Manual de Diagnóstico, Tratamento, Prevenção e Controle de Doenças Para o Veterinário

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PARTE I SISTEMAS SANGÜÍNEO, LINFÁTICO E CARDIOVASCULAR SISTEMAS SANGÜÍNEO E LINFÁTICO, Introdução .................................. 3 Éritron ..................................................................................................... 3 Sistema Fagocítico .................................................................................. 5 Sistema Imunoespecífico ......................................................................... 6 Trômbon ................................................................................................... 7 SISTEMA CARDIOVASCULAR, Introdução ............................................... 8 Princípios de Terapia ............................................................................... 15 ANEMIA ..................................................................................................... 18 Anemias por Hipofunção da Medula Óssea ............................................ 20 Redução da Produção de Eritrócitos ................................................. 20 Lesão nas Células Precursoras da Medula ................................. 20 Substituição da Medula por Células Atípicas ............................... 20 Anemia Nutricional ....................................................................... 21 Redução da Produção de Hemoglobina ........................................... 21 Síntese de Heme Deficiente ........................................................ 21 Síntese de Globina Deficiente ..................................................... 22 Colapso Medular Imunomediado ....................................................... 22 Tireoidite Auto-imune ................................................................... 22 Drogas .......................................................................................... 22 Infecções Virais com Supressão da Medula ...................................... 22 Anemias por Perda de Eritrócitos Atípicos .............................................. 23 Eritrócitos com Conteúdo Enzimático Deficiente ............................... 23 Anemias Imunomediadas .................................................................. 24 Anemia Hemolítica Auto-imune ................................................... 24 Anemia Hemolítica do Bezerro Neonato ...................................... 25 Anemia Hemolítica do Potro Neonato .......................................... 26 Anemia Hemolítica do Leitão Neonato ........................................ 27 Anemia Hemolítica de Cães e Gatos Neonatos .......................... 28 Anemia Hemolítica por Fragmentação Intravascular ......................... 28 Anemia por Perda de Eritrócitos Normais ................................................ 29 Hemólise ............................................................................................ 29 Hemorragia e Parasitismo ................................................................. 31 Anemia Infecciosa Eqüina ....................................................................... 32 Anemia Infecciosa Felina ......................................................................... 33 GRUPOS SANGÜÍNEOS E TRANSFUSÕES SANGÜÍNEAS ...................... 34 Testes de Tipagem Sangüínea ................................................................ 35 Aplicação da Grupagem Sangüínea ........................................................ 35 Técnicas de Reação Cruzada ............................................................ 36 Transfusão de Sangue ............................................................................. 36 Riscos da Transfusão ........................................................................ 37 LEUCOSE BOVINA (ver GEN) ...................................................................... 472

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PARTE I

SISTEMAS SANGÜÍNEO, LINFÁTICO ECARDIOVASCULAR

SISTEMAS SANGÜÍNEO E LINFÁTICO, Introdução .................................. 3Éritron ..................................................................................................... 3Sistema Fagocítico .................................................................................. 5Sistema Imunoespecífico ......................................................................... 6Trômbon ................................................................................................... 7

SISTEMA CARDIOVASCULAR, Introdução ............................................... 8Princípios de Terapia ............................................................................... 15

ANEMIA ..................................................................................................... 18Anemias por Hipofunção da Medula Óssea ............................................ 20

Redução da Produção de Eritrócitos ................................................. 20Lesão nas Células Precursoras da Medula ................................. 20Substituição da Medula por Células Atípicas ............................... 20Anemia Nutricional ....................................................................... 21

Redução da Produção de Hemoglobina ........................................... 21Síntese de Heme Deficiente ........................................................ 21Síntese de Globina Deficiente ..................................................... 22

Colapso Medular Imunomediado ....................................................... 22Tireoidite Auto-imune ................................................................... 22Drogas.......................................................................................... 22

Infecções Virais com Supressão da Medula ...................................... 22Anemias por Perda de Eritrócitos Atípicos .............................................. 23

Eritrócitos com Conteúdo Enzimático Deficiente ............................... 23Anemias Imunomediadas .................................................................. 24

Anemia Hemolítica Auto-imune ................................................... 24Anemia Hemolítica do Bezerro Neonato ...................................... 25Anemia Hemolítica do Potro Neonato .......................................... 26Anemia Hemolítica do Leitão Neonato ........................................ 27Anemia Hemolítica de Cães e Gatos Neonatos .......................... 28

Anemia Hemolítica por Fragmentação Intravascular ......................... 28Anemia por Perda de Eritrócitos Normais ................................................ 29

Hemólise ............................................................................................ 29Hemorragia e Parasitismo ................................................................. 31

Anemia Infecciosa Eqüina ....................................................................... 32Anemia Infecciosa Felina ......................................................................... 33

GRUPOS SANGÜÍNEOS E TRANSFUSÕES SANGÜÍNEAS ...................... 34Testes de Tipagem Sangüínea ................................................................ 35Aplicação da Grupagem Sangüínea ........................................................ 35

Técnicas de Reação Cruzada ............................................................ 36Transfusão de Sangue ............................................................................. 36

Riscos da Transfusão ........................................................................ 37

LEUCOSE BOVINA (ver GEN)...................................................................... 472

LINFOMA MALIGNO CANINO ...................................................................... 38

ANOMALIAS CONGÊNITAS E HEREDITÁRIAS ......................................... 40Anomalias das Derivações dos Arcos Aórticos ....................................... 41

Duto Arterioso Patente ....................................................................... 41Arco Aórtico Direito Persistente ......................................................... 42

Estenose Aórtica ...................................................................................... 42Estenose Pulmonar .................................................................................. 43Defeitos do Septo .................................................................................... 43

Comunicação Interatrial ..................................................................... 43Comunicação Interventricular ............................................................ 44

Tetralogia de Fallot .................................................................................. 45

LINFOSSARCOMA E LEUCEMIA FELINOS ................................................ 46

CARDIOPATIAS ............................................................................................ 47Bulhas e Murmúrios Cardíacos ................................................................ 48Arritmias ................................................................................................... 50Hipertrofia Cardíaca ................................................................................. 54Insuficiência Cardíaca .............................................................................. 55Endocárdio ............................................................................................... 58Miocárdio .................................................................................................. 60Pericárdio e seu Conteúdo ...................................................................... 62

DISTÚRBIOS HEMOSTÁTICOS ................................................................... 63Distúrbios Hereditários ............................................................................. 63Distúrbios Adquiridos ............................................................................... 64

Trombocitopenia ................................................................................ 67Trombocitopenias Canina e Felina .............................................. 68Trombocitopenias Bovina e Suína ............................................... 69

Púrpura não Trombocitopênica Eqüina ............................................. 70

DISTÚRBIOS DOS LEUCÓCITOS ................................................................ 71Leucocitose e Leucopenia ....................................................................... 71Síndrome de Chédiak-Higashi ................................................................. 76Hematopoiese Cíclica em Cães Collie Cinza .......................................... 76Anomalia de Pelger-Huët ......................................................................... 77

LINFADENITE E LINFANGITE ..................................................................... 77Linfadenite Caseosa das Ovelhas e Cabras ............................................ 77Infecção dos Cavalos e Gado por Corynebacterium

pseudotuberculosis ............................................................................ 79Linfangite Epizóotica (ver GEN) ............................................................... 418Melioidose (ver GEN) ............................................................................... 435Garrotilho (ver RES)................................................................................. 901Linfadenite Estreptocócica dos Suínos .................................................... 80

DOENÇAS PARASÍTICAS ............................................................................ 81Anaplasmose ........................................................................................... 81Babesiose ................................................................................................ 83Doenças Rickettsiais Caninas (ver GEN) ................................................ 497Citazoonose ............................................................................................. 86Eperitrozoonose ....................................................................................... 87Ehrlichiose Eqüina (ver GEN) .................................................................. 453Doenças por Dirofilária ............................................................................ 87

Dirofilariose ........................................................................................ 87

Sistemas Sangüíneo, Linfático e Cardiovascular 2

Infecção por Angiostrongylus vasorum .............................................. 90Esquistossomíase (Trematódeos Sangüíneos) ....................................... 91Teileríases................................................................................................ 92

Febre da Costa Oriental ..................................................................... 93Outras Teileríases .............................................................................. 94

Tripanossomíase ..................................................................................... 95Tripanossomíase Transmitida pela Mosca Tsé-tsé ........................... 95Surra .................................................................................................. 97Sífilis Eqüina ...................................................................................... 97Doença de Chagas ............................................................................ 99Tripanossomos Não Patogênicos de Animais Domésticos ............... 99

POLIARTERITE (ver IM) ............................................................................... 522

POLICITEMIA ................................................................................................ 99

TROMBOSE, EMBOLISMO E ANEURISMA ................................................ 101

VASCULITE (ver IM) ..................................................................................... 521

SISTEMAS SANGÜÍNEO E LINFÁTICO,INTRODUÇÃO

No nível celular, o sistema hemolinfático é composto por hemácias (eritrócitos),plaquetas, granulócitos (neutrófilos, eosinófilos e basófilos), monócitos/macrófagose linfócitos. Os órgãos do sistema incluem os hematopoiéticos (medula óssea ebaço) e os tecidos linfopoiéticos (medula óssea, timo, linfonodos, tonsilas, baço eplacas de Peyer). Devido à diversidade funcional do sistema hemolinfático, seusdistúrbios podem ser melhor discutidos através de uma perspectiva funcional.Diversas unidades funcionais estão presentes: o éritron, o trombócito (plaquetas),o sistema fagocítico (granulócitos e macrófagos) e o sistema imunoespecífico(linfócitos) (ver também SISTEMA IMUNE, pág. 509 ).

Éritron

A função do éritron é carregar oxigênio para os tecidos a uma determinadapressão que permita sua rápida difusão do sangue para as células em metabo-lismo. Tudo isso é feito por: 1. uma molécula carreadora (hemoglobina [Hb]); 2.um veículo (eritrócito) capaz de trazer intacta a molécula carreadora no nívelcelular; e 3. um metabolismo gerado para a proteção tanto do veículo quanto damolécula carreadora a partir da lesão. Qualquer interferência na síntese dehemoglobina, produção de eritrócitos ou metabolismo dos mesmos causarádistúrbios do éritron.

A hemoglobina (Hb) é uma molécula complexa, cujos principais componentes sãoporfirina, heme e globina. Cada molécula é ligada a quatro unidades heme ligadasa 4 globinas (2 α e 2 β-globinas). Uma vez que cada heme possui uma molécula deferro carreadora de oxigênio, cada hemoglobina pode carrear 4 moléculas deoxigênio para os tecidos. A síntese de heme ocorre enzimaticamente nas mitocôn-drias e envolve uma série de reações de condensação que requerem fosfato piridoxale cobre. O ferro é adicionado na última etapa pela enzima ferroquelatase. Muitas das

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etapas, incluindo a incorporação do ferro, podem ser bloqueadas por chumbo. Asíntese de globina é controlada geneticamente e regula a produção de heme.

Interferências na produção normal de heme ou globina levam a uma anemiade defeito de maturação citoplasmática. As causas incluem deficiências de cobre,ferro, fosfato piridoxal e intoxicação por chumbo. As talassemias e hemoglobinopa-tias, importantes doenças genéticas descritas no homem, não foram observadas emanimais. Nessas condições, a produção de globinas (α ou β, ou ambas) não regulaa produção de heme, e a Hb não é funcional.

A massa de hemácias, e portanto a capacidade de carrear oxigênio, permanececonstante com o passar do tempo no indivíduo normal. Hemácias maturas possuemum período de vida finito e sua produção e destruição devem ser cuidadosamentereguladas, pois do contrário resultará numa doença.

A eritropoiese é regulada pela eritropoietina (que regula a produção normal e aestimula quando há demanda). Hipoxia tecidual é o estímulo para a produção deeritropoietina e, na maioria das espécies, acredita-se que o rim seja tanto o órgãosensor como o maior sítio de produção. A eritropoietina age na medula em conjuntocom outros mediadores humorais para aumentar o número de células precursoras(“stem cells”) iniciando a produção de eritrócitos, para reduzir seu tempo dematuração e para causar uma liberação adiantada de reticulócitos. Há muitos outrosfatores envolvidos na eritropoiese, muitos dos quais permanecem insuficientementecompreendidos. Estes incluem o suprimento de nutrientes (ferro, folato, vitaminaB12); distúrbios tais como inflamações, infecções, neoplasias, insuficiência renal ouendócrina, interações célula-célula entre precursores eritróides, células linfóides eoutros componentes do microssistema hematopoiético.

A destruição dos eritrócitos também é regulada. Existem dois mecanismos paraa remoção de hemácias senescentes; ambos conservam os principais constituintesda célula para reutilização. Aproximadamente 1% das hemácias envelhecidasnormalmente são removidas por hemólise intravascular, liberando a Hb; esta érapidamente convertida em dímeros de Hb, que formam complexos com haptoglo-bina e são transportados para o fígado. Uma porção da hemoglobina livre tambémpode ser convertida em metemoglobina, que é rapidamente quebrada em heme eglobina. As cadeias proteicas de globina podem ser imediatamente recicladas; oheme é ligado a uma segunda proteína sérica carreadora, hemopexina, e transpor-tado para o fígado e baço para ser processado pelo sistema monócito/macrófagofixo. Tais sistemas de transporte podem operar para aproximadamente 100g deHb/dL; quando se ultrapassa este nível, como em anemias hemolíticas intra-vasculares, a hemoglobina (e portanto o ferro) é excretada na urina.

A remoção da maioria dos eritrócitos envelhecidos normalmente se faz porfagocitose pelos macrófagos fixos do baço. À medida que a célula envelhece, elaperde sua flexibilidade devido a uma queda na produção de trifosfato de adenosina(ATP) e acaba presa dentro do baço, pois é incapaz de se moldar para percorrer ossinusóides esplênicos. Após a fagocitose, a Hb é convertida em heme e globina e,mais tarde, é reciclada. O ferro é liberado da metade heme e armazenado pelomacrófago como ferritina ou hemossiderina, ou liberado na circulação para otransporte de volta à medula. A porfirina restante é convertida em bilirrubina livre,que é liberada pelos macrófagos na circulação sistêmica, onde se complexa com aalbumina para transporte aos hepatócitos. Em anemias hemolíticas extravasculares,os eritrócitos têm um período de vida diminuído e os mesmos mecanismos ocorremem um nível acelerado.

O metabolismo normal dos eritrócitos mantém tanto a integridade estrutural comofuncional da célula. A principal via metabólica dos eritrócitos é a glicólise, e na maioriadas espécies a principal fonte de energia é a glicose. A glicose penetra no eritrócitopor um mecanismo insulina-independente e na maior parte é metabolizada pela

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glicólise, produzindo ATP e NADH (nicotinamida adenina dinucleotídio) reduzido. Aenergia do ATP é usada para a manutenção das bombas da membrana do eritrócitoque, por sua vez, são responsáveis pela forma e flexibilidade das hemácias. Opotencial de redução do NADH é utilizado na via de metemoglobina redutase para amanutenção do ferro na Hb na sua forma reduzida.

A glicose não utilizada na glicólise é metabolizada por uma segunda via: o “shunt”hexose monofosfato (HMP). Ao contrário da via metemoglobina redutase, não seproduz nenhuma energia por HMP; entretanto, seu principal efeito é o potencial deredução, desta vez na forma de NADPH (nicotinamida adenina dinucleotídio fosfato).Esta, em conjunção com o sistema glutationa redutase/peroxidase, mantém osgrupos sulfidrilas da globina em seu estado reduzido. A principal enzima do HMP éa glicose-6-fosfato desidrogenase.

Muitos distúrbios de eritrócitos são conseqüência direta de metabolismo deeritrócitos anormal: interferência na glicólise (por exemplo, deficiência herdadade piruvatocinase , uma deficiência chave de enzima glicolítica) causa deficiênciade ATP, que leva a um período de vida de hemácias reduzido e anemiahemolítica. Um estresse oxidante excessivo pode sobrecarregar o “shunt” deHMP protetor ou a metemoglobina redutase, causando hemólise de corpúsculode Heinz ou formação de metemoglobina, respectivamente. Muitas anemiashemolíticas induzidas por drogas, como a hemólise pela fenotiazina em cavalosou a hemólise por azul-de-metileno em gatos, são exemplos desse mecanismo(ver também ANEMIA, pág. 20 ).

Sistema fagocítico(Sistema imune não específico)

A principal função dos fagócitos é a de defesa contra microrganismos invasores,ingerindo-os e destruindo-os; e por isso eles constituem um importante componenteda resposta celular inflamatória. Há 2 tipos de fagócitos: os mononucleares e osgranulócitos. Os fagócitos mononucleares surgem primariamente da medula e sãoliberados no sangue como monócitos, onde podem circular por várias horas antes deentrar nos tecidos, quando se diferenciam em macrófagos teciduais. Granulócitospossuem um núcleo segmentado e são classificados de acordo com suas caracte-rísticas cromáticas em basófilos, eosinófilos ou netrófilos. Foram identificados cincoestágios diferentes no processo de fagocitose : 1. atração do fagócito (quimiotaxia)aos microrganismos; 2. adesão ao organismo; 3. ingestão; 4. fusão de lisossomoscelulares com os microrganismos ingeridos e morte bacteriana; e 5. digestão.

Além da função fagocítica geral, muitas células possuem outras funções espe-cializadas. Os monócitos formam um elo com o sistema de imunidade específico,processando e apresentando antígenos aos linfócitos. Estes também são ligados aoseritrócitos através de armazenamento e liberação de ferro para a síntese dehemoglobina. Os eosinófilos, embora exerçam um papel como fagócitos, tambémpossuem funções mais específicas, como a defesa contra parasitas metazoários ea modulação de processos inflamatórios. Eles respondem quimiotaticamente àhistamina, complexos imunes e ao fator quimiotático de eosinófilos de anafilaxia, umasubstância liberada pela degranulação de mastócitos. A eosinofilia pode ser obser-vada em reações alérgicas sistêmicas e doenças parasitárias. Basófilos não sãofagócitos verdadeiros, mas contêm grandes quantidades de histamina além deoutros mediadores da inflamação, e são importantes na progressão normal daresposta inflamatória aguda. Assim como os eritrócitos, a produção de níveissangüíneos de fagócitos é regulada e controlada rigidamente por uma série defatores humorais, incluindo fatores estimulantes de colônia e interleucinas. Por outrolado, diferente da hemácia, que permanece circulando no sangue, o fagócito usa estecompartimento como uma estrada para os tecidos. Conseqüentemente, os níveis

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sangüíneos dessas células podem refletir uma série de circunstâncias nos tecidos,como inflamação (duração e intensidade) e habilidade da medula óssea em suprir ademanda tecidual para fagócitos. A sensibilidade com que fagócitos sangüíneosrefletem essas condições varia de espécie para espécie. Respostas anormais defagócitos podem resultar em doença. Finalmente, precursores de fagócitos podemsofrer transformações malignas, resultando em leucemia.

Sistema imunoespecífico

Os linfócitos são responsáveis tanto pela imunidade humoral quanto celular.Células desses 2 ramos do sistema imune não podem ser diferenciadas morfologi-camente, porém elas diferem em sua dinâmica de produção e circulação. Aprodução de linfócitos nos mamíferos origina-se na medula óssea, e a diferenciaçãose faz por 2 vias diferentes. Uma porção dos linfócitos migra para o timo, e lá, sobinfluência de hormônios tímicos, diferencia-se em “células T” que são responsáveispela imunidade celular. Algumas dessas células T semeiam os órgãos linfóidessecundários (baço e linfonodos). Os linfócitos restantes migram diretamente para osórgãos linfóides secundários sem passar por modificações no timo e tornam-se“células B”, que são responsáveis pela imunidade humoral.

Assim, os órgãos linfóides secundários possuem uma população tanto delinfócitos T como de linfócitos B. Nos linfonodos, os centros foliculares são basica-mente células B, e as zonas parafoliculares são primariamente células T. No baço,a maioria dos linfócitos da polpa vermelha são células B, enquanto os linfócitos dascamadas periarteriolares são células T. É essencial para a função imune umaassociação próxima entre células B e T nos órgãos linfóides; a produção deanticorpos por células B é regulada por células T.

O funcionamento dos linfócitos na imunidade celular tem tanto seus componen-tes aferentes (receptores) como eferentes (executores). As células T de longa vidado sangue periférico (que totalizam , 2/3 dos linfócitos circulantes na maioria dasespécies) são receptoras. Respondendo a antígenos aos quais foram previamentesensibilizadas, elas deixam a circulação e sofrem transformações, tornando-secélulas T ativadas, que por sua vez irão levar outras células T a sofrerem transfor-mações blásticas, tanto local como sistematicamente. A maioria das células Testimuladas dessa maneira são células executoras e produzem substâncias conhe-cidas como linfocinas. As linfocinas executoras possuem um largo espectro deatividades segundo o qual são nomeadas; o fator ativador de macrófagos atraimacrófagos para as áreas de localização do antígeno; o fator de inibição demigração evita a saída de macrófagos; as linfotoxinas, produzidas pelas células T“killer”, são capazes de destruir uma variedade de tipos celulares.

O sistema imuno-humoral é composto por linfócitos B que produzem anticorposde diversos tipos; sua ativação é semelhante àquela dos linfócitos T. Quando oantígeno encontra os linfócitos B sensibilizados, estes sofrem transformações blás-ticas e se dividem. Linfócitos B ativados diferenciam-se em plasmócitos, a principalfonte de anticorpos. Portanto, cada linfócito B inicialmente estimulado produz clonesde plasmócitos, todos produzindo o mesmo tipo de anticorpo específico.

As moléculas do anticorpo (imunoglobulinas [Ig]) são divididas em: IgG, IgM,IgA, IgD e IgE. Nem todos os tipos foram descritos em todas as espécies. Cadaclasse de anticorpo possui sua própria característica funcional; por exemplo, IgAé o principal anticorpo das secreções respiratória e intestinal, enquanto IgG é oprincipal anticorpo do sangue circulante e IgE é o principal anticorpo envolvido emreações alérgicas.

Os anticorpos executam sua função combinando-se com os antígenos espe-cíficos que estimularam sua produção. Os complexos antígeno-anticorpo podem

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ser especificamente quimiotáticos para fagócitos, ou podem ativar o complemen-to, um processo que produz tanto lise celular como substâncias quimiotáticaspara neutrófilos e macrófagos. Dessa maneira, o sistema imuno-humoral relacio-na-se e interage com o sistema imune não específico.

O sistema imuno-humoral também está relacionado ao sistema imune nãoespecífico e ao sistema imunocelular de outros modos. Há boas evidências de queuma das principais funções do sistema imunocelular é regular o sistema imuno-humoral. Foram descritas classes de célulasT “helper” e “supressoras”. Células T“helper” são requisitadas para a expressão completa de uma resposta imuno-humoral;células T supressoras anulam a produção de um dado anticorpo. Células T “killer”destroem tipos celulares estranhos. O processamento de antígenos por macrófagosprecede o reconhecimento do antígeno pelos linfócitos. Estes processos complexostambém são envolvidos na detecção de células neoplásicas e auto-reconhecimento.

A resposta linfocítica num distúrbio pode ser apropriada (ativação do sistemaimune) ou inapropriada (distúrbios imunomediados e linfoproliferativos) (ver tam-bém SISTEMA IMUNE, pág. 509 ). Uma forma de distúrbio imunomediado resulta dafalha do sistema imune em reconhecer tecidos do hospedeiro como próprios. Porexemplo, em anemia hemolítica auto-imune são produzidos anticorpos contra ashemácias do próprio hospedeiro. Uma outra resposta inapropriada do sistemaimune é a anafilaxia. Em indivíduos alérgicos, anticorpos IgE a alérgenos sãoligados à superfície de basófilos e mastócitos. Quando ocorre a exposição aoalérgeno, formam-se complexos antígeno-anticorpo e a degranulação dos mastó-citos e basófilos libera grandes quantidades de aminas vasoativas que causamchoque.

As doenças linfoproliferativas são de diversos tipos e incluem o linfossarcoma eas leucemias linfocíticas. Apesar da maioria representar processos neoplásicosverdadeiros, algumas representam reações do organismo e são benignas, porexemplo, a linfocitose persistente do gado infectado com o vírus da leucemia bovinae o grande número de linfócitos atípicos algumas vezes observado na circulação deanimais vacinados com vírus vivo modificado.

Trômbon

Funcionalmente, as plaquetas formam o tampão hemostático inicial quandoocorrem hemorragias; elas também são a fonte de fosfolipídios (Fator 3 de plaquetas[FP3]), que são usados no processo normal de coagulação. As plaquetas têm umpapel importante na resposta inflamatória através da liberação de vários mediado-res. São produzidas na medula óssea a partir de megacariócitos, cujo controle deregulação ainda é pouco compreendido. A produção real das plaquetas ocorre coma invaginação da membrana celular dos megacariócitos, e a formação de canaiscitoplasmáticos e ilhotas. As ilhotas citoplasmáticas produzem as plaquetas pelafragmentação do megacariócito.

Plaquetas maduras circulantes estão densamente cheias de estruturas quecontêm substâncias funcionais, incluindo grânulos densos contendo ATP, difosfatode adenosina (ADP) e Ca++, bem como serotonina, lisossomos, glicogênio, mitocôn-drias e um sistema canalicular intracelular formado pelas invaginações da membra-na celular externa da plaqueta. Glicogênio e mitocôndrias estão envolvidos naprodução de energia; os grânulos densos contêm as substâncias químicas essen-ciais necessárias para a regulação e modulação da função plaquetária (e em certograu da função inflamatória) através da reação de liberação; e o sistema canalicularfunciona tanto como um sistema de transporte para os componentes do grânuloquanto como uma fonte de FP3, que são encontrados em altas concentrações norevestimento da membrana dos canais.

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Quando a parede de um vaso é danificada, há exposição de colágeno e asplaquetas circulantes se aderem e sofrem mudanças na forma com a liberaçãosimultânea de ADP. O ADP estimula a agregação local de plaquetas com a formaçãodo tampão primário das mesmas. A mudança na forma das plaquetas e a reação deliberação expõem o FP3 aos fatores de coagulação, proporcionando assim umasuperfície para coagulação e acelerando o processo de formação de fibrina e daprópria coagulação. O acúmulo de fibrina e plaquetas no local é conhecido comoformação de coágulo ou tampão hemostático. O coágulo se consolida com a açãode proteínas contráteis das plaquetas.

Distúrbios plaquetários podem ser tanto quantitativos (trombocitopenias outrombocitoses) quanto qualitativos (trombocitopatias). A trombocitopenia é uma dascausas mais comuns de distúrbios de sangramento em animais. Em geral, os níveisde plaquetas devem cair a < 50.000/µL antes de haver algum perigo de hemorragia.Existem 3 formas de trombocitopenia: distributiva, destrutiva e hipoproliferativa.

As trombocitopenias destrutivas ou consumidoras são as mais importantes. Sãocondições nas quais há uma remoção aumentada de plaquetas, além de um aumentoda produção pela medula óssea. Uma forma comum de trombocitopenia consumidoraocorre com a coagulação intravascular disseminada (CID), secundária a uma varieda-de de doenças. Uma segunda forma é imunomediada, sendo as plaquetas cobertas poranticorpos antiplaquetários e removidas da circulação por sistema de fagócitos fixos.

As trombocitopenias distributivas são associadas com o excessivo seqüestro deplaquetas pelo baço, tal como ocorre no hiperesplenismo ou na insuficiênciacardíaca congestiva em cães. Tem-se estimado que, em casos de hiperesplenismo,até 80% de todas as plaquetas circulantes podem ser seqüestradas.

As trombocitopenias hipoproliferativas caracterizam-se por uma diminuição daprodução de plaquetas na medula. Estas condições são freqüentemente idiopáti-cas, mas podem ser causadas por uma série de drogas (por exemplo, diuréticostiazídicos e sais de ouro) ou associadas com síndromes mielotísicas ou mielofibróides.

Trombocitoses ocorrem raramente e com freqüência são idiopáticas. Podem serassociadas a distúrbios primários de medula e sua ocorrência é bem documentadaem mielofibrose, tanto no homem como no cão. Leucemia plaquetária (mielosemegacariocítica ou trombocitemia primária) também é rara, mas já foi documentadano homem, cão e gato.

As trombocitopatias compreendem um grupo de doenças pouco definido, no qualo número de plaquetas é normal, porém sua função é deficiente. Diversas condiçõesjá foram descritas, entre as quais as mais importantes são as deficiências de FP3e serotonina plaquetária; disfunção plaquetária induzida por drogas; disfunçõeshepática, tireóidea e renal; e trombastenia, na qual a retração do coágulo édeficiente. A doença de von Willebrand, que tem sido relatada em cães, porcos ecoelhos, caracteriza-se tanto por um defeito de coagulação do plasma como portrombocitopatia (ver também D ISTÚRBIOS HEMOSTÁTICOS, pág. 182 ).

SISTEMA CARDIOVASCULAR,INTRODUÇÃO

O sistema cardiovascular é o sistema de transporte que leva oxigênio, substratos,hormônios e reguladores químicos para todas as células; transporta dióxido decarbono e outros produtos nocivos do metabolismo das células para os pulmões ou

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rins; e redistribui o calor do corpo para o exterior ou vice-versa. Isto é realizado porum sistema fechado de vasos que contêm sangue, que por sua vez carrega assubstâncias a serem transportadas. O sangue se move através do sistema devidoa gradientes de pressão produzidos pela ação bombeadora do coração. O ventrículoesquerdo bombeia o sangue das veias pulmonares (mantendo a pressão venosapulmonar baixa) para o interior das artérias sistêmicas (mantendo a pressão arterialsistêmica alta), enquanto o ventrículo direito bombeia sangue das veias sistêmicas(mantendo aquela pressão baixa) para o interior das artérias pulmonares (mantendoaquela pressão alta). Estes gradientes de pressão (altos nas artérias e baixos nasveias) impulsionam o sangue através das circulações capilares (sistêmicas epulmonares), onde as substâncias são trocadas entre o sangue e as células. Asválvulas presentes no coração e nas veias asseguram um fluxo unidirecional.

A quantidade de sangue que o coração bombeia a cada minuto (débito cardíaco)é o produto da freqüência cardíaca (bpm) pelo volume de sangue bombeado a cadabatimento (volume sistólico). Normalmente, o débito cardíaco é , 100mL/kg pesocorporal/min. Quanto menor o animal (por exemplo, cão versus cavalo), maior odébito cardíaco/unidade de peso corporal. Durante o exercício, o débito cardíacopode aumentar até 10 vezes, principalmente (, 80%) devido a um aumento nafreqüência cardíaca, e um pouco por causa de um aumento do volume sistólico.

Vários parâmetros de funções cardíacas são importantes para a compreensãodas doenças e seu controle. Ritmo cardíaco, contratilidade, pré-carga e pós-cargasão 4 determinantes importantes do desempenho cardíaco que devem ser avalia-dos em pacientes suspeitos de cardiopatias. O número de bpm é determinado pelataxa de descarga do nódulo sinoatrial (SA) localizado na junção da veia cava cranialcom o átrio direito. A taxa de descarga e a velocidade de condução são determina-das pelo equilíbrio entre a atividade eferente β-adrenérgica (aumenta o ritmocardíaco) e a atividade eferente vagal (diminui o ritmo cardíaco). Agentes quemimetizam a atividade β-adrenérgica (por exemplo, adrenalina, isoproterenol) ace-leram, e agentes que mimetizam atividade eferente vagal (por exemplo, edrofônio,acetilcolina) desaceleram tanto o ritmo cardíaco como a velocidade de condução.Agentes bloqueadores β-adrenérgicos (por exemplo, propranolol, atenolol) ouagentes vagolíticos (por exemplo, atropina, glicopirrolato) diminuem ou aumentamo ritmo cardíaco e a condução, respectivamente. O ritmo cardíaco de um cão emrepouso é normalmente irregular, aumentando durante a inspiração e diminuindodurante a expiração, no que é denominado arritmia sinusal respiratória. O ritmocardíaco torna-se regular e mais rápido quando em exercício, excitação, febre, dorou diversos estados mórbidos.

As cavidades do coração normalmente pulsam em uma seqüência ordenada ecoordenada, na medida em que é determinada pelas suas estimulações elétricas.Após a descarga do nódulo sinoatrial, o impulso se espalha pelos átrios, cria a ondaP do eletrocardiograma e inicia a contração atrial (sístole atrial). Enquanto a ondase distribui através dos ventrículos, ela produz o complexo QRS do eletrocardiogra-ma e inicia a contração ventricular (sístole ventricular). Na diástole, as cavidades docoração são relaxadas e preenchidas por sangue. O mais fraco elo deste sistemade condução atrioventricular é o nódulo atrioventricular (AV). Este nódulo possuicondução lenta e às vezes falha nesta condução (bloqueio AV).

A força de contração ventricular depende de 2 aspectos principais: a contratilida-de do miocárdio (inotropia) e o volume de sangue na cavidade justo antes daocorrência da contração (pré-carga). Inotropia é uma propriedade intrínseca domúsculo, mas que aumenta com altos níveis (tanto humorais como neurais) decatecolaminas, e diminui com o estímulo eferente vagal aumentado e com a maioriados estados mórbidos (por exemplo, inflamação do miocárdio, intoxicação pordrogas, miocardiopatias). A pré-carga é determinada pelo volume de sangue

Sistema Cardiovascular, Introdução 9

existente no sistema cardiovascular, retorno venoso do sangue ao coração, forçacom que os átrios bombeiam sangue para os ventrículos e rigidez do miocárdioventricular. A lei de Frank-Starling determina que quanto maior for a pré-carga, maiorserá a força de contração, permanecendo todos os outros fatores constantes.Obviamente, a força gerada pelo ventrículo também é determinada pela resistênciaencontrada pelo mesmo (pós-carga): se a pressão sangüínea arterial é baixa, oventrículo não gera muita força, apesar de mover facilmente o sangue das veias paraas artérias; do mesmo modo, se a pressão arterial estiver alta, o ventrículo poderágerar grande força, porém pouco sangue estará sendo transportado.

Esta diferença (pressão de pulso) entre pressão arterial sistólica e diastólica édeterminada pelo volume sistólico, complacência arterial, intervalo entre pulsaçõescardíacas e o volume de sangue que deixa as artérias durante a diástole. Doençasque produzem uma alta pressão de pulso incluem arteriosclerose, insuficiênciaaórtica, duto arterioso patente e outras fístulas periféricas arteriovenosas. Pressãode pulso fraca e limitada é característica de um baixo volume sistólico. Um volumesistólico reduzido pode ocorrer devido a uma pré-carga reduzida ou preenchimentoventricular inadequado (como em hemorragias, desidratação, tamponamento ouefusão do pericárdio e taquiarritmias), contratilidade reduzida (como em miocardio-patias, acidose, e muitas cardiopatias), ou pós-carga aumentada (hipertensãoarterial ou pulmonar, como ocorre em doenças renais ou dirofilariose canina). Afração de ejeção (FE) é uma medida útil da função ventricular; é a razão entre ovolume sistólico e o diastólico final (pré-carga). A FE normalmente é > 0,6, indicandoque o ventrículo ejeta > 60% da pré-carga durante cada ejeção, e que , 40% destapermanece dentro do ventrículo após ejetar um volume sistólico. O volume rema-nescente é chamado volume sistólico final.

A pós-carga, ou seja a impedância à ejeção ventricular, resulta da necessidade deacelerar o sangue para a aorta (a fim de superar sua inércia), da necessidade desuperar a rigidez dos grandes vasos e, sobretudo, da resistência periférica ao fluxosangüíneo. A resistência é determinada basicamente pelo diâmetro das arteríolas.Uma vez que pressão média = fluxo sangüíneo × resistência periférica, então, pressãosangüínea arterial média = débito cardíaco × resistência periférica. As arteríolas ouvasos de resistência são basicamente determinantes de pós-carga e portanto dodesempenho cardíaco, bem como da pressão e do fluxo sangüíneos. O diâmetroarteriolar é controlado por fatores neurais, hormonais e locais que influenciam amusculatura lisa dos vasos. Existem diferenças regionais na influência relativa dessesfatores sobre os vasos sangüíneos ligados a ou dentro de diferentes órgãos. Avasoconstrição geralmente resulta de um aumento na atividade simpática, especifica-mente atividade α-adrenérgica eferente. Outros agentes que causam vasoconstriçãoincluem as catecolaminas α-adrenérgicas (adrenalina, noradrenalina, fenilefrina),vasopressina (ADH), angiotensina II, prostaglandinas A e F e serotonina (liberada deplaquetas). Estados mórbidos que causem um aumento de qualquer destas substân-cias obviamente aumentam a resistência periférica. Vasodilatadores arteriolares in-cluem substâncias que bloqueiam receptores α-adrenérgicos (por exemplo, prazosina,fenoxibenzamina) ou que estimulam receptores β2-adrenérgicos ou dopaminérgicos(por exemplo, isoproterenol, dopamina) ou que ajam sobre a própria musculatura lisavascular para relaxá-la (por exemplo, hidralazina). Muitas substâncias liberadas local-mente em resposta a um fluxo sangüíneo inadequado nos tecidos ou a perda tecidualou inflamação causam vasodilatação (por exemplo, O2 diminuído, CO2, H

+, K+, adeno-sina, histamina e bradicinina aumentados); quase não há tono venoso em repouso.Portanto, embora a musculatura lisa venosa possa responder similarmente à muscula-tura lisa arterial, só haverá venodilatação quando houver venoconstrição prévia.

Um ponto importante na compreensão tanto da cardiopatia como de seu tratamen-to é o conceito de consumo de oxigênio pelo miocárdio. O miocárdio sempre consome

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quase todo o oxigênio que recebe através das artérias coronárias. A única alternativade mais oxigênio para o coração (se ele necessita de trabalho aumentado) é atravésde um aumento no fluxo sangüíneo coronário. As artérias coronárias, portanto,dilatam-se em resposta a substâncias vasodilatadoras produzidas pelo metabolismodo miocárdio. Doenças que estreitam as artérias coronárias (arteriosclerose, ateros-clerose) limitam severamente a capacidade do miocárdio de encontrar demandasmaiores. A quantidade de oxigênio requerida pelo miocárdio é determinada por 3fatores: ritmo cardíaco, inotropia e a tensão nas paredes do miocárdio. Ritmoscardíacos rápidos são deletérios, pois aumentam a demanda de oxigênio miocárdicoenquanto limitam o período de diástole, quando ocorre o preenchimento cardíaco e fluia maior parte do sangue coronário. Quando o coração se dilata e precisa gerar maispressão para ejetar sangue, as paredes do miocárdio tornam-se mais tensas. Emtermos gerais, tensão máxima = pré-carga × pressão sangüínea arterial; e a pressãomáxima é freqüentemente denominada de pós-carga. Uma terapia bem-sucedida dascardiopatias deve buscar uma desaceleração do coração no caso de taquicardias,diminuição do tamanho cardíaco no caso de dilatação ou pré-carga aumentada (ouambas) e pós-carga reduzida no caso de aumento da pressão arterial.

Para que o sistema cardiovascular funcione adequadamente, o volume e apressão sangüíneos devem ser estritamente controlados. Detectores que monitorama pressão e o fluxo são distribuídos pelo corpo e mantêm os limites normais atravésde reflexos neuro-humorais. Os exemplos incluem os receptores de pressão nasartérias sistêmicas na região da bifurcação da artéria carotídea e do arco aórtico,receptores de volume nos átrios com pressão relativamente baixa e receptores defluxo no aparelho justaglomerular dos rins. Estes detectores enviam sinais nervososou humorais (ou ambos) para o hipotálamo e para a medula oblonga, que comparam(integram) o nível detectado com o nível adequado para a função ideal. Uma vez queé determinada uma discrepância entre o nível detectado e o desejado da variável,o integrador envia sinais nervosos ou humorais (via vagal e/ou simpática) para ocoração e vasos sangüíneos para que mudem o seu funcionamento e se ajustem aosníveis desejados da variável. Por exemplo, se a pressão sangüínea é baixa, osreceptores de pressão carotídea e aórtica enviam menos impulsos inibidoresnervosos para o cérebro; este manda impulsos nervosos para o coração queaumentam o seu ritmo e força de contração, e para as arteríolas que são contraídas.Todas estas ações elevam a pressão sangüínea arterial sistêmica.

Os diversos controles neuro-hormonais do sistema cardiovascular permitem queos animais disponham de uma série de necessidades, como exercício e as deman-das de uma lesão menor, reparação tecidual, inflamação, etc. Os distúrbios dosistema cardiovascular são “compensados” por estes mecanismos de controle, e osefeitos compensatórios e suas conseqüências freqüentemente podem ser detecta-dos como sintomas da doença (por exemplo, taquicardia, pressão sangüínea alta,distensão venosa jugular, aumento do tamanho do coração e retenção de fluidos).

Origem dos sintomas de cardiopatias

Funcionamento e estruturas anormais do coração produzem indicações obje-tivas e subjetivas destas anormalidades (ver TABELAS 1 e 2, pág. 12 ). Afarmacoterapia das cardiopatias é normalmente restrita aos casos em que ossintomas (por exemplo, tosse, ascite, síncopes e murmúrio de duto arteriosopatente) indicam comprometimento da qualidade ou duração da vida.

A gravidade dos sintomas é graduada pela classificação funcional a seguir:Classe I – não há sintomas, nem durante esforço; II – sintomas apenas após muitoesforço; III – sintomas após pouco esforço; IV – sintomas, mesmo quando emrepouso. Para a origem de sintomas específicos (por exemplo, murmúrios,

Sistema Cardiovascular, Introdução 11

TABELA 1 – Classificação das Cardiopatias

1. ValvularRegurgitação (mitral, tricúspide, aórtica)Estenose (pulmonar, aórtica)

2. “Shunts”Esquerda para direita (defeito de septo atrial, defeito de septo ventricular e duto

arterioso patente)Direita para a esquerda (tetralogia de Fallot, complexo de Eisenmenger)

3. Função Sistólica DiminuídaArteriolosclerose – hipoxiaMiocardiopatia dilatadoraIntoxicação por drogas (halotano, adriamicina)Fibrose do miocárdioMiocardite

4. Função Diastólica DiminuídaMiocardiopatia hipertróficaHipoxiaFibrose do miocárdioConstrição do pericárdio

5. ArritmiaFibrilação atrialBloqueio cardíaco completoSíncope sinoatrialDespolarização ventricular prematura

6. DiversosDesequilíbrio eletrolítico – ácido-baseDirofilarioseHipertensão – renalHipoadrenocorticismoNeoplasias (mixoma, quimiodectoma, linfossarcoma)Pulmonar (cianose, altas altitudes)Cardiopatia tireotóxicaTraumatismos (acidentes)Cardiopatia urêmica

TABELA 2 – Sinais das Cardiopatias

1. Inspeção – Fraqueza, desorientação, abdução de membros, exoftalmia, pescoço esten-dido, polidipsia, cianose, relutância ao decúbito, síncope, edema, ascite, fadiga,dispnéia, distensão venosa jugular

2. Exame Clínico Geral – Desvio do choque precordial, distensão venosa, pulso fraco,“waterhammer pulse”, hepatomegalia, tremores, taquicardia, bradicardia, arritmia

3. Auscultação – Tosse, murmúrios, fricção, crepitação, roncos, sons brônquicos, galopes(B3, B4), estalos, desdobramento da segunda bulha cardíaca

4. Análise de Sangue – Eosinofilia, basofilia, neutrofilia, hiponatremia, microfilaremia, T4elevada ou deprimida, creatinina ou BUN elevado, policitemia, O2 diminuído,sorologia

5. Exames Complementares (raio-X, ecocardiograma, ECG) – edema pulmonar, efusãopleural, padrão alveolar, efusão pericárdica, dilatação, hipertrofia, batimentos ectó-picos, alta/baixa voltagem, hipocinesia

Sistema Cardiovascular, Introdução 12

mudanças de voltagem no eletrocardiograma, mudanças dimensionais em eco-cardiogramas ou radiografias), o leitor deve dirigir-se a textos sobre cardiologia.Esta discussão está limitada à origem dos sintomas indicadores da maioria dascardiopatias para as quais se pode instituir uma terapia.

Seja devido a um enfraquecimento da força sistólica, obstrução dos tratos desaída de fluxo, um afrouxamento de válvulas, arritmia ou um aumento da rigidezdiastólica do ventrículo, o coração pode falhar, levando a circuitos venosos vazios,a circuitos arteriais cheios ou a ambos. Sinais deste funcionamento inadequadoconstituem a existência clínica de insuficiência cardíaca e insuficiência cardíacacongestiva. Na primeira, os sinais resultam de um baixo débito cardíaco inadequadoabsoluto ou relativo às necessidades dos órgãos perfundidos; na segunda, os sinaisresultam de capilares e veias congestos de sangue em órgãos específicos (vertambém CARDIOPATIAS , pág. 47 ).

Insuficiência cardíaca – Perfusão inadequada do cérebro, músculos esqueléti-cos, rins e do próprio coração causa sérias doenças. Uma perfusão cerebralinadequada leva a estados de confusão, mudança de temperamento ou, se muitosevera, a uma síncope. Uma perfusão renal inapropriada leva a azotemia, retençãode sódio, oligúria, hipertensão arterial sistêmica e polidipsia – todas produzidas pelaativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona. Uma perfusão inadequadados músculos esqueléticos leva a fraqueza (principalmente nos membros pélvicos)e descoordenação motora, normalmente mais pronunciada durante esforço ouexcitação quando as demandas são maiores. A perfusão inadequada da circulaçãocoronária leva a uma futura redução das funções sistólica e diastólica ou à arritmia,ou a ambas.

Distúrbios primários dos sistemas nervosos central ou autônomo, rins ou mús-culos esqueléticos podem produzir síndromes semelhantes.

Insuficiência cardíaca congestiva (CHF) – Os sinais que constituem umainsuficiência cardíaca congestiva resultam de uma retenção de fluido e represamen-to de sangue nas veias e capilares de órgãos, cujos vasos eferentes estãoprejudicados devido a uma falha ventricular. Podem ocorrer 2 síndromes (ou umacombinação) de insuficiência cardíaca congestiva: uma devida ao represamento desangue nos pulmões por falha no ventrículo esquerdo (insuficiência cardíacacongestiva esquerda – LCHF), e outra devido ao represamento de sangue nosórgãos sistêmicos por falha no ventrículo direito (insuficiência cardíaca congestivadireita – RCHF). Freqüentemente, os sinais de insuficiência cardíaca direita eesquerda ocorrem concomitantemente devido à probabilidade de que a doença (porexemplo, fibrose, intoxicação por cloridrato de doxorrubicina) comprometa a ambosos lados simultaneamente.

Insuficiência cardíaca congestiva esquerda (LCHF) – Devido a uma falhaprimária do ventrículo esquerdo, regurgitação mitral ou “shunts” da esquerda paraa direita, o volume sangüíneo aumenta e pode se represar no átrio esquerdo, veiase capilares pulmonares. Isto torna o pulmão relativamente pesado e sua porçãoventral pode ficar comprimida. Tanto edema hilar quanto congestão pulmonar ecompressão resultam em diferenças marcantes na ventilação dos pulmões, dese-quilíbrio entre perfusão e ventilação, hipoxia e cianose. Se a hipoxia for prolongada,pode-se desenvolver uma policitemia. O pulmão também se torna mais rígido queo normal; por isso um aumento no trabalho de respiração e um mínimo esforçopodem levar o animal à fadiga. A parte do pulmão que se comprime normalmentedurante a expiração, pode chegar a um estágio tal de compressão que se podemescutar crepitações ao abrir e fechar das vias respiratórias. Para ajudar naventilação primária dos músculos, o animal afetado pode mostrar abdução dosmembros torácicos e cabeça estendida; se os músculos abdominais forem usados,será produzida uma linha côncava. Uma vez que a posição deitada limita a

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movimentação do tórax e abdome e também facilita o retorno venoso ao coração,animais com insuficiência cardíaca congestiva esquerda freqüentemente podempermanecer em pé ou sentados até a exaustão. Se o animal for carregado, poderáficar mais hipóxico e até vir a desmaiar ou morrer por causa da restrição deventilação.

Devido à elevação da pressão capilar pulmonar, pode haver um extravasamentode soro dos capilares pulmonares para o pulmão; e se isto excede a capacidade dedrenagem dos linfáticos pulmonares, desenvolve-se o edema pulmonar. O pulmãotorna-se então mais pesado, prejudicando a difusão de O

2 entre os alvéolos ecapilares. Logo, não teremos apenas problemas de ventilação-perfusão, mastambém problemas de difusão que produzirão uma hipoxemia ainda maior.

