Manoel Correia de Andrade

71
MANOEL CORREIA DE ANDRADE, O NORDESTE A GEOGRAFIA E A REFORMA AGRÁRIA Wagner Costa Ribeiro Professor dos Programas de Pós-Graduação em Geografia Humana e em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo [email protected] Paulo Roberto Rodrigues Soares Professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul [email protected] Manoel Correia de Andrade, o Nordeste a Geografia e a Reforma agrária (Resumo) Este texto comenta aspectos da vida do eminente geógrafo brasileiro Manoel Correa de Andrade, como sua trajetória como professor e pesquisador em Universidades brasileiras, as premiações que recebeu e alguns de seus livros, como a Terra e o Homem no Nordeste, considerado um dos mais importantes do século XX. Além disso, apresenta os artigos que integram essa reunião de textos, que versam sobre o principal livro do professor Correa de Andrade, seu método de investigação, a Geografia Ecoômica e a situação no campo brasileiro. Palavras-chave: Manoel Correa de Andrade, História do Pensamento Geográfico, Geografia Econômica, Brasil. Manoel Correia de Andrade, el Nordeste la Geografia y la Reforma agraria (Resumen) Este artículo discute los aspectos de la vida del eminente geógrafo brasileño Manoel Correa de Andrade, su trayectoria como profesor e investigador

description

Série de artigos que retratam a brilhante carreira de Manoel C. de Andrade

Transcript of Manoel Correia de Andrade

MANOEL CORREIA DE ANDRADE, O NORDESTE A GEOGRAFIA E A REFORMA AGRRIAWagner Costa RibeiroProfessor dos Programas de Ps-Graduao em Geografia Humana e em Cincia Ambiental da Universidade de So [email protected] Roberto Rodrigues SoaresProfessor do Programa de Ps-Graduao em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do [email protected]

Manoel Correia de Andrade, o Nordeste a Geografia e a Reforma agrria(Resumo)Este texto comenta aspectos da vida do eminente gegrafo brasileiro Manoel Correa de Andrade, como sua trajetria como professor e pesquisador em Universidades brasileiras, as premiaes que recebeu e alguns de seus livros, como aTerra e o Homem no Nordeste, considerado um dos mais importantes do sculo XX. Alm disso, apresenta os artigos que integram essa reunio de textos, que versam sobre o principal livro do professor Correa de Andrade, seu mtodo de investigao, a Geografia Ecomica e a situao no campo brasileiro.Palavras-chave: Manoel Correa de Andrade, Histria do Pensamento Geogrfico, Geografia Econmica, Brasil.

Manoel Correia de Andrade, el Nordeste la Geografia y la Reforma agraria (Resumen)Este artculo discute los aspectos de la vida del eminente gegrafo brasileo Manoel Correa de Andrade, su trayectoria como profesor e investigador en las universidades brasileas, los premios que han recibido y algunos de sus libros, al igual que laTierra y el hombre en el Nordeste, considerado uno de los ms importante del siglo XX. Adems, presenta los artculos dentro de ese conjunto de textos, que se ocupan del principal libro del profesor Correa de Andrade, su mtodo de investigacin, la Geografa Economica y la situacin en el campo brasileiroPalabras clave: Manoel Correa de Andrade, Historia del Pensamiento de Geografa, Geografa Econmica, Brasil.

Manoel Correia de Andrade, 'Nordeste', Geography and Agrarian Reform (Abstract)This text comments aspects of the life of the eminent Brazilian geographer Manoel Correa de Andrade, as his path like the professor and researcher in Brazilian Universities, the prize-givings that received and some of his books, as theLand and the Man in the Northeast, considered one of the most important one of the century XX. Beyond that, presents the articles that integrate that meeting of texts, that are about the main book of the professor Correa de Andrade, his approach of inquiry, the Economic Geography and the situation in the Brazilian field.Keywords: Manoel Correa de Andrade, History of the Geographical Thought, Economic Geography, Brazil.

Autor de um dos maiores clssicos do pas,A Terra e o Homem do Nordeste, o gegrafo e professor da Universidade Federal de Pernambuco - UFPE, Manoel Correia de Andrade atuou, nos ltimos anos, na Ctedra Gilberto Freyre daquela universidade. Tambm orientou trabalhos no Mestrado em Geografia da UFPE.Formado em Geografia e Histria pela Universidade Catlica de Pernambuco, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, obteve o ttulo de doutor em 1967, na mesma universidade. Como costumava dizer, era um homem da terra, mas preocupado com os sem terra. Filho de tradicionais fazendeiros em Pernambuco, preferiu escrever e atuar para promover uma maior incluso social no Brasil.O professor Correia de Andrade ministrou aulas de Geografia Econmica na UFPE, onde ingressou em 1952. Alm disso, deu aulas na Universidade Catlica de Pernambuco, de 1953 a 1975. Foi professor colaborador em vrios cursos deps-graduao na Universidade de So Paulo (USP), na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), na Universidade Estadual de So Paulo (Unesp) e na Universidade de Buenos Aires, na Argentina nas dcadas de 1980 e 1990.Polmico, teve mais de 80 livros e inmeros artigos publicados no pas e no exterior. Seu mais recente livro est no prelo,Redescobrindo o Brasil II, resultado de um dos seminrios com aquele ttulo que ele coordenou na Ctedra Gilberto Freyre, cada qual discutindo a produo de intelectuais relevantes do pas, como Celso Furtado e Aziz Ab'Saber, em 2005.Pesquisador do CNPq, foi indicado Gegrafo da Amrica Latina, pelo qual recebeu o prmio Milton Santos, conferido por ocasio do IX Encontro de Gegrafos da Amrica Latina, realizado na USP em 2005. Antes disso, em 1989, foi contemplado com o ttulo de professor emrito da UFPE, instituio na qual se aposentou, em 1985 e, tambm, de Pesquisador Emrito, pela Fundao Joaquim Nabuco, em 1989, onde tambm atuou. Outras premiaes relevantes, alm das j citadas, foram a Medalha da Ordem Nacional do Mrito Cientfico, do Ministrio da Cincia e Tecnologia, em 2003, e a Medalha Capes 50 anos, do ento Ministrio da Educao e Desporto, em 2001, alm de outras distines de Doutor Honoris Causa nas seguintes Universidades Federais: de Sergipe (1996), do Rio Grande do Norte (1995), de Alagoas (1956); e da Universidade Catlica de Pernambuco (1979).

Manoel Correia de Andrade, durante o ltimo evento em que apresentou uma palestra, em Alagoas, 2007.

Na dcada de 1980, foi professor convidado do Programa de Ps-Graduao em Geografia Humana do Departamento de Geografia da USP, ocasio em que pode expressar suas inquietaes sobre a geografia produzida no Brasil em disciplina por ele ministrada. Esteve de modo recorrente na USP, em especial em bancas de avaliao de teses e de concursos. Em geral, sua arguio era serena no tom, mas objetiva e clara nos questionamentos que formulava.Outra caracterstica o identificava: a crtica, no apenas ao trabalho em questo, mas s condies sociais atuais. Esta marca recorrente nas obras do professor Manoel. Em uma passagem de seu maior sucesso editorial, originalmente publicado em 1963 e atualizado em sua stima edio pela editora Cortez em 2005, destaca-se sua preocupao com os novos rumos do Nordeste, seu principal foco de investigao: O Nordeste sofre do que poderamos chamar de um crescimento sem mudanas reais, apenas formais. (...) O desenvolvimento do turismo vem causando vrios impactos sobre as atividades agrrias do Nordeste (...). Por outro lado, traz alguns impactos s praias (...), provocando a destruio de reas anteriormente cultivadas com coqueirais. O tom crtico no deixa de reconhecer que o Nordeste apesar de seu ritmo lento de crescimento, no uma regio invivel.Na coletnea,Elise Reclus, que organizou na dcada de 1980 sobre o gegrafo anarquista francs que viveu no sculo XIX, destaca-se outra passagem crtica de seus escritos: admitindo-se a geopoltica como uma doutrina posta a servio dos poderosos para dominar os fracos, chega-se concluso de que da obra de Reclus se pode retirar uma contrageopoltica dos povos tutelados em favor da libertao.Por fim, no se pode deixar de comentar sua defesa incondicional da reforma agrria no Brasil, afirmada em diversas obras, comoA questo do territrio no Brasil(1995) eLutas camponesas no Nordeste(1986). No bastasse isso, o professor adentrou por temas tericos em livros comoCaminhos e descaminhos da Geografia(1992) eGeografia e globalizao(1996).Alm desses livros, destacam-se de sua vasta produoPaisagens e problemas do Brasil,O planejamento regional e o problema agrrio no Brasil,Nordeste: espao e tempo,Latifndio e reforma agrria no Brasil,Tradio e mudana,Poder poltico e produo do espao,Agricultura e classes sociais no Nordeste,Geografia econmica do NordesteeGeografia econmica.Pesquisador reconhecido, esteve diretamente envolvido com a militncia, seja acadmica seja poltica. No primeiro caso, ocupou diversos cargos de gesto universitria, como diretor do Centro de Estudos de Histria Brasileira da Fundao Joaquim Nabuco de 1984 a 2003, ou ainda como coordenador do Mestrado em Geografia e Economia da Universidade Federal de Pernambuco, alm de presidente da Associao dos Gegrafos Brasileiros entre 1961 e 1962. Na poltica, atuou em diversas funes pblicas, em especial no governo de Miguel Arraes, na poca claramente identificado com os ideais da esquerda.Trabalhador incansvel, faleceu em 22 de junho de 2007, aps retornar de mais uma de suas conferncias, depois de complicaes cardacas, aos 84 anos.A srie de artigos reunidos nessa coletnea expressa alguns dos pontos acima. Foram convidados pesquisadores de diversas matrizes da geografia de modo a expressar a amplitude das questes presentes na produo de Manoel Correia de Andrade.Estudar o Nordeste brasileiro impossvel sem conhecerA Terra e o Homem no Nordeste, de 1963. Esse clssico do autor pernambucano analisado na contribuio da professora Doralice Styro Maia, da Universidade Federal da Paraba. Ela destaca a influncia do historicismo e dos estudos sobre a paisagem nessa obra de Manoel Correia de Andrade. Para ela, a obra se fundamenta em outra noo clssica da Geografia: regio, tema de debate durante anos entre gegrafos. Para alguns, se trata de um objeto de estudo, mas outros, entre os quais ela inclui o professor Correia de Andrade, a pautam como uma metodologia de pesquisa, como expressa o principal sucesso editorial do autor.O texto de lvaro Lpez Gallero, do Departamento de Geografa da Universidad de la Repblica, Uruguai, destaca a insero que Manoel Correia de Andrade alcanou na Amrica Latina. Para tal, parte da anlise da obra do professor pernambucano e discute seu mtodo, o materialista dialtico, para compreender a realidade brasileira. Alm disso, destaca a posio de militante que encontrou no gegrafo brasileiro, defensor de uma melhor distribuio da riqueza. Por fim, comenta temas que surgiram no horizonte do pesquisador que o insere na qualidade de latinoamericanista.Por sua vez, Csar Augusto vila Martins, professor do Departamento de Geocincias da Universidade Federal do Rio Grande (FURG) analisa o livro Geografia econmica de 1972. Trata-se de um dos maiores sucessos editoriais do professor Correia de Andrade, uma vez que foi adotado como manual em diversos cursos de economia e administrao de empresas no Brasil. Inicialmente o autor contextualiza a obra do professor Manoel. Depois, passa a comentar o livro em questo apontando o que seria, em seu entender, seu maior destaque: a insero de um dilogo entre a economia e a anlise geogrfica. Outro aspecto apontado no texto de Martins a presena da temtica agrria no livro, que ocupou cinco captulos entre os vinte do total.A reforma agrria, uma das paixes do professor pernambucano, o enfoque central do artigo de Rosa Maria Vieira Medeiros, professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Ela indica como o tema percorreu diversos livros do gegrafo brasileiro. Porm, demonstra tambm o rigor conceitual que era comum ao autor, apontando como ele definiu conceitos como o de campons, parceiro, arrendatrio, modo de produo capitalista e estrutura fundiria. Ou seja, para Manoel Correia de Andrade reforma agrria era uma demanda social que tinha que ser executada luz da reflexo terica.Manoel Correia de Andrade foi um exemplo ao perseguir seus ideais por meio de uma produo consistente, engajamento poltico e um dilogo interdisciplinar agudo. Deixa um legado relevante tanto do ponto de vista acadmico quanto poltico. Mas, mais que tudo, uma enorme contribuio para os que, como ele demonstrou em sua trajetria, esto dispostos a alterar o curso do pas e do mundo.

