Manifestações Do Conceito Piagetiano de Abstração Na Aprendizagem de Percepção Musical
description
Transcript of Manifestações Do Conceito Piagetiano de Abstração Na Aprendizagem de Percepção Musical
-
Actas de ECCoM. Vol. 1 N2, Nuestro Cuerpo en Nuestra Msica. 11 ECCoM. Favio Shifres, Mara de la Paz Jacquier, Daniel Gonnet, Mara Ins Burcet y Romina Herrera (Editores). Buenos Aires: SACCoM. pp. 381 385 | 2013 | ISSN 2346-8874 www.saccom.org.ar/actas_eccom
Un
dcim
o E
ncu
en
tro
de C
ien
cia
s C
og
nitiv
as d
e la
M
sic
a
20
13
Manifestaes do conceito piagetiano de abstrao na
aprendizagem de Percepo Musical
Caroline Caregnato
Universidade Estadual de Campinas UNICAMP. Universidade Estadual do Amazonas- UEA
Resumo A abstrao pode ser entendida como uma espcie de processo de leitura mental da realidade ou, mais especificamente, como uma apropriao da realidade por parte do indivduo. Este trabalho tem como objetivo buscar compreender, a partir do conceito de abstrao proposto por Piaget, o modo como ocorre a compreenso musical dos alunos da disciplina de Percepo Musical. Este estudo est focado sobre a teoria piagetiana e sobre trabalhos de autores que estudaram a obra de Piaget. Neste artigo so apresentados os quatro tipos de abstrao mencionados na teoria piagetiana: a abstrao emprica, responsvel por apreender da realidade os seus aspectos materiais; a abstrao reflexionante, que permite a extrao de dados no concretos da realidade; a abstrao pseudo-emprica, que abstrai elementos no concretos da realidade com o auxlio de manipulaes concretas; e a abstrao refletida, responsvel por estabelecer relaes entre dados j abstrados. Neste trabalho ainda so apresentados paralelos entre esses tipos de abstrao e situaes vivenciadas no cotidiano do ensino de Percepo Musical. Atravs da transposio das ideias de Piaget sobre abstrao para o campo da disciplina de Percepo Musical possvel compreender como o pensamento dos estudantes se organiza durante a construo da compreenso musical.
Resumen La abstraccin puede ser entendida como una especie de proceso de "lectura" mental de la realidad o, ms especficamente, como una apropiacin de la realidad por parte del individuo. Este trabajo tiene como objetivo tratar de entender, a partir del concepto de abstraccin propuesto por Piaget, cmo ocurre el conocimiento musical de la Percepcin Musical en los estudiantes. Este estudio se centra en la teora piagetiana y en la obra de autores que han estudiado la obra de Piaget. En este artculo se presentan cuatro tipos de abstraccin mencionados en la teora piagetiana: la abstraccin emprica, responsable de detener los aspectos materiales de la realidad; la abstraccin reflexiva, la que permite la extraccin de datos de la realidad no concreta; la abstraccin pseudo-emprica, que resumen elementos de la realidad concreta, con la ayuda de manipulaciones concretas; y la abstraccin pseudo-refleja, responsable de establecer relaciones entre los datos ya abstrados. Este trabajo tambin presenta paralelismos entre estos tipos de abstracciones y situaciones vividas en la enseanza diaria de Percepcin Musical. A travs de la aplicacin de las ideas de Piaget sobre la abstraccin en el campo de la disciplina de la Percepcin Musical es posible entender como se organiza el pensamiento de los estudiantes durante la construccin del conocimiento musical.
Abstract The abstraction can be understood as a kind of process of mental "reading" of the reality or, more specifically, as an appropriation of reality by the individual. This work aims to understand, using the concept of abstraction proposed by Piaget, the musical understanding process of students of Ear Training. This study focuses on the piagetian theory and on works of authors who have studied Piagets researches. This article presents four types of abstraction mentioned in Piagets theory: the empirical abstraction, responsible for apprehending concrete aspects of the reality; the reflective abstraction, which allows the abstraction of non-concrete reality; pseudo-empirical abstraction, responsible for the abstraction of elements of concrete reality with the help of concrete manipulations; and reflected abstraction, responsible for establishing relationships between data already abstracted. This work also presents parallels between these types of abstraction and situations experienced during the work with Ear Training. Through the implementation of Piagets ideas about abstraction for the field of the discipline of Ear Training it is possible to understand how students' thinking is organized during the construction of musical understanding.