Quando o átrio esquerdo está dilatado (especialmente por regurgitação mitral), elepode comprimir o ramo principal do brônquio esquerdo. Isto freqüentemente produzuma doença respiratória caracterizada por tosse seca e taquiarritmias supraven-triculares (por exemplo, batimentos atriais prematuros ou fibrilação atrial) devido aestiramento e irritação do miocárdio atrial esquerdo. A produção de fator natriuréticoatrial pelas células atriais é um sinal de distensão atrial. Esta substância promoveperda de sódio e água pelos rins, mas também antagoniza os efeitos da angiotensinaII. Finalmente, se o átrio esquerdo estiver dilatado o bastante e a pressão internaparticularmente elevada, ele poderá se romper, resultando em tamponamentopericárdico e até em colapso agudo e morte.

Insuficiência cardíaca congestiva direita (RCHF) – Por falha do ventrículo direitoou regurgitação tricúspide, também pode haver retenção de fluidos, e o sangue podese represar no átrio direito, veias cavas, veias que drenam dentro das veias cavas ecapilares que levam a tais veias. Logo, os órgãos sistêmicos – incluindo o fígado –tornam-se aumentados (congestos) com sangue. Se a pressão hidrostática capilar dofígado estiver muito alta, pode haver um extravasamento de soro dos capilares maisrapidamente que a capacidade de absorção dos linfáticos da cavidade abdominal,desenvolvendo-se ascite. Uma pressão capilar elevada em outras porções dependen-tes do corpo (por exemplo, peito, membros e prepúcio) pode também causar edemanestas regiões. Como agravante, quando o fígado se torna congesto, ele falha natransaminação e manufatura da albumina; a baixa proteína sérica reduz a pressãooncótica (hipoproteinemia) e o edema torna-se mais grave. Uma vez que todas as veiasficam ingurgitadas, o clínico observa distensão da veia jugular e outras veias externa-mente visíveis, do mesmo modo que um radiologista observará distensão das veiaspulmonares em insuficiência cardíaca congestiva esquerda.

Devido à elevação da pressão do átrio esquerdo e veias pulmonares, o ventrículoé expandido a um volume maior que o normal durante a diástole (pré-cargaventricular esquerda aumentada). Uma pré-carga aumentada pode significar tantoum bom quanto um mau sinal, devido às suas conseqüências. A força de contraçãoventricular irá aumentar desde que as fibras estejam mais esticadas. Entretanto, umapré-carga aumentada pode levar o miocárdio ventricular a consumir uma quantidadede oxigênio muito maior para a pressão que está gerando. Isto pode causar um débitode oxigênio para o miocárdio, levando à deterioração da função ventricular.

Um galope ventricular detectado numa auscultação cardíaca é um precioso sinalclínico de insuficiência cardíaca em pequenos animais. Os galopes ocorrem quandoo ventrículo torna-se relativamente rígido – por causa de sua dilatação, hipertrofia,hipoxia, fibrose ou intoxicação – impedindo o enchimento diastólico. A taxa deenchimento pode mudar rapidamente – de muito rápida para lenta e, quando ocorrea desaceleração repentina, estruturas cardio-hêmicas desenvolvem oscilações deaudiofreqüência que produzem uma bulha cardíaca extra imediatamente após asegunda (galope B

3) ou imediatamente antes da primeira bulha (galope B4). GalopesB3 são freqüentemente associados aos ventrículos com volumes sobrecarregados

Sistema Cardiovascular, Introdução 14

(dilatado, miocardiopatia congestiva), enquanto galopes B4 estão freqüentementeassociados a ventrículos rígidos e hipertróficos (miocardiopatias hipertróficas).

PRINCÍPIOS DE TERAPIA

As metas da terapia são regular o ritmo e freqüência cardíacos, restaurar o volumesangüíneo, reforçar o poder da sístole, mobilizar ou remover edemas fluidos, reduzira fração regurgitante e balancear a demanda e oferta de oxigênio do miocárdio.

A escolha da via terapêutica depende de quais são os aspectos do sistemacardiovascular que estão modificados. Devido a um sistema de ignição falho oufocos irritativos, ou nos átrios (denominados supraventriculares), ou no tecidocondutível especializado dos ventrículos (denominados ventriculares), o coraçãopode bater muito rapidamente para permitir o enchimento da diástole, muitolentamente ejetar quantidades suficientes de sangue na sístole, ou muito irregular-mente para fazer ambas as coisas. Tais distúrbios são denominados arritmias.Agentes que restauram o ritmo cardíaco a uma média normal são chamadosantiarrítmicos (ver TABELA 3). No entanto, os antiarrítmicos podem, na verdade,provocar ou exagerar as muitas arritmias para as quais eles são dirigidos – um efeitopró-arrítmico. Portanto, seu potencial para benefício deve ser avaliado em vista dopotencial para dano; o efeito pró-arrítmico de drogas antiarrítmicas pode ser letal.

Outra estratégia importante ao se tratar insuficiências cardíacas é fortalecer osmúsculos de ventilação; eles foram enfraquecidos devido à má oxigenação enecessitam gerar uma tensão maior que a normal para ventilar pulmões congestose/ou edematosos. Tanto a aminofilina quanto os digitálicos aumentam a força decontração do diafragma; portanto exercem seus efeitos benéficos de 2 maneiras (istoé, fortalecendo tanto o coração quanto o diafragma); a aminofilina provoca tambéma broncodilatação das vias aéreas pequenas.

Se houver perda de sangue devida à hemorragia, desidratação ou simplesmentepor seqüestro de sangue por um determinado órgão, diminuirá a quantidade desangue que retorna ao coração e, conseqüentemente, a pré-carga. Pela relação deFrank-Starling, a força de contração e o débito cardíaco enfraquecem. Os agentesutilizados para restaurar o volume sangüíneo, assegurando uma pré-carga adequa-da, são o sangue integral, plasma e soluções cristalóides/coloidais.

Devido a defeitos metabólicos (por exemplo, depleção de ATP) ou estruturais(por exemplo, válvulas falhas e fibrose miocárdica), os ventrículos podem serinsuficientes para gerar uma contração poderosa o bastante para bombear quanti-dades adequadas de sangue. Se há sinais (por exemplo, fraqueza, desmaios eoligúria) resultantes de um fluxo inadequado de sangue para órgãos específicos,pode-se considerar o animal com insuficiência cardíaca. Pode-se fortalecer o podersistólico do músculo cardíaco (contratilidade miocárdica) com inotrópicos positivos

Sistema Cardiovascular, Introdução 15

TABELA 3 – Arritmias e Antiarrítmicos

1. Taquicardia Sinusal, Taquicardia Atrial, Fibrilação Atrialβ-bloqueadores: propranolol, atenololGlicosídios digitálicos: digoxina, digitoxinaBloqueadores do canal de cálcio: diltiazem, verapamil

2. Taquicardia VentricularEmergência: lidocaínaCrônica

a) Antiarrítmicos da Classe I: procainamida, quinidina, tocainidab) β-bloqueadores: propranolol, atenololc) Se refratária: amiodarona, bretílio

(por exemplo, digitálicos, dobutamina, milrinona). Se o ventrículo não esvazia osangue dos compartimentos venosos, seus leitos capilares tornam-se ingurgitadose o soro extravasa dos capilares para o interstício dos órgãos envolvidos. Se aquantidade extravasada exceder a capacidade de drenagem dos interstícios peloslinfáticos, os tecidos tornam-se edematosos. Se houver evidências de sinais destescapilares ingurgitados e edema, pode-se considerar o animal com insuficiênciacardíaca congestiva.

Cães de raças grandes podem apresentar insuficiência cardíaca devida àdeficiência de carnitina. Este aminoácido é encontrado na carne vermelha eprodutos derivados do leite. A carnitina é necessária para transportar a acetilcoenzimaA para o interior da mitocôndria, onde pode ser utilizada para a produção do ATP (afonte de energia para a contração e o relaxamento do miocárdio). Os gatosnecessitam de uma grande quantidade de taurina, um aminoácido que muitas vezesé sintetizado em quantidades insuficientes. O papel exato da taurina na contraçãoainda não é conhecido; no entanto, a deficiência provoca diminuição da contratilida-de do miocárdio. É possível que a maior parte das miocardiopatias com dilatação emcães e gatos resultem de deficiências na dieta e/ou diminuição da biossíntese destes2 aminoácidos. Animais doentes devido a estas deficiências geralmente respondemdramaticamente à suplementação. As considerações referentes à dieta na preven-ção e terapia da insuficiência cardíaca são de extrema importância.

Devem-se mobilizar ou remover os fluidos de um edema. Isto pode ser feitoatravés de diuréticos (por exemplo, furosemida) e de uma dieta restrita de sódio; ouse o fluido está “livre” dentro das cavidades, ele pode ser removido por paracentese.Se a abertura das arteríolas estiver reduzida, oferecendo muita resistência ao fluxode sangue para os capilares; ou, se a aorta e outras grandes artérias estiveremrígidas demais para acomodar facilmente o volume sistólico ventricular esquerdo(isto é, a pós-carga é muito grande), então o ventrículo – particularmente se estiverenfraquecido ou contraído por problema da válvula – será insuficiente para bombearquantidades adequadas de sangue. Uma das metas da terapia é reduzir estainterferência ao fluxo de sangue para e pelo sistema arterial e, daí, melhorar acirculação periférica e reduzir a tensão no ventrículo. Os agentes que tornam a aortamais complacente e a luz das arteríolas sistêmicas maior (por exemplo, hidralazina,captopril, prazosina) são denominados redutores de pós-carga.

Regurgitação mitral, uma condição na qual o sangue passa contra o fluxo doventrículo esquerdo para o átrio esquerdo, leva a dilatação, irritação e, possivelmente,ruptura do átrio esquerdo e faz com que o compartimento comprima o ramo principaldo brônquio esquerdo. Uma meta da terapêutica é reduzir a fração regurgitante. Coma redução da pós-carga no ventrículo esquerdo, a cavidade precisa de menos forçapara suportar o fluxo positivo de sangue; logo, menos sangue estará passando devolta através da válvula mitral insuficiente. Isto permite um tamanho diminuído do átrioesquerdo e a redução dos sinais atribuídos à distensão daquela cavidade. Portanto,os redutores de pós-carga melhoram o fluxo positivo quando o ventrículo estáinsuficiente e reduzem a fração regurgitante (relação do sangue regurgitado àquelebombeado para fora da válvula aórtica) na presença de insuficiência mitral.

Outra terapia para congestão pulmonar e edema, e para diminuir a regurgitaçãomitral, é a que usa redutores de pré-carga (por exemplo, furosemida, nitroglicerina).Estes agentes dilatam as veias sistêmicas, que são então preenchidas pelo sanguedos vasos pulmonares. Quando o sangue muda dos vasos pulmonares para asveias periféricas, isto causa pouco ou nenhum mal, devido a sua posição em umcompartimento quase inócuo; e a pressão no interior dos capilares pulmonares éreduzida, de forma que o edema diminui, e o peso e rigidez dos pulmões sãoaliviados. Além disto, conforme o volume atrial esquerdo diminui, o efeito dilatadordeste maior volume no orifício mitral (annulus) diminui, a dimensão do orifício mitral

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diminui, os folhetos da válvula mitral tornam-se mais competentes e a gravidade daregurgitação mitral pode, de fato, diminuir.

Ocasionalmente, devido ao funcionamento pulmonar inadequado em virtude dedoença pulmonar (por exemplo, fibrose pulmonar, pneumonia, neoplasia) ou devidoa doenças das artérias coronárias intramurais (arteriolosclerose), algumas porçõesdo ventrículo – normalmente o endocárdio ventricular esquerdo – sofrem uma faltade oxigênio (isquemia ou hipoxia). Se o déficit de oxigênio estiver intenso ouprolongado, o tecido isquêmico poderá morrer ou servir como um foco de arritmia.O tecido isquêmico não contribui com sua parte para a contração e é mais rígido queo miocárdio normal; conseqüentemente, isso diminui a contratilidade miocárdica eleva a uma redução da função ventricular. Uma arritmia séria, resultante do tecidoisquêmico, pode causar morte súbita.

Uma outra meta da terapia é equilibrar a demanda e a disponibilidade deoxigênio. Os determinantes principais da demanda de oxigênio miocárdico sãoritmo cardíaco, contratilidade miocárdica e tensão máxima do miocárdio ventricu-lar. Deve-se tentar ajustar estes determinantes aos níveis mínimos compatíveiscom o funcionamento ventricular adequado. Portanto, digitálicos, ou propranolol,ou ambos podem ser usados para desacelerar o coração, e um redutor de pós-carga, usado para diminuir a tensão máxima. Entretanto, há 2 dilemas: 1. emboraos digitálicos desacelerem o coração, diminuindo a demanda de oxigênio, tam-bém aumentam a contratilidade, que aumenta a demanda do oxigênio; e 2. quan-do se usa um redutor de pós-carga que baixa a pressão arterial sistêmica e apressão de perfusão coronária, há um risco de ocorrer uma diminuição no fluxosangüíneo coronário e na disponibilidade de oxigênio. Para aumentar a oferta deO2, devemos tentar melhorar o funcionamento pulmonar, usando broncodilatado-res (por exemplo, aminofilina e terbutalina), antibióticos, antineoplásicos econcentrações aumentadas de oxigênio inspirado, conforme indicado pelo diagnós-tico clínico específico.

Corações com insuficiência cardíaca que foram “forçados” por excesso decatecolaminas de alta atividade adrenérgica eferente possuem um númeroreduzido de receptores β-adrenérgicos. Portanto, se surgir uma emergência naqual o coração necessite de maior estímulo através de uma influênciasimpatoadrenal, o coração não pode responder, pois existem muito poucosreceptores β-adrenérgicos aos quais as catecolaminas podem se ligar. Isto éconhecido como “down-regulation” (diminuição) dos β-receptores e é uma ca-racterística da insuficiência cardíaca crônica. Os β-receptores podem ser aumen-tados (“up-regulated”), paradoxalmente, utilizando-se pequenas doses de subs-tâncias que os bloqueiem (por exemplo, propranolol, atenolol). Embora estes β-bloqueadores possam bloquear os receptores e enfraquecer o coração levemen-te, o resultado final é um fortalecimento do coração através do aumento donúmero de β-receptores e, portanto, do potencial para responder às catecolami-nas. Desta forma, pequenas doses de β-bloqueadores oferecem meios dereverter de fato o processo de insuficiência cardíaca. Eles também são antiar-rítmicos e diminuem a necessidade de oxigênio do miocárdio, restaurando assimo equilíbrio entre a demanda de oxigênio e sua disponibilidade.

Há muitas doenças cardiovasculares específicas para as quais existem soluçõesimediatas. Para defeitos de comunicação (por exemplo, duto arterioso patente,defeito do septo ventricular e defeito do septo atrial) ou para válvulas que falham naabertura, o melhor tratamento é a cirurgia. Para animais que sofrem de pré-cargadiminuída devido à constrição do pericárdio, o melhor é a remoção do mesmo, sendoque este está estrangulado.

Portanto, em alguns casos (por exemplo, duto arterioso patente, constrição pelopericárdio e miocardite bacteriana), o objetivo da terapia é a remoção da causa de

Sistema Cardiovascular, Introdução 17

base, enquanto em outros casos (por exemplo, regurgitação mitral, miocardiopatiase arteriolosclerose) o objetivo é minimizar as conseqüências. Em ambos os casos, asdecisões e recomendações sobre terapêutica devem ser baseadas em: 1. tipo eintensidade do processo mórbido; 2. condições financeiras; e 3. qualidade de vida.Em geral, a restrição de sódio é recomendada a fim de minimizar a tendência pararetenção de fluidos. Dirige-se um manejo visando à minimização do trabalho cardía-co com atividade física restrita, e normalização do ritmo cardíaco e carga(s) ven-tricular(es).

ANEMIAÉ uma doença caracterizada fisiologicamente pela insuficiência de hemoglobina

(Hb) circulante e clinicamente por tolerância reduzida a exercício e membranasmucosas pálidas. Pode ser por produção diminuída, destruição aumentada, ouperda de hemácias (eritrócitos). Determina-se a terapia de acordo com as 3situações predominantes. A contagem de células policromáticas (corante de Wright)ou reticulócitos (corante novo de azul de metileno) é o teste mais informativo paradeterminar se a anemia é responsiva (hemólise ou hemorragia) ou não responsiva(hipoproliferativa). As anemias são classificadas de modo a proporcionar uma baseracional para tratamento.

O diagnóstico laboratorial da anemia se baseia em valores de Hb, hematócritoe hemácias. A caracterização das anemias é auxiliada ainda pelos índiceshematimétricos: volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina corpuscularmédia (HCM) e concentração de hemoglobina corpuscular média (CHCM). AHCM e a CHCM fornecem informações semelhantes, porém a CHCM é conside-rada mais precisa. Portanto, os 2 índices mais comumente utilizados são o VCMe a CHCM. Conforme os rubrícitos (precursores de eritrócitos) maturam namedula óssea, seu volume diminui conforme o conteúdo de hemoglobina aumen-

TABELA 4 – Classificação das Anemias

I. Hipofunção da Medula Óssea (anemia não responsiva )A. Diminuição na produção de eritrócitos. Anemia nutricional, danos às células

germinativas, mieloftise (infiltração neoplásica), neoplasia hematopoiéticaB. Redução da síntese de Hb. Deficiência de ferro, vitamina E ou vitamina B6C. Supressão ou destruição imunomediada das células germinativasD. Infecções virais com supressão da medula (por exemplo, retrovírus, parvovírus)

II. Perda de Eritrócitos Anormais (anemia responsiva )A. Eritrócitos com conteúdo enzimático deficiente. Anemia com corpúsculo de Heinz,

deficiência de piruvatocinase em cães basenji, anemia hereditária e nanismo emmalamutes do Alasca, deficiência de fosfofrutocinase em springer spaniels ingle-ses

B. Anemias imunomediadas. “Espectador inocente”, isoimunes e idiopáticas; eanemia hemolítica do recém-nascido

C. Anemia hemolítica devida à fragmentação intravascular. Vasculite de pequenasartérias

III. Perda de Eritrócitos NormaisA. Hemólise de eritrócitos normais (responsiva ). Esplenomegalia, parasitismo de

eritrócitos, lesão química ou físicaB. Perda de eritrócitos normais (de pouco responsiva a responsiva ). Hemorragia

externa ou interna, ou parasitismo

Sistema Cardiovascular, Introdução 18

ta; assim, os eritrócitos imaturos liberados na circulação nas anemias responsivaspossuem um VCM maior. Eritrócitos muito grandes (macrócitos) com um VCMalto podem apresentar uma Hb total ou HCM normal, apesar da porcentagemde saturação (ou CHCM) estar abaixo do normal. Estas células grandes contêmRNA e coram-se de azul com o corante de Wright (policromatofílicas). Elasmaturam na circulação em 12 a 48h, completando a síntese de Hb, perda do RNAe da aparência azul. Em 1 semana, elas perdem membrana suficiente paratornarem-se normais em tamanho (VCM) e aparência (normocíticas). Como apolicromasia é curta (12 a 48h), a presença de eritrócitos policromáticos é oindicador mais sensível de produção medular. Como os índices hematimétricossão valores médios, é necessária uma alteração moderada a acentuada napopulação de eritrócitos para distanciar os índices dos valores normais. Portanto,uma anemia leve pode ser regenerativa e possuir índices hematimétricosnormais. Os índices hematimétricos são provavelmente mais úteis no reconheci-mento da anemia por deficiência de ferro, na qual os eritrócitos tornam-semenores (o que diminui o VCM) e contêm menos hemoglobina (o que diminui aHCM e a CHCM). Portanto, a diminuição de VCM, HCM e CHCM indica anemiaferropriva.

A avaliação da resposta eritróide da medula é mais acurada quando o sangueé corado supravitalmente com novo azul de metileno e os reticulócitos sãocontados como uma porcentagem das hemácias totais. O seu número absolutodeve ser determinado para que o clínico possa avaliar o grau de independência daanemia; por exemplo, em 1µL de sangue, um cão normal possui 6,5 × 106 (6,5 ×1012/L) eritrócitos com 1% (65.000) de reticulócitos; um cão anêmico pode ter 2 ×106 (2 × 1012/L) eritrócitos com 3% (60.000) de reticulócitos. Uma vez que aprodução de reticulócitos de ambos os cães é provavelmente a mesma, a respostado cão anêmico é pouco responsiva. Uma boa resposta é caracterizada por ≥ 3 ×105 reticulócitos/µL de sangue, por exemplo, 3 × 106 (3 × 1012/L) eritrócitos com10% de reticulócitos.

Um método mais simples para se avaliar a resposta eritróide é baseado nacontagem de eritrócitos policromáticos após o uso de corante de Wright ou similar.O número médio de eritrócitos policromáticos é determinado por 10 campos em óleode imersão sobre a extensão de uma camada de sangue. Um hemograma normal ouuma anemia não responsiva no cão terá de 0 a 1 eritrócito policromático por campo;anemias pouco responsivas, 5 por campo; anemias moderadamente responsivas, 5a 10 por campo; e anemias muito responsivas, 10 a 20 por campo. Números muitoinferiores (, 1⁄2 dos relatados em cães) são observados em gatos, e não se observapolicromasia (ou reticulocitose) em cavalos.

Para se ter uma estimativa grosseira de células/µL, multiplica-se o número decélulas responsivas por campo em óleo de imersão (1.000×) por 8.000. Assim, se háuma média de 10 eritrócitos policromáticos por campo, existem , 80.000/µL nosangue. As plaquetas podem ser enumeradas do mesmo modo. Este métodosubestima consistentemente a resposta quando comparado à contagem dereticulócitos.

Os valores normais de eritrócitos para algumas espécies domésticas são dadosadiante.

Certos sinais são característicos das anemias, independentemente da causa ouespécie. Geralmente há palidez de membranas mucosas, fraqueza, letargia, poucatolerância a exercício, anorexia, ritmos cardíaco e respiratório acelerados e, possi-velmente, um murmúrio sistólico devido à redução da viscosidade do sangue. Se aanemia é aguda ou hemorrágica, ou ambas, pode ocorrer hipotensão e choque. Omanejo e exame do animal anêmico devem ser feitos com muito cuidado, uma vezque qualquer excitação pode levar a um colapso.

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TABELA 5 – Valores Normais de Eritrócitos: Algumas Séries Normais

Hemácias VCMVTC Hb 106/µL µm3 CHCM

Espécies % g/dL (10 12/L) (fL) g/dL

CavaloRaças leves 30 – 48 11 – 18 7 – 11 40 – 49 35 – 37Raças pesadas 25 – 45 8 – 14 6 – 9 37 – 52 32 – 38

Vaca 25 – 45 8 – 15 5 – 10 30 – 56 28 – 36Ovelha 25 – 50 9 – 16 8 – 16 25 – 50 30 – 38Cabra 20 – 37 8 – 14 8 – 18 18 – 34 30 – 40Porco 32 – 50 10 – 16 5 – 8 50 – 68 30 – 35Cão 37 – 55 12 – 18 5 – 9 62 – 70 33 – 35Gato 27 – 45 8 – 15 5 – 10 40 – 55 30 – 35Coelho 35 – 45 9 – 15 5 – 7 60 – 68 31 – 35Galinha 30 – 40 9 – 13 3 127 29Peru 39 11 2 203 29

ANEMIAS POR HIPOFUNÇÃO DA MEDULA ÓSSEA

REDUÇÃO DA PRODUÇÃO DE ERITRÓCITOS

Lesão nas células precursoras da medula

Em anemias hipoplásicas e aplásicas , a redução de eritrócitos não é tão críticacomo a falta de plaquetas e neutrófilos. Na aplasia total, a morte ocorre em 10 a 14dias devido a hemorragia e sepse. Raramente há uma aplasia de eritrócitosimunomediada na qual as plaquetas e granulócitos são mantidos; nestes casos osanimais sobrevivem por mais tempo e se beneficiam de transfusões de sangue (verpág. 34 ) e imunossupressão.

A lesão em células precursoras (“stem cells”) da medula costuma ser umaidiossincrasia individual e relacionada à exposição a drogas ou tóxicos. O cloranfe-nicol e hidrocarbonetos cíclicos raramente causam aplasia, embora ocorra regular-mente irradiação corporal na faixa de 200 a 500r. Intoxicação por broto de samambaia(ver pág. 1989 ) em gado causará um surto de aplasia de medula no rebanho. O vírusda panleucopenia (ver pág. 504 ) causa aplasia e pancitopenia em felídeos, porém amorte é causada por agranulocitose, desidratação e trombocitopenia. Na maioria doscasos, a anemia aplásica é idiopática. A doença deve ser confirmada pelo exame damedula óssea.

Substituição da medula por células atípicas(Mieloptise)

Raramente, um animal com infecção crônica ou no último estágio (exaustivo)de uma leucemia mielogenosa, desenvolverá mielofibrose, na qual célulasespecializadas da medula serão substituídas por tecido conjuntivo. É muito maiscomum a invasão da medula por tumores linfóides, e menos freqüentemente, poroutros tipos de tumores, ou mielogenosos de origem ou sarcomas e carcinomasmetastáticos. Em qualquer caso, o aparecimento de rubrícitos em númerosmoderados a acentuados no sangue periférico na ausência de policromasia,principalmente se a anemia for discreta ou ausente, deve alertar o clínico para apossibilidade de haver substituição de células por tumor na cavidade medular.Devem-se pesquisar células tumorais no sangue periférico e medula.

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Anemia nutricional

Tais anemias são devidas a uma redução na produção de eritrócitos e não a umaredução de síntese de hemoglobina. Ácido fólico e vitamina B12 são necessários paraa síntese de DNA; em animais deficientes há redução de mitoses eritróides,eportanto, um número menor de eritrócitos. A doença no homem é macrocítica enormocrômica, caracterizando-se por eritropoiese ineficiente ou células atípicas quenão são liberadas na circulação. Não há um equivalente exato em animais; entretan-to, uma deficiência de cobalto (portanto de B12) ocorre com uma pequena redução novolume sangüíneo, mas sem uma queda marcante na Hb. Foi descoberta recente-mente uma deficiência de B12 em uma família de cães. Em animais, anemias pordeficiência de ácido fólico são suaves e limitadas àqueles com tumores de crescimen-to rápido. Anemias por carência de carboidratos são suaves, enquanto deficiência deproteína causa uma anemia mais grave acompanhada de uma queda no volumesangüíneo. Tal efeito aparentemente não é específico e deve-se à debilidade gerale redução da atividade. A recuperação é lenta e as proteínas do plasma são respostasao aumento na eritrogênese. Logo, deve haver um aumento no volume do plasma epiora da anemia por um tempo, mesmo após a administração de dietas adequadas.

A principal causa de anemias nas doenças crônicas é a queda na produção deeritrócitos, apesar de sempre existir algum aumento de hemólise. As razões paraeste tipo de anemia incluem toxemia por abscedação ou uremia, falta de utilizaçãode ferro e nutrição inadequada. Em hepatopatias crônicas difusas, há umadetoxificação inadequada de metabólitos normais e alteração no suprimento deaminoácidos e metabolismo de gordura. Estas mudanças freqüentemente resultamno aparecimento de eritrócitos-alvo no sangue periférico.

REDUÇÃO DA PRODUÇÃO DE HEMOGLOBINA

Síntese de heme deficiente

Estas anemias são causadas por redução da síntese de heme e, portanto, de Hb,diferentemente das anemias macrocíticas devidas à redução da multiplicaçãocelular. O resultado é uma anemia microcítica e hipocrômica. A causa maisimportante é a deficiência de ferro, que, na maior parte das vezes, é secundária àperda de sangue lenta devida a parasitas ou tumores gastrointestinais, úlceras(cães, gato, cavalo), ou falta de ferro na dieta (suínos neonatos). Na deficiênciaabsoluta de ferro, não há hemossiderina na medula óssea.

Todos os animais em amamentação têm deficiência de ferro por algum tempo,mas isto é regularmente crítico apenas em suínos. Os suínos devem receber ferroparenteral ou VO durante a primeira semana de vida. Deve-se certificar, antes deadministrar ferro por qualquer via, que os porcos não apresentam deficiência devitamina E; qualquer histórico de deficiência de vitamina E no rebanho, ou evidênciaprévia de intoxicação por ferro é razão para postergar a administração de ferro até ≥24h após a administração de vitamina E (ver pág. 2028). Uma anemia persistente emleitões jovens que não respondem a uma administração prévia de ferro deve invocara mesma precaução. A vitamina E é necessária para a síntese de heme, e normal-mente há uma grande quantidade de heme presente que captura todo o ferro livreproveniente da administração VO ou parenteral. Baixos níveis de vitamina E, portan-to heme, permitem que o ferro livre circule, o que resulta em peroxidação dasmembranas celulares e necrose, particularmente no coração, fígado e musculaturaesquelética (ver MIOPATIA NUTRICIONAL DOS CORDEIROS E BEZERROS, pág. 661 e HEPATOSEDIETÉTICA EM SUÍNOS, pág. 663 ).

A deficiência de cobre pode ser absoluta ou condicionada por molibdênio (pág.1453). O cobre é necessário para recarregar o sistema de enzimas de ferroxidase;

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a deficiência do mesmo bloqueia a utilização de ferro, o que resulta em anemiaferropriva hipocrômica e microcítica. Nas anemias em que ocorre a deficiência decobre, a hemossiderina medular apresenta-se adequada ou abundante, no entanto,o nível de ferro sérico é baixo. Normalmente, cobalto e cobre são adicionados aosalimentos através de um bloqueio ou suplemento de sal.

A deficiência de vitamina B 6 ou piridoxina reduz a síntese de heme e causa ane-mia, mas não é uma condição reconhecida clinicamente, e presume-se que seja rara.

Síntese de globina deficiente

A síntese das cadeias α e β de globina que combinam-se com heme para formarHb é feita sob controle genético. Em animais, a deficiência de globina não foireconhecida, porém anemias em alguns ovinos causam uma “mudança” responsávelpela alternância de cadeias de globina que formam Hb “C”, a qual libera oxigênio maisrapidamente aos tecidos quando comparada à hemoglobina normal A ou B; nesteaspecto, é semelhante à hemoglobina fetal e parece ser um mecanismo de proteçãoque permite um transporte mais eficiente de oxigênio em baixos níveis de Hb.

COLAPSO MEDULAR IMUNOMEDIADO

Tireoidite auto-imune

Na última década, a freqüência de diagnósticos das doenças hematológicasimunomediadas e doença auto-imune da tireóide no homem e no cão tem aumenta-do. A anemia hemolítica imunomediada e/ou trombocitopenia são 2 seqüelas dasíndrome sistêmica poliglandular auto-imune que muitas vezes acompanha a tireoi-dite auto-imune. A maioria destes distúrbios hematopoiéticos imunológicos nãorespondem à terapia, em contraste com as doenças semelhantes porém responsivasobservadas até o fim da década de 70. Uma explicação para esta aparente mudançaé a infecção viral da medula (ver adiante) e/ou a supressão ou destruição das célulasgerminativas hematopoiéticas. Outra explicação é que a predisposição genética – nohomem e no cão – pode ter aumentado; por exemplo, cerca de 50 raças de cão sãoconsideradas hoje predispostas à doença auto-imune da tireóide hereditária e,portanto, a vários outros distúrbios imunomediados.

Drogas

Nos seres humanos e outros animais, vários compostos terapêuticos são atual-mente suspeitos de aumentar o número de reações hematológicas imunomediadas,normalmente anemias induzidas por hapteno ou trombocitopenias, nas quais oseritrócitos ou as plaquetas são envolvidos como “espectadores inocentes” (vertambém A NEMIAS IMUNOMEDIADAS, pág. 24). A maioria destes distúrbios parece sernão regenerativa. Muitas drogas – até 30 ou mais em algumas estimativas – vêmsendo associadas com estas reações, apesar de uma relação direta de causa-efeitonão ter sido estabelecida. A maior parte destas drogas parece disparar reaçõesimunológicas apenas em animais suscetíveis geneticamente ou por outras razões(por exemplo, aqueles com doença imunológica preexistente, tireoidite auto-imune,ou com histórico familiar destes distúrbios). Entre as drogas associadas com estasreações estão as sulfonamidas, especialmente quando associadas ao trimetoprim,e os agentes antiinflamatórios não esteróides quando utilizados por longos períodos.

INFECÇÕES VIRAIS COM SUPRESSÃO DA MEDULA

Alguns vírus induzem deficiências imunológicas, normalmente através de efeitosna medula óssea. Alguns exemplos são o vírus da imunodeficiência humana

Anemia 22

(causador da AIDS no homem), vírus da imunodeficiência em símios, vírus da imuno-deficiência felina e parvovírus humano e canino. Outros vírus similares são os vírusda leucemia e panleucopenia felinas, anemia infecciosa eqüina, leucemia bovina,leucose aviária e artrite caprina.

A supressão da medula óssea com displasia eritróide transitória (21 dias) oucrônica/latente na presença ou ausência de trombocitopenia e neutropenia,anemia hemolítica de Coombs positiva e trombocitopenia imunomediada foramassociadas a (isto é, talvez sejam causadas por) infecções por retrovírus ouparvovírus no homem e em outras espécies. Além disto, as vacinas comparvovírus vivo modificado para cães e vírus morto de leucemia felina sãosuspeitas de causar (em animais geneticamente suscetíveis) estas doençashematológicas. O tratamento destes animais é baseado em corticosteróides ououtra terapia imunossupressiva, L-tireoxina para estimular a hematopoiese e/outratar a tireoidite auto-imune de base (ver anteriormente), esteróides anabolizan-tes, antibióticos de suporte e outras terapias.

ANEMIAS POR PERDA DE ERITRÓCITOS ATÍPICOS

ERITRÓCITOS COM CONTEÚDO ENZIMÁTICO DEFICIENTE

Deficiência de glicose-6-fosfato desidrogenase (G6PD) – Esta enzima é partede uma cadeia metabólica intra-eritrocítica que protege a Hb da desnaturaçãooxidativa. Em células deficientes, os oxidantes causam precipitação da globina,resultando na formação de corpúsculos de Heinz e rápida lise celular. Eritrócitosvelhos, com baixo nível de G6PD, são mais suscetíveis à desnaturação oxidativaque eritrócitos novos. Portanto, a exposição a uma droga oxidante como fenotiazina,fenilidrazina ou primaquina causa hemólise seletiva de eritrócitos mais velhos. Nohomem, baixos níveis de G6PD são geneticamente transmitidos, enquanto emanimais a suscetibilidade a oxidantes ocorre basicamente em indivíduos debilitados.Em geral, não é preciso nenhum tratamento uma vez que a população jovem dehemácias é poupada. Transfusões sangüíneas devem ser realizadas se o hemató-crito tiver uma queda < 15%. A medula normalmente é funcional e a recuperaçãoespontânea é rápida. Uma condição semelhante foi observada em cães alimenta-dos com grandes quantidades de cebolas ou vitamina K1; anemias associadas àalimentação com couves ou nabos para herbívoros também possuem umapatogenia de corpúsculos de Heinz. A anemia por corpúsculos de Heinz ou G6PDpode ser diagnosticada incubando-se 0,1mL de sangue heparinizado em100mg/mL de acetilfenilidrazina em 2mL de tampão por 2h a 37oC. Os eritrócitos,então, são corados com novo azul de metileno e examinados microscopicamente.Os eritrócitos normais contêm poucos corpúsculos de Heinz e os deficientes emG6PD contêm muitos.

A deficiência de piruvatocinase em cães basenji é uma deficiência de enzimasde eritrócitos geneticamente transmitida, semelhante àquela observada no homem.A doença é caracterizada por uma anemia congênita severa com notável respostaeritróide policromática. Do mesmo modo, uma anemia hereditária, caracterizada porestomatócitos e associada com nanismo esquelético, foi observada em cãesmalamutes do Alasca.

A deficiência de fosfofrutocinase em springer spaniels ingleses foi descritarecentemente, sendo similar ao distúrbio análogo dos humanos. Esta doençaherdada é caracterizada por surtos intermitentes de anemia hemolítica grave emioglobulinúria associada ao exercício, que induz alcalose respiratória e aumenta afragilidade dos eritrócitos.

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ANEMIAS IMUNOMEDIADAS

Ver também I NFECÇÕES VIRAIS COM SUPRESSÃO DA MEDULA, página 22, A NEMIAS PORCOLAPSO MEDULAR IMUNOMEDIADO, página 22, D OENÇAS ENVOLVENDO ANTICORPOSCITOTÓXICOS, página 428, e G RUPOS SANGÜÍNEOS E TRANSFUSÕES SANGÜÍNEAS, pági-na 34.

Os eritrócitos podem se tornar alvos de anticorpos que cobrem suas superfí-cies e causam sua remoção da circulação pelo sistema reticuloendotelial (SRE).Esta condição pode ser diagnosticada por um anti-soro reagente específico àglobulina das espécies testadas. A combinação da antiglobulina reagente com aglobulina na membrana celular constitui um teste de Coombs ou antiglobulinapositivo.

A adsorção do vírus ao eritrócito, do mesmo modo que na anemia infecciosaeqüina (ver pág. 32 ), pode causar uma crise hemolítica devido à ligação deanticorpos antivirais aos vírus unidos aos eritrócitos. Estas células são entãodestruídas pelo SRE, no que é conhecido como “reação do espectador inocente”.Do mesmo modo, a adsorção de drogas aos eritrócitos raramente induz hemólisesimunes no homem e animais.

A anemia hemolítica isoimune ocorre naturalmente no cavalo, gato, cão eporco, e em bezerros e leitões de matrizes vacinadas. Trata-se de uma anemiaaguda na qual os eritrócitos dos recém-nascidos são aglutinados ou hemolisadospor isoanticorpos específicos produzidos por suas matrizes.

Anemia hemolítica auto-imune

A anemia hemolítica auto-imune (AHAI), também chamada de anemia hemolíticaimune (AHI), ocorre no gato, cão e cavalo, e é qualitativamente similar à doença nohomem. Ocorre no cão como parte de uma síndrome incomum do lúpus eritematososistêmico canino, junto com uma trombocitopenia e artrite reumatóide (ver tambémANEMIAS POR COLAPSO MEDULAR IMUNOMEDIADO, pág. 22, e DOENÇAS DO SISTEMA IMUNE,pág. 421 ). A forma usual de AHAI, isto é, não associada com lúpus, não é rara e écaracterizada por crises hemolíticas com um hematócrito variável, mas freqüente-mente muito baixo (< 10%), policromasia marcante, esferocitose, agregação dehemácias e, freqüentemente, um teste de Coombs direto positivo ou auto-aglutina-ção espontânea de hemácias. Os casos mais típicos recentes em cães forammarcados por anemias não regenerativas. Alguns destes casos ocorreram após aexposição a parvovírus ou vacina de parvovírus vivo modificado, e alguns casosprogrediram para uma displasia eritróide transitória ou latente crônica (ver tambémINFECÇÕES VIRAIS COM SUPRESSÃO DA MEDULA, pág. 22 ).

Em casos crônicos, há presença de icterícia devido à isquemia hepática. Seforem feitas transfusões sangüíneas, estas devem ser realizadas com muitocuidado e após sorotipagem somente para evitar maior sensibilização e exacerba-ção do problema. Dexametasona, prednisona, ou prednisolona em altas dosesdiárias por 5 a 7 dias, normalmente resultam em um aumento acentuado dohematócrito e melhora na coloração e condição geral do cão. Esteróides anabólicosadministrados uma vez por semana também podem ser úteis. A dose de esteróidesdeve ser reduzida a metade ou menos, da dose inicial em 5 a 7 dias e depois parauma dose de manutenção diária a cada 1 ou 2 dias, que deve ser continuada por 6a 8 semanas. Os esteróides podem ser necessários em níveis altos por até 3semanas, a fim de induzir o aumento de hematócrito. Para estimular a hematopoiesee/ou tratar a tireoidite auto-imune de base, uma terapia adjuntiva importante é a L-tireoxina. Vincristina ou ciclofosfamida podem ser usadas se a terapia com esterói-des falhar; entretanto, elas são mielotóxicas e a contagem de leucócitos deve sermonitorada pelo menos diariamente. Recentemente, casos resistentes a esteróides

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têm respondido bem ao tratamento com ciclosporina por 5 dias consecutivossemelhante ao regime usado no homem. Em casos não responsivos, a azatioprinatem sido usada em conjunto com a ciclosporina e doses baixas de corticosteróides,e seguimentos de cursos de 5 dias de ciclosporina em metade da dose inicial podemser necessários. Esplenectomia pode ser indicada como um último recurso se aterapia com esteróides ou imunossupressores falhar.

A maioria das falhas terapêuticas resulta de terapia descontínua com esteróideslogo após o início da recuperação. Alguns pesquisadores e clínicos consideram adexametasona superior à prednisona ou à prednisolona no tratamento das anemiasimunomediadas ou trombocitopenias. Se uma crise hemolítica ocorrer após umarecuperação esteróide-induzida, níveis ainda maiores de esteróides deverão serdados para que se mantenha a hemólise sob controle. Os cães devem desenvolversintomas semelhantes aos da doença de Cushing (ver pág. 331 ) durante otratamento de AHAI, mas retornam ao normal quando o tratamento é diminuído ouquando dado em dias alternados. Hematínicos normalmente não são necessáriose ferro não é aconselhável, a não ser que os depósitos do mesmo estejam esgotadosnos casos de insuficiência crônica da medula.

A adsorção do vírus da anemia infecciosa eqüina (ver pág. 32 ) para os eritrócitosdo cavalo resulta numa síndrome semelhante. A AHAI também ocorre em gatos, eprovavelmente em outras espécies, mas não é reconhecida.

Anemia hemolítica do bezerro neonato

A sensibilização espontânea do gado para antígenos de eritrócitos fetais é raraou não ocorre. Vacinas derivadas de sangue e usadas na prevenção de babesiosee anaplasmose podem conter antígenos de eritrócitos que imunizam as matrizes. Seo touro possuir os mesmos antígenos de eritrócitos que o doador do sangue davacina, os bezerros poderão possuir estes antígenos e desenvolver anemia hemo-lítica isoimune ao receberem o colostro. A prenhez é normal. Os anticorpos doseritrócitos dos bezerros afetados mostraram-se como sendo IgG e, pelo menos emalguns casos, hemolíticos. Uma simples dose de 2mL de vacina de Babesia empoucas semanas antes do parto pode resultar em isoeritrólise neonatal, e os casosfatais ocorrem quando as matrizes recebem 4 a 5 vacinações no período de 1 ano.O teste de Coombs costuma ser altamente positivo. Os proprietários deverão notarurina vermelha em bezerros recém-nascidos e a exacerbação do problema com arevacinação das matrizes na suspeita de infecção neonatal.

Achados clínicos – A doença pode ser fraca ou hiperaguda, com os sintomasaparecendo 12 a 48h após o nascimento. Em casos hiperagudos, a morte podevir 2h após os sinais de dispnéia forte e 12 a 16h após o nascimento. Casosagudos são caracterizados por depressão, dispnéia, e ocasionalmente, febre queaparece 24 a 48h após o nascimento. Os bezerros continuam a mamar, porémenfraquecem e empalidecem, o que é mascarado em 1 a 2 dias por icterícia levea moderada. A morte ocorre em 4 a 5 dias. Bezerros, levemente afetados,demonstram apenas tristeza e atividade reduzida.

Em casos hiperagudos há hemoglobinúria, hipofibrinogenemia e degradaçãode produtos da fibrina elevada, com morte rápida, um grande baço esponjoso edescoloração dos rins. Há um excesso de fluido pleural tingido de sangue e ospulmões são congestos e edematosos. Na forma aguda, o hematócrito cai para6 a 7% e freqüentemente há hemoglobinúria. A medula é responsiva, masinadequada; 1 a 2% de hemácias policromatofílicas e até 140 rubrícitos por 100leucócitos são vistos. O teste de Coombs é positivo e o leite da vaca aglutinahemácias do bezerro e, se o complemento for acionado, ocorre hemólise. Emcasos suaves, o hematócrito cai a 18% em 1 semana de vida e aumenta para 30%na terceira semana. A anemia é normocrômica e macrocítica.

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Diagnóstico – Costuma ser feito por achados clínicos de uma anemia severa embezerros neonatos, cujas matrizes foram vacinadas com vacinas de origem sangüí-nea. A confirmação é feita pela aglutinação de hemácias do bezerro e touro pelocolostro e soro materno.

Tratamento – Não se costuma fazer transfusão sangüínea devido à incompatibi-lidade de sangue do doador. Uma simples transfusão de uma vaca não vacinada outransfusão de eritrócitos maternos lavados com solução salina (3 vezes) pode serusada para aumentar o hematócrito a 25%. Antibióticos e esteróides podem auxiliaro tratamento.

Profilaxia – Se houver suspeita de doença, pode-se determinar sua presença seas vacas possuírem um título contra eritrócitos do touro. Quando for prático, ocolostro de vacas sem título deve ser usado até que as vacas positivas sejamordenhadas por 24 a 48h.

Anemia hemolítica do potro neonato

Potros afetados são normais ao nascimento, mas podem absorver quantidadesperigosas de isoanticorpos do colostro através do trato GI, por até 36h. Isoeritróliseneonatal, clinicamente reconhecível, raras vezes ocorre em potros de éguas primíparase, em geral, não é observada até a égua ter o seu terceiro ou quarto potro. As éguassão naturalmente isoimunizadas por rompimentos focais de placenta, que permitemhemorragias fetoplacentárias do sangue do potro incompatível com a circulaçãomaterna. Uma hemorragia fetoplacentária relativamente grande deve ser necessáriapara isoimunizar inicialmente uma égua em grau significante. A reestimulação daégua em prenhezes subseqüentes requer do potro muito menos sangue incompatí-vel do mesmo tipo. Além disso, agentes terapêuticos como transfusões de sanguee tecidos vacinais incompatíveis podem contribuir para o problema. A isoeritróliseneonatal pode ocorrer somente quando o potro e seu pai possuírem um fatorsangüíneo ausente na égua. Alguns garanhões cruzados com éguas sensibilizadasgerarão sempre potros suscetíveis, pois são geneticamente homozigotos para o fatorsangüíneo ofensor. Outros garanhões (heterozigotos) irão gerar potros em somentemetade das vezes que cruzarem. Apesar da eritrólise neonatal ocorrer em potros dequalquer raça, é mais observada em puros-sangues e mulas.

Achados clínicos – A gravidade da anemia varia consideravelmente, depen-dendo da quantidade e tipos de isoanticorpos consumidos. Os isoanticorposhemolíticos são os mais lesivos, e os maiores títulos existem no primeiro leitecolostral; conseqüentemente os potros que mamam vigorosamente ao nascerpodem ser os mais severamente afetados.

Sinais da doença podem se manifestar de 8h a 5 dias após o nascimento.Observam-se letargia, icterícia, dispnéia, batimentos cardíacos fortes e, em casosseveros, hemoglobinúria. Os potros passam muito tempo deitados e os que estãoseveramente afetados não conseguem se levantar. Eles mamam infreqüentementee por períodos curtos. A conjuntiva, esclera e mucosas tornam-se gradativamenteictéricas em potros seriamente afetados. Os números de hemácias variam de , 2a 4 × 106/µL(2 a 4 × 1012/L) e elas tendem a formar grumos no próprio plasma. Potroscom este nível de eritrócitos nas primeiras 24h exigem tratamento.

Diagnóstico – Pode ser feito em nível clínico. Um teste de Coombs positivo empotro anêmico é uma forte evidência presuntiva, e a demonstração de anticorpoespecífico contra eritrócito do potro em soro materno ou colostro é definitiva. Excetopela anemia, icterícia e, algumas vezes, hematúria, poucas lesões são encontradasregularmente. Esplenomegalia e icterícia generalizada são freqüentemente vistasem potros que morrem 24 a 48h após o nascimento.