O PENSAMENTO DE MANOEL CORREIA DE ANDRADE E A SUA OBRAA TERRA E O HOMEM NO NORDESTEDoralice Styro MaiaDoutora em Geografia Humana. Universidade Federal da Paraba Brasil

O pensamento de Manoel Correia de Andrade e a sua obraA Terra e o Homem no Nordeste(Resumo)As notas apresentam a contribuio do pensador, gegrafo e autor Manoel Correia de Andrade para a geografia brasileira, em especial para a construo da geografia agrria e mostra a sua importncia para o entendimento da realidade do nordeste brasileiro. Esboa ainda algumas idias sobre o pensamento do autor na histria do pensamento geogrfico.Palavras-chaves:geografia, histria do pensamento geogrfico, nordeste brasileiro.

Thought of Manoel Correia de Andrade and his book The Land and the Man in the Northeast(Abstract)The notes show the contribution of the thinker, geographer and author Manoel Correia de Andrade for the Brazilian geography, particularly for the construction of agrarian geography and shows its importance for understanding the reality of the Brazilian Northeast. Also outlines some ideas on the thinking of the author in the history of geographic thought.Keywords: geography - history of geographic thought - Northeast Brazil.

Uma pequena biografiaGegrafo e historiador, Manoel Correia de Oliveira Andrade, nasceu em Vicncia, a 03 de agosto de 1922 no Engenho Jundi[1]. Fez o curso primrio em escola pblica na sua terra natal e o curso secundrio no Liceu Pernambucano e no Instituto Carneiro Leo, no Recife-PE- Brasil. Formou-se em Direito na Faculdade de Direito do Recife, atual Universidade Federal de Pernambuco - UFPE (1941-1945) e fez o curso de Licenciatura em Histria e Geografia na Faculdade de Filosofia Manoel da Nbrega, atual Universidade Catlica de Pernambuco (1944-1947). Entre 1956 e 1965, realizou cursos de ps-graduao nas universidades do Brasil e de Paris. Era doutor em Economia por concurso de Ctedra da UFPE. Tambm realizou viagens de estudos Itlia, Blgica, Grcia e Israel.No perodo de 1963-1964 dirigiu o Grupo Executivo de Produo de Alimentos (GEPA) e foi membro do Conselho Estadual de Educao, no estado de Pernambuco no governo de Miguel Arraes. Foi exilado, momento quando realizou curso de ps-graduao em Paris. Em 1969 exerceu a Presidncia do Grupo de Trabalho para elaborao de Sugestes para a Reforma Agrria.Foi presidente da Associao dos Gegrafos Brasileiros (1961-1962) e Vice-presidente (1970-1972). Foi membro do Conselho Cientfico doInternational Council for Research in Cooperative Development, com sede em Genebra, Sua. Coordenou vrios estudos frente do Departamento de Histria da Fundao Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, do Recife. considerado um grande estudioso da realidade do nordeste brasileiro, sendo comparado por alguns a Euclides da Cunha por to bem ter retratado aquela regio. Foi professor do Departamento de Cincias Geogrficas da Universidade Federal de Pernambuco, onde ministrou vrias disciplinas e orientou vrias dissertaes de mestrado. Coordenou o curso de mestrado em Geografia e Economia e ainda integrou a comisso para criao dos mestrados em Sociologia e Desenvolvimento Urbano da mesma instituio. J na qualidade de professor titular colaborador continuou atuando na ps-graduao, ministrando cursos e orientando no mestrado e no recm criado doutorado. Tem diversos livros e captulos de livros publicados, entre os quais destaca-se "A Terra e o Homem do Nordeste" (1963), alm de artigos e textos em revistas e anais de eventos cientficos. considerado por alguns gegrafos como sendo o primeiro autor a publicar trabalhos geogrficos voltados para o planejamento. Sobre o tema, destacam-se: Geografia, Regio e Desenvolvimento; Espao, polarizao e desenvolvimento e Agricultura e Regionalizao do Nordeste. Publicou, constantemente, artigos atravs da imprensa pernambucana.Atuou at seu falecimento na Fundao Joaquim Nabuco (Pernambuco - Brasil) onde alm de permanecer pesquisando e publicando, coordenou a realizao de eventos nacionais e internacionais.Os temas publicados por Manoel Correia, muito embora tenham priorizado a Regio Nordeste e em particular, a questo agrria, no se resumem a estas temticas. Escreveu livros a respeito da relao do Brasil com os continentes:O Brasil e a fricaeO Brasil e a Amrica LatinaeGeopoltica Mundial: Imperialismo e fragmentao do espao;Geografia EconmicaeHistria do Pensamento Geogrfico.Manoel Correia de Andrade integrou um grupo de pesquisadores pernambucanos, ao lado de Gilberto Osrio de Andrade de quem foi aluno e assistente em diversas pesquisas e trabalhos de campo, Hilto Sette e Mario Lacerda de Melo. A grande contribuio Geografia Brasileira dada pelo professor Manoel Correia de Andrade j foi tema de dois eventos: O X Encontro Nacional de Gegrafos que o homenageou, ocorrido na cidade do Recife em 1996 e a Jornada Manoel Correia de Andrade ocorrida em Natal no ano de 1995[2]. Nestes dois momentos, vrios pensadores da Geografia Brasileira apresentaram comunicaes a respeito das idias, das obras e ainda da importncia do referido autor para a Geografia.O trabalho e o pensamento do professor Manoel Correia de Andrade tiveram forte influncia na formao dos acadmicos de Geografia da Universidade Federal da Paraba (UFPB). Influncia esta que se deu seja atravs dos seus livros, seja pela sua participao pessoal em debates, conferncias e palestras que realizava sempre quando convidado, seja ainda atravs da orientao de dissertaes ou da realizao de pesquisas com professores da referida instituio. Recebia os professores e alunos da UFPB com muita satisfao, estando sempre disposto a contribuir.Assim como muitos graduando em Geografia da dcada de 1980, conheci primeiramente as idias, o pensamento e as obras do professor Manoel Correia de Andrade nos primeiros anos do curso. Entre aquelas que marcaram a minha trajetria acadmica destaco:A Terra e o Homem do NordesteeGeografia Econmica.Ainda como estudante de graduao, ao comear a participar dos Encontros de Geografia e em especial os Encontros Nacionais de Gegrafos organizados pela Associao de Gegrafos Brasileiros (AGB), tive a oportunidade de conhecer pessoalmente o professor Manoel Correia. Esta ilustre figura que se fazia sempre presente nestas reunes acadmicas, nas suas mais diversas atividades, desde as apresentaes dos alunos de graduao, mestrado e doutorado aos debates e conferncias seja como palestrante, seja como participante nas discusses. Nesses momentos costumava literalmente vestir a camisa do evento. Era portanto um gegrafo que no somente gostava da Geografia, de ensinar Geografia, mas tambm de estimular os jovens que estavam no incio da sua trajetria acadmica.O autor e o pensamento geogrficoManoel Correia de Andrade sem dvida um autor que marcou a Geografia Brasileira, configurando-se em uma referncia nacional. A sua obra A Terra e o Homem no Nordeste (1963), representa um dos clssicos da Geografia, em especial da Geografia Agrria Brasileira.O autor integra um grupo clssico de gegrafos que inicialmente construram a Geografia Agrria Brasileira, entre eles:Orlando Valverde, Pasquale Petrone, Manoel Seabra e Maria do Carmo Galvo. Estes autores so os responsveis pelo incio da construo do pensamento agrrio brasileiro. A recuperao das suas contribuies permitiu que uma outra gerao de estudiosos - Ariovaldo Umbelino de Oliveira, Slvio Carlos Bray, Bernardo Manano, Emlia de Rodat Moreira, Lenyra Rique da Silva, Antnio Thomaz Jnior, Paulo Alentejano, Guiomar Germani, Maria de Ftima Rodrigues, Manoel Calaa, entre outros -da questo agrria avanassem nas suas anlises.A Terra e o Homem no Nordeste imprime na Geografia Agrria Brasileira o incio de uma fonte de anlise para estudos posteriores: a estrutura fundiria e as relaes de trabalho no campo. Importante salientar que esta obra antecede o movimento da Geografia Crtica no Brasil, marcado pelo grande acontecimento geogrfico nacional: O Encontro Nacional de Gegrafos a segunda maior reunio cientfica nacional ocorrido em Fortaleza em 1978. Assim, a publicao da obra citada antecede a insero maior do pensamento marxista na Geografia.Neste mesmo ano de 1978, realizou-se na cidade de Salgado (SE) o I Encontro Nacional de Geografia Agrria, tendo como um dos seus principais criadores, o professor Manoel Correia de Andrade. Desde ento, este evento acontece a cada dois anos, tendo sempre como uma de suas figuras marcantes, o referido professor. Esta reunio cientfica tem como principal preocupao a compreenso do espao agrrio brasileiroSabe-se que o final da dcada de 1970 e o incio da dcada de 1980 so caracterizados pelo momento, como alguns denominam, de formao de uma "nova conscincia social" no Brasil. Greves, passeatas, lutas particulares, constituio de centrais sindicais e de partidos polticos de vrios matizes ideolgicos, exigiram que as cincias sociais tomassem outra posio; j no mais se podia ignorar estes acontecimentos. E a Geografia tambm no podia continuar alheia a estes movimentos, sendo forada a procurar explicar as grandes contradies sociais.Manoel Correia, a partir da sua obra A Terra e o Homem no Nordeste, na dcada de 1960 vem se dedicando anlise da sociedade agrria brasileira. Como disse Lenyra Rique da Silva:No conheo nenhum outro gegrafo como ele, que tenha dedicado tanto tempo do seu trabalho aos problemas nordestinos, em especial queles voltados para o campo, o que se deve, sem dvida alguma, a um maior conhecimento da regio pelo autor.Manoel abordou as lutas empreendidas entre os grandes senhores de terra e seus comparsas (as milcias particulares ou militares) durante o perodo colonial, regencial imperial, na primeira, na nova e na novssima Repblica do massacre dos ndios nos sculos XVI e XVII, principalmente; aos negros escravos entre o sculo XVI e o sculo passado. Enfocou a resistncia dos negros organizados em quilombos e os confrontos isolados ou em grupos que se deram entre os escravos, feitores e capatazes, representantes dos senhores das terras, quando aqueles se embrenhavam nas matas numa busca alucinada de liberdade [...] (Silva, 1995, p.154).Desta forma, A Terra e o Homem no Nordeste d uma contribuio mpar ao estudo da geografia agrria brasileira. Para alguns gegrafos, este trabalho um dos primeiros registros da influncia do pensamento marxista na geografia agrria brasileira, ao lado dos trabalhos de Orlando Valverde Estudos de Geografia Agrria Brasileira -, Pasquale Petrone A Baixada do Ribeira (1966) -, La Goldenstein A industrializao da baixada santista (1972)-, Manoel Seabra Vargem Grande: organizao e transformao de um setor do cinturo verde paulistano (1971) e As cooperativas mistas do estado de So Paulo (1977). (Oliveira, 1999, p.69).Dizer que o livro A Terra e o Homem no Nordeste apresenta influncia do pensamento marxista, no significa afirmar que o mesmo uma obra marxista, ou fundamentada no materialismo histrico dialtico. Nem que se trata de uma obra da Geografia Crtica. Este estudo contm alguns elementos fundamentais da anlise marxiana, como preferem alguns denomin-la. Contudo, no pode ser considerado um exemplar da geografia marxista. A insero em forma de anexo do subcaptulo As tentativas de organizao das massas rurais As ligas camponesas e a Sindicalizao dos Trabalhadores do Campo, representa um marco poltico na produo geogrfica sobre a questo agrria brasileira. (Oliveira, 1980, apud Lins, 1995, p.37).Lenyra R. da Silva (1995) j revelou que o mtodo de interpretao dos fatos adotado por Manoel Correia de Andrade em suas obras, uma descrio reflexiva, o qual reflete um empirismo racionalista, comum na geografia, mas que tem no autor em pauta a sua maior expresso no Brasil.E complementa:Manoel Correia, apesar de ter recebido, como qualquer outro gegrafo da sua poca, a influncia dessas escolas, soube proceder a uma leitura dos fatos sociais em que associa um pouco de historicismo e de fenomenologia racionalista, quando, com competncia, parte de um fenmeno social para outro. (Silva, 1995, p.156).Sobre esta corrente do pensamento, o Historicismo, sabe-se que a mesma corresponde ao entendimento da histria como[...] sucesso de mudanas nos sistemas sociais e como histria do desenvolvimento dos esforos do homem para dominar a natureza, o esforo para identificar a estrutura social de cada poca histrica concreta, e a idia de uma evoluo histrica como progresso, como finalidade[3](Capel, 1981, pp.439-440).Essa escola de pensamento nasce na Europa entre o final do sculo XIX e incio do sculo XX, no contexto de uma forte crise das concepes positivistas, visando elaborar uma crtica ao modelo naturalista de cientificidade e na afirmao da especificidade das cincias humanas, derivada, por sua vez, da dicotomia natureza-histria (Capel, 1981). Esta diviso entre natureza e histria propiciou a diviso das cincias em dois grandes grupos: cincias humanas ou do esprito e cincias naturais. Estas so portadoras de objetos e de mtodos que as diferenciam. Explica o autor supracitado:A originalidade das cincias humanas deriva do fato de que o investigador no estuda um objeto exterior a ele, mas uma realidade na qual o mesmo est imerso. Esta realidade pode ser abordada por uma pluralidade de mtodos, sem excluir os da natureza, porm no aceitando-se um reducionismo naturalista (Capel, 1981, p.314).Nesse pensamento, a realidade humana apresenta como caracterstica essencial a sua historicidade,[...] a existncia de um desenvolvimento histrico no qual os indivduos e os grupos sociais atuam movidos por uma intencionalidade e aceitando certos valores. Esta exaltao da histria alcana tal dimenso que a expresso Historicismo chega a designar uma das caracterizadas correntes de criao antipositivista (Capel, 1981, p.315).Para essa corrente de pensamento, todo fenmeno cultural, social ou poltico histrico e no poderia ser compreendido seno atravs da historicidade. (Oliveira, 1999, p. 67).A conduo a uma separao entre a natureza e o esprito, ou como melhor se difundiu, entre as cincias naturais e cincias humanas, implantou na Geografia um problema que se mantm em pauta: a separao geografia fsicaversusgeografia humana. Para enfrentar este dualismo, surge a geografia regional fundamentada nas concepes tericas do historicismo. Nessa corrente constroem-se as categorias[4]fundamentais da Geografia: regio e paisagem.A respeito dessa constante busca por uma unidade, explica Horacio Capel,[...] esta unidade to procurada se encontrou, sobretudo, concentrando os esforos de investigao na regio e na elaborao de uma sntese regional. na regio, de fato, onde coincidem e se combinam fenmenos de carter fsico e humano, e onde podem estudar-se as interrelaes entre uns e outros (Capel, 1981, p.338).Neste sentido, a regio geogrfica diferencia-se da regio natural, ela passa a abranger uma paisagem e sua extenso territorial, onde se entrelaam de modo harmonioso componentes humanos e natureza. (Corra, 1987, p.28). H a uma correspondncia entre o conceito de regio e o de paisagem, podendo muitas vezes igualar-se:A regio geogrfica assim concebida considerada uma entidade concreta, palpvel, um dado com vida, supondo portanto uma evoluo e um estgio de equilbrio. [...].A concretude e individualidade de cada regio so ainda reconhecidas pela sua populao e as das regies vizinhas; isto se explica pelo fato de cada regio possuir um nome prprio nico, que todos conhecem a aprtir de uma vivncia plenamente integrada regio: pays de Caux, pays de la Brie, Agreste, Brejo, Campanha Gacha, etc. (Corra, 1987, p.28).Outra categoria geogrfica que desde o sculo XIX tornou-se fundamental na pesquisa geogrfica e que tambm ganha foras com o Historicismo a paisagem. Esta tem uma definio do senso comum que corresponde rea que se abrange num lance de vista ou uma representao artstica em desenho, pintura ou gravura de uma dada localidade. Tal significao est na formulao da categoria geogrfica paisagem: representa o aspecto visvel diretamente perceptvel do espao (Dolfuss, 1973, p.13) e ainda: Tudo aquilo que ns vemos, o que nossa viso alcana, a paisagem. Esta pode ser definida como o domnio do visvel, aquilo que a vista abarca. (Santos, 1988, p.61).Desse modo, a paisagem traduziria, de alguma forma, as interaes entre os diversos elementos fsicos e entre estes e o grupo. Por outro lado, cada regio traduzia-se em uma paisagem, refletindo a diferenciao espacial. Desde ento, os conceitos geogrficos de paisagem e regio aparecem como sinnimos, confundindo-se um com o outro. (Maia, 2002, p. 61).A reunio destas duas categorias regio e paisagem constituiu a base dos estudos geogrficos. Pois, cada regio traduz-se em uma paisagem, e esta um reflexo da diferenciao espacial. (Capel, 1981, p.345).Em A Terra e o Homem no Nordeste, bastante perceptvel a influncia do Historicismo. Logo na sua introduo, o autor afirma: utilizando o mtodo histrico, analisamos sumariamente a evoluo econmica de cada uma das regies geogrficas desta evoluo sobre o problema da mo-de-obra. (Andrade, 1998, p.20). Da mesma forma, a pesquisa fundamenta-se principalmente a partir dosdois conceitos: regio e paisagem. Esta obra trata profundamente de uma regio brasileira, conhecida muito como sendo uma regio-problema. Com a preocupao de mostrar no s para gegrafos, mas para os leitores dos vrios pontos do territrio nacional, a realidade nordestina, como se processam as relaes entre o homem e a terra, entre os trabalhadores e os proprietrios e as condies de vida da grande massa que moureja no campo que Manoel Correia de Andrade escreve esta importante obra.A Terra e o Homem no Nordeste est dividia em 8 captulos: 1) Introduo; 2) O Nordeste: regio e contrastes; 3) A propriedade da terra e a mo-de-obra na Regio da Mata e do Litoral Oriental; 4) Propriedade, policultura e mo-de-obra no Agreste; 5) O latifndio, a diviso da propriedade e as relaes de trabalho no Serto e no Litoral Setentrional; 6) O Meio Norte e a Guiana Maranhense; 7) O Capitalismo e a evoluo recente da agricultura nordestina; 8) O Nordeste e o Impacto da Globalizao; alm de um Anexo, intitulado As tentativas de soluo da questo agrria.Vale destacar que os captulos 7 e 8 foram inseridos na edio mais recente.Como j afirmamos anteriormente, a referida obra representa, sem dvida, a uma grande contribuio geografia brasileira, mas tambm ao pensamento brasileiro e ainda construo de um pas que deixasse de ser marcado pelo domnio do latifndio e pela explorao do trabalhador.Notas[1]Texto originalmente elaborado para o curso Realidade Brasileira a partir dos Grandes Pensadores Brasileiros Regio Nordeste promovido pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST e Ncleo de Documentao e Informao Histrica Regional UFPB em abril de 2003.[2]As comunicaes deste evento esto publicadas no livroManoel Correia de Andrade o gegrafo e o cidado, organizado por Jos Lacerda Felipe, 1995.[3]Traduo livre da autora deste texto.[4]Entendemos categoria como conceito fundamental para o conhecimento, sendo, portanto, indispensvel na construo do pensamento cientfico. Como bem explicou Armando Corra da Silva, as categorias so, inicialmente, universais abstratos que se transformam em universais concretos pela prxis. (SILVA, 1986, p.26). Ainda, de acordo com o referido autor, o conjunto de categorias de uma cincia est relacionado ao objeto de conhecimento dessa cincia. Seguindo esse raciocnio, Corra elenca as categorias fundamentais do conhecimento geogrfico que diz serem entre outras: espao, lugar, rea, regio, territrio, habitat, paisagem e populao. (SILVA, 1986, p.28 seq.).BibliografiaANDRADE, Manoel Correia de.A Terra e o homem no Nordeste: contribuio ao estudo da questo agrria no Nordeste.6.ed. Recife: Editora Universitria da UFPE, 1998.ANDRADE, Manoel Correia de .A Terra e o homem no Nordeste.4 ed. So Paulo: Livraria Editora Cincias Humana, 1980.CAPEL, Horacio.Filosofa y ciencia en la Geografa contempornea una introduccin a la Geografa.Barcelona (ES): Barcanova, 1981.CORRA, Roberto Lobato.Regio e organizao espacial.2.ed. So Paulo: tica, 1987.DOLFUSS, Olivier.A anlise geogrfica. So Paulo: Difuso Europia do Livro, 1973.FELIPE, Jos Lacerda Alves. Discurso proferido no auditrio da reitoria a 7 de junho de 1995. In: FELIPE, Jos Lacerda A. (org.).Manoel Correia de Andrade: o gegrafo e o cidado.Natal: UFRN, 1995, p. 11- 15.LINS, Jomrio da Fonseca. O movimento social agrrio das Ligas Camponesas em Pernambuco (1955-1964): as interpretaes do gegrafo Manoel Correia de Andrade. In: FELIPE, Jos Lacerda A. (org.).Manoel Correia de Andrade: o gegrafo e o cidado.Natal: UFRN, 1995, p.32 40.MAIA, Doralice Styro. A leitura da paisagem no ensino da cidade.Revista Geografia e Ensino,Belo Horizonte, Editora UFMG, vol. 8, n. 1, jan-dez 2002, p. 57-72.OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de. A Geografia agrria e as transformaes territoriais recentes no campo brasileiro. In: CARLOS, Ana Fani Alessandri.Novos caminhos da Geografia.So Paulo: Contexto, 1999.SANTOS, Milton.Metamorfoses do espao habitado. So Paulo: Hucitec, 1988.SILVA, Jos Borzachiello da. Manoel Correia e o desenvolvimento da geografia no Brasil. In: FELIPE, Jos Lacerda A. (org.).Manoel Correia de Andrade: o gegrafo e o cidado.Natal: UFRN, 1995, p.141 152.SILVA, Lenyra Rique da. Reviso da questo agrria brasileira a partir da tica de Manoel Correia. In: FELIPE, Jos Lacerda A. (org.).Manoel Correia de Andrade: o gegrafo e o cidado.Natal: UFRN, 1995, p.153 172.

