silhueta do Totem sobreposta

à partição

Equipa (de Pioneiros)

Totem animal

ou

Patrono

(Santo da Igreja, Benemérito da Humanidade,

ou Herói Nacional)

Triângulo equilátero, com as pontas arredondadas e vértice para baixo, partido horizontalmente, com a silhueta do Totem

sobreposta à partição

ou representação do Patrono num círculo branco em fundo azul

Equipa(de Caminheiros)

Patrono

(Santo da Igreja, Benemérito da Humanidade,

ou Herói Nacional)

Triângulo equilátero, com as pontas arredondadas e vértice para baixo, representação do Patrono num círculo branco em fundo

vermelho

   

Totem e Bandeirola de Patrulha

Muitas Patrulhas têm um animal como totem. Talvez sejas membro da Patrulha Pantera, ou um dos Tigres, Lobos, Cavalos, ou Pinguins. Outras Patrulhas escolhem como Patrono uma pessoa, como Santos, notáveis e afins.

Cada Patrulha tem a sua Bandeirola, com um emblema que representa o seu nome. Tu podes ter a hipótese de ajudar a desenhar e a fazer uma Bandeirola para a tua Patrulha, e levá-la para as reuniões e actividades. Além disso, usas uma insígnia no braço esquerdo, com o símbolo ou o nome da tua Patrulha.

Practica desenhar o vosso símbolo em poucas linhas simples, para que o possas juntar à tua assinatura Escutista. O símbolo da tua Patrulha, aquela que estás a ajudar a tornar na melhor Patrulha que há.

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Embora hoje em dia seja possibilitado às Patrulhas e Equipas o desenho e concepção da sua Bandeirola, esta é tradicionalmente triangular, branca debruada com a cor da Secção. À semelhança do distintivo de Bando, Patrulha ou Equipa, a Iª Secção apresenta uma cabeça de lobo da cor do Bando; na IIª a silhueta do animal totem; na IIIª a silhueta do animal totem ou uma representação do patrono; na IVª Secção uma representação do Patrono.

 Fig. 1 – A bandeirola como símbolo do Bando e da Patrulha

 

 

 

O Lema é escolhido pelos membros do pequeno grupo, e deve evocar o Totem ou Patrono – os Bandos de Lobitos habitualmente não possuem lema.

Além destes, deve existir ainda um ‘Livro de Ouro’, onde devem ser registados itens como as características do animal totem ou a biografia do Patrono, biografia dos elementos pertencentes, grandes momentos da vivência Escutista, tradições e histórias, e afins.

Grito de Patrulha

Cada Patrulha tem o seu grito. Se a tua Patrulha tem um animal como totem, usa o seu som - o uivo de um lobo, ou o pio de um mocho. As Patrulhas que não têm um animal como totem podem escolher o seu grito, mesmo entre os gritos de animais.

Soltai o vosso grito de Patrulha quando ganheis um concurso ou jogo numa reunião. Em campo, o cozinheiro da Patrulha pode soltá-lo quando o jantar estiver pronto. O teu Guia fá-lo para reunir a Patrulha. Os membros da Patrulha compreendem, mas os outros pensam que estão apenas a ouvir os sons da floresta.

 

O Guia de Patrulha

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Cada Patrulha elege um dos seus membros para ser o seu Guia. Esta é uma posição importante com muita responsabilidade. Tu vais querer escolher alguém que respeites e cuja liderança estejas disposto a seguir e apoiar. Um Guia precisa da energia e da vontade de ajudar a fazer da vossa Patrulha a melhor.

O teu Guia é o responsável pela Patrulha, em reuniões e durante as actividades. Ele sugere Boas Acções e projectos, e encoraja a Patrulha na sua execução. Quando o moral vai abaixo, ele é o que diz “vinde lá” e recomeça. Trabalhando com o Chefe da Unidade, o teu Guia concebe maneiras de todos progredirem no Escutismo, e ser alguém.

Há muitas responsabilidades numa Patrulha. Para ajudá-lo nos seus deveres, o Guia escolhe um Sub-guia. Este lidera a Patrulha sempre que o Guia esteja ausente.

O teu Guia e vós decidis que responsabilidades da Patrulha ficam com quem. Um Escuteiro com jeito para a escrita e/ou desenho poderá ficar responsável pelo Livro da Patrulha. Outro que cozinha bem poderá ficar encarregue de transmitir os seus conhecimentos a outros que o ajudarão a preparar as refeições numa actividade.

Um bom Guia partilha os deveres da liderança. Ele poderá deixar a ti a tarefa de encontrar uma rota para a excursão de bicicleta do próximo mês, para seres o cozinheiro-chefe, ou para ensinar aos outros Escuteiros como usar um fogareiro de campo. Partilhando a liderança com todos vós, o teu Guia permite-vos aprender o que significa ser responsável. Algum dia, quando tiveres experiência e tiveres demonstrado a tua maturidade e sabedoria, os outros Escuteiros poderão escolher-te para Guia.

Todos os membros da tua Patrulha deverão apoiar o Guia em todas as ocasiões. Haverá alturas em que não quererás participar nos planos da Patrulha. Chuva pode arrefecer um raid, ou uma Boa Acção pode ser mais difícil de levar a cabo do que o esperado. Mas lembra-te que o Escutismo é baseado na cooperação e na boa disposição. Por vezes terás que pôr para o lado os teus confortos para benefício da Patrulha. Um “Escuteiro de Verão”, que só aparece quando o tempo está bom não tem muito valor para uma Patrulha. É o “Escuteiro de todas as estações” que aproveita o Escutismo ao máximo e põe a sua Patrulha a mexer. Quando tu e o resto da Patrulha superam inconvenientes em conjunto, a satisfação e a recompensa aumentam.

 

Reuniões de Patrulha

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As Patrulhas são uma componente tão fundamental do Escutismo que parte das reuniões de Agrupamento deve ser para estas se reunirem. Uma Patrulha pode também reunir-se na casa de algum dos seus membros ou outro local adequado.

Durante as reuniões de Patrulha, os Escuteiros ajudam-se mutuamente a compreender técnicas Escutistas. Também podeis planear as vossas actividades e reuniões futuras. À medida que o planeamento é levado a cabo, cada um de vós terá a responsabilidade de preparar a sua parte.

 

Actividades de Patrulha

Uma Patrulha vive de aventuras. Algumas são passadas dentro de casa, como preparar equipamento, practicar Primeiros Socorros, e dar nós.

A tua Patrulha também pode ter muita diversão ao ar livre. Com a aprovação dos vossos Chefes, podeis realizar acampamentos e saídas. O teu Guia deve ter a experiência e a formação para encabeçar essas actividades por sua conta, ou a tua Patrulha pode ser acompanhada por Dirigentes ou Pais.

As saídas e os acampamentos são os pontos altos das vossas actividades. Essas são as alturas em que podes pôr os teus conhecimentos a uso. Longe da escola e de casa, tens tempo para desenvolver as tuas amizades e o vosso gosto pelo Portugal Natural. O espírito de Patrulha atinge o seu máximo quando todos os membros da Patrulha são bons amigos, acampam juntos, cozinham as suas refeições, e disfrutam do tempo que passam assim. Em aventuras de Patrulha, estais perto do cerne do escutismo.

 

 

O teu Agrupamento

 

Nenhuma Patrulha está só. Cada uma faz parte de um Agrupamento, constituído por Unidades, que possuem até cinco Patrulhas cada. Podes considerar as Patrulhas como os tijolos com que é feito o Agrupamento. Quanto mais fortes e activas forem as Patrulhas, melhor será o Agrupamento.

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Os teus Chefes. O Chefe de Unidade é o responsável pela Secção que dirige. Ele trata de providenciar aprendizagem, aventura e diversão para ti e para os outros Escuteiros. Ele está presente em quase todas as reuniões e vai à maioria das actividades. Os Guias consultam-no para conselhos. Hás de vir a conhecê-lo como um amigo mais velho a quem podes pedir ajuda e opiniões.

Nenhum Dirigente é pago pelo tempo que dedica ao Escutismo. Ele vê o valor do método Escutista, e quer ter mão na administração deste a ti e aos outros jovens da Paróquia. Podes valorizar o tempo gasto pelos teus Chefes fazendo o que puderes por tornar a tua Patrulha e do teu Agrupamento um sucesso.

Uma Unidade tem outros Dirigentes que ajudam o teu Chefe de Unidade, constituindo a Equipa de Animação. Por vezes, substituem-no na condução de reuniões e actividades.

O teu Guia de Unidade é um Escuteiro experimentado escolhido pelo Chefe de Unidade ou pelo Conselho de Guias para coordenar e presidir a este.

 

O Conselho de Guias. As actividades da tua Unidade são planeadas pelo Conselho de Guias, que é constituído pelo Guia de Unidade, pelos Guias de Patrulha e pelos Dirigentes da Unidade.

O Conselho reúne-se para discutir todos os assuntos de interesse para a Unidade. O teu Guia de Patrulha representa a tua Patrulha, partilhando as vossas ideias com os outros membros do Conselho. Juntos, os membros do Conselho de Guias consideram as sugestões e necessidades dos Escuteiros, e daí estabelecem o plano de actividades.

 

Reuniões. Quando vais a uma reunião semanal, podes esperar actividade. Muitas vezes haverá jogos que melhoram os teus conhecimentos de Escutismo. Demonstrações e

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concursos ajudam-te a aprender novas técnicas. Durante parte da reunião, as Patrulhas podem-se reunir por si. Com canções, pequenas cerimónias e orações, a reunião deve ser interessante para todos.

Nem todas as reuniões acontecem no mesmo sítio, ou à mesma hora. Aqui e além, uma reunião pode ter lugar num quartel de Bombeiros, por exemplo, para saberdes como é que a tua cidade é protegida dos incêndios. Noutra ocasião, podeis-vos reunir na piscina municipal e trabalhar para alguma insígnia.

 

Saídas e acampamentos. Um Agrupamento forte e saudável têm muitas actividades ao ar livre. Uma vez por mês, deves ter um acampamento, ou uma actividade do género. Na maior parte das saídas, deveis sair em Patrulha. Actividades com outras Patrulhas fornecem uma oportunidade para ver se a vossa Patrulha está a trabalhar bem, e se as técnicas são correctamente aprendidas e postas em prática.

A tua Patrulha é tão boa quanto os membros que a compõe estão dispostos a torná-la. De igual modo, o sucesso do teu Agrupamento depende da energia de cada Escuteiro ao usar o número do seu Agrupamento na manga direita. Tu podes manter as reuniões vivas e interessantes chegando a horas, participando nelas a sério. Aparece para as actividades marcadas como quer que esteja o clima. Faz teu objectivo ser um dos melhores Escuteiros do teu Agrupamento.

Lembra-te que tudo o que acontece na Patrulha e no Agrupamento acontece porque tu e outros tem orgulho em ser Escuteiros. Tu és a tua Patrulha e Agrupamento. Eles são uma reflexão tua, enquanto Escuteiro. Quanto mais te deres ao Escutismo, mais o Escutismo te dará.

 

 

O teu Núcleo e a tua Região

 

A área da tua Diocese onde o teu Agrupamento está localizado é uma Região. Quando o número de Agrupamentos o justifica, é criada uma estrutura intermédia chamada um Núcleo, e que corresponde mais ou menos à área de um arciprestado. Núcleos de grandes dimensões podem-se dividir em Zonas, para a organização de actividades.

 

Actividades de Núcleo e Regionais. Muitas Zonas, Núcleos e Regiões organizam acampamentos para todos os Agrupamentos da sua área. Através de jogos e concursos, os Escuteiros travam conhecimentos e desenvolvem-se.

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Outros organizam também festivais, exposições, demonstrações e comemorações. Nos últimos anos, tem-se assistido a um esforço das Regiões para que cada uma consiga ter pelo menos um Centro Escutista, disponível para todos os Escuteiros, do CNE e não só.

 

 

Insígnias e distintivos

As insígnias no teu uniforme mostram até onde avançaste na tua Vida Escutista.

Distintivos de Identificação. Os primeiros distintivos que usas indicam a tua Patrulha, o teu Agrupamento, o teu Núcleo e a tua Região.

Distintivo Exemplo

Patrulha

Agrupamento

Núcleo

Região

Insígnias de Progresso. Adesão, Bronze, Prata e Ouro - as etapas do Sistema de Progresso revelam os teus conhecimentos Escutistas. As insígnias de Competência levam-te a explorar os teus interesses em muitas áreas. As insígnias de etapa usam-se no braço esquerdo, e as de competência no braço direito.

Etapa de Bronze / Autonomia

Etapa de Prata / Responsabilidade

Etapa de Ouro / Animação

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Insígnias de Função. Algum dia, os Escuteiros da tua Patrulha poderão reconhecer as tuas capacidades de liderança e técnicas, escolhendo-te para Guia - é uma grande honra e uma grande responsabilidade. Usa as tuas duas fitas no bolso esquerdo com orgulho e devoção. Enquanto esse dia não chega, cumpre as tuas funções dentro da Patrulha. Usa a tua insígnia de função acima do botão da pala do bolso esquerdo.

Animador

Cozinheiro

Guarda do

Material

Relações Públicas

Secretário

SocorristaTesoureir

o

Funções Funções Funções Funções Funções Funções Funções

 

Insígnias específicas. Quando tomas parte de uma actividade especial, como um Acampamento Nacional, podes receber uma insígnia para usar no braço direito (até um máximo de duas insígnias) até um ano depois de a receberes. Estas insígnias temporárias mostram aos outros o que fizeste, e recordam-te do que te divertiste e aprendeste.

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Outras insígnias. Quando tiveres andado nos Escuteiros há algum tempo, e tiveres pertencido a mais do que uma Secção, podes colocar no teu braço esquerdo as Insígnias de Secção a que pertenceste.

Quando tiveres alguma experiência de acampamentos, podes receber a Insígnia de Campo, que reconhece as tuas 25, 50, 75 e 100 noites de campo.

 

 Vamos acampar!  

 

            Veste o teu uniforme e calça as tuas botas. Mete a mochila às costas. És um Escuteiro, e isso quer dizer que vais acampar! Podes apostar que não há nada melhor que montar a tenda e passar a noite ao ar livre.

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Que vais encontrar num acampamento? Apenas algumas das melhores aventuras da tua vida! Podes usar as tuas técnicas Escutistas para seguir trilhos nos montes, através de pedregulhos e sobreiros. Abre os teus olhos, olha e vê, poderás ver falcões, lebres e talvez até um lobo. Sobe ao alto ventoso de um monte, desce ao fundo de um rio.

Depois de um dia cheio, vais fazer o teu jantar. Que tal um assado nas brasas, ou um pão com chouriço feito por ti? Após o jantar, mais um pouco de lenha transforma as brasas quentes em chamas acolhedoras, e com os teus amigos revives as vossas melhores histórias. O Fogo de Conselho tem sido uma tradição calorosa no Escutismo, e muito Velho Lobo relembra com saudade o seu tempo à volta de uma fogueira.

Depois mete-te no teu saco-cama. O cansaço de um dia vivido em pleno ressente--se, mas antes de adormeceres olha para o céu. Alguma vez viste tantas estrelas? Ouve, escuta os sons da noite - ao longe um carro, mais perto de ti e do teu coração o pio de um mocho, o bater de asas de um morcego. Não te esqueças de agradecer Àquele que te deu um dia tão bom, e de pedir que guarde a ti e aos teus amigos e familiares.

O Escutismo faz-se ao ar livre. Escutismo é acampar. Escutismo é andar de bicicleta, nadar, fazer canoagem, vela, orientação, primeiros socorros, e muitos outros desafios. O Escutismo tem o seu campo de acção na Natureza, no ar livre.

Este trabalho tenta ensinar-te a ser um bom campista. O teu Chefe, o teu Guia e os outros Escuteiros também te hão de ajudar, e tu, por tua vez, hás-de ajudar outros. E com a tua energia e boa disposição, nada te poderá impedir.

Por isso, deixa de sonhar e vai fazer a tua mochila. A maior aventura da tua vida começa quando pões os teus pés ao caminho.

 

 

O Desafio do mínimo impacto

  "Quando fordes acampar, não deixeis nada além de agradecimentos ao proprietário, e não tireis nada a não ser fotografias." - é este o desafio que te é posto como Escuteiro.

  Quando o Escutismo surgiu, podia-se quase acampar em qualquer lado. Fora das cidades, a maior parte da terra era terreno agrícola ou florestal. As necessidades de uma nação em crescimento alterou essa situação - barragens para fornecimento de energia submergiram terrenos e casas, novas e melhores estradas rasgaram montes e vales, chegando a pontos de Portugal de difícil acesso. Montados foram arrasados para fornecimento de recursos, casas surgiram em terrenos de cultivo. Muitas das mudanças foram positivas, outras nem por isso, mas todas tiveram impacto no Portugal Natural.

  O facto de a nossa Pátria se ter desenvolvido rapidamente nos últimos anos causou muitos danos, pois não houve tempo de adaptação às novas circunstâncias. No

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início do século, o lixo podia ser deitado em quase qualquer lado, pois era biodegradável, e a própria Natureza se encarregava de o fazer desaparecer. Agora a mentalidade persiste, mas o lixo também - os plásticos, borrachas e outras substâncias não são facilmente biodegradáveis, e cabe-nos fazer a reciclagem desses produtos, uma vez que eles não são naturais.

  O Portugal Natural é a casa de muitas espécies de animais e plantas - daqui vem o ar puro e a água limpa, e nos lembramos como costumava ser a nossa terra. Quando as pessoas querem fugir da cidade, têm ao dispor parques, reservas, florestas, e muito terreno natural.

Com a liberdade de sair para o Portugal Natural, vem a responsabilidade de cuidar dele. Essa responsabilidade é de todos os Portugueses, mas especialmente tua. Como Escuteiro é teu dever especial conservar esses tesouros naturais, e ajudar outros a fazê-lo, para que todos possamos ter uma qualidade de vida melhor ainda.  

Quando sais para o campo, deves ter o cuidado de causar o mínimo impacto. Milhares de Escuteiros saem para o campo todos os anos, e que seria de nós e da nossa Terra, se eles não tentassem preservar o que ainda resta! Faz tudo o que puderes para que o Portugal (e o Mundo) Natural fique tão maravilhoso quanto antes de tu e os teus amigos o encontrardes, ou melhor.

 

Experimenta estes tipos de acampamento  

Bivaque é um acampamento curto, geralmente de fim-de-semana ou três dias. O objectivo do teu Agrupamento deve ser fazer um destes mais ou menos todos os meses. No Inverno pode parecer difícil, mas tens os Parques Escutistas à vossa disposição, e muitos destes têm casas que vos podem abrigar, se o tempo estiver mau.

Acampamento de longa duração é o preferido para o Verão. Uma semana ou duas (talvez até mais...) com os teus amigos Escuteiros, ou planeia umas expedições baseadas no local de acampamento. Não deixes passar oportunidades de férias para acampar, o Verão pode estar longe...

Acampamento volante combina acampar com viajar, seja a pé, de bicicleta, de canoa ou de outro meio. Excelente diversão para os Escuteiros mais experimentados, é particularmente apropriado a projectos específicos, como levantamentos ecológicos, de património, etc.

 

 Planeia o teu acampamento

Se fores como a maioria dos Escuteiros, deves estar mortinho por ir acampar. Mas antes de partires com a tua Unidade ou Patrulha, precisas de fazer as seguintes perguntas. As tuas respostas vão-te ajudar a planear uma aventura interessante, divertida e em segurança.