Tratamento – Para os potros que não foram seriamente afetados, cuidadosordinários acompanhados de antibióticos e restrição de exercício pela primeira

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semana geralmente resultam em recuperação. A transfusão de sangue é o únicométodo conhecido para se salvar um potro seriamente anêmico. Nem o sangueíntegro da mãe nem o do pai podem ser usados nas transfusões, uma vez que contêmo anticorpo hemolítico, mas eritrócitos lavados com solução salina da égua sãoprovavelmente o tratamento de escolha. Um doador compatível é difícil de serencontrado e deve ser selecionado para eritrócitos que não sejam aglutinados ouhemolisados pelo soro ou colostro da égua, e cujo soro não contenha isoaglutininasou iso-hemolisinas de células do potro demonstráveis. A contagem de eritrócitos dopotro deve ser mantida em 3 a 4 × 106/µL (3 a 4 × 1012/L), ou o hematócrito ≥ 15% atéa recuperação. Se as hemácias da égua estão disponíveis, 2 ou 3 lavadas em soluçãosalina isotônica são essenciais. Cerca de 2 a 3 L de sangue da égua serão suficientes.Como alternativa, a remoção de 3 a 7L do sangue do potro e a substituição por 4 a6L de sangue do doador irão corrigir a anemia e aliviar temporariamente os sinais.Transfusões adicionais podem ser necessárias e uma terapia de suporte é essencial.Deve-se manter muita atenção para a detecção de infecções. Os potros afetadosnormalmente possuem uma forte resposta da medula óssea, que é caracterizada poruma marcante anisocitose de eritrócitos em esfregaços sangüíneos e por um desviono VCM de 45 a 50 para 50 a 55mm3 (fL). A esferocitose também está presente,porém é de difícil confirmação. Eritrócitos policromáticos são raramente encontradosno sangue periférico, e sua ausência deve ser considerada uma característica daespécie e não insuficiência da medula. Rubrícitos e sideroleucócitos ocasionaispodem ser observados em casos graves. Haverá também uma leucocitose neutrofílicaassociada. A contagem de leucócitos sobe de 15 a 25.000/µL (15 a 25 × 109/L) comtratamento esteróide, que deve ser acompanhado por antibioticoterapia.

Profilaxia – Se o soro da égua mostrar um título definido de anticorpos (>1:2)perto do final da gestação, ou se um teste do colostro da égua com células do potroao nascimento mostrar um título de anticorpos >1:8, a doença poderá ser evitadaafastando-se o potro de sua mãe logo ao nascimento por 36h. O potro deve serlevado a uma mãe adotiva normal ou amamentado com colostro de éguas nãoimunizadas. Este colostro deve ser armazenado congelado para este propósito. Amãe do potro deve ser ordenhada para que se esgote o colostro. A doençanormalmente pode ser prevenida acasalando-se éguas, que já produziram um oumais potros afetados, com garanhões cujas hemácias não são aglutinadas ouhemolisadas por isoanticorpos presentes no soro da égua. Entretanto, nestescasos, o nível de anticorpos séricos deve ser medido durante a última gestação paradetectar o possível aparecimento de novos isoanticorpos.

Anemia hemolítica do leitão neonato

A sensibilização materna pode ocorrer tanto pelo uso de vacina de cólera suína,de origem sangüínea e inativada por cristal violeta, como por sensibilização naturaltransplacentária. A doença espontânea é primariamente uma trombocitopeniaisoimune com efeitos menores nos eritrócitos. Os leitões são normais ao nascimentoe a doença ocorre após a amamentação.

Os primeiros sintomas são devidos à destruição de eritrócitos e plaquetas nosangue periférico. A princípio, a medula é responsiva e a doença é autocorrigidadurante a primeira semana. Com a continuação da absorção de anticorpos, há umadepressão dos precursores da medula e as petéquias terminais são associadas àdiminuição da produção de plaquetas na aplasia medular. A anemia terminal ocorretanto por hemorragia quanto por hipoproliferação.

Achados clínicos – Os sinais aparecem 1 a 4 dias após o nascimento econsistem em palidez, inatividade, dispnéia e icterícia. Estes sinais diminuemgradualmente. Após 10 a 11 dias, aparecem múltiplas hemorragias petequiais

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sobre as áreas ventrais do corpo; a maioria dos leitões morre neste estágio. Acontagem de hemácias cai de um normal de 4,5 a 5,3 × 106/µL (4,5 a 5,3 × 1012/L)no nascimento para 1 a 3 × 106/µL (1 a 3 × 1012/L) aos 4 dias de vida. Com odesenvolver da anemia, anisocitose e policromasia aparecem junto com algunsrubrícitos circulantes. O VCM aumenta de um normal de 70µm3 (fL) ao nascimen-to para 100 a 120µm3 em 1 a 2 semanas de vida e volta ao normal nossobreviventes em 4 semanas de idade. Os neutrófilos aumentam para 9 a 10 ×103/µL (9 a 10 × 109/L) aos 4 dias de vida, quando os eritrócitos estão mais baixose depois voltam ao normal (3 a 4 × 103/µL [3 a 4 × 109/L]). As plaquetas têm umaresposta bimodal e caem de 300 × 103/µL(300 × 109/L) ao nascimento para 100× 103/µL (100 × 109/L) no primeiro dia, depois sobem para o normal na primeirasemana; entretanto, ocorre uma severa trombocitopenia após 10 a 14 dias. Amedula óssea é hipoplásica em leitões que morrem, e há ausência de megaca-riócitos. Os eritrócitos são positivos para Coombs nos primeiros 7 dias enegativos no 14º dia.

Diagnóstico – Normalmente é feito ao se encontrar anemia, púrpura e icterícialeve em leitões neonatos. A anemia é inicialmente hemolítica, macrocítica, normocrô-mica e responsiva; mais tarde torna-se hipoplásica. A confirmação é feita pelademonstração da aglutinação de eritrócitos e plaquetas do cachaço e do leitão pelosoro e leite da matriz. A leptospirose pode ser descartada pela demonstração detrombocitopenia ou pelo título materno.

Tratamento e profilaxia – Não se costuma tentar qualquer tratamento: uma porcasubstituta pode ser usada. As porcas não devem reprocriar após terem leitõesafetados.

Anemia hemolítica de cães e gatos neonatos

A sensibilização espontânea de cadelas e gatas a antígenos de eritrócitosfetais de filhotes que dividem a maioria dos antígenos do grupo sangüíneoincompatíveis aos seus pais provavelmente ocorre com mais freqüência do quese percebe. Dos cães, , 40% carregam o antígeno DEA 1, e dos gatos, , 90%carregam o antígeno A. Portanto, a chance aleatória de acasalamento de umanimal que carrega o antígeno com um animal que não o carrega é de 40:60 e90:10 para cães e gatos, respectivamente. O diagnóstico, manejo e tratamentodos filhotes com doença hemolítica seguem os mesmos princípios anteriormentediscutidos para as grandes espécies animais.

ANEMIA HEMOLÍTICA POR FRAGMENTAÇÃO INTRAVASCULAR

Doenças que causam vasculite ativam as plaquetas e o mecanismo de coagu-lação e causam coagulação intravascular disseminada (CID) em algum grau. Apassagem de eritrócitos em alta velocidade através das arteríolas lesadas leva auma fragmentação à medida que eles atingem os leitos intraluminais de fibrina. Ascélulas danificadas são então removidas pelo sistema reticuloendotelial. Estapatogenia é conhecida como anemia hemolítica microangiopática (AHM) e écaracterizada clinicamente por uma anemia com marcante poiquilocitose e reticu-locitose. A AHM ocorre em bezerros novos com síndrome urêmica hemolítica , naqual há anemia severa, poiquilocitose, uremia, hemoglobinúria e colapso. A AHMem graus moderado a severo ocorre como parte da patogenia de muitas outrasanemias, nas quais há vasculite (por exemplo, anemia infecciosa eqüina, febrecatarral maligna, febre suína africana, cólera crônica suína) e em púrpuras trombó-ticas. Anemias com poiquilocitoses marcantes podem ocorrer em algumas doençasparasitárias, especialmente quando há extensa migração somática, como eminfestações por Strongyloides e na dirofilariose canina. Em um cavalo não anêmico,

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especialmente com cólica, a presença de algumas hemácias altamente distorcidasé indicativa de AHM por vasculite parasitária da artéria mesentérica anterior. A AHMocorre também em casos de malignidade, especialmente se houver tecido tumoralcavernoso ou necrótico como em hemangiossarcomas.

ANEMIA POR PERDA DE ERITRÓCITOS NORMAIS

HEMÓLISE

Hemólise por aumento de remoção reticuloendotelial, esplenomegalia ehiperesplenismo – Qualquer condição que causa aumento do baço resulta numaumento da atividade eritrofagocítica no órgão. A esplenomegalia pode ocorrercomo resultado de hiperplasia devida a infecção crônica, doença auto-imune ouneoplasia esplênica. Hepatopatias que resultam em cirrose e hipertensão portalcausam esplenomegalia congestiva. A extensão do retículo esplênico com o aumen-to do baço estimula tanto a fagocitose como a fibroplasia. O baço aumentado retémsangue, formando um meio de baixa glicose e colesterol e alto pH, o que resultanum envelhecimento prematuro ou “condicionamento” do eritrócito, que os tornaesferocíticos para serem removidos da circulação. A esplenomegalia então, apenaspor razões hemodinâmicas, pode progredir para hiperesplenismo , que é definidocomo uma esplenomegalia por qualquer motivo, com hiperplasia da medula ediminuição de um ou mais elementos celulares do sangue que se corrige com aremoção do baço. O distúrbio clínico resultante do hiperesplenismo pode ser púrpuratrombocitopênica, anemia hemolítica ou neutropenia, ou qualquer combinaçãodestas. A doença será mais severa se fatores imunes forem adicionados à patogeniacongestiva. Nestes casos, a esplenectomia poderá ser a única alternativa. Há perigode doença trombótica no período pós-operatório imediato (1 a 2 dias) devido à perdado controle esplênico da trombocitose. Esta complicação é refletida clinicamente porextremidades frias, particularmente nas pontas das orelhas e cauda do cão. Se estessinais forem marcantes, drogas antiplaquetas (por exemplo, aspirina) ou anticoagu-lantes (por exemplo, heparina ou varfarim) poderão ser necessários para o controleda trombose.

Anemia hemolítica por parasitismo – O parasitismo das hemácias poderesultar em hemólise intravascular com hemoglobinemia e hemoglobinúria, como nababesiose (ver pág. 83). Alternativamente, os parasitas poderão ser removidos doseritrócitos pelo baço e as células retornadas à circulação, ou o eritrócito poderá serremovido inteiro e destruído pelas células do SRE. Esta segunda patogenia ocorreem hemobartonelose do gato (ver pág. 33 ), anaplasmose em bovinos e ovinos (verpág. 81), eperitrozoonose (ver pág. 87 ) e malária em mamíferos e aves. A ehrlichioseem cavalos (ver pág. 453 ), cães (ver pág. 497), e provavelmente em bovinos, causaanemia com púrpura trombocitopênica devido ao parasitismo de plaquetas eleucócitos.

Os tripanossomos são comuns no sangue de bovinos na América do Norte, masem geral não são patogênicos. Raramente, um cão que tenha retornado da Américado Sul terá tripanossomos no sangue e desenvolverá anemia hemolítica aguda comreticulocitose marcante. Cães que estiveram na área do Mediterrâneo podem estarinfectados com Leishmania spp transmitido por vetores artrópodes. Ocorre epista-xe, mas somente uma anemia leve. A biópsia da medula óssea, linfonodos ou baçomostrará Leishmania nas células do SRE.

Em geral, a medula é hiperplásica em anemias por parasitismo de hemácias e hámacrocitose, policromasia e reticulocitose significantes no sangue periférico. Sehouver hemoglobinúria com perda de ferro e proteínas, a recuperação será mais lenta.A medula na ehrlichiose é hipoplásica. O diagnóstico é baseado nos títulos ou

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demonstração do microrganismo. O tratamento e a prevenção variam de acordo coma doença. A demonstração de Haemobartonella em um gato anêmico, sem mostraruma resposta policromática marcante, é motivo para se procurar um neoplasma doSRE que tenha abaixado a imunidade humoral. Testes de Coombs positivos já foramdemonstrados em algumas anemias de parasitismo de hemácias.

Lise de eritrócitos normais por ação de agentes bacterianos, vegetais,químicos ou físicos – hemolisinas bacterianas – (Ver LEPTOSPIROSE, pág. 425 eHEMOGLOBINÚRIA BACILAR, pág. 389 ) Bartonella bacilliformis geralmente causa ane-mia hemolítica fatal no homem, cães e roedores. A doença manifesta-se maisprovavelmente em cães esplenectomizados. Conhecida como febre de Oroya, adoença pode ser diagnosticada pela demonstração de microrganismos intra-eritrocíticos em esfregaços sangüíneos. O tratamento de escolha é o cloranfenicolEV, administrado diariamente, por 3 a 5 dias, na dose de 11 a 22mg/kg.

Hemolisinas vegetais – A maioria das plantas que causam anemia hemolítica,como sorgo, couve, nabo e cebolas, o faz devido à depleção da enzima G6PD, comprodução de corpúsculos de Heinz, o que foi discutido anteriormente sob o títuloERITRÓCITOS COM CONTEÚDO ENZIMÁTICO DEFICIENTE. A lise direta da membrana dashemácias pode ser causada pela saponina a partir da cutícula de cera das plantasou por ricina de mamonas. As hemolisinas são princípios tóxicos da maioria dosvenenos de cobras e aranhas.

Hemolisinas químicas – Uma grande variedade de compostos químicos podeproduzir hemólise e, em adição, anemia aplásica. Os agentes mais comumenteenvolvidos neste segundo tipo de anemia são os hidrocarbonetos cíclicos como obenzeno, tolueno, acetanilida e fenacetina. Metais pesados, como chumbo e prata,inibem a síntese de Hb e arsenicais podem causar hemólises. Fenilidrazina e outroscompostos oxidantes, incluindo vitamina K

1, produzem corpúsculos de Heinz ehemólise como descrito anteriormente (pág. 23 ). Anemias com estas causas devemser tratadas sintomaticamente até um diagnóstico toxicológico específico. Intoxica-ção por chumbo produz sintomas nervosos, normalmente sem anemia. Em cães eno homem, podem ocorrer granulações basofílicas nos eritrócitos e liberaçãointermitente de altos números de rubrícitos e metarrubrícitos para sangue periférico,com o aumento de níveis de chumbo no sangue.

Quantidades consideráveis de cobre podem ser acumuladas gradualmente semqualquer dano aparente, mas “intoxicação crônica por cobre” (ver pág. 1995) ocorrecongenitamente na doença de Wilson em bedlington terriers, e hepatite crônica ativaem dobermans pinschers. Isto também pode ocorrer quando por algum estresse háuma liberação súbita de cobre armazenado com anemia hemolítica aguda subse-qüente, como ocorre em ovinos, suínos e bovinos. Em ovinos, a fonte de cobrenormalmente é fitógena, levando a altas concentrações de cobre no fígado quepodem ser liberadas por lesões hepáticas de qualquer causa, como intoxicação porpirrolizidina alcalóide (ver pág. 2057 ) ou exercício forçado. O cobre pode ser incluídona ração de suínos como um estimulante do crescimento. Em suínos com deficiênciamarginal de vitamina E que desenvolvam hepatose dietética (ver pág. 663), podeocorrer uma necrose hepática suficiente para liberar o cobre armazenado e causaricterícia e crise hemolítica.

O excesso de molibdênio (ver pág. 2032 ), normalmente de origem fitógena, inibeo metabolismo intermediário de cobre e causa fraqueza, despigmentação da pele,diarréia e anemia hipoplásica microcítica e hipocrômica. Recomenda-se a remoçãodo molibdênio ou aumento de cobre na dieta.

Hemólise causada por agentes físicos – Queimaduras de espessura completana pele podem causar hemólise intravascular se a superfície afetada for > 20%. Aingestão excessiva de água gelada, especialmente em bezerros, pode causarhemólise, provavelmente de origem osmótica, com anemia, dispnéia e hemoglobi-

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núria. Ocasionalmente, uma anemia imune pode ser desencadeada pela exposiçãoao frio (ver pág. 518 ) se o anticorpo envolvido for da aglutinina fria ou do tipo IgM.

HEMORRAGIA E PARASITISMO

Perda devida a hemorragia ou parasitismo externos – A hemorragia externapode ocorrer em ferimentos, prolapso uterino e lacerações ou trauma cirúrgico,especialmente descorna e castração. Em hemorragias agudas, há hipovolemia ehipotensão com hematócrito normal. Em hemorragias crônicas, o hematócrito ébaixo, geralmente com uma medula não responsiva devido à perda de ferro. Numsangramento agudo, indicam-se fluidos EV e transfusões de sangue para areposição do volume sangüíneo, plaquetas e fatores de coagulação. A medulanormalmente é responsiva, e devem-se dar ferro parenteral a 3,4mg/g de Hb (perdaestimada) e hematínicos. Nas anemias por hemorragias crônicas, não há tantanecessidade de transfusões, a menos que o animal seja acentuadamente anêmico,especialmente se estiver se mantendo em pé e o sangramento já tiver cessado.Ferro e hematínicos devem ser dados conforme já visto. Deve-se tomar cuidado nomanejo do animal anêmico, uma vez que o estresse pode ser fatal.

O parasitismo externo pode causar anemia, especialmente em animais jovens.Em geral, insetos sugadores como os tabanídeos, moscas pretas e mosquitoscausam mais irritação que perda de sangue. Muitas vezes, bezerros podem setornar altamente infestados por piolhos, apresentando-se magros, fracos, e leve aseveramente anêmicos. Filhotes de cães e gatos podem desenvolver anemiasgraves devido a grandes infestações por piolhos ou pulgas; em áreas endêmicas,carrapatos sugadores infestam uma grande variedade de hospedeiros. Estasanemias ocorrem primariamente por perda de sangue; os animais devem sertratados com ferro e aplicação de ectoparasiticidas. Bovinos, especialmente, sofremde depressão da medula em altas infestações por piolhos, e a recuperação é lenta.

Perda de eritrócitos normais por hemorragia interna ou parasitismo interno– A hemorragia interna pode ser aguda ou crônica e ocorrer espontaneamente emdefeitos hemostáticos ou como resultado de cirurgias, ferimentos, tumores ouabscessos e ulcerações no trato GI ou urinário. O diagnóstico costuma ser auxiliadopela aspiração do tórax, abdome ou do tecido subcutâneo, exceto em coagulopatiashereditárias, quando não é seguro fazê-lo. Se o sangramento for geral, deve-secoletar o sangue periférico em tubos com anticoagulante adequado (citrato trissódico)para análise. Em intoxicações por rodenticidas anticoagulantes ou trevo doce (verpág. 2105) e insuficiência hepática, o tempo de ativação da protrombina é baixo. Seo sangramento GI ou urinário for fraco, porém muito prolongado, poderá haver umadeficiência de ferro, e o tratamento deverá ser feito como descrito anteriormente (verDISTÚRBIOS HEMOSTÁTICOS, pág. 63 ).

Parasitismo interno (ver também pág. 285 ) – Uma anemia profunda pode sercausada em cães e gatos em infecções por Ancylostomas. Em casos graves comcolapso, o tratamento anti-helmíntico deve ser precedido por transfusão de sangue.No parasitismo intestinal, o ferro perdido não é reabsorvido, e em casos crônicos,o ferro parenteral pode responder melhor que um anti-helmíntico. A medula costumaser produtiva se os estoques de ferro não estão esgotados e uma reticulocitose nosangue periférico é acentuada por uma ocasional poiquilocitose grave. Em ovinos,a infestação aguda por Haemonchus (ver pág. 251) pode causar morte por anemiasem debilitação. A diarréia ocorre na maioria dos parasitismos GI de ovinos, excetopor Haemonchus. Em bezerros ou novilhos, infestação crônica por Ostertagia (verpág. 246 ) causa caquexia, uma anemia com resposta fraca de reticulócitos e,ocasionalmente, uma poiquilocitose marcante. O ferro deve ser administradoparenteralmente se houver anemia severa ou se o ferro do soro estiver baixo.

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ANEMIA INFECCIOSA EQÜINA(AIE, Febre dos pântanos)

É uma doença viral dos eqüinos, aguda ou crônica, encontrada onde quer queexistam cavalos. O vírus é semelhante ao lentivírus humano da AIDS , mas não seconhece caso de infecção no homem.

Epidemiologia e transmissão – Em casos agudos, o vírus encontra-se nosangue e em todos os tecidos e secreções. Ele persiste em leucócitos de cavalosinfectados por toda a vida e é relativamente estável na presença do soro, porém éprontamente inativado por desinfetantes comuns que contenham detergentes.

A transmissão se dá por transferência de células sangüíneas de um cavaloinfectado. A inserção e a retirada de uma agulha hipodérmica podem fornecer uminóculo adequado para transmissão. Em geral, a doença só é detectada esporadi-camente, mas pode se alastrar em uma forma epidêmica a partir de cavalosobviamente doentes, quando moscas sugadoras forem abundantes ou se agulhasou instrumentos cirúrgicos contaminados forem usados. As éguas podem infectarseus potros in utero. O período de incubação varia de 1 a 3 semanas, mas podemse estender por até 3 meses.

Achados clínicos – A doença é caracterizada por febre intermitente, depressão,fraqueza progressiva, perda de peso, edema e anemia progressiva ou transitória;tende a se tornar uma infecção inaparente, mas algumas vezes resulta em morte. Emcavalos ativamente doentes, o hematócrito e a contagem de plaquetas estão diminuí-dos e a contagem de monócitos aumentada; em infecções crônicas, o sangue podeconter leucócitos com ferro corável e possuir um nível elevado de gamaglobulinas.

Lesões – Em casos agudos, há esplenomegalia e os linfonodos esplênicosapresentam-se aumentados. Em casos subagudos ou crônicos, a necropsia revelamucosas pálidas, emaciação, edema subcutâneo (especialmente ao longo daparede ventral abdominal e membros), esplenomegalia e linfonodos abdominaisaumentados. Coagulação intravascular com embolia é freqüentemente observadaem casos terminais avançados.

Microscopicamente, há uma proliferação de células reticuloendoteliais em mui-tos órgãos, e coleções periportal e perissinusoidal de células mononucleares nofígado com acúmulo de hemossiderina nas células de Kupffer. Infiltração linfóideperivascular também pode ocorrer em outros órgãos. Glomerulite proliferativa estápresente em alguns cavalos, e há uma deposição glomerular de imunoglobulinas(IgG) e complemento (C3).

Diagnóstico – O diagnóstico clínico de AIE deve ser confirmado por testes de“Coggins” ou imunodifusão que são testes sorológicos simples e altamente precisospara a detecção da infecção. Potros que mamam em éguas infectadas poderão ser,temporariamente, positivos para este teste, e testes em cavalos recentementeinfectados serão negativos por , 1 semana até a formação de anticorpos.

A AIE deve ser suspeitada em cavalos com histórico de perda de peso acompa-nhada por febre periódica, ou se vários animais de um grupo desenvolveremsintomas semelhantes após a introdução de novos animais no rebanho ou morte deum cavalo no pasto.

Tratamento e controle – Não existe nenhum tratamento específico ou vacina.Uma terapia geral de suporte deve ajudar em um caso individual, mas um cavaloinfectado, especialmente se estiver apresentando sintomas clínicos da doença,deve ser visto como uma fonte provável de infecção para outros cavalos. Uma vezque o diagnóstico tenha sido estabelecido, o animal infectado deve ser afastado dosoutros imediatamente e mantido em isolamento, se não sacrificado. A mosca docavalo é um importante vetor, logo a estabulação durante a época das moscas ajudana prevenção da expansão da doença.

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O controle de moscas dos estábulos e mosquitos deve ser feito com telas ou poraerossóis. Equipamentos que possam causar abrasões na pele ou absorver secre-ções ou excreções devem ser evitados ou desinfetados antes do uso. Agulhashipodérmicas e instrumentos cirúrgicos devem ser esterilizados antes de cada uso.Potros nascidos de éguas infectadas, especialmente se elas mostrarem sintomasclínicos, devem ser isolados dos outros animais até que se possa estabelecer aausência da infecção, com o desaparecimento dos anticorpos maternos.

ANEMIA INFECCIOSA FELINA(AIF, Hemobartonelose)

Trata-se de anemia de gatos domésticos de muitas partes do mundo, aguda oucrônica, causada por uma rickéttsia que se multiplica no sistema vascular.

Etiologia – O agente causal, Haemobartonella felis, é um microrganismococóide, em forma de anel ou bastão cujas dimensões variam de 0,2 a 1µm dediâmetro nas formas cocóides a até 3µm de comprimento nas formas em bastão.Os microrganismos costumam ser encontrados em diversas quantidades nassuperfícies de eritrócitos, mas ocasionalmente são vistos livres no plasma.Aparecem como corpúsculos escuros vermelho-violeta em esfregaços sangüí-neos corados por Giemsa. O número de eritrócitos afetados varia com a intensi-dade da infecção e com o estágio no ciclo de vida do parasita. A doença pode sertransmitida experimentalmente por transferência oral ou parenteral de pequenasquantidades de sangue íntegro infectado em gatos suscetíveis. A transmissãointra-uterina está bem estabelecida, e as infecções podem ser transmitidas deforma iatrogênica durante as transfusões de sangue.

Em casos induzidos experimentalmente, o período de incubação varia de 1 a5 semanas e a recuperação não induz uma imunidade contra reinfecção. Nãoforam estabelecidos ainda métodos de transmissão natural; entretanto, pareceque a doença surge mais em gatos de 1 a 3 anos, particularmente em machos.Ferimentos por mordidas podem ser uma forma de transmissão. Uma porçãosignificante da população felina pode carrear a infecção numa forma latente, quese exacerba na presença de doenças debilitantes ou estresse. Os gatos infecta-dos podem formar anticorpos contra suas próprias hemácias, levando a umaanemia hemolítica auto-imune (ver pág. 24 ).

Achados clínicos – Pode-se suspeitar, com razão, que qualquer gato anêmicotenha anemia infecciosa felina. Em casos agudos, normalmente há febre de 39 a41oC. A temperatura pode cair para subnormal em um gato moribundo. Icterícia,anorexia, depressão, fraqueza e esplenomegalia são sintomas comuns. Em casoscrônicos ou de evolução lenta, pode haver uma temperatura normal ou subnormal,fraqueza, depressão e emaciação, porém menos icterícia e esplenomegalia. Nosdois casos, a dispnéia varia com o grau da anemia. Não são distintivos achadosmacroscópicos da necropsia. O baço e linfonodos mesentéricos podem estaraumentados, e hiperplasia da medula óssea pode estar presente.

Diagnóstico – A confirmação laboratorial depende da identificação do para-sita no sangue periférico ou medula óssea. Uma série de esfregaços corados comsoluções de Giemsa ou Wright, por um período de vários dias, pode sernecessária para um diagnóstico preciso, pois os corpúsculos eritrocíticos somen-te se mostram periodicamente. Alguns elementos como corpúsculos de Howell-Jolly podem ser confundidos com parasitas sangüíneos e devem ser cuidadosa-mente eliminados. As lâminas devem ser muito limpas e os corantes filtradosimediatamente antes do uso; partículas de sujeira e precipitados sangüíneospodem mimetizar a aparência do microrganismo. Podem-se observar os mi-

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crorganismos em células afetadas coradas com laranja acridina e examinadassob luz ultravioleta.

No sudeste dos EUA, deve ser feita uma diferenciação a partir da citazoonosefelina (ver pág. 86 ). A Cytauxzoon felis mostra-se como um protozoário cocóide, embastão ou anel intracelular com 0,5 a 2µm de diâmetro dentro do eritrócito, enquantoa H. felis tende a formar cadeias na superfície.

Modificações das células sangüíneas típicas de uma anemia regenerativapodem ser vistas em esfregaços positivos. Estas incluem grânulos basofílicosdifusos nas células maiores, eritrócitos nucleados, policromasia, anisocitose, cor-púsculos de Howell-Jolly e um número aumentado de reticulócitos. O número dehemácias pode cair até 1 × 106/µL. São observados valores de Hb ≤ 7g/dL. O VCMaumenta e há uma ligeira elevação na contagem de leucócitos com monocitose nasformas agudas, número normal nas formas crônicas e leucopenia nos casosmoribundos. Uma vez que hemácias nucleadas podem estar presentes, um númerototal corrigido de leucócitos deve ser calculado.

Deve-se investigar a presença de um estresse de base, em particular infecçãopelo vírus da leucemia felina, especialmente com infecções recorrentes.

Profilaxia e tratamento – Gatos gravemente dispnéicos necessitam de oxigê-nio, e com freqüência recomendam-se transfusões de sangue, particularmente sea anemia for aguda. Deve ser dado 30 a 80mL de sangue total, preferivelmente EV,e repetido se necessário, talvez a cada 2 ou 3 dias.

Oxitetraciclina (20mg/kg, VO) ou cloridrato de tetraciclina (33 a 110mg/kg, VO,3 ou 4 vezes ao dia) é eficaz. Para evitar recidivas, o tratamento com drogas devecontinuar por um período de 10 a 20 dias. A tiacetarsamida de sódio em 0,5mL/10lb(0,1mL/kg), administrada EV em 1 dia, e repetida em 3 dias, parece ser eficaz.Podem ocorrer reações tóxicas, e uma transfusão deve preceder a dosagem se ohematócrito estiver < 20%. Cloridrato de oxifenarsina já foi utilizado com êxito, comotambém a prednisolona, para diminuir a taxa de hemólise e reverter a depressãoassociada à anemia grave.

Tendo em vista um conhecimento limitado da transmissão da doença, quasenada pode ser recomendado quanto à profilaxia. Deve-se ter muito cuidado,entretanto, na seleção de gatos doadores para transfusões de sangue em geral. Osdoadores devem ser checados para a evidência de uma infecção latente, testando-se seu sangue em gatos esplenectomizados ou por exame de esfregaços sangüí-neos a cada 2 dias por ≥ 2 semanas após esplenectomia.

GRUPOS SANGÜÍNEOS E TRANSFUSÕESSANGÜÍNEAS

Grupos sangüíneos, como estamos chamando, referem-se a componentesantigênicos da membrana do eritrócito, polimórficos e geneticamente controlados.Os produtos alélicos de um locus genético particular são classificados como umsistema de grupo sangüíneo. Alguns destes sistemas são altamente complexos,com muitos alelos definidos em um locus; outros consistem de um único antígenodefinido. Os sistemas de grupos sangüíneos são geralmente independentes unsdos outros e sua hereditariedade ajusta-se à dominância mendeliana. Para siste-mas de grupos sangüíneos polimórficos, um animal geralmente herda um alelo decada pai, tanto que os animais expressam não mais que 2 antígenos de gruposangüíneo de um sistema. Uma exceção é o bovino, no qual alelos múltiplos ou

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“fenogrupos” são herdados. Normalmente, um indivíduo não tem anticorpos contraquaisquer dos antígenos presentes em suas próprias hemácias, nem contra outrosgrupos de antígenos sangüíneos daqueles sistemas de espécies, a não ser quetenham sido induzidos por transfusão, prenhez ou imunização. Em algumasespécies (homem, ovelha, vaca, gato, porco, cavalo e cão), os isoanticorpos de“ocorrência natural”, não induzidos por transfusão ou prenhez, podem estar presen-tes em títulos variáveis, porém detectáveis. No cão, , 50% de animais selecionadosao acaso possuem uma ocorrência natural de crio-hemaglutinina, Tr. Além disso, osanticorpos circulantes para antígenos de grupos sangüíneos de animais podem serinduzidos por transfusões. Com transfusões de sangue aleatórias em cães, há 30a 40% de chances de isossensibilização do receptor, basicamente devido aoantígeno do grupo sangüíneo DEA 1 (inicialmente conhecido como antígeno A docão). Em cavalos, cães e gatos, possivelmente em visons e raramente em porcose cães, pode ocorrer imunização transplacentária de uma fêmea por um antígenofetal incompatível herdado do pai. A imunização também pode resultar quandoalguns produtos homólogos do sangue são usados como vacinas, por exemplo, paraanaplasmose em bovinos.

TESTES DE TIPAGEM SANGÜÍNEA

Os anti-soros usados para identificar grupos sangüíneos (reagentes de tipagem)são normalmente produzidos como soro isoimune, mas são denominadosheteroimunes se forem produzidos em outras espécies. Suas características soroló-gicas in vitro variam com as espécies. Muitos dos reagentes são hemaglutininas;outros são hemolíticos e requerem complemento para completar a reação sorológi-ca, por exemplo, em bovinos, nos quais as hemácias não se aglutinam rapidamente,e em cavalos, nos quais os grumos de hemácias são um problema. Há ainda outrosreagentes de tipagem, nem hemaglutinantes nem hemolíticos que se combinam comantígenos de hemácias em reações “incompletas”, pois não possuem os sítioscombinantes adicionais para aglutinar outras hemácias. Estes necessitam que sejaadicionada antiglobulina espécie-específica para que ocorra a aglutinação.

APLICAÇÃO DA GRUPAGEM SANGÜÍNEA

O número dos principais grupos sangüíneos reconhecidos varia de espécie paraespécie: bovinos 12; ovinos 7; eqüinos 9; suínos 16; cães 7; gatos 2; visons 5;macacos Rhesus 6; ratos 4; camundongos (C57) 4; galinhas 11; coelhos 5. Osgrupos sangüíneos dos animais são tipificados para auxiliar a combinação entredoadores e receptores e para identificar casais que possuem risco potencial deproduzir doença hemolítica na sua prole. Como a expressão dos antígenos dosgrupos sangüíneos é geneticamente controlada e as formas de herança sãoconhecidas, estes sistemas podem também ser utilizados para substanciar pedigreesno gado, cavalos, e raramente em cães. O aumento do uso da inseminação artificial,criopreservação e transferência de embrião expandiu bastante a aplicação destas

Grupos Sangüíneos e Transfusões Sangüíneas 35

TABELA 6 – Principais Grupos Sangüíneos de Interesse Clínico

Espécies Grupo sangüíneo

Cão DEA 1,1; 1,2 e 7Gato A, BCavalo A, C, QBovinos B, JOvinos B, R

técnicas. A tipagem sangüínea dos touros doadores de sêmen é bastante empre-gada. Garanhões, éguas e potros puros-sangues precisam ter sua tipagem sangüí-nea realizada antes de serem registrados.

Técnicas de reação cruzada

Com os controles apropriados, o procedimento direto de reação cruzada é eficazpara todas as espécies. Uma reação cruzada maior detecta anticorpos já presentesno plasma do receptor que poderiam causar uma reação hemolítica quando fossemtransfundidos eritrócitos do doador; ela não detectará o potencial de desenvolvimen-to de sensibilidade. São coletadas amostras de sangue com anticoagulante (EDTAou citrato) do doador e do receptor. Os eritrócitos do doador são lavados 3 vezes emsolução salina a 0,9% e a suspensão salina a 4% é feita a partir das células lavadas.A reação cruzada principal consiste em combinar-se volumes iguais (0,1mL) dasuspensão de eritrócitos do doador e plasma do receptor. O tubo de controle contémsuspensão de eritrócitos a 4% e plasma do receptor. As amostras são incubadas a37oC por 15min. Após a incubação, todos os tubos são centrifugados a 1.000rpm por1min. A hemólise é avaliada comparando-se a cor do sobrenadante da amostra emteste com o da amostra de controle. Cada amostra é então delicadamente agitada atéque todas as células presentes no botão no fundo do tubo retornem à suspensão.Novamente, compara-se o grau de aglutinação celular da amostra-teste com o daamostra-controle. O teste é negativo ou compatível quando os eritrócitos sãoprontamente suspensos. Um teste positivo ou incompatível pode apresentar hemó-lise, hemaglutinação, ou ambas. Todos os testes julgados macroscopicamente comohemaglutinação negativa devem ser confirmados microscopicamente com aumentopequeno. Isto é especialmente importante nos cavalos, pois seus eritrócitos tendema formar rosetas. Todos os testes negativos devem então ser confirmados pelo testeda antiglobulina: os eritrócitos são lavados 3 vezes em solução salina, adiciona-seuma antiglobulina adequada (soro de Coombs), a amostra é incubada por 15min a37oC, centrifugada a 1.000rpm e avaliada quanto à hemaglutinação. O teste dereação cruzada menor é o inverso do de reação cruzada maior, isto é, as células doreceptor são combinadas com o plasma do doador.

TRANSFUSÃO DE SANGUE

A necessidade para transfusões de sangue é freqüentemente alta, assim comopara hemorragias ou hemólise aguda. As transfusões são adequadas no tratamentode anemias crônicas ou agudas, uma vez que haja também um esforço paraencontrar e eliminar a causa da anemia. Animais com distúrbios hemostáticosfreqüentemente precisam de transfusões repetidas, ou de sangue integral, plasma,ou de preparados de plaquetas. As transfusões de sangue devem ser adminstradascom cuidado, na medida em que elas têm o potencial para comprometer o receptor.A diversidade de grupos sangüíneos existentes em animais e a falta de reagentespara tipagem no mercado tornam difíceis a tipagem e o pareamento, mas não deveser motivo para que não se faça o uso clínico de transfusões. Em cavalos e cães,os antígenos dos grupos sangüíneos mais comumente implicados em incompatibi-lidade de transfusões são conhecidos, e torna-se possível a diminuição de sensibi-lização de receptores selecionando-se doadores que não pertençam a tais grupos.Pode-se fazer uma detecção prévia de sensibilização do receptor com teste dereação cruzada, que impede a administração de sangue incompatível. Nos EUA, >99% dos gatos são do grupo sangüíneo A, portanto o risco de transfusão incompa-tível é pequeno.

Apesar de indicado quando há perda aguda de sangue, o sangue integralfreqüentemente não é o produto ideal a ser administrado. Por exemplo, se for

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necessária a reposição da capacidade do sangue para carrear oxigênio, apenashemácias serão mais apropriadas; se a reposição de volume circulatório fornecessária, soluções cristalóides poderão ser usadas para este propósito, comhemácias conforme o necessário. O número de plaquetas aumenta rapidamenteapós hemorragia e portanto a reposição não é necessária. As proteínas plasmáticasse equilibram a partir do espaço intersticial, logo o plasma não é necessário, excetona hemorragia maciça (> 1 volume sangüíneo em 24h). Animais que necessitam defatores de coagulação irão se beneficiar mais com a administração de plasma frescocongelado, o que diminui significantemente a incidência de sensibilização. O plasmarico em plaquetas ou concentrados destas pode ser útil na trombocitopenia, apesarda trombocitopenia imunomediada normalmente não responder à administração deplaquetas, pois são rapidamente removidas pelo baço.

A quantidade de eritrócitos necessária para tratar a anemia baseia-se no volumenecessário para aumentar o hematócrito ou a concentração de hemoglobina até ovalor desejado. Todos os animais domésticos possuem volume sangüíneo de , 7%do peso corporal, exceto o gato, que possui um volume sangüíneo de 4% do pesocorporal. Determinando-se o volume sangüíneo do receptor e sabendo-se o hemató-crito do animal, o volume de eritrócitos a ser reposto pode ser calculado. Por exemplo,um cão de 25kg possui um volume sangüíneo total de 2.000mL; com um hematócritode 15%, o volume de eritrócitos é de 300mL; se o hematócrito deve ser aumentadopara 20%, isto equivale a um volume de eritrócitos de 400mL. Portanto, são necessá-rios 100mL de eritrócitos para aumentar o hematócrito do receptor até o nível deseja-do. Um cálculo semelhante pode determinar o volume de sangue necessário parafornecer a quantidade necessária de eritrócitos; por exemplo, 200mL de sangue de umanimal doador com hematócrito de 50% fornecerão 100mL de eritrócitos. Não se devecoletar mais de 25% do sangue de um animal doador em uma coleta.

A coleta, transfusão e estocagem do sangue devem ser realizadas assepticamente.Os anticoagulantes de escolha são ácido-citrato-dextrose (ACD) ou citrato-fosfato-dextrose (CFD), algumas vezes com adição de adenina (CFD-A). As bolsas desangue comerciais que contêm a quantidade adequada de anticoagulante causammenos dano às células sangüíneas que os tubos de coleta a vácuo, sendo portantopreferidas. A heparina não deve ser utilizada como anticoagulante, pois possui vidamédia maior no receptor e causa ativação de plaquetas; além disso, o sangueheparinizado não pode ser armazenado.

O sangue coletado com ACD ou CFD pode ser seguramente armazenado a 4oCpor 3 semanas. Se o sangue não for utilizado imediatamente, o plasma poderá serremovido por centrifugação (ou gravidade) e congelado e armazenado para usoposterior como fonte de fatores de coagulação ou albumina para uma hipoalbumine-mia aguda reversível. A hipoproteinemia crônica não é beneficiada pelo plasma, poiso déficit corporal total de albumina é tão grande que não pode ser aliviado pelapequena quantidade contida no plasma. O plasma precisa ser congelado entre –20o

a –30oC dentro de 6h da coleta para assegurar que os níveis de Fator VIII sãoadequados e permanecerão assim por 1 ano. O Fator VIII concentrado, Fator de vonWillebrand, e fibrinogênio podem ser preparados a partir de plasma fresco congeladocomo crioprecipitado.

Riscos da transfusão

Apesar da maioria das discussões sobre riscos de transfusão concentrarem-se nas reações hemolíticas agudas, estas são raras nos animais domésticos. Oscães raramente possuem anticorpos pré-formados clinicamente significantes, demodo que apenas os que receberam transfusões repetidas correm riscos. Areação hemolítica mais comum em cães que receberam várias transfusões é uma

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hemólise intravascular tardia, observada clinicamente como um encurtamento davida média dos eritrócitos transfundidos. Um teste de Coombs positivo confirmaesta reação. As causas de hemólise não imune incluem coleta ou separaçãoinadequada do sangue, congelamento ou superaquecimento dos eritrócitos, ouinfusão sob pressão através de uma agulha fina.

Outras complicações incluem sepse por sangue contaminado, hipocalcemia porexcesso de citrato, ou hipervolemia, especialmente em animais com cardiopatia pre-existente ou em animais muito pequenos. Urticária, febre e vômitos são observadosocasionalmente. As transfusões podem transmitir doenças do doador para o recep-tor, por exemplo, parasitas de eritrócitos (por exemplo, Haemobartonella, Anaplasma,ou Babesia) e vírus (por exemplo, retrovírus como o da leucemia felina ou bovina,anemia infecciosa eqüina, ou outros lentivírus). Outras doenças, como as causadaspor rickéttsias ou bactérias, podem ocorrer se o doador estiver infectado.

LINFOMA MALIGNO CANINO(Linfoma, Linfossarcoma, Leucemia linfocítica)

Uma doença progressiva fatal dos cães caracterizada por transformaçõesneoplásicas e proliferação das células linfóides, normalmente originando-se emórgãos linfóides sólidos (linfossarcoma) ou na medula óssea (leucemia linfocítica).Os sintomas variáveis dependem de quais órgãos estejam envolvidos. Em contrastecom a maior parte das outras espécies domésticas, não foi estabelecida etiologiaviral. A doença é histólogica e imunologicamente heterogênea e os vários subtiposmorfológicos podem se comportar diferentemente.

Esta é a neoplasia hematopoiética mais comum dos cães (incidência relatada24:100.000). Todas as raças e ambos os sexos são afetados, embora a incidênciaseja maior em boxers, golden retrievers e old english sheepdogs.

Achados clínicos – O sintoma clínico inicial mais comum é uma linfadenopa-tia periférica não dolorosa, muitas vezes percebida primeiro nos linfonodos emtorno da garganta e pescoço. Subseqüentemente, sintomas não específicos,incluindo anorexia, perda de peso, anemia e inatividade, desenvolvem-se gradu-almente, conforme as células neoplásicas progressivamente infiltram-se nosórgãos viscerais. Na forma alimentar, os sintomas estão associados a obstruçãogastrointestinal ou malabsorção; 80% dos cães afetados podem ter diarréia.Outros tipos encontrados com menor freqüência incluem uma forma mediastinalanterior com envolvimento inicial da área do timo, uma forma epiteliotrófica(micose fungóide), e uma forma extranodal (atípica) que afeta um único órgão(por exemplo, rim).

A hipercalcemia pode ser observada em 20% dos cães com linfoma maligno;existem 2 mecanismos gerais: um deles é a elaboração local de um fator osteolíticoque induz a reabsorção dos ossos e a mobilização do cálcio quando a medula ósseaestá infiltrada por células tumorais; o outro, provavelmente mais comum, é umahipercalcemia humoral na qual as células neoplásicas produzem uma substânciaque age à distância (ver Hipercalcemia Humoral Maligna, pág.343 ) Em ambos oscasos, parece que há uma substância de reabsorção óssea produzida que éimunologicamente diferente do paratormônio, prostaglandina E2 e 1,25-diidroxicolecalciferol. Os cães com hipercalcemia apresentam poliúria e polidipsiaou colapso renal. Cães não tratados normalmente morrem dentro de 1 a 2 mesesapós o diagnóstico. A excreção urinária de cálcio, fósforo e hidroxiprolina éaumentada quando há hipercalcemia.

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Lesões – Normalmente, todos os linfonodos superficiais e vários internos têm oseu tamanho aumentado de 3 a 10 vezes (forma multicêntrica). Os nódulos afetadossão livremente móveis, firmes, acinzentados com uma protuberância na superfície decorte e sem demarcação cortical medular. Freqüentemente, há uma hepatospleno-megalia com aumento difuso ou com a disseminação de nódulos pálidos, difusos ede tamanho variável no parênquima. Outros órgãos ocasionalmente envolvidos sãoa medula óssea, o trato alimentar, rins, coração, amígdalas, pâncreas e olhos.

Na forma alimentar, a segunda forma mais comum da doença, qualquer parte dotrato gastrointestinal ou linfonodos mesentéricos pode ser afetada, mas linfonodossuperficiais e baço são raramente envolvidos.

Diagnóstico – A leucemia linfocítica verdadeira é rara e deve ser diferenciadade linfossarcoma por causa dos diferentes prognósticos e respostas à terapia. Adoença é caracterizada por uma contagem de leucócitos normal a aumentada comuma predominância de células linfóides no sangue periférico e medula óssea. Aleucemia linfoblástica aguda, pouco diferenciada, é uma doença agressiva comprognóstico ruim, enquanto a leucemia linfocítica crônica, bem diferenciada, é umadoença de evolução lenta que responde relativamente bem à terapia. Freqüente-mente, há uma esplenomegalia difusa. A maioria dos cães com linfossarcomaspossui um perfil hematológico normal. Nos estágios mais avançados, pode-sedesenvolver uma neutrofilia absoluta.

A maioria dos linfomas caninos são linfossarcomas difusos de alto grau (célulasblastócitas), embora, 20% sejam tumores de baixo grau (bem diferenciados).Tumores de alto grau respondem melhor à quimioterapia e apresentam tempo desobrevida e remissão mais extensos.

A célula de origem é o linfócito de linhagem da célula B ou T, embora algumassejam de origem indeterminada. Dois estudos separados descobriram que > 75%dos linfomas caninos originam-se das células B e 10 a 20% da célula T. Tumores decélulas B estão associados a melhor resposta e tempo de sobrevida e remissão maisextensos que os neoplasmas de células T. Há uma forte correlação entre algunsneoplasmas de células T e hipercalcemia, e estes tumores estão associados a taxasde resposta, tempo de remissão e sobrevida menores.

O exame microscópico do tecido linfóide é necessário para o diagnóstico positivo,uma vez que as linfadenopatias podem ter outras causas além de doençasneoplásicas. O exame do sangue periférico ou medula óssea normalmente não édiagnóstico, exceto em casos terminais ou em leucemia linfocítica.

Embora a citologia de remoção do linfonodo ou o esfregaço de amostras debiópsia possam fornecer um diagnóstico, o exame histopatológico de um linfonodoperiférico envolvido é aconselhável e geralmente fornece um diagnóstico definitivo.Devido aos nódulos submandibulares serem freqüentemente hiperplásicos, sãomais difíceis de serem avaliados e devem ser evitados se outros nódulos estiveremaumentados.

Tratamento – A quimioterapia por combinação cíclica com doses utilizadas emhomens geralmente é tóxica também para uso em cães; entretanto, a remissão alongo prazo pode ser alcançada em doses muito inferiores. As taxas de resposta àquimioterapia podem ser esperadas de 70 a 80% e o tempo de sobrevida médio de10 a 14 meses após o diagnóstico; 25% podem sobreviver ≥ 2 anos. A maioria dosregimes de tratamento usa uma combinação de ciclofosfamida, vincristina e predni-sona. A adição de asparaginase ou adriamicina tem melhorado as taxas de resposta.

Exames clínicos e laboratoriais periódicos são muito importantes no decorrerde regimes quimioterápicos, uma vez que as drogas são citotóxicas. Podem ocorrerreações adversas como supressão da medula óssea, suscetibilidade aumentada ainfecções e cistite hemorrágica pela ciclofosfamida. O uso de antibióticos na tentativade prevenir estas ocorrências é controverso. As transfusões podem ser necessárias.