MANOEL CORREIA DE ANDRADE: UNO DE LOS IMPRESCINDIBLESlvaro Lpez GalleroDepartamento de Geografa, Facultad de Ciencias. Universidad de la Repblica, [email protected]

Manoel Correia de Andrade: uno de los imprescindibles (Resumen)Uno de los gegrafos ms destacados de Brasil que tuvo la particularidad de observar el mundo y los lugares desde la regin Nordeste, uniendo la labor de investigacin -sustentada en una metodologa materialista dialctica- con una actitud militante en la bsqueda de la transformacin social en su regin, en su pas, pero tambin en su continente. Por su firmeza, su tica y la continuidad de su accin es que lo consideramos a la manera brechtiana-, un imprescindible. Fue un gegrafo econmico con una slida formacin de base histrica que le permita vincular temporalmente los hechos y los lugares, siempre atento a las contradicciones sociales y territoriales, buscando salidas a las problemticas desde una Geografa que consider siempre entre las ciencias sociales y con una interrelacin permanente con las ciencias que tambin alcanzan una visin humanstica.Palabras claves: Brasil, Nordeste, investigador, materialismo dialctico, Geografa.

Manoel Correia de Andrade: one of the essential (Abstract)One of the most prominent geographers from Brazil that had the particularity to observe the world and the seats from the Northeast region, with your labor- backed research in a dialectical-materialistic methodology , and with a militant attitude in the search for the social transformation in their region, in their country, but also in their continent. For their steadfastness, their ethics and the continuity of their action is that you feel it the way-Brechtian, an essential. He was an economic geographer with a solid formation of historical basis that can link the time, the facts and the places, always attentive to the social and territorial inequalities, seeking the way to problematic from a humanistic vision.Key words: Brazil, Northeastern Region, researcher, dialectic materialism, Geography.