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Onde quereis ir? Todas as partes do País tem boas áreas onde Escuteiros podem acampar. Os teus Chefes conhecerão algumas. Mas tu também podes conhecer outras. Pedindo educadamente, muitas pessoas deixarão os Escuteiros acampar nos seus terrenos.               Há água disponível para beber, cozinhar e higiene? Em muitos locais é possível obter água da rede pública ou de fontes e minas seguras. Quando em dúvida, ferve a água por alguns minutos, tendo a certeza que borbulha bem.                        É permitido fazer fogo? Entre Junho e Setembro é proibido fazer fogo em qualquer área florestal, devido ao risco de incêndio. Em alguns locais é proibido fazer fogo durante o ano inteiro. Usa sempre o local apropriado, e toma sempre as medidas de segurança para evitar que a tua fogueira danifique o Portugal Natural .                      De que tamanho é o teu grupo? Locais de acampamento especializados conseguem aguentar o impacto de muitos Escuteiros, mas a maioria dos locais não. Muitos pés pisoteiam e devastam a vegetação, assim como as muitas tendas necessárias. Para minimizar o impacto, as Patrulhas devem acampar e deslocar-se separadamente. O que queres fazer? Pioneirismo, natação, 'raids', cozinha selvagem, observação natural, plantio de árvores - as possibilidades são infinitas! Os teus Chefes podem sugerir actividades para o local para onde quereis ir, e vice-versa: podem sugerir um local baseado no que quereis fazer. Como é que ides? A pé, de bicicleta são opções viáveis para aqueles sítios próximos. Para distâncias maiores, há sempre os transportes públicos, ou algum bom parente que ajuda com a sua carrinha. Quanto é que vai custar? Acampar deve ser simples, barato, e divertido. Vais precisar de algum material próprio, mas a maior parte pode ser comprado nos Depósitos de Material e Fardamento do CNE, ou em lojas por eles recomendadas. O teu Agrupamento deve ter tendas, material de cozinha, etc. Provavelmente, ser-te-á pedido que comparticipes nos custos das refeições e viagens. Se não tens dinheiro que chegue, fala com o teu Chefe - nenhum Escuteiro deve ser impedido de participar em actividades por falta de dinheiro.Tens autorização? Conta aos teus Pais ou Encarregados os detalhes da actividade, explica o que vais fazer, quando vais, quando voltas. Os teus Chefes devem contactá-los (ou vice-versa) para garantir a tua presença. Como vais proteger o terreno? Orgulhai-vos de deixar o local de acampamento melhor do que estava quando o encontrastes. Apanhai todo o lixo, e perguntai aos proprietários se há algum serviço que possais fazer como retribuição pela sua gentileza em vos deixar acampar nas suas terras. Como ides ser Escuteiros? Quando as pessoas vêem um grupo de jovens acampados, antes de verem o uniforme pensam nos Escuteiros. E também pensam que bom é tê-los ali! Cabe a ti e aos teus amigos provar-lhes que tem razão - fazei as vossas actividades sem importunar ninguém, convidai as pessoas para o Fogo de Conselho ou as crianças da terra para alguma actividade que possa ser participada..

Fazei uma Boa Acção - qualquer coisa simples, como limpar o lixo de um local público, ou qualquer outra tarefa útil. Perguntai ao Pároco, ou ao Presidente da Junta de Freguesia.

Participai activamente na Eucaristia, fazendo uma leitura, por exemplo, e dai mostras da vossa Fé, como Escuteiros Católicos. Estas mostras podem ser para o exterior, mas que sejam mais do que tudo, para vós mesmos - lembrai-vos de Deus em todas as vossas horas: foi Ele que criou os locais onde estais, é Ele que vos proporciona esta actividade, é Ele que, dia após dia, toma conta de vós.

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De que material precisas?

Nos tempos de antanho, os nossos navegadores partiam em jornadas que duravam anos, indo a locais pouco ou nada explorados, em barcos pequenos. Todo o material que seria necessário ao longo dessas viagens tinha que ser transportado nos barcos, bem como os mantimentos. Mas as reservas nem sempre chegavam até ao fim das viagens, especialmente quando começaram as que iam cada vez mais longe. Mas havia a esperança e Fé em Deus, que os havia de prover.

  A água doce era recolhida das chuvas quando as havia, mas na sua falta era preciso ir a terra buscar água e comida. Por vezes, era possível obter esses bens por troca com os nativos, mas muitas vezes era preciso buscá-los no interior dessas terras novas, usando o material que tinham trazido.

  Hoje, a situação é outra para os nossos Escuteiros - mas ainda tens de levar o teu material para as actividades. Como possivelmente vais carregar tudo às costas, interessa-te levar o menor peso. Mete na mochila aquilo que realmente precisas para ter uma boa actividade, e deixa o resto em casa. Como os antigos exploradores, em breve apreenderás a viver com pouco.

 

O Essencial

O material essencial descrito abaixo são as ferramentas que deves trazer contigo em todas as actividades. Tornam uma viagem agradável melhor ainda, e numa emergência, podem ajudar a salvar vidas.

Canivete - um canivete é a ferramenta pessoal mais útil. mantém o teu limpo e afiado.

Estojo de Primeiros Socorros - além do estojo completo que alguém terá que trazer, deves ter o teu a postos para as pequenas feridas. Bastam coisas como pensos rápidos, creme para bolhas e calos, um desinfectante, uma pinça, alguns trocos e um cartão telefónico para um telefonema de emergência (já que muitos telefones públicos não aceitam moedas).  

Inclui um lenço ou compressa limpo, para hemorragias maiores, bem como um cartão com os números de telefone mais importantes: casa, Chefe, emergência (112), incêndios florestais (117). Acrescenta também comida energética, como chocolate e/ou frutos secos, para uma emergência (e só!).

Roupa sobresselente - ter frio ou estar molhado num raid é horrível, e pode ser mau para a saúde. Uma camisola grossa e um impermeável resolvem a maioria dos problemas; em tempo mais frio, um anorak, umas luvas e um gorro. Quando faz mais calor, não será necessária tanta roupa, mas cuidado com as noites orvalhadas do Verão e os Verões de S.Martinho - bonitos mas frios.

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Impermeável - um poncho protege-te a ti e à mochila. Em caso de chuvada inesperada, um saco do lixo pode ser transformado depressa numa protecção.

Cantil ou garrafa de água - no Verão é fácil desidratar, mas mesmo no tempo mais fresco isso pode acontecer numa actividade mais longa. Leva sempre um cantil cheio ou uma garrafinha plástica (pesa menos) e vai-os re-enchendo. Bebe golos pequenos

Lanterna - dá muito jeito onde não há luz eléctrica, como em tendas! De igual modo, em actividade no escuro. Uma lanterna resistente que usa duas pilhas AA é ideal: pesa pouco e é mais do que suficiente. Mantém-na à mão na mochila, e toma cuidado para que não se ligue sem dares conta. As pilhas recarregáveis são mais vantajosas.

Boné/chapéu - no Verão é fácil apanhar uma queimadura, uma insolação ou um golpe de calor. Um chapéu de abas largas protege o teu rosto e a tua cabeça, e em sol forte uma camisa de mangas compridas é a melhor opção (não te esqueças do protector solar). No Inverno, as abas também ajudam a proteger da chuva (especialmente se usares óculos).

Mochila - onde levar o material, de tamanho conforme o que é preciso levar. Uma mochila é, basicamente, um saco com asas para transporte. Ajuda a carregar peso e liberta as tuas mãos. Usa sempre as duas asas, e se a mochila tiver cinto, aperta-o - tudo isso contribui para a melhor distribuição do peso, e evita dores e cansaços.

Mapa - se viajares em áreas desconhecidas, uma carta topográfica, preferivelmente acompanhada de uma bússola ser-te-á de muito uso.

 

Em Bivaque

  O teu material essencial acompanha-te em todas as saídas, e é a parte mais importante do teu equipamento. Quando pretenderes passar a noite debaixo das estrelas, precisas de levar mais qualquer coisa para pernoitar.

Saco-cama - em casa, o colchão e as cobertas mantém-te quente. Fora da tua cama, um par de cobertores faz o mesmo. Dobra os cobertores em forma de envelope, e prende as pontas com alfinetes de segurança.   Mas se tens escolha, usa um saco-cama. Como é um saco, detém o calor melhor do que cobertores. além disso é mais leve e mais fácil de levar na mochila. Se fores acampar no Inverno e o teu saco-cama for muito fino, podes sempre meter um cobertor dentro do saco, á tua volta. Se tiveres calor, podes sempre usar esse cobertor extra como colchonete.

 Colchonete - um colchão de ar ou um colchonete melhorarão o teu conforto e ajudarão a manter-te quente (o colchonete é preferível por uma questão de peso e facilidade de arrumação). Estes protegem-te do frio do chão, o que é mais importante do que protecção do frio do ar, e tornam um solo duro mais confortável. Para ajudar a isolar o colchonete podes usar um plástico grosso - até o poderás prender à parte de baixo do colchonete. Será bom para resguardar-te da humidade do solo.

 

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Faz a tua cama  

Chegaste ao campo e jantaste. Agora preparas-te para a noite. Qual é o melhor modo de arrumar a tua tralha para uma noite confortável?

Encontra um local razoavelmente plano. Se for debaixo de uma árvore, menos orvalho se condensará na tua tenda ou saco-cama. Arbustos e pedras podem funcionar como tapa-ventos. Remove pedras e paus que possam rasgar a tenda ou o saco-cama, mas deixa folhas e pruma - vão-te servir como colchão e minimizar o teu impacto no local.

Estende o teu plástico/chão, e põe o colchonete por cima, seguido do saco-cama ou dos cobertores. Queres uma almofada? Pega na tua roupa e mete-a dentro de uma camisola. Em tempo húmido será melhor usares uma tenda, mas se a não tiveres trazido, deixa as tuas coisas arrumadas até à hora de deitar, para evitar que absorvam humidade. Se tiveres tenda, aproveita para estender o saco-cama, para que ganhe a sua forma

Quando te meteres no saco-cama, mantém as tuas botas perto. Mete pequenos objectos, relógio e óculos numa delas, e na outra a tua lanterna. Usa a língua da bota para que o orvalho não humedeça o interior das botas. De manhã, antes de as calçares, sacode-as bem; os nossos pequenos amigos animais podem entrar nelas para se aquecerem, e provavelmente ficarás admirado com a quantidade de terra e pedrinhas que entrou durante as actividades do dia anterior.

Se estiver mesmo fresco (mesmo dentro da tenda), um gorro, meias grossas, uma camisola e mesmo luvas podem tornar uma noite de frigorífico numa experiência mais agradável. Os sacos-cama são quentes porque o seu acolchoado guarda ar, que é aquecido pelo próprio corpo. A qualidade isolante do material ajuda a conservar a temperatura.

Por último, não vás para a cama sem fazer uma ceia - o corpo "queima" calorias para te manter quente, mas só se tiveres calorias, nem sem aquecer a alma com algumas orações.

 

Utensílios para comer

As refeições em campo têm que ser substanciais, e a maioria pode ser comida com utensílios simples. Um prato resistente, preferivelmente de sopa (serve para sopa e comida sólida), um copo ou caneca, de preferência com medidas marcadas (útil na cozinha) e talheres: garfo, colher, e faca.

Em actividades invernais, uma caneca isolada (termos) mantém a sopa e as bebidas quentes, e não queima os teus lábios e mãos de segurar. Se te tiveres esquecido dos teus utensílios (vê a lista, da próxima vez) podes sempre deitar mão do Método Escutista, e fazer os teus próprios. Com o teu canivete, podes experimentar talhar num ramo um garfo numa ponta e uma colher noutra (o canivete serve-te de faca). E já agora, se os Orientais conseguem comer com dois pauzinhos, porque não experimentar.

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Apoia um dos paus na cova do polegar e na ponta do dedo anelar, e segura-o com o polegar. O outro deve ser seguro com o polegar e com o dedo médio, e movido com a ajuda do indicador.

 

 

Toma conta de ti

Parte da alegria de uma actividade é não te preocupares em sujar-te ou manter-te limpo. Se for só um bivaque, não há problema, quando chegares a casa tomas um bom duche. Mas se a actividade durar mais, vais querer limpar-te. Se te lavares antes de deitar, sentir-te-ás melhor, e o teu saco-cama ficará mais limpo. Não te esqueças de trazer as seguintes peças de equipamento, e não te esqueças de as usar.

Sabão/sabonete - tanto quanto necessário, mas não é preciso um novo nem para um acampamento de uma semana; uma barra pequena ou uma grande que esteja quase usada chegam. Guarda dentro de uma caixa ou saco plástico.

 Toalha e esfrega - a esfrega molhada serve para tomar o "banho à Escuteiro" quando não há instalações; esfrega-te com força e com sabão para tirar bem o sujo. A toalha é para te secares. Escolhe-as de cor escura, para não se ver tanto o sujo, e se ficares mais de uma semana em campo, lava a toalha.

 Escova, fio e pasta dos dentes - um bocado de pasta dentífrica lava muitos dentes; arranja um tubo pequeno, ou um grande perto do fim. Arranja uma escova média, e lava os dentes pelo menos duas vezes por dia, ou se puderes, no fim de todas as refeições; o fio dental garante a limpeza entre dentes, que é onde muito bom dente se arruina.

  

Extras

Uns poucos extras podem melhorar ainda mais uma actividade. Talvez queiras trazer alguns dos seguintes:

máquina fotográfica e rolo (guarda em saco plástico)

bloco de notas e lápis

repelente de insectos

fato de banho

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óculos de sol

binóculos

livro

livro de orações ou Bíblia

 

 Que mochila?

Há vários géneros de mochila: desde aquela que se leva para a escola e serve perfeitamente para uma saída de um dia, à outra gigante que se destina a meter vivendas inteiras, sem esquecer a ligação à rede de esgotos.

Uma mochila pequena dá para conter todos os essenciais para um dia em campo. Qualquer coisa um pouco maior já dá para um bivaque, e depois há mochilas maiores para actividades mais compridas, com estrutura metálica que pode ser exterior ou interior.

A capacidade das mochilas mede-se em Litros. Uma mochila pequena (tipo escolar) tem em média 10 litros, uma média 32, e uma grande (a mochila típica) cerca de 65 litros. Mas cabe a cada um escolher o tamanho que lhe dá mais jeito. Quanto maior uma mochila, mais tentados estamos em a encher, e portanto a aumentar o peso que vamos levar às costas. Por outro lado, também não é aconselhável ter uma tão pequena que quando lhe colocamos o material essencial fique prestes a rebentar, esperando apenas o momento pior possível para o fazer. Mais vale portanto escolher uma mochila mais para o pequeno que para o grande.

 

 

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Fazer a mochila

As mochilas da nova geração são em forma de marco, que se abre com um fecho de correr, como uma mala. O formato tradicional das mochilas carrega-se pela parte de cima, com um cabeção, geralmente com um bolso, a fazer de tampa. Como estas ainda continuam a ser a grande maioria, vamos falar sobre estas, embora os princípios sejam os mesmos.

Em casa és capaz de ter um armário, ou gavetas com as tuas coisas. Em campo, a tua mochila funciona como armário. Em vez de gavetas, podes usar sacos plásticos para manter tudo junto e seco. Fazer isto é particularmente importante se há a possibilidade de chover. Nenhuma mochila neste mundo continua impermeável depois de várias horas de chuva. Por consequência, nenhuma roupa que tu lá tenhas continua seca! Usa os sacos plásticos. Quando precisares de mudar de roupa, já sabes que no saco azul estão as meias, no verde os agasalhos, etc.

Ou podes fazer os teus próprios sacos, com as pernas de calças velhas que estejam em mau estado (e portanto não podem ser dadas a quem precisa). Corta uma perna, e cose o fundo com linha grossa, ou com uma máquina de coser. Na boca do saco, dobra uns dois centímetros, fazendo-lhe uma gola. Faz dois pequenos buracos no mesmo extremo dessa gola, e insere uma corda por um, dá a volta, e faz a corda sair pelo outro buraco. Cose a gola, para que o fio não escape. Vira o saco do avesso, e está pronto!

Quando fazes a mochila, lembra-te das palavras de Jesus: "Os primeiros serão os últimos e os últimos serão os primeiros" (Mt 20, 16* ). Neste contexto, quer dizer que aquilo que puseres dentro da mochila primeiro terá que sair em último, e vice-versa, logo deixa aquilo que pensas precisar cedo para ser posto por último.

Se fores carregar com a tua mochila, o material mais leve deve ser colocado mais para o fundo da mochila, pois quanto mais acima e mais próximo das tuas costas estiver a maior parte do peso, menos curvado terás que andar, devido ao centro de gravidade. Também por cima devem ficar coisas como um agasalho ou um impermeável, caso ameace arrefecer ou chover.

Nos bolsos laterais que as mochilas maiores tem podes guardar aquele equipamento essencial que te falamos acima, para estar facilmente à mão. O saco-cama, por ser leve, deve ser das primeiras coisas a entrar na mochila. Siga-se a roupa, e depois o equipamento mais pesado.

Além das tuas coisas poderás ter que carregar algum do material da Patrulha. A tua parte pode incluir cantinas, tendas, e alguma comida.

 

Uma mochila não é uma árvore de Natal - leva o material dentro da mochila, e não pendurado no lado de fora

Levar carga a mais é tão mau como levar material a menos. A responsabilidade recai sobre os teus ombros (literalmente!) - todo o caminho para lá e para cá. A carga

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máxima que alguém deve carregar é igual a um quarto do peso do seu corpo; isto é, se pesas 50 Kilogramas, não deves carregar mais de 12, 5 Kilos.

O famoso Escuteiro e campista americano Steward E. White tinha um método para decidir o que levava. Quando voltares de um acampamento, divide o teu material em três pilhas:

1 - o que usaste todos os dias (inclui aqui o teu estojo de higiene e o de primeiros socorros)

2 - o que usaste ocasionalmente

3 - o que nem sequer usaste

Da próxima vez, deixa a terceira pilha, e pensa bem sobre a segunda...  

 Regular e carregar a mochila

As mochilas modernas tem a particularidade de serem reguláveis, isto é, de permitirem distribuir o seu peso de forma a que este fique o mais equilibrado possível, e se torne, pois, mais fácil de carregar.

O truque é simplesmente carregar a mochila tendo por apoio a zona das ancas, enquanto que as correias servem sobretudo para manter o equilíbrio. O segundo ponto a ter em conta é que todas as correias com regulação tem uma razão de existir.

Para regular uma mochila, põe-na às costas, e dá folga às correias até que a correia da cintura fique ao nível da largura máxima das ancas. Fecha a correia da cintura, de modo a que todo o peso da mochila fique nas ancas. Pega então nas outras correias, e puxa-as até que sintas o peso da mochila ficar repartido entre a bacia e os ombros. Se sentires uma compressão ao nível dos ombros, é porque as correias ficaram demasiado apertadas. A correia estreita que une as duas ombreiras ao nível do peito tem por função repartir melhor estes esforços.

Nas mochilas grandes, um par de tiras liga as ombreiras ao bolso da tampa. Estas permitem deslocar o sentido de gravidade da mochila, em função do relevo do terreno onde se caminha. Numa subida, apertam-se para aproximar o peso dos ombros; numa descida, alargam-se para fazer descer o peso do saco ao nível dos rins.

   

Abrigo

Há muitos anos, os campistas de então, pioneiros e bandeirantes na sua maioria, quando precisavam de abrigo, cortavam ramos e árvores e construíam abrigos "em A". Demorava algum tempo e causava danos permanentes à Natureza.

 

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Hoje, um oleado ou uma tenda fornecem protecção dos elementos rapidamente, em qualquer lugar. Protegem-te do mau tempo, dos insectos, e dão-te privacidade. Quando te queres ir embora, é só desmontar a tenda; ao contrário do abrigo "em A", é um método que deixa poucos vestígios, e menos ainda se fores consciente.  