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Geralmente, a quimioterapia é dividida em uma fase de indução, na qual éadministrada uma combinação de drogas intensivamente em um curto período, euma fase de manutenção. O protocolo seguinte tem se provado eficaz:

Indução – Semana 1: vincristina (0,7mg/m2, EV), asparaginase (400UI/kg, IP),prednisona (30mg/m2, VO); semana 2: ciclofosfamida (200mg/m2, EV), predniso-na (20mg/m2, VO); semana 3: doxorrubicina (30mg/m2, EV), prednisona (10mg/m2,VO); semanas 4 a 6: como anteriormente para semanas 1 a 3,mas interromperasparaginase e prednisona. (Para o cálculo das áreas de superfície corporal, verCARDIOPATIAS, pág. 57 .)

Manutenção – Manter a administração cíclica das drogas nas semanas 4 a 6,porém prolongar o intervalo de tratamento a cada 2 semanas por 2 ciclos de tratamen-to, depois a cada 3 semanas por 2 ciclos. Deve haver recorrência dentro desteperíodo (como é esperado em , 50% dos casos), a reindução usando asparaginasee prednisona pode alcançar uma segunda remissão. (Para asparaginase, todas,exceto a primeira, devem ser administradas IM ou s. c. a fim de reduzir as chances deindução de anafilaxia.) A quimioterapia contínua é então reinstituída a cada 2 sema-nas, administrando seqüencialmente ciclofosfamida, vincristina e metotrexato(0,5mg/kg, EV) em associação com prednisona (1mg/kg, VO em dias alternados).

Devido a uma toxicidade cardíaca tardia, a dose cumulativa máxima de doxorru-bicina deve estar entre 150 e 200mg/m2. Clorambucil (1,4mg/kg, VO, dividido em 2doses) pode também ser substituído por ciclofosfamida após atingir-se a recupera-ção. A forma alimentar difusa do linfossarcoma é pouco responsiva à quimioterapia,entretanto, se a lesão for localizada em um segmento do intestino, deve-se fazeruma ressecção cirúrgica seguida por quimioterapia. Neste caso, o prognóstico écompletamente protegido por resposta a longo prazo.

A bem diferenciada leucemia linfocítica pode ser tratada com clorambucil a0,2mg/kg, VO, por 7 a 10 dias, seguido por uma dose reduzida de 0,1mg/kgdiariamente. Podem-se esperar recuperações por 1 a 2 anos. A leucemia linfoblásticatem sido tratada com menos êxito, com tempo de sobrevida médio < 6 meses e umataxa de resposta completa de , 30%.

ANOMALIAS CONGÊNITAS E HEREDITÁRIASDO SISTEMA CARDIOVASCULAR

O aperfeiçoamento dos métodos clínicos e o maior interesse em doenças cardí-acas resultaram num aumento de casos reconhecidos de cardiopatias congênitas,especialmente em cães. Alguns destes podem ser corrigidos cirurgicamente. Oscasos discutidos adiante foram selecionados com base na sua possível significânciaclínica em medicina veterinária (ver também C ARDIOPATIAS, pág. 47 ).

Os tipos de lesões observadas em cães, em ordem aproximada de sua ocorrênciasão: duto arterioso patente, estenose pulmonar, estenose subaórtica, arco aórticodireito persistente, comunicação interventricular, comunicação interatrial e tetralogiade Fallot. As malformações cardiovasculares ocorrem predominantemente em cãesde raça pura e certas anomalias específicas são mais observadas em determinadasraças. Esta evidência, somada à união familiar entre cães afetados, mostra que osfatores genéticos são importantes. Estudos indicam que a hereditariedade é comple-xa. A taxa de prevalência de defeitos cardíacos congênitos em cães é mais alta doque em gatos; malformações do complexo da válvula mitral, displasia da válvulatricúspide, comunicação ventricular, estenose aórtica incluindo estenose supra-

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valvular, canal atrioventricular comum persistente, duto arterioso patente e tetralogiade Fallot estão entre as anomalias mais comuns dos gatos. Em bovinos e eqüinos, ascomunicações ventriculares aparecem com mais freqüência que as comunicaçõesinteratriais; duto arterioso patente e tetralogia de Fallot também ocorrem. Estenoseaórtica possui uma base hereditária em suínos.

Em condições leves, como pequenas comunicações interatrais e interventricu-lares e duto arterioso patente, os animais afetados podem atingir uma idadeavançada sem mostrarem sinais de cardiopatia. Quando a situação é mais séria, orecém-nascido pode mostrar fraqueza, dispnéia, cianose e retardo de crescimento.Os animais mais seriamente afetados morrem logo no período pós-natal. Se ascondições não forem óbvias logo após o nascimento, os sintomas de insuficiênciacardíaca congestiva podem aparecer mais tarde, geralmente antes da maturidade,mas, algumas vezes, tão tarde quanto 5 a 7 anos de idade. Os sinais de insuficiênciacardíaca congestiva em um animal novo ou de meia-idade sugerem a possibilidadeda causa de base ser um defeito cardíaco congênito.

O reconhecimento precoce de cardiopatia congênita pode permitir ao proprietáriorecuperar seu investimento, ou evitar que o produtor tente criar um animal que estarádestinado a morrer precocemente. Essencialmente, a correção cirúrgica completade certos defeitos, como duto arterioso patente, estenose pulmonar e arco aórticodireito persistente, é possível sem qualquer equipamento extensivo especial.Quando houver equipamento para hipotermia ou circulação extracorporal, pode-setentar a correção de outras malformações.

Os sintomas da insuficiência cardíaca congestiva (congestão venosa sistêmica,hepatomegalia, ascite, congestão pulmonar e edema) podem ocorrer quando amalformação congênita de base prejudicar gravemente o funcionamento cardíaco.Os animais que apresentam tais sintomas devem apresentar uma melhora dramá-tica quando tratados com repouso, dietas com pouco sódio, glicosídios cardíacos ediuréticos. A não ser que o defeito de base seja cirurgicamente corrigido, a respostaé normalmente temporária e uma insuficiência cardíaca congestiva irreversível,eventualmente, resultará em morte.

No cão, os critérios clínicos para as malformações comuns aqui discutidas sãodefinidos o bastante para que um diagnóstico definitivo possa ser feito com base nossintomas físicos, radiográficos, ecocardiográficos e eletrocardiográficos. Quando acorreção cirúrgica for cogitada ou quando forem encontradas anomalias maiscomplexas, recomendam-se estudos confirmatórios adicionais como angiocardiografiae cateterização cardíaca. Os sintomas clínicos de malformações congênitas especí-ficas em outras espécies, além do cão, não são bem conhecidos e, nestes casos, umdiagnóstico específico depende muito mais de tais estudos especiais.

ANOMALIAS DAS DERIVAÇÕES DOS ARCOS AÓRTICOS

Entre os arcos aórticos embrionários, que persistem nos mamíferos normais,estão o terceiro esquerdo e direito, o quarto esquerdo e porções do sexto esquerdoe direito. O terceiro par de arcos dá origem às artérias carotídeas. O quarto arcoesquerdo permanece como o arco definitivo da aorta, enquanto os sextos arcos dãoorigem à artéria pulmonar, a seus ramos e ao duto arterioso.

Duto arterioso patente

Durante a vida fetal, existe uma comunicação importante entre a aorta e a artériapulmonar. Esta conexão é formada pelo sexto arco aórtico esquerdo e é chamada deduto arterioso. Uma insuficiência do duto arterioso em se fechar logo após onascimento leva a uma anomalia conhecida por duto arterioso persistente ou patente.Trata-se de uma das mais comuns anomalias cardiovasculares congênitas, clinica-

Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Cardiovascular 41

mente reconhecidas no cão, podendo ocorrer junto com outras anomalias cardíacas.É herdada como um defeito poligênico em poodles toy e miniaturas.

Fisiopatologia – Durante a sístole, parte do sangue arterial é bombeada atravésdo duto patente para o sistema pulmonar (“shunt” esquerdo-direito) devido a umapressão maior na aorta. Se a resistência pulmonar permanecer baixa, haverá umaumento de fluxo pelos pulmões, coração esquerdo e aorta ascendente, que constituio caminho do “shunt”; estas estruturas aumentam em resposta ao volume de sangueaumentado que recebem. Se a resistência vascular pulmonar for alta, haveráhipertensão pulmonar e hipertrofia do ventrículo direito e poderá ocorrer um “shunt”direito-esquerdo através do duto, mandando sangue venoso para a aorta descen-dente.

Achados clínicos e tratamento – Um murmúrio contínuo (ver pág. 49 ) estápresente durante a sístole e diástole no “shunt” esquerdo-direito. O pulso normalmen-te é típico, distendendo rápida e fortemente a artéria (“pulso de martelo d’água”).Pode haver evidência eletrocardiográfica de hipertrofia ventricular esquerda eradiografias torácicas revelam aumento ventricular e atrial esquerdo, sinais davascularização pulmonar aumentados e dilatação da aorta ascendente.

Quando houver hipertensão pulmonar com “shunt” direito-esquerdo, o murmúriocontínuo não estará presente, haverá uma salientação e divisão da segunda bulhacardíaca, e evidência radiográfica e eletrocardiográfica de hipertrofia ventriculardireita. Normalmente ocorre uma policitemia secundária. As membranas mucosasvisíveis da cabeça normalmente não estão cianóticas, pois o sangue venoso penetrana aorta após o ponto onde o tronco braquicefálico e a artéria braquial esquerda seoriginam. Por esta razão, a anomalia pode permanecer não diagnosticada até queo cão afetado demonstre fraqueza ou colapso dos membros posteriores, duranteexercício devido ao suprimento inadequado de oxigênio na região.

Recomenda-se a ligadura ou divisão cirúrgica completa do duto arteriosopatente; no entanto, quando há “shunt” direito-esquerdo e a hipertensão pulmonaré grave, pode ocorrer uma insuficiência ventricular direita após a obliteração do dutopatente.

Arco aórtico direito persistente

Um arco aórtico representa uma anomalia vascular comum em cães, nos quais oquarto arco aórtico embrionário direito persiste, deslocando o esôfago e a traquéiapara a esquerda. A traquéia e o esôfago estão confinados num anel vascular formadopelo arco da aorta no lado direito, a artéria pulmonar embaixo, a base do coraçãoventralmente, e o ligamento arterioso (ou duto arterioso) dorsalmente e à esquerda.

O arco aórtico direito persistente é raro no pastor alemão e setter irlandês. Estaanomalia também já foi relatada em bovinos, eqüinos e gatos. Outras anomalias dosistema dos arcos aórticos também podem resultar em anéis vasculares quecircundam a traquéia e o esôfago, parcial ou completamente. Isto pode comprimirestes órgãos, resultando em disfagia e regurgitação. Normalmente a porção doesôfago cranial à constrição está consideravelmente dilatada.

Para sintomas clínicos e tratamento, ver DILATAÇÃO DO ESÔFAGO, página 132 .

ESTENOSE AÓRTICA

No cão e suíno, a estenose do trato de saída de fluxo do ventrículo esquerdo é umalesão congênita relativamente comum. Foi relatada principalmente em boxers epastores alemães e tem ocorrido em agregações familiares nestas 2 raças e emterras-novas. Sabe-se pouco quanto à prevalência em outras espécies. Na maioriadas vezes, as válvulas não estão primariamente envolvidas, pois o estreitamentoocorre abaixo delas na forma de um anel fibroso (estenose subaórtica fibrosa).

Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Cardiovascular 42

Fisiopatologia – O principal distúrbio é a obstrução ao esvaziamento doventrículo esquerdo, resultando na sua hipertrofia. Freqüentemente há uma dilata-ção pós-estenótica da aorta ascendente.

Achados clínicos e tratamento – No cão, o murmúrio sistólico da estenoseaórtica é ordinariamente localizado no terceiro ou quarto espaço intercostal esquer-do e segundo a terceiro espaço intercostal direito. Pode ser transmitido até a regiãodo pescoço. Desmaios e morte súbita não são raros. Pode haver evidênciaeletrocardiográfica de hipertrofia ventricular esquerda e são freqüentes arritmias edistúrbios de condução. Radiograficamente, aumento ventricular esquerdo e dilata-ção pós-estenótica da aorta são sintomas proeminentes. A obstrução subvalvularpode ser visualizada por ecocardiografia.

O tratamento com drogas bloqueadoras β-adrenérgicas diminui a demanda deoxigênio do miocárdio podendo ser útil no controle de arritmias ventriculares. Nãoé costume a prática de cirurgias para esta condição.

ESTENOSE PULMONAR

Nos cães, as estenoses pulmonares valvular, subvalvular e infundibular já foramdescritas. O tipo valvular é a forma mais comum e afeta apenas as válvulas. Aestenose valvular pulmonar é hereditária em beagles.

Fisiopatologia – O distúrbio funcional primário é uma interferência no esva-ziamento do ventrículo direito que leva ao aumento da pressão sistólica e àhipertrofia do ventrículo direito. A pressão arterial pulmonar é baixa ou inalterada.Pode ocorrer uma dilatação pós-estenótica da artéria pulmonar, que produz, emcasos avançados, um aumento arredondado do vaso, lembrando um aneurisma.

Achados clínicos e tratamento – Um murmúrio sistólico áspero em umcrescendo-decrescendo, em geral acompanhado por um tremor, está freqüente-mente presente, com um ponto de intensidade máxima localizado no terceiro ouquarto espaço intercostal esquerdo, logo abaixo de uma linha horizontal traçadaà linha do ombro (área pulmonar). A silhueta cardíaca mostra um aumento dasmargens atrial e ventricular direita e pode ser vista uma dilatação pós-estenóticada artéria pulmonar. A gravidade da estenose pode ser calculada pelo gradientede pressão na ecocardiografia de Doppler, que registra a velocidade do fluxoanormal de sangue. Eletrocardiograficamente, um desvio marcante à direita doeixo elétrico médio costuma ocorrer e produz um ECG típico de um aumentoventricular direito. É impossível a diferenciação entre uma estenose valvular esubvalvular sem o auxílio de uma angiocardiografia.

Existe a possibilidade de uma valvulotomia pulmonar para estenose valvular,entretanto, ela só deve ser considerada em casos graves, uma vez que suasconseqüências são imprevisíveis. A princípio, em casos do tipo subvalvular, oinfundíbulo deve ser seccionado.

DEFEITOS DO SEPTO

Comunicação interatrial

O forame oval é uma abertura oblíqua no septo interatrial que normalmentepermite a passagem de um fluxo do átrio direito para o esquerdo durante a vida intra-uterina. Ao nascimento, esta abertura é forçada a se fechar pelo aumento da pressãono átrio esquerdo, que ocorre no início da respiração. Em cães, o fechamentoanatômico do forame oval é devido à fibrose e ocorre no período pós-natal (dentrode 1 semana). O fechamento em eqüinos e bovinos é o resultado do colapso daestrutura vascular no forame oval, que pode permanecer patente por alguns mesese persistir durante toda a vida. Apesar de ser considerado um defeito anatômico,este problema não causa anormalidades funcionais, uma vez que a pressão atrial

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esquerda excede a pressão atrial direita. Esta válvula “para um lado só” pode serreaberta e permitir um desvio de sangue da direita para a esquerda se a pressão doátrio direito tornar-se excepcionalmente elevada.

As verdadeiras comunicações no septo interatrial são as que constituemverdadeiras aberturas. Comunicações do tipo septum secundum são as maiscomuns e ocorrem na porção fina do septo interatrial, ocupada pelo forame oval.As comunicações do tipo septum primum estão situadas mais abaixo no septointeratrial e normalmente também implicam as válvulas atrioventriculares.

Fisiopatologia – Quando existe um grande defeito do septo atrial, o sanguepassa do átrio esquerdo para o direito; este sangue adicional deve ser bombeadocomo uma carga extra pelo lado direito do coração e, por vezes, causa dilatação ouhipertrofia desta porção do coração. Como resultado de um grande aumento de fluxosangüíneo através do sistema pulmonar, pode ocorrer uma hipertensão pulmonar emeqüinos e bovinos, seguida por insuficiência cardíaca congestiva. Normalmente, nãohá desvio de sangue não oxigenado para circulação sistêmica. Entretanto, podeaparecer uma fraca cianose, invocando um fluxo sangüíneo inverso do átrio direitopara o esquerdo, particularmente quando há presença de hipertensão pulmonar einsuficiência cardíaca congestiva, ou quando uma lesão coexistente, como estenosepulmonar causa um aumento na pressão do átrio direito.

Achados clínicos e tratamento – Um pequeno forame oval patente pode estarpresente sem que haja sintomas clínicos detectáveis. Em grandes comunicações dosepto, podem-se observar dispnéia, palpitação e cianose. Normalmente, pode-seperceber um murmúrio sistólico áspero sobre a base do coração. A segunda bulhacardíaca é aumentada em amplitude e pode se desdobrar. O ventrículo direito e aartéria pulmonar estão aumentados. Sinais de aumento vascular pulmonar podemestar evidentes em radiografias do tórax. A confirmação do defeito normalmenterequer uma visualização por ecocardiografia ou seguir o fluxo de sangue, através dosepto, por angiografia.

A técnica da parede atrial pode ser usada para correção cirúrgica em cães.Facilita-se a visualização direta da reparação por um “bypass” do coração ao pulmão.

Comunicação interventricular

Varia em tamanho, desde pequenas aberturas de pouca importância funcionalaté quase a ausência total do septo; a maioria ocorre na parte membranosa superiordo septo. Pode ocorrer em combinação com outras anomalias congênitas como dutoarterioso patente, comunicação interatrial e estenoses aórtica e pulmonar.

Fisiopatologia – Pequenas comunicações do septo interventricular levamsangue do ventrículo esquerdo para o direito com uma força considerável. Entretan-to, a quantidade de sangue que passa por uma pequena abertura tem pouco ounenhum efeito sobre a circulação geral.

Na presença de grandes comunicações sem estenose pulmonar, a direção do“shunt” depende da resistência relativa do fluxo através do leito vascular intrapulmonar,comparada com a do leito vascular sistêmico. Em animais jovens, a resistência doleito vascular intrapulmonar é mais baixa que a resistência na circulação sistêmicae o “shunt” é inteiramente da esquerda para a direita. Como conseqüência, a cargado ventrículo direito é aumentada e leva a sua hipertrofia e dilatação, como tambémda artéria pulmonar. Subseqüentemente, em eqüinos e bovinos (raramente no cão),a resistência ao fluxo sangüíneo pulmonar deve aumentar devido a mudançasobliterativas no leito vascular pulmonar. Em estágios precoces, quando a resistênciapulmonar atingir o nível da resistência sistêmica, pode haver um “shunt” intermitenteem qualquer direção, esquerdo-direito ou direito-esquerdo, mas depois, quando aresistência pulmonar já ultrapassar o nível sistêmico, o “shunt” direito-esquerdopredomina e normalmente aparece uma cianose.

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Achados clínicos e tratamento – Uma simples e pequena comunicação do septonão costuma manifestar sintomas externos de cardiopatia. Entretanto, geralmente ossintomas físicos são distinguíveis e aparecem na forma de murmúrios ásperos, freqüen-temente acompanhados de uma vibração distinta. O murmúrio e a vibração podem sermelhor auscultados do segundo ao quarto espaços intercostais direitos, próximos àmargem esternal. Embora a lesão possa ter pouco efeito funcional, há um perigopotencial de endocardites bacterianas, que podem se desenvolver ao longo das mar-gens do defeito do septo. Esta complicação incomum já foi relatada em bovinos. Evi-dências radiográficas de aumento do ventrículo direito e fluxo sangüíneo pulmonaraumentado estão presentes em falhas de tamanho moderado a grande. Mesmo peque-nas falhas podem ser visualizadas por ecocardiografia bidimensional ou localizadas poranálise de fluxo de Doppler. Animais com grandes comunicações do septo e extensaslesões oclusivas no leito vascular intrapulmonar apresentam hipertensão pulmonar e“shunt” direito-esquerdo. São cianóticos e mostram todos os sintomas de uma cardio-patia congênita cianótica, como fadiga, anorexia, fraqueza e dispnéia.

A correção cirúrgica de uma comunicação do septo interventricular requer umacirculação extracorporal ou uma profunda hipotermia. A comunicação é normalmen-te obliterada com material plástico não reativo. Pequenas comunicações, em que asmudanças funcionais são mínimas, talvez não encurtem notavelmente a vida se nãoforem tratadas.

TETRALOGIA DE FALLOT

Esta malformação complexa consiste em estenose pulmonar, normalmente dotipo subvalvular; comunicação interventricular; dextroposição da aorta, ultrapassan-do o septo interventricular; e hipertrofia ventricular direita. A tetralogia de Fallot já foirelatada em cães, bovinos, eqüinos e gatos. É hereditária na raça keeshond.

Fisiopatologia – A combinação da estenose pulmonar e comunicação interven-tricular é funcionalmente similar àquela de uma grande comunicação interventriculare hipertensão pulmonar. A obstrução do fluxo de saída do ventrículo direito eleva apressão sistólica ventricular, resultando num “shunt” direito-esquerdo através dacomunicação interventricular. O malposicionamento da aorta ultrapassa parcialmen-te a falha no septo e recebe sangue de ambos os ventrículos, enquanto o fluxo desangue pulmonar é diminuído. A mistura de sangue arterial e venoso resulta emcianose.

Achados clínicos e tratamento – Normalmente há cianose desde o nascimentoe se agrava por exercício, que provoca dispnéia e, freqüentemente, colapso. Podehaver uma policitemia devida à hipoxemia crônica. Apesar de uma severa deficiên-cia que acompanha este defeito, sabe-se que muitos cães vivem anos antes demorrerem de insuficiência cardíaca congestiva ou fenômeno embólico.

Um murmúrio sistólico áspero e alto pode ser melhor ouvido na área pulmonar,e do segundo ao terceiro espaço intercostal direito, perto da margem esternal. Pode-se palpar um tremor nestas áreas. A hipertrofia ventricular direita é indicada por umdesvio marcante, à direita do eixo, no eletrocardiograma, acompanhado por grandesondas nas derivações precordiais esquerdas. Radiografias torácicas revelam au-mento do coração direito com marcas de vascularização pulmonar normais oudiminuídas. Geralmente, a aorta ascendente está dilatada. Os defeitos fundamen-tais podem ser visualizados por ecocardiografia.

A criação de um duto arterioso artificial (“shunt” Blalock-Taussig) pode aumentaro fluxo de sangue pulmonar e aliviar, em certo grau, a cianose. É preferível umacorreção completa por alívio da estenose pulmonar bem como o fechamento dacomunicação ventricular, porém isto requer uma cirurgia de coração aberto.

Anomalias Congênitas e Hereditárias do Sistema Cardiovascular 45

LINFOSSARCOMA E LEUCEMIA FELINOS(Leucemia e linfoma felino, Linfossarcoma)

Linfossarcoma é a mais freqüente doença neoplásica diagnosticada em gatos.São reconhecidas as formas mediastinal, multicêntrica e alimentar. A forma medias-tinal é mais comum em gatos jovens; o envolvimento de órgãos abdominais éocorrência típica em animais velhos. Leucemias linfóide e mielóide ocorrem commenor freqüência.

Etiologia e epidemiologia – O vírus da leucemia felina pode ser demonstrado emgatos com linfossarcoma em 90% dos casos mediastinais, 70% dos multicêntricos e35% dos casos alimentares. Está presente na saliva de gatos infectados e a trans-missão ocorre por contato gato a gato e congenitamente. Não há evidências de quegatos infectados possam transmitir a doença para o homem. Os gatos podem apre-sentar infecções subclínicas e desenvolver imunidade ao vírus ou, alternativamente,podem se tornar infectados de forma persistente. A maior parte dos gatinhos despro-tegidos in utero ou antes de 8 semanas de vida, tornam-se virêmicos. Gatos maisvelhos são muito menos suscetíveis. Tais gatos possuem uma predisposição marcan-te a neoplasias ou a uma das doenças não malignas associadas ao vírus da leucemiafelina (ver adiante). A incidência da doença é maior em gatos em ambientes domés-ticos, onde outros gatos já tiveram doenças associadas ao vírus da leucemia felina.

Achados clínicos – Freqüentemente, o gato afetado sucumbe a uma doençadefinhante marcada por anemia, letargia e anorexia. O linfossarcoma mediastinalanterior pode causar dispnéia ou disfagia. Radiografias podem indicar a presençade uma massa mediastinal com deslocamento dorsal da traquéia, ou as estruturastorácicas podem estar obscurecidas por efusões pleurais. Neste segundo caso,pode-se diferenciar o linfossarcoma de outras causas de hidrotórax pela presençade um grande número de linfócitos imaturos em esfregaços sangüíneos de fluidospleurais aspirados. Os sintomas da forma abdominal freqüentemente são aquelesassociados a enterite ou malabsorção. Um ou mais linfonodos mesentéricos fre-qüentemente estão aumentados. A parede do estômago ou do intestino pode estardiscretamente espessada ou pode conter um tumor discreto. Infiltração renal exten-siva pode resultar em uremia, e um envolvimento hepático pode causar anemia eicterícia. O aumento das vísceras afetadas pode ser evidenciado em palpação ouradiografias do abdome. Na forma multicêntrica, os linfonodos superficiais podemestar envolvidos e grosseiramente aumentados. Pode ocorrer malignidade em muitosoutros casos, por exemplo, canal espinhal, olhos e pele. Em gatos com uma anemianão regenerativa, leucopenia persistente ou evidência de linfocitose ou linfoblastosno sangue deve ser feita uma aspiração da medula óssea. Em leucemia linfoblástica,> 40% das células aspiradas são linfoblastos.

Além da neoplasia, o vírus da leucemia felina também causa doenças nãomalignas. Destas, a anemia não regenerativa e imunossupressão são bem caracte-rizadas. A segunda predispõe o gato a muitas doenças infecciosas, incluindo peri-tonite e anemia infecciosas felinas. Entre outras doenças que foram associadas aovírus da leucemia felina estão a enterite e reabsorção fetal ou aborto.

Lesões – O linfossarcoma se origina no mediastino anterior. O tórax ventralanterior pode estar cheio de tecido tumoroso lobulado e branco em volta do coração,e deslocando o pulmão dorsal e posteriormente. Os órgãos abdominais afetados porlinfossarcoma são o intestino (íleo), linfonodos mesentéricos, rins, fígado e baço.

Diagnóstico – O linfossarcoma pode ser diagnosticado por exames histológicosou citológicos de tumores nos órgãos afetados. Observam-se freqüentementemudanças hematológicas em gatos com linfossarcoma, e a hematologia pode serútil no diagnóstico de leucemia. Uma forte associação entre uma infecção persisten-te com o vírus da leucemia e o linfossarcoma torna o teste laboratorial, para a

Linfossarcoma e Leucemia Felinos 46

detecção do vírus da leucemia felina no sangue, um procedimento diagnóstico degrande utilidade.

Controle – Vacinas estão disponíveis, mas sua eficácia é controversa. Aquimioterapia pode estender a vida de um gato com linfossarcoma. Uma recupera-ção a longo prazo (> 1 ano) ocorre em 10 a 15% dos casos, mas a recuperação médiaé de , 6 meses. Os mesmos protocolos de quimioterapia utilizados no cão (verLINFOMA MALIGNO CANINO, pág. 38 ) podem ser usados nos gatos. Gatos tendem atolerar quimioterapia um tanto melhor que cães. O vírus da leucemia felina pode sererradicado de ambientes domésticos fechados pela remoção de gatos positivospara o vírus no sangue. A desinfecção do local não é necessária, pois o vírus nãosobrevive no ambiente.

CARDIOPATIASCardiopatias freqüentemente apresentam problemas de diagnóstico, embora

sejam tratadas raramente, exceto em cães e gatos. Os aspectos da cardiopatia, deinteresse primário para os clínicos, são discutidos adiante. As recomendaçõesquanto ao tratamento são limitadas às condições e espécies nas quais existealguma experiência substancial com tratamento (ver também ORIGEM DOS SINTOMASDE CARDIOPATIAS, pág. 11 ).

Exame e diagnóstico – É necessário um exame sistemático para se avaliar oestado do coração. Este deve incluir a palpação do tórax para detectar frêmitos(vibrações de baixa freqüência que podem ser sentidas com as pontas dos dedos)e deslocamento cardíaco, auscultação meticulosa, percussão na área de silênciocardíaco, palpação do pulso arterial e exame das pulsações da veia jugular. Oexame radiográfico da silhueta cardíaca para distorções e aumentos é importantepara diagnóstico e prognóstico em pequenos animais, sendo mais esclarecedor doque a percussão precordial. Deve-se fazer um eletrocardiograma (ECG), quandopossível. Os médicos que não possuem um aparelho para ECG devem solicitar queseja realizado fora. Em áreas onde podem se encontrar dirofilárias, o sangue deveser examinado para microfilárias.

Devemos considerar o quadro de cardiopatia apenas quando encontrarmos umsintoma confiável, pois muitas outras condições podem simulá-lo. Muitas vezes, osanimais são trazidos ao veterinário com uma queixa de intolerância ao exercício.Embora isto, por si só, não seja um sintoma confiável, deve-se considerar cardiopa-tia no diagnóstico diferencial.

Em cães não devemos diagnosticar cardiopatia se não houver pelo menos umdos seguintes sintomas: 1. murmúrio sistólico Grau III na ausência de anemia; 2.murmúrio diastólico ou som de preenchimento diastólico provocando um ritmogalopante; 3. um frêmito precordial palpável; 4. ingurgitamento venoso generaliza-do; 5. fibrilação atrial ou “flutter”; 6. taquicardia ventricular paroxística; 7. batimentosectópicos atriais ou ventriculares com presença consistente e freqüentes; 8.bloqueio atrioventricular (AV) completo; 9. bloqueio de ramo esquerdo; 10 padrãoeletrocardiográfico de aumento ventricular direito (ver COR PULMONALE , pág. 58); 11.evidência radiográfica ou ecocardiográfica de grande aumento cardíaco, dilataçãode 1 ou mais compartimentos, ou efusão pericárdica; ou 12. divisão pronunciada efixa da segunda bulha cardíaca.

Fibrilação atrial ou “flutter”, bloqueio AV completo, fricção pericárdica, soprosintensos, frêmitos precordiais e ingurgitamento venoso generalizado são sintomasconfiáveis de cardiopatias em eqüinos e na maior parte das espécies domésticas,

Cardiopatias 47

incluindo os bovinos. Os sintomas de significância controvertida e especificidadequestionável incluem: batimentos ectópicos ventriculares infreqüentes, todas asarritmias e distúrbios de condução que desaparecem após exercício, variações nosegmento RS-T, marca-passo migratório, sopros diastólicos (um sintoma confiávelem cães), e aumento da área de silêncio cardíaco. Os sopros sistólicos são comunsem cavalos normais e, na ausência de outros sintomas, não podem ser considera-dos evidência confiável de doença. Os sopros diastólicos geralmente indicamcardiopatias nos eqüinos.

Os sintomas não específicos mais comuns e óbvios em animais com cardiopatiassão: 1. murmúrio sistólico; 2. dispnéia; 3. tosse; 4. edema pulmonar e ascite; e 5.fraqueza e cansaço. Embora a cardiopatia seja altamente sugestiva, o diagnósticosó pode ser feito após uma ou mais das condições anteriores terem sido evidenci-adas, ou outras possibilidades rigorosamente descartadas. Em certas doençasdegenerativas do miocárdio, pode haver insuficiência cardíaca congestiva, sembulhas cardíacas anormais ou mudanças no diagnóstico eletrocardiográfico.

Ecocardiografia – As ondas refletidas do ultra-som podem produzir imagenscardíacas bidimensionais detalhadas e movimentos lineares que variam em funçãodo tempo (ver pág. 1160 ). Além destes exames, a velocidade do fluxo sangüíneopode ser medida pela técnica de ecocardiografia de Doppler. A ecocardiografiacomplementa os outros procedimentos diagnósticos através do fornecimento quan-titativo dos eventos dinâmicos do ciclo cardíaco. Com estes procedimentos nãoinvasivos, as câmaras cardíacas e as dimensões da parede podem ser determina-das, podemos visualizar a anatomia e a movimentação das válvulas, podemoscalcular os gradientes de pressão e o volume do fluxo sangüíneo, assim como váriosíndices da função cardíaca. Ela também identifica algumas alterações na textura dotecido miocárdico, indicativas de isquemia e fibrose, massas, vegetações valvularese muitos outros fatores previamente verificados somente à necropsia.

Bulhas e murmúrios cardíacos

Bulhas cardíacas normais e variantes – Quatro bulhas cardíacas podem seraudíveis em eqüinos . A primeira bulha cardíaca (B

1) é associada ao fechamentodas válvulas AV e a segunda bulha (B2) ao fechamento das válvulas semilunares.A terceira bulha (B3) ocorre no começo da diástole, no final do período de rápidoenchimento ventricular. A quarta bulha (B4) ou bulha atrial é relacionada à sístoleatrial. Embora todas estas bulhas possam ser ouvidas, freqüentemente apenas B1e B2 podem ser detectadas.

Em bovinos , apenas B1 e B2 são normalmente audíveis. Tanto B3 como B4 sãoouvidas algumas vezes, porém são menos freqüentes em cavalos. Durante aadministração EV de fluidos, tais como solução de cálcio em bovinos com hipocal-cemia, B3 ou B4, ou ambas podem ser acentuadas e tornam-se audíveis.

No cão , apenas B1 e B2 costumam ser audíveis. Ocorre um desdobramentoinspiratório de B2, mas o intervalo entre os 2 componentes é muito rápido para seraudível. Bem menos provável, a primeira bulha pode se desdobrar, mas isto éfreqüentemente um complexo B4-B1.

As características das bulhas cardíacas em caprinos, ovinos e suínos têm sidomenos estudadas. Em geral, apenas B1 e B2 podem ser audíveis nestas espécies.

Sopros e outros sons anormais – A intensidade dos sopros cardíacos éclassificada como: Grau I – O murmúrio de menor intensidade que pode ser ouvido;Grau II – Um leve murmúrio restrito a uma área localizada; Grau III – Um murmúrioque se projeta amplamente e é imediatamente audível quando se inicia a ausculta-ção; Grau IV – Um murmúrio auscultado no início da auscultação e acompanhadopor um frêmito; Grau V – O murmúrio mais alto que não se escuta quando o

Cardiopatias 48

estetoscópio está posicionado próximo do tórax, porém sem encostar; Grau VI –Murmúrio extremamente alto que ainda pode ser ouvido quando o estetoscópio estádesencostado da parede do tórax.

Existem 2 tipos gerais de sopros sistólicos: de ejeção e de regurgitação. Ossopros sistólicos de ejeção estão crescendo-decrescendo em intensidade (nofonocardiograma, apresentam formato de diamante), com o pico de intensidade nameia-sístole. Algumas vezes são produzidos pela estenose das válvulas semilunares,estenose infundibular, dilatação da aorta ou da artéria pulmonar, ou aumento da taxade fluxo através do orifício da válvula semilunar. Os sopros sistólicos de regurgi-tação são pansistólicos e freqüentemente de intensidade constante. Podem sercausados por regurgitação da mitral ou da tricúspide, ou por um defeito do septoventricular. Estas anormalidades não invariavelmente produzem sopros que podemser reconhecidos como os do tipo por ejeção ou por regurgitação.

Os sopros diastólicos são quase sempre causados por insuficiência aórtica oupulmonar.

Os sopros contínuos ou mecânicos quase sempre indicam potência do dutoarterioso (ver pág. 41 ). Este sopro contínuo aumenta e diminui de intensidade coma sístole e a diástole, apresentando intensidade máxima no momento de B2.

Em cavalos, os sopros pré-sistólico, sistólico precoce, assim como o diastólicoprecoce são freqüentemente audíveis na ausência de doenças cardiovascularesou anemia. Os sopros sistólicos precoces são os mais comuns, sendo geralmenteauscultáveis na base do coração (áreas de auscultação aórtica e pulmonar). Emcavalos jovens e saudáveis não é raro se ouvir um sopro diastólico precoce curto,de tom elevado, chiante, cuja maior intensidade se encontra perto do ápicecardíaco (área mitral).

Ritmos diastólicos em galope – Os ritmos em galope triplo ou em 3 batidasassemelham-se à cadência dos cavalos em galope. O som “extra” é classificadocomo um galope diastólico precoce (ventricular), pré-sistólico (atrial) ou galope desomação. Estes ruídos representam a exacerbação anormal de B3 e B4 em animais,nos quais estes sons normalmente são inaudíveis. Em cães e gatos, o ruído degalope (B3exagerado) diastólico precoce (ventricular) está associado com doençasavançadas do miocárdio e insuficiências cardíacas congestivas. O ruído de galope(B4exagerado) pré-sistólico (atrial) torna-se audível quando o intervalo entre as sístolesatrial e ventricular (intervalo P-R no ECG) está prolongado. O galope de somaçãoresulta da fusão dos ruídos em galope atrial e ventricular e pode ocorrer nainsuficiência cardíaca congestiva com taquicardia. Estes 3 ritmos em galope podemser ouvidos em cavalos normais.

Estalidos sistólicos – Sabe-se que, freqüentemente, sons agudos, curtos etransitórios denominados estalidos ocorrem durante a sístole, mas são raros em cãese provavelmente em outras espécies domésticas. Costumam ser isolados, porémpodem ser múltiplos e desaparecer completamente em alguns ciclos. No homem, osestalidos ou síndromes de sopros e estalidos têm sido associados ao prolapso daválvula mitral para o interior do átrio esquerdo durante a sístole. Sua significânciaclínica nos outros animais é incerta, mas devemos considerar as anormalidades naválvula mitral, como o prolapso.

Desdobramento das bulhas cardíacas – Os desdobramentos audíveis tanto deB1 como B2 podem ocorrer na ausência de outras anormalidades cardíacas. A B1pode estar marcantemente desdobrada quando a contração de 2 ventrículos estiverdessincronizada, assim como no bloqueio de ramos fasciculares e certos batimentosectópicos ventriculares. O desdobramento é muitas vezes confundido com umcomplexo B4 -B1. A B2 pode ser desdobrada durante a inspiração em cães e durantea inspiração ou expiração em cavalos. O desdobramento anormal de B2 estáassociado com a hipertensão pulmonar, assim como no caso do enfisema pulmonar

Cardiopatias 49

de cavalos e a infecção por larvas cardíacas em cães. Outras causas em cães (epossivelmente em outras espécies) incluem defeito do septo atrial, estenosepulmonar, bloqueio do ramo fascicular direito ou esquerdo e certos batimentosventriculares ectópicos.

Ritmos triplos – Os vários ruídos que produzem ritmos triplos podem serresumidos como se segue: 1. fisiológico – o terceiro ruído cardíaco em cavalos ebovinos, o quarto ruído cardíaco em cavalos e bovinos, e o galope de somação emcavalos durante a taquicardia; 2. anormal – estalido sistólico; e 3. patológico – galopeventricular diastólico, galope atrial diastólico e o galope de somação diastólico.

Os desdobramentos de B1 e B2 devem ser distinguidos dos ritmos triplos nosquais 2 dos sons terminam quase juntos como em certos estalidos sistólicos em cãese quando B4 preceder B1 muito de perto, em cavalos.

“Flutter”diafragmático sincrônico – O diafragma pode se contrair sincro-nicamente com o coração produzindo altos ruídos em batidas na auscultação econtrações que costumam ser visíveis na área do flanco. Esta síndrome resulta daestimulação do nervo frênico por despolarização atrial e ocorre principalmente quandoexistir marcante desequilíbrio eletrolítico ou ácido-básico, particularmente com hipo-calcemia. É mais comum em cavalos e cães, e freqüentemente ocorre na eclâmpsia(ver págs. 540 e 551 ). Isto ocorre mais comumente em associação com doençasgastrointestinais que induzem mais comumente desequilíbrios eletrolíticos em cães.

Arritmias

São distúrbios na freqüência e ritmo cardíacos aumentados, quando houveranormalidade na formação e/ou propagação do impulso elétrico através do sistemade condução do coração, ou quando a descarga de foco ectópico irritante assumiratividade de marca-passo. Podem ocorrer a partir de doenças primárias do miocár-dio ou ser secundárias a irritabilidade aumentada ou diminuída do miocárdio comoresultado de efeitos tóxico, anóxico ou de drogas, ou desequilíbrio eletrolítico.Arritmias graves e potencialmente fatais são as maiores complicações em casos detraumas e também resultam de retorno venoso diminuído nas dilatações gástricasagudas (ver pág. 281 ) em cães de grande porte. Este ritmo pode evoluir para umagrave arritmia que justifique o tratamento com lidocaína EV. Arritmia pode tambémocorrer como resultado da variação normal no tono autonômico do coração. Aarritmia (em todas as espécies, exceto humanos) raramente ocorre como umavariação fisiológica normal. A arritmia sinusal respiratória é o ritmo de repousonormal no cão e o segundo grau do bloqueio AV é normal em eqüinos saudáveis equietos. Um ECG é necessário para o diagnóstico diferencial de muitas arritmias,porque as terapias antiarrítmicas dependem do foco de origem e do tipo de ritmoanormal. Clinicamente, as arritmias podem ser divididas em bradiarritmia, em quea freqüência cardíaca é bastante lenta e taquiarritmias em que a freqüência cardíacaé bastante rápida ou irregular. As bradiarritmias incluem bradicardia sinusal,repouso sinusal, bloqueio sinoatrial, bloqueio AV e despolarizações prematuras. Nocavalo, a fibrilação atrial produz uma taxa irregular, porém não rápida durante orepouso, enquanto irregular em outras espécies, geralmente produz taquicardia.Taquicardias patológicas serão sempre suspeitas quando a freqüência cardíacaestiver elevada, além daquela esperada para a condição clínica do animal.

Bradicardia sinusal – Esta é uma freqüência cardíaca lenta, que pode sernormal em animais atletas, quando em repouso; mas também ocorre na hipocalce-mia e com síndromes de pressão intracraniana aumentada. A bradicardia éconsiderada presente quando as taxas sinusais em cães são < 45 a 55bpm; emgatos, < 90bpm; e em cavalos, < 20bpm. Bradicardia também pode ocorrer nohipotireoidismo, intoxicação digitálica, hipoxia, hipercalemia e insuficiência adreno-cortical. O tratamento é restrito à correção da causa inicial.

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Arritmia sinusal respiratória – É mais comumente detectada no repouso normaldo cão. Há uma variação no ritmo do coração, associada com variação na intensidadedo tono vagal. Aqui, intervalos R-R variam > 10%. A freqüência cardíaca geralmenteaumenta com a inspiração e diminui com a expiração. A arritmia sinusal é abolidapelas influências que reduzem o tono vagal e aumentam a freqüência cardíaca, taiscomo: excitações, exercícios e administração de atropina. A arritmia sinusal podeestar associada com um marca-passo dentro do nódulo sinoatrial migratório eintervalos variados de P-R e amplitude da onda P registrados no ECG em cães.

Repouso sinusal e bloqueio sinoatrial (SA) – No repouso sinusal há uma falhade geração de impulsos no nódulo SA; com o bloqueio SA há uma falha depropagação do nódulo SA para o átrio. Eles não podem ser diferenciados clinica-mente e são tratados similarmente. Podem ocorrer como resultado de tono vagalexcessivo em todas as espécies, e de efeitos reflexos tais como pressão firme nosolhos (reflexo oculocardíaco) e pressão no seio carotídeo em cães. Em cavalosnormais, um bloqueio SA ocasional ocorre ao repouso e na ausência de anormali-dade da onda P. Em todas as espécies, episódios repetitivos de bloqueio SAenvolvendo 2 ou mais batidas e bloqueio SA ocorrendo em freqüências cardíacasacima do normal em repouso, são sugestivos de doenças. O bloqueio SA tem sidoassociado com síncope, especialmente em dobermans pinchers, schnauzers mini-atura, daschunds, cocker spaniels e boxers jovens. Se a síncope for freqüente, otratamento com atropina ou isoproterenol pode ser terapêutico, mas freqüentemen-te é insatisfatório. Existem alguns relatos de “átrio silencioso” em setters ingleses,nos quais não há atividade atrial (ondas P) no ECG. A ecocardiografia confirma aausência de contração do miocárdio atrial.

Bloqueio atrioventricular (AV) – Há uma condução obstruída entre os átrios eos ventrículos. No bloqueio AV incompleto ou de primeiro grau, o tempo de conduçãoé aumentado e o diagnóstico pode ser feito por demonstração de um intervalo P-Raumentado no ECG.

Em bloqueio AV de segundo grau (bloqueio incompleto com batimentos espaça-dos), impulsos ocasionais falham ao atravessar o nódulo AV e a contração atrial nãoé acompanhada por contração ventricular. O bloqueio pode ocorrer a intervalosregulares, ou ao acaso. Durante o bloqueio, não há o primeiro ou segundo somcardíaco e não há pulso arterial. Em cavalos, o som associado com contração atrial(B4) é comumente ouvido e a ocorrência de B4 não acompanhada por outros sonscardíacos é diagnóstica de bloqueio cardíaco de segundo ou terceiro grau. B4 tambémpode ser audível em cães. Em todas as espécies, uma onda jugular atrial pode serobservada durante o bloqueio. Quando os intervalos P-R que precedem o batimentoperdido alongam-se progressivamente, o problema é conhecido como bloqueio doTipo I de Wenckebach ou Mobitz. Se os intervalos P-R não se alteram, o problema échamado de bloqueio do Tipo II de Mobitz. O diagnóstico definitivo é feito por ECG.

Em bloqueio cardíaco completo ou de terceiro grau, nenhum dos impulsos éconduzido do átrio aos ventrículos. O ritmo ventricular é estabelecido a partir de umnódulo ectópico ou marca-passo ventricular que descarrega a uma freqüência maislenta que o nódulo SA e o átrio e os ventrículos batem independentemente. Afreqüência cardíaca e o pulso são regulares, mas há uma bradicardia pronunciadaque é relativamente não responsiva a fatores, tais como exercício e excitação, quenormalmente aumentam a freqüência cardíaca. A diferença entre os ritmos decontração atrial e ventricular provoca variações no preenchimento ventricular eposicionamento variado das válvulas atrioventriculares, com variação na intensi-dade da B1 e na amplitude do pulso arterial. Periodicamente, o átrio contrai-sequando o ventrículo está em sístole, resultando em grandes pulsações na veiajugular. Em alguns animais, as contrações atriais mais rápidas podem serdetectadas com um estetoscópio.

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O significado do bloqueio AV varia de espécie para espécie. Ambos os bloqueios,de primeiro e segundo graus AV, podem estar presentes sem sinal clínico evidentede cardiopatias. O bloqueio AV de primeiro grau pode resultar de excessivo tonovagal e, geralmente, não é considerado significante no cão e no cavalo, a menos queoutra evidência de cardiopatia esteja presente. Em todas as espécies, o bloqueio AVde segundo grau pode ser indicativo de cardiopatia. Contudo, no cavalo ocorre maiscomumente como resultado de tono vagal alto. É detectado a freqüências cardíacasde repouso < 40bpm, e semelhante ao bloqueio SA, pode ser induzido ou abolidopor manobras que diminuem o tono vagal. O bloqueio AV completo é sempreanormal e o prognóstico é grave. Freqüentemente está associado à síncope,especialmente com exercício ou excitação.

O bloqueio AV pode ser causado por fibrose, neoplasia ou outras lesões nonódulo AV ou pode ser secundário a influências tóxicas, eletrolíticas ou hipóxicassobre sua estrutura. O tratamento deve, primeiramente, corrigir a causa desenca-deante. Bloqueio cardíaco completo, geralmente está associado com lesões irrever-síveis. A terapia antiarrítmica geralmente é restrita a animais com bloqueio cardíacocompleto e visa aumentar a freqüência cardíaca pelo uso de atropina, probantina ouisoproterenol. A terapia com drogas acha-se com sucesso limitado, e o únicotratamento cabível, para bloqueio cardíaco completo, é a instalação de um marca-passo eletrônico. Estes aparelhos, quando instalados corretamente, podem melho-rar a vida de animais que sofrem de síncopes relacionadas à arritmia. Apenasgeradores de pulso que percebam a ocorrência da despolarização ventricularnatural devem ser utilizados. Se um bloqueio AV desenvolve-se durante uma terapiacom digitálico, deve ser considerada a toxicidade digitálica.

O bloqueio do ramo de Bundle e a síndrome de Wolff-Parkinson-White são condiçõesanormais raras. Têm sido observadas em animais, mas podem ser diagnosticadassomente por eletrocardiografia. Seu significado nos animais ainda não foi estabe-lecido, porém no homem, podem predispor a certas arritmias ventriculares.