La desaparicin del Prof. Manoel Correia de Andrade constituy un impacto para quienes compartimos con l muchas jornadas acadmicas, en particular, desde el Primer Encuentro de Gegrafos de Amrica Latina realizado en Aguas de So Pedro, en 1987. Vivir realmente un evento -como todos sabemos-, supone no solo las sesiones formales sino las oportunidades de desplegar el pensamiento en torno de una mesa que posibilite llegar hasta la raz de las ideas y de los procederes, de manera de poder ahondar en la integridad del investigador. Y eso fue posible con el Prof. Andrade porque, si bien constitua una figura fsicamente imponente, de voz grave y seo adusto, su sensibilidad, su cristalinidad y su tica facilitaban la rpida comprensin de su manera de pensar y actuar.Andrade desarroll siempre una geografa crtica, materialista dialctica, latinoamericanista, profunda, prolfica en produccin bibliogrfica orientadora y no ajena a una militancia social acorde con su pensamiento cientfico. Entendemos que ha sido un ejemplo para toda Amrica Latina-, por el valor intelectual pero tambin por haber estado siempre acompaado de la coherencia permanente en la accin. Por ello, fue justificado que se le otorgara el Premio Milton Santos al Mrito Geogrfico, en el X Encuentro de Gegrafos de A. Latina realizado en la ciudad de So Paulo el ao 2005..Andrade incursion en temas que siempre consider con solvencia, era un profundo estudioso de la historia contempornea, con ella explic la geografa econmica, en primera instancia Agraria, pero tambin Industrial, dndole prioridad a los espacios regionales. Buscando desentraar el significado de los territorios en el concierto internacional escribi sobre la Geopoltica de Brasil. Del punto de vista metodolgico, en diversas publicaciones ha hecho referencia a la evolucin de la Geografa como ciencia en relacin con las otras ciencias sociales. Se destac tanto como investigador como por su capacidad de divulgacin. Entre los estudios agrarios, recientemente haba efectuado un artculo acerca de la gestacin del Movimiento de los Sin Tierra en el que se valor, entre otros, desde el origen de la inequidad provocado por la concesin desesmaras, pasando por la accin de los movimientos polticos hasta la influencia de Iglesia brasilea progresista.Intentamos observar al gegrafo con su propia metodologa de anlisis biogrfico como cuando Andrade, refirindose al colega francs sealaba:"Para mejor comprender la importancia de la obra geogrfica de Elise Reclus, se torna necesario situar el autor en el espacio y el tiempo, y luego la valoracin: Actuando o escribiendo, utiliz siempre las dos vertientes: la del ciudadano, revolucionario y libertario, y la del cientista, conciente y competente."(1)En la misma publicacin Andrade asume el destaque de los valores a los que l, interiormente, adhera:"El anlisis de su vida, indispensable para la comprensin de su obra, se torna muy interesante por el hecho de no haber jams separado la accin poltica de la accin cientfica, pudiendo ser considerado el profesional-ciudadano" (2)De modo que l no separa el rigor del investigador de la militancia por el logro de transformaciones a favor de la equidad social.La Geografa, ciencia socialSi bien considera a la Geografa como ciencia autnoma desde los trabajos de Humboldt y Ritter no subestimaba los antecedentes de Herodoto, Estrabn, Ptolomeo y los viajeros de la Edad Media, Marco Polo, Ibn Batuta e Ibn Khaldun, considerando al ltimo como uno de los predecesores de la geografa humana. A los cientficos alemanes del Siglo XIX los relacion claramente con el desarrollo del capitalismo de aquel pas, en el que no desaparecen los grandes terratenientes mientras se produce la aparicin de una industria pujante.En el caso de Ratzel, destaca el marco de la transformacin de Alemania en un Estado industrial que busca expandirse como territorio imperial, luego que alcanzara la unificacin poltica. Diferencia a Reclus porque adopt posiciones diferentes que su maestro Ratzel ya que no se constituy en un aliado de la burguesa francesa ni de sus representantes gubernamentales. Sin embargo, profundizando el anlisis, entiende que como francs llega a ser influido por la poltica exterior de su pas y seala, el caso particular de su justificacin de la ocupacin de Argelia al mismo tiempo que, en situaciones similares, condenaba el colonialismo ingls en la India o el de Holanda en la Insulindia.Luego, no eludir el registro las crticas polticas ms agrias sobre Reclus provenientes del movimiento obrero cuando seala que:"Su participacin en las disputas entre Marx y Bakunin contrari mucho al primero, que en carta a Bracke, de 30 de noviembre de 1876Lo que piensan los socialistas de lengua francesa me desagrada profundamente. Ellos estn representados, bien entendido, por la triste figura de los hermanos Reclus...Tampoco Engels tiene piedad con el gegrafo francs, cuando en carta a Liebknecht, de 31 de julio de 1877, afirma que Elise es un copiador y nada ms"(3)Andrade considera una contradiccin en Reclus el hecho que, por un lado aceptaba el anlisis de la sociedad en clases sociales a la lucha de clases como factor de evolucin y transformacin social pero no aceptaba que la clase obrera tuviese la misin de destruir la burguesa y de establecer un Estado sin clase dominante. En esa crtica contrapone su visin marxista con la visin libertaria del gegrafo al que admir por sus aportes a la disciplina, independientemente de sus discrepancias..Destaca que, si bien Reclus analiza la naturaleza, se distingue de las tendencias dominantes en la escuela clsica francesa porque, adems de lo fsico-natural se preocupa porla organizacin del poblamiento, la utilizacin del espacio, las formas de explotacin econmica, las relaciones de clase, los sistemas de transporte y la organizacin de la red urbana. Quizs en este punto no lleg a subrayar la relacin entre el pensamiento anarquista y la admiracin y respeto por la Naturaleza, caractersticos en los pensadores cratas hacia el final del siglo XIX y primera mitad del siglo XX, en ideas que parecen influidas por los escritos de Rousseau.El mtodoLa posicin personal la define a travs del contraste con lo que no acepta o no pretende, por ejemplo, en el caso del estudio acerca de la industria del Nordeste:"Al planear este trabajo nos comprometemos a no limitarnos a la descripcin y la localizacin de los establecimientos industriales y mucho menos a establecer modelos y utilizar a gran escala tablas que indiquen el mayor o menor crecimiento industrial, sino que, por el contrario, procurar responder, dentro de una visin dialctica, las preguntas que siguen: cmo se distribuyen las industrias?; por qu se distribuyen de la forma que las describimos?; a quin sirve ese tipo de distribucin?; cules y por qu ciertos factores son estimulados a realizar el tipo de distribucin implantada?; cules son las consecuencias del desarrollo industrial sobre las condiciones ecolgicas y sociales?. Conviene destacar que al analizar el problema econmico, no lo hacemos desvinculndolo de lo social como si se resumiese a una relacin hombre/naturaleza. Esto porque, en los das que transcurren, hay de defender medidas y directrices poltico-econmicas que tratan de conservar el sistema social dominante y no procuran abrir oportunidades para transformaciones sociales que permitan el crecimiento sin la degradacin de la naturaleza." (4)Ratificando sus ejes de atencin expresar en O Nordeste e la Nova Repblica:"tomando en cuenta tanto las relaciones hombre/tierra como las relaciones entre los hombres, divididos en clases cuyos intereses estn en conflicto, as como a los choques en las relaciones entre ciudad y campo y entre varias regiones brasileas." (6)Es decir, partiendo de un anlisis materialista dialctico pero asumiendo que las contradicciones de clase tambin se reflejan en las relaciones campo ciudad y en las desigualdades regionales. Estudiar desde una visin proletaria pero tambin desde las regiones que son desplazadas por las clases poderosas de las regiones dominantes.El gegrafo profesionalAndrade escribi y expuso sobre la historia de la Geografa Brasilea -en particular sobre las diferentes fases de la Asociacin de Gegrafos Brasileos-, y sobre el proceso de formacin del gegrafo profesional, vinculando la aparicin y multiplicacin de las carreras universitarias con la realidad del mercado de trabajo. Relata que los estudios geogrficos a nivel terciario comenzaron luego de la instalacin delEstado Novoliderado por la preparacin de docentes en Geografa destinados a la enseanza media e investigadores vocacionales. En los albores, los estudios de ndole geogrfico eran cubiertos por destacados historiadores, economistas y socilogos.En esos aos 30 se destacan los maestros franceses, Pierre Deffontaines, Pierre Monbeig y Francis Ruellan y los brasileos Victor Leuzinger y Josu de Castro. Andrade entiende que la fundacin del Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica, en 1939, en Ro de Janeiro, entonces capital del pas, impulsar el desarrollo de una Geografa que, en el primer momento atiende al perfeccionamiento de las divisiones territoriales del pas, comenzando por una cartografa de las regiones naturales e influido por los aportes de quienes hacan postgrados en Francia y Estados Unidos apuntaban a realizar relevamientos regionales que, en el caso de San Pablo dieron mayor lugar a los aspectos humanos y econmicos.Paralelamente, se desarroll a partir de 1945, la AGB que, en opinin de Andradefuncion como verdadera escuela de formacin de gegrafos en un momento en que la importancia de la Geografa ya obtuviera un mayor reconocimiento del poder pblico.En los 60, el Estado estimula la creacin de cursos de postgrado. El mercado de trabajo demanda, en primera instancia manejo de cartografa, imgenes remotas o degradacin medioambiental, campos en los que encuentra posibilidades el profesional gegrafo. .Para Andrade,"la Geografa es una ciencia eminentemente social y al estudiar la produccin y la reproduccin del espacio tiene que encarar la relacin entre la sociedad y la naturaleza, la especializacin, en el nivel en que est exigido, puede perjudicar al gegrafo como cientista y como profesional de la Geografa, haciendo que adopte una visin falsa, distorsionada de la realidad con la que acta" (5).No era partidario de delimitaciones rigurosas de las profesiones, sobre todo entre las ciencias sociales,"es imposible delimitar el campo de actuacin de profesionales que aplican estas ciencias. De ah que pensemos que la reglamentacin de las profesiones en general no deba delimitar rigurosamente en reas de accin, de las mismas, no siendo un problema en ciertas reas y actividades que confluyan profesionales de calificaciones diferentes."Fue muy crtico respecto a los trminos de la Ley del gegrafo profesional, aprobada en tiempos dictatoriales porqueignoraba toda la formacin humanista que caracteriza a la Geografatomando en consideracin solamente los aspectos referidos al anlisis cuantitativo, en tanto que piensa engegrafos que podrn dar o que darn una gran contribucin a la formulacin del futuro del pas como estado y como nacin, reparando en las desigualdades regionales y sociales en l existentes(6).Eran tiempos de apogeo de la Geografa Analtica y Teortica que constuye una prctica neopositivista sustentada en la confianza en los instrumentos de la matemtica y la fsica y a la cual se enfrentara una Geografa Radical liderada por Milton Santos.Geografa y ambienteLuego de la cada de la Unin Sovitica, en un artculo de la Revista Caderno Prudentino juzga que, en definitiva los dos sistemas econmicos en clara contradiccin en la Guerra Fra, con sus preocupaciones militares dejaron de lado el respeto al ambiente. Pero entiende que las posiciones ecologistas, deben ser superadas por una Ecologa cientfica que permita el manejo de la naturaleza sin destruirla.Cuando hace referencia a las grandes destrucciones ambientales acaecidas en la historia de su pas. La correspondiente a la vegetacin natural, en primer lugar, la desaparicin de la mata atlntica desde Ro Grande del Norte hasta Ro Grande del Sur, rea ocupada por caaverales, empleada tambin en combustible, luego por la explotacin ganadera y el cultivo del caf. La desaparicin de la caatinga arbrea en el Nordeste a manos de la extensin de pasturas. En la destruccin se han sumado las explotaciones mineras. Seala el profesor"cmo el Brasil, al convertirse en el mayor productor de casiterita se transform en uno de los pases del mundo campen de bosques naturales destruidos y de suelos degradados, debindose agregar a esto la explotacin hecha por las madereras y la degradacin y destruccin de las tribus indgenas".Cuando se instal el Plan PROLCOOL se apoy a los empresarios en la instalacin de destileras pero no se le exigieron normas ambientales (7). Las ciudades volcando sus detritos a los ros o directamente a las playas. Los bosques subtropicales del sur desplazados por el algodn y el caf , luego por el trigo y la soja.b) La degradacin de las aguas unida a los acelerados procesos de urbanizacin, principalmente en las reas de pobreza con los procesos industriales pero tambin la degradacin de ros de la cuenca amaznica y hasta del propio Pantanal.c) Destruccin de los suelos tanto del punto de vista fsico como qumico, los primeros que facilitan la dinamizacin del transporte de partculas y el segundo en base al empleo de insumos qumicos.La variable econmica y social es expresada como decisiva:"...preocupados