O grande segredo para passar um acampamento sem frio é saber que na maior parte dos casos, o frio vem do chão. Um dos desenhos de BP no Escutismo para rapazes exemplifica muito bem essa regra.  

A condução é o fenómeno físico que ocorre quando um objecto mais quente entra em contacto com um mais frio. É o que acontece se tu pegares num objecto de metal frio e o segurares na tua mão durante tempo suficiente - ele aquece e a tua mão arrefece ligeiramente. Como o teu corpo está sempre a produzir calor (necessário para as reacções que se dão nas tuas células, e produto delas mesmas) e o objecto metálico é pequeno ou se calhar não estava muito frio, pouco notaste.

Mas se em vez de um objecto frio na mão te deitares em cima de um chão realmente frio, o calor produzido pelo teu corpo pode não ser suficiente, e arrefecerás durante a noite, o que pode resultar numa constipação ou pior. Assim, a conclusão a tirar é que é realmente importante isolares-te do chão, com cobertores, colchonetes, folhas de papeis ou ervas secas, fetos ou pruma.

Também a chuva e o vento são factores a ter em conta, porque agravam os efeitos do frio e são elementos de desconforto.

 

Toldos

O abrigo mais simples em campo é um toldo grande, que pode ser de lona ou de plástico. Os de lona são mais antigos, e chamam-se ainda panos de tenda, por serem usados como chão nas tendas antigas, que o não tinham - se não lhes tocares e os esticares bem, podem ser quase tão impermeáveis quanto os de plástico. Os de plástico podem vir em várias cores e transparente. São adequados para cobrir a área das refeições, ou a cozinha.

Os panos de tenda e alguns linóleos vêm com aneis de metal, chamados ilhós, que servem para prender cordas. Se não tiverem isso, com uma pedra média ou uma pinha pequena e corda fina podes fazer uma improvisação, usando o nó de barqueiro (vê o desenho).

Para tornar um desses panos num tecto para a cozinha ou para a "sala de jantar", usa uma corda para atar duas árvores, e deitar por cima dessa corda o toldo. Com as espias (cordas usadas para prender algo como linóleos, e tendas) esticas os cantos. Se o tempo piorar, baixas a corda central, e regulas as espias.

Para usá-lo como abrigo de dormir, é só baixar o toldo - se as bordas forem mais baixas do que o resto, proteger-te-á melhor contra o vento.

 

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Tendas

As tendas costumavam ser feitas de lona, e poderás encontrar ainda muitas feitas nesse material, que foi a origem da ganga que hoje se usa para fazer calças (e não só). As tendas eram impermeabilizadas por uma variedade de métodos, que podiam incluir parafina e gordura entre outros.

Hoje, as tendas são feitas de materiais artificiais que não precisam de impermeabilização, e oferecem várias alternativas conforme a intenção pretendida. Seja qual for o tipo escolhido, o modo de montar e utilizar obedece sempre aos mesmos princípios. A resistência ao vento e a impermeabilização dependem da correcta observação desses princípios.

O tecido deve ficar completamente esticado e sem rugas. Para isso a tenda deve ficar correctamente presa ao chão. Nem sempre é fácil espetar os espeques (ou estacas) num solo pedregoso ou demasiado duro. Do mesmo modo pode ser difícil manter os espeques espetados num solo demasiado mole. Um martelo e alguma atenção podem resolver os problemas da dureza excessiva, enquanto que a substituição do espeque por pedras pesadas pode ser a solução para os terrenos moles.

A condensação é um dos maiores inconvenientes das tendas ligeiras. A nossa respiração liberta vapor de água para a atmosfera (podes fazer o teste respirando para um espelho ou vidro, que ficará embaciado devido ao vapor de água contido no ar que expiras), e numa tenda fechada este vapor terá tendência a condensar nas paredes da tenda. Se dormires com outros Escuteiros na mesma tenda, poder-te-á parecer uma verdadeira fuga de água. Para evitar isto, dorme com a porta da tenda entreaberta. Aliás, fechar a tenda por completo só se justifica no caso de frio intenso, chuva ou insectos.

 

 

Nunca acendas um fogo dentro de uma tenda! Mesmo uma vela ou um isqueiro não deve ficar mais do que alguns segundos dentro de uma tenda. Os materiais de que são feitas as tendas não são à prova de fogo, e podem arder em poucos segundos, com resultados muito graves, e até mortais, para quem está no seu interior!

 

O modelo canadiano foi durante muitos anos o modelo de tenda mais popular, mas hoje em dia, os novos materiais utilizados permitem outros formatos, muito mais habitáveis e leves, como os igloos e os túneis.

 

 

 

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Como escolher um local de acampamento

 

Quando vais acampar, precisas de encontrar um local para passar a noite. Eis alguns factores a ter em conta na escolha desse local.

 

Impacto ambiental - sempre que possível, o melhor é usar parques Escutistas, especialmente se for um grupo grande. Uma Patrulha tem outra liberdade, mas deveis ser conscenciosos.

 

Segurança - evita perigos. Não montes a tua tenda debaixo de uma árvore morta nem de árvores isoladas ou com ramos secos, que podem cair com o vento ou atrair raios. Distancia-te de linhas de água e regos, que podem "entrar em funcionamento" com uma chuvada. Mantém-te longe de cumes altos e vales fundos pelas mesmas razões, e não acampes perto de trilhos e zonas de caça.

 

Tamanho - um local de acampamento deve ter tamanho suficiente para as vossas tendas e áreas de cozinha e afins. Guarda os locais pequenos para os acampamentos e bivaques de Patrulha, não de Agrupamento.

 

Abrigo - vê se tem protecção do vento e do Sol. À noite, insectos e ar húmido têm tendência a concentrar-se nos vales. Um acampamento numa encosta poderá ser mais ventoso, mas mais seco e com menos insectos. Os cumes são adequados em bom tempo, mas proibidos em caso de mau tempo.

 

Água - precisais de água para beber, cozinha e lavar, o que quer dizer vários litros por dia por pessoa. A água da rede de abastecimento pública é a melhor opção, mas verifica sempre com as pessoas do lugar se assim é, e se há outras fontes seguras É boa ideia ferver toda a água. Acampar em áreas secas é estupidez, pois força-vos a levar toda a água que necessitais.

 

Relevo - o terreno é levemente inclinado para boa drenagem de águas? Vegetação, folhas, pruma e outro coberto natural evitam que o terreno se torne lamacento, e ajudam a prevenir enxurradas - nunca o removas propositadamente, apenas aquele como rochas e ramos que te podem magoar. … abrigado do vento?

 

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Combustível - é preferível levar de casa pequenas botijas de gás. Vê se o proprietário tem uma pilha de lenha e se te deixaria usar um pouco - usa o mínimo possível! Se o terreno tiver madeira vê a que podes usar sem cometer excessos. Lembra-te sempre do risco de incêndio.

 

Privacidade - o campismo é uma actividade popular, não só com quem pratica, como com quem vê! Respeita a privacidade de outros grupos acampados; árvores e arbustos podem isolar o teu acampamento de outros e do exterior. Privacidade pode querer dizer segurança!

 

Permissão - nunca acampes sem pedir as permissões necessárias: ao proprietário/ responsável, ao teu Chefe, aos teus Pais ou Encarregados.

 

 

Cuidado com a Terra

 

Muitas áreas do nosso Portugal são especialmente delicadas, e como tal, protegidas. Essa protecção especial é necessária devido ao pouco cuidado que a maioria das pessoas tem na sua utilização, ou à existência de espécies ou ecossistemas raros.

Em algumas dessas áreas, os Escuteiros podem acampar, e ter experiências únicas. A nossa responsabilidade é portanto dupla: em primeiro lugar, somos Escuteiros; em segundo, temos uma oportunidade que não é para todos.

Mesmo fora dessas áreas protegidas, é necessário cuidado especial em partes do Portugal Natural. Especialmente no que diz respeito à água. Rios, ribeiros, linhas de água, lagoas, mar - todos os ambientes aquáticos têm vida, e são muito necessários a esta.

 

Limpeza

Muito trabalho e muita diversão podem deixar-te sujo. Lava sempre as mãos com água e sabão antes de comer. Num bivaque, não precisarás de mais do que isso e de lavar os dentes antes de ires dormir. Podes-te lavar quando chegares a casa.

Em aventuras mais compridas, sentir-te-ás bem melhor se tomares banho frequentemente. Fazê-lo correctamente evita danos ao meio ambiente.

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Muitos tipos de sabonetes e produtos afins contem químicos que fazem mal às plantas e animais, especialmente aquáticos. Sabão biodegradável é mais seguro, mas mantém todo o género de produto de limpeza a mais de 200 passos de qualquer massa de água, seja nascente, ribeiro ou lagoa.

Enche uma bacia com água, e lava-te com essa água. Quando acabares, espalha-a pelo terreno, ou deita-a numa fossa para líquidos.

Toma as mesmas precauções quando lavares algo, sejam roupas ou coisas de cozinha. Mistura detergente à água quente ou morna, e mete aí o que pretenderes lavar, deixando uns minutos ou mais para soltar o grosso do sujo. Com roupa, depois esfrega-a bem, torce-a e põe-na a secar. Com pratos e panelas, usa uma esfregona ou escova própria e seca-os.

 

Latrinas

É preciso algum cuidado no tratamento dos produtos de excreção humanos. Em locais com casas de banho, usa-as. Quando não as houver, cava uma latrina. A latrina deve ficar a 200 passos de qualquer água (poça ou curso), e colocada a jusante* do vento.

 

Cava-a com uma enxada ou semelhante, para que a largura não seja maior que 30 ou 40 centímetros. A profundeza das latrinas dependerá do tempo que pensas ficar no mesmo sítio. O mínimo de profundidade que uma latrina deve ter é de 30 centímetros.

Guarda o solo que escavares, para servir para ir tapando a latrina. ¿ medida que for sendo usada, é importante cobrir todos as fezes com uma camada de solo, ou o mau cheiro começará a incomodar os campistas e a atrair insectos.

O uso da latrina pode ser tornado mais fácil com o uso de alguns apoios, basta um para as pernas e um para as costas - vê mais à frente como fazer isso.

Se a latrina encher, aumenta-a para o lado. Usa pouco papel higiénico, pois este não é tão biodegradável quanto os excrementos. Nunca te esqueças de lavar as mãos no fim de usares a latrina.

Um Código pessoal de Ambiente

 

Este código é-te proposto pelo Secretariado da Organização Mundial do Movimento Escutista como um desafio para a tua vida. Segue-o e colabora com a Criação de Deus.

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Respeitarei todos os seres vivos, pois cada um é um elo na corrente que mantém a Vida na Terra

Retirarei da Natureza apenas o que pode ser substituído, para que nenhuma espécie desapareça

Nunca poluirei o ar, a terra ou a água

Não comprarei produtos feitos com plantas, animais ou de florestas em perigo

Manterei a minha área de residência limpa, e respeitarei o ambiente onde quer que vá

Chamarei a atenção para casos de poluição e qualquer outro abuso da Natureza

Não desperdiçarei água, combustível ou energia

Darei exemplo de preservação da Natureza, e mostrarei aos outros as razões porque é importante que todos o façam

Celebrarei a beleza e maravilha da Criação de Deus todos os dias da minha vida

 

 

As 7 chaves do mínimo impacto

 

Planeamento

a) guardem a comida em contentores que trareis para casa no final da viajem

b) levai sacos do lixo, e usai-os

c) planeiem actividade para uma ou duas Patrulhas (até 14 Escuteiros)

 

Viajem

a) mantenham-se nos trilhos

b) evitem 'atalhos'

c) usem terreno duro para corta-mato

 

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Local

a) evitem campismo selvagem em áreas protegidas

b) não acampem em, ou logo ao lado de, trilhos e linhas de água

c) não cavem regos à volta das tendas

 

Fogo

a) usem fogões ou façam fogueiras apenas onde adequado

b) usem locais já utilizados para fogueiras

c) queimem madeira miúda apanhada do chão

d) assegurem-se que apagam bem todos os fogos

e) tenham cuidado com o risco de incêndio, e respeitem as indicações legais

 

Higiene

a) usem todos os produtos de limpeza a 200 passos de água

b) deitem a água utilizada numa fossa de líquidos

c) cavem as latrinas a 75 passos do acampamento e a 200 de água

d) tapem latrinas e fossas quando levantarem campo e reponham a cobertura

e) tragam todo o lixo

 

Respeito

a) desviem-se de animais e bicicletas

b) não apanhem plantas silvestres. Apreciem o que há, e deixem para os outros verem

c) façam o mínimo de barulho perto de outros campistas e excursionistas, e não assustem os animais. Deixem rádios e equipamentos do género em casa, ou usem-nos moderadamente

 

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* Mt 20, 16- Evangelho de S. Mateus, capítulo 20, versículo 16

 

 

* diz-se jusante ou montante conforme algo está para o lado do destino ou da origem de rios e afins. Assim, montante significa para o lado da nascente, e jusante para o lado da foz.

 

 

Homem à água!

 

 

“Anda lá, a água está óptima.” Um grito familiar, muito ouvido em acampamentos à beira-mar, beira-rio, beira-piscinas...beira-água, basicamente! Num dia quente de Verão, nada sabe tão bem como nadar, chapinhar e diversão na água.

Nadar é algo importante a saber. Aprende a nadar, e serás capaz de tomar conta de ti próprio se alguma vez caíres de um barco ou escorregares para um rio. Com treino de salva-vidas, podes acudir a alguém que se afoga.

Há uma maneira correcta de nadar. Emprega tempo a aprender o básico, e depois pratica sempre em segurança. Começa aprendendo umas regras simples.

 

Regras de segurança:

 1. Nunca nades sem um adulto responsável a supervisionar. Este deve ser treinado em métodos de salvação, ou ter assistentes que o sejam. Os assistentes devem ser os melhores nadadores.

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2. Pelo menos duas pessoas devem estar fora da água, com um meio de auxílio (corda ou bóia). Um vigilante deve estar onde possa ver e ouvir toda a área.

3. Cada nadador deve garantir a sua boa saúde, entregando uma ficha de saúde assinada pelo Encarregado de Educação e por um médico.

4. A área de natação deve estar demarcada. Para não-nadadores, a água não deve ter mais do que um metro de profundidade (ou conforme a altura de cada um), pouco mais funda para principiantes (sabe flutuar e nadar 30 metros), e sem pé para aqueles que sabem nadar (sabe mergulhar e nadar 100 metros ou mais). Mantenha-se a área longe de zona de pesca e/ou mergulhos.

5. Os Escuteiros devem nadar em grupo nas áreas conforme o seu nível de natação.

6. Mantenha-se a disciplina na área de natação. Todos devem compreender as regras e obedecer prontamente aos responsáveis. Obedece sempre às bandeiras na praia.

 

Permitido tomar banho e nadar

desde que cumprindo todas

as regras e recomendações

Proibido nadar

Proibido nadar e tomar banho;

proibido entrar na água

Praia temporariamente sem vigilância

 O Instituto de Socorros a Náufragos recomenda:

REGRAS DE SEGURANÇA:

  1. Frequente praias vigiadas.

  2. Respeite os sinais das bandeiras.

  3. Respeite as instruções dos nadadores salvadores.

  4. Evite tomar banho antes de decorridas 3 horas após as refeições.

  5. Nunca nade contra a corrente.

  6. Ao nadar não se afaste demasiado, nade paralelamente à costa.

RECOMENDAÇÕES:

  1. Vigie atenta e permanentemente as suas crianças.

  2. Após longos períodos de exposição ao sol, não entre de rompante na água.

  3. Procure nadar acompanhado.

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  4. Em caso de aflição não hesite em pedir imediatamente socorro.

  5. Procure conhecer as praias que frequenta.

 

Aprende a nadar

A melhor maneira de aprender a nadar é fazer um curso organizado por instituições autorizadas, com instrutores credenciados. Entidades como clubes desportivos e as Piscinas Municipais são os organizadores mais comuns. Pergunta na piscina pública mais perto de ti.

Pergunta ao teu Chefe se conhece onde te podes informar, e quais os requisitos para a Insígnia de Competência de Nadador. Quando já souberes nadar razoavelmente bem, pede ao teu instrutor que te avalie nas provas necessárias.

Sabes que podes flutuar? Eis uma maneira de o provar. Entra em água pouco profunda (até à tua cintura) com alguém que saiba nadar bem ao lado. Segura o fôlego, dobra-te e enrola-te como uma bola. Abraça as tuas pernas. Vais ver que vens à tona!

Vira-te de cara para a borda da água e agarra-te a algo (a borda de uma piscina, ou os braços de alguém). Segurando o fôlego, tenta espalhar-te na água, com as pernas abertas. Relaxa-te, e larga uma mão, abrindo os braços. Quando te sentires confiante da tua flutuabilidade, experimenta largar a outra mão.

Agora experimenta o mesmo, mas desta vez deita-te de costas. Podes não gostar da sensação de um pouco de água a entrar para os teus ouvidos, mas a experiência de flutuar e respirar, e ver a cara sorridente do teu companheiro de natação vale a pena.

 

 

Estilos de natação

  Um estilo muito comum na Natureza é o que nós chamamos nadar “à cão”. Isto porque os cães usam-no, bem como quase todos os animais de quatro patas. Consiste em bater os braços debaixo do teu tronco, para manter a cabeça fora de água, ao mesmo tempo que bates os pés. Muitos nadadores que aprendem sozinhos começam assim.

Mas este não é um método muito eficiente: cansa muito, e impulsiona pouco. Assim desenvolveram-se outros estilos: bruços, crawl, e mariposa são os mais comuns. Destes, bruços é o mais confortável, e mariposa o mais rápido. O crawl é um óptimo intermédio. Todos os estilos tem 3 partes: a respiração, o golpe de braços e o golpe de pernas.

 

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Crawl

O crawl pode ser usado para distâncias relativamente curtas, mas cansa ao fim de um certo tempo.

Para o golpe de pernas, segura-te a algo (borda de uma piscina ou braços de alguém), ou apoia as mãos em água rasa. Mexe as tuas pernas desde as ancas, levantando e descendo os pés. Mantém as pernas na mesma posição, mas não presas. Experimenta ir-te movendo impulsionado pelo golpe das pernas, boiando de cabeça para baixo e mexendo somente as pernas.

Para o golpe de braços, entra em água que te dê pela barriga/peito. Dobra-te e põe-te numa posição de nadador. Estende o teu braço direito para a frente o mais que puderes. Com os dedos fechados, puxa o teu braço até à tua anca. Levanta o cotovelo e estica o teu braço outra vez. Alterna com o teu braço esquerdo, e depois tenta fazer com os dois ao mesmo tempo.

Começa a deslizar pela água. Uma os golpes de pernas e de braços ao mesmo tempo para te mover pela água. Quando precisares de ar, vira a tua cabeça para o lado do braço que estás a levantar fora da água, e inspira pela boca. Expira debaixo de água pelo nariz.

 

Outros estilos

Depois de aprenderes o crawl, e de melhorares o teu estilo até conseguires atravessar uma piscina sem pôr o pé no chão, podes começar a experimentar outros estilos. Bruços, de costas e de lado são três estilos que te darão confiança na água e mais técnica.

Bruços. Na posição de flutuar de cara para baixo, estende as tuas mãos para a frente. Com os dedos fechados, puxa as tuas mãos até ao teu peito. Junta-as e estende-as outra vez. Quando puxas as tuas mãos, a força deve ser suficiente para levantar a tua cabeça fora de água para que inspires. Expira pelo nariz enquanto estendes os braços. Com os pés dá pontapés para trás de ti. Como as tuas mãos, enquanto fazes a força estão separados, junta-los para os retrair.

