Manual Conservar - CECI
Transcript of Manual Conservar - CECI
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CONSERVAR
Olinda Boas Prticas no Casario
CENTRO DE ESTUDOS AVANADOS DA CONSERVAO INTEGRADA
Olinda, 2010
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CENTRO DE ESTUDOS AVANADOS DA CONSERVAO INTEGRADA
Rua Sete de Setembro, 80, Carmo, Olinda-PE
CEP: 53020-130
Fone: +55 (81) 3429.1754
Site: www.ceci-br.org
E-mail: [email protected]
Centro de Estudos Avanados da Conservao Integrada CECI
Conservar: Olinda boas prticas no casario / Centro de Estudos Avanados da Conserva-
o Integrada; org. Juliana Barreto, Vera Milet. Olinda: CECI, 2010.
60 p.: il., fi g., fotos, mapas, plantas.
Inclui bibliografi a.
Acompanha encarte.
ISBN 978-85-98747-13-2
1. Stios histricos - Olinda. 2. Patrimnio cultural. 3. Projeto arquitetnico. 4. Monumen-
tos Conservao e restaurao. I. Barreto, Juliana Cunha. II. Milet, Vera. III. Ttulo.
719 CDU (2.ed.) UFPE
721.0288 CDD (22.ed.) CAC2010-90
-
CENTRO DE ESTUDOS AVANADOS DA CONSERVAO INTEGRADA
Diretoria
Diretor-geral
Fernando Diniz Moreira
Raquel BertuzziJuliana Barreto
Conselho de Administrao
Presidente
Virgnia Pitta Pontual
Ana Rita S CarneiroRoberto Antonio Dantas de Arajo
Silvio Mendes ZanchetiToms de Albuquerque Lapa
Equipe do Projeto
Coordenadora-geral
Juliana Barreto
Coordenadora-administrativa
Raquel Bertuzzi
Consultora
Vera Milet
Pesquisadora-assistente
Rosane Piccolo Loretto
Estagirios e colaboradores
Diogo CavalcantiKarina Lira
Natlia TenrioRenata FerrazEduardo Costa
Redao e edio do texto
Juliana Barreto Vera Milet
Programao visual, website e fotografi as
PickImagem
Reviso de texto
Consultexto
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5
Estamos entregando a voc o manu-
al Conservar: Olinda Boas Prticas
no Casario. Ele fornece informaes
sobre o Stio Histrico de Olinda
(SHO) e objetiva orientar os pro-
prietrios, moradores e demais
usurios que desejam realizar obras
de conservao, reformas ou restau-
rao no casario antigo.
Este manual resulta de um convnio
fi rmado entre o Fundo de Direitos
Difusos, do Ministrio da Justia, e
o Centro de Estudos Avanados da
Conservao Integrada (Ceci). Nele
voc vai encontrar uma breve carac-
terizao do Stio Histrico de Olin-
da, os valores patrimoniais conferidos
cidade ao longo do tempo, a identi-
fi cao dos tipos arquitetnicos do
casario antigo e as Boas Prticas de
projetos de interveno arquitetnica.
O encarte que segue avulso foi pen-
sado visando facilitar sua vida; nele
constam informaes sobre os pos-
sveis tipos de obra que voc pode
realizar no seu imvel, os docu-
mentos que devem acompanhar as
solicitaes de obras e de projetos
de interveno, as orientaes legais
referentes aos modos como eles
devem ser apresentados e encami-
nhados s instituies de proteo.
Alm disso, o encarte apresenta o
mapa com a delimitao da rea de
proteo e do zoneamento muni-
cipal e enumera as leis (federal e
municipal) que regulamentam as in-
tervenes no casario do Stio Hist-
rico, indicando tambm o endereo
eletrnico em que esse material est
disponvel para consulta na internet.
As mudanas que em geral suce-
dem na organizao das instituies
responsveis pelas polticas de
preservao de Olinda nas instn-
cias federal, estadual e municipal
motivaram a concepo do encarte,
j que algumas siglas e atribuies
referentes aos setores institucio-
nais fi cam, muitas vezes, defasadas
no tempo. Em vista desse fato,
recomendada a consulta sistemtica
s informaes contidas nos sites
indicados na webpage do Manual.
Este manual contou com o acom-
panhamento e o apoio dos tcni-
cos de instituies e organizaes
relacionadas com a preservao do
Stio Histrico de Olinda, notada-
mente a Agncia Condepe/Fidem, a
Fundao Gilberto Freyre (FGF), a
Fundao Joaquim Nabuco (Fundaj),
a Fundao do Patrimnio Histrico
e Artstico de Pernambuco (Fundar-
pe), o Instituto Histrico de Olinda
(IHO), o Instituto do Patrimnio His-
trico e Artstico Nacional (Iphan),
a Prefeitura Municipal de Olinda
(PMO) e a Sociedade Olindense de
Defesa da Cidade Alta (Sodeca).
Apresentao
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Sumrio1 As razes e fi nalidades do Manual Conservar 8
2 Objetivos do Manual Conservar 9
3 Os valores patrimoniais e a signifi cncia do Stio Histrico de Olinda 10
4 Identifi cando tipos arquitetnicos no Stio Histrico de Olinda 18
4.1 Tipo meia-morada 204.2 Tipo morada-inteira 214.3 Tipo poro alto com meia-morada ou com morada-inteira 224.4 Tipo meio-sobrado 234.5 Tipo sobrado-inteiro 244.6 Esteretipos 25
5 Orientao para proprietrios, arquitetos e engenheiros que realizamprojetos de interveno arquitetnica no casario de Olinda 26
5.1 Conceitos e preceitos legais 265.2 Metodologia de projeto 27
6 As Boas Prticas de projetos 34
6.1 Tipo meia-morada: reforma e reconstituio volumtrica 366.2 Tipo meia-morada: reforma e introduo de anexo 386.3 Tipo morada-inteira: reforma com introduo de mezanino 1 396.4 Tipo morada-inteira: reforma com introduo de mezanino 2 406.5 Tipo morada-inteira: restaurao volumtrica e da fachada principal 426.6 Tipo sobrado-inteiro: reforma e conservao com mudana de uso 436.7 Tipo sobrado-inteiro: reforma com aumento de sto e uso misto 446.8 Tipo sobrado-inteiro: reforma, reconstituio volumtrica e mudana de uso 466.9 Esteretipo: reforma e conservao 486.10 Novas construes: continuidade de imagem e integrao ao contexto 506.11 Novas construes: respeito diversidade urbana e busca de integrao formal 526.12 Regularizao de imvel: reforma e reconstituio volumtrica 1 546.13 Regularizao de imvel: reforma e reconstituio volumtrica 2 56
7 Glossrio 58
8 Bibliografi a 59
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ConservarOlinda Boas Prticas no Casario
8
1 As razes e fi nalidades do Manual Conservar
O Stio Histrico de Olinda encon-
tra-se regido por leis de proteo
nos mbitos federal, estadual e
municipal. Alm disso, detentor
do ttulo de Patrimnio Cultural da
Humanidade, conferido pela Orga-
nizao das Naes Unidas para a
Educao, Cincia e Cultura (Unes-
co) em 1982, e est inscrito sob a
categoria de Centro Histrico. Entre-
tanto, ainda que esses instrumentos
legais tenham identifi cado e ressal-
tado o carter excepcional do acer-
vo histrico-cultural de Olinda, eles
no so capazes de impedir que as
reas livres e os imveis tombados
sejam objeto de obras irregulares.
Esse dado da realidade tem levado
perda da autenticidade e integri-
dade das estruturas edifi cadas do
Stio Histrico protegido, colocando
em risco a manuteno dos valores
atribudos ao acervo tombado.
A auditoria realizada pelo Tribunal
de Contas do Estado de Pernambuco
(TCEPE) registrou perda na qualida-
de da preservao do Stio Histrico
de Olinda e na sua ambincia1 e
recomendou a elaborao de um Pro-
grama de Educao Patrimonial2. Essa
medida visa instruir os moradores e
usurios desse stio histrico sobre os
valores patrimoniais a serem preserva-
dos. Em virtude dessa demanda que
se insere a elaborao deste manual.
Embora os valores patrimoniais sejam
registrados e protegidos por leis e
ttulos que atestam e promovem a
condio singular do Stio Histrico
de Olinda, tais valores se encontram,
na atualidade, com srios riscos de
desaparecimento. E, como decorrn-
cia, existe a possibilidade do Stio
Histrico entrar na lista de patrim-
nios em risco, da Unesco e do Iphan.
A viso defendida pelos que elabora-
ram este manual que o conhecimen-
to dos procedimentos e das normas
de proteo leva a uma maior apro-
priao das informaes e do entendi-
mento dos valores atribudos ao Stio
Histrico de Olinda e, em consequn-
cia, conservao da herana cultural.
Acredita-se que a divulgao das Boas
Prticas de projetos de interveno
arquitetnica no casario acarrete a
diminuio da quantidade de obras ir-
regulares e a manuteno das qualida-
des artsticas e paisagsticas do acervo
patrimonial edifi cado de Olinda.
Este manual deve ser consultado em
simultaneidade com as normas legais,
pois ele no pretende esgotar o as-
sunto, mas servir de guia.
[1] O entendimento de ambincia est relacionado com a capacidade de conservao da escala, dos eixos
visuais dos monumentos histricos e da relao harmnica entre o conjunto natural e o edifi cado.
[2] Tais recomendaes foram extradas de CORREIA, Fernando. Avaliao do Sistema de Preservao do Patrimnio
Histrico de Olinda (Prefeitura Municipal de Olinda). Recife: Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco, 2006.