con el crecimiento econmico, confundieron crecimiento con industrializacin y desarrollaron una poltica en ese sentido sin mayores preocupaciones por los daos causados en el medio ambiente..." (8)El gegrafo pernambucano no comete el error de llevar hasta un lmite discursivo la contradiccin no antagnica entre naturaleza y sociedad pero su planteo supone que la defensa de la primera no debe sacrificar el desarrollo social.Dos grandes nordestinosEs conocido el gran paralelismo histrico con la vida del Prof. Milton Santos, con dos estilos diferentes en lo personal y lo profesional pero con ejes sustanciales comunes. Como se trataba de un hombre ntegro, cuando destaca los rasgos del amigo est afirmando qu es lo que a l le importa:"En los libros y artculos de Milton Santos se observa siempre la preocupacin entre el ser y el deber ser, esto es, entre la realidad y la utopa. Y, en efecto, realidad y utopa tanto se confrontan como, al mismo tiempo, dialcticamente, se complementan" (9).Sin lugar a dudas, ste ha sido uno de los grandes desvelos del Prof. Manoel, cumplir una prctica acorde con las grandes lneas de sus objetivos sociales.En algunos congresos, la mera presentacin de Milton Santos previa a una de sus conferencias constitua un verdadero testimonio de quien haba compartido o estaba muy prximo a los hechos. Nacidos ambos en el Nordeste de los aos 20, en plena crisis de la Primera Repblica brasilea, crecieron en tiempos del Estado Novo de Getulio Vargas, sus estudios universitarios partieron del Derecho, una enseanza impregnada de filosofa de las ciencias sociales. Jvenes se encontrarn en la Asociacin de Gegrafos Brasileos en tiempos de debate entre los planteos de la Geografa Vidaliana y los albores de la Geografa Crtica. Andrade fue presidente de AGB en 1961-62 y Santos en el ejercicio siguiente.El Golpe Militar que inaugur en 1964 el gran ciclo de gobiernos dictatoriales en Amrica del Sur, los encuentra a ambos como protagonistas polticos de primera lnea en cargos de confianza de gobiernos locales progresistas, el Prof. Manoel del Gobernador Arraes de Pernambuco y Milton del Gobernador de Baha. Como consecuencia de ello, ambos fueron perseguidos y debieron cumplir su primer exilio en Francia. Recordemos que el rgimen brasileo se caracteriz, entre otras cosas, por el desarrollo de una represin selectiva sobre quienes consideraba sus enemigos ms peligrosos pero mantuvo en manos del Estado aquellas reas de la economa que consideraba fundamentales para el desarrollo de un sistema en el que dio acceso a los capitales extranjeros.Ms adelante, tambin juntos llevarn adelante el viraje radical de la AGB que estallara con la repatriacin del gegrafo de Baha. .Pensador del mundo al tiempo que ciudadano de RecifeEl Brasil se descubre y puebla, por proximidad geogrfica de los pases colonizadores, desde el Noreste. Los recursos forestales primero luego la caa de azcar y ms tarde tambin el cacao y el algodn interesaron a un mercado mundial que fue pautando la prosperidad y las crisis regionales. Un ganado de bajos rendimientos ubicado hacia el interior, aportaba el transporte y los cueros para diversas necesidades. Del punto de vista humano, la expansin econmica de la regin signific el desplazamiento de los indgenas y la explotacin bsicamente de mano de obra esclava.Si bien en 1763, la capital dej el Nordeste para instalarse en Ro de Janeiro, todava en 1872, Recife era la tercera ciudad de Brasil por el nmero de habitantes, luego de Ro de Janeiro y Salvador. Con el tiempo, el Nordeste pas a ser el aprovisionador de mano de obra sufrida y barata para el desarrollo de los principales centros capitalistas del Sureste.Por ello, la proporcin de la poblacin nordestina en Brasil pas de 38,7% en 1900 a 24,7 en 2000. En el siglo XX, el Nordeste se convirti en el mejor ejemplo de subdesarrollo social de Amrica Latina denunciado por trabajos como los de Josu de Castro.Los empleos ms esforzados de esa rea han sido tradicionalmente sobrellevados por los nordestinos, entre los cuales muchos viajan agarrados del denominado pau de arar, camionetas abiertas, atestadas de individuos que deben sufrir durante miles de quilmetros los rigores de la atmsfera.Andrade no es el gegrafo localista, ni siquiera local, el observa la realidad prxima a su existencia con una visin del mundo, un mtodo y una ideologa global que ancla en el comentario de situaciones que observa y vive; marcando, adems la importancia de la dinmica de la inequidad espacial, expresada en el desarrollo desigual y combinado.El historiador Fausto sostiene que la conciencia nacional de Brasil se construy a partir de los movimientos que consolidaron la conciencia regional. Entre esos acontecimientos ubica, en primer lugar, a la denominadaGuerra dos Mascates, en Pernambuco en 1710 y ms adelante, a la revolucin de Recife, 1817, en la que intervinieron militares, un numeroso grupo de sacerdotes, comerciantes, jueces, propietarios rurales. Un tpico movimiento de criollos esclarecidos que reaccionan ante la inequidad imperial en el terreno econmico y social, en tiempos en que la corona se encuentra en territorio brasileo. El de 1817 fue un movimiento controlado luego de una lucha de dos meses pero que trascendi a la ciudad en la que tuvo su punto de partida porque se extendi al sertn, a Alagoas, Paraba y Ro Grande do Norte.El diseo de una produccin de azcar con el objetivo de exportacin,"de ah que los primeros ingenios se localizaran generalmente en los estuarios de los ros, poseyendo trapiches en donde el azcar era embarcado; posteriormente, cuando esos puntos favorables ya no eran encontrados, se localizaban a alguna distancia de los ros a fin de que el azcar pudiese tener acceso al puerto fluvial en lomos de animales, mulares sobre todo. Algunos de esos pequeos puertos formaron ncleos que dieron origen a villas, poblaciones y posteriormente a ciudades. (...) Los propietarios de tierras y de industrias formaban con los comerciantes la clase dominante, teniendo el segundo grupo mayor poder y mayor participacin en la plusvala obtenida. A esos dos grupos se agregaran, despus de la creacin del Gobierno General, los funcionarios de alta categora, dependientes directamente de la autoridad del gobernador general e indirectamente de la Corona. Casi siempre esos grupos sociales se interpenetraban, siendo comn que comerciantes y funcionarios adquirieran tierras para cultivar y seores de ingenios se convirtieran en autoridades. (...) Contraponindose a esa clase alta haba tambin una clase baja, menos dotada de recursos y de poder la que estaba representada sobre todo por los esclavos, indios y negros, y por personas que trabajaban en las propiedades como dependientes, o como trabajadores braceros, en las ciudades y en las villas. Durante la Guerra de los Mascates hubo una participacin, del lado de los comerciantes, de grupos pobres que habitaban en Recife.Entre esas dos clases encontrbamos an elementos que pueden ser considerados de clase media, que a su vez vivan de la agricultura como labradores de caa plantaban la caa de azcar para moler en el ingenio del propietario de la fbrica o como medianeros (foreiro)- cultivadores de productos alimenticios- o tambin como empleados en los ingenios y en las haciendas de ganado, implantadas en el litoral a partir del siglo XVI..."(10).Incluimos este fragmento para apreciar de manera concreta cmo Andrade integraba el anlisis a la vez, espacial, histrico, de la lucha de clases y sus consecuencias en el plano natural.Al finalizar la dictadura militar, incursiona nuevamente en la temtica del Nordeste, quizs con la expectativa de incidir con los argumentos del investigador en la que poda constituirse en una nueva poltica agraria, entonces reneuna serie de ensayos escritos de 1982 a 1985, sobre aspectos diversos de la realidad nordestina, escritos en momentos de reflexin y de intento de alternativas para la solucin de los grandes problemas que afligen a la Regin e impiden su desarrollo(11),En esa publicacin realiza una caracterizacin sinttica de los problemas del Nordeste:"el predominio del latifundio, la baja utilizacin de la tierra, la dificultad de acceso del productor a la propiedad y a la posesin de la tierra, los bajos niveles de produccin agrcola, y la orientacin de la poltica gubernamental, estimulando la produccin para la exportacin y la asistencia a los grandes y a los agricultores medianos en detrimento de los pequeos productores".Habla incluso de la frecuencia de latifundios de ms de 500.000 hectreas.Es muy crtico en cuanto a las polticas del Estado porque, por ejemplo, estimula la compra de maquinaria agrcola que reduce la demanda de mano de obra. Aos despus, la CEPAL luego de analizar los procesos de modernizacin de la agricultura de Brasil titularUna agricultura sin mano de obra, lo cual supone una reproduccin de los problemas sociales y espaciales. Es el mismo Estado que estimula, a travs del Programa PROALCOOL la sustitucin de las reas de cultivos para la alimentacin por la apuesta a la sustitucin parcial del petrleo o, en otros casos, el estmulo a la produccin pecuaria. Tambin hace referencia a que las grandes inversiones en irrigacin, como aconteci con el Ro San Francisco benefici a grandes grupos econmicos que expulsan a medianeros y aparceros, creando una conflictividad violenta. Al mismo tiempo, esas acciones se llevan adelante con una falta total de conciencia conservacionista.Andrade plantea las sintetizamos- lo que podra ser un conjunto de medidas concretas para atacar el problema de propiedad de la tierra:a) expropiacin del latifundio mediante pago de ttulos de deuda pblica para destinar los cultivos prioritariamente al mercado interno y, secundariamente, a la exportacin;b) la regularizacin de la posesin de la tierra de millares de familias que en todo el Nordeste estn ocupando reas no impugnadas;c)la demarcacin de tierras desocupadas en las reas en poblamiento y la implantacin de ncleos de colonizacin donde deben ser localizados los agricultores sin tierra y os minifundiarios que estn dispuestos a la transferencia;d) el desaliento a las grandes extensiones de cultivos dirigidos a la exportacin y el estmulo al cultivo de alimentos;e) la eliminacin de las milicias privadas y la represin de los guardias que, al servicio de los grandes propietarios llegan hasta el asesinato de pequeos propietarios;f) la seguridad de los sindicatos rurales y las cooperativas de pequeos productores. (12)Un latinoamericanistaEn varias oportunidades, en presentaciones pblicas o en dilogo coloquial, Andrade expresaba, como pocos brasileos su conciencia de la Patria Grande. Alguna vez, Caetano Veloso ha dicho que Brasil estuvo histricamente a la defensiva porque se trata de un territorio cercado por la cultura hispnica, lo cual ha conducido a una actitud predominantemente defensiva ante los pases fronterizos. Por otra parte, un pas continente tiende naturalmente a accionar hacia adentro en el plano del poblamiento, la cultura, la inversin o el turismo. De ah que valoramos sobremanera la visin continental solidaria del Prof. Manoel.Quizs por tener la visin de un gegrafo que no desarroll su formacin y su actuacin en los grandes centros de poder de Brasil, parta de un punto de vista crtico en cuanto a la estructuracin territorial y eso le permita una amplitud de anlisis, desde el distanciamiento regional, manifestaba claramente su inters en la lectura y la trayectoria histrica de los personajes que como Jos Artigas han unido el arraigo en las masas populares con un pensamiento social avanzado para sus tiempos.Las nuevas generaciones lo van a echar de menos porque durante aos fue quien llam la atencin sobre los hechos de la poltica internacional que afectaban la geopoltica de su pas y del continente.Notas(1)Andrade. 1985, Elise Reclus, p.7.(2)Ibidem, p. 11.(3)Ibidem, p. 15.(4)Andrade, 1987,O Nordeste..., p. 8(5)Andrade, 1987,Perspectivas...p. 148.(6)Andrade, 1987,O Nordeste..., p. 10(7)Andrade, 1987,Perspectivas...(8)Andrade, 1993(9)Ibidem, p.95(10)Andrade, 1981, pp. 14-16.(11)Andrade, 1987,O Nordeste, P.7(12)Ibidem, pp. 30-31BibliografaANDRADE, Manoel Correia de.Estado, Capital e Industrializao do Nordeste. Rio de Janeiro: Zahar Editores,1981.ANDRADE, Manoel Correia de.Tradio e Mudana. A organizao do espao rural e urbano na rea de irrigao do submdio So Francisco. Rio de Janeiro: Zahar Editores,1982.ANDRADE, Manoel Correia de (Organizador).Elise Reclus. So Paulo: Editora Atica,1985.ANDRADE, Manoel Correia de,Geografia Econmica.So Paulo: Editora Atlas,1985.ANDRADE, Manoel Correia de,Geopoltica do Brasil.So Paulo: Editora tica,1985.ANDRADE, Manoel Correia de.Geografia Ciencia da Sociedade.Uma Introduo Anlise do Pensamento Geogrfico. So Paulo: Editora Atlas, 1987.ANDRADE, Manoel Correia de.O Nordeste e a Nova Repblica. Recife: Editora ASA,1987.ANDRADE, Manoel Correia de. Perspectivas do papel do gegrafo, como profissional, no Brasil.Boletim de Geografia Teortica, AGETEO, Ro Claro, Vol. 1-17, Nos. 31, 34, 1986-1987, Universidade Estadual Paulista (UNESP), pp. 142-152.ANDRADE, Manoel Correia de. Homen e natureza: por uma poltica de meio- ambiente para o Brasil.Caderno Prudentino de Geografia, AGB, Seo Local de Presidente Prudente, No. 15, setembro de 1993, pp. 6-17.ANDRADE, Manoel Correia de. Milton Santos, o gegrafo-cidado.EnO Mundo do Cidado Um Cidado do Mundo, So Paulo, Editora Hucitec,1996, pp. 92-97.FAUSTO, Boris.Historia concisa de Brasil. Mxico: Fondo de Cultura Econmica, 2003.