Costas. Na posição de flutuar de cara para cima, estende o teu braço direito para trás de ti, e puxa-o até à tua anca (como no crawl, mas de costas). Para os pés, dá pontapés como no estilo bruços.

Lateral. Um forte pontapé em tesoura é a força deste estilo. A tua cara deve estar sempre acima da água, por isso não há problemas com a respiração. Deitado de lado, puxa os joelhos para o peito. Estica as tuas pernas uma para cada lado e fecha-as, como se estivesses a fechar uma tesoura. Ao mesmo tempo, estica o braço do lado sobre que estás deitado, e puxa-o até à tua anca. O braço que fica de fora da água pode contribuir para o impulso, mas pode também ser usado para puxar alguém.

 

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Se já sabes nadar bem, porque não experimentas aprender técnicas de salvação? Podes desenvolver por ti o estilo lateral, e algumas técnicas, mas não tentes socorrer alguém a nado sem ter formação específica dada pelo Instituto de Socorros a Náufragos ou outra entidade credenciada.

 

 Resgates na água  

Muitas pessoas morrem afogadas todos os anos, especialmente no Verão. Tu podes tratar de ti na água se souberes nadar, e respeitares as indicações de segurança.

   Para ajudar pessoas em dificuldades, precisas de aprender as técnicas antes de te aventurares a fazê-lo. Pratica resgates na piscina com os Escuteiros, ou tira um curso especializado - podes receber a Insígnia de Competência de Nadador-Salvador. Mesmo com treino especializado, nunca tentes resgates a nadar se existem outras possibilidades.

Os métodos mais seguros são: alcançar, atirar ou ir apoiado.

Alcançar. A maioria dos acidentes aquáticos ocorrem perto da beira da água. Tenta alcançar a vítima com algo como um ramo, vara, ramo, toalha, corda, ou a tua mão.

Atirar. Há alguma bóia disponível? Um colchão de ar, um colete de salvação, ou uma bola de praia? Atira-o à vítima. Ou atira uma corda, tendo a certeza que prendeste um dos extremos

Ir apoiado. Quando uma vítima não pode ser resgatada alcançando-a ou atirando-lhe algo, então vai ter com ela com apoio. Com alguém, vai até à vítima remando num barco, canoa, prancha de surf ou bodyboard.

Se tudo o resto falha. Sob circunstâncias extremas, poderás ter que ir a nadar até à pessoa. Nunca experimentes isto a menos que sejas um bom nadador! Pode-te pôr em risco de afogares também !

Vai apenas se já tiveres praticado métodos de salvação. Uma pessoa que luta pela vida entra em pânico. Nessa situação, ela poderá agarrar-te e não mais largar. A menos que saibas o que fazer, isso poderá afogar-te com ela.

Quando não há outro meio de resgatar alguém, tira a camisa e leva-a nos dentes. Usa o estilo bruços para chegar até à vítima, e mantém-te longe o suficiente para lhe atirares uma ponta da camisa. Atira-lhe uma manga, segurando a outra, e reboca a pessoa até a um ponto seguro.

Se a vítima ameaça a tua segurança, afasta-te e espera que ele se acalme mesmo que isso signifique que perca a consciência ! Depois reboca-a. Se te chegares demasiado e a pessoa te agarrar, mergulha até a pessoa te largar. Em último caso, poderás ter que lhe bater.

 

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Flutuar para sobreviver Os marinheiros são treinados para usarem a flutuação como método de sobrevivência, para se manterem seguros por minutos ou mesmo horas, à espera de socorro. Inspira, e relaxa-te completamente, flutuando na vertical e com a cara dentro de água. Quando precisares de ar, dá impulso com um golpe de pernas e braços, e levanta a cara. Relaxa e volta a flutuar verticalmente.

 

 

Jogar na água

 

Diversão na água aumenta a tua confiança, a tua natação e as tuas técnicas. Depois de aprenderes a nadar, experimenta alguns destas ideias.

Snorkeling. Este é o nome dado a nadar com máscara, respirador (snorchel, palavra alemã que se lê senórquel) e barbatanas. Estes aumentam a tua velocidade e a tua visão subaquática. Num rio ou mar podes apreciar a vegetação e animais aquáticos. Podes fazer uma corrida de obstáculos submarina, ver quem consegue trazer objectos do fundo mais depressa, etc. Se gostares, poderás fazer um curso de mergulho, onde te poderão ensinar a utilizar botijas de oxigénio, o que te permitirá nadar debaixo de água durante um longo período.

 

Resgates. Experimenta trazer amigos teus que finjam estar-se a afogar para pontos seguros. Usa o estilo lateral, e com o braço livre, segura-o pelo queixo. Não vale fazer isso onde seja perigoso, e não vale usares os pés para andar.

Alternativamente, podes usar o estilo de costas. Pedes ao teu amigo que dê as mãos à volta das tuas costas, e que ajude o teu impulso batendo com as suas pernas. Cuidado, não lhe batas com força com os teus pés.

 

Sobre a água

Os Portugueses sempre estiveram muito ligados ao Oceano, desde que este se apresentou como uma fronteira entre Mundos, até que se revelou uma ponte entre esses mesmos Mundos.

Torna-te um bom nadador antes de experimentares qualquer actividade náutica. Testa a tua capacidade e auto-confiança numa piscina. Usa sempre um colete de salvação sempre que pratiques desportos aquáticos

 

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Jangadas

Construir uma jangada é uma das actividades que todo o Escuteiro deverá fazer pelo menos uma vez na sua vida Escutista. Além de ser divertida de usar, uma jangada é divertida de fazer, mas requer bom conhecimento das técnicas Escutistas. Utiliza uma jangada apenas em águas calmas

Basicamente, uma jangada é uma plataforma colocada em cima de (e presa a) objectos que flutuam.

Para flutuadores, podes usar bóias ou câmaras de ar de pneus, de preferência grandes. Deves prender bem as bóias umas às outras, por forma a que não se soltem. Os remadores podem mesmo sentar-se nas bóias, mas não é muito seguro ou estável.

A plataforma, que deve ser mais pequena do que o conjunto dos flutuadores, pode ser feita de madeira. Algumas tábuas atadas ou pregadas (muito cuidado com os pregos – podes furar as bóias!) serão suficientes.

Uma jangada pode ser governada através de remos, ideal quando se trata de uma Patrulha, ou por uma vara, adequado para quando só há um ou dois marinheiros. Com os remos, os remadores devem-se sentar ou ajoelhar nos lados da jangada, e remar ao mesmo ritmo. No caso da vara, vais empurrar a jangada, por isso é importante que a água não seja muito funda. Toma cuidado para que a vara não fique presa no fundo, rodando-a antes de a levantares. Mantém-te sempre bem equilibrado, apoiando a vara na tua coxa se precisares de mais força. Se tiveres apenas um remo, poderás impulsionar a jangada fazendo movimentos em 8 com a face plana do remo virado para trás.

 

 

Canoagem

 

B.P. é quem to diz

   Impele a tua própria canoa

Não te deixes ir à toa,

Impele a tua própria canoa.

 

Eis o coro de uma velha canção Escutista que podes cantar quando estiveres a remar a tua canoa com a pagaia (o remo duplo que se usa na canoagem) num dos nossos

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rios. Com golpes suaves e poderosos da pagaia, a tua canoa desliza suavemente pela superfície da água.

Na albufeira de um rio, no Oceano ou noutra massa de água, uma canoa dá-te horas de entretenimento. Podes flutuar calmamente numa albufeira, ou descer rápidos.

Durante gerações, os nativos da América construíram canoas de diversos feitios, conforme as suas necessidades, a partir de materiais como peles e madeira. Hoje, as canoas são feitas de alumínio, madeira e materiais artificiais mais resistentes, mas o seu desenho básico mudou pouco. O kayak dos Esquimós, a 'canadiana' dos Peles-vermelhas são os mais comuns, com algumas alterações. Quando usas uma canoa, estás a impulsionar a história de centenas de anos.

Não te esqueças de usar sempre o colete de salvação, e usa também um capacete, especialmente se vais praticar canoagem em cursos de água ou onde a profundidade não for grande. Se alguma vez virares, segura-te à canoa. Além de ser muito mais visível do que tu, uma canoa flutua, mesmo que esteja cheia de água e seja feita de metal! Com algum cuidado, podes tentar voltar para dentro dela, e voltar à margem - cuidado não vires a canoa...para cima de ti.

 

A canoa

Uma canoa tipo canadiana tem a grande vantagem de poder transportar mais de uma pessoa e carga, mas ser quase tão fácil de manobrar mesmo se estiveres sozinho.

Numa canoa deve entrar uma pessoa de cada vez, ocupando o lugar correcto. Para melhor controlo, não te deves sentar no banco, mas sim apoiares-te num joelho, ou mesmo nos dois, encostando as costas ao banco. O teu peso deve estar bem ao centro, e não te deves inclinar ou debruçar.

Nas canoas, rema-se sempre do mesmo lado, excepto quando estais a manobrar, ou quando estás sozinho. Os remadores, normalmente dois, devem coordenar os seus movimentos, para que a canoa se desloque em linha recta.

Agarra a cabeça do remo com a mão oposta ao lado em que vais remar, com os dedos sobre o topo, e o polegar de lado. A mão do lado em que estás a remar deve estar mais ou menos a meio do remo, ou seja no início do cabo. Com a mão do lado em que estás a remar vais puxar o remo para trás, enquanto que com a outra vais empurrar o topo para a frente, e do final de cada impulso rodar a pá do remo para que este saia verticalmente. Lembra-te: a pá entra de lado e sai verticalmente.

Para manobrar a canoa, terás que te coordenar com o outro remador. Para virar à direita, aquele que rema do lado esquerdo continua, enquanto que o do lado direito pára ou deixa o remo dentro de água, e vice-versa. Para uma inversão de marcha, o remador do lado para onde se vira pode remar para trás, afim de acelerar o processo.

 

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O Kayak

O kayak começou por ser uma versão fechada por cima e um pouco mais pequena da canoa, sendo usados inicialmente em águas frias (como as do Ártico, onde vivem os esquimós) ou revoltas. Actualmente, os kayaks já não estão limitados a practicamente lugar nenhum – há kayaks especializados para águas calmas, para mar, etc.

Um kayak deve ser transportado por duas pessoas utilizando as pegas. Se carregado por uma pessoa só, usa as duas mãos para pegar no cocpit e mantém as costas direitas, usando as pernas para elevar e baixar o kayak.

Para entrar no kayak, deves apoiar a pagaia transversalmente na parte de trás do cockpit, e apoiando-te nela, deslizar para o interior, sem brusquidão.

Agarra na pagaia com ambas as mãos no alinhamento dos ombros, com os nós dos dedos de cada mão alinhados pela pá do lado respectivo. Para remares, inclina o corpo para a frente e mete a pá de lado o mais à frente que conseguires (sem te debruçares demais). Mantendo a pá próxima do kayak, puxa a mão do lado em que estás a remar, e empurra com a outra. Roda a pagaia o necessário para que a pá do outro lado repita a mesma rotina.

Inicialmente, poderá parecer-te que não consegues remar em linha recta, mas com a prática melhorarás. Apenas a prática e a instrução te conseguirão transformar num canoista, mas além de não deveres nunca praticar uma actividade aquática sozinho, deves fazê-lo com a supervisão de alguém com qualificação técnica para te aconselhar. Uma última chamada de atenção: por serem fechados e por serem relativamente fáceis de virar, não deves tentar fazer canoagem antes de aprenderes os procedimentos de segurança a cumprir nesses casos. Não te assustes – são fáceis, e não há registos de pessoas que ficaram presas nos kayaks virados ao contrário!

 

Remo

  Remar é uma excelente actividade física para os teus braços, peitorais e sistema cardiovascular, se for feita correctamente. Numa emergência, remar dá-te uma forma de socorrer alguém que se afoga. Um barco pode-te levar a pontos nas margens ou em ilhéus inacessíveis a pé e a pontos de pesca propícios.

Em alguns parques há lagos artificiais onde qualquer pessoa pode alugar um barco e aprender a remar. Em todas as actividades aquáticas deves ter o cuidado de usar um colete de salvação e um capacete - se virares a canoa e a água for rasa podes-te magoar, e mesmo ficar inconsciente. O capacete protege a tua cabeça de danos piores, e o colete mantém-te à superfície, voltado para cima para poderes respirar. Vais aprender o método certo de entrar num barco, e como usar os remos para impulso e direcção.

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  Remar exige prática e leva algum tempo, até te habituares aos movimentos e ao sentares-te voltado de costas. Executa os movimentos devagar e vira a cabeça para saberes em que direcção vais.

Fixa os remos nos toletes e coloca a pá de cada remo dentro de água, bem atrás de ti, na direcção da proa. Inclina-te para a frente e estica os braços para a frente. Mantendo as costas bem direitas, dobra os braços e puxa os remos na tua direcção. Levanta os remos da água e empurra-os na direcção da proa para recomeçares. Para dirigires o barco poderás impulsionar apenas com o remo oposto ao lado para onde queres virar, deixando o outro remo deslizar na água (sempre segurando-o bem).

 

 

Vela

 

 

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Velejar é um desporto olímpico que até à pouco tempo era exclusivo daqueles que tinham posses para comprar um barco. Hoje em dia, com os clubes náuticos e novos tipos de barcos, velejar está ao alcance de muitos de nós. Este Manual não pretende ser de forma alguma um tratado sobre tudo, de modo que falar-te-emos apenas de alguns conceitos.

O governo de uma embarcação à vela exige conhecimento das técnicas de mareação e de manobra – em caso algum deves tentar fazê-lo sem um profissional qualificado!

Marear é orientar as velas em relação ao vento. As mareações são classificadas de acordo com o grau de incidência do vento na embarcação (0º sendo a frente, ou proa, da embarcação, e 180º a popa).

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Aproximar a proa da linha do vento designa-se por orçar, enquanto que arribar é afastar a proa do vento. Barlavento é o lado de onde sopra o vento e sotavento o lado para onde sopra o vento.

 

Mareação Ângulo de incidência do

vento

Vento

Bolina cerrada 0º – 67,5ºDe amura

Bolina folgada 67,5º - 90º

A um largo 90º - 157,5º

De feiçãoÀ popa 157,5º - 180º

À popa arrasada

180º

 

Manobrar são as acções que visam alterar o movimento de uma embarcação – operar as velas, atracar (encostar e fixar uma embarcação a um cais) e largar , fundear (ancorar) e suspender (levantar a âncora), virar de bordo, etc. Todas estas manobras requerem conhecimento das técnicas adequadas, por fáceis que possam parecer, e nunca devem ser feitas sem pelo menos a supervisão de um adulto qualificado

 

Marés

As marés são causadas pelas forças da gravidade exercida pelo Sol e pela Lua, sendo a Lua mais determinante (apesar do seu tamanho muito menor, está bastante mais próxima da Terra que o Sol).

A altura do mar é variável conforme as marés. Em Portugal, as marés são semi-diurnas, isto é, acontecem duas marés altas (ou preia-mar, PM) e duas marés baixas (ou baixa-mar, BM) por dia, num ciclo de cerca de 24 horas e 48 minutos. Entre uma BM e a PM seguinte decorrem aproximadamente 6 horas e 12 minutos.

O nível médio é a média dos níveis da água medidos ao longo do tempo. Seria o nível constante do mar se não houvesse marés, e constitui o ponto a partir do qual se medem altitudes em terra.

Zero hidrográfico é o plano horizontal imaginário que se situa abaixo da mais baixa BM. A partir do zero hidrográfico mede-se a preia-mar (o plano da água mais elevado que o mar atinge) e a baixa mar (o plano da água mais baixo que o mar atinge).

A amplitude da maré é a diferença de altura entre a PM e a BM. As amplitudes variam de acordo com as posições relativas da Lua, do Sol e da Terra:

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quando os três astros estão em conjunção ou em oposição, formando uma linha (Lua Cheia ou Lua Nova) verificam-se as marés vivas, de grande amplitude.quando os três astros estão em quadratura (Quarto Crescente e Quarto Minguante) ocorrem as marés mortas, de pequena amplitude.

As massas de água, ao movimentarem-se, dão origem às correntes de maré, que se dizem de afluxo ou enchente, e de refluxo ou vazante. Quando se atinge a PM ou a BM há uma estabilização que se chama de estofo.

 

Regulamento Internacional para Evitar Abalroamentos Os navegantes precisam de prestar muita atenção ao cumprimento das regras do RIEA, porque disso depende a segurança de todos. Aqui se reproduzem apenas os pontos mais importantes

é obrigatório manter uma vigia visual e auditiva permante

em canais, as embarcações devem encostar a estibordo

se duas embarcações à vela recebem o vento por bordos diferentes, aquele que o receber por bombordo deve dar passagem ao outrose duas embarcações à vela recebem o vento pelo mesmo bordo, aquele que estiver a barlavento deve dar passagem ao que estiver a sotaventoas embarcações a motor devem guinar para estibordo afim de se desviarem de outras embarcaçõesa cedência de passagem é feita através de abrandamento, paragem ou mudança de rumoa embarcação prioritária não deve alterar nem o rumo nem a velocidade

 

A ordem de prioridades é a seguinte:

navio desgovernado (o mais prioritário)

navio com capacidade de manobra reduzida *

navio condicionado pelo seu calado *

navio em faina de pesca

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navio à vela

navio a motor (o menos prioritário)

 

Sinalização

As embarcações de pequenas dimensões não necessitam de transportar luzes de sinalização, mas devem ter uma lanterna potente para emergências no caso de haver possibilidade de haver outras embarcações no local.

Todas as embarcações devem possuir um ou mais dos seguintes faróis, de acordo com a sua categoria:

farol de mastro – uma luz branca projectando luz num arco de 225º para a frente da embarcação, centrado na linha proa-popafarol de popa (ou de caça) – uma luz branca projectanto luz num arco de 135º para ré da embarcação, centrado na linha proa-popafaróis de borda – uma luz verde colocada a estibordo e outra de luz vermelha colocada a bombordo

As embarcações têm prioridade sobre todas as embarcações que se aproximam do sector vermelho, e dá prioridade a todas as que se aproximam do sector verde, devendo manobrar para as passar pela popa daquelas.

Além daqueles, existem outros faróis:

farol de reboque – como o farol de popa mas de cor amarela

farol visível em todo o horizonte – arco de 360º

farol de relâmpagos – com 120 ou mais relâmpagos regulares por minuto

O número de faróis, e o alcance (potência) deles, varia conforme o tamanho, o tipo, e da actividade de cada embarcação.

 

Balizagem

A navegação na entrada de portos, barras e águas interiores (rios, lagos, canais) é orientada por um conjunto de marcas de sinalização, chamado Sistema de Balizagem Marítima - IALA.

Existem dois tipos de marcas – a bóia e a baliza. A bóia está presa ao fundo por uma amarra, fixa a uma poita no fundo, e são bons indicadores da corrente de maré, inclinando-se para o lado contrário da corrente. A baliza é uma estaca fixo ao fundo. De noite, as bóias e balizas devem ser iluminadas – as que o não são chamam-se cegas. A

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identificação das bóias e balizas faz-se através da sua forma, ou da forma do alvo (a peça que coroa as bóias e balizas), a sua cor, a sua numeração e pela característica da luz que emitem de noite.

As marcas laterais delimitam um canal navegável. As marcas de bombordo são vermelhas, de formato cilíndrico, numeração par e de noite têm luz vermelha fixa. As marcas de estibordo são verdes, de formato cónico, numeração impar e de noite têm cor verde fixa.

 

 

Nota: Em Portugal, na Europa, África, Oceânia e Ásia (com excepção do Japão, República da Coreia do Sul e Filipinas) utiliza-se este sistema, em que o vermelho corresponde a bombordo. Todo o continente Americano, Japão, República da Coreia do Sul e Filipinas constituem a chamada Região B, em que o vermelho corresponde a estibordo – e o verde a bombordo.