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9
DORIO BRANCO
DOCARMO
SITIODO
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SR
SR
SR
SR
SR
SV2
SV1
SRR Setor Residencial Rigoroso SCV Setor Comercial do Varadouro SRA Setor Residencial Ambiental SIT Setor de Interesse Turstico SCA Setor Cultural do Alto da S SV1 Setor Verde 1 SV2 Setor Verde 2 SV3 Setor Verde 3 SR Setor Residencial SEIS Setor de Interesse Social
Zona Especial de Proteo Cultural 01
2 Objetivos do Manual Conservar
O objetivo geral do manual Conser-
var: Olinda Boas Prticas no Casario
orientar proprietrios, locatrios,
arquitetos e pblico em geral sobre
as Boas Prticas de interveno nos
imveis do Stio Histrico de Olinda,
de modo a minimizar as perdas de
integridade e autenticidade, decorren-
tes do desconhecimento dos valores
patrimoniais a serem salvaguardados.
Seu contedo foi elaborado a partir
de: 1) entrevistas com tcnicos das
instituies de proteo; 2) levanta-
mento e anlise das legislaes que
incidem sobre a rea; 3) pesquisa e
anlise dos inventrios do casario
realizados na dcada de 1980 e entre
1999 e 2002; 4) levantamento e anli-
se dos projetos no casario aprovados
pelas instituies de proteo.
O termo Boas Prticas signifi ca que
os projetos de interveno arquitet-
nica foram aprovados pelas institui-
es de proteo por qualifi carem
o casario e garantirem os valores
patrimonais e as boas condies de
uso e habitabilidade dos imveis do
Stio Histrico de Olinda.
Os exemplos selecionados e que
ilustram o manual no pretendem
formatar modelos a serem seguidos.
Eles signifi cam solues para proble-
mticas relativas a tipologia arquite-
tnica, programas de necessidades e
projetos de interveno arquitetnica.
O Manual de Boas Prticas: 1) apre-
senta os valores patrimoniais e
conceitos que norteiam a proteo do
Stio Histrico de Olinda; 2) identifi ca
tipos arquitetnicos predominantes;
3) descreve as etapas necessrias
elaborao de projetos de interveno
arquitetnica; e 4) registra e analisa
solues de arquitetura executadas nas
edifi caes situadas no Polgono de
Tombamento de Olinda3 que resulta-
ram em intervenes de qualidade, ga-
rantindo a manuteno da signifi cncia
cultural e dos valores patrimoniais.
[3] O Polgono de Tombamento de Olinda consiste na delimitao fsica registrada no Livro do Tombo de Belas Artes, Histrico e Arqueolgico, Etnogrfi co e Paisa-
gstico do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional, atravs da Lei n 1.004/68, somando 1,2 km de rea, rerratifi cado em 1985.
Polgono de Tombamento de Olinda
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ConservarOlinda Boas Prticas no Casario
10
Para que as intervenes arquitetnicas realizadas no casario de Olinda
sejam capazes de assegurar a conservao dos valores patrimoniais do Stio
Histrico, imprescindvel o reconhecimento social dos atributos do Stio.
Isso porque por meio dos atributos de um bem tombado que so conferi-
dos os devidos valores patrimoniais.
Os atributos do Stio Histrico de Olinda podem ser entendidos como a base
fsica que compe e estrutura o conjunto tombado e que se expressa na
relao entre a paisagem natural e a construda. Na paisagem, esto presentes
o casario antigo, com a diversidade de tipologias, elementos estilsticos e tcni-
cas construtivas; o mar; a vegetao dos quintais, praas e parques; o traado
urbano e a topografi a acidentada em harmonia com a volumetria dos telhados.
A permanncia dos atributos e signifi cados culturais do Stio Histrico de
Olinda anunciada por um conjunto de valores que se mantiveram ao longo
do tempo e que podem ser identifi cados como de longa durao, quais
sejam: valores histricos, paisagsticos, urbansticos, arquitetnicos,
artsticos e culturais. Um valor de longa durao signifi ca que as qualida-
des e os predicados nele identifi cados perduram por anos e sculos. Esses
valores tm sido gradualmente reconhecidos pelas legislaes de proteo.
As primeiras atribuies de valor cidade de Olinda podem ser encontra-
das nas crnicas e nos textos histricos de viajantes e intelectuais. A leitura
da documentao histrica e a anlise da iconografi a disponvel permitem
inferir a existncia de valores identifi cados como de longa durao, nos
quais a qualidade positiva de beleza da paisagem atribuda, no mais das
vezes, ao dilogo que se realiza na relao entre topografi a, vegetao e
edifi caes (fi guras 1 e 2):
Toda a larga fatia de paisagem brasileira que o olhar recorta do
Alto da S ou da Misericrdia [...] um pedao de natureza tropi-
cal salpicado de vitrias dos homens sobre as cousas brutas; dos
portugueses sobre as selvas. Igrejas branquejando entre cajueiros.
[...] (Freyre, 1980, p. 09).
Em toda parte h lindas rvores, como laranjais, limoeiros, co-
queiros, tamarineiras [...], alguns particulares tm, prximos s
suas casas, parreirais, mas atualmente h pequenas uvas ainda
verdes (Pieter de Vroe, secretrio do Conselho Poltico, em carta
datada de 26/07/1630, citado em Mello, 1987, p. 43).
3 Os valores patrimoniais e a signifi cncia do Stio Histrico de Olinda
-
11
Esses atributos referenciados positivamente nos textos de diversos autores e
em distintos tempos histricos permaneceram mencionados nas legislaes
de proteo, nos pareceres e nos planos urbansticos existentes:
Olinda uma jia do Brasil [...]. Nela se renem admiravelmente
a paisagem marinha e a cidade de arte, com uma riqueza de vinte
igrejas barrocas e um grande nmero de casas antigas pintadas em
vivas cores. [...] Em Olinda, a arquitetura surge dentre os esplendo-
res da natureza tropical. [...] Essa feio esparsa do tecido urbano
deve ser absolutamente preservada. Olinda no uma cidade:
um jardim entremeado de obras-primas de arte (Parecer tcnico de
Michel Parent, consultor da Unesco, em 1972, in Delgado, 1974).
Olinda uma cidade verde, beira do mar, com um espao ve-
getal to importante quanto o prprio monumento. Mesmo a sua
arquitetura no to defi nida. [...] parte de uma casa do sculo
XVII, outra, do sculo XVIII. [...] h um acmulo de vivncias que
justifi cam a incluso de Olinda no Patrimnio da Humanidade
(Magalhes, 1982: 12).
Assim, da leitura de textos em diversos tempos histricos, depreende-se a rele-
vncia da paisagem e do relacionamento contnuo entre os elementos topo-
grfi cos, a forma urbana com seus modos de implantao das vias e edifi ca-
es em dilogo com as dimenses topolgica e tipolgica do Stio Histrico.
O valor histrico representado pelos movimentos libertrios presentes
na retomada de Pernambuco aos holandeses, nas iniciativas de libertao da
Coroa portuguesa e de independncia e nas disputas polticas e ideolgicas.
Esse valor est registrado em documentos histricos, nas culturas material e
imaterial. A forma urbana tambm se constitui em valor histrico por conter
o registro material do processo de ocupao territorial implantado pelos por-
tugueses no nordeste brasileiro ainda no sculo XVI. Esse processo seguia a
tradio medieval de defesa por altura, traado urbano irregular e conjunto
arquitetnico composto de casario homogneo e por monumentos predomi-
nantemente religiosos que se destacavam na paisagem.
O valor paisagstico atribudo relao harmnica que existe entre o mar,
a vegetao, a topografi a, o traado urbano (vias, quadras e lotes), o casario
e os monumentos. O Stio Histrico est implantado sobre um conjunto de
colinas contguas ao mar, onde a singularidade do meio ambiente construdo
2
1
1 | Vila de Olinda, Pernambuco depois do incndio de 1631. Desenho de Frans Post in BARLEUS, Gaspar, 1940. Histria dos feitos recentemente praticados no Brasil e noutras partes. Rio de Janeiro: Ministrio de Educao, prancha 10.
2 | "Olinda" gravura de Frans Post in REIS FILHO, Nestor Goulart, 2000. Imagens de vilas e cidades do Brasil Colonial, So Paulo: Coleo Uspiana, Brasil 500 anos.
-
12
conferida especialmente pelas edifi caes religiosas, com suas torres, que
pontuam e estruturam o tecido urbano e compartilham o protagonismo da
cena com o meio ambiente natural. O verde ondulado da vegetao presente
nos quintais se mescla aos tons terrosos dos telhados e dialoga com o azul do
mar, compondo, assim, uma paisagem singular.
A longa durao dos atributos paisagsticos pode ser observada por meio da
comparao de imagens de pocas distintas e onde esto presentes o verde
dos quintais, a pontuao das torres das igrejas, o casario, o mar e a cidade
do Recife ao fundo (fi guras 3 e 4).
Os valores urbansticos, arquitetnicos e artsticos esto registrados na
forma urbana, nas tipologias das edifi caes civis e religiosas, nas tcnicas
e nos materiais construtivos e nos elementos estilsticos. O acervo do Stio
Histrico de Olinda garante a representatividade de vrios sculos na evolu-
o da arte e da arquitetura transplantados para o Brasil, onde se destacam
desde as diversas manifestaes do barroco presentes nas fachadas das
igrejas e dos conventos, altares setecentistas at os conjuntos arquitet-
nicos eclticos dos sculos XIX e XX, que convivem em sintonia e muitas
vezes se sobrepem s estruturas dos perodos anteriores.
Baers (in Maior e Silva, 1992) descreve Olinda por volta de 1630, relacio-
nando os aspectos topogrfi cos com a localizao dos principais edifcios e
aglomeraes que perduram at hoje4:
No que diz respeito Praa de Olinda, a referir que ela est situa-
da em forma de ngulo no dorso de um alto monte, do qual uma
extremidade mais elevada do que a outra. No extremo mais alto
do monte, acha-se o Convento dos Jesutas, sendo o extremo norte
do lugar formado pelas encostas do mesmo monte; para o lado
sul, encontra-se o Convento dos Franciscanos, que tem um bonito
ptio com uma bela fonte onde o povo vai buscar gua para beber.
