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    Artigo OriginalRev. Latino-Am. Enfermagem19(4):[07 telas]

    jul.-ago. 2011www.eerp.usp.br/rlae

    Endereço para correspondência:Ana Cristina RossettiHospital Israelita Albert EinsteinAv. Albert Einstein, 627Bairro: MorumbiCEP: 06753-450, São Paulo, SP, BrasilE-mail: [email protected]

    1 Enfermeira, Mestranda em Enfermagem, Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, SP, Brasil. E-mail: [email protected] Enfemeira, Doutora em Enfermagem, Professor Titular, Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, SP, Brasil.

    E-mail: [email protected].

    Abrir um novo hospital é desafio complexo e passível de consequências. Um desses desafios éestimar o quadro de pessoal de enfermagem. O objetivo deste artigo foi relatar o processo adotado

    para estimar o quadro de pessoal de enfermagem em um novo hospital, no Brasil. O quadro

    de enfermagem desse hospital foi projetado segundo o método recomendado pelo Conselho

    Federal de Enfermagem (COFEN). Os resultados foram comparados com o dimensionamento

    de dois hospitais semelhantes, já em funcionamento. Houve diferença significativa (p

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    Estimating the nursing staff required in a new hospital

    Opening a new hospital poses a complex and consequential set of challenges. One of thesechallenges is to estimate the nursing staff. The aim of this article is to report the entireprocess adopted to estimate the required nursing staff for a new Hospital in Brazil. The

    nursing staff was projected according to the Brazilian Federal Nursing Council (Cofen). Weapplied an equation to estimate nursing staff and compared the results with two otherexisting hospitals. A signi cant difference (p

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    para garantir maior segurança aos pacientes (12). Nesseartigo, são considerados pro ssionais de enfermagem os

    enfermeiros e TEs.O quadro de enfermagem pode ser projetado

    considerando as horas de enfermagem por paciente oupela relação enfermeiro/paciente (13-14) e TE/paciente.Algumas metodologias de como proceder, na realizaçãodesse cálculo, foram encontradas na literatura (15-18) .Nessas, foi referido que o quadro de enfermagem podeser projetado com base na relação entre as horas decuidado por paciente e as horas de trabalho disponíveisdos pro ssionais de enfermagem. A variável carga de

    trabalho gerada pelos pacientes, ou seja, o volume detrabalho é indicador fundamental a ser considerado (16,18-19) .Adicionalmente, outras variáveis como licenças legais (15-18), faltas e férias (16-18) também devem ser ponderadas. Um

    dos estudos (15) considerou, também, os picos de demandade paciente em cada unidade durante o dia.

    Para estabelecer o quadro de pro ssionais de

    enfermagem, também é necessário examinar os serviçosde enfermagem, as características dos pacientes e osrecursos disponíveis no hospital (17). Somente com essasinformações será possível estimar o custo e justi car a

    necessidade do investimento a ser realizado (16-17) .Para rever o quadro de pro ssionais de enfermagem

    existente, em um hospital em funcionamento, essasinformações são fundamentais. Entretanto, como deve sercalculado o quadro de pro ssionais de enfermagem em

    um novo hospital? Neste artigo, descreve-se o processoadotado para estimar o quadro de pro ssionais de

    enfermagem necessário para um novo hospital, localizadona cidade de São Paulo, Brasil. Acredita-se que o métodoadotado será útil a outras lideranças e administradoresdas áreas de saúde que estão envolvidos em atividadessimilares a essa, independente do tamanho e localizaçãoda instituição de saúde.

    Método

    Este estudo visa estimar o quadro de pro ssionais

    de enfermagem necessário para unidades de internaçãode um novo hospital (HMMD), localizado em São Paulo,Brasil.

    A quantidade de pro ssionais de enfermagem do

    HMMD foi projetada considerando as recomendaçõese metodologia do Conselho Federal de Enfermagem(Cofen)(17) , bem como o benchmarking com dois hospitaispúblicos de características e porte similares.