Contrações prematuras – Contrações prematuras ou ectópicas surgem a partirde um foco irritante, dentro do tecido de condução ou miocárdio. Contrações ectó-picas atriais e ventriculares podem resultar de doença primária do miocárdio ouocorrer secundariamente a efeitos tóxicos, anóxicos ou eletrolíticos. Estas arritmias,especialmente as dos batimentos ectópicos ventriculares, são as irregularidadesmais comumente observadas na presença de cardiopatia. Contrações ectópicassão sempre indicativas de anormalidade do miocárdio, mas há alguma dúvidaquanto ao significado clínico da contração ectópica não freqüente, que é auscultadaocasionalmente durante exame, em todas as espécies, quando não houver outraevidência de cardiopatia. Contrações prematuras ocasionais não requerem terapiaantiarrítmica específica e o tratamento é dirigido à correção da causa principal. Osglicosídios digitálicos devem ser utilizados com cautela em todas as ocasiões.Devemos ter um cuidado especial quando existem despolarizações ventricularesprematuras. Taquicardias resultantes de descargas repetitivas podem requererterapia antiarrítmica específica. A toxicidade dos digitálicos sempre deverá serconsiderada uma causa, quando as contrações ectópicas desenvolverem-se duran-te uma terapia digitálica.

Taquicardias supraventriculares – A atividade do marca-passo pode ocorrerno nódulo sinusal, átrio, ou nódulo AV e é necessário um ECG para diferenciação.As freqüências cardíaca e de pulso são rápidas, mas geralmente regulares. Ataquicardia sinusal ocorre normalmente com exercício ou excitação, mas tambémcom febre, anemia, hipertermia, toxemia e choque. As taquicardias atrial ejuncional ocorrem na presença de doença do miocárdio atrial. São freqüentementede natureza paroxística e caracterizadas por períodos de contrações rápidas,normalmente regulares, que começam e param repentinamente. Pode ocorrer

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síncope. Freqüentemente, elas são observadas em conjunto com contrações atriaisprematuras, e sua associação mais comum no cão é com fibrose valvular mitralcrônica que leva à dilatação do átrio esquerdo.

As taquicardias supraventriculares podem ser eliminadas por fatores que aumen-tem o tono vagal, como digitálicos e pressão no seio carotídeo ou ocular, o que iniciao reflexo oculocardíaco. Em indicações bem definidas e sob monitoração cuidado-sa, os vasopressores, o propranolol e os agentes bloqueadores do canal do cálcio(como o diltiazem ou o verapamil) podem ser úteis nas arritmias supraventricularesrefratárias. As dosagens precisas para cães e gatos ainda não foram estabelecidas.

Taquicardias ventriculares – Estas partem de um ou mais marca-passosectópicos dentro do miocárdio ventricular. Quando a descarga for consideravelmen-te mais rápida do que aquela do nódulo SA, o marca-passo ectópico predomina eas freqüências cardíaca e do pulso são rápidas e normalmente regulares. Quandoa freqüência do marca-passo ectópico se aproxima da do nódulo SA, ambos osmarca-passos podem influenciar o coração e pode haver uma forte irregularidadeno ritmo. Há marcada variação na intensidade dos sons do coração, da batida doápice e do pulso arterial, e um déficit do pulso pode estar presente. Freqüentementea arritmia é espasmódica. Há complexos QRS bizarros característicos no ECG.Taquicardias ventriculares ocorrem com doença primária do miocárdio e sãocomuns nos estados terminais de falha cardíaca. Podem também ser induzidas pordesequilíbrio de eletrólitos, toxicidade aguda e distensão gástrica ou trauma emcães. Quando a função cardíaca já está comprometida pela insuficiência miocárdicaou função anormal da válvula, há severa dispnéia e fraqueza, e a síncope pode estarassociada com taquicardias paroxísticas. Outros sinais de falhas cardíacas agudasou crônicas podem estar presentes. Quando a contratilidade é deprimida e a pressãode enchimento está alta, taquicardias ventriculares progridem para fibrilação ventri-cular. Lidocaína EV pode ser usada para controle imediato de uma taquiarritmia comrisco de vida, enquanto os níveis sangüíneos de quinidina ou procainamida estãosendo estabelecidos. Deve ser evitada a excitação do paciente. Em situações menosgraves, somente a quinidina oral pode ser suficiente. O tratamento dirigido à correçãoda causa predisponente é essencial (ver MIOCÁRDIO, adiante ).

Fibrilação atrial – É caracterizada por um ritmo cardíaco irregular e rápido. Adespolarização e a repolarização atrial ocorrem sobre numerosas frentes e não hácontração atrial coordenada. A estimulação do nódulo AV ocorre freqüentemente,mas de uma forma aleatória para resultar em uma freqüência cardíaca rápida efortemente irregular. A irregularidade produz variação no período de preenchimentodiastólico entre os batimentos e conseqüentemente, variação na intensidade dossons cardíacos e amplitude do pulso arterial. Com períodos diastólicos excepcional-mente curtos, há preenchimento insuficiente dos ventrículos para produzir um pulsoarterial após contração ventricular. Em rápidas freqüências cardíacas, isto produzuma freqüência de pulso que é consideravelmente mais baixa que a freqüênciacardíaca (déficit de pulso). O diagnóstico definitivo é dado pelo ECG, que mostraondas P substituídas por ondas rápidas e uma absoluta irregularidade nos intervalosR-R. Em cães, a fibrilação atrial com altas freqüências cardíacas é indicativa dedoença cardiovascular grave. Ocorre em síndromes que produzem dilatação ehipertrofia atrial e é um achado terminal comum da fibrose valvular mitral crônica.Também ocorre em miocardiopatia dilatada idiopática e miocardiopatia hipertrófica,sendo mais comum em raças gigantes (e ocorre com cardiopatia de base menosintensa). Devido ao fato de esta arritmia não ocorrer com freqüência até o estágiotardio das doenças cardíacas em cães, o tempo de vida raramente é > 1 ano. Otratamento deve objetivar a diminuição do ritmo ventricular, normalmente comglicosídios digitálicos, bloqueadores do canal do cálcio e β-bloqueadores adminis-trados para retardar a condução através do nódulo AV. O propósito é diminuir o ritmo

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cardíaco até um ritmo aceitável e eficiente, se possível eliminando o déficit do pulso,assim como aumentar a eficiência do miocárdio. As doses e combinações de drogasdevem ser ajustadas de acordo com o ritmo cardíaco desejado e de modo a evitara intoxicação. A conversão com quinidina não apresenta probabilidade de sucesso,exceto em cães jovens de raças grandes que não apresentam doença cardíacagrave subjacente. A conversão elétrica algumas vezes é bem-sucedida, mas oprognóstico a longo prazo é ruim, devido à cardiopatia subjacente que iniciou oquadro.

Em ruminantes, a fibrilação atrial é algumas vezes espasmódica em associaçãocom distúrbios do trato gastrointestinal, mas também ocorre como uma seqüela decor pulmonale ou com doença cardíaca.

Em cavalos, como em outras espécies, a fibrilação atrial pode ocorrer emconjunto com outras cardiopatias, tais como insuficiência mitral, caso em que ela seestabelece como uma taquiarritmia. Também pode ocorrer na aparente ausência desérias doenças cardíacas predisponentes, e, em cavalos com elevado tono vagal,pode se estabelecer com uma bradicardia. Há forte irregularidade do ritmo cardíacoe variação na intensidade do som cardíaco e amplitude de pulso, mas não déficit depulso. Quando a freqüência de repouso estiver entre 26 e 48bpm, pode haverpoucos sinais de inabilidade cardíaca, exceto com exercício intenso. A freqüênciacardíaca aumentará em resposta a exercício moderado. Em freqüências muitobaixas podem decorrer vários segundos entre alguns batimentos e pode haversíncope. A fibrilação atrial ocorre mais comumente em cavalos de tração e outroscavalos de grande porte. Ocorre em cavalos de corrida em associação com uma máperformance, podendo ser espasmódica. A fibrilação atrial com uma freqüênciacardíaca baixa, de repouso, não é incompatível com a vida longa, mas cavalosafetados não devem ser utilizados para corrida. A conversão com quinidina pode serutilizada e é freqüentemente acompanhada por um retorno ao bom desempenho emanimais de corrida. Os maiores sucessos ocorrem quando a conversão for atingida,dentro de um curto período, a partir do período inicial de instalação.

Hipertrofia cardíaca

Qualquer aumento na resistência sistêmica ou pulmonar, como hipertensãosistêmica ou cor pulmonale, leva a hipertrofia ventricular esquerda ou direita,respectivamente. Animais que sofrem de doença pulmonar crônica desenvolvemuma hipertrofia ventricular direita devido ao aumento da pós-carga no ventrículodireito. Tanto a hipertrofia ventricular esquerda quanto a direita parecem serprogressivas, mas a restrição do exercício pode diminuir a progressão. Em eqüinos,a progressão também pode ser retardada evitando-se a exacerbação da laminite,no caso da hipertrofia ventricular esquerda, e evitando-se a provocação alérgica decor pulmonale (enfisema eqüino) no caso da hipertrofia ventricular direita.

É importante que se evite o estresse metabólico, ambiental, de exercício ou detransporte nas laminites crônicas para impedir episódios hipertensivos agudos; poroutro lado, é essencial no manejo de cavalos com uma árvore pulmonar sensibili-zada, que se evitem ambientes empoeirados ou alimentos embolorados. Em cãese gatos com hipertensão arterial sistêmica devida a um problema renal, a reduçãoda pressão arterial com anti-hipertensivos pode se mostrar útil.

A hipertrofia cardíaca em resposta a anomalias congênitas, como a estenoseaórtica e pulmônica ou duto arterioso patente e em resposta a doenças adquiridas,como a dirofilariose em cães, também pode ser reconhecida clinicamente. Em cães,os critérios de ECG para a hipertrofia ventricular direita estão razoavelmente bemestabelecidos, enquanto os critérios para hipertrofia ventricular esquerda são muitomenos confiáveis. Nas outras espécies domésticas ainda não foram estabelecidoscritérios de ECG confiáveis para a hipertrofia das câmaras cardíacas.

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Insuficiência cardíaca

Quando uma doença do coração ou outro órgão resultar em uma redução dareserva cardíaca, o coração pode ser incapaz de atingir os requerimentos do corpoem todas as circunstâncias. Quando a redução na reserva for tal que a diminuiçãoda função cardíaca ocorra somente sob condições extremas de exercício, existe umestado de insuficiência cardíaca relativa. Com o aumento da perda da reserva,ocorre aumento do grau de severidade, e quando o coração não puder preenchersua função em termos da atividade do dia a dia, existe insuficiência cardíaca. Ainsuficiência cardíaca pode resultar de um problema primário do miocárdio reduzin-do a eficiência da função miocárdica. Também pode resultar de qualquer fator queaumente a carga de trabalho do coração, e portanto, diminua a reserva cardíaca. Ascausas comuns incluem doenças que produzem um excesso de pressão sobre ocoração, tais como estenose das válvulas de saída ou hipertensão arterial pulmonarou sistêmica, e anormalidades que causam uma sobrecarga de volume sobre ocoração, tais como insuficiência valvular, desvios intracardíacos da esquerda paraa direita (defeitos de septos – “shunts”), ou desvios extracardíacos, tais como dutoarterioso patente, ou desvios arteriovenosos periféricos (“shunts” arteriovenosos).Causas menos comuns de redução da reserva cardíaca e conseqüentementeinsuficiência cardíaca incluem doenças que produzem distúrbios de preenchimento,tais como efusões pericárdicas e estenose das válvulas AV, bloqueio cardíacocompleto, e redução na reserva arteriovenosa de oxigênio em anemia grave. Emtodas as formas de insuficiência cardíaca crônica geralmente há perda de reservade fluxo coronário resultante de hipertrofia ou dilatação cardíaca. A insuficiênciado coração em bombear o sangue adequadamente resulta em um aumento novolume diastólico final e em uma pressão venosa aumentada. Também ocorre aretenção de sódio e água, provavelmente como resultado de uma perfusão renalinadequada e liberação aumentada de renina, que causa elevação da angioten-sina e, conseqüentemente aumento da sede, vasoconstrição e retenção de sal eágua.

Clinicamente, a insuficiência cardíaca pode ser reconhecida como sediada nolado esquerdo, no lado direito, ou generalizada. Quatro fases de descompensaçãocardíaca são genericamente reconhecidas nos animais domésticos. Fase I, a fasecompensada, é assintomática; a cardiomegalia pode ser o único sintoma. Na FaseII, alguns sintomas clínicos são observados após o exercício, como tosse etolerância reduzida ao exercício. Na Fase III a descompensação está presentedurante atividades mínimas; observamos edema pulmonar ou sintomas radiológi-cos mais sutis e a intolerância ao exercício é marcante. A Fase IV é o estágio defranca descompensação, marcado por sintomas associados a baixo débito cardíaco(como caquexia), complicados por edema pulmonar e grande dispnéia em repouso;o animal normalmente está em risco de morte súbita. À medida que se desenvolveuma insuficiência localizada do lado esquerdo , diminuirá a tolerância ao exercí-cio e ocorrerá dispnéia inadequada após o exercício e excitação. A pressão venosapulmonar aumentada resulta inicialmente em congestões pulmonar e bronquial eem broncoconstrição reflexogênica (asma cardíaca). A tosse repetitiva após oexercício e especialmente à noite tem sido vista em cães. A tosse é seca eentrecortada. Ortopnéia com relutância em deitar, inquietação à noite, e ataquesespasmódicos de dispnéia também são comuns. Com uma insuficiência maissevera, são evidentes o edema pulmonar com dispnéia severa ao repouso eestertores à auscultação.

A insuficiência cardíaca localizada do lado direito é manifestada por conges-tão venosa sistêmica. As veias jugulares estão ingurgitadas. Fígado e baço estãoaumentados e podem ser palpáveis em cães. Nos bovinos o fígado pode tornar-sepalpável atrás do arco costal direito, e pode ser aparente à examinação retal no

cavalo um notável ingurgitamento esplênico e venoso. Ocorre retenção de fluidosem todas as espécies, mas as áreas de ocorrência variam. Em cães, a ascite é maiscomum e ocorre geralmente antes do desenvolvimento de edema subcutâneo,hidrotórax ou hidropericárdio. Em gatos, hidrotórax é geralmente predominante. Emgrandes animais é mais comum o edema subcutâneo dependente. Em bovinos,ocorre especialmente na região submandibular e no peito, enquanto em cavalos, eletende a iniciar na região prepucial ou mamária. Edema de membro, ascite, ehidrotórax também ocorrem. Hidrotórax deve ser suspeitado quando houver umabafamento dos sons do coração e respiratórios na parte ventral do tórax, com umaredução em ressonância na percussão. Hidropericárdio produz abafamento dossons do coração e, quando intenso, produzirá um defeito no preenchimento e umapressão de pulso baixa. Ambos podem resultar em um ECG de baixa amplitude. Apresença de ascite, hidrotórax ou hidropericárdio pode ser confirmada pela aspira-ção de fluido com uma agulha, com subseqüente análise do mesmo. A radiografiae especialmente a ecocardiografia são métodos não invasivos úteis ao diagnósticode fluido nas cavidades do corpo, particularmente peito e pericárdio. Tambémpoderão ocorrer distúrbios na função gastrointestinal com diarréia devido à drena-gem venosa reduzida do trato intestinal.

Na insuficiência cardíaca generalizada ocorrem sinais de ambas as insuficiên-cias, direita e esquerda. Os achados na auscultação variam, dependendo da causainicial. Radiografia é um auxílio considerável ao diagnóstico do aumento do coração,mas uma diferenciação entre hipertrofia e dilatação cardíaca é possível somente porecocardiografia.

Tratamento – Um primeiro intento na terapia na insuficiência cardíaca conges-tiva é eliminar o edema, melhorar o estado contrátil do miocárdio e regular o ritmoe a velocidade. O propósito da terapia convencional é reduzir o trabalho do coração(restrição de exercício), reduzir o consumo de sódio, aumentar a eliminação de sódio(e água) pelo uso de diuréticos, fortalecer o coração através de agentes inotrópicospositivos (glicosídios digitálicos, milrinona, dobutamina, etc.), e diminuir a carga noventrículo com o uso de vasodilatadores.

Nos cães, a dieta pode ser balanceada para diminuir a ingestão de sódio. Dietaspobres em sódio adequadas estão disponíveis comercialmente. Muitos alimentosenlatados para cães contêm sódio em excesso (alimentos de origem animal contêmmuito sódio). Alimentos pobres em sal incluem vegetais frescos ou congelados semsal, cereais à base de trigo, arroz polido ou integral, leite dialisado e refeições comóleo de soja. Carne, peixe e aves devem ser limitados assim como leite e derivados,embora esses alimentos sejam usualmente tolerados desde que não seja usado salna sua preparação. Suprimentos públicos de água usualmente não contêm muitosódio, porém água de poço e água leve podem ter teor mais elevado de sódio. A águadestilada ou deionizada pode ser útil nos casos que atingiram o estágio intratável deinsuficiência cardíaca.

O uso de diuréticos para aumentar a eliminação de sódio (e água) é importantee permite a liberalização de sódio na dieta, a fim de que a palatabilidade possa serpreservada. Em cães, os diuréticos mais eficientes são furosemida e derivados daclorotiazida. A drenagem de fluido ascítico por abdominocentese é indicada somen-te quando o volume interferir marcadamente na respiração e necessária paraconforto do animal. A retirada de líquido ascítico resulta em perda de proteína séricae o fluido abdominal é logo substituído se a compensação cardíaca e diurese nãoapresentarem melhoras por terapia medicamentosa.

Glicosídios digitálicos diminuem a freqüência cardíaca e aumentam a força dacontração miocárdica. Embora o repouso, a restrição de sódio, e os diuréticos sejamadjuvantes úteis à terapia medicamentosa da insuficiência cardíaca congestiva, osdigitálicos continuam sendo o agente terapêutico primário na medida em que agem

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diretamente sobre a insuficiência (ver INOTRÓPICOS POSITIVOS NOVOS, VASODILATA DO-RES E DIURÉTICOS, adiante). Digitalização é raramente feita em outros animais alémde cães e gatos. Vários produtos digitálicos estão disponíveis no mercado, mas oglicosídio digoxina é utilizado com maior freqüência. A digoxina é fornecida nasformas VO e parenteral. A dosagem depende do fabricante, da forma (tablete, elixir),e da situação gastrointestinal e renal do animal.

A digitalização é obtida quando os níveis teciduais são suficientes para produziração terapêutica plena. Em geral, a droga deve ser administrada até que os níveisterapêuticos sejam obtidos, o que é indicado pela melhora dos sintomas clínicos deinsuficiência cardíaca congestiva. Como a razão entre a dose terapêutica e a dosetóxica é estreita em cães e gatos, estas drogas devem ser administradas comcautela. Regimes antigos, que visavam atingir rapidamente as concentrações nostecidos, quase invariavelmente provocavam intoxicação; a administração rápida eintensiva não é recomendada.

Administração de glicosídios digitálicos – O procedimento mais seguro é adigitalização lenta, com uma dose diária de manutenção de digoxina de 0,01 a0,02mg/kg, divididas em duas vezes ao dia. A digitalização geralmente é obtida em3 a 5 dias. Cães maiores (> 16kg) necessitam de menos digoxina, dependendo darelação peso/superfície corporal (PSC). A relação PSC em m2 é determinada pelafórmula: PSC = kg2,3 × 0,112, ou pode ser encontrada em tabelas nos textosveterinários padrão. Utilizando este método, a dose de manutenção é de 0,22mg/m2

de PSC, duas vezes ao dia. A concentração sérica terapêutica de digoxina em cãesdeve estar entre 1 e 1,5ng/mL para diminuir a probabilidade de intoxicação masainda produzir plenamente o efeito inotrópico; valores > 2ng/mL podem ser tóxicos.A análise do soro deve ser realizada 8h após a última dose.

No edema pulmonar agudo fulminante, a furosemida (2 a 4mg/kg [cães]) é amaneira mais eficiente de reduzir rapidamente o volume sangüíneo pulmonar e apressão de preenchimento ventricular, uma vez que (como a nitroglicerina) ela ageem , 30min mudando o sangue do pulmão para as veias periféricas.

Toxicidade digitálica – Como a tolerância individual aos glicosídios digitálicosvaria amplamente, o paciente deve ser observado cuidadosamente, procurando-sepor sinais de intoxicação, particularmente no período inicial da digitalização.Anorexia e depressão são os sinais mais comuns. Diarréia suave é um sinal inicialcomum da intoxicação, mas não exige suspensão da droga. Entretanto, vômitos,depressão, anorexia ou início de arritmias cardíacas são sinais da necessidade dese suspender imediatamente a terapia de digitalização. Raramente ocorre umaumento no intervalo P-R, e é um sinal do efeito dos digitálicos, mas não necessa-riamente de toxicose. O agravamento de batimentos ventriculares prematuros podetambém ser observado. Quando ocorre intoxicação, o digitálico deve ser imediata-mente suspenso, permitindo-se um intervalo de 24 a 48h para sua excreção eregressão dos sintomas tóxicos; a terapia pode ser então reiniciada em umadosagem menor – normalmente 50 a 75% da utilizada anteriormente. Uma terapiaconcomitante com diuréticos, esteróides ou distúrbios gastrointestinais podepotencializar a hipocalemia, o que acentua a toxicidade dos digitálicos. As taquiar-ritmias graves associadas à intoxicação por digitálicos podem exigir terapia antiar-rítmica específica mas, felizmente, raramente ocorrem.

Inotrópicos positivos novos, vasodilatadores e diuréticos – Os glicosídiosdigitálicos são efetivos, mas relativamente fracos inotrópicos positivos com umprincípio tóxico baixo. Em insuficiência cardíaca esquerda grave e aguda, acontratilidade cardíaca é mais efetiva e seguramente suportada por dobutamina EV(4 a 11µg/kg/min). Os efeitos pressores e cronotrópicos de dobutamina sãousualmente não evidentes a esses níveis de dosagem. A premissa mais urgente notratamento do edema pulmonar agudo é diminuir a pressão de preenchimento do

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ventrículo esquerdo. Somando-se ao diurético de ação rápida (por exemplo,furosemida), a administração EV do vasodilatador, nitroprusseto de sódio (4µg/kg/min,aumentando-se a intervalos de 15min por 0,2µg/kg/min) para efeito pode funcionarcomo pivô no tratamento. O efeito dilatador balanceado (venoso e arterial) destadroga reduz a pressão de preenchimento enquanto facilita o esvaziamento ventri-cular. Se uma infusão EV contínua não puder ser instituída, pomada de nitroglicerina(ou emplastros) pode ser aplicada à pele para alcançar resultados semelhantes,mas menos imediatos. A dose da pomada de nitroglicerina é empírica (,1cm/5kg).Se continuada, a aplicação deve ser em dias alternados para evitar o desenvolvi-mento de tolerância. Outros agentes vasodilatadores de ação direta como o dinitratode isosorbida, a hidralazina, o minoxidil, ou agentes bloqueadores α-adrenérgicoscomo a fenoxibenzamina, podem também ser considerados parte da terapia para ainsuficiência do miocárdio.

Tratamento de ICC pode ser facilitado pelo uso de vasodilatadores balanceadosativos orais como captopril ou enalapril (inibidores da enzima de conversão daangiotensina). Aumento do BUN e da creatinina pode ocorrer com o uso do captopril.Em estágios mais adiantados de miocardiopatia dilatada, o coração pode serincapaz de responder a estimulação inotrópica, e a modificação das condições decarga pode ser a única maneira de melhorar a função cardíaca. Milrinona (nãodisponível comercialmente), um análogo administrado VO da amrinona tem proprie-dades combinadas, inotrópicas e vasodilatadoras, que fazem dela uma drogaespecialmente útil para o tratamento de pacientes com insuficiência cardíaca emritmo sinusal. Se fibrilação atrial existir, a digoxina também será necessária.

Cor pulmonale é a denominação dada à cardiopatia secundária à doençapulmonar. Hipertensão pulmonar leva a resistência vascular pulmonar direitaaumentada, hipertrofia e dilatação ventriculares; e em casos severos, CHF podeocorrer. Cor pulmonale é comum em caprinos seguida de pneumonia enzoótica eem cães mais comumente em associação com dirofilariose crônica. No bovino quepasta em grandes altitudes, hipertensão pulmonar ocorre em alguns animais comconseqüente RCHF (ver DOENÇA DAS ALTAS MONTANHAS, pág. 765). Cor pulmonaletambém resulta de doença pulmonar obstrutiva crônica ou enfisema nos eqüinos edeve ser considerado ao exame de qualquer animal com doença respiratória eDPOC. Dilatação cardíaca pode ser suficiente para resultar em insuficiência daválvula tricúspide.

Endocárdio

Endocardite, geralmente de origem bacteriana, mais comumente envolve oendocárdio valvular. Endocardite mural dos átrios ocorre na uremia dos cães.Endocardite mural aguda de outras causas é ocasionalmente observada à necrop-sia, mas é raramente detectada clinicamente. Endocardite valvular geralmentesegue um período prolongado de bacteremia subclínica e é com freqüênciasecundária a condições, tais como piemia crônica, mastite, metrite e prostatite.

Streptococcus, Erysipelothrix rhusiopathiae e Corynebacterium pyogenes são osmicrorganismos mais comumente envolvidos. Nos cavalos, larvas de estrôngilosmigrantes podem produzir tanto endocardite mural como valvular. As válvulas mitral,tricúspide e aórtica (mas raramente a pulmonar) podem ser afetadas em todas asespécies. Nos bovinos, a tricúspide é a mais freqüentemente envolvida; nasoutras espécies, endocardite das válvulas aórtica e mitral é mais comum. Indepen-dentemente da válvula envolvida, o resultado é a contração das bordas livres dasválvulas e insuficiência valvular. Ocasionalmente, estenose de algumas válvulas einsuficiência de outras ocorrem concomitantemente. Grandes lesões de aspectosvegetativos são comuns com endocardite envolvendo as válvulas AV. Os achadosclínicos na endocardite se relacionam àqueles de septicemia crônica e embolismo

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e a sinais resultantes primariamente de anormalidades valvulares. Há semprehistória de boa disposição com períodos de indisposição mais severa. O animalpode estar em más condições com pêlo áspero. Uma febre baixa está geralmentepresente, mas durante episódios mais agudos, pode ocorrer febre alta. Pode haverevidências de bacteremia crônica e embolismo. No bovino, tenossinovite, artrite eevidências de infarto renal na urinálise podem estar presentes. Sinais relacionadosa danos valvulares dependem da válvula envolvida. Com a insuficiência da válvulatricúspide ocorre um murmúrio pansistólico mais audível do lado direito, acima dabase do coração e normalmente um pulso jugular.

Geralmente, há um pulso jugular sistólico pronunciado e insuficiência cardíacadireita com congestão venosa generalizada. Endocardite da válvula mitral estáassociada com um murmúrio pansistólico mais audível acima do ápice do coraçãodo lado esquerdo e irradiando-se dorsalmente. Sinais de dispnéia e insuficiênciaesquerda podem-se desenvolver. Insuficiência aórtica, que ocorre mais freqüen-temente em pastores alemães e raças maiores, produz um murmúrio diastólicomais audível acima da base do coração do lado esquerdo. O pulso arterial temuma grande amplitude. Insuficiência esquerda pode-se desenvolver. Com endo-cardite bacteriana aguda ocorre, geralmente, uma pronunciada leucocitose.Cultura sangüínea deve ser realizada. O prognóstico da endocardite é reservado,especialmente quando sinais de insuficiência cardíaca congestiva estiverempresentes. Requer-se terapia antibacteriana prolongada para controlar a infec-ção e, quando possível, deve-se ter base em testes de sensibilidade. A remissãoé comum. Mesmo com a infecção controlada, podem ocorrer danos residuais àválvula e o tratamento contínuo para a insuficiência cardíaca é geralmentenecessário.

Fibrose valvular crônica (endocardiose) – Fibrose crônica e espessamentonodular das válvulas AV, com subseqüente distorção e função defeituosa, são ascausas mais comuns de cardiopatia em cães. A válvula mitral é, em geral, maisseveramente afetada do que a tricúspide e a lesão resulta em regurgitação. A causaé desconhecida. O aparecimento da fibrose valvular ocorre relativamente cedo (, 4a 5 anos) e o murmúrio sistólico associado pode ser detectado incidentalmentedurante o exame clínico por outras razões. Na maioria dos casos as lesões nãoproduzem sinais externos de anormalidades até que sinais de insuficiência cardíacase desenvolvam durante a meia-idade ou mais tarde e o cão geralmente tem umatolerância a exercícios diminuída e pode haver relatos de tosses após exercícios ouexcitação. Freqüentemente, há uma história de tosses noturnas que é repetitiva eseca. Menos comumente, a queixa inicial do proprietário é uma distensão abdominalou edema pulmonar agudo. Há um murmúrio pansistólico, geralmente de Grau III,ou mais alto, associado com insuficiência mitral ou tricúspide, ou ambas, além dossinais de insuficiência cardíaca. Um terceiro som cardíaco pode ser proeminente emcasos avançados. Evidências radiográficas de aumento atrial esquerdo e ventriculare congestão pulmonar ou aumento biventricular podem ser observadas. As caracte-rísticas clínicas podem ser muito similares à miocardiopatia dilatada, mas oventrículo esquerdo hipercinético da regurgitação mitral pode ser facilmente distin-guido do ventrículo miopático hipodinâmico pela ecocardiografia. Não há mudançaseletrocardiográficas típicas, mas evidências de aumento cardíaco podem estarpresentes. Aumento do átrio esquerdo e lesões vasculares predispõem a batimen-tos atriais prematuros, os quais podem progredir para taquicardia atrial espasmódi-ca e fibrilação atrial. Batimentos ventriculares prematuros ocorrem em estágiosavançados de insuficiência cardíaca. Seqüelas intratáveis são ruptura atrial esquer-da com tamponamento pericárdico e ruptura das cordoalhas tendíneas, ambasproduzindo insuficiência cardíaca aguda. Cães com sinais iniciais leves podemresponder à terapia de restrição de sal e diuréticos ou redução pós-carga, mas

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outras formas de terapia são indicadas para tratamento e controle em casos severosà medida que a insuficiência miocárdica se desenvolve (ver INSUFICIÊNCIA CARDÍACA,anteriormente ).

Fibrose valvular crônica ocorre muito menos comumente em outras espécies,mas lesões na válvula AV são observadas em cavalos idosos e bovinos, as quaisproduzem um murmúrio audível, ocasionalmente, resultando em insuficiênciacardíaca clínica.

Cistos hemáticos valvulares ou hematomas são observados em mais de 75%dos bezerros jovens < 3 semanas de idade. As válvulas AV são mais comumenteafetadas. Estas lesões são também vistas em jovens de outras espécies e seusignificado é desconhecido.

Hemorragias subendocárdicas são vistas na septicemia e toxemia e sãocomumente observadas em animais submetidos à sangria ou após eutanásia compentobarbital sódico.

Miocárdio

Disfunções miocárdicas podem resultar de doenças miocárdicas primárias oupodem ser secundárias às influências tóxicas ou metabólicas e a anormalidadeseletrolíticas. Mudanças degenerativas podem ocorrer em cordeiros, bezerros epotros com doença do músculo branco; em suínos com doença do coração emamora e hepatose dietética e em cavalos com mioglobinúria paralítica e apóspicadas de cobra – particularmente cascavéis.Também ocorrem nas deficiênciasgraves de ferro, na deficiência de cobre e em intoxicação associada a selênio,arsênio e ferro injetáveis.

A miocardite pode acompanhar infecções gerais de bactérias, vírus, parasitas eprotozoários em todas as espécies. É comum em doenças septicêmicas e eminfecções piêmicas em animais jovens. Miocardite significante acompanha infecçãocom encefalomiocardite, vírus da aftose e vírus da doença da língua azul em animaisjovens. A miocardite pode ocorrer também na anemia infecciosa eqüina, carbúnculosintomático, septicemia hemorrágica e doença causada pela S. pullorum. Era umafreqüente seqüela de infecção por parvovírus em cães jovens, antes da infecção setornar estabelecida na população e algumas miocardiopatias crônicas ocorreramem cães, levando à suposição de que estes animais seriam sobreviventes de umamiocardite por parvovírus quando filhotes.

Disfunção miocárdica é a causa de morte em envenenamentos com fluoroacetatode sódio (1.080) e plantas, tais como espirradeira, dedaleira (digital) e Phalaris.Também ocorre em toxemias agudas, uremia grave, cetoacidose diabética, disfun-ção adrenocortical e em outras doenças com intenso desequilíbrio eletrolítico,especialmente aquelas que envolvem potássio ou cálcio.

Infarto do miocárdio é raro em animais domésticos, apesar de ser ocasional-mente observado em necropsias. Grandes infartos do miocárdio, comuns emhumanos devido à ateriosclerose coronária e obstrução das artérias coronáriasprincipais, são raros nos animais domésticos. Infartos causados por êmbolos devidoa uma endocardite vegetativa têm causado sintomas clínicos que lembram os doinfarto do miocárdio em humanos. No cão, pequenos focos de necrose miocárdicaem vários estágios de reabsorção e cicatrização são encontrados em associação aoestreitamento esclerótico de pequenas artérias intramiocárdicas.

Muitas lesões miocárdicas, se extensas o suficiente, produzirão típicas mudan-ças eletrocardiográficas, como depressão ou elevação do segmento S-T, depressãoda onda T, aumento da duração do QRS, baixa voltagem, registro anormal docomplexo QRS e certas arritmias, tais como fibrilação atrial, batimentos ventricula-res ectópicos, taquicardia ventricular paroxística e bloqueio AV. Diagnóstico clínicode miocardite freqüentemente é difícil ou impossível em casos suaves. Os mais

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freqüentes sinais de diagnóstico da inflamação miocárdica ou degeneração são asmudanças eletrocardiográficas listadas anteriormente, taquicardia fora de propor-ção para a temperatura, arritmias, cardiomegalia e tolerância a exercício diminuída.A terapia é geralmente restrita à correção ou tratamento da causa inicial. Bioquímicasérica pode ser útil no diagnóstico em distúrbios eletrolíticos e metabólicos.Isoenzimas LDH podem indicar danos miocárdicos. Quando ocorrer arritmia grave,pode-se indicar terapia específica antiarrítmica (ver pág. 55 ).

Miocardiopatia idiopática dilatada caracterizada por áreas multifocais denecrose miocárdica e fibrose com infiltração de células mononucleares ocorre nocão e no gato. Nos gatos, a miocardiopatia foi associada a um baixo nível plasmáticodo aminoácido taurina. A suplementação dietética com taurina aumentou os níveisplasmáticos, e isto foi associado a um retorno ao normal da função do ventrículoesquerdo. A maior parte dos fabricantes de ração para gato aumentou o nível detaurina nos seus produtos e a prevalência da doença diminuiu. Em alguns cães, adeficiência de L-carnitina foi associada à miocardiopatia dilatada reversível.

No cão, é mais comum em raças gigantes e em machos. Doberman pinschersmachos parecem ser os mais altamente vulneráveis a PVC e miocardiopatia. Amiocardiopatia em desenvolvimento geralmente não é detectada até que ocor-ram sinais de doença cardíaca severa. Há usualmente fibrilação atrial oubatimentos prematuros seguindo hipertrofia atrial esquerda. O desenvolvimentodos sinais clínicos geralmente é rápido e há usualmente uma história de perdarepentina de peso, intolerância ao exercício, dispnéia e distensão abdominal. Há,com freqüência, uma notável perda da musculatura, especialmente ao longo dacoluna. Os sinais estão associados a insuficiência cardíaca congestiva esquerdae direita. Há freqüentemente aumento biventricular com dilatação do anel valvularpara produzir um leve murmúrio pansistólico da insuficiência da válvula AV.Murmúrios não estão necessariamente presentes, e o grau de insuficiência AVquase sempre é leve. O prognóstico é ruim, e cães afetados raramente vivem pormais que alguns meses após a manifestação da doença. O tratamento é comopara insuficiência cardíaca de outras etiologias. Propranolol e diltiazem tambémpodem ser usados, quando o digitálico por si só não é eficaz suficiente parareduzir o ritmo cardíaco com fibrilação atrial. A extensão da doença miocárdicapode impossibilitar uma resposta significante às drogas inotrópicas e alteraçãode condições de carga ventriculares com drogas vasodilatadoras pode ser o únicotratamento efetivo em estágios adiantados.

Em gatos é comum a síndrome de miocardiopatia hipertrófica. Não há idadede maior incidência, mas a doença é mais comum em machos. Em gatos jovens,endomiocardite de causa desconhecida progride para fibrose endomiocárdicasevera e em gatos velhos com hipertrofia ventricular esquerda, dilatação atrialesquerda e, finalmente, cardiomegalia com formação de trombos aórticos e atriais.A doença é insidiosa e freqüentemente nenhuma anormalidade é observada até oaparecimento da insuficiência cardíaca ou da oclusão embólica arterial. Podeocorrer histórico de redução do apetite, letargia, dispnéia após exercício e uma levee indefinida claudicação. Geralmente, o primeiro sinal observado é o início súbito dedispnéia ou dificuldades locomotoras dos membros posteriores ou ambas. Dispnéiaé tanto inspiratória como expiratória e resulta da insuficiência cardíaca esquerda.Congestão pulmonar, edema pulmonar e efusão pleural podem ser detectadasradiograficamente. O coração pode estar normal à auscultação, mas comumente háum murmúrio pansistólico associado à dilatação do anel da válvula mitral. Um ritmode galope é freqüentemente audível. Exames radiográficos e eletrocardiográficosmostram evidências de acentuado aumento do átrio esquerdo e, às vezes, aumentoventricular esquerdo. Doença tromboembólica é comum. A oclusão das artériasilíacas costuma resultar em aparecimento repentino de paresia ou paralisia pos-

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teriores. Está presente dor aguda com membros posteriores frios e sem tensãodo gastrocnêmio. O pulso femoral pode estar ausente ou variável entre osmembros posteriores. Tromboembolismo pode envolver outras áreas, comoartérias renais, produzindo infartos renais ou, ocasionalmente, doença renalsevera. O tratamento da miocardiopatia hipertrófica nos gatos baseia-se no usode diuréticos e inotrópicos negativos. A acepromazina também tem sido utilizadanos embolismos, para aumentar os vasos sangüíneos colaterais para os mem-bros. Para ser efetiva, a cirurgia para remover os êmbolos aórticos deve serrealizada nas primeiras horas, mas geralmente não é mais eficiente que a terapiamedicamentosa conservadora. A aspirina e outros agentes anticoagulantespodem diminuir a velocidade de formação de trombos perigosos, especialmentena bifurcação aórtica. Informações recentemente obtidas sugerem que os digitá-licos podem ser úteis neste tipo de miocardiopatia devido a sua capacidade demelhorar a função atrial e portanto a pré-carga ventricular esquerda. Sinaisclínicos similares também ocorrem em gatos com a forma de miocardiopatiadilatada. Uma distinção segura entre miocardiopatia dilatada e hipertrófica podeser feita somente por exame das dimensões do ventrículo esquerdo e índice decontratilidade através da ecocardiografia.

Pericárdio e seu conteúdo

O pericárdio pode estar congenitamente ausente ou apenas parcialmenteformado. Estas anomalias usualmente não têm significado clínico.

Hidropericárdio pode ocorrer na CHF e hidremia, por exemplo, em parasitismocom anemia associada. Pericardite com grande efusão sangüínea é uma entidadeclínica que pode ocorrer em cães. Os primeiros sinais clínicos usualmente notadossão dispnéia, fadiga fácil e ascite. Os sinais diagnósticos incluem sons cardíacosabafados, baixo potencial eletrocardiográfico e, à fluoroscopia, a silhueta cardíacaé circular e grandemente alargada; pulsações cardíacas não podem ser facilmentediscernidas, ou estão ausentes. Comumente, o ECG mostrará alternação elétrica –deflexões alternantes em amplitude. Até mesmo pequenas efusões podem seridentificadas por ecocardiografia bidimensional e modo-M, as quais são maisdefinitivas como meios de diagnóstico não invasivo para a condição. A técnica é deigual valor para animais de campo. O fluido assemelha-se muito ao sangue, mas nãose coagula. É bacteriologicamente estéril e sua remoção resulta em alívio dramáticodos sinais clínicos. A condição pode recidivar.

Efusões semelhantes algumas vezes estão presentes devido a neoplasias nointerior do saco pericárdico (por exemplo, tumores da base do coração ehemangiossarcomas). Embora as neoplasias primárias no coração sejam extrema-mente raras, certos processos metastáticos podem invadir o miocárdio provocandodesvios do segmento S-T ou despolarizações ventriculares prematuras. Nos bovinos,o linfoma pode também invadir as estruturas cardíacas. Isto é difícil de diferenciar deuma pericardite como seqüela de uma reticuloperitonite traumática (ver pág. 269).Nestes casos a remoção do fluido é apenas paliativa. O sangue coagulado pode serretido em casos de tamponamento pericárdico devido à ruptura do átrio esquerdo ouferimentos por objetos penetrantes. Pericardite ocorre em várias doenças infecciosasde grandes animais, e está associada com reticuloperitonite traumática. A detecçãoclínica depende da detecção dos sons cardíacos abafados ou atrito do pericárdio. Sea efusão pericárdica for acentuada, poderá ocorrer congestão venosa e uma pobreamplitude de pulso. A ecocardiografia é especialmente útil para confirmar uma efusãopericárdica ou demonstrar um espessamento no pericárdio. Exame laboratorial dofluido aspirado do pericárdio é de grande valor para determinar a causa.

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DISTÚRBIOS HEMOSTÁTICOSDefeitos na hemostasia podem ser herdados ou adquiridos. Hemostasia efetiva

requer uma parede de vaso normal, nível normal de fatores da coagulaçãosangüínea e número adequado de plaquetas funcionantes. Plaquetas devem aderir-se à parede do vaso em locais de ruptura e depois ligar-se umas às outras paraformar um tampão hemostático. Este tampão precisa ser fortificado pela incorpora-ção de fibrina. Uma deficiência na resposta do vaso, atividade plaquetária ougeração de fibrina levará a uma hemostasia defeituosa.

DISTÚRBIOS HEREDITÁRIOS

Distúrbios hereditários da parede vascular freqüentemente não estão definidosnos animais domésticos. Doenças do tecido conjuntivo, tais como a síndromeEhlers-Danlos no visom, cães e outras espécies podem resultar em trombocitopeniavascular.

Vários tipos de deficiências da coagulação sangüínea hereditárias são obser-vados em animais domésticos. Muitas delas são deficiências ou anormalidadesde um único fator, mas também foram relatados defeitos múltiplos de coagulação.As hemofilias A e B são herdadas como características ligadas ao sexo ecomumente carreadas pela fêmea e manifestam-se clinicamente apenas nomacho, exceto quando machos hemofílicos forem acasalados com fêmeasportadoras. A hemofilia A é a coagulopatia hereditária grave mais comum. Todosos outros conhecidos defeitos hereditários da coagulação sangüínea são trans-mitidos por características autossômicas.

Os defeitos herdados da coagulação sangüínea que têm sido relatados emanimais domésticos incluem: deficiência de Fator I (fibrinogênio) em cães ecabras; deficiência de Fator II (protrombina) em boxers, otterhounds e cockerspaniels ingleses; deficiência do Fator VII (proconvertina) em beagles, bulldogsingleses, malamutes do Alasca e mestiços; deficiência do Fator VIII (hemofiliaclássica, hemofilia A), coagulopatia herdada grave mais comum que ocorre empraticamente todas as raças de cães e em cavalos de raça ou mestiços, bovinohereford e gatos; deficiência do Fator IX (doença de Christmas, hemofilia B) em16 raças de cães e em british shorthair, himalaios e em gatos siameses;deficiência do Fator X (fator de Stuart) em cocker spaniels americanos e em ummestiço; deficiência de Fator XI em springer spaniels ingleses, grandes pirineus,weimaraners, kerry blue terriers e nos gado holstein; deficiência do fator deFletcher (pré-calicreína) em um poodle; deficiência do Fator XII (fator de Hageman)em gatos, poodles standard e Pointers alemães de pêlo curto. Em mamíferosmarinhos normais, aves e na maioria dos répteis é natural uma deficiência doFator XII, mas não como resultado de uma sangria.

A doença de von Willebrand é um defeito hereditário, relativamente comum, erelatado em 54 raças de cães de raça pura e em mestiços, gatos, coelhos e suínos.Dobermans pinschers, pastores alemães, retrievers dourados, schnauzers miniatu-ra, pembroke welsh corgis, terriers escoceses, pastores de sthetland, bassethounds, poodles standard e terriers manchesters standard têm uma alta prevalênciada doença (10 a 70%) dentro de suas respectivas raças. A doença é caracterizadapor alta morbidade, baixa mortalidade e uma leve a severa discrasia sangüínea quecom freqüência é exacerbada por estresses físico e psicológico bem como pordoença concomitante (hipotireoidismo, infecção por parvovírus, doença auto-imune). É um traço autossômico com duas formas de expressão genética e clínica:1. indivíduos homozigotos nascem de pais heterozigotos assintomáticos (portado-

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res – observados em suínos poland-China, terriers escoceses, shetland sheepdogse retrievers da baía de Chesapeake); e 2. a forma mais comum, não completamentedominante na qual ocorre expressividade variável ou penetrância (homozigotos eheterozigotos podem manifestar uma tendência a sangramentos). A homozigosida-de é geralmente letal nesta forma de doença.

O defeito envolve tanto as plaquetas como a função de coagulação (Fator VIII).Uma diminuição quantitativa no fator de von Willebrand é detectada pela redução noantígeno do mesmo (FVW:Ag, anteriormente antígeno relacionado ao Fator VIII) ouno cofator de coaglutinina. Estes são os testes mais diagnósticos. Um decréscimofuncional no fator é detectado pelos testes sensíveis da função das plaquetas, comoo de tempo de sangramento da mucosa bucal em cães. O fator é necessário paramanter as funções plaquetária e vascular. A diminuição da atividade coagulante(Fator-VIII-coagulante [VIII:C]) pode ser ocasionalmente detectada pelo tempo detromboplastina parcial ativada (TTPA), mas o TTPA freqüentemente é normal nadoença, embora seja o teste mais sensível clinicamente disponível para avaliar acapacidade do Fator VIII para formar um coágulo.

Os defeitos hereditários da função plaquetária (trombopatias hereditárias) têmsido relatados em otterhounds, basset hounds, gado simmental e ratos fawn-hooded.O defeito plaquetário básico difere. Estes distúrbios podem não produzir sinaisclínicos, ou manifestarem-se por aumento na tendência a sangramentos, geralmentedevido às plaquetas reagirem pobremente à estimulação total ou incompleta porcolágeno, difosfato de adenosina e trombina, e assim falharem ao formar um tampãohemostático adequado. Essas tendências a sangramento são exacerbadas comfreqüência por trauma ou cirurgia. A transmissão é uma característica autossômica.

DISTÚRBIOS ADQUIRIDOS

Podem resultar de diversas causas que afetam componentes específicos domecanismo de hemostasia e, exceto em famílias consangüíneas de animais decompanhia e pela doença de von Willebrand, tendem a ser mais comuns em animaisdomésticos que os defeitos hereditários. Alterações na parede vascular acompanha-das por petéquias ocorrem nas mesmas condições que a púrpura eqüina (ver pág.70) ou em hipoxias da parede vascular devido a circulação precária ou anemia. Oescorbuto (deficiência de vitamina C) em cobaias pode resultar em púrpura vascular.

Distúrbios adquiridos da coagulação sangüínea geralmente envolvem defi-ciências multifatoriais e podem resultar de síntese defeituosa, utilização exces-siva ou inibição de um ou mais fatores de coagulação. Certos fatores coagulantesna circulação sangüínea podem ser deprimidos por agentes na alimentação (verINTOXICAÇÃO POR TREVO DOCE, pág. 2105 ), por drogas ou por várias doenças,particularmente aquelas causadoras de dano hepático severo ou moderado .

Rodenticidas anticoagulantes (ver pág. 2089 ), tais como varfarim e seus compos-tos mais recentes (brodifacoum, difacinona, clorfacinona) ou dicumarol deprimem aprodução de fatores da coagulação dependentes de vitamina K (Fatores II, VII, IX eX). Uma vez que o fígado é o maior local de síntese dos fatores de coagulação, o danohepático pode resultar em coagulação sangüínea defeituosa. Os baixos níveis defatores coagulantes no plasma de animais recém-nascidos podem predispor asangramentos. Choque anafilático, hemólise intravascular, necrose tecidual exces-siva (queimaduras, inflamação, neoplasia, trauma, cirurgia) ou endotoxinas bacteria-nas podem levar a ativação de plaquetas sangüíneas e fatores de coagulação eresultam em coagulação intravascular disseminada (CID, pág. 28 ) e tromboembolis-mo. O líquido amniótico contém tromboplastinas potentes que podem ser introduzi-das na circulação materna durante distocias, levando a coagulação intravascular.