Descendo o monte, a partir do Convento dos Jesutas, depara-se
novamente com uma eminncia sobre a qual eleva-se a principal
igreja paroquial do lugar, chamada Salvador, a Casa da Cmara,
debaixo da qual acha-se o aougue, e direita acima dela a pri-
so, e uma grande parte da cidade, sendo a eminncia em cima
3
4
3 | Vista panormica de Olinda, tendo ao fundo o Rio Beberibe, o
istmo e o Porto do Recife in FERREZ, Gilberto, 1984. Raras e preciosas
vistas e panoramas do Recife, 1975-1855, Rio de Janeiro: Fundao
Nacional pr-Memria.
4 | Fotografi a ilustra a permanncia paisagstica ao longo de dois sculos.
Vista de Olinda para a cidade do Recife. Pickimagem 2010.
[4] J. Baers, cronista holands poca da invaso holandesa, fez importantes registros dos aspectos topo-
grfi cos, da ocupao territorial e dos principais monumentos ento existentes na Vila de Olinda.
-
13
plana e igual; tambm ali existe uma bela e larga rua ultimamen-
te chamada Rua Nova, que foi a primeira rua da cidade. Porm,
no extremo meridional, onde est situado o hospital, chamado
Misericrdia, desce o monte com to spero declive, que quase no
pode-se subi-lo sem grande esforo [...]. As casas no so baldas de
conforto, mas, cmodas e bem feitas, arejadas por grandes janelas,
que esto ao nvel do sto ou celeiro, mas sem vidros.
A permanncia dos valores urbansticos pode ser facilmente compreen-
dida pela observao das fi guras 5 e 6, que possuem um distanciamento
de quatro sculos. Nelas, podem-se observar a permanncia do traado
urbano, com suas vias, suas quadras e seus lotes, e, ainda, a localizao das
principais edifi caes civis e religiosas.
Os valores urbansticos e paisagsticos se conjugam em conjuntos urbanos
cujo eixo de visualidade integra a relao dos monumentos religiosos com
a topografi a acidentada e o casario. Aqui vale destacar, dentre outros, os
conjuntos paisagsticos constitudos pelo antigo Colgio Jesuta, pela Igreja
de N. Sa. da Graa (atual Seminrio de Olinda; fi guras 7 e 12) e pelas edifi -
caes religiosas que compem o Convento de So Francisco (Figura 8).
Esses agrupamentos ilustram a importncia das edifi caes religiosas no processo
de conformao do traado urbano. Nesse contexto, importa enfatizar a localiza-
o dos conventos, mosteiros e colgios nos relevos que se destacam no cenrio
urbano e o eixo focal que induz o olhar centralidade formatada pela igreja.
Como conjunto urbanstico, destacamos o casario, o Mosteiro e a Igreja de
So Bento (fi guras 9, 10 e 11) e o eixo monumental que relaciona a Igreja
do Amparo, o casario e a Igreja de So Joo. Estes agregam valores urba-
nsticos, paisagsticos e arquitetnicos evidenciados nos ptios, nos modos
5 6
5 | Mapa de Olinda, autoria no identifi cada, publicado em HERKENHOFF, Paulo, (org), 1999.O Brasil e os holandeses: 1630 1654. Rio de Janeiro: Sextante Artes.
6 | Vista area do Stio Histrico de Olinda. Disponvel in Google Maps, 2010. A anlise e comparao das imagens 5 e 6 ilustra a permanncia do traado urbano e da localizao monumentos.
-
18
17
15 16
13
9 10
11
12
14
7
8
-
15
de implantao do edifcio no lote e nas peculiaridades de relacionamento
entre edifcio, localizao geogrfi ca e topogrfi ca.
As ruas que foram conformadas desde o incio da colonizao, como, por
exemplo, a Rua do Amparo e a Rua de So Bento, distinguem-se pela maior
densidade de edifi caes dos sculos XVIII e XIX. J as ruas de constituio
posterior, como o caso da Rua do Bonfi m ou Rua Sete de Setembro, por
exemplo, detm, em sua predominncia, edifi caes com caractersticas de
incio e meados do sculo XX.
Por sua vez, os valores artsticos e arquitetnicos esto manifestados atravs
da unidade estilstica das edifi caes religiosas, da permanncia da tipologia
arquitetnica e das tcnicas construtivas, da diversidade de registros estilsti-
cos do casario e, ainda, dos bens mveis e integrados arquitetura.
As edifi caes civis comparecem com seu papel relevante, seja na confor-
mao das vias e quadras, seja nas distintas tipologias arquitetnicas (plan-
ta, volumetria, tcnica construtiva) presentes na cidade, como tambm na
diversidade estilstica que documenta praticamente quatro sculos de arqui-
tetura civil. Essas caractersticas so encontradas no percurso pela cidade,
na qual convivem, em dilogo, edifi caes com caractersticas dos sculos
XVIII, XIX e XX em suas distintas representaes estilsticas: casa mourisca
(Figura 13), neoclssica, ecltica, chal e art dco (fi guras 14 a 18).
Integram tambm os valores arquitetnicos o sistema estrutural e a tcnica
construtiva tradicional, caracterizada por paredes estruturais (de pedra ou
tijolo), com vigas ou teras que suportam caibros rolios, ripas de embiriba
e revestimento de cobertura de telha colonial e detalhes construtivos, como
os cachorros de pedra e o muxarabi.
Os materiais utilizados na construo das paredes exteriores so fundamental-
mente a alvenaria de pedra e a alvenaria de tijolo. As tcnicas da alvenaria de
7 | Igreja da Graa e Convento dos Jesutas, localiza-dos no morro mais alto do Stio Histrico de Olinda.
8 | Vista parcial do Convento Franciscano e adro. Destaque para a implantao, vegetao e composio dos telhados.
9 | Largo e Mosteiro de So Bento, referncia da arquitetura e urbanstica do perodo colonial.
10 | Nave e altar-mor da Igreja de So Bento, com destaque para os bens integrados.
11 | Detalhe da cantaria da Igreja de So Bento, com destaque para integrao do culo com a verga da portada principal, em estilo barroco.
12 | Nave e altar-mor da Igreja das Graas, com destaque para a composio maneirista e o jogo de iluminao do interior.
13 | Casario da Rua do Amparo, com evidncia para a diversidade estilstica das fachadas do sculo XVIII e XIX. Destaque para o sobrado mourisco com muxarabi apoiado sobre cachorros de pedra.
14 e 15 | Vistas parciais da Rua de So Bento, onde merecem destaque o sobrado do sculo XVIII com telhado em quatro guas, ao lado de imveis com fachadas art dco, ecltica e neoclssica. E casa trrea revestida em azulejo decorado.
16 | Local denominado Quatro Cantos, onde se verifi cam diversas solues estilsticas de fachada e portas neogticas ao fundo.
17 | Rua do Bonfi m, cujos imveis possuem jardins frontais, laterias e posterior, prprios do sculo XX.
18 | Rua 15 de Novembro comparece com edifi caes com fachadas prprias do art dco.
-
pedra so junta seca ou cangicado
(sucessivo encaixe de pedras de dife-
rentes dimenses, onde o preenchi-
mento dos vazios ocorre por meio da
utilizao de pedras menores e barro).
Ainda esto presentes a alvenaria mista
de pedra e tijolo (Figura 32) ou, ainda,
a taipa nas paredes divisrias e a alve-
naria em tijolo macio (Figura 33).
Em relao a fachadas e arremates
das coberturas, os exemplos mais
antigos so os sobrados mouriscos,
situados na Praa de So Pedro n 7 e
na Rua do Amparo n 28 (Figura 13).
Existem casos de tcnicas em alve-
naria e massa e o tradicional triplo
beiral, caracterizado pela aplicao de
telha tipo canal com a parte cncava
voltada para baixo, em vrias fi adas
aplicadas em camadas fazendo o res-
salto no paramento da parede. Exis-
tem tambm o caso de arremates com
volutas e arcos (fi guras 19 e 20), que
seguem diversos tempos histricos.
Por sua vez, existem ainda solues
de coberta que integram duas ou mais
edifi caes distintas (Figura 21) e que
constituem elementos bastante carac-
tersticos do casario do Stio Histrico.
No que se refere aos elementos
que integram a edifi cao ao clima
tropical, destacamos as portas e
janelas de madeira com gelosias ou
de fi cha com venezianas, dispondo
de bandeiras de ferro ou de madeira
(fi guras 24 a 30). Merecem desta-
que, ainda, detalhes construtivos
como conversadeiras (Figura 31),
que caracterizam as edifi caes com
origem no perodo colonial.
O valor cultural atribudo perma-
nncia dos testemunhos do passado,
das tradies sagradas e profanas
(procisses e Carnaval), alm de
msica, dana, gastronomia, artesanato
e artes plsticas. Essas manifestaes
constituem um conjunto de inestim-
vel riqueza imaterial. O sentimento
de pertencimento dos moradores est
contido na profunda relao afetiva
com o Stio, que, por sua vez, tem
sua base nas relaes de vizinhana,
favorecida pela confi gurao urbana e
pela forte participao social.
24 25
19 20 21
22 23
-
Com essa caracterizao, deseja-se
fazer entender que a manuteno
dos valores patrimoniais encontra-
-se intimamente relacionada com
a preservao dos atributos fsicos
do Stio Histrico, cujas qualidades
so as razes pelas quais o centro
antigo da vila de Olinda foi consi-
derado importante testemunho para
a cultura mundial, depoimento do
processo colonizador e do modo
de construo de cidades que os
portugueses implantaram, no sculo
XVI, no Brasil.