-
Caregnato p. 382 | 2013 | ISSN 2346-8874 Nu
estr
o C
uerp
o e
n N
uestr
a M
sic
a
Introduo
O presente trabalho tem como objetivo
entender o modo como ocorre a compreenso
musical dos alunos da disciplina de Percepo
Musical. Este artigo se constitui em um recorte
de uma tese de doutorado em andamento,
dedicada ao tema, e est focado sobre a teoria
de desenvolvimento cognitivo de Piaget uma teoria cognitiva geral e no apenas musical. Mais especificamente, o que se busca neste
trabalho entender, a partir do conceito
piagetiano de abstrao, como ocorre a
compreenso musical durante a aprendizagem
de Percepo Musical.
Uma abstrao se constitui em uma espcie de
leitura da realidade. No caso especfico das atividades realizadas na disciplina de Percepo
Musical, parece possvel afirmarmos que a
identificao dos sons que so ouvidos
depende da realizao de abstraes. A fim de
abordar essa questo, iremos apresentar na
sequncia uma reviso de literatura focada na
obra de Piaget, acompanhada de uma
aplicao dos conceitos sobre abstrao desse
autor a situaes observveis no contexto da
disciplina de Percepo Musical.
Os tipos de abstrao, suas
caractersticas e a Percepo Musical
Piaget (1995), em sua teoria de
desenvolvimento cognitivo, menciona a
existncia de quatro tipos de abstraes:
empricas, reflexionantes, refletidas (derivadas
das abstraes reflexionantes) e pseudo-
empricas (tipo que combina caractersticas da
abstrao emprica e da abstrao
reflexionante).
Para esse autor (Piaget, 1995), as abstraes
empricas so abstraes focadas sobre os
aspectos materiais dos objetos. So abstraes
que recolhem dados exteriores ao indivduo, ou
seja, dados (ou caractersticas) que esto
contidos no objeto e que no foram
introduzidas neles graas a uma ao do
pensamento do sujeito. Um exemplo de
caracterstica introduzida nos objetos por fora
do pensamento a quantidade. As quantidades
e os nmeros no esto no objeto, mas no pensamento daquele que conta. De acordo com
Dolle (1974), a quantidade um dado que se
destaca do objeto e que existe simbolicamente,
ou seja, ela parte do objeto, mas existe apenas
dentro do pensamento do sujeito. Por isso, a
quantidade no apreendida por abstrao
emprica. Ao contrrio, caractersticas como a
cor e a forma de um objeto ou, no caso
especfico da msica, as frequncias de um
instrumento, so caractersticas inerentes aos
objetos e que podem ser percebidas por uma
constatao objetiva. Portanto, ao
constatarmos que um instrumento emite
diferentes frequncias sonoras, ou
simplesmente ao percebermos as variaes de
alturas, ritmos, timbres, dinmicas, etc,
contidas em uma msica, estamos realizando
uma abstrao emprica. A abstrao emprica
parece ser a base das diversas atividades
realizadas durante a aprendizagem de
Percepo Musical.
Em uma frase, a abstrao emprica pode ser
definida como a abstrao que retira sua informao dos objetos [grifo nosso] (Piaget, 1995, p. 141).
Ao apoiar-se sobre os aspectos materiais do
objeto, a abstrao emprica est se apoiando
sobre aquilo que Piaget (1995) denominou
contedo, ou seja, sobre dados especficos e
caractersticos de uma dada situao ou objeto
(Battro, 1966).
A abstrao reflexionante, por sua vez, apoia-
se sobre formas e no sobre contedos como a
abstrao emprica. A forma se constitui nas
caractersticas que existem em comum entre
duas ou mais situaes (Battro, 1966). Extrair
a forma de um evento ou objeto implica em
identificar a sua lei de funcionamento. Essa lei deve ser comum a contedos (ou
caractersticas individuais) diferentes (Piaget, 1995).
Esse segundo tipo de abstrao (abstrao
reflexionante), ao contrrio do tipo precedente,
apoia-se sobre as atividades cognitivas do
indivduo (Piaget, 1995). Para esse autor, a
abstrao reflexionante permite a retirada de caractersticas do objeto e o estabelecimento
de relaes entre essas caractersticas. De
acordo com Piaget (1995), enquanto a
abstrao emprica consiste em encontrar nos
objetos uma caracterstica que eles j
possuem, a abstrao reflexionante consiste
em inserir nos objetos propriedades que eles
no possuem como a quantidade, a que nos referimos acima.