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Além da depleção de fatores da coagulação, a CID resulta na utilização de plaquetas,atividade fibrinolítica aumentada e aparecimento de produtos da degradação dafibrina (PDF) circulante, todos contribuindo para a tendência a sangramento decor-rente. A atividade fibrinolítica aumentada tem sido reconhecida em cães como umacausa de sangramento excessivo após trauma ou cirurgia.

O desenvolvimento de inibidores de fatores de coagulação tem sido relatadono lúpus eritematoso sistêmico e no mieloma múltiplo em cães. Os inibidores sãoanticorpos dirigidos contra proteínas pró-coagulantes específicas.

Doença de von Willebrand adquirida é agora reconhecida no homem e emcães, associada a doença hereditária auto-imune da tireóide. Das 54 raças decães nas quais a doença de von Willebrand (ver anteriormente) tem sido relatada,42 também transmitem hipotireoidismo hereditário. A prevalência de ambos ascondições parece ter aumentado rapidamente na última década. Nos cães, adoença de von Willebrand é exacerbada por uma tireoidite auto-imune concorren-te, independentemente do distúrbio ter progredido ou não para o estágio dehipotireoidismo franco clinicamente. Os portadores assintomáticos da doença devon Willebrand hereditária podem apresentar uma tendência a sangramento sesubseqüentemente desenvolverem tireoidite ou hipotireoidismo. Geralmente, éimpossível distinguir a doença de von Willebrand hereditária da adquirida em umindivíduo por meio de técnicas de diagnóstico disponíveis atualmente.

As trombocitopenias adquiridas podem resultar de várias causas (ver TROMBO-CITOPENIA CANINA, pág. 68 ), a maioria delas tem base imunológica.

Nos defeitos adquiridos da função plaquetária (trombopatias adquiridas), onúmero de plaquetas pode ser normal mas sua função é anormal. A uremia resultaem adesão plaquetária reduzida, agregação plaquetária anormal ao difosfato deadenosina e colágeno, e um tempo prolongado de sangramento mucoso bucal.

Muitas drogas, tais como aspirina, fenilbutazona, derivados de promazina enitrofurantoína, interferem na função plaquetária normal e portanto na formação dotampão hemostático, embora não freqüentemente em um nível significante. Outrasdrogas que podem prejudicar a hemostasia incluem sulfonamidas, penicilinas,estrogênios, fenotiazinas, anti-histamínicos, agentes antiinflamatórios e expansoresde plasma. Defeitos plaquetários qualitativos podem também estar associados comhipotireoidismo cirrose hepática e leucemias. Em alguns defeitos adquiridos dafunção plaquetária, o fosfolipídio plaquetário (Fator Plaquetário 3), essencial para acoagulação sangüínea normal, é anormal, ou não é liberado pela plaqueta.

Diagnóstico – Dependendo da natureza do defeito hemostático, diferentessinais são observados. Os sintomas mais comuns esperados em uma trombocito-penia incluem epistaxe persistente e hemorragias petequiais ou equimóticas. Oaparecimento das hemorragias maiores (por exemplo, hematomas), claudicaçõesmigratórias recurrentes (hemartroses), ou sangramento em cavidades corporaistende a indicar uma coagulopatia. As exceções ocorrem com sinais mais genéricos,por exemplo, sangramento excessivo em cirurgias ou trauma.

Anormalidades da parede vascular – Defeitos na parede vascular são diagnos-ticados por tempos prolongados de sangramento na ausência de outros defeitos nomecanismo hemostático ou na causa óbvia como um aneurisma ou trauma rompido.

Anormalidades na coagulação sangüínea – O sistema de coagulação écomplexo e possui muitas interações, porém para o diagnóstico in vitro pode sersimplesmente dividido em vias intrínseca, extrínseca e comum para localizar-se afalha na coagulação. O tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPA) é o testemais sensível clinicamente à disposição para checar todos os fatores de coagulaçãoexceto o Fator VII. O TTPA avalia os fatores envolvidos nas vias intrínseca e comum.O tempo de protrombina (TP ou tempo de protrombina em um estágio) avalia osistema extrínseco (clinicamente, apenas o Fator VII) e a via comum. O tempo de

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veneno da peçonha de Russel (TVPR), disponível com menor freqüência que oTTPA e o TP, avalia os fatores da via comum. O tempo de trombina (TT) avalia ofibrinogênio, podendo monitorar o nível eficaz de anticoagulantes como a heparina,enquanto o tempo de trombina modificado é um método padrão para quantificarfibrinogênio, mas insensível demais para monitorar terapias com anticoagulantes.

A utilização de várias combinações de testes pode freqüentemente identificar umdefeito em uma das vias. Um defeito na via intrínseca, como a hemofilia A (Fator VIII)apresentaria um TTPA prolongado e um TP normal. A deficiência de Fator VII apre-sentaria um TP prolongado e um TTPA normal. Um defeito na via comum ou defeitosmúltiplos, como deficiência de Fatores II, VII, IX e X na intoxicação por varfarim ourodenticidas semelhantes a este, apresentariam TP, TTPA e TVPR prolongadoscom um TT normal.

Ensaios específicos para fatores de coagulação são necessários para determi-nar qual(is) fator(es) em particular está(ão) deficiente(s), por exemplo, um defeito nosistema intrínseco pode ser causado por deficiência nos Fatores VIII, IX, XI e/ou XII.

A coagulação intravascular disseminada (CID) causa consumo de plaquetas efatores de coagulação além e estimula o aumento da fibrinólise. Um diagnósticopode ser feito com confiança se todos os seguintes sintomas estiverem presentes:1. trombocitopenia; 2. aumento no tempo de sangramento; 3. TTPA aumentado; 4.TP aumentado; e 5. aumento dos produtos de degradação da fibrina. No entanto,as respostas compensatórias freqüentemente trazem um ou mais destes testeshemostáticos comuns de volta para a faixa normal; deste modo, apenas 3 dos 5sintomas precisam estar presentes para diagnosticar-se CID. A trombocitopeniacombinada com evidências de coagulopatia (isto é, aumento de TTPA e/ou TP) éuma evidência forte. Alguns laboratórios possuem testes mais sensíveis para CID,como a antitrombina 3. Normalmente, o clínico não possui equipamento pararealizar outros testes além da contagem e estimativa de plaquetas (a partir deesfregaços sangüíneos), tempos de sangramento e tempo de coagulação ativada.Devem-se buscar informações quanto às amostras laboratoriais e controlesnecessários para cada espécie, uma vez que a tipagem, coleta e processamentoapropriados do sangue são críticos.

Anormalidades nas plaquetas – Uma contagem acurada das plaquetas deveser realizada em sangue total fresco coletado por meio de venipuntura asséptica emum tubo contendo EDTA ou citrato trissódico anticoagulante. O primeiro sangue apreencher a agulha deve ser descartado, utilizando-se a técnica de 2 seringas oupermitindo-se que o sangue flua pela agulha antes de acoplar-se a seringa ou o“vacutainer”. A estimativa do número de plaquetas em um esfregaço corado ésuficiente para detectar as alterações marcantes. O sangue canino normal possui, 8 a 29 plaquetas por campo em óleo de imersão. Uma trombocitopenia grave osuficiente para provocar sintomas de sangramento apresenta sinais 0 a 3 plaquetaspor campo. Para monitorar melhor as alterações durante o tratamento, as estima-tivas plaquetárias devem ser confirmadas por uma contagem de plaquetas. Aretração do coágulo de sangue total e o tempo de sangramento da unha do polegarsão testes insensíveis de função plaquetária. O tempo de sangramento da mucosabucal em cães é um teste sensível para a função plaquetária; cães normais paramde sangrar em 2,6 ± 0,5min. Nos defeitos qualitativos da função plaquetária, aavaliação das plaquetas por testes especiais, como a resposta de agregação dasplaquetas ao difosfato de adenosina, trombina e colágeno, e medidas deretenção plaquetária (adesividade), pode ser necessária. Nos defeitos qualitativosdas plaquetas, o tempo de sangramento da mucosa bucal é prolongado, mas acontagem de plaquetas é normal. Medidas específicas de FVW:Ag ou outrasatividades do fator de von Willebrand relacionadas às plaquetas são necessáriaspara um diagnóstico definitivo da doença de von Willebrand.

Distúrbios Hemostáticos 66

Tratamento – Em sangramentos externos, podem-se aplicar bandagens com-pressivas, esponjas hemostáticas, trombinas tópicas ou adrenalina para auxiliar nocontrole. Quando se lancetam hematomas superficiais pode-se provocar hemorragiade difícil controle. Para reduzir a chance de sensibilização a antígenos eritrocitários esubseqüentes reações a transfusão, as transfusões que não sejam de sangue totalsemelhante e do mesmo tipo devem ser restritas a pacientes com acentuada perda desangue e sinais de anemia grave. Com um hematócrito < 13% em cães e 11% emgatos é indicada a transfusão, embora uma anemia de evolução rápida cause umdesconforto respiratório em um hematócrito mais alto que nas anemias crônicas.

Na trombocitopenia e trombopatia, o plasma enriquecido com plaquetas deveser transfundido se possível. O plasma obtido de sangue fresco, coletado lenta-mente e centrifugado em citrato e colocado em recipientes plásticos (600 a 800rpmou ,150 × gravidade por 8 a 10min) ou por centrifugação mais rápida do sanguepor um menor período de tempo (1.500rpm ou 300 × gravidade por 2 a 5min).

Nas deficiências de fator coagulante, o plasma baixo em plaquetas (citratosangüíneo fresco em giro de 3.000 a 5.000rpm ou 700 a 1.000 × gravidade por 15 a20min) pode ser usado. Como vários fatores de coagulação são lábeis (por exemplo,Fator VIII), o plasma deve ser preparado em recipientes plásticos estéreis e usadoso mais rapidamente possível. Como alternativa, a maioria dos fatores de coagulaçãodo plasma fresco pode ser preservada por mais de 12 meses a –20oC ou preferivel-mente a temperaturas ainda mais baixas (–40 a –70oC) por congelamento imedia-tamente após a coleta. Fatores da coagulação específicos concentrados ainda nãoestão disponíveis no comércio para uso em animais domésticos, mas um criopreci-pitado para cães pode ser prontamente obtido de plasma recém-congelado.

A vitamina K1 é apenas indicada em avitaminose K, anormalidades do complexoprotrombina (tais como intoxicação por rodenticidas ou por trevo doce) e doençahepática. A vitamina K3 normalmente é ineficaz. Rodenticidas mais modernos, comodifacinona, exigem terapia de longa duração com vitamina K1. A administração EVpode causar anafilaxia. O ácido ascórbico pode ser útil para algumas púrpurasvasculares e algumas doenças hepáticas. Esteróides ou outros imunossupressoressão os medicamentos de escolha para trombocitopenia imunomediada e tambémtêm sido usados para tratar distúrbios da coagulação e estados fibrinolíticos. Aeficácia nas duas últimas situações é questionável. A L-tireoxina (duas vezes ao dia)é benéfica porque estimula a trombocitopoiese e aumenta a adesão plaquetária.Estilbestrol pode melhorar a resistência capilar, porém pode ter um efeito tóxico emalgumas espécies, por exemplo cães, causando trombocitopenia (e bicitopenia oupancitopenia) e assim aumentando o sangramento.

Drogas conhecidas por interferirem na função plaquetária são contra-indicadas oudevem ser usadas com cautela em animais com tendência moderada ou severa asangramentos (ver págs. 63 e 64 ). Sulfato de protamina tem sido usado paraneutralizar a heparina em casos de superdose desta ou heparinemia. Anticoagulan-tes como a heparina ou varfarim têm sido usados em combinação com drogasantiplaquetárias, tais como aspirina, e terapia de reposição do componente sangüí-neo para tratar CID, mas o manejo específico requer identificação e alívio da causade base, quando possível.

Animais com defeitos hemostáticos severos, particularmente hemofílicos, devemreceber drogas VO, s.c. ou EV com uma agulha de pequeno calibre; a injeção IM poderesultar em formação de hematomas no local da inoculação.

TROMBOCITOPENIA

É uma diminuição no número de plaquetas. As mesmas causas básicas, emqualquer espécie, levam a este problema, que é a principal causa de sangramento.

Distúrbios Hemostáticos 67

Trombocitopenias canina e felina

Distúrbios hemorrágicos são associados a grave trombocitopenia, normalmentequando o número de plaquetas é < 20.000/µL (20 × 109/L). Se o sangramento ocorrercom um número de plaquetas > 50.000/µL, deverão ser consideradas causasadicionais, por exemplo, doença de von Willebrand com hipotireoidismo concorrentee CID com produtos de degradação da fibrina circulante atuando como anticoagu-lantes. Ocasionalmente, os sintomas de hemorragia não são observados apesar datrombocitopenia grave, talvez devido à presença de plaquetas maiores e maisativas. Pequenas hemorragias, como petéquias e equimoses na pele e membranasmucosas, e epistaxe são sinais clínicos típicos.

Etiologia – A trombocitopenia normalmente ocorre devido à produção diminuídaem virtude de doença na medula óssea, destruição imunomediada, ou coagulopatiaconsuntiva (CID). O diagnóstico de doença medular é feito por aspirado e biópsia.Uma ausência de,ou diminuição marcante nos, megacariócitos indica um defeito naprodução. Números normais ou aumentados de megacariócitos indica maior des-truição ou consumo de plaquetas pelas 2 outras causas genéricas. A CID édiagnosticada por meio dos testes de hemostasia (ver anteriormente). A tromboci-topenia imunomediada é diagnosticada pela exclusão das outras 2 e, em algunscasos, por associação com uma droga em particular ou identificação sorológica oumorfológica de um microrganismo como Ehrlichia canis ou E. platys. O mecanismoda trombocitopenia em cães com E. canis é pouco compreendido: inicialmente, amedula óssea é hipercelular e é possível uma remoção imunomediada de plaquetas,ainda não provada. A erlichiose crônica pode resultar em pancitopenia aplásica comdano medular irreversível. Testes diretos para a trombocitopenia imunomediada,como o de Fator 3 de plaquetas ou ELISA, não estão prontamente disponíveis nemsão universalmente aceitos.

A trombocitopenia imunomediada pode acompanhar o lúpus eritematoso sistê-mico (ver pág. 520 ) ou a anemia hemolítica imunomediada (ver pág. 24 ). Pode-sesuspeitar de anticorpos antiplaquetários induzidos por drogas quando a tromboci-topenia é associada a drogas como quinidina, quinina, digitoxina, clorotiazidas,fenitoína, fenilbutazona, penicilinas, anfetaminas, fenobarbital e combinaçõestrimetoprim-sulfonamida. Aproximadamente em 2/3 dos casos de trombocitopeniascrônicas e recorrentes há uma base imunológica; estes indivíduos podem desenvol-ver auto-anticorpos contra suas plaquetas e/ou outros tecidos.

A trombocitopenia pode ser causada por alguma infecção viral ou pelo uso decertas vacinas de vírus vivo modificado (por exemplo, parvovírus, raiva). Isto pode serdevido a um dano imunomediado às plaquetas e/ou megacariócitos secundário aalterações antigênicas relacionadas ao vírus, ou efeitos citotóxicos diretos do vírus.

A lesão tóxica da medula óssea em cães causada por estrogênios é menoscomum, porém a terapia estrogênica é uma causa potencial de trombocitopenia,bicitopenia ou pancitopenia. Outras substâncias tóxicas à medula incluem ciclofos-famida, 6-mercaptopurina, bussulfan, mostarda nitrogenada e outros agentesquimioterápicos. O envolvimento leucêmico da medula pode repor células hemato-poiéticas normais, como os megacariócitos. O dano original pode não ser conhecidorestando apenas gordura ou tecido fibroso, dando um diagnóstico morfológico depancitopenia aplásica ou mielofibrose.

Os collies cinza com hematopoiese cíclica (ver pág. 76 ) podem apresentartrombocitopenia cíclica. Em vários distúrbios adquiridos (por exemplo, uremia,doença hepática, neoplasia – incluindo distúrbios linfoproliferativas com paraprotei-nemia), os defeitos plaquetários quantitativos e qualitativos podem coexistir.

Achados clínicos e diagnóstico – Petéquias e equimoses aparecem subita-mente na pele visível e nas membranas mucosas. Elas podem ser acompanhadas

Distúrbios Hemostáticos 68

por epistaxe, melena, hematúria, sangramento prolongado provindo de pontos delesão e formação excessiva de abrasões ou hematomas após a palpação clínica derotina. Palidez, fraqueza e edema podem ocorrer em casos que também apresen-tem anemia severa.

A contagem direta de plaquetas em sangue fresco coletado em EDTA ou outrosanticoagulantes quantifica a magnitude da trombocitopenia. Se forem notadosgrumos de plaquetas no esfregaço, deve se providenciar uma amostra fresca. Oesfregaço de sangue periférico mostra uma ausência virtual (por exemplo, 0 a 3plaquetas por campo de imersão em óleo) de plaquetas. Plaquetas grandessugerem trombopoiese acelerada. Os testes de função plaquetária, como o tempode sangramento ou retração de coágulo podem detectar a trombocitopenia. Umteste de Coombs direto positivo associado a uma anemia hemolítica auto-imune, epreparações LE positivas ou títulos de anticorpos antinucleares com lúpus eritema-toso sistêmico podem sugerir indiretamente trombocitopenia imunomediada. Aforma imunomediada da trombocitopenia tem sido indicada pela detecção daatividade antiplaquetária no plasma ou soro utilizando-se o teste de Fator Plaque-tário 3 ou outros testes imunológicos, mas os testes diretos como estes, não estãofacilmente disponíveis nem são considerados confiáveis.

Tratamento – Nos animais que desenvolvem púrpura trombocitopênica apósterapia medicamentosa prolongada ou após uma curta exposição a uma nova droga,uma causa iatrogênica é uma grande possibilidade; a droga suspeita deve ter suaadministração interrompida e o animal deve receber corticosteróides imediatamente(por exemplo, dexametasona [0,25 a 0,5 mg/kg de peso corporal], ou prednisona ouprednisolona [2 a 4 mg/kg] diariamente). A trombocitopenia induzida por drogas emgeral é prontamente revertida pela remoção do agente causador.

A trombocitopenia associada a tumor maligno ou mielofibrose e pancitopeniaaplásica é a mais difícil de tratar, uma vez que a identificação ou cura da causade base pode ser impossível.

A remissão da trombocitopenia imune normalmente pode ser obtida utilizando-se o mesmo regime de tratamento usado para a anemia hemolítica auto-imune (verpág. 24). Muitos casos respondem à terapia convencional com corticosteróides,mas podem ocorrer recidivas após períodos variáveis. A terapia com esteróides émantida por 1 semana nas dosagens citadas anteriormente, e então reduzida ametade por outra semana. Doses de manutenção administradas diariamente edepois em dias alternados freqüentemente têm que ser mantidas indefinidamentepara evitar recidivas. Drogas antimetabólicas como vincristina, ciclofosfamida, ouciclosporina têm sido úteis nos casos que não respondem aos esteróides. AL-tireoxina (duas vezes ao dia) tende a estimular a trombopoiese e melhorar aadesão plaquetária. A esplenectomia geralmente propicia um benefício apenaslimitado ou transitório, não sendo, portanto, recomendada.

As transfusões de sangue total são reservadas para uso emergencial para corrigirgraves anemias secundárias à perda de sangue. Para repor as plaquetas por meiode transfusão, é necessário sangue total recém-coletado ou plasma rico emplaquetas com citrato (ver GRUPOS SANGÜÍNEOS E TRANSFUSÕES SANGÜÍNEAS, pág. 34).

Trombocitopenias bovina e suína

A trombocitopenia em bovinos e suínos pode ocorrer com CID devido à sepse serimunomediada devido a reações a droga, ou ainda ocorrer em virtude de isoimuni-zação de bezerros e leitões recém-nascidos, conforme discutido anteriormente emanemia hemolítica do bezerro neonato (ver pág. 25 ). Em leitões, esta reaçãoprimeiramente resulta em trombocitopenia em vez hemólise, e anemia é um eventoterminal proveniente do sangramento. Intoxicação por samambaia nos bovinos (verpág. 1989 ) também produz pancitopenia aplásica.

Distúrbios Hemostáticos 69

Diagnóstico, manejo e tratamento são semelhantes àqueles descritos parapequenos animais (ver anteriormente). Esteróides e antibióticos podem serefetivos, mas na maioria dos casos o tratamento é impraticável.

PÚRPURA NÃO TROMBOCITOPÊNICA EQÜINA

É uma entidade clínica e imunomediada aguda dos eqüinos, freqüentementefatal e que não está associada à trombocitopenia. A púrpura não trombocitopê-nica é uma vasculite imunomediada devida à deposição de complexos imunes. Atrombocitopenia verdadeira também ocorre secundariamente a CID e doençamedular primária.

Etiologia e patogenia – A púrpura eqüina é uma síndrome clínica que podeter mais de uma causa. Caracteristicamente, ela ocorre como seqüela de infecçãopor Streptococcus equi nas vias respiratórias superiores (ver pág. 901 ) 1 a 3semanas após o início da doença. Não se acredita que viroses causem a doençadiretamente, mas outras infecções piogênicas ou injeções de bacterinas (espe-cialmente S. equi ) podem fazê-lo. A doença provavelmente é um tipo de reaçãode Arthus e semelhante à “doença do soro” (ver DOENÇAS IMUNOCOMPLEXAS, pág.512). A patogenia é baseada no antígeno, presumivelmente uma proteínaestreptocócica, persistindo na circulação. Na recuperação da infecção aguda,são produzidos anticorpos que se combinam com o antígeno circulante. Devidoao antígeno inicialmente estar em excesso, os imunoagregados formados sãomuito pequenos e, portanto, solúveis, o que permite que eles se mantenham nacirculação. O complemento é retirado pela reação antígeno-anticorpo e essescomplexos solúveis causam dano vascular endotelial ao longo do corpo, resultan-do em edema e púrpura. Normalmente, o anticorpo está em excesso e osimunoagregados formados são grandes e insolúveis; e são rapidamente retiradosda circulação pelo sistema reticuloendotelial sem lesão vascular.

Achados clínicos – O sinal característico é o aparecimento súbito de edemasubcutâneo e petéquias nas membranas mucosas visíveis. Anéis urticariformes sãoobservados com freqüência. O edema é mais proeminente ao redor da cabeça,olhos e lábios. O edema dependente do abdome (2 a 8cm de espessura) e membrosinferiores está presente. Há proeminência de edema nas vísceras e o mesmo éevidenciado pelo edema pulmonar e, ocasionalmente, diarréia ou cólica devido ahemorragias e edema no intestino. Há leucograma inflamatório com contagem deplaquetas praticamente normal. A anemia ocorre em casos graves,ou pode ocorrerhemoconcentração se a perda plasmática exceder a perda de eritrócitos. O sanguecoagula-se normalmente; o fibrinogênio deve manter-se em níveis normais, mas osníveis de complemento geralmente caem. A urina pode estar escassa e comproteinúria que, apesar de não relatada, deve ser esperada. A doença dura 1 a 2semanas; a recuperação segue-se em , 50% dos casos. Recaídas são comuns,assim como infecções bacterianas secundárias. A morte pode ser rápida devido aasfixia ou anemia e toxemia devido a infecção secundária em casos complicados.

Lesões – O edema acentuado é a alteração mais característica; as hemorragiaspodem ser esparsas ou extensas. Pode haver bloqueio edematoso das vias aéreasda cabeça e congestão e edema em mosaico tanto no trato respiratório quanto nointestinal. Geralmente, há um edema tingido de hemácias debaixo das cápsulashepática e renal com algum grau de ascite e lesões focais amplamente distribuídasnos músculos esqueléticos e provenientes de isquemia (pálida) ou hemorragia(escura). Abscessos profundos ou celulite piogênica devidos à doença primária sãofreqüentemente encontrados; também com freqüência coleta-se S. equi .

Diagnóstico – Uma história de infecção piogênica recente ou imunização combacterina e de súbito aparecimento de edema angioneurótico e anéis urticariformes

Distúrbios Hemostáticos 70

que progridem até se tornarem um edema extenso notadamente demarcado edependente, e de edema da cabeça sugere o diagnóstico. A púrpura é geralmentemais extensa que as petéquias da anemia infecciosa eqüina (ver pág. 32 ). Emalguns casos, pode não haver histórico de doença precipitante.

Tratamento – Uma vez que a doença provavelmente está relacionada à proteínabacteriana circulante, a terapia antibacteriana é indicada para retirar o antígenocausador do sangue. Penicilina com estreptomicina, tetraciclina, oxitetraciclina ousulfa tripla pode ser administrada. Os antibióticos, mas não as sulfas, podem serdados em dosagem de até 2 vezes a indicada. Corticosteróides podem ser indicadosnos casos devidos a injeções de bacterina, mas devem ser acompanhados por altosníveis de antibióticos. A traqueotomia pode ser necessária se a asfixia for iminente. Atransfusão de sangue é indicada se a anemia for severa (Hb < 5g/dL e diminuindo). Abandagem dos pulmões é útil, e bons cuidados de enfermagem são indispensáveis.

DISTÚRBIOS DOS LEUCÓCITOS

LEUCOCITOSE E LEUCOPENIA

Os leucócitos do sangue dos mamíferos incluem neutrófilos segmentados, basto-netes (neutrófilos não segmentados), linfócitos, monócitos, eosinófilos e basófilos.Estas células variam quanto ao seu local de produção,duração da circulação perifé-rica, recirculação e quanto aos estímulos que afetam sua liberação para o leitovascular e migração para fora deste. Estes fatores também variam entre as espécies.

Leucocitose é um aumento no número total de leucócitos circulantes; leuco-penia é uma diminuição. Cada uma destas alterações deve ser interpretada à luzdas espécies, aparência morfológica dos leucócitos e números absolutos de cadatipo de leucócito. A contagem diferencial de leucócitos é realizada identificando-see classificando-se os 100 primeiros leucócitos intactos encontrados na camadaúnica de um esfregaço sangüíneo.O número absoluto de cada tipo de leucócito éentão determinado multiplicando-se a porcentagem de um leucócito em particularna contagem diferencial pela contagem leucocitária total. Os aumentos em qualquerum dos vários tipos celulares são indicados pelo sufixo “filia” ou “citose” (porexemplo, neutrofilia, linfocitose, monocitose, eosinofilia, basofilia); as diminui-ções são indicadas pelo sufixo “penia” ou “citopenia” (por exemplo, neutropenia,linfopenia, monocitopenia, eosinopenia, basopenia). Um aumento nos neutrófilosimaturos (não segmentados) é chamado de desvio à esquerda, que pode serdegenerativo ou regenerativo. Se o desvio à esquerda ocorre com uma leucoci-tose por neutrofilia e o número absoluto de neutrófilos não segmentados nãoexcede o de neutrófilos segmentados, é chamado de desvio à esquerda regene-rativo. Um desvio à esquerda que ocorre em quaisquer outras circunstâncias (porexemplo, sem leucocitose ou neutrofilia, número de leucócitos não segmentadosexcedendo o número de leucócitos segmentados) é chamado de desvio degenera-tivo à esquerda. Ocasionalmente, uma acentuada leucocitose periférica é dificilmen-te diferenciada de uma leucemia granulocítica, devido à magnitude do desvio àesquerda e do aumento do número de leucócitos. Estas reações são chamadasleucemóides.

Embora os eritrócitos nucleados sejam contados como leucócitos pela maioria dastécnicas de contagem, eles não devem ser incluídos na contagem diferencial deleucócitos. A contagem total de células nucleadas deve ser corrigida para forneceruma contagem precisa de leucócitos se forem encontrados > 5 eritrócitos nuclea-

Distúrbios dos Leucócitos 71

dos/100 leucócitos durante a contagem diferencial. O número total de leucócitos deveser corrigido pela seguinte fórmula:

100 × nº total de leucócitos= nº correto de leuc.100 + (nº de eritr. nucl./100 leuc.)

O leucograma diferencial pode ser relatado ou em números totais (absolutos) decélulas por volume de sangue (µL ou L) ou em porcentagens relativas do total. Asinterpretações válidas só podem ser realizadas considerando-se os númerosabsolutos. Os valores de referência para o número total de leucócitos e leucogramadiferencial em números absolutos e em porcentagens para as espécies domésticascomuns são fornecidos nas TABELA s 8 e 9, páginas 1171 e 1172 .

No interior dos vasos sangüíneos, os leucócitos estão divididos em 2 subpopu-lações: os “pools” central e marginal, em números aproximadamente iguais. Osleucócitos nas amostras por venipuntura representam apenas o “pool” central; avenipuntura falha ao coletar os leucócitos do “pool” marginal ao longo da superfícieendotelial. No entanto, vários fatores, incluindo a adrenalina e os glicocorticóides,podem transferir células do “pool” marginal para o “pool” circulante, o que aumentao número total de leucócitos medidos. Esta e outras causas de alterações nosleucogramas serão discutidas brevemente adiante.

Os neutrófilos, eosinófilos e basófilos são conjuntamente denominados degranulócitos e produzidos na medula óssea a partir de uma célula progenitoracomum, o mieloblasto. Durante a maturação, eles formam grânulos (lisossomas desegunda geração), cujo pH determina suas características de coloração. Pequenosnúmeros de neutrófilos jovens (bastonetes) podem ser normalmente encontradosno sangue periférico de algumas espécies (suínos, cães), embora isto seja raro emeqüinos ou bovinos. Normalmente a maioria dos neutrófilos é madura (segmenta-da). Os neutrófilos entram na corrente sangüínea e permanecem por uma vidamédia de , 6h, saindo para realizar suas funções de fagocitose, eliminação debactérias e lise enzimática de bactérias fagocitadas e fragmentos de tecido nostecidos somáticos. Não retornam ao leito vascular.

Os linfócitos são produzidos nos tecidos linfopoiéticos, incluindo os linfonodos ebaço, mas podem também se originar na medula óssea. Os linfócitos madurosconsistem de 2 subpopulações: células B e células T. As células B (B de medulaóssea["bone marrow"] ou equivalente a bolsa) são as precurssoras das célulasplasmáticas e produzem anticorpos para a imunidade humoral. As células T (T detimo) são responsáveis pela imunidade celular (por exemplo, histocompatibilidadee hipersensibilidade tardia). Um linfócito que está nos tecidos pode retornar ao leitovascular e recircular. Alguns linfócitos têm vida longa e, em algumas espécies,podem sobreviver por toda a vida do animal.

Os monócitos são formados na medula óssea, entram no sangue periférico porum curto período e saem para os tecidos tornando-se macrófagos, células deKupffer, etc. Os monócitos e macrófagos podem realizar pinocitose e fagocitose,além de formar células gigantes multinucleadas nos tecidos, particularmente emresposta a corpos estranhos.

Os eosinófilos respondem à histamina e a outros produtos mastócitos oubasófilos liberados pela estimulação de IgE. Os eosinófilos matam parasitas,modulam reações alérgicas e podem causar dano aos tecidos.

Os basófilos são raros em todos os animais domésticos comuns. Enquanto elesdividem sua função com os mastócitos dos tecidos, os basófilos não se transformamnestes últimos. Além disto, entre as várias espécies, o número de basófilos nosangue periférico normal varia inversamente ao número de mastócitos nos tecidos,por exemplo, nos cães, os mastócitos são numerosos nos tecidos e os basófilos nosangue são raros.

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As alterações morfológicas no citoplasma dos neutrófilos (por exemplo, corpús-culos de Döhle, granulações tóxicas, basofilia difusa no citoplasma e vacuolizaçãono citoplasma) podem ocorrer durante a toxemia sistêmica e são chamadas de“alterações tóxicas”. Apesar de todos os leucócitos circulantes estarem expostos àmesma toxemia sistêmica, apenas os neutrófilos são avaliados quanto a alteraçõestóxicas. As alterações tóxicas são graduadas subjetivamente, baseando-se nonúmero de neutrófilos afetados e na intensidade das alterações tóxicas, como leves,moderadas ou intensas. O significado clínico é refletido pelo tipo de alteração tóxicae sua intensidade. As toxinas bacterianas induzem as alterações mais graves. Oscorpúsculos de Döhle aparecem como inclusões citoplasmáticas pálido-azuladasno interior dos neutrófilos. Mesmo quando presentes em grande número, oscorpúsculos de Döhle, por si só, nunca indicam mais que uma alteração tóxica leve.Ocorrem tão facilmente nos gatos que alguns veterinários desconsideram suapresença. Uma alteração tóxica mais grave é indicada quando uma granulaçãotóxica, basofilia citoplasmática difusa e/ou vacuolização citoplasmática estão pre-sentes em um número moderado a alto de neutrófilos do sangue periférico. Agranulação tóxica é identificada pela presença de grânulos intracitoplasmáticoseosinofílicos nos neutrófilos; estes grânulos representam os grânulos primários nãose corados dos neutró filos. A basofilia citoplasmática difusa e a vacuoli-zação citoplasmática freqüentemente ocorrem em conjunto. Acredita-se que abasofilia citoplasmática seja devida a um aumento da síntese proteica, e avacuolização seja possivelmente devida à autodigestão da célula. Muitos neutrófilosintensamente toxêmicos indicam um prognóstico ruim.

Tipicamente, nos neonatos o número total de leucócitos é mais variável efreqüentemente maior que nos adultos. Valores de referência relacionados à idadedevem ser utilizados para avaliar hemogramas em animais jovens, nos quais oslinfócitos são mais numerosos (e os neutrófilos menos) que nos adultos. Isto podeinterferir na identificação de uma linfopenia. Nos eqüinos, os maiores valoresabsolutos de linfócitos estão normalmente presentes nos potros de um ano.Geralmente, o padrão de leucograma diferencial dos adultos é atingido próximo àmaturidade sexual.

A leucocitose fisiológica pode ocorrer como resultado de exercício ou excita-ção. Isto é mediado por um aumento na adrenalina. A adrenalina centraliza o “pool”marginal; desta forma, o efeito da excitação pode dobrar o número total de leucócitosobservados em minutos. Além disto, a contração esplênica libera leucócitos eeritrócitos na circulação periférica.

Leucograma de estresse ou de glicocorticóides – O tratamento com glicocor-ticóides ou sua liberação endógena resulta em um leucograma típico. O efeito finalno número total de leucócitos varia em função da espécie e sua contagem diferencialnormal. Em cães, nos quais os neutrófilos são os leucócitos circulantes quepredominam, os glicocorticóides provocam leucocitose, enquanto no gado, no qualos linfócitos predominam, eles provocam uma leve leucopenia. Os leucogramas deestresse possuem uma contagem diferencial característica que consiste de umaneutrofilia madura, linfopenia e eosinopenia. Os números de monócitos são variá-veis; no entanto, freqüentemente ocorre uma monocitose nas reações de esterói-des/estresse dos cães e eqüinos.

Apesar das características específicas da leucocitose inflamatória e leuco-penia variarem de espécie para espécie, existem algumas generalidades. Radiaçãoe drogas radiomiméticas (por exemplo, muitas drogas antineoplásicas) provocamleucopenia. Os linfócitos são extremamente sensíveis à radiação. Os granulócitosmaduros, ao contrário dos seus precursores na medula óssea, não são particular-mente radiossensíveis. A manutenção do número normal de neutrófilos na correntesangüínea periférica depende de uma reposição regular realizada a partir da medula

Distúrbios dos Leucócitos 73

óssea. Geralmente, as infecções virais, particularmente as infecções agudas nãoassociadas com necrose extensa de tecidos, provocam leucopenia como neutro-penia. Isto pode estar associado a uma linfocitose leve. As infecções por parvovíruspodem provocar inicialmente uma intensa panleucopenia seguida de leucocitose. Aleucopenia persistente, freqüentemente associada a anemia, trombocitopenia, ouambas, pode ocorrer na erlichiose. A leucopenia ocorre precocemente nas infec-ções bacterianas dos ruminantes devido a sua baixa reserva (estoque) de neutró-filos na medula óssea e a linfopenia secundária a liberação de glicocorticóidesendógenos. Um desvio degenerativo à esquerda freqüentemente se desenvolvenos ruminantes com doença inflamatória aguda; no entanto, isto não indica o mesmoprognóstico ruim que nas outras espécies, a não ser que o número de leucócitos nãoaumente em 2 a 3 dias. A leucopenia pode ocorrer em infecções bacterianasintensas, especialmente nas septicemias por Gram-negativos ou endotoxemias emtodas as espécies. A leucopenia e trombocitopenia ocorrem na anafilaxia. Déficitsem certos tipos de leucócitos, hemácias e/ou plaquetas ocorrem nas aplasias demedula óssea e nas raras lesões que ocupam espaço da medula óssea (mieloftise).Nas infecções virais de maior duração (2 a 3 semanas) com complicações bacteria-nas secundárias, o número total de leucócitos pode estar elevado ou dentro doslimites normais devido a neutrofilia e linfopenia concomitantes.

A leucocitose por neutrofilia geralmente caracteriza infecções bacterianas eproblemas associados com extensa necrose tecidual, incluindo queimaduras, trau-ma, cirurgias extensas e, algumas vezes, neoplasias malignas. A neutrofilia pode serextrema em infecções das cavidades fechadas. Na piometria e nos abscessos, aparede da cavidade inibe a migração dos neutrófilos para o local da infecção, mas nãoprejudica a liberação das substâncias químicas leucotáticas. O efeito final é umgrande número de neutrófilos na circulação periférica, que freqüentemente inclui umaumento no número de imaturos (desvio regenerativo à esquerda ). Em cadelas compiometria fechada, não é incomum um total de leucócitos de 100 × 103/µL.

A eosinofilia é provocada por histamina e substâncias aliadas, e pela IgE. Estasindicam alergia e hipersensibilidade ou doenças parasitárias, nas quais a intensidadeda eosinofilia é um fator da intimidade do contato da quitina do parasita com os tecidosdo hospedeiro. Trichinella spp provocam uma intensa eosinofilia. A eosinofilia ocorreem , 50% dos cães com dirofilariose. A intensidade da eosinofilia provocada porpulgas depende da sensibilidade do hospedeiro e da intensidade da infestação. Astécnicas normais de contagem diferencial de leucócitos não são suficientementesensíveis para detectar confiavelmente a eosinopenia em um único exame desangue. A ausência de eosinófilos em repetidos hemogramas indica eosinopenia, oque é mais comumente relatada em leucogramas de glicocorticóides (estresse).

A basofilia periférica é incomum; no entanto, ocorre em alguns animais comvermes cardíacos (e outras causas de antigenemia sistêmica) ou lipemias patoló-gicas. Uma basopenia é difícil de documentar e não possui significado diagnóstico.

A linfocitose periférica pode ocorrer por diversas razões, incluindo uma linfocito-se fisiológica (adrenalina), leucemia linfocítica, e estimulação imunológica. Aestimulação imunológica (antigênica) está associada a inflamações crônicas e écaracterizada pela presença de linfócitos reativos (imunologicamente estimulados).Estes linfócitos possuem um citoplasma mais basófilo e um pouco mais abundantedevido ao aumento da síntese proteica. Ocasionalmente, estas células tornam-setão reativas que se apresentam como plasmócitos (imunócitos). Os linfócitosreativos podem ocorrer em qualquer doença que cause uma imunoestimulaçãosistêmica moderada a acentuada.

A linfopenia é uma anormalidade comum no leucograma. É mais comumenteassociada a glicocorticóides endógenos (estresse) ou exógenos. Também ocorrepor outras causas, como extravasamento de linfa (linfangiectasia), linfopoiese

Distúrbios dos Leucócitos 74

prejudicada, e doenças por imunodeficiência (por exemplo, doença da imunodefi-ciência combinada dos potros árabes).

A monocitose raramente é intensa, podendo estar associada a inflamaçõescrônicas, particularmente infecções micóticas e outras infecções granulomatosas,ou reações a esteróides/estresse, especialmente em cães. As monocitopenias sãoocasionalmente observadas, mas não possuem significado diagnóstico.

A magnitude da neutrofilia induzida pela inflamação é uma função do tamanho do“pool” de granulócitos de reserva da medula óssea, hiperplasia da medula, e taxa deperda de leucócitos para os tecidos.O “pool” de reserva é bastante grande em cães,e bem menor nos bovinos; os cães podem apresentar um leucograma reativo>100×103/µL, enquanto contagens > 30 × 103/µL são raras no gado.

Em cães, a razão normal neutrófilos-linfócitos é , 3,5:1. Várias doençasinfecciosas e não infecciosas podem induzir alterações no leucograma. Respostasinflamatórias, fisiológicas (adrenalina) e reações a glicocorticóides (estresse) sãocausas comuns de leucocitose. No parto da cadela a leucocitose está tipicamentepresente. A hematopoiese cíclica dos collies cinza (ver pág. 76 ) provoca umaneutropenia periférica em intervalos de 11 a 14 dias. Uma panleucopenia intensacom um total de leucócitos bem < 1 × 103/µL freqüentemente caracteriza a infecçãopor parvovírus, enquanto na infecção por coronavírus e na hepatite infecciosa, aneutropenia pode ser mais moderada. Nos estágios mais avançados da cinomosecanina com infecção bacteriana secundária, o número total de leucócitos pode sernormal com neutrofilia, linfopenia e, às vezes, com aumento dos neutrófilos imaturose alterações tóxicas. O exame da medula óssea nos estágios iniciais da erlichiosepode revelar uma medula adequadamente celular ou hipercelular, apesar datrombocitopenia, anemia e/ou leucopenia constatadas na circulação periférica.

Os gatos podem apresentar uma resposta neutrofílica intensa, apesar de menosmarcante que a dos cães. A peritonite infecciosa felina geralmente não provocaleucopenia mas sim, com maior freqüência, uma neutrofilia e linfopenia. O vírus daleucemia felina possui um efeito variável nas células sangüíneas periféricas. Naausência de linfoma ou leucemia (ver adiante), pode provocar uma panleucopeniacom acentuada neutropenia, alterações tóxicas e linfopenia leve, algumas vezescom células atípicas, lembrando a infecção por panleucopenia felina.

Nos eqüinos, a razão normal neutrófilos–linfócitos é , 1,1:1. A magnitude daresposta neutrofílica é bem menor que nos cães ou gatos. O número total de leucócitosraramente é > 35 × 103/µL. Um total de leucócitos >12 × 103/µL deve ser interpretadocomo leucocitose. Nos eqüinos, os glicocorticóides induzem neutrofilia, linfopenia,eosinopenia e, freqüentemente, monocitose. Na artrite viral eqüina, uma leucopeniainicial durante o episódio febril é seguida por uma linfopenia e uma neutrofilia leve. Aleucopenia ocorre na infecção por herpesvírus eqüino, influenza e, algumas vezes, nafase febril inicial da anemia infecciosa eqüina. Na erlichiose eqüina pode haverleucopenia, algumas vezes acompanhada por trombocitopenia e/ou anemia.

No gado, a razão normal neutrófilos–linfócitos é de , 0,5:1, e a respostaneutrofílica é mais fraca que em qualquer outra espécie doméstica comum. O gadocom infecções sépticas, incluindo mastites ou peritonites sépticas, apresentacaracteristicamente leucopenia, linfopenia e neutropenia nos primeiros dias. Umretorno ao normal dos números absolutos de linfócitos e neutrófilos, ou umaneutrofilia, é um sinal de bom prognóstico. Leucopenia persistente ou alteraçõestóxicas nos neutrófilos indicam um prognóstico desfavorável. A infecção poradenovírus induz leucopenia, com número total de leucócitos de 2,5 a 4,2 × 103/µL.A leucopenia inicial associada às infecções bacterianas é normalmente mais longae mais pronunciada no gado que nas outras espécies.

Nos suínos, a razão normal neutrófilos–linfócitos é de 0,7:1. Os suínos sãocapazes de uma resposta neutrofílica acentuada, possivelmente mais acentuada

Distúrbios dos Leucócitos 75

que nos cães. O estresse da venipuntura pode resultar numa duplicação daquantidade dos neutrófilos circulantes em 30min, que persiste por 8h; isto podeprejudicar estudos que exijam amostragens sangüíneas seriadas freqüentes. Du-rante o parto as porcas manifestam neutrofilia, linfopenia e eosinopenia, similaresao efeito dos glicocorticóides. Uma leucopenia acentuada (< 10 × 103/µL) ocorre nacólera suína e na peste suína africana. A leucopenia também está presente nainfluenza e na infecção por herpesvírus suis. A linfopenia pode ocorrer na infecçãopor Hyostrongylus rubidus. Nas erisipelas, há uma neutrofilia inicial; os neutrófilossegmentados aumentam em 12 a 36h e pode se seguir uma leucopenia. A eosinofiliacaracteriza a migração de larvas de parasitas e infecção por vermes pulmonares.

A leucemia (ver págs. 38, 46 e 472 ) e o linfoma (ver pág. 528 ) devem serconsiderados brevemente em conjunção com a leucocitose e a leucopenia. Emalguns casos de linfoma sem leucemia, a necrose no interior do(s) tumor(es) provocauma neutrofilia. Raramente, uma infiltração linfomatosa ou leucêmica da medulaóssea resulta em leucopenia, geralmente associada a anemia e trombocitopenia. Aleucemia é definida como uma doença neoplásica maligna dos precursores deleucócitos ou hemácias, com células neoplásicas na corrente sangüínea periféricae/ou na medula óssea. A leucemia é geralmente reconhecida pela identificação degrande número de blastócitos na corrente sangüínea periférica. A classificação dosblastócitos (por exemplo, linfoblastos, rubriblastos, mieloblastos) pode ser difícil comum microscópio ótico de rotina, podendo ser necessário o uso de corantes especiaispara enzimas celulares (por exemplo, peroxidase, α-naftol esterase) para identificarcorretamente a linhagem celular envolvida. A leucemia e a leucocitose podem seassemelhar uma a outra; algumas vezes a distinção é difícil. A leucocitose intensa(reação leucemóide) pode ser confundida com leucemia, particularmente com aleucemia mielógena crônica, na qual existe uma leucocitose intensa e patente sem apresença dos blastócitos característicos da maioria das leucemias.

SÍNDROME DE CHÉDIAK-HIGASHI

Primariamente uma doença de imunodeficiência, transmitida por um autossômi-co recessivo, que foi descrita em humanos, visons, gatos, gado hereford, camun-dongos e orcas; todos apresentando uma maior suscetibilidade a infecçõespiogênicas, maior tendência a sangramentos e albinismo oculocutâneo parcial. Ocamundongo bege e o visom aleutiano exemplificam a diluição de pigmentosobservada na síndrome. Grânulos anormais gigantes parecem formar-se após afusão de lisossomos menores em muitas células dos humanos, visons, gatos egado, porém nos camundongos, isso ocorre apenas nos leucócitos. As caracterís-ticas de coloração dos grânulos são semelhantes em todas as espécies. Foramnotados abscessos bacterianos disseminados no gado afetado, ocorrendo tambémuma maior suscetibilidade a infecções virais. O diagnóstico se baseia na diluição dospigmentos, presença dos grânulos gigantes e maior suscetibilidade a infecções. Adiluição do pigmento lembra aquela associada à neutropenia cíclica dos cães e àanemia hereditária dos camundongos.

HEMATOPOIESE CÍCLICA EM CÃES COLLIE CINZA(Síndrome dos collies cinza, Neutropenia cíclica canina)

É uma imunodeficiência autossômica recessiva hereditária caracterizada porinfecções bacterianas intensas recorrentes, sangramento e diluição da cor do pelame.Acredita-se que a base molecular seja um defeito cíclico na maturação da medulaóssea no nível das células primordiais hematopoiéticas pluripotenciais. A parada namaturação ocorre em ciclos regulares de 11 a 14 dias de intervalo, e a neutropenia

Distúrbios dos Leucócitos 76

periférica dura de 3 a 4 dias, sendo seguida por uma neutrofilia. Todas as outrascélulas hematopoiéticas, incluindo os linfócitos, também são cíclicas com o mesmointervalo, porém ocorrendo em momentos diferentes ao da fase neutropênica. De-monstrou-se que os fatores de crescimento hematopoiéticos (por exemplo, eritropoie-tina) e outros hormônios (por exemplo, cortisol) também possuem um padrão cíclico.