 

As marcas cardeais sinalizam a existência de perigos, indicando ao navegador a zona de passagem segura de acordo com os quatro pontos cardeais. Por exemplo, uma bóia ‘Norte’ deve ser passada a Norte da bóia – pois a bóia (ou baliza) está colocada a Norte do obstáculo.

   

Código Internacional de Sinais

 

INSERIR IMAGEM DAS BANDEIRAS MARÍTIMAS

 

Comunicações

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Cartas de Navegador de Recreio

Se as actividades aquáticas são para ti um interesse, porque não obter uma das Cartas de Navegador de Recreio? Para menores de 18 anos, só está disponível a Carta de Marinheiro, carta essa que te habilita a governar uma embarcação de recreio em navegação diurna à vista da costa (com algumas limitações conforme a tua idade).

 

Carta Condições de navegação

Área navegável à

distância

Tamanho da embarcação

Potência instalada

Marinheiro (14 a 18 anos)

Navegação diurna à vista

da costa

Até 3 milhas da costa e até 6 milhas de um

porto de abrigo

Até 5 metros de comprimento

22,5 KW(30hp)

Marinheiro (+ de 18 anos)

Navegação diurna à vista

da costa

Até 3 milhas da costa e até 6 milhas de um

porto de abrigo

Até 7 metros de comprimento

45 KW (60hp)

Patrão Local Navegação (diurna e

nocturna) à vista da costa

Até 5 milhas da costa e até 10 milhas de um

porto de abrigo

Até 24 metros de

comprimento

Sem limite

Patrão de Costa Navegação livre à vista da

costa

Até 25 milhas da costa

Até 24 metros de

comprimento

Sem limite

Patrão de Alto Mar

Navegação oceânica

Sem limite Até 24 metros de

Sem limite

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comprimento

 

Insígnias de competência

Nadador (Grupo Amarelo)

Nadador Salvador (Grupo Vermelho)

Aquólogo (Grupo Azul)

Barqueiro/Canoeiro (Grupo Azul)

Navegador (Grupo Azul)

Pescador (Grupo Azul)

Velejador (Grupo Azul)

Carpinteiro Naval (Grupo Anil)

 

 

 

 

 

 

Ferramentas 

 

            Alguma vez precisaste de cortar uma corda? E abrir uma lata de comida? Cortar uma fatia de pão ou fazer um furo num cinto? Precisas de apertar um parafuso? Um

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canivete pode-te ajudar a fazer todas estas tarefas, e outras 1001! De facto, uma lâmina tem tantos usos que é difícil imaginar um acampamento ou uma actividade sem uma.

O canivete, a serra, a machada/o machado, são as mesmas ferramentas usadas à muitos anos por profissões tão diversas como lenhadores, guardas florestais, jardineiros, exploradores, etc. Quando rachas lenha para o fogo, consertas equipamentos, ou limpas um trilho, as ferramentas tornam a tua tarefa mais fácil. Orgulha-te de aprenderes o método correcto de as usares.

Tão importante quanto saber o que fazer com as ferramentas, é saber o que NÃO fazer com elas. Cortar ou talhar árvores pode matá-las. Brincadeiras de tiro ao alvo podem falhar e causar danos permanentes. Nunca brinques com ferramentas - são coisas sérias. Nunca brinques com uma lâmina - não exponhas superfícies cortantes quando não a estiveres a usar e assegura-te que as ferramentas são devolvidas ao seu sítio devido depois de as usares

 

 

O teu canivete

 

Uma das melhores ferramentas ‘todo-o-terreno’ é um canivete, com uma ou duas lâminas para cortar, e utensílios especiais para abrir latas, apertar parafusos e fazer buracos (tipo Canivete Suíço). Segue sempre estas regras quando usares o teu canivete:

mantém fechados os utensílios e lâminas que não estiveres a usar.  corta no sentido para longe de ti  mantém o teu canivete limpo e as lâminas afiadas. Uma lâmina afiada é mais fácil de controlar, e limpa dura mais.nunca andes com as lâminas cortantes abertas     não uses as lâminas ou o canivete como martelo - podes partir ou torcer as lâminas ou mesmo desconjuntar o canivetenunca atires um canivete com lâminas abertas, nem nenhum objecto cortantenão ponhas lâminas no fogo - estas são “temperadas”, ou endurecidas com a quantidade certa de calor. Reaquecê-las pode arruinar esse tratamento e enfraquecer a lâmina.

 

Cuidados com o teu canivete

A maioria dos canivetes actuais é feito com uma liga de aço que não enferruja (não oxida - é aço inoxidável). Mas o lixo que se vai acumulando dentro, e o uso normal vai tirando o fio à lâmina.

Limpando o canivete. Abre todas as lâminas e utensílios, tomando cuidado com os teus dedos. Pega numa cotonete ou enrola um pouco de algodão ou papel higiénico na ponta

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de um palito. Molha-a com óleo, e limpa o interior do canivete. Vê que limpes a junta na base de cada lâmina. Com um lenço retira o óleo a mais. Se usaste o teu canivete para cortar comida ou espalhar cobertura no pão, lava a lâmina em água tépida com um pouco de sabão. 

Afiando o canivete. Podes afiar as lâminas com uma pedra de esmeril. A maior parte destas são feitas de granito e outros materiais mais duros que o metal das lâminas. Algumas são cobertas com pó de diamante. As pedras de afiar usam-se secas, ou com algumas gotas de água ou óleo.

Empurra a lâmina pela pedra como se estivesses a cortar uma fatia. A superfície áspera da pedra vai afiar a lâmina, do mesmo modo que a lixa amacia a madeira. Para afiar o outro lado, vira a lâmina, e repete os procedimentos. Limpa os pequenos pedacinhos de metal que ficam na pedra batendo-a na tua mão ou na tua perna.

Passa a lâmina algumas vezes pela pedra. Limpa a lâmina com um pano limpo, e olha para o fio da mesma ao Sol, ou debaixo de uma luz forte. Um fio pouco afiado reflecte a luz e parece brilhante. Um bem afiado não.

A pior coisa que pode acontecer a um canivete é ser perdido. Sabe sempre do teu, guardando-o numa bolsinha no teu cinto, ou prende-o com um fio. Arranja um fio de um metro de comprimento, e dá um lais de guia na argola que os canivetes geralmente têm. Prende o outro extremo do fio a um passador das tuas calças com outro lais de guia. Ou então arranja um fio mais pequeno, ata-o com o nó direito ou com o nó carrigue, mas vê que o fio seja bem colorido - assim poderás vê-lo mais facilmente se o deixares cair no meio da erva.

 

 

A serra

 

A serra é o melhor instrumento para cortar madeira em campo. Os modelos em que a lâmina dobra para dentro do corpo principal são os mais seguros, e são mais fáceis de arrumar. A maioria possui um tubo metálico curvo com lâmina “sueca”.

Segurança da serra

Os dentes de uma serra são bem afiados. Trata as serras e todos os instrumentos cortantes como o teu canivete. Fecha todas as lâminas dobráveis quando não as estejas a usar, e guarda-as no sítio adequado, como a tenda do material/intendência.

Manutenção da serra

Podes proteger a lâmina de uma serra normal com um bocado de mangueira velha, cortado longitudinalmente. Insere a lâmina pelo corte, e prende a mangueira com

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um bocado de fio em cada ponta. Antes de guardares uma serra, unta-a com óleo para que não enferruje.

Usar a serra

Atenta ao tipo de corte que queres fazer, e ao tipo de serra que tens - existem vários tipos, com dentes diferentes, pensados para vários géneros de trabalhos.

Apoia bem a madeira a cortar. Começa devagar, até fazeres uns sulcos na madeira que te ajudarão a ‘entrar na madeira’. Segura a serra o mais perto possível da lâmina e usa movimentos suaves (golpes é para os machados) e longos (usa o poder cortante de toda a lâmina). Dá uma pequena ajuda ao peso da serra para esta entrar na madeira. Mantém a serra direita, ou poderá partir.

Quando fores cortar um ramo seco de uma árvore, faz um corte inicial por baixo do ramo, e depois serra de cima para baixo. O corte inicial evita que o ramo a cair arranque casca e madeira do tronco da árvore, deixando uma feia cicatriz. Quando cortares troncos pequenos (como de arbustos ou árvores pequenas) corta-os bem rentes ao chão, para que ninguém tropece neles.

Afiar a serra

Podes afiar os dentes de uma serra com uma lima grossa, triangular de preferência. Usa luvas de protecção, e move a lima de baixo para cima em todos os dentes de um lado da serra. Depois repete do outro lado da serra.

Os dentes de uma serra devem estar inclinados alternadamente. Caso contrário o corte que a serra faz pode prender a serra, e parti-la. Com uma chave de fendas, roda-a um pouco entre os dentes da lâmina.

 

 

O machado e a machada

 

O machado é usado para cortar árvores e rachar lenha à muitos anos - para os Escuteiros, a machada é talvez a ferramenta cortante mais usada, e por isso vamo-nos referir mais a ela - as técnicas envolvidas são quase iguais.

Os Escuteiros de hoje estão mais interessados em preservar as árvores, do que em as deitar abaixo, mas saber utilizar estes instrumentos é do nosso interesse para várias situações num acampamento, como para o pioneirismo.

Segurança da machada

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Devido à maneira como são utilizados, estas ferramentas podem ser mais perigosas do que outras. Remove a carneira ou bolsa de cabedal da cabeça do machado apenas quando o fores usar. Dá-lhe toda a tua atenção.

Um machado tem que estar afiado e em boa condição. Se a cabeça está solta, mergulha-a em água por umas horas. A madeira do cabo incha, e segura a cabeça por algumas horas. Assim que puderes, arranja uma cunha para o cabo, ou substitui-o.

Usa sempre botas sólidas quando utilizares o machado, e remove o lenço, ou outros itens como cachecóis. Não deves ter ninguém à tua volta no raio de dois metros, pelo menos. Mantém os teus olhos e a tua atenção no que estás a fazer. Apoia bem o que queres cortar, e nunca cortes no chão.

Usar o machado

Cortar os ramos de uma árvore caída chama-se limpá-la. Põe-te de um lado do tronco. Corta os da base para a copa, o mais perto do tronco possível, sem fazer entalhes neste. Se o machado falhar um ramo, os teus pés estão protegidos pelo tronco. Vai “saltitando” de um lado para o outro à medida que vais da base do tronco para o topo.

Para cortar um tronco (ou um ramo bastante grosso) com o machado, coloca-te de frente para ele, com os pés afastados à largura dos ombros. No caso do machado, segura-o com uma mão perto da cabeça e com a outra perto da ponta do cabo. Levanta a cabeça do machado acima da tua, e com a ajuda das tuas mãos para o apontar, deixa que o peso do metal faça a força (no caso do machado, deixa a mão deslizar, ajudando-te a apontar a lâmina). Levanta e repete do outro lado.

No caso da machada (ramos grossos) segura-a o mais afastado da cabeça que puderes sem perder aderência da mão e faz o mesmo que com o machado.

O teu objectivo é fazer cortes em V - dá o golpe inclinado a ângulos de 60_ - ora de um lado, ora de outro. Nunca se bate com a lâmina a direito, pois apenas amassará a madeira, e fará “bocas” no fio do machado.

Usa um cepo para apoiar o que vais cortar (apenas no caso de troncos grossos isso não é necessário). Um cepo é um bocado de madeira grosso, geralmente uma fatia de um tronco, preso ao chão ou bem pesado. Deve ter cerca de meio metro de altura, para não teres de te curvar para usar o machado. Um cepo é importante para tua segurança - se falhares um golpe, provavelmente acertarás o cepo, e não as tuas pernas.

Quando não estiveres a usar o machado temporariamente (como enquanto vais buscar outro pedaço de lenha para rachar), espeta a cabeça do machado no cepo - nunca o deixes ou craves no chão, pois as pedras e a humidade estragam a lâmina. À noite, guarda-o num lugar abrigado e seguro.

Para rachar um bocado de madeira, põe-no no cepo de pé. Com um golpe pequeno, espeta a lâmina no bocado. Se não abrir uma rachadura, retira o machado e repete. Se a cabeça do machado ficar presa, levanta machado e bloco apenas até à altura dos teus ombros e deixa cair. A gravidade e o fio da lâmina devem fazer o resto - repete até rachar completamente. 

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Carregar com segurança

Coloca uma cobertura sobre a lâmina - se não tiver uma bolsa própria, podes usar um bocado de um ramo médio. Pega no machado pela cabeça, voltando a lâmina para trás de ti. Se tropeçares, atira o machado para longe de ti. Nunca carregues um machado sobre o ombro.

Para entregar um machado a outra pessoa, segura na cabeça e estende o cabo para a outra pessoa pegar. Não largues antes da pessoa a quem entregas o machado o ter bem seguro.

Afiar o machado

Um machado afiado é mais seguro do que um mal afiado - este vibra de um modo incerto. Calça luvas para afiar um machado.

Usa uma pedra de esmeril, fazendo com ela movimentos alternados de um lado para outro, e de cima para baixo, evitando que a lâmina fique mais afiada nuns sítios que noutros. Para um machado em pior estado, com bocas no fio, usa uma lima média movendo-a na direcção do olho para o fio.

Podes também usar uma pedra fixa rotativa. Nesse caso, deslocas a lâmina de um lado para outro, acompanhando o movimento de rotação da pedra. Vira o machado para afiar o outro lado.

Abater uma árvore

Só em casos excepcionais é que um Escuteiro ou outro particular se abatem árvores, como a árvore está seca ou doente e ameaça cair, ou se trate de um eucalipto, verdadeira praga que infesta a floresta portuguesa.

Abater uma árvore é uma manobra perigosa e delicada. A primeira coisa a pensar é na queda da árvore. Marca exactamente a direcção em que queres que a árvore caia - tem cuidado com o seu tamanho, não vá danificar outras árvores ou objectos (vê o capítulo sobre observação para medires alturas).

Faz uma incisão do lado escolhido, perto do chão, até metade do diâmetro do tronco, no máximo. Se ouvires estalos, para imediatamente com os golpes - é sinal que a árvore vai cair. Começa então uma segunda incisão, no lado contrário e um pouco mais acima.

Quando o topo da árvore começar a vibrar, ou começares a ouvir estalos, afasta-te para o lado. Nunca te afastes para trás da direcção da queda, pois pode acontecer que a árvore esporeie contra o tronco e dê um sacão para trás.

 

 

A pá e a enxada

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Uma pá ou uma enxada podem ser usadas para remover a camada de turfa de um local para uma latrina ou fogueira. Podes usá-las para mover brasas quando fazes cozinha selvagem. No entanto, não as uses para cavar regos à volta das tendas - regos são desnecessários e contribuem para a erosão.

 

O maço e o martelo

 

O maço é feito em madeira e serve para bater exactamente em madeira, bem como em ferramentas de corte (por exemplo numa cunha para fender madeira).

Para espetar uma estaca, deves afiar a ponta a introduzir na terra, e aparar o rebordo da ponta onde vais bater com o maço. Se a estaca for fina e vibrar muito, deves pedir a alguém que a segure firme para que não vergue.

O martelo é igual ao maço em formato, mas constituído por um cabo e por uma cabeça de ferro (também pode ser de outros materiais, como borracha); o ferro pode ter várias formas consoante o fim a que se destina.

Para que a madeira não rache quando estás a pregar um prego, vira-o ao contrário e martela levemente a ponta para que fique um pouco achatado. Vira sempre pregos salientes com o martelo, para que ninguém se espete neles. Para pregares tábuas, martela os pregos em direcções oblíquas opostas.

Fogueiras e fogões 

O fogo sempre foi um elemento importante nos acampamentos Escutistas. Uma fogueira aquece-te, ilumina o campo, cozinha as tuas refeições e seca as tuas roupas. Chamas vivas animam o teu espírito numa manhã chuvosa. Numa noite estrelada, ilumina-te a imaginação. O odor do fumo e o barulho da lenha a arder são das melhores memórias que se guardam de aventuras idas.

Um bom Escuteiro sabe fazer uma fogueira. E também sabe quando não a fazer. As fogueiras destroem o chão. O fogo consome ramos mortos, cascas, e outro material orgânico que daria abrigo e comida para animais e plantas.

Nos dias em que poucos iam acampar, não havia fogos suficientes para causar problemas - os que apareciam eram, geralmente, naturais, e desapareciam como apareciam. Hoje em dia, o campismo tornou-se uma actividade popular, bem como os

* embarcações de grandes dimensões, e como tal, difíceis de manobrar

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piqueniques e passeios ao campo. Centenas de fogos, e alguns de tamanho considerável, têm um impacto muito sério na floresta.

Antes de decidires acender uma fogueira, vê bem em que época do ano estás, e para onde vais acampar. Descobre se tens combustível suficiente, caso estejas numa zona e numa altura do ano em que é permitido fazer fogo.

Se não é permitido fazer fogo, ainda podes ir acampar. Podem-se adquirir fogareiros que cabem num bolso da mochila, pesam pouco e são fáceis de usar e limpar. Se manejados com o devido cuidado, são uma alternativa mais prática à fogueira.

 

Fogareiros de campo

  Um fogareiro de campo fornece uma maneira simples e rápida de cozinhar. Em momentos, produz chama e calor suficiente para aquecer uma sopa ou cozinhar o guisado dentro da cantina. Um fogareiro não escurece as plantas nem o fundo das cantinas. Com um fogareiro, podes acampar onde não há lenha e onde há restrições quanto a fogos. Um fogareiro funciona num deserto, numa montanha, num prado, numa floresta, num descampado. … ideal para uso com vento ou mau tempo.

Muitos fogareiros de campo queimam querosene ou gás branco. Estes combustíveis são guardados em garrafas metálicas especiais com tampas que fecham muito bem. Escolhe garrafas vermelhas, ou sinaliza-as com fita vermelha, para que não haja confusão com garrafas de outra coisa qualquer.

Fogareiros a butano e propano queimam gás de botijas mais ou menos pequenas, que devem ser guardadas em sacos plásticos nos bolsos exteriores da tua mochila - assim os vapores do gás não entram em contacto com a tua comida.

Alguns fogareiros possuem sacos específicos acolchoados para evitar que "andem aos caídos" nas mochilas, ou no seu exterior. Se o que usares não tiver, podes embrulhá-lo em espuma ou numa toalha e prendê-lo com tiras de borracha.

Quando estiveres pronto a cozinhar, coloca o fogareiro numa superfície plana. Um bocado de terra limpa ou uma rocha é tudo que necessitas.

Fogões maiores de gás ou querosene são muito pesados para levar numa mochila, mas são óptimos para acampamentos de longa duração, ou com muitas bocas para alimentar, e que podem ser levados por estrada. Duas ou três bocas de fogão chegam para cozinhar uma boa refeição para uma Patrulha inteira.

Fogareiros diferentes funcionam de maneira diferente. Lê sempre as instruções do fogareiro e obedece-lhes. Além disso segue sempre estas regras de segurança:

usa fogareiros e fogões apenas onde permitido, e com supervisão adultanunca uses um fogareiro dentro de uma tenda ou compartimento fechado. Há o perigo

de incêndio e de envenenamento pelos vapores do gás. Abastece e acende fogareiros fora de portas, onde há muito ar. Antes de acenderes o fogareiro, aperta

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bem as tampas e verifica as juntas. Nunca abras a tampa de uma lata de combustível que esteja quente.

Às vezes, os fogareiros lançam uma labareda, especialmente quando estiveram muito tempo sem ser usados. Mantém a tua cabeça e as tuas mãos para o lado e não para cima, do fogareiro.

Não sobrecarregues o fogareiro com uma panela pesada. Constrói uma grelha por cima da boca do fogareiro, e apoia aí as panelas.