A conservao e preservao dos
atributos do Stio Histrico de Olinda
podem garantir a continuidade de
seu reconhecimento e sua valora-
o ao longo do tempo, tanto pela
populao como pelo corpo tcnico
patrimonial. importante salientar
que os arquitetos e engenheiros que
assinam os projetos arquitetnicos de
conservao, restaurao ou reforma
arquitetnica interferem diretamente
na manuteno ou destruio das
caractersticas e dos atributos do Stio
Histrico, ou seja, interferem ainda
na possibilidade de continuidade ou
ruptura do chamado esprito do lugar.
Quando se fala em esprito do lugar,
faz-se referncia quelas caractersticas
que so prprias ao lugar, construdas
ao longo do tempo e de geraes,
que remetem s suas origens e
formao da cidade. Caractersticas re-
conhecidas na substncia material das
edifi caes e nas lembranas que elas
evocam na populao local em cada
percurso, na paisagem descortinada
ou, ainda, na memria dos aconteci-
mentos que permanecem guardados
na lembrana dos seus moradores e
usurios (fi guras 22 e 23).
Sobre a signifi cncia cultural de
Olinda, trata-se dos modos como
os distintos grupos de moradores
ou usurios atribuem signifi cados
prpria estrutura do Stio, seus usos
e registros, ou seja, base material
ou imaterial. Pode ser entendida
como uma qualifi cao atribuda
ao bem em determinado perodo
histrico e/ou por um grupo social
especfi co ou estar a ele associada.
26 27 28 29 30
31
19 e 20 | As imagens ilustram a
diversidade de solues estticas
no arremate da empena com a
platibanda. Presena de volutas,
pinhas e arcos.
21 | Casas trreas com
cumeeiras contnuas.
22 e 23 | Ambientes que fazem referncia ao esprito do lugar. A disposio do mobilirio tradicional e tambm o revestimento de pisos em assoalho e forro em tabuado so elementos evidenciados.
24 | Detalhe de esquadria com gelosia (sc. XVIII).
25 | Janela veneziana e vidro com detalhe em guilhotina.
26 | Janela com verga em arco abatido, veneziana e caixilho de vidro.
27 a 30 | Janelas com veneziana e vidro, encimadas por bandeira em madeira e vidro simples ou com desenho e ornamentos de vidro colorido.
31 | Conversadeira, assentos que ladeiam as janelas e que esto presentes em residncias e edifi caes religiosas do Brasil Colnia.
-
ConservarOlinda Boas Prticas no Casario
18
O conhecimento dos tipos arquite-
tnicos edifi cados no Stio Histrico
de Olinda de fundamental impor-
tncia para que se promova a con-
servao desse ncleo histrico, j
que o casario fi gura como um dos
principais atributos reconhecidos
institucionalmente pelas leis e pelos
ttulos concedidos ao Stio.
O tipo arquitetnico presente no
casario pode ser considerado como
uma sntese do prprio Stio, dentro
de distintos contextos temporais.
Sntese porque o edifcio um
organismo que possui a experincia
do passado, mas, simultaneamente,
possui capacidade ou contm a pos-
sibilidade de adaptao s neces-
sidades presentes e futuras. Desse
modo, a identifi cao dos tipos
edifi cados passa por um repertrio
de referncias arquitetnicas e urba-
nsticas em suas mltiplas relaes
espaciais, programticas, compositi-
vas e tecnolgicas.
Nessa abordagem, foi possvel a
identifi cao de um conjunto de
formas invariveis, que permane-
ceram por um processo de longa
durao, denominado Tipo Base, e
que caracteriza, de modo relevante,
o casario tombado do Stio Histrico
de Olinda. A constituio do Tipo
Base se d pela combinao de trs
variveis: 1) implantao; 2) planta
baixa; e 3) volumetria.
4 Identifi cando tipos arquitetnicosno Stio Histrico de Olinda
Na implantao, so consideradas:
1) a localizao do lote na quadra; 2)
a localizao do edifcio no lote; 3) a
taxa de ocupao; e 4) a adaptao da
edifi cao na topografi a do terreno.
No que se refere planta baixa,
foram levados em considerao: 1) a
disposio dos cmodos; 2) o uso do
imvel e as funes dos ambientes; e
3) os modos de acrscimo no imvel
(se transversal ou paralelo edifi ca-
o principal, se houve introduo
de mezanino, poo e/ou edcula).
Em se tratando da volumetria, so
observadas: 1) a orientao das
linhas de cumeeira (se paralela ou
transversal ao alinhamento da rua ou
se composta, com rinco ou espigo)
e sua distncia em relao rua; 2) a
inclinao dos panos de cobertura; e
3) a existncia de elementos arquite-
tnicos nos panos da cobertura.
Desse modo, dentre as caracters-
ticas comuns que esto presen-
tes no Tipo Base, encontramos a
implantao, no terreno, nos limites
frontal e laterais do lote, com recuo
posterior, embora eventualmente
apresente um recuo lateral e con-
formao de planta baixa com sala
frontal, corredor lateral ou central
com acesso aos quartos (alcovas) e
sala posterior. Em termos de volu-
metria, dispe de linha da cumeeira
paralela rua, deslocada a 1/3 ou a
-
19
tipos, que no se encontram aqui
mencionados, correspondem a um
perodo mais recente de evoluo ur-
bana de Olinda e esto situados nas
ruas de ocupao do sculo XX. Sob
os aspectos estilsticos, correspondem
s edifi caes eclticas, chals ou
ainda protomodernas. Embora no
apresentem as caractersticas de con-
formao arquitetnica do Stio His-
trico tradicional, essas edifi caes
tambm devem ser consideradas em
termos de volumetria, implantao e
integrao contextual quando objeto
de interveno arquitetnica.
Alm dessa classifi cao, foram
tambm identifi cadas edifi caes
que no correspondem a nenhum
tipo arquitetnico defi nido. Elas
esto principalmente associadas ao
fato de terem perdido as caracte-
rsticas ou os registros essenciais,
que contribuem para essa anlise e
defi nio. Assim sendo, esto aqui
classifi cadas como esteretipos.
Esteretipos
Os esteretipos podem ser iden-
tifi cados quando ocorre evoluo
tecnolgica, alteraes das prticas
sociais sobre a ocupao do espao
e, ainda, quando acontece a pr-
pria deteriorao fsica do objeto
construdo, que fi ca sujeito a um
processo de obsolescncia e de
transformao de tipos.
Essas transformaes podem con-
fi gurar novos tipos ou indicar uma
referncia a um contedo que no
mais existe. Exemplo de estereti-
pos so aqueles imveis que man-
tm apenas a fachada principal, mas
passaram por transformaes de
carter tcnico, programtico e com-
positivo. Esses imveis, geralmente,
encontram-se em condio irregular
por terem passado por modifi caes
sem a aprovao das instituies de
proteo. Esses casos so desacon-
selhados de assim permanecerem,
devendo ser submetidos aos meca-
nismos de legalizao conforme as
orientaes normativas.
O estudo das tipologias arquitetni-
cas busca orientar o entendimento
sobre a edifi cao e auxiliar no
controle qualitativo dos projetos de
interveno arquitetnica. Ele serve
como base para a identifi cao dos
elementos construtivos merecedo-
res de permanncia e, ao mesmo
tempo, orienta as possibilidades de
inovaes nos projetos.
1/2 da rua e com inclinao da co-
berta, nas edifi caes mais antigas,
entre 40% e 45%.
importante tambm salientar o
sistema construtivo composto por
1) sistema de coberta, com estrutura
em madeira (traves, caibros e ripas);
coberta de telha cermica canal,
tipo capa e bica, com beiral ou pla-
tibanda com calha; 2) alvenaria, que
pode ser: alvenaria de pedras, alve-
naria mista (pedra e tijolo) e tijolos
macios; 3) revestimento da alve-
naria em argamassa de cal e areia;
e 4) revestimentos internos carac-
terizados por trreo em cimentado,
tijoleira ou ladrilhos hidrulicos. No
sobrado, o revestimento feito em
assoalho de madeira.
Embora essas caractersticas estejam
presentes no Tipo Base, essa tipolo-
gia admite variaes de elementos
comuns que confi guram cinco tipos
arquitetnicos na poro mais anti-
ga de Olinda. So eles: meia-mora-
da, morada-inteira, poro alto com
meia-morada ou morada-inteira,
meio-sobrado e sobrado-inteiro, que
sero descritos em seguida.
Devemos ressaltar que essa classifi ca-
o no abarca a totalidade de tipos
arquitetnicos existentes no Stio His-
trico de Olinda, mas corresponde,
em uma perspectiva cronolgica, s
edifi caes mais antigas. Os demais
-
Implantao:
imvel fronteiro rua com recuo
posterior, admitindo-se, em certos casos,
o recuo lateral e adaptao do edifcio
topografi a do terreno.
Planta baixa:
edifi cao com sala frontal, corredor
lateral com acesso aos quartos
(alcovas), sala posterior, podendo ou
no apresentar acesso ntimo entre
os quartos. O acrscimo posterior
edifi cao principal ocorre de modo
transversal ou paralelo, sendo destinado
aos cmodos de servios (cozinha,
B.W.Cs., depsito e lavanderia).
Volumetria:
edifi cao trrea com cumeeira paralela
rua, localizada a 1/3, 1/2 ou 2/3
de distncia da rua, e telhados com
inclinao de 40% a 45%.
Legendas
1. Circulao
2. Sala de Estar
3. Sala de Jantar
4. Quarto / Alcova
5. Cozinha
6. Copa
7. B.W.C.
8. rea de Servio
1. | Planta Baixa | Coberta
2. | Planta Baixa | Trreo
3. | Corte
4.1 Tipo meia-morada
24 4
1
3
5 6 7
8
2 1 3 5 6 7
RU
AR
UA
RUA
-
21
Implantao:
imvel fronteiro rua com recuo
posterior, admitindo-se, em certos casos,
o recuo lateral e adaptao do edifcio
topografi a do terreno.