-
p. 383 | 2013 | ISSN 2346-8874 www.saccom.org.ar/actas_eccom
Un
dcim
o E
ncu
en
tro
de C
ien
cia
s C
og
nitiv
as d
e la
M
sic
a
20
13
Piaget (1995) afirma que a abstrao
reflexionante acarreta dois resultados: em
primeiro lugar, acarreta uma formulao de
compreenso da coisa observada e, em
segundo lugar, uma generalizao, ou identificao da lei de funcionamento de dois objetos ou eventos distintos. No caso da
Percepo Musical, a abstrao reflexionante
parece possibilitar a identificao das leis ou regras musicais (de diviso rtmica, por
exemplo) que estruturam aquilo que foi ouvido.
A abstrao reflexionante parece permitir ainda
a compreenso da msica e no apenas a constatao de suas caractersticas.
O processo de abstrao reflexionante
composto por dois sub-processos. O primeiro, denominado reflexionamento,
responsvel por transpor a um plano [cognitivo] superior o que colhe no patamar
precedente (Piaget, 1995). Em termos concretos isso pode implicar, por exemplo, em
uma transposio de uma informao, colhida
do plano da realidade, para o plano da
representao mental. Podemos inferir que, no
caso da Percepo Musical, um processo de
reflexionamento estaria em curso durante a
transformao de um som em imagem
auditiva, ou seja, durante a transformao
desse som em uma representao mental
sonora que permita a sua memorizao e
evocao posterior.
O outro processo interno da abstrao
reflexionante, denominado reflexo,
responsvel por colocar em relao as
informaes oriundas do reflexionamento e por
reconstruir essas informaes no patamar
superior para o qual elas foram transpostas. A
reflexo a responsvel por atribuir ao objeto
caractersticas que ele no possua antes que o
pensamento interferisse (caractersticas que
no seriam constatadas apenas por
observao). Portanto, se uma imagem
auditiva se torna uma entidade organizada e
evocvel pelo pensamento, isso se deve
tambm a um processo de reflexo que
reconstri, no nvel da representao, as
informaes adquiridas por reflexionamento.
Como sintetiza Piaget (1995), a abstrao
reflexionante comporta um reflexionamento do plano da ao ao da representao, e uma
reflexo reorganizadora, que reconstri sobre o novo patamar o que tirado do precedente,
acrescentando a isso, a tentativa de
compreenso das razes (Piaget, 1995, p. 250).
Piaget (1995) ainda descreve a reflexo,
caracterstica da abstrao reflexionante, como
uma integrao, porque ela permite o
estabelecimento de relaes entre os dados
oferecidos pelo reflexionamento, ou uma
reorganizao do que foi apreendido. O
reflexionamento, que no possui essa
capacidade integradora da reflexo, d origem
a diferenciaes, pois ele simplesmente tira
informaes de um nvel inferior (da
percepo) que so transformadas em objeto
do pensamento e integradas pela reflexo.
Cabe retomar que a reflexo assim como a abstrao reflexionante de modo geral e
tambm o processo de abstrao emprica um processo de reconstruo, portanto de
reapropriao da informao fornecida pela
realidade, e no se constitui simplesmente em
um processo de transferncia idntica e
completa da realidade para o pensamento.
Esse fator de reconstruo faz com que alguns
dos produtos da abstrao sejam mais
completos que outros. Isso pode ser observado
nas imagens auditivas: algumas de nossas
imagens parecem ser evocadas pelo
pensamento com muito mais clareza e detalhes
que outras, que no foram reconstrudas de
modo to completo. Isso pode ser observado
durante as aulas de Percepo Musical
tambm. Enquanto alguns alunos conseguem
retomar facilmente o que foi ouvido, outros,
com maiores dificuldades para a construo de
imagens, no retomam com a mesma preciso
o que foi ouvido.