Os filhotes afetados freqüentemente morrem no parto ou durante a primeirasemana, raramente sobrevivendo por mais de 1 ano. Os cães sobreviventes podemser raquíticos e fracos e desenvolver graves infecções bacterianas recorrentes duran-te períodos de neutropenia, caracterizados por febre, septicemia, pneumonia e gas-troenterite. Também apresentam uma tendência a sangramentos devido a umaanormalidade na função plaquetária e desenvolvem amiloidose nos rins e outros órgãos.Todos os cães afetados possuem uma coloração diluída na pelagem, conhecidacomo efeito pleiotrópico, com os pelos fenotipicamente negros diluídos a cinza-car-vão, e os pelos fenotipicamente marrons ou escuros diluídos a cinza-prata. O diagnós-tico é baseado nos sintomas clínicos e em hemogramas completos repetidos por umperíodo de 2 semanas. Não foi observado nenhum novo caso na última década.

Um transplante de medula óssea no animal jovem elimina os efeitos da hemato-poiese cíclica e efetua uma cura clínica. O tratamento com carbonato de lítio, apesarde em níveis tóxicos, tem abolido a neutropenia recorrente. A administração defatores estimulantes de colônia granulócitos/monócitos recombinantes humanoseliminou temporariamente a hematopoiese cíclica até o cão produzir anticorposcontra eles.

ANOMALIA DE PELGER-HUËT

É um problema hereditário do homem, coelhos e cães, caracterizado pelaincapacidade de maturação dos granulócitos da forma imatura para a segmentada;a hereditariedade parece ocorrer por meio de um autossomo dominante. As células,particularmente os neutrófilos, são hipossegmentadas e a cromatina é condensada;o leucograma mostra um “pseudodesvio” à esquerda aparente com um númeronormal de leucócitos. Esta anomalia é geralmente um achado incidental de labora-tório; a função dos leucócitos é normal e os heterozigotos não apresentam sintomasclínicos. Nos coelhos, o estado de homozigose é letal e associado a deformaçõesesqueléticas e maior suscetibilidade a infecções. A pseudo-anomalia de Pelger-Huët refere-se à hipossegmentação adquirida dos granulócitos e tem sido relatadaem ratos, cães e bovinos.

LINFADENITE E LINFANGITE

LINFADENITE CASEOSA DAS OVELHAS E CABRAS

É um abscesso caseoso dos linfonodos e órgãos internos causado porCorynebacterium pseudotuberculosis. A doença ocorre em todo o mundo e é umainfecção endêmica importante nas regiões onde há grandes criações de ovelhas ecabras. As perdas econômicas resultam da redução do ganho de peso, capacidadereprodutiva e produção de leite, bem como da condenação da carcaça e desvalo-rização do couro. Embora principalmente uma infecção de ovelhas e cabras, adoença esporádica também ocorre em eqüinos e bovinos (ver adiante) e no búfalod’água, ruminantes silvestres, primatas, porcos e aves. A linfadenite regionalraramente é manifestada no homem.

Linfadenite e Linfangite 77

Etiologia e patogenia – O bastonete Gram-positivo pequeno é um parasitaintracelular facultativo, encontrado no solo e em estrume contaminado com exsuda-to purulento. Dois biótipos foram identificados: um grupo nitrato-negativo que infectaovelhas e cabras e um grupo nitrato-positivo que infecta cavalos (isolados bovinossão um grupo heterogêneo). Todas cepas produzem uma exotoxina antagonica-mente similar com atividade enzimática (fosfolipase D) que parece ser leucotóxica,podendo lesar as células endoteliais e disseminar-se do local inicial de infecção paralinfonodos regionais e órgãos viscerais. A composição química de suas paredescelulares (conteúdo lipídico elevado) capacita o microrganismo a resistir à morte pormeio dos fagócitos e a manter a infecção crônica.

A infecção pode ocorrer após penetração do microrganismo através da peleintacta ou das membranas mucosas; entretanto, em muitos casos, é provável iniciar-se por contaminação das feridas na pele superficial com material purulento dosabscessos rotos de outras ovelhas e cabras. Abscessos pulmonares e superficiaisrotos são as frentes primárias de contaminação ambiental. Tonéis de banho, tosae equipamento de alimentação e manuseio contaminados são responsáveis peladisseminação do microrganismo. O pus contém grande número de bactérias quepodem sobreviver durante meses no feno, raspadeira e no solo. A doença écomumente introduzida em um rebanho pela entrada de um portador saudávelprovindo de um rebanho infectado ou através do contato nos pastos.

Achados clínicos – A linfadenite caseosa (LAC) é uma doença recorrente ecrônica. Um abscesso que aumenta lentamente, localizado e não doloroso pode sedesenvolver no ponto de entrada da pele ou no linfonodo regional (LAC superficialou externa), a partir do qual pode se disseminar através do sangue ou do sistemalinfático e causar abscesso de linfonodos ou órgãos internos (LAC interna ouvisceral). Abscessos superficiais aumentam e podem romper-se, liberando pusinfeccioso. Em ovelhas de pastagem, ocorrem muitos abscessos superficiais nasregiões pré-escapular e pré-femoral, provavelmente com transmissão ocorrendo nomomento da tosa. Eles ocorrem principalmente na cabeça e região do pescoço decabras e ovelhas para reprodução devido à transmissão por alimentos, cevador eoutros fomitos contaminados. Os animais não apresentam nenhuma característicaóbvia da doença, a não ser a localização do abscesso que interfere nas funções derespiração ou deglutição. Pode haver recidiva no mesmo local. Comumente, osabscessos renais, hepáticos e pulmonares causam “síndrome da ovelha magra”.Outras manifestações incluem broncopneumonia caseosa, artrite, aborto,abscedações do SNC e escrotal e mastite. A forma visceral geralmente é maisextensa em cabras e ovelhas, com uma preponderância de envolvimento pulmonar.Regularmente, a incidência de doença aumenta com a idade; a doença clínica émais prevalente em adultos, e até 40% dos animais num rebanho pode apresentarabscessos superficiais.

A lesão típica maciça é um abscesso discreto distendido por exsudato espessoe freqüentemente seco, purulento, branco ou amarelo-esverdeado. Em ovelhas, oabscesso freqüentemente apresenta uma aparência de “rodela de cebola” laminadaclassicamente descrita em corte transversal, com camadas fibrosas concêntricasseparadas por exsudato caseoso espessado. Em caprinos, o exsudato geralmenteé mole e pastoso.

Diagnóstico – O diagnóstico geralmente pode se basear em sinais clínicos ehistória do rebanho. Para diagnóstico definitivo, um aspirado de abscesso deve sersubmetido a exame bacteriológico; C. pseudotuberculosis pode ser facilmenteisolada, embora possa ser recuperada em culturas mistas com outros microrganis-mos piogênicos. A linfadenite supurativa e os abscessos também podem sercausados por vários outros microrganismos piogênicos, tais como Actinomycespyogenes, Staphylococcus aureus e Pasteurella multocida. Abscessos escrotais

Linfadenite e Linfangite 78

geralmente não envolvem o epidídimo ou testículos como com Brucella ovis.Animais definhados também devem ser examinados para pneumonia progressivaovina, paratuberculose e parasitismo.

O diagnóstico sorológico não é confiável; em rebanhos infectados, cabritos ecordeiros desenvolvem um título após contato com animais infectados, mas arelação do título à resistência de infecção não é consistente.

Tratamento e controle – O tratamento de LAC geralmente não é tentado, emborao microrganismo seja suscetível à penicilina. A formação de abscessos limita apenetração e eficácia dos antibióticos. Entretanto, o tratamento profilático e terapêu-tico não eliminará a C. pseudotuberculosis de rebanhos ou indivíduos infectados, osabscessos recorrem após drenagem ou tentativa de excisão cirúrgica.

A prevenção é baseada na transmissão reduzida do microrganismo a partir deanimais infectados a suscetíveis. Animais definhados e aqueles com abscessosrecorrentes devem ser separados. Quando são muito importantes para seremseparados, aqueles com desenvolvimento de abscessos devem ser isolados e estesabscessos lancetados e lavados com solução de iodo. Animais jovens devem sercriados isolados dos mais velhos, animais infectados, tendo-se em mente que osfomitos podem transmitir a doença. Animais mais velhos e aqueles com abscessosdevem ser tosados por último, e os equipamentos desinfectados todas as vezes queforem contaminados com o exsudato drenado. Ferimentos cutâneos devem sertratados topicamente e suturados se necessário.

É difícil a erradicação devido aos métodos diagnósticos não detectarem todos osanimais infectados num rebanho. A palpação de linfonodos externos não detectaportadores subclinicamente infectados e inaparentes, incluindo aqueles com abs-cessos internos.

Uma vacina bacteriana-toscóide natural está comercialmente disponível, poréma documentação de sua eficácia neste campo é limitada.

INFECÇÃO DOS CAVALOS E GADO POR CORYNEBACTERIUMPSEUDOTUBERCULOSIS

Em cavalos, a Corynebacterium pseudotuberculosis causa linfangite ulcerati-va, uma infecção dos membros inferiores, e abscessos crônicos na região peitoral.No gado, pode causar linfadenite ventral, abscessos e dermatite ulcerativa. No gadodo oeste dos EUA têm ocorrido surtos esporádicos. Dois a 5% das vacas podem serafetadas com lesões cutâneas ulcerativas extensas e linfangite. É variável a loca-lização no animal. A cura ocorre freqüentemente sem tratamento ou com tratamentotópico limitado. A produção de leite não parece ser afetada.

Patogenia e achados clínicos – O início da linfangite ulcerativa é lento egeralmente manifestado por inflamação dolorosa, nódulos e úlceras, especialmentena região do boleto; ocasionalmente, a tumefação edematosa pode progredir parao membro todo. O exsudato é inodoro, espesso, branco-esverdeado e sanguinolen-to. Geralmente, apenas uma pata é envolvida. As lesões e a tumefação progridemlentamente e a doença pode tornar-se crônica com recidivas.

No oeste dos EUA, a infecção por C. pseudotuberculosis em cavalos é sazonal,com um pico de incidência no final do verão e outono. Resulta em abscedação daregião peitoral inferior ou parede abdominal ventral com disseminação secundáriaaos órgãos internos. Os sinais clínicos incluem tumefações difusas ou localizadas,edema ventral comprimido. dermatite ventral da linha média, claudicação, tratos ouabscessos drenados, febre, perda de peso e depressão. Leucocitose e neutrofiliapodem estar presentes. Febre acentuada ou prolongada indica seqüela intratável:evacuação crônica, abscessos múltiplos ou internos ou infecção sistêmica com

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aborto. Os abscessos podem ser amplos, até 20cm de diâmetro antes de romperem-se e levar meses para curar. Perda de peso, cólica ou ataxia podem ser os sinais deabscessos internos. As lesões por dermatite são dolorosas e levemente pruríticascom alopecia, exsudação e ulceração.

A entrada de bactérias ocorre provavelmente através de ferimentos cutâneos,vetores artrópodes e contato cutâneo pelos fomitos, tal como equipamento aparadore arreios contaminados. Condições úmidas e não higiênicas predispõem os animaisa infecções, particularmente dos membros inferiores e região ventral. Entretanto, adoença também ocorre sob excelentes condições de tratamento.

Diagnóstico – O isolamento de C. pseudotuberculosis das lesões é necessáriopara confirmação. Em todas as formas de linfangite em cavalos, as amostras paracultura incluem os aspirados de abscessos, “swabs” de exsudato purulento debaixode escaras associadas com foliculite e biópsias em saca-bocado. O diagnósticodiferencial inclui piodermia, abscessos, linfangite (causada por Staphylococcusaureus, Rhodococcus equi, Streptococcus ou Dermatophilus), dermatofitose,esporotricrose, criptococose eqüina, blastomicose norte-americana e oncocercíase.

Tratamento – A linfangite e as tumefações dos abscessos precoces são tratadascom envoltórios quentes, cataplasmas ou hidroterapia. Os abscessos são lanceta-dos e lavados com solução de iodo. Abscessos grandes necessitam de cirurgia. Aslesões cutâneas e os membros grosseiramente contaminados são limpos diaria-mente com um xampu de iodóforo. As combinações de trimetoprim-sulfa oupenicilina têm sido usadas como antimicrobianos; entretanto, o tratamento antimi-crobiano pode prolongar a doença através da maturação dos abscessos retardados.A dor e a tumefação são aliviadas pela fenilbutazona. O apoio geral e o cuidado deenfermagem estão indicados. Se o tratamento for bem-sucedido, a tumefaçãoregride gradualmente em dias ou semanas. Casos graves ou não tratados freqüen-temente tornam-se crônicos e ocorrem fibrose e induração da pata.

LINFADENITE ESTREPTOCÓCICA DOS SUÍNOS(SLS, Abscessos mandibulares, Abscessos cervicais)

É uma doença contagiosa de suínos, caracterizada pela abscedação doslinfonodos cervicais ou cefálicos,ou de ambos. Os suínos afetados geralmentesão os que possuem boa conversão alimentar e bom crescimento. A SLS podelevar a perdas por condenação das cabeças afetadas e “tempo perdido” neces-sário para higienização do abatedouro quando um abscesso for incisado aciden-talmente.

O único hospedeiro conhecido do estreptococo do Grupo E (EGE) é o suíno(embora o EGE também induza contaminação de feridas por infecções piogênicasem humanos). Este microrganismo tem sido encontrado em várias partes do mundo,porém a doença tem tido repercussão economicamente importante somente nosEUA, onde a incidência está declinando consideravelmente desde meados dadécada de 60.

Transmissão, epidemiologia e patogenia – A SLS é endêmica; uma vez queocorre numa criação, grupos sucessivos de suínos desenvolvem abscessos duranteos períodos de crescimento e de término. Os suínos podem se infectar pela ingestãode EGE dos abscessos drenados; entretanto, os suínos portadores já recuperadossão as mais comuns e importantes fontes de infecção. Os suínos recuperadoscarregam EGE em suas amígdalas e transmitem o agente rapidamente para ossuínos suscetíveis via contato e por contaminação da água e da lavagem. Os porcossão resistentes à infecção nas primeiras 3 a 4 semanas de vida.

Os abscessos miliares dispersos se desenvolvem nos nódulos linfáticos dentrode 7 dias após a infecção. Aproximadamente aos 21 dias, são comuns os abscessos

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medindo de 5 a 8cm de diâmetro; estes destroem a estrutura interna dos nódulosafetados e podem envolver o tecido adjacente. A incidência pode exceder 50% emdeterminados lotes de porcos comerciais, e algumas vezes se aproxima de 100%.Os abscessos em desenvolvimento podem alcançar a pele, romper-se e drenar em7 a 10 semanas. A lesão drenada cura-se por granulação, deixando um tratosubcutâneo denso e fibrinoso que é resolvido após várias semanas. Os abscessosprofundos podem permanecer ocultos até a eutanásia do animal; eles não tendema drenar para a faringe.

Sinais clínicos, lesões e diagnóstico – Os suínos expostos experimentalmenteao EGE sofrem uma febre transitória, leucocitose, depressão e anorexia, porémestes sintomas raramente são observados na infecção natural. Geralmente, osabscessos são os únicos sinais observados pelo produtor. Os abscessos ocorremmais comumente nos linfonodos mandibular e retrofaríngeo. Raramente os linfono-dos de outras partes do corpo estão afetados. A SLS é diagnosticada peloisolamento do EGE do exsudato dos abscessos. A infecção também pode serdetectada sorologicamente através de um teste de aglutinação.

Tratamento e controle – A SLS pode ser controlada em pocilgas afetadasatravés do desmame aos 21 dias e em criações de leitões recém-desmamados emum ambiente livre de suínos mais velhos. A administração VO de antibióticos deamplo espectro (tetraciclinas a 50g/ton de forragem) é efetiva profilaticamente, e 200a 400g/ton de forragem têm resultado numa redução dos abscessos.

DOENÇAS PARASÍTICAS DO SANGUE E DOSISTEMA CARDIOVASCULAR

ANAPLASMOSE

É uma doença infecciosa dos ruminantes que pode ser aguda ou crônica,caracterizada por anemia, icterícia e febre. A anaplasmose é freqüentementeendêmica nos trópicos e subtrópicos, sobretudo nas Américas e África, mas tambémé prevalente na Austrália, Ilhas do Pacífico Sul e Ásia Meridional. Nos EUA já foiidentificada em todo o país, mas prevalece no sudeste, centro-oeste e Califórnia.

Etiologia – O agente etiológico, a rickéttsia Anaplasma marginale, é um corpús-culo pequeno, esférico e sem citoplasma e localiza-se no estroma dos eritrócitos. Seudiâmetro varia de 0,2 a 0,5µ e consiste em um corpúsculo inicial, que invade oeritrócito. A multiplicação parece ser por fissão binária em um vacúolo, queresulta em 2 ou mais corpúsculos iniciais dentro de inclusões que tendem a serencontrados nas margens do eritrócito. As inclusões podem atingir 1,0µm dediâmetro.

A Anaplasma centrale, que se localiza mais centralmente no eritrócito, é umaespécie relativamente não patogênica encontrada no gado em algumas regiões daÁfrica; uma outra espécie, a Anaplasma ovis ocorre em ovinos e caprinos do mundotodo e pode causar distúrbios em situações estressantes. Infecções por Anaplasmaspp também ocorrem em vários ungulados silvestres, como cervos e antílopes, suaimportância como reservatório não tem sido claramente estabelecida.

Transmissão e epidemiologia – A anaplasmose já foi trasmitida experimen-talmente por pelo menos 20 espécies de carrapatos, entretanto, Boophilus eDermacentor spp são consideradas os vetores mais importantes. A transmissãopelo carrapato é biológica. Após um ciclo de desenvolvimento complexo, a

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transmissão ocorre primariamente pela transferência via inter-hospedeiro decarrapatos machos adultos, ou parcialmente de fêmeas ingurgitadas. Vetoresmecânicos igualmente importantes são moscas como as mutucas (Tabanus spp)e moscas dos estábulos (Stomoxys spp). Uma vez que a infecção é facilmentetrasmitida por transferência mecânica de sangue infectado, surtos de proporçõesconsideráveis já foram atribuídos a práticas de rebanho, como sangramento,descornificação, castração, marcação de orelhas e vacinação.

Patogenia e sinais clínicos – A severidade da doença varia muito com a idade.Bezerros sofrem infecções suaves, com pouca ou nenhuma mortalidade. Emnovilhos, a doença é severa, mas recuperação é a regra. No gado adulto, a doençaé mais grave; há uma anemia marcante e a mortalidade varia de 20 a 50%. Todas asraças de bovinos são suscetíveis.

Os sinais mais precoces incluem depressão, inapetência, indolência e elevação datemperatura normalmente de 40 a 41°C(104 a 106°F). Vacas em lactação mostramum rápido declínio na produção de leite. Com o progresso da doença, desenvolve-seuma anemia marcante, a perda de peso é pronunciada e a desidratação é notada.Pode-se desenvolver uma icterícia marcante. Não raramente, os animais doentessucumbem à hipoxia quando movimentados ou manuseados para tratamento. Se oanimal sobreviver ao período de destruição de eritrócitos, em geral recupera-segradualmente, mas este tende a permanecer como portador por toda vida.

Diagnóstico – Em áreas endêmicas, a anaplasmose deve ser suspeitada embovinos adultos mostrando anemia sem hemoglobinúria. A icterícia freqüentementeé um sinal importante. Entretanto, a única evidência indiscutível da doença é ademonstração de microrganismos nos eritrócitos em esfregaços de sangue porcoloração de Giemsa. De 50 a 60% dos eritrócitos podem estar infectados. Asorologia ajuda no diagnóstico: tanto o teste de fixação de complemento como o deaglutinação rápida são usados extensamente, e tanto o teste de imunofluorescênciaindireta (IFI) quanto a sonda de DNA estão sendo desenvolvidos atualmente.

Os achados de necropsia são associados à destruição de eritrócitos. O sangueestá fino e aquoso, e a icterícia normalmente é evidente. O baço está aumentado emole, o fígado está túrgido e freqüentemente com uma cor sarapintada de castanho-avermelhado, a bile está espessa e castanho-esverdeada e a vesícula está disten-dida. Se a morte for súbita sem anemia ou icterícia, pode-se interpretar comocarbúnculo por causa da aparência grosseira do baço.

Tratamento – Os mais efetivos tratamentos para anaplasmose aguda são astetraciclinas, principalmente se dadas no começo da infecção, durante o período demultiplicação do Anaplasma. As formulações de oxitetraciclinas de longa ação,contendo 200mg/mL, mantêm os níveis sangüíneos. Os esforços para clarear otransporte de infecções com oxitetraciclina de longa ação têm sido variáveis, algumsucesso foi relatado com a administração EV em 20mg/kg de peso corporal, 4 vezesem intervalos de 3 dias ou 3 vezes em intervalos de 7 dias. O imidocarbodipropionatoé muito usado no tratamento de anaplasmose e babesiose (ver adiante), mas não éaprovado nos EUA.

Um tratamento sintomático e de suporte é importante. Uma transfusão de 4 a 12Lde sangue normal é freqüentemente indicada, e pode ser repetida após 48h, senecessário. Água, dada em grandes volumes por sonda estomacal, e administraçãoparenteral de dextrose ajudam muito. Laxativos leves, como óleo mineral podem seradministrados, mas laxativos salinos devem ser evitados devido ao estado desidra-tado do animal.

Acompanhando o tratamento, deve-se incomodar o animal o mínimo possível, e,em casos de gado não acostumado ao manejo, deve ser contra-indicado, uma vezque um mínimo esforço pode produzir hipoxia e morte. Animais doentes e convales-centes respondem bem a um manejo cuidadoso e a uma boa nutrição no pasto, com

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acesso a sombra e água fresca. Uma aplicação de repelentes de insetos adequadosproporciona melhor conforto ao animal.

Controle – A incidência da doença pode ser reduzida eliminando-se ou repelindo-se os vetores no hospedeiro com pós e sprays químicos. Para que estes sejamefetivos, o gado deve ser banhado, pulverizado ou polvilhado a intervalos freqüentesdurante a estação de vetores. Nos EUA, as grandes moscas sugadoras, particulamenteas mutucas, são consideradas como os mais sérios vetores dos Estados do Golfo,enquanto os carrapatos Dermacentor aparecem como os mais importantes vetoresnaturais no centro-oeste e na costa oeste.

A profilaxia é feita por métodos diversos. Inoculação de sangue contendoA. centrale (que produz uma infecção leve protegendo contra infecções subse-qüentes pelo agente virulento A. marginale ) é usada na África, Ásia, Austráliae em partes da América do Sul, mas não é permitida nos EUA. O uso de formasisoladas virulentas e atenuadas de A. marginale para induzir premunição ou umestado de portador crônico em bezerros é amplamente difundido pelo mundotropical onde a anaplasmose é endêmica. Os microrganismos virulentos podemser administrados a bovinos suscetíveis inoculando-se sangue de um animalconhecidamente infectado ou uma vacina de anaplasmas do sangue congelado.O uso de microrganismos virulentos em gado adulto é arriscado, e recomenda-se o controle de infecção persistente com oxitetraciclina ou clortetraciclina paraacalmar o curso da infecção. A vacina de anaplasmas tem a vantagem de ter aincubação ou período pré-persistente determinados, conhecendo-se, então, otempo de tratamento. Os anaplasmas virulentos geralmente podem ser dadosa bezerros < 1 ano sem tratamento.

A vacina preparada com A. marginale, atenuada por passagens seriadas emcarneiros, é encontrada comercialmente em alguns países latino-americanos, masnão é aprovada para o uso nos EUA. Também pode ser encontrada uma vacinainativada com adjuvantes aprovada nos EUA; isto reduz a severidade da infecção namaioria dos casos.

BABESIOSE

É um grupo de doenças de portadores de carrapatos, causadas porprotozoários do gênero Babesia. A babesiose é um problema significante emanimais domésticos e silvestres, onde quer que existam carrapatos vetoresdisponíveis, especialmente nos trópicos. As perdas econômicas mais importan-tes são causadas no gado por B. bovis e por B. bigemia, atuando individual ouconjuntamente no mesmo grupo de animais. Como estas 2 espécies dividem osmesmos carrapatos vetores com a Anaplasma marginale (ver anteriormente),alguns ou todos estes podem se combinar para produzir uma síndrome fatalconhecida como febre dos carrapatos.

Transmissão e epidemiologia – Em grande escala, as principais espéciesde Babesia são específicas tanto com relação ao hospedeiro como ao vetor.Desta forma, B. bovis e B. bigemia são encontradas exclusivamente em gado,e sua distribuição coincide com aquela dos principal carrapato vetor, as Boophilusspp. Alguns outros carrapatos podem atuar como vetores, e o mecanismo detransmissão através da picada por moscas pode ocorrer. Nas Américas e naAustrália, onde as Boophilus spp são os únicos carrapatos vetores, a doençapode ser controlada através do tratamento acaricida rotineiro do gado paraeliminá-lo. A parte do ciclo de vida que ocorre no carrapato se inicia quando ospiroplasmas (merozoítas), que se encontram dentro dos eritrócitos do animalinfectado, são absorvidos pelo carrapato fêmea durante o seu ingurgitamento

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final e então são passados transovarianamente para sua progênie larval. Odesenvolvimento das larvas a partir dos ovos ocorre no solo após as fêmeasingurgitadas terem caído de seus hospedeiros. A larva então se prende a umnovo hospedeiro, no qual completa o resto do seu ciclo de vida. Estedesenvolvimento se passa num período de 3 semanas e o tratamento acaricidado hospedeiro durante esta fase pode quebrar o ciclo. Entretanto, B. bovis étransmitida exclusivamente por larvas em apenas poucos dias, ao contrário deB. bigemina , que é transmitida por ninfas. Em áreas endêmicas, os animaisjovens estão protegidos por , 2 meses devido aos anticorpos colostrais e poruma limitada resistência inata; existe uma imunidade que se reverte com a idadenos rebanhos suscetíveis. Como o desafio da doença ocorre quando os animaissão levados para pastos frescos, habitados por larvas de carrapatos infectantesrecém-saídos da casca, eles devem ser vacinados com vacinas derivadas desangue antes da retirada, quando possível.

Patogenia, sinais clínicos e lesões – A infecção por Babesia pode ser extrema-mente aguda, aguda, crônica ou inaparente. Em um caso agudo típico, o primeirosintoma é febre até 107°F ( até 42°C); esta é seguida por sintomas de mal-estar einapetência. Durante a alimentação do carrapato, os parasitas presentes na saliva docarrapato passam para dentro da circulação sangüínea e penetram nos eritrócitos dohospedeiro, sofrem fissão binária e saem para o plasma para invadirem novascélulas. Este ato causa a hemoglobinúria característica (água vermelha ) e tambémativa o sistema de calicreína, que aumenta a vasodilatação e a permeabilidadevascular que é seguida por hemoglobinemia, anemia e anoxia. A anoxia anêmicacausa alterações em órgãos fortemente vascularizados dependentes da capacidadedo transporte de oxigênio do sangue. Assim, o fígado e rins tornam-se aumentadose escuros, e o baço inchado e pulposo. No caso de infecção por B. bovis, ascongestões vasculares exacerbadas pela presença de fibrinogênio alterado podemresultar na formação de um tampão que oclui o lúmen do vaso. Quando o SNC éenvolvido, podem resultar incoordenação, ranger dos dentes e mania, seguidos porcoma ou morte. Pode ocorrer icterícia em casos protraídos, porém menos comumen-te que na anaplasmose. A morte por babesiose cerebral devido a B. bovis pode serdiagnosticada por detecção no exame do tecido cerebral corado por Giemsa, deeritrócitos infectados aglutinados preenchendo os capilares.

No caso de morte devida a infecção por B. bigemina, as lesões incluem edemasubcutâneo e IM, icterícia, gordura amarelada e gelatinosa, além de sangue aquosoe ralo. O baço é muito aumentado, com a polpa esplênica escura e mole; o fígado éaumentado, pálido e amarelado; a vesícula biliar é distendida com uma bile escurae espessa. A hemoglobinúria é mais comum com B. bigemina que com B. bovis.

Diagnóstico – O diagnóstico definitivo da babesiose depende da demonstraçãodo microrganismo causador nos esfregaços sangüíneos finos corados por Giemsa.Embora os parasitas sejam comuns nos casos agudos, em particular imediatamenteantes da hemoglobinúria característica, pode ser necessário recorrer aos esfregaçosespessos de sangue para confirmar os sintomas precoces (por exemplo, comalgumas cepas de B. bovis) ou para detectar outras Babesia spp (por exemplo, B.canis). Para diagnóstico específico de babesiose existe disponível uma variedade detestes sorológicos (fixação de complemento, hemaglutinação indireta e o teste deimunofluorescência indireta – IFI). O teste IFI é o mais preciso e sensível.

O diagnóstico diferencial de Babesia spp depende da mensuração dos piroplasmasintra-eritrocíticos; o estágio mais apropriado para mensuração é o piroforme duplo.Embora todos dentro deste grupo sejam pleomórficos, eles caem em 2 categorias:grande e pequena. A B. bigemina é uma típica representante da primeira forma,possuindo piroplasmas piriformes de 4 a 5 × 2µm, enquanto B. bovis é uma típicaBabesia de pequeno tamanho, possuindo piroplasmas piriformes de 2 × 1,5µm.

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Tratamento e controle – A babesiose aguda responde bem a uma série detratamentos feitos logo no início, embora a transfusão de sangue possa sernecessária em estágios mais tardios da doença. Compostos mais antigos, taiscomo o sulfato de quinurônio ainda são usados com sucesso, embora o isetionatode fenamidina, o diisetionato de amicarbalida, o aceturato de diminazeno e oimidocarbodipropionato sejam mais amplamente utilizados. Para o aceturato dediminazeno, o nível terápico recomendado é de 3 a 3,5mg/kg (1,4 a 1,6mg/lb) depeso corporal via IM. Nos estudos de premunição, quantidades de até 0,5mg/kg(0,25mg/lb) se mostraram eficazes na moderação do curso clínico da infecção edo controle da parasitemia sem a eliminação da infecção. Para o imidocarbo-dipropionato usado, particularmente na África, a dose recomendada é 2mg/kg(1mg/lb); é também eficaz contra a anaplasmose em 3mg/kg(1,4mg/lb) e pode serusado profilaticamente para proporcionar várias semanas de proteção aos animaissuscetíveis que estão se locomovendo para uma área endêmica.

As vacinas derivadas de sangue, com cepas de B. bovis e de B. bigeminaatenuadas através de passagens em bezerros esplenectomizados, têm sido utiliza-das na Austrália para imunizar o gado contra o desafio virulento, e são eficazes sepreparadas corretamente. Tais vacinas também têm sido utilizadas em escalaimportante na África e na América Latina, sendo que as cepas da Austrália têmdemonstrado possuir uma ampla proteção cruzada. Se os microrganismos comple-tamente virulentos forem utilizados para premunição, como em alguns países, areação dos animais inoculados deverá ser monitorada com cuidado, particularmen-te no caso de animais mais velhos, e o agente terapêutico deverá estar à mão. Umaestratégia de controle eficaz para a babesiose depende do controle dos carrapatosvetores através do uso de acaricidas em banhos de imersão, pulverizadores decarreira ou manuais. O uso freqüente e regular dos acaricidas em certas situaçõesecológicas eliminará os carrapatos vetores, porém isto pode não ser economica-mente apropriado em muitas situações nas quais os animais estão amplamentedispersos e os carrapatos possuem uma sazonalidade marcante. Experiências naAustrália têm permitido a definição de estratégias particulares de programas deimersão em diferentes condições climáticas; a solução ideal provavelmente sejauma situação de estabilidade endêmica resultante da vacinação dos animais derisco, associada a um programa limitado de imersão.

Outras importantes Babesia spp

Existem > 70 outras espécies reconhecidas de Babesia spp em animais domés-ticos e selvagens; em animais domésticos são importantes as seguintes:

Bovinos – Na Europa ocorre a Babesia divergens. É pequena como a B. bovis,porém transmitida pela Ixodes ricinus. Em raras ocasiões ocorreram infecções fataisem humanos esplenectomizados (em infecções no Novo Mundo devido a umababesia de roedor, a B. microti foi identificada em vários casos. No Extremo Orienteocorre a Babesia ovata. É uma babesia grande que divide o carrapato vetor,Haemaphysalis longicornis com a Theileria orientalis (ver pág. 92). A Babesiajakimovi é uma grande Babesia, é o agente da piroplasmose siberiana e é alojadapelo corço e transmitida pelas moscas do gado, possivelmente por carrapatos dogênero Ixodes.

Ovelhas e cabras – A Babesia motasi é encontrada na Europa, norte da Áfricae na Ásia. É uma grande Babesia transmitida pelo carrapato Haemaphysalis. ABabesia ovis ocorre na Europa, norte da África e Ásia, porém considerada comoseriamente patogênica somente na Romênia e Bulgária. A transmissão dessapequena babesia é realizada pelos carrapatos Rhipicephalus bursa, Ixodes ricinuse Dermacentor reticulatus.

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Cavalos – A Babesia caballi possui uma ampla distribuição nos trópicos esubtrópicos, e no sul dos EUA onde existe um foco endêmico no sudeste da Flórida.Esta grande Babesia é transmitida pela Dermacentor nitens nos EUA e por outrasDermacentor e Hyalomma spp em outros locais. A Babesia equi possui uma ampladistribuição e tem sido relatada em mulas, burros e zebras (o reservatório selvagemna África). É uma pequena Babesia que possui um ciclo de desenvolvimentoincomum: têm sido relatados esquizontes nos linfócitos e é comum a divisão dopiroplasma em 4 microrganismos filhos. A B. equi é capaz de existir em uma amplavariedade de carrapatos vetores (Dermacentor, Hyalomma e Rhipicephalus spp) enichos ecológicos. A patogenicidade e a resposta à quimioterapia de diferentescepas é bastante variável.

Porcos – Os suínos abrigam a B. perroncitoi, que é uma pequena Babesia,e a B. trautmanni, que é uma grande Babesia; ambas são patogênicas, porémsua distribuição e transmissão não estão claras. Com certeza ocorrem no sul daEuropa e no norte da África.

Cães – A Babesia canis possui uma ampla distribuição, porém causa maisproblemas no sul dos EUA e na África do Sul. É uma grande Babesia, sendotransmitida principalmente pela Rhipicephalus sanguineus em climas mais quentes,e pela Dermacentor marginatus nos climas mais frios.

A Babesia gibsoni está presente na Ásia e norte da África, onde os chacais e asraposas são importantes reservatórios selvagens. É uma Babesia pequena, seme-lhante a B. equi e é transmitida pela Haemaphysalis bispinosa.

CITAZOONOSE

É uma doença aguda, causada por protozoários, geralmente fatal, de gatosdomésticos, e ocorre de forma esporádica em áreas de mata densa do sul dos EUA.

Etiologia e transmissão – As características clínicas e histopatológicas asse-melham-se àquelas produzidas pelas Cytauxzoon spp em várias espécies deungulados africanos. A Cytauxzoon felis aparentemente é uma nova espécie cujociclo de vida termina em gatos hospedeiros. Suspeita-se de que os carrapatos dogênero Ixodid sejam os vetores.

Sinais clínicos e lesões – Após 1 a 3 dias, a anorexia e a depressão sãoseguidas por pirexia, ≥ 40°C( ≥104°F), e usualmente por desenvolvimento de anemiae desidratação ou icterícia, ou ambas. A temperatura corporal cai abaixo do normal,desenvolve-se dispnéia, e a morte se segue em 1 a 3 dias.

Os achados macroscópicos de necropsia incluem palidez generalizada e fre-qüentemente icterícia; baço e linfonodos ocasionalmente muito aumentados; con-gestão das veias mesentéricas; e, algumas vezes, petéquias hemorrágicas nospulmões, linfonodos, epicárdio e bexiga urinária. Histologicamente, os esquizontesaparecem dentro de fagócitos mononucleares (macrófagos) que ocluem os princi-pais canais venosos do pulmão, linfonodos, baço e outros órgãos.

Diagnóstico – É sugestivo o quadro clínico típico em uma área endêmica. Ademonstração de parasitas eritrocíticos em esfregaços sangüíneos corados porWright ou por Giemsa, e de parasitas em fase tecidual dentro de fagócitos mononu-cleares em esfregaços corados de medula óssea ou baço, confirma o diagnóstico. ACytauxzoon sp deve ser diferenciada da Haemobartonella felis (ver pág. 33) que émenor, mais densa e em forma de corrente, e também da Babesia felis. No caso deBabesia sp, a fase sangüínea pode parecer idêntica, porém os membros daBabesiidae não possuem fase tecidual (esquizonte). Em esfregaços sangüíneoscorados, as formas eritrocíticas possuem formato de corpos esféricos a ovais (0,5 a2,0µ em diâmetro) com núcleo vermelho-escuro a púrpura e um citoplasma azul-

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pálido. Em esfregaços teciduais ou preparações histólogicas coradas com H & E,numerosos esquizontes (2 a 75µm) ou merozoítas (0,5 a 2,0µm) aparecem nocitoplasma de fagócitos mononucleares que recobrem os canais vasculares emmuitos órgãos.

Tratamento e controle – Tentativas preliminares ao tratamento têm documenta-do sucesso limitado. Parvaquona 10 a 30mg/kg, IM, 1 vez ao dia por 2 a 3 dias resultouem 2 sobreviventes de 18 gatos. Tiacetarsamida de sódio 0,1mg/kg, EV, 2 vezes aodia por 2 a 3 dias resultou em 1 sobrevivente de 2 gatos. Cuidados intensivos mantidoscom líquidos e antibióticos de amplo espectro resultaram em 1 sobrevivente de 25gatos. Assim, a sobrevida com drogaterapia ou cuidados agressivos mantidos é baixa.A prevenção geral de exposição a carrapatos ou outros vetores em potencial podeajudar no controle.

EPERITROZOONOSE

É uma doença esporádica, febril e hemolítica do gado bovino, suíno, ovino ede outros mamíferos causada por rickéttsias. Muitas infecções são subclínicas ea incidência de doença evidente é baixa. Provavelmente a rickéttsia estejapresente em muitos países e, no caso da Eperythrozoon ovis, as evidênciassorológicas da Nigéria (36%) e Austrália (16,9%) indicam que a incidência deinfecção subclínica é alta; nos EUA, a sorologia indica uma incidência de 15% deE. suis. Diferentes espécies de parasitas existem em diferentes hospedeiros (porexemplo, E. suis, E. ovis), e parece que cada um é relativamente hospedeiro-específico. A transmissão dá-se principalmente pelos piolhos, porém os instru-mentos cirúrgicos e as agulhas hipodérmicas também têm sido incriminados. Emcasos clínicos, existe um grau variável de anemia hemolítica, febre, anorexia,fraqueza e icterícia. Muitos casos são leves e transitórios, e costumam sersecundários a outras condições. Casos mais severos ocorrem em porcos jovens,e em ovelhas e no gado podem estar associados ao estresse.

Deve ser realizada a diferenciação das anemias nutricionais (ver pág. 21 ) edas condições ictero-anêmicas devido a outros agentes infecciosos ou substân-cias tóxicas. O diagnóstico laboratorial da eperitrozoonose aguda deve serrealizado pela demonstração de grandes quantidades de rickéttsias em esfrega-ços de sangue corados por Giemsa. Os parasitas podem ser encontrados livresno plasma circundando plaquetas ou na superfície dos eritrócitos.

A tetraciclina ou a oxitetraciclina dadas por via IM em doses ≥ 6,6mg/kg depeso corporal são eficazes em doses únicas contra E. suis. São indicadas drogashematínicas (por exemplo,o cacodilato de sódio e a dextrana de ferro) e arseni-cais (por exemplo, a neoarsfenamina). Se for necessário, a oxitetraciclina dadaoralmente é efetiva no tratamento de rebanhos.

DOENÇAS POR DIROFILÁRIA

DIROFILARIOSE

É uma doença clínica ou subclínica complexa causada pelo verme filariformeDirofilaria immitis. A doença apresenta uma distribuição cosmopolita ao nível do mardos trópicos e subtrópicos, mas é comum em muitas áreas de maiores elevaçõese latitudes, incluindo o Japão, várias partes da Austrália, América do Norte e Europa.Nos EUA, ocorre freqüentemente em todas as áreas infestadas por mosquitos,particularmente no sudoeste, nos estados da costa do Atlântico e no meio-oeste. Os

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sintomas clínicos são observados principalmente em cães,embora os gatos e furõestambém sejam suscetíveis à infestação.

Etiologia e patogenia – As fêmeas adultas possuem , 27cm de comprimentoe os machos , 17cm. As microfilárias que possuem , 315µm, são eliminadas nacorrente sangüínea onde permanecem ativas por 1 a 3 anos. Só se desenvolvemmelhor quando ingeridas por várias espécies de mosquitos. Dentro dos mosquitos,o desenvolvimento das microfilárias até a fase de larva (infectiva) é completado em, 2 semanas. A larva infectiva migra então para as partes bucais e, quando omosquito se alimenta novamente, ela é depositada na pele do cão e penetra atravésferimento pela mordida.

Os estágios imaturos se desenvolvem e crescem nos tecidos subcutâneo ousubseroso por , 2 meses, então começam a migrar para o ventrículo direito,chegando após 2 a 4 meses de infecção. São necessários mais 2 a 3 meses até queas larvas atinjam a maturidade. Deste modo, as microfilárias começam a aparecerna circulação periférica , 6 a 7 meses após o início da infecção. Os vermes adultossão encontrados primariamente nas artérias pulmonares e no ventrículo direito,embora em infecções fortes eles possam ser encontrados também no átriodireito, veias cavas cranial e caudal, e veias hepáticas.

Os vermes impedem o fluxo sangüíneo e provocam endarterites, proliferaçãoendotelial e tromboses; as microfilárias circulantes podem formar complexosimunes observáveis nos rins.

Achados clínicos – A duração e a gravidade da infestação, assim como a reaçãoindividual do hospedeiro ao parasita, determinam a intensidade dos sintomasclínicos. Os achados clínicos mais comuns nos cães são: tosse, diminuição datolerância ao exercício e perda de peso. Outros sintomas incluem dispnéia, febre eascite. Na síndrome caval, um grande número de vermes adultos no átrio direito eveia cava provocam fraqueza súbita e, freqüentemente, morte. Isto pode serprecedido por anorexia e icterícia.

Os sintomas mais comuns nos gatos são anorexia, letargia, tosse, desconfortorespiratório e vômitos. Outros sintomas incluem perda de peso e morte súbita. Ainsuficiência cardíaca direita e a síndrome caval são raras nos gatos.

Lesões – As alterações mais comuns nas artérias pulmonares são endarterites,proliferação das células musculares da subíntima e protrusões rugosas e vilosas nolúmen. Pode ocorrer trombose de artérias menores resultante de morte de vermes.O efeito destas lesões, em conjunção com a obstrução por fibrose, é o desenvolvi-mento de uma hipertensão pulmonar e aumento secundário do coração direito. Osrins podem apresentar evidência de glomerulonefrite e hemossiderose nos túbuloscontorcidos com moldes de heme na medula. Na síndrome caval, podemos observarvênulas hepáticas aumentadas, veias hepáticas espessadas e necrose centrilobular.

Diagnóstico – Um diagnóstico provisório é baseado nos sinais, histórico eexposição, sendo confirmado pela presença de microfilárias de D. immitis em umaamostra sangüínea. O teste de Knotts modificado e miliporo ou os testes de filtro denucleoporo são provas comuns para detecção de microfilárias. As microfilárias deD. immitis devem ser diferenciadas dos filarídeos não patogênicos da D. repens eda Dipetalonema reconditum com base em sua morfologia e característicascromatológicas com fosfatase ácida. Como muitas infestações de adultos sãoassintomáticas, um exame rotineiro por testes sorológicos (ELISA para antígenosde D. immitis adulta) é freqüentemente realizado.

A confirmação do diagnóstico é complicada quando os animais são amicrofilarê-micos. As infestações ocultas são observadas em , 20% dos cães infectados e >80% dos gatos infectados. Nestes animais, o diagnóstico é baseado na combinaçãodos achados clínicos com radiografias toráxicas e/ou testes de ELISA para antíge-nos de vermes adultos. Os achados radiológicos típicos em cães incluem artérias

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pulmonares lobares aumentadas e por vezes tortuosas; maior proeminência daartéria pulmonar principal; padrão parenquimal perivascular, com uma distribuiçãoarterial lobar caudal; e aumento do ventrículo direito. Nos gatos, o achado radioló-gico mais comum é o aumento das artérias pulmonares lobares caudais.

A ecocardiografia pode auxiliar no diagnóstico da síndrome caval. A evidênciaecocardiográfica modo-M de adultos no átrio direito com movimento para o interiordo ventrículo direito é considerada patognomônica.

Tratamento e controle – Nos cães, o tratamento é dirigido inicialmente para adestruição dos vermes adultos, seguido por uma terapia microfilaricida (exceto nasinfestações ocultas), e à medicação preventiva subseqüente para proteger contranova infecção. O adulticida comumente utilizado é o tiacetarsamida, porém épotencialmente tóxico. Os testes laboratoriais pré-tratamento são utilizados paraidentificar problemas coexistentes, mas a toxicidade aguda por tiacetarsamida édifícil de prever; na maioria das vezes não há predisposição evidente. A atividadeenzimática aumentada em até 10 vezes não foi associada a aumento do risco. Aobservação cuidadosa do animal tratado em busca de evidências precoces detoxicidade é crítica. Cada cão deve ser examinado cuidadosamente e alimentado30min antes de cada injeção. Deve ser examinada uma amostra de urina em buscade evidência de bilirrubinúria, um dos primeiros sinais de toxicidade hepática.

O tratamento deve ser interrompido se o animal vomitar repetidamente, estiverdeprimido, anorético ou ictérico. A bilirrubinúria grosseira após a primeira ousegunda injeção é uma indicação para que se prossiga com cautela apenas se nãohouver nenhum outro sintoma de toxicidade. Se o tratamento for interrompido, deve-se restringir a atividade do animal e fornecer uma dieta pobre em gordura e rica emcarboidratos. O tratamento adulticida completo deve ser reiniciado em , 4 semanas,quando a toxicidade aguda é incomum.

O tiacetarsamida deve ser refrigerado, e descartado se apresentar descoloraçãoalaranjada ou conter precipitado. Cada injeção deve ser administrada em um localdiferente e em uma veia como a periférica quando possível. Se for utilizado umcateter fixo, deve ser realizada uma verificação cuidadosa da integridade cateter-veia antes de cada injeção. Tanto o cateter quanto o tiacetarsamida contribuem parao risco de flebite e ruptura da veia. Se o tiacetarsamida extravasar, a região deve sertratada com dimetil-sulfóxido (DMSO) ou DMSO-dexametasona tópico 3 vezes aodia por vários dias.

Evidências radiológicas de doença arterial pulmonar grave ou tromboembolismosão indicações para postergar temporariamente a terapia adulticida, devido aomaior risco de complicações no tratamento. Durante o confinamento em jaula, sãoadministrados corticosteróides por 3 a 5 dias. O tratamento adulticida é reinstituídoquando há evidências clínica e radiológica de melhora significativa. Cães comdoença arterial pulmonar grave ou os que apresentam insuficiência cardíaca direitaparecem beneficiar-se de um confinamento prolongado em gaiolas concomitante aum tratamento com aspirina antes, durante e após a terapia com tiacetarsamida. Os

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TABELA 7 – Diferenciação das Microfilárias de Dirofilaria immitis e de Dipetalonemareconditum

D. immitis D. reconditum

Comprimento > 290µm < 275µmEspessura > 6µm < 6µmExtremidade anterior cônica arredondadaExtremidade posterior reta às vezes em ganchoFormato do corpo reto crescente

cães com síndrome caval devem ter seus vermes removidos por meio de umavenotomia jugular emergencial.

Após a terapia adulticida, o exercício deve ser restringido por 4 a 6 semanas. Aanorexia, tosse, dispnéia, e febre atribuíveis a morte dos vermes, trombose einflamação podem ocorrer nas primeiras 4 semanas (mais freqüentemente em 10a 17 dias) após o tratamento. Um tratamento antiinflamatório a curto prazo comcorticosteróides bem como o repouso em gaiola podem ser necessários.

O tratamento microfilaricida deve seguir o tratamento adulticida com intervalo de3 a 6 semanas. O iodeto de ditiazanina é o único microfilaricida aprovado. A“American Heartworm Society” recomenda o uso da ivermectina como microfilaricida,mas esta não é uma utilização aprovada oficialmente. O milbemycin oxime, fentione o levamisol também são utilizados. Quando há um grande número de microfilárias,é comum uma reação à sua morte, mas não é provável que seja fatal.

O tratamento preventivo deve ser iniciado logo que possível após o tratamentode infecções ocultas, ou logo que o tratamento microfilaricida se complete. Devemser realizados testes de concentração no final do tratamento microfilaricida, etambém repetidos várias semanas depois para detectar um recrudescimento dasmicrofilárias.