NOTAS SOBRE A ECONOMIA NA GEOGRAFIA DE MANOEL CORREIA DE ANDRADECsar Augusto vila MartinsDepartamento de Geocincias, Programa de Ps-GraduaoemGeografia. Ncleo de Anlises Urbanas. Universidade Federal do Rio Grande (FURG), [email protected]

Notas sobre a economia da Geografia de Manoel Correia de Andrade (Resumo)O gegrafo brasileiro Manoel Correia de Andrade foi um pesquisador rigoroso, um escritor prolfico e um cidado com ativa participao poltica, mantendo uma postura coerente ao longo de sua vida.Reconhecido pelo conhecimento e busca de solues para os problemas da regioNordeste brasileira, baseou-se no conceito de formao econmico e social para contribuir para a epistemologia da Geografia e manter a interlocuo com outros campos do conhecimento como a Economia.Palavras chave:Manoel Correia de Andrade, Geografia, Economia.

Remarks about the Economics in the Geography of ManoelCorreiade Andrade (Abstract)The Brazilian geographer ManualCorreiade Andrade was a meticulous researcher, a prolific writer and a citizen with active political involvement, maintaining a coherent posture throughout his life. Recognized by his knowledge and search for solutions to the problems in Brazil's Northeast region, he was grounded in the concept of economic and social formation to contribute to the epistemology of Geography and to maintain the communication with other fields of knowledge, such as Economy.Keywords: ManoelCorreiade Andrade, Geography, Economy.