A respeito desse processo de reconstruo a
que nos referamos acima ainda cabe uma
ressalva. Embora a abstrao (em geral) seja
descrita grosso modo como uma espcie de
leitura, importante frisar que, para Piaget (1995), este termo (leitura) bastante impreciso. Segundo ele, no basta a realizao
de puras leituras, ou de simples decalques da realidade no pensamento para que ocorra
uma abstrao. antes necessrio que o
indivduo possua e utilize instrumentos de
assimilao, ou seja, ferramentas cognitivas que permitam a apreenso da realidade. Se o
indivduo no possuir os instrumentos
necessrios apreenso de uma realidade
especfica, ele no ser capaz de abstrair essa
realidade. No caso de uma realidade musical, um sujeito leigo, que no possua
-
Caregnato p. 384 | 2013 | ISSN 2346-8874 Nu
estr
o C
uerp
o e
n N
uestr
a M
sic
a
conhecimentos prticos ou tericos em msica,
dificilmente possuir os instrumentos
necessrios realizao de abstraes precisas
de elementos como alturas ou ritmos musicais.
Quanto mais aprimorados forem os
instrumentos cognitivos que o sujeito possuir,
melhor ser a sua assimilao da realidade.
Retomando o conceito de abstrao
reflexionante apresentado acima, recordemos
um dos componentes desse processo: a
reflexo, construda a partir de
reflexionamentos. A partir de certos momentos
do desenvolvimento inicia-se a elaborao de
novas reflexes construdas, desta vez, a partir
de reflexes j estabelecidas pelo processo de
abstrao reflexionante. Essa reflexo sobre a
reflexo foi denominada por Piaget (1995) de
abstrao refletida. Ainda segundo esse autor,
a abstrao refletida permite o estabelecimento
de comparaes entre duas aes ou situaes,
a formulao e a testagem de hipteses de
explicao para essas aes, e ainda pode
gerar uma tomada de conscincia dos
resultados obtidos pela abstrao reflexionante
(Piaget, 1995).
A abstrao refletida tambm parece se
manifestar durante a aprendizagem de
Percepo Musical. Ela parece ser responsvel,
por exemplo, pelo processo de conceituao de
um som ouvido (pelo processo de nomear um
som como uma nota musical ou uma figura
rtmica). Essa conceituao ocorre graas
capacidade de estabelecer coordenaes
(relaes), prpria da abstrao refletida. Essa
abstrao coloca em relao as imagens
auditivas que o sujeito j possui e que foram
formadas por abstraes reflexionantes, com
os sons recentemente ouvidos, tambm
transpostos para o pensamento
representacional por meio da abstrao
reflexionante. Por meio dessa comparao
possvel observar semelhanas existentes entre
um padro musical j conhecido um acorde de stima maior, por exemplo e o som ouvido. Atravs dessa constatao de
semelhanas se torna possvel a conceituao
(ou a tomada de conscincia) do som ouvido
como sendo, por exemplo, um acorde de
stima maior.
Outra possvel manifestao da abstrao
refletida na percepo musical tambm parece
ser a capacidade de coordenar (ou de
considerar simultaneamente) ritmos e alturas.
Essa coordenao parece ser necessria, por
exemplo, para que trechos meldicos sejam
transcritos de forma integral. Ela parece
colocar em relao abstraes reflexionantes
apenas do ritmo e abstraes reflexionantes da
altura. A realizao de abstraes refletidas
tambm parece ser a responsvel pela
capacidade de coordenar ritmos, alturas e
harmonia durante a transcrio de trechos
musicais mais complexos e no apenas
meldicos.
Encerrando os tipos de abstrao, Piaget
(1995) ainda menciona a existncia da
abstrao pseudo-emprica. Segundo o autor, o
indivduo que realiza esse tipo de abstrao
efetua construes mentais como as que so
geradas pela abstrao reflexionante, mas
valendo-se de constataes materiais,
concretas, como ocorre na abstrao emprica.
Atravs da abstrao pseudo-emprica o
indivduo consegue inserir no objeto
propriedades que so fruto do seu
pensamento, mas s consegue fazer isso ao
constatar propriedades fsicas do objeto. Para
Piaget (1995), a abstrao pseudo-emprica
uma variante da abstrao reflexionante que,
ao contrrio do que seria usual nesta, depende
de observveis exteriores ao indivduo e no
apenas do seu pensamento.
No caso da Percepo Musical, uma
manifestao da abstrao pseudo-emprica
parece ser a ao de identificar as notas
musicais do que foi ouvido usando, para isto,
um instrumento musical como apoio. O
indivduo que busca conceituar o som que ouve
como uma nota musical ou, dito de outro
modo, o indivduo que busca dar nome quilo
que ouve, est buscando inserir no objeto uma
caracterstica que no lhe natural, mas que
fruto da atividade de conceituao,
empreendida pelo pensamento do sujeito.