Nunca deixes sozinho um fogareiro aceso - por vezes pode ser difícil ver que está aceso, ou pode surgir algo, e uma atenção imediata dispensa mil cuidados depois.

Deixa os fogareiros quentes arrefecer antes de reabasteceres o contentor de combustível. Re-enche e armazena o combustível e os contentores vazios afastado de chamas e de fontes de calor, como outros fogareiros, velas, fogueiras e lanternas.

Traz para casa todos os contentores vazios. Não os coloques perto de fogo - se aquecidos, podem explodir.

 

 

Fogueiras

 

Faz uma fogueira segura

  Todos os anos, grandes áreas de floresta, são destruídas pelo fogo, chegando mesmo a por pessoas e bens em perigo. Muitos desses incêndios são causados por negligência humana. Desde o momento que tu acendes uma fogueira ou um fogareiro até que o apagas completamente, és tu o responsável por o manter sob controle.

Um fogo seguro é um que queima apenas o combustível que lhe forneces. É feito num ponto a partir do qual as chamas não se podem espalhar. Alguns parques Escutistas tem locais especiais, em pedra ou metal, para fogueiras - usa-os sempre que disponíveis.

Senão, escolhe um ponto sobre pedra, cascalheira, areia ou solo longe de árvores, arbustos e qualquer coisa que arda. Olha para cima, para veres se há ramos que poderiam incendiar-se com o calor ou com as faúlhas. Evita troncos escurecidos pelo fumo e raízes rasteiras que poderiam ser danificadas pelo calor.

Limpa o sítio escolhido, e remove todo o material combustível. O local do fogo pode ser rodeado de pedras, e o círculo maior (no centro do qual estará o fogo) deve ter um diâmetro de dez passos. Varre tudo que possa arder, como pruma, ramos secos, folhas, etc. Guarda esse coberto, para o repores quando apagares a tua fogueira.

Se o local é muito húmido ou gelado, podes acender a fogueira sobre um suporte isolante, como toros verdes, um leito de pedras, etc. Aliás, esta deve ser a tua prática, sempre que não possas retirar o coberto. Se fizeres esse leito entre o solo e a fogueira,

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não só evitas danificar o solo, como impedes que o fogo se propague pela própria terra, o que pode acontecer em solos pouco compactos e com muita matéria vegetal ou raízes.

 

Mantém um balde de água à mão para as emergências.

Se o local é relvado e o solo compacto e húmido, corta um quadrado de 40 centímetros de lado com a ajuda da tua pá, e retira a camada superiora de solo (a turfa - inclui a relva e as raízes desta, e terra que fica presa entre as raízes, o que lhes permite sobreviver). Deita-a à sombra e rega-a com água. Quando terminares com a fogueira e tiveres a certeza que está bem apagada, repõe a turfa.

 

Preparando o combustível

 

A chama de um fósforo chega para queimar um fósforo. Para uma fogueira, tens que dar uma ajuda ao fósforo. Vais precisar de acendalha, de ramos finos, e de lenha. O combustível deve estar o mais seco possível - podes reconhecer a madeira seca porque se parte em vez de dobrar.

Para começar, o mais simples será, com uma folha de jornal, fazer uma bola ou torcê-la, e colocar a acendalha e os gravetos finos em pirâmide.

 

Acendalha. A acendalha pega fogo facilmente e queima depressa. Pruma, folhas secas, casca seca, aparas de madeira seca, musgo seco, fetos, fazem boa acendalha, especialmente se forem de salgueiro, amieiro, choupo, castanheiro, aveleiro ou coníferas (pinheiro, abeto). Obtém duas mãos-cheias ou enche o teu chapéu.

 Ramos finos. Galhos pequenos (da grossura de um lápis ou menos). Arranja suficiente para encher o teu chapéu duas vezes.

 Lenha. Esta pode ser tão fina como os teus dedos, ou tão grossa quanto o teu braço. Usa árvores mortas e ramos secos como combustível. Madeira recém-cortada ou enterrada não é muito boa porque contém muita humidade - se não tiveres escolha, põe-na junto à tua fogueira para que vá secando, e tem cuidado com o fumo quando a puseres no fogo.

 

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As fogueiras pequenas são mais fáceis de fazer e de controlar. Faz fogueiras pequenas de que possas estar perto, não piras gigantes que te mantenham longe. Uma fogueira pequena para ferver um pote de água precisa de pouca lenha. Vais precisar de alguns carregamentos de lenha para cozinhar uma refeição completa.

Reúne uma pilha de combustível antes de acenderes o fogo, ou vais ter que andar a correr atrás de mais lenha durante o tempo em que devias estar a tratar do jantar ou a aproveitar um Fogo de Conselho com os teus amigos.

Madeiras "moles", como salgueiro, coníferas (como o pinheiro) e eucalipto queimam depressa com muita chama, enquanto que as madeiras "rijas" como carvalho, faia, ulmeiro e oliveira duram mais (e demoram mais a acender) mas produzem muitas brasas duráveis. Corta a tua lenha em bocados do tamanho do teu braço, e cobre-a com um toldo se ameaçar chover. Por madeiras moles, não queremos dizer madeiras que dobram, muito pelo contrário - essas estão verdes e não devem ser usadas. Se ao tentares partir um ramo seco ele estalar, então estará bom.

 

Como preparar acendalhas

Podes fazer as tuas próprias acendalhas. Em primeiro lugar, obtém um bocado de madeira, de preferência das 'moles' (em Portugal, a melhor será talvez o pinheiro, cuja resina arde facilmente), do tamanho de um palmo e da grossura do teu polegar. Com o teu canivete, corta o ramo de modo a que se pareça com uma vassoura, ou uma cabeleira virada ao contrário. Põe-na "direita", isto é com as farpas viradas para baixo no centro da tua fogueira. Quando acenderes o fósforo, tenta pegar a chama às farpas.

Outra alternativa são as trazidas de casa. Enrola quatro folhas de jornal, e ata o rolo com cordel de 5 em 5 centímetros. Corta o rolo em bocados, entre o cordel. Mergulha essas fatias do rolo em parafina líquida (podes obter parafina líquida derretendo-a em banho-maria. TOMA CUIDADO: nunca aqueças a parafina directamente, pois é muito inflamável). Deixa arrefecer, e estão prontas. Mete-as num saco plástico até precisares delas.

 

Fazendo a fogueira

Agora que já tens o teu combustível, estás pronto para o dispor de forma a que a chama de um único fósforo cresça até ao tamanho de uma fogueira digna de um Fogo de Conselho. Lembra-te dos seguintes princípios:

 

Escolhe um local seco e protegidoUsa a lenha mais miúda mais seca para iniciar a fogueira, e assim secar a lenha que

estiver húmida. Começa com uma fogueira pequena e aumenta-a conforme a necessidade

O fogo precisa de ar. Sopra suavemente ajudando a chama a espalhar-se.

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O fogo sobe. Empilha a lenha por cima das chamas

 

Fogueira em triângulo. Coloca uma mão-cheia de acendalha no centro do círculo da fogueira. Põe bastantes ramos finos à volta da acendalha - deixa o topo dos raminhos tocarem-se, formando uma pirâmide.

Com ramos pequenos um bocado mais grossos, recobre o triângulo dos ramos mais finos. Não te esqueças de deixar uma abertura na tua "pirâmide", para poderes chegar com o fósforo à acendalha; esta 'porta' também vai deixar entrar ar para alimentar a tua fogueira.

Para acenderes a fogueira, chega um fósforo (bem) aceso à acendalha. A chama deverá subir e propagar-se aos ramos finos, e por sua vez aos mais grossinhos por cima daqueles. Vai colocando lenha um pouco mais grossa à medida que o fogo se torne mais forte.

 

IMAGEM

 

Fogueira de 'encosto'. Junto a um tronco médio, coloca a tua acendalha. Apoia ramos finos por cima da acendalha, encostando-os ao tronco, e ramos um pouco mais grossos por cima destes. Repete o processo acima descrito.

 

IMAGEM

 O suporte

Um suporte sobre a tua fogueira permite-te usá-la para cozinhares sem estares sujeito a que a cantina caia e espalhe a tua obra prima pelo chão. Além disso, deixa que o ar chegue à fogueira.

Uma estrutura metálica pode ser adquirida nas lojas, e pode ser usada muitas vezes - vê se o teu Agrupamento tem um suporte desses no seu material. Se tiveres o cuidado de a lavar bem, podes também usar isso como grelhador, para os teus churrascos.

Outra alternativa mais natural é usar dois troncos. Coloca-os perto o suficiente para apoiares as tuas cantinas neles, com o fogo entre eles. O fogo vai queimando os troncos lentamente, por isso tens que ter olho nas tuas coisas.

Nunca uses pedras, pois podem explodir se sujeitas a muito calor (especialmente se estiverem húmidas ou muito frias).

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Podes ainda fazer uma fogueira 'em trincheira'. Cava uma pequena vala com a tua pá ou sachola, com cerca de um metro de comprimento, e 20 centímetros de largura. Guarda a terra que cavaste, e mantém-na húmida (a camada superior do solo é muito rica em nutrientes e vida).

Faz a tua fogueira dentro da trincheira, apoiando as panelas nas paredes da vala. Nota: é melhor usar o suporte metálico, ou alguns troncos grossos, para que as panelas não escorreguem para dentro da vala.

Quando acabares e tiveres a certeza que a fogueira está bem apagada, coloca a terra de volta na vala, recobre com a turfa, e rega bem. A cicatriz no local vai desaparecer depressa.

 

Para quase tudo, é melhor uma fogueira pequena ou mesmo várias, do que uma grande.

Podes usar um reflector que potenciará o calor libertado. A base de uma árvore grossa, um tronco (cuidado para não pegares fogo a estes) ou uma rocha servem de reflectores naturais. Podes também fazer um reflector, com troncos ou pedras ( a madeira húmida por exemplo servirá de reflector enquanto seca). Os reflectores assumem importância no caso de temperaturas baixas e/ou vítimas que é preciso manter quente.

 

 

 

Conselhos para tempo húmido

 

Os conselhos seguintes vão-te ajudar a estares pronto em caso de chuva.

 

antes de chover, apanha o combustível necessário, especialmente acendalha e ramos finos. Armazena tudo num sítio seco, de preferência debaixo de um toldo (esticado...).

Guarda a acendalha num saco plástico.Racha a meio troncos molhados. A madeira seca do meio arde, ou se estiver húmida,

vai secando ao lado do fogo.Se a acendalha estiver húmida, sopra-lhe com jeitinho. O ar extra pode ajudá-la a pegar.

Impermeabiliza os teus fósforos antes de ires acampar. Podes fazê-lo mergulhando a cabeça do fósforo em parafina líquida ou verniz claro das unhas. Uma caixinha de filme fotográfico ou um frasquinho de medicamentos - devidamente lavado, e

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com o rótulo retirado - com tampa de rosca é ideal para conter os fósforos e a lixa.Um isqueiro de butano ou de gasolina dá chama em quase qualquer tempo. Guarda--o

com o cuidado devido às substâncias inflamáveis.Recorre a madeiras resinosas, ou acendalhas comerciais (sólidas ou líquidas), que dão

chama durante um tempo relativamente longo.

 

Secar fósforos molhados Se os fósforos ou o raspador estiver húmido, podes esfregá-los no teu

cabelo. A electricidade estática assim libertada, pelo calor que provoca, seca os fósforos e o raspador.

Mas mais vale prevenir, impermeabilizado os fósforos, ou levando um ou mais isqueiros a gás.

 

 

Fogo sem fósforos

Antes da invenção dos fósforos, as pessoas sabiam muitas maneiras inteligentes de fazer fogo. Conhecer e aplicar esses métodos pode ser engraçado hoje em dia, e saberás uma técnica para quando os fósforos falharem...como os 'fósforos galegos'!

 

 

Prepara um pouco de mecha extremamente seca antes de saíres para o campo. Excelentes são a madeira podre, fios de algodão, casca seca e o serrim seco. Guarda-a num recipiente à prova de água, como por exemplo uma caixa de filme fotográfico.

 

Com o Sol e uma lente - a lente de uma máquina fotográfica, uma lente convexa de uns binóculos ou mesmo de uns óculos podem ser usadas para concentrarem os raios solares sobre a mecha. NB: esta é a causa de muitos incêndios - sempre que vires pedaços de vidro onde não deviam estar, apanha-os com cuidado para não te cortares.

 

Com pederneira e aço - este é o melhor método para pegar fogo à mecha se não tiveres fósforos. Segura a pederneira tão perto da mecha quanto possível e bate-lhe com a lâmina de um canivete ou outra peça de aço, de cima para baixo. Quando a mecha começar a arder, acrescenta combustível à mecha e sopra-a cuidadosamente.

 

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Por fricção. Se esfregares as tuas mãos uma na outra podes sentir a fricção a aquecer as tuas palmas. Esfrega dois ramos da maneira certa e durante o tempo suficiente, e o calor pode começar um fogo.

Faz um arco forte, atado frouxamente. Enrola o fio uma vez à volta de uma haste de madeira seca e mole, e usa o arco para fazer girar essa haste com uma das extremidades apoiada num pequeno bloco (que deverás segurar com a mão que não pega no arco) e a outra numa prancha de madeira dura absolutamente seca. Este processo produz um pó preto na madeira dura, a qual acaba por captar uma faúlha. Quando começar a sair fumo , deverá haver faúlhas suficientes para fazer uma fogueira. Retira o arco e acrescenta mecha

 

 

Apagar um fogo.

 

Apaga todos os fogos quando não são necessários. Assegura-te que está frio, não apenas apagado. Isso quer dizer que podes tocar nas cinzas com as mãos sem te queimares.

 

Com água. Deita água nas cinzas. Mexe nas cinzas molhadas com um pau e deita água outra vez. Vira paus fumegantes e molha-os nas duas extremidades. Usa muita água. Repete até conseguires tocar em todos os pontos da fogueira.

 

Sem água. Quando falta a água, deita areia ou terra nas brasas. Com um pau, mexe os componentes da fogueira até estar tudo apagado. Com paus em brasa, esfrega-os no chão até estar extinto. Não te vás embora até estar tudo frio o suficiente para tocar em qualquer parte da fogueira.

 

Limpando uma área de fogueira

Quando a fogueira estiver bem apagada, pega em todos os bocados de lixo, como bocados de folha de alumínio (da cozinha selvagem), papel, etc., e mete-os num saco para deitares fora no local apropriado. Cinzas podem ser enterradas na latrina. Deixa a área limpa para outros campistas.

 

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Apagando uma área de fogueira

 

Se fizeste uma nova área de fogueira (em vez de usar uma já estabelecida), é melhor apagá-la e fazer desaparecer todas as marcas. Espalha qualquer pedra, pondo as partes enegrecidas pelo fumo para baixo. Enterra as cinzas frias na latrina, ou se vais recobrir a área com a turfa que retiraste antes, deixa-as onde estão, mas espalha-as. Recobre a área, seja com turfa ou com o coberto.

Quando acabares, a área deve estar como quando lá chegaste.

 

 

 

O Fogo de Conselho

 

Este é um fogo especial, um tipo único de fogueira. Faz parte da mística Escutista desde a sua criação por Baden-Powell. No entanto, muito antes de ser imaginado o Escutismo já as reuniões do tipo dos fogos de conselho tinham lugar. Os povos nómadas, as tribos índias norte-americanas celebravam os seus fogos de conselho desde há muitos anos.

Um Fogo de Conselho, na sua concepção Escutista, é uma ocasião especial onde se faz uma revisão do dia que termina, se ri e se joga em ambiente fraternal e comunitário, é onde se prepara o novo dia que virá.

Num Fogo de Conselho não existem espectadores, todos participam na acção, e nisto se distingue um Fogo de Campo, que é um espectáculo de maior dimensão, para convidados e espectadores, com abertura e encerramento mais solenes.

 

O ritmo do Fogo

A fogueira deve marcar o ritmo de um Fogo de Conselho. Quando se acende, uma fogueira vai aumentando progressivamente de intensidade (chama - luz e calor), e depois decresce (brasas - pouca luz e calor concentrado).

Também o ritmo das apresentações deve respeitar este ritmo, elevando-se pouco a pouco até um pico rápido e muito alegre (o clímax), começando depois a decrescer até terminar lentamente.

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Um Fogo de Conselho não deve demorar mais de 90 minutos, ou duas horas no máximo. Cada fase deverá demorar, em média, até 20 minutos.

 

Início do Fogo

abertura com o ritual que a grandeza da actividade merecer

palavras do Chefe de Campo ou Assistente

canções ao fogo, Escutistas

 

Fase rápida (alimenta-se bem a fogueira)

números cómicos

música popular ou Escutista

aplausos fortes

 

Clímax

Neste momento a fogueira está ao máximo e é altura para fazer uma pausa. Aproveita-se para o Chefe ou convidados falarem, homenagear alguém e trocar

lembranças.

A partir daqui não se alimenta mais a fogueira

 

Fase moderada

música espiritual e instrumental

poesia

aplausos

 

Fase final, lenta

cânones sérios

meditação

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oração

silêncio

 

A equipa do animador

O sucesso de um Fogo de Conselho depende em grande parte da actuação do animador. O animador tem a seu cargo toda a organização do Fogo de Conselho: é a ele que lhe cabe decidir a ordem de apresentação dos números, encher os espaços vazios, dinamizar a audiência.

Um bom animador não nasce, faz-se, embora existam pessoas com mais inclinação natural que outras. Um animador perfeito deve ter uma grande capacidade de improvisação, para conseguir com toda a naturalidade preencher um momento vazio que surgiu, através de uma história, uma anedota, um aplauso, ou uma canção.

O animador deve procurar falar com clareza, articulando bem as palavras, com força e não exageradamente rápida. Sempre de frente para a assistência, projecta bem a tua voz, falando com alguma lentidão mas com a emoção que a oportunidade merecer.

O animador deve ter dois colaboradores, que tratam de alimentar a fogueira e de chamar os participantes quando se avizinha a sua participação, bem como apoiam o animador em algum número ou aplauso em conjunto.

 

A preparação do Fogo de Conselho

A preparação é uma das chaves do êxito de um Fogo de Conselho. É necessário saber quantos grupos vão actuar, quanto tempo cada um gostaria de utilizar, e o género de número que é. Cabe ao animador e à sua equipa limitar o tempo disponível e distribuir os números pelas fases de um Fogo de Conselho.

É boa ideia alternar peças dramáticas com músicas e diversos. Sem cair na repetição excessiva, usem-se os aplausos tanto quanto possível como forma de fazer a transição de um número para outro.

 

A fogueira

Como todas as fogueiras, a fogueira de um Fogo de Conselho merece muitos cuidados. Segue as regras de segurança que te recomendamos acima.

A fogueira para um Fogo de Conselho deve ser preparada de um modo especial, não servindo para este efeito uma fogueira como a que usamos para cozinhar. As

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fogueiras mais indicadas para um Fogo de Conselho são as fogueiras em pirâmide, em cone e reflectora.

 

Fogueira em pirâmide - a mais indicada para grandes Fogos de Conselhos. É constituída por um cone central de mecha, acendalha e lenha fina, e rodeada por uma estrutura de troncos em forma de pirâmide quadrada, os mais grossos em baixo e os mais finos em cima.

 

Fogueira em cone - a mais comum, faz-se um cone mais pequeno de acendalha e mecha, e depois vai-se aumentando progressivamente a grossura da lenha, empilhando-a em cone.

 

Fogueira reflectora - boa para reflectir luz e calor para os artistas. Igual à fogueira em cone, mas com alguns troncos grossos empilhados de um lado num suporte.