O artigo objetivaapresentaracontribuiode Manoel Correia de Andrade (1922-2007)emumrecorte definido pelo enfoqueoferecidonolivroGeografiaEconmica publicadoem1972. Para atingir o objetivo, o artigo est divididoemduaspartes. Aprimeirarealizaumbreve relato desuatrajetriaintelectual procurando identificar elementos que oposicionamcomoumdos grandes gegrafosbrasileiros.Nasegunda parte busca-se oencontrodaspossibilidadesabertasnaleituradolivro. Evita-se apretensodedissecaras bases tericasdestaobra,poiselaest inseridaemquaseumacentenalivrospublicados desde o final dos anos de 1950 e centenas deartigoseplaquetes. Objetiva-se identificarnaobra enumaparte datrajetriadomestrepernambucanoaafirmaodeumaformulaoanaltica: aformaoeconmicae social.Um contexto para o textoA Geografia Econmica o vigsimo livro de Manoel Correia de Andrade (MCA) com vrias reedies. uma obra que foi produzida como texto base para a disciplina do mesmo nome e presente em cursos de graduao como os de Geografia, Economia, Administrao, Histria e Cincias Sociais efoireeditado vrias vezes por uma grande editora brasileira[1].MCA tem em sua formao os alicerces do que foi chamado de comunidade pernambucana de gegrafos que no se empolgava unicamente pelo econmico da questo geogrfica (MONTEIRO, 1980, p. 20). Reconhecido como o gegrafo de maior conhecimento da regio Nordeste do Brasil (SILVA, 1995), produziu uma das obras mais relevantes para o seu estudo: A terra e o homem no Nordeste, seu oitavo livro, publicado em 1963, conta com vrias edies em diferentes lnguas e pases. Este livro representar pelo menos duas marcas de seu trabalho. Em primeiro lugar o reconhecimento de sua importncia nas Cincias Sociais brasileiras e em segundo lugar a coerncia com a sua formao marxista[2].O relevo nas Cincias Sociais brasileiras foi apontado por MONTEIRO (1980) ao referi-la como a nica obra geogrfica mencionada na avaliao da Ideologia da cultura brasileira elaborado por Carlos Guilherme Mota em 1977. No mesmo ano, Francisco de Oliveira, um dos formuladores da Superintendncia do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) com Celso Furtado, em Elegia para umare(li)gio-Sudene, Nordeste, planejamento e conflito de classes, refere-se ao livro como uma boa descrio do Nordeste, mas que parece-nos, entretanto que Correia de Andrade partiu do Nordeste fsico para o econmico-poltico, que no o andamento privilegiado por nossa opo metodolgica (1987, nota 13 na p. 41).Na formulao de Francisco de Oliveira, est um dos alicerces do pensamento de MCA e a coerncia com a sua leitura das obras de Karl Marx e de marxistas: o entendimento da indispensabilidade de que a leitura geogrfica no deve prescindir da base material combinada com as relaes sociais de produo: os gegrafos ditos marxistas chegaram at a tentar eliminar a natureza dos estudos geogrficos (...) lendo supostos marxistas como Bunge e Harvey, no se detiveram no estudo e anlise do pensamento dos primeiros discpulos de Marx e nas obras fundamentais de Gramsci (ANDRADE, 1993: 20). A exposio de MCA minimamente instigante, pois serviu como pretexto para que alguns crticos se referissem a sua anlise como carregada de elementos do marxismo e deum certoeconomicismo. Um exemplo DINIZ FILHO (2002) quando afirma que a perspectiva de MCA apresenta mais elementos de ortodoxia do que as vises que ele rejeita (p. 84). A crtica da crtica realizada por DINIZ FILHO (2002) encontrada, por exemplo, em Ana Fani A. Carlos (2007) que pode ser sintetizada em A crtica superficial da geografia crtica' desembocou num preconceito que impede qualquer perspectiva de dilogo. Assim, o que poderamos chamar de uma crise do marxismo (na Geografia) chegou mesmo produzir o preconceito contra o pensamento terico e a negao de qualquer contribuio deste pensamento na construo do pensamento geogrfico (p. 5)[3]. Ora, na introduo de O Desafio ecolgico- utopia e realidade de 1993, o autor escrevia sobre a inteno dessa coletnea: a publicao do livro visa chamar a ateno das autoridades e estudiosos para uma srie de interconexes entre os problemas ecolgicos, econmicos e polticos (p. 12). A potncia da formulao pode ser avaliada quando da manuteno de suas idias em textos que mantm o debate sobre os limites e possibilidades de uma Geografia unitria e diversa. Assim, referncia em trabalhos de gegrafos que podem ser considerados fsicos com Mendona (1989 e 2002) e Camargo e Guerra (2007).MCA produziu textos relevantes para a avaliao da Geografia no concerto das cincias. Como observou MONTEIRO (1980) em seu balano, avaliao e indicao de tendncias da Geografia, M. C. de Andrade, no artigo O pensamento geogrfico e a realidade brasileira de 1977, inaugura com Nelson Werneck Sodr (1976), as primeiras tentativas de repensar a geografia que tem sido feita por ns no Brasil (p. 7). O referido artigo est publicado no nmero 54 do Boletim Paulista de Geografia de 1977 e foi reeditado em 1981 na coletnea Novos rumos da Geografia brasileira da editora HUCITEC organizada por Milton Santos. Este artigo apresenta uma das preocupaes constantes na obra do autor: a articulao entre a Histria, a histria da cincia geogrfica e a histria da sociedade brasileira. Com base em rica pesquisa bibliogrfica, o mesmo citado como fonte de gegrafos brasileiros que construram e constroem a renovao da Geografia brasileira a partir do final da dcada de 1970. Em uma pesquisa no exaustiva anotam-se alguns registros de citaes do artigo em trabalhos com objetivos e aportes diferenciados:1.estreferenciado no captulo dedicado a Geografia Humana escrito porPaqualePETRONE (1979) para a coletnea Histria das Cincias no Brasil;2.foicitado na dissertao de mestrado de Ana FaniAlessandriCARLOS (1979) no debate sobre a predominncia dos estudos das condies naturais na Geografia produzida no Brasil nas dcadas de 1940 e 1950 (p. 10) e na crtica a utilizao da metodologia quantitativa por alguns gegrafos brasileiros (p. 14);3.foiconsiderado clssico (p.211) por Milton SANTOS (1981) num balano da Geografia brasileira no comeo da dcada de 1980;4.estpresente na reflexo crtica sobre o ensino de Geografia realizado por MOREIRA (1987);5.apontado por OLIVEIRA (1999) como o pioneiro no Brasil em indicar uma geografia libertria comE.Recluse P.Kropotkinno debate que deve incluir ohistoricismocom o positivismo e a dialtica nas matrizes do pensamento geogrfico moderno.A manuteno da preocupao com as ligaes da cincia geogrfica com a sociedade e com a formao dos profissionais em Geografia emerge na providencial organizao da seleo de textos deEliseRclusem coleo dirigida pelo professor Florestan Fernandes em 1985, em Geografia cincia da sociedade em 1987 e em Caminhos e Descaminhos da Geografia de 1989. Esta preocupao tambm esteve presente no livro Geografia Geral publicado com HiltonSettepela editora do Brasil com vrias edies nas dcadas de 1960 e 1970. O livro dedicado para os estudantes dos cursos colegial, cientfico-clssico, tcnico e para a formao de professores primrios. Dividido em duas partes intituladas Geografia Fsica e Geografia Humana aberto pelo captulo chamado de A cincia geogrfica, onde os autores apresentam uma pequena sntese da histria do pensamento geogrfico com imagens de Alexandre Humboldt e de AndrCholleyde onde adotam a diviso da Geografia em Geral ou Sistemtica, que seria composta pela Geografia Fsica e pela Geografia Humana e a Geografia Regional.Outra temtica constante na obra de MCA o campo brasileiro. Juntam-se a A terra e o homem no Nordeste e outras obras como Cidade e campo no Brasil de 1974 e Planejamento regional e o problema agrrio brasileiro de 1976, Capitalismo e agricultura de 1979 e Latifndio e reforma agrria no Brasil de 1980. Consideradas como exemplos da preocupao com a questo agrria, so publicados ainda na dcada de 1970, antes da derrocada final da ditadura militar (1964-1985) e da ecloso e visibilidade dos movimentos sociais do campo. So suas as palavras em artigo recente: o problema premente do Brasil o da realizao da reforma agrria, visando tanto diversificar a produo e compromet-la com o mercado interno como garantir a fixao do homem no campo (...) deve ser voltada tanto para a democratizao ao acesso terra (...) como o da orientao do que produzir, de como produzir e do destino que deve ser dada produo (2002: 19). Nestes trabalhos h uma marca permanente de seus estudos: as descries. Este encaminhamento pode ter conduzido RIQUE (1995) a considerar seu mtodo de interpretao dos fatos como empirista racionalista, comum na geografia, mas que tem no autor em pauta a sua maior expresso no Brasil (p. 155-156). Sem embargo, considera-se que os esforos de gegrafos em se apropriar de teorias de outras cincias e de formular teorias, podem conduzir a um esvaziamento da capacidade explicativa dos arranjos espaciais. Ou seja, esfora-se para produzir explicaes geografizantes com base em debates no aprofundados, como aqueles realizados em outras cincias e assume-se o esvaziamento da disciplina.Para concluir este item e apresentar a obra escolhida, registre-se que sua trajetria foi analisada comparativamente com o trabalho do gegrafo Ruy Moreira no I Encontro Nacional de Histria do Pensamento Geogrfico realizado na UNESP de Rio Claro-SP (EVANGELISTA, 1999), mantm-se como uma das referncias em textos que analisam por diferentes abordagens a histria do pensamento geogrfico, comoSpsito(2004) e Moreira (2007) e que foi saudado por Jos Messias Bastos eArmenMamigonian, editores da Geografia econmica- Anais de Geografia econmica e social, como um dos mestres da Geografia ao lado de nomes comoJ.Chardonnet,J.Gottman,Y.Sauschkin,OrlandoValverde, Josu de Castro e Dirceu Lino de Mattos[4].Para alm do econmico na Geografia EconmicaUma das caractersticas da produo geogrfica no comeo do sculoa pluralidade de conceitos, temas e metodologias. A pluralidade est marcada pelo aprofundamento dos dilogos com diferentes cincias e reas do conhecimento. Este dilogo e o crescimento do nmero dos Programas de Ps-Graduao no Brasil e de estudantes brasileiros realizando mestrado e de doutorado no exterior traz o aumento da diversidade dos temas, das abordagens realizadas e das escalas de anlise. Tal caracterstica indica uma tendncia na diminuio relativa de alguns temas entre os estudos geogrficos. Entre os temas que diminuem relativamente sua presena, esto aqueles relacionados com a Geografia Econmica e aqueles realizados em escala nacional[5]. Sobre as ligaes entre a Geografia e as diferentes cincias sociais,Capel(1984), no captulo que discute as relaes entre Geografia e Economia, apresenta o significado destas na ascenso do trabalho de gegrafos com formao marxista como Pierre George a partir de 1945, sua consolidao com os enfoques baseados nas teorias do desenvolvimento e seu afastamento das questes sociais com a hegemonia da concepo dohomooeconomicusna Geografia Quantitativa.Capelencerra sua analise defendendo a dificuldade em determinar a origem disciplinar de alguns trabalhos que poderiam ser de geografia econmica ou economia geogrfica. Estudos como os de Martin (1996) eMendez(1997), realizam resgates das relaes entre a Geografia e a Economia buscando novas pautas. neste contexto quepode-secomear a retomada de uma formulao de MCA: a objetivao da Economia como uma interlocutora privilegiada na anlise geogrfica da escala nacional.Com sua trajetria intelectual e de vida no Brasil interrompida com o exlio logo aps o golpe militar de 1964, MCA, na Frana toma contato com as possibilidades abertas pelo corolrio do planejamento. Abriu-se a possibilidade de articular sua preocupao com o rigor das fontes com a busca da gnese das explicaes na Histria e nas histrias e com os instrumentos para pensar e propor possibilidades para os problemas detectados, sendo reconhecido como o autor que relacionou pela primeira vez Geografia e planejamento no Brasil (FELIPE, 1995). Tais preocupaes aparecem em textos como Estado, polarizao e desenvolvimento de 1967 e Geografia, regio e desenvolvimento e Agentes aceleradores e de freio do desenvolvimento da economia brasileira, ambos de 1969. logo aps o aparecimento dessas obras que vem ao pblico a primeira edio da Geografia econmica em 1973.

Lanamento do livroCinco sculos de colonizao, no Palcio do Governo de Pernambuco, em Recife, em 2001.