Contudo, o indivduo que utiliza um
instrumento como apoio ainda necessita de
dados concretos. Ele precisa tocar algumas
notas at que, em contato com as
caractersticas (altura) fornecidas pelo
instrumento tocado, ele consiga identificar e
conceituar aquilo que ouviu inicialmente. A
utilizao de um instrumento parece ser
necessria porque h uma dificuldade na
formao de imagens auditivas de notas,
acordes, escalas, etc, por meio de abstrao
reflexionante. Se essas imagens existissem,
elas poderiam ser acessadas e comparadas,
apenas em pensamento e por fora da
abstrao reflexionante, com aquilo que foi
-
p. 385 | 2013 | ISSN 2346-8874 www.saccom.org.ar/actas_eccom
Un
dcim
o E
ncu
en
tro
de C
ien
cia
s C
og
nitiv
as d
e la
M
sic
a
20
13
recentemente ouvido. Na ausncia de tais
imagens ou de reflexo adequada, torna-se
necessrio o apoio do prprio som concreto,
tocado pelo instrumento.
Outra manifestao da abstrao pseudo-
emprica observvel durante as aulas de
Percepo Musical parece estar em curso nos
casos em que o indivduo busca identificar sons
ouvidos, mas se mantem cantando
repetidamente o que foi tocado, logo aps a
extino do som. Esse indivduo busca,
novamente, inserir no objeto uma
caracterstica que fruto da sua ao de
conceituar, contudo, ele no faz isso apenas
em pensamento. Esse indivduo parece no
conseguir comparar aquilo que ouviu com as
imagens auditivas que possui usando apenas
reflexes abstratas. Ele precisa da presena concreta do som para que consiga estabelecer
relaes entre as imagens auditivas que possui
e o som ouvido e para que, a partir desse
estabelecimento de relaes, ele possa
encontrar semelhanas entre o recentemente
ouvido e o j conhecido, e conceituar sua
audio. Neste caso, parece haver nova
dificuldade na realizao de abstraes
reflexionantes que permitam a comparao de
imagens auditivas apenas em pensamento.
Consideraes finais
Em sntese, o que se pode observar atravs da
comparao entre os diferentes tipos de
abstrao apontados por Piaget e as situaes
vivenciadas no cotidiano da disciplina de
Percepo Musical e discutidas acima, que a
teoria piagetiana se apresenta tambm como
uma possibilidade de compreenso dos
fenmenos relacionados percepo da
Msica.
Conforme vimos, os diferentes tipos de
abstrao se manifestam em atividades como a
nomeao (conceituao) de notas musicais
ouvidas dentro melodias, com ou sem a ajuda
de instrumentos ou do canto. Tambm
conforme vimos, as abstraes no podem ser
entendidas como decalques da realidade no
pensamento. Elas so resultado de um
processo de construo gradual, e sua
realizao depende do domnio de ferramentas
cognitivas (ferramentas de apropriao da
realidade).
Sendo assim, a teoria de Piaget sobre a
abstrao pode nos auxiliar no apenas a
compreender como se organiza o pensamento
do estudante de Percepo Musical em suas
diversas formas de abstrair a realidade
musical, como tambm nos permite observar
que a abstrao fruto de um processo de
desenvolvimento. Acreditamos que a
compreenso do modo como ocorre esse
desenvolvimento fundamental para o
professor que busca conhecer o seu aluno de
Percepo Musical e que busca formas de
promover o desenvolvimento dos estudantes.
Trabalhos futuros poderiam abordar essa
problemtica do desenvolvimento das
competncias necessrias para o desempenho
das atividades realizadas na disciplina de
Percepo Musical.
Referncias
Battro, A. M. (1966). Dictionnaire dEpistmologie Gntique [Dicionrio Terminolgico de Jean Piaget (A. M. Battro, trad.) So Paulo: Pioneira, 1978]. Dordrecht: D. Reidel Publishing Company.
Dolle, J. M. (1974). Pour Comprendre Jean Piaget [Para Compreender Piaget. Uma Iniciao
Psicologia Gentica Pigetiana. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1978]. Toulouse: Edouard Privat Editeur.
Piaget, J. (1977). Recherches sur l'abstraction rflchissante [Abstrao Reflexionante. Relaes Lgico-aritmticas e Ordem das Relaes Espaciais (F. Becker trad.). Porto
Alegre: Artes Mdicas, 1995]. Paris: Presses Universitaires de France.