As medidas preventivas aceitas baseiam-se na administração oral de dietilcarba-mazina, ivermectina ou milbemycin oxime. Estes compostos impedem o desenvol-vimento do estágio tecidual da larva, o que impede os parasitas de alcançar ocoração. O DEC deve ser administrado diariamente a partir de 1 mês antes daestação dos mosquitos até 2 meses depois; a ivermectina e o milbemycin oxime sãoadministrados uma vez por mês a partir do primeiro mês após o início da estação dosmosquitos até dentro de 1 mês no final da estação. As regiões com população demosquitos constante exigem terapia durante o ano todo. Os produtos preventivos nãodevem ser administrados aos cães positivos para microfilárias.

O tratamento em gatos é controverso. Pode ocorrer edema pulmonar agudo ehemorragia, geralmente culminando com morte, em poucas horas após a primeiraou segunda injeção de tiacetarsamida, que não é aprovada para uso em gatos. Asinfecções subclínicas e aquelas caracterizadas por infiltrado pulmonar intermitentecom síndrome de eosinofilia podem não exigir tratamento adulticida. Há evidênciasque infecções experimentais podem ser autolimitantes. Uma terapia sintomáticaapropriada, como corticosteróides para tosse e infiltrados pulmonares, deve seradministrada como indicado.

INFECÇÃO POR ANGIOSTRONGYLUS VASORUM(Verme cardíaco francês)

Estas pequenas larvas cardíacas são encontradas ocasionalmente na artériapulmonar e no ventrículo direto de cães e raposas nos EUA, Europa e na antigaURSS. Os machos possuem , 18mm e as fêmeas , 25mm de comprimento. Osovos eclodem nos pulmões e as larvas (, 350µm de comprimento) migram para afaringe e são escretadas nas fezes. O ciclo de vida inclue um caramujo ou uma lesmaterrestre como hospedeiro intermediário.

Ovos ludibriados nos tecidos pulmonares causam formação de granulomas eesclerose perivascular. A hipertrofia cardíaca e a congestão hepática com ascite têmsido observadas em alguns casos graves e crônicos. Os animais podem morrer deinsuficiência cardíaca. A interferência no mecanismo de coagulação sangüíneapode levar à formação de hematomas excessivos e de tumefações subcutâneas. Odiagnóstico é baseado na presença de larvas características nas fezes (as quaispossuem um botão cefálico e uma cauda ondulada com apêndices dorsais). Adiferenciação dos Filaroides é auxiliada pelo fato de as larvas serem mais ativas e

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geralmente muito mais numerosas que nas infecções por Angiostrongylus. Aadministração subcutânea de levamisol tem sido eficaz no tratamento.

ESQUISTOSSOMÍASE(Trematódeos sangüíneos)

Etiologia – Os esquistossomos são trematódeos finos, alongados, que chegamaté a 30mm de comprimento,e que vivem nos vasos sangüíneos do hospedeiro final.A fêmea permanece dentro de um sulco longitudinal do corpo do macho. Várioscaramujos aquáticos atuam como hospedeiros intermediários. Os esquistossomospatogênicos para os animais domésticos são amplamente distribuídos pela África,Oriente Médio, Ásia e alguns países que margeiam o Mediterrâneo. Em muitasáreas, encontra-se um alto percentual de animais infectados e embora a maioriapossua baixas cargas e seja assintomática, ocasionalmente são relatados gravessurtos devidos a pesadas infestações. Muitos esquistossomos patogênicos sãoencontrados nos vasos sangüíneos mesentérico e portal, e os principais sinaisclínicos estão associados com a passagem dos ovos espiculados através dostecidos para o lúmen intestinal. Uma espécie, a Schistosoma nasale, é encontradanas veias da mucosa nasal de ruminantes e eqüinos, nos quais pode causar corizae dispnéia.

Os ovos excretados nas fezes devem ser depositados na água para que possameclodir e liberar os miracídios, que invadem os caramujos aquáticos adequados ese desenvolvem em esporocistos primários e secundários para se tornarem cercárias.Quando completamente maduras, as cercárias abandonam os caramujos e nadamlivremente na água, onde então permanecem viáveis por várias horas. As cercáriasinvadem o hospedeiro final através da pele e das membranas mucosas; durante apenetração, as cercárias se desenvolvem em esquistossômulos, que são transpor-tados por via linfática e sangüínea para seus locais de predileção. O período de pré-patência é de , 6 a 9 semanas.

Nas Áfricas Central e Meridional, a espécie predominante é a S. mattheei queinfecta ruminantes; nas áreas norte e leste é mais comum se encontrar S. bovis. Esteúltimo parasita também ocorre em certas áreas do sul da Europa, no Oriente Médio.Na Ásia, as espécies S. spindale, S. incognitum, S. (Ornithobilharzia) turkestanicume S. japonicum estão disseminadas. A última é de particular importância porque osruminantes infectados formam um reservatório para a doença em humanos. AS. nasale ocorre na Índia subcontinental, Malásia e na área do Caribe.

Achados clínicos – O principal sintoma clínico associado com as formasintestinal e hepática da esquistossomíase em ruminantes desenvolve-se após ocomeço da excreção dos ovos e consiste de enterite hemorrágica, anemia eemaciação. Os animais severamente afetados demonstram rápida deterioração egeralmente morrem dentro de poucos meses após a infecção, enquanto aquelesmenos densamente infectados desenvolvem as formas crônicas da doença eeventualmente podem se recuperar. Em áreas endêmicas da África, muitas cabeçasde gado mais velhas possuem um nível eficaz de imunidade contra a reinfecção. Aesquistossomíase nasal é uma doença crônica do gado bovino, cavalos e eventual-mente de búfalos. Em casos graves, existe uma descarga mucopurulenta copiosa,rouquidão e dispnéia; infecções mais leves freqüentemente são assintomáticas.

Lesões – As formas intestinal e hepática da esquistomíase são caracterizadaspela presença dos trematódeos adultos nas veias portal, mesentérica e submucosae subserosa intestinais. As principais conseqüências patológicas, entretanto, estãoassociadas aos ovos. Na forma intestinal, as lesões são causadas pela passagemdos ovos através da parede intestinal, enquanto na forma hepática, menos comum,

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formam-se granulomas ou “pseudotubérculos” ao redor dos ovos. Outras alteraçõeshepáticas incluem a hipertrofia medial e a hiperplasia das veias portais, o desenvol-vimento de nódulos linfóides e de folículos por todo o órgão, e fibrose em casos maiscrônicos. A formação de extensos granulomas também ocorre ao longo do trato GI,especialmente no intestino delgado. Em casos graves são vistas numerosas áreasde petequiação e de hemorragia difusa na mucosa, e grandes quantidades desangue descorado podem ser encontradas no lúmen intestinal. Os vasos sangüí-neos parasitados freqüentemente estão dilatados e tortuosos. As lesões vascularestambém podem ser encontradas nos pulmões, pâncreas e bexiga de animaisdensamente infectados.

Na esquistossomíase nasal, os trematódeos adultos são encontrados nos vasossangüíneos da mucosa nasal, porém novamente, as principais conseqüênciaspatogênicas estão associadas com os ovos, que causam abscessos na mucosa. Osabscessos rompem-se e liberam ovos e pus na cavidade nasal, que eventualmentelevam a fibrose extensa. Além disso, é comum ocorrerem grandes crescimentosgranulomatosos na mucosa nasal, que ocluem as passagens nasais e causamdispnéia.

Diagnóstico – A história clínica e os sinais são insuficientes; e é necessária aidentificação dos ovos nas fezes, nos raspados retais ou no muco nasal dos animaisafetados para se confirmar a afecção. Dos ovos com final espiculado, S. bovis e S.mattheei têm forma de fuso (150 a 250 × 40 a 90µm), aqueles de S. spindale sãomais alongados e achatados de um lado (160 a 400 × 70 a 90µm), e os ovos em formade bumerangue da S. nasale possuem de 300 a 550 × 50 a 80µm. Os ovos elípticosda S. japonicum são relativamente pequenos (70 a 100 × 50 a 80µm) com umapequena espinha lateral. Nos casos crônicos, pode não ser possível o encontro deovos nas fezes ou no muco nasal, e o diagnóstico deve ser confirmado à necropsiapelo achado de trematódeos adultos nos vasos sangüíneos.

Controle – As medidas de controle raramente são praticadas em larga escala.Muitas das doses disponíveis produzem resultados inconsistentes ou possuemsérios efeitos colaterais. Os remédios mais antigos incluem numerosos compostosantimoniais, porém se requer um grande cuidado em sua utilização devido a suatoxicidade. Vários outros compostos têm sido demonstrados como tendo proprieda-des esquistossomicidas, porém geralmente, o tratamento é antieconômico, já quecostuma requerer um grande número de repetidas doses a intervalos de 2 a 3 dias.Tais drogas incluem o estibofen, o cloridrato de lucantona, hicantona e o triclorfon.O praziquantel em 25mg/kg de peso corporal tem se mostrado eficaz, embora possanecessitar de 2 tratamentos com intervalo de 3 a 5 semanas. Uma vacina radiadaincorporando S. bovis tem sofrido extensos estudos no Sudão e tem se mostradoaltamente eficaz; entretanto, ainda não está disponível comercialmente.

A infecção pode ser reduzida pelo controle do caramujo, que é o hospedeirointermediário, utilizando-se moluscicidas (por exemplo, o sulfato de cobre, aniclosamida ou o trifenmorf), ou através da cercagem da zona de água contaminadae fornecimento de água de bebida limpa. Estas medidas não somente reduzirão aincidência de esquistossomíase como também ajudarão no controle de outrostrematódeos parasitas tais como Fasciola gigantica e Paramphistomum spp, quesimilarmente possuem caramujos aquáticos como hospedeiros intermediários efreqüentemente ocorrem nas mesmas localidades que os esquistossomos.

TEILERÍASES

É um grupo de doenças de animais causadas por protozoários parasitas dogênero Theileria, transmitidos por carrapatos. As espécies mais importantes são a

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T. parva e a T. annulata que causam mortes disseminadas no gado bovino em áreastropicais do Velho Mundo.

Tanto o Theileria quanto o Babesia são membros da subordem Piroplasmorina.Enquanto as babesias são principalmente parasitas de hemácias, o Theileria utiliza,sucessivamente, leucócitos e hemácias para completar seu ciclo de vida nohospedeiro mamífero. O estágio de esporozoíta infectante do parasita é transmitidona saliva dos carrapatos infectados quando se alimentam. Os esporozoítas invademos linfócitos (e também monócitos, no caso da T. annulata) e em poucos diasdesenvolvem-se em esquizontes. O desenvolvimento dos esquizontes faz com queo leucócito hospedeiro se divida; a cada divisão celular, o parasita também se divide.Deste modo, a população de células parasitadas aumenta e, através de migração,dissemina-se por todo o sistema linfóide. Posteriormente, uma parte dos esquizontessofre merogonia; os merozoítas resultantes infestam hemácias, dando origem apiroplasmas. Os piroplasmas de Theileria parva sofrem divisão limitada nas hemá-cias, mas em outras espécies, notadamente T. annulata, T. mutans e T. orientalis,esta divisão representa uma segunda fase de multiplicação. A ingestão de hemá-cias infectadas por piroplasmas por carrapatos vetores que se alimentam emanimais infectados é o início de um complexo ciclo de desenvolvimento no qual adoença é posteriormente transmitida por carrapatos em seu próximo estágio(transmissão transestagial). Não há transmissão transovariana, como a que ocorreno Babesia. A ocorrência da doença está limitada pela distribuição geográfica docarrapato vetor apropriado. Em algumas áreas endêmicas, o gado nativo possui umgrau de resistência inata. A mortalidade nestes animais é relativamente baixa, maso gado introduzido na área é particularmente vulnerável.

Febre da costa oriental

É uma doença aguda do gado bovino, caracterizada por febre alta, aumento doslinfonodos, dispnéia e alta mortalidade, causada pela Theileria parva. Esta doençaé um sério problema nas Áfricas Central e Oriental.

Etiologia e transmissão – Os esporozoítas de Theileria parva são injetados nogado pelos carrapatos vetores infectados,Ripicephalus appendiculatus, ao sealimentarem. Com base nos parâmetros clínicos e epidemiológicos, 3 subtipos deT. parva são reconhecidos, mas provavelmente não são subespécies verdadeiras.ATheileria parva parva, transmitida principalmente entre gado, e a T. parva lawrencei,transmitida principalmente dos búfalos para o gado, são altamente patogênicas,enquanto a T. parva bovis, transmitida entre o gado, é bem menos patogênica.

Diagnóstico, patogenia e sinais clínicos – Há uma fase oculta de 5 a 9 diasseguidos antes que os lifócitos infectados possam ser diagnosticados em esfrega-ços corados por Giemsa de drenagem local dos linfonodos. Subseqüentemente, onúmero de células parasitadas aumenta rapidamente pelo sistema linfóide e, a partirdo 14º dia em diante, são observadas células sofrendo merogonia. Isto é associadoa uma linfocitólise disseminada, marcante perda de linfócitos e leucopenia. Ospiroplasmas nas hemácias infectadas pelos micromerozoítas resultantes assumemvárias formas, mas tipicamente são pequenos e arredondados ou ovais.

Os sinais clínicos variam de acordo com o nível do desafio, e taxa de inaparenteou leve para grave e fatal. A pirexia ocorre tipicamente em 7 a 10 dias após a picadados carrapatos infectados, continua durante o curso da infecção e pode ser > 42oC.O aumento dos linfonodos se torna pronunciado e generalizado. Os linfoblastosanalisados em esfregaços de biópsia de linfonodos, corados por Giemsa, contêmesquizontes multinucleares. Desenvolve-se a anorexia e o animal perde rapidamentesua condição física; pode ocorrer lacrimejamento e descarga nasal. É comum adispnéia, terminalmente. Um pouco antes da morte, é comum uma queda abrupta datemperatura e o corrimento de exsudato pulmonar pelas narinas. A morte geralmente

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ocorre após 18 a 24 dias. As lesões post mortem mais notáveis são aumento dolinfonodo o edema pulmonar maciço, a hiperemia e o enfisema. Hemorragias sãocomuns nas superfícies serosas e mucosas de muitos órgãos, algumas vezes juntocom áreas óbvias de necrose nos linfonodos e timo. Diferente da babesiose, a anemianão é o principal sintoma diagnóstico, já que é mínima a divisão dos parasitas noseritrócitos e, deste modo, não há destruição maciça deles.

Os animais que se recuperam ficam imunes a desafios subseqüentes com asmesmas cepas, porém podem ser suscetíveis a algumas cepas heterólogas. Amaioria dos animais recuperados ou imunizados permanece portando a infecção.

Tratamento e controle – As perspectivas de sobrevida do gado com febre daCosta Oeste ou infestação por T. annulata foram ampliadas pelo desenvolvimentodo parvaquone e seu derivado o buparvaquone, e a demonstração de que o sallactato do coccidiostático halofuginona possui ação antiteilerial. A clortetraciclina ea oxitetraciclina, mesmo administradas em grandes doses e tão precocementequanto possível, são relativamente ineficazes. No entanto, a imunização do gadousando um procedimento de infecção-e-tratamento é prática e vem ganhandoaceitação. Os componentes para este procedimento são um estabilizadocriopreservado da(s) cepa(s) apropriada(s) de Theileria derivadas de carrapatosinfectados e uma dose única de oxitetraciclina de longa ação ou buparvaquoneadministrados simultaneamente, ou parvaquone administrado , 8 dias após ainfecção. O gado deve ser imunizado 3 a 4 semanas antes de ser solto em pastosinfectados. A incidência da febre da Costa Oeste pode ser diminuída através de umcontrole rígido dos carrapatos, porém em muitas áreas isto significa tratamentoacaricida 2 vezes por semana.

Outras teileríases

As Theileria spp em animais domésticos de grande porte e animais selvagensestão quase onipresentes em áreas do Velho Mundo infectadas por carrapatos, e,a não ser no gado bovino, a sua diferenciação dentro das espécies não é clara. Asespécies seguintes são importantes: no gado bovino, a Theileria annulata estáamplamente distribuída na África do Norte, área costeira do Mediterrâneo, Centro-Oeste, Índia, antiga URSS e Ásia. A causa é teileriose tropical ou mediterrâneae é transmitida por carrapatos do gênero Hyalomma. A T. annulata pode causarmortalidade de até 90%, porém existe uma variabilidade considerável na patogeni-cidade das diferentes cepas. Os sinais característicos incluem a febre e o aumentodos linfonodos superficiais. Subseqüentemente, o gado perde rapidamente suacondição física e pode ocorrer hemoglobinúria. Os esquizontes e os piroplasmassão morfologicamente similares àqueles da T. parva . Os esquizontes possuem umformato mais comumente arredondado ou oval. Podem ser cultivados in vitro, e ascepas atenuadas produzidas por passagens seriadas formam a base das vacinaseficazes usadas em Israel, Irã e antiga URSS.

A Theileria orientalis (sergenti) ocorre no Extremo Oriente e, em menor intensida-de, na Ásia e sul da antiga URSS, onde pode causar uma síndrome patológica emassociação com a T. annulata. A transmissão é efetuada por carrapatos do gêneroHaemaphysalis , e existem cepas levemente patogênicas do parasita na Europa e naAustralásia onde ocorrem as Haemaphysalis spp. Os piroplasmas são maiores queaqueles da T. parva e T. annulata, e sua divisão intra-eritrocítica é o mais importantemétodo de multiplicação. A mortalidade é rara, particularmente no gado indígena,porém é comum uma anemia crônica progressiva.

A Theileria mutans está presente na África e também tem sido relatada naAmérica Latina. A transmissão é feita por carrapatos do gênero Amblyomma, e amultiplicação dá-se comumente por divisão intra-eritrocítica. Os piroplasmas são

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indistingüíveis morfologicamente daqueles da T. orientalis e da T. taurotragi (umparasita africano do elã e do gado), porém os parasitas podem ser diferenciados portestes sorológicos tais como o de IFI. Algumas cepas de T. mutans são patogênicasem seu próprio direito. Além disso, as infecções concorrentes podem somar-se aoselementos de patogenicidade da T. parva da síndrome da febre da Costa Oriental.

Em ovelhas e cabras, 2 espécies de Theileria têm sido amplamente distribuídascom base em sua patogenicidade relativa. A Theileria hirci pode causar umamortalidade de aproximadamente 100%; é encontrada no sul da Europa, na Ásia,e na África. Demonstrou-se ser transmitida pelo carrapato Hyalomma anatolicum naÁsia. Os esquizontes podem ser prontamente demonstrados em esfregaços debiópsia, corados por Giemsa, dos linfonodos superficiais aumentados. As Theileriaspp, (por exemplo, T. ovis ) são espécies não patogênicas e também amplamentedistribuídas; demonstrou-se ser transmitidas pelo carrapato R. evertsi na África e porcarrapatos Haemaphysalis punctata na Europa. Os piroplasmas destas espéciessão polimórficos.

TRIPANOSSOMÍASE

Tripanossomíase transmitida pela mosca tsé-tsé

É um grupo de doenças que afetam todos os animais domésticos, e que sãocausadas por protozoários do gênero Trypanosoma. As principais espécies são T.congolense, T. vivax, T. brucei e T. simiae.

Os principais animais afetados pelos 4 mais importantes tripanossomos transmi-tidos pela tsé-tsé estão listados na TABELA 8 (adiante). Em ordem de importância,aquelas que afetam o gado bovino, as ovelhas e as cabras são T. congolense, T.vivax e T. brucei. Em porcos, a T. simiae é a mais importante. Em cães e gatos, aT. brucei provavelmente seja a mais importante. É difícil assinalar uma ordem deimportância para cavalos e camelos.

Os tripanossomas que causam a tripanossomíase transmitida por tsé-tsé (doen-ça do sono) no homem, T. rhodesiense e T. gambiense, se assemelham bastantea T. brucei dos animais; os isolados de T. brucei de animais são lisados por sorohumano. Existem indicações de que ocorram alterações na resistência aosoro humano em alguns isolados de T. brucei; portanto, devem ser tomadas asprecauções razoáveis quando se trabalha com estes isolados.

A TABELA 8 também lista as principais áreas geográficas onde ocorre atripanossomíase transmitida pela tsé-tsé. A mosca tsé-tsé está restrita à África,aproximadamente da latitude 15oN até 29oS.

Transmissão e epidemiologia – A maioria das transmissões por tsé-tsé é cíclicae começa quando o sangue de um animal infectado por tripanossomo é ingerido pelamosca. O tripanossomo perde sua capa superficial e multiplica-se na mosca entãoreadquire uma capa superficial e torna-se infeccioso. A Trypanosoma brucei move-se do intestino ao proventrículo, à faringe, e eventualmente às glândulas salivares;o ciclo para T. congolense pára na hipofaringe, e as glândulas salivares não sãoenvolvidas, o ciclo inteiro paraT. vivax ocorre na probóscide. A forma infecciosa parao animal, que se encontra na glândula salivar da tsé-tsé, é conhecida como a formametacíclica. O ciclo de vida na mosca tsé-tsé pode ser tão curto quanto 1 semana comT. vivax, ou estender-se por umas poucas semanas como no caso de T. brucei.

As moscas tsé-tsé pertencem ao gênero Glossina, que possui 3 das principaisespécies que habitam em ambientes relativamente distintos: a G. morsitans freqüen-temente encontra-se em áreas de savana, a G. palpalis prefere áreas ao redor dos riose lagos, enquanto a G. fusca vive em áreas de alta floresta. As 3 espécies transmitemtripanossomos, e todas se alimentam em uma variedade de mamíferos.

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A transmissão mecânica pode ocorrer através de moscas tsé-tsé ou outrasmoscas picadoras. No caso deT. vivax, asTabanus spp e outras moscas picadorasparecem ser os principais vetores mecânicos das áreas da tsé-tsé, como nasAméricas Central e do Sul. A transmissão mecânica requer somente sangue quecontenha tripanossomos infecciosos para serem transferidos de um animal paraoutro. Outras espécies de tripanossomos, por exemplo, a T. congolense tambémpodem ser transmitidas mecanicamente, e ocasionalmente ser encontradas foradas áreas da tsé-tsé da África.

Patogenia – As tsé-tsé infectadas inoculam tripanossomos metacíclicos na peledos animais,na qual os tripanossomos crescem por uns dias e causam tumefaçãolocalizada (cancro). Eles penetram nos linfonodos e então na corrente sangüínea,na qual se dividem rapidamente por fissão binária. Na infecção por T. congolense,os microrganismos ligam-se às células endoteliais e alojam-se nos capilares e nospequenos vasos sangüíneos. A T. brucei e a T. vivax invadem os tecidos e causamdanos teciduais em vários órgãos.

A resposta imune é vigorosa, e os imunocomplexos causam inflamação, o quecontribui para os sinais e as lesões da doença. São produzidos anticorpos contra asglicoproteínas da capa superficial e o tripanossomo é morto. Entretanto, os tripanos-somos possuem múltiplos genes, o que codifica para diferentes glicoproteínas dacapa superficial que não são vulneráveis à resposta imune; esta variação antigênicaresulta na persistência do microrganismo. Não se sabe o número de tipos de glicopro-teínas antigênicas que podem ser produzidas, porém este excede várias centenas.A variação antigênica tem evitado o desenvolvimento de uma vacina, e permite quehaja a reinfecção quando os animais são expostos a um novo tipo antigênico.

Achados clínicos e lesões – A gravidade da doença varia com a espécie e aidade do animal infectado e a espécie de tripanossomo envolvido. O período deincubação costuma ser de 1 a 4 semanas. Em todos os casos, os sinais clínicosprimários são febre intermitente, anemia e perda de peso. No gado, muitos casospossuem um curso crônico com alta mortalidade, especialmente se existir umadeficiência na nutrição ou outros fatores de estresse. Os ruminantes podem serecuperar gradualmente se o número de moscas tsé-tsé infectadas for baixo;entretanto, se houver estresse, isto resultará em recaída.

TABELA 8 – Tripanossomos Animais mais Importantes Transmitidos por Moscas Tsé-tsé

Trypanosoma Principais animais afetados Principais distribuiçõesspp geográficas

T. congolense Gado bovino, ovelhas, cabras, cães, Regiões de moscas tsé-tsésuínos, camelos, cavalos e a maioria na Áfricados animais selvagens

T. vivax Gado bovino, ovelhas, cabras, África, Américas Central e docamelos, cavalos e vários animais Sul, Índia Ocidental, Ilhasselvagens Maurício. Nota: em áreas

não tsé-tsé, a transmissão éfeita por moscas picadoras

T. brucei Todos os animais domésticos e vários Regiões de moscas tsé-tséselvagens. Muito severa em cães, na Áfricacavalos e gatos

T. simiae Suínos domésticos e selvagens, Regiões de moscas tsé-tsécamelos na África

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À necropsia, os achados são variáveis e não específicos para a doença. Emcasos de morte pela forma aguda, existem numerosas petéquias das membranasserosas, especialmente na cavidade peritoneal. Os linfonodos e o baço tambémcostumam estar aumentados. Nos casos crônicos, há aumento dos linfonodos,atrofia serosa da gordura e anemia.

Diagnóstico – O diagnóstico presuntivo baseia-se no encontro de um animalanêmico, em más condições, dentro de uma área endêmica. A confirmaçãodepende da demonstração dos tripanossomos em esfregaços delgados ou grossosde sangue corado, ou em montagens úmidas da área da capa flogística de um tubode micro-hematócrito após a centrifugação. A presença de outras infecções quecausam anemia e perda de peso, como babesiose, anaplasmose e teileriose, deveser eliminada pelo exame dos esfregaços sangüíneos corados.

Existem vários testes sorológicos que medem os anticorpos para tripanossomos,porém seu uso é mais apropriado para rebanhos e investigação de áreas do quepara diagnósticos individuais; no entanto, testes para a detecção de antígenosespécie-específicos dos tripanossomas circulantes no sangue periférico podembrevemente estar à disposição tanto para diagnósticos individuais como para derebanho.

Tratamento e controle – Podem ser utilizadas várias drogas, as mais comunsdestas estão listadas na TABELA 9 (adiante). Muitas possuem um índice terapêuticolimitado, o que torna essencial a administração da dose correta. A resistência àsdrogas ocorre e deve ser considerada nos casos refratários.

O controle pode ser exercido em vários níveis, incluindo a erradicação da moscatsé-tsé e o uso de drogas profiláticas. O controle parcial da mosca tsé-tsé pode serrealizado através da pulverização e imersão de animais, pulverização de inseticidasem áreas de reprodução de moscas, uso de telas impregnadas com inseticidas,limpeza de matas e outros métodos. Nas áreas com alta população de moscas tsé-tséinfectadas com tripanossomos, os animais deverão receber drogas profilaticamente.O problema de resistência a drogas deve ser monitorado cuidadosamente através daexaminação sangüínea freqüente para tripanossomos nos animais tratados.

Surra(Infecção por T. evansi )

Esta afecção é separada das doenças transmitidas pela mosca tsé-tsé, poisusualmente é transmitida por outras moscas picadoras que se encontram fora daárea das moscas tsé-tsé. É essencialmente uma doença de camelos e cavalos. Estápresente na África do Norte, no Oriente Médio, Ásia, Extremo Oriente e nasAméricas Central e do Sul. A distribuição de T. evansi na África estende-se até asáreas da tsé-tsé, onde é difícil a diferenciação de T. brucei. Todos os animaisdomésticos são suscetíveis, e a doença pode ser fatal particularmente em camelos,cavalos e cães. Trypanosoma evansi em outros animais parece não ser patogênica,e estes animais servem como reservatórios da infecção.

A transmissão é feita primariamente por moscas picadoras, provavelmenteresultante das alimentações interrompidas. Alguns animais selvagens são suscetí-veis à infecção e podem servir como reservatórios.

A patogenia, os sinais clínicos, as lesões, o diagnóstico e o tratamento sãosemelhantes àqueles dos tripanossomos transmitidos por tsé-tsé (ver adiante). Asdrogas para o tratamento estão listadas na TABELA 9.

Sífilis eqüina

É uma doença venérea crônica freqüente de cavalos, transmitida durante ocoito e causada por T. equiperdum. Foi reconhecida na costa mediterrânea da

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TABELA 9 – Drogas Comumente Utilizadas no Tratamento das Tripanossomíases emAnimais Domésticos (ver também pág. 1790 )

Droga Sinônimos Animal Tripanossomo Ação principal

Aceturato de Berenil, babesin Gado bovino vivax, congolense, Curativadiminazeno (como sal delactato) brucei (com a possí-

Ganaseg vel exceçãodo brucei)

Cães evansi, congolense,brucei

Brometo de Brometo de Gado bovino vivax, congolense, Curativahomídio etídio brucei

Eqüídeos vivax

Cloreto de Cloreto de babídio,homídio cloreto de etídio, Semelhante ao sal brometo

cloreto de novídio

Isometamídio Samorin Gado bovino vivax, congolense Curativa eM&B 4180 profilática

Protídio Gado bovino vivax, congolense Curativa eprofilática

Sulfato de Sulfato de Gado bovino vivax, congolense Curativaquinapira- antricida brucei, evansimina

Cavalos brucei, evansi,equiperdum

Camelos evansi

Suínos simiae

Cães congolense, brucei

Quinapiramina Pró-sal antricida Gado bovino, vivax, congolense, Profiláticasuínos simiae

Suramina Moranil, naganol Cavalos brucei, evansi, Curativaequinum

Antripol Camelos evansi

Bayer 205, Cães brucei, evansinafurida,germanina

África, no Oriente Médio, sul da África e na América do Sul; a distribuição éprovavelmente ampla.

Os sinais clássicos podem desenvolver-se num período de semanas oumeses. Os primeiros sintomas incluem uma descarga mucopurulenta da uretra dogaranhão e da vagina na égua, seguido por edema grosseiro da genitália. Maistarde aparecem placas características de 2 a 10cm de diâmetro na pele, e oanimal se torna progressivamente emaciado. Em casos não tratados, a mortali-dade é de 50 a 70%.

Doenças Parasíticas do Sangue e do Sistema Cardiovascular 98

É difícil a demonstração de tripanossomos a partir de descargas uretrais ouvaginais, nas placas da pele, ou no sangue periférico, a menos que o material sejacentrifugado. Os animais infectados podem ser detectados com o teste de fixaçãode complemento, porém somente em áreas onde a T. evansi ou a T. brucei nãoexistem, já que eles possuem antígenos em comum.

Nas áreas endêmicas, os cavalos podem ser tratados (TABELA 9). Quando énecessária a erradicação, tem sido bem-sucedido o controle rigoroso dos cruza-mentos e a eliminação dos cavalos desgarrados. Como alternativa, os animaisinfectados podem ser identificados pelo teste de fixação de complemento; aeutanásia é obrigatória.

Doença de Chagas(Infecção por T. cruzi )

O ciclo de transmissão comum dá-se entre os gambás, tatus, roedores ecarnívoros selvagens, com os percevejos da família Reduviidae servindo comovetores. A distribuição se dá nas Américas Central e do Sul e em áreaslocalizadas no sul dos EUA. A doença de Chagas é de grande importância naAmérica do Sul. Os animais domésticos podem tornar-se infectados e introduziro tripanossomo nas moradias humanas, onde os percevejos estão presentes; ohomem então torna-se infectado pela contaminação de feridas oculares ou poringestão de comida infectada com fezes de insetos que contenham tripanosso-mos. O tripanossomo é patogênico para o homem, e ocasionalmente para cãese gatos jovens; outros animais domésticos atuam como hospedeiros-reser-vatórios.

Tripanossomos não patogênicos de animais domésticos

A T. theileri ou tripanossomos muito similares têm sido detectados em culturasde sangue periférico de gado bovino em todos os continentes. A infecção comtripanossomos similares também tem sido detectada em búfalos domésticos eselvagens, e uma variedade de outros ungulados selvagens. Nas poucas áreasestudadas, a transmissão se dá pela contaminação seguindo um ciclo dedesenvolvimento nas espécies de moscas tabanídeas. Embora a maioria dosparasitemias seja subpatente, os tripanossomos podem ser observados emesfregaços sangüíneos examinandos para protozoários patogênicos ou em umacâmara hemocitométrica. A patogenicidade nunca foi demonstrada experimen-talmente.

A T. melophagium das ovelhas também possui distribuição mundial e étransmitida pelo piolho das ovelhas. A T. theodori, observada em cabras, pode serum sinônimo do mesmo tripanossomo.

POLICITEMIA

É um aumento relativo ou absoluto do número de eritrócitos circulantes. Ahiperviscosidade sangüínea resultante pode interferir na circulação normal.

Policitemia relativa – A redução do volume plasmático resulta em hemocon-centração e é a causa mais comum de policitemia em animais domésticos.Costuma ser um estado transitório devido à desidratação por perda de líquidosassociada a vômitos ou diarréia. O decréscimo de volume plasmático pode ser

Policitemia 99

devido à diminuição da ingestão de eletrólito (especialmente se a ingestão de águafor insuficiente), transporte de fluidos do espaço intra para o extracelular, resultantede um aumento da permeabilidade vascular, diminuição da perfusão periféricaassociada com o choque anafilático ou endotóxico ou fatores não específicosrelacionados ao estresse. A diminuição na concentração de água do plasma podeser acompanhada por um aumento temporário na concentração de proteínaplasmática. A hemoconcentração pode mascarar uma anemia.

Pode ocorrer um aumento temporário de eritrócitos circulantes como resultadode uma contração esplênica e liberação de sangue rico em eritrócitos para dentroda circulação. O grau de armazenamento esplênico e a liberação variam de acordocom as espécies, porém é mais marcante em cavalos e cães, nos quais pode ocorrerum aumento de 10 a 40% nos eritrócitos em poucos minutos.

A contração esplênica é iniciada por fatores como excitação, dor ou estresse;porém a concentração das proteínas plasmáticas não é mudada. A informaçãoclínica é necessária para a diferenciação provável da causa do aumento daconcentração eritrocitária.

Policitemia absoluta – Este é um aumento absoluto dos eritrócitos circulantesgeralmente com um volume plasmático normal. O diagnóstico definitivo requer umadeterminação direta da massa de eritrócitos e/ou determinação do volume plasmá-tico, que normalmente não está à disposição do clínico. O diagnóstico clínico baseia-se em uma elevação persistente do hematócrito (portanto, não provocada porcontração esplênica) e ausência de resposta à administração de fluidos (portanto,não causada por hemoconcentração).

A policitemia absoluta pode ser primária ou secundária. A policitemia primária oupolicitemia vera, um distúrbio mieloproliferativo de etiologia desconhecida, é rara,porém tem sido relatada em cães, gatos e bovinos. A eritropoiese é aumentada,enquanto o tempo de vida dos eritrócitos é normal, resultando em um aumentoacentuado do volume de eritrócitos (por exemplo,hematócrito > 60%). A esplenome-galia, leucocitose e/ou trombocitose ocorrem com freqüência em humanos, masraramente são relatadas em cães. A concentração da eritropoietina sérica e asaturação de oxigênio não são aumentadas.

Na policitemia absoluta secundária , o aumento na concentração de eritrócitosdesenvolve-se em resposta à eritropoietina ou a uma substância semelhante a esta.Mais freqüentemente isto é resultado de hipoxia tecidual devido a doenças cardía-cas ou pulmonares ou hemoglobinopatia. A policitemia absoluta secundária éapropriadamente diagnosticada por uma menor pressão parcial de oxigênio arteriale outras evidências de doença cardiopulmonar.

Carcinoma renal, anormalidades renais não neoplásicas (cistos renais, hidro-nefrose) ou tumores não renais podem também aumentar a produção de eritropoie-tina provocando uma policitemia absoluta secundária inapropriada na ausência dehipoxemia. A concentração plasmática de eritropoietina é muito baixa na policitemiavera, mas está aumentada na policitemia absoluta secundária. A contagem dereticulócitos é útil para identificar uma produção aumentada de eritropoietina.A reticulocitose é esperada na policitemia absoluta secundária, mas não na polici-temia vera.

Se necessário, o tratamento das várias policitemias deve ser direcionado para acorreção dos mecanismos causadores. A policitemia vera pode ser aliviada porflebotomias periódicas (por exemplo, 10 a 20mL/kg cada 48h, conforme o necessá-rio) com ou sem o uso de agentes mielossupressivos, por exemplo, ciclofosfamidaou hidroxiuréia.

Policitemia 100

TROMBOSE, EMBOLISMO E ANEURISMAO trombo é um coágulo sangüíneo intravascular ainda no sítio de origem e pode

ser classificado, de acordo com sua localização, como venoso, arterial ou cardíaco(valvular ou mural). A trombose venosa em animais de grande porte geralmenteenvolve a veias jugulares ou a veia cava cranial, e acompanha flebite subseqüente aocateterismo venoso prolongado ou administração de soluções irritantes, tais comofenilbutazona ou sais de cálcio. A trombose da veia cava posterior ocorre emassociação com abscedação hepática no gado e com freqüência resulta em pneu-monia embólica e lesões arteriais pulmonares. Em cães, a doença pelo vermecardíaco pode levar a uma trombose arterial pulmonar; o embolismo pulmonar é oprincipal efeito secundário. O tromboembolismo pulmonar também é observadoem cães em associação a doenças que resultam em diminuição da concentraçãoda antitrombina III circulante, por exemplo, amiloidose renal, hiperadrenocorticis-mo e glomerulonefropatia membranosa. Os trombos arteriais freqüentemente sãoformados em associação à arterite parasitária, a forma mais comum de doençaarterial em grandes animais. Os trombos cardíacos sépticos estão associados àendocardite e os nãosépticos estão associados às doenças do miocárdio. Parte dotrombo ou todo ele pode se destacar e ser carregada corrente abaixo na forma deêmbolos que se alojam distalmente num ponto de estreitamento. A trombose eembolismo arterial não sépticos geralmente resultam em isquemia dos tecidosirrigados pela artéria afetada. Êmbolos sépticos resultam em bacteremia e infec-ção localizada, bem como isquemia.

Um aneurisma é uma dilatação sacular ou cilíndrica de uma artéria devido a umenfraquecimento da parede do vaso sangüíneo. O aneurisma pode se formar ao ladode alterações degenerativas ou inflamatórias, ou por causa de uma ruptura parcialda parede do vaso. Estas alterações podem afetar também o endotélio, e causa aformação de trombos com subseqüente formação de êmbolos. Embora o aneurisma,a trombose, e a formação de êmbolos possam ser reconhecidos simultaneamente,as síndromes clínicas distintas que envolvem as condições separadas são reconhe-cidas em certas espécies.

O tipo mais comum de aneurisma ocorre na artéria mesentérica cranial de cavaloscomo resultado da arterite causada pela migração larval da Strongylus vulgaris.Alterações semelhantes na aorta e na artéria ilíaca podem causar trombose ilíaca emcavalos. O aneurisma da aorta torácica ocorre em alguns cães com granulomasesofágicos causados por Spirocerca lupi. Aneurismas não parasíticos são vistosocasionalmente em todas as espécies. No gado bovino com trombose da veia cavacaudal, aneurismas associados à arterite pulmonar resultante de êmbolos infectadospodem provocar hemorragias nas vias aéreas com epistaxe e morte. A ruptura deaneurismas aórticos dissecantes pode causar perdas significantes em perus jovens,em rápido crescimento (ver pág. 1876 ).

Achados clínicos e diagnóstico – Os aneurismas não causam sintomas clínicos,a menos que ocorra hemorragia ou se desenvolva um trombo associado. A não serpela ruptura aórtica em perus (com morte súbita), a hemorragia associada com amicose da bolsa gutural dos cavalos, ou aneurisma pulmonar do gado, a hemorragiaaneurismática espontânea é rara, e os sinais clínicos costumam estar associados atrombose. Os sintomas variam de acordo com o tamanho e a localização do trombo ese ocorrer a formação dos êmbolos. Em alguns cavalos com aneurismas verminóticose trombose, os êmbolos se desenvolvem e ocluem parcial ou completamente osramos terminais das artérias mesentéricas. Os segmentos intestinais afetados mos-tram alterações que variam de congestão passiva a infarto hemorrágico. As manifes-tações clínicas são cólica, constipação ou diarréia. A cólica costuma ser recorrente e

Trombose, Embolismo e Aneurisma 101

os ataques podem ser severos e prolongados. O diagnóstico normalmente é baseadoem um histórico de cólicas recorrentes, associado à neutrofilia peritoneal sem evidên-cia hematológica de sepse crônica localizada.

Um aneurisma da aorta abdominal e seus ramos podem ser palpados pelo exameretal como tumefações firmes fixadas e com superfície irregular áspera que pulsamcom o batimento cardíaco. O frêmito pode estar presente. Nos casos de formaçãoexcessiva de trombos, o pulso pode estar distalmente demorado e ter uma lenta taxade elevação da pressão ou estar ausente.

A trombose verminótica, com ou sem aneurisma da aorta terminal e das artériasilíacas proximais, produz uma síndrome característica em cavalos. Embora elespareçam normais ao repouso, o exercício gradual ocasiona um aumento daseveridade da debilidade das patas posteriores com claudicação uni ou bilateral,tremores musculares e sudorese. Os animais gravemente afetados não podemsuportar exercícios; se tornam coxos e então caem ou se deitam. Após um pequenoperíodo de repouso, os sinais desaparecem e os animais parecem normais. Nota-se temperatura subnormal dos membros afetados, associada a uma diminuição ouausência das pulsações arteriais e a demora e diminuição do preenchimentovenoso. Uma palpação retal cuidadosa pode evidenciar variação na amplitude dopulso das artérias ilíacas internas e/ou externas e vasculatura assimétrica. Noscasos graves desenvolve-se uma atrofia da musculatura da garupa e a claudicaçãopode se tornar evidente em exercícios leves. A oclusão trombótica ou embólicacompleta da aorta distal pode provocar paralisia bilateral aguda dos membrosposteriores e recumbência nos eqüinos. Os animais afetados ficam ansiosos, comexpressão de dor, e entram rapidamente em choque. Os membros posteriores ficamfrios e a palpação retal revela ausência de pulsação em ambas as artérias ilíacas.

Uma síndrome diferente ocorre nos gatos como resultado do embolismo aórtico.Na maioria dos casos há um distúrbio cardíaco primário, mais comumente umamiocardiopatia. A dinâmica circulatória anormal na miocardiopatia dilatada ouhipertrófica predispõe à formação de trombos intracavitários, normalmente no átrioesquerdo; os trombos freqüentemente se deslocam formando êmbolos que obstru-em os ramos aórticos. O ponto usual de embolização é a trifurcação aórtica, comobstrução das artérias ilíacas interna e externa e da artéria sacral mediana. Ossintomas clínicos incluem o início súbito de paresia dos posteriores, dor intensa eespasmos musculares. Os pulsos femorais são fracos ou ausentes e os membrosposteriores são frios. Se a trifurcação aórtica não for completamente ocluída, o gatopoderá apresentar paresia unilateral ou apenas leves déficits neurológicos emambos os membros posteriores. Um êmbolo pode também alojar-se em outros leitosvasculares sistêmicos ou mais proximalmente na aorta. Tem sido postulado que osfatores elaborados pelo êmbolo podem inibir a circulação colateral uma vez que aligação aórtica não reproduz os sinais clínicos do tromboembolismo aórtico, en-quanto um trombo experimentalmente produzido o faz. A serotonina e o tromboxanoA

2, ambos liberados por plaquetas ativadas, causam vasoconstrição e agregaçãoplaquetária que provavelmente inibem a circulação colateral e são importantes nodesenvolvimento dos sintomas clínicos.

Nos casos obscuros ou nos que se considera a cirurgia, a angiocardiografia podeauxiliar a confirmar o diagnóstico de aneurisma, trombose, ou embolismo, e a avaliara circulação colateral. Devido à necessidade de anestesia geral, este procedi-mento é muitas vezes pouco seguro em gatos com uma miocardiopatia dilatadade base, e economicamente injustificável no gado.

A trombose da veia cava cranial provoca uma dilatação bilateral da jugular sempulso venoso. O edema da cabeça, área submandibular e peito com hiperemiapronunciada da mucosa oral é comum. Pode ocorrer edema significativo da língua,faringe e/ou laringe, resultando em disfagia e dispnéia. Um edema das vias respira-

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tórias superiores pode representar perigo de vida, exigindo uma traqueostomia. Atrombose da cava cranial pode resultar de embolização de um trombo jugular ouextensão de uma lesão de endocardite atrial direita. A trombose da veia cava caudalpode resultar em embolismo pulmonar e abscedação pulmonar secundária, o queprovoca tosse, taquipnéia, dispnéia e sons pulmonares anormais. Os aneurismasnas artérias pulmonares que contêm êmbolos sépticos podem romper-se e provocarhemorragia intrapulmonar, ou os abscessos pulmonares podem erodir-se para ointerior de brônquios, resultando em hemorragia nas vias aéreas. Podem ocorrerepistaxe e hemoptise. O tromboembolismo arterial pulmonar é uma complicaçãofreqüente da endocardite do coração direito no gado, mas raramente desenvolvem-se aneurismas.

Tratamento – Nos eqüinos, os aneurismas causados por Strongylus vulgarisraramente se rompem, e a maior preocupação é com a trombose e a formação deêmbolos. Geralmente, a parede arterial está muito envolvida, tornando a remoçãodo trombo impraticável, uma vez que outro provavelmente se formaria. O tratamentoantibacteriano e dosagem com anti-helmínticos para matar as larvas migrantes é deconsiderável valor para a terapia. A abordagem mais racional para a trombosemesentérica cranial e aórtico-ilíaca nos cavalos é prevenção e controle da estrongilose(ver pág. 243 ).

Os êmbolos aórticos dos gatos podem ser removidos cirurgicamente; no entanto,a doença cardíaca e especialmente a insuficiência cardíaca aumentam muito o riscoda anestesia geral, além do fato de que uma reperfusão aguda de leitos vascularesque acumularam grandes quantidades de hidrogênio e potássio pode resultar emhipercalemia aguda e acidose metabólica intensas o suficiente para provocarparada cardíaca. A terapia médica, apenas, é mais recomendada, incluindo admi-nistração judiciosa de líquidos (para manter a hidratação e a pressão sangüínea,mas não exacerbar a insuficiência cardíaca congestiva), analgésicos e heparina.Muitos gatos com tromboembolismo aórtico morrem apesar do tratamento, ou nãorecuperam a função dos membros posteriores. Alguns gatos paralisados quesobrevivem à crise cardiovascular inicial recuperam a capacidade de andar após 3a 7 semanas. A gravidade da cardiopatia freqüentemente determina o prognósticoa longo prazo.

Os tromboêmbolos pulmonares provocam dispnéia em cães na maioria dasvezes. As radiografias torácicas podem apresentar-se normais, não perfundidas naregião afetada, revelar uma artéria pulmonar principal e o coração direito aumenta-dos, ou mostrar evidências de hemorragia/infarto pulmonares. A determinação dosgases sangüíneos normalmente revela hipoxemia com pressão parcial de CO

2 baixaou normal. O diagnóstico pode ser confirmado pela angiografia pulmonar ou examede ventilação/perfusão com albumina e gases marcados com radioisótopos. Asrecomendações terapêuticas são as mesmas que para a tromboembolia aórtica emgatos. Drogas tromboembolíticas, por exemplo, estreptocinase ou ativador doplasminogênio tecidual, não foram suficientemente avaliadas em gatos ou cavalospara justificar sua recomendação terapêutica.

A aspirina (25mg/kg de peso corporal, VO, a cada 72h) é a terapia profilática maislargamente utilizada para o tromboembolismo felino. A aspirina inibe a agregaçãode plaquetas e preserva a circulação colateral inibindo a formação de tromboxanoA

2. A terapia com aspirina (17mg/kg, VO, a cada 48h) também foi recomendadacomo um auxiliar na prevenção da doença tromboembólica dos eqüinos.

O tratamento das tromboses venosas normalmente limita-se à terapia desuporte, incluindo hidroterapia das veias acessíveis, agentes antiinflamatórios eantimicrobianos sitêmicos para controlar a sepse secundária. Veias jugularestrombóticas foram removidas cirurgicamente com sucesso em eqüinos. A trom-bose da veia cava cranial ou caudal geralmente tem um prognóstico ruim e não

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responde à terapia. As medidas para minimizar o trauma e as contaminaçõesbacterianas nas veias permanecem como os melhores meios para evitar astromboses. A terapia anticoagulante com heparina e varfarim tem sido tentada emcavalos e gatos, sendo razoável no controle da extensão das tromboses, mas éacompanhada por várias complicações como anemia e hemorragia fatal. Estasdrogas não resolvem um trombo existente.

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