    Para determinar quantos enfermeiros e TEs seriamnecessários para assistir os pacientes das unidades deinternação, foram consideradas a estrutura do serviço

    de enfermagem, as características da população da áreade abrangência e as instalações do HMMD propriamenteditas. Algumas projeções foram realizadas tendo em vistaque o HMMD não estava em funcionamento, tais como adistribuição de leitos por especialidade e unidade, a taxade ocupação, a carga de trabalho gerada pelos pacientese as taxas de ausências por férias, faltas e licenças legaisda equipe de enfermagem.

    A diretoria do hospital, inicialmente, estabeleceu omodelo assistencial e o organograma do HMMD. Foi adotadoo modelo de assistência multidisciplinar e decidido o suporteadministrativo necessário aos pacientes e familiares.Também, foram considerados os recursos de saúde jáexistentes na região e as características demográ cas da

    população prevista para utilizar o hospital.O HMMD é um hospital público, de média complexidade,

    gerenciado por organização social, com 240 leitos. Aestrutura de internação inclui unidades de obstetrícia,médico cirúrgicas, psiquiatria, pediatria e unidades deterapia intensiva adulto, pediátrico e neonatal. O hospitalnão possui ambulatório e a admissão do paciente é feitaexclusivamente pelo pronto-socorro.

    O HMMD tem quatro pavimentos. As unidades deinternação estão distribuídas em dois desses pisos. Noprimeiro pavimento, estão localizadas as unidades deterapia intensiva de paciente adulto, pediátrico e neonatal.Todas as medicações necessárias aos pacientes dessasunidades são entregues pela farmácia central, localizadano subsolo. Uma farmácia satélite está localizada noprimeiro pavimento, também para atendimento dessasunidades.

    Na região do HMMD, estão localizadas 13 UBS(unidades básicas de saúde), duas delas especí cas para

    pacientes psiquiátricos, e 33 AMAs (assistência médicaambulatorial) (20).

    O orçamento anual estabelecido pela SecretariaMunicipal de Saúde (SMS), para o novo hospital, foicom base em benchmarking com instituições similares.As metas anuais de produtividade dos hospitais públicosdessa modalidade são avaliadas trimestralmente.Quando a meta não é atingida, a instituição é penalizada

    nanceiramente, recebendo 90% do orçamento projetado

    para o mês subsequente.Para melhor conhecer a população, a ser atendida no

    hospital, foram colhidas informações da região e de outrosserviços de saúde, localizados na área, questionando,inclusive, se estavam equipados e preparados paraatender a população.

    A população que vive na região do HMMD é de537.469 habitantes, sendo 37,4% deles menores de19 anos e 5,7% maiores de 60 anos (21). O crescimento

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    da população dessa região é 2,6 vezes maior do que amédia do município de São Paulo. É população pobre,26% residente em favelas. Em 1996, o Jardim Ângela(bairro onde o HMMD está localizado) foi considerado obairro mais violento pela ONU (22). Atualmente, mortes porcausas violentas é a terceira causa de morte da região, ea primeira é a doença isquêmica do coração (21).

    Com essas informações, foi estimado o quadro depro ssionais de enfermagem necessários, de acordo com

    as recomendações do Cofen (17), em três fases.

    Unidade LeitosTaxa de ocupação

    esperada

    Carga de trabalho esperada

    Cuidado intensivo(17h9)

    Cuidado semi-intensivo(9h4)

    Cuidado intermediário(5h6)

    Cuidado mínimo(3h8)

    Médico-cirúrgica 82 85% (70) - - 140 (25) 171 (45)

    Obstetrícia 50 90% (45) - - 140 (25) 76 (20)

    Pediátrica 40 90% (36) - - 201,6 (36) -

    Terapia intensiva adulto 20 100% (20) 179 (10) 94 (10) - -

    Terapia intensiva pediátrica 10 100% (10) 89,5 (5) 47(5) - -

    Terapia intensiva neonatal 26 80% (21) 89,5 (5) 84,6 (9) 39,2 (7) -

    Na primeira fase, foram estimadas as taxas deocupação de cada unidade e a carga média de trabalhogerada pelos pacientes de cada unidade, de acordo com oSistema de Classi cação de Pacientes, recomendado pelo

    Cofen(17) (Tabela 1).A carga média de trabalho expressa em horas,

    por dia, foi calculada com base na ocupação esperada.A quantidade de leitos previstos, segundo a taxa deocupação esperada, está entre parênteses, conforme aTabela 1.