 

A pilha da lenha

A lenha para o fogo deve estar perto da fogueira mas fora do círculo dos participantes. A equipa do animador deve ter acesso fácil tanto à pilha como à fogueira. É boa ideia fazer não uma mas várias pilhas, de acordo com a grossura da lenha, para ser colocada na fogueira conforme a fase do Fogo de Conselho.

 

Apagar o fogo

A fogueira só deve ser completamente apagada depois dos Escuteiros terem abandonado o local, pela equipa do animador. Como todas as fogueiras, esta deve ser apagada com todo o cuidado, de preferência com água. Se não houver água, bater o brasido com a pá e depois cobri-lo com uma boa camada de areia.

Vamos sair!  

 

Alguma vez foste fazer uma saída na Primavera? Passaste campos recém-semeados ou seguiste um trilho numa mata? O ar é doce, com o cheiro das flores silvestres que despontam. Uma teia de aranha brilha ao sol, e o orvalho resplandece na erva nova. A Criação de Deus está cheia de maravilhas e estás cá para as ver.

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Já fugiste ao calor do Verão subindo a um monte, saindo de manhã bem cedo pelas ruas da tua cidade? Talvez tenhas uma rota que te leva por zonas interessantes, e pequenos parques. Quando o Sol estiver alto, já estás na sombra fresca de um Museu, ou podes já ter terminado a tua excursão na piscina municipal. A criação do Ser Humano também tem aventura e maravilhas, e podes estar cá para as viver.

As tuas botas esmagam as folhas secas do Outono fazendo ruídos. A manhã está fresca, e as árvores estão pintadas em tons de ouro e castanhos. Alguns pássaros persistentes esvoaçam ainda, prestes a largar para outras paragens mais quentes. Com uma carta e uma bússola, podes ir longe. Andar, sair, é liberdade, e estás cá para a ter.

O Inverno encontra-te na floresta, a recolher material para o presépio da tua Igreja. A tua expiração permanece no ar como uma nuvem. No monte virado a Norte, aprecias a geada que torna brancos os campos. Tudo que temos é bom, e podemos tirar partido de quase tudo, e estás cá para Viver.

Todas as Estações são especiais, quando estás no ar livre. Mal podes esperar para ver o que te espera do outro lado do monte, e ao virar da curva. Estás livre do barulho do trânsito, do rádio e da televisão.

Caminhar faz-te bem ao corpo. Torna os teus músculos firmes e fortalece o teu coração e pulmões. É bom para a tua mente. Enche-te de confiança, energia, e respeito pelo Portugal Natural. E é bom para o teu Espírito. Faz subir a tua alma, tomando consciência da Obra de Deus, e vendo analogias para o teu próprio caminho de Vida.

Nem sempre terás bom tempo. Às vezes vai chover, ou vai estar frio. O trilho pode ser íngreme e pedregoso, e podes sentir-te cansado e molhado até aos ossos. Mas as dificuldades também fazem parte do caminho. Superá-las ajudar-te a tornares-te um melhor andarilho, melhor Escuteiro, e melhor Homem. Um raid não é um passeio, e por mais agradável que este seja, é o raid cheio de aventura que persiste na memória.

 

 

Planear uma excursão

 

Um plano de viagem é uma espécie de apólice de seguros. Pensar no raid que se vai fazer ajuda a superar possíveis obstáculos. O plano é também uma segurança e confiança para o teu Chefe e Família. Eles vão esperar que sigas o plano e que voltes quando disseste que voltavas. Honra a sua confiança em ti seguindo o plano, e regressando conforme o combinado.

Escreve os ‘porquês’ da tua excursão:

 

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Onde vais? Decide o teu destino e a rota que vais seguir. Se vais voltar por um caminho diferente, incluí-o no teu plano. Se fores para áreas inóspitas ou desertas, deixa uma cópia do teu plano com a rota marcada.

 

Quando voltas? A tua Família e os teus Chefes vão supor que encontraste dificuldades se não chegares razoavelmente perto da hora prevista. Eles podem tomar providências para te localizar, e ajudar se necessário.

 

Quem vai? Faz uma lista de todos os que vão contigo - nunca vás sozinho! Se te acontecer algo, não tens nem quem te ajude, nem quem chame socorro - é sempre melhor ir com dois amigos. Garante que as famílias de todos estão avisadas.

 

Porque vais? Para pescar num rio? Para chegar a um ponto cotado? Explorar um novo trajecto? Ou, simplesmente, para ver as cores do Outono? Escreve uma ou duas frases sobre o porquê da tua saída.

 

Como vais? Respeitando a Natureza, usando métodos de baixo impacto?

 

 

Calçado

 

Se os teus pés estão confortáveis durante a tua caminhada, o mais provável é que te divirtas à grande. Mas é difícil estar bem disposto quando se fala em andar se os teus pés estão quentes, doridos e cheios de bolhas. O cuidado dos pés começa quando escolhes o teu calçado e as meias.

Quase todos os sapatos servem para usar em campo, e passeios em terreno ‘manso’. Mas para aventuras maiores, excursões com mochilas, ou raids em terreno ‘bravo’, botas são uma melhor escolha. Botas de “meio cano” protegem os teus tornozelos. Solas grossas guardam os teus pés das pedras afiadas e dos tocos. O padrão das botas agarra o terreno para que não escorregues.

Botas leves feitas de materiais artificiais parecem-se com ténis sobre-desenvolvidos. São adequados para a maior parte das caminhadas. Alguns modelos mantém os teus pés secos no caso de tempo húmido - é algo a ter em consideração se

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fazes saídas com o tempo incerto. Convém levar em consideração os novos materiais artificiais, e não apenas os ‘tradicionais’ como nylon, que podem sobreaquecer os pés.

Botas de couro podem durar muito mais. O couro é mais duro que outros materiais, dando aos teus pés e tornozelos protecção suplementar. Umas boas botas de couro não deixam entrar a água, e nem mesmo a neve. São tão boas para raids ‘bravos’, como para passeios ligeiros. Tem ainda a vantagem de ter melhor aspecto.

Botas de couro são mais pesadas do que as feitas com outros materiais, mas não escolhas botas que pesem demasiado. Botas feitas para montanhismo no pico do Inverno são demais para o que um Escuteiro precisa. Botas para marcha não devem pesar mais do que 2 Kilos o par. As solas devem dobrar à medida que andas.

Quando comprares botas, leva as meias que pensas usar em caminhadas (um par mais grosso por cima de um fino, ou dois médios). As botas devem ser perfeitamente confortáveis. Os teus calcanhares não devem escorregar quando andas e os teus dedos dos pés devem ter espaço para se moverem.

Botas novas podem parecer duras. Antes de as usares numa saída, anda com elas em casa durante os dias, até que a forma das palmilhas se ajuste à dos teus pés.

 

Cuidar das tuas botas.

Todas as botas de marcha duram muito tempo, se tratares bem delas. Quando estiverem molhadas, deixa-as secar ao Sol. Calor excessivo pode derreter ou queimar os materiais artificiais e encolher o couro, por isso não ponhas as tuas botas perto duma fogueira ou aquecedor.

Depois de uma saída, usa uma escova dura para tirar a lama e sujidade das tuas botas, escovando bem. Deita-lhes graxa ou produtos próprios. A graxa ou sebo (ou uma mistura de ambos) mantém o couro flexível e impermeabiliza.

 

Meias

Meias para caminhar são meias que removem o suor dos teus pés e mantém-nos secos. Meias feitas de lã, polypropyleno, ou uma mistura de lã e nylon também acolchoam os teus pés. Para maior conforto, usa um par de meias finas de algodão ou lã por baixo das tuas meias de caminhar. As meias finas deslizam pelas mais grossas, reduzindo a fricção na pele dos teus pés, e reduzindo a probabilidade de desenvolveres bolhas. Leva meias sobresselentes nas tuas saídas. Quando os teus pés estiverem a cansar-se, muda para umas meias limpas e secas - refrescam-te desde a ponta dos pés.

 

 

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Roupas para a ocasião

 

Uma vez que não temos um botão de controle climático para regular a temperatura e a humidade do ar, tens que estar preparado para ajustar o teu vestuário com as condições meteorológicas. Além de te manter confortável, a tua roupa protege-te do Sol, do vento, dos arranhões e dos insectos.

O segredo da roupa para o ar livre está nas camadas . Imagina um raid no Inverno. O céu está limpo, e não há vento. Estás a usar a tua farda, uma camisola interior, e uma camisola (azul, claro). Se estiver mesmo fresco, poderás ter umas luvas, cachecol e um barrete. Andar queima energia, e depressa estás quente. Até demais. Paras um momento para tirar a camisola, o cachecol e as luvas, e metes tudo na mochila.

À medida que vais andando, o céu cobre-se de nuvens e o ar arrefece. Tornas a vestir a camisola, depois as luvas, e o cachecol. O vento começa a soprar, e tiras a tua “parka” ou casaco da mochila, e veste-lo.

Uma vez que tens muitas camadas, podes usar tanto ou tão pouco quanto precisares em cada momento. É muito melhor do que usar uma camada só, grossa, o tempo todo.

Além das camadas, escolhe roupa feita de materiais que são adequados para o tempo esperado.

 

Lã. A malha apertada da lã bloqueia o vento. A lã mantém-te quente, mesmo que esteja molhada, e é resistente ao fogo. Se uma camisa de lã te fizer comichão, veste uma camisola interior por baixo. Torna-se pesada quando está molhada, e demora a secar.

 

Algodão. Ideal para o tempo ameno. Absorve a humidade, arrefecendo-te à medida que leva o suor da tua pele. Mas, uma vez molhado, custa a secar. É bom para roupa interior e outras peças de roupa que estão em contacto directo com a pele. O algodão molhado não te mantém quente, tornando-se inútil para saídas em tempo fresco ou húmido, e não protege do vento.

 

Fibras sintéticas. Polypropyleno é uma fibra artificial com o conforto do algodão e a capacidade térmica da lã. Roupa feita de polypropyleno e outros materiais modernos mantém-te aquecido mesmo quando molhado. Procura-os para roupa interior, camisolas, parkas, meias e chapéus. Bons para proteger do vento e da chuva, não permitem que a transpiração, provocando condensação da humidade do lado ‘seco’.

 

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A tua roupa para actividades deve ser confortável e larga o suficiente para não te entorpecer os movimentos.

Para o Verão, uma camisola interior de algodão por baixo da camisa do uniforme ajuda a manter-te fresco e a camisa protege-te do Sol forte. O chapéu para protecção do Sol deve também estar à mão, bem como um agasalho para a noite.

No Inverno, opta por uma camisola interior ou ceroulas ‘térmicas’, que por baixo do uniforme ajudarão a manter a tua temperatura. Não te esqueças das luvas. O chapéu continua a ser necessário, mas para evitar a perda de calor por convecção pela cabeça.

Para a chuva, tens aqui uma lista com várias sugestões.

 

Poncho. Um poncho é uma capa impermeável com um capuz. Grande o suficiente para cobrir a mochila nas tuas costas, um poncho protege-te dos chuveiros de Verão. Com vento, podes prendê-lo com um cinto ou bocado de corda.

Por ser tão largo, um poncho não é a melhor escolha para mau tempo. Vento forte fá-lo ondular, e não isola do frio. Quando as tuas aventuras te começarem a levar para longe de casa, considera levar algum destes abrigos:

 

Parka. Um casaco comprido, com capuz, para a chuva. Quando não chover, abre o fecho para ventilação. Fecha os bolsos.

 

Calças de chuva. Estas calças prolongam a protecção de um poncho ou de uma parka cobrindo as tuas pernas. Só devem ser usadas em caso de chuva forte, pois impedem a transpiração.

 

Polainas. Protegem os teus pés e parte inferior da perna da chuva. Ideais para a neve não entrar nos sapatos - como no nosso país são poucos os locais onde chega a nevar, podes improvisar umas polainas com um saco plástico grosso atado às tuas botas e aos teus joelhos para quando a vegetação estiver molhada.

 

Guarda-chuva. Se já andaste durante um aguaceiro, sabes que cansa ouvir a chuva no capuz ou no teu chapéu por muito tempo. Um guarda-chuva pequeno e barato, que caiba dentro da tua mochila, é ideal. E também funciona como guarda-sol no Verão!

 

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Chapéu ou boné. Com pala ou abas, protege a tua cara do Sol e da chuva. Se tiveres óculos, protegem-tos da chuva. Em condições de frio, vento e/ou chuva, uma cobertura para a cabeça evita a perda por convecção de quase metade do calor corporal.

 

 

 

 

 

 

Mochila

 

Uma pequena, tipo escolar, guarda o necessário para uma saída de um dia. Se não tens mochila, podes fazer uma com um casaco ou umas calças.

 

Saco-calças. Fecha a braguilha de um par de calças. Com corda ou cordel, ata o fundo de uma perna, e prende-o ao passador mais próximo da braguilha. Repete com a outra perna, prendendo-a ao passador mais próximo da braguilha do seu lado. Passando uma corda pelos passadores do cinto terás um fecho para o teu “saco-calças”. Põe as tuas coisas dentro do saco, fecha-o, e passa os teus braços pelas calças como se fossem as alças de uma mochila.

 

 

Saco-parka. Fecha o fecho da parca, e estende-a no chão. Pousa as tuas coisas no peito da parka. Dobra o capuz por cima das tuas coisas, e dobra depois a parte inferior da parka sobre o capuz. Com cuidado, levanta a parka para o fundo das tuas costas, e ata as mangas à cinta com o nó direito.

 

Para actividades de maior duração, há mochilas de vários tamanhos ao dispor nas lojas da especialidade.

Uma mochila tem alças, uma armação, e um cinto que te permitem transferir e dividir o peso das tuas coisas pelos teus ombros e costas e pelos músculos das tuas pernas. Sempre que tiver cinto, aperta-o; as tuas pernas são bastante mais fortes que os teus ombros. Para regular uma mochila, aperta o cinto de modo a que este se apoie nos

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ossos da bacia. Depois regula as alças para que te sintas confortável com a mochila às costas.

Embora as mochilas possam conter muita coisa e muito peso, limita o peso total a cerca de um quarto do teu peso. Por exemplo, se pesas 50 Kilos a tua mochila não deve exceder 12,5 Kilos.

 

A tua mochila apoia-se demais nos teus ombros e ancas? Para maior conforto, coloca as tuas meias (limpas) dobradas entre os teus ombros e as alças.

 

Vara

 

No primeiro desenho de Baden-Powell de um Escuteiro, o Fundador do Movimento Escutista fez um jovem com uma vara na mão. A vara tem sido um símbolo de caminho desde tempos imemoriais. Uma vara empunhada dá balanço e ritmo ao teu passo.

Usa a tua vara para afastar arbustos e silvas, desimpedir o caminho e transpor obstáculos, especialmente ribeiros.

Um dos usos mais antigos para a vara é a de registo. Podes gravar as tuas experiências de caminhada, fazendo uma marca por cada 5 kilómetros que percorreres. Noutro local, podes gravar as tuas noites de campo.

As melhores varas são aquelas que encontras nos bosques, e guardas por muitas saídas. Se a casca for lisa, deixa-a; caso contrário raspa-a, pelo menos no sítio onde a agarras.

 

Equipamento pessoal

 

Listas.

Os teus essenciais e o material para um bivaque são o cerne do equipamento para actividades. Levar apenas aquilo que realmente precisas ajuda-te a aliviar a carga.

 

O teu canivete, de preferência multi-usos, deve andar sempre contigo (não te esqueças das suas regras de segurança), bem como o teu estojinho de Primeiros Socorros. Uma

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lanterna pequena pode dar jeito no caso de anoitecer antes da vossa chegada. O mapa, que deve ser conservado num estojo impermeável, junto com a bússola são auxiliares preciosos. O teu caderno e lápis/esferográfica que usarás para anotar coisas de interesse e fazer esboços estarão com certeza à mão.

 

 

 

O que é um trilho

 

Um dos trilhos mais conhecidos no Mundo é o chamado Caminho de Santiago. Na verdade não há apenas um caminho, mas vários. Para a maioria dos Europeus, estendia-se pelo Norte da Península Ibérica, desde os Pirinéus até Compostela, onde está sepultado São Tiago.

Para os Portugueses, era um trajecto da sua terra de origem no nosso país, na direcção da Galiza. Muitos peregrinos calcorrearam este Caminho de Santiago, através dos séculos. Mas como todos os caminhos, este era muito mais do que um percurso para chegar a um lugar.

Paisagem, ficar mais perto da Natureza, de Deus, apreciar pontos de interesse - cada metro de trilho transporta-te a novas experiências. Em cada horizonte está algo que nunca viste antes. O ar está cheio de novos sons e odores.

Um bom caminho está tão bem integrado na Natureza que o rodeia, que mal dás por ele debaixo dos teus pés. Olha bem, e vais ver muros, pontes e outras estruturas que tornam o percurso mais confortável e mais seguro.

Um trilho bem feito também protege o terreno que atravessa. O caminho pode-te levar por miradouros especiais, onde podes apreciar de longe regatos delicados sem os danificar. Uma vez que muitos pés arrasam a vegetação, e contribuem para a erosão, o trilho pode ser em terreno duro ou mesmo sobre pedras.

 

 

Comer e beber

 

A refeição mais importante para caminhar é o pequeno almoço que comes antes de partir. Em campo ou em casa, um bom pequeno almoço começa bem o dia.

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Leva um farnel para o almoço na tua mochila. Sandes, fruta, frutos secos são escolhas saborosas e energéticas. Pode ser que queiras levar um saquinho de comida energética à mão, enquanto andas. Um chocolate, ou um saquinho de frutos secos como nozes, amêndoas, avelãs ou fruta cristalizada.

Enche o teu cantil ou garrafa de água antes de saíres, e toma pequenos goles de cada vez que tiveres sede. Em marcha, se tiveres sede, nunca bebas muito de cada vez mas sim pouco muitas vezes.

Quando está calor, bebe muitas vezes - mesmo que não tenhas sede - e toma cuidado para que não fiques sem água onde não tens maneira de reabastecer o cantil. Lembra-te de verificar a potabilidade da água.

 

 

Baixo Impacto

 

Já sabes que quando deixas um local de acampamento não deixas vestígios da tua presença. Pratica a mesma ética de baixo impacto em todas as tuas actividades, mesmo em caminhada. É fácil fazer raides deixando apenas pegadas. Isso mostra que gostas da terra que atravessas, e demonstra que sabes usá-la acertadamente.

Mantém-te no trilho enquanto andas. ‘Atalhar’ destroi vegetação que segura as camadas superioras do solo e as expõe à erosão. Essa erosão pode causar danos a grandes extensões de terreno!

Ajuda na manutenção dos trilhos, apanhando lixo deixado pelos ignorantes. Remove pedras e ramos caídos. Um bom trilho insere-se na paisagem. Estima-o e não deixes rastro.

Muitos Escuteiros participam todos os anos em iniciativas de conservação do Portugal Natural, em conjunto com outras entidades e pessoas que partilham esse objectivo comum. Ajuda tu também, com os teus amigos, a conservar e a reparar o que foi estragado - vale a pena!

 

 

Marcando passo

 

Andar depressa não é o importante numa caminhada. Aproveita o tempo para apreciar o que te rodeia. Vê as vistas, ouve os pássaros, cheira as plantas, estuda a Vida.

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Em trilhos suaves, não muito inclinados e com poucos acidentes de terreno, o Explorador médio pode percorrer 3 a 5 Kilómetros por hora. À medida que o terreno se torna mais acidentado, a velocidade desce - lembra-te que pode demorar tanto a descer como a subir.

A velocidade de marcha será determinada por uma série de factores, como as condições meteorológicas (se chove, se está calor, se neva, etc.), condição física, terreno (declives e tipo de piso), exigências de tempo e distância (um determinado local tem de ser atingido num espaço de tempo determinado), a carga a transportar, etc.