Planta baixa:
edifi cao com sala frontal, corredor
central com acesso aos quartos
(alcovas), sala posterior, podendo ou
no apresentar acesso ntimo entre
os quartos. O acrscimo posterior
edifi cao principal ocorre de modo
transversal ou paralelo, sendo destinado
aos cmodos de servios (cozinha,
B.W.Cs., depsito e lavanderia).
Volumetria:
edifi cao trrea com cumeeira paralela
rua, localizada a 1/3, 1/2 ou 2/3
de distncia da rua, e telhados com
inclinao de 40% a 45%.
Legendas
1. Circulao
2. Sala de Estar
3. Sala de Jantar
4. Quarto / Alcova
5. Cozinha
6. B.W.C.
7. Terrao
1. | Planta Baixa | Coberta
2. | Planta Baixa | Trreo
3. | Planta Baixa | Subsolo
4. | Corte
4.2 Tipo morada-inteira
7
2
4 4
4 4
1 3
7
64
56
2 4 4 3
5
RU
AR
UA
RUA
-
1. | Planta Baixa | Coberta
2. | Planta Baixa | Trreo
3. | Planta Baixa | Subsolo
4. | Corte
Implantao:
imvel fronteiro rua com recuo
posterior, admitindo-se, em certos casos,
o recuo lateral e adaptao do edifcio
topografi a do terreno.
Planta baixa:
edifi cao com sala frontal, corredor de
acesso aos quartos (alcovas), que pode
ser lateral ou central, sala posterior,
poro alto e eventual terrao lateral. O
acrscimo posterior edifi cao principal
ocorre de modo transversal ou paralelo,
sendo destinado aos cmodos de servios
(cozinha, B.W.Cs., depsito e lavanderia).
Volumetria:
edifi cao trrea, com cumeeira paralela
rua a 1/3, 1/2 ou 2/3 de distncia da rua.
Telhados com inclinao de 40% a 45%,
ou ainda com 30%, conforme legislao.
Legendas
1. Hall
2. Circulao
3. Sala de Estar
4. Sala de Jantar
5. Quarto / Alcova
6. Cozinha
7. Copa
8. B.W.C.
9. rea de Servio
10. rea Livre
11. Terrao
12. Escritrio
13. Quarto de Empregada
14. Banheiro de Empregada
15. Rouparia
16. Depsito
17. Churrasqueira
4.3 Tipo poro alto com meia-morada ou com morada-inteira
3
5
5 5
2 4
1
1
11
11
7 68
15
11
10
1613914
17
12
3 5 5
155
2
18
3 2 4
12 2 15 15
11 10 11
RU
AR
UA
RU
A
RUA
-
23
1. | Planta Baixa | Coberta
2. | Planta Baixa | Trreo
3. | Planta Baixa | 1 Pavimento
4. | Corte
Implantao:
edifi cao adaptada topografi a
sem possibilidade de ampliao no
trreo, por se achar restringida pelo
relevo, e que possui simultaneamente
caractersticas de sobrado e de casa
trrea. Na sua origem, esteve identifi cado
com o uso misto de comrcio no trreo e
residncia no pavimento superior.
Planta baixa:
edifi cao com comrcio no trreo e
pavimentos superiores residenciais, com
disposio de planta do tipo meia-
-morada ou morada-inteira. A escada de
acesso ao pavimento superior se dispe
independentemente do uso do trreo. O
acrscimo posterior edifi cao principal
ocorre de modo transversal ou paralelo,
sendo destinado aos cmodos de servios
(cozinha, B.W.Cs., depsito e lavanderia).
Volumetria:
possui simultaneamente caractersticas
de sobrado e de casa trrea. Dispe de
cumeeira paralela rua a 1/3, 1/2 ou
2/3 de distncia da rua. Telhados com
inclinao de 40% a 45% ou ainda com
30%, conforme legislao.
Legendas
1. Hall
2. Circulao
3. Copa
4. B.W.C.
5. rea Livre
6. Secretaria / Escritrio
7. Sala de Computao
8. Sala de Reunio
9. Sala das Bandeiras
4.4 Tipo meio-sobrado
9
1
6
8
7
2
8
8
8
5
3 4 4
6 2
9
85
RU
AR
UA
RU
A
RUA
-
Implantao:
imvel fronteiro rua com recuo
posterior, admitindo-se, em certos casos,
o recuo lateral e adaptao do edifcio
topografi a do terreno.
Planta baixa:
edifi cao com disposio de planta do
tipo meia-morada ou morada-inteira,
com circulao e escada lateral para
acesso ao segundo pavimento.
Volumetria:
edifi cao em dois pavimentos,
cumeeira paralela rua com localizao
a 1/3, 1/2, ou 2/3 de distncia da rua.
Na sua origem, podia estar destinado
a residncia unifamiliar ou a comrcio
no trreo e residncia no pavimento
superior.
Legendas
1. Hall
2. Circulao
3. Sala de Estar
4. Sala de Jantar
5. Quarto / Alcova
6. Cozinha
7. Copa
8. B.W.C.
9. rea Livre
10. Terrao
11. Sem Uso
12. Depsito
1. | Planta Baixa | Coberta
2. | Planta Baixa | Trreo
3. | Planta Baixa | 1 Pavimento
4. | Planta Baixa | Subsolo
5. | Corte
4.5 Tipo sobrado-inteiro
3
1
3
2
2
125
4
7
7
6
108
9
11
11
11
9
8
3
11 11
7 6 8
8
3 3
2
2
3
4
5
5
3 3
2
RU
AR
UA
RU
A
RUA
-
25
1. | Planta Baixa | Coberta
2. | Planta Baixa | Trreo
3. | Planta Baixa | 1 Pavimento
4. | Planta Baixa | Subsolo
5. | Sto
6. | Corte
Implantao:
imvel fronteiro rua e sem recuos,
aproximando a taxa de ocupao aos
100%, e as reformas no edifcio alteram
a topografi a do terreno.
Planta baixa:
em geral, adota o partido de planta
em vo livre, e os acrscimos podem
ocorrer i) verticalmente, com a
introduo de pavimentos, ou ii)
posteriormente, de modo paralelo
ao edifcio principal, destinado aos
cmodos de servios (cozinha, B.W.Cs.,
depsito e lavanderia).
Volumetria:
em geral, a edifi cao apresenta um
maior nmero de pavimentos do que
o que se refl ete na fachada principal,
os telhados dispem de vrios panos
de cobertura e possuem diversas
inclinaes (10%, 15%, por exemplo),
e as cumeeiras se localizam paralelas
rua. Alm disso, apresenta elementos
arquitetnicos desaconselhados na
coberta, como o terrao frontal e a laje.
Legendas
1. Cozinha
2. Copa
3. B.W.C.
4. rea Livre
5. Varanda
6. Despejo
7. Despensa
8. Terrao
9. Escritrio
10. Depsito
4.6 Esteretipos
99
3
107
251
3
88
6 4103
8
9 92 1
10 6
5
8
RU
AR
UA
RU
A
RUAObs.: O esteretipo o resultado das altera-
es realizadas no imvel que deformam um
tipo arquitetnico.
-
ConservarOlinda Boas Prticas no Casario
26
Antes de iniciar as orientaes sobre
como executar projetos para o Stio
Histrico de Olinda, necessrio
salientar que essa uma atividade que
exige um conjunto de conhecimentos
especfi cos, tais como: 1) legislaes de
proteo; 2) metodologias de projeto
de interveno arquitetnica; 3) histria
da Arquitetura; e 4) tcnicas constru-
tivas e materiais de construo. Alm
disso, importante conhecer os con-
ceitos e as teorias que fundamentam e
justifi cam as legislaes de proteo.
Embora a atividade de interveno
em stios histricos seja uma especia-
lidade do campo da Arquitetura, im-
prescindvel que os princpios bsicos
que conduzem essa atividade sejam
compreendidos cada vez mais pelo
maior nmero de pessoas possvel.
De posse dos conceitos e do conhe-
cimento, os usurios e moradores de
um stio histrico podem optar por
uma atuao mais consciente, o que
certamente levar conservao e
preservao dos valores histricos,
paisagsticos, urbansticos, arquitet-
nicos ou culturais ali presentes. Cada
conceito remete a um tipo de projeto
ou interveno ou ao especfi ca,
mas, em alguns casos, mais de um
conceito embasa o projeto de inter-
veno arquitetnica no casario.
Abaixo, seguem, apresentados e
comentados, alguns conceitos que
fundamentam as legislaes federal
e municipal de proteo.
5.1 Conceitos e preceitos legais
Primeiramente, importante sa-
lientar que o tombamento do Stio
Histrico de Olinda no signifi ca o
congelamento da cidade num de-
terminado tempo histrico. O Stio
Histrico segue tendo sua vida, e,
nele, so admitidas modifi caes nas
edifi caes, desde que sigam as nor-
mas estabelecidas nas leis. Essas leis,
como j foi visto, tentam assegurar
a permanncia dos valores patrimo-
niais utilizando critrios urbansticos
tais como zoneamento, setorizao,
ndices e padres de ocupao (taxa
de ocupao, coefi ciente de utiliza-
o, gabaritos, etc.), alm da defi ni-
o de usos e atividades permitidos.
A terminologia interveno arquite-
tnica em stio histrico se refere
a toda ao realizada em edifi cao
sujeita legislao de proteo ou
ao tombamento. Diz respeito a vrios
tipos de execuo de obras, sejam
elas pequenos servios, manuteno,
obras de conservao, de restaura-
o, de reforma ou nova construo
ou mesmo de demolio. Depen-
dendo do tipo de execuo da obra,
o projeto deve vir acompanhado de
Memorial Justifi cativo que explicite
seu objetivo, os princpios e as me-
todologias utilizadas, referenciando
em que medida a ao proposta est
integrada aos objetivos de conserva-
o e valorizao das caractersticas
urbansticas, arquitetnicas e paisa-
gsticas do stio histrico.
5 Orientao para proprietrios, arquitetos e engenheiros que realizam projetos de interveno arquitetnica no casario de Olinda
-
27
Conservao se refere a toda inter-
veno de natureza preventiva, que
consiste na manuteno da edifi ca-
o e na reparao de instalaes,
elementos de composio da arqui-
tetura ou, ainda, manuteno do
sistema estrutural, dos materiais de
construo e de revestimento.
Restaurao diz respeito a toda in-
terveno de natureza corretiva, que
consiste na reconstituio da edifi ca-
o, recuperao das estruturas afe-
tadas, dos elementos destrudos ou
danifi cados. A obra de restaurao
procura preservar os elementos de
maior relevncia que foram acres-
cidos ao longo do tempo, resguar-
dando a histria da edifi cao. A
restaurao das edifi caes dever
fi car condicionada existncia de
documentao ou indcios no local,
devendo o projeto ser precedido por
pesquisa histrica e arqueolgica.
Ainda acerca do termo restaurao,
o art. 44 da Lei Municipal n 4.849/92
estabelece:
Sero consideradas de interesse para
a revalorizao do Conjunto Mo-
numental, as obras de restaurao
defi nidas no art. 44, tais como:
I. Eliminao de acrscimos, com-
provadamente desvinculados do
contexto arquitetnico e ambiental.
II. Modifi cao das fachadas, res-
tabelecendo as relaes compat-
veis com as dimenses do imvel
e da vizinhana imediata, utili-
zando elementos de acabamento
adequados ao conjunto.
III. Recomposio dos telhados no
que se refere a materiais, dispo-
sio e detalhes, com eliminao
dos elementos incompatveis com
as caractersticas da edifi cao e
do conjunto.
Reforma ou nova construo
toda interveno arquitetnica que
deve respeitar as caractersticas da
vizinhana nos aspectos de volume-
tria, implantao, forma e densida-
de de ocupao do terreno, tipo
e inclinao da coberta, materiais
de revestimento externo (paredes,
cobertura) e esquadrias. As obras
de reforma tambm esto sujeitas
a pesquisa histrica e arqueolgi-
ca e, em certos casos, a pareceres
estruturais.
Demolio, em geral, remete
eliminao de acrscimos desvincu-
lados do contexto arquitetnico e
urbano. Ela acontece tambm nos
casos das edifi caes apresentarem
riscos estabilidade, necessidade
de conforto ambiental ou ainda
para atender novos Programas de
Necessidades.
5.2 Metodologia de projeto
Para dar incio ao projeto de inter-
veno arquitetnica em um imvel
-
ConservarOlinda Boas Prticas no Casario
28
do Stio Histrico de Olinda, torna-se
necessrio que o projetista respons-
vel rena uma srie de informaes
e dados projetuais que o possam
conduzir a defi nir uma boa soluo
arquitetnica. Essas informaes
encontram-se aqui descritas em
cinco etapas metodolgicas, que no
signifi cam exatamente uma ordem de
prioridade: algumas aes podem vir
antes ou depois das outras, mas todas
elas so, em princpio, necessrias. O
diagrama abaixo ilustra o processo.
Defi nio do Programa Arquite-
tnico, ou Programa de Necessi-
dades
O proprietrio deve registrar em
caderno todas as suas necessidades
Defi nio do
Programa de
Necessidades
Consulta s
legislaes de
proteo
Pesquisas
complementares:
histrica
(texto e iconografi a)
e arqueolgica
Levantamento fsico
arquitetnico do imvel,
classifi cao tipolgica
e registro do estado de
conservao
em relao s obras e/ou mudanas
que deseja realizar no imvel. Essa
relao classifi cada em Arquitetura
como Programa Arquitetnico,
ou Programa de Necessidades.
Esse programa deve ser elaborado,
conjuntamente, pela pessoa que est
contratando a obra e pelo projetista.
Constam do Programa de Necessi-
dades dados relativos aos cmodos:
quantitativos, dimensionamento e
suas funes (quartos, salas, es-
critrio, banheiros, terrao, etc.),
alm da populao que ir morar
ou utilizar o imvel, o mobilirio
e inmeros outros itens que sejam
necessrios para seu dimensiona-
mento. Deve-se ter em mente que o
Programa Arquitetnico um dado
Levantamento de
informaes relativas
ao conjunto
urbano-arquitetnico
Anlise das
informaes e
simulao de
solues
projetuais
Base terica:
instrumentos
projetuais para
atuar sobre a forma
construda
Desenvolvimento do projeto:
Planta de situao, locao, planta baixa, cortes, fachadas, detalhes construtivos (se
necessrios) e quadro de especifi cao de materiais e esquadrias.
Fase 1
Fase 2
Fase 3
-
29
[5] O conceito de capacidade de carga no mbito deste trabalho se refere aos limites que um ambiente ou uma edifi cao pode suportar em funo da interao
entre as atividades humanas e a base fsica preexistente, sem perder suas caractersticas tipolgicas e arquitetnicas essenciais. Est relacionado com a volumetria,
as caractersticas topogrfi cas e o sistema construtivo. Por exemplo, recorrentemente as edifi caes identifi cadas como esteretipos no respeitam a capacidade de
carga do imvel ao ultrapassar seu suporte fsico. Outro exemplo a substituio das tcnicas construtivas tradicionais por tcnicas contemporneas que eliminam os
registros histricos e, consequentemente, o esprito do lugar.
cultural e se modifi ca com o tempo
pelo conjunto de atividades sociais
e necessidades criadas pelo homem.
As necessidades funcionais corres-
pondem utilizao dos ambientes
internos do imvel, sua comparti-
mentao, visando permanncia
ou adaptao do uso existente ou,
ainda, introduo de um novo uso.
O projetista, de posse do Programa
Arquitetnico solicitado pelo contra-
tante, dever relacionar a demanda
programtica com as restries urba-
nsticas e com o potencial construti-
vo existente. Ele deve considerar que
as edifi caes histricas acumulam,
em sua substncia fsica (paredes,
janelas, telhados), registros histri-
cos de culturas e modos de viver de
outros tempos. Essas edifi caes, por
terem permanecido ntegras (tan-
to na sua estrutura fsica como na
disposio de cmodos e vos), sem
grandes modifi caes, so considera-
das um rico arquivo de informaes
sobre o passado de uma sociedade.
Portanto, um imvel tombado por
suas caractersticas histricas possui
vrias restries projetuais, tanto no
que se refere manuteno da sua
relao com o conjunto edifi cado
como em relao manuteno dos
traos da memria edifi cada, das
caractersticas arquitetnicas, tipol-
gicas ou estilsticas, relacionadas com
o perodo colonial, neoclssico, ecl-
tico ou, ainda, com o protomoderno.
Muitas vezes, ocorre de o proprie-
trio desejar um projeto que no
se adapta s caractersticas fsicas e
arquitetnicas do local. Por exemplo,
ele solicita um programa (deman-
da de espaos) que s poderia ser
construdo se o imvel fosse com-
pletamente descaracterizado. Ou
seja, o programa extrapola o que se
convencionou chamar capacidade
de carga do imvel5. Nesse caso, o
projetista deve orientar o proprietrio
ou demandante do projeto a redi-
mensionar seu Programa de Necessi-
dades ou a buscar outra edifi cao,
mais adequada s suas necessidades.
Esse fato ocorre, na maioria das ve-
zes, quando os imveis residenciais
so adaptados a novos usos, como
o caso de restaurantes e pousadas.
O grande desafi o de intervir em um
imvel histrico encontrar o limite
justo entre a manuteno do esprito
do lugar, das caractersticas fsicas,
histricas e artsticas e a adequao
s novas demandas que so coloca-
das pela sociedade do sculo XXI.
Consulta s legislaes de proteo
Para realizar qualquer obra de inter-
veno no casario do Stio Histrico
de Olinda, o proprietrio e o projetista
devem conhecer as legislaes de
proteo (federal e municipal) que
regulamentam as obras e os usos do
lugar. A consulta legislao possibili-
ta identifi car a situao do imvel em
relao zona e aos setores em que
-
30
32 | Prospeco revelou alvenaria mista,
tijolo e pedra.
33 | Alvenaria de tijolo macio.
est inserido, assim como os ndices e
os padres urbansticos defi nidos.
Essas legislaes esto indicadas no
encarte que acompanha este manual
e podem ser consultadas no site do
Ceci (www.ceci-br.org) e nas sedes
da Prefeitura Municipal de Olinda
e da Superintendncia do Instituto
do Patrimnio Histrico e Artstico
Nacional em Pernambuco.
Levantamento de informaes
relativas ao conjunto urbano-
-arquitetnico
Essa etapa diz respeito ao levanta-
mento de informaes relativas ao
conjunto urbano-arquitetnico em
que o imvel est inserido, ou seja,
imprescindvel que o projetista
reconhea os elementos que carac-
terizam o conjunto edifi cado e lhe
conferem especifi cidade. O projeto a
ser concebido dever contribuir para
a valorizao e o prolongamento
da identidade do lugar, consideran-
do tambm o edifcio no conjunto
urbano-arquitetnico em que se
encontra e avaliando os condicio-
nantes histricos e a situao atual.
Da a importncia do reconhecimen-
to do processo evolutivo da forma
urbana e a identifi cao dos padres
historicamente conformados.
As informaes relativas forma
urbana referem-se ao traado, s
tipologias arquitetnicas (volumetria,
tipos de cobertura e revestimen-
35
to), vegetao existente e taxa
de ocupao predominantes no
conjunto. Esses dados podem ser
obtidos por meio de registro fotogr-
fi co areo do conjunto ou mesmo
atravs de outros registros contidos
em arquivos ou em documentao
fotogrfi ca de famlias. Outro recurso
utilizado para anlise e compreenso
da evoluo histrica do conjunto
edifi cado o levantamento e a anli-
se da cartografi a e de ortofotocartas.