    Tabela 1 - Taxa de ocupação e cargas de trabalho estimadas, segundo o tipo de cuidado, para as unidades de internaçãodo HMMD. A carga de trabalho está expressa em horas por dia e calculada com base na ocupação esperada. A quantidadede leitos está entre parênteses

    Para estimar a carga média de trabalho foi aplicada aequação, mostrada a seguir, adaptada do Cofen (17):

    W = x j n j hΣEm que:

    W = carga média de trabalho gerada pelospacientes

    j n = média da quantidade de pacientes por tipo decuidado (j) e

    j h = média do tempo em horas por tipo de cuidado(j) .

    Na segunda fase, foi calculada a quantidade deenfermeiros e TEs, considerando:- para a assistência a pacientes de cuidados intensivos,52% devem ser enfermeiros e 48% TEs;- para a assistência a pacientes de cuidados semi-intensivos, 42% devem ser enfermeiros e 58% TEs;- para a assistência a pacientes que necessitam decuidados mínimos ou intermediários, 33% devem serenfermeiros e 67% TEs;- os pro ssionais de enfermagem trabalham em plantão

    de seis horas diárias, não podendo ultrapassar 36 horasna semana

    - um mês tem, em média, 4,2 semanas;- as unidades de internação funcionam 24 horas por dia,nos sete dias da semana;- o índice de segurança técnica (IST) para as ausências,como férias, faltas e licenças legais utilizado, foi de 1,15.

    Considerando todos os pontos anteriores, foi aplicadaa equação, adaptada do Cofen (17), mostrada abaixo.

    Q k = P k % x 7 x 1,15W WTE

    Em que:

    Q k = quantidade de pro ssionais de enfermagem

    P k % = percentual de enfermeiros e TEs

    W = carga média de trabalho projetada eWTE = total de horas disponíveis na semana.

    Na última fase, o quantitativo de enfermagemestimado para o HMMD, de acordo com as recomendaçõesCofen(17) , foi comparado ao quantitativo de enfermagemde dois hospitais públicos similares. Devido à diferença naquantidade de leitos de cada hospital, para possibilitar a

    comparação, foi criado um indicador dividindo a quantidadede enfermeiros e TEs pela quantidade de leitos de cadaunidade, em cada hospital. Para comparar os resultados,

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    esse indicador foi multiplicado pelo número de leitos doHMMD. Finalmente, foi ajustado o percentual de enfermeirose TEs ao orçamento e submetido à diretoria do HMMD.

    Para comparar as proporções entre enfermeiros eTEs recomendadas pelo Cofen (17) e pelos dois hospitais,foi aplicado o teste qui-quadrado de Pearson. Osvalores de p

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    Discussão

    O processo adotado para estimar o quadro deenfermagem necessário para o novo hospital forneceufortes argumentos para justi car o orçamento,

    considerado necessário para estabelecer a nova equipe deenfermagem.

    Quanto à quantidade de pro ssionais de enfermagem,

    aprovada pela diretoria do HMMD, o total de pro ssionais

    foi semelhante ao total recomendado pelo Cofen (17) e aencontrada no Bench 1 e Bench 2. No entanto, diferençasigni cativa (p

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    Recebido: 2.4.2010Aceito: 17.9.2010p4

    Como citar este artigo:Rossetti AC, Gaidzinski RR. Estimativa do quadro de pessoal de enfermagem em um novo hospital. Rev. Latino-Am.

    Enfermagem [Internet]. jul.-ago. 2011 [acesso em: ___ ___ ___];19(4):[07 telas]. Disponível em: ___________ ___________________________

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