 

Para marcar o passo de uma Patrulha ou grupo de caminhantes, coloca o membro mais lento à frente, para que seja ele a determinar a vossa velocidade de marcha. Embora alguns da tua Patrulha, talvez até tu, sintam que podiam andar muito mais depressa e mais longe, a segurança e coesão do grupo é mais importante. Nunca deixem camaradas para trás.

Quando caminhares em grupo, deve haver dois responsáveis (o Guia e o Subguia). O primeiro tem a tarefa de manter o grupo unido e tomar decisões, como que caminho seguir, enquanto que o segundo deve ir um pouco atrás do grupo principal para se assegurar que ninguém fica para trás. Este segundo responsável deve levar uma lanterna ou material reflector nas costas se a caminhada for à noite.

Um Escuteiro mais experiente deve seguir à frente do grupo para examinar os diferentes caminhos possíveis, e levar uma lanterna acesa se estiver escuro.

 

Se a caminhada se estender por vários dias (acampamento volante), tracem objectivos alcançáveis - distâncias a percorrer razoáveis que te permitam ver tudo e não ter de andar em marcha acelerada, deixando tempo e energia suficiente para montar o vosso local de pernoita. Repousar e dormir é muito importante para manter a capacidade de marcha do dia seguinte.

 

Embora devas evitar terrenos difíceis ou perigosos, por vezes não há outras opções. Reduz a velocidade e redobra a atenção. Em terrenos pedregosos, basta um escorregão para dar origem a uma fractura. Quando o terreno é inclinado, uma vara ou bastão vão-te ajudar a não te cansares tanto e a equilibrares-te melhor.

encosta acima - inclina-te para a frente e dá passos pequenos, pondo os teus pés de forma plana sobre o chão. Evita caminhar em bicos de pés. Se o declive é muito acentuado, sobe dando passos obliquamente em relação à inclinação, apoiando o bastão em terreno mais baixo.

encosta abaixo - dá passos curtos e firmes, inclinando-te para trás para não concentrar o peso todo nos calcanhares. Se o declive for muito inclinado, faz o mesmo que na subida.

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Caminhar em terrenos montanhosos ou acidentados pode ser confuso. O que à distância pode parecer uma linha de alturas pode ser uma série de linhas de alturas e vales.

 

Os pântanos e lamaçais devem ser evitados, contornando-os. Se tiverdes que atravessar um pântano, vê onde pões o pé antes de apoiar o peso do teu corpo nesse mesmo pé. Usa a tua vara para testar o solo, e segue os passos de quem for à frente. Para saberes o que fazer se alguém se afundar num pântano, vê o capítulo sobre emergências.

Os matagais em Portugal não são muito cerrados, mas podem apresentar dificuldades. Para atravessar um terreno assim, desce as mangas compridas e sobe as meias, por forma a evitar cortes e arranhões. Não percas a direcção, olhando para os arbustos, foca a vista para o que está para além da floresta, e repara na posição de pontos de referência ou do Sol.

 

 

 

É boa ideia chegar aos lugares de pernoita a meio da tarde. Terás luz natural suficiente para montar campo, cozinhar, e explorar a área do vosso novo campo. Aproveita as horas frescas da manhã, e não as horas tórridas da tarde. Põe-te a pé cedo, veste-te, faz as tuas orações da manhã e toma o pequeno almoço.

Depois de levantardes campo, olha bem para o local. Algum bocadinho de lixo? Alguma peça de equipamento? A área está melhor do que quando vós chegastes? Então põe a mochila às costas, verifica a carta topográfica, e pernas ao caminho!

 

Descansos

É boa ideia fazer uma paragem dez minutos depois de teres arrancado, para ajustar o teu equipamento e verificar a vossa direcção.

Quando estás a passear, e fazes pausas frequentemente para observar plantas e animais, talvez nem precises de parar para descansar. Se, pelo contrário, tens objectivos a atingir em determinado tempo, uma pausa de 5 minutos a cada meia-hora dá-te oportunidade para ajeitares a mochila, beber um gole de água ou dar uma dentada no farnel.

Para uma pausa breve, descansa os ombros inclinando-te e apoiando as mãos nos joelhos. Deixa o peso da mochila sair dos teus ombros. Ou tira a mochila por uns 5 minutos. Nestas pausas, não tires o calçado, pois os pés podem inchar.

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Quando parardes para comer, ou seja, uma paragem maior, pode-te apetecer tirar as botas. Talvez possas mergulhar os teus pés num ribeiro. Calça meias limpas e secas para a segunda parte da vossa excursão do dia, e os teus pés vão-se sentir muito melhor. As meias usadas podem arejar e secar presas na parte de fora da tua mochila.

Durante acampamentos volantes, podes incluir um dia da ‘preguiça’ - isto é, um dia em que se fica no mesmo sítio. Talvez o campo esteja montado perto da praia, ou de algum outro ponto de interesse. Aproveita para descansar fazendo algo diferente. Não vais acampar para andar a contra-relógio, aproveita as oportunidades.

 

Forma Física

Vamos falar-te da forma física um pouco mais à frente neste livro, mas queremos fazer uma chamada de atenção para a importância de estar em forma para o excursionismo, especialmente se não tens o hábito de andar. Os alongamentos ajudam a desenvolver a flexibilidade e os exercícios aeróbicos, como a natação melhoram a capacidade cardiovascular e respiratória.

Subir escadas, fazer abdominais e flexões e fazer alongamentos dos braços, ombros, peito e cintura, bem como passeios em terreno fácil são os melhores meios de te treinares para os desafios mais além. Não te esqueças de levar a mochila nas tuas caminhadas de treino. Podes andar a passo rápido, mas não corras com a mochila, pois poderias lesionar as tuas costas.

 

Segurança

 

Uma vez que condições de tempo muito adversas não são muito frequentes em Portugal, deixamos para o capítulo sobre emergências umas notas sobre o que fazer quando o frio ou o calor excessivos apertam.

 

Segurança no trilho. Anda em fila indiana quando o trilho for estreito, e quando usarem vias públicas. Deixa algum espaço entre ti e o Escuteiro à tua frente. Podes ver por onde vais, e não chocais se ele parar subitamente.

Andarilhos podem assustar cavalos e mulas. Se te cruzares com cavaleiros, pára. Se o trilho for estreito, sai dele deixando o espaço para o cavalo. Se te cruzares com ciclistas, faz o mesmo, uma vez que a bicicleta não se assusta contigo, mas sim com terreno incerto.

 

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Segurança em corta-mato. O ‘corta-mato’ deixa-te andar por sítios recônditos. Claro que tens que ter em atenção a orientação, para não te perderes. E se entrares em terrenos privados, não te esqueças de pedir autorização.

Manter a Patrulha junta é tanto ou mais importante em ‘corta-mato’ do que normalmente. Partilhais a experiência, e podeis ajudar-vos mutuamente.

Longe dos trilhos, o percurso pode ser incerto. Afasta cuidadosamente a vegetação, evitando cortes e arranhões, e evitando danificar as plantas. Não te agarres ao mato ou a trepadeiras - podem ter espinhos, ou não estar bem seguros.

Se escalares alguma rocha, vê onde pões as mãos. Não te apoies em nada sem ver se está bem seguro, e se não tem plantas com espinhos ou animais assustados. Nunca trepes a rochas soltas, nem nunca soltes pedras por um monte abaixo - podes atingir alguém abaixo de ti. Quando o trajecto for íngreme, apoia-te bem, tentando manter três pontos de apoio.

Segue o adágio: nunca passes por baixo, se podes passar por cima. Nunca passes por cima se podes passar ao lado. Não te ponhas aos saltos - podes escorregar ou torcer um tornozelo.

Estuda e planeia o trajecto antes de começar, para não serdes surpreendidos por linhas de água, falésias e outras barreiras. Se encontrares terreno que achas que não consegues atravessar, segue uma rota alternativa, ou volta para trás. Uma pessoa inteligente sabe quando virar costas a uma coisa perigosa.

 

Atravessar cursos de água. Pode acontecer que nas tuas aventuras encontres um ribeiro sem ponte, ou uma linha de água maior do que o esperado devido a umas chuvas. Uma vara é de grande assistência neste caso - se não tiveres uma arranja um ramo caído.

Estuda o curso de água que queres atravessar. Vês algum troço onde o curso de água se divida em vários canais mais pequenos? Qual a sua largura? Profundidade?

Podes testar a profundidade de um curso de água com a tua vara. De igual modo, podes testar o apoio de alguma rocha que te pareça grande o suficiente para o teu pé, e pô-la num ponto onde possas fazê-lo. Usa o calçado que te dê mais tracção, e prefere rochas secas e planas, que escorregam menos.

Para escolher o melhor local, procura bancos de areia no meio de um rio, evitando rochedos e curvas.

Atravessar a vau (a pé) é difícil se o curso de água é rápido, e com alguma fundura, especialmente se a água estiver fria. Olha para jusante (para onde corre a água): se escorregares vais ser levado contra uma rocha ou uma queda? Não entres na água se te preocupa.

Nunca tentes vadear uma corrente perto de rápidos, quedas-d’água ou pegos. Se decidires vadear, tira as meias, e põe nos pés o calçado de andar em campo, mantendo as tuas botas secas. Se o fundo for rochoso, deixa antes as botas calçadas mas tira as

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meias. Solta o cinto da tua mochila, e afrouxa as asas. Assim, se escorregares, podes tirar facilmente a mochila, sem que esta te arraste para o fundo.

Vira-te para o lado donde vem a água (montante) e apoiando-te na tua vara anda de lado. Se tiverdes cordas, dois Escuteiros seguram cada um uma ponta da corda, enquanto que um terceiro faz a travessia. Quando este chegar ao outro lado, puxa uma ponta da corda, e prende-a se possível. O segundo Escuteiro deve atravessar agora com a carga, e o terceiro trará a corda. (NB: convém sempre fazer o nó de salvação, para que estejais sempre seguros, no caso de escorregardes). 

Determinar a largura de um rio

Escolhe um ponto de referência (pedra, árvore, etc.) na margem oposta e coloca-te directamente em frente dele. Estima aproximadamente metade da largura do rio, e marca-a em passos ao longo da margem, perpendicularmente à linha de mira. Marca esse ponto com uma pedra ou estaca e continua a andar ao longo da margem, até teres andado outra vez o mesmo número de passos da tua posição inicial à marca 1. Faz uma marca (2)

Desloca-te perpendicularmente à linha marcada até que o objecto na margem oposta e a tua primeira marca esteja no mesmo alinhamento quando olhados por cima do ombro. Pára. A distância entre a segunda marca e a tua posição agora é igual à largura do rio.

 

Se o curso de água for fundo a ponto de teres que nadar para o atravessar, quer dizer que não estudaste o percurso! Se não existir um ponto onde um banco de rochas atravesse o rio, evita-o.

 

Se conheceres com segurança um rio, ou numa situação de emergência em que não tenhas outra hipótese a não ser atravessá-lo, podes recorrer a algumas técnicas que melhorarão a segurança.

 

Aviso: os rios podem ser perigosos! Nunca te aventures a atravessar rios que não conheças com segurança, ou onde notes evidências de correntes ou poços, como redemoinhos.

 

Usa os estilos bruços ou costas. Se possível, despe-te e leva o equipamento a flutuar enquanto nadas. Sacos plásticos ‘de lixo’ (conhecidos por serem grandinhos e resistentes) bem fechados com ar lá dentro podem ser uma hipótese mais seca do que levar molhos de roupa nas costas.

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Entra lentamente até que a água te chegue ao peito antes de começares a nadar. Se entrares devagar, uma topada num obstáculo submerso doerá menos. Nada sempre em diagonal em relação à corrente: se esta for relativamente fraca, podes nadar a favor da corrente.

Usa auxiliares de natação - mesmo que aches que não precisarias deles normalmente, o facto de teres mochila e/ou outro equipamento a transportar pode fazer diferença. Podes usar vários artigos como auxiliares de natação: bidões, latas e caixas vazias são bons para águas calmas. Tábuas e troncos também podem ser usados, mas testa-os antes, não vão eles afundar, levando consigo o equipamento...Vê no capítulo consagrado aos nós e pioneirismo como construir uma jangada.

 

Para um caso de emergência, podes usar calças como bóias. Dá um nó em cada perna, e aperta a braguilha. Agarra-as pelos lados e sacode-as por cima da tua cabeça, de trás para a frente, de maneira a que abertura da cinta bata na superfície da água com força. O ar deve ficar retido nas pernas das calças.

 

Segurança na via pública. Algumas estradas são como trilhos: em terra batida, dando acesso a poucos veículos. Essas são ideais para caminhadas. Evita estradas e ruas principais ou muito usadas. Tem cuidados especiais se o teu trajecto te leva por alguma estrada.

Anda em fila indiana no lado esquerdo da estrada, virado para o trânsito. Vais poder ver os veículos que vêm na tua direcção. Usa roupas claras para seres visto mais facilmente, especialmente se for ocaso ou noite. Melhor ainda, usa roupa reflectora, ou mesmo uma lanterna para iluminar o teu caminho e fazer notar a tua presença. Quando notares que um carro se dirige na vossa direcção, abana os braços ou gesticula com a lanterna - o olho humano vê melhor algo a mexer-se, especialmente se esse algo for luminoso.

Por último, não apanhes boleias. Pode ser perigoso, estraga o espírito de uma caminhada, e é proibido a Escuteiros (excepto em caso de emergências).

 

 

Quantos somos?

 

Se o teu grupo de caminhada é do tamanho de uma Patrulha, vais ver que é fácil seguir uma ética de baixo impacto. Uma Unidade em actividade deve ter o cuidado de se dividir em Patrulhas. Não precisais de locais de acampamento de grandes dimensões, por isso não vos deve faltar escolha.

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Por outro lado, o tamanho mínimo de um grupo em actividade não pode ser menos de quatro Escuteiros e um Adulto. Se acontecer um acidente longe de uma via de comunicação, duas pessoas podem prestar Primeiros Socorros e ficar com a vítima, enquanto que os outros dois vão buscar ajuda competente.

Se queres planear as tuas actividades para conjuntos maiores do que Patrulhas, escolhe Parques Escutistas ou especializados, para lidar com números grandes. Aí podes espalhar o teu acampamento, trabalhar em qualquer área, desenvolver qualquer técnica, fazer barulho e utilizar todo o equipamento que quiserdes.

Guarda o campo (propriamente dito) para quando estiveres disposto a tornares-te parte do Portugal Natural.

 

Bibliografia consultada 

A bibliografia assinalada com o símbolo (†) é de índole Escutista, quer Portuguesa quer estrangeira.

 

 

Nacional

† As 1001 actividades para Escuteiros, Robert Baden-Powell. Carmem de Carvalho,trad. Ed. Corpo Nacional de Escutas.

 

† Caderno de Caça 1. Ferramentas (Coord. José Carlos Completo), Ed. JuntaRegional de Lisboa do Corpo Nacional de Escutas

 

† Caderno de Caça 2. Froissartage (Coord. José Carlos Completo), Ed. JuntaRegional de Lisboa do Corpo Nacional de Escutas

 

† Caderno de Caça 4. O Fogo de Conselho (Coord. José Carlos Completo), Ed. JuntaRegional de Lisboa do Corpo Nacional de Escutas

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† Caderno de Caça 5. Descoberta da Natureza (Coord. José Carlos Completo), Ed.Junta Regional de Lisboa do Corpo Nacional de Escutas

 

Como actuar numa emergência, Selecções do Reader’s Digest. G.Birdwood et al.

 

† Como se dirige um Grupo, Ernest Young. J. F. Santos, trad. Ed. Corpo nacional de Escutas

 

Desportos Aquáticos – uma verdadeira aventura, Hugh McManners. Ed. Impala

 

† Escotismo - Princípios Fundamentais do seu método. Edições Escotismo

 

† Escutismo Para Rapazes, 6ª Ed. Robert Baden-Powell. Dr. José Francisco dos Santos, trad. Ed.Corpo Nacional de Escutas

 

Guia Práctico do Consumidor, Teresa Henriques. Texto Editora

 

Manual de Sobrevivência, John Boswell. Loureiro Cadete, trad. Edições Europa-América, Colecção “Arte de Viver”

 

Manual de Socorrismo. Cruz Vermelha Portuguesa, trad. Porto Editora

 

Manual de Viagem para Amantes da Natureza, Dominique Le Brun e François Le Guern, Trad. Maria Paula Guerreiro. Publicações Europa-América, Colecção “Aventura e Viagens”

 

† Mística e simbologia do CNE. Pe. Manuel Fonte. Ed. Corpo Nacional de Escutas

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Navegador de Recreio. Daniel Ferreira e José António Martins. Ed. Dinalivro, Colecção Guias Práticos

 

† Nós e os nós. Maria João Veloso Machado, trad. Ed. Corpo Nacional de Escutas, 1992.

 

Observar o Céu. David H. Levy, Ana Duarte trad. Ed. Atena.

 

† O Conselho de Guias, John Thurman. J.F. Santos, trad. Edição do Corpo Nacional de Escutas

 

O Meu Primeiro Livro de Astronomia. Jamie Jobb, Linda Bennet. Ed. Gradiva Júnior

 

† O Sistema de Patrulhas, Roland E. Phillips. J. F. Santos, trac. Edição do Corpo Nacional de Escutas.

 

† Pistas para o Guia de Patrulha, J. Marques da Silva. Edições Flor de Lis

 

Vamos Fazer Nós, Gabinete de Divulgação e Informações da Marinha

 

 

 

Estrangeira

 

El Cielo de noche. Nigel Henbest. Víctor Pozanco, trad. Ed. Editorial Juventud, SA, 1987

Page 81: Manual do escuteiro

 

† Exploring. The ‘Gilcraft’ series. C. Arthur Pearson Ltd. (GB)

 

† Handbook for Boys, 1st Ed. William Pouch et al. Boy Scouts of America, 1946 (EUA)

 

Manual del Excursionista, Hugh McManners. 1996 Blume (E)

 

Manual de Supervivencia en Tierra, Frank Craighead et al. Ana Cerdeiras, Ediciones Tutor (E)

 

On Your Bike, Kate Toller ed. London Cycling Campaign (GB)

 

† Patrol Leader’s Handbook. 2nd Ed 1974. The Scout Association (GB)

 

† Programme Planning in the Scout Troop, Ron Jeffries. 3rd Ed 1969. The Scout Association (GB)

 

† Scout Boating, Terry Stringer & David Sturdee. The Scout Association (GB)

 

† Scouting for Boys, Robert Baden-Powell. 1963 C. Arthur Pearson Ltd. (GB)

 

† Scout Leader’s Handbook. The Scout Association (GB)

 

† Scout Pioneering, John Sweet. The Scout Association (GB)

 

Survival for Young People, Anthony Greenbank. 1975, Pan Books Ltd. (GB)

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† Tell a Good Yarn, E.J. Webb. The Baptist Scout Guild (GB)

 

† The Boy Scout Handbook - The Trail to Eagle, 10th Edition 1990. Ed. Robert Kirby et al. Boy Scouts of America

 

†The Scouting Trail - Official Handbook of the Catholic Boy Scouts of Ireland (2nd Edition 1979). Eds. Tommy Bree et al.

 

 

Periódicos

 

Flor de Lis. Revista Oficial do Corpo Nacional de Escutas. Vários números

 

Scout. Revista Oficial da AGESCI (Itália). Vários números

 

Scouting. Revista Oficial da Scout Association (Reino Unido). Vários números

 

Superinteressante. Editora Abril (Brasil) e Editora Abril/Controljornal (Portugal). Vários números

 

The Leader. Revista Oficial da Scouts Canada (Canada). Vários números