Levantamento fsico arquitet-
nico do imvel, classifi cao
tipolgica e registro do estado de
conservao
O levantamento arquitetnico da
edifi cao pressupe:
A coleta do conjunto de infor-
maes indispensveis com-
preenso da substncia fsica da
edifi cao, sendo necessrio seu
levantamento fsico arquitetni-
co, com a representao grfi ca
atualizada do imvel (planta de
situao, planta de locao e co-
berta, plantas baixas de todos os
pavimentos, cortes e fachadas).
Registro e documentao (desenho,
fotografi a) das tcnicas construtivas
e do estado de conservao das
tcnicas, dos elementos construtivos
e dos elementos de arquitetura.
Registro fotogrfi co da situao
atual do imvel.
32
33
-
31
A anlise dos elementos tipolgicos
(implantao, planta baixa e volume-
tria) conduz classifi cao do tipo edi-
fi cado do imvel que ser objeto de
projeto de interveno arquitetnica.
Pesquisas complementares: hist-
rica e arqueolgica
Pesquisa histrica
A pesquisa histrica um gran-
de auxlio para se compreender a
evoluo da edifi cao, desde sua
origem at a contemporaneidade.
Essa pesquisa consta de:
Levantamento e registro de dados
e informaes histricas sobre o
imvel, recorrendo a documentos
escritos (registro em cartrio de
imvel, jornais locais, inventrios,
entre outros) e fontes iconogrfi cas
(mapas, plantas de projetos arquite-
tnicos, fotos, pinturas, gravuras).
Estudos sobre estilos e tipologia
arquitetnica por meio de dados
que podem ser encontrados nos
acervos dos inventrios realiza-
dos pela Prefeitura Municipal de
Olinda e pelo Iphan.
Pesquisa arqueolgica
A pesquisa arqueolgica uma infor-
mao relevante para as decises de
projeto. Ela dever adotar o procedi-
mento de mnima invaso na estrutura
antiga edifi cada, visando apenas a
responder lacunas das informaes
histricas. Quando no h esse cuida-
do, a prospeco pode comprometer
a integridade e autenticidade do im-
vel. Assim sendo, o proprietrio do
imvel dever disponibilizar pedreiro
que, sob a orientao do arquelogo
da municipalidade, ir realizar a pros-
peco arquitetnica em fundaes,
paredes, pisos ou mesmo em elemen-
tos estilsticos, a partir das necessida-
des do projetista ou das demandas
das instituies de proteo.
A prospeco arquitetnica indi-
cada em restaurao e na identifi -
cao de modifi caes que tenham
descaracterizado o imvel ou o
conjunto arquitetnico. As fi guras
32 e 33 ilustram o procedimento de
prospeco invasiva que deve ser
evitado por comprometer a integri-
dade e autenticidade da edifi cao.
Anlise das informaes
De posse de todas as informaes
relacionadas nas etapas anteriores,
o projetista dever realizar uma
cuidadosa anlise. Um elemento
importante referente anlise das
informaes a compreenso do
valor arquitetnico e simblico da
edifi cao. Por exemplo, existem
edifi caes que so exemplares ni-
cos e, por isso, merecem um olhar
atento e cauteloso no momento da
proposio de qualquer interven-
o. Esse exemplar pode se distin-
guir dos demais por diversas razes:
-
ConservarOlinda Boas Prticas no Casario
32
Possuir uma planta baixa singu-
lar, que no encontrada em
outros imveis, a exemplo de
edifi caes com caractersticas
eclticas que possuem como dire-
triz projetual os eixos de simetria,
conformados tanto em planta
baixa quanto em fachadas.
Apresentar detalhes construtivos
nicos que possibilitem confor-
to trmico e lumnico, como os
altos ps-direitos dos edifcios, as
trelias, as bandeiras das portas e
janelas, entre outros.
Possuir valores artsticos, a exem-
plo das fachadas das igrejas, dos
bens integrados s edifi caes,
como forros, retbulos, esqua-
drias, tribunas, azulejos nas facha-
das, entre outros.
A etapa de anlise das informa-
es abre espao para a simulao
grfi ca das possveis solues de
projeto, que devero ser avaliadas
a partir de instrumentos projetuais
para operar sobre a forma constru-
da. Isso signifi ca que o ato criador
do arquiteto deve ser contido ele
necessita prestar reverncia heran-
a e memria culturais. Assim, o
projetista dever ter em mente que
seu projeto precisa agregar valor ao
stio histrico ou mesmo recuperar
algumas caractersticas que tenham
sido perdidas.
Instrumentos projetuais para atuar
sobre a forma construda
Quando se trata de projetos arqui-
tetnicos que tm como suporte
fsico os stios histricos, vrias so
as possibilidades metodolgicas de
interveno, e muitas so as cor-
rentes tericas que podem vir a ser
adotadas. No caso do Stio Histrico
de Olinda, a legislao recomenda
o respeito tipologia arquitetnica,
aos valores patrimoniais, s tcni-
cas e aos materiais de construo e
de revestimento, o que indica uma
aproximao com uma metodologia
voltada para a integrao formal
contextual.
O autor Francisco de Gracia6 salienta
a importncia de respeitar o princpio
do carter unicum e do processo de
formao do lugar. Ele sistematizou
distintas correntes tericas e metodo-
logias que vm sendo adotadas por
arquitetos com vista ao estudo e
classifi cao de projetos por ele de-
nominadas Construir no Constru-
do. Dessa sistematizao, selecio-
namos trs princpios que possuem
proximidades terico-metodolgicas
com as legislaes federal e munici-
pal de proteo ao Stio Histrico de
Olinda, as quais fornecem orienta-
es projetuais para intervenes em
Olinda que visam ao estabelecimento
de parentesco tipolgico e/ou inte-
grao contextual:
[6] Francisco de Gracia (1992). Construir en lo Construido, la arquitetura como modifi cacin, Madrid, editorial NEREA.
-
33
Busca da correspondncia mtrica,
geomtrica, das leis de proporo e
de harmonia existentes no processo
de formao da cidade, de modo a
identifi car a escola arquitetnica e
formal qual o edifcio est fi liado.
Reintegrao de recursos fi gurati-
vos ou estilsticos para favorecer a
continuidade da imagem, sem que
isso signifi que a adoo do pastiche.
Nesse caso, muitas vezes, trata-se da
adoo de solues tcnicas e cons-
trutivas que remetam s caracters-
ticas tipolgicas e/ou estilsticas do
conjunto existente. desejvel que
seja facilmente reconhecida como
uma interveno contempornea,
embora possua elementos que fa-
zem referncia tipologia do lugar.
Investigao e validao das elei-
es formais por meio da identifi -
cao de parentesco tipolgico ou
das leis formadoras da cidade. Pode
tambm remeter ao parentesco de
formas e volumes, desestimulando
propostas de interveno arquite-
tnica que se fundamentem em
princpios de contraste e ruptura.
O esforo deve ser voltado para a
busca de uma totalidade integrado-
ra e para o entendimento dos ele-
mentos que constituem e conferem
a continuidade da forma da cidade.
Em termos topolgicos, a contri-
buio formal deve estar inscrita
na justaposio, na incluso e na
interseco formal, jamais sendo
adotado o contraste ou a excluso.
Todos esses princpios e/ou etapas
metodolgicos so necessrios para
a concepo e o desenvolvimen-
to de um projeto de interveno
arquitetnica em stios histricos.
importante que o projeto se apre-
sente o mais esclarecido e justifi -
cado possvel. A expresso grfi ca
do projeto um dos elementos que
fundamentam a anlise da interven-
o, mas ela s no sufi ciente,
importa tambm toda a documenta-
o complementar, como pesquisas
e estudos tipolgicos e contextuais,
que tm como fi nalidade facilitar o
entendimento da proposta arqui-
tetnica e minimizar o carter de
subjetividade que muitas vezes
recorrente durante a anlise tcnica.
Desenvolvimento do projeto
De posse de todas as informaes
e posturas necessrias ao desenvol-
vimento do projeto arquitetnico
de interveno, o mesmo deve
ser fi nalizado e bem representa-
do, tanto em termos de expresso
grfi ca como em termos de justifi -
cativa tcnica. Essa justifi cativa deve
resumir todos os levantamentos e as
pesquisas realizados e que esto na
base do projeto de interveno ar-
quitetnica proposto. Em seguida, o
projeto arquitetnico deve ser enca-
minhado municipalidade para ser
submetido a anlise tcnica, apro-
vao e licenciamento, juntamente
com a documentao necessria, de
acordo com o requerimento.
-
ConservarOlinda Boas Prticas no Casario
34
6 As Boas Prticas de projetos
Os projetos de interveno arqui-
tetnica selecionados para constar
do manual Conservar: Olinda Boas
Prticas no Casario esto relacio-
nados com a metodologia ante-
riormente explicitada e, de modo
sinttico, atendem simultaneamente
aos requisitos de:
Respeito s legislaes de proteo.
Preservao dos valores patrimoniais.
Qualifi cao dos imveis em rela-
o ao uso e habitabilidade.
A pesquisa agrupou solues de
projeto que apresentaram caracters-
ticas comuns em termos de tipolo-
gia arquitetnica, usos e programa
de necessidades. Essas solues
podem servir como base para pos-
teriores intervenes, desde que os
imveis guardem entre si relaes
formais, espaciais e cronolgicas.
De fato, poucos foram os im-
veis que, em sua totalidade, foram
considerados exemplares de Boas
Prticas de interveno arquitet-
nica. Alguns imveis que seguem
apresentados foram selecionados
pelo fato de constiturem exemplos
parciais, nos quais mereceram des-
taque solues pontuais em relao
ao partido de planta, volumetria
ou, ainda, aos detalhes arquitet-
nicos e construtivos encontrados.
Essas solues no abrangem a tota-
lidade dos projetos aprovados, mas
traduzem um modo de interveno
sobre uma estrutura preexistente em
um contexto histrico especfi co.
Como procedimento metodolgico, a
pesquisa priorizou o projeto em seu
carter documental, ou seja, o que
est indicado aqui no Manual so so-
lues projetuais que foram aprovadas
pelas instituies de proteo. Assim
sendo, possvel que determinadas
solues tenham passado por algum
tipo de alterao durante sua exe-
cuo e que, na prtica, no corres-
pondam fi elmente ao que consta no
projeto aprovado. Por esse motivo, a
nfase recai sobre o projeto grfi co,
embora estejam tambm ilustrados os
casos de Boas Prticas, tanto de solu-
es projetuais como de execuo.
Para a seleo dos projetos, foram
previamente defi nidos critrios
bsicos, criados em conformidade
com o que defendem as legislaes
de proteo do stio histrico. Esses
critrios foram validados junto s
instituies de proteo, que esto
representadas no Conselho de Pre-
servao do Stio Histrico de Olin-
da, e seguem conforme Tabela 1.
Os projetos de interveno arqui-
tetnica no casario de Olinda que
responderam aos critrios acima
adotados so considerados Boas
Prticas. Para uma melhor compre-
enso desses dados, os projetos
foram agrupados segundo os tipos
arquitetnicos edifi cados, os usos e
-
35
os tipos de obra ou servio aos quais
os mesmos se referem. Do ponto de
vista metodolgico, seguem apre-
sentados em trs eixos temticos: i)
reforma, restaurao e conservao;
ii) novas construes; e iii) legaliza-
o de imvel irregular.
Convm destacar que as obras que
ocorreram revelia pelo proprietrio
ou usurio do imvel, sem acompa-
nhamento ou aprovao pelas insti-
tuies de proteo, dizem respeito
ao eixo especfi co de regularizao
de imvel. Nesses casos, as obras
irregulares so geralmente objeto
de embargo e podem resultar em
processos judiciais. No julgamento
do processo, o juiz estabelece que
o ru, no caso o proprietrio do
imvel, deve atender a vrias exign-
cias, e a principal delas consiste na
reparao do dano contra o patri-
mnio. Para isso, necessrio que o
proprietrio ou o autor da infrao
apresente projeto arquitetnico de
reforma, aprovado pelo Iphan e pela
Prefeitura de Olinda, visando re-
parao dos danos. A concluso do
processo s ocorre aps a execuo
da obra conforme projeto aprova-
do e o fornecimento da Licena de
Habitar pela Diretoria de Controle
Urbano da Prefeitura de Olinda.
Os imveis que passam pelo proces-
so de regularizao so, no mais das
vezes, aqueles que foram aqui clas-
sifi cados como esteretipos, j que as
reformas neles realizadas resultaram
na sua descaracterizao e na perda
das qualidades arquitetnicas e paisa-
gsticas do Stio Histrico de Olinda.
Para este manual, foram selecionadas
reformas de legalizao que visaram
requalifi cao do imvel notifi cado
e do Stio Histrico de Olinda.
Antes de apresentarmos os projetos
selecionados como Boas Prticas, vale
salientar que as intervenes mais co-
mumente encontradas dizem respeito
a: i) acrscimo de rea construda
com tratamento volumtrico; ii) in-
troduo de mezanino com abertura
de gua-furtada no pano posterior da
coberta; iii) retirada de terrao des-
coberto nos pavimentos superiores
que interrompem a gua da coberta;
iv) recuperao volumtrica do corpo
principal da edifi cao; v) reordena-
mento de reas molhadas de servios,
como de cozinha, banheiro e lavan-
deria. Assim sendo, seguem descritas.
Tabela 1: Critrio de seleo de Projetos de Boas Prticas
1. Integrao e Dilogo da Edifi cao no Contexto Histrico e Arquitetnico
2. Manuteno da Tipologia
2.1 Implantao
2.2 Partido de planta
2.3 Volumetria
2.4 Tcnicas e materiais construtivos
3. Taxa de Ocupao
4. Cobertura Vegetal
5. Topografi a
6. Conforto Ambiental
7. Adequao entre a Edifi cao, o Uso e a Capacidade de Carga
-
36
introduzindo poo de ventilao,
escada de acesso ao mezanino e ao
B.W.C. O mezanino executado com
estrutura de madeira garantiu a inte-
grao e o respeito s tcnicas e aos
materiais tradicionais. Nessa rea, foi
possvel a criao de sala ntima com
sute e a continuao do poo de ven-
tilao do trreo. A cobertura do poo
foi executada com as telhas de capa
para facilitar a exausto do ar quente.
A reconstituio da volumetria tradicio-
nal do imvel foi garantida pela relo-
cao da linha da cumeeira e correo
da inclinao dos panos de coberta
em apenas duas guas. Essa proposta
foi baseada em parecer arqueolgico e
na anlise dos telhados da vizinhana.
De acordo com parecer arqueolgico:
Foram prospectadas as paredes para
localizar: a inclinao da antiga
empena, as paredes originais das
alcovas e da sala posterior. A planta
baixa atual obedece a uma tipo-
6.1 Tipo meia-moradaReforma e reconstituio volumtrica
34
Programa de Necessidades
Manuteno do uso habitacional,
com o acrscimo de cmodos,
B.W.Cs., sala e cozinha integradas,
permanncia de edcula e reconsti-
tuio volumtrica7.
Partido arquitetnico
Manuteno da implantao com
aumento de solo natural.
Reconstituio volumtrica com
relocao da linha de cumeeira.
Reintegrao formal da fachada
principal ao conjunto urbano.
Desenvolvimento do projeto
O projeto obteve reduo da taxa
de ocupao por meio da elimina-
o dos acrscimos de coberta.
Na planta baixa do trreo, o projeto
adotou a compartimentao de alcova
[7] O estado de descaracterizao em que o imvel se encontrava antes da reforma tende a que sua classifi cao tipolgica seja o esteretipo, embora tenha sido poss-
vel reconhecer seus elementos que o caracterizam como tipo meia-morada.
35
Legislao Federal: Setor B, sub-setor B4Lei Municipal: Setor Residencial Rigoroso
Legislao de proteo
Planta Baixa | Trreo | Levantamento e Demolio
Planta Baixa | Trreo | PropostaPlanta de Locao e Coberta | Proposta
-
37
Planta Baixa | Mezanino | Levantamento e Demolio
Corte | Levantamento e Demolio
Planta Baixa | Mezanino | Proposta
Corte | Proposta
logia comum encontrada no stio
histrico [...] foi achada durante as
prospeces que as alvenarias eram
construdas de tijolos de furos com
argamassa de cimento, possivelmen-
te do mesmo tempo cronolgico do
detalhe da fachada principal, que
de beiral trplice com materiais per-
tencentes de 30 a 40 anos passados.
[...] Conforme uma interpretao di-
reta com os materiais encontrados,
diagnostica-se que o imvel passou
por uma grande reforma e perdeu
a sua total originalidade referente
aos materiais construtivos aplicados
atualmente. No mais, reforo que a
tipologia do imvel, enquanto trata
de salas principais, alcovas ao cen-
tro e sala posterior, seja preservada.
No projeto, a relocao da linha de
cumeeira resultou mais aproximada
da testada frontal do imvel, e a
coberta seguiu a inclinao de 41%,
em harmonia com a tipologia tradi-
cional do conjunto arquitetnico em
que o imvel est inserido.
A gua-furtada (fi guras 34 e 35) criada
no pano posterior da coberta asse-
gurou o conforto ambiental da sute,
com ventilao e iluminao direta,
e a caixa-dgua superior foi locali-
zada abaixo da cumeeira de modo
embutido na coberta. Internamente, o
imvel continua com a telha-v.
Registro iconogrfi co da dcada de
1970 indica que o imvel possua
platibanda escalonada, embora no
momento da reforma o mesmo se
apresentasse com trplice beiral, em
contraste com o escalonamento das
platibandas existentes no conjunto
da rua. Assim sendo, a platibanda
da fachada principal foi resgatada,
sendo adotado novo desenho.
O projeto de interveno arquitet-
nica atendeu, simultaneamente, s
exigncias programticas e resgatou
os elementos presentes na tipologia
tradicional, em termos de partido de
planta, volumetria e fachada.
Valores agregados ao imvel
Promoo do conforto ambiental,
observado na introduo do poo
vertical e da gua-furtada exe-
cutados com efi cientes detalhes
construtivos.
Reintegrao paisagem, alcan-
ada com o escalonamento das
fachadas atravs da recuperao
da platibanda como elemento que
caracterizava o conjunto na dca-
da de 1970 (fi guras 36 e 37).
A qualidade positiva do projeto en-
contra-se principalmente no resgate
tipolgico, na integrao do edifcio
ao contexto urbano e na reduo da
taxa de ocupao, o que contribui
para adensar a cobertura vegetal.
36 37
Legendas Construir Demolir Parede Existente rea Molhada Solo Natural
-
38
6.2 Tipo meia-moradaReforma e introduo de anexo
Programa de Necessidades
Manuteno do uso residencial, com
a permanncia de cmodos, salas e
B.W.Cs., e ampliao e reforma da
cozinha e dos servios.
Partido arquitetnico
Busca de compatibilidade entre o
antigo imvel e uma ampliao
ocorrida por necessidade progra-
mtica reforma na cozinha.
Desenvolvimento do projeto
A ampliao foi realizada com a
criao de um eixo de simetria em
que as paredes laterais posteriores
foram utilizadas como limites de
referncia. O volume proposto foi
adaptado topografi a do terreno
e respeitou a taxa de ocupao.
Foram reformadas as reas de copa,
cozinha e servios, distribudas em
dois pisos trreo e subsolo.
A volumetria da rea ampliada foi
integrada ao corpo principal do
im