A obra que tem como objetivo ser um livro-texto para a disciplina de Geografia Econmica em diversos cursos de graduao mantm um padro das elaboraes do autor: na apresentao, h um esforo em sintetizar a histria do pensamento geogrfico, apresentando seus principais interlocutores (gegrafos ou no) e delimitando conceitos e operacionalizaes:Na verdade, esta dualidade Geografia Fsica-Geografia Humana j se encontra ultrapassada, de vez que, em relao produo do espao geogrfico, temos de estudar a ao do homem apropriando-se dos recursos existentes, de acordo com as estruturas econmicas, sociais e polticas como esto organizadas. Da a influncia domodo de produoe dasformaes econmicas e sociaisdominantes o espao e no tempo e concluirmos que existe apenas uma Geografia que chamada de uma ou outra maneira conforme o enfoque que se d mesma nos estudos em realizao (1985: p. 16)[6].A perspectiva adotada que as categorias analticas modo de produo e formaes econmicas e sociais que devem ser as centrais para a unidade da Geografia e as portas de entrada para a investigao permitem pelo menos duas observaes. A primeira que esta perspectiva marcou o trabalho de outros gegrafos brasileiros como Milton Santos (Espao e Mtodo), Ruy Moreira (O movimento operrio e a questo cidade-campo no Brasil: estudo sobre sociedade espao) e, sobretudo nas pesquisas realizadas e coordenadas porArmenMamigonianna UFSC, na UNESP de Presidente Prudente e na USP. A segunda que leitores apressados poderiam encontrar a a eliminao da chamada Geografia Fsica, a supremacia do econmico e a liquidao de outras categorias analticas. Trata-se de uma porta de entrada e MCA considerava que a Geografia no um departamento isolado o conhecimento cientfico (p. 17) e admitia a existncia de uma srie disciplinas intermedirias entre a Geografia e as outras cincias naturais e sociais (p. 17) e apresenta uma lista: geomorfologia, geofsica, geoqumica, geopoltica...Uma perspectiva que pode considerar a liquidao dos estudos do chamado meio natural em Geografia eliminada no segundo captulo. Recorrendo a AndrCholley(1885-1968), MCA ao diferenciar o espao geogrfico do natural pela suaartificializaopelo trabalho, sintetiza analiticamente osgeossistemasem escala planetria. Esta preocupao esteve presentes em trabalhos mais recentes como no primeiro captulo de O sentido da colonizao de1994 intituladoA colonizao e seus impactos sobre o meio ambiente e especialmente na coletnea O desafio ecolgico- utopia e realidade.A anlise da dimenso econmica na anlise geogrfica pode ser entendida na delimitao tomada de PaulClaval(LepenseGographique): quando se d maior ateno s relaes homem-meio e quando se analisa gneros de vida faz-se Geografia Humana, mas quando se analisa a organizao do espao em funo da apropriao dos recursos naturais e da transformao dos bens em mercadorias, em uma sociedade avanada, faz-se Geografia Econmica (p. 16).Em Geografia- cincia da sociedade de 1987 a delimitao e as possibilidades de sua proposioestassim definida: a Geografia pode ser definida como a cincia que estuda as relaes entre a sociedade e a natureza, ou melhor, a forma como a sociedade organiza o espao terrestre, visando melhor explorar e dispor os recursos da natureza. (...) no processo de produo e reproduo do espao, cada formao econmico-social procura organizar o espao sua maneira (...) de acordo com os grupos dominantes e de acordo tambm com as suas disponibilidades de tcnicas e de capital (p. 14).A organizao da Geografia econmica apresenta a coerncia do entendimento e da proposta. Em cada captulo as escalas de anlise, sobretudo o global e o nacional, com fartos exemplos regionais brasileiros esto imbricadas, complementando-se e contraditando-se ao longo do tempo. Da o significado da anlise dos sistemas econmicos (naquele momento histrico formado por um sistema centralbipolarizadopelashegemonias estadunidense e soviticae um sistema perifrico) no captulo quatro, com base na histria da colonizao e da descolonizao e das metamorfoses da diviso territorial do trabalho[7].Quais os agentes considerados hegemnicos pela consolidao e metamorfoses dessa anlise?A empresa e o Estado. MCA dedica dois captulos da Geografia Econmica para a anlise das relaes combinadas e contraditrias entre esses dois agentes naquilo que chama de integrao espacial. Apresentando as marcas de sua experincia na academia francesa no perodo do exlio e de sua atuao em rgos de planejamento do Estado brasileiro, Andrade demonstra o papel do planejamento estatal como um dos instrumentos fundamentais na tentativa de racionalizar a explorao do mesmo [o espao geogrfico] (1985: 90). Ao apresentar a trajetria do planejamento na Unio Sovitica, nos Estados Unidos da Amrica, na Frana e no Brasil, afirma outra caracterstica de sua trajetria de cidado e de intelectual: a permanente preocupao com as desigualdades sociais e suas relaes com ambiente. Em suas palavras, sobre o planejamento nos pases capitalistas: aceitam a racionalidade da acumulao de capitala curto prazo, no dando contribuies soluo dos problemas sociais nem preservao do meio ambiente (1985: 96). Trata-se de outra caracterstica de seu trabalho: aindissociabilidadeda poltica e da economia na Geografia[8].O plano de redao da obra apresenta uma seqncia captulos sobre os mercados e os problemas de centralizao e descentralizao econmica discutindo as condies de reproduo do trabalho e da terra e o papel dos transportes e comunicaes na organizao do espao. A seguir analisa separadamente o conjunto de atividades da diviso social e territorial do trabalho: a produo de energia, de matrias-primas industriais,extrativismo vegetal e o poltica florestal, caa e pesca, agricultura e pecuria. O que d unidade as snteses? Paraas formaes econmico e sociais capitalistas o processo de concentrao econmica e a produo industrial. Sem receio da escala nacional, MCA, busca a gnese dos processos e os resultados do desenvolvimento desigual e combinado do modo de produo capitalista. Com a tradicional abundncia e rigor das fontes apresenta exemplos onde oimbricamentodas escalas permite a compreenso dos processos.Como uma marca de sua formao de cidado e profissional ativo nas discusses das questes agrrias, MCA, dedica cinco captulos (do dcimo quarto ao dcimo oitavo) ao espao agrrio. O que h de comum entre eles? A abordagem histrica para a construo de tipologias, a apresentao de dados e a preocupao coma acesso e permanncia dos agricultores na terra. Assim, por exemplo, classifica os sistemas de culturas (agricultura itinerante, roa tropical,plantation, agricultura mediterrnea, agricultura moderna de pases novos e de povoamento antigo e agricultura irrigada do Extremo Oriente e dos desertos quentes) e escreve captulos separados sobre a utilizao do espao para: a produo de alimentos (agricultura e pecuria) e a produo de matrias-primas vegetais[9].O fechamento da Geografia Econmica com dois captulos dedicados ao estudo do urbano e da cidade. Destaque para dois aspectos: o primeiro, a perspectiva histrica da cidade como umlocusprivilegiado da organizao as sociedades nos diferentes modos de produo e da referncia as relaes da cidade com o campo e as relaes intra-urbanas, bem como a tipologia de suas magnitudes das metrpoles no mundo (Nova Iorque, Londres, Paris e Tquio so consideradas internacionais; comoexemplos de metrpoles nacionais citaMadrid e Barcelona na Espanha, Sidney e Melbourne na Austrlia ou So Paulo e Rio de Janeiro no Brasil; entre as metrpoles regionais cita por exemplo Belm e Porto Alegre no Brasil, Crdoba e Rosrio na Argentina ou Guadalajara e Monterrey no Mxico). Um segundo aspecto so as referncias a LewisMunford(A cidade na Histria) e a Henri Lefebvre (Lapensemarxisteetlaville). Ora, em um livro com caractersticas de manual e na edio aqui utilizada (de 1985), MCA, apresentava mais um elemento da importncia de seu trabalho: o conhecimento e apropriao de formulaes que alguns anos depois se tornariam quase unanimidades nos estudos sobre a cidade e o urbano. MCA conhecia e se apropriava de teorias e metodologias para formular suas explicaes. Autores como Henri Lefebvre, demorariam alguns anos para serem debatidos e apropriados nos estudos geogrficos como, por exemplo, observe-se que entre os autores de lngua inglesa a presena de sua obra constante somente depois da traduo de Laproductiondelespace em 1991. Na ltima dcada a obralefebvriana usada como uma espada de um cavaleiroJedi em cruzadas acadmicas para legitimar discursos sobre a chamada produo do espao e a sociedade urbano-industrial. Tentando apresentar um verniz cientfico so corriqueiros estudos que carecem de rigor com as fontes, com a metodologia e tentam encontrar em cada pedao do planeta categorias comovivido-concebido-percebido, espao de representao-representao do espao-prtica social, espaoabsoluto-abstrato-contraditrio-diferencial. Parte desses estudos ignora a indispensabilidade proposta por Henri Lefebvre da anlise do Estado, das insurgncias e de sua base em autores como Marx, Lnin e Nietsche. O rigor, os cuidados com as fontes e a simplicidade do professor Manoel Correia de Andrade so exemplos a seguir.ConclusesO artigo apresentou uma trajetria possvel em um recorte determinado da obra de um dos mais fecundos cientistas sociais brasileiros. Manoel Correia de Andrade foi ao longo de sua vida um cidado que manteve a unidade de sua atividade profissional, acadmica, partidria e de homem de governo. Foi advogado de sindicatos, professor em todos os nveis, organizador de programa de ps-graduao, autor prolfico, militante por pequeno perodo de tempo no Partido Comunista, passando pelo Socialista at o Partido do Movimento Democrtico Brasileiro e foi um homem de governos comprometidos com o desenvolvimento econmico e a eliminao das desigualdades sociais e territoriais (como no governo de Miguel Arraes em Pernambuco sua terra natal).Como apresentar um recorte na vida e obra de um homem, cidado e intelectual integral?Com o pano de fundo baseado em sua insistncia em entender a unicidade da cincia social em funo de sua formao marxista e em sua opo em considerar a Geografia como parte da unidade da cincia social. Parte indistinta, porm parte. Como? Pelo recurso metodolgico de distinguiras formaes econmico e sociais na Histria. Ou seja, a histria do capitalismo na Histriaterritorializadapelo desenvolvimento desigual e combinado (considerava L. Trotski um grande intelectual e escritor).A perspectiva de totalidade, aliada ao rigor com as fontes e a capacidade e insistncia em descrever, podem ter afastado parte da comunidade de gegrafos de sua obra. A reviso de estudos que vo da histria do pensamento geogrficodiscusses contemporneas como aquelas vinculadas aos problemas ambientais (era leitor atento da Dialtica da Natureza de F.Engelse dos Manuscritos Econmico-Filosficos de 1844 de Karl Marx) e ao retorno as questes relacionadas com a crise econmica da dcada de 1990 com as tentativas de fortalecimento do planejamento estatal no comeo do sculo XXI podem obrigar a leitura de seus trabalhos escritos desde a dcada de 1960.Respeitando a coerncia e os engajamentos filosficos, metodolgicos e polticos de Manoel C. de Andrade, afirma-se que antes de uma geografia econmica, h em sua obra um esforo em explicar o mundo em suas mltiplas dimenses, onde os recortes assumidos carregam tanto os limites e como as possibilidades.Notas[1]A editora Atlas, fundada em 1944, especializada em publicaes nas reas do Direito, da Economia e da Administrao. O catlogo em 2007, conta com cerca de 3.000 ttulos. A informao obtida que o livro encontra-se na dcima primeira edio. Neste artigo utiliza-se a 8 edio publicada em 1985. Com base no apndice apresentado no livro Uma Geografia para o sculo XXI de 1993, considera-se a Geografia econmica como o vigsimo livro do autor. MCA atribuiu a sua relativa facilidade em publicar por editoras sediadas em So Paulo, ao fato que a publicao em 1963 pela editora Brasiliense de A terra e homem no Nordeste ter sido prefaciada por Caio Prado Jr. e que havia um projeto da publicao de um ttulo escrito por gegrafos para cada regio brasileira. O projeto no foi realizado e MCA no soube identificar quem seriam os gegrafos responsveis pelos livros de cada regio. Esta e outra informaes sobre a vida e a obra so extradas da entrevista concedida a Jos Correia Leite e publicada na Revista Teoria e Debate, n. 45, julho-setembro de 2002. As referncias da trajetria pessoal apresentadas no texto so desta entrevista disponvel em:www.direitos.org.br. [acessada em 30-08-2007].[2]Eu tenho uma formao marxista e, como tal, no entendo uma separao rgida entre vrias cincias sociais. Para mim, h uma cincia social que tem enfoques diferentes. Mas a cincia a mesma. Eu estudei Marx desde os 18 anos de idade, despertado por um professor integralista, mas que dizia que a crtica feita por Marx sociedade capitalista tinha validade. Para ele, as solues que Marx apresentava que no tinham. Entrevista disponvel em:www.direitos.org.br. [acessada em 30-08-2007].[3]Em funo do objetivo do artigo e do limite de pginas os argumentos do debate no sero expandidos. Com trajetria semelhante ao de DINIZ FILHO (2002), h trabalhos de anlise e busca das insuficincias do que poderia ser considerado como o econmico na Geografia. Tentando enquadrar estudos realizados com forte base emprica articulada histria do pensamento econmico, estudantes de mestrado e de doutorado, realizam dissertaes e teses que pretendem montar esquemas interpretativos das obras analisados e demonstrar possveis insuficincias. Por exemplo, veja-se NUNES (2005) que em artigo baseado em sua dissertao de mestrado na UNESP de Presidente Prudente analisa as teses de doutorado consideradas como Geografia Econmica defendidas na USP entre 1970-2001. Nunes afirma que o excesso de economicismo' apresentado nessas anlises, desconsidera critrios e elementos no estritamente determinados pelas relaes de produo com etnia, gnero, cultura e indivduo (p. 88). Ora, a autora tenta e objetiva encontrar critrios e elementos que no so objeto de anlise dos estudos que possuem outros critrios e elementos. Trata-se de estabelecer perguntas que no tem respostas nas respostas dadas para outras perguntas.[4]A publicao foi criada em 2007 e editada pelo Departamento de Geocincias e pelo Ncleo de Estudos Asiticos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).[5]Veja-se o levantamento realizado pela professora Dirce Maria Suertegaray da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em apresentao oral no I Seminrio de Ps-Graduao em Geografia da UFRGS em Porto Alegre nos dias 20 e 21 de maro de 2007.[6]Em itlico no original.[7]Esta perspectiva est presente em dois pequenos livros escritos no perodo que marcar o desmonte do sistema sovitico